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problemstica da representagao em sua relagio com a agio no plano da constituigao do vinculo social e das identidades que dele decorrem®, A atividade de testemunhar, capturada aquuém da bifurcagio entre seu uso judicirio e seu. uso historingrafic, revela entao a mesma amplitude e © mesmo aleance que a de contar, em virtude do manifesto parentesco entre as duas atividades, as quais serd preciso em breve acres: centar 6 ato de prometer, cujo parentesco com o testemunho permanece mais dissi- mulado, O arquivamento, do lado historico, e 0 depoimento perante um tribunal, do lado judiciario, constituem usos determinados prescritos de um lado para a prova documental, do outro, para a emissdo da sentenga. © uso corrente na conversagao ccomum preserva melhor os tragos essenciais do ato de testemunhar que Dulong re- sume na seguinte definigSo: “Uma narrativa autobiografica autenticada de um acon- tecimento passado, seja essa narrativa realizada em condigbes informais ou formais” 9), Desdobremos os componentes essenciais dessa operagao: (Le Témoit octane 1. Duas vertentes s30 primitivamente diferenciaclas e articuladas uma sobre a ou- tra: de um lado, a assergio da realidade factual do acontecimento relatado, de outro a cortificagio ou a autenticagio da declaragao pela experincia de seu autor, 0 que chamamos sua confiabilidade presumida. A primeira vertente encontra sua expres- sao verbal na descrigio da cena vivida em uma narragio que, se nao fizesse meng3o a Implicagio do narrador, limitar-se-ia a uma simples informacdo, pois a cena narra a si mesma nos termos da distingo proposta por Benveniste entre narrativae discurso Uma nuanga importante: essa informagio deve ser considerada importante; o fato atestado deve ser sigiticativ, © que torna problemstica uma distingao demasiada mente marcad entre discurso e naerativa, Resta que a factualidade atestada supos- tamente traga sma frontvira nitida entre realidad « eso. A feniomenologia da me- _méria confrontou-nos muito cedo com carter sempre problemstico dessa Frontera Ea relagdo entre realidade e fico no deixar de nos atormentar, até o estigio da representaci historiadora do passade. Isso mostra que esse primeiro componente do testemunho tem seu peso. E nessa articulagio que entra em cena toda uma batera de suspeitas 2. Aespecificidade do testemunho consiste no fato de que a assergio de realidade Sinseparivel de seu acoplamento com a autodesignacao do sujeito que testemunha”. Desse acoplamento procede a frmula tipica do testemunho: eu estava li. O que se atesta ¢ indivisamente a realidad da coisa passada e a presenca do narrador nos locais da ocorréncia. F 6a testemunha que de inicio se declara testemunha, Ela no- mela asi mesma, Um triplo deitico pontua a autodesignacao: a primeira pessoa do 22 Chadiantea note de orkntoso da capil 2¢a do capitulo 3 23 O ato de tingusgem pelo qual estemunha atsta seu envolvimenta peal a2 uma conti maga estrondoss da anslise proposts mi ima rimeia parte, capita 3) da atebuigde 8s mesmo da lembranga ent, tratiea-se de uma especie de antepredicaton de sutodesignagho ome Singular, o tempo passado do verbo e a men 30 a0 li em relagio ao aqui, Esse eani= ter auto-referencial é por vezes sublinhado por certos enunciados introdut6rios que serve de “preficio”. Esses tipos de assergdes ligam 0 testemunho pontual a toda a hist6ria de uma vida. Ao mesmo tempo, a autodesignagdo faz aflorar a opaciclade inextricavel de uma historia pessoal que foi ela propria “enredada em historias”, E por isso que a impressio afetiva de um acontecimento capaz de tocar a testeminha com a forga de um golpe nao coincide necessariamente com a importine que Ihe atribui o receptor do testemunho, 3. A autodesignagao se insereve numa troca que instaura uma situagao dialogal. E dionte de alguém que a testemunha atesta a realidade de uma cena a qual diz ter as sistido, eventualmente come ator ou como vitima, mas, no momento do testemunho, na posigan de um terceiro com relagao a todos 0s protagonistas da agao", Essa este tura dialogal do testemunbo res Ita de imediato sua dimensao Fiduciaria: a testemu= nha pede que Ihe dem crédito. Ela no se limita a dizer: “Eu estava li ela acrescenta “Acreditem em mim.” A autenticacao do testemunho s6 seri entdo completa apis a resposta em eco daquele que recebe o testomunho ¢ 6 aceita; 0 testemunho, 9 partir esse instante, esti no apenas autenticado, ole © 4 acreditado, E 0 credenciamento, cenquanto processo em curso, que abee a alternativa da qual partimos entre a confian= a ea suspeita, Pode ser mobilizaca toda uma lista de argumentos de davida, que a psicologia judiciaria, evocada no inicio, alimenta com razies bem ponderaclas: essa lista pode referirse as condigSes mais comuns para a ma percepgio, a ma retencao, a ma reconstituigao, Entre estas uitimas deve-se levar em conta o intervalo de tempo ‘ao favoravel squilo que Freud denomina, em A Interpretogie des solos, a “elaboragso secundaria’; a lista pode dirigir-se de forma mais inquietante aos méritos pessoais da testemunha que fazem com que se costume acreditar nela, como oportunidades semelhantes, servindo de precedentes, ea reputagio comum da emunha inclinam 4 fazer; nesse caso, 0 credenciamento equivale 4 autenticagdo da testermunha a titulo pessoal. Dai resulta o que se chama sua confiabilidade, cuja apreciagio se deixa assi- ilar 8 ordem das yrandezas intensivas e comparadas. 4. A possibilidade de suspeitar cria por sta vez um espace de controvérsia no qual Varios testemunhos & Srias testemunhas se vévn confrontades. Sob certas condighes serais de comunicagao, esse expaco pode ser chamado espace publica; énesse conten: to que uma critica do testemunho se enverta em sua pratica, A testemmunha de alguma forma antecipa essas circunstincins ac scentando uma terceira cliustla a siia deel ragio: "Eu estava 1a diz ela; “Acreditem em mim’, acrescenta, e: “Se ndo acreditam lem mim, perguntem a outra pessoa”, profere ela, a8 vezes com uma ponta de desato, 24 E.onveoniste observa em Le Uxabulaire dos institutions ine curpooms (Vari, Ede Min Is) gue dirita romana palavta fists derivada de ert correla de assstr um contrat oral ablitas a steric exes tang 3 Fe Tein eae opt pL des bs pesos tre 4 Dulong ome A MEMORIA, A HISTORIA, 0 FSQUECIMIENTO A testemunha 6 entio a pessoa que aceita ser convocada e responder a um chamado ceventualmente contraditsrio, 5. Insere-se ent3o uma dimensao suplementar de ordem moral destinada a refor car a credibilidade e a confiabilidade do testemunho, a saber, a disponibitidade da testemunha de reiterar seu testemunho, A testemunha cont Wel 6 aquela que pode manter seu testemunho no tempo, Essa manuitengao aproxima o testemunho da pro- essa, mais precisamente da promessa anterior a todas as promessas, a de manter sua promessa, cle manter a palavra. O testemunho vem assim unir-se 2 promessa em meio aos atos de discurso que especificam a ipseidade em sua diferenga da simples mesmidade, aquela do cariter, ou melhor, da formula genética, imutavel da concep- lo a morte do individuo, alicerce biol6gico de sua identiclade™. A testemunha deve ser capaz de responder por suas afirmacies diante de quem quer que The pega contas delas. 6, Essa estrutura estivel da disposigio a testemunhar faz do testemunho um fa- tor de seguranga no conjunto das relagées constitutivas do vinculo social; por sua ssa contribuigio da confiabilidade de uma proporcio importante dos agentes sociais @ seguranga geral faz do testemunho tuma instituicae”. Pode-se falar aqui de Instituiglo natural, mesmo que a expressdo tenha a aparéncia de um oximoro. Ela itil para distinguir essa certificacio em comum de uma narrativa na conversagao Ccomum dos usos tecnicos, “artificiais”, em que consistem de um lado o arquivamento no Jmbito de instituigdes determinadas, de outro a prestaglo do testemunho regu- lamentada pelos proceciimentos processuais no recinto do tribunal. Lancei mao de uma exp -ssi0 paralela para distinguir 0 exercicio ordinario da rememoragio dos antifi jos da memorizagdo cultivada na ars memoriae: pudlomos assim opor a meméria natural a meméria artificial. O que fa7.a instituigio ¢ inicialmente a estabilidade do temunho pronto a ser reiterado, em seguida a contribuigio da confiabilidade de cada testemunho & seguranga do vinculo social na medida em que este repousa na confianga na palavra de outrem™. Gradativamente, esse vinculo fiducidrio se estende 8 todas as trocas, contratos e pactos, e constitu © assentimento a palavra de outrem, principio do vinculo social, a tal ponto que ele se torna um habitus das comunidda- dles consideradas, ¢ até uma regra de prudéncia: comegar por confiar na palavra de 25. Sabra distingdo entre ipseidadee mesmidade cf. Soiminecomnne nv ante ie pp 167-180 (a resigi de 1986), Sobre a promises, lease Hen Von Wright, "On promises im Palspa oper 11983, pp. RENE “parantie” auc tl coi ocurew, certifi, equivale a uma “promesa a epee da passa 26 Registro aqui o completo acon com Renaud Dalong quando trata do testemunho acl come den “insti pect, pp). O auto ta ‘lade ce suas ansses com