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| tnd Be | para isso que pagamos; foi para ver descer 0 diabo num alga- ‘po ou uma porta abrir-se sorinha: 0 piblico compra um bom maquinério, nfo tem 0 que fazer com uma emogo. A tinica jusificativa da épera francesa €fornecer a René Clair excelentes temas paréicos: aqui, pelo menos, sorrimos €recuperamos um pouco a confianga de ser fanceses “THEATRE POFULAIRE ntl de 1953 PODERES DA TRAGEDIA ANTIGA ‘So Luts considerava as ligrimas como um dom e rezava ‘que Deus the concedesse o favor de uma pequena ligr- Ihe vies ndo apenas ao coragio, mas também a0 rosto, Sao Luis jf tezava em vio. Desde a Antiguidade, jd nio ‘hora, jd nfo se ousa chora. Essa ida falsamente he- de que € preciso esconder a prépria dor, € contriria a0 do teatro antigo, onde se chorava copiosamente, pro te. Acaso se vé uma platta parisense explodir em tna morte de Giraudoux, como fer algum piblico ate- quando 0 grupo dos aores se apresentou de luo diante anunciar-the a morte de Esquilo? Eu estava na praca Ipice quando se celebraram ali os funerais de Jouvet: cra densa, mas no para chorat, apenas para solicita, presente, um olhar ou um autégrafo: a curiosidade o lugar da dor. | Pon ee | “Hoje, guardamos nosss ligrimas. Para quem, para qué? nalmente, no consideramos nada digno de nossos prantos, ¢ € necessiio que o Rei embre demoradamente a Psique que um pai tem, apesar de tudo, diteto de chorar pela filha. E ess re clamagio vem de Molitre, 0 mais sensivel de nossostrigicos, aque via nesses choros um abandono & “natureza” humana, mais ddo que esse admiravel tumulto coleivo encarregad, na An guidade, de dar um nome carnal aos golpes do acontecimen- to, Esse dom das igrimas, de que dspés o pablico antigo, ndo tinha nadaem comum com a tempestadezinha individual, meio nervosa, meio retérca, de nosso omantismo. A modemnidade ‘nunca concedeu 3 pai «fo we eslene do preudo-etico, que dia maida de seu con- trole mais do que a de sua dot, ou entéo os olhos bem umec- ‘ado, lengo aplcado sobre chotos superficie, em sums, 0 ago enternecimento que se apossa hem out mal da mulidio mediana a representacio das desgragas, que a comovem apenas na pro- pporsao de sua individualidade (salas de cinema se amolecendo dliante das aventuras do casal de Devencanto'). Ora, a tragésia antiga, esta sim, susctava prantos geras. ‘A tempestade fsica de todo um povo acompanhava desgragas ue, entretanto,s6 pertenciam & humanidade superior dos ris, dos herdis e dos deuses. O enternecimento modemo, quando [por acaso acontece, & sempre de origem inttospectiva: 0 pblico 1. Danan: ee Di Lan (Bri Bum, 194) pad pp de Coa om Cala ae Teo: Homa 56 chora sobre uma ondem de dramas inclusos em seu préprio hhocizonte conjugal ou familiar teatro s6 tem como encatgo fomecer-the um reflexo apagado de seus inforwinios possveis, ‘nunca arrasta para a ilusio profunda de uma desgraca vivida tno estado puro, para essa auséncia de histéria individual que define a grande e necessiia nuder da tragédia. “Muitas vezes se repetiram as palavras de Aristételes sobre 4 purifcaggo trigica, sem medir bem tudo 0 que tal programa tem de dificil. Trat-se de uma verdadeira transmutagi Fisica, la mediante argumentos totalmente geris, quer dizer, sem -nenkiuma complacéncia para as analogiasindividuais que cada lor pode encontrar no motivo trgico. Falo aqui do te2- de Esquilo © de Séfocles, em que a fabulagao raz 4 baila idéias moraise cvicas, como a instituigio do primeiro ibunal humano (as Euménides). Com Euripides. ¢ ja psi- a, poténcia antcrigica tanto quanto possvel, que ima 10 teatro ¢ solicta do publico um tipo de emogies de orden nal e nfo mais moral, que encontearemos mais tarde na tragédia do século XVII, de que Euripides é, como se sabe, pal modelo. Mas, quando se toma a tragédia grega cm pureza original, s ligrimas coltivas do povo nao sko nada 105 que sua mais aka cultura, seu poder de assumir, no abis- do proprio corpo, os dilaceramentos da ida ou da histéria. 