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P ISA QUALITATIVA Enfoques a e met Ogicos Jean Poupart Jean-Pierre Deslauriers Lionel-H.Groulx Anne Laperriére Robert Mayer Alvaro P. Pires 3° Edigao y EDITORA VOZES COLECAO SOCIOLOGIA re Coordenador: Brasilio Sallum Jr. ~ Universidade de Sao Paulo é Aw Comissao editorial: a Gabriel Cohn — Universidade de a0 Paulo ESE >ES Inlys Barreira — Universidade Federal do Ceara LSJ José Ricardo Ramalho - Universidade Federal do Rio de Janeiro = Pe Marcelo Ridenti — Universidade Estadual de Campinas a Otdavio Dulci — Universidade Federal de Minas Gerais - A educacao moral Emile Durkheim - A Pesquisa Qualitativa — Enfoques ajuntamentos epistemologicos e metodologicos Erving Goffman W.AA ~ Aestrutura da acao social ~ Vols. Le Il Talcott Parsons - Ritual de interacao — Ensaios sobre 0 comportamento face a face Erving Goffman - A negociacao da intimidade Viviana A. Zelizer - Sobre fenomenologia e relacdes sociais Alfred Schutz = Os quadros da experiencia social ~ Uma perspectiva de andlise Erving Goffman = Comportamento em lugares publicos ~ Notas sobre a organizacao social dos - Sociologia ambiental John Hanningan - O poder em movimento ~ Movimentos sociais ¢ confronto politico Sidney Tarrow - Quatro tradicdes sociolégicas Randall Collins - Introdugao a Teoria dos Sistemas Niklas Luhmann - Sociologia cldssica ~ Marx, Durkheim, Weber Carlos Eduardo Sell - O senso pratico Pierre Bourdieu Dados Internacionais de Catalogacao na Publicacao (CIP) (Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil) A pesquisa qualitativa : enfoques epistemologicos e metodologicos / traducao de Ana Cristina Nasser. 3. ed. ~ Petropolis, RJ : Vozes, 2012. - (Colecao Sociologia) Titulo original: La recherche qualitative Varios autores. Bibliografia ISBN 978-85-326-3681-2 1. Ciencias sociais — Pesquisa — Metodologia 2. Pesquisa qualitativa I. Série 08-03166 CDD-300.72 Indices para catalogo sistematico: 1. Pesquisa qualitativa : Metodologia : Ciencias sociais 300.72 Prof. Dr® SELMA MARTINES PERES \w Blea Pate A pesquisa qualitativa Enfoques epistemoldgicos e metodolégicos Jean Poupart Jean-Pierre Deslauriers Lionel-H. Groulx Anne Laperriére Robert Mayer Alvaro Pires Traducao de Ana Cristina Arantes Nasser y EDITORA VOZES Petrépolis accented tei a rite STANKO, E. (1980). “What's a Nice Girl like You Doing in a Place like This?” me et/and Justice, vol. 7-8, n. 3-4, p. 220-225. TEDLOCK, B. (1991). “From Participant Observation to the Observation of ticipation: The Emergence of Narrative Ethnography”. Journal of Anthropolog Research, vol. 47, p. 69-94. TEVIANT, S. (1983). “Les études de ‘communaute’ et la ville: héritage et py blemes”. Sociologie du Travail, n. 2, p. 243-256. THRASHER, F.M. (1927). The Gang (1963). Chicago: Phoenix. A analise documental* André Cellard i TREMBLAY, M.-A. (1985). Une premiere saison en Acadie ou comment jes devenu anthropologue sans le savoir. In: GENEST, S. (org.). La passion Véchange: terrains d’anthropologues du Québec. Chicoutimi: Gaétan Mos p. 15-52. (1968). La technique d’observation. In: TREMBLAY, M.-A. Ini jation recherche dans les sciences humaines. Montreal: McGraw-Hill, p. 271-286. TRISTAN, A. (1987). Au front. Paris: Gallimard. TROGNON, A. (1987). Produire des données. In: BLANCHET, A.; Ghiglione MASSONNAT, J.; TROGNON, A. (orgs.). Les techniques d’enquéte en sciences ciales: observer, interviewe, questionner. Paris: Dunod, p. 1-10. capacidades da memoria sao limitadas e ninguém conseguiria pretender me- ar tudo. A memoria pode também alterar lembrancas, esquecer fatos impor- , ou deformar acontecimentos. Por possibilitar realizar alguns tipos de recons- ), 0 documento escrito constitui, portanto, uma fonte extremamente preciosa do pesquisador nas ciéncias sociais. Ele é, evidentemente, insubstituivel em luer reconstituicao referente a um passado relativamente distante, pois nao € ele represente a quase totalidade dos vestigios da atividade humana em de- €pocas. Além disso, muito frequentemente, ele permanece como 0 tinico 10 de atividades particulares ocorridas num passado recente. documento permite acrescentar a dimensao do tempo a compreensao do so- omo 0 ressalta Tremblay (1968: 284), gracas ao documento, pode-se operar ¢ longitudinal que favorece a observacao do processo de maturacdo ou de 0 de individuos, grupos, conceitos, conhecimentos, comportamentos, ilidades, praticas, etc., bem como 0 de sua génese até os nossos dias. VAN DER MAREN, J.-M. (1993). “Ethique et déontologie dans la recherche éducation — L’éthique dans la recherche qualitative”. Revue de Association po Recherche Qualitative, vol. 9, p. 41-50. VAN MAANEN, J. (1988). Tales of the Field: On Writing Ethnography. Chic Universtity of Chicago Press. VERDES-LEROUX, J. (1978). Le travail social. Paris: Minuit. plano metodol6gico, a andlise documental apresenta também algumas ns significativas. Como o enfatizou Kelly (apud GAUTHIER, 1984: 296- rata-se de um método de coleta de dados que elimina, ao menos em parte, a lidade de qualquer influéncia —a ser exercida pela presenca ou intervencao quisador ~ do conjunto das interacées, acontecimentos ou comportamentos los, anulando a possibilidade de reacao do sujeito a operacao de medida. rem, ainda que algumas caracteristicas da andlise documental possibilitem fer ao documento vantajoso em certos niveis, deve-se admitir que seu uso também algumas questoes. Se, efetivamente, a andlise documental elimina a dimensao da influencia, dificilmente mensuravel, do pesquisador sobre ito, nado € menos verdade que o documento constitui um instrumento que o ador nao domina. A informacao, aqui, circula em sentido unico; pois, em- VINET, A. (1975). “La vie quotidienne dans un asile québécois”. Recherches graphiques, vol. 16, n. 1, p. 85-112. WAX, M. (1971). Doing Fieldwork: Warnings and Advice. Chicago: Universi Chicago Press. WEBB, S. & WEBB, B. (1932). Methods of Social Study. Londres: Longmans, Gt WERNER, O. & SHOEPFLE, M. (1987). Systematic Fieldwork — Vol. l } tions of Ethnography and Interviewing. ¢ Vol. 2: Ethnographic Analysis an Management. Beverly Hills (California): Sage. WHYTE, W.F. (1943). Street Corner Society: The Social Structure of an I Slum (1993). Chicago: University of Chicago Press. YEAGER, P.C. & KRAM, K.E. (1990). “Hot Topics in Cool Settings: The St Corporate Ethics”. Qualitative Sociology, vol. 13, n. 2, p. 127-148. agradecer a Alvaro Pires, do departamento de Criminologia da Universidade de Ottawa, lion, dos Arquivos Nacionais do Canad4, bem como a André LaRose ¢ a Gérald Pelletier, lores independentes, pelos comentarios judiciosos emitidos em relacao a este texto. 