You are on page 1of 21
VINCENT B. KHAPOYA EDITORA VOZES O nacionalismo africano e a luta pela liberdade © primelro-ministo brianice Havold Macmittan {fez wn famoso diseurso para todo parlamento utafricano em fevereiro de 1960, no qual ee ve havia wm vento de conscienca africana saprande atroues do continents africana, um vento que 0s ewrepeus na Europa ena didspora (i. €, os colonos brancos na Africa) devian veconhecer 0 que ignifcava, Macmillan estaa levantando urea questao invvigante’ se a colonizacie era boa para bs ajntcanes, tal como os enropeus tinham afirmade Alwrante tatoo tempo, por que evido alguns africanes pegarann en) armas para futar por sua Hiberdade? De onide vinta esta camsciencia politica? Introdugéo © nacionalismo. ian tum sentimento subjetivo de pazemiesco aw af- baseado em normas culturais is compat las, instituigdes tradicion tanga racial e uma experiencia historica comum, E uma ex ‘uma experiencia histor » duradoura compartilhada por quase todos os africanos era a opressao colonial, discutida no capitulo anterior. junto com este sentido de idensidade compart Tada esta um desejo coletivo de manter os proprios valores culturais, socials € politicos, independentemente do contrale externo. Lan intelectualidade ocidental, 9 nacionalismo africano an! lonialismo, § "Nos anis da hist6ria africana encontramos comunidades afticanas organize sua integridade territorial e cultural contra aqueles que desejariam destrut-la (ou miné-la, Por exemplo, quando o grande rei africano Mansa Musa de Mali 7 fez uma peregrinacao a Meca em 1324-1325, 0 Povo Wolof ~ que foi violenta mente colocado sob o reino de Mali ~ aproveitou a oportunidade de se rebelar contra o reino de Mall. © Povo Wolof estava expressando um nacionalismo, ‘urna identidade nacional separada e um desejo de autogoverno na sua propria terra. Nos também sabemos que os alricanos nio aceitaram passivamente o dominio europeu, que era estranko € destrutivo da ordem social africana. A resisténcia efetiva levantada contra a colonizacao eurapeia pelo Povo Ashanti de Gana, pelo Povo Hehe da Tanzania, ou pelo Povo Zulu da Africa do Sul su- gere que um sentido muito foite de identidade nacional estava ja em vigor — vumna forte determinacao de nao sucumbir a qualquer outra autoridade, exeeto | colonial alema do seu pais em 1890: Eu tenho escutado as suas palavras, mas no enconirei nenhuma ti 20 por que et deverla obedecer voce ~ antes, eu preBiro morrer [ul Se €a amizade que voc® deseja, entdo, estou pronto para isto, hoje €-¢f sempre; mas ficar submetido a voce, isto eu nfo posso. [..] Se é umn guerra que vocé deseja, entdo, eu estou pronto, mas nunca serei sed | sidite.[..] Nao vou cair acs seus pés, pois voce & uma criatura de “| Deus assim como eu... Eu sou o sultio aqui na minha tera. Voce é0 | sultdo ld na sua. Contudo, escute, eu ndo digo & voce que voce deve: me obedecer, pois eu sei que voce é um homem livre. [..] Quanto 4] ‘mim, eu nao irl aé voce, e se voce for fore o bastante entdo, venha | me buscar 1 BOAHEN, A. African Perspectives on Colonialism, Baltimore, MD: Johns Hopkins University Press, 1987, p. 23-24 194 a ee eee ee ed ee ee F britanica de protecao — um eufemismo para o controle colonial. Ele disse que ‘seu reino desejava permanecer em termos amigaveis com todos os poves brancos ¢ fazer negécios com eles, mas ele nao via razio por que o Reino Asante deveria um dia se comprometer com esta politica do governo briti- © nico. Os ingleses tomaram o pais de qualquer maneira, o rei foi exilado por vitios anos para uma ilha do Oceano Indico por sua nto cooperagao, ¢ vio- lentas tensoes entre o Povo Ashanti e os ingleses continuaram por noventa anos, até 0 comeco do sécula XX, O rei do Povo Mossi de Burkina Faso disse 4m comandante frances: “Fu sei que os brancos querem me matar para to- mar o meu pais, contudo, voc# alega que eles me ajudarlo a organizar o meu ppovo, Mas ew acho 0 meu pais bom do jeito que ele é. Eu nio preciso deles. Eu sei o que € necessario para mim eo que eu quero. Eu tenho os meus pré- prios comerciantes.