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Apalavra regiao torna os geégrafos prisioneiros de um proble- ma complex, pois tem sentidos variados. E uma palavra de uso corrente e, como as vezes ocorre com 0 discurso geografico, se exprime por metéforas, a exemplo da expressao “regiaio que traba- Tha”. Uma outra dificuldade decorre do fato de a palavra regiao assumir, freqiientemente, um cardter ideolégico, na medida em que serve de referéncia para a construgao de mistificagdes geograficas, tornando-se, por isso, um instrumento de manipulacao politica. A palavra regiao esta presente no conhecimento elaborado desde a Antigiiidade, caracterizado por inventarios e pela intimida- de entre 0 sagrado, 0 mitico e o real. Essa palavra aparece com des- taque nos estudos sobre as diferengas e os contrastes da superficie da Terra, que foi denominado, pelos gregos, de estudo corografico. Aos gregos podemos creditara primeira regionalizagao conce- bidacom algum método. Quem primeiro tragou um mapa-miindi e procedeu a uma regionalizagao da Terra foi Hecateu de Mileto (550-475 a.C.), divulgando a regionalizagao de Pitégoras, na qual da Terra corresponderiam a uma zona tor- as cinco zonas climaticas * Professora livre-docente do into de Geografia da Faculdade de Filo ‘Ciéncias Humanas da Universidade de Sao Paulo. en e, ainda, uma Zona tropical. Mas ¢ €.) que encontramos o marco inaugural srecortes no séio feitos a partir de para. ‘embora considerasse a geometria o funda. ‘mas sfio estabelecidos segundo a composi- mento da geografia século x11, que, seguin- ‘mundo de Ptolomeu, elaborada com parimetro no {endo procedido & descri¢ao de cada uma delas, ilustran- am mapa. Mas foi com Bernhard Varenius, no século mento cientifico moderno, inspirado na filosofia ilu- idealismo alemao, revolucionou a forma de analisare elaranatureza ea sociedade,O conhecimento geografico se a inspiragdo {com sua visio de mundo assentada na raziio e na expe- )— buscou a formulagdo de teorias e conceitos gerais ilitaram a construcao de generalizagoes e abstracoes. pectiva idealista questionando a razio infinita e 0 seus limites, valorizou-se o particular. dos estudos geogrificos, centrando-se, ora na anali- lenos da natureza, ora nos aspectos que interessam & geografia Seu.campo de conhecimento fundado na andllise PectOs fisicos e humanos da realidade. inentes ao estudo dos fendmenos nature nao buscava construir generalizagdes, da compreensao dos aspectos da vida que se consagraram os estudos regio manuteneao da unidade da disciplina, Foi com Paul Vidal de La Blache (1845-1918 dor do possivel, ou seja, das intimeras possibilida tem diante da vida, que a geografia regional aleam sero de compreender o tinico, mais do que indagar p to que o definisse. Por isso nao encontramos em La definigao de regiao. ‘Compartilhando a mesma visto de Friedtich Ratzel ‘cdo a visdo de homem e de natureza, como constituintes unidade, nao como opostos, afirmou que alsfntese regi objetivo tiltimo da tarefa do ge6grafo, o tinico terreno sob cle encontra a si mesmo’, O ponto de vista de La Blache regiao podia ser objetivamente distinguida na paisagem homens tém consciéncia da existéncia das regides & me constroem identidades regionais® Contudo, as monografias regionais acabaram. geografia que destacava 0 carter tinico de cada est sem preocupagéio com o estabelecimento de leis e prinef no conhecimento da realidade. Portanto, acabou comprom status cientifico da disciplina e conduzindo a um novo impa rico: a dicotomia entre geografia regional e g a ‘na qual a barbérie dos tempos moder. -Arevolugao técnica, comprometendo um dos prime. sgeogrificos, o de ecimenoe anectimeno, conduzin g sda natureza como coisa, como objeto manipulavel, Pen. ‘sar6 mundo'como um todo organico, como um organismo vivo, ceedew lugar a pensé-lo, mais e mais, como sendo uma estrutura inorgiinicae fundamentalmente mecanica. (O impasse da dicotomia da geografia, como ciéncia voltada ‘para os estudos gerais ou uma ciéncia dirigida a estudos particula- es, ouseja, como uma ciéncia nomotética ou ideogrifica, foi obje- 0 de reflexao de Alfred Hettner, cujo pensamento buscava um retomno a Kant. Para