294 295 a iconografica e cinematografica, ou de qualquer outro tipo de testemunho re- ado, objetos do cotidiano, elementos folcloricos, etc. No limite, poder-se-ia qualificar de “documento” um relatorio de entrevista, ou anotacoes feitas du- e uma observacao, etc. Contudo, especifiquemos — também para tranquilizar 0 jor — que a finalidade do presente capitulo nao é nem a de retracar a evolucao rica da metodologia, nem de fazer um levantamento de tudo 0 que pode cons- ir uma “fonte”. Também nao temos a intencao de explicar como fazer a analise ido o que pode tomar a forma escrita, pois isto seria 0 mesmo que explicar toda a de pesquisa social, e esta nao € a nossa pretensao, bem longe disto. O “docu- pto” em questao, aqui, consiste em todo texto escrito, manuscrito ou impresso, fistrado em papel. Mais precisamente, consideraremos as fontes, primarias ou darias', que, por definicao, sao exploradas — e nao criadas — no contexto de rocedimento de pesquisa. pora tagarela, o documento permanece surdo, ¢ o pesquisador nao pode dele exi, precisdes suplementares. : 0 pesquisador que tabalha com documentos deve superar varios obstaculos desconfiar de intmeras armadilhas, antes de estar em condicao de fazer uma ang se em profundidade de seu material. Em primeiro lugar, ele deve localizar 0s texto pertinentes e avaliar a sua credibilidade, assim como a sua representatividade, autor do documento conseguiu reportar fielmente os fatos? Ou ele exprime : as percepeoes de uma fracdo particular da populacao? Por outro lado, 0 pesqui dor deve compreender adequadamente 0 sentido da mensagem € contentar-se con © que tiver a mao: fragmentos eventualmente, passagens dificeis de interpretar repletas de termos e conceitos que lhe sao estranhos e foram redigidos por um des conhecido, etc. E, portanto, em razao desses limites importantes, que o pesqui dor tera de tomar um certo numero de precaucoes prévias que The facilitaraoa an fae serao, parcialmente, garantias da validade e da solidez de suas explicacoes, ito isso, salientemos que a divisdo que realizamos, aqui, est longe de ser res- Este artigo apresenta, num primeiro momento, uma breve descri cao do docu mento escrito, das principais categorias de documentos € dos procedimentos u vyisam facilitar 0 acesso a eles. Em seguida, examinaremos os diferentes aspectos¢ andlise preliminar, ou seja, 0 estudo do contexto no qual o texto em questao f produzido, o autor ¢ os atores sociais em cena, a confiabilidade do documento, ; natureza, sua légica interna, etc. Depois, apos algumas consideracoes geraisiy rentes A andllise, completaremos este breve exame com um exemplo de analise apl cado a dois curtos textos datando da época do Regime frances. ocumentos em dois grandes grupos: os documentos arquivados’ e os que ndo 0 ‘or outro lado, pouco importa a natureza da documentagao, quer de dominio ico, quer de dominio privado. Eis alguns exemplos: Os documentos publicos: Os arquivos publicos. Trata-se de uma documentacao geralmente volumosa por vezes, organizada segundo planos de classificacaéo, complexos e var veis no tempo. Ainda que ela seja dita publica, ela nem sempre € acessivel. Esse ipo de arquivos compreende comumente: os arquivos governamentais (fe- / eed derais, regionais, escolares, ou municipais), os arquivos do estado civil, assim inir o documento representa em si um desafio. Pelo fato de o locumeml SPY ccs erquivos denacurecaouatialiou jurtdica aoe uma de suas ee ferramentas, a historia, de todas as cienciass ciais, foi a que atribuiu maior importancia a essa definicao. Desde o fim do 4 : XIX, C.-V. Langlois e C. Seignobos, em sua doravante célebre Hara a f des historiques (1898), fizeram dele, alis, 0 pivo de uma obra de metodolog i influenciou intimeras geracoes de historiadores. Para Langlois ¢ Seignobos, “gi do, a nocao de documento se aplicava quase exclusivamente ao texto, ¢, mn 4 mente, aos arquivos oficiais. Esta definicao decorria principalmente da al ot a historica praticada pela maioria dos autores da epoca: uma abordagem col ig ral, focada, sobretudo, nos fatos e gestos dos politicos e dos “maiorais desse : do. Esta nocao de documento seria profundamente reconsiderada cries a yi ; | cao da propria disciplina historica, mais particularmente pela Escola do: 4 (LEDUC; MARCOS-ALVAREZ; LE PELLEC, 1994: 43). Privilegiando uma 3 | dagem mais globalizante, a historia social ampliou consideravelmente a noc documento. De fato, tudo 0 que € vestigio do passado, tudo o que serve de munho, é considerado como documento ou “fonte”, como € mais comum ¢ atualmente. Pode tratar-se de textos escritos, mas também de documentos de O documento escrito ne Os documentos publicos nao arquivados. Eles incluem, entre outros, os jor- hais, revistas, periddicos e qualquer outro tipo de documentos distribuidos: publicidade, anuncios, tratados, circulares, boletins paroquiais, anudrios tele- Onicos, etc. Os documentos privados: Os arquivos privados. Ainda que ela nao pertenca ao dominio ptiblico, ocor- que uma documentacao de natureza privada seja arquivada. Ela pode, con- adicionalmente, os historiadores chamam de “fontes” os depoimentos de contemporaneos do Imento que eles desejam reconstituir. Distinguem-se, geralmente, as fontes “primarias”, pro- por testemunhas diretas do fato, das fontes “secundarias”, que provem de pessoas que nao ram dele, mas que o reproduziram posteriormente. “documentos arquivados” entendemos uma documentagao sob a guarda de um depésito de ar- bs qualquer e que pode ser objeto de uma descricao, uma classificacdo, ou um tratamento con- ite 4 conservacao. tudo, ser de acesso bastante dificil. Trata-se aqui, ea dog mentos de organizacoes politicas, sindicatos, Igrejas, comunidades religiosas, instituigdes, empresas, etc. : aa — Os documentos pessoais. Esta categoria retine ee ae inti mos, correspondencias, historias de vida, documentos de familia, etc 4 Existe, de fato, uma multiplicidade de fontes documentais, ay ee nao se compara a informacao que elas contém. Isso porque a pesquisa Ca al ge, desde 0 inicio, um esforco firme inventivo, quanto ao en oa depésitos de arquivos ou das fontes potenciais de aa e i aaa ee a funcao do objeto de pesquisa, mas também em funcao do quest aoe a a : preparacao adequada ¢ também necessaria, antes _— min 7 Ca documentais previamente identificadas. Nesse estagio, 0 eae site , em se precipitar sobre o primeiro bloco de documentos obtid ae ctate ta um inventario exaustivo e uma selecao rigorosa da a = dik 2" portante aprender a decodificar e utilizar os instrumentos de ipa oe ? mg pelos arquivistas, a fim de assimilar a logica que presidiu a cl sen ee “ mentacao. Devem-se tomar as mesmas precaucdes Com os arquivos pI : documentacao pessoal. Uma pessoa que deseje empreender uma pesquisa documental on : 7 jetivo de constituir um corpus ee om ae oa informacées interessantes. Se nossos pi or a raramente o fizeram com vista a possibilitar i recone posterior; tais vestigios podem se aa ce ie oe ae a " mais heterogéneos. A experiéncia pessoal, a consul an res que se debrucaram sobre objetos de estudo andlogos, b cent iiietdes eu tnracigeyesubeeasicara adeqadamentea cons esse corpus: os pesquisadores mais aguerridos sabem que os cae a veladores se escondem, as vezes, em locais