[..] Também se consideze afortunado por eu ndo mandar cortar a sua cabega, Va embora agora, e, sobretudo, nunca volte". Os france- ses nunca foram embora e os Mossi perderam o seu pats. Um lider do Povo Nama da modema Namibia disse aos alemaes: “O Senhor estabeleceu varios reinos wo mundo. Portanto, eu sei acredita que no é pecado ou crime que cu deseje permanecer como chefe independente da minha terra e do meu povo"?, Os alemaes tambem nao ficaram impressionades. Os ocidentais, por suas proprias 1az0es, escolheram chamar estes grupos de “tribos", apesar do fato de muitos deles serem extremamente grandes ¢ com instituigdes sociais € politicas bem-estruturadas. Uma forte evidéncia mostra que estes grupos ram nagbes que ocupavam tetritstios especificos, que eles estavam querendo defender quando eram ameagados ou atacados. Os sentimentos expressos pe- los reis e pelos Ifderes nao demonstram senio um nacionalismo de um povo ue queria relagdes com os estrangeltos, tal como aquelas que existem entze ‘guais, ou entao ser deixados em paz. Os sentimentos de grupo que surgiram na Europa Oriental em seguida ao colapso do comunismo sio claramente uma manifesta¢io de nacionalismo, ‘io diferente daquele que fol visto na Africa as vésperas da disputa pela conti- Rente, Quando a Unido Soviética desmoronou, as suas antigas repuilicas cin- diram, algumas delas enftentando conflites internos, enquanta varios grupos 2 Wid, 0.25, 2 ia, 195 buscavam recuar para os seus enclaves linguisticos ¢ culturais. A lugoslivia se desintegrov, langando o seu povo numa sérdida guerma civil. A Tehecoslo- ‘vaquia se dividin em 1992 por intermédio de um acordo para a sua divisto cem dois paises: a Repablica Teheca e a Eslovaquia. O que conecta todos esies ‘grupos é uma heranga comum, baseada na religito, na Iingua ena experiencia storie. experiencia histories de vver soba hegemoniaesrangelra ou ser governado por partidos politicos manpulados por wits potencia externa fl uma poderosa forge mottizsubjacente nas tentatvas naconals separatists a Europa Ortenal tal com fot na Area moderns, Nacionalismo africano moderna Depois que 0 dominio colonial foi firmemente estabelecido, os afticanos continuaram a demonstrar muitas formas de desavenga ¢ resistencia, Na me- dda em que a Africa fo fatiada em diferentes calonias, quando a resistencia se aghutinow as organizacies que se formaram para protestar contra varios elementos do donatnio colonial estavam frequentemente baseadas num ter 5 ritorlo submetido a uma poténcia colonial (como a Franca, a Inglaterra out Alemanha). J4 que era virtwalmente impossivel 20s afticanos se organizarem ‘oped pritica. Na medida em que 0 colonizndor era europen e o colonizad | era aticano, estas onganizacdes viecam a scr vista, particularmente pelos € trangeitos, quase totalmente em termes raciais, [sto serviu aos interesses das poténcias coloniais, para que eles nao somente colocassem os grupos étnicos | ‘uns conta os outros, mas também pata que puclessem descrever os mas con Dativos ¢ francos como sendo contra os brancos. ‘A Rebelido Mau Mau contra o dominio britanico no Quenia € um exemplo pperfeito de um movinnento que foi apresentado na midia ocidental como vist rebelido sem objetivo ¢ fanaticamente viglenta, inclinada a matat ¢ estroptt ‘qualquer pessoa branca somente paua se diveitir. Esta interpretacao ravial em simplista¢ errada O objetivo desta interpretagio era divorciar a Tuta das qui | xs