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TE) IP PTA i i | if leanorisao|——— [18747 Te Fonte: (BRASIL, 1891-1930). Capitulo II Mercado de trabalho, disciplina e repressio “Nao bu criminal por natures. Tados sto por acidente* (O Deppertar, n. 3, p. 1, 3 dex. 1886). 1, INDICAGOES PARA UMA REFLEXAO METODOLOGICA ‘A PARTIR DA HISTORIA relagdo existente entre o processo de criminalizagio eo de constituigdo do mercado de trabalho vem direcionando .0ss0 encaminhamento acerca das relagées entre Direito ‘e sociedade. Pretendemos aprofundar e definir melhor nosso posicionamento relativo a tais questées. Isto porque, de um lado, estamos certos de que a “questio criminal” ¢ o Dircito Penal s4o colocados em pauta de discussio numa determinada drea de saber dentro das ciéncias humanas e estio longe de apresentar qualquer indicagio conclusiva. De outro lado, estamos também de que a énfase que damos & Histéria, a partir de uma + também podem e deve apresentar importantes indicagées para seu conhecimento. um uns 1. Reo de mints da esta resented en en, —= |e awstats | ‘Mandate | Formagte arias [1/08/99 stan i;/0ara00] Fae, Oto fs/o4/1893| So Paulo Engennara iar Fac Media Bahia Fac Diao brasileira. A preocupacio do mi ‘organizagio da instcuicio judi i iando a demora nos julgamentos ¢ uniformizags da jurisprudéncia, Tais deficiéncias sao atribuidas & exigudie de pessoal e auséncia de coordenacio dos trabalhos da Cone Apelagio. Suas preocupasdes com efccia e credibilidade efor nossa proposicio de pensar que os aspectos presentes na conju tura do periodo imediatamente apés a Proclamagao da Repiblia, ntes & organizacio juridico iio ausentes do discurso ibordinadas, explicitamente, ao processo de constituigiod mercado de trabalho, 2 T8557 |P8—Ianoet | TTAB 1942 eracae {/S/090| ae fesse Sr Justia “Univers” eondem autoritria | 199 asio de idelas transiérias,jé muito gastas desde os transvios da Internacional, importadas de povos, que em cempo algum corresponderam na sua organizagio -a as exigéncias da civilizagio © que, na atualidade oferecem 0 quadro sombrio de sua dissolugio prépriaea impressio trigica de uma inaudita perversidade, criada pelo sectarismo terrorista, sanguinério ¢ corruptor, aproxima os homens das feras bravias ¢ faz predo de crueldade sobre © pensamento ¢ a razio. (BRASIL, 1921, p.5) Ontra OS pertutl ntrada, no. territério 1; lesejveis; a Fechar por tempo , sindicatos e sociedades ¢ badon on mig is Salientamos este trecho no qual estéo caracterizadas as as- sages em torno dos estnangeirase sua atuasio politica, Asim, secpnfilracao de idcia transitdrias” ¢ “importadas se associa i a tragédia; terrorismos sombra; sangucs dissolugao; corrup¢io; perversidades crueldade; ia. em seu seio desonng sectarismo; ferocidade. conhecidos que resistram a mao armada @ intervening autoridade, (BRASIL, 1921, p.5) Mais ainda, com a “questio social” assumida, 0 ‘Alfredo de Mello propée a harmonia entre capital e trabalho: Tais priticas repressivas anteriormente descritas, como prio relato do ministro, sio denominadas por ele de pe »€8e “moldam nos modernos institutos de Dina desenvolvendo ainda a oposi¢ao nacional ven @trangeiro (Sendo este apresentado numa conotagéo nega anilise de Alfredo Vieira de Mello, prossegue, ampliando ss argumentacio. podem viver desagregados; nica, 0 mesmo objetivo [J 0 trabalho € 0 capital devem e precisam ter a aspiragic ~o lucto; a mesma preocupagio ~ a riqueza comum; «o mesmo ideal — 0 aproveitamento de todas as Forgas vivas Estamos em uma fase nova de iniciativas smo deve abandonara rotina ¢ 0 egoismo. ao consiste em acumular valores, masem. nos constrangem os principios di © que nos revolta e oprime ue costura seus contradiges soci: “esclarecida’), evidentemeni € justera”, “honestidade’”, diversio; subversios escindalo; atraso; abuso; aviltamento, mando aceitar a crits re porque relacionada & “ponders lc”, “respeito”, “bem ¢ ordem’este diss liberal, ataca veementemen tanto, fazer qualquer alusio denominada “multidio” vohivel ¢ sentimental, incapaz para “julgamento j extremas”, Acrescentamos, “simples divers ay <0” negando * 8F€580". O comprometiment Portanto, contriria & “critica esclarecidi! ainda, Ke as agitagdes operdrias sem, noe classe operdria, Esta categoria soci, presentada a partir de uma “natured justo” e afeita ao “abuso das liberdads a alusio as agitagées tomadas com “hossas virtudes civicas ¢ o nosso pit 0 do discurso juridico (e dos juristil hiversal"eordem autortéria | 197 rguesa de trabalho impede 0 0, através de conotagbes positivas da diversio edo 1m bem social. para Alfredo Vieira de do pensamento liberal, he- ico-sociais europeias. Em segundo vernos que a referencia & “imagem do Bras Ee quase sempre, em observagbes que associam as agitagées& res . a presensa de estrangsiros no Bras Felizmente, 0 governo de V.Ex. soube e saberd manter a ordem publica e pode sopitar as agitagées, que exploradores esperanga de um efémero triunfo, 7) (BRASIL, 1921 Neste caso, o “nacional”, em construgio, se contrapse 20 estrangeiro ¢ 0 ponto referencial no ¢ mais as sociedadesliberaise “cultas” da Europa, para quem deveriamos apresentar determinada imagem, mas 0 movimento operirio internacional. [uu] com a execusio de providéncias legais, © anarquismo asio [..] Do nosso meio social, propenso na generalidade ao bem ea respeito ‘iduais, foram afastados os agitadores impenitentes, e atualmente nos encontramos em situagao recuou em sua criminosa dele aos direitos in de calma nos centros operitios, devotados ao trabalho tranquilo e formulando as suas reivindicagbes nos limites do razodvel, em o emprego da dinamite das depredagbes. (BRASIL, 1921, p.5) Fundamentado na visio liberal de organizacio social a partir yerdade ¢ na com base nestes preceitos antes enumerados nomeia as agitag6es como “intempestivas” “Introdugies” de 1910 de 1921), nao as estamos tomando, ents. tanto como referénciatinica. Ainda assim, ao enfatizarmos osanoxg thecemos outros anos dessas mesmas dia 1. Certamenteas reves gerais de 1903, os congressos da COi (Confederasio Operiria Brasilcra) em 1906 e 1908, a ‘prima sangue” em setembro de 1909, 0 novo congresso da oe 1913, as greves gerais de maio de 1917; tudo isto con: tes de serem registrados, a d trabalho. Dessa form, de espirito irrequietos a que pouc rare fas ae 1917, pe mento condendvel de édio, exploragio ou simples div wv ideias subversivas, dads versio promover escandalos, pregar ideias igorosamente, 0s: : ientes 2 instituigao judi negar as nossas virtudes civicas ¢ 0 nosso progresso, malsinar ages intempestivas © apaixonadas, que conduzem volul importa em um sem squuort “e614 “€261 ‘OLIN AG SOWA 004 penalogia contemporing, jandeira endossa a tese da substituigin 4 . berdade cn lo a necessidade da instituigao do Patron re encaminhamento permite a apreensio da extensio dey Oindividuo que regressa i liberdade depois do cumprimen deuma inal um individuo erernamente susp © sociedade (..] Dificilmente encontea ques © aceite a seu servigo ou o acolha sob sua protegdou De ‘modo que, ou ele deixa-se morrer pela falta de recut ou tenta a tn que Ihe resta, o crime wit (BRASIL, icidéncia o recurso é 0 Patronat Podemos analisar as formulacé dois encaminhamentos, O do ministro a partit de ‘iro ita o destaque deumi ada rigorosamente dentro das postulagées libenis da como “penalogia contemporanea”, vista co? ic; mples analise de contetido urso do ministro Esmeraldino Bandeira jé licativos de que seu encami- mais do que direcionado no sentido de uma postura ent, nhament0s es eral em relagSo & questdo criminal, inscreve-se no sem sdenamento social com vistas & recuperagio, através da ressocia- fimgao, numa “casa de trabalho obrigatério”, juntamente com o acompanhamento tutelar do Patronato, Relaciona-se, portanto, lo de is global de passagem para o capitalismo na sociedade brs , quando a constitui¢ao do mercado de trabalho impoe a cematica do srabalho. Diferentemente, podemos encaminhar nossa andlise, to- mando como referéncia 0 proceso de ideologizagio que produz ido a partir da formulagao aqui destacada, Para tanto, fo prete: ficar somente a ideia de trabalho, palavra que aparece de modo insistente nos discursos dos juristas daque- la temporalidade. Queremos é ampliar nossa andlise através da jdentificagéo de uma teia de significados que circulam em torno do vocibulo.2" Assim, trabatho esté, dentro deste processo de ide- ologizacio, relacionado & honestidade, bem-estar, dignidade, sendo que seu oposto, aciosidade, relaciona-se a afrontamento, corrupedo, depravagéo, suspeita, Com esta tela de vocdbulos identificamos