'Na ordem dos espeticulos, s6 temos hoje um tinico jogo ue a paixio individual sja excutda, €0 esporte. O piibli ‘de uma grande partida de futebol sem divida io chora, s€ aproxima de uma perturbagio coletivaliberada sem falso » pudor; também ele aceita uma participagio do proprio corpo no combate assstido; contrariamente ao pibico do teatro bur- ‘gus, inert, eservado, 96 vivendo o espeticulo pelo olhar, aids bastante crtico ou adormecido, os espectadores esportivos si0 fiscamente capazes de assumir os gestos enteriores do engaja mento: 0 jibilo, 0 descontentamento, a espera 2 SUrpres, (0 dos ess modos fundamentais do corpo humano se desenvol: vem aqui a propésito de uma narragio bem mais préxima de uma grande problematica moral (demonstragao empirica da ex- celéncia) do que das quest6es bizantinas do teatro burgués re lativas ans direitos intemos da comice. Mas essa aprovacio auribuida a nosso esporte modemo deixa ver, inflizmente, toda a distancia que o separa das grandes tragéias antigas:o espor- te no provoca senio uma moral da forsa, ao passo que o tea- two de Esquilo (Ord) ou de Séfocles (Antigone) provocava seu piiblico para uma verdadeira emosio politica, engajando-o «a chorar o homem enviscado na tiania de uma regio birbara ‘ou de tuma lei cfvica desumana, ‘Claudel definiu a tragédia antiga: 0 longo grito diante de tuma rumba mal féchada. A camba: objeto Fundamental, centro, causa, umbigo do drama grego. Em nosso teatro moderno, a ‘umba ¢ substiruida pelo leito,¢ 0 grito se rorna uma seqin- cia de palavreado e de quivocos diante do leito mal fechado da «xposa. Dois objets, dis espagos: 0 espago aberto, natural, cs ‘ico do teatro 20 ar livre; 0 espago confinado, secreto, domi cilia do teatro burgués. © poder dramatico do ar live nao é de forma alguma, acessrio, decorativo, como se acreditava até recente dos Festivas. Guy Dumur apontou-0 aqui mes- propisito de Avignon, o lugar natural no tra, a0 espe- apenas um enquadramento (como muitas veres se diz lisonjear a clientela pequeno-burguesa, sempre évida por ddramaturgia de 6pera); le o constitui em sua singular- em sa fngilidade mais preciosa, eacrescenta um elemen- ital & sua memorabilidade. Nao ¢ indiferente, € mesmo que 0 espectador sea esse homem de pele, cuja sen- mais orginica do que cerebral, acolhe a cada momen- drama o mistéro ea interrogagio difusa que nascem do das etclas. A natureza dé cena o dibi de outro mundo, fe-a.a um cosmo que a toca com seus reflexos imprevis mergulho do espectador na polifonia complexa doar li que se sconde, vento que se levanta, passrinhos que uidos da cidade, coments de reso resi ao drama fe miraculosa de um evento que s6 acontece uma poder do ar livre est ligado 3 sua fragilidade: 0 esperé- ‘no é um hibito ou uma esséncia, évulnerivel como que vive hie et nue, insubsttutvel e, no entanto, ime- te moral. Dai seu poder de dilaceragio, mas tam- virtude de frescor, que purifca 0 paleo de sua pocira, seu ofcio, os trajes de seu artfcio, e faz de tudo iso 0 cde uma beleza que se acredita nunca mais rever or assim. espaco efemero