legitimas que a embasavam, Como eu ja indiquél, 05 colonizadores euro} | ‘us tinham alguns motivos raciais para capeurar os teritrios africans, ma 0s africanos simplesmente queriam os seus teritarios de volta ¢ a liberdade de viveras svas vidas como quisessem. Este surto de nacionalismo africana fol abastecido por varios fatores catalisadores, além da propria experiencia colo- nial opressiva: as igrejas missionarias, a Primeira Guerra Mundial, a Segunda Guerra Mundial, a ideologia do pan-africanismo ea Liga das Nagdes/Nagdes Unidas. Cada um desses fatores sera agora discutido, Opressao colonial’ Como foi ja indicado no capitulo anterior, a colonizacio foi uma expe- riéncia muito negativa, exploradora e opressiva. Os africanos tinham péssinnas recordagées desta experigncia, ainda que alguns possam parecer que foram Deneficiados materiatmente. Eles foram humilhados, # sua cultura denegri dae distorcida e a sua tera confiscada. Os imigrantes europeus, que eram incentivados 9 virem para a Africa como fazendeiros pioneiros e a quem fo: tam dados grandes pedacos de terra para a lavoura, obrigaram os afticanos 4 fornecer mao de obra barata, o gute esultou em sérias consequéncias para as comunidades africanas, Grandes plantagbes foram estabelecidas para pro- uzir culturas comerciais, Como podia alguém nao esperar que 0s afticanos se rebelassem contra isto depois de um certo tempo? De lato, exatamente no comeco da ocupasao colanisl, a resisttncia africana assumiu a forma de revolta armada, Os Temme ¢ os Mende de Serra Leoa se revoltaram contra o imposto da cabana. Os povos Nama e Hexeco da Navubia se revoltaram contra a tomada alema da sua terra, 0 que, por sta vez, vou ao trabalho forcado. No Congo do Rei Leopoldo, a resistencia ao trabalho forcado fol tao Intensa que fot exigido dos recrutadores de maa de abra que trouxessem de volta com eles ‘membros e orelhas humanos amputacios, como prova de que os africanos que nto queriam tesbalhar praticamente de gr ‘membros. Estes tipos de revolts eram tpi cestavam fadacos a perder os sens = da “esisténcia primitiva”, levan: les espontaneos ¢ locais. Eles nao form bern-sucedidos militarmente ~ por 205 Sbvias, incluindo a auséncia de uma base onganizacional rural ~ e fo Fam brotalmente suprimidos, Mais tarde, as pessoas adotaram estratégias que exam mais modleradas ¢ empregaram meios convencionais. Foram formedas A5sociacbes com o propésito de chamar atencao para quetxas especificas: s&- irios baixos, instalacoes de educagio ¢ de satide precarias, precos inadequa éos de culturas comerciats produzicas pelos lnvradores africanos, austncia de oportumidades de negocio e auseneia de representacio nos conselhos politicos 198 as \ 197 cots locais. Quando estas reformas foram frustradas pelos colonas estrangeiros, que detestavam gastar qualquer dinheiro com os “natives” ou compartilhar qualquer poder com os africanos, ou quando os funcionatios coloniais na me- tropole decidiam que os africanos nao estavam prontos para as reformas, os africanos finalmente comecaram a pensar no autogoverno coma sua resposta, Foi sugerido que o conceito de liberdade politica era estranho 20 pove afieano, que os africanos eram tradieionais e nao tinham qualquer sentido de democracta, As sociedades africanas, certamente, eram sociédades coletivas nas quais as necessidades e os direitos das comunidades como um todo pre- cediam aqueles dos individuos. Mas 0 ethos coletivo nao devia ser equiparado = stncia de valorizagho a liberdade MaTvEtal” Como To enpicade no capitulo 2, algumas comunidades afficanas Utilizavam muitas consultas numa atmosfera de debate € discussie irrestrites. Os lideres eram escolhidos «€ tomados responsaveis por suas agdes, Aqueles que resistiam aos desejos € demandas do