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© portugués sdo dois Variacao, mudanga, norma e a questdo do ensino do portugués no Brasil 1. Preliminar: variagao em torno de um tema Desde 1973, pelo menos, pois é essa a de professores de lingua portuguesa sidade Fede relacionadas ele entrei, 0 grupo 10 de Letras da Univer: jis de segunda-feira, questoes im crescendo, © problema que \gdes da eser ue 6 requerido, pelo Os sintomas e stias -los, cada vez se torna com que se defrontam os professo- sera o tema deste texto: os varios resolvendo 0 chamado “dominio da inte de puristas 1 situagéo, em icas consistentes, do presente fronto com ele no trabalho rei que, sobre ele, volto a campo NOM NOEMA A QUESTO OO ESINO Be oRTUCMES NO BS > a8 € pedra no sapato dos professores d SX feressa a nio-espe por razées de v x sobretudo dos anos 1980 para SI $8 isso do padrio QS Eeesea a propos 53 Bg = és ia conta em tempos atras? Hi de se perguntar. Parec y dar as assertivas © 3 Sf Ss mond de Andrade expr 2 3 < ao rememorar seus tempos de esti & $ Oucatos poeta S 8 g § de falar e de entender Professor Carlos Géis, ele € quem sabe € vai desmatando ‘© amazonas da minha ignorncia. Figuras de as atropelam-me, aturdem-me, seqiiestram: 19 ‘O rorruculs sko pois” Jé esqueci a lingua em que comia em que pedia para ir lf fora, em que levava e dava pontapé A lingua, breve lingua entrecortada do namoro com a prima. © portugués sio dois; 0 outro, assim Drummond (1988: 646-647) da lingua tio fécil de falar © enten portugues conduzido através do amazonas de sua ignorancia pelo profes- sor Carlos Géis, gramstico mineiro, estabelecido desde a primeira metade deswe século como um dos normat respeitados do Brasil m na ponta “e misteriaso ncrescento, como outro depoimento significative, o fato reeriado por 10 Santiago no romance Em iberdade (1981), em que ficcionaliza no Ramos, contemporineo de Drummond, ao sair no Teescrevera trés vezes 0 seu Siio Bernardo. Por viano/Graciliano (p. 15}: io que falava, Erm ‘ aaNet minha pena, Pesisaa, porcano,taduzic @ vio para a lele. Acabou surgindo na folha de papel é 8 pel um brasileiro encrenca, muito diferente desse que aparece nos livros de gente das cidade om bre uantidade enorme de expressdes inéditas, belezas que eu nem mesmo suspeitava que existissem’” £ reforg Silviano Santiago mais adiante -Nio €cxagero dize o seu portugués (lingua aprendida na escol individual dentro da classe dominan rmarada e conscientizada através dos noseos mat) para brasileiro falado por pessoos de di go tiveram acesso as instiincias de pus ro tem a obrigacio de traduzir exercida através da fungio izada pelo convivio, utores daqui e de £05 sociais, que jgrifos meus). fm seguila vai designar S. Santiago essa lingua aprendida na escola como “lingua neutra e de todos nds, intelecuais, pequeno-burgueses, gue 2080 serve a0 colonizador como ao colonizado’™ (0 posa de Drummond, a “desconstrugio” de Gra iliano, assumida por siviano Ssntiago, nosso contemporaneo, sio testemunhos significantes que 130 1 mus 0 DO: WARAGHO, MEDI, NORE E A CUESTAO HO ISI DE RTECS NO BRAS respondem a uma das questies acima: a escola brasileira dava conta da transmissio do padrio normativo tradicional, conseguia que seus alunos alcangassem a através dos processos de “purificagao da gua Iss0 no tempo de Drummond/Graciliano e ainda no tempo de ano Santiago, que é 0 meu tempo, para aqueles que, como eles, tiveram acesso as chamadas “boas escolas gua neu Para completar, retomo, ainda em citagio, a palavra de uma lingiti das mais bem preparadas do Brasil, Mary Kato, em Portugués brasile crénica. A citagio se ia no contexto da definicao lantes escrevem como escrevem e porque a para as camadas que vém de pais iletrados, © Brasil apresenta assim um caso extremo de 9 que entea para a escola © o padkgo que pode parecer tio ‘diglossia’ entre a ele deve adguisie” (1995: 20), “O portugues sio dois” de Drun Honério para 0 “brasileiro encrencado sempre foi, muito provavelmente, mais de um. Até certo momento de nossa histéria — situarei esse momento divisor na década de 1960 — encrencado”, Contudo, de 1960 para ei, ainda citarei la democrat ino, que é uma necessidade e um grande bem, m acesso 2 ele largas camadas da populasio antes margit emocratizagio, ainda que falsa, trouxe no seu bojo outra repente, nio damos aula 36 para aqueles que pertencem 20 nosso grupo social. Repres 03 esto sentados nos bancos escola~ res, Cresceu espantosamente, de uns anos para cé, a populagio escolar brasileira” (Geraldi, 1991: 115), antes de outros g ssa anslise de Wanderlei Geraldi expressa 0 ponto central do proble- ‘ma em pauta: como poderd a escola, dita democratizada dos anos 1960 para