um conjunto mais amplo de significados que compose o processo de leologizagao, possi fe e desdobramentos na estrutura so¢ A par da construgio desta teia de significados queremos ainda ressaltar o emprego de certas metiforas que reforcam o pro- de construcio da ideologia burguesa de trabalho, metéfora “colmeia humana” sugere-nos a andlise mo-nos aqui em algumas das ineicagées de Robin (1977). Esta mesm se da aurorizasdo do artigo 59 1.338 de 9 de janciro de 1905, resp |. comercial e crn termos eas pris ints demo, Simplifcaro proceso sem prejuo das pares, (BRA 24) tro sugere uma aging do processo de codificagéo ¢ uma simplificagao a serem impleme| tadas por uma reorganizaca . Estareorganizagio é pe sada conjuntamente com a necessidade de elaboragao de um non} Cédigo Penal e de uma reforma do regime penitenciftio existe Contfirma-se assi uma vez, nossa observagio dey a problemética da “construcio do nacional” dos anos 1910-192) diz respeito a uma tentativa deo yastante diversificads com as greves ¢ também, nosso cuidado de jostrar que a recorréncia & tema da manutengio da ordem, a partir de priticas disciplinares, sie cxclui uma refere reocupasio do mi os ee tro da Justiga com a necessidade de eat nica coimaneuiis | 9 édigo Penal, visava atender as exigéncias de rio como um todo. Se considerarmos que ido em 1940, podemos conctuir 0, em 1910, antecipa, em nivel de pro- suigestio do mi a ms ide um lado a referida necessidade de agilizagio efciéncia si jada para a Justica, compreendida dentro de ma determinada vido do Direitos de outro lado, exprime uma preocupagio com imoramento da agéo preventiva e repressiva da instituigio ia, em busca de um outro tipo de eficdcia, que diz res ri aperfeigoamento eadaptagio desta aslo, no sentido displina, para o conjunto da sociedade brasileira, Distanciado, de muitos anos, do atual momento, o Cédigo inda vigora no Brasil carece urgentemente de ser rrado, muitas vezes, na doutrina baldo de sistema c de unidade teria; deficiente em alguns casos ¢, em out medidas consagradas de repressio ¢ correcio. (BRASIL, 1910, p. 32) Junto a esta constatagio do ministro ~ necessidade de um novo Cédigo Penal — hé os reclamos de reformas no sistema peni- itamente como uma providencia diseiplinar, . la modernidade do século. Desse modo, 0 ministro [uJ a orientagio a atender no assunto € a seguinte ~ ia por outras possivel a peniten euir quan : medidas de repressio e cortesio € transformar a prisio casa de trabalho obrigatéria, (BRASIL, 1910, p. grifo nosso) | icene Neer que rend homoge Tecimenty Ny astleltO! pala dy acar um certo conjunto de thing .se a tudo isto 0 fato de g bs as pect Pam jo de 1934 quando 0 movimento imi definitivamente, a referencia ao % ite, pela oposigao ao “est Razio pela qual a regulamentagio tanto do. direito de cidag ‘aos estrangeiros quanto & participagao politica destes, maréria de interesse ¢ reflexdio dos juristas, O discurso j pina eatua sobre esta questo, alternando, ora uma pre com a imagem do Brasil frente ao estrangeiro ~e aqui se a questio Jevantada pelo primeiro momensog pos-pro “ onde uma preocupacio com o ordenamento juridico-adminisy tivo do Estado se faz presente ~ ora com uma preocupagio snd politica ¢ ideolégica em relagao ao ordenamento discipl mercado de trabalho, que conta com a participagio ex dos imigrantes, nas décadas de 1910-1920. 7 A introdugio do relatério encaminhado pelo ministadi Justiga e Negécio: res, Esmeraldino Olympio de Tom} Bandeira, em 1910, forneceu-nos, em grande parte, as deste proceso, Isto nos levou a enfatizar algumas peculi diferenciais entre o momento imediatamente pés-proclama o das décadas de 1910-1920. Dessa maneira, quando situa) juntura politica de sua posse como ministro, em junhode 190) ica” em que se encontiavams I, em fungio do pleito eleitoral naqueled estancado quase que tinha de passar necessti Justiga “Universal” eondem autoritéia | 97 ‘Ao lado do movimento sadio da vida nacional, infeizmente deflagraram as paixdes p. lias e subversivas, que, por Com 05 simples recursos de prevengio pol assegurar 0 Governo 0 exercicio de todos os di uma populagio trabalhada, desde maio do ano findo, por intensa crise politica, (BRASI Importa destacar, 0 reconhecimento, 20 final da descrigio, da cexisténcia de uma intensa crise politica, fato que reflete a situagio de agitagao politica que deflagrou paixdes partidarias e subversi- vas". As “paix6es”, 0 ministro contrapée um “{..,] movimento sadio da vida nacional”, que seria a realizagio de pleitos, sem “agitagio politica’, conforme interesse dos setores conservadores¢liberais da sociedade. A desordem “apaixonada’ é atribuida, implicitamente, outros setores, nem liberais nem conservadores, que nao chegam aser explicitamente nomeados pelo ministro. As indicagées nos levam ao reconhecimento da maior complexidade estrutural da sociedade brasileira. Elas fazem alusio as “desintelige entre os operitios ¢ a diretoria da “Societé Anonyme du Gaz” que deu lugar a uma greve por parte dos primei- ros, que resultou na cidade sem iluminacio por sete dias (BRASIL, 1910, p. 12). O desfecho deste episédio, relatado pelo ministro, indica a presenga de uma situagio de conflito ~ de “desinteligén- cia”. Isto 0 forga, mesmo que por vias indiretas, a apresentar as contradi¢es presentes na “vida nacional” que se queria “sadia’, pelos liberais e conservadores, A pontuagéo que revela as contradigées da “vida nacional” contrape-se uma preocupagio de demonstragio de que a ordem Pode ser mantida. Isto, segundo as aspiragGes de uma visio juri- dica que passa pela garantia do direito a liberdade do trabalho e & propriedade, Jute Use coren erie | 95 juridico-adminisraiva. Tal airmativa no implica, entretanco, a auséncia de referencia, por parte deste mesmo discurso, ante a problemtica do poder no sentido mais amplo da sociedad, Quer Fer, a regulamentagio ¢ 0 ondenamenco discipinar esto referidos 4 problemética de constituisdo de cert estrutura de lasses, no ojo da passagem para o capitalismo, Portanto, as diferenciagées que destacamos podem ser vistas a partir de uma énfase maior dada nos primeiros anos da rganizagio nacional”. A partir da propria estabili- na, ¢ da crescente diversficagao social presente no processo histbrico por nés enfocado, a “construgio do nacional” passa a ter uma referéncia explicita ao direcionamento disciplinar dos setores subalternos na sociedade brasileira, sem que com isto, a reorganizagio administrativa e juridica seja de todo abolida das se perante a8 ‘Neste sentido, ‘gio. Nao é 4 toa que a palavra “reforma” é extensiva eh temente empregada pelos “reformadores” da ordem insti legal, sob a Repiblica. Também a defesa das “reformas?aga claramente ligada 20 “novo”, a0 “progresso” ¢ 20 formulagio dos cédigos legais, sua regulamentagao, as judicidria, tudo seapresenta como modernizacao e adap formagao histérica brasileira na virada para o século XX, Enconttamos diferenciagées quanto 4 énfase na qj da “construsio nacional” durante o periodo estudado. B cificamente no ambito do discurso juridico, destacan ‘momentos entre 1890 e 1927. Sem exclusio de uma Pela outra, num ou noutro momento, podemos observa Primeiros anos da Rep 10 de Bstad operérias ocupando um espaco relevante nos discursos dos tas em termos de uma reorganizagio segundo a nova penalogia, a0 lado de uma reflexao sistemitica sobre a regulamentagio do trabalho, a socializacéo do “menor” para o trabalho ou a assis- téncia a alienados. O “nacional” assume conotagées bastante precisas quanto & formagio e preparacio de um suposto “cariter nacional’, afeito ao trabalho , portanto, referido diretamente a0 encaminhamento de priticas sociais, politicas, econémicas € ideolégicas no sentido da regulamentacio e de trabalho. Evidentemente, 0 esbogo deste “carter nacional” nao apresenta, ainda, um grau de elaboragao e sofisticagio relativas A ampliacio deste processoa partir do final dos anos 1920. Se © “cardter nacional brasileiro” esté historicamente construido a partir das formulacGes que aparecem junto a um processo mais agudo de ideologizagéo e dentro de uma formagao hist6rica mais diversificada e conflitante, nao podemos descartar a possibilidade de identificagio de tal preocupagio em periodos anteriores, pelas ivo. Portanto, a “reconstrugao ‘a é confundida coma _s io", neste momento, € clreunsery esso di 40 da ordem bun, Neste 2 gio, Nio 62 toa que a palavra “reforma” é extensiva eab temente cmpregada pelos “reformadores” da ordem in legal, sob a Repiblica. Também a defesa das “reformas” ap laramente ligada a0 “novo”, ao “progresso” a0 formulagio dos cédigos legais, sua