seu povo eram muitas vezes derrubados ou substituidos. Em slgumas sociedades, 0 governo hereditario era permitido somente na medida em que os lideres agissem de acordo com os padroes aceitos e sancionados por ‘suas comunidades. Quando um lider era incompetente ou traia a confianga do ovo, sendo injusto ou cruel, ele era derrubado ¢ outro lider era escolhico de ‘uma casa ou familia diferente Igrejas missionéries © cristianismo esteve na Aftica por um longo periodo de tempo, muito antes que 0 seu proselitismo trouxesse os missionérios para a Africa, A in- trodugio do cristianismo na Africa remete aos tempos romanos, quando escritor do Evangelho de Marcos fundou a Igreja Crista Coptica em Alexan- dria, como foi explicado no capitulo 3. O islamismo se tomnou uma forca mut to mais disseminada, mais ou menos do século VIII em diante, ajudado por jihads (guerras santas) contra aqueles que resistiam a converséo. O comércio lucrativo ea imigragdo contribuiram para a retirada crista para os planaltos da Etigpia, onde a Igreja Coptica sobrevive até os dias de hoje A Igreja Catélica foi introduzida na Africa pelos portugueses no final dos anos de 1400 em Benin ¢ logo se estendeu para o Congo ¢ Angola. Nesta €poca, 0 proselitismo cristio parece ter sido absolutamente til ao facilitar 0 188 estabelecimento da presenga portuguesa na Africa com propésites comerciais, Os chefes ou os ris africanos que foram abordados também viam @ potencial politico de usar o cristianismo para unificar os seus impérioS ¢ fortalecer a5, suas proprias posig6es. Richard Hull capta a reciprocidade evidente de inte ‘esses entre os pregadores ¢ 0s governantes tradicionais, da seguinte manetra: © Obé ow rei de Benin enfrenton inicialmente os portugueses em 1486, Os exploradores europeus ficaram imediatamente impressio- nados pela vastid#o do império, pela forca de seus governantes ¢ pela possibilidade de transformar 0 Estado num poderoso aliado [sic] co- mercial cristo. Benin, por outzo lado, maravilhow-se com 0s artigos pportugueses de comércio, como o armamento moderna e as ferramen- tas para a agricultura, com os tecidos finos € com as histérias de um istante Imperio Portugues. Ambos viam vantagens mituas através do estabelecimento de relagdes diplomaticas Estas relagdes entre os afticanos ¢ os portugueses (como fol explicado no cap. 3) depois azedaram, quando os portugueses comegaram a buscar vn papel mais intrusivo nos assuntes politicos intemnos des reinos, quando tenta- ram altetar os costumes africanos, como a poligenia (que permitia ao rei man ter o seu poder e influéncia formando aliancas). Nos outros paises africanos, 0s missionarios cristaos ou precediam as aquisicdes coloniais, ou vinham ime: diatamente depois ce um pats ter sido declarado uma colonia. As autoridades coloniais achavam que o cristianismo tinha um efeito pacificador sobre o povo africano, com sua enfase nas quesides espirituais sobre os assuntos munda- nos, As nossas vidas nesse mundo sto to curtas, 0s missiondrios diziam, que realmente no importa 0 que os governantes colonia fazem a nds. O que importa ¢ o que fazemos na preparagéo pare a outra vida, para a vida eterna A Igreja crista também servia para reconciliar as comunidades afticanas em desintegracio, duramente atingidas pela politica colonial, sem atacar as causas radicais da desintegracio. Um exemplo disso foi a derrota devastadora sofrida pelo povo da Tanzania na chamada Rebelido Maji Maji de 1905-1908. 