You are on page 1of 28
A igreja do Brasil ¢ o plano de emergéncia - 1952/1962" Resumo Nas décadas de 1950 ¢ 1960 ocorreram transformagées signifi- cativas na lgreja Catélica em nivel ‘mundial. Em 1958 morria Pio XU e © papado era ocupado por de Joao XXIIL. Com ele, o mundo eatélico era instigado a repensar a insergio da Igreja na sociedade contempo- ramea e rever suas teses sobre a ago pastoral, a justiga social ¢ as condigdes de vida dos pobres. A ceneiclica Mater et Magistra provo- cou um impacto no pensamento catdlico oficial, desestabelizando estruturas © comportamentos, No Brasil, 0 episcopado aderiu ao are- jamento joanino e respondeu com medidas concretas aos apelos do Euclides Marchi Universidade Federal do Parand Abstract Word-wide, significant transformations happened to the Catholic Church in the 50's and (60's. in 1958, Pio XII died and John XXIII took over the papacy. With him, the Catholic world was incited to reconsider the insertion of the ‘Chueh in the contemporary society and to review its theses on the pas- toral action, social justice and the living conditions of the poor. The encyclical Mater et Magistra caused an impact in the official catholic thought, destabilizing structures and behaviors, In Brazil the episcopate adhered to John's Refreshment and it answered with solid measures to the Pope's The ehorah of Brant and the emergency pla - 19521962 Revisto ds Cidncies Homsenas, Florienspole: EDUFSC, 930, 81-108, outubye de 2001 52 — A tgnen do Bes! « 0 plano de emerge «1952/1962 papa, Aprovou o “Plano de Emer requests. Being the "Emergency géncia paraa Igreja do Brasil”,cuja Plan for the Brazilian Church" principal contribuigdo seria a pro- approved; its main contribution posta de uma Pastoral de conjun- would be the proposal of a Joint to, A renovagio diocesana e paro- Pastoral. The diocesan and {quial, bem como a ag20 dos leiges parochial renewal as well as the na Igreja foram temas amplamen- actions of secular people towards fe debatidos e contribuiram para the Church were well discussed estabelecer uma co-responsabilida- subjects, They contributed t0 the de entre clero ¢ leigos na execu- establishment ofa co-responsibility ‘glo do projeto de pastoral de con- between the secular people and the junto e nas relagdes entre Igreja.e clergy inthe execution ofthe project sociedad, for the Joint Pastoral and in the relation between Church and Society. Palavras- chave: Igreja Catolica, Keywords: Catholic Chuch, Emer- Plano de Emergéncia, Pastoral de gency Plan, Joint Pastoral, Brazi Conjunto, Episcopado Brasileiro, lian Episcopatc, John’s Refresh- Arejamento Joanino, ment, 1. © enfrentamento de um novo dilema - 0 eapitalismo uuase um século se passara desde que Pio IX, em 1870, condenara ‘o mundo moderno. Mesmo assim, a [greja Catdlica ainda nfo su- perafa 0 trauma decorrente das idéias propostas pela modernizacao do mundo ocidental. Ao longo de décadas, afirmara e ratificara suas posi- (es condenatérias ao seu principal inimigo, o modernisme, Em 1937, Pio XI consolidava aquele pensamento com a publicagae da enciclica Divini Redemptorislangando 0 mais cabal ansteme contra o comunismo, considerando-o como intrinsecamente perverso, ¢ como tal, era inimigo da lgreja ede todo o género hurmano. Apds a segunda Guerra Mundial, (© pensamento papal era compartilhedo por grande parte do mundo oci- dental, que desencadcaria uma férrea campanha contra 0 perigo que -vinha do leste. ‘O mundo contemporaneo defrontava-se com alguns problemas que Revista do Ciénsias Humancs,Floiarspois: EDUFSC. 030, p 81-108, eutabro de 2001 Buclides March assumiam dimensdes alarmantes, preocupando os analistas das ques- t0es sécio-econdmicas, quer fossem pessimistas quer otimistas; era 0 mundo da fome, da doenga, da promiscuidade, da morte e da ignorancia, das guerras regionais, da concentragio das posses, da explosio das re- voltas, da degradavio da vida ¢ intimeras outras situages cuja lembran- ‘ca contribuiria para ampliar 0 painel das dificuldades ¢ da degeneraga0 sgeral dacivilizagao humana, Apesar da dimensto mundial das dificulds- des, o terceiro mundo era a parte do planeta que vivia com mais intensi dade aguela “dramética” situagio, As estatisticas mostravam que, se de um lado o desenvolvimento tecnolégico criava condigSes para o alumen- to da produgao e faclitava a vida de parte dt