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or Pun oO Sagarana ye ML © by Agnes Guimaraes Rosa do Amaral, Vilma Guimaraes Rosa ¢ Nonada Cultural Ltda. Direitos de edigdo'da obra em lingua portuguesa adquiridos pela Enrro1a Nova FRONTHIKA S.A. ‘Todos os direitos reservados, Nenhuma parte desta obra pode ser apropriada ¢ estocada em sistema de banco de daclos ou processo similar, em qualquer forma ou meio, seja cletrdnice, de fotovdpia, gravagio etc., sem a permissio do detentor do copirraite Eprrora Nova Frowreina $.A. Rua Bambina, 25 — Botafogo — 2251-050 Rio de Janeiro — RJ — Brasil Tel.: (21) 2537-8770 —Fax: (21) 2537-2659 http://www.novafronteira.com.br e-mail; sac@novafronteira.com.br ustragdes de Poty gentilmente cedidas por Editora José Olympio Ltda. Equipe de produsao Leia NAME REGINA Mangus MICHELLE CHAO IZABEL ALELXO, Magcio Araujo SHAMIRA MAHMUD Revisio MARCELO EUrRasia EDUARDO CARNEIRO MONTEIRO Lita Etias CoeLno, Axpaia Corin HENRIQUE TARNAPOLSKY EDNA DA SILVA CavaLcANti Capa ¢ projeto grafico Victor BURTON Diagramasao ADRIANA MORFNO, CIP-Brasil. Catalogagao-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ, R648 Rosa, Joio Guimaraes, 1908-1967 Sagarana / Joio Guimaraes Rosa. Rio de Janeiro : Nova Trontei 2001 ISBN 85-209-1150-1 1. Novelas brasileiras. 1. Titulo. CDD 869.93 CDU 869,0(81)-3 A arte de contar em Sagarana Paulo Rénai ara muitos escritores fracos, o regionalismo ¢ uma espécie de tabua de salvacao, pois tém a ilus’o — e com eles parte do publico — de que o armazenamento de costu- mes, tradigdes © superstiges locais, © acimulo de palavras, modismos e construgées dialetais, a abundancia da documen- tagao folclérica e lingiiistica suprem as falhas da capacidade cria- dora. Pelo contrario, para os autores que trazem uma mensagem humana e o talento necessario para exprimi-la, o regionalismo enyolve antes um obstaculo ¢ uma limitacdo do que um recurso. A riqueza léxica, em particular, longe de constituir um atrativo a nao ser para os estudiosos da lingua —, torna a obra menos acessivel 4 maioria dos leitores. Quanto ao material fol- clorico, este significa uma perpétua ameaga de desviar a nar- a0, tolher o enredo, quebrar o ritmo, Dir-se-ia que 0 escri tor regionalista precisa de menos valor que os outros para se SAGARANA a an Rosa Joko fazer tolerar, porém de maior originalidade para aleangar o &xi- to © aadmiracio, Em Sagarana, J. Guimaraes Rosa afronta todos esses empeci Ihos. Apresenta-se como o autor regionalista de uma obra cujo contetdo universal e humano prende o leitor desde o primeiro momento, mais ainda que a novidade do tom ou o sabor do estilo, O leitor vindo de fora, por mais integrado que se sinta no ambiente brasileiro, nao pode estar suficientemente familiariza- do com o rico cabedal lingiiistico ¢ etnografico do pais para ana- lisar o aspecto regionalista dessa obra; deve aproximar-se dela de um outro lado para penctrar-lhe a importancia literaria. A arte de contar, no antigo sentido da palavra, que evoca as poderosas narrativas do século passado e, mais longe ainda, as cau- dalosas torrentes da épica antiga, esta se tornando rara. Apesar ou em razao do mimero enorme de narrativas breves que se pu- blicam, encontram-se com freqii@ncia cada vez menor novelas € contos que nos comuniquem wm frémito ou nos arranquem um grito de admiragao. Os desesperados esforcos de renovagio que caracterizam o género de algum tempo para ca geram fér- mulas mais de uma vez surpreendentes e inéditas, mas dificil- mente