regulamentagao, as judicirias,cudo se apresenta como modernizacéo e adaptag da “construgio nacional” durante o periodo estudado. | cificamente no Ambito do discurso juridico, deste ‘momentos entre 1890 ¢ 1927. Sem excluséo de uma pela outra, num ou noutro momento, podemos observarq meiros anos da Republica o “nacional” aparece q sindnimo de Estado, romado como lugar de ordenamento: -politico-adi 0. Portanto, a “reconstrugio ni 6s proclamacio da Repiiblica é confundida com a Jnstga “Universal eondem eutoritra. | 5 juridico-administrativa. Tal afirmativa néo implica, entretanto, ‘a auséncia de referéncia, por parte deste mesmo discurso, ante . ado poder no sentido mais amplo da sociedade. Quer dizer, a egulamentacio eo ordenamento disciplinarestio refeidos 4 problematica de constituigio de certaestrutura de classes, no o da passagem para o capitalismo, Portanto, as diferenciagbes que destacamos podem ser vistas a partir de uma énfase maior dada nos primeitos anos da Repiiblica a “reorganizagio nacional”. A partir da propria estabili- zagio republicana, e da crescente diversificagio social presente no processo histérico por nds enfocado, a “construgio do nacional” passa a ter uma referéncia explicita 20 i dos setores subalternos na sociedade brasileira, sem que com isto, a reorganizacio administrativa e juridica seja de todo abolida das preocupagoes dos juristas. ‘Temos, portanto, as greves ¢ as movimentagées politicas operirias ocupando um espago relevante nos discursos dos juris- tas em termos de uma reorganizacio segundo a nova penalogia, a0 lado de uma reflexio sistematica sobre a regulamentacio do trabalho, a socializacao do “menor” para o trabalho ou a assis- téncia a alienados. O “nacional” assume conotagées bastante precisas quanto formacao e preparacio de um suposto “cariter nacional”, afeito ao trabalho e, portanto, referido dirctamente a0 encaminhamento de priticas soci . econdmicas ¢ ideol6gicas no sentido da regulamentagio e disciplina do mercado de trabalho. Evidentemente, o esboso deste “caréter nacional” nio apresenta, ainda, um grau de elaboracio ¢ sofisticagio relativas A ampliacio deste processoa partir do final dos anos 1920. Se © “carter nacional brasileiro” esté historicamente construfdo a partir das formulag6es que aparecem junto a um processo mais agudo de ideologizagio ¢ dentro de uma formagio histérica mais diversificada e conflitante, nao podemos descartara possibilidade de identificagao de tal preocupagio em perfodos anteriores, pelas TO, 1923, p. 62). se inscreve a justifcaty inecessirias” reforma, amente, a conveniénds icas de acordo com x justificar. (BRASIL, 1900, p. 4) Denare is reformas empreendidas, destacam-se atos que fo ram expedidos durante 1899, O Decreto 3.475, de 4 de novembro, regulamenta o artigo 5° da Lei 628, de 28 de outubro, alterando alguns disposi igo Penal. Ao mesmo tempo, Epiticio Pessoa submete & aprovacio as 1 nullagio quanto a a além da associagio, Pessoa aponta para a necessidade por ele detectadas (falta de recutsos fi- le e educagio do nosso povo, intenso o sentimento de respeito & io da autoridade” (BRASIL, 1900, p. 8). A ideia de uma tentativa de generalizasio ¢ homogencizacio, ia. No entanto, a forma a pela qual a ideia éarticulada se situa bem dentro do quadro particular da con- juncura imediatamente apés a Proclamagio da Reptiblica, quando ‘a“construgao do nacional” é quase que sindnimo de reorganizagio m_novas bases j cas. Por outro lado, a generalizagio que encontramos no telatério de Epitécio Pessoa (“indole do nosso povo”) antecipa as preocupagGes presentes no processo de “construgio nacional” no momento subsequente, bastante marcado pelas reformas exigidas pela reorganizagao do Estado. 'As reformas que reorganizam o Estado sob a Repiblica se ca histdrica das transformag6es por que passa a ra na virada para o século XX. Com isto, as ingeréncias e as relagées do processo histérico com “Universal ¢ordem autoritéria | on espitito se inscrevea divisio do tibunal cdmaras de quatro membros cada t di them como 0 funcionamento do es do sistema penal, ministro da Justiga, Amaro Cavalean preocupagio coma eficicia da Justiga em 1898, pelo entio espelham, também, essa le 1890, visto que a execugio de tal sistema estd sendo yente burlada hé mais de sete amos (BRASIL, 1898, )e (© ministro lamenta o fato de nio ter sido ainda decretada, Wp pelo poder legislatvo, a criagio dos estabelecimentos que a nova lei exigia. Os sentenciados, recolhidos as antigas prisbes, que emprego p> ‘ ndo se conformavam com as prescricées vigentes, estavam sendo pe efesdojugamento em resto piblicas mediaiaagy submetidos a um regime penal muito diferente daquele que lhes one Jimpunham as respectivas sentencas. ‘Com efeito, o ministro Amaro Cavalcanti reclama que as sentengas eam proferidas de acordo com os precetos de Cédigo, : : é € que por falta de estabelecimentos adequados & sua execugio ae rors 6 deixavam as mesmas de serem cumpridas, pois o Poder Judicié- tevestindo uma forma mais adaptada & “impessoalidade’ rio se empenhava na obediéncia & lei. Amaro Cavalcanti propée eda Justiga, reformas ampliando a Casa de Correcio do Distrito Federal, ¢ Neste mesmo espitito se coloca a atuagio do também sugere a necessidade de o Congreso habilitaro governo Piblico, instinuide ji i i com os meios necessirios para a implantagao de estabelecimento industrial, para cumprimento da pena de prisio disciplinay, nos, termos do artigo 49 do Cédigo Penal. Berais’ da sociedade perante a Justica. Com subordinagio! i independe: agio ao crimee i fowe reoonheeka pe Seam -ambém o direito a uma indenizagio garaniy 91, p. 20). sea configuragio destes prinetpios nip fosse bastante para justficar a responsabilidade que © Govern Provisério assumia de promulgar o Cédigo Penal, varias comside. ica viriam em seu apoio, dadas As lacuna representagio de violacio de wunidade expunha a socidale Justiva Unie cordemauoreia | 39 sera tinica divisio territorial das jurisdig6es do Distrito natureza de suas fung6es, o pretor corresponde ou 20 | ow a0 juia de direito. Juizes de dircito sio todos os inhada de uma formulacio que ide” do magistrado, através da ia, com sua consequente profis- tisava a preservagio da riagao de uma carreira judi sionalizagio. Isto porque: © juia de paz eletivo, ndo rettibuido, sem o esi carteirajudieiria, nfo podia preencher esses fi fora razoivel exgir que, gratuitamente, e sem fazer profssio de juz, oleito prestasse todos os servigosjudiciirios de que precisavam os diferentes niicleos da populagio. (BRASIL, 1391, p. 43). Juntamente com as preto1 correcionais, tomando-se por ‘mento popular” na justica criminal, como garantia do cidadéo 1 poderoso da ordem piblica. Assim, além de conservar centralizado como estava e sem muitas alteragoes orgi- tratando de completar a justiga .eparando a matéria correcional criou em cada pretoria outro junta Correcional, A aruagio desses pretores, dos juizes municipais, limitava-se a um exercicio ‘a instincia e & ago correcional aplicada.a pequenos foram criadas as juntas prestados ay FONTE:; (Lemos Britto, 1923, p. 175). ot, do proprietirio dy crimes de abuso d ‘Ainda segundo 0 relatério do m 1891, o sistema penal combi lular com isolamento durante o primeiro periodo 10 Campos Salles, de le criminal, mum - com. durante o dia (BRASIL, 1891, p. 20) responsabil da pe segregacdo noturna e silén: 9 se privando intengao criminog 2- Galeria da Casa de Corregio do Rio de Jancito, Fi de nove anos, e sujigin dade e menores de 14 ana de educagio industrial edie de defesa, da resisténdis uer atentado contra invie- cincias agravams uu de culpa e pena. e, de todas as penas perpétis Fonte: (LEMOS BRITTO, 1923, p. 200). iberalismo vem, hj smo, desde © momenty (eda visio de mundo egy 10 nacional” nesta onjuntura da marcada mais pela “urgéncia” destas campliagio desta nogio. A ideig de do Estado, quanto & “construcio da nagéo”, Amudanca da forma de governo, ea consequente a c6es, impuseram ao govern provisério. uma tes "vis € criminais, ¢ a decretacao de reformas ¢ di ‘ementares. A partir da abolicéo dos 6rgaos do Poder’ Ttivo edo Conslho de Estado ligados & monarqui forgoso era que o Ministro da Justiga tomase "goa fim de atender 3s reclamagées mais urgent 08 elementos das novas instituig pinio & propor direito privado, Politicas Justiga “Universal” ¢ ondem autoritiria | 85 Verifica-se ai um empenho no estudo da organizagio da Justiga Federal, a fim de garantir o direito da "Uniio”, sem entrar ina esfera da justica dos estados. As deliberagdes do Ministério da Justia rclatvas&lepslagio se referem, principalment, coi