cl socolngisfonomenoligica de Alfred Schutz em The Prone ny of he Soca Wo, «cam oor dovespae pubicn de Hanah Arendt pro 27 Reuse que Von Weight fe do term “institu” om “Cn promises” Ease us ext prio das rnoges de gs de Hinguagetn ede "formas de vida” em Willen, ome ‘outrem, em seguiela duvidar, se fortes razies inelinarem a isso. Ea meu vocabulaire, trata-se de uma competoncia do homem capaz: 6 crédito outorgade a palavea de ou trem faz do mundo social um mundo intersubjetivamente compartithade. Esse com: partilhamento & o componente principal do que podemos chamae "Senso comun E ele que € duramente afetado quando instituigies politicas corrompidas instauram tum clima de vigildncia mutua, de delagio, no qual as priticas mentirosas solapars as. + da confianga na linguagem. Reencontramos aqui, expandida até as dimensdes dlas estruturas de comunicagio de toda uma so dade, a problematica da memoria manipulada evocada mais acima®, O que a confianga na palavra de outeem refora, indo é somentea interdependéncia, mas.a similitucle em humanidade dos membros da comunidade. O intercimbin das confiangas especifica 6 vinculo entre seres semelhan- tes Isso dove ser dito fie para compensaro excesso de énfase no tema da difere tem muitas teorias contempordineas da constituicao do vinculo social, A reciprocidade corrige a insubstituibilidade dos atores. A troca reciproca consolida o sentimento de existirem meio a outros homens — juter hunines esse —, como gosta de dizer Hannah Arendt. Esse entremeio di margem ao disseustis tanto quanto a0 consensus. Ee mest fo isons: que a critica dos testemunhos potencialmente divergentes vai colocar no caminho do testemunho até 0 arquivo, Em conchisao, é da confiabilidade,¢, portante, dla atestagao biogrifica de cada testemunha considerada uma a uma que depende, em tiltima instancia, « nivel médio de seguranca de linguagem de uma sociedad. E contra esse fundo de confianga presumida que se destaca dle maneita trdigica a lida dlas “testemunhas hist6ricas” cuja experiencia extraordinaria mostra as limitagies da capacidade de compreensio mediana, comum. Ha testemunhas que jama tendo-las” tram a audigncia capar de escuté-las e 28. Ch.acima, primeina parte pp. 9 2A peossuponig etm mina comm & roatisamente Gl de ronal ma mi teats de thn und de percypgies comns, Fssa situsgio simpliticods © aquela post Melvin Pollner em “Feénement ct move commen’, subi dade a “Que Sesto ellen possi? in Jo. Poti ie, Evo rae ti, Paes, BHESS, co. "Raisns rates’, 1 F754, Osensocomum 6a defi pla pressuposin dues mundo conspartthadspossiel "Chamaremi dle iva da 78a ontinsin Gon io of nut son) conjunt constitu per fa que permite” (Ponet art eit p74) F com ‘fit essa pessoa tka por “incorrigivel” na fice ite por reas con enigma Iii) reutiveis mediante pence le uous cullural, writes acondnis mais itis i saponin e pean aperagdes de inf a0 mse top rents de sic Tat dleestabulocer muito mais problemsticoatirmar quae dscordancios si strc Seria tv sine seaotsssemon ingentamiete os dos paratignas demining acinss da rege er do mod acim ppeeivel tors enti sal de conc mak que oe concord, Esse koa Gonto prosat pposici seam sncea cle via compartllade conta Funde dem unico ance percep [Na eda em qu os acanteciminti atest pos ais a interessant os historians So ssomtecimentin kos com importants, significative transhordam cl ears perce ‘xfentam a os opines ses oman tla sence do observa A supenigie de ant ro compartilhas ink om muro cinicn prtcularmente tg ‘es Iga discon que se esa li nto, Et ‘st condi gus sca. questi plausbiiace dos arguments dante pelos pots [gonitis, Abrus ssi espace gicd argumentativa do histriadore do fui. Masa iiculdade euse IV. Oarquivo (momento do arquivo é 6 momento do ingresso na escrita da operacio histo- Flogesfica. O testemunho 6 originariamente oral; ele 6 escutado, ouvidlo. O arquivo & escrita;ela é lida, consultada, Nos arquivos, o historiador profissional é um leitor. do, ha 0 arquivamento™. Ora, este consti Antes do arquivo consultado, consti uma ruptura em um trajeto de continuidade, O testemunho, dissemos, proporciona uma seqiiéncia narraliva a meméria declarativa. Ora, é proprio da narrativa podler ser destacada de seu narraclor, como insiste som trégusa uma critica literdria de ver niz estruturalista, Mas © fenomendlogo nao fica atris: entre o dizer e o dito de toda cenunciagao, um sutil desnivel se cava, que permite que o enunciado, 0 dito das coisas dlitas, siga uma carreira que se pode clizer, em sentido estrito, literdria. A composiga0 da trama ce uma historia contada vem, além disso, reforgara autonomia semantica de tum texto, 8 qual a composigao em forma de obra proporciona a visibilidade da coisa escrita” de escuta ds testemuntos des sobreviventes de campos de exterminis constitu talver mas Inguictante questinaments a tranguilizadora coesto do pretense manda comim do sent Teal dinars’, nosentdoem que excesdens eapaciaede compres sho “ordinsia,comparivel ao que Poller acaba de chatnar aunane nen. A esse respeite, 38 fuflexdesdesanimadaras ce Primo Leviem Ses homme Sonora fs orgs Tarim, Ein 1947; tad franc. de Martine Schruoffenexer, Paes, Julian, 987 as anf’ Ie sca ed. ong, Tarim, Einaudi, WG; te Gallimard, 18), nos 0 que Penson se detestemunivs ext ceca, 198), mais an ems se Ande Mag, Pats, se moments dl arquivanents do estemun & marcado na hiskira da historografa pele aps recimente da figura do stor, slo tage de Herta, de Tuciese dv tos Mistriodones res, «depois latins. Evo mats acima (Note de orentagh,p. HP, 5} nausea de Fran Sols Hartog.a inhade suptara entree aedoou orapsods ee islir O mama precisy, dentro less perspectivaarelagioentreahstorea testemuna, Antes dele Benveniste havin insist ra continicade entre o juie que resol om confit ea testemants ocular: "Pana ns wie nie Sa testerunha esa varia desentide ateapalha a anise da passage. Mas €exatamente por ue 0 hist wstemunha ocular, oni que resale debate, que pens aru a hist {sentido ce aguele que resolve por meio de ue jlgamento sem apelagio sabre ma questo de boa £6" (Le Vaan: des instttionsindoeurpenes act HL ita poe F Marto Le Mair {Fiala och 1X). Sem ida, seria procna distinguiragul aus gus ctw txtemunto aguele eo rece, es testemunha ques torn jz, Nesa Tins, Hartog aprounda dss ‘oo entre itor ea testemnha ocular imtercalande entra simples visio wa “enpusigao” I ‘estigagdo uma cade de “mares de enuneiagao" eu vi esc ute digo, esc GH, 298). Esse jim da enunciago ocorre assim entre hie wav (i, p 279), ent dizer eencrever ti Pp. 27-316, tudo isso na asco de sangio por um metre verdad (Pip. NID. Aescetara constitu esse sent a area decsiva: sre ea se emsertam tks a statis Noes de ‘onde prowem ‘a capoedade da narrativa de fazer cee” (iid, p. 302). Retornaremos 3659 86 Pot ‘seasito do discussie co conovito de representa historias (cane, pp 42-30). SIP Rieeeue, Du tate actions ssais herman 2, aris Eda Sei co, "Esprit" WS, e768 A esses tragos de escrituralidade que possui em comum com a narrativa, o teste :munho acrescenta tracos especificos ligados a estrutura de traca entre aquele queo di eaguele que o recebe: em virtude do carter reiterivel que Ihe confere o estatuto da instituicio, o testemunto pode ser tomado por escrito, prestado. O depoimento & por sua vez a condigao de possibilidade de instituigies especificas dedicadas a coleta, 4 conservacio, a classiticagéo de uma massa documental tendo em vista a consulta por pessoas habilitadas. O arquivo apresenta-se assim como um lugar fisico que abriga 0 destino dessa especie de rastro que cuidadosomente distinguimos do rastro corebral elo rastro aetivo, a saber rastro documental. Mas o arquivo ndo € apenas um lugar fisico, espacial, & também um lugar social. Esob este segundo Angulo que Michel de CCerteau trata dele no primeiro dos tes pains sobre o que, antes de mim, ele deno- rminou operagie historiognifica®, Relacionar um produto a um lugar constitu, diz cle, primeira tarefa de uma epistemologia do conhecimento historico: "Considerar 2 historia como uma operagio, serétentar, dle dn moulo necessariamente Kimitado, compreendé-la como a relagio entre um lugar (uma conscrigdo, um meio, uma profis: so), procedimentos de anaise (uma disciplina) e a construgdo de um texto fuma lite raturay” (UEcritue de histoire, p. 68). Essa idéia de lugar social de produgio comporta Lum objetivo critica dirigo contra e positivismo, critica que Certeau compartilha com R. Aron na época em ue este escrev es lites de Tojectivté historique (1938), Mas, diferentemente deste siltimo, que subli- Intreucton ala philosophie de Phistoire: essai sur tha “a dissolugao do sujeito”, Certeau enfatiza menos a subjetividade dos autores, as Ulocises pessoais do que o ndo-dito do estatuto social da historia enejuanto institu ‘cio do saber. Desse modo, ele se distingue também de Max Weber que, em Le Savi tle Politique, “isentava", atirma ole, o poder dos eruditos das restrighes da Sociedade politica, De encontro a esse recaleamento da relagio com a sociedade que engendra © ndo-dito do “lugar” de onde © historiador fala, Certeats denuncia, & mancira de J. Habermas, na época em que este defendia