ci, dar conta da transmissio e treinamento em diregéo ao padraio notmativo tradicional? Disso tratarei em seguida e jé adianto: a “falsa democratizacao” referida por Geraldi “pretendeu fazer passar a idéia a de uma educ chances de ig gio que se ‘democratizava’ porque fazi dlade de condicées. em contraparti $2” (Ibid: 115). ventar as ento do ntimero de estudan- maior quantidade de professores, Onde tes exi buses A politica educacional que entdo se estabeleceue que continua em vigor privilegiou a quantidades de vagas, ainda que muito insuficiente, em detrimento da qui ‘os professores. agentes, 3. Um esboco da sécio-histéria do portugués brasileiro e do desenvolvimento da escolarizagao no Brasil Procurarei most ucintamente, como se consti 0 portugués bra- ‘0 € como, nesse proceso, a forma como se desenvolveu a zagi0. no Brasil 6 um fator de peso. S6 a partir da segunda metade do século XVIII & que o Brasil pode comesar a ser definido como um espaco de lingua dominante portugue~ sa, devido & conhecida politica lingiiistico-cultural desenvolvida pelo arqués de Pombal. A repressio ao uso de linguas indigenas, sobretu- do de base tupi — tronco lingiistico mais difundido na area jé coloni- zada — desencadeada por essa orientasio politica tirow 0 Brasil de um ramo que poderia té-lo levado a ser um pais de bas vente indigena. igiifstica majo- Os dais séculos e meio de colonizagio que precederam a decidida politica pombolina recobrem miitiplas situagées de contato lingiistico ainda a serem desvendadas por uma minuciosa sécio-hist6ria lingiistica do Brasil. Essa sdcio-histéria de variadas formas de contato entre falantes de diversas envolve a lingua portuguesa e « nas de (continuam vivas e em uso, por minorias, é claro, ainda cerca 180 delas) miiltiplas linguas africanas, chegadas ao Brasil desde 1538 até a extinggo do tréfico no século XIX. Predominaram entre elas Iinguas banto, nos quatro séculos da dilacerada trajetéria de africanos trazidos para o Brasil, logo seguidas,a partir do século XVIII, pelas linguas da familia benue-kwa do grande golfo afticano, sobrelevando-se, dentre elas, a lingua ioruba Oneness 1 VAIAGAD, MDA, NOBRALE A Sno De ROETUGLES NO BRAS Esté, portanto correto Anténio Houaiss quando afirma que 0 “portu- gués brasileiro nasce com diversidade” (1985: 91). E certamente se presenta distorcida, por um viés ideolégico conhecido, a afirmativa de Serafim da Silva Neto, que recobre o ideal homogeneizador, desenv vido a partir do século XIX e divulgado e difundido pela bibliografia classica sobre 0 portugués no Brasil da primeira metade deste século. Afirma S. da Silva Neto Por causa pr terada de negros ¢ indios de ter sido o grande fomentador dos estudos sobre a dive do portugués brasileiro, o mestre S fi adequadamente dados de que em parte dispunha sobre a sécio-historia lingitstica do Brasil Sabe-se que a demografia fornece pistas interessantes sobre 0 destino x6rico das Iinguas. Uma anélise de dados desse tipo procurei esboy em artigo de 1993, fundada na tese de Alberto Mussa (“O papel das linguas africanas na histéria do portugués do Brasil”) de 1991. ican indios ¢ africanos em relagio aos portugueses (do século XVI até ao XVIII) e do século XVIII em diante o descenso relativo das trés grande categorias étnicas iniciais e, em diregio inversa, 0 crescimento dos mestigos de varios tipos e dos brancos bra 3 contexto demografico-| minoritivio, era a ling destino como lingua hegeménica, que ficou reforgado pela pol Pombal. Contudo, o que resultou dessa plurifacetada situagio de multilingiismo generalizado nos dois primeiros sé multilingiismo que continuou, ¢ continua, em processo continuo de concentragao em determinaveis areas bras fo Tf apenas uma “linguagem adulterada dos negros e indios”, que “todos os que pude- vamadetri ' cl z. Serafim da Silva Neto, mas um portugués brasileiro heterogéneo geograficamente, mas, sobretudo na escala soci cesses dados, desde as origens bras los de colonizacio, a cultura escolar descartaram, como “0 romrucats sho O inicio do século XIX, em 1808, com a trasladagio da corte portuguesa ce dos muitos portugueses que com ela al am Portugal ¢ se insta~ Jaram no Rio de Janeiro, apontou para um direcionamento lingiiistico novo {que nao veio a impor-se, mas continua id I do reino ¢ logo em 1824, com a primeira constituigio brasileira, depois da Independéncia, explicitou-se a boa intengio de to versal obrigatério no Bra izado por muitos. Houve entio O século XIX brasileiro presencia, sem divida, um aumento cresc de letrados que até os fins do século XVIII ndo ultrapassariam 0.5% e em 1920 atingiam 0 patamar de 20% a 30% (Hounss, 1985: 157). Entio, voltando & afirmativa de Ser os “todos