populagao, de outro havia i “assustador” crescimento da pobreza e das dificuldades de sobrevi- veneia Sob o dominio de um discurso da ordem (re)estabelecida como resultado da vitoria das democracias sobre as ditaduras, do capitalismo sobre 0 socialismo, do liberalismo sobre 0 comunismo ¢ a defesa do estado de bem estar das sociedades ocidentais, escondia-se ou escamo- teava-se uma profunda desordem entre os povos e as sociedades. De- sordem essa que podia set visuelizada pelo grau de degradagao das con- digoes de vida e pela generalizagiio da miséria entre as comunidades subdesenvolvidas. ‘No entanto, se 0 comunismo era ainda o grands inimigo, desconfi- angas em relaglo ao capitalismo, também transpunham os muros da Sé romana, Desde Pio IX, passando por Leao XIII, Pio X, Pio XI e chegan- do até Pio XII, as principais enciclicas papais faziam alusbes constantes ‘208 males do capitalism. Embora nto se observassern ataques diretos © frontais, j4 n&o era possivel silenciar ou acobertar os desmandos © as desigualdades sociais, atentatérias a toda @ humanidade, Muito embora essas desigualdades nem sempre fossem vistas como elementos definidores da sociedade eutopéia, nos paises do “terceiro mundo” jf nfo se suportava com facilidade o impacto do esbanjamento em detri- mento da miséria e da erueldade da vida que atingia parte significativa a populagao. ‘A pobreza que dizimava contingentes da humanidade obrigava a Igreja Catélica Romana a rever sua concepgo de ordem social ¢ eco- nOmica, A desordem sécio-econdmica provocada por um sistema que se sustentava numa desenfieada busca de riqueza, de lucro e do bem-estar Revista de Cléncias Humans, Flovanépolis: EDUFSC, 8.30, 81-108, outubro de 2001 4 — A igre do Bra 0 plano de omorggacia - 1852/1962 ‘material sem limites, inquietava as autoridades eclesidsticas. Constata- vamelas que-a conjuntura gerada pelo liberalismo sem parémetros, defi- nitivamente, colocava em tisco a instituigao catdtica ¢ afetava a cligio~ sidade das populagSes. Perturbava-se o episcopado com 0 predominio do econdmico sobre o moral, o material sobre 0 espiritual. Ambos provo- cavam estragos na visio sobrenatural da existéncia humana, A crueze das divisdes sociais, das desigualdades, dos efeitos da pobreza na vida e na espiritualidade das pessoas motivaram a hierarquia a programar no- vvas a¢6es ¢ a implantar priticas sociais e pastorais que, embora inicial- ‘mente timidas ¢ cuidadosas, revelavam a descoberta de um outro ¢ peri- 8080 inimigo: O capitatismo. ‘A patti do final dos anos cingienta, um novo discurso era construfdo, De forma clara ¢ explicita, a instituigdo manifestava-se sobre as condi- es de vida das populagdes de muitos paises, resultantes da estrutura social fundada no modelo de desenvolvimento capitalista. E, se desde a Rerum Novarum de Lea XII] em 1891, a suprema autoridade eclesias- tica criticava as seqUelas provocadas pelo capitalismo liberal, foi na dé- cada de 1950 que o egotisimo capitatista passou a softer criticas contun- dentes, apontando claramente a mudanga de posigdo da Igreja em rela- gio a ele. ‘A questo social, centrada mais especificamente na quest#o ope- rlria, era recorente nos diseursos ¢ documentos papais, desde Lefo XIIL Lucien Pelissier, em seu texto “A Igreja © as Classes Sociais” ressalta que Pio XI, em sua radiomensagem ao Katholikengad de Vie- na, j& assinalara que “a questo operdia & a miséria do proletariado © 0 dever de elevar essa classe, abandonads sem defesa ao sabor da con- jjuntura econdmica, & dignidade das outras classes, dotadas de direitos precisos”” Ficava evidente aos pastores da Igreja a situagio desumana a que cestavam submetidos os trabalhadores especialmente quanto as condi- Ges de trabalho, de salério ¢ de vida. ‘Antes dele, Pio XI, em 1922, na enciclica “Ubi arcano Dei” repro- ‘ava as atitudes de operirios e patrOes: uns por sua avidez em adquirit ‘os bens temporais © outros por sua tenacidade em consetvé-los, ambos TER, A lich ea chsses sole Revista Chvzagdo Brslzra. Rio de Janeiro, 105-106, 1968 Revista de Ciéncias Humana Florionbpolis: EDUFSC, 30, p81-108, outubro de 2001, Euctides Marchi — 85 pela ambigao de possuir e comandar. Em outra encielica mo anno”, de 1931, ressaltava: nuadragési- “As classes pecam, todas as duas, igualmente contra a santa fei: tanto a classe dos ricos, quan- do, desiigada por sua fortuna