uma “repolitizagio” das ciéneias huma- has, @ apropriagae da linguagem por um sujeito plural que supostamente “exprime” discurso da historia: “Nisto se confirmam a prioridade do discurso historico sobre cada obra historiogniica particular, ea relagdo desse discurso com uma insttuigao social” (“Productions du lieu’ in L’Eceiture Nao basta, contudo, recolocar os historiadores na sociedade para dar conta do histone, pp. 71 processo que constitu um objeto distinto para a epistemotogia, a saber, nos termes cdo proprio Certeau, 0 processo que conduz “da reuniao dos documentos a redagae do (0 ent qu reo eas I nals em terms de prsfeies se om sets piri vse pertingncia” (*Lopsration histriogeaphigue"s in histo 3am parte esse ent havin se publican em} Le Gai e Mh cil ppl, soba ith * Lagat histor ole istriador: Comprosiner, pa ce & ste ew Utontae Nora lie Bi ene A MEMOS, A HISTORIA, © FSQUECIMEND Livro” (op. cit, p. 75}. A arquitetura em mailtiplos niveis dessas unidades sociais que constituem os arquives reclama uma anslise do ato de insergse em arquivo, de arqui- ‘vamento, suscetivel de ser localizado numa cadeia de operagdes veritativas, tendo por termo provis6rio o estabelecimento da prova documental™. Antes da explicacao, n0 sentido preciso do estabelecimento das respostas em “porque” as perguntas em “por qui?” hao estabelecimento das fontes, © qual, como diz Certeat: com propriedade, consiste em “redistribuir o espago” que os colecionadores de “raridades”, para falar ‘como Foucault, jé haviam quadriculado, Certeau chama de “lugar” “o que permite © fo que prof as operagdes propriamente cognitivas.. Exse gesto de separar, de reunir, de coletar 6 0 objeto de uma disciplina distinta, (op-cit, p-78) essa ou aquela espécie de discurso em que se enquadram a arquivistica, A qual a epistemologia da operagao historica deve a descricao dos tra- dizer do testemu- inho oral. Naturalmente, se os escritos constituem a porgio principal dos depésitos de {cos por meio dos quais 6 arquivo promove a ruptura com o uy arquivos, ¢ se entre os escritos os festemunhos das pessoas do passado constituem © primeiro miicleo, todos os tipos de rastros possuem a vocagao de ser arquivados. Nesse sentido, a nogio de arquivo restitui ao gesto de escrever toda a amplitude que Ihe confere o mito do Fedo, Pela mesma razio, toda defesa do arquive permanecers ‘em suspenso, na medida em que nio sabemos, e talvez nao saibamos jamais, se a passagem do testemunho oral ao testemunho escrito, a6 documento de arquivo, é ia viva, remédio ou ve quanto a sua utilidade ou seus inconvenientes para a memér sneno — pharmakor. Proponho recolocar no quadto dessa dialética entre meméria e historia as notagdes que cu dedicava 9 nogao de arquive em Tempo ¢ narration. Aqui a Gnfase sera dada a0 tracos por meio dos quais o arquive promove a ruptura com o ouvir-dizer do tes- temunho oral. As que visa a preservar os rastros de sua propria atividade; essa iniciativa inauguira 0 ato de faver histéria, Vem em seguida a organizagao mais ou menos sistematica do fund ime o primeiro plano a iniciativa de uma pessoa fisica ou juridica assim posto de lado. Ela consiste em medlidas fisicas de preservagao e em operagies ligicas de classificagao dependentes quando necessario de uma técnica elevada a0 ni vol arquivistico. Ambos os procedimentos so postos.a servigo do terceita momento, 0 dda consulta do fundo dentro dos limites das regras que Ihe autorizam 0 acesso™ 8 Certou trata do etobslecimento cos “documentos” no quadeo da segunda operagio historio grin que eke coloca sb titulo "Une pratique” eo substul"Ltabtssument des sources Fealistabution de espa” (Cert, rit de laste, op, pp. S89). “Em historia, tude omega com yest le separa, de unit de ansonniae esi em dacumentos’certos bjt “istriblre outra forma, Fssa nasa strbiie cults ¢9 peter trabalho” (il, p84), 34 P Ricour, Temps Ri, CM op it 35 Franguise Hllesheimer bs Anis de Fanos, Aina dete, aris, Honoré Champion, 1997 Jean Faviere Daniele Neiinck, “Les archives in Francs Bedaria, Lisi ef fe Mitr {Fhstrion on Fone, BHA, Pris Et de ls Maison ees sciences ee homme, 1995, pp. S941 su especialmente amp, dada pela bi faneesa de 197 ‘Os anquiton si eonjgnte os hsamintin, dependentemente de sa dat de sa foe © aan dtinighe de aqui ose Se con iderarmos, com todas as ressalvas que faremos mais adiante, que 0 es sencial de um fundo de arquivos consiste em textos, e se desejarmos realmente nos. atermos aqueles, dentre esses textos, que sdo testemunhos deixados pelos conten porineas que tiveram acesso ao Fundo, a mudanga de estatuto do testemunho falaco ‘a0 de arquivo constitui a primeira mutagio historiadora da memoria viva submetida ‘4 nosso exame. Pode-se entio dizer desses testemunhos escrites 0 que diz 0 Fadia dos “discursos esctitos”: “Outra coisa: quando de uma vez por todas foi eserito, cada discurso wai rolar de um lado para outro e passar indiferentemente por aqueles que 6 compreendem, como por aqueles que ndo se interessam por ele; ademas, ele ndo sabe quem sao aqueles a quem deve ou nao se dirigir. Se, por outro lado, se eleva- rem a seu respeito vozes discordantes e se ele for injustament jurado, ele precisa sempre do socorto de seu pai, pois ¢ incapaz de defender-se ou de salvar-se sozinho” (275d.e), Em certo sentido, ¢ exatamente assim: como toda escrita, um documento de arquivo estd aberto a qaem quer que saiba ler; ele nde tem, portante, um destinatario idesignado, diferentemente do testemunho oral, dirigido a um interlocutor preciso; além disso, o documento que dorme nos arguivos € naw somente mud, mas 6rfde% fos testemunhos que encerra desligaram-se dos autores que os “puseram no mundo”: cestio submetidos aos cuidados de quem tem competéncia para interragé-los © assim defendé-los, prestar-ihes socorre eassisténcia. Na cultura histéirica que &a nossa, 0 ar quivo adquiriu autoridade sobre quem o consulta; pode-se falar, como diremos mais adiiante, em revolugéo documental. Em uma fase hoje considlerada ultrapassada dos ‘estuddos histiricos, 0 trabalho nos arquives tinha a reputagio de embasar a objet dade do conhecimento historiador, assim abrigado da subjetividade do historiador. Para uma concepeio menos passiva da consulla dos arquives, a mudanea de signe, que faz do texto Grfao um texto dotado de autoridad, esta ligada a0 acoplamente do testemunho com uma heuristica da prova. Esse acoplamento & comum ao testemunho porante 6 tribunal ¢ ao testemunho recolhidio pelo historiador profisional. Pede-s fn testemunho que dé prova, E entio © testemunho que presta sacorro assist cia ao orador ox a0 historiador que 0 invoca, No que concerne mais especificamente 4 historia, a elevagao do testemunho a condigso de prova documental marcaré esse tempo forte da inversio na relagio de assisténcia que 0 eserito everce em relagae a tessa “memaria de apoio”, essa hupoméme, memoria artic por exceléncia, a qual fo mito consentia apenas um segunda lugar, Independentemente das peripécias da histiria documental — positivismo ou nie — o frenesi dacumental apoderou-se a poco. Evocaremos, em uma fase mais axangada do presente discurso (ferceita parte, capitulo 2), pavor de Yerushalmi confrontadlo com a mare arquivall ¢ a exclamagio ide Pierre Nora: “Argutivem, arquivem, sempre sobrars algo!” Assim reerguid de sta indignidade © votado a insolineia, tornou-se © pharnaon do documento arquivado mais veneno que remédio? de ses suport material prghzitos Servign oro pubic ou psa revebidos por tok pessoa fie ou jridiea ¢ or tke caotein sua ai lade (AF it, PA e198 A AIEMORIA, A UISIORIA, © FSQUECIMIENTO igamos 0 historiador até os arquivos. Nos © faremos na companhia de Marc Bloch, que provavelmente foi o historiador que com mais propriedade delimitou o ugar do testemunho na construgao do fato histérico’, O recurso da historia ao teste- munho nao ¢ fortuito, Esta fundado na propria definigao do objeto da histiria: nfo & © passaclo, ndo &o tempo, sdo “os homens no tempo”. Por que nio o tempo? A prin- Cipio porque ele € © meio, “o plasma onde esti imersos os fendmenos e como que © lugar de sua inteligibilidade” (Bloch, Apolagie pour Fhistoie ou Miter histori, p52), (Dito de outra forma, como foi explicado mais acima, o tempo enquanto tal constitu luma das condlighes formais da efetividade histérica); em seguida, porque ele retorna como variavel em meio aos ubjetos por conta de seus ritmos, como devia verificé-lo.a problematica braudeliana dos tempos sociais; além disso, a natureza fisica também se desenvolve no tempo, e nesse sentido amplo tem uma historia; enfim, porque a deve a tematizagdo direta e faseinagao pelas origens — esse "idolo das origens” — ‘exclusiva do tempo; € por isso que a referéncia aos homens deve figurar na definigao, Mas trata-se dos “homens no tempo", o que implica uma relagdo funclamental entre o presente e 0 passado, F gragas a essa dialética — “compreender o presente pelo pas: sado” ¢, correlativamente, “compreender o passado pelo presente” — que a categoria do testemunho entra em cena na condigao de rastre do pasado no presente. O rastro € assim, o conceito superior sob cuja égide Mare Bloch coloca