que pudera adquirit uma cultura escolar” para descartar a “linguagem adulterad. foram os antes quantificados — 0,5% até os fins do século XVIII e 20% 2 30% a0 longo do século seguinte, patamar que prossegue, como vere- mos, Ess ideal homogeneizador orientado para o padrao prestigiado. dados configuram a fraqueza do argumento que favorece 0 © que ocorreu ao longo do século XIX e se agudiza no século XX & certamente, @ implantagio da clivagem que resultou na chamada primeiro lusitanizante e, no século XX, um padrio culto bras outro extremo 2 massa de iletrados e precariamente Brasil. Assim entra no cenério tico brasileiro ao longo do XIX um elemento novo que é a normativizacio coercitiva, que, até entlo, 56 atingiria raros, sobrepondo-se is normas lingiiisticas consensuais dos diversos grupos sociais que constituiam e constituem a sociedade brasileira. Op qiientemente, passou a ser parte das preocupagées da chamada elite brasileira, o que persiste até hoje e entrou como fator sociolingitistico icativo para a sécio-histéria do portugues brasileiro, jciamento gramatical, conse- lidade lingitistica clivada, antes referida, teria sido certamente outra se o desenvolvimento de nossa escolarizagio tivesse sido e fosse diferente. Entre os séculos X sivamente a Comps € meados do século XVIII, foi quase que exclu- a de Jesus que culturalizou o Brasil. Para os rf (© rors to nos: amo, MAA, NORMA TA QUITO Bo Reo Be FORTS NO BASE autéctones, o objetivo primeiro seria a catequese e no uma formacio cultural, que se restringiria a uma esteita minoria da elite aristocratica ‘em preparacio para o sacerdécio ou em preparatérios para estudos aprofundados na corte. Depois de expulsos os jesuitas, instalou-se a primeira rede leiga de ensino no Brasil, constituida de mestres mal ;pagos, poucos, e muitos deles mal preparado: “ guns filhos (Hovnsss, 1985: 191), Interessante depoimento sobre tal situag&o se encontra nas Cartas de Luis dos Santos Vilhena, sobre- tudo a carta VIII, em que este lente de grego na Bahia, ao findar o da Bahia. também restrita a século X aga um diagndstico da educagio na capit © quadro comega a mudar no século XIX, tanto que o percentual de letrados sobe de 0,5 para 20/30% em 1920, claro que concentrados nos centros urbanos que comecam a se desenvolver pelas extensdes brasi- Teiras. Contudo 0 ensino foi precério até 1920 (Hounss, 1985: 137) ¢ continua precirio, apesar de, por lei, dever ser universal o ensino pri= mario, veleidade até hoje nao alcangada. Como estévamos ao findar 0 século XX? Em 1986, Magda Soares (pp. 9-10), no seu livro Linguagem e escola, com base no censo de 1980, chega aos seguintes dados: 67% da popu- lagao de 7 a 14 anos estava matriculada no ensino fundamental; mais de 30%, contudo, estavam fora da escola. Esse é um percentual médio que pode variar para menos ou mais, a depender do estado bra ,, superpde-se 0 problema mais grave: dos que iniciam a 1 série, menos da metade chega & 2", menos de um quinto A par dessa taxa de matri conclui o ensino fundamental (8° série). A repeténcia ¢ a evasio di decor mide escolar brasileira es explicam o progressivo afunilamento que desenha a pird- Comparando com inicio do séeulo, em que haveria 20 a 30% de letrados, ao fim do século mantemos patamar aproximado, jé que dos 67% que entram na 1 série escolar “menos da metade chega & 2°”, O percentual, relativo, continua semelhante. Em niimeros absolutes, 0 quadro é outro, jé que éramos 17,3 milhdes ao iniciar o século e somos 170 milhGes hoje (S. C. Ribeiro 1993: 217). Dai a chamada grande explosio de matriculas que fez com que se multiplicassem geometrica- 135 “O vonrucuts mente as escolas ¢ seus professores ¢, em razio inversa, a desqual de escol s e professores. ;am esse quadro ¢ 0 confirmam. Lcresceu, mas nio educa. No 1° g Menos de 20% chegam a0 2° grau, ape 1% alcangam as universidades. Dois tetgos sio pagar 0 ensino, pois somente 33% das matriculas estao em escolas p as. Ea escola que escalhe, ca Somente 32% dos professores de 1 tém ios. De 1970 para 1989, as despesas com educa do Produto Brato e de 10,6% a cere publicos... metade dos recursos nao chega as a cf. A Tarde, 27 de margo de 1990), (1993: 212-213) apresenta o seguinte: que atinge 28 mv PIR, em todas as esferas administrativas. Com censino superior, para 300.000 alunos, gasta-se 0,6 waco superior custe anualmente 8.000 dé- alunos, 0.8% do do ano 2100 a d ino furidamental completo a 95% de sua juventude, O ensino médio completo para 90% de uma geragio ficaria para o ano 3080. il brasileira esta contudo, saber que cada ver mais a sociedade mais consciente dos seus direitos e sua pressio poderd mudar esse E ela se faz. sentir, pelo menos, no