de toda a solicits. de, considera perfeitamente regular e natural um estado de coisas gue the proporcione todas as vantagens, sem nada detcar ao operdrio: a classe dos proletirios quando exasperada por uma site- cdo que fere a justica, © muito exclusivamente preocupada em reivindicar os direitos dos quais tomou conseléncia, rectama para sta toialidade do produto que ela declara ter saido inteiramen- tede suas maos”? Evidentemente, a Igreia, pelo discurso dos papas, apelava para valores morais, para a justiga e condenava os egoismos, entre outros como fatores da exploragao entre 05 possuidores ¢ os despossuidos. Porém nada fazia supor que nesse diseurso insinuave-se adogdo da violéneia como altemativa para a solugdo das diferengas. No entanto, reconhecia que a sociedade néo era um corpo harmonioso ¢ era preciso que todos se empenhassem ¢ cooperassem para o bem comum. Era a tese da diversidade e da complementaridade sem antagonismos. Pio XI insistia nessa tese destacando que “Uma verdadeira colaboragiio de todos, em vista do bem comum, ndo se estabelecerd Sendo guan= do todos tverem intima convicedo de serem mem bros de uma grande familia e fthos de wm mesmo Pat celeste de niio formarem: seniio um 30 vorpo no Cristo. do qual eles sto, reciprocamente, os membros, de mado que se um sofre, todas sofiemt com eles” "PIO ir Quadvagentno anv, Im PELISSIER, Ls 4 fereja us Clans Sout, Revita ‘Gviltagto Brescia, n. 21-22, Rio de loner: Ci. Brasilia, 1968. p. 02, > biden. 108 Revista de Ciéneae Humanss, Florisndpolis; EDUFSC, 930, p81 86 — A ipten do Brasil eo plano de emerséia- 195211962 © papa acrescentava que 08 ricos deveriam dar provas de carida~ de, acothendo com benevoléncia as reivindicagBes dos proletarios, pe- indo desculpas e pentoando os erros e faltas dos trabalhadores. Estes, por sua vez, deveriam renunciar aos sentimentos de édio e de invefa que 0s promotores da luta de classe exploravam corm tanta habilidade ¢ de- verian ace‘tar, sem rancor, o lugar que a divina Providéncia Ihes desig ‘nou, Nao raro defendia-se a tese de que as diferengas eram urn fendme~ no natural. Cabe ressaltar que “esta concepao quase “mistica’ da sociedade era, a vezes, de tal modo conduzida que se chegava a esquecer 08 ‘corps pera pensar somente nas almas que, elas sim, evidentemente s80 iguais Na segunda metade da década de cingdenta a Igreja, que tanto se empenhara no combate ao comunismo, vivia no seu interior, uma situa- 40 de trangtilidade ameagadora e que, geralmente, precede momentos de intensa transformaglo. No dizer de J.B. Libanio, ‘No final do pontfcado de Pio Xl (1958) (.) os ‘movimento inguietanies do pés- guerra tinham sido silenciades, através da condenacto da Nova Teo- loge, do emio de Telhard de Chardin para a Chi« 1a, entando que seus eseritos fssem publicads. do encerramento da experiéncia das Padres Ope- ‘ries ¢ do enquadramento, dentro de limites ace ives, da renovageo ltirglea eda apo do liga" Naquele periodo, 0 mundo catélico convivia emaceitave! harmonia com Roma e o Papa mantintia-se como o grande condutor dos destinos de Igreja que se (re)afirmava como Una, Santa, Catélica, Apostélica & Romana. 11 - 0 Arejamento Joanino Em 1958, enguanto 0s sinos das lgrejes de todo 0 mundo dobravam ea sociedade catdlica velava Pio XIf, lamentando a morte de um grande SPECTER Len, p 1H LIBANIO. 118. Conflie Igreje-Rstade, Encontrox ery 4 Chisago Brasileira Rio de sneio. 9 4p 28 eu 1978 Reviste de Ciénoivs Humes, Florianopolis: EDUESC. 0.10, 81-208. ouubro de 2001 ucldes Marchi — 87 papa, a Igreja comeyava a viver uma das fases mais significativas de sua existéncia no século XX. No final da década, a instituigao ¢ 08 caté- licos seriam sacudidos pelo movimento que seria denominado por muitos de “arejamento joanino”, ‘Um novo othar sobre a sociedade e os tempos modernos provoca- ria transformagdes nos comportamentos do clero ¢ figis tanto no que se refere as ages pastorais quanto no procedimento dos rituais de ‘espiritualidade. Sendo a totalidade, pazcelas significativas dos sacerdo- tes (incluindo os bispos) e dos eatélicos feigos seriam impelidos a uma nova conquista do mundo, a sairem das sacristias em busca das “ovelhas tresmalhadas” ou daquelas que nunca haviam pertencido ao rebanho da cristandade, Eram tempos novos que batiam & porta das dioceses ¢ das paréquias e demandavam posicionamentos nio comuns & trajetéria da instituigao, As questdes sociais e politicas exigiam um comportarmento €tico-moral e demandavam um comprometimento institucional tanto dos hhomens de primeira linha quanto de toda a catolicidade. O mundo da politica e a sociedade moderna no comportavam mais as, outrora, repe- tidas condenagdes dos pontifices romanos. Passavam a set sujeitos da tica e dda moral, ganhando espaco no umbrais do Vaticano, assumindo posigo central nas preocupagdes da Igreja. Eta um novo discurso sobre a sociedade e sobre a atuagio do clero, Interna © externamente a Igreja estava vivendo um processo de arejamento ou de “agiomamento” como tanto se repetiu naquele momento. Com esse espirito de “agiomamento”, em maio de 1961, emcome- moragao ao septnagésimo aniversério da Rerum Novarum, Joao XXIII ‘causava um impacto significativo no interior dacristandade ao publicara “Mater et Magistra”; certamente uma das principais enciclieas dos pon- tifices romanos. A oportunidade em que vinha a piblico ja indicava que ‘objetivo era recolocar o tema da questo operéria, com a finalidade de expor as novas diretrizes da fgreja sobre as relagBes sociais capitalists, ‘A medida que o mundo contemporineo passava por uma evolugio econdmico-social extremamente compiexa, Joao XXIII trazia & tona a tcologia da propriedade elaborada por Santo Toms de Aquino, constan~ temente retomada pelas enciclicas sociais desde Ledo XIII. Os elemen- tos motivadores dessa retomada eram 0 clamor ¢ a dentincia contra @ injustiga, cuja natureza decorria da miséria dos trabalhadores. As razdes, dda injustiga estavam na existéncia de patroes desumanos, concorréncia Revista de Ciéncias Huntanay. Fositnépali: EDUFSC, 0.20, p81-IO8, outubro de 2001 38 — A igre do Brasil © 0 plano de emergncia- 1952/1962 desenfreada, desejo de enriquecimento a qualquer custo, usura e mono- pélio dos bens nas mifos de uma minora. Emibora recorrente, sua doutrina social voltava a condenar 0 soci- alismo ¢ o comunismo, especialmente quando colocados come remédios para as diferencas c injustigas sociais, como também atacava ao Libera lismo econémico, por sua concentragdo da propriedade e pelas injustigas sociais que dele resultavam. ‘A “Mater et Magistra” fazia uma retomada dos rumos tragados pela Rerum Novarum e pelas enciclicas papais que a precederam e tra- tavam das quest6es da doutrina social. Joao XXIILfoi explicito ao afic- ‘marque: “Ns senlimo-Nos no dever de conservar viva a chama acesa pelos Nossos grandes Predecesso- res e de exortar a todos a que nela busquem in- centivo e luz para resolverem a questo social da ‘maneira mais adequada aos nossos tempos. Por este motivo, comemorando de forma solene a Encielica Leonina, comprazemo-Nos em (..) fazer uma exposicito desenvolvida do pensamento da Igreja, relative aos novos e mais importantes pro- Blemas do momento. A enciclica fez uma longa defesa da propriedade, Mostrou, sobre- tudo, que o mundo e, em especial, a Igreja destobriramo subdesenvolvi- ‘mento como um dos fenémenos mais preocupantes da humanidade. Algo novo determinava a necessidade de retomar com maior clareza a doutri- na Social: -a socializagao, Essa nova realidade contribuiu para que esta enciclica se distinguisse das anteriores por sua clareza, precisde e pela preocupagto com a aplicagto da doutrina estabelecida a certos fendme- nno$ recentes e mais circunscritos”, ‘Ao referir-se a socializag3o o texto papal destaca ‘Se a sociallzagio se praticasse em conformida- dde-com as leis morais indicadas, nao traria, por "eae NII Water et Magisra, Ay. REB, vol. 2, fase 3 , Set. 1961, p. 74. * CHARBONNEAU. PE. Da Rerun Novara & Tetogia da Libertagdo, Sto Paulo: Ba. Loyola, 1985, p49 Revista de Clincins Homanas,Floriandpolis: EDUFSC, 20, 81-108, oatbre de 2001 Buctdet Morchi — 89 sua natureza, perigos graves de vir a aprimir as individuas. Pelo contrério, ajudaria para que estes se desenvolvessem as qualidades préprias da pessoa humana Reorgenizaria até a vida em comm {..) condisiia indispensivel para a satis- faci das exigéncias da justioa social E interessante observar que a diseusslo sobre a socializago con- twibuiu para que fosse introduzido um tema novo no diseurso papal: 0 mundo subdesenvolvido, Varios problemas foram a ele atrelados tais como reforma agraria relagées entre nagdes desenvolvidas e subdesen- volvidas, descompasso