o testemunho. Ele cons- titui o operador, por exceléncia, de um conhecimento “indireto” Mare Bloch divide em dois painéis seu exame das relagies da histéria eum o tes- temunho, O primeiro tem o titulo de “observacio histirica” (capitulo 2). O segundo, o de “critica” (capitulo 3), Se se pode falar de observagao em historia, é porque o rastro & para o conheci mento historieo o que a observacao direta ou instrumental 6 para as ciéncias natutais. O testemunho figura ai na condigao de primeira subcategoria; ele traz.de imediato a ‘marca que distingue seu emprego na histoia de seu emprego nas trocasordinstios nas quais predomina a oralidade. F um rasta escrito, aquele que o histriador en contra nos documentos de arquivos, Enguanto nas trocas ondinariaso testemuntho sua recepgto sio globalmente contemporaine, na histria 0 testemunto se inscreve na relacio entre o passado e presente, no movimento da compreensio de um pelo coutro. Aescrta 6 entio, a mediagio de uma cicia essencialmente retrspectiva, de tum pensamenta “as avessas” Mas existom rastros que nde so “testemunhos escritos” e que dependom igual mente da observa histica, a saber, os “westigios co passado” (apc, p. 70) que fazem a felicidad da arquedlogin:cacos,ferramentas, moedas, imagens pintadas ou esculpidas, mobilisro,objetos funerarios, restos de moradias, ete. Pode-se, por eaten: Mare lah, ya ps iso Mier histone, precio de Jacques Ls lf Pary, Masson, Armand Colin, 1995-1997 (ed, Paris, Armand Cola, 174, protic de Gewpes Duby). A edagie «ta obra compost na solidao, lange ds ioc fl inerrompida pe Fiador, conduzid as destin la pris dg 2 ito sap, chamé-os “testemunhos nao-escritos” correnda o risew de uma confusso com os lestemunhos orais a cija Sorte rotornaremos mais acliante™. Veremos, além disso, 0 testemunhos repartirem-se entre testemunhos voluntérios, destinades a posteridade, ‘© aqueles das testemunhas a contragosto, alvos da indiscrigio e do apetite do histo- riador®, Essa cadleia de definigobes — cléncia dos homens no tempo, conhecimento por rastros, testemunhos eseritos € nao-escritos, testemunhos voluntarios ¢ involun- tirios — assegura o estatuto da histiria como oficio e do historiador como artesio. Finalmente, “€ nas testemunhas a contragosto que investigacto, no curso de seus progressos, foi levada a depositar cada vez mais sua confianga’ (op. cit, p.75). Com feito, parte as confissdes, as autobiografias e outros disrias, os documentos oficais, cos papeis secretos de chancelaria e alguns relatos confidenciais de chefes militares, ‘os documentos de arquivos provém em sua maioria de testemunhas a contraxosto. A disparidade dos materiais que povoam os arquivos é de fato imensa, Seu dominio eclama téenicas eruditas, ot mesmo a pritica de disciplinas auxiliares precisas ea consulta de guias diversos para reunir os documentos necessirios 8 investigagao, O historiador profissional é aquele que tem sempre em mente a pergunta: “Como posto saber © que vou dizer-Ihes?” (op. cil, p. 82)", Essa disposicio de espirito define a his: ‘ria como westigagio" segundo a etimologia grega da palav'a. No seio da abservasito, essa relagao com os “testemunhos do tempo (op. cit p.69} — esses “dizeres de outrem” conservados nos arquives — basta para tragar dduas linhas de contraste: uma passa entre a hist6ria e a sociologia, a outra atraves- saa historia dividindo-a entee duas atitudes metodoligicas opostas. A sociologia, aquela de Durkheim, enquanto indiferente ao tempo, nos inclina a ver na mudan- a um residue que ela confia por condescendéncia aos historiadores. A defesa da historia sera, n ise aspecto, necessariamente uma defesa do acontecimento, essa contraparte privilegiada do testemunho, como diremos mais adiante (é na linha de pensamento tragada por Mare Bloch que se insereverd o discurso de Pierre Nora em favor do “retorno do acontecimento”). A Tata entre histiria © sociologia sera dura e por vezes impiedosa, mesmo que Marc Bloch admita ter aprendido com os sorislo ‘gos “a pensar [...] de modo menos banal” A segunda linha diviséria & aquela que ‘ope um métodlo hucidamente reconstrutivo, em razio de seu relacionamento ative Proppnet mis adiantereforgar isting gntee as duns especies se testemian sors compararadt a segunda dandy de lic ee confecianentsxicr Contain 38. "Obom histories, por serena san igo (Blo, poe ‘a por sabe que ver prece igo faa, Onde fae ene humana, ear to Sera precio evar frac aveatinrofe hskirian om puenum eprandes desttre da humanidade? Retornareras so cher enone, 303 neon documenta fe erceiea parte, pp SANT kn ise fala isi os dcumetosslearguives, ascites a ee particular rir easier so apaamente dos Fst eitie A MEMOREA, A HISTORIA, @ FSEUFCIMMEN TO. ‘com os rastros, a um métedo que Mare Bloch tacha de “positivismo”, o de seus mes- tres Seignobos e Langlois, cuja preguiga mental ele ridiculariza™ © segundo paine! sobre o qual prossegue o exame das relagies da historia com (5 testemunhos escrites e nao-escritos ‘0 da “critica”. Esse termo especifica a historia como ciéncia, E claro que a contestagio & © confronto existem entre os homens fora ddos procedimentos juridicos e dos da critica histérica, Mas s6.a submissao a prova dos testemunhos esc os, junto com a dos outros rastros que So 0s vestigios, tem dado lugar a uma critica em um sentido digno desse nome. De fato, foi na esfera historiea que a propria palavra critica apareceu com o sentido de corraboracie dos dizeres de outrem, antes de assumir a fungio transcendental que the atribuira Kant no plano da exploragao dos limites da faculdade de conhecer. A critica hist6rica abriu para si um caminho dificil entre a credulidade espontinea e 0 ceticismo de principio dos Pirrdnicos. E além do simples bom senso, Podemos lazer remontar a Lorenzo Valla, A doug de Constantino, o nascimento da critica histérica"., Sua idadle de ouro é ilustrada 40) Tori Charles Seignntos realmente dito: “E mito dil propor quests a mesmo, mas mito pe Figoso respondé-Las"? Mare Bloch, que dvi dessspalavra embora ascites asec ‘Nao se trata aut ceramente da fla de ur fanfare. Pont, se uns sks a ives intrepid em que péestaria a Fiske?” Bloch, Api our ste op. cit. p48) At Lorenzo Valla, tr Donation de Constantin (Sorta “Danton de Constantin’ fase atrbuccet monsonge cir WH, tad. frane. de Jean-Baptiste Giae, Pais, Les Balls Lettres 19%, prefica sde Carl Ginzburg, Esse texto furdadr da critica histrcacoloca um prablema de leiturae de inteepectagao 10a mest em que faz “coenste na nwsma ra retin e loloi, disloge Ftc fe discusssi minuciona das provas documents” (Ginzburg, op i, pV) precisa tmnt 9 Retoieade Aristttespara encontrar um dele revico pata qual as preos a ekmci) (33) Afependem da racionatiade pripra da eetieica, em torn dis mages de "persuasivo” ee “pro vel” loca que Aristtelestinha em vista 2 forma jis da retorica, ences “aes humans” (pitta (1357s), das agdes pastas (13585), contain do tere delibe. "ativa, a mais bre, encarregada das ages ututas, ea retrca epldeiiea que toe wlouvur ea constra das agies presents. Esse modelo fl tasnitido as erudits do Renaseionne selon por Quinttians, bom conkecide de Vala, na histitatio ontorin, cujo LivtoV canter a anmp lesenvolvimento a rexpeit das prevas, entre as alse enconttam os locus ir ta on os testament & pps iis. “O Daveta de Constantin, eoserva Cineburg, posi io ‘bem entrar ness altima categoria” (Ginzburg, oye, p.XVD, Repuscionaa contta esse pa ste Fund mistura dos gneras.naeserita de Valla «menos suepreendente Ea feta om duns partes. Na prima, Vala sstenta que dang debs parte das possesses imperiaie Comes tantino teria feito ao papa Svestre nao éabsolutamente plausivel: essa parle tetiieawaganroe ‘em torno do dialog fctico entee Constantin « papa Stsest. Na segunda, alla argument, om base em multas provas kigias,etilisties e Hie “antiquari, para demenetrar aoe documento sobre w qual se Fordamenta a doo fo prctenso Dero Covet) tae artigo da contissa de que “a distancia entre Valls poems e etiew ey all nico do eritienhistirica meron parece impossivel de cobrie" (Ginza, op cil p XD, Ginsburg poe ‘niza contra cotemporsineus seus qu, na estes se Nietrsche,recunem eect come enna maquina de guerra etieacotra protons panitvisn teraz ds historians Pa precrhor fesse abso ereencontrar um uso apropriado a historigratia do nocao de prina, Giachury pre cmon guele momento preciowo em gue su profngamente ce Aste te Qual © pra no estao dissoeiaday. A retire tm de set Lak a racomalidae ue he Pripria: quanto a prova em histivia, can cement mpartant antiga de Ginahsry sabre 0 aradigoa indicirio” que discuto mals diane ela naw obedece principalmente ao miele ga Hear do qual pracetea versio positiva au metodologicn da prwaicumental or fsa dials e186 Instomia / sPIstE Moro por trés grandes nomes:o jesuita Papebroeck, da congregag3o dos bollandistas, fur dadlor da hagiografia cientifica, dom Mabiflon, o beneditino de’ da diplomat critica, A esses t1@s nome aint Maur, fundador -a, Richard Simon, ooratoriano que marca os comegos da exegese biblica 15 € preciso acrescentar o de Spinoza e seu Tratado tevldxic pliticw & 0 de Bayle, o davidador de nuiltiplos