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FILHO, Adelmo Genro. 0 segredo da pirémide - para wa teoria marxista do Jornalismo. Porto Alegre, Tché, 1987. Adelmo atribui ao jornalismo um papel revolucionério: o de ser uma forma de conhecimento que, embora historicamente condicionada pelo capitalismo, apresenta potencialidades que ultrapassam esse modo de producdo. Para 0 autor, o jomalismo deve ser encarado como uma nova "forma de conhecimento” que se distinguc ¢ complementa as mediagoes que a ciéncia e a arte proporcionam para a compreensio do mundo humano: "A consumagio da liberdade humana exige, em especial, 0 desenvolvimento do jornalismo". Introdugéo O Otto Groth foi um dos tinicos caras que estudou o jornalismo, enquanto objeto, na teoria. E nao a comunicacio social, e nem as praticas.e sim o Jomalismo Sobre Oito Groth: Seu grande objetivo era obter o reconhecimento d: Jomalistica’ como disciplina independente. Essa meta hoje aparece como algo, no "ciéneia | minimo, duvidoso, considerando-se que a tendéncia atualmente dominante nas ciéncias sociais é a confluéncia de disciplinas e perspectivas. No entanto, o principal mérito de Groth, que consiste em ter estudado 0 jornalismo (ou os "periédicos") como um objeto aut6nomo entre os demais processos de comunicagio social, niio teve muitos herdeiros. As abordagens que predominaram nas tiltimas décadas giram em torno da comunicagao de massa, da publicidade e das técnicas de informagio, sem destacar 0 jomalismo como um objeto especifico a ser desvendado. Em geral, 0 jornalismo tem sido considerado como simples modalidade da comunicagio de massa ¢ mero instrumento de reprodugio da ideologia das classes dominantes. Seu método de andlise - ao contrério do que afirmam alguns pesquisadores - nao é funcionalista, mas tipicamente weberiano. Os periddicos, para ele, si0 uma obra cultural produzida por sujeitos humanos dotados de finalidades conscientes, como parte da totalidade das criagdes humanas. O significado do periédico, entao, é a comunicagao de bens imateriais de todos os tipos, desde que pertencam aos mundos presentes dos leitores, de um modo piiblico e coletivo. O periédico deve servir de mediador, 0 que nao implica apenas uma funciio social, mas também uma reciprocidade das relagdes entre os jornalistas, 0 periddico e 08 leitores. CRITICA AS ABORDAGENS FEITAS SOBRE 0 JORNALISMO As quatro caracteristicas fundamentais do jomalismo, apontadas por Groth - periodicidade, universalidade, atualidade e difusdo -, consideradas numa perspectiva hist6rico-social, formam a dimensio que chamarfamos estrutural do fendmeno jornalistico. Nao caracterizam a sua esséncia. Por outro lado, ao afirmar a significagao do periédico comomediador na comunicagao de bens imateriais, Otto Groth permanece num terreno excessivamente genérico ¢ abstrato. O que € preciso definir é a especificidade desses bens imateriais produzidos por essa estrutura jomalistica historicamente determinada. Noutras palavras, qual o tipo de conhecimento produzido pelo jornalismo? Assim, pode-se perceber que a auséncia de uma teorizacao axiomatica sabre 0 jomalismo nio ocorre por acaso, mas num contexto de reflexes heterogéneas e até paradoxais sobre 0 problema da comunicagao. Tampouco essa lacuna é destituida de conseqiincias politicas € sociais: em geral, os posicionamentos nascidos dessa indigéncia tesrica capitulam diante do empirismo estreito - caminho mais curto até a apologia - ou assumem o distanciamento de uma critica supostamente radical que resume tudo no engodo é na manipulacao. E certo que a ideologia burguesa est embutida na justificagao tedrica e ética das Tegras ¢ técnicas jornalisticas adotadas usualmente. Mas isso no autoriza, como muitos parecem imaginar, que se possa concluir que as técnicas jornalé meros epifendmenos da dominagio ideolégica. Essa conclusio nao é legitima nem do ponto de vista I6gico nem histérico. 8 so QUE O AUTOR FAZ: Um enfoque verdadeiramente dialético-materialista deve a concreticidade hist6rica do jomalismo, captando, ao mesmo tempo, a bus especificidade e a generalidade do fenémeno. Deve estabelecer uma rela: entre o aspecto hist6rico-transitério do fendmeno e sua dimensio hist6rico- ontoldgica. Quer dizer, entre o capitalismo (que gestou 0 jornalismo) ¢ a totalidade humana em sua autoprodugao. Dito de outro modo, o jomnalismo nav pode ser reduzido as condigdes de sua génese hist6rica, nem a ideologia da classe que o trouxe a luz. 10 dialéti O que faremos nas reflexdes subseqlientes é discutir o jornalismo como produto hist6rico da sociedade burguesa, mas um produto cuja potencialidade a ultrapassa e sc expressa desde agora de forma contraditoria, 8 medida que se constituiu como uma nova modalidade social de conhecimento cuja categoria central é 0 singular. Porém, © conceito de conhecimento nao deve ser entendido na acep¢io vulgar do positivismo, ¢ sim como momento da praxis, vale dizer, como dimensio simbélica da apropriacdo social do homem sobre a realidade. Nosso ponto de partida, portanto, pode ser ilustrado - pela assertiva final do livro de Nilson Lage. Ele intuiu corretamente o caminho a seguir e 0 expressou de modo incisive: "Os jornais, em suma, nao tém safda: sf veiculos de ideologias priticas, mesquinharias. Mas tm saida: hé neles indicios da realidade ¢ rudimentos de filosofia pratica, critica militante, grandeza submetida, porém insubmissa". Oragdes imponentes de um jomalista talentoso. Talvez o lead de uma nova abordagem. CAPITULO I O funcionalismo e a comunicacao: consideragdes preliminares A imprensa como "fungao social” Como ser indicado no final deste capitulo, o método funcionalista que € subjacente a essa abordagem compromete o desdobramento critico da andlise. Assim como 0s fendmenos imediatos que povoam 6 cotidiano, os acontecimentos precisam ser percebidos como processos incompletos que se articulam e se superpSem para que possamos manter uma determinada "abertura de sentido” em relagdo a sua significagdo. Mesmo que o sentido seja produzido sempre numa determinada perspectiva ideolégica, assim como qualquer outra significagio atribuida a0 mundo social, isso no invalida a importincia dessa "abertura de sentido" que Ihe € subsistente. No entanto, o jornalismo, que 6 0 filho mais legitimo desse casamento entre 0 novo tecido universal das relagdes sociais produzido pelo advento do capitalismo ¢ os meios industriais de difundir informagGes, isto €, o produto mais tipico dese cons6rcio hist6rico, nao € reconhecido em sua relativa autonomia c indiscutivel grandeza. De um lado, ele € visto apenas como instrumento particular da dominagio burguesa, como linguagem do engodo, da manipulagao ¢ da consciénci alienada. (...).De outro lado, estdo as visdes meramente descritivas ou mesmo apologéticas - tipicamente funcionalistas - em geral suavemente coloridas com as tintas do liberalismo: a atividade jomalfstica como "critica responsdvel" baseada na simples divulgacao objetiva dos fatos, uma “fungao social” voltada para "o aperfeigoamento das instituigdes democraticas”. Na linguagem mais direta do mestre (iirkheim), uma atividade voltada para a dentincia e correcdo das patologias sociais", portanto, para a coesio ea reprodugio do estado "normal" da sociedade, ou seja, 0 capitalismo. ~ funcao de reafirmar 0 status quo Enfim, A medida que o funcionalismo "consiste na determinagao da correspondéncia existente entre um fato considerado ¢ as necessidades gerais do organismo social em que est inserido”, nao permite notar a autonomia relativa do fendémeno jornalistico e suas perspectivas hist6ricas mais amplas. Fi as contradigées: sua incluso na luta de classes ¢ os limites e possibilidades que dat im obscurccidas decorrem. CAPITULO IL Do pragmatismo jornalistico ao funcionalismo espontineo J Hohenberg afirma que é impossivel conceituar a noticia porque o conceito varia em fungdo do veiculo. "Para 03 matutinos é 0 que aconteceu ontem; para os vespertinas, © fato de hoje. Para as revistas, o acontecimento da semana passada. Para as agéncias noticiosas, emissoras de radio ¢ televisdo, € 0 que acabou de ocorrer". Por isso, ele nos oferece apenas as "caracterfsticas" da noticia: "As caracteristicas basicas da noticia sio precisa, interesse € atualidade. A essas qualidades deve ser acrescentada uma quarta, a explicacdo. Qual a vantagem de um noticiério preciso, interessante e atual, se os leitores ndo o entendem?" Critica aos “deveres da imprensa” elaborados por Fraser Bond, porque ele diz que independéncia, imparcialidade, exatidao, honradez, responsabilidade ¢ decéacia s6 reforcam 0 modelo de jornalismo capitalista: “Naturalmente, ao omitir essa discussiio, ele adota as acepgdes correntes que a ideologia dominante at ui a essas palavras. Independéncia e imparcialidade significam, no fundo, ter como pressuposto que o capitalismo desenvolvido norte-americano e sua hegemonia imperialista é um tipo de sociedade "normal", e deve ser preservada contra todas as “patologias” politicas, sociais e econémicas. Aexatiddo quer dizer, quase sempre, a submissdo do jomalista as fontes oficiais, oficiosas ou institucionais. A honradez nao € outra coisa sendo uma boa reputagio entre as instituigdes da "sociedade civil”, no sentido atribuido por Gramsci a essa expresso, isto é, entre aquelas entidades que reproduzem a hegemonia burgues preceitos gerais da ordem estabelecida. A decéncia significa, como diz 0 proprio autor, "la censura del buen gusto", ou seja, 0 reconhecimento da hipocrisia que fundamenta a moral burguesa como um valor digno de ser reverenciado e acatado. A responsabi jdade & 0 respeito as leis © Nao € por casualidade que ele define as fungSes principais do jornalismo nos seguintes termos: informar, interpretar, guiar ¢ divertir.” Relato ou opinido: um falso