ele, a geografia no era nem uma ciéncia nomotética nem idiografica. Era ambas. Buscando responder 4 questao de qual seria a esséncia da geografia, Hettner consideron que a esséncia estaria no estudo das diferenciacdes da superficie terestre. Assim, afirmou a vertente corol6gica da disciplina geo- grafica, ou seja, o estudo regional Hettner e La Blache afirmam o estudo regional, porém com oncepedes de regio diametralmente opostas. Enquanto para La Blache a regiiio se evidencia na paisagem, para Hettner ela no € auito-evidente. Os limites regionais so provenientes de um exerci- cio intelectual, uma construcao intelectual do pesquisador. Dentre as influéncias de Hettner cabe destacar 0 pensamento de Richard Hartshorne, que considera que a anélise geografica deve se voltar para o entendimento da diferenciagao das 4reas da Superficie terrestre. Para Hartshorne, no existe um objeto particu- Jar &iéncia geografica nem tampouco fendmenos particulares A ‘Seogratia, sendo de interesse da ciéncia geogrifica todos os fend- menos que tém uma dimensao espacial, Hartshorne considera que €na apreensao das inter-relacdes entre os fendmenos que a diver- Sidade da superficie terrestre & produzida! Para ele, os marcos di SOflos entre as resides decorrem das descontinuidades produzidas dando o grau de integracio dos fendmenos é pequeno, podendo haver até mesmo uma regio descontinua A critica a Hartshorne e a todos os geégrafos influenciados Palo ncokantismo foi desenvolvida, sobretudo, pelos gedgrafos em relagdo a linguagem, mas: constituindo no principal do positivismo légico. | Essa geografia de posi: io de toda idéia de processo, de deragdo dos marcos sociais em que: Premissas claras, limitadas e precisas, ‘nos procedimentos de investigac0, € 01 Proposto & realidade figurada eram garantir a demonstrabilidade das teorias| belecer projegdes futuras. tirde teorias, formulando hipétesese, vagio, esta passou a se situar no final, Encaminhamento completamente: Por intermédio dos modelos. zaco do espago. A possibilidade: prognésticos torna-se entao factiy to, desvendar a ordem subjacente aproximou a geografia do p ‘veu-se uma intima relagdo decorrénciala regido se tomou um instru- ‘apartir do qual se procurou organizar deserigdo geogrificarevesti-se de novo signiti- sou a set relacionada a classificagao entendida como, aie de objetos em classes segundo semelhangas. Como cia, desenvolveul-se a relagao entre regido e classe, ja fuequilquer descrgdo remetenecessidade Je ua deter eecmparaseefetivr. A regido se colocou, assim como uma clase Se ada cortaet. Nesse sentido regionalzar asignificarclassificarregies. MAvelha questaodo determinismo geogrficoressurgiv, nfo ten- do mais como base a discussio da relaga0 homem meio, mas a da telagio entre varidveis. O determinismo apareceu como determinis- ‘mo de uma varidvel independente sobre as dependentes, ou seja, ‘numa versio matematica. Porisso, esse procedimento acabou sendo feconhecido comoa face cientifica do determinismo geogritico ‘Na andlise regional, utilizou-se da teoria geral dos sistemas tentandoresolver varias questoes, como a delimitacao funcional da regio, adefinigao da escala regional e a coeso do contetidoregio- nal, Menosimportante era reconhecer ou determinar as regides his- toricamente definidas; mais relevante era classificar as regides, hhierarquizé-las e verificar suas relagées funcionais. Na linguagem geogrifica, se vulgarizou a expressiio subespaco para se referit & Tegiao. Os questionamentos tedricos da geografia passaram muitas yezes ase situar como modelos. A discuss comegou a ser a dos ‘modelos. Nessa forma,jos impasses ¢ os problemas advindos dos procedimentos na andlise geogrifica e na anilise regional eram creditados’ imperfeicao das técnicas e dos modelos de anélise. __ Acima de tudo, essa perspectiva geogréfica se defini como ciéneia do espacial,O interesse pelas particularidades colocou-se em Gltimo plano, interessando mais as regularidades espaciais Mas 0 reino do espacial foi abalado pela critica de que nao hi pro~ {5505 espaciais sem um conteiido social e nao hd causas e proces- ‘Sos puramente espaciais, Cada ver. mais comecou a se desenvolver ‘easeafirmaraidéia de que o espago é uma construgao social ¢ que As riticas & infl avolumaram ea busead tuaram a preocupagao como: ram construgio de novos param nova geografia regional se idéia prévia que se tenha da natureza do: Acredita que toda disciplina deve qu 0 objeto de sua investigacao cientifica af como possibilidade de viver a experién simultaneamente pens4-la de forma ra para o fato de que é porintermédio do vi em contato com 0 mundo dos objetos exte compreensio racional do vivide, com su tante do mundo objetivo ¢ absirato da ei dos objetos tal como eles se Portanto, por meio do pereebido é que o home ‘A consideragiio da percepeao advinda das tida como uma ctapa metodolégiea important na andlise geografica pode serconsi da fenomenologia na geografia i de qualquer objetivacao cient engajada, negagao de qualquerit saltar que a realidade social tem’ «x, afimou aimportancia daestética e do imaginério, dizendo que Geveriamserlevadosemcontanaanilise geogréfica, Com uma visio antropocéntrica do mundo e uma recuperagio do humanismo,a geografia sob inspiragdo fenomenolégica incor- porou esaentou a dimensio dos valores sociais ¢ culturais, bem ee ynoa valorizagao da hist6ria e do mundo vivido. Aspectos a que a geogratia, no século XIX, sob a influéncia do romantismo, ja havi chamado a atengao e que estavam sendo resgatados de um ponto de vista humanistico. espago, devidoasuadimen réncia central, que passou a ser o espago vivido, aquele que é cons- trufdoa partir da percepgio das pessoas. Espaco vivido e, mais do ue isso, interpretado pelos individuos, Igualmente, espago vivido comorevelador das priticas sociais. Considerando os objetos como fenémenos e como esses obje- tosaparecem naconsciéncia, oenfoque regional comegou a desen- volver novos temas. A discussao de como o espaco é pereebido e znificados e valores modelados pela cultura e pela ‘dos ao espago passaram a ser anali Jo abstrata, deixou de sera refe- quais sto os estrutura social que so atrib sados com.o objetivo de compreender o sentimento que os homens tém ¢e pertencer a uma regio, Assim, procurou-se apreender os lagosafetivos que criam uma identidade regional. A identidade dos homens com aregidio se tornou ento um problema central na geo- grafia regional de inspiraco fenomenoldgica. Recuperou-se a vertente historicista da geografia, & medida que aregido passou a ser considerada como um produto da hist6ria eda cultura, Por meio de indugdes sucessivas, procurou-se com- preender como se constitul osentimento que os homens ter de pet tence: a uma determinada regio, Sentimento que emana do inte- riore do fntimo das pessoas. A regitio, portanto, comecou.a ser vista ‘comonaio constituindo uma realidade objetiva, pelo contrario, ela foi concebida como construigio mental, individual, mas também submetida a subjetividade coletiva de um grupo social, por assim dizer, inscritana consciéneia coletiva. Aandlise regional procurou superar investigagdo da dinami- ‘ea econOmica ou da estrutura social da regio, tentanto compreen- 194 tos que constituema regional eo terceiro interes cional daregiao como: doas imagens mentais que vivido. 3 Embora a incorporagio do: para a compreensdo do espago, ‘volvimento desses aspectos reve terde se confrontar com 0 positi socialmente reconhecido diante de su: intervenedo na realidade. O segundo desenvolvido uma metodologia consist tituindo na sua maior fraqueza, O sociais, negligenciando os aspectos entre geografiahumanae geogratia rejeitar os vinculos com as ciéncias Embora a geografia de influéneia conhecido a critica de ser um pei lugares a partir dos seus significados ¢ trouxe a luzaspectos importantes para aang em cena.a discussio do percebido.e do Aperspectivamarxistana geogt que buscavam desvendarag série de estudos sobre a propria Jogico quanto ao fto de regio nfo seconstiuir numa categoria Iaeanailee maraisia, Concebendo o espaco como um produto social, chamou a atengio para o fato de que a geografiahavia pro- arado ver mais os padres espaciais emenos a pertinéncla de tas, padrBes. Questionou o fato dea geografia se preocupar em Perguny Pit como os processos se dio, afirmando que, além dos esforgos