3s africanos escolheram resistir ao opressivo colonialismo alemao, Os ale- ines derrubaram a revolta. Quando estava tudo acabado, 120,000 afrieanos tinham perdido suas vidas. A destruigao foi tao completa que 05 africanes 4 HULL. RM Modern Africa: Continuity and Change. Englanoad Cif, Nu: Prentice Hal, 1980, 6.1 199 perderam inclusive a fé nos seus espititos ancestrais, Foi assegurado a cles através dos seus Iideres que cles seriam devidamente protegids por seus an- cestrais na batalha. Em total consteracao e desanimo, que se seguiram a de- vistadora derrota, a maioria daquelas pessoas se veltow para o cristianisino. (© mesma fendmeno, a perda de {é nas instivuigdes religiosas tradicionais, ¢ demonstrado no file de Sembene Ousmane, Emitai, no qual os africanos do Senegal durante a Segunda Guerra Mundial foram forcadosa ser “voluntaios o Exército francts e a entregar a sia subsisténcta (o arroz) para as autorida- es coloniais francesas. Quando as mulheres escondiam 0 arroz ¢ eram cap- turadas pelas autoridades francesas e mantidas seféns até que concordassem ‘em enttegar 0 arroz, os seuss homens, na clandestinidade, se reuniam e faziam sactificios para os seus ancestrais e os seus deuses, pedindo a eles a garantia de que os seus meivs de vide nao iam destratdos. Alem disso, eles acredita- vvarn que dat o arroz para as autoridades coloniais seria uma grave violacao das suas tradigbes sociais. Como.o impasse continuasse, um por urn, os homens ccamecaram a vacilar na sua fe, Eles comegaram a imaginar por que, nesse me- ‘mento de necessidade critica, os seus esphritos ancestrais nfo vinham em seu auxilio. Talvez 05 seus deuses nao fossem afinal verdadeiros deuses. Talves as Mundi + decidiu transformar a AAT na Unio Nacional Africana de Tanganica (Unat), * ym partido politico de massa constitutdo para falar Gas demandas emergen- tes do povo africano e para pressionar pela independéncia, Alguns partidos ‘menores foram formados antes de Tanganicaficar independente da Inglaterra * gm 1961, mas eles foram esmagadcs pela Unat nas urnas, ¢ Nyerere se tornou tum pensador politico persuasivo e articulado; algumas de suas Ideias serdo discutidas no proximo capitulo, Os franceses acreditavam que, com a assimila¢lo, 0s povos afticanes fi nalmente permaneceriam dentro da comunidade maior das nacoes francesas, sob a lideranca da Franca. Assim, eles patrocinaram os partidos politicos nas colonias enquanto secdes dos partidos nacionais franceses. Por exemplo, 0 Partido Gaullista Francés € 0 Movimento Republicano Popular (Mouvement Républicain Populaire: MRP) patrocinaram o Partido Republicano de Daomé (Pani Républicain du Dahomey) em Benin (1951), muito tempo depots que e Partido Socialista Francts jétinha estabelecido uma se¢to no Senegal (1936), Foi através do patrocinio dos socialistas franceses que Leopold Senghor abriu 1954, um jovem universitario graduado de nome Julius Nyerere seu caminho nas fileiras politicas para ser um deputado frances. Na Africa britantca se permitia as organizagdes afticanas somente se elas fossem comitts socials e de bern-estar ou organizagdes regionais. A politica britanica do “gover indireto” impedia a capacidade dos africanos nas col6- nias de estabelecer organizagdes nacionais, ou poderem trabalhar com outros fora da sua regio. Quando 0 Consello Nacional da Nigéria ¢ de Camardes (CNNO) comecou em 1944, era uma federacao de associacbes étnicas ¢ clubes Iitertris e sociais, Em 1951, ele conseguiu se transformar num partido pelt tico admitindo membros individuais. O CNNC nao consegutu causar rauito {impacto nas regides norte ¢ oeste da Nigéria, mas 20 conttirio se tornou for temente identificado com 0 Povo Ibo da Nigéria Oriental (sob a ideranca de Nnamdi Azikiwe). Na Nigérla Ocidental, 0 Chefe Obafemi Awolowo combi now partes do Movimento de Juventude da Nigéria com wma organizacao cul tural loruba chamada Egbe Omo Oduduwa num novo partido politico chama ddo Grupo de Agfo (GA), que veio a estar quase totalmente identificado com 0 Povo loruba. Na parte norte da Nigéria, uma