insuspeitos. De aes aie i também rigor: 0 exame minucioso de alguns documentos oe asce ae abre, as vezes, intimeros caminhos de pesquisa e leva a formulacao ne c6es Novas, ou mesmo a modificacdo de alguns dos prsoaas ae caso, por exemplo, quando realizamos nossas pesquisas so! Pe ee ra, no Québec, de 1600 a 1850. A documentacao, sobretu lo eae a Antigo Regime, parecia razoavelmente rara. Assim 0 agen ee pesquisadores antes de nés, seja na Europa, ou nos Esta os | mee a contentar com uma documentac4o quase exclusivamente ins' ae ae 4 proveniente da elite instruida, ocultando, assim, ° ponto de visi oe ee muns sobre a loucura, assim como 0 cotidiano vivido pelas Desens ane. desordem mental. Familiarizados sms we De ae ee 6 mntamos se a sociedade can: , me Eee prnceiec fulieiadn da tutela, uma vez que nosso direito civil deco! m boa parte, do antigo direito consuetudinario francés. Essa pista nos levou a des- ‘ir que a Franca do Antigo Regime, e, consequentemente, a Nova Franca, pos- jam um sistema de tutela privado, interdicao e tutela, para as pessoas sofrendo e disttirbio mental. Esses dossiés, de uma imensa riqueza, estdo conservados nos rquivos Nacionais do Québec. Eles contém, sobretudo, os depoimentos de pes- as prOximas aos pretensos loucos, reportando seu comportamento, as reacdes povocadas por sua “anormalidade”, e assim por diante. Esses depoimentos de ssoas “comuns”, que haviam sido fielmente registrados por um escrivao, permi- fazer uma andlise muito acurada da situacao vivida pelas familias e pelos co- hecidos dos “loucos”, seja qual fosse seu nivel de cultura (a maioria era iletrada), durante um longo periodo. Assim, tivemos a surpresa de constatar, principal- te, que os conhecidos dos alienados nao haviam desempenhado um papel to ssivo no advento do manicémio quanto nossos conhecimentos te6ricos nos ha- até entao levado a supor. Voltaremos, mais adiante, a esse aspecto da anali- documental. nalise preliminar: exame e critica do documento _Como ns o mencionamos anteriormente, ¢ impossivel transformar um docu- to; € preciso aceita-lo tal como ele se apresenta, tao incompleto, parcial ou im- iso que seja. Torna-se, assim, essencial saber compor com algumas fontes do- mentais, mesmo as mais pobres, pois elas sao geralmente as tnicas que podem s esclarecer, por pouco que seja, sobre uma situacao determinada. Entretanto, jua sendo capital usar de prudéncia e avaliar adequadamente, com um olhar tico, a documenta¢ao que se pretende analisar. Essa avaliacao critica constitui, is, a primeira etapa de toda andlise documental. Ela se aplica em cinco dimen- S que examinaremos aqui. O exame do contexto social global, no qual foi produzido o documento e no il mergulhava seu autor e aqueles a quem ele foi destinado, € primordial, em to- }as etapas de uma andlise documental, seja qual tenha sido a €poca em que 0 to em questao foi escrito. Indispensavel quando se trata de um passado distan- Esse exercicio o € de igual modo, quando a andlise se refere a um passado re- te. No ultimo caso, contudo, cabe admitir que a falta de distancia pode compli- Seja como for, o analista nao poderia prescindir de conhecer satisfatoriamen- Conjuntura politica, econdmica, social, cultural, que propiciou a producao de documento determinado. Tal conhecimento possibilita apreender os esquemas Aceituais de seu ou de seus autores, compreender sua reacdo, identificar as pes- S, grupos sociais, locais, fatos aos quais se faz alusio, etc. Pela andlise do con. 10, o pesquisador se coloca em excelentes condicoes até para compreender as individuos, ou seja, os que pertenciam a classe instruida, podiam expressar seus tos de vista por meio da escrita. E preciso, entao, poder ler nas entrelinhas, para der compreender 0 que os outros viviam, senao nossas interpretacdes correm o particularidades da forma, da organizacao, e, sobretudo, para evitar interpretay contetido do documento em funcao de valores modernos. Essa etapa € t4o mais inn portante, que nao se poderia prescindir dela, durante a analise que seguira. Ng nos permitimos insistir na sua importancia, pois existe uma forte tendéncia entre os pesquisadores em s6 deixar de lado alguns elementos do contexto bem escolhj dos em algumas passagens de sua documentacio, resultando dai interpretacoes uma enorme parcela das fontes acesstveis provinha de religiosos, como os jesui- analises muito pobres. Uma boa compreensao do contexto €, pois, crucial, em to ede membros de comunidades religiosas — numerosos na colonia, a época —, a das as etapas de uma pesquisa documental, tanto no momento da elaboracao io do passado, efetuada pelos historiadores, baseava-se essencialmente um problema, da escolha das pistas a seguir para descobrir as principais bases qj s interpretagoes, percepcdes e conviccdes transmitidas por essas pessoas de Igreja arquivos, quanto no momento da andlise propriamente dita. Esse conheciment josas de valorizar os progressos realizados. Também se teve por muito tempo a deve também ser global, pois nunca se pode saber de antemao quais sao os elemen: essao de que os primeiros habitantes da colonia eram bastante devotos, prati- tos da vida social que sera util conhecer, quando chegar 0 momento de formulat interpretacdes e explicacdes. Parece-nos evidente que, para produzir uma anilis por menos que seja rica e crivel, o pesquisador deve possuir um conhecimento in timo da sociedade, cujos depoimentos’ ele interpreta. cretos de intendentes e mandamentos de bispos tocando diversos aspectos da cotidiana, como prova de que 0 Estado ¢ o clero exerciam uma forte influéncia e os habitantes, em matéria de pratica religiosa e de moralidade. No entanto, qa leitura mais critica desses wltimos documentos possibilita construir uma ima- lio? outs auléores n bem diferente dos habitantes de Nova Franca. Assim, por exemplo, parece mais dente concluir que se um bispo pede a seu clero para proibir os “iis” de bebe- n ou de brigarem durante a missa, é porque, efetivamente, alguns se comportam ideia da identidade da pessoa que se expressa, de seus interesses e dos motivos q ssa maneira na igreja. Se o bispo é obrigado, ano apés ano, a repetir os mesmos a levaram a escrever. Esse individuo fala em nome proprio, ou em nome de w \damentos, € porque os habitantes nao mudaram de comportamento, apesar das grupo social, de uma instituigao? Parece, efetivamente, bem dificil compreende téncias, o que fornece uma outra imagem do grau da autoridade exercida pela os interesses (confessos, ou nao) de um texto, quando se ignora tudo sobre aquel ja sobre seus “fi¢is” JAENEN, 1976). Sistematizando a referida leitura, e com- tando-a com outras fontes documentais de apoio, o pesquisador pode, portanto, egar a uma imagem da relacao dos primeiros canadenses com a religiao, diferente Nao se pode pensar em interpretar um texto, sem ter previamente uma bo; ou aqueles’ que se manifestam, suas razdes e as daqueles a quem eles se dirigem muito mais facil dar a entender