correspondia outrora um tempo igual- singular. Como se sabe, a representagées teigicas eram jrascerimnias religiosas, voltando de tempos em tem- 1s, em datas fxs, ¢ desabrochando a0 termo de um intrito Jene, que suspendia 0 tempo eivieo, 0 dos trabalhos ¢ dos dias, em proveito de um tempo trigico durante © qual a Cidade, sob «forma de coro, enfrentava.a humanidade superior dos deuses © dos hers. Neste caso ainda, a modemidade tornou inspido esse poder de ruprara do tempo cotidiano, mas, no entanto, nio 0 abol ite hoje um tempo hebdomaditio, 6 do cinema sabitico ou do jogo dominical, mas, de qualquer modo, jé nao € 0 teatro 0 encarregado de asinala a Festa. De- completamente. ‘missfo decisiva, que afunda um poueo mais o teatro em sua fur <0 de diversio burguesa, dada em qualquer dia da semana, sem considerasio por nenhuma mensuragio do tempo vivos a dura- ‘io humana est, no entanto, longe de ser homoggnea 4 moda eum mecanismo, ea s6 existe na propria sucesséo das asceses © ds festas, foi também o esporte o que melhor retomou a gran de idéia antiga de um espeticulo regulamentado anualmente. ‘As festas ~ nacionais ou teligiosas ~, desprovidas hoje de conteido coletivo real, nfo s8o mais que pretextos para 0 re- _pouso, no ultrapassam uma sociologia do dcio, ao passo que um fato esportivo como a Copa da Franga, com toda a sua rede de prcliminares que cobre uma boa parte dos domingos franceses, prolonga, fraca mas autenticamente, a grande Festa eigica da ‘Antiguidade, Sei perfeitamente que se trata de uma correspon- éncia formal, ¢ que, em nossos paises modernos,o esporte & socialmente constituido para deriva, rumo a uma atividade ino- fensiva,forgas que temeriamos ver empregadas noutros fins. significativo que tudo 0 que concerne & festa semanal nunca » | i ea | Acja considerado mais que um atriburo do lazer (Minister des Lois, socologia do ae; privany-na antecipadamente de sua vireude positiva para reduzi-la categoria de passatempo, nunca ‘pensam como. movimento de uma mudi levada arava arte ou do combate, rum a0 conhecimento da condigio huma- “a, mas antes como wm reigio, um sonho, um pio destinados oupar a consctncia entre dis tabalhos. S6 um teatro ver~ iramente popular podera recuperar esa dupla Fungi da sédia antiga, a0 mesmo tempo Festa e Conhecimento, de~ ace solene do tempo laborioso c incindio das consiéncas, is aqui mais um elemento comum & tragédia grega e a0 te moderno: a exterioridade dos signos. Considerem wm te de lua live; ponham de lado o contetido passional jogo, 0 que s le? signor de emogao, mais do que a propria (Os lutadoresexternam o seu estado de alma (dor, ale- raiva,vinganga,regularidade), todas as suas expressSes so has para apresentar ao pablico popular uma leirura ime~ a € como que exaustiva de seus méveis. Aqui nfo hi am idade da vida, vocé no pode se enganar sobre a significa deste ou daquele gesto ou mimica; toda a arte do lutador iste em fazer voce compreender imediatamente 0 roteto al de que ele participa, ¢ cada um de seus atos, levado a0 ,admiravelmente exterior, sem sombra ¢ sem reserva, ‘ alimento jé preparado de uma operagio intelectual, a pon- deo combate poder ser falseado sem, por iso alharem sua Fangio exencial, que € epresentar um combate € no realizé-lo de fato: esse eal teria tanto sentido aqui quanto no teatro. E por isso que a parte sidica da luta livre € ralver. menos conse- aiente do que a espécie de tragédia do conhecimento que nela se epresenta, sendo que o espectador popular é, aqui, elevado «um lugar teomérfico, de