alvos, Sera preciso, além d Descartes? Nao, se sublinharmos @ aspecto matematico do Méto, sim, se compa- rarmos a divida dos historiadores 3 dlivida metodologica cartesiana®”. A “luta com 6 documento”, como diz Mare Bloch com propriedade, esta fundada. Sua estra principal consiste em examinar as fontes a lim de distinguir o verdadeira do falso,e, para tanto, em “fazer falar’ testemunhas das quiais se sabe que podem enganar-se ou rmentir, nao para confundistas, mas “para compreendé-las" (ey city p. 9). A.essa critica devemos uma cartografia ou uma tipologia dos “maus testemunbos” {ibid}, cujos resultados poderiamos comparar com os do Tratado das proves jicinis de J. Bentham, que Marc Bloch pode ter conhecido, mas em relagao ae qual a critica his- toriadora, sob todos os aspectos, estd bem na dianteira © percurso de Mare Bloch & exemplar. Pa indo do fato da impostura, como logro planejado sobre « fundo, ele passa 3s ra7des para mentir, mistificar ¢ fraudar que podem ser as de individuos engenhosos, fraudadiores interessades, ou as que S80 co" uns numa época propicia as fabulagdes. Ele considera em seguida as formas mais insidiosas do logro: remanejamentos sorrateisos, interpolagdes habeis. E dado espaco 08 er708 involuntirios e as imprecisdes propriamente patoligicas que depencem da psicologia do testemunho (uma abservagio interessante: as contingéncias dos aconte- imentos sto mais propicias ao erro do que os mavels intimos dos destinos humans) Mare Bloch nao hesita em tirar partido de sua experiéneia de combatente nas duas grandes guerras do século XX para comparar sua experiéncia de historiador, princi- palmente medievalista, a do cidadao engajado, atento ao papel da propaganda e da censura & a0s efeitos perniciosos dos rumores Mare Bloch enxerta sett “Essai d'une logique de la méthode critique” (op. cit, ‘pp 107-123} nessa tipologia; esse ensaio desbrava um vasto terreno, trabalhado por ‘muitos depois dele, No centro: o trabalho de comparagio e seu jogo de semethangas & dliferencas; a controversia ordinaria 6 aqui evemplarmente exposta em Forma técnica, hos hstriasores pata com Lorenzo alls € grand: dele procede a eradigsbeneitina dao srogieia de Sintra invencie por} Maillon da diplomatic ef. Blaine BarrtKeiexe F pnts aig trsqts Pats PLE, BRR), Esa buses da Veracidade dacumental & eencontracla fhe me nctadoigvas de eit interia wes ena as fe scl NX cm aescua metr Cinigica de Mon Langs Seigobs av se, Fustel te Cougs 42 Hiamos cruzi com Descartes uma priacita er por wea Iovate ap Giese Bran acim ramet porte eap. 2. pp SSD 49 faligio original om francs ae Ebene Dursont, Pars Besant img, Eanes, alvin, RDS A wapuite denne etal ae J Benita, sons Re Duong (Le Fei eid, ot p> [beIs2)« Catherine Auda At ig Futarse, A,Bea 3 HISTLI8 3 testresccmho eaprsertados po Catherine Aaa, Parl PUR 198 dd sectinks «8a arte dao o 13 6 A MEMORIA, A HISTORIA, HSQUICIMMENTO ‘Além da interdigdo elementar da contradicao formal — um acontecimento ndo pode ‘a9 mesmo tempo ser e ndo Ser —, a argumentacio vai da arte de desmascarar as im- Pericias dos plagisrios, de discernir as inverossimilhangas notrias, até a ligica das probabilidades". Nesse aspecto, Mare Bloch nao comete 0 erro de confundir a pro= babitidade da produgio de um acontecimento — qual seria na historia o equivalente dda jgualdade inicial das possibilidades no jogo de dados? “Na critica do testemunho, quase todos os dados sio viciados” (op. cit, p. 116) — com a probabilidade do juizo de autenticidade produzido pelo leitor de arquivos. Entre o pré eo contra, a diivida Se faz instrumento de conhecimento na avaliagao dos graus de verossimithanga da combinagao escolhida, Taly ‘se devesse falar tanto de plausibilidade quanto de pro- babilidade. Plausivel é 0 argumento digno de ser defendido em uma contestacdo. Acabamos de sugeri-to: testa muito a fazer quanto aos procedimentos de validagao dda prova e ao critério de coeréncia externa e interna, e muitos trabalham nesse campo. Pareceu-me oportuuno comparar a contribuigdo de Mare Bloch para essa Kigica do mé- todo critico a de Carlo Ginzburg concernente ao “paradigma indiciério”, Com efeito, a anslise de Mare Bloch deixa desmarcacla a nogao de vestigio, evocada a propésito dda arqueologia ¢ reduzida rapidamente 3 nogio de testemunho ndo-escrito. Ora, os vestigios desempenham um papel nao desprezivel na corroboracio dos testemunhos, como 0 confirmam as pericias policiais © a interpretacdo dos testemunhos orais ow escritos, Carlo Ginzburg fala aqui de indicio e de paradigma indicidrio, corajosamente contraposto a0 paradigma galileano da cigncia, Duas perguntas se colocam: quais 820 0s usos do indicio cuja convergéncia auto- Fiza os reagrupamentos sob um Gnico paradigma?® Por outro lado, o que dizer iv fine dda relagio do indiecio como testemunho? A resposta a primeira pergunta é construida pelo texto, No ponte de partida: a {evocagdo cle um hail apreciador da arte —o famoso Morelli que Freud invoca em seu cestudo O Mbisés de Michelangelo — que recorreu ao exame de detalhes aparentemente negligenciaveis (0 contorno dos ldbulos das orelhas) para desmascarar as cépias falsas de pinturas originais. Ora, esse método indiciario fe.a Felicidade do detetive Sherlock Holmes e, aps ele, de todos os autores de romanees policiais, Freud reconhece ai uma das fontes da psicanslise, “habilitada a adivinhar as coisas secretas & esconcdidas a Partir de tragos subestimados ou que ndo sio levados em conta, a partie do rebatalho da observay 10” (Le Moise de Michel-Ane). Os lapsos nao constituem indicios nesse sentido, quando os controles se afrouxam e deixam escapar signos incongruentes? Pouco a pouico, toda a semidtica médica, com seu conceito de sintoma, se deixa rea- rupar sob essa categoria de indicio. Em segunda plano se deixa evocar 0 saber dos 4 “Aqui aimvestigagaohistirca, como tanto outras iseplinas do esprit cruz em seu caninho estoda regia dates cas probabilidades” (Bloch, Api pour Phistoin app. 13), 45 Cols Tres Ma egies wr, “Traces. Racines dun paradigm ica in Mies, uh re it pp ASB 46 A.comporagaoexige do autor uma ergo € uma sileza sem igus ps ‘quarestapsiginas, um aparata cic de centoetrinta ents van artigo amas © By 0 cagadores de outrora, deciftadores de pistas mudas. Em seguida vém as escritas, € a prpria eserita da qual diz. Ginzburg que “ela tambi n como a adivinhagae designava ois por meio de coisas” (Mytrs, Emons Tes p. 150), Eentao toda a semistica aque se revela indicia, O que permite a esse feine de disciplinas constituir-se em paradigima? Virias caracter cass a singularidade da coisa decifrada — 0 cariter ine diroto da decifragho — seu carter conjetural (termo proveniente da adivinhasioy® cis que surgea histria: "Tudo sso expla por que histria nana conse fornat= se uma cignciagalileana.([.,] Como oto mealico, canhecimente histirico¢indireto, indicidio econjetural” (cits p. I). Nssoa escrito textuaidade, que cesmatera liza. a oratidade, mio muda coisa alguma pois € ainda e sempre de caso individu ue trata o historiador. Ea essa relagio com a singularicade que Ginzburg vineula © caratr probablistico da conhecimento histrico (Ocampo aberto pelo paradigm indicia ¢ imenso: "Se a realidade & opaca, exis- tem zonas privilegiadas — rastros, indicios — que permitem decifréta. Essa idél que constitu o miicleo do paradigma indiciario ou semidtico, progrediu nos domi- inios mais varlados do conhecimento e moldou profundamente as ciéneias humanas” p.cit, pp. 177178) Coloca-se agora a segunda pergunta: a do lugar do paradigma indiciario de Carlo Ginzburg com relagio 3 critica do testemunho de Mare Bloch ¢ de seus sucessores, Nao pense que soja 0 caso de escolher entre as dias analises. Ao englobar © conhe- cimente histérico sob o paradigma indicistio, C. Ginzburg enfraquece seu conceit de indicio, que se bene! tratamento por M. Bloch dos ves ia a0 ser oposto ao de testemunho escrito. Inversamente, 0 igios como testemunhos nao-escritos prejuudica a es pecificidade do testemunho como intermediario da meméiria em sua fase declarativa dado. fe sua expressio narrativa, O indicio ¢ referenciado e decifrado: o testemunho ecriticado, Certamente, ¢ a mesma sagacidade que pr des, Mas seus pontos de aplicagio sho distintos, A semiologia indicia ‘de as duas séries de opera papel de complemento, de controle, de corroboragso em relagio ao testemunho oral ‘ou escrito, na medica mesma em que os signos que ela decifra ndo sao de ordem ver bal: impressdes digitais, arquives fotugesticns , hoje em dlia, exames de DNA — essa assinatura bioligica do ser vivo — "testemunham” por seu mutismo. Os discursos. dliferom entre si de maneira diferente que os lobulos das orethas. ‘O beneficio da contribu 30 de C. Ginzburg éentio o de estabelecer uma dialética lo indicio e do testemunho no interior da nog de rastro w de, assim, dar ao conceite cde documento toda sua envergacira. Ao mesmo tempo, a relagto de complemen ridade entre testemuinho e indieio vem inscrever-se no circulo da coeréneia Interna~ externa que estrutura a prova documental De um laclo, com efeito, a nogie de rastro pode ser tida como a raiz comum ao testemunho @ ao indicio, A esse respeite, sua origem cinegética & significativa: um #7 Ewa sparen a inten ince, pia es 3 etd Tiga en ML Dati Jl Vera, fs Rasen ile ‘97; 29 6, "Champ IS a e185 6 animal passou por ali ¢deixou seu rastro.