que é a “sociedade” ou o “Estado” que se exp! por meio de uma documentacao qualquer. Elucidar a identidade do autor possib lita, portanto, avaliar melhor a credibilidade de um texto, a interpretacdo que dada de alguns fatos, a tomada de posicao que transparece de wma descricao, asd formagées que puderam sobrevir na reconstituigdo de um acontecimento. €sses particulares do autor de um documento. E também importante assegu- -se da qualidade da informacdo transmitida. Por exemplo, ainda que a questao tenticidade raramente se coloque, nao se deve esquecer de verificar a proce- ‘ia do documento. Em alguns casos, é também necessario considerar o fato de Iguns documentos nos chegam por intermédio de copistas que tinham, as ve- 3. A perspectiva privilegiada aqui é a da historia social dita “globalizante”. Cabe observar, ent ‘de decifrar escritas quase ilegiveis. Principalmente os historiadores hé muito quea importancia do contexto também pode, as vezes, variar em fungao do alcance de uma pesdit ee me rironiniar dé posstvels riod dé wansuilssto, Esse € 0 caso de alguns tipos de reconstrugao, historicas ou nao, que privilegiam a abordagem j tiva ou circunstancial. Também seria o caso, por exemplo, de pesquisadores que pretenderiam s Por outro lado, ¢ importante estar sempre atento a relacao existente entre 0 au- a evolucao de um pensamento ou de um saber qualquer, sem necessariamente buscar interpret U os autores ¢ o que eles descrevem. les foram testemunhas diretas ou indire- condigées sociais do surgimento e do desenvolvimento do saber em questao. BE ies velaiees? Quanto tempo decorren entre p acomtecimento.c'a sua 4, Evidentemente, alguns textos, como artigos de jornais, sao, as vezes, andnimos. Convém, a5 icdo? Eles reportaram as falas de alguma outra pessoa? Eles poderiam estar 2 i f da qual 0 autor ou os auto E las % buscar conhecer 0 mais profundamente possivel a mila, por meio da qui : a rcs ec Ss cc earache docket exprimem, Muito amitide, os jornais apresentam uma politica editorial ou uma orientacao polit es Sieveeer Po esta ou a ervac com a qual 0 pesquisador deve se familiarizar, antes de realizar sua analise er tal julgamento? etc. Em alguns casos, nao é supérfluo familiarizar-se com os instrumentos de coleta utilizados pelos autores. Este aspecto se revelara importan te no caso de documentos como os recenseamentos, pois os questionarios desting. dos aos recenseadores experimentaram grandes modificacdes com o tempo. Anatureza do texto q Cabe especificar que nao ¢ possivel exprimir-se com a mesma liberdade em um relatorio destinado aos seus superiores, e em seu diario intimo. Consequentemey | te, deve-se levar em consideracao a natureza de um texto, ou seu suporte, antes d tirar conclusdes. Efetivamente, a abertura do autor, os subentendidos, a estrutuy de um texto podem variar enormemente, conforme o contexto no qual ele é redig do. Eo caso, entre outros, de documentos de natureza teolégica, médica, ou juridi ca, que sao estruturados de forma diferente e s6 adquirem um sentido para o leito em funcdo de seu grau de iniciacéo no contexto particular de sua producao. O que foi dito anteriormente nos leva a abordar a questo da critica dos docu mentos para os historiadores. Quando escreveram seu manual de metodologia Langlois e Seignobos (1898) buscavam principalmente fazer da historia uma dis plina cientifica, uma disciplina exata baseada numa documentagao, cuja credibil dade devia ter sido estabelecida sem sombra de duwida. Era dando continuidade a toriadores que vieram depois. Alias, as precaugdes que acabamos de relatar deco rem dela, em boa parte. Dito isso, estamos de acordo com Platt (1981: 43-44) pa afirmar que a lista, as vezes, exageradamente exaustiva das precaucoes e dos ele- mentos de divida, estabelecida por Langlois ¢ Seignobos, pode nao s6 ter um efei to paralisante, sobretudo quando as fontes sao raras, como também pode levar 0 pesquisador a descartar da andlise os elementos totalmente validos. Assim, uma pessoa pode narrar a verdade, mesmo sem ser diretamente testemunha de um fato, 1 ou estar em condicao de fazer uma observacao de qualidade; uma outra pessoa pode nutrir simpatias confessas por um grupo determinado, ou por uma causa pal .. ticular, e, todavia, ser capaz de objetividade. Se, nesse sentido, importa confiar intuicdo, na habilidade e no senso de discernimento do pesquisador, nds acredit | | | mos, contudo, que essa confianca se conquista: O pesquisador mostrou prud | cia? Ele avisou o leitor das dificuldades e dos problemas colocados pelo empreg | de depoimentos mais duvidosos? Ele deu as raz6es pelas quais os mesmos lhe pé } recem confidveis (ou nado)? Etc | | Os conceitos-chave ¢ a légica interna do texto Certamente, o trabalho de anilise preliminar nao poderia estar tao completo por tanto tempo, que o pesquisador nao tivesse o sentimento de ter compreendid® 302 fatoriamente o sentido dos termos empregados pelo autor ou os autores de um 10. Para os textos antigos, isso é evidente, ja que a significacao de inumeros ter- 9s evoluiu muito ao longo dos anos. Tomemos o exemplo do “tratamento moral”, 1 primeiramente a expresso “tratamento moral”, a fim de demarcar sua aborda- n da dos outros médicos, cujas “terapias” eram, sobretudo, de ordem fisiologica s €, alids, uma precaucdo totalmente pertinente no caso de documentos mais re- ites nos quais, por exemplo, utiliza-se um “jargao” profissional especifico, ou nos -contém regionalismos, giria propria a meios particulares, linguagem popular, Deve-se também prestar atenc4o aos conceitos-chave presentes em um texto e iisador podera, assim, fornecer uma interpretacao coerente, tendo em contaa Atica ou o questionamento inicial. Como em todo procedimento que levou 0 ‘ Em funcao das questoes que o historiador se coloca, ele seleciona € analisa os vestigios do passado, titeis para a sua pesquisa. Ele nao se b fecha em um esquema indutivo ~ do documento tira-se o fato =, mas 303 questiona suas fontes para confirmar, invalidar, enriquecer suas teses. A inducao transmitida pelas ciéncias da natureza nao ¢ ne primeira, nem a determinante. Ela ¢, doravante, inserida em um cedimento que privilegia a problematica, o questionamento (LED MARCOS-ALVAREZ; LE PELLEC, 1994: 42). ncronicidade; ou seja, o momento em que uma soma de ideias ou de pensa- 5 se une para formar uma explicacdo, em que um certo raciocinio se constréi DESLAURIERS, 1991: 87-91; LETOURNEAU, 1989). Contudo, atencao ao amento magico, pois esse momento crucial da andlise, esse “clique” nao se en- Esse tipo de abordagem analitica deve muito a Escola dos Anais e se distiy da abordagem positivista da escola metodista. Esta ultima, como 0 vimos, conta com a acumulacao de fatos historicos incontestaveis: 0 trabalho de anilise coy tia, principalmente, em fazer uma sintese dos elementos assim acumulados. 