entre o crescimento demogrifico e 0 econdmico nos paises subdesenvolvidos e a solidariedade entre as nagBes ricas ¢ 2s pobres na busea do desenvolvimento do terceiro munde. © conjunto dos temas abordados por Joo XXIII naquela encielica abrangia as diversas Areas da atuagdo da Igreja, destacando-se em es- pocial as questdes relacionadas &s condigdes de vida dos cidados nas relagdes com o Estado e no convivio entre si, Segundo ele, uma convi- vEncia ordenade e fecunda precisava da “colaboragto no carapo econd- ‘ico e, ao mesmo tempo dos cidadios ¢ dos paderes piblicos; colabora- 0 sinultinea, realizada harmonicamente, em proporgées correspon- Gentes as exiggncias do bem comum no meio das situagdes variaveis e ds vicissitudes humanas”™, A parte do texto que estabelecia 0 direito do cidadio aos meios indispensaveis 20 sustento, ao tratamento médico, a uma educagao de base mais completa, auma formagio profissional mais adequada; direito a habitagZo, ao trabalho, a um repouso conveniente e ao descanso, bem como 0 acesto aos meios de informag&o era mais especifico e contun- dente que os anteriores. O papa caracterizava como “tristissimo espetée culo” o fato de inumerdveis trabalhadores, em muitas nagdes viverem com tum salirio que os submetiam, juntamente com suas familias, a con- digdes de vida infra-humanas, enquanto muitos viviam no luxo desenfre- ado, desperdicio e esbanjamento Tal constatagdo levava-o a dizet que a retribuigdo do trabalho no poderia ser abandonada &s leis do mercado e nem ser fixada arbitraria- Jone XXII Mater & Aapisire (GAY, Tider. p. 743. Sado XXIN. Mater et Mops, (53), Idem. p. 182. Revita de Cidncias Humans, Porandpols: EDUFSC, 2.0, p.81-108, outubro de 2001 90 ~ A igs do Brasil © plano de cmersécis «1952/1962 mente; deveria, sim, ser estabelecida segundo a justica e a equidade. Para isso, era necessério que o saldrio proporcionasse ao trabalhador um nivel de vida que pudesse enfrentar com dignidade as responsabilida- de familiares. A enciclica referia-se ainda aos aspectos do ajustamento entre 0 progresso econdmico e o social, defendendo o prinefpio de que todas as ccategorias tivessem maior participagio na distribuigo dos bens produzi- dos, € que a organizacto das estruturas produtivas se pautassem pelo critério da justiga e pela presenga ativa dos trabalhadores nas médias ¢ sgfandes empresas em todos os niveis. ‘Assim como se refetia aos individuos, o documento papal também 6 fazia em relago aos paises, zonas de progresso € 2s subdesenvolvi- das, isto €, propunha a colaboragao no plano mundial, permitindo que hhouvesse uma verdadeira renovacdo das relagdes de convivencia na verdade , na justiga e no amor. © arejamento joanino, no entanto nao se deu apenas com a publi~ ‘eagiio da enciclica “Mater et Magistra”. Impacto ainda maior foi provo- cado pela convocago do Coneilio Vaticano II. O papa sentia que as tendéncias filoséficas, sociais, politicas e culturais do mundo moderno fustigavam duramente a Igreja e desencadeavam uma ctise universal nunca vivide anteriormente, (0s ventos do Concilio Vaticano Il sopraram forte sobre e no interi- or da Igreja do Brasil, Desde a separacao do Estado (final do século XIX),a Igteja lutara para consolidat-se como instituigdo livre, auténoma © caper. de interferir nas questdes politicas, nas organizagdes sociais € no comportamento dos individuos. Nesse processo, niio enftentou gran- des oposigdes ou embates até a década de 60. Os conflitos com o Esta do, com as organizagdes da sociedade civil e com outras instituigBes religiosas foram destituidos de grande importincia, Todavia, o ensino religioso, as manifestacdes iriunfalistas, a conquista de espaco no mundo do pensamento, a organizacao de associagdes (como a Unido Popular, a Liga Brasileira das Senhioras Catoticas, a Alianca Feminina, a Congre- {gaco Mariana, os Circulos Operérios, a Juventude Operdria Catélica, a Aco Catdlica) e toda a sorte de movimentos leigos foram agdes de «extrema importanefa na construcao e consolidagao da Tnstituigio na or- dem republicana, Até entio, seguindo as orientag6es da cipula romana, a Igreja do Revista de Ciéncies Hamanas,Flclanépolis: EDUFSC, 220, p.81-108, outubro de 2001 Buclides Merchi 91 Brasil reagiu negativamente a qualquer tentativa de aproximagao ou didlogo com os comunistas; defendeu-se dos ataques ¢ articulou suas forgas para