onde, como um deus, contempla um Universo composto de signos Finalmente puros, ireversves Era essa também, a her dizer, uma das fungbes consticuti- vas dla tragiagrepa: 20 lado da face dolorosa do lutador verga- do, vencido e apresentando a0 seu piblico circular a cabega ale- gérica da humilhagio devastadora, coloque a méscara antiga, f- sada para sempre nesse uso passional c encarregada de signficar ‘para. o povo-espectador que o homem que ele exalts eaponta é secede uma verdadita“essénciaconcrets" da Dor. A identidade ino & duvidosa, Neste casa coma naguele. cima da fibulagio do ‘expeticulo, © pliblico é liberado da ambigiidade do mundo, consome signs claos, a psicologia fica abolida, pois que a arte do luado ou do tigico consegue fartla ref para a superficie, mantém-na acurmulada sob a Ietura direta do ppovo € ni deixa subsistir nenhuma dobra, nenhum abismo ‘onde poss refugiar-se alguma parte inefivel do ser O sol ate- niense ou os refletores da Mutualtétém esta mesma fungio ci- ‘ggica que consist em trazet, nos vincos signifiativos do rosto, ‘uma imterioridade que, escondida, nfo teria nenhuma utlidade dramatic, pos 0 teatro 6 pode dara consumir 0 que évisivel, ‘ca maior dramacurgia é sempre aquela que 96 utiliza as paises sob um tinico signo, um tinico nome ¢ um tnico gest. a E, da mesma forma que na lua livre a perfigio da mimi- ‘a toma ini a aucentcidade do combate, eumlbérn no teatro “a exttioridade dos signos toena dersisstio realismo, Nunca “vi espeticulo mais antidramitico do que uma pega (sob enco- la, € verdade) representada numa pequena vila basca, na ‘uma atriz de extrema boa vontade, que devia degolar um 0 cim cena, tnha metido na caboga matar realmente o ani- diante dos espectadores (a bem dizer, cu vera nisso, mais ‘uma preocupagio, ainda que errada, de encenasio, um tigi do “podlach primitivo: fiver ber a8 coisas: este gesto /ndo tinha nenhuma eficscia tearal,¢ toda a agonia da ave, ‘um fato intencional, bastante longa, s6 conseguiu crar um spo morto no esperéculo, tio desagradivel como uma lacuna smeméria do ator. E que o ato dramitico verdadciro & sem- Juma relagdo entre a clareza de uma intengio e sua ligacio ida) com o resto do processo. A mascara trigica,fixada de ‘num mével de bas, dspensava de um tatear dos sig- ( frango que no quer deiear se apropriarem de sua pré- mort) e reservava §dialéica das paix antagonists toda de se deservolver: definidas de uma ver por todas, no mais de nada que no fosse se enftentar. Exist af ‘pécie de intensidade que carnage o embate esportivo ou ulo trigico com uma verdadeieajubilacio da intligén- que chega uma percept imediata das relagées,e no das © que € a propria definigéo da cultura sn comm be pa | Pd ee | Juntamente com a mascara, a tragédia antiga dispunha de ‘outro signe poderoso: a musica, Mas no terfamos ro se acre- dlicisemos que basta aliar © drama e a lira para refazer tage dia: 0 que fazemos, quando nos entregamos a essa operagio, & ‘pera, quer dizer, 0 oposto mesmo de um espeticulo trigico. Sabe-se que a musica das tragéia grog tinha um cardter mo- ral marcado (“o¢hor"), isto é, sua funcio era impor uma inte- leogdo imediata dos sentimentos que ela devia exprimis. Sabe-se também que ese carder érico obrigatério(Apaixonado, Pesado, Angustiado, Alegre, Solene ete., segundo as fases do drama) ‘io resultara, como em nossa musica moderna, de uma inten- 60 afinal subjetiva do compositor (podertamios citar mil pigi- ras que podem ser indiferentemente entendidas como a ex- Pressio do ardor alegre ou