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ENSINO E APRENDIZAGEM DE LINGUA INGLESA conversas com especialistas tee) ENS ee cence Enron Marcos Marcionilo CCaone Paosero Gran: Andria Cust Ince on ears Stock Constino Foon, ‘Apa Stahl Zilles (Unisinos) Corlos Alberto rac (UFPR) Egon de vel Range PUCSP) ivan miler de Olveta 1UFSC po) enrique Monteagudo [Universidade de Santiago de Compostela} Kanaviliajagopalan (Ueicamp) ‘Morcos Bagno [U8} ‘Marie Marta Perera Scherre[UFEST Rachel Gazolla de Andrade [PUC-SP} ‘Selma Tanous MuchailPUC-SE) ‘aromas. Loca na FORTE Sino WANA os EDTORES DE LVRS, R ia EnsineAprerzager dengue conversascom especial Di6genes Cinco ce Lima org So Fale Proll 209 Eereegias de ening) Inc togrha TaN s7e 8588456952 1 .tngua ingle - Esto e enna (Supt ms. Ogenes Cine de 10 Sie ons v0 «2824 Direitos reservados 8 PARABOLA EDITORIAL Rua Sussuarana, 216 Ipiranga (0281-070 So Paulo, 5 Fone: [1] 5061-9262 | 5061-8075 | Fax: 11] 25899263, home page: wwww-parabolsedtriaicombe ‘emai parabolagparaboladitoriacombe {dor os deloseeradorNenhura parte desta obra pode =r Teprodeiéa ou vsnumitia por qualquer fora eu guasquet neo etic ou mene, includ fxocn era} oo {ud em quagur sens ou tance dade em permis or ecto de Paso Eton Lda, IsaN: 978-85-8456-95-2 1 edi «1 eimpressio- junho/2010 1 do tert: Drbgenes Candido de Lima, 2009 © da edicio:Pardbola Edtral, S30 Paulo, malo de 2009 Transferéncia fonolégica no ensino de lingua inglesa Suirtey Guedes: EuzasetH Ramos pergunta responde SHIRLEY GUEDES: H4 diversas dificuldades quanto 4 discipli- na de lingua inglesa: muitos (ou quase todos) 0s alunos de er © ew consideram o inglés desnecessdrio, initil para suas vidas, para seus cotidianos. Essa dificuldade, segundo eles mesmos, decorre da falta de base nas séries anteriores, principalmente para as turmas do 2° ano. Além de nao terem tempo para se dedicarem aos estu- dos, de no terem o contato didrio com a lingua e de nao te- rem facilidade com a disciplina, queixam-se de néo terem tido professores preparados para a regéncia da discipiina. Uma das grandes dificuidades é a compreensdo e a producéo ‘oral. Levando em conta a diferenga fonética das linguas e a presenga de fonemas na lingua inglesa que ndo existem no acervo fonético do portugués do Brasil, o pronUncia e a com- preensdo tomam-se um dos principais empecilhos nas aulas de lingua inglesa como lingua estrangeira. Essa situagdo faz com que os alunos achem que ndo saber o inglés por nao conse- Quirem pronunciar corretamente (de acordo com o sistema fo- nolégico da lingua inglesa) e, consequentemente, desestimula a continuagdo do aprendizado. [Serene ir cme ce esi ‘Casos em que os estudantes marcam as palavras da lingua in- glesa com fonemas da sua lingua matema so muito comuns nas aulas de inglés. Gostaria, entdo, de saber como posso trabalhar a parte foné- fica/fonolégica da lingua inglesa, na sola de aula, para evitor que 0s alunos pronunciem as polavras da lingua-alve como se fossem da lingua portuguesa. EuzasetH RAMOS: Num processo de aprendizagem de lingua es- trangeira, é natural que o aluno tenda a transferir para o “novo” idioma particularidades de sua lingua materna. Isso ocorre no apenas com relagdo aos aspectos fonolégicos, mas também com res- peito a sintaxe, & morfologia e até mesmo ao uso de itens lexicais. ‘A tendéncia dos alunos a transferir para a lingua inglesa os tragos fonolégicos do portugués no constitui novidade. Shirley Guedes comenta a dificuldade dos alunos em “pronunciar corretamente (de acordo com o sistema fonolégico da lingua ingle- sa)’, eeu gostaria de perguntar o que seria esse “pronunciar corre- to"? Além disso, a que lingua inglesa voo8 se refere? Ao que me pa- rece, vocé deve estar considerando os fatos fonolégicos pertinentes ‘a0 inglés tipico da received pronunciation (nr]. Seré que o desvio do chamado inglés gr impede o aluno de se comunicar? Minhas perguntas pautam-se por um ponto importante a ser consi- derado: o de que nao existe um tnico “inglés”. ‘Tal como outras lin- guas, o inglés também apresenta diferentes variantes, resultantes de processos de interferéncia e transferéncia, por exemplo, das lin- guas autéetones dos povos colonizados pela Inglaterra. Assim, temos © inglés nigeriano, o indiano, o jamaicano, entre muitos outros, tra- zendo caracteristicas