problema Certamente que hi um "grio de verdade" na idéia de que a noticia no deve emitir juizos de jornalistica tal como se configurou modernamente. Mas é igualmente pacifico que esse jufzo vai inevitavelmente embutido na pr6pria forma de apreensao, hicrarquizagao e selecdo dos fatos, bem como na constituigo da Tinguagem (seja ela escrita, oral ou visual) e no relacionamento espacial ¢ temporal dos fendmenos através de sua difusao. lor explicitos, 4 medida que isso contraria a natureza da informagao Embora o jornalismo expresse e reproduza a viso burguesa do mundo, ele possui caracteristicas proprias enquanto forma de conhecimento social e ultrapassa, por sua potencialidade hist6rica concretamente colocada, a mera funcionalidade ao sistema capitalista. CRITICA SOBRE CLOVIS ROSSI - O "mito da objetividade" € criticado por Clovis Rossi sob o Angulo puramente psicolégico, como se a subjetividade do jornalista fosse uma espécie de residuo que se interpde entre o fato, tal como aconteceu, ¢ scu relato neutro. Portanto, segue logicamente que a tarefa do jornalista é buscar 0 maximo de objetividade c isengao possiveis © que Rossi no percebe ~ porque, teoriza a partir do "senso comum" da ideologia burguesa ¢ da sua relagdio pragmitica com as técnicas jomalisticas - é que os préprios fatos, por pertencerem a dimensio hist6rico-social, ndo sdo puramente objetivos. Assim, julgamento ético, a postura ideolégica, a interpretagao e a opiniao nao formam um discurso que se agrega aos fendmenos somente depois da percepgio, mas so sua pré-condicdo, o pressuposto mesmo da sua existéncia como fato social. Nao hé um fato e varias opinides e julgamentos, mas um mesmo fendmeno (manifestacio indeterminada quanto ao seu significado) ¢ uma pluralidade de fatos, conforme a opiniao eo julgamento. Isso quer dizer que os fendmenos sio objetivos, mas a esséncia 6 pode ser apreendida no relacionamento com a totalidade 5 Assim, 0 complemento ldgico dessa visio ingénua e empirista da objetividade, para dar vazo ao liberalismo, nao poderia ser muito diferente: "a teoria dos filtros”. Depois enti outros elementos que dificultam a honor4vel postura da imparcialidade jomalistica. da “lei dos dois lados" como critério justo, pelo menos "teoricamente”, temos Clévis Rossi, por exemplo, no questiona a propriedade privada dos meios de comunicagio. Considera isso, implicitamente, uma situagio "normal". Tanto que nfo 9 vé maiores conseqiiéncias em relago ao contetido do jomalismo, exceto "quando 0 assunto € de grande relevancia" © a empresa impdc, entdo, scu julgamento politico. Mas esse acontecimento € circunstancial, talvez um "acidente de percurso" como dizem os delicados comentaristas politicos das grandes redes privadas de comunicagao em nosso pats. Porém, basta um pouco de reflexao para se perceber que Rossi ndo est sendo desonesto. Para grande parte dos jornalistas, hoje a maioria, a colisdo com os interesses fundamentais da empresa €, efetivamente, um “acidente de percurso”. Eles colocam seu - talento, honestidade e ingenuidade a servico do capital com a mesma naturalidade com que compram cigarros no bar da esquina. Resumindo, para Genro Filho, Clovis Rossi é um ingénuo dizendo que, embora isso seja diffcil de acontecer, pode ser que um jornalista dos comités de redago possa mudar, com 0 tempo, a posigo ideoldgica editorial do veiculo em que trabalha. CAPITULO II O jornalismo como forma de conhecimento: os limites da visio funcionalista O “conhecimento de” ou "conhecimento de trato” é aquele que, relativamente a um saber mais complexo e abstrato, néo ultrapassa o aspecto fenoménico, que emana do uso familiar, da imediaticidade da experiéncia ¢ do habito que lhe corresponde. Nao € um conhecimento produzido por qualquer procedimento formal, analitico ou sistematico. "E essa espécie de conhecimento pessoal ¢ individual que faz cada um de A vontade no mundo que escolheu ou no qual est4 condenado a viver" Por outro lado, o “conhecimento acerca de" seria formal, produto de uma abstragao controlada € criteriosa, isto €, 16gico e terico. Segundo o autor, essas duas formas de conhecimento séo géneros (e ndo "graus”) diferentes e, portanto, possuem fungdes sociais distintas. ROBERT PARK SOBRE A NOTICIA: "Essa qualidade transitéria efémera é da propria esséncia da noticia e est4 intimamente ligada a todos os outros caracteres que ela exibe. Tipos diferentes de noticias vivem um perfodo diferente de tempo. Na mais elementar de suas formas, o relato de uma noticia é um mero lampejo a anunciar que um acontecimento ocorreu".— ela niio somente informa mas também orienta. A noticia como fungio org&nica O aspecto central desse género de conhecimento (0 jornalismo) € a apropriagao do real pela via da singularidade, ou seja, pela reconstituigao da integridade de sua dimensao fenoménica. Nao é simplesmente, como quer 0 autor (R. Park), uma espécie de conhecimento, que faz cada um de nds sentir-se a vontade no mundo que escolheu ou no qual esté condenado a viver*. Ao nao compreender essa questo, Robert . Park acaba definindo 0 conhecimento produzido pelo jornalismo com um mero reflexo empirico ¢ necessariamente acritico, cuja funcdo é somente integrar os individuos no "status quo”, situd-lo € adaptd-lo na organicidade social vigente. jomalismo teria, assim, uma fungio estritamente "positiva” em relagiio A sociedade civil burguesa, tomada esta como referéncia universal. Da mesma maneira que ele toma a nogio de William James sobre 0 "conhecimento de trato" como um género de saber através do qual 0 individuo reproduz. a si mesmo e ao sistema, ele supde que 0 joralismo uma forma de conhecimento que rea funges. a socialmente as mesmas A significagiio como probabilidade e liberdade E nessa perspectiva que o jomnalismo se impée, de maneira angular, como possibilidade dos individuos em participar do mundo mediato pela via de sua feigio dinamica e singular, como algo sempre incompleto, attibuindo significagdes ¢ totalizando de maneira permanente como se estivessem vivendo na imediaticidade de sua aldeia. A importancia de um “fato” enquanto noticia obedece a critérios diferentes em relagdo aos utilizados na hierarqui: feita pelas ciéncias sociais ou naturais, de um lado, e pela arte de outro. O jornalismo no produz um tipo de conhecimento, tal como a ciéncia, que dissolve a feicdo singular do mundo em categorias légicas universais, mas precisamente reconstitui a singularidade, simbolicamente, tendo consciéncia que ela mesma se dissolve no tempo. O singular é, por natureza, efémero. O sujeito e 0 objeto: a dupla face do real Sobre Park, de novo: “Parece que a importancia social da informacao sobre um evento, admitindo-se as premissas discutidas acima, depende de duas variéveis fundamentais: a baixa probabilidade do evento descrito e, além disso, a insergao qualitativa do referido evento na totalidade social em desenvolvimento. Ao indicar que "nao € 0 totalmente inesperado que surge na noticia", ceriamente o autor esti reconhecendo, pelo menos, a insuficiéncia do enfoque probabilistico.” CAPITULO IV Do funcionalismo a teoria geral dos sistemas Sobre a teoria geral dos sistemas (Adelmo diz que est4 certa em partes): A crescente integrago do aparato tecnolégico e das determinagées econémicas da sociedade contemporanea, cada vez mais articulados e interdependentes, exige que os processos sejam abordados em conjunto, como uma totalidade complexa, e nfio mais como uma soma de partes relativamente aut6nomas. Ha duas nogdes basicas envolvidas nessa teleologia inerente aos sistemas: a integridade e a funcionalidade. A partir delas, considerando a sociedade humana como um "sistema sécio-cultural”, poderfamos, entao, extrair certas conseqiiéncias te6ricas ¢ priticas no campo da sociologia. A conseqiiéncia te6rica mais importante é a redugo ontolégica cfetuada na hist6ria ¢ na sociedade, que passam a ser enfocadas como processos exclusivamente objetivos. A teoria dos sistemas ¢ a dialética Tomemos, inicialmente, a semelhanga fundamental entre os homens ¢ as méquinas de informar, apontada por Wiener ¢ reconhecida como pressuposto metodolégico pela Teoria dos Sistemas. © paradoxo implicito nessa tese foi indicado por Raymond Ruyer: "0 paradoxo resulta claro, no entanto, ao compararmos as duas teses enunciadas por N. Wiener. A primeira delas é a de que as maquinas de informacéo néio podem ganhar informacao: néio h méquina do que na mensagem que lhe foi entregue. Praticamente, haverd menos, devido aos efeitos, dificilmente evitdveis que, segundo as leis da termodindmica, aumentam a entropia, a desorganizagao, a desinformacéo. O segundo é a de que os nunca, mais informagdo na mensagem que sai de uma ida mais cérebros ¢ os sistemas nervosos so mdquinas de informagao, sem dii aperfeigoadas que as méquinas industrialmente construidas, mas da mesma ordem que aquelas, e que ndo sto dotadas de qualquer propriedade transcendente ou que néio possa ser imitada por wn mecanismo" Os individuos - como realidades irredutfveis que sfo - no podem ser dissolvidos, nem no suposto "Espirito Absoluto” que subjaz.