frustrar-thes qualquer avango em terras brasileiras. Este foi ‘um periodo cujo objetivo prioritario era reconquistar, para.a Instituigao, 0 papel de protagonista da historia brasileira contemporéinea. Para conse- ‘gui-lo foi necessirio realizar reformas profundas e répidas, Desde os anos cingjienta boa parcela do épiscopado ¢ dos catéli- cos do Brasil definia-se ¢ identificava-se como progressista, mantinha uum bom relacionamento com o Vaticano ¢ dele recebia apoio explicito, sobretudo nas agbes ligadas ao envolvimento dos leigos no movimento da Ac2o Cat6lica. A presenga leiga foi favorecide pela crise vocacional que causou uma caréncia de sacerdotes e de freires. Durante a década de sessenta, 0 problema agravou-se em decorréncia do mimero de pedi- dos de suspensiio do ministério, provocando baixas significativas nos quadros do clero catélico. A presenga dos leigos, se. por urn ledo, explicitava as virtualidedes intemas da Instituig&o, por outro, pressiona- va hierarquis a posicionar-se frente as questdes econdmicos, sociais € politicos que preocupavam toda a sociedade brasileira. Para se compreender esse novo posicionamento ou repo- sicionamento da Igreja frente a esses questdes & preciso que se explicite as formas de compreensio ¢ autocompreensto do papel da Insttuiga0 de sua missio religiosa e salvifica, Emoutros temios, segundo Mainwaring (1989) “¢ preciso compreender os objetivos e a concepeio de fé que a motiva”® Estes podem ser entendidos por meio das definigdes adotadas pela instituigdo desde 1916, quando optou pela predominancia das mani festagdes de cardtor religioso sobte as de caréter politico ¢ social. Deu maior Enfase & missa, 8s oragbes, so cumprimentes dos prinefpios mo- rais € 4 observancia da ética catdlica. Condenava as maldades do mun- do modero, definido como um mundo sem caridade, sem devogio € sem cooperaco. Um mundo voltado para si mesmo, apegado ao dinhei- 1, a0 ptazer, ao conforto, & luxiiria ea gléria va, Era, sobretudo, um mundo que corvoera a retigiio. Desse posicionamento derivou a idéia de que a salvacio nao era estar no mundo, mas elevar-se acima dele. Os saverdotes deveriam ser devotos ¢ niio militantes das causes sociais, ter contato com o mundo TMAINWARING, 8 Tee cule & police mo Bra «19/6 -1985. So Plo: Grasiene. 1989. pe Revista de Clincias Husanas Florianépolis: EDUFSC, 1.30, p 81-108, outubro de 2001 92— A igreia do Brasil eo plano de emeretecia - 1952/1962 sem ser do mundo, As idéias que minavam areligito ea fé nao deveriam ser transformadas ou conquistadas, mas simplesmente rejeitadas. Em sintese, a fé nio exigia compromisso politico. Dessa forma, “A Tgreja ngo entcarava a transformagao da sociedade como sendo parte de sua rissio; pelo contrério, a maioria do clero se opunha vigorosamente &s grandes mudencas sociais como sendo prejudiciais & ordem crist& tradicional" Todavia, no inicio da década de sessenta, com ou sem o apoio da Igreja, 0 pacto social sofreu ameacas de ruptura pela maior presenga dos setores populares e por um forte aquecimento do debate ideoldgico, Havia expectativa de que 0 modelo sécio-politico-econémico pudesse ser reorganizado na sua estrutura intema e screditava-se na possibilidade de mudangas estrututais profundes. Perante a ameaga de uma possivel guinada para @ esquerda, ime- diatamemte as foreas conservadoras catélicas demonstraram uma Tes peitavel capacidade de organizacio e punham na rua suas associacbes © agremiagées de senhoras, jovens ¢ pessoas das mais diversas camadas da populago, em movimentos e marchas na defesa da Instituigo, dos valores, das tradigées catdlicas © da patria. Estas forcas articulavam uma parcela da populaco que temia uma possivel vitdria do comunismo, opumha-se as tendéncias de setores do govemno que simpatizavam com ‘0s movimentos de massas e com os propésitos da esquerda. Ao eleger 0 comunismo como seu grande inimigo, a Igreja repro- duzia também no Brasil aquilo que se passava no resto do mundo. Reco- nihecia nele uma capacidade de polarizacao e uma forga capaz de atrait as massas empobrecidas das cidades e do campo ¢ via nos comunistas uma grande capacidade de organizacio ¢ de militéncia, constituindo-se num desafio para os catdiicos. Imediatamente, 0 episcopado conclamou 1s seus figis que, como cristios (quase cruzados), deveriam atuar em todos os setores da vida, orgenizando-se pata