despertam emocées profundas, As nove pecas que formam o volume Sagarana continuam a grande tradigao da arte de narrar. O género peculiar do autor ¢, alids, a novela, e nao o conto. A maioria das narrativas reunidas no livro sio novelas, menos por sua extensio relativamente grande do que pela existéncia, em cada uma delas, de varios episodios — ou “subistérias”, na expresso do escritor —, alias sempre bem- concatenados e que se sucedem em ascensao gradativa. O género, em suas maos, alcanga flexibilidade notavel, modifica-se conforme © assunto, adapta-se as exigéncias do enredo. Pois esta maleabili- dade ¢ justamente uma das caracteristicas da novela moderna. “© burrinho pedrés”, por exemplo, é de todas as narrativas aquela cujas partes, de inicio, parecem mais desconjuntadas. Contem uma série de historietas e anedotas que nao fazem avangar a acéo central. Mas ¢ esta a especie de narragao exigida pelo assunto, a viagem de uma boiada que prossegue por eta- pas, para, recomega, se desvia. Todos os episédios, finalmente, concorrem para criar uma atmostera Unica, caracterizada pela predominancia da vida animal, em volta da qual evolve todo aquele pequeno mundo nédmade do Major Saulo ¢ seus boia- deiros. Aqui a forma parece ter nascido e crescido com 0 as- sunto, A construgio da novela obedece toda ela a uma arte cons siente que se disfarga sob um ar de naturalidade, mas se revela nao somente no aumento progressivo da tensio, senio (ambém nos periddicos desaparecimentos ¢ voltas do burrinho pedrés, Note-se que de todas as possiveis atitudes para com 0 seu protagonista animal o autor adota a mais plausivel: a da observagao feita por fora, com uma mistura de realismo ¢ iro- nia que humaniza a personagem sem recorrer a artificios antro- pomdrticos. *atenteia-se nesta novela um dos processos caracteristicos da \écnica de Guimaraes Rosa, decorrente, alias, de sua concepgao do mundo e do destino: intensificar a tensio, aproximando 0 leitor de um destecho tragico previsto. De repente, verifica-se algum acon- tecimento brusco — mas sempre verossimil — que traz desenlace diferente do esperado; diferente, mas nado menos patético. Espera- xe cm “O burrinho pedrés” um assassinio, que todos os indicios fy que resolve a tens&o por um cataclismo imprevisto. Combinam-se, nm prever... ¢ sobrevém um desastre de proporgdes maiores, assim, os efeitos da surpresa e da unidade. Aplicagao ainda mais perfeita deste processo observa-se em “A hora e vez de Augusto Matraga”, a novela talvez mais densa ARANA Sac Lg 18 s Rosa IMARA « Joio de humanidade de todo o volume. A vida retraida do valentao arrependido que, depois de ter sido deixado como morto pelos capangas do adversario, levou anos a restaurar a sade do corpo € a amansar o espirito sedento de vingan¢a inspira ao leitor uma inquictacéo crescente. Treme-se por esta alma perdida ¢ reencontrada, que por fim sé escapara 4 tentagao da desforra por outro ato louco de valentia que o redime, mas ao mesmo tempo 0 aniquila Aparentada a essas duas novelas ¢ a intitulada “Duclo”. Af a ie de emboscadas em que dois adversarios procuram acabar uum com outro parece primciro terminar pela morte cristé de um deles, colhide ¢ consumido por insidiosa doenga. Mas 0 mori- bundo conseguiu transmitir 0 seu édio como heranga a um seu protegido, e, pela mao deste, depois de morto, matara o rival sobrevivente. ‘Talvez nem seja justo falar em técnica, pois nos dois Ultimos casos, pelo menos, o desenlace, por mais inesperado que seja, decorre