& histéria, nem nas relagGes sociais em que esto integrados. Muito menos, na dimensio sistémica na qual eles so fungGes e partes. O“sistemismo” se propée a superar 0 funcionalismo, & medida que acusa este de privilegiar ou absolutizar a dimensdo de complementariedade e funcionalidade do sistema, relegando os conflitos e contradigSes para 0 terreno da anomalia ou da patologia. Noutro sentido, o sistemismo se disp6e a substituir a dialética. Portanto, temos ja dois aspectos que diferenciam a Teoria dos Sistemas da dialética: a questio das contradigGes, que ficam reduzidas a conflitos ndo antagdnicos, € © problema do sujeito histérico que, como vimos, fica relegado ao papel de agente do sistema, subordinado essencialmente a cle. "A maquina s6 pode funcionar, - diz Ruyer - nZo pode nunca determinar por si mesma a totalidade das regras que aplica ¢ sim apenas uma parte, estritamente prevista no conjunto de suas montagens € nao realmente escolhida" Em sintese, a Teoria dos Sistemas dilui a especificidade qualitativa da sociedade humana. A hist6ria fica prisioneira de um circulo vicioso: os fins se explicam pelo sistema, que se explica pela auto-regulagao, que, tal como um ciozinho que morde 0 proprio rabo, explica 0s fins... A informagio e a dialética da qualidade-quantidade A incompreensao da especificidade do homem como sintese dos diversos niveis de sua existéncia objetiva ¢ subjetiva, isto é, de sua natureza biolégica, antropolégica ¢, sobretudo, hist6rica (econOmica, cultural, politica, ideolégica e ética) induz.a graves distorcoes tesricas. A tentativa de aplicagio da Teoria da Informagao para explicar 0 fenémeno jornalistico é uma delas. Ha uma frase muito difundida nos manuais de jornalismo que pode ilustrar, através de uma caricatura, 0 problema apontado: "Se um cio morde um homem nao € noticia, mas se urn homem morde um cao ent&o temos uma noticia". Realmente, a probabilidade de que um homem avance a dentadas contra um cio é bem menor, por exemplo, do que a probabilidade de novas violagdes dos direitos humanos pelo exército salvadorenho. Portanto, a primeira noticia seria mais importante, do ponto de vista jornalistico, do que esta Ultima, na medida em que contém maior quantidade de informacao, segundo os critérios matematicos da Teoria da informagio. No entanto, € facil perceber que a noticia sobre Bl Salvador tem. mais significado e importincia, pelo fato de conter mais universa idade e estar ligada as contradigées fundamentais de nossa época. Por isso, embora seja um evento de maior probabilidade, o que na Teoria da Informacao significa menos informagio, seré uma noticia qualitativamente superior. Na sociedade, nem tudo que representa muita informagdo em termos matemdticos (eventos de pouca probabilidade), revela-se significative no process global das relagdes sociais. Em se tatando da sociedade, ndo importa unicamente o aspecto quantitativo da informagao para que seja eficaz e significativa. Interessa, antes, que ela esteja vinculada aos processos fundamentais e suas contradigdes. A dialética entre qualidade € quantidade aparece, aqui, em sua riqueza e amplitude. * O processo global que serve como critério de qualificacao das informagGes é a propria historia, dimensao totalizante do ser e do fazer humanos. Enfim, se um homem qualquer morde um cAo qualquer, isso nao ter maior significado por ser um fato singular que nao contém a necesséria universalidade. Nao indica uma tendéncia na evoluco ou na transformagio da sociedade. E evidente que, se muitos homens comegarem a morder os cies, a qualidade de tais noticias seré alterada pela quantidade. O mesmo aconteceré, por exemplo, se 0 presidente dos Estados Unidos tomar essa atitude, embora fosse um caso isolado. Entdo, se 0 singular 6 a matéria- prima do jomalismo, a forma pela qual se cristalizam as informagdes que ele produz, © ctitério de valor da noticia vai depender (contraditoriamente) da universalidade que ela expressar. Osingular, portanto, é a forma do jornalismo ¢ ndo o seu contetido. 0 jornalismo e a teoria da informagio A natureza da informago jornalistica est intimamente ligada aos dois aspectos: 1) a indeterminagio real dos processos sociais e naturais; 2) a qualidade ¢ o grau das possibilidades concretas de escolha que se colocam para os homens diante das alternativas nascidas da indeterminagdo do processo objetivo que eles vao constituindo. A isso pode-se chamar, em sentido filos6fico, liberdade. © conceito de liberdade, compreendido nessa dimensio tedrica, é completamente exterior e alheio ao sistemismo. Entre a critica e a manipulacdo Uma das poucas tentativas de discutir 0 jornalismo, numa perspectiva critica ¢ anticapitalista, a partir dos conceitos oriundos da cibernética, € 0 livro de Camilo Taufic. O mais grave € que o autor, mesmo reconhecendo “que la direccién social tiene caricter politico y est relacionada con todos los aspectos de la vida econémica y cultural”, acredita que a cibemnética pode evidenciar 0 papel do jomalismo nesse proceso. A partir dai, o fendmeno jomnalistico passa a ser definido pelas suas tarefas ou, se quisermos, pelas fungées que ele cumpre na reprodugio ¢ manutengio do sistema. Para 0 Adelmo, a conclusao do estudo de Taufic € patética. Ora, se o jomalismo € apenas uma forma de diregao politica, ndo é necessério que as massas conhegam tudo e, entdo, decidam conscientemente sobre todas as questées. E preciso, Zo somente, que elas saibam aquilo que necessitam para sua a¢do imediata. ‘A verdade, em iiltima anilise. estard subordinada ao critério da eficécia € da oportunidade, segundo o julgamento dos dirigentes ou do Estado. F facil perceber que, a partir de tais premissas, a discussdo sobre o conteddo das informagées deixa de ter importancia: a circulacdo das informagbes jornalisticas, num Estado socialista, deverd ser condicionada estritamente as finalidades politicas de diregdo ¢ aos possiveis efeitos que possam acarretar. De acordo com esse enfoque, esconder a verdade, distorcer os fatos, divulgar falsidades e calinias - desde que isso corresponda as necessidades de diregio do "sistema social” no suposto interesse das classes revolucionérias - podem tornar-se alternativas to aceitiveis quanto quaisquer outras. ++ fi claro que a negagao dessa abordagem cibernética da informacao, nao pode levar a uma yisdo idealista da objetivo, imparcial ou neutro”, da produgdo e circulacao das informagbes na sociedade como um processo acima dos interesses ¢ da luta de classes. A ideologia € sempre, em cada sociedade determinada, um contetido que atravessa todas as criagies da cultura, O que se quer dizer, 6 que comunicagio, o jornalismo ou as informagdes nao podem ser julgadas a partir de pressupostos que eliminem 0 problema da verdade, ou seja, apenas em termos de "controle ¢ organizagio" do "sistema social” omunicacdo pela comunicagao", do "jonalismo Em sintese, como ja foi apontado, a idéia de autoconsirugdo nfo pode ser substituida pela de sistema, a idéia de praxis nao pode set abandonada pela de informagizo e, muito menos, a idéia do homem como sujeito pela idéia do homem como parte de um sistema, passivel de controle € manipulagao absolutos. Os meios de comunicagio modemos, a TV, 0 radio, o cinema, a imprensa cm geral, 5 jomnais, etc. so formas centralizadas de emissao de informagdes ¢ producao cultural. Sempre terfo uma "saida" incomparavelmente maior do que a “entrada”. Caso contrétio, eles perderiam exatamente a vantagem que possuem em relagao 20s meios artesanais de comunicacao. Nao € isso que os toma antidemocrati instrumentos de controle ¢ manipulagao a servigo das classes dominantes. O dominio da linguagem, o controle da escrita, o monopélio da técnica de orat6ria e outras tantas prerrogativas das classes dominantes sempre foram, igualmente, instrumentos de persuasao, controle ¢ opressao. Enfim, os meios de comunicagao de massa podem produzir, em termos quantitativos © qualitativos, um universo cultural ¢ informativo superior aquele elaborado de modo natural, espontaneo e artesanal. Nao obstante, esse processo precisa ser qualificado conscientemente, como acdo das instancias politicas e técnicas, sob hegemonia da ideologia revolucionaria ¢ articuladas dialeticamente com os interesses e consciéncia das massas. Através dos modernos meios de comunicagio radicaliza-se a possibilidade das transformacdes na consciéncia ¢ na cultura. Portanto, aumenta a possibilidade do sujeito coletivo agir diretamente sobre si mesmo, a partir de suas diferencas internas, contradigdes e potencialidades daf decorrentes. Em tiltima andlise, as possibilidades de manipulagdo, proporcionadas pelos meios de 2, sfo tio significativas quanto as potencialidades de desalienagio e de autoconstrugao consciente se tais meios forem pensados numa comunicagao de mz perspectiva revolucionaria e efetivamente socialista. CAPITULO V A tradigio de frankfurt e a extingao do jornalismo Objetivo do Adelmo ao falar de Frankfurt: Nosso objetivo € discutir especialmente alguns aspectos do pensamento de Adorno, Horkheimer ¢ Habermas, sobretudo naqueles pontos que dizem respeito ao fendmeno jornalistico e, a partir dat, anali algumas abordagens contemporaneas que esto situadas nessa tradi A “indistria cultural’ uma orquestra afinada Adomo foi um dos primeiros a abordar teoricamente os meios de comunicagio de massa na perspectiva de suas relagdes com a economia de mercado, através do conceito de “indiistria cultural". Ele busca desvendar o que considera uma relagio essencialmente corrosiva da produgio mercantil com a arte e a cultura no capitalismo modemo, pois considera esse mundo emergente como uma totalidade cindida. indistria cultural": um balango das criticas Problemas do conccito de “industria cultural” A propésito dessa caracterizacao da “indtistria cultural”, alguns problemas apontados pelos criticos merecem ser referidos 1) As potencialidades sociais da tecnologia sdo apenas vagamente admitidas, mas nao consideradas efetivamente na andlise. A universalizacao real da cultura, a ampliacao gigantesca do acesso a are informacoes, as possibilidades de uma democratizacao radical do pracesso cultural e as novas alternativas estéticas que nascem dessa base técnica. tudo isso nao é levado na devida conta na teorizacao de Adorno e Horkheimer. 2) Certos aspectos técnicos, considerados negativos, s funcao do papel alienador que cumprem hoje. 3) O controle e a manipulagao a que a "indtistria cultural” s sio consideradas quase onipotentes. Nao sao percebidas brechas significativas no processo cultural hegemonizado pela burguesia, ou seja, a manifestagio reproduzida e ampliada de certas contradigées politicas e ideoldgicas. 