€ um inicio, Mas, por extensao,o indicio pode ser considerado uma escrita na medida om que a analogia da impressio adere Driginariamente & evocagio da marca da letra, para nao falaeda analogia, também ela primitiva, entre eikon, grafia e pintura, evocada no inicio de nossa fenomenologia da memoria. Além disso, a prépria escrita & uma determinada grafia e, nesse aspecto, uma espécie de indicio; por outro lado, a grafologia trata da escrita, seu dichis, seu trato, segundo 0 modo indicidrio, Inversamente, nesse jogo de analogias, o indicio ‘merece ser chamado testemunho ndo-escrito, 4 maneira de Mare Bloch, Mas essas trocas entre indicios e testemunhos nao devem impedir que se preserve sua diferenca de uso. Tudo considerado, 6 benefictério da operagao seria 0 conceito de documento, soma dos indicios e dos testemunhos, cuja amplitute final aleanga a amplitude inicial alo rastro™ Resta o caso limite de certo testemunhos fundamentalmente orais, ainda que es- critos na dor, cujo arquivamento ¢ questionado, a ponto de suscitar uma verdadeira crise do testemunho. Trata-se essencialmente dos testemunhos das que se salvaram inio da Shoah, chamada de Holocausto no meio anglo-saxs= dos campos de exter nico. Haviam sido preceulides pelos clos sobreviventes da Primeira Guerra mundial, mas somente eles levantaram os problemas de que falaremos. Renaud Dulong co locou-os no ponte critico de sua obra Le Témain oculaire: “Témoigner de Vintériewr dune vie témoignante’, tal é 0 titulo sob © qual ele coloca uma obra como a de Primo Levi, Les Naufragés ef les Reseapys. Por que esse tipo de testenvunho parece constituir ‘uma excegao dentro do processo historiografico? Porque ele coloca um problema de acolhimento ao qual o arquivamento nao responde e parece até inapropriado, provi soriamente incongruente. Trata-se de experiéncias extremas, propriamente extraordi nndrias — que abrem para si um dificil caminho a0 encontro de capacidades limitadas, bordinarias de recepgao, de ouvintes educados para uma compreensio compartilhada, Essa compreensao foi erigida sobre as bases de um senso da semelhanga humana no plano das situagies, das sentimentos, dos pensamentos, das agdes. Ora, a experion- ia a ser transmitida & a de uma inumaniclade sem comparagao com a experi cdo homem ordinatio. & nesse sentido que se trata de experiéncias extremas. Assim & antecipado um problema que sé encontrara sua plena expresso no fim do percurso 48 C.acima primeira part cap 49. Amogdo ce document, sb a qual se conjugam as nee adic de tesfemun he, gana ene reciio 90 ser posta por sta Ve? de par ena a magia de Monument | Le Cal em um a ‘Documente/menumenta” da Enilio Linnell, Tarim, Einous, vo. pp. A418, fac ido na cole de ensais Memoria e Iistvi,reeaca a aventra cruzada ss ds ries documento repatado menos prencupade em ear 9 pia dk hes, eign 4a melhor sobre 6 menumente, de finale ltt txhvia, pon ‘documento nose revelaeia mend tendenoiosn gue o monianento, Daa dee do comecita mst sdedocumente-manament. CE. Tenpse? Novi I hyp 208 Imente leva rien kee, 0 Primo Levi, Les Naw es Reset Esse ere escrito unt anand desapargcione teat leaosobve a ba presente Sis wr. Lease ap ‘capitul de Les Nang Fes Rescind “Commenique™ 2 186 6 das operagoes historiogrifcas, o da representacao historiadora e de seus limites, Os limites da inscrigio © do arquivamento ji Sio postos a proca, antes des da explica- «ca0 ¢ da comproensio. E por isso que se pode falar de crise do testemunho. Para ser recebido, um testemunho deve ser apropriade, quer dizer, despojado tanto quanto possivel da estranheza absoluta que o horror engenclra, Essa condigao dristica nao 6 satisfeita no caso dos festemunhos dos que se salvaram”™. Uma razao suplemen- tar da dificuldade de comunicar deve-se a0 fato de gue a testemunha nao esteve ela mesma distante dos acontecimentos; ela nao “assistiu” a eles; ela mal foi um agente, lum ator ela foi sua vitima. Como “contar sua prépria morte”? pergunta Primo Levi A\ barreira da vergonha acrescenta-se a todas as demais barreiras, Dai resulta que a propria compreensao esperacla deve ser por sua ver julgamento,julgamento imedia- to, julgamento sem mediag3o, reprovacao absoluta. O que, finalmente, faz a crise do festemunho é que sta irrupgie destoa da conquista inaugurada por Lorenzo Valla em A dong se Constantino: tratava-se entdo de lular contra a credulidade e a impostura; trata-se agora de lutar contea a incredulidade e a vontade de esquecer. Inversdo da problematica? E contuddo, mesmo Primo Levi esereve. Ele escreve apos Robert Antelme, ¢ autor dle LEspeev fumaiee™, srs Jean Améry, 0 autor de Par-deld fe cvine et fe chitinent Escreveu-se até sobre seus escritos, E nds escrevemos aqui sobre a enunciagae da im possibilidade de comunicar & sobre o imperativo impossivel de testemunhar de que, contudo, eles dao testemunho. Alm disso, esses testemunhos diretos encontram-se progressivamente enquadrados, mas no absorvidos, pelos trabalhos de historiado- res do tempo presente e pela publicidade dos grandes processos criminals cujas sen= tengas caminham lentamente na memdria coletiva e cujo prego sde rudes disses". £ por isso que, a0 falar dessas “narrativas diretas’, nao falarei como R. Dulong, de “alergia a historiografia” (Le Tenia oculaie, p. 219), A “aleryia 3 explicagio em eral de curto-circuito entre © me- (op-ed, p- 220), que & certa, provoca antes uma espée mento do testemunho, no limiar da operagao historic, eo momento da representagao tem sua expressio por escrito, por cima das etapas do arquivamento, da explicacdo & ate: mesmo da compreensio, Mas & no mesmo espace piiblico da historiogratia que se desenrol a crise do testemunho apis Auschwitz. 51 Eo tulad obra organiza pr Saul Frielbander, Pain He Lito Representation. X and the “Fin Selntion Cambridge, Mass Londaes, Harvard University Prise 182; ro 10 (et adionte, exp 3 52 Prits Levi even esse respite “aang, sms em ea rer serio e vari, comands si esprit Det 2 un de bari’ oa itr hoon es to val suerte iad me nasi, eatin” Les Nannie es Pratt oud 84; apud R, Dahon, Le Tein clas i, 9) 58. R. Anelme, LESS lnm, Pars, Galimaed, 1957 34 J. Amery, Piel eerie ee citient, Est your sarmonterFinsutmntabie, Pars, Ack So 3 Chai Aerceira parte; cap. oye V.A prova documental Voltemos ao historiador nos arquivos. Ele ¢ seu destinatario na medida em que rastros foram conservados por uma instituigao com o fim de serem consultados por «quem esteja habilitado a isso, segundo as regras sobre odireito de acesso, os prazos de consulta variando conforme a categoria de documentos. Coloca-se nesse estigio a nogao de prova documental, que designa a porgao de Wirica acessivel nessa etapa da operagio historiogrsfica, Duas pergun verde h tas: © que & provar para um documento ow sim maco de dactamentos? — eo que & assim provado? A resposta a primeira porgunta ests amarracla ao ponte de articulag da fase do- ccumental com a fase explicativa ecompreensva,e, akém dest, com a fase litera da representacio. Se tm papel de prova pode ser atrbuido aos documentos consultado {porque ohistorador vem aos arquivos com perguntas. As nogGes de questionamen to ede questionsrio so, assim, as primeinas que devem ser colocadas na elaboracio 4a prova documental. E armado de perguntas qu ohistriador se engaja em uma in- vestigagio dos aequivos, Mare Bloch, mais uma vez, ¢ um dos primeitos,em oposigdo 20s tebricos que ele chamava de positivstase que preferiemos chamar de metédicos, como Langlois e Seignobos, a advertr contra. que ele considera uma ingenuidade epistemologica,a saber, a idéia de que poderia existir uma fase nimero um, em que o historiador reuniia os documentos, os leria e ponderaria sua autenticidade e veraci dade, aps a qual vtin a f Douce Lgans su Piste, martela, aps Pal Lacombe esta forte declarago: nao hi ‘observaxao sem hipoteses nem fato som perguntas, Os documentos 36 falam quando thes pedem que vertiquem, isto 6 tonnem verdadeira, tal hipétese, Interdepensiéncia, portanto, entre fatos, documentos © perguntas: “E a pergunta, escreve A. Prost que se niimero dois, em que ele os utilizaria. Antoine Prost, em constedi 0 objeto histirico ao proceder a um recorte original no universe sem limites dos fatos e dos documentos possiveis” (Douze Lyons sur histoire, p.79). O autor adere assim 8 afirmagio de Paul Veyne, que caracteriza 0 trabalho atual dos historiadores por um “alongamento do questionsrio”. Ora, o que suscita esse alongamento & a for mulagao de hipoteses referentes a0 lugar do fendmeno interrogado em encadeamen= tos que envolvem a explicago ea compreensio. A pergunta do historiador, acrescenta nosso autor, “no é uma pergunta nua, ¢ uma pergunta armada que carrega consigo certa idéia das fontes documentais e dos procedimentos de investigacio possiveis” (op. cit, p. 80). Rastro, documento, pergunta formam assim o tripé de base do conhe- 56 Para uma leitura mais jsta de C. Lanois, CW, Sega, atti as tes historique ars, Hachette, 198, cf Antoine Prost, "Seigaabes vie Vingtieme Sic, reve hisie, 0 jules. 