reconquistar as massas catélicas disputadas e atraidas pelos adversétios da Igreja. A estratégia {JA no se limitava ao discurso, mas & revonquista. Tratava-se de recristianizar a sociedade. Uma elite de catélicos e suas associagbes foi recrutada para atuar de forma articulada e controlada pela hierarqui Lautava por um catolicismo que néo fosse nem de direita, nem de esquer- de, mas que apresentasse uma solugo catélica para as questBes sociais, Desta forma, se na década quarenta a Igreja Catélica no Brasil item 9 5 Revista de Ciéncias Humans, FlcianSpois: EDUFSC, 2.30, 981-108, outubro de 2001 Euclid Mores 2 vivera um periodo de relativa estagnaco, com sua hierarquia priorizando a repetigdo de formulas emanadas do Vaticano, aceitas como “verda- des” absolutas, transformando a pregacio apologética na autodefesa, propugnando principios accitos pela elite tradicional, preferindo pensar- secomo Instituigto modelar, perfeita, divina, e contra aqual as forgas do inferno jamais itiam prevalecer, contrapondo-se a um mundo corrompi- do, inttinsecamente mau ¢ renitente aos ditames da Igreja, Na década de cingienta comecava um processo de mudanca que redundaria numa nova auitocompreensto, "comprometida com o mundo secular moderno ‘© com 08 destinos os sezes fnumanos na terra e com a justiga social” ‘Neste contexto, a morte do Cardeal Leme em 1942, além de signi- ficar o fim de um periodo da trajetoria do episcopado brasileiro, também tem, stem. p. 48 Revis de Citncias Humanas, Florandpolis: EDUFSC, 9.30, » 81-108, outubro de 2008 Euclides Marchi — 105 com razdo, como inadidveis ~ Reforma Agraria, Reforma Tributéria, Reforma Bancaria, Reforma Universitéria, Reforma Eleitoral, Reforma Adini- uistrativa - nao indicacdes téenicas que nos esca- pam ~ mas diretrizes doutrindrias, aplicadas ao ‘nosso tempo e ao nosso meio” Na mesma data a Comissio Central da CNBB, levava 20 Brasil uma Mensagem de esclarecimento ¢ apelo, Nela a pobreza das massas recebera destaque, ¢ a fome passava a ser considerada como o mais grave espectro que se abatia sobre significativa parcelada populayao. 0 discurso oficial era contundente: “Ninguém desconhece o clamor das massas que, martiricadas pelo espectro da fome, v0 chegan- do, agai e acold, as raias do desespero. Jé no ‘era menor nem menos grave o grau de pauperismo ‘entre as camadas mais humildes da populacio. ‘Mas os homens, conformados, por assim dizer, com ‘a miséria, apresentavam-se impassbis. Agora, seja pelo das sucessivas crises econémicas, polit eas e socials, que tem abaiado o pais, seja pela facilidade das comunicagées ¢ da divulgacao das “ddias e dos acontecimentos, seja pela crescente organizagéo das classes, 0 povo das cidades ¢ dos campos comeca, ndo apenas a tomar conheci- mento das verdadeiras causas dos males, como, sobretudo, a compreender que sem participacio na vida das insticuigdes e da propria sociedade, Jamais seré libertado do estado de ignominia em ‘que se encontra”® ‘Ao longo de toda a Mensagem, discurso era bastante contunden- tee apontava para a nova situagdo que se divisava em que as mesmas ‘massas comecavam a perceber que sem sua participagdo no processo institucional, jamais conseguiriam afastar 0 espectro que as rondava, A Igreja enfatizava que, como em outras épocas, jamais se abstivera de Tieden pa » idem p. 50 Revista de Cignsins Nomanas, Floranépolis EDUFSC. 0.30, p1-108, outro de 2001 106 — A igen do Brasil op clamar por uma ordem social baseada nos principios da verdade rovelada ¢ das notmas da justiga e da equidade. Todavia reconhecia que nos jiltimos anos a situagio se agravara, com aumento da irresponsabilidade, da ganancia ¢ da frouxidio moral. O comunismo atcu explorava ativamente miséria, enquanto capitalismo liberal, nao menos ateu, se beneficiava da agitasio comunista, Afirmavam 0s bispos que jamais houve no pais um to criminoso dominio das forgas econdmicas e © agravamento da situagao politica, econdmica e social, decorria da gandncia daqueles que eram insaciaveis no seu desejo de concentrar a riqueza. A Comissao apelava, em primeiro lugar, para as forgas catélicas Longe de ficar lamentando inconseqtientemente a situago, pedia para que os catélicos executassem o Plano de Emergéncia. Apelavam, 0 trossim, aos poderes da Republica para que correspondessem is es- peransas do povo, que queria um governo firme e bem orientado, inspirando