4) A cultura tradicional é entendida como "cultura superior" e tomada como padrio. Sendo contraposta, entdo, & "cultura inferior’, esta produzida através do sistema industrial. A grande arte burguesa (em termos de literatura, teatro, mtisica e pintura) é assumida como tinico paradigma da "arte elevada". Nao ficam sequer indicados, portanto, caminhos vidveis para o enfrentamento de classes no plano cultural e artistico, exceto a critica ideolégica 4 "industria cultural” ¢ a alienagfio que i0 absolutizados em. bmete as massas cla produz. 5) Finalmente, a expressdo “indiistria cultural” cunhada para cvitar uma confusiio, pode gerar outra: ela insinua que é a base industrial, por si mesma, independente das relagées sociais de produgdo, que atribui A cultura um caréter manipulatcrio © degradante. Para Swingewood, ndo existe uma “indtistria cultural” ou uma “cultura de mi sentido de uma manipulagdo orquestrada racionalmente de cima para baixo, me hegemonia burguesa na cultura ¢ uma "ideologia da cultura de massa" - da qual a pr6pria idéia da manipulacdo absoluta, sugerida pela Escola de Frankfurt, é um aspecto. Grandes potencialidades culturais ¢ democriticas foram produzidas pelo capitalismo modemo ¢, especialmente, pelos meios de comunicacao de massa. Mas 0 capitalismo nao pode cumprir a sua promessa cultural embora forneca as condiges objetivas para que seja implementada. no uma A cultura admite, por isso, uma hegemonia de classe, mas nunca pode ser subjugada a ponto de tornar-se apenas um instrumento nas maos de uma minoria. Isso seria a abolig&o da prépria cultura, portanto, a aboligao da histéria ¢ do homem. A limitagio da critica de Swingewood € que cla parece cair no extremo oposto da Escola de Frankfurt. Ao invés da manipulagdo total, a democratizacio ¢ desenvolvimento da cultura genuina parecem ser a tendéncia natural do capitalismo, embora faga a ressalva que essa tend@ncia nao pode se realizar integralmente na sociedade burguesa. Os caras de Frankfurt também nao tiraram suas criticas do nada: O predominio do critério mercantil desde a concepgao até a produgao das obras, 0 forte traco manipulat6rio da ideologia dominante nessa cultura, sua tendéncia & padronizagio € a0 rebaixamento do nivel estético da maioria de seus produtos sio algumas das caracteristicas indiscutivelmente reais da cultura burguesa atual *=* A conclusdo que parece se impor é a seguinte: existe um fendmeno cultural peculiar ao capitalismo avangado que exige uma conceituagao tedrica, seja em termos de “cultura de massa" ou "indiistria cultural”. No entanto, essa conceituagdo nao pode pretender abranger a totalidade do fendmeno cultural, pois a cultura jamais se deixa submeter integralmente pela categoria mercantil. Se isso pudesse ocorrer, a cultura deixaria de ser uma praxis e, portanto, deixaria de ser cultura. Hé uma tendéncia crescente da mercadoria em subjugar a obra de arte ¢, de modo mais amplo, do capital avassalar e esterilizar a comunicagio ¢ a cultura. Mas o que denuncia as limitagSes tedricas da Escola de Frankfurt é que essa tendéncia jamais pode se realizar integralmente e, além disso, cla mesma cria suas "contra-tendéncias" ¢ abre brechas para que scjam ampliadas ¢ radicalizadas. Habermas e o jornalismo: a favor do passado "A historia dos grandes jornais na segunda metade do século XIX demonstra que a propria imprensa se torna manipuldvel a medida que se comercializa, Desde que a venda da parte relacional estd em correlacao com a venda da parte dos aniincios, a imprensa, que até enidio fora instituigdo de pessoas privadas enquanto piiblico, lorna-se instituigdo de determinados membros do piiblico enquanio pessoas privadas - 0u seja, portico de entrada de privilegiados interesses privados na esfera piblica". Quer dizer, ou os capitalistas inventaram, conforme seu arbitrio, o modemo Jornalismo € as necessidades que ele satisfaz, ou perceberam as novas e reais necessidades (da informagiio de tipo jornalistico) e fizeram delas uma fonte de lucros. Esta diltima altemativa parece mais vidvel, inclusive porque nao vé a hist6ria sendo feita maquiavelicamente segundo a vontade soberana ¢ aut6noma do capital. Capitalismo e jornalismo: irmios gémeos? No capitalismo, 0 jornalismo € atravessado pela ideologia burguesa como uma fruta 6 passada por uma espada - se me permite Joao Cabral. Ou seja, de modo flagrante, evidente e doloroso. Nem por isso fruta sera sinonimo de espada. Assim, as necessidades geradas pelo capitalismo sao também moedas de duas faces: uma particular, especifica do sistema burgués, e outra universal, que se agrega a0 género - ou, pelo menos, a um longo perfodo da histéria posterior. Nesse sentido, o capitalismo implanta uma tal necessidade e possibilidade da informagiio em termos quantitativos que qualquer sociedade posterior (se nao for a barbérie p6s-guerra nuclear) necessariamente terd de herdar esse legado. Mattelart: entre Frankfurt ¢ 0 populismo Sobre o Mattelart: O grande mérito de Mattelart, que aparece nitidamente em seus escritos, é um sélido compromisso politico com 0s explorados e oprimidos, ou seja, uma preocupagdio permanente com as vineulagSes entre uma visio eritica da comunicagio ¢ da cultura, como formas de dominagio, ¢ as praticas politicas de enfrentamento ¢ busca de alternativas populares ¢ democriticas Pode-se observar que, de fato, mesmo sem pretender identificar-se com uma corrente determinada de pensamento, as reflexdes de Mattelart - seus temas e as principais categorias que utiliza - esto, sem dtivida, situadas no contexto formado pela tradigao da Escola de Frankfurt. A diferenca € que Matelart escreveu do interior de uma praxis politica, preocupado € comprometido com ela, enquanto que a maioria dos tedricos de Frankfurt (notadamente Adorno e Horkheimer) exerciam uma critica puramente intelectual. Assim, ao invés do "pessimismo” ¢ de uma certa tendéncia “¢litista” que perpassa 0s textos destes tltimos, Mattelart se propés a pensar a palavra ao povo". alternativas no sentido de “devolve Uma das criticas pertinentes as idéias de Mattelart foi realizada por Ciro Marcondes Fitho, indicando que 0 conceito de "imperialismo cultural" que norteia grande parte dos seus escritos baseia-se, tao somente, numa transposicao da realidade econ6mica e tecnoldgica para o campo cultural e ideolégico. préprio autor reconheceu, em parte, a veracidade de criticas desse género. Nos anos 70, afirma, a teoria de Althusser dos "aparelhos ideolgicos do Estado" nos auxiliou para seguirmos na dirego de uma teoria critica de comunicagdo, A medida que nos oferecia uma viséo dual da sociedade: dominantes ¢ dominados. Mas essa teoria - acrescenta Mattclart - ignorava as contribuigdes de Gramsci ¢ de Hegel sobre a questiio da sociedade civil. Neste sentido, é importante reanalisar os aparelhos de comunicagao nao s6 como reprodutores das relac6es sociais, mas também como Tugares de produc Assim, dar realmente a palavra a0 povo significa, de fato, como diz Mattelart, muito is do que oferecer 6 microfone ou a maquina de escrever aos populares, pois isso Ja¢ feito hoje, em certa medida, pelos jornais (cartas 4 redagio), radios e TVs (entrevistas, pesquisas, etc.). Trata-se, fundamentalmente, de criar as mediagdes e os canais adequados para que os contetidos sociais (0 plural aqui é indispensdvel) que, antes eram desprezados na comunicagao, passem a ter hegemonia no processo. O que @ diferente de manipular 0 meio de comunicacio diretamente. Esses “canais" ¢ essas "mediacdes" constituem precisamente 0 patriménio téenico- cientifico, que envolve desde a eletrénica até as técnicas e (em alguma medida) as artes jornalisticas. Subestimar esses fatores na sociedade contempordinea é como pensar que 0 artesanato poderd substituir a indiistria moderna ou, ento, que nesta iiltima os trabalhadores poderdo dispensar 0s engenheiros ¢ técnicos. Mattelart e a cultura: © paradigma do artesio Critica: E se é verdade que, em certo sentido, a distancia entre emissor e receptor 6 a mesma que existe entre produtor ¢ consumidor - como jé afirmava a Escola de Frankfurt ¢ Mattclart repete -, o proletariado e os setores reyolucionrios devem controlar 0 conjunto das condigdes de produgao, incluindo af a informacao e a cultura como uma totalidade, isto ¢, politicamente. O que € muito distinto de “devolver a palavra ao povo", uma idéia ingénua que, Entre outras coisas, nao leva em conta que 0 "povo" jamais teve acesso ao tipo de "palavra” que agora se pretende devolver-Ihe: jornais, 0 radio, a televisao e os demais meios-eletronicos de comunicagio. A preocupacao central de Mattelart 6 com os meios artesanais de comunicagio, pois ele vé a cultura produzida pelos meios de comunicagao de massa - num processo revolucionario ou de construgao do socialismo - como 0 desaguadouro de todo um Processo, cujo sentido seria definido nas atividades culturais elementares levadas a efeito de modo artesanal pelo povo. No entanto, é uma ilusfo acreditar que os modemos meios de comunicagio de massa possam, de fato, funcionar tio somente ye como a ponta final da cadeia de produgio da cultura. Na realidade, ocorre 0 oposto: os meios de comunicagao de massa so, hoje, em qualquer socicdade, os verdadciros "monitores de sentido” do processo como um todo, os aparatos que presidem o conjunto da produgao cultural e informativa, fornecendo motivos, estilos, temas, géneros, pautas e novos rumos. E nisso nao dependem do capitalismo. E evidente que essa orquestracao feita pelos meios de comunicacao de massa, sobre 0 conjunto da comunicacao e da cultura, nfo funciona nunca como uma imposigao. uma relagao pura e simples