fato de ser uma constante nas mas de politicos de qualquer ideologia a questio erucial da educacio, Reduzindo tudo isso a nossa questio central, a escola brasileira hoje nfo tem mais como dar conta da transmissio do padrio lingiiistico preconizado 136 (© rortucuts S80 DOB: VARGO, MURANA, ORM EA CUSTAO D0 RSMO BE ADENLGUE No HAs pela tradigio normativa, pelo contrério, encontram-se na escola estudantes ¢ professores, apesar do niimero muito aquém do desejavel, provenientes de diversificadas camadas populares brasileiras, portadores de variantes lingiifstieas que se afastam do dialeto padrio que a escola pretende treinar ¢ transmit Nao tem como ser aquela escola para poucos, com mestres suficientemente preparados, que era a escola, das poucos que a ela podiam chegar nos tempos de Drummond ¢ Graciliano, ¢ ainda no de Silviano, 4. 0 ensino do portugués no contexto da heterogeneidade dialetal brasileira Buscarei mostrar, em do poreugués do Bras brasi has gerais, orientagbes que direcionam o ensino e, em seguida, apresentarei aspectos da sintaxe a que divergem da norma padrao preconizada pela tradigio gramatical oficial, mas mantidas nas gramaticas pedagégicas correntes que ignoram as variantes conviventes nos usos lingiisticos dosestu- dantes e de seus professores. A escola brasileira, falsamente democra- tizada nas iiltimas décadas, no que diz. respeito ao lingua materna, persegue, no geral, a tradicio normativo-prescritiva cujo modelo & um portugués padrio idealizado, fundado originalmente no portu- Mantém-se até hoje ideais lingiisticas que radicam nos que vigoraram no séeulo pasado, quando comecou de fato a escolarizacio bea: A tradigio purista, primeiro lusitanizante, em seguida em fungio de padres cultos brasileiros, continua defendida nas orientagies oficiais para o ensino do portugues. Essa orientagio viu-se reforgada, oficialmente, da década de 1970 para ci, quando a chamada “explosio das matriculas” fez. chegar as escolas, muitos que antes delas estavam excluidos. Sintomético foi o fato de, logo em 1975, o Conselho Federal de Educagio ter criado uma comis- so de especialistas para estudar a “caréncia linguistica” dos jovens e sugeri Passados dez anos, em 1986, | no pro- cesso de redemocratizacio do Brasil, o Ministério da Educagio criou também uma comissio para o “aperfeicoamento do ensino/aprendiza- Ww "O rosrucuts so 901s” Explicitei ja minha critica d orientaggo proposta que direcionava 0 en- sino, desde as primeiras séries, para o que denominaram “lingua de cultura”, s6 considerando o trabalho com a oralidade diversificada dos escolares a partir da 5* série, quando a repeténcia ¢ a evasio escolar tinham excluido a maioria ja na 2* série, Concom ling temente as orfentagdes oficiais, com a implementagio da ica brasileira, comecou-se a pesquisar a fundo 0 conhecimento da realidade diversificada do portugués brasileiro, nio prioritariamente, ‘mas também no sentido de fornecer orientagies para o ensino da portuguesa, O pioneiro projeto NURC, descrigio das cl iado em 1969, foi direcionado para a las normas cultas, isto 6, de falantes de escolarida- de completa, de cinco capitais brasileiras e tem como objetivos, embora \gidos, propor, com base nos dados empiricos c descritos, reotientar 0 ensino do portugués no sentido de distorgées do esquema tradicional da educacio, entravado por uma orientagio académica e beletrista”. Assim esti formulado 0 sexto dos seus seis objetivos, cinco dos quais voltados para o ensino (cf. Frtras, 1991: 59). Cresceu da década de 1970 para ed a consciéncia, entre os lingiiistas ¢ entre os professores de lingua portuguesa, aqueles que puderam ter boa formagio lingistica, da divergéncia entre o que a orientacao oficial preconiza © a realidade da populacéo escolar. Em geral, direcionamento traz, im cita ou explicita a necessidade social de, por processos pedagégico-lingiisticos adequados, integrar as variantes que trazem os estudantes 0s padraes lingiiisticos prestigiados pela socie- dade em geral, com base no argumento de que se faz necessario ascensio social, numa sociedade estratificada como a nossa, o dominio dos chamados “usos corretos” Em projetos de educagio alternativos, nao ofici ses que defendem o respeito fs variantes da oralidade conscientes, contudo, de que as variantes lingiiisticas estigmatizadas so “o arame farpado mais poderoso para bloquear o acesso ao poder” (Guexet 1985 despontam orienta- 13s CO romvctts so Dos YARAGKO, MUDICA NRHA EA QUESTAO 0 INSNO Be FORTLOLES NO BAS com o objetivo idealista de implementar uma pedagogia que vise & reprodugio social, mas & transformacéo da sociedade, para supe- rar a clivagem sociocultural, reflexo da clivagem socioecondmica que