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ume SinviANO SANTIAGO: O COSMOPOLITISMO DO POBRE CRITICA LITERARIA E CRITICA CULTURAL elo Horizonte Editors UEMG 2004 "ep loa et ep one en ORACAD DE TERT: Aw Mn Je ones slo DE TENTO E NOMMALZACAO a aS Ra [Mo}ETO CHAN. cle camp Stns R0DnGs0 ehatIca Women M. Sor {Un sole, fa assis Beate sor mes genous. = Btje li tous ante, — Ete Pa injure, [i-um dia, a0 caro sh, pus Beleza 9 colo “Julgueta amarg. — Ea ijt Une satzon en enfor ~ Pasagen poo inferno Anus Rashad il so imam sep de Bez ne ‘nce nto Ba ene a, 1. p29 “me nn, mi etl en a Mo te "era sr ops Hab, tno pens pono siti Gow ens gs sre cp i it cs asin, ‘Stcamets soul lca dee pe ai doa es stern ws peri srs pri ta, Syce ates as Conic ase 1, sp dein ea an ese cg Gi 0 COSMOPOLITISNO DO POBRE Dornteo desenroar da fle Viagem an comer do mo (41997), de Mancel de Oliveira © foco da cimara se confunde ‘com espelho rettovisar do caro. A cimara (ot 0 expelho exovisor) detormina o ponto de vista que deve gust 3 A058 pereepeio da vlagem de Lisboa a uma distant adel, encra- ‘vada nas rontanhas do norte de Portugal. Distancamento do pasado eaprosimacio do futuro tem o mesmo peso eam. ‘ico para os petsonagens em trsito. A chegact ao destino ‘da vlagem tarda ainda mais pelo eletoreorico —e a expe- rieneia que aguarda os personages no foto € uma neo rita sem sins precutsoes, a0 eoatrtio do que acontece nos filmes de David tyach, onde a camara buseasurpeecndet 2 esrida a ser percorkls eo cima de suspense domina. Adu fenquanto o cro gana terteno, a ckmars nos mostra & sins Tiago js obedecida, a pista asaltada jt percorsae 2 pai sagem descomtinada. O espectados eatra numa maquina do tempo. Esta, a0 estufar por duas vezes consecutivas © peito do passado, trna o presente tansivel para 0 futuro (Quatro pessoas vialam pela moderna auto-estada port ues, se no contarmos una quia, a gua incognita do ‘motorist Dois a doi. O velho diretor de cinema, slanoel,¢ 2 jovem eselaspatxonada por ele. mais do stores — ut @ portuguds e 9 outo, Fanets Hho de pat pomuguts. Este, 08 eatorze anes, tina tansposto as montanhas pobres do rte de Portugal, fugido a pé part a Espanta, de I, emic tid para Franga. Abundonars 2 aldeia natal para poder far a via © consi fami. Em Lis, para eselar ‘oma grande produgio cinematogre,o famoso ator francés plungja a Viagem 20 comevo do mundo. Quer conhecer 0s parents camponcres que sinds moram no norte de Portugal (© prupo ¢ tinsnacional no manejo de lings nacional Todos sto de oigem portuguesa ¢, 8 exceso do ator que so fala Fencts, todos 280 binges Dis filmes se suceem ¢ so contrastados em Viagem a0 omega do mda © pret €de response de sn, Sitetor de cinema, 0 segundo ¢ condusido peo lho dm ‘utr Manoel, ator Faneo-porngués. No primeiso, 0 dito, interpretado por Marcello Mastrotnn, usurp do ator frances ‘© motivo orignal da vlagem, ou si, a cunosidade © asic thade do desterado. Rouba do filha de meteco (stage) & ‘vonude de palmihar o passado fama. Ao conteiio do aoe, ‘que ma vesdade quer encontair pela primeira ver 3 fanili portuguesa perdida pela emigra do pal nos anos 1930, 6 Seto vai apenas revistat passade ariocrticn da nacho fusitna, de que foram partipantes seus sntepassidos ¢, ais recentemente, cle propia. Num mondlogo prevsivel € Cinsativo, quer alin atencio dos tés compantcras de ‘iagem para suas pia lembrangas, Remeron. Ao pisar © solo da lembrang,juventde senhoral, estado © historia Domtugueses se confndem. No af de ibere a meméria da Angina da seudade, ports vezes obigno cro ase alist ‘lrrota orignal, impondo suas imagens paiculaces no lugar ‘eantes das imagens do segundo fm, © carro pra primeiro diante de renomado ¢ aistocetico ‘colegio fen, onde @ deo feito ox pimeins estudos, ‘Ncimara abandona a porgto dita pelo espelho tetrovisoe ‘© agora spanha care personagens da perpectva Isterl como 1 dizer que passow a narra uma exit 8 nargemn do pereuro da viagem. © caro pira via segunda vez. quanto 6 dieetor tece mais eminsceneias, © grupo vagueis pelos jnedins abandonados de aurora lusuoso hotel de verano, ‘hteadendo ainda 2 ordem do diretor, 0 caro pars ome teveeirae glia vez, desta feta diane de casa, onde uma ‘etal, de Redo Macau, se aligura como imagem Paterna pra 0 eto, Pedio Macau represena © portugues que, endo se fanado 8 trip fore mas coldnias, regressara ico 20 pas de origem, tazendo As casts o “fardo do homem braneo", para usar expresso clisscs de Redyard Kipling. Caso se Stent para 4 vigh que Pedio taz 3s costs, iobilzando-o, [esse a metifora das ventures de Pedro: 2 awaldade porte guess € tormenta, eo faturo chega ride pelo remorse, Povo {de mariaheios, 0 portugues acaba por se exilar mt propria {errs Nidal muadura ou na velbice © relato do dietor de cinema nao se diferencia de tantos ‘otros, que, desde 0 inicio do século 20, se sucedem nas Imodeenss literaturas cioais. O ferrte de Marcel Proust be a descoberto e marcou uaiverslmente a eatme-viva dt Imemdria individual levada no século passado. Todos os frindes aristas intelecuals da modernidade oetdestl {neluiado os marxistas, passaram pela experiencia da ‘madeline. Ham passado comum —na maioria dos sos ‘cosmopola,srstoctita ou senor, — que pode ser dese tranhado de ida uma da sucesivas autobiograis de Vase dlisinos autores. No preflo a Ratzes do Bras, de Sergio Buargue de Holanda, Antonio Candido fot seasive a0 feno- ‘meno do desaparecimento do individuo aa escita sociol {eriria do século, O texto da meméria trinsforma o que Parecia diferente © miliplo ng igual. Obmerva ele: “..) 0 hosso testemtho Se toma regito da expenénca de mos, de tclos que, pertencendo ao que se denomina una gercso, Fslgumse a principio diferentes uns dos outios © V20, 10s ovcos, icado 0 Igual, que acabam dessparecend como Fadividos” ‘So mah ieteressntes as ingens os ditlogos do seguodo flme, de onde a atengto dos pasagetose nossa, de espe tador foi por tr venes destiada. O ator Fences hes que tentara consti 0 Ususpador, mas na verdad € 6 a pantie ‘de momento taro do fime que consegue coniscarte o fio nasrativo. O divetor de ciaema nio tem 0 dito de impor 40s dois cutos portugueses ao fhe de meee, hoje um Tastaqiera (rasiaguontre, as lombeancas que peecnchem © ‘anio da saudade anstoeriea. lingua portuguesa no Brasil se apropriow das palavras meteco e rasiagaera, de sendo Dejorativo na Fanca modems, de que nos sevimes part crac: teriearo ator franets, iho de emigeