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A primeira destas perguntas ~ 0 prego da alforria ~ mostra que esta sagem, como se disse, nio & possivel para todos, sendo Aqueles que, decorréneia de algum tipo de atvidade especifica ou de condigbes is favorfveis de trahalho eseravo, de verdadeiras “brechas na escravi- 0, conseguito economizar algum ganho e comprar de seu senhor a $a Hberdade; ou, hd casos, mesmo aliberdade de outros", Ou ent, in ainda os casos em que uma irmandade de negros ou pardos com= ys aalforria de certo escravo (¢, também nestes casos, aalorria no se Jorece a todos, mas somente aos escravos mais bem relacionados, mais 10 posicionados no proprio grupo de escravos). Podia-se dar, ainda, ie © negro escravo comprasse a sua liberdade a pequenas partidas, & juncira de prestagies, o que era conhecido como sistema de “quarta- Junio”, Nesies casos, o deslocamento da diferenga escrava a desigualda Jiberta ~ ou melhor, & desigualdade forra —dava-se de modo geral a0 Ido pagamento da dkima destas prestagées. A segunda pergunta ~ Por que se alforria? ~_mostra que este gesto por 1esencenado em tons de magnanimidade, e que liberia o negro da di nga eserava e o mergulhard na desigualdade liberta, 6 ainda pretrogs- jlo senhor. Muitas vezes, no documento dealforria—efrequentemen: fm uma época em que jé se aproxima da morte e na qual estar igus Jone atento 8 feitura de seu testamento ~o senhor acrescenta que est riando polos sevigos prestados, pela lealdade demonstrada durante Wi vide, ou porque, se € uma negra, ela he deu filhos ou o acompanhou joenca e no afeto, Mas mesmo este gesto ndo exclu necessariamente J outro, relacionado a terceira pergunta ~o que ainda se espera do ne- ser alforriado? » Alforria: controle sobre a passage! 3, da diferenga escrava a desigualdad = liberta Exist ainds uma pega fundamental na histéeia das diferengase des Mades no Brasil eseravocrata: a alforia. Discorrer sobre a difers Java — esta que na vida de alguns individuos negros podia ser ue vertida em desigualdade eserava ou mesmo, apds um gesto i y.transfigurar-se em simples desigualdade social que estar suit ro ou © multoliberto —exige ainda que se pense ainda neste recut tenevoado no imagingrio coletivo negro e um pouco mais ni horizonte concreto de uns poueos escravos que realmente possufan ide de serem alforriados. A alforva, teremos de postuls; Pi deum s6 golpe um certo aspecto da diferenga: a pecha: “er cassificado como escravo em uma sociedade rigidamente hieraraul ‘uyda c 0 peso de softer, no interior desta categoria, as agruras mais rig osas da escravcio. Mas é conhecido, obviamente, o destino de pencil que seria 0 de muitos dos libertos, os negrasalforriados. E € conheci lamibém, veremos oportunamente, o destino de dependéncia social ag Iuitos estariam sujeitos em relagdo aos mesmos senhores que um dia viam sido os seus donos, As carta dealforria, antes de mais nada, revelam que este ato ou pi ‘sso capa de retransfigurar em desigualdlade libera diferenca escra fo 6 para todos. que est dentro de sites custo phd crn gu sam ba eprtniads prac economy af aba ra snes ano” qe cam anes racecar nis iPr ct ss sr ai ces esata Sir. hich ie camann ar pooner sere Nor amor art foci tances opines de su poi snc” CAS EB) Ca go nag css gor cmgravam ptrrent Hae de anige acai i as rosin nti ors he i a a » favor da aboligio gradual da escravatura —projeto devidamente reeu- Jo, mas que, conforme veremos oportunamente, preludia um movi nto de ideias que se fortaleceria nos anes 1870 tendendo a crescer € ncionar