4 t6ria social modificou essa abordagem, e, doravante, procede-se preferenciah pela desconstrucdo e reconstrucdo dos dados. Michel Foucault mostrou m bem essa nova posicao em sua obra Archéologie du savoir: ito de reflexGes, leituras, discussdes com outros pesquisadores, etc. Saliente- ymbém, por outro lado, que o tempo passado na coleta dos dados frequente- possibilita uma reflexao continua e a maturacao de algumas ideias ou hipd- que levam a formulacao de explicacdes plausiveis. qualidade e a validade de uma pesquisa resultam, por sua vez, em boa parte, A historia mudou de posicdo em relacdo ao documento: ela se atri ecaucdes de ordem critica tomadas pelo pesquisador. De modo mais geral, € como tarefa primeira, nao mais interpretar, nem determinar se ele di idade da informacdo, a diversidade das fontes utilizadas, das corroboracées, verdade e qual € o seu valor expressivo, mas sim trabalhé-lo int mente ¢ elabora-lo; ela o organiza, recorta-o, distribui-o, ordena parte-o em niveis, estabelece séries, distingue o que € pertinente do nao o é, identifica elementos, define unidades, descreve relacées. tanto, 0 documento nao € mais para a historia essa matéria inerte, meio da qual ela tenta reconstituir 0 que os homens fizeram ou dis ram, o que € passado, e do qual somente o rastro permanece: ela bu definir, no proprio tecido documental, unidades, totalidades, s lagdes (FOUCAULT, 1969: 14). Definitivamente, como bem o argumenta Foucault, 0 pesquisador descot tritura seu material a vontade; depois, procede a uma reconstrucao, com vista ponder ao seu questionamento. Para chegar a isso, ele deve se empenhar em d brir as ligacdes entre os fatos acumulados, entre os elementos de informagao que P recem, imediatamente, estranhos uns aos outros, como 0 assinala Deslauriers (19 79). E esse encadeamento de ligacdes entre a problematica do pesquisador € as versas observacoes extraidas de sua documentacao, 0 que lhe possibilita fo explicacoes plausiveis, produzir uma interpretacao coerente, ¢ realizar uma Teco trucdo de um aspecto qualquer de uma dada sociedade, neste ou naquele moment A fim de estabelecer essas ligacdes e de constituir configuracées significati € importante extrair os elementos pertinentes do texto, compara-los com 01 elementos contidos no corpus documental. A maioria dos metodologistas com similitudes, relacdes e diferencas capazes de levar a uma reconstrucao admi confiavel. As combinacées possiveis entre os diferentes elementos contido s 4 a Ati 10 quadro i , fontes estabelecem- se em. relacao ao contexto, a problematica, ou als ae da ilegiamos, aqui, no ambito de uma pesquisa qualitativa, a qualidade e a diversidade, mas nao co, mas também, deve-se admiti-lo, em funcao da propria personalidade do P amente a quantidade. Para nos, a qualidade (credibilidade; confiabilidade; proximidade; quisador, de sua posicao tedrica ou ideoldgica. A essa altura, a reconstruca adidade) de um tinico documento importa muito mais do que intimeros depoimentos, mais po- opera, geralmente, a partir do que Deslauriers, baseando-se em Carl Jung, ch possivel, o pesquisador deve tender a saturacao das categorias; ou seja, coletar depoimentos es, que permitam produzir uma imagem coerente do fendmeno pesquisado. burguesia financeira em Nova Franca, ou as causas das rebelides de 1837-1838, liado a escola de pensamento neoliberal de Cité libre, que desconfiava do nacig lismo quebequense, Ouellet atraiu logo a ira dos nacionalistas tradicionais ¢ neonacionalistas, cujas teses, entéo, dominavam amplamente na historiografia qy bequense. Ainda que o tenham chamado de “traidor”, “colaboracionista”, ou deralista”, nunca lhe atacaram o método de andlise documental, dito da Escola Anais, que ele tao bem colocou em pratica, na sua obra Histoire économique et sogi le du Bas-Canada (1966), e pela qual ele foi respeitado e mesmo admirado. E, porém, em razao da importancia da busca da diversidade em termos fontes, que se adverte o pesquisador para realizar pesquisas em um estado dee rito orientado pela inducao. Evidentemente, € importante formular, desde o ini algumas ideias diretrizes, propondo um quadro teorico, mesmo restrito, a fim orientar as analises minuciosas. Contudo, tal quadro deve continuar flexivel, po diante de novas fontes documentais, bases de arquivos inesperadas, pode-se s vado a elaborar novas teorias, novas hipoteses, ou a aperfeigoar alguns conceit iniciais. E preciso, portanto, manter o espirito critico, todavia aberto, pois nun se sabe quais surpresas nos reservam os exames minuciosos dos document Como o havfamos anteriormente mencionado, aquilo que apreendemos des brindo a documentacao de interdicao e tutela é que nos abriu novas perspet para a explicacao do advento do manicomio no Québec, permitindo-nos mati sensivelmente nossas proprias posicdes em relacao a isso. )), dentre outros, a aparicao dos hospitais gerais, no século XVII - estas insti- es destinadas a internacao de pobres, vagabundos, libertinos, prostitutos, -, constitui uma medida de controle social, para restabelecer a ordem em de crise, pelo sequestro dos provocadores sem-trabalho, e pela disponibi le uma mao de obra a bom preco, nos tempos de prosperidade. Para compre- devidamente a génese do aparecimento dessas instituigdes semicarcerarias. al do século XVI, no Québec, buscando medir até que ponto, também aqui, lacdo «> tais instituicdes se insere numa dinamica socioeconomica seme. quela que levou ao grande isolamento na Franca, Pareceu-nos pertinente ? hossas primeiras andlises dos documentos, tendo em conta as medidas to- i pelas autoridades da colonia a fim de gerir 0 problema dos sem-trabalho e ginais, antes de optar pelo hospital geral como solucdo. Tendo como alvo ersos decretos promulgados pelas autoridades com vista a regulamentar o ma colocado pelos sem-trabalho ¢ as desordens por eles cometidas, havia- npreendido nossa pesquisa documental a partir de 1692, e remontado no até o surgimento das primeiras legislacoes pertinentes. Nossas sondagens ibilitaram, sobretudo, descobrir dois decretos emanados do Conselho € que constituem os dois primeiros textos dirigidos aos mendigos e vaga- a colonia. O primeiro data de 1677: Um exemplo de analise documental Com se 0 vé, a andlise documental constitui, geralmente, uma empreil muito folego. Por isso, nao ¢ facil dar um exemplo real dela, afora outras pesq que ja foram realizadas satisfatoriamente. No entanto, nas paginas que seguem, tamos dar um exemplo muito breve de andlise documental, servindo-nos de curtos documentos de natureza juridica. Sera preciso aqui lembrar que o exemp dado sob a perspectiva de uma pesquisa documental, e nao do comentario de do mento’. F certo que, como um pesquisador poderia encontrar-se diante de cent ! de documentos para examinar, ele talvez nado conseguisse redigir trés ou qual | ° ginas de comentarios para cada texto, dossié ou documento que passass¢ pot | maos. O proceso de andlise preliminar e de andlise que expusemos anterior || remete, de fato, a uma abordagem global que deveria se tornar automatica para pesquisador