paradesvendaro“como” eoporgué” dos processos, deveria tam) Peminvestigar osinteresses sociais envolvidos nos processos rela- ionados & produgao do espaco. ie ’A perspectiva geogrifica influenciada pelo marxismo, sem thante a outras correntes do pensamento geostifico, concebeu a resiao como parte de uma totalidade. A diferenca agora residia no fatode que essa totalidade no era mais concebida nem como uma {otalidade organica ou l6gica, nem como uma totalidade harméni fn, Foi concebida como uma totalidade hist6rica, Estava visfvel que essa nfo se constitufa numa totalidade harmdnica porque a preocupacio, naquele momento, em denunciar as injustigas e as Aesigualdades sociais do capitalismo revelava os limites da com- preensiodo mundo como um todo harménico. O mundo era peree- bido como uma totalidade no-harménica, como um conjunto dis junto fazendo emergir como nogao necessaria para a andlise a nogio de diferenca que se tornou central na conduc das andlises eogréficas. Por isso que nas discussées da desenvolvimento desigual e combinado e do subdlesenvolvimento foram privilegiados como investigacao. Umdos aspectos mais positivos da incorporagio do marxismo em relagio a tematica regional foi a critica i fetichizacio do espa 60, Essa abordagem também apontou para o quanto a reconstitui- Gfiohist6rica pode ser reveladora para a compreensao da regido em estudo, Em muitas andlises, a regido passou a ser vista como pro- duto de uma divisio territorial do trabalho, tendo como referéncia ‘o processo geral de produgdo capitalista. Isso acabou repercutindo emanalises regionais nas quais as regides apareciam como deriva- goes de processos gerais e, em muitos casos, as caracterfsticas internase particulares regido foram colocadas em segundo plano. 196 geografia os temas do ‘Também houve, in exploragao capil rmullagio de que haveria ‘mecanicamente transposta ial, se traduziu no entendimer Zido novas categorias de andlise grafia, que emergiu na erftica (des)caminhos do desenvolvimento dificuldades para se desenvolver nos transparéncia de sua perspectiva politica, ria das vezes, gratuitamente eriticada socialistas. Isso porque, por oportunism (des)caminhos fizeram confundir propositi politicas de um mundo socialista coma p radi nado ainda mais distantes de se transfc A par dessas transformagoes, a desconcer transfigurou e criou as condigdes em que moderno se afirmou. Pensamento que € 0} caracterizar ¢ facil de reconhecer.> O pensamento pos-moderno quest dos modernistas que, assentados na ra fa o desenvolyimento de uma ciénei as irracionalidades do mito, da reli dernistas que procuraram desen natureza e os projetos de org Homens que acreditavam no’ infinita da razio paraacons 198 emergéncia do pensamento p6s-modemno, a crenga nas olutas foi minada, bem como a negagio de qualquer fundada na concepgio de totalidadee em discursos uni- i Miigiliates:Atnfese dada foi no heterogéneo, na diferengae na des- continuidade, Incorporou-se a dimensao da subjetividade e valori- zaram-se as ilusGes, procurando reaver a tradigio cultural ‘comprometida pela homogeneizagao ¢ universalizagio encontra- das na modernidde. O pensamento p6s-moderno criticou a énfase dadapelo marxismo A andlise das relagdes sociais de producaoe das classes sociais e mostrou os limites das andlises do pensamento modermo que, preocupado com os processos homogeneizadores do Capital, desprezaram aspectos importantes para se compreender a sociedade atual, como 0 racismo e 0 feminismo. Importante ressa discussao é observar que o pensamento pés- moderno nao rejeita ahist6ria, mas recuperaumahist6ria como tra- io cultural. Essa compreensdo da hist6ria conduziu as anélises que a reduziram a uma representacdo das mentalidades e dos cos- tumes. Buscando um sentido estético das formas, valorizou-se 0 aparente fazenda com que aestética se apresentasse comoum novo e valorizado mito da sociedade. Segundo Lefebvre, na sociedade ‘tual, que € ao mesmo tempo conjunta ¢ disjunta, associada e dis- sociada, os fragmentos funcionais do espaco so unificados pelo estetismo, com sua doutrina baseada no estudo racional do belo, ‘capaz de amalgamar os fragmentos espaciais. O pés-modernismo revelou