cada vez mais como um poderoso elemento de pressiio sobre 0 sgindrio de receios e ambigSes construido pelas elites eseravista.. De qualquer maneira, mesmo entre os anos 1850 e as décadas mi 1eadamente abolcionistas—nesteperfodointermedirio em que sever um certo vazio relative a produgio de um discurso abolicionista bras fo 0 discurso antescravista que vinha de fora, sobretudo da Inglaterra, yo jgualmente como um eficaz elemento de press para o deineamen- tie um certo imaginsrio do med abolicionista nas elites senhoriis Fis agui um pequeno sumsirio da histéria do medo nas elites escravis- sn lad do antigo pavor relacionado a possibilidades de sublevagdes ravas ~acentuado em 1835 pela Revolta dos Malés na Bahia e reforca- pela meméria da grande Revolta Haitiana” — vinha se juntar nestes mpos novos o temor do fim da escravatura, mesmo neste momento de uso do discurso antiescravsta nacional (eo medo, seré oportuno lem: , frequentemente reerudesce as relagdes humana). Assim, em con onto a um provesso que (embora maderado) foi assnalado pela im- ico de duas fortes medidas antiescravistas ~ a proibigio do Tritico nticocem 1850 e1em 1871 a Lei do Ventre Livre— passou-sea intensii- esd cedoaidein de que Aboligao poderia estar bastante prima, As diimas duas décadas escravistas serdo traduaidas por este mo- io histGrico pleno de tensionamentos: de um lado, © suprimento wos necessitios & produgio agricola estélimitado 0 que esti- to © contrabando como 0 trifico interno {interprovincial)”, « frequéneia na concessio de arias, e inclusive a uma maior facili deo eseravo comprar a sua peta iberdade” Entretanto, a partir de mead da década de 1820, as presses i nacionsis encabecadas pela Ingaterra contribuem para que se forth ‘cada vez mais aideia de que nd«demoraria muito para que se dec para o Brasil o fim do Tréico Atitico (o que de fat logo aconteceri 1851, com medidas do governcbrasileiro que buseavam amenizar pressGes), 0 primeiro efeito dito foi fazer com que disparasse pil dos escravos (aiminéncia de carncia definitiva de um produto conte naturalmente, para a elevacdo diseu prego)”. Isso teria um efeito dy nem os senhores se sentiam mas tio dispostos a negociar através d forriaaperda de uma mereadori que, mais dtl de ser repost, s ria eada vez mais valorizada ~e:1m crescendo ne qualo prego do vo alingiria o Spice nos anos 181 — e nem jf se apresentava to fécil préprios escravos a possibilidad-de comprar a sua lberdade ou a de {ros com seus proprio recurses uma vez que os pregos subiam my mrelagdo as suns possbildadede ganhos extras. Com tudo ito, a texssdo de alforrias tenderia nese fase intermédia a se afunila. Por outro lado, e aqui entrzum elemento de aparente paradox partir do Brasil Império a ideia dientingdo futura do essravisma pass a entrar de algum modo na orden do dia, a principio diseretamente, pols com bastante intensidade epartir das élkimas décadas do Imp ‘Quando nio entra como discurs,o fim da escravidio entra como red i em 1825, 6 bom lembrar,terenos 0 notSrio projet de José Boil ‘95. oe donfeoXVIN eos dN. no um mento ds bana sign 2} ‘2 ceea pmo qe ters cinco acon nrepode lio wept sod ‘dos Unidos tas cols ingles. Cano llama dss mercado Trl ‘ulese Snsa mas coarrmetora. accutane ond i i fa, Cnn amend fer urea preg seta sca ab ssc poster nde Hat {94,Em aves de 1S, rai Rei Ti, Puke Digs Ab Fell ‘nd apis Ingen pond maps soa i ‘mers spot Sf ine dsm” Connd i 1S ase onarm ens ses Ht ‘ei ln at do oa eo rv aie an aia Ji mesic ane de 1858 2b paso a atin seats eso de tips ce no Rode ne, Bas dV