de manipulagao. O problema € que Mattelart entende os meios de comunicagio apenas como meios, ou seja, mediagées usurpadas pelas classes dominantes, impedindo que © povo fale dirctamente a si mesmo. Algumas dessas mediagGes, inclusive pela sua natureza técnica, séo consideradas instrumentos de fragmentac&io das massas, favorecendo a manipulag: » coletiva e a ruptura de relagbes sociais mais criativas. Ao no considerar a ambivaléncia da cultura no capitalismo contemporanco, ficando nos marcos de uma critica da manipulagdo imperialista; ao ndio reconhecer a impossibilidade das massas assimilarem todas as complexas mediagdes técnicas artisticas dos meios de comunicagdio avangados, caindo numa espécie de subjetivismo populista; enfim, ao nio perceber as imensas potencialidades culturais, artisticas, politicas ¢ informativas dos meios de comunicagao de massa, Mattelart ficou impedido de esclarecer a especificidade do fendmeno do jomalismo e seus desdobramentos hist6ricos. Notfcia: apenas um produto & venda? Cremilda Medina: O jomnalismo € entendido como produto de uma nova dinamica social, liberando potenciais democratizantes. No entanto, os limites ideolégicos ¢ te6ricos de sua divergéncia com 0 pessimismo da Escola de Frankfurt é que ela pensa © desenvolvimento de tais potenciais em termos “evolucionistas” e no numa perspectiva revolucionéria. Embora recorra a Benjamin e Enzensberger, sua filiago te6rica esta mais préxima do funcionalismo do que do marxismo. Nao existe relacio humana sem mediagdes objetivas e subjetivas. Quando individuos presenciam diretamente um fato, a rigor, entre eles e o fato esta a totalidade da hist6ria humana jé percorrida, as alternativas sociais que se abrem concretamente para o futuro e, além disso, as incertezas ¢ opgées individuais e sociais. Quando se 1é o trabalho de Cremilda fica-se com a impressio de que a luta de classes, se existe. passa ao largo ou apenas tangencia o fendmeno jornalfstico. Sua teorizagao eclética, misturando algumas premissas da Escola de Frankfurt (buscando discutir 0 jornalismo como um aspecto da cultura de massa), uma classificagao meramente funcionalista do contetido das mensagens e uma pitada de lingtiistica, nao poderia mesmo chegar a resultados muito s6lidos. "A mensagem jornalistica - afirma @ autora - como um produto de consumo da indtistria cultural desenvolveu uma componente verbal especifica, que serve para chamar a atengdo ¢ conquistar o leitor para 0 produto/matéria’. *** No final das contas, a linguagem jornalistica e a propria estrutura da noticia sio reduzidos a meros apelos formais da cultura de massas. "As hipSteses de ampliagio desta parte estariam centradas na idéia/sintese de que os titulos e leads anunciam uma mercadoria, 0 produto oferecido pelo jornalismo na industria cultural". Buseévamos a especificidade do jomalismo e chegamos, outra vez, na generalidade da mercadoria! Nem toda a mensagem-consumo é jornalismo e nem a informagio jornalistica obedece, exclusivamente, a critérios de consumo mercantil. A necessidade da informacao jornalisti medida que, com a emergéncia do capitalismo, todas as necessidades sociais aparecem como mercado consumidor e todos os valores de uso na forma de mercadorias. Portanto, a relagio do fendmeno jornalistico com a indistria cultural - definida esta segundo Adomo/Horkheimer - € de unidade ¢ contradigao. Uma telagao tensa, de miitua pertinéncia cm certos momentos, mas de nao-identidade. a surgiu na forma de um mercado consumidor de noticias, & A necessidade do jornalismo: rompende a tradigio Nilson Lage afirma: "Um jornalismo que fosse a um s6 tempo objetivo, imparcial e yerdadeiro excluiria toda outra forma de conhecimento, criando 0 objeto mitolégico da sabedoria absoluta". Mas o autor reconhece certas "vantagens praticas” nas técnicas decorrentes do mito da objetividade ¢ imparcialidade jornalistica Nilson Lage, portanto, d@ um passo a frente em relacdo a mentalidade artesanal que, Via de regra, est por tras das criticas ao "jornalismo burgués" e ao “mito da objetividade”, Nao obstante, permanece um vacuo te6rico entre a critic4vel tese da objetividade e imparcialidade do jornalismo e as "vantagens praticas" que ela enseja. Afinal, por que uma técnica nascida da inspiragao de uma teoria equivocada tornou- se to eficaz e importante socialmente? Lage procura livrar-se da tradigdo de Frankfurt, que reduz a noticia & mercadoria ¢ 0 jornalismo & manipulagio, evitando a apologia do individualismo artesanal que normalmente esté por trés das eriticas da "esquerda” académica. Tampouco embarca na canoa do tecnicismo empirista que considera o jornalismo como uma atividade neutra, imparcial e capaz de revelar a aut€ntica “objetividade dos fatos’. Porianto, a linguagem do jornalismo é "referencia!" na medida em que ela fala de algo que, de fato, € concretamente exterior tanto ao emissor quanto ao receptor individualmente considerados. CAPITULO VI: Jornalismo como ideologia: o reducionismo como método O lead permite que através da natureza I6gica e abstrata da linguagem, constituida pela generalidade intrinseca dos conceitos, seja retomado 0 percurso que vai do abstrato a0 concreto, nao pela via da ciéncia, mas pela reprodugio do real como singular-significativo. O real aparece, entio, ndlo por meio da teoria, que vai apanhar © concreto pela sua reprodugao Iégica, mas recomposto pela abstragio ¢ pelas técnicas adequadas numa cristalizagéio singular e fenoménica plena de significagio, para ento ser percebido como experiéncia vivida. Uma anilise "cientifica'' do jornalismo O jornalismo opinativo, de combate politico aberto, que teve seu apogeu na primeira metade do século XIX - indicado por Habermas como a segunda fase do jornalismo e a mais significativa entre as trés - € exatamente 0 momento hist6rico no qual vem tona, de modo mais evidente, a dimensdo particular do fendmeno, isto €, seu caréter de classe. E claro que a teoria nao pode deixar de lado essa dimensao, sob pena de nao perceber ou nao levar em conta a ideologia hegemGnica na atividade jornalisti desde © seu surgimento. O erro, porém, € tomar essa fase como a propria essé jomalismo, tal como fazem Habermas e tantos outros seguidores. Na verdade, tanto a primeira fase do jornalismo (noticias mercantis) como a terceira (atual) expressam mais plenamente o contetido do conceito do que a segunda, que apenas indica com nitidez seu carter de classe, sua forma particular de existéncia no modo de produgo capitalista, num dado momento histérico. As trés fases e as trés dimensées do fendmeno Por no compreendé-lo, Vladimir Hudec diz que 0 jomalismo é produto das "necessidades econémicas, politicas ¢ ideoldgicas completamente novas da burguesia", uma necessidade estritamente de classe, portant. E assim, no consegue discutir a especificidade do jornalismo como forma de conhecimento ¢ sua universalidade como fendmeno que ultrapassa as fronteiras da dominagao burguesa. Na verdade, as trés fases da hist6ria do jornalismo nos permitem captar trés dimens6es do fendmeno que compéem sua esséneia, ou seja, sua universalidade e especificidade conereta. A primeira indica a composigao historicamente particular de relagdes econdmicas que colocariam, mais tarde, a necessidade universal de informages jomnalisticas para toda a sociedade ¢ ndo mais exclusivamente para os burgueses. A segunda demonstra que, implicita ou explicitamente, o jomalismo é também um instrumento utilizado segundo interesses de politica, A terceira fase supera as duas primeiras em fungao de uma necessidade social emergente, a partir da segunda metade do século passado, tornando-se o jornalismo fundamentalmente informativo, sem anular suas caracterfsticas precedentes. As noticias nao so mais, predominantemente, sobre assuntos mercantis, mas elas pr6prias transformam-se em mercadorias e, sobretudo, valorizam como mercadoria 0 espago publicitirio dos veiculos nos quais a atividade jornalistica se desenvolve. A ideologia da objetividade e imparcialidade do jornalismo corresponde no ao fato ‘ou possibilidade real da existéncia desse tipo de informagao, mas, ao contrario, a0 fato de que as necessidades sociais objetivas ¢ universais de informacao s6 podem ser supridas conforme uma visio de classe. Fa caréncia objetiva da sociedade como um todo que fomece as bases para o mito ideolégico de que 0 jomalismo pode vincular- se direta e abstratamente a essas necessidades gerais, segundo um interesse politico global da sociedade, que se revela como mesquinho interesse da manutencao da ordem burguesa. Ora, sabemos que, numa sociedade dividida em classes, a se, um elemento importante da luta universalidade sempre se manifesta mediada por interesses particulares. jornalismo como ideologia: a Iegitimidade da manipulagio Essa visio te6rica da génese ¢ fungae hist6rico-social do jornalisme tem muitas conseqitncias. A mais importante delas é a legitimagio da manipulagio informativa, desde que isso seja feito em consondncia com 0 que for julgado como "o interesse" das classes revoluciondria O “objetivismo" c o "cientificismo"como remincia da critica Portanto, cada fato tomado em sua singularidade e particularidade expressa a realidade em, pelo menos, trés nfveis: 1) As possibilidades concretas encarnadas pela totalidade hist6rico-social na qual 0 fato esté inserido. E uma escolha necessaria entre os valores de tais possibilidades. 2) A tendéncia especifica da particularidade que este fato expressa de modo predominante. 