novas dimensoes da realidade colocando em relevo o espago e propondo uma nova forma de apreender a relagio espago-tempo, na qual o espaco se coloca sobredeterminante em relagdo ao tempo, possibilitando a énfasena espacialidade, e nao na historicidade. Tal redimensionamento da relacdo espago-tempo, por ter suas raizes na critica a0 historicismo, passou a ser referido como p6s- historicismo. Longe do que possa parecer, pés-historicismo nao nega a hist6ria. O p6s-historicismo procurou superar o historicis- ‘mo, no sentido de superar a énfase no tempo, mas no propos a negagao da historia. Renovou o conhecimento e a propria geogra- fia. A andlise regional foi valorizada, na medida em que se procura dar énfase a0 | Todavia, tividade e a fuga as cair facilmente numa: Além desses aspectos, ap globais e a obsessao pela duzir a uma geografia regional ‘mentadora da realidade, na qual ar auténomo, bastante diferente da pendéncia das partes de um todo. da nogdo de homogeneizagio e pendo.acompreensao darealidade, ta como um conjunto disjunto, ‘A busca pornovos caminhosde momento em que o lugar, o regional eo; diante da recente reestruturagao do cap 0 proceso de globalizagao essa. tionamento da pertinéneia da escalat o esclarecimento de sua relevaneia anélise que se situa entre o local eo, Evidentemente, o que nose: de regido nos moldes classicos. O pro de significar aniquilamento da’ do e também diferenciagao regional. jonalistas emergem como forgal processo de globalizagao procura todo 0 espago. © movimento regi do se fechar em sua particu totalmente inverso de outrora, nal era afirmar a identidade: mento de pertencer a uma sobadiregaodo Estado, de outros tempos: 0 nacional num contexto em que o nacional, que se dilui no bojo do ‘processo de globalizacao, nega o regional, CONCLUSAO De maneira geral, podemos dizer que no desenvolvimento do pensamento geogrifico ha dois grandes marcos de interpretagao ficerca do objeto da geografia, O primeiro entende que a geografia festuda a relagio do homem com 0 meio e o segundo a concebe como um campo de conhecimento particular voltado para o estudo das diferenciagSes das reas. Essas duas orientagbes gerais impli- ‘eam concepetes diferentes de regiao. Na primeira perspectiva, referida, muitas vezes, como ambientalista, a regiio existe em si mesma, ouseja, ela é auto-evidente e cabe ao pesquisador reconhe- c&lapormeiode anilises. A regio, portanto, se coloca como obje- to de estudo a priori. No segundo caso, a regio nao existe por si mesma, elando € objeto de estudo no sentido restrito do termo, pois cela se conforma no final do processo de investigacio, processoesse {que constr6i orecorte espacial por meio de elaboragio de critérios definidos no processo de investigacio. O interessante é que nesses dois grandes marcos tedricos o enfoque regional se apresenta como a possibilidade de realizar a unidade da geografia decorrente da faldcia crescente entre geogra- fia fisica e huriana. Na perspectiva ambientalista, os aspectos que interessam & natureza e A sociedade s4o reunidos no estudo regi nal e € por meio dele que a geografia se coloca como uma ciéneia de sfntese. Na perspectiva corolégica, as diferenciagdes das dreas sfo vistas pela inter-relagdo de fendmenos fisicos e naturais © a geografia toma sentido e mantém sua unidade por meio do estudo corol6gico. No primeiro caso, em que a regio ¢ auto-evidente e conside radaum objeto a priori, os recortes espaciais, ou seja, as regionali Zag6es, também so auto-evidentes ¢ a pesquisa deve reveli-las Teconhecendo seu determinismo. Nesse caso, 0 espaco é concebi do como um mosaico de regides determinadas. No segundo caso, as regionalizagbes que 0 pesquisador sele processo de invest 0 Analisando de um 0 perceber que © procedimento variadas. Primeiramente, as a administragdo territorial ep foi o mais relevante para a percepedio de que a natureza nao: rio econdmico e em outros crite exemplo, podemos mencionar a espaco vivido e a compreensao dai divisio territorial do trabalho, E importante deixar bem claro nogio de regido no sfo falsas nem de uma perspectiva metafisica é que} verdades absolutas, eternas e definitiv de forma absoluta, determinadas