esteve are ud Tonos ne ils nage ego a eran ecm et stor jon i” (AF 101021859, Seber Cana, 0D 5 q ea, apa 1858 com as ein ond eter de bon msn emp coms estan da ea de conatands ges got Brom apc do Tis nc 850k Lt coisacsngos pc roe Eesti sn ce cron us 13 rogaine decrbnue on ita gsxr veri dat Cnn ao ioe Pasa 0250 exter ho eee srs peace roa fn doo nico dan read kt A 8, de estabelecimentos destinados & proc legal, a Hherdade definitiva, Esta éltima conquist, enfim, corres: cle ao momento singular da reversio de um estado em outro ~a pas- fm da circunstinca de “estar escravo” ua estado pleno de liberdade raremos mais uma vez, a “reversibilidade” ¢ apandgio do eixo das iqvaldades, e nfo da coordenada das diferencas)”. As relagbes entre o recurso escravocrata da alforria ea ideia de que a raniddotrazia em si mesma a possbilidade de ser examinada ora como yualdade, ora como diferenga, podem colocar em relevocertos mean: sda complexidade eserava. De fato, a pequena descrigho dos vitmos \ricos que aletaram a concessao de alforia, atris elaborada, pode responder facilmente ji histGria da preponderincia da ideia da eseravi » como desigualdade, endo como diferenca (e vice-versa). Os momen ‘om que hi maior flexbidade para o eseravo abter a alforria coinc de certo modo, com os momentos em que aumentam as possiil les dea escravidio ser vista como desigualdade. Fim apoio a estates, Jomos nos valer das pesquisas de ponta realizadas por alguns histo lores que tém se debragada sobre a escravidio bra Daremos um exemplo entre outros possives Acommpanhando a ultrapassagem de um perfodo em que era mais cil scravo comprar a liberdade, o que se df entre as sltimas décadas do Slo XVIII e as primeiras décadas do século XIX, o historiador Manolo, Jentino dé-nos a perceber que “a iden de que a escraviddo constituia 1 condigio transtéria em si mesma negativatendeu a rfluir a partir da ula de 1830” (FLORENTINO, 2005: 359)", Ou seja precisamente jomento em que prego do eseravo sobe, ea compra da propria iber- J torna-se menos acessvel a este mesmo escravo, a escravdio tende a vista eada vez menos como eondigio transit6ria” (ou seja, como de: fou mesmo a eriag dda de escravos” ‘Ao mesma tempo, aiminéncia da aboligio instigavn posigies basta _ambfguas em relago posse de escravos, pois nenhum senhor dese) ser surpreendido pela possibilidade de perder de um momento para o ‘© escravo~ jd propriedade valosa cada vez mais rara ~ sem qualquet denizagdo pela sua peca jf antiga ou recentemente adquirida”, As duay ‘mas décadas da escravatura raduzem, conforme se v8, este curioso| radoxo que entrelaga odesejo de rete oescravo, como valiosa mercad em que jé se tornara, e 20 mesmo tempo o recvio de perdé-lo sem q {quer indenizacio; eas estratégias senhoriais de conceder a alforvia ate «daa pesadas clfusulas de dependncia futura apresentam-se como te tivas de resolver este paradox de desejs e reetas que aqui peemeiay posse de um escravo. Posto isto, poderemos retomar a seguir reflexdo sobre o papel Alforria na dialética que envolve a diferenga escrava e a desigualdade crava, ambas intermediadas pela diferenga negra. A alfortia, neste cular, constitu um recurso eseravocrata bastante interessante para a sa diseussfo precisamente porque mostra que a escravidao, ainda vertida em diferenga, guarda ccultaa sua natureza original, a desigual de, A ideia da alforria implica de fato que.o escravo ~ ou pelo menos: {os eseravos — podem se deslocar de alguma maneira no exo da desig dade eserava a partir das maiores ou menores concessies que reecbe ‘uma brecha no seu trabalho que he permite a acumulagho pessoal deh ‘ou de outros prvilégios recebides que o habilitao a sonar com a amy «do de sua margem de liberdade até que obtenha realmente, do pont rt wes ats as sn i i in Ree ae cas : 5 renter onnamse tml, ppt de eserves See er ean romans eruls (2005-333) quesbre ne ea coms sonny an cod as Caras, querer Reece 680 c essed hn ee es, tric pchga contrive pono de mee neutrino dro de orn shaman Sd dear tc oso pati ros do beg, Sn sc al Sagar ures cats as de om pesos ong UAiROCEN, Gunn de Neva, 06 7 TR 9: tn 1872 1886 cnfoe asia oo Togo tan lio" (FLORENTINO, 2005: 338), porque todos so obviamente guise submatidos ao mesmo tratamento, © jo se torna ainda mais vsivel quando levamos em contaas fungGesexer- is contraste entre esravos rurais ¢eseraos urbanos, os graus de Wndade que alguns dos eseravos domésticos conseguem conguistar relagio a classe senhorial,e assim por dante" sina o ato de que, sobretudo no éitimo s6- renga eserava convive lado a lado com a desi Wsjgunldade). Quando a escravidio passa a ser vista como condigio ante permanecer, uma condicéo mais imobilizada, por assim dizer, taremos falando de diferengas, mais do que de desigualdades. Tambim se deve notar que, neste period de erescimento do valor ‘eseravo que se dé entre meados de 1820 e os anos 1860, a possibilial Ue obter um garho significative e imediato a qualquer momento atra dlavendla do escrave favorece a avalingio deste como uma mercadoria i dewe estar disponivel pela classe dos senhores de escravos, consequent mente como uma “coisa”, uma “pega”, fortalecendo-se assim a conc ‘go do eseravo como diferenga. A humanidade do eseravo, em um ca texto que fortalece a sua concepefo como mercadoria, recua para um szundo plano no universo de consideragGes da elasse senhorial. Isso bbém explica, como se veré mais aante, que a timida reflexso sobre a pressdo lo trabalho escrava no Brasil que se inicia com um discurso) Adeputado José Boniftcio em 1823 —a eélebre “Representagio contra cravidio” ~ encontre pouea continuidade nas d&cadas seguintes, até ‘nos anos 1870 0 discurso abolicionista emerge com todo o vigcr. ‘Ac décadas entre meaclos de 1820 e fins de 1860, este ser o pot so para a sociedade letrada décadas de diferenca escrava (décadas que prevalece a idein da escravidia como diferenga). Ao contrério, ‘ns 1870, asinalados pelo mareo da Lei do Ventre Livre — ponto de e kaa das medidas emancipacionistas ao estilo da “Representa. José Bonécio ~e pela intensificacio do discurso abolicionista m: cal, coresponderio a uma nova emerg@ncia da preponderfinca da i da eseravidso como desigualdade, ¢ nfo como diferenca. Naturale que estas duas décadas implica a verdade na intensificagdo de uma dlaleira uta de representagies entre as duas posigSes, com lances do taparte, mas bem sabemos os destinos finais desta acirrada de disput ‘Outro aspecto a considerar & que, apesar da preponderdncia de up ‘ou outta das duas posigGes nos varios periodos do escravismo (escrl dio como desigualdale ou diferenca), as duas posigdes sempre conv ram uni com a outta na realidade cotidiana, Mesmo nos sous peril doafirmigt, 6 Fil perceber que no interior da die oe Deste modo, a fo Wo de escravatura, a aklade escrava, Uns serdo obrigados a vivenciar a escravidio-diferen- outros ja vivenciam como desigualdade, outros vivem-na como este Dnpésito em que, por tris da diferenga, conserva-se intovdvel uma se- nda natureza de escravidio agora vista como desigualdade, de maneira (pom varias situagdes os escravos poderdo de algum