caio das leis c . Para Campos Salles, vestigios ainda da escravidio e da cruel pena de agoites, com a infamante das galés, com a de morte cominada até aos crimes politicos, perpetuidade dos castigos em grande mimero de casos, ¢ a imprescriprbilidade em todos, 0 Cédigo de 1830 nao podia ser mantido pela Repablica. (BRASIL, 1891, p. 18) O Decreto 774, de 20/09/1890 aboliu a galés, reduziu ao prazo de 30 anos as penas perpétuas, mandou computar a prisio preventiva na execugio das penas privativas de liberdade, ¢ sta- beleceu a condenacdo das sentengas condenatérias. © Cédigo Penal da Repiiblica foi aprovado pelo Decreto 847, de 11/10/1890, Foram adotados os seguintes prineipios: ~ A divisio das infragdes da Lei Penal em crimes e contra- vengées. = A aplicagéo aos fatos anteriores, ainda apés a condenagio das leis que dirimem a criminalidade ou reduzem a pena, atento 0 limite posto & justiga humana pela “utilidade social” ea “verdadeira” nogio juridica da retroatividade, s6 aprovada quando ofensiva aos direitos adquiridos. " Ascolese Faro 170 wm coo e Fermendes (167), ene “#810 sentido deste posicionamento. a re face de maior complexidade da sociedade. Por jue observamos € um redimer csforgo no sentido de mais sofisticagao destasestruturas de poder, ‘© que marcard a recorréncia 3 concepgio liberal todo 0 conjunto de reformas da estrunura juridica, ‘embasadas num posicionamento “cientifico” fundado nos novos saberes (sobretudo das ciéncias comportamentais). Como afirma ou] 0 Estado constituida’ > mpossivel seria do ponto de vista da cons conjunto de nor ‘Mesmo porque nao ha uma contradigio como aparenta, entre im 1 esta questo, com 9 mesmo encamichamerto de adie dssetagbo do Mestrado om Cina Pola, PERS junto de preceitos que vi do Estado no Brasil sob a presenga do idedrio burgués, I, na formagio ideoligia brasileira, somente a partic do momento em que relagbes soci de produsio capitalista aqui se implantam. Estamos, no entatit Propondo um encaminhamento de andlise que leve em conta tum lado, © processo de internacionalizagio do capit Neordemaurrtra | 8) em expansio diante d 1 € de outro lado, consider descartado. A busca de legit funda-se na perspectiva cortente, ¢ ’o tanto pela presenga de uma burguesiaelow pitalismo naquele momento, mas em fungio da insergao do Brasil num quadro de economia mundial. Caleada no “complexo agroexportador escravista’, a formacio social brasileira es tavadiretamente vinculadaa esta economia mundial, cuja hegemonia cabia a0 capitalismo britanico. Entretanto, nao se reproduziam aqui, de forma predominante, ‘ais de producio capitalista. pectos ideoldgicos references 3 assimilacio do deve tomar por base os estreitos lagos que storica ao capitaismo e com 0 pensamento entretanto, numa reelaboragio deste idesrio, adequando-o a realidade historica brasileira. Esta questio foi, no (0, alvo de uma polémiea, travada na década de 1970,!* mas 10s, priticas ¢ ideol6gicos, ainda ressoam. ° Refermo-nes 9a date acerca do argo de Schwarz (1872) com una parpanso Insogante de Mara Syia de Carvalho Franco dem autontiria | 79) imporeincia do processo de i jo que estamos enfocando, sobrecudo na conjuncura subs (conscientes ou nio), mas também préprios condicionantes histéricos a que nos referimos. Entretanto, a ampliagio ea difusio deste processo de ideologizacio podem ser demarcadas também pelo apareci . partir da leitura dos documentos hist6ricos produzidos pela sociedade da época, que € necessitio recuperara dinamica da conjuntura por nés enfocada, delimitando dois momentos que expressam a aplicasio eo movimento da ideia ‘nacional’. Observamos, ‘entio, além de seu movimento e modificagio, sua difusio enquanto ‘conceito, a partir da complexificagio da 4 dele que as grandes questécs minhamentocadequagéo da estrutura burocrético~ €¢juridica do Estado permitem repensar a “nagao”, livre Iutismo ie radigio, RASH, 1009-1920) ‘estca “Universal ordem autoritiria | 75, 2, O pIREITO NO BRASIL E A CONSTRUGAO “NACIONAL” no pais (diferente- ‘mente da formagéo médica, também tradicional desde os tempos ddo Império, e da formagio técnica —ligadas As éreas militar e de tengenharia), que uma reflexao sobre histéria, ate e literatura nacional” comega a se difu fdentemente, ‘trugio da modernidade no Brasil Isto nfo exclu, evidentemente, a possibilidade de formulagio de tal tipo de reflexio por intelectuais ‘com outras forages que nio o bacharelado no campo juridico." Paralelamente & problematica anteriormente referida,res- juntura histérica da formagio social brasileira. Ou seja, mais do aque simplesmente destacare descrever a formulagdo dos diferentes projetos para o Brasil que vo sendo articulados pelo campo jus ‘ico, queremos analisi-los a partir da dindmica social imprimida pelo processo histérico. ‘A preocupagio com o Estado nacional, com a construcio da nogio de “nacional” e com a de “nacionalidade” brasileira, re- ‘monta de preocupagées anteriores construgto da ondem burguest primcitos do século XX indica, com muita clareza, um momen onstituico do mercado de trabalho, fundamental dentro dos so deconsiusgo da ordem burguesa na formacdo histérica brag ————_—— aside im exempo aso pode ser wsto no pensamenio de Serzedeo Corsi, Ps ‘Gaile Cersuora Fhe (1904. Em verso ommida (CERQUEIRAFLMO, 1897.9 ‘oti, Pup gear dvi no nado, posta pr uma avoid oa - _ ee ae propensos a cometer através de penas cruéis € everas, Neste eas0, medidas mais dristicas sio empregadas, como {rpena de morte, Ji numa sociedade onde os trablhadoressio scassos, a exccusio penal teré uma fungao divers; jd ndo se tata de impedir que as massas sufocadas pela fome satisfagam suas necessidades mais elementares. Alguns setores do proletariado quando encontram ocupacio, constituem grupos de trabalhadores nfo qualificados ~ € nio “massa de desocupados’ —em condigdes de extrema necessidade, Assim, a execugio penal pode se limitar a obrigar os mais resistentesao trabalho ea ensinar aos “deinquentes” que devem se contentar como salitio que recebe um “trabalhador hhonrado”. Ademais, com a forga de trabalho escassa, os saldrios ,comnando rentivel a reclusio dos “delinquentes”a fim 1a de alimentos. Sob estas cit- de obrigi-los a trabalhar em tro * Chamamos a stan pare o enceinamento dado por José de Souza Mans (1979), no qual problema da demarcagao das tras oo apace deforma Ge rabino tre, aqut raferdos, eto estudados. atten erimemine | 71 carecendo de compreensio adequada. Mesmo quando as andlises ddo “delito” e de sua repressio aparecem conectadas com a questio ainda ou uma abordagem ingénua “cientifica” ¢ sis ‘Assim, quando se vém obrigadas a fazer uso das cat Jégicas, estas andlises assumem suas vertentes mais ingénuas, ou, no melhor dos casos, encontra ficamente fundamentadas tomarmos a perspectiva histérica de forma a anulara autonomia da questio criminal e de seu controle, que certos processos ico-sociais possam ser desnudados a partir do estudo da criminalidade e vice-versa. ‘Tal questdo se coloca para nés na medida em que dores do Direito, abragando quase sempre a perspectiva nao enfocam a problemitica histérico-social, Assim, professam uma visio evolucionista, regida pela ideia de progresso do desenvolvi- ‘mento das instituigdes legais. Estas, segundo cles, teriam percortido, a0 longo dos séculos, 0 percurso da “barbiric & civlizagio”. Esta perspectiva afeta diretamente a forma pela qual apena, das leis que regem o dee lem para a compreensio dt ‘0s condicionam (MENDEZ, 1983 eaqusa que deconvlveros ete (NEDER; CERQUEIRA FILHO oJ corresponde produgio capitali vvamos que o capi dadas pelo processo pressupem a unidade do balho, ‘no plano do proceso de trabalho, enquanto que a dominagio do capital implica a dissociagio formal do trabalhiador dos meios trabalho. A passagem da subordinaséo formal 4 subordinagéo do trabalho ao capital ndo leva a um desenvolvimento linea, | contririo, constitui-se como o resultado de um con rializagao nao € 0 efeito autom: do desenvolvimento das “eis naturais da economia", mas sde um sistema complexo de contradicées sociis, Iustiga "Universe ordem atari | 69) ‘o rompimento com o passado (inclusive o periodo imediatamente anterior 3 industrializagio), como consequéncia de um conjunto ide lutas econdmicas, , sobretudo, politicas e ideologicas, ‘Observamos que 0 complexo econdmi momento de , quase sempre de . Ao lado da produséo do café aparecem outros vr yculado ea fungao dc inereses da levours cafectra (prodsiesa deequipamentos de beneficiamento de café, sacarias para embala- gem etc.) as tividades ligadas aos servigos urbano-portudrios ©0 fortemente pelo capital estrangeiro.’ ico que refleeareferida complexidade do. Analisamos os variados e complexos mecanismos que compreendem tanto a exploragio do trabalho quanto a fxagio de valores necessiris 4 vigénciae garantia desta nova ordem social. A tagées contidas no discurso juridico (crime, delito, contraven¢io, ‘etc.), constitui um caminho fecundo de andlise. Através destas representages pensamos poder eaptar: ganha concretude his- a) as formas pelas quais 0 Direito © ant ts eles do setrindutrat emerente om So Paul cam a avo aera, ‘amo compononte dost complexe scenémice cate (DEAN. 1971), _s ies ee ee modernizasdes: mecanizagio da produ construsto de ferrovias ¢ po {interna do process brasil » que Michel Foucaul Kirchheimer como “um da insergio de todo 0 mesmo tempo, configura-se o proprio encaminhamento de uma ‘maior diversficagio na sociedade brasileira, de um modo geal, ena Regiao Centro-Sul, de um modo particular. Quer dizer, aaboligio daescravidao promove modificagSes nas regides agriias menos di- ‘nmicas economicamente, propiciando maior diversificagio social, no significa dizer que a alternativa historia & escravidio que vesse de ser, necessariamente, 0 capitalismo, através do trabalho do latfiindio e da coergio sobre o trabalho, bem como a garantia de permanéncia de um starus quo tradicional, define os interesses das oligarquias, sobretudo nordestinas, na articulagie politica do Estado republicano, no momento mesmo da compasicao da domi- zagio oligirquica, Mas ¢rigorosamente na Regio Centro-Sul que rormacao soci; 4 presenga do capital internacional no. oa : burguesa no Brasil. Analisamos a burguesa nas ideolo, S~ que ac : s acom| de formaséo e consolidagio do Estade bras do quadro jé citado de contradiog qWanto no nivel ni ne Com 0 capitalismo em expansio,!« Ta ol ‘’am, portanto, a nova arti ‘40 com o mund ; niall a sociedade brasileira fi XK pe sofreu em fins do sée i lo XIX, perme itindo jada na transigiog inhamente resenga da Panharam 9 ileito — com, s tanto No nivel da i © aproxima do “ iza¢o conservadora qu histéricos que m: Pmisianismo"; mas com vévios outros agperti farcam a sua diferenca, wosts esto deserves om Neder (19799) Capitulo I Justia “Universal” e ordem autoritaria “Direito é processo, dentro de processo historico: néo é uma coisa feita, perfeita e acabada; é aquele vir-a-ser que se enriquece nos movimentos de libertagio das classes e grupos ascendentes e que definha nas explorasies e opresiies que 0 contradizem, mas de cujas proprias contradicées brotanto as novas conquistas.” (Roberto Lyra Filho, 1982). 1. A HISTORIA E O DIREITO aproximagao entre Histéria e Direito deve tomar como A= adinamica de uma conjuntura histérica deter- nada, intercedida e intercedendo as transformag6es do a, tanto do ponto de vista do método hist6rico , a andlise das normas juridicas no acontecer so- cial deve privilegiar 0 proceso hist6rico, promovendo um recorte €m sua conjuntura a fim de viabilizar a anilise dos mecanismos: de estruturagio e de movimentagao destas normas. Em princfpio, acreditamos encontrar duas maneiras de encaminhar a questo da relagao entre a Hist6ri ircito qu politicas para 0 processo de com: tal como se referiu Marx (1971) quando afirma que esta cons- insticucional (politica) € no econdmica e ‘muito menos “ni Examinamos 0 momento em que. formagio social brasileira sofre um processo de transformagio burguesa. O avango da supre- ‘macia burguesa facilitou a realizacio de aliangas que envolveram ‘capital internacional eos setoresjé dominantes anteriormente A ean social aproximam-se mas doc 2 deta, pore Alo Esado,sobretao quanto 0 protecionismo alfandegitio, Tam socal, abdicando, portanto, de seu referencial maior, {que consagravao livre jogo da oferta eda procura, ddos mecanismos de funcionamento do mercado, Eat ericoscateineoleaea formag6es sociais europeias capitalists em expansio que detinham a hegemonia do mercado mundial. De forma alguma pensamos 1 transformagio burguesa ocorrida no Brasil como resultance de de produsio mudangas na superestrutura juridico-politica exclusivamente ‘¢, muito menos, que estas tivessem antecedido 3 prdpria pene tragio e afirmacio do modo de produio capitalista no Brasil Consideramos a articulagio das i século XIX, nos marcos da ideologia burguesa; entrctanto, nao {emos como pressuposto a predominincia do modo de produsio ni i amma ar a cxistincia do poder policy (como um “terceiro elemento’) ‘Ao empreende a anilise comparativa, comando outros social em varias formagées socials, obs as pressGes por um sistem aquelas do proprio prole com as de “homem para a emergéncia cidadéos, Dessa mane espago nas sociedades af as resistencias politicasse sociais dos individuos social tenderia a ter ivamente encontramo-nos rexom: a ‘das classes grupos socias e sobrepondo-se a clas. (GOMES, 1979, p. 36) Essas presses para a criagio da legislagio social seriam desenvolvidas preponderantemente pela classe operria. Em se- guida, lembra a necessidade de considerar, por exemplo, que as snade-unions americanas eriticaram algumas medidas de politica social nos EUA por julgarem uma intervengio indébita do Estado, ferindo a autonomia de organizagoes ¢ a liberdade individual do trabalhador ¢, ainda, que o movimento operitio alemao, pela sua orientagio marxista, através da social-democracia rejeitou também, alegislagio social. Portanto, liberal-individualista, em um caso € ‘uma posigio politica marsista, parcelas signifcaivas do movimento operitio americano e alemio irio denunciar rick —————— © © econdmico, em comparao con ‘uma dominagio particulanene (VELHO, 1976), ‘enquanto o foco das andlises sobre 0 até mesmo as anilises de cunho marxist da cilada de identificar a presenga atravessando de mané Neste caso, quaisquer alternativas nio rerio como se desfazer deste problema. Angela de Castro Gomes (1979) resalta como Orévio Velho do século XX. Por ser f magbes na sociedade de pensamento com o liveo que iso, a aurora enfatiza o processo de "modernizagao econdmici’, do qual faz parte a legislacio social, que, desencadeada através do Estado, ndo significa a ascensio da burguesia ao poder. Angela de Castro Gomes, mesmo preocupada em recortar a dinimica da atu- agio da burguesia no Rio de Janeiro, de forma a indicarasua plena consctuigéo enquanto classe nos anos 1910-1920 e atenta para a aos da Europa Oriental (russo ¢ alemio). Parece-nos que a referida “ambiguidade ~ com que o Estado aparece para Werneck Vianna = ‘uma énfase maior nas condigdeshistricas que permitiram iro. Tanto que, sem grandes prejuizos para fo todo da obra, 2s ideas de “via prussiana” e de “revolusio pelo ) sio tratadas & parte, néo somente porque estio num item fo texto, mas porque 0 raciocinio sobre sua rerawante essa que embora trabalhando expictamen asses, Werneck Vianna concebe Estado como ug ‘ado corportivo no Brasil ératado pel autora plsmente de uma dominagso de dase Jevada até as iiltimas consequencias, permitindo, 0 que é€ mais grave, uma possivel conclusio no sentido da inevitivel pre= ca do Estado e, por conseguinte, do autoritarismo para levar ic40 burguesa. Este € seu enfoque do problema do Estado & sua aruagio na ear jtarismo é recorrente em boa talismo autorititio” estabeleceu-se naqueles paises que na passa- i. Se da construgio material do mundy| dada realidade social. No caso lescortina como 0 “favor” ¢ a “via. -nte no paternalismo. A ideia de* aparece quase como sini so (pois 0 autor néo desenvolve a problemitica em: cagio pa bras © capt referee conurtura de 1946 1064, onde | — “Maderizacd conervadora ou "via psa? -minveismo eimagino secioligia no Basil | 53 sociedade brasileira deve ira Filho, pelo desmasca- “favor” e do "jeitinho”. ‘Também Wermeck Vianna (1976), em Liberalism e Sindicato no Brasil, estabelece uma interpretagio sobre o processo histérico brasileiro levando em conta presenca de conflitos na sociedade. As ‘suas conclusées, seguindo indicagées de Florestan Fernandes (1975), sobretudo no que se refere & emergéncia da ordem competitiva do ‘mercado possessivo, revelam como burguesa a Revoluio de 1930, que abriu caminho para a industralizagio sem a preva liquidagao dos agritios, isto é sem tocar na questio da propriedade da terra. [Neste sentido, encontram-se presentes nessa obra, aénfase da passa- a harmonia entre as classes, ao mesmo tempo em que serviam de poderoso instrumento para a acumulagio industrial. Neste sentido, assinalames a importincia dada por Werneck Vianna a0 ‘stabelecimento da legislagio social no Brasil, através da Jusiga do Trabalho, das Constituintes de 1934 € 1946 e das discuss6es, ‘em 1966, sobre 0 FGTS