caracteriza o Brasil atual, em que 20% da populagio mais pobre con somem 2,1% da renda nacional, enquanto os 20% mais ricos apode- e de 67,7% dessa renda. Nas direges enunciadas — a tradicional, a integradora e a transformadora — com pesos diferenciados, é certo, se pautam as in- tengBes para o ensino do portugues no Brasil. Digo intengies porque a realidade sécio-histérica e o desenvolvimento da educagao, parte dessa realidade, permitem afirmar que vai mal o ensino do vernéculo no Brasil, porque a qualidade da escola vai mal em deco! do quadro socioecondmico e politico em que vivemos. ‘A par de irem mal a escola ¢ 0 ensino do portugues, progride a lingiifs- tica no Brasil, indo © conhecimento cada vez mais claro sobre 0 portugués br Os estudos de dialetologia dos anos 1960 para ei, embora nao gene- |, permitiram precisar variagbes firmar a heterogeneidade, quanto as suas ico brasileiro. Contribuiram, no entanto, para favorecer a idgia tradicional da homogeneidade do portuguds brasileiro, que, de fato, em termos de variagSes fGnicas regionais € muito menos hetero- sgéneo que as antigas areas rominicas pesquisadas na Europa. © crescente avanco da sociolingiifstica no Brasil, a partir da década seguinte, orientou-se para os estuddos da variasGo social urbana ¢ come- cow a deslindar a complexidade da heterogencidade social do portugues brasileiro, em su pretativos, muitos deles também voltados a inter-relacionar 0 empiricamente observado com questées referentes ao ensino do portugués. hos deseritivo-i 19s tral ue lisa aspectos fonicos inter-rclacionados com a grafia e aspectos sintiti- 18 ‘O rosrucuts s40 bass” cos da escrita de seus estudantes de 11 a 13 anos de escola particular da zona sul do Rio de Janeiro ¢ os interpreta como tendéncias de mudangas préprias ao portugués brasileiro. Varios aspectos tratados nesse artigo de Mattoso Camara Jr, além de ‘sa — com base no corpus ‘do de falantes adultos em proceso de alfabetiza- cio. A autora centrou-se numa anilise do tipo laboviano e explicitou, como ida: sensing na ver que “ icas de tais pesquisas contrastivas tere 05 organizadores dos custiculos as info senciais para o planejamento das etapas didéticas através das quais os educandos poderso evados a desenvolver a capacidade “de tra tra variedade do portugués” (1978: 63). Trabalha cla nesse estudo com fatos fénicos © morfossintéticos, muitos deles subseqtientemente explorados em monografias de mestrado ¢ dou- torado pelo grupo de sociolingistas do Rio, liderados por Anthony Naro © no inicio, pela prépria Miriam Lemle, Esse grupo foi certamente pioneiro egrar a pesquisa lingiistica, vamos dizer pura, com a pesquisa em wsi0 do ensino do portugués, no contexto sociolingiiistico local Dele, jf em 1983, emerge o relatério Estruturas da fala do Rio de Janeiro e a aquisigao da lingua padrio, em que so analisados princi- palmente aspectos sintiticos, mas no exclusivamente, da realizaggo de estudantes da rede publica, de 11 a 14 anos. A esses dados associaram 0s do corpus do Censo Sociolingiistico do Rio de Janeiro, em que a amostra é estratificada em vérias faixas etérias e niveis diversos de escolaridade, Estabeleceram contextos discursivos, lingtifsticos, sociais que inibem ou favorecem uma regra varivel e abordaram, sobretud fatos da sintaxe (topicalizagio ¢ deslocamento a esquerda, regéncia verbal, 0 possessivo sew para a terceira pessoa, a variagio nés/a gente, as regras de concordincia, ordem vocabular), definindo os casos de simples variagio © aqueles que apontavam para mudanca, algumas aa NANG NORA EA CUETO DO RIND OF RORTUCLES 0 BAS podendo ser consideradas concluidas, nos grupos sociais pesquisados referente & terceira pessoa, substituido pelo dele mento de nés). (como é 0 caso de s ©. 0 caso de a gente em det ‘Ao longo da década de 1980, também se iniciam estudos sociolingiisticos em outras dreas brasileiras, destacarei duas por razées que ficaram evidentes, no contexto desta exposigio. Em Brasilia, sobre implementando 0 hhecimento do portugués brasiliense do Plano Pi- loto da capital federal e das “cidades-satélites”, que ali se multiplicam, com a marcante presenga de migrantes de todo 0 Brasil, sobretudo do Nordeste e do Centro-Oeste. O programa de trabalho desse grupo, que se expande para Goids, envolve falantes de extragio rural e urbana, nas suas redes de inter-relacio social. Para além da descrigio e interpreta- ao sociolingiiistica, é direcionado ao ensino do portugués, que édefen- dido, explicitamente, como devendo ser bidialetal e na diregio de aqu dos (Bort sigfo dos padraes sociais presti Paulo foi iniciado no comego de 1980 sob a orientagio de Fernando Ti ced falecido em 1992, Nos de anos de continua