voltado a pesquisar uma documentac4o determinada. : ‘ creto referente a proibicao de mendigar* Sobre o que foi reapresentado a Corte, pelo procurador-geral do Rei de que ha cerca de trés anos a mendicidade foi introduzida nesta cida- 6.0 comentario de documento consiste, geralmente, em um estudo bastante exaustivo do text@ quisado. Ele ¢, sobretudo, wtil para a analise de textos tinicos, que, por exemplo, so os que eX vamente possibilitam interpretar uma corrente intelectual, ou apreender a atmosfera de uma’ Em Le coffre @ outils du chercheur debutant (LETOURNEAU, 1989), Jocelyn Létourneau e Syl letier apresentam um excelente exemplo de comentario de documento, quando eles se ded contextualizacdo e a andlise de um discurso de uma das primeiras feministas conhecidas no Idola Saint-Jean. nte ; seer € um outro (também transcrito mais adiante, neste texto) receberam uma tradu- i ces praticado no século XVII, nao apresentando, portanto, o modo de pontuaca es gramaticais hoje vigentes [N.T_] : Pee 06 de por quatro ou cinco mulheres de locais cireunvizinhos, que ti ram a audacia, dentre outras coisas, de virem aqui também mendi e mesmo de homens que poderiam muito bem trabalhar, ¢ jovens qu poderiam servir os habitantes, tendo o nuimero dos ditos mendigos qj tal maneira multiplicado, desde a referida época, atraidos por eg vida ociosa pela facilidade de baterem as portas, que 0 Comissatio signado pela Corte, para tomar disso conhecimento sobre a reapr sentacao do dito procurador-geral, encontrou ai até cerca de trezentg individuos, que, durante todo 0 verao, sobrecarregaram extremamen te o publico, provocando tao grandes desordens, que se teve razao ey tem forca de lei. Esta-se diante de uma sociedade de Antigo Regime, na qual 0 lismo comecou a abrir caminho, gracas, principalmente, ao trafico de peles, “industria” da colonia. Trata-se, efetivamente, da tnica atividade econdmica permite a alguns comerciantes a acumulacao de capital, e que emprega um de ntimero de pessoas, cerca de oitocentas, a poca (HAMELIN, 1960: 107); , uma enorme proporcao de toda a mao de obra assalariada da colonia. O in- nte Jean Talon havia se empenhado bastante em diversificar a economia, ao do exercicio de seu cargo, mas, no momento de sua partida, em 1672, houve reviravolta. A chegada de Frontenac, obcecado pela reconstituicao de sua for- temer que eles pilhassem as principais casas desta cidade, vanglo 4 pessoal e apressado em se enriquecer por meio do trafico de peles, provocaria do-se disso. Sendo, portanto, necessario se munir, tanto para preve oncentracao sem precedente da atividade econémica da colénia, no setor do © que poderia ocorrer se a mendicidade e a indoléncia fossem toler . A drea de abastecimento de peles se decuplicou, rapidamente, e o mercado das nesta cidade, como para obrigar esse tipo de gente a seguir asd peu se viu inundado de peles. Essas negociacées logo desestabilizaram o wni- terminacdes do Rei, que foram, a partir de entao, as de que sua Maj ercado de trabalho importante na colonia, ja que, de 1676 a 1679, as autorida- tade Ihe ordenava, neste pais, a se habituar a “desertar” (desbravar)« oa er es a e veem na obrigacao de proibir a atividade de caga e comércio de peles, e, em , instituir oficialmente o regime dos feriados anuais de trafico, Sob esse novo cultivar as terras, bem como a obrigé-la a criar seus filhos na reli crista e num modo de vida civil e honesto para ganhar a sua vida,1 quer a Corte que The convém proibir a todos os mendigos sadios mendigarem e de esmolarem nesta cidade, prescrevendo as penasq Ihe aprouver ordenar, bem como de mandé-los de volta as suas cas E que semelhantes proibicoes sejam feitas a todas as pessoas, de qu quer qualidade e condi¢ao, de dar esmolas as portas, atribuindo-lh as penas que aprouver a Corte lhes impor; sendo esperado que com dita reapresentacdo nao mais seja permitido, na Franca, de mend nas cidades, instituindo-se ai o direito de estabelecer expressas int anos 1670 e 1680 so também palco de conflitos penosos para a populacao, iroqueses, de um lado, incomodados com 0 engrandecimento da rede de digdes e proibicdes a todos os mendigos sadios de mendigarem e : molarem, futuramente, nesta cidade, sob pena de punicdo. E Thes co clos franceses, e depois, com os americanos ¢ os ingleses, quando da guerra dena a sair ea desocupar dela, em oito dias, e a permanecer em st de Augsburgo. A colonia conhecera inclusive a pentiria, a partir de 1686. casas, que Ihes foram concedidas para que as valorizassem e cuid sem, sob as mesmas penas; e também a todas as pessoas de quall qualidade e condicao, por dar-lhes esmolas nas portas de suas © sob qualquer pretexto que possa haver, sob pena pecuniaria de ll bras (antiga moeda de conta), ordena a Corte ao referido pro dor-geral de ter mao a execucao do presente decreto, que sera li publicado e afixado por toda parte, para que ninguém 0 Be autores yuchesne 4 0s anos 1670. Sem duvida, é a esses desempregados que se dirige o decreto ‘abamos de ler. e texto emana do Conselho soberano da Nova Franca. O Conselho exercia, 0, varias funcoes judicidrias e administrativas. Ele servia de tribunal de apela- matéria civil e criminal, e também pronunciava sentencas. Ele tinha o dire’ ‘ontrolar, por exemplo, as nomeacées dos juizes, e podia regulamentar o co- assim como o preco dos alimentos. Em termos da “policia”, ele se interes- la assisténcia social, pela protecdo dos bens, pela prevencao dos incéndios | Andlise preliminar | O contexto (de modo breve) Em 1677, a Nova Franca representa, com seus cerca de 7.000 habitantes, embriao de sociedade do Antigo Regime. Ela é dirigida por um governador, Fé] sentante do rei, e um intendente, responsavel pela policia, pela justica e pela nancas, apoiando-se, ambos, no Conselho soberano, cujos julgamentos e delibt ‘onselho soberano reunia os habitantes mais importantes da coldnia; isto é, tores do poder. Tinham nele assento 0 governador, 0 intendente, o bispo 309 s, 4 qual nao se confere, na época, a importancia que lhe sera dada posterior- dualmente, de cinco, em 1663, a dezesseis, em 1742, 0 que ilustra bem o aumeyy e. Assim sendo, essa diferenca das ortografias nao constitui verdadeiramente do peso politico dos comerciantes, a medida que se desenvolve o capitalismo, bstaculo e poucas palavras tém para nés um sentido obscuro. Contudo, ¢ pre- 1675, ja se contam sete conselheiros no Conselho. Os interesses dos autores q estar atento a termos, como “desertar” (linha 15), que, aqui, toma o sentido de documento so miltiplos, em razdo dos diferentes grupos sociais que eles re ayar, ou, mais exatamente, de desmatar (quando da chegada dos primeiros conselheiros — comerciantes, principalmente — que verdo seu ntimero passar, g apresentados: “Que para obrigar essa espécie de gente a seguir as determinag rei de [...] cultivar as terras”, aliados aos do bispo “[...] de obriga-la a cultivar g¢ filhos na religiao crista”, assim como os interesses dos