respeito e obedincia lei e& autoridade. Somente assim seria possivel realizar as reforma de base. As forgas produtoras também recebiam suaadverténcia, no sen- tido de compreenderem a gravidade do momento ¢ de buscarem os verdadeitos fins da relacao capital e trabalho. As familias, os estu- dantes ¢ os operitios deveriam nao se deixar iludir por agitadores que somente queriam o agravamento da situago e deveriam unit forsas numa ago vigilante e enérgica pela restauragao dos pontos fundamentais que assegurariam a estabilidade e a ordem social (© Plano nas suas duas partes evidenciava uma postura tradici- onal da Igreja: a hierarquizagdo das fung6es. Apesar da abertura para a ago dos leigos, do “agiornamento” em relagao as questées sociais, ccondmicas ¢ politicas, todas as atividades ainda giravam em tomo da figura do clero, A Igteja nao abriria mao da clericalizagao das atividades de diregdo, de execugdo e do andamento geral do Plano. Tudo deveria estar em perfeita harmonia com as orientagées dos bispos e dos sacerdotes. A palavra do episcopado nto deixava divides: Revista de Cidncias Humanas, Flelandpols: EDUFSC, 9.30, p 81-108, outubro de 2001 Euclides Merch — 107 “Dentro da confusdo reinante em nossos dias, 0 pelo enérgico e paternal do Santo Padre para um Plano de Emergéncia nos deve levar a wna ‘mobilizacdo total deforcas. Uma Pastoral de con junto, dentro do expasto acima, far somar foreas, evitar desperdicios e entrechogues. Sob o coman= do do Bispo Diocesano e com a uniéo de vistas da Hierarguia podemos andar muito e rapidamente, Para isso precisames de um caminko e um cami- ho vidvel e certo, E 0 que esperamos de Deus ‘com wma Pastoral de cenjunto”™ Finalmente, se ainda havia muitas restrigées, se os reais avangos ainda nio eram 03 desejados, ha que se reconhecer que o Plano de Emergéncia contribuiu para que o episcopado brasileiro comparecesse ‘a0 Coneflio Vaticano I mais preparado ¢ com uma visto mais clara € consistente da realidade de suas dioceses, das paréquias e dos catélicos do Brasil, bem como das angistias e das dificuldades que marcavam a vida dos brasileiros, Referéncias bibliogrificas IGREJA CATOLICA. PAPA Joio XXII. Mater et Magistra, (enciclica), Revista Eclesiéstica Brasileira vol. 21, fase. 3, Set. 1961. IGREJA CATOLICA. Carta de Joto XXIII. O Episcopado da América Latina. Revista Eclesidstica Brasileira, vol.22, fasc.2, junto ec 1962. CNBB. Plano de Emergéncia para a Igreja do Brasil. Cadernos da CNBB, n? 1, 2" edigao. Rio de Janeiro: Liv. Dom Bosco, 1963. CNBB. Bispos. Declaragdo dos Cardeais, Arcebispos e Bispos do Brasil. Revista Bclesidstica Brasileira, Vol. 22, faz. 2, junho de 1962. IGREJA CATOLICA. Bispos. Pastoral Coletiva dos Cardeais, Arcebispos, Bispos Pelados residenciais do Brasil. A Igreja ante as Problemas Atwais. Petropolis: Vozes, 1951 HEN. Plone de Boga pw Revists de Cifacias Humanas Foriadpolis: EDUFSC, 0.30, p-81-108, outubro de 2001 108 — A grein do Bras o plano de emorgéneia- 195211952 BARROS, R. C. (Pe.). Perspectivas pastorais para o Brasil de ‘hoje. Cadernos da CNBB, 1. 2, Rio de Janeiro: Liv. Dom Bosco, 1963. CASANOVA, A. Vaticano II ¢ evolugao da Igreja. Porto: Bd, Inova, 1972. CHARBONNEAU. P. Da Rerum novarum & Teologia da Liberta- ‘60, Sho Paulo: Ed. Loyola, 1986, LIBANIO, J. B. Conflito Igreja-Estado: encontros com a civilizagao brasileira. n4, 1978, Rio de Janeiro: Civ. Brasileira, 1978. PIERUCCI, A. F. de O. (et alii). sgreja Catdlica: 1945 -1970. in FAUSTO, Boris (dir) Hist. Geral a Civ. Brasileira, tomo Ill, O Brasil Republicano, 4° vol., Sdo Paulo: Difel, 1984. PRANDINI, F. (Org,) As relagdes Igreja-Estado no Brasil. Vol. 1. ‘Sto Paulo: Ed. Loyola, 1986. REGAN, D. /greja para a libertacéo: retrato pastoras da Igreja no Brasil. Sao Paulo: Bd. Paulinas, 1986. RICHARD, P. Morte das cristandades ¢ nascimento da Igreja. $80 Paulo: Bd. Paulinas, 1982. SCOTT, M. Igreja catdlica e politica no Brasil. (1916 - 1985). Ste Paulo: Ed. Brasiliense, 1989, SOUZA, L. A. de. A JUC: Os estudantes catéticos e a politica Petrépolis: Vozes, 1984. SOUZA, R. L. de, 4 reforma Social Catélica e 0 Novo Limiar Capitatista (1945-1965). 2001-Tese (Doutorado em Histéria). Cruso de Pbs-Gradvagdo em Histéria, Universidade Federal do Parana, Curitiba, Revite de Ciencias Humanas, Floriamépolis EDUFSC, 30, p 1-108, oxtubta de 2001

You might also like