drea ferrenhamente mugulmans ce conservadora, Abubakar Tafawa Balewa recuperou o que foi deixado da AS: sociacto dos Flementos Progressives do Norte ¢ « transformou numa orBt nizagao cultural Haussa chamada de © Congresso do Povo do Norte (CPN) Quando 0 apoio politico dos emires muculmanos paderoses, mas conservade- res, como 0 Sardauna de Sokoto, foi assegurado, o CPN se transformou nu partido politico. A poltica colonial da Nigéra, desde o infcio dos anos de 1950 até a ealizagio da independencia da Inglaterra em 1960, foi certamente {nfluenciada pela existéncia desses tres principais partidos politicos: o CNN 4 Grupo de Agio ¢ 0 CPN, cada um deles representando um dos trés maiores grupos étnicos da Nigeria No Quenia, de acordo com a pritica britanica de desencorajar as organi- zagbes nacionais, virias pequenas organizacbes tribais regionais foram forma- das no comeco do século para protestar contra polticas colonials especificas, mas elas se toaram alvos da repressio colonial. A Associagdo de Ben-Estar dos Contribuintes de Kavirondo (ABCK) foi formada nos anos de 1920 por alricancs vindos da parte ocidental do pafs, em torno do Lago Vitoria (com- preendendo os Luo ¢ os Luhya), para protestar contra a tributagao injusta a8 ‘egulacbes de terra, mas eles escolheram falar de suas queixas mais publi- camente do que simplesmente ir pelos canats oficiais. Havia também cisdes dentro da organizagao devido as diferencas étnicas ¢ religiosas. © ABCK teve uma vida politica muito curta, Harry Thuku formou a Associacto da Juventude dos Kikuyu em 1922 para protestar contra a expropriacio da terra Kikuyu, antes © seu emprego na cidade de Nairobi e foi posteriormente detido e banido para ‘um temoto deserto na parte norte do Quénia, A Associagio de Juventude dos Kikuyu foj logo sucedida pela Associacao Central Kikuyu (ACK), que depols ~ se omou a Unido Africana do Quenia (UAQ), destinada a ser uma organ ‘que as autoridades se pusessem contra ele. Ele perdeu 0 2acio territorial tanto no sew programa quanto na sua estridente retériea do tacionalismo queniano; finalmente, devido a efetiva repressao colonial, a UAQ ‘nunca pode estabelecer uma base firme fora da regido central do pats. Como ont tho das mudancas politicas se acelerou, especialmente em segitida & emergéncia A supressto do levante Mau Mau, Tom Mboya, utlizando sua base coma sindica- a 2 Africana do Quenia, que tem dominado a politica queniana até hoje, foi for. ‘mada em marco de 1960, O seu apoio veio principalmente do Povo Kileuyu na provincia central & do Povo Luo na parte ocidental do pats, em toro de Lago Vitoria, Em juno de 1960, vatios grupos émicos menotes, temendo a domi- baglo dos dois maiores grupos (i. €, os Kikuyu 0s Luo) e com apoio material da pequena, mas economicamente tnluente comunidade de colonos brancos, formaram « Unito Democritica Afticana do Quenia (Udaq). Os grupos én. cos menores eram representaclos pela Alianga Nacional Kalejin, pela Frente Unida Massai, pela Unito do Pové da Costa Africana e pelo Partido do Povo Africano do Quenia, Uma consecquéncia de longo aleance da politica colonial britanica pode ser vista na mistura de grupos politicos representando dif. Tentes grupos émicos se unindo, para dar fin a0 dominio colonial, com uma experiéncia muito limitada de terem trabalhado juntos num nivel nacional. Ainda que isto nao fosse exposio claramente, parece que os ingleses nao tinham qualquer intencao de deixar os africanos finalmente se autogovern- Tem naquelas colonias habitadas por um niimero significativo de colonos bti= ténicos, Na Africa do Sul, seguindo uma historia de hostilidades entre o gover. no britanico € 05 colonos brances, o poder foi finalmente transferido para os brancos, que nio fariam qualquer esforgo