modo comprar a liberdade com ganhos ou afetos acumulados. Em todos estes casos, psibilidade de vivenciara escravidio como desigualdade circunstancial, ‘io como diferenca imebilizadora, mostra-se diretamente proporcional Insior ou menor possbilidade que cada escravo tinha para “dispor de Do eseravo em que era praticamente nula a possibilidade de dispor simesmo—e neste caso ainda estaremos no fmbito da diferenca escra- puassa-se ao eixo da desigualdade escrava sempre que um eseravo en: tra brechas mais significaivas para valer-se desi mesmo, em seu pr i proveito, o que pode ocorrer em graus diversos, até seu limite maxi- peste momento em que, através da alforra, este “dispor de si” “alr ese até traduzir-se em transferénciajuridica da propriedade do senhior jn © proprio escravo” (FLORENTINO, 2005: 358)". Aqui, a “compra 1 mesmo”, niio mais um mero “dispor de si” circunstancial, representa I itr cam acpecticiade dnencaio bana cm contrast som as iver bra deste Alga initia joer ent a ve wesc ban Ion 1822108 B Acne isa plas de anol Preto Roa gor tom exaia- fe res de nepcicic cm ri crcane uo oncion ds aa" ogo Bored nisna pk carat oid de, ga rca si cc guna ri toca des cine ulin acid isda pseas onan tent lg sna ‘es sta passagem de Joaquim Nabuco é particularmente interessante por- Wo, slém de diagnosticar esta dupla natureza do liberto — um ente dentro cual se entranham de algum modo as duas posicdes contradit6rias do ca desigualdade escravocrata — também assinala as suas possiblidades onquistar uma posiglo mais confortive no espectro soci, inluindo a wibilidade. Como o mulato tem o seu Tugar especial no escravismo colo- ‘imperial, também o iberto conquista aqui a sua especificidade” Olhando desta perspectiva, & possivel compreender que a alfor pesentava necessariamente a tendéncia a afirmar-se como um estimu Inic horizonte de esperangas para a populdgao escrava; quantos nao te~ j vonhadlo com a sua prdprialibertagio através da alforria, sem obt@-l, My suas penosas vidas de cativeino? Contudo, hi algo mais, decrucial m= para a questio que presentemente discutimos. Ainda que 0 es> ‘sfoivamente um salto: a passagem qualitativa para um outro fmbito | ‘losigualdades, « “desigualdade liberta", também que se lembrar, ainda a propésite desta questio, que, a vigeneia do perfodo eseravocrata brasileiro, se libero também fl sa ser vivenciado como uma diferenga, como uma categoria nova ees fea do ambito das essEncias, que 6 tinha sentido simultaneamente po por ui lado ainda existiam eseravos e porque, por outro lado, p liberto nha uma histéria pregressa como eseravo, Set liberto, enfl opie-sesincronicamente ao “ser escravo” de outres, mas também diad nicamente ao "ser eseravo” quest inserito na prépria hist6ria do libet Por fim, sob a égide do preconceito, ser liberto podia vireventual ‘eacompanhauio de mécula quando em contraste com os demais hom lites, ¢ € esta circunsténcia que o romancista Alusio Azevedo tema ‘em seu livro O mauato, escrito em 1881, na mais efervescente das décad sbolicionist. © personagem central, um mulato chamado Rai tue recehera toda a educago europeia e que, ocupando wma prot ‘onceituada tentava agora desenvolver um romance com uma banca slte maranhense, sfria os preconceitos socais porter sido “forro& pl IAZEVEDO, 1964: 62) Por outro lado, sera oportuno registrar 0 comentitio de Joaquim huco i questo, em obra escrita a esta mesma Spoca, e que jé nos reve posiglo privlegiada que possuia liberto brasileiro em relago ao lib 0 desejaso de ser lberto conseguisse, eftivamente, acumular a