3) A contradi¢ao que, necessariamente, ele contém dentro de si, ainda que expresse uma tendéncia dominante da particularidade e seja reproduzido conforme uma escotha ao nivel da totalidade. No primeiro caso, a objetividade imediata e alienada em sua positividade sempre vai reproduzir a ideologia burguesa que a pressupde. No segundo, uma ideologia normativa, pretensamente cientifica, vai selecionar, manipulatoriamente, aqueles aspectos ¢ momentos da imediaticidade que confirmam a premissa ideolégica estabelecida. Fsta tiltima concepgio, que nfo ultrapassa a perspectiva "funcional" da comunicacao e do jornalismo, encontra sua melhor expresso teérica no conceit de Althusser sobre os "aparelhos ideoldgicos de Estado", que seriam como correias ideol6gicas da reprodugio social. Porém, tanto numa como noutra visio, perdem-se as melhores potencialidades epistemol6gicas dessa forma de conhecimento. Precisamente aquelas potencialidades eriticas e desalienadoras mais espeeificas do jomalismo. CAPITULO VII O singular como categoria central da teoria do jornalismo "A redagio da noticia deve ser especifica” - diz Hohemberg. "As generalidades geralmente concorrem para obscurecer 0 quadro da noticia. Em vez de escrever que um homem € alto, melhor dizer que tem um metro € noventa. Em lugar de dizer que 0 orador estava nervoso e perturbado, melhor informar que gritava e dava murros na mesa”. Assim, a busca da "especificidade" na atividade jornalistica limita-se a uma receita técnica de fundo meramente empirico, uma regra operativa que os jornalistas devem seguir sem saber 0 motivo, tomando-se presa fécil da ideologia burguesa e da fragmentacdo que ela proporciona Um dos pressupostos fundamentais da teoria lukacsiana sobre a arte é o de que "o reflexo cientifico e o reflexo estético refletem a mesma realidade objetiva". E disso resulta, segundo 0 autor em questiio, "que devem ser os mesmos nao $6 0s contetidos refletidos, mas as préprias categorias que os formam”. Algumas limitagdes da estética de Lukaes Preferimos considcrar que a realidade refletida (e constituida, seria oportuno acrescentar) pela arte no é a mesma representada pela ciéncia, embora nao seja completamente arbitréria ou puramente subjetiva. Trata-se de uma realidade que mantém tragos de identidade e pontos de pertinéncia em relagao Aquela que € objeto da ciéncia. So, de fato, realidades complementares, embora a dimensio apanhada pela arte seja mais global ¢ compreenda dentro de si, como momento subordinado, a Tealidade objetiva que a ciéncia procura expressar. Em sintese, hd uma tensao objetivista que perpassa sua teoria estética, a qual reduz a arte 20 conhecimento objetivo da realidade histérico-social (que ela realmente contém, embora nao esgote o problema da arte). As mesmas categorias para uma nova problemitica Mas 0 que nos interessa, acima de tudo, na teoria lukacsiana da arte, é a transposi¢Zo das categorias utilizadas para a claboragao de uma teoria do jomalismo. As limitagdes da estética proposta por Lukacs, reforgam a idéia de que as categorias utilizadas por ele (singular, particular e universal) sio mais fecundas para caracterizar as representagdes que se referem estritamente a formas de conhecimento. Ao contrario do que ocorre em relagao a arte, essas categorias podem fomecer 0 axioma teéricg para uma teoria do jomalismo, Os conceitos de singular, particular universal expressam dimensOes reais da bjetividade ©. por isso, representam conexdes I6gicas fundamentais do pensamento, capazes de dar conta, igualmente, de modalidades histricas do conhecimento segundo as mediagdes que estabelecem entre si ¢ as suas formas predominantes de cristalizacao. ***Somente o aparecimento historico do jornalismo implica uma modalidade de conhecimento social que, a partir de um movimento légico oposto a0 movimento que anima a cincia, constréi-se deliberada ¢ conscientemente na diregio do singular. Como ponto de cristalizagao que recolhe os movimentos, para si convergentes, da Particularidade e da universalidade.: 4, ***0 avango do pensamento de Hegel é ter compreendido a interpenetragiio dialética ea identidade contradit6ria entre o singular, o particular ¢ 0 universal como momentos que constituem a realidade objetiva c formam o conereto. Tais relagdes nao sao entendidas apenas no sentido quantitativo, mas como transformagao € determinagao através das mediages que estabelecem entre si/Sao essas categorias, entendidas em suas relagdes, que forecem as bases fundamentais para a formulagio de uma teoria do jornalismo, desde que arrancadas do contexto mistificador do sistema hegeliano ¢ inseridas numa concep¢ao materialista da praxis. E nessa direcao que pode ser formulada uma fecunda teoria marxista do jornalismo, capaz de dar conta dos diversos aspectos implicados no fenomeno. Para 0 entendimento correto da cristalizacao da informagao jomnalistica no singular, é preciso estabelecer as relagGes desse conceito com os demais que a ele estio indissoluvelmente ligados. Existe, como ja foi apontado pelas reflexdes precedentes, uma relacao dialética entre singularidade, particularidade ¢ universalidade. categorias S que representam aspactos ohjetivos da realidade., Podemos exemplificar isso da seguinte forma: em cada homem singularmente considerado esto presentes aspectos universais do género humano que dio conta da sua identidade com todos os demais; na idéia universal de género humano, por outro lado, esto presentes - como se "dissolvidos constituem; o particular, entio, pode ser a familia, um grupo, uma classe social ou a nagiio a qual o individuo pertenga. O particular é mais amplo que o singular, mas n&io chega ao universal. Podemos dizer que cle mantém algo dos extremos, mas fica situado logicamente a meio caminho entre cles. - todos os individuos singulares que 0 **Tomemos 0 caso de uma greve na regio do ABC, em Sao Paulo. Ao ser transformada em notici em primeiro plano ¢ explicitamente, scrao considerados aqueles fatos mais especificos ¢ determinados do movimento, ou s¢ja, os aspectos mais singulares. Quem, exatamente, esté em greve, quais so as reivindicacdes, como estd sendo organizada a paralisagdo, quem so 0s Lideres, qual a reaco dos empresarios ¢ do governo, etc.; sdo algumas das perguntas imediatas que terdo de ser respondidas. Mas a noticia da greve terd de ser elaborada como pertinente a um contexto politico particular, levando em conta a identidade de significado com outras greves ou fendmenos sociais relevantes. Serd um acontecimento que, de modo mais ou menos preciso, ter de ser situado numa ou mais "classes" de eventos, segundo uma anilise conjuntural que pode ser consciente ou nao. Nesse sentido, a particularidade do fato - embora subordinada formalmente ao singular, pois é ele que da vida a noticia - estard relativamente explicitada. No entanto, a universalidade desse fato politico, em que pese nao seja explicitada, estar necessariamente presente enquanto contetido. Ou seja, como pressuposto que organizou a apreensio do fendmeno e como significado mais geral da noticia, teremos uma determinada concepgao sobre a sociedade, sobre a luta de classes e a historia. Portanto, tomando essas relagdes como premissa teGrica, podemos afirmar que 0 singular é a matéria-prima do jornalismo, a forma pela qual se cristalizam as informagoes ou, pelo menos, para onde tende essa cristalizacdo e convergem as determinacées particulares e universais. Assim, 0 critério jomalistico de uma informagao est indissoluvelmente ligada & reproducao de um evento pelo Angulo de sua singularidade. Mas o contetido da informagao vai estar associado (contraditoriamente) A particularidade e universalidade que nele se propSem, ou melhor, que so delineadas ou insinuadas pela subjetividade do jornalista. O singular, entio, é a forma do jomalismo, a estrutura interna através da qual se cristaliza a significagio trazida pelo particular e 0 ‘universal que foram superados. O particular e o universal so negados em sua preponderancia ou autonomia e mantidos como o horizonte do contetido, CAPITULO VIII: Capitalismo ¢ jornalismo: convergéncias e divergéncias A cidadania real e a imaginaria Pode-se, aqui, apenas corrigir a afirmagdo de que a cidadania patrocinada pela sociedade burguesa é uma “condigio imagindria". Ao contrério, a cidadania no capitalismo descnyolvido é, via de regra, uma rela¢ao historica real € efetiva. O que € imagindrio ou, mais precisamente, jurfdico-formal é a igualdade que ela implica. A cidadania burguesa € constituida por relagdes efetivas entre os individuos, cuja base sao as necessidades do capital de assalariar e submeter trabalhadores "livres". Na perspectiva marxista, essa cidadania apresenta, entéo, aspectos formais (relativos A igualdade) que devem ser coneretizados ¢, de outro lado, aspectos concretos (exploracao e opressiio) que devem ser erradicados/Portanto, essa relacao social envolve dimens6es objetivas de universalidade que transcendem a sociedade burguesa e se projetam como exigéncia politica revoluciondria, situa hisioricamenie na perspectiva da expliitagio e autoproducio do género humanoy/E Envolve, igualmente, aspectos particulares referentes & dominacao de classe, que situam a estrufura social como politicamente antagdnica as proprias possibilidades da totalidade. E 0 fendmeno que Lukécs chamou de "centralidade ontol6gica do presente”. A necessidade do jomalismo informativo envolve, portanto, essa contradicio entre a cidadania real e, digamos, a "cidadania potencial" que € constitufda pelo capitalismo. A cidadania burguesa implica uma situagio pritica e efetiva de universalidade dos individuos. Uma universalidade que, em graus varidveis, vai atingir a todos. Mas essa cidadania est comprometida com a desigualdade econdmica, social ¢ politica. O jornalismo informativo encama essa ambivaléncia, cuja explicacao esta na relacio dial¢tica entre a particularidade e universalidade do proprio modo de produgio capitalista. A noticia como produto industrial A noticia jornalistica nao pode ser considerada como uma modalidade da informagio em geral. Nao foi a transmissio genérica da experiéncia - 0 que sempre ocorreu em sociedade - e sim a transmiss%o sistemdtica, por determinados meios técnicos, de um tipo de informacao necesséria & integragio e universalizagao da sociedade, a partir da emergéncia do capitalismo, que deu origem & noticia jomalistica. *** © problema central é que, assim como 0 produtos industriais nao sito mais confeccionados pelo modesto artesio ¢ suas ferramentas individuais, mas coletivamente numa linha de montagem, a informagao jomalistica manifesta - predominantemente - uma percepgao de classe ou grupo social/ O talento, a ia so importantes, como jé foi acentuado, ¢ poderao até prestigié-lo diante de seus colegas ¢ do ptiblico, no tanto como criador, mas principalmente como intérprete de uma percepgao social da realidade, que ele vai reproduzire alargar. yp capacidade técnica a visio ideoldgica pessoal de cada jorne Sob a inspiragdo de Benjamin *"*Mas 0 que estamos procurando acentuar é que 0 jornalismo nao desaparecerd com © fim do capitalismo ¢ que, ao contrario, ele esta apenas comecando a insinuar suas imensas possibilidades e potencialidades hist6rico-sociais no proceso de autoconstrugao humana. A fecundidade do singular e a necessidade da manipulagao O jornalismo modemo possui no s6 um potencial critico e revoluciondrio na luta contra 0 imperialismo ¢ o capitalismo, mas um "potencial desalienador" insubstitufvel para_a construcao de uma sociedade sem classes. Ele permite, pela natureza mesma do conhecimento que produz, uma imprescindfvel participacdo subjetiva no processo de significagao do ser social. Por sua I6gica intrinseca de perseguir o singular ¢ expressar sua significagao imediata, 0 jornalismo ao refletir a hegemonia da ideologia dominante, expressa também as contradigdes com as quais ela se debate, 4 medida que é obrigado a respeitar certa hierarquia objetiva dos fendmenos. Ou seja, enquanto se aprofundam as contradigées do capitalismo, o jornalismo tende a refletir espontaneamente aspectos criticos da propria objetividade que reproduz./A solugdo € 0 controle mais estrito ¢ ideologicamente mais cuidadoso dos meios de comunicagio e das informagies elaboradas.. **% A linguagem cientifica tem uma configuragio universal. Ela busca dissolver as singularidades e particularidades, para manté-las superadas nos conceitos e categorias universais e nas formalizagdes universalizantes. E claro que, na ciéncia, ndo esté em jogo uma espécie de universal puro, o que seria uma concepgaio idealista. A medida que a8 singularidades e particularidades sio superadas, elas passam a existir como determinagSes virtuais do universal, recolhidas pelo conceito em sua conereticidade. ***A linguagem jornalistica quer aprecnder a singularidade, mas s6 pode fazé-lo no contexto de uma particularidade determinada, ou sejz, no contexto de generalizagdes © conexdes limitadas capazes de atribuir sentido ao singular sem, no entanto, dissolvé-lo enquanto fendmeno Gnico ¢ irepetivel. Se afirmo, por exemplo, que um determinado homem que espancou sua mulher praticou "um ato de crueldade”, estou qualificando universalmente 0 fato, isto 6, tornando-o simplesmente um exemplar do género de “atos cruéis" j4 sobejamente conhecidos. Assim, nao permito que o proprio evento contribua com sua singularidade para complexificar, acrescentar ou negar, com sua determinagdo irrepetivel, a compreensao particular e universal que 0 piblico tem da crueldade. Perde-se a fecundidade do singular como dimensao legitima e criadora da realidade e do conhecimento. CAPITULO Ix Osegredo da piramide ou a esséncia do jornalismo A maioria dos autores reconhece que a objetividade plena é impossivel no jomnalismo, mas admite isso como uma limitagio, um sinal da impoténcia humana diante da prépria subjetividade, ao i sinal da poténeia subjetiva do homem diante da objetividade. és de perecber essa impossibilidade como um A construgio social dos fatos jornalisticos Assim como cada disciplina cientifica constr6i os faros com os quais trabalha, a noticia € a unidade basica de informagao do jornalismo. Sao os fatos Jornalisticos, objeto das noticias, que constituem a menor unidade de significacio. 0 jornalismo tem uma maneira propria de perceher e produzir "seus fatos". Sabemos que os fatos no existem previamente como tais. Existe um fluxo objetivo na realidade, de onde os fatos sdo recortados e construidos obedecendo a determinagSes a0 mesmo tempo objetivas e subjetivas. Nao ha diivida que a chamada "objetividade jornalistica" esconde uma ideologia, a ideologia burguesa, cuja funcao é reproduzir e confirmar as relagdes capitalistas. Essa objetividade implica tima compreensio do mundo como um agregado de "fatos" prontos e acabados, cuja existén percepcio ¢ auténoma em relagio a qualquer ideologia ou concepgao de mundo. Caberia ao jornalista, simplesmente, recolhé-los escrupulosamente como se fossem portanto, seria anterior a qualquer forma de pedrinhas coloridas. Essa visio Positivista € funcionalista. Porém, nao é demais insistir, essa “ideologia da génua, conforme ja foi sublinhado, possui um fundo objetividade" do jomalismo moderno esconde, ao mesmo passo que indica, uma nova ~ modaidade social do conhecimento, historicamente ligado ao desenvolvimento do capitalismo ¢ dotado de potencialidade que o ultrapassam. A histéria e os mitos sobre a piramide Deixemos de lado o simplismo da tese segundo a qual a "piramide invertida” teria nascido de uma circunstancia tecnoldgica e se generalizado por comodismo ou para impedir a consciéncia critica dos leitores. Vejamos um comentirio critico pertinente, Iembrado pelo préprio Diaz Rangel: "De todos, 0 mais importante € aquele que diz que essa maneira de estruturar a noticia cria uma tendencia a uniformizar os primeiros pardgrafos, os leads, e desestimula a criatividade, e iniciativa dos tepérteres”. A idéia da "piramide invertida” pretende encamar uma teoria da noticia mas, de fato, nao consegue. Ela € apenas uma hipstese racional de operagiio, uma descrig&o empirica da média dos casos, conduzindo, por esse motivo, a uma redagio padronizada e nao a l6gica da exposigao jornalistica e A compreensio da epistemologia do proceso. Somente uma visio realmente teérica do jomalismo pode, a0 mesmo tempo que oferece critérios para a operagiio redacional, néio constranger as possibilidades criativas mas, ao contrério, potencializé-las ¢ orienti-las no sentido da eficdcia jornalfstica da comunicagio. *** A tese da "pirimide invertida” quer ilustrar que a noticia caminha do "mais importante" para o "menos importante". H4 algo de verdadeiro nisso. Do ponto de vista meramente descritivo, o lead, enquanto apreensao sintética da singularidade ou nticleo singular da informagao, encarna realmente omomenio jomalfsticognais importante. Nao obstante, sob 0 Angulo epistemoldgico - que é 0 fundamental - a pirdmide invertida deve ser revertida, quer dizer, recolocada com os pés na terra. Nesse sentido, @ noticia caminha ndo do mais importante para 0 menos importante (ou vice-versa), mas do singular para o particular, do cume para a base. O segredo da pirdmide ¢ que ela esta invertida, quando deveria estar como as piramides seculares do velho Egito: em pé, assentada sobre sua base natural. ***H4 um grau minimo de conhecimento objetivo que deve ser proporcionado pela signiticagao do singular (pelo singular-significante), que exige um minimo de ia se realize efetivamente como forma contextualizaco do particular, para que a notic de conhecimento. A partir dessa relaciio minimamente harmOnica entre o singular e 0 particular, a noticia poderd - dependendo de sua abordagem ideolégica - tornar-se uma apreensio critica da realidade. Porém, mesmo quando a noticia atinge essa relativa harmonia entre o singular ¢ 0 particular (representada pelo tridngulo equilétero), cla pode ainda situar-se na perspectiva da ideologia dominante, como é 0 caso da maioria das noticias produzidas pelos jornais "sérios" da grande imprensa. A partir dessa referéncia (puramente convencional ¢ conyeniente) ao triangulo equilétero como padrao cstrutural da noticia didria, é possivel sugerir duas variagbes. Primeiro, um triangulo is6sceles com a base menor que os lados (Fig. B), representando a noticia sensacionalista, ou seja, excessivame u Depois, 0 caso oposto: um triangulo isdsceles com a base maior que os lados, representando a abertura de um Angulo de generalizagio maior do singular ao particular (Fig. C). Aqui, teremos uma abertura que sera inversamente proporcional tanto ao publico quanto ao ciclo de reprodugdo da matéria. Um jornal semanal (ou um programa jornalistico na TV de igual periodicidade) nao deverd elaborar suas noticias e informagSes na estrutura do triangulo equilatero. O contexto de particularizagio que vai atribuir o proprio significado ao singular ou, noutras palavras, que vai construir o fato jornalistico,deverd ser mais amplo e rico em conexes. Um jornal mensal terd de abrir ainda mais esse angulo de contextualizagio e generalizacao, aumentando, portanto, a base do triéngulo (Fig. D). Scguindo caminho dessa representacdio, podemos ilustrar graficamente como os pressupostos ontoldgicos ¢ ideolégicos que orientaram a apreensio ¢ construgao do fato jornalistico, geralmente de modo espontaneo e n&o consciente, so sugeridos € projetados através da noticia (Fig. E). Nao se trata, necessariamente, de relatar os fatos mais importantes seguidos dos menos importantes. Mas de um tinico fato tomado numa singularidade decrescente, isto &, com seus clementos constitutivos organizados nessa ordem, tal como acontece com a percepgio individual na vivéncia imediata. O processo de conhecimento teérico, como indicou Marx, vai do abstrato ao concreto. A imediaticidade da percep¢&o, no entanto, vai da forma ao 6 conterid, do fendmeno & essencia, do singular a0 geral. O lead funciona como principio organizador da singularidade. A rigor, ele pode, inclusive, no estar localizado no inicio da noticia, embora isso seja 0 mais comum. Sua localizagio no comego da noticia corresponde ao processo de percepgaio em sua ordem mais natural, pois toma como ponto de partida o objeto reconstituido singularmente para, a seguir, situé-lo numa determinada particularidade. *** © caréter pontual do lead, sintetizando algumas informag®es bdsicas quase sempre no inicio da notici empirica, fornecendo um epicentro para a percepgao do conjunto. E por esse motivo que 0 lead torna a noticia mais comunicativa ¢ mais interessante, pois otimiza a figuracio singularizada da reprodugao jornalistica. Eventualmente, como foi dito, esse momento mais agudo da sintese pode estar localizado no segundo pariigrafo, no meio ou mesmo no fim da noticia, obtendo-se efeito semelhante. . visa & reprodugio do fendmeno em sua manifestagao 0 extremo. Esse singular, jornal sensacionalista, por exemplo, singulariza os fat no entanto, nao fica destituido de sua significagiio j4 que, de maneira subjacente, cle envolve um contexto de particularidade ¢ uma sugestdo universal. A singularidade exirema pressupoe e reforca as categorias do proprio senso comum, quer dizer, a predomindncia da ideologia burguesa. A percepcio do mundo como um agregado de coisas e eventos independentes, do livre-arbitrio metafisico como pressuposto das agbes individuais, da "norma" ¢ 0 “desvio" como padroes éticos de referéncia, a concepgo mistica do acaso e do destino, as idéias de "ordem" e "perturbacdes" como: categorias da andlise social, a impresso de naturalidade e eternidade das relagdes sociais vigentes, tudo isso j4 est contido no senso comum ¢ € reproduzido ¢ reforeado pela radicalizagio do singular. Nao apenas cnquanto omissio, mas como presenga real - embora subjacente - no tecido da singularidade extrema. Nio é por acaso que esse tipo de jomalismo recebe o nome de sensacionalista. Se a informagdo jornalistica reproduz as condig6es de uma "experiéncia imediata”, as sensagdes tém um importante papel nessa forma de conhecimento. Aliés, 0 que 0 joralismo busca é uma forma de conhecimento que nao dissolva a "sensacao da experiéncia imediata", mas que se expresse através dela. Porém, na singularizacao extrema, isto €, no sensacionalismo, ocorre uma distorgao do concreto através dos seus aspectos sensiveis no contexto da percepgao e da apropriagao subjetiva. A sensagdo assume um papel destacado na reproducdo da realidade e o fundamento hist6rico e dialético do fendmeno, ao invés de ser sugerido, é diluido na superficie do sensivel. A reportagem ea velha questo do "novo jornalismo" Porém, 0 essencial na reportagem, e que estabelece um nexo entre aqueles aspectos apontados por Nilson Lage, € que a particularidade assume uma relativa autonomia ao invés de ser apenas um contexto de significagio do singular. Ela prépria busca sua significacio na totalidade da matéria jornalistica, concorrendo com a singularidade do fenémeno que aborda e dos fatos que o configuram. Essa signific ser estética (como em "A Sangue Frio", de Truman Capote, para citar um exemplo extremo), tedrico-cientifica (como numa reportagem sobre mortalidade infantil io autdnoma pode utilizando estatisticas ou outros métodos das ciéncias sociais) ou informativa (como no caso das revistas semanais que, muitas vezes, contam a "hist6ria da noticia” a que 0 puiblico jé assistiu pela TV € leu nos jomais diérios, com maior riqueza de nuances ona qual o fato foi ce detalhes, fomecendo um quadro mais complexo da situa gerado). Na reportagem, a singularidade atinge a particularidade sem, no entanto, superar-se ou diluir-se nela. Um escritor pode fazer uma noticia ou uma reportagem excepcional, se dominar a l6gica jomalistica. Um jornalista competente ¢ capaz de fazer uma boa noticia ou uma reportagem interessante, mesmo sem talento artistico. O aspecto decisivo, no entanto, € que nem o jomalista serd capaz de escrever um bom romance se nao tiver talento literario, nem 0 escritor poderd fazer uma boa reportagem se desconhecer as técnicas jornalisticas Se a preponderancia do singular, no jornalismo, permite ao redator da noticia diluir- se no piblico, dissimular-se entre os espectadores, a conquista do tfpico pela reportagem literdria condu o espectador a vivenciar os personagens € as situagdes como se fosse participe do acontecimento. Contudo, de maneira ainda mais evidente do que na arte, ele nao deixa de ser um espectador, pois sabe que os fatos so reais ¢ que cle nao os viveu, embora pudesse té-los vivido. Quanto ao jomalismo literdrio, as boas excegdes confirmam a regra: nao vale a pena substituir um bom joralismo por mé literatura. Sem dtivida, trata-se de um género muito dificil, pois exige uma superposi¢ao do talento literdrio e de apuradas técnicas de investigagio e redacio jornalistica, uma vez. que o resultado deve articular harmonicamente os efeitos esiéticos e joralisticos, sem que um supere o outro. Logo, nao se trata de um caminho que possa ser generalizado como substitutivo da I confluéncia de dois arte ou do jornalismo, pois ele se constitui precisamente na di géneros relativamente auténomos. CAPITULO X Jornalismo e comunismo: consideragies finais Nessa bizarra concep¢iio do “profeta das comunicagdes” (Mc Luhan), nao sao as Tutas de classe € os conflitos sociais que movem a hist6ria, mas tecnologias da comunicacao que travam entre si batalhas épicas. Além do mais, os sentidos humanos nao esto associados historicamente ao processo global da atividade humana (Marx), mas a tecnologias especificas que surgem nes € processo. Além disso, o que pode ser singular para uma comunidade especializada (cientistas, por exemplo), talvez signifiquem uma abstragao genérica, aborrecida e impenetrével para os Ieigos. O importante a ser assinalado aqui € que a relago entre o singular, 0 particular e o universal nfo sé é dialética intrinsecamente, como esti sujeita, também, auma dialética hist6rica e social que sera o quadro da referéncia da primeira. A Iuta de classes ¢ 0 contetido do singular A critica de que 0 jomnalismo, ao separar as noticias e traté-las de forma descontinuz desintegra e atomiza o real favorecendo a superficialidade da reflexdo e a alienacao, tornou-se um lugar comum que recebe, em cada autor, um verniz te6rico diferente. O jomalismo nao desintegra e atomiza a realidade, pelo simples motivo que essa tealidade nao se oferece imediatamente & percepgio como algo fntegro e totalizado. E no processo do conhecimento que a realidade vai sendo integrada, j4 que cla se mostra primeiro como caos, como algo desconhecido € imprevistvel. J4 mostramos também, até a exaustio, que no jornalismo o singular se abre para um contexto particular e sugere uma significagao universal, um contetido. Na sociedade, a notici assim como a percep¢ao individual de um fenémeno singular, vai se inserir em determinadas cosmovisdes pré-existentes. HA, como sabemos, uma cosmovisio dominante. Mas ela nao é destituida de contradigGes. Nas sociedades de classe existe sempre um antagonismo politico ¢ ideolégico tensionando o sistema. Por isso, existe a possibilidade de um angulo oposto ao da reprodugo para a apreensio do singular- significante. No processo constante de transformagao da realidade, 0 novo aparece sempre sob a forma do singular, como fenémeno isolado, como excecio. Por isso, o singular é a forma originaria do novo. Fle é a diferenciagao da mesmice, aquilo que escapa da mera reprodugao e da simples identidade em relago ao universal ja constituido. Assim, a abordagem jornalistica tende a apanhar a realidade pelo movimento e este como produgio do novo. Contra essa potencialidade da abordagem jornalistica, procurando neutralizé-la e submeté-la, volta-se a ideologia burguesa, patrocinando formas cada vez mais intensas e sofisticadas de controle e manipulagio do proceso informativo. O desvendamento do sujeito coletivo a) A participagdo mais ou menos consciente na luta de classes possibilita identificar os interesses em jogo, bem como a origem dos discursos e das diversas abordagens da realidade. b) Através da diversidade ou pluralidade que sempre existe, pelo menos minimamente, € possivel confrontar ¢ comparar as abordagens dos meios para que revelem os sujeitos politicos e sociais que estio por trés da suposta imparcialidade. Assinale-se que essa diversidade é, em certa medida, criada conscientemente pelos setores antiburgueses ou de oposigdo ao siatus quo, seja através de vefculos sob 0 controle desses segmentos ou das informagdes que propriedade burguesa. "passam" nos meios de c) Na explicitagdio editorial dos prdprios yeiculos, mesmo que procurem demonstrar que suas opinides em nada alteram os "fatos imparcialmente relatados", surge a possibilidade do piblico relacionar aquelas posigdes abertas com o cnfoque velado que preside as demais matérias. 4) Finalmeme, pela criacdo de uma conscigncia politica e tedrica de que a informagao jomnalistica néo é nem puramente objetiva, nem imparcial ou neutra. Praxis, comunicacio e jornalismo Jomalismo € percedido pelo Adelmo enquanto estrutura de comunicacio historicamente condicionada e forma social de conhecimento articulada & autoprodugao historica do homem. Tanto uma como outra, embora geradas no ventre do capitalismo, correspondem a necessidades e determinagdes bem mais duradouras ¢ amplas do que o dominio burgués e seus interesses particulares de classe exploradora. O jornalismo e a "consumagio da liberdade" A realizagao do comunismo, portanto, néio pode ser pensada sem o pleno desenvolvimento dessa forma social de apropriagao da realidade a que chamamos "jornalismo informative".

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