pesquisa, sobretudo centrada em dados paulistas F.Taall ros legou no s6 trabalhos vigorosos sobre variagio e mudanca no por as, juntamente com outros colegas da PUC/Sio Paulo ‘eda Unicamp, preparou uma nova geragaio de mestres e doutores que vem dando continuidade ao trabalho iniciado com a sua tese de doutorado, de 1983, sobre as estratégias de relativizagio no portugués brasileiro, (© grupo de sociolingiistas de Si Deci 10 que estou designando como dos sociolingidistas paulistas, porque a construgao tedrico-metadol desenvolveram, gragas ao trabalho em equipe laboviano, e de Mary Kato, gerativista, possibiliton uma interpretagao globalizante de aspectos caracteristicos da sintaxe brasileira que de- monstraram estar interligados. Esses pesquisadores se preocuparam nao s6 com os dados sinerénicos, mas também, decididamente, com os dados do tempo real do portugués brasileiro, ¢ os resultados de suas pes fa se apresenta como um caso stava em processo desde o século XIX. coneentrar-me sas indicam que a sintaxe bras de mudanga paramétriea, qu ‘0 rorruce 1 Essas mudangas foram definidas por F. Tarallo em artigo de 1992 — the Turn of the Century: 19th Century Brazilian- portuguese”, publicado em versio mais completa em 1993 com o titulo traduzido para “Diagnosticando uma gramética brasileira: © portugues dfaquém e d’além mar no final do século XIX”. So as mudangas referidas, nas palavras de Tarallo: 1 do sistema pronominal, abrindo cami- rho para objetos nulos e mais freqiientemente acorrenda sujeitos lexicais io; 2. mudanga sofrida 6 de relativizagao ireta da mudanga no sistema pronominal; 3. reor "Turning Differen no sistema br com perguntas diretas ¢ indire Essa proposta tem nio s6 grande interesse teérico, como apresenta um para a questio do ensino do portugués no Bras Se a sintaxe brasileira vem se definindo desde, pelo menos, 0 século passado, e hoje tais mudangas se encontram difundidas e sio as que marcam as falas correntes de brasi uagbes infor ce fundament ‘0s, mesmo dos de escolaridade tornar-se: lesqualificacio da escola e do percentual de sm acesso — reverter esse conjunto de mudangas stentes, que a ela jonadas ¢ co: gentes da norma padrio, funda- da na gramatica do portugués europeu. E por isso que Mary Kato (1993: 20) afirma: no proceso de 56 pode adquirir a nova gramética da Isso poderi outro do que a grande maioria dos professores, tal como seus estudantes, substituisse o seu verndculo fa portugues escolar. Nesse sentido, pode-se postular, pensando no futuro, que o portugues brasileiro, decorrente dos fatores sécio-histéricos do passado e do pre~ expostos e da gramatica brasileira disso decorrente, muda livre sente 12 ropeu. Aproxima-os, contude, 0 uso formal culto brasileiro, sobretudo escrito, daqueles poucos que possam alcangar uma escolaridade de muito rntada para a aquisigao do padrio tradicional. Se muda- rom os fatores, ou se outros fatores entrarem nesse processo, 0 destino do portugués brasileiro e do portugués europeu podera vir a ser outro, (0 sintatica que indica uma mudanga paramétrica em interpretada como tendo como elemento desencadeador co da morfologia verbal inter-relacionada & reestruturagio do sistema pronominal, com conseqiiéncias sobre virios aspectos da ordem no interior da sentenca. Destaco aqui trés aspectos dessa sintaxe em reestruturagio e mudanca e sua inter-relagio com 0 que os sociolingiistas vem observando quan- to a eles no contexto social brasileiro ¢ no processo de ensino/ apren- dizagem do portugués na escola + a deflexionalizacao do verbo e a reestruturagio do nal sujeito, seus reflexos na concordincia verbo-nor + 0 objeto nulo ¢ © desaparecimento da clitico acusativo, sobretudo 0 ivizasio. Selecionei-os do conjunto destacado por F. Tarallo, porque nele incidem avaliagbes sociais e também a preocupagio dos que nam portugués em recuperar as variantes eleitas pela norma padrio, por serem eles mais evidentes no complexo processo de interagio ico-social. io do paradigma flexional néimero-pessoal do verbo, ico que estd sintética e semanti~ camente relacionado & selegio do pronome pessoal sujeito: convivem no Brasil desde o paradigma historico pleno referente as trés pessoas do singular e trés outras do plural, que se pode encontrar em textos {eririos ¢ continua a ser apresentada nas graméticas escolares e a ser transmitido pela escola (FREITAS , 1991: 59-69) até o mais simplificado ro, reduz esse que, no outro extremo do «i us, vor’, ele, a ge Entre esses dois extremo: como descrito por M. 1993), 0 paradigma de 0 esquecendo que ha variantes, mais de jonam o tt com o verbo na flexio corresponden- te ou concordando, 0 mais comum, com a forma da terceira pessoa do singular — mas, sobretudo para os usuarios do paradigma mareado apenas para a primeira pessoa. nente — que si Em incipio, o professor deverai dominar todas as possibilidades; mas sua uldade eresce porque tem de ser levada em conta a questio da con- igida pela norma escolar e pelas normas so- ciais mais generalizadas. No que se refere a esse aspecto do problema, além de wer de ser considerada a questo fonética do enfraque riagio da con dados pel ica brasileira, desde o estudo classico de A. Naro — The Social ¢ (1981). Temos hoje em plas faces da questio. Um aspecto muito interessante que esses dois autores colocam em artigo de 1991 se refere a0 problema de definir se a variagio na concordncia no se configura como variacio estével ou mudanga em \do os informantes do corpus do Mobral-Rio demons- 1 mercado de trabalho, esses falantes de um mesmo grupo social se sepa entre aqueles que estio de fato perdendo a regra e aqueles que a e adquitindo. Vé-se assim que no se pode afirmar que a perda da concor j8 que, a depender de variaveis io da regra no sentido do padrao normat privilegiado, desde que condigées externas a favorecam. Jr. analisava ha décadas atrés, Hoje ha varios estudos das & 3 pessoa. Dados 1 perda do acusativo, abrindo al pleno, como de sociol direto anaféi riagio dessa variével e indicam anos, M. Eugenia Dua lo (1988) afirmam que a estrutura com é a menos freqiiente e é cla que o padrio escolar segue prescreven- do, Analisam fatores estruturais e sociais. Os fatores estrututais q na selegio das variantes sio a forma verbal, a estrutura da oragio € 0 tzago/ +: animado/ do ebjeto. O uso do clitco fica restrito a formas ver para os que retém o ditico ainda; o pronome lexical is complexas € com 0 trago “mais animado” do objeto (como: “eu vi ele sar’; de ter visto gostaria de té-lo vi 2 categoria vazia é fortemente condicionada pelo trago “menos ani do” do objeto. ruturas si 145 ‘O ronrucuts sho bors” Quanto aos fatores sociais, escolaridade e faixa etiria, observaram que a categoria vazia 6 a estratégia preferida no conjunto dos informantes (60% a 70%); 0 clitico acusativo varia desde a completa auséncia nos jovens entre 15 a 17 anos, cursando 0 1° grau e falantes com mais de 46 anos, com 1° grau, até 6,4% na fala de informantes com 3° grau. Fsses dados indicam uma mudanga de perda dessa variante. © pronome lexical ou ele acusativo tem 23% de ocorréncias nos jovens com 1° grau, decresce na medida em que sobem faixa etéria e escolaridade, aleangando 9,8% entre informantes com 3° grau ¢ esté condicionada & complexidade da rutura da oragio; entre os informantes de faixa etiria e escolaridade alta existe preferéncia pelos sintagmas nominais lexicais Concluem que os dados indicam que a categoria vazia ¢ o sintagma lexical sio “importantes estratégias de esquiva’, tanto em relagio a0 uso do clitico em desaparecimento, como em relacio ao pronome lexical, iado nos testes de produgio aplicados como estigmatizante. Nos testes de avaliagio, os informantes de escolaridade baixa nao dis- tinguem entre as quatro possibilidades em variagio; os demais aceitam © clitico em estruturas simples com objeto direto animado, mas consi- ram “pernéstico”, “distante do coloquial”, o clitico no animado em estruturas complexas. Nelas o pronome lexical é aceito, embora admi- tam que nio seja “certo”. Em disserragio de mestrado em 1991 e em artigo de 1993, sobre a agui- sigio dos cliticos, Wilma Reche Corréa, baseada na escrita e na fala de estudantes "paulistas da 1 a 8 séries e de estudantes universitrios, mostra que 0s cliticos aparecem na fala dos estudantes a partir da 5/6 séries (2,1%) ¢ crescem a medida que sobe a escolaridade, atingindo apenas 10,7% na fala dos universitérios. Na escrita, os cliticos aparecem antes na 3%/4a série (9,3%| em 85,7% na escrita; os universitirios, Tais dados permitem admitir que os cliticos s6 sé0 adquiridos no processo de io fazem parte do vernéculo familiar dos estudantes paulistas. © objeto nulo ocorre, no conjunto dos dados da fala, na ordem de 72%, enquanto o clitico na ordem de 1,3 % (0 ele acusativo 18,2 % € 0 SN lexical 8,3%): e na escrita é 0 objeto nulo na ordem de 514%, © 08 citicos na de 23,3% (0 pronome lexical 9,8%, e 0 SN lexical 16 O romvcuts so pos: waco, NeMNNGA NRA EA QUESTO no BOE HRTUCUE No Bach 15,49). Note-se ainda que o pronome lexical & a variante menos freqtien- te na escrita (9.8%), mas na fala (18,2%) segue-se a0 objeto nulo. Extrapolando esses dados paulistas, mas a partir deles, se pode cogitar, com certa margem de seguranga, que nos extremos do continutn dia~ letal brasileiro, a partir dos dados urbanos de informantes de escolari- dade mais bai alka acima relatados, a situagio se