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Algirdes Julien Greimas nasceu em 9 de março de 1917 em Tula, na Lituânia,

que na época fazia parte do território russo.1 Ele cursou direito em seu país, mas

no período de 1936 a 1939 foi estudar linguística em Grenoble na França.2 Sua

inserção nos estudos linguísticas ocorre no campo lexicografia e de lexicologia,

área de grande interesse dos estudiosos da língua naquele período.3 Sua tese de

doutorado teve o tema: “La mode en 1830. Essai de description du vocabulaire

vestimentaire d’après les journaux de mode de l’époque”[A moda em 1830.

Ensaio de descrição do vocabulário da vestimenta a partir das revistas de moda

da época],e uma tese secundária, decorrente de um trabalho mais curto, cujo

título era “Quelques reflets de la vie sociale en 1830 dans le vocabulaire des

journaux de mode de l’époque”[Alguns reflexos da vida social em 1830 no

vocabulário de revistas de moda da época].4 O doutorado de estado era então

condição para que o pesquisador se tornasse professor universitário habilitado

a orientar pesquisas e para obter um posto de pesquisador no órgão público de

pesquisa da França, o CNRS – Centre National de la Recherche Scientifique.5

A partir de 1960 passa a residir em Paris, onde pode aprofundar suas pesquisas

em torno da proposta de constituição das bases da semiótica.6 Cinco anos

depois passou a promover encontros periódicos na École de Hautes Études en

Sciences Sociales visando a constituir uma equipe de discussões e reflexões

teóricas, a fim de juntos construírem uma teoria da significação.7 No início da

década de 1970, o modelo de trabalho coletivo se consolidou no estabelecimento

1
CORTINA, Arnaldo. Percurso da semiótica por meio das obras de Greimas. Estudos semióticos, vol, 13,
nº 2 (edição especial), 2017. p.37. Greimas faleceu em 1992, ver: TAILLE, Elizabeth Harkot de La. Por que
Greimas? Estudos semióticos, vol.14, nº 1, p.12.
2
CORTINA, Arnaldo. Percurso da semiótica por meio das obras de Greimas. Estudos semióticos, vol, 13,
nº 2 (edição especial), 2017. p.37.
3
CORTINA, Arnaldo. Percurso da semiótica por meio das obras de Greimas. Estudos semióticos, vol, 13,
nº 2 (edição especial), 2017. p.37.
4
Assim em: CORTINA, Arnaldo. Percurso da semiótica por meio das obras de Greimas. Estudos
semióticos, vol, 13, nº 2 (edição especial), 2017. p.37.
5
CORTINA, Arnaldo. Percurso da semiótica por meio das obras de Greimas. Estudos semióticos, vol, 13,
nº 2 (edição especial), 2017. p.37.
6
CORTINA, Arnaldo. Percurso da semiótica por meio das obras de Greimas. Estudos semióticos, vol, 13,
nº 2 (edição especial), 2017. p.37.
7
TAILLE, Elizabeth Harkot de La. Por que Greimas? Estudos semióticos, vol.14, nº 1, p.12.
do que veio a ser conhecido como "círculo semiótico greimasiano", cuja função

de celeiro teórico coletivo somente começou a sofre modificações ao final dos

anos 1980.8 Até o presente, a tradição de encontros quinzenais do Seminário de

Semiótica, um espaço de discussão e criação teórica, mantém-se, porém, com

características básicas distintas das originais.9 Embora linguagem e literatura

fossem objetos de investigação pelos quais Greimas era mais conhecido, sua

teoria, no entanto, não estava limitada a isso.10

Compreender a semiótica nunca foi um esforço fácil, em parte devido ao

número de escolas e em parte devido aos elos e conexões que faltavam entre as

teorias.11 O que também dificulta a busca pela compreensão é que os

semioticistas tendem a simplificar e reduzir as teorias às suas características

mais distintas.12 Isto se manifesta principalmente através da marca das

principais figuras com suas ferramentas ou conceitos mais memoráveis: Juri

Lotman com semiosfera, Charles Sanders Peirce com tipologia de signo,

Umberto Eco com códigos, e Algirdas Julius Greimas com o quadrado

semiótico.13

Greimas chamou a sua obra de "projeto semiótico".14 Mas esse projeto

nunca foi concebido para ser contido e isolado – as formas como ele usou e

definiu termos e conceitos essenciais provam isso diretamente, uma vez que, a

maioria deles foi tomado de uma variedade de contextos científicos e

8
TAILLE, Elizabeth Harkot de La. Por que Greimas? Estudos semióticos, vol.14, nº 1, p.12.
9
TAILLE, Elizabeth Harkot de La. Por que Greimas? Estudos semióticos, vol.14, nº 1, p.12.
10
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.10.
11
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.7.
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GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.7.
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GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.7.
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GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.8.
reaproveitado como parte da estrutura semiótica.15 Além disso, é impossível