necessariamente dos caracteres, © contista recria com extraordinaria plasticidade caracteres primarios como Augusto Matraga ou, no “Duelo”, Cassiano Gomes, concentrados em torno de um unico sentimento, que se transforma em sua razio de ser no objetivo de toda a sua existéncia. Apesar de uma ironia fina que oscila num ritmo tao pessoal entre o humor e o cinismo, 0 autor mantém-se imparcial para com as suas criaturas. Tem-se a impressio, as vezes, de que ado- ta a respeito delas os sentimentos do ambiente e as admira ou despreza de acordo com esses sentimentos, partilhando das sim- patias e antipatias dos comparsas. Na realidade, trata-se apenas de mais um meio para criar atmosfera, O escritor conser va-se algo distante das personagens, , quando se apressa em adotar algum julgamento cémodo sobre elas, nao sabemos com certe- ya se nao o faz para se divertir 4 custa do leitor. Veja-se o tre- iano Gomes. De- cho em que conta a morte edificante de Ca pois de deixar tudo 0 que tem a um pobre caboclo de quem se tornara o benfeitor, este “tomou uma cara feliz, falou na mae, apertou nos dedos a medalhinha de Nossa Senhora das Dores, morreu e foi para o céu”. Sim, mas ao scu protegido, além dos cobres, deixou também a obrigagao de uma vindita. Nas novelas de atmosfera tragica de Guimaraes Rosa respira- se um fundo desanimo, talvez por ser a conclusao tao fatal, tio sem recurso, Esse acabamento absurdo e, ao mesmo tempo, ir- yespondivelmente explicado, dos destinos individuais, faz en- (rever abismos tao abruptos como aquele que se abre debaixo da Ponte de Sao Luis Rei, no romance de Thornton Wilder. Estas mesmas novelas possuem credibilidade logo a primeira vista, mais um sinal por que se reconhece a obra de ficgao de real valor. Credibilidade na ficcdo nao envolve a exatidao e a veros similhanca de todos os pormenores; apenas uma certa sugestao que leva o leitor a nao preocupar-se em verificar-lhes a consis- (ncia, compenetrado por essa verdade condensada que s6 por caso a vida alcanga. Pirandello ter-se-ia felicitado de um acha- (lo como este, em que o autor soube formular com bastante piloresco uma das regras essenciais da arte: “E assim se pas- savam pelo menos seis ou seis anos e meio, direitinho deste jei- {o, sem tirar e nem pér, sem mentira nenhuma, porque esta aqui ¢ uma estoria inventada, e nado é um caso acontecido, nao sxenhor.” Uma quarta novela, “A volta do marido prédigo”, representa yenero inteiramente diverso. Aqui as fases sucessivas do enredo {ragmentado servem para dar um duplo retrato, extremamente vivo e divertido, de um malandro atraente, representado simul- {aneamente como tipo e como individuo, Talvez seja este o con- SAGARANA n ° Rosa Guimanries oho J to em que o autor melhor realiza a tarefa de caracterizar ao mes- mo tempo 0 ambiente ¢ as personagens pelo halo de simpatia irresistivel e imerecida que rodeia estas ultimas. A supersticdo, um dos mais importantes elementos de quantos concorrem para a construcao do universo do contista, fornece a duas narrativas 0 assunto central. “Corpo fechado”, histéria de um feitigo, ¢ admiravel de unidade ¢ composicao. Pouco nos importa, para a verdade intima do conto, se ¢ 0 [eitigo que ope- ra, oua fé que nele depositam os protagonistas; o essencial ¢ a presenga permanente da magia em que vitima e¢ feiticeiro acreditam da mesma forma. Talvez seja esta a razio de o leitor sentir-se menos convencido pelo conto “Sao Marcos”, em que 0 contista, apresentando-se em primeira pessoa como objeto