no Congresso Nacional. Ao afirmar 0 ‘cardter ndo hegeménico do capitalismo no Brasil, o autor recorta da concepgio neoliberal o elemento fundante deste capitalismo, que vem desembocar na presenga do Estado tutelar (através do Direito do Trabalho), com alta sensibilidade do sistema da ordem Gialene Neder r para que as anilises do wes de toms a sociedade brasileg critica do discurso Polltcy, idades do cays fo social bra SMO Se expres ideologia do favor”. O exerefcio de uy excludente de amplos story leira combina-se com o paternalismo que Ihe deologia do favor” € paternalismo constituen téricos que dao especificidade histérica ao aura. mascara a cru ‘componentes ritarismo no Brasil. ' ‘Articulando uma reflexio tedrica histrica concernente a0 campo das ideologias, Gisélio Cerqueira Filho procura dex trinchar a anélise da relagao entre sociedade e individuo, a partir do entrecruzamento dos conceitos de classe (Marx) e sistema do inconsciente (Freud). Destacando as metéforas e metonimias pre- sentes nos discursos dominantes, que tratam da “questéo social’, revela conflitos e contradigées ocultas pela insisténcia nos temasde {ntegracio social e de paternalismo~a “ideologia do favor” encobe a dureza do autoritarismo presente na estruturagao do capitalis mo no Brasil. Desse modo, todo o trabalho de pesquisa teéricat de A Questiéo Social no Brasil: critica do discurso politi a a explicitagio do que esté interdito, porque reprimidds cas por nds epontadas podem ser constatadas ne 80), Trata-se da tentativa recente de teorizagso s0bfe 9 io. Conforme a reflextio de Lins (1979): ede das "emocracies comptitvas", Nesta ina deraciodni, 28 ‘nmica do processo histérico ficarn subordinadas ao esquematismo tipologia apresentada, “Modernizaedo conservadora” ou “via prussiana’? 5 imaginagdo iolégicu no Brasil | 51 ‘nos pronunciamentos politicos. O mesmo autor se detém basica- mente nas falas dos ministros do Trabalho, contidas no Boletim do Ministévio do Trabalho. A observacao arguta dos lapsos,trocadilhos ¢ figuras de linguagem, néo s6 revela os sentimentos do discursante, como também demonstra que, na contradigio entre pensar, agic e-sentir,”? este tiltimo ocupa um papel muito importante, embora ainda pouco ressaltado, capaz de antecipar o agir dos individuos pertencentes a classes sociais historicamente situadas, pois o pensar nao reconhece como pertinentes os sentimentos e as emogées que nao ascendem ao consciente. Com base neste encaminhamento é possivel ao autor desnudar conflitos e contradigées mascarados pelas metiforas e metonimias organicistas ¢ biolégicas — feito as que se expressam pela utilizagao de vocibulos como fecundo, renasce, concebe, a, que podemos associar as relagbes (sexuais) entre capital e trabalho. convém perceber a énfase na linguagem organicista do tro Waldemar Falcio. Diz ele:'o organismo econdmico do pats como que se retempera ¢ renasce com essa nobre © sadia concepgio da missio governamental, penetrada de um seguro ¢ fecundo devoramento aos supremos interesses da patria. Temos novamente uma visio da “questio social’ [a relacéo entre Capital 0 Trabalho}, que nos remere as relagdes sexuais entre o homem ea mulher. O capital [macho] “fecunda” a Forga de Trabalho {fémea} numa relagio afeiva e ‘complementar que assegura a harmonia social ea integragio centre as classes. (CERQUEIRA FILHO, 1982, p. 200) Para além de um esforgo demonstrativo da presenga de conflitos ¢ contradigées (de classe), A Questo Social no Brasil: 1 (CERQUEIRA FILHO, 1962). Ver espacialmente 0 capitulo 1 “Por uma teria das ideo- logias”. contradigéo um papel fundamental, embora primeiros anos da Replica. ainda nesta necessidade de explicita primeiro, 0 porque de ‘xtarmos trabalhando com "via riticas (ccondmicas,socais,politicas e idcolégicas)precisamos| ‘substantivar nossa designacio. Iso porque ele no é um conccito {sto sua pripria presenga, © autoritarismo mio pode ser consl- derado um construto,conceito de carder heurstico, no interior "Moderiange conservedora” ou “ia presiana?- mimerisme ¢imayinar do veclicnr Bat | 47 nade pastage™ 20 cpa Fo ego histica que aetna de rao mama determinada corres def ee are soca poles, Pe sente, as especfcdadshisércas) do cya Se eee en inidade wn adds am Ene. a acerea da passagem para o capitalism no Brasil a partir da ideia de “via prussiana” ~ que se apresenta articulada ‘com formas de dominacio burguesa autoritiria ~ envolve um, dde clases, para o qual a essariamente a dindmica social Mais precisamente, propomos buscar as especifcidadeshistrica, a pantr da andlise comparativa, do processo de passigem para o ‘apitalismo no Brasil, ou sea, aja nomeada “via brasileira, nos ‘marcos merodolégicos que sugerimos. Esaremos, assim, enfrentando a questio do autoritrismo Dresente na formasio social brasileira, fazendo-se necesria uma avaliagio dasa insergo como temsticarecorrente na historiografia do Brasil. Lembramos ainda, que a precisio na andlise do autorta- Fismo,«,sobretudo, que o esorgo de critica historigrafa, deve egal iil ail a ee sociolgica ne Bast | 45, Parece-nos possivel o emprego da ideia de “via prussiana” para implantagéo do capitalism no Brasil aliangs da burguesia ial com 0s setores agririos (ondea burguesia cafeeira repre- ‘que, incapaz de se haver com o movims nesta alianga, abd mas politicas econdmicas mais do capitalismo. Por alianga arua no sentido de provocar ainda maior dependéncia dian- te do impcrialismo que, por si, jé desenvolve todo 0 mecanismo A transigio do trabalho escravo para 0 trabalho livre,’ apesardas mudangas ocorridas, nio alterou o forte controle sobre a forga de trabalho, que continuou sendo exercido nas fazendas. O de- senvolvimento do capitalismo nos centros urbanos nao exigivy deforma imediata, a alteragio deste quadro.£ esta situago que, dialeticamente, delineou o processo de constituigio do metcado de trabalho capitalista no Brasil. *TYabataros com esta tematica em nosa Disatato de Mesiaco em Canc Potten {QUPER),(NEDER, 19790) eT rT ‘exilim Bvt | 43, Contrariamente, 0 caso alemAo nio indica nem a presenga do campesinato como uma forga sociale politica significativa no ‘momento da unificago, nem a da burguesia como politicamente ‘movimento operirio. Tal hegemonia, apesar do consenso, no pode dspentar os aspects represivos, fortemente presenes a formagio social alemi, mesmo na “liberal” Repiiblica de Weimar. apresentava como uma forca sociale politica capaz de assumir a direglo da sociedade. E frequente na poe ps ‘ao analisar as dé- nente na formagio do mereadg corg Lukics (1972) ampliou 0 coneeito de “via prussiana? sianismo" empregado na andlise da penetragio do capitalismo ny a significar todo 0 conjunto de vari. Yeis presentes na implantagéo do capitalismo na Alemanha, acompanha a formagio do Estado Nacional but dos junkers neste processo é vista, de um lado, transformagio no campo ~ manutencéo dos la ha expropriagio do campesinato, de tributos senhoriais e, mercado mundial, mecaniza: técnicas de produgio — de o campo passa, com fiindios e violéncia permanéncia de certo ntimero dada a insergio da economia alema no isto do campo e emprego de novas nutto lado, detendo o controle do Es. va uma acumulacao prévia, em fins do século século XIX, pelo protecionismo, XVIII e inicio do Guerras de conquista (com saques) — tum mercado interno homogénco pel sobretudo, investindo n do século XIX), criando condi mo. Evidentemente, propiciando a formagio de leranca na unificagao ¢, lizagdo de base (j4 em meados ices para o desenvolvimento do ’ pressao da burguesia fazia-se sentit © desenvolvimento do capi de forma decisiva na constituigio ‘nha, que dispunha de um mercado Pouco capaz de absorver a produgao avia.a dependéncia dos mercados exter: do mercado interior na Alemai interno relativamente fraco, alema. Ao mesmo te ‘a nas décadas de 1870- "Modemizaydoconseradora cu “ia prussiana?