quan- le mercado com a qual poderia se apresentar como comprador de sua ria liberdade, para que a alforra se concretizasse era necessari, via ‘royra, que o senhor concordasse com 8 operacio, Ou seja, a extingao Jp vnculo que aprsionava o negro no mundo da diferenca escravatinha sot acompanhada em itima instincia pela aprovaao do senhor. Este or ~0 controle senhorial desta forma de passagem da diferenga ou da Idade escrava para a desigualdade liberta ~ é verdadeiramente o rgio da questo da allorra Excepeionalmente, em vista de 0 eseravo ser ja detentor da quantiaft- ly para aalforria mas nfo conseguir o consentimento do senhor, © tei in conceder ao eserave a liberdade, a tiulo de uma graca, Deslocar © avo, do mundo da diferenga eserava para 0 universo mais lexvel da Esse ent [o beta assim equiparado, quanto & pote a qualquer outra coisa do dominio particular, no dia sepun sulfa, um cidado como cutro qualquer, com todos os dl tos politicos, eo mesmo grau de cegbilidade. Pode mesmo sant rv que mens excreta isarament coos, poe da na penumbra do cativero, comprar escravos, tae ol i esnips Serene pr estado deen Refer sabe? ~algum ftho do sex antigo senhor. Isso prova conf fs wo cats ng, Msc ey ninco exci romana com ase shes fowsrn re os era tansormads debe cs vc tine mae colt psig, ago ayer ae ite Royce snes me un cao] A eget dete a hr ess esc tease exetoem Pci) shina as gra wesc el shi posal vd, pra prvnente ria, pa conde hair ae nats aguante proxi oa de clases indvidvos, x extnsio imitnda dos cuzainento omlytem dus naturezas oposas {do excrvo lomestindo (NANUGS ‘Wlviguaklade fora", era deste modo uma prerogativa do rei, que Fuso no cra to frequente quanto eram indmeras as petigbes deter iloenviadas aos eis de Portugal ou aos imperadores do Brasil por esc ‘os que esta com seus processs de slforia entravals por resis in senor ‘Ao mesmo tempo, esto registrados nos arquvosjurdico proces tle outros tipos de poderes pabicas terminaram por impor ao sen rositente o dteto de um escravo comprar a propria alforta,e este cayo de um escravo chamado Joaguim,cujo processo de tis anos fi tudo por Keil Grinberg (2001)'", Est eseravo baiano obtvera de senhora a permisséo para comprar a liberdale em pequenas part Surpreendido pela morte da dona, 6 transferdo para um genro que rs ‘eto honrar os eompromissosassumidos pea antiga dona. Para enc ‘apa historia, o eeravo entra em 1825 com uma agio~ depositando val ‘open juizo~até que depois de trés anos ajustiga acaba the seado favo veh liberando-o para comprar alberdade. © exemplo (uina dos ml ges de liberdade que tamitaram nas vias juiciais das Americas ese visas} mostra dealgum modo que, por vezes, sé em vide de sua ob ng devido& sua capacidade de acionar a justiga, um eserave loge gui afnal osu intento de comprar aiberdade,o que tamil no fato de que “para cada esravo que conseguu compra ua i til, euros tantos ne fizeram, fosse por imposibidade de arama «quanta, fosse por impicineia dos senhores" (GRINBERG, 2001 \aiforia,enfim, também as “agSes delherdade”, que podism a rar alibertagio através da inervengio estatal, constituiram recs importantes, no Brasil escravista eem outta regis das América, p que o negro izese a passagem da diferengaeserava par a desigua Iherta” Us como outro destes recursos slo importantes na histris d te posterior deslocamento da escraviddo da diferenca para a dsigual ava, porque reconhecem de alguma maneira oescravo como pessoa Num easo, como pessoa comercial, compraclor de si mesmo, em outro 0, como pessoa do ponto de vista juridico, a quem, de