194, pp. HIE vile co. “Pons Histoire” 1946, Poul La SP Antoine Prt, Done Lane sur histo Pris, Fa dns combe, Dest cowsdinicomne scene, Pars, Hashet 2 188 6 cimento histérico, Essa irrupgao da pergunta permite langar um tltimo olhar & no a0 de documento elaborada mais acima a partir da nogao de testemunho. Preso no fixe das perguntas, o documento no pira de se distanciar do testemunho, Nada, tenquanto tal, € documento, mesmo que todlo residue do possado seja potencialmente rastro, Para 0 historiador, « documento nao esta simplesmente dado, como a ideia de rastro deinado poderia sugerir. Ele é procurado e encontrado. Bem mais que isso, ele & circunscrito, « nesse sentido constituido, instituido documento, pelo ques jonamento, Para um historiador, tudo pode tornar-se documento, obviamente, os cacos das es- cavagies arqueoldgicas e outros vestigios, mas, de moclo mais marcante, as informa gbes to diversas quanto tabelas e curvas de pregos, registros paroquiais, testamen- tos, bancos de dados estatisticas, etc. Torna-se assim documento tudo © que pode ser interrogado por sm historiador com a idéia de nele encontrar uma informagao sobre ‘o passado, Dentre os documentos, muitos, doravante, nao so mais testemunhos. As séries de itens homogéneos de que falaremos no préximo capitulo ndo sie mais se {quer classificiveis como o que Mare Bloch chamava de testemunhas a con agosto. A mesma caracterizagio do documento pela interrogagdo que at se api vale para uma sgoria de testemunhos nao-escritos, os testemunhos orais gravades, dos quais a _micro-historia ea histiria do tempo presente fazem um grande consumo, Seu papel & consideravel no conflito entre a memoria dos sobreviventes ea historia ja escrita. Ora, cesses testemunhos ofais s6 se constituem em documentos depois de gravados; eles deixam entio a esfera oral para entrar na da escrita, distanciando-se, assim, do papel do testemunho na conversagio comum, Pocle-se dizer entao que a memoria esta ar guivada, documentada, Seu objeto ceixow de ser uma lembranga, no sentide proprio da palavra, 04 seja, algo retido numa relacio de continuidade e de apropriagso com respelto a um presente de consciéncia Segunda pergunta: o que, nesse esto da opetagio historiogtafica, pode ser con siderade como provado? A resposta éclara’ um fate, fatos, suse iveis de serem afiema- dos em proposighes s ngulares, discretas, que geralmente mencionam datas, lugares, romes préprins, verbos de ago ou de estado (estativos). Aqui, uma confusdo espreita a confusdo entre fatos incontestes ¢ acontecimentos sobrevindos. Uma epistemologia vigilante nos adverte aqui contra a iTusao de crer que aquilo a que chamamos fate coincide com aquilo que realmente se passou, ou até mesmo com a meméria vivida que dele tm as testemunhas aculares, como se 0s fatos dormissem nos documentos até que os historiadores dali os extraissem. ssa ilusdo, contra a qual lutava Henri Marrow em De la commaissmce historique, sustentou durante muito tempo a conviegso dle que o lato historico néo & fundamentalmente diferente do fato empirica nas cién- cias experimentais da natureza, Sera tho necessirio resistir, quando Eratarmos mais adiante da explicaga e da representacio, 2 tentagio de dissolver o fate historico na narragao ¢ esta numa composigae literdria indistinguivel da fiegae, quanto & precise 56 Honredrdne Mas, De i oa storie Pars, Ua, Seu, 19H wea, 6 189 6 recusar a confusdo inicial entre fato historico e acontecimento real rememorado, O fato 1ndo € 0 acontecimento, ele proprio devolvido a vida de uma consciéncia testemunha, ‘mas contetido de um enunciado que visa a representi-lo. Nesse sentido, deveriamos sempre escrever: o fato de que isto ou aquill aconteceu. Assim compreendido, poxte- se dizer do fato que ele & construido pelo procecimento que o extrai de uma série de documentos dos quais se pode dizer que, em troca, o estabelecem, Essa reciprocidade entre a construgao (pelo procedimento documental complexe) € 6 estabelecimento do fato (com base no documento) exprime 0 estatuto epistemoldgico especifico do foto histirico, Eesse easter proposicional do fatohistérico (no sentido de fato de que) que lade ligada ao fato, Nesse verdadeiro/falso poclem ser tomados de maneira leitima no sentido papperian do refutivel edo verificivel. Everdadeito ou ¢ falso que em Auschwitz foram utilizadas rege a modalidade de verdade ou de falsi ive, os termos ccamaras de gis para matar tantos judcus, poloneses, ciganos. E nes 1 nivel que se decide a refutagdo do negacionismo, Por isso exa importante delimitar corretamente ‘esse nivel. Com efeito, essa quialificagao veritativa da “prova documental” no seri en- contrada nos niveis da explicagio e da representagio, nos quais o sent de verdade se tornara cada vez. mais dificil de aplicar. lo popperiano Hover’ aqui objecdes a0 uso que os historiadores fazem da nogio de acontecimen- to, quer para exilé-la nas margens em razio de va brevidade ¢ de sua fugacidade, & ainda ma de seu vinculo privilegiado com o nivel politico da vida social, quer para soudar seu retorno, Seja ele tratado como suspeito ou como héspede bem-vindo apes ‘uma longa auséacia, & na condigao de referente ultimo que & acontecimento pode fi- _gurarno discurso histirica. A pergunta 3 qual ele responde éesta: do que estamos fa- lando quando dizemos que algo aconteceu? Nao somente nao recuso esse estatuto de referente, como também advogo incansavelmente por ele a0 longo de toda esta obra, E € para preservar esse estatuto de contraparte do discurso histérico que distingo © fato enquanto “a coisa dita’, 0 “que” do discurso histirico, de acontecimento enquanto “a coisa de que se fala” a propésito de que” 0 discurso histirico. A esse respeit, a assergio de um fato histérico marca a distancia entre o dito (a coisa dita) ea visio referencial que, segundo a expressio de Benveniste, reverte 0 discurso 20 mundo. O mundo, em historia, éa vida dos homens do passado tal como ela fol. E disso que se trata. E a primeita coisa que se diz disso, 6 que aconteceu, Tal como o dizemos? Eis toda a questa. E ela nos acompanhara até o final do estagio da representacdo, onde encontrar, se no sua resolucio, ao menos sua formulagio exata sob a rubrica da re- presentancia”. At ls € preciso deixar indeterminada a questio da relagto verdadeira entre fato e acontecimente, e tolerar certa indi pelo outro por parte dos melhores historiadores iminagdo no emprego de um termo 59 Ch.aionte cop.248 4 pp 28829, 10 O artign de P. Nora, "Le retoue de Héénement io Le Gaffe Nora (it), Fee Pst copseits LL pp. 210-28, trata furndamentalmen tanto, da proximidade clo passade relockndo ay presente histien fem qureo presente & viv “com carrssado de um set istic” (Net fo estatato da historia contemposines, ¢ por pa comn a ns art cit, p20). e woe Por mew lado, pense honra @ acontecimento ao considteri-lo a contraparte efetiva clo testemunho enquanto categoria primeira da memoria arquivada. Por mais espec fic ces ulleries que se possam tra7er ou impor a0 acontecimente, prineipalmente com relagao com as nogGes deestrutura ede conjuntra, que colacam @ acontecimenio nurna poscio terceira com relagie a outras nagoes conedas,@ aontecimento em set sentico mais primitivo 6 aguilosobre o qe alguém dé testerunho, Eo emblensa de todas as coisas passaddas petri). Mos lta do dizer do testemunho & um fat, 0 fato que... Precisemos: 0 “gue” aposto assergio do fato mantém em reserva a visada intencional que sera tematizada no final do percurso epistemoliigico sob o signo da representancia, Somente uma semistica imprépria para o discurso historico susten ta.a denegagao do referente em favor do par exclusive constituido pelo significante (narrative, retdrico, imaginativo) ¢ © significado (o enunciado do fato). A concepgdo binaria do signo herdada de uma lingtiistica saussuriana, talver ja mutitada, oponho a concepgio Iriddica do significante, do significado e do referente. Jé propus em ou: tro lugar uma formula emprestada a Benveniste segundo a qual o discurso consiste ‘em alguem dizer alguma coisa a alguém sobre alguma coisa segundo regras". Nesse tesquema, 0 referente & 0 simétrico do falante, a saber, © historiador e, antes dele, a testemunha presente a seu proprio testemunho, Gostaria de lancar 1m tiltimo olhar na relagao entre © pont de partida deste capitulo — o testemuinho — e seu ponto de chegada — a prova documenta —, no F esse pes eo presente sabre w "fiver histria® que permite dizer que “a atuaiade ess cece lagi generaizat a percep histoica, cilia msm Fenémero not: Acontecanet"” Ga ch pall). Seu surgimenta pone at mesmo ser datado: timo tego do sécula XIX, Tatas do advent spit desse presente histirico” ii). Q que se reprova mos "pustivstas” & 0 tere fet pass ilo presente vie scanypo fecha do conhecment his 1 fato de o terme “acontevimento” nis designs a coisa acontecida &confirmate pelo simples fate de se falar do “prokagio dovseontcsmest” (FE eit, p22} e as metamortoses do ace feckmenta (at stp 2i6) tatase do pesent tics sbxamhade pele mii. A falar de “eanocimentas capitais cama merte ste Maw TsécTung, Nora esereve:“O fate de terem oxorride fis towna apenas histrii, Fara que hop iy aconteciment procs qu sea comhevid” (aF hp 21) A histiniaentic concorre comes mieios de comunity «cnet, a Hkeratea popular “adons etoresch comnnicags Ash aoa testa dots retorna com 0 grito esta 157A mee ie secrta a aentocient, feretemente das sce rina qu los promuiein Neva art eit, p. 229) Fre scale, seria “untecimente ate Not chama deskvin, tr ocorrido, Eecolocara d ld fa agus ‘shan nes, teri eta mn aevntocimnte qe seu nc Suc ele ch oon a sighing intelectual” fora prince ania prtneits forma de lanai histriea” (Nora arte, p28). "O acanecinn to eacama eke ca maraviiwns clas sociedades democriticas art cit 217), Av msm se adenancia “ poradon auntie (ae cit p 222) com seu urge Delta de novos 2 vitae de nifiasies exparsan” far ets p25) “Cade vem 0 fines espa vir da ee do kuntccmente aes klenciameno sistema Pisa waieidade, par Fata de uma serie ea nowt fa surge” Gla). F ise gcnterimenio — “0 Scomcinynto eantermparanen” —entrea a comogot 3 alts fomentadas pl nimi ipod aconecinent, advo da estrutra bee intlgiel-possula sempre 8) Usenet aust aca, Pri sco Digi ome facho de luz ¢ sombra projetado sobre toda essa empreitada pelo mito do Faire que fala da invengao da escrita. Se a continuidade da passagem da meméria & historia 6 garantida pelas nogoes de rastro e de testemunho, a descontinuidade ligada aos efeitos de distanciamento que acabamos de instaurar culmina em uma situagio de crise geral no interior da qual vem situar-se a crise especitica ligada ao testemunho intempestivo dos que se salvaram dos campos de exterminio. Essa crise geral em- presta 4 questao do pharmakon que assombra este estuco ama colotagdo precisa. que a critica historica questiona, quanto 3 prova documental, 60 cariter fiducisrio do testemunho espontneo, ou seja, o movimento natural de depositar sua confian- ‘gana palavra ouvida, na palavra de um outro, Abre-se, desse modo, uma verdadeira crise, Uma crise da crenga, que nos autoriza a consicerar 0 conhecimento histérico como uma escola da suspeita. Nao é apenas a credulidade que & aqui colocada no pelourinho, mas a confiabilidade em primeiro lugar do testemunho. Crise do teste- munho: 6a maneira rude que a histdria documental encontra pata contribuir para a cura da memaria, e passar para 0 trabalho de rememorago € 0 trabalho de luto. Mas sera possivel duvidar de tudo? Nao & na medida em que confiamos num certo testemunho que podemos duvidar de outro? Uma crise geral do testemunho seria suportavel ou mesmo pensdvel? Pode a historia romper todas as suas amarras com a memoria declarativa? © historiador responderia provavelmente que a histéria, em sua tolalidade, reforca o testemunho espontineo pela critica do testemunho, ‘u seja, 0 confronto entre testemunhos discordantes, com 0 objetivo de estabelecer ‘uma narrativa provivel, plausivel. Certamente, mas permanece a pergunta: a prova documental & mais remédio que veneno para as falhas constitutivas do testemunho? Cabera a explicagio e 3 representacio trazer algum alivio a essa confusdo, por meio de um exercicio medido da contestacao e de um reforco da atestagio™ 2 Faistom historiadores que soaberam enssaar nos arguivs Arlette Fae em Le Go de arch, Pars Fa du Sea 198), Diorentemente dn argue jiia {que “apresenta tim mundo Fogmentado", arquivo historiadores ove ea “desea guts dlerisirios a tespeito de acontcimentin derrisitos em gun uns dscutem pot uma fertameta rouboda outeos pela gu sn deeramada es suas oupas Sinaiduma desordem minim que steiou rar, visto que devam hagar a relari e inerogatriom essen fotos intimin que quase naa & dito embora tants costs tramspire, si gates de inventigagdoe peu (9.97). Fssesostroscio, no sentide fortecs pairs, "flay captodas” bil). corre ents histriador mo eaquele que fa falar os homens ce ote, mas agucle que os deine falar Ee srdocuento remete a0 rast, rst ancient x0 dis vote extntas, como eme 2 Explicagéio/Compreensao Nota de orientagao fa tear abwrio 0 ee dessas uatilcagies quamte & neces monte a yperayae Historie Jga ds provements coms 0 todas a diseiptinaseientficns,carncters recurso, sub formu diversas, a provesses de modelizagde stubmcttes an teste da werikcagdo. E ass que modelo e prow documenta cain tat a lado, A mextelizagdo & a obra do ie _gnurio cientfco, cone enfitizara Coliagzevod, seguide por Max Weber ¢ Raymond Aros. tnatar da imputagte ca ral singular’, Esse imagine arrasta 0 cspirite para longed esfra da renemnnagio privadae pica, pra orn ds posstovs, Se esprit dee, todavia, porate ‘er no dio da hishiria sem destisar para o da lego, esse dmaginitio deve dobrarse a na aiscplina especifcn, a saber, unt recorteaproprindo de sets objets de re Esse recorie € regio por dos principio linitadores. Segundo prime, os modelos exp ativs vigentes a price Iistoriadora tin cone cavactevistin cont reportar-seveatdade fanaa enguanto fate sovial, Nesse aspecte, a hishiria social nd & wnt setor entre outros, nas v ponte de vista a partir do qual a hishiria eseothe se ferrem, 0 Mas cmc soviis, Aw privilege, junto com verta escola de hishvin contemgporinea, cont 0 fren mais aot as esata pits da constituigie uo einculo sociale as problemsiticas de identidade a elas iuculadas, dinniremsasfstincia que se hacia oreo, durante a princira meta do silo XX. entrea histiriaea fomumenologia da ago, mas doa above As interagies fanaa 1 GEM. Anscombe, lation, Oxford, Base Blackwe 2 Pout Rieu. Ton copa) ait Lap ait Ver an psiginas 32.9 79a regio de 1981 Gegunda parte 21930 en geval as modalidates do interval do intee-esse com gosta destizer H. Arenal que surgem eattre os agentes v 0s ncientes de agie husano, 36 se prestom aes processos de mudelizigo pelos quis historia se insereve entre as eigacias savin ao preyo de uma objctiagao metodolé- _sica eguiontente a une corte cpistemoligicn em relagie a memsria ed narration conn. A esse respite, historia ¢ fenomenologia da agio teu interesse ene permanecer distintas area maine fenefico de sen didlog, O segtndo principio linitador diz respvito av recorte da histivia no cans sas ciéncios sowinis. pola importincia que a histira atibui a mudancn eas difeengas vu sepaeagses gue afetaan as muadangas que ela se dstingue das eutrascigucias sociaise, princpalmente, da so ciologia. Esse tragndistintiow & comrun a tos es compartinentos da histiria reatidade ecw nnica,fendimcnes socias wo sent linitador do terme, prtcas ¢ reyresentages. Esse rag comm defn le frie limitadonaw referee do discus histvico no seo do referewtecomunt 4 toutes as ciéacins socinis. Onn, mudangas ¢aferengas on descompassos as mudangas com porta sn conolagi temporal rnanifsta. Por isso se flan le longa curagi, de curto prazo, fe aconteciento quase pontual. O discurse da histori pderia emtao se conparir nowamente 4 fenomenologia da necmiiria, Certamente. Toavia, 0 vvenbuliriv do historiadr sue constvi ss herarquins de uray, como io tenypa de Labrousse e Braudel, om gue as disper, como fens feito desde entdo, nao &0 do feumendloge que se refered experituciawiew da duragi, come fi case 1a princiva parte desta bra. Essas drags so construidas. Messe quand 1 historia se esforga por entaralhar sua orden de providad, & sempre en termus de dures ‘ultiplas, e, cventuatmente, em renga esta vig de arquitetunas de duraces bear empi- Mads denis, que o historingor muda o vivide temporal. Embora a mesnéria experiquente rficndidade sarideet do tempo conten suns lembrangas wanasemt relagio ds eutras, exboganelo dessa manera algo come wenn hievargivia entre as lembroigas, and assine ela so forma es Pontaermente aida de rages nuiltplas. Esta continua de apancigi dv que Halbvoachs vtenomine “memiria histirica”, conceto a0 qual retartarenes ro momento oportuae. A monti- puilagie sesso plratidate de éuragies pelo historindor & conmmndada por wna vorrelagte entec frsfatores:a naturcza especfice da mudanga considerada — econdmica, institucional, poten, cultural on outra —, a scala na gual esta ¢ oprevndida, deseritae explicada e, finaluente, 0 ‘ritmo temporal aproprindo a essa escals. Par isso, 9 privilégio gue Labyousse, e Braue e,de- puis dele, os historindores da escola dos Annales concuderant aos fenimenos econdmicos ow _seugrifcns leoe por coroliri « escola da escala macrovcondanica ea da longa duraga om te: nos de ritmo temporal. Essa corrlagio & 0 trago pistemolgico mais marcante da tratanento peta historia da dinewsio temporal da ago socal, Esse tra fi aada mats reforgade por ina correlagio supementar entre a natureza espeifcn do fendnaeno social tornado come raferete ¢ © tipo de documento privtegiado. O que «longa durago estrutura no plane temporal so, por priovidate, series de fates reptiovis, mais que aconteciments singudlares suscetivels de seven rmemorados de nuncina distintca; ressas condigbes, ees et 0 sujetos 2 quantificago & a0 {ratomnento matematico. Cour a historia sri! « a historia quantitation, distanciano-nos tanto 4 Pierre Chaunu, Hive goauttaie, Mistress, Pars, Armand Colin co "Caiers des Anna les m8 21946

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