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Funções atencionais, abordando os seus subtipos e citando instrumentos

técnicos que podem ser utilizados para avaliação e reabilitação.

A interação do indivíduo com o meio natural e social ocorre através do Sistema


Nervoso Central por meio da sensação e da percepção, que são fundamentais
para a formação do conhecimento construído pelo ser humano, sempre
utilizando seus órgãos sensoriais. Logo, o indivíduo está continuamente
recebendo, analisando, armazenando e respondendo ao ambiente a partir das
informações sensoriais recebidas, processadas, decodificadas (sensação) e
investindo-as de significado (percepção) a partir de seu histórico pessoal e
vivências experimentadas.
Todo esse processo sensorial e perceptivo demandará de cada indivíduo uma
função complexa denominada atenção, que pode ser compreendida como a
“habilidade que possuímos de selecionar dentre todos os estímulos ao redor,
sejam eles externos ou internos, quais deverão ser considerados para que
alcancemos ou nos preservemos em determinado objetivo por um tempo ou
período específico”.
A atenção é composta por diferentes aspectos que serão detalhados a seguir.

ESTADO DE ALERTA
Um aspecto do funcionamento cerebral a ser considerado quando falamos sobre
os mecanismos da atenção, é o estado de alerta, ou nível de vigilância, ou
nível de alerta em que o cérebro se encontra em um determinado momento.
É preciso que o indivíduo tenha um nível adequado de vigilância para que o
cérebro seja capaz de preservar a atenção a um determinado estímulo, focando-
se na especificidade do objeto de conhecimento, naquilo que considerar
importante, por meio de diferentes modalidades sensoriais.
Há no cérebro um sistema funcional para regular os níveis de vigilância que
envolve a ativação das áreas do tronco encefálico, tálamo e diencéfalo. Esse
sistema possui um circuito composto por um grupamento de neurônios, que por
sua coloração azulada recebe o nome de locus ceruleus (local azul) e está
localizado no mesencéfalo (tronco encefálico). Os neurônios do locus ceruleus
são responsáveis pela produção de um neurotransmissor denominado
noradrenalina, importante (mas não único neurotransmissor envolvido na
atenção) para a regulação do estado de alerta no organismo.
O estado de alerta permite que se dê início à recepção de estímulos provenientes
dos órgãos sensoriais, por exemplo, quando um médico chega próximo ao
paciente e toca seu pé, dormindo ou acordado, respondendo por atenção reflexa
ao estímulo periférico. Já a atenção voluntária é controlada por aspectos centrais
do processamento cerebral ocorre, por exemplo, quando estou à procura de um
determinado objeto dentre tantos num espaço delimitado. Portanto, “são as
projeções do sistema ativador reticular ascendente (SARA) que possibilitam a
ativação cortical, a manutenção do alerta/vigília e a escolha das repostas
comportamentais.

VELOCIDADE DO PROCESSAMENTO
A velocidade do processamento corresponde ao tempo de reação do indivíduo
após estímulo dado e é medida por testes específicos como FAS (Fluência
Verbal Fonêmica em adultos), TFV (Fluência Verbal para crianças, inclusos
fluência verbal livre, fonêmica e semântica).
Esse tempo tende a aumentar conforme a complexidade da tarefa a ser
executada e alterações ou desvios em seus resultados são encontradas em
pessoas vitimadas por TCE, esclerose múltipla, demências e depressão.

AMPLITUDE ATENCIONAL
Amplitude ou span atencional corresponde a capacidade de armazenar
informações por um curto espaço de tempo, sendo descartada quando não mais
necessito dessa informação, o que a diferencia de memória.
A amplitude atencional pode ser medida em testes como: Dígitos ordem direta e
indireta (WISC/WAIS), span visual direto (WMS) e repetição de sentenças (Mini
Exame do Estado Mental/MEEM).
Alterações nesse processo são observadas em maior número a pessoas
acometidas por: insultos que ocasionaram prejuízos do hemisfério direito, do que
as acometidas por prejuízos no hemisfério esquerdo cerebral; com longa
exposição a solventes industriais, demências em estágio inicial e moderado,
TCE, AVC com alterações das áreas visuais, lesões do hemisfério direito,
lobotomia temporal direita, lesões do lobo frontal, DA.