patético), mas que, entre os gregos, ‘munca ficardo ao acaso o sentido da emogio, os proprios modos = tal como mascara ~ eram fixados numa signficagdo tradi- ional, inteligivel sem retardamento e sem ambigdidade. Deter- minado modo era convencionalmente o da angistia, outro 0 dda volipiae esse aparato de signos perfeitamente claro vinha reforgar a ratureza intelectual do ato trigico: a paixio era dis- ppensada, nao a partir de um vago pits, mas desta ou daguela ‘gama, defisida rigorosamente pela ordem de seus tons. A Re- nascenga floentina interessou-se por esses problemas de pro- s6dialtica, mas flizmente sem tentar mostrar sua metafisica; a ideia de ma stimmmaeng erga, feta de uma sintese miraculo- sa entre a misica, a danga ¢ a poesia, & uma idéia puramente romantica. despeito de sua belera, nada é mais discutivel do a opoxigio nietrschiana entte 0 dionisiaco € 0 apolineo; a pensada por Nietzsche nio éade Esquilo, éade Wiag- ito &, contrétio mesmo de uma tragédia pois 0 elemento absorvetriunfalmente, no caso, txlos as outta signos, bh maior ilusio do que acreditar em uma fusio homo- das diferentes ordens de phies: em toda arte civilizada {sso no implica nenhum julgamento de valor) a ineligén- € a condigo original da emosio. (© proprio Copeau foi vitima dessa iusio metaisica quan- reclamou uma sintese rica andloga 3 ds Antigos,e sa idéia vel, mas louca, continua atraindo os mais eslarcidos dos ddramaturgos modemos: toda peya trigica tem hoje sua de cena”; entreanto, nossa mtsica ocidental, munidla de poder patético ¢ ni ético, ¢incapaz de se incorporar a0 a xo trgico: ou ca o invade, ou permanese exterior a ele todos os poderes da tagédia grega, ese & talvez 0 mais his- portato © mais frig, e é entretanto, sempre ele que se nde encontrar primeito; mas esas tentatvas nunca podem 0s limites da reconstituigio ou do divertimento, €se- preferivel fier lucidamente o luto de um elemento que hoje tem nada a ver com o poder vivo da tragéia, Esse poder nunca foi, essencialmente, mais que uma gran- dia civicas c, a despeito da afabulacio mitoligica, 0 teatro pelo menos o de Esquilo ede Séfocles, foi antes de tudo teatro social. Através dos mitos divinos, o que cada vez es «em causa era 0 devir da Cidade, o poder de ela propria fa- »* | Paid Bert zer seu destino por grandes iniciativas politcas: As suplicantes nada mais édo que o debate entre a guerra e a pax; Orda, 0 ‘de uma penalidade birbara, indefinidamente reversivel € que 6 a insttuigio da primeira arbitragem humana pode romper; Antigona, 0 confito dali parental com a ei civil; Epo inal- ‘mente, a idéia de que toda macula s6 tem realidade social. A unidade de todo esse teato é, com efeito, uma problemética do ctime. Mas 0 Mal nio é aqui nem psicoldgico, nem meta- fisico, ele € essencialmente politico; a culpa ndo tem raiz nem na conscitnca, nem na le religiosa, ela s6 pretende surgir da ameaga de uma destruigto da Cidade; 0 crime de Orestes, or- dlenado por um deus menos “social” do que o homem, no per- turba a ‘psicologia” do individuo-Orests, mas, pla lei antiga ‘de uma vinganga infnita ele correo rsco de corromper as li- crime nto é nada. 6 seu gages fundamentais da sociedade: risco de explosio social que é tudo; também o perdio nio & aqui a grasa de um deus, ele é a decisto sbia de um jai de ci- adios, £0 gesto interessado da mais democritica, da mais ate- niense ¢, portanto, da mais humana das divindades: Atena ‘Assim, a tragédia grega foi, no esencial, 0 teatro de uma hiswria politica que se fer asi mesma, ¢ da qual