de um ato de feitigaria, nos forga a perguntarmos a nds mesmos se ele, autor, acredita na magia ou nao, divida que soube artistica- mente eludir nos outros contos. “Minha gente” confirma a impressao de que o talento narrativo de Guimaraes Rosa ¢ essencialmente impessoal: ao lado de re- tratos excelentes, como o do enxadrista viajante, e da pintura maliciosamente viva de uma eleicao no interior, a histéria de amor contada em primeira pessoa parece um tanto convencio- nal (com uma leve reminiscéncia, talvez, de Cabocla ou de Prima Belinha, de Ribeiro Couto). “Sarapalha” representa, a meu ver, em todo o volume, a tinica vitéria do regional sobre o humano: a descrig&o de uma regiao destrutda pelas febres avulta sobre o conflito passional das duas personagens, que valem mais como componentes da paisagem que como verdadeiros atores. “Conversa de bois”, finalmente, representa ainda outro tipo, o do conto inteiramente estilizado, com bichos que falam e ra- ciocinam, quase numa atmosfera mitica de balada escocesa. Se as grandes novelas do volume nao nos tivessem exalgado as exi- géncias, entregar-nos-iamos sem reservas ao encanto desta for- te narrativa. Elas, porém, nos habituaram a uma mistura tio fe- liz de visao realista e de expressio algo estudada, que nos custa admitir uma modificagao da dosagem a favor do elemento ar- tificial. Vocagao épica de excepcional félego, 0 autor dar-nos-a de- certo algum romance em que seu dote de criar e movimentar personagens e vidas se manifeste ainda mais 4 vontade. Por en- quanto, aguarda-se com natural curiosidade a publicag&o de seu volume de versos, premiado ja em 1936 pela Academia Brasi- leira de L etras, ¢ que ficou escondido ainda mais tempo que Sa- gorana, Que formas revestira o lirismo num poeta tao visceral- mente narrador? Chegando ao fim destas breves consideragdes, percebemos 0 que elas tém de ilusério, O exame unilateral de um Livro tio rico de contetidos e significagdes como este ha de deixar uma im- pressio falsa. E sobretudo quase impossivel falar desta obra abs- \raindo-se 6 aspecto da expressao verbal, que nela é de excep- cional importancia, O autor nao apenas conhece todas as riquezas (lo yocabulario, no apenas coleciona palavras, mas se delicia com clas numa alegria quase sensual, fundindo num conjunto de sa- hor inédito arcaismos, expressdes regionai , termos de giria e linguagem literaria. O que nos vale é que Sagarana ja deu ensejo ‘andlises agudas, extensivas a todos os seus aspectos; por outro lado, & desses livros em que cada leitor faz necessariamente no- vas descobertas. 1946, SAGARANA I Carta de joao Guimaraes Rosa | joio Condé, revelando segredos Hixigiu vocé que cu escrevesse, manu propria, nos espagos bran- deste seu exemplar de Sagarana, uma explicacéo, uma con- 10, uma conversa, a mais extensa, possivel —— 0 imposto Jodo para escritores, enfim. Ora, nem 0 assunto é simples, nem , ho cho do seu autor, uma arvore velha, capaz de trans- e de 0 fazer andar errado, se tenta alcangar-lhe os fios ex- 8, no labirinto das raizes. Gragas a Deus, tudo é mistério. go, porém, tem de ser dito. Ao autor o que é do autor, mas Condé 0 que é de Jo3o Condé. sim, pois, em 1937 — um dia, outro dia, outro dia... — dlo chegou a hora de Sagarana ter de ser escrito, pensei Num barquinho, que viria descendo o rio e passaria ao SAGARANA x w v aN Guimaxans Rosa Joko alcance das minhas maos, cu ia poder colocar o que quisesse. Principalmente, nele poderia embarcar, inteira, no momento, a minha