ATENÇÃO SUSTENTADA

Atenção sustentada ou concentração corresponde a capacidade de focar e


preservar o foco por período prolongado, com padrão de persistência.
Testes como Soma ou subtração em série, desenhos alternados, Teste
Trilhas/Trail Making Test A e Continuous Performance podem ser utilizados em
sua avaliação.

ATENÇÃO SELETIVA
Corresponde a capacidade de inibir distratores e focar num estímulo específico
e importante para o momento. A atenção seletiva também necessita de
flexibilidade.
Três estruturas estão relacionadas ao mecanismo da atenção seletiva: córtex
parietal superior (representação espacial exterior), córtex pré motor lateral
(orientação e movimentos de exploração) e giro do cíngulo anterior (associado a
monitoração da resposta).

A seleção de estímulos é relevante para que nosso cérebro não seja orientado
a responder a todos os estímulos que se apresentarem no campo visual e/ou
auditivo.
São utilizados para avaliação da atenção seletiva testes como: Escuta dicótica,
Teste de cancelamento, Teste D2.

ATENÇÃO DIVIDIDA

A atenção dividida é a habilidade de desempenhar duas ou mais atividades


simultaneamente, focando em estímulos distintos desde que umas das
atividades seja cumprida de modo automatizado.
As áreas cerebrais envolvidas nesse processo são: córtex parietal anterior,
córtex pré-frontal e tálamo.
Alterações na atenção dividida são provocadas por lesões de lobo frontal,
Doença de Huntington, demências, TCE, usuários de drogas, entre outras.
Testes utilizados para avaliação Trilhas B/Trail Making B.

CONTROLE MENTAL
Controle mental corresponde a preservar mentalmente determinada informação
enquanto se aplica outra operação mental. Está fortemente ligado a Funções
Executivas, e relaciona-se à memória de trabalho ou memória operacional.
Envolve as áreas de córtex dorso lateral pré-frontal direito e esquerdo, sendo
estas memória operacional espacial e memória operacional verbal,
respectivamente.
Processos de demência, lesões no lobo frontal, lobotomia, TEC, prejuízo
hemisférico à esquerda, entre outros, promovem comprometimentos nessa
função que poderá ser avaliada pelos testes: Dígitos em ordem inversa
(WISC/WAIS), Sequência de números e letras (WAIS), Span visual em ordem
inversa (WMS), cálculos mentais, soletrar em ordem inversa.

ATENÇÃO ALTERNADA
Atenção alternada corresponde a capacidade de alternar entre um estímulo e
outro, sucessivamente, correlaciona-se com a flexibilidade mental e pode ser
medida através do Teste de Cartas Sortidas de Wisconsin.

CONTROLE INIBITÓRIO
Controle inibitório é a capacidade de o indivíduo determinar a relevância de um
estímulo e inibir outros que lhe sejam concorrentes, ou de pronunciar respostas
automáticas.
É uma função realizada pelo córtex pré-frontal e pode ser medido através de
testes como Stroop e Hayling.

REABILITAÇÃO COGNITIVA

A Reabilitação Cognitiva consiste num “conjunto complexo de procedimentos e


técnicas aplicadas, buscando melhorar a qualidade funcional do paciente em
seu cotidiano”. Seu objetivo é desenvolver recursos que auxiliem o paciente a
construir estratégias para a vida prática.
No processo de reabilitação, estímulos diferenciados são fornecidos para que o
cérebro se reequilibre e ocorra a reorganização da circuitaria cerebral tendo
como recursos a repetição, o ensaio, estratégias e pistas.
Pode ser de abordagem remediativa (restaura capacidades cognitivas),
adaptativa (compensa os prejuízos cognitivos) ou mista.
Na Reabilitação cognitiva de abordagem remediativa o “treino cognitivo
prioriza restaurar as capacidades cognitivas por meio da prática, exercício e
simulação”. Seu grande desafio é transferir as estratégias aprendidas e
atitudes desenvolvidas para o uso cotidiano do paciente.
Na Reabilitação cognitiva de abordagem adaptativa “considera-se as
capacidades intactas do paciente para se criar métodos compensatórios em
relação aos prejuízos”. Nesse caso, serão também usados recursos externos
como auxilio, ensaio, visualização, elaboração semântica.

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