os homens sio totalmente senhores, visto poderem, em qualquer momento, por tum ato citeo, por aquela “sabedoria” que € antes de tudo julga- mento efcaz, rompé-la, inflet-ta, tomécla mais humana, menos caviscada nos tabus rerdgrados e nas Leis ameagadoras eabora- das fora do homer. Nada mais exemplar a esse respeito, nada ‘mais chocante tampouco, do que a meditasio do velho Rei das 6 | Bri bra | Supliantes, que coloca toda a prudéncia necessria a um homer 486, sem recurso ¢ sem dlibi, em deliberar em si mesmo sobre a guerra ca paz io existe mas bela cantata ao homem do que est ‘eflexio precavida, magnifica porque totalmente responsivel. Pode-se dizer que esse cuidado de pura deliberacio humana 1 fungio essencial do coro antigo. Na antropologia diferen- dda tagédia groga, nesse universo de eés nives, em que povo, os reise os deuses dialogam, cada um falando de seu singular, o poder humano por exceléncia, a linguagem, 0 povo-coro, Longe de sera simples ressonancia lirica de que parecem se realizar fora dele, como muitas veues se 0 coro & a palavra mestra que explica, que desfar a.am- dade das aparéncias e far entrar o gestal dos aores numa ‘causal inteligive. Pode-se dizer que é 0 coro que di 20 lo a sua dimensio trigica, pois é ele, ¢s6 ele, que € Palavra humana, ¢ 0 Comentano por exceléncia, é seu ver que faz do evento algo mais do que um gestobruco ¢, pelo de ligacio proprio ao homem, tecendo a cadeia dos mé- 4 das causas, constiui a tragédia como uma Necessidade reendida, isto é, como uma Histéria pensada, ‘On, ese coro da tragéia grega Eo que dela pereceu rorae . Nosso teatro, nosso esporte e nossa vida ainda podem algumas formas da grande dramacuria antiga, © coro, i no est em lugar nenhum. Um valor propriamente oci- ‘matour-o: a psicologia, que, fazendo do cranio humano ‘aixa de que se pode tirar qualquer coisa, reduz o teatro de um enigma e redo piblico categoria de leitor Aqui: ndo hi nenhuma outra humanidade ano see x | Ptr ere | do ator, o espectador fica mudo, ee é somente 0 olhar pas- sivo a0 qual se oferece o desvendamento de um segreda passio- nal, O pblico antigo, de que coro nio era sen uma espécie de prolongamento espacial, mergulhava ele préprio no ato tré- co, impregnava-o com seu comentitio e recebia cada um de seus arrancos no proprio vazo de sua intlecgo; a tragéiai- radiava para todas as arquibancadas e, por um movimento in- verso, a coletividade mesclavaa sua palavra explcatva, como umn ‘dom solenemente humano, a0 processo do argumento trigicor sabemos que, no extremo oposto, nosso teatro de Boulevard ja nio € coletividade, mas colegio de espectadores. ‘Quase nem € necessirio observar que, a esse prego, 0 tea- tro perde toda dimensio civica. A Cidade estd quase sempre ausente de nosso paleo (exceto, talvez, no caso de Corneille), ainda que nossa histéria, nosas lutas politics, nossa literatura ‘mesmo, como Jean Duvignaud observou aqui, nos persuadam de que sabemos conceber a idéia civil em toda a sua chama. Somente, aqui ainda, o teatro foi desviado de sua fungdo tr ica, pela fala raga do século XVI; 0 essencalismo clisico substitu, por um teatro de tipos, uma dramaturgia dis grandes idéias moras, que sio as tnicas a poder impor-se com paixio 2 imtligéncia de uma colervidadee, até o dia de hoje, nenhuma revolugio, muito menos a tomntica vei perturbar a fils uni- verilidade do teatro psicol6gico, nem fez surgi 0 coro popu lar de seu timulo muito bem fechado. “THEATRE POPULAIE lhe agie de 1958

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