direcionara para a auséncia tios cliticos de 3* pessoa nos dialetos rurais de nio- escolarizados,j6 que 0s cliticos sio adquiridos na escola, em taxa baixa, como vimos, e se para uma fre nos indi- viduos de escolaridade maxima. Faltam anélises significativas desses dialetos extremos para confirmar essas suposigbes mai 3. Convivem no portugués brasileiro trés estruturas de relativizagio: a estabelecido na norma pedagégica (“Ganhei um presente do a “ndo-padrio com pronome lembrete’ le”; ea “nao padrao cortadora” (“Gankei um inhei um presente presente Reunirei aqui dados de dialeto rural mineiro, analisados por Rosa Assis (1982 © 1988) ¢ do dialeto urbano de Sao Paulo, analisados por F. Tarallo (1985 ¢ 1993). Os informantes rurais € no-escolarizados apresentam ocorréncia 0 para o padrio; 16,6% para a nio-padrdo com lembrete e 83,5 % para a cortadora, Essa ultima mais simples em termos estruturais € a favorecida pelos informantes ¢ a que a escola devers difundir inexiste inte do portugués b go urbana de Sao Paulo revela, em sintese, 0 seguinte: os testes de avaliagio subjetiva aplicada sobre as formas nao-padrao mostr a variante com lembrete (analogamente ao ¢ matizada pela comunidade. Examinando na hierarquia das classes soci- ais (baixa, média, alta) e na hierarquia dos estilos o uso da relativa com lembrete, verificou F, Tarallo que hé um decréscimo, da classe alta para a baixa, sendo seu uso, como seria de esperar, mais freqiiente na fala informal (12,8%; 8,9% ¢ 7,6%) que na formal (2%; 3,1%; 6%). Em testes de percepcio, a classe média aceita mais as nao-padrio (47%) que a classe alta (29,3%), mas ambas aceitam a nao-padrao, “7 “On Tais dados informam que todas as classes usam que ha uma hierarquia coerente, considerando nijo-padrao com lembrete é a mais estigm seu uso, j4 que é mais consciente do que a cortadora. s relativas nao-padrio, se ¢ estilo, e que a ida, 0 que desfavorece Considerando os dados da escrita de escolares do ensino fundamental de escolas municipais mineiras, Rosa Assis encontrou neles 5,5% da padrao, 37,7% da relativa com lembrete e 57% da cortadora. Também esse corpus, entre as nio-padrio, a cortadora & a mais usada, e a escola pouco interferiu na aquisicg’o da padrao. Outra informagio sig- nificativa nos dados de Rosa Assis € 0 fato de os professores, na sua corregio, considerarem 34,9% da cortadora como erro e apenas 3,8% do lembrete. Isso parece querer dizer, primeiro, que nem sempre os professores percebem 0 nio-uso da padrao e que corrigem mais variante nio-padrio que é a mais freqiiente nos alunos. Com base nesse conjunto de dados pode-se dizer que, entre as trés possibilidades conviventes no portugués brasileiro, a cortadora parece ser a mais forte candidata a sair vitoriosa, © fato de ser essa a menos evidente como desvio da padrdo que aquéla com pronome lembrete & certamente um fator de peso que joga a seu favor nos embates da interagio lingiifstica no Brasil 5. Para finalizar Os dados que trouxe como ilustragio, selecionados do conjunto de mudangas inter relacionadas na sintaxe brasil século passado, intentai socioletal bras © jf localizaveis no m mostrar um aspecto crucial da diversidade sua sintaxe. Apontam eles para uma nova gramitica, como mostram recentes estu- dos de sociolingiiistica e estudos gerativos, divergente do portugués padrio tradicional, preconizado para ser difundido pelo ensino do por- tugués no processo de escolarizacao. Uma pratica escolar equilibrada tera de adequar seus instrumentos pedagogicos ¢ sua metodologia para o ensino do portugués brasileiro 148 (© rorructs Sho astACA rowrucuts No Beas como lingua materna, ¢ ajusté-los a uma realidade lingitistica e social que no 36 nao deve como nao pode mais ser ignorada Diante dos fatos indicados, de que apenas cerca de 67% dos escolarizaveis se matriculam na I série, alcangando a 2° menos da metade, chegando ao fim do ensino médio 17%; somando-se a isso a qualidade da escolarizagio que esté muito aguém do desejivel; bra wwando-se ainda nessa conta que a grande maioria dos professores, sobretudo os das primeiras séries escolares, mal preparados por razBes conhe: variantes lingiiisticas préprias a como adquitir ¢, portanto, transmitir 0 padrio ide por fim, mantendo-se ainda, no Brasil, 20 mi 20 razoavel certeza, dizer que o portugués brasileiro “6 um portugu solta’, tal como 0 professor Agostinho, a quem devlico este texto, vérias vezes definiu os brasileiros como portuguese: participam das iioria dos seus estudantes, e nao tém para a escola; e, Ifabetos e mais 15es ditos alfabetizados, que no escrevem e nem Kem, posso, com Nossa sécio-histés Nio hi como fugit! 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