concepgdo-do-mundo Tinha de pensar, igualmente, na palavra “arte”, em tudo o que ela para mim representava, como corpo e como alma; como um daqueles variados caminhos que levam do temporal ao eter- no, principalmente. Ja pressentira que o livro, nao podendo ser de poemas, teria de ser de novelas. E — sendo meu — uma série de Histérias adultas da Carochinha, portanto. Rezei, de verdade, para que pudesse esquecer-me, por com- pleto, de que algum dia ja tivessem existido septos, limitagdes, tabiques, preconceitos, a respcito de normas, modas, tendén- cias, escolas literérias, doutrinas, conceitos, atualidades e tradi- ges — no tempo e no espaco. Isso, porque: na panela do po- bre, tudo é tempero. E, conforme aquele sdbio salmao grego de André Maurois: um rio sem margens é o ideal do peixe. Ai, experimentei 0 meu estilo, como é que estaria. Me agra- dou. De certo que eu amava a lingua. Apenas, nao a amo como a mae severa, mas como a bela amante ¢ companheira. O que cu gostaria de poder fazer (nao 0 que fiz, Joio Condé!) seria aplicar, no caso, a minha interpretagdo de uns versos de Paul Eluard: ...“o peixe avanga nagua, como um dedo numa luva”... Um ideal: precisio, micromilimétrica. E riqueza, oh! riqueza... Pelo menos, impiedoso, horror ao lugar- comum que as chapas sio pedagos de carne corrompida, sio peca- dos contra o Espirito Santo, séo taperas no territorio do idioma. Mas, ainda haveria mais, se posstvel (sonhar é cil, Joxo Con- dé, realizar ¢ que sao clas...): além dos estados liquidos e sé- lidos, por que nao tentar trabalhar a lingua também em estado gasoso?! Aquela altura, porém, eu tinha de escolher o terreno onde Inpalisay ax minhas histérias, Podia ser Barbacena, Belo Ho- Hlsonte, o Rio, a China, o arquipélago de Neo-Barataria, 0 es- fiiyo astral, ou, mesmo, o pedago de Minas Gerais que era mais Wiel, li foi o que preferi. Porque tinha muitas saudades de 1a. Horque conhecia um pouco melhor a terra, a gente, bichos, AVvores. Porque o povo do interior — sem convengées, “poses” di melhores personagens de parabolas: la se yeem bem as YeayOes humanas e a ago do destino: 4 se vé bem um rio cair {i eachocira ou contornar a montanha, e as grandes arvores es- {alarem sob 0 raio, e cada talo do capim humano rebrotar com a chuva ou se estorricar com a ca. liem, resumindo: ficou resolvido que o livro se passaria no interior de Minas Gerais. E compor-se-ia de 12 novelas, Aqui, waro Condé, findava a fase de premeditacao. Restava agir. Iintao, passei horas de dias, fechado no quarto, cantando vantigas sertanejas, dialogando com vaqueiros de velha lem- hvanga, “revendo” paisagens da minha terra, e aboiando para tin gado imenso, Quando a maquina esteve pronta, parti, Lem- hro-me de que foi num domingo, de manha. O livro foi escrito — quase todo na cama, a lapis, em cadernos de 100 folhas — em sete meses; sete meses de exaltacdo, de deslumbra- mento. (Depois, repousou durante sete anos; e, em 1945 foi “retra- balhado”, em cinco meses, cinco meses de reflexao e de lucidez). La por novembro, contratei com uma dactilografa a passa- yom a limpo. E, a 31 de dezembro de 1937, entreguei o origi- hal, as 5 © meia da tarde, na Livraria José Olympio. O titulo escolhido era “Sezd0”, mas, para melhor resguardar 0 anonima- Lo, pespeguei no cartapacio, a tiltima hora, este rétulo simples: “Contos (titulo provisdrio, a ser substituide) por Viator. Porque eu ia tor de comegar longas viagens, logo apés. SAGARANA nv a

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