comerciantes (ou princip habitantes), j4 que o documento relata que os “mendigos” teriam ameacado pill as “principais casas desta cidade, vangloriando-se disso”. Finalmente, os interes do intendente sao também representados, por ser ele 0 responsavel pela ordem s termos ou conceitos-chave que se repetem frequentemente, quando se faz io aos mendigos: é 0 caso de “mendicidade” e de “mendigo”, que nao fazem “mendigar”, em razao de sua “indoléncia” e de sua “vida ociosa” blica, que convergem os interesses dos diferentes autores desse texto. A autenticidade, a confiabilidade e a natureza do texto Trata-se aqui de um decreto promulgado pelo Conselho soberano, tal c ele € solicitado a produzi-lo, de tempos em tempos. Os decretos do Conselho sob rano da Nova Franga estao conservados nos Arquivos Nacionais do Québec, e f ram reproduzidos, no presente caso, numa série de seis volumes, entre 1 1891. Ha mais de um século, tais volumes tém constituido para todos os histori dores uma fonte confiavel sobre a Nova Franca. Nao se poderia duvidar da autent cidade dos documentos que eles encerram. Trata-se também de um texto public redigido apés um encontro que reuniu os autores acima mencionados. Pode- portanto, crer que as falas aqui reportadas pelo secretario sao bastante fiéis ao foi enunciado durante a reuniao. Quanto a confiabilidade geral dos elementos prova nela apresentados, também é bastante dificil de questiond-la, devido, um vez mais, a natureza do documento. Certamente, isso vai da credibilidade do Cot selho junto a populacao. Nao €, contudo, impossivel que tenha havido alguns é geros, pois certos dados trazem inquietacao. Nos retornaremos a isso, no mome to da andlise. hecidas, pouco depois, pelo mercado, em razao da superproducao e da proibi e praticar 0 trafico, torna-se perfeitamente plausivel pensar que esses “mendi bsisténcia — sio, bem ou mal, esses desempregados oriundos da crise repen- 10 setor das peles. O problema parece, alias, bastante recente, ja que nunca an- e fez mencao as desordens ligadas a qualquer mendicidade (eles teriam surgi- avia trés anos, segundo o documento). Essa nao é, contudo, a analise que os ibros do conselho fazem da origem do problema, a qual é bem mais sumaria: ] que faz aproximadamente trés anos que a mendicidade foi introduzida nesta de por quatro ou cinco mulheres dos locais circunvizinhos, que ainda tiveram Acia, dentre outras coisas, de virem aqui também mendigar [...]". Sua explica- tanto mais limitada, ou pelo menos sumaria, que, ao que tudo indica, os bros do conselho se interessam totalmente pelo problema, ¢, inclusive, nao isentos de responsabilidade em relagao a situagdo econdmica desastrosa que idica essa gente (os “mendigos”, de sua parte, parecem estar bem conscientes , JA que eles ameacam pilhar as principais casas da cidade). Porém, o argu- nto alegado aqui é bem outro e incrimina primordialmente 0 individuo. Isso é mente perceptivel, alias, quando se presta atencao ao vocabulario emprega- —mendigos, mendicidade, indoléncia, vida ociosa— para designar os miseraveis 17, a“... mendigar nas cidades”, linha 23), e, por fim, as penas prescritas para questao. E bastante claro que estamos diante de um fendmeno tipico dos sécu- XV1 e XVII, quando os pobres viam desaparecer o sentimento de simpatia mis- contraventores (de “instituindo-se ai o direito...”, linha 23, até o final). O texto ; escrito em francés do século XVII. Como a Academia Francesa acabava de ter sid que os havia acompanhado durante toda a Idade Média. O pobre é, doravante, criada, nao se tinha total certeza da ortografia exata de algumas palavras; exatic rincipal responsavel por sua condi¢ao, devido a preguica e a indoléncia. E, pior, Os conceitos-chave e a estrutura légica do texto Trata-se de um decreto que proibe mendigar. Na primeira parte do texto, € contra-se a exposicao do problema que levou o Conselho a estabelecer um det (de “Sobre o que...”, linha 1, a“... para ganhar sua vida”, linhas 16 e 17). Seguell depois, a formulacdo da proibicdo ou da ilegalidade (de “Requer a Corte...”, li 310 ani ele € tomado como perigoso e fonte de desordem e de instabilidade. Para remeq a situacao, ordena-se, pois, a esses “mendigos”, sob pena de punicao, de “vol para suas terras e viver do fruto de suas coletas. Eis somente que o documento produzido no fim do verao. Ainda seria preciso que esses mendigos tenham ter de “desertar” suas terras, semed-las, etc., antes de poder tirar delas algum eleme, de subsisténcia. rocederemos, brevemente, a analise preliminar desse segundo texto, ja que yutores € os interesses sao simplesmente os mesmos que examinamos para 0 precedente. Como 0 vimos anteriormente, 0 contexto € dificil no que concer- alvo que o tom se radicalizou em relacdo aos mendigos, na exposicao do pro- Eles continuam sendo acusados pela vida ociosa e por serem motivo de dem. Fala-se em “gentalha” e em “gente sem honra”, sobretudo quando eles ecusam, ao que parece, a servir de domésticos de pessoas que bem necessita- deles. Essa radicalizacao da linguagem é acompanhada de uma radicalizacao srmos das penas prescritas aos “recidivistas”, as quais s40 mais precisas do que imeiro texto: a canga, na primeira ofensa; ¢ 0 flagelo, na segunda. Aqui, nés encontramos diante de uma linguagem e de uma logica punitivas, completa- ie modernas. Como no decreto precedente, este prescreve penas diferentes, os mais comodos que batem as portas. Nao se trata mais da desonrosa canga, do flagelo: mas sim, de uma multa por meio da qual o contraventor pode facil- ite se absolver, e cujo montante, alids, nado se alterou desde a tltima vez. Por outro lado, segundo o procurador-geral, haveria mais de 300 mendigos ¢ torno da cidade de Québec. Esse dado ¢ surpreendente, pois a cidade contava, quay do muito, com 1.200 habitantes, na época. Aqui, das duas uma: ou isso se deve um problema socioecondmico bastante grave; problema este que 0 Conselho . propoe a solucionar, ameacando punir aqueles que ndo retornam para uma terr antes de oito dias; ou entao, o problema ¢, voluntariamente ou por reacao de pan co, exagerado pelas autoridades, a fim de justificar sua intervencao. E dificil po cionar-se em relacdo a isso. Seja como for, a solucao preconizada nao parece ter tido a eficacia esperada que, em 1683, 0 Conselho ¢ obrigado a voltar a carga com um segundo dec proibindo mendigar: breve andlise que fazemos desses dois textos nos deixa entrever que, confron- s com alguns problemas socioeconomicos causados pelos sobressaltos do capi- mo nascente — e que sao, portanto, novos, para elas —, as autoridades da colénia sabem muito bem como reagir. Sua andlise da situacao é sumaria e superficial e Sobre 0 que foi reapresentado pelo procurador-geral, de que no t io conseguem dar cabo de seu problema. E por uma razao evidente: 0 Conse- mo ne de genet de 1677, a Corte teria instituido decreto referente atém mais ao sintoma do problema (os desempregados), do que as suas causas ae a Mae