algum modo, sonheciam-se direitos como ode recorrera tibunais. A campanha abo jonista, que acompanha a intensficago dos provessos de emissio de lorrias ¢ de impetragio de “agbes de iberdade” em tribunais, comple nla decisivamente este processo. ‘aturalmente que, podemos observar para coneluir este conjunto de ob- 6s, hd uma diferenca bastante ciara entre a alforia e a agao de iber- slorelativamentea seu pape no sistema da diferenga esrava, As “ages de evade" contribuem jf, a longo przo, para a corrosdo do sistema ~ uma ‘aue colocam em xoque a autoridade senhorial, seu poder de decidir so- vida do escravo, “alforrin”concedida pelo senbor, dealguma maneira frgao sistema, valoriza a posigio senborial,desautoriza ou desmotiva ou formas de busca da liberdade que no aquelas que passam pela decisio senhores de eseraves. Aproveitaremos as palaras de Sidney Chalboub, W) sou ensaio sobre as Vsdes de liberade (CHALHOUB, 1990: 100) Aids era convencer os eeravos de que.o caminho para aalfr. ria necesariamente passava pea obedignca efidelidade ao se- nor. Mais ainda [..J a eancentrago do poder de alforeiar ex usvamente nas nos dos senhoresfazia parte de uma ampla ‘stata de produco de dependentes de transforma dees ‘ravos em negreslibertos ainda fis e submisos a seus antigos propritiios, Acrescentaremos — nesta mesma linha, jé a adaptando ao sistema, vital que estamos desenvelvendo - que a valorizagéo, exclusivismo oneentragio do “poder senhorial de alforriar” (e de decidir quem i alloriado e em que condigées) correspondia precisamente a um re~ 10 a mais para os senhores controlarem a passagem da diferenga es- 1 desigualdade Herta (agui transformada, com bastante frequén- en |,om dependéncia do liberto em relagdo a0 antigo senhor). Mais ainda, aie ls ervur para si novos yinculos de dependéncia da parte do liberto — con 105, Com chew cree 188, ss, cram ma tivo de assegurar ou de tentarassegurar que a di- cir na desgualdade Hberdade concedida é por outro lado © contraponto da liberdade uistadla, O ineremento de alforras nas citimas décadas eseravocra e contra sim pano de fundo onde o espaco de produgio tor- 1a vez mais o “paleo privilegiado” no apenas de formas indi- {nei escrava, mas também dus revotas coetivas dos tra- (lores negros eseravizados (AZEVEDO, 1987; 255)", A concessdo no plano geral, vai funcionar como o destensionador neces- intensa que agora se exerce de dentro do liborta, esta desigualdade geradora de dependéncia, de submissao, 9s de pontria Porque o eseravo podia tamiaém se evadir da difereng trava através da fuga para um quilombo, do suicidio (esta fuga 9 ‘morte, para o mundo da indiferenca), ou do exime (fuga, depois do dlenado, para uma outra ralidade,o jd pertencente ao reino das dei dlaes: a dos prsioneiros, no mais sueita tirania do antigo senhory bora por vezes tio dura como a primeira), Se o escravo se evade para um quilombo, i-o livre da di ‘rava endo mais sujeito&situagio de desigualdade™; seo eseravo sek dle paraa morte, ei-lo finalmente integradio ao munde da indifereng {qual todos se igualizam a alguns palmios abaixo da terra; se oeseravo fim, se evade para 0 mundo dos criminosos e condenados —e muito ‘mentayama ideia de que, dependend do senhor, era menos desu tratamente dispensado nas prsbes ¢ nas galés perpétuat — ci do para uma desigualdade de sua escolh so, assegura que o escravo pasar da para uma pressio mut rio espago de produgio escravista, ao mesmo tempo em que 0s se= jos eontinuam reservando para sio direito de escolher aquces que fa- fh passagem para o mundo