- mimetsmo ¢ imaginasio sociolégica no Brasil | 4 processo de desenvolvimento do capital argumento, Desmontando tal mostra que o atraso no desenvolvimento do capitaismo ha néo foi o responsével pelo nazismo e que o eritéria da, temporalidade nao ésuficiente para explicar 0 “prussianismo”, sedi pelo auroritarismo presente na ascensio da burguesia ao poder. Lukes (1972), preocupado com a trajetéria do irracionalic, mo e seus efeitos sobre aascenséo do nazismo na Alemanha, retoma © papel contrarrevolucionério da burguesiaalema no processo de “transformagio burguesa’. A presenga de um proletariado numeroso ¢ politicamente organizado constitui um dado importante a ser considerado na configuracio da na Alemanha. O mesmo motiv te dominagio burguesa autoritéria 0, OU scja, a preocupagio com a ascensio do fascismo na Itilia levou Gramsci (1974) a repensar © processo histérico de ascensio da burguesia a0 poder com 0 “Ressurgimento” ¢ a trabalhar com as nogées de “revolugéo pas- » e/ou “revolucao-testauracao”. Acreditamos serem os casos italiano e alemao diferentes entre si, no que concerne & transicio Para o capitalismo, sobretudo no sul da Ieilia, onde a questo da penetracio do capitalismo no campo lhe dé contornos distintos em relagio ao alemio. Seguindo esta mesma orientacio, tratamos do caso brasileiro, ondea transi¢ao adquire contornos proprios a serem desnudados pela anilise histérica e nao: simplesmente pela aplicacao formal de um conceito, no caso o de “Via prussiana’ que iria, ee Proprio, fornecer ao analista os ingredientes presentes no processo histérico do Brasil. © caminho deve ser exatamente o inverso.° A lleitura do texto de Gramsci sobre a unificagio da Italia (j4 citado) demonstra que o setor da sociedade italiana que vai pro- mover diretamente a unificagio dos estados nao ¢ 0 mesmo que o rosso a DER, * Esto encaminhamento metodoligico pode ser recuperado em nosso artigo! jen re Vier (1987, 1982), em dois argos que scutem a tora mania dais ‘ora enfatiza es andlises de conjunturahistbrca como forma de combater os ‘modelos © formulas tio abusadamente empregades entre autores marisas, Hala visa proprio. = om toro das "vias" de passagem ao capo. Girlene Neder 38 smi no quadro de uma eco. ia ale! A propria ae de eat processo de construgio dy oa el oe intimamente ligado & internacionalizagig eae (0 processo de transigio se ine a i se fe para dentro, 0 que nao significa une dang ae caccamcanbvice alesoio © nett EC Coad lay do capitalismo se situam historicamente, de um lado, no préprio momento da ascensio da burguesia 20 poder na Alemanha, quando pelo menos na Europa Ocidental 0 capitalismo jé era 0 modo de te, De outro lado, ressalte-se que © pape lugio predominan alpen assumido pela mesma é fruto nao somente das condigées colocadas pela internacionalizag4o do capitalismo, mas também ~ este é o ponto fundamental ~ da impossibilidade da burguesia «sa com o proletariado, lo poder monopolizado pelos junkers. ~ iniciada através de carts, os 10 de capital, possibilitoy, \istrias, o aparecimento€ lo como uma forga articulada sociale fade Marx (1971) {uu rane tal senhon ‘a que © movimento operatio é capaz de ameagar a burguesia ¢ fazé-la recuar de seus propésitos liberals, escondendo & sombra da nobreza prussiana, Daf, a utilizagio de expressies como “revolugio abortada”, ou melhor, transformagié urguesa, a9 invés de revolugio burguesa. Ao usar pela primeira vez a expressio “via prussiana’, eft pene ee da Social Democracia na Primeira Revolu 1905 4 1907, v.1., Lénin (1980) da énfase a metodo io encom uma discuss mals ampliada om rela 00 “A Bust ‘Autor em outros pequenos textos de sua autora. *Modeieapto comer! ou "ia prusiana’?—mietiona¢imaginato | sociolégica no Brasil | 39 Jogia de Marx em relagio & luta de classes e avalia seus efeitos ra passagem para o capitalismo no campo russo. Com base em estudos anteriores (O Desenvolvimento do Capitalismo na Réssia), Lenin (1974) articula as transformagées na estructura agréria com a constituigdo do mercado interior, que envolve a expropriago do campesinato ea introdugio de formas de trabalho tipicamente capitalisca. A partir dai, atenta para as possibilidades hist6ricas e politicas da atuagio burguesa na agricultura ¢ suas implicagses para 0 caso russo, apresentando-Ihes tanto uma perspectiva que poderia desembocar na “Via pi com a manutengio das explorag6es senhoriais ¢ dos latifiindios, que se transformario lentamente de exploragées feudais em exploragdes 4 maneira dos (junkers {..J”. (LENIN, 1980, p. 44) Ou no programa agririo no qual deveria, para Lenin, estar centrado o programa da social democracia russa: a “via norte -americana” ~ em que a luta camponesa pela terra promoveria a destruigéo dos latifiindios. Esse caminho de ta evolugio significaria o desenvolvimento mais ripido das forgas produtivas, melhores condigoes de trabalho para a massa da populacio, o desenvolvimento mais rapido do capitalismo, transformando-se os camponeses livres em granjciros. (LENIN, 1980, p. 44, 45) Observamos que, para Lenin, “via prussiana’ se refere preponderantemente & forma pela qual o capitalismo penetra na agricultura que, articulada ao desenvolvimento do capitalismo na totalidade da formagéo social, significa a manutengio do do- minio dos setores agrérios, que sustentam a grande propriedade para a “modernizacio” do campo. Tal situagao afeta diretamente a constituigao do mercado de trabalho em relagio ao crescimento industrial. Como exemplo, temos os casos russo ¢ alemio que adotaram técnicas importadas, absorvendo relativamente pouca ; autoritarios que 4o do capitalismo em situagdes em que : to. Neste caso, promove uma imprime a este proceso “moderniza¢ ‘a ideia de uma “Revol shu efio-Restauragao a. ‘ 4 revives esas quesses tem exercido influencia na produgég das esta historiogedfica brasileira ¢ remetem-nos 8 discussio acerca da simportaio de idelas’, Neste ponto temios duns psides asin radas que aparecerao nos capitulos seguintes, a que merecem ‘um esclarecimento prévio. Primeiramente, abo damosa chamada importagio de ideias’ pela 6tica das influéncias", ou apropriagies do ideério presente em formagées sociais europelas que penetra nna sociedade brasileira, Isto implica a constatagao do processo de ideologizacio que acompanha a expansio burguesa em termos mnais, Esta expansio constitui-se em base material ¢ real internacio! y ie para a apropriacdo do idedrio europeu em formagves histbrico “sociais que integram o mercado mundial. Pressup6e-se, também a identificagao das contradig6es externas ¢ internas as formagoes hist6ricas especificamente consideradas que possibilitavam um movimento dialético de ajuste/desajuste das ideias relativamente Em segundo lugar, destacamos a presenca de certo mi 0, que secularmente perpassa a for- magio ideolégica e cultural da intelectualidade no Brasil. Se esta presenca fica pela argumentacao anterior de que fazem parte do proceso histérico de internacionalizacao do capitalismo, invalida uma apreciagao de sua capacidade teérico-analitica ‘clagiod sociedade brasileira. Portanto, o problema nao resi & formagao histérico-soc “Modernizagio conservadora” ou “via prussiana’?- mimetisma e imaginasdo sociolégica no Brasil | 37 suposto “exotismo” das ideias em contraposicao 4 autenticidade da cultura de uma dada sociedade, mas na pobreza analitica de certos encaminhamentos que por serem miméticos (liberais ou marxistas, ndo importa) nao conseguem produzir conhecimento original e criativo sobre a sociedade brasileira, Marx (1970), ao tratar da dominacdo burguesa na Alemanha eavaliar o fracasso da Revolucio Liberal de 1848, destaca o papel contrarrevoluciondrio assumido pela burguesia daquele pais; a0 efe- tivar aliangas “pelo alto”, trafa o carter popular dos movimentos de 1948. Dafa necessidade de retomarmos brevemente a historicidade do processo de construcio da ordem burguesa na Alemanha. Deste processo esté ausente a “revolugio burguesa”, sendo a “transforma- ao burguesa” o resultado de aliancas da burguesia com os setores previamente dominantes da formacio social — particularmente os jjunkers prussianos — que, através do Estado, lideram o processo de unificaco da Alemanha. A alianga da burguesia com o juskers acrescente-se 0 fato de a producéo alemé, tanto da indtistria que se desenvolvia no sudoeste ¢ no sudeste da Alemanha, quanto da propria produgao agraria, estar articulada com o mercado inter- nacional cuja hegemonia era britanica, Assim, a burguesia alema tinha como aliado o préprio capitalismo que se internacionalizava, configurando, além de uma transformacao burguesa “de cima para baixo”, uma transformacao que se efetivava também “de fora para dentro”. Tal observagéo nao significa, entretanto, como Barrington Moore (1973) faz crer, sobretudo no capitulo sobre o caso japonés (onde faz comparagées com o alemo), que haja autonomia da superestrutura juridico-politica,em relagao ao nivel econdmico; mesmo com a ressalva de que a determinagao do econdmico esté no nivel internacional e que a dominancia do “nivel politico” e “jdeoldgico” se encontra nas “formagées nacionais”, como faz Barrington Moore Jr. Observamos que o autor acaba por realizar a separacio da realidade social em “niveis”, quando © politico e o ideolégico face a base material da estrun 34 | itne Neder ¢ primeiro momento da luti'contra ico