eee ccs se conoltay s. Logo, nao tendo esse decreto mais efeito do que o precedente, e também diante SDERaRaTL e cqitbestre athe Carini i tater param ama situacdo que se agrava, as autoridades se voltarao rapidamente para uma ou- f gam 0 ptiblico, ainda que eles estejam e sae EE i condicao de ganhar sua vida, e criam seus filhos numa ociosidadéld solucao, a da Agéncia dos pobres, em 1688. Esta iniciativa, interessante, visa pro- 0s leva a toda espécie de desordem, colocando-os na condicao det cionar uma ajuda direta (ferramentas, adiantamentos de investimentos) aos de- quererem servir nenhum habitante do pais, ainda que se tenha un inados que desejem voltar a trabalhar a terra. No entanto, tais medidas nao sao enorme necessidade de domésticos, sem contar que as cabanas q icientes aos olhos de muitos, e, quatro anos mais tarde, a Nova Fran¢a assiste a eles constroem em torno da cidade transformam-se em locais de e& ra dos hospitais gerais de Québec e de Montreal. candalo e de desordem, nao tendo tais pessoas nenhuma honra; ed : se retire toda espécie de gentalha, sendo para tanto necessdrio organ zar, agora, que eles tenham tempo de se retirar € de se restabelecer ¢t suas casas, que continuam no abandono, antes da estacao de inve requerendo 0 dito procurador-geral que, conforme ao referido dect to, estabelecam-se interdig6es e proibicdes a todos os mendigos dios de mendigar e de esmolar, futuramente, nesta cidade, sob p de punicdo, sendo a primeira vez, a de ser posto na canga, e, em de recidiva, no flagelo, autorizando-se a dele sair em oito dias, e de! permanecer em suas casas; como também a todas as pessoas de qué quer qualidade e condicao, de dar ou de fazer dar esmolas as porta com a pena pecuniaria de 10 libras [...]. Proibicdes aos mendigos sadios de mendigar nesta cidade, e ta bém de Ihes dar esmolas, com pena pecuniaria de 10 libras. lusao Seguindo as pistas que deixam entrever alguns elementos de uma problemati- com base numa documentacao nova sobre o conhecimento do contexto e so- ligacdes que se podem estabelecer entre os autores € os textos, seus interes- © vocabulario empregado, ¢ possivel chegar a construir o inicio de uma expli- arespeito do surgimento dos hospitais gerais, a qual se pretende diferente da 312 ARD, A. (1991). Histoire de la folie au Québec, 1600-1850. Montreal: Boréal. poderia basear-se exclusivamente em apenas dois documentos, que acabamg analisar resumidamente — na realidade, algumas frases laconicas, emitidas em (1986). “La curatelle et histoire de la maladie mentale au Québec”. Histoi- contexto bastante particular, por alguns membros dos grupos sociais dominany jale, vol. 19, n. 38, p. 443-450. Para ser rica e confiavel, nossa explicacao deveria ser complementada por divers fontes — correspondéncias do governador ou do intendente com o ministé marinha; cartas do juiz de Laval, de comerciantes, de pessoas menos diretamen envolvidas no fendmeno, como os padres ou os religiosos ~ e, sobretudo, por uy documentacao que nos faca conhecer o ponto de vista de pessoas diretamente das por esses decretos e pela criacdo dos hospitais gerais. A leitura que fariamos, conjunto desse material nos permitiria basear mais solidamente nosso ponto’ vista, ou talvez nos levaria a matiza-lo sensivelmente. i AUMIER, J. (1974). Les techniques documentaires. 2. ed. Paris: PUF. ARK, G.K. (1965). Guide for Research Students Working on Historical Subjects. abridge: Cambridge University Press. YTANDRIOPOULOS, A.-P.; BELANGER, L.; NGUYEN, H. (1990). Préparer recherche. Montreal: Presses de Université de Montréal. AURIERS, J.-P. (1991). La recherche qualitative. Montreal: McGraw-Hill. ATIN, M.-F. (1988). Introduction a la recherche. Montreal: Décarie Sera importante lembrar, aqui, que o exercicio ao qual acabamos de nos di car nao poderia, de nenhum modo, constituir um exemplo rigido do que repres P ta uma andlise documental de natureza qualitativa. Efetivamente, acabamos der AULT, M. (1971). Histoire de la folie a Vage classique. Paris: Gallimard. sumir e de ordenar uma série de etapas metodologicas que a maioria dos pesquis __ (1969). L'archéologie du savoir. Paris: Gallimard. dores percorre por reflexo e segundo uma ordem varidvel para cada um. O qued sejamos principalmente ressaltar, ao final desse breve exemplo, € que € possivel zer muitas coisas em algumas linhas de texto; ele ilustrou como a anilise deco principalmente, de uma série de escolhas que dependem do pesquisador: esco do tema, do problema de pesquisa, da orientacdo tedrica ou ideoldgica, dos el mentos do contexto que permitem a interpretacao, da abordagem metodol etc. Tanto escolhas que dizem respeito a prépria personalidade do pesquisad como escolhas que, felizmente, estendem ao infinito a gama das pesquisas e das terpretacées possiveis. CLL. (1934). The Techniques of Social Investigation. Nova York: Harper & Bros. ET, F. (1982). L'atelier de Histoire. Paris: Flammarion. JTHIER, B. (org.) (1984). Recherche sociale — De la problématique a la collecte données. Québec: Presses de l'Université du Québec. C LIONE, R.; BEAUVOIS, J.-L.; CHABROL, C.; TROGNON, A. (1980). Ma- @analyse de contenu. Paris: A. Colin. iN ICHAT, C. & AUTRET, P. (1968). 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(1978). Comment on écrit Vhistoire. Paris: Seuil. ZACHARY, G. (1971). “The Use of Archival Material”. American Anthropol vol. 73, p. 695-709. ndo é motivo para que a sociologia fuja a semelhantes questdes. Em suma, -se recusado 0 sujeito, por sobrecarregar demais na analise dos proces- ‘iais, eis que se aplaude agora o seu retorno (TOURAINE, 1984); 0 retor- sujeito que, na realidade, nunca hayia partido. O que se passou, portan- que pode nos ensinar essa redescoberta desse ponto de vista? 0 € mais necessario fazer a demonstracdo da importancia das historias ou de vida nas ciéncias humanas; e tampouco fazer o recenseamento das pes- que privilegiaram, privilegiam, ou ainda contam privilegiar esse tipo de ma- Tealidade, seu numero € condizente as expectativas suscitadas por esse método” biografico. Ora, a renovacao paradigmatica anunciada entrou em - com problemas tedricos e metodolégicos, dos quais se notou quanto 4 complexidade, a qual é, contudo, bem real e poderia resumir o imenso in- 1 essa redescoberta da Escola de Chicago, e também pelas questées tedri- dologicas, bem como epistemologicas, que foram, entao, “abordadas” LARD, 1968). Nem técnica, nem método, nem teoria (HOULE, 1986), €contém, por suas qualidades especificas, um valor heuristico considera- iportante definir essas questées, pois a impossibilidade virtual de solucio- oblemas suscitados, e de transpor os obstaculos epistemoldgicos encon- em poderia, como foi o caso em Chicago, levar-nos a descobrir, pela se- vez, as virtudes do questionario e do(s) método(s) quantitativo(s), cuja cri- '-se-d, foi demasiado severa. E por que nao? A bem dizer, ¢ impossivel fazer 317

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