para assegurar constitucionalmente que 0s direitos dos outros grupos raciais no pats ossem protegides, Na Rodé. sia do Sul, agora Zimbabue, 0s colonos brancos se atributram 0 sutogoverno {interno em 1923, significado com isso que. colonia era responsvel por snd, exceto pela defesa c pelas relacdes exieriores, que permsneceram nas milos do goveme britinico, Em 1953, o governo britanico auxiliou no estabelecimento de uma federacao de Zambia, mbabue e Malavi sob o controle da minoria de colonizadores brancos. Cinco anos depois a federagao sucumbin, mas 08 bbrancos conseguiram manter o sey connole do Zimbabue ¢ unilaveralmente declararam a sua independencia da Inglaterra em 1965. Levou quinze anos de Ita de guersitha e milhsares de vidas para que o Povo Zimbabue separasse 0 scu pafs da minoria branea da Rodésia. No Quénia, os colonos britanicos nao ‘somente dominaram totalmente a politica do pats, mas também influenciaram foremente a politica colonial britanica para 0 Quenia 28 lista, estabeleceu o Partido da ConveneSo do Povo (PCP). A Unido Nacional. | 4 soes coloniais antes dle se tormarem lideres Embora a grande msioria dos estados africanos tivesse alcangado a inde- pendencia pacificamente através da negociacio, nao obstante, faz muito sen- tide se referir ao processo de transigdo do colonialismo a independéncia como uma luta, Aes aficanos nunca foi perguritado: Quande vooés desejam se tomar independentas? Ele tinhann de exigh bilizar para ito, Muitos “agitadores” foram para a cadeia: alguns deles foram banidos dos seus préprios patses por longos perfodos de tempo. C Ss tinham de exigir a in endéncia, eles tinham de sé mo- dizer que 0 caminho mais seguro para se tornar primeito-ministra de wm pais africana de fala inglesa era através da prisao. Na verdade, Kenyatta (Quénia), Nkrumah (Gana), Banda (MATE) ¢ muitos outros passaram um tempo nas pri- los seus proprios paises. ‘0 caso das colonias portuguesss, ‘ugal lidou com as demandas afri tahas pela independencia simplesmente anexando as colonias eas declarando vincias “ultramarinas” de Portugal. A cotal recusa por parte de Portugal le acolher o pensamento de que os afvicanos nae eram portugueses ¢ deviam fealmente querer governar os sens proprios paises levou os nadionalistas a Senpreender lntas armadas prolongac: Muitos fares mediaram a luta pela independencia fut fatores mediavam a I nde 4 igreja, as idelas e as manifesiacoes de apo de africana ataves do M educagio colonial, individuos de ancestralida- ang, exposigio ao mundo através afin erementel mace liga das Nacoes ¢ depois pelas Nagas Unidas. E interessante observar que a Igreja crista € a educagio colonial, instramentos essenciais das “missdes civi- Jizatorias" dos europeus na Africa, também inadvertidamente se’ tenham tor- nado instrumentos que os africanos utilizariam na luta pela liberdade. Apesar do impacto atomizador das politicas de dividir ¢ dominar empregadas pelas ‘oridades colonial, que jt descrevemos, €notivel realmente que 6 pove 4 Tata espethava todas as contradigbes das sociedades africanas que existiam ‘mes do colonialism e que persistiram desde a independencia Em toda caso, mais de quarenta anos de independéncia mostram que a Wherdade conquistada das poténcias curopetas era somente o comego de um longo ¢ tortuoso processo de libertacio, de construgto e consolidagao nacio- 229 nal e institucional, © de desenvolvimento econdmico, um processo que co | ‘mecou com os sistemas de partido nico ¢ economias socialistas, © agora, nno comeco do século XXI, enfrenta a globalizagao economica € 0s sistemas. poltticas multipartidérios. O capitulo seguinte daré uma olhada nes primeiros trinta anos da experiencia dos paises africanos como estados independentes, 220

You might also like