gramaticais, fonolégicas e/ou morfolégicas das linguas sobre as quais 0 idioma do colonizador se impés. Além das situagdes resultantes de processos de colonizagao, existem ainda os caaos de individuos, que aprendem 0 inglés ¢ 0 utilizam como “lingua internacional” (sit). Ha também, é preciso lembrar, os diversos fala- res dentro da prdpria Gra-Bretanha. As diferentes situagdes em que ‘iasenafenaégca re enzne de ngva nga 55 a lingua inglesa é falada geram, portanto, variantes e, consequente- mente, impdem reflexdes quanto A utilizagdo de um tinico modelo de produgiio fonolégica no processo de ensino e aprendizado do inglés. £ muito dificil “evitar que os alunos pronunciem as palavras da lin- gua-alvo como se fossem da lingua portuguesa”, afinal, eles s6 conhe- com aspectos do seu préprio idioma aprendido, nao raro, com bastan- te dificuldade. A interferéncia é inevitavel, particularmente quando se trata de alunos que, por serem pouco ou nunca expostos a lingua inglesa, evidentemente, acham 0 aprendizado “desnecessario, imttil para suas vidas e para seu cotidiano”. Um dos questionamentos que, em siléncio, esses alunos devem fazer-se é: por que preciso aprender essa Iingua? Admitamos que, sem existir um objetivo, a motivacio do aluno fica bastante comprometida. A dificuldade nao decorre, uni- camente, “da falta de base nas séries anteriores” e “de nao terem ‘tempo para se dedicarem aos estudos”. No processo de aprendizagem da lingua estrangeira, hd, pelo menos, dois aspectos fundamentais: motivaciio e percepgao da diferenga, isto é, aquisigao de uma consci éncia receptiva, para que o aluno possa desenvolver a competéncia oral produtiva, Quando nao existem possibilidades de utilizagdo da Iingua estrangeira e situagdes de exposigio, naturalmente, tais ferencas nao serio percebidas e ser dificil motivar 0 aprendizado. Seria preciso refletir até que ponto as interferéncias e transferéncias fonolégicas que nossos alunos demonstram, efetivamente, constituem impedimento & comunicagio. Afinal, nesse processo nao est em jogo apenas a producio de sons isolados individuais, mas também tonici- dade das palavras e frases, entonagéio, aspectos do discurso corrente, contexto, expressbes no verbais, entre outros. £ preciso lembrar que a produgiio fonolégica em lingua inglesa é tarefa das mais complexas, Podemos langar mao de alguns recursos para desenvolver a moti- vagiio e a percepedio fonolégica dos alunos, por exemplo, integrando a fonologia 20 cotidiano da sala de aula, Quando se tratar de ado- leseentes, os jogos podem propiciar um ambiente onde os alunos tenham a oportunidade de perceber certas diferencas fonologicas, ssabendo-se que 0 objetivo é desenvolver a capacidade de comunica- 56 Eno 9 ereniogatn dengue nga: conve dio em inglés internacional (EIL), isto é, sem exigir que os alunos copiem um padrdo fonolégico tinico da Iingua inglesa. Afinal, se os falantes nativos fazem uso de diferentes variantes, a depender do lugar onde nasceram e viveram, por que exigir que um aluno de in- glés como lingua estrangeira no tenha a mesma possibilidade? ‘Algumas atividades podem ser desenvolvidas em sala de aula, no sen- tido de estimular a competéncia fonolégica dos estudantes. Como as di- ficuldades que vocé pontua siio de ordem fonémica, irei sugerir ativida- des que contemplem exercicios em torno dessas questées fonolégicas. Um dos pontos que precisamos ter em mente € que os alunos devem ser apresentados aos fonemas e ais suas representagées. Nesse sen- tido, 0 quadro fonémico pode ser incorporado aos demais materiais utilizados em sala de aula. zr fli)]o|w)i| er js] © |> 1x | [cel 1a z [a @| [ear ao plete teil ele fa yal SA as at eras min folate ls iw | Phonemic Chor! Sugiro que a percepgiio das diferengas fonémicas seja trabalhada aos poucos, por meio da eleigao de um ou dois fonemas de cada vez. Seria interessante iniciar 0 trabalho com a percepcdo de pares mi- nimos, por exemplo, hut x hat, thin x tin, think x sink. Uma vez conhecidas as representagdes dos sons, pode-se colocé-las no quadro-negro, em colunas, e pedir que os alunos afixem sob elas, os cartes onde esto grafadas palavras, ou desenhadas figuras, que contenham os sons correspondentes. Por exemplo: 1 Fonte: Disponivel em: http:/www-englishdrotd.com/assets/phonemic_chart.png, ‘relent fonologeana