politica ¢ ideolégicg ia revoluciondria” de -as no de forgas sociais€ poll Antigo Regime. Neste sentido, aradica ancés — segundo Sob oder — configurou-se a partir de um boreza feudal, resistindo a revolucao, até mesmo de armas nas maos, no deixou & burguesia alternativg daalianca com os setores populares (basicamente 0 cam. a sans-culotterie). Diferentemente, 0 amadurecimento que levaram o modo de produgao feudal a desin- tegragéo na Inglaterra, vinha colocando a articulagao de novas formas de organizagio da produgo como uma alternativa que se ava acertos setores da prépria nobreza feudal inglesa, mais jana que se incorpora do processo ascensio da burguesia a0 p quadro histérico em que a nol quenaoa pesinato € das contradigées, apresen particularmente & pequena nobreza provi gentry (nova nobreza). O caso inglés possibilitou 0 “compromisso” entre a burguesia ¢ estes setores da soci jade inglesa. Quanto 4 nobreza feudal francesa, pelas especificidades da forma como se es- trururou o feudalismo e pela propria insergao da Franga no quadro do mercado mundial, nao lhe restava outra fonte de riqueza que io a cobranca de triburos de tipo feudal. Reside af o principal da maior resisténcia 4 revolucdo na Franga, empurrando a a a uma alianga com 0 campesinato e com o proletariado formagio, Contrariamente, na Inglaterra, a burguesia contou setores dominantes como aliados (nova nobreza), 0 que de- terminou em grande medida o referido “compromisso”: aspectos aristocriticos esto presents na organizagéo da “democracia par- Jamentar”britinica eo voto universal s6 ¢ conquistado no século “ela ae rt do movimento operdrio, tornando = ‘a a es oe burguesa” capaz de Bakara dintmics hives Gunes ee pls peo re pe os cara sfelo XVI, entre os tabalhadoresurbance nf fon ant ee a boa urbanos, niveis de organizagao € Preocupavam a burguesia inglesa (THOMPSON, “Modernizasao conservadora” ou “via prussiana™?- mimetismo ¢ imaginogdo socioligica no Bras | 35 1979b). Comparativamente, estes mesmos setores populares na Franga, apesar da radicalizagio jacobina, e mesmo do radicalismo do campesinato e da sans-culotterie, a delimitagio do campo de atuagdo politica e ideolégica apresentava-se mais indefinida social e politicamente do que na Inglaterra. A burguesia francesa, numa situago de alianca, nao sé teve de suportar setores populares (pelo. smo e pela sua presenca politica), quanto de vislumbrar dade de hegemonizar esta alianga. Reforga este nosso a poss argumento a afirmativa de Karl Mare: Em ambas as revolug6es, a burguesia era a classe que realmente encabecava 0 movimento. O proletariado as camadas da populacao urbana que nao pertenciam 4 burguesia ainda nao tinham quaisquer interesses separados dos da burguesia, ou ainda nao constituiam classes ou setores de classe com desenvolvimento independente. Por isso, onde enfrentavam a burguesia, como na Franga, em 1793 € 1794, luravam apenas pela realizacao dos interesses da burguesia nao 4 maneira burguesa. Todo o terrorismo francés nao passou de um procedimento plebeu para ajustar as contas com os inimigos da burguesia: 0 absolutismo, 0 feudalismo ¢ a pequena burguesia reaciondria. (MARX, 1970, p. 49) Os contetidos democraticos das chamadas democracias bur- guesas nao sao atributos “paturais” das burguesias inglesa e francesa; sio o resultado de uma correlagdo de forcas sociais ¢ politicas do momento da “tevolugao”, Trata-se de recuperar a historicidade do papel revoluciondrio que a burguesia exerceu na luta contra o Anti- go Regime na Inglaterra e na Franga everificar que a incorporagao destes atributos democraticos as propostas burguesas no bojo do processo de construcio de sua hegemonia, realmente ‘0s contornos de sua dominagao. a 32 | Gialene Neder inar 0 proceso de construgao da ordem burguesa, ‘Ao examin: 4o social brasileira, ressaltamos algy. 5 histéricas com © intuito de fixar, desde logo, mas especificidade' 9s pressupostos que orient Em primeiro lugat, hi am nossa an 4 que se considerar a propria forma pel | se processou a passagem ao capitalismo no Brasil, marcadg 1 no nivel da dindmica interna do processo rasileira, quanto pelas vinculag6es deste com o centro hegeménico do capitalismo. Ou seja, levamos em conta, preliminarmente, que a dinamica que atua sobre este proces. s0 histérico nao pode ser considerada fora da perspectiva que visa esta dupla contradi¢ao. A partir daf, temos delineadas as passagem ao capitalismo no Brasil, qual por contradigées tant histrico da sociedade b premissas de como pensamos a de tracos profundamente autoritarios. A presenga do autoritarismo acompanhando a transi¢ao ao capitalismo reflete as contradig6es, as aliangas de classes efetivadas ea correlagao de forgas sociais ¢ p icas;privilegia, sobretudo as classes (suas aliangas, movimentos e embates). Para uma primeira referéncia sobre esta questio tomamos por base o texto de Marx, “As lutas de classes em Franga”. Embora analisasse a conjuntura histérica de 1848, em Franca, Marx tinha como mira a formacao social alemé e a prépria conjuntura da Revolugao Liberal de 1848 na Alemanha. Neste texto, como em dois outros também de and- lise de conjuntura, “O 18 de Brumdrio de Luis Bonaparte” ea “A Guerra Civil em Franga”, Marx tratou da luta de classes e analisou a correlacao de forgas sociais ¢ politicas diante das perspectivas de | revolugao nas formacées sociais europeias em meados do século | =e MARX; ENGELS, 1970). Tal orientacao metodolégica tem sido invocada por muitos que escrevem acerca das formas pelas quais historicamente a burguesia ascendeu ao poder no perfodo de transi¢4o ao capitalismo. Encontramos também ProposigGes como a de Barrington Moore Jr. (1973), que trabalhando com textos de conjuntura de Marx, e com as categorias de andlise derivadas y soctotogica no Brasil a de seu pensamento, bem como as andlises de Lenin (1974) acerca do desenvolvimento do capitalismo na Russia, autonomiza de forma absoluta o poder politico ¢ as idéias (no que se distancia dos autores marxistas) quando estuda as “vias” de passagem para as sociedades modernas. Assim, ideias como a de “revolucao pelo alto” e “modernizagao conservadora” sao articuladas num traba- tho eclético que tem inspirado varias teses sobre o Brasil entre os cientistas sociais brasileiros. Barrington Moore Jr. tem influenciado trabalhos realizados, sobretudo, na P6s-Graduacao em Ciéncia Politica e em Sociologia do Instituto Universitario de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e na Pés-Graduagao em Antropologia do Museu Nacional, instituigées localizadas no Rio de Janeiro.’ A andlise comparativa possibilita o destaque das diferengas entre o quadro histérico que permitiu a formagao das “democracias burguesas” na Franga ¢ na Inglaterra, e outras “vias”, particular- mente a “via prussiana”.* Na Inglaterra e na Franga, os contetidos democraticos dos regimes burgueses que af se estabeleceram refletiam claramente 0 quadro histérico de ascensio da burguesia na época da “revolugao”. Ou seja, a burguesia foi primeiramente liberal e depois democra- tica. A incorporacdo de tais aspectos (democraticos) significou o resultado das aliancas que a burguesia teve, historicamente, que efetivar com as classes nao hegeménicas na luta contra o Antigo Regime; dai a “revolugio” da burguesia ao ascender ao poder. Lem- bramos ainda uma questao adicional: a incorporagao destes aspec- tos democraticos deve ser vista & luz de uma andlise da co: 2 Porhora citaremos dois trabalhos que julgamos relevantes porque representatives centros de produgao académica, acima mencionados, que, se ndo adotam ir te ‘a metodologia proposta por Barrington Moore, pelo menos se inspiram nela: (GO 1979; VELHO, 1976). a i q a + (SOBOUL, 1979). Neste lito, Soboul emprega a idola de “vias” de passagem na and oS Capitulo I “Modernizacao conservadora’ ou “via prussiana”? - mimetismo e imagina¢ao socioldgica no Brasil “Pensei no juizo que fardo de mim os literatos tan-tan-tan de nossos dias [...] sendo-se pobre como eu sou, sem dinheiro sem nome tradicional e por cimulo sem viver no caleanhar desse batalhao de mediocres que vive de elogios mituos [...]” (PEREIRA apud O PAIOL, 1936, p. 5) Ae construgao da ordem burguesa no Brasil se p modo singular, embora com varios dos com; ambém presentes em outros processos de capitalismo. Singular, porque toda experiéncia hi unica. Isto nado exclui, entretanto, a cacao de aspectos que se ligam, de um m histéricas similares. Cabe 4 andlise his aproximagoes e contrastes entre historicamente estabelecidas . " Desabafo do fabricadores mi

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