somente de uma perspectiva abstrata rectiminar, em absoluto, as correntes d desenvolvimento da geografia region cortentes fosse inteiramente falsa ou) Diante da demonstragao de p curamos desenvolver, ou sejay di ser reveladora.aandlise regional, Por que o tema regidio parece: a geografia regional estaria fora de} Dada essa aparéncia, a regio neo. Contudo, trata-se apen: i h | dessa homogeneidade emergem as diferengas, eujo exemplo maig -agudo sio os regionalismos que surgem como forga politica Um outro aspecto € que a nogdo de regido, até recentemente, estava bastante vinculada a de planejamento e, como houve um; desmontagem dos planos de desenvolvimento regional, associou, Se um descrédito a nogiio de regio. Nesse caso, houve confusig entre a instrumentalizagao da nocd de regiao com a nog em s} mesma, Como categoria de andlise geogratica, a0 se colocar como Instrumento para a elaboragio desses planos e na medida em que esses planos se tomaram desacreditados, por decorréncia, aregiao iderada, Em outras palavras, o des- strumentalizacio da nogao de r transferiu, como fruto de uma impropriedade te ‘ica, para a propria nocdo. Emterceiro lugar, amultiplicidade de estudos regionais quese Fepetiam tornouo estudo regional uma monotonia, salvo pelo obje- tode investigacao que se deslocava, numa repetigdo enfadonha de formulacdes te6ricas e metodolégicas banalizadas, chegando a se transformar em estudos sem criatividade, muito embora tenham méritos cientificos. Por iiltimo, e 0 que nos parece mais relevante, a discussio a Fespeito danocao de regio coloca, claramente,aquestio da unida- de da disciplina geogréfica. Nada ha que nao seja heranca, ou seja, Produto histérico de determinadas condicdes sociais. Jé nao se tra- tamais de perguntar, outra vez, se a geografia é uma eiéncia, mas derenovaraperguntade como se determinaasuaunidade.Convém Jembrar que, em grande parte, as questoes da crise e da sua unida- de como cigncia ressurgiram no momento em que a geografia foi colocada como umaciéncia social. O que foi esquecidoé queageo- grafia, embora se constitua num conhecimento que se coloca no Ambito da ciéncia social, difere da teoria social, na medida em que considera os aspectos da natureza para a construgao da compreen- siio da realidade. A geogratia regional vista como ciéncia social, sem atentar Para sua especificidade que incorpora a dimensao da natureza, acabou sendo negada como forma de se esquivar ao problema da rica e metodol6- 202 sii francamente politica que nao; disciplina, nio, a emancipagao da geografia, prision significou 0 abandono e a desconsideragio \Ges te6ricas que agora se recolocam para aci Apesar dessas di fi perda de importancia da geografia regional, o€ constitui num dos campos mais importantes par conhecimento geogrfico, A nogio de regifio e reconhecimento por estar inserida nos estudos disputada pelas mais diversas disciplinas. Tanto qué a escola ou universidade, onde esteja presente uma geogrifica, em que nao existam disciplinas voltadas} regional, mesmo como um complemento inter emos aqui a posi¢o de que embora a temitica da interdisciplinar, a geografia regional constitui um ean nar particular da geografi Imbufdos dessas preocupagdies é que nos moti ‘trelacao entre regio e geografia, tecendo algumas. que contribuem para a compreensio do desenval grafia regional. Em nossa opiniao, € no desenvolvimel de uma disciplina que se constréi sua teoria, Esse pono Permitiu revelar que desde a preocupagao dade hd uma continuidade na formagao dem ‘S0es do conhecimento geogrifico cominter A nogao de regiao € relevante para a com cial ese constitui numacategoriad fia. Como outras nogdes préprias dageo dade de revitalizar e renovar o pens Marcio Guimaraes de Aratijo Capa Antonio Kebl ‘Dados internacionais de Catalogagio na punctate (Camara Brasi Novos caminhos da geogral Corganizadora). ~ Sto Paulo: Contexto, 2002, ~ (Caminhos da Geografia). Varios autores. ISBN 85-7214-106.9 1. Geogratia. 2. Ged Estudo ensino, 3. Geografia ~ Pesquisa, 1 Carlos, Ana lessandr. I. Série cpp-9107 Indices para citilogo sistematico: 1. Geograia: Pesquisa 910.7

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