erro aon sa 7 i Sis ship sheep chip cheap slip sleep ‘A percepedo das diferencas fonémicas pode, também, contemplar as dificuldades que vocé menciona, como é o caso do som /u/ versus som /v/, ou mesmo o som /ai/ versus /i/ ou fil, e se estender a um niimero maior de sons e palavras, como por exemplo, toy x tie x toe; roll x real x rail; bear x beer x bay; show x share x shy, trabalhando as semelhangas entre fonemas e ndo apenas as diferencas. Hi, ainda, a possibilidade de conferir aos estudantes maior controle sobre seu proprio proceso de aprendizagem, pedindo-lhes que ditem para o professor, ou para outro colega, as palavras que serfio coloca~ das na coluna correspondente. Dessa forma, se o aluno nao se fizer compreender, 0 professor nao ter condigio de executar o comando. ‘A atividade pode ser seguida por diferentes tipos de drills através dos quais o professor, por meio de imitagées, por exemplo, pode ati- var a imaginagao dos alunos, permitindo que determinados sons se- jam armazenados e, posteriormente, lembrados com mais facilidade. Nesse sentido, a utilizagdo da miisica pode constituir um recurso estimulante a percepgio do aluno. Nao seré dificil encontrar musi cas que atraiam a atencdo dos estudantes e que contenham palavras como was e were, além de pronomes como J, us, my, mine, que, uma ver. identificadas, sao inseridas nas lacunas da letra, possibilitando a repetigdo da promtincia de forma descontraida. Outra boa ideia para desenvolver a consciéncia fonolégica recep- tiva 6 a distribuicdo, entre os alunos, de cartes contendo figuras de objetos efou palavras dos quais fazem parte os fonemas a serem trabalhados. Depois da introdugao dos novos fonemas, o estudante, 20 ouvir determinado som, levanta seu cartéo correspondente. O mesmo exercicio pode ser modificado para fazer com que o aluno diga a palavra e o professor levante o cartao. Os bingos, em geral, despertam o interesse. Que tal um bingo de fonemas? Distribua cartdes de bingo contendo fonemas, ao invés de —— \ 8 Gane pnndeagen de quae carvan com epecaon mimeros. Pronuncie uma palavra e deixe que os alunos identifiquem, na sua cartela, determinado som que faca parte dessa palavra, ‘Uma forma bastante divertida de explorar o phonemic chart é transfor- mé-lo num tabuleiro de jogo. O aluno lana o dado e pereorre, no quadro fonémico, o ntimero de casas correspondentes, na direcdio predetermina- da. Ao cair em determinado simbolo, ele diz uma palavra que contenha 0 som correspondente, do contririo, ter que voltar tantas casas atrés. Existe, ainda, um jogo de Yes/No que pode auxiliar nas questoes fonolégicas que vocé apresenta. Entregue a cada aluno dois cartdes — um com YES, outro com NO. Explique que ouviréo palavras que contero determinado som (escolha 0 fonema com 0 qual tém difi- culdade, por exemplo, /u/ x /v/). Instrugo para a turma: levantem o cartiio YES se vocés acham que ouviram o som /u/. Levantem o cartao NO se nao ouvirem o som /u/. O comando do jogo pode ser transferido para um aluno, depois de algum tempo de jogo. Espero que essas sugestées sirvam para estimular o aprendizado dos tracos fonolégicos da “lingua inglesa”, lembrando que nfo existe um padro fonolégico tnico, ¢ que existem muitas variantes. De toda sor- te, é sempre bom reforgar o fato de que ha apenas oito sons vocéilicos e seis de ditongos no nosso idioma, contra doze e dez, respectivamente, em inglés. Esse ponto, aparentemente to simples, é suficiente para impor a maior parte dos brasileiros muitas dificuldades no apren- dizado do inglés. Além disso, nao devemos nos surpreender diante do fato de que alunos que foram educados para associar /i! a fil, de repente tenham dificuldade em decodificar 0 /i/ em /ai/, /i/ ou, eventu- almente, /i:/, Observe, ainda, que, se nossos alunos aprenderam que Walter é pronunciado como [vaute], é natural que a mudanga de som da letra “w" de /v/ para /u/ cause certo estranhamento. Tampouco nos deve causar suxpresa que os alunos tentem inserir uma silaba final As palavras em inglés, uma vez que sua competéncia linguistica na lin- gua-mie assim os conduz. Portanto, dizer [miuki] em lugar de [milk], {maini] em lugar de [main] reflete, simplesmente, uma transferéncia, para o inglés, de tragos da lingua portuguesa, falada no Brasil.

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