liberto, e como a fardo. Dusemos pensar uma imagem: uma amputheta, da qual a parte de representa adiferenga escrava, ca parte de baixo a desigualdlade for- ros de areia que gradual clentamente atravessam 0 estreitamen. jo vidro slo of escravos alforriadas. F este estreltamento de vidro & isamente « alfortia rigorosamente controlada pelos senhores. Ter ole sobre a alforria ~ esta fina cintura de vidro que escolhe grio a f)squeles que abandonario o mundo da diferenga escrava ~ permite po socal dos senhores controlar a velocidade conforme a qual sed ‘itso eserava,escolher aqueles que por ela serio beneficiados ¢ em ‘onniges, e por fim desmotivar o eserave a fugir da diferenga escra- vans de processos radicals que o prOprioescravo controla: a fuga, 0 dio, o crime, A Alfortia, ou 0 sonho da alforria, por que nao dizer, oF vezes © “épio do eseravo” Ff sinda patente —assim o demonstra o incremento acentuado do ni- 0 Je alforriados a medida que, ap6s 1870, nos aproximamos cronolo- sboligio — que es senhores desapertaram nos citimos anos ro “estreitamento do vidro” com vistas a manipular a sea ago de escravos, Essa concessio maior de alforrias ésinto- senhorial a respeito do que estava por vi, 106, Ogata pose meld Hrd ft, mando com su fans mania, Sao ets homens co hati dds pring poets ers Gon 107. Seto stn cmo fra de esc earn informa de rs do th or ge excree em 1915, spin aul os Calahar —negrcemuncans cut moat easy, ah inssbmin macan com ett AS DO AL 915683), Vet al ste desc dl formas vein en, {ig co, esas com ete name de atria de Apa Gea 973), 108, Cando cto un rine, ose caja orsent ples mess igre sige tata osteo bronco, pele menos eas pobre, Net ‘eer hg amar gro primus ap ecco cine” (1280), Scheu Sanne dst dosSclo NN wr Cin vod ou sented 109. Otviamente qu om wk ws london ems eseiar uafka a Sls eel nes aed nei deo “inset ho encanta cr deri aiid on de a realidade jé por demais dbvia para alguns. ferenca e da desigualdade escrava néo mais ex ‘mavam da Replica, O emancipacionismo: recusa em discutir como diferenga a desigualdade escrava 4 .\ ago dos abolicionstes, para retornar agora ao contexto do Br vperial, douse precisamente em torne do reconhecimento de que na dade eseravocrata brasileira 0 *negro-escravo" era j tratado como Jevenga, © que era importante reconduzir esta discussfo ao plano das sigualdades, A ago social, fo fzemos notar, pode com muito mais fa- dle impor transformacbes no eixo circunstancial das desigualdades » ue na coordenada de contrariedades das diferencas. De modo geral, possivel perceber através dos textos e discursos des abolicionistas que es tiveram sama intugio bastante clara de que o seu discurso deveria si- iltaneamente enfatizar a "desigualdade” da eseravido erejeitar aima~ 10 do eseravo como “diferenga”,e 6 este aspecto que estard nos interes- do mais diretamente neste momento. Por outro lado, para entender- os 0s meandras das diseuss5es que se dio em torno do fim ou da manu po da escravatura, ser preciso antes de mais nada vislumbrar 2s suas rents interna, ‘Comegaremos por contrastar as propostas meramente “emancipacio- as" — as que, ‘advogando o fim da eseravatura, buscavam al- {-lo através de medidas graduais epaliativas ~e as propostas “aboli- nistas” propriamente dita, estas ancoradas na ideia de supressio ime sal da escravidio, De igual mancia, para levar adiante a com: sos ao abolcionismo, & possvel identificar um nista mais conservador, que sustentava medias de Je excravos peas perdas que estes pudessem vir

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