desconsiderar a variedade de gêneros que sua teoria semiótica manifestou

como, por exemplo, dicionários, estudos lexicográficos, análise de obras

literárias, espaciais ou visuais, gestos, ou mesmo mitologia, estudo das

paixões.16 Outro aspecto único da teoria semiótica de Greimas, segundo alguns

autores, é que, apesar da variedade de formatos e abordagens, ela conseguiu

mudar seu foco, expandir e ramificar-se sem invalidar os empreendimentos

teóricos anteriores.17 Ainda segundo, esses autores, o primeiro e o segundo

tomo de “Sémiotique: Dictionnaire raisonné de la théorie du langage” são uma

prova viva disso.18 Mas, apesar dessa variedade, todos os trabalhos

conseguiram comunicar a mesma abordagem fundamental para objetos de

pesquisa.19

Tem sido destacado que a teoria semiótica de Greimas operava na crença

não dita de que toda superfície esconde uma profundidade, e o arsenal

completo de construções semióticas está aí para prová-la.20 Em todo o escopo de

trabalhos dedicados à semiótica, Greimas demonstrou seu empenho em

analisar a superfície, ou seja, o nível imediatamente experimentado de qualquer

objeto semiótico, e a profundidade, ou seja, os sistemas de valores e taxonomias

subjacentes.21

15
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.8.
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GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.8.
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GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.8.
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GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.8.
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GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.8.
20
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.9.
21
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.9.
Uma das razões para o impacto da teoria de Greimas é sua multiplicidade de

construções teóricas. Isso não se aplica apenas ao grande número de veículos

teóricos planejados ao longo da carreira do semioticista, mas também à

diferença de sua natureza.22 Seu trabalho produziu princípios analíticos gerais e

estruturas gerais de análise, bem como ferramentas individuais. Princípios

gerais constituem o alicerce de qualquer abordagem teórica.23 Nesse contexto, a

estrutura denota o processo analítico sequencial que descreve os passos,

princípios e operações atribuídos a cada etapa.24 E é aí que reside o significado e

a força essencial da abordagem semiótica Greimassiana - em seus detalhes e na

consistência com que o processo é definido e descrito.25

A teoria de Greimas também deu origem a conceitos que atualmente

constituem ferramentas independentes.26 A natureza curiosa dessas ferramentas

é que, embora sejam integradas em estruturas analíticas, elas também

funcionam como ferramentas separadas, o quadrado semiótico é um exemplo

permanente de tal fenômeno.27 Esse é o elemento central no paradigma

semiótico greimasiano. Teria sido elaborado em 1960. O quadrado semiótico,

como ferramenta para a abordagem e análise textual, é amplamente empregado

pela patente reprodutibilidade de análise que garante enquanto método

científico de pesquisa.28 Greimas parte de uma relação de oposição binária entre

dois termos retomados dos estudos fonéticos e fonológicos então empreendidos

por nomes como Trubetzkoy, Jakobson e Martinet no contexto do círculo de

22
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.9.
23
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.9.
24
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.9.
25
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.9.
26
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.9.
27
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.9.
28
DOMANESCHI, Eliane. O quadrado semiótico greimasiano: herança e transformação. Estudos
semióticos, número special, novembro 2017.p.52.
Praga: trata-se de uma oposição qualitativa do tipo s1 vs s2 ( como em "dia" vs

"noite"), que formam então os termos contrários. A partir deles, por meio de

uma operação de negação, obtêm-se ŝ1 vs. ŝ2 ("não-dia" vs. "não-noite"), em

que s1 vs. ŝ1 ("dia" vs. "não-dia") estão em oposição do tipo privativa formando

o par de termos contraditórios.29 Superando o binarismo, a estrutura em

quadratura comporta ainda termos de terceira geração, complexo (S) e neutro

(S), que obedecem à lógica das oposições participativas, onde termos extensivos

(mais vagos) e intensivos (mais precisos), de acordo com definição de

Hjelmslev, se relacionam.30 De forma geral, temos, no quadrado semiótico, uma

perspectiva estrutural em que as relações dão sentido aos termos.31

Greimas não se esquivou de referir-se ao seu próprio trabalho e atualizar

partes específicas de sua teoria - como admitir as limitações das transformações

narrativas de junção e disjunção enquanto estudava as paixões e se movia em

direção a uma base teórica que permitisse definir e analisar processo ao longo

do estado final.32 É preciso admitir que, de certa forma, as qualidades

incompletas do trabalho de Greimas são exatamente o que contribui para sua

atratividade e longevidade. Mesmo que isso possa soar contra-intuitivo, as

partes subexploradas e subdesenvolvidas da teoria atraem mais atenção.33 A

isotopia é um desses conceitos que foi inicialmente apresentado em um

contexto limitado e, posteriormente, expandido para abranger um número de

estruturas que asseguram a coerência textual em diferentes níveis textuais.34

Outro exemplo, De l'imperfection é um trabalho simbólico no sentido de que

29
Assim em: DOMANESCHI, Eliane. O quadrado semiótico greimasiano: herança e transformação.
Estudos semióticos, número special, novembro 2017.p.52.
30
DOMANESCHI, Eliane. O quadrado semiótico greimasiano: herança e transformação. Estudos
semióticos, número special, novembro 2017.p.52.
31
Um excelente artigo sobre esse assunto é: DOMANESCHI, Eliane. O quadrado semiótico greimasiano:
herança e transformação. Estudos semióticos, número special, novembro 2017.p.51-58.
32
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.10.
33
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.10.
34
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.10.
mostrou o estado imperfeito e incompleto da teoria semiótica e, assim, abriu-se

para inúmeras opções de desenvolvimento.35 Pode parecer que em seu último

trabalho o autor tentou provar que a teoria semiótica pode ser estendida para

além dos limites rígidos que foram visualizados nos trabalhos iniciais.36

35
Assim em: GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.10.
36
GRIGORJEVAS, Andrius; GRAMIGNA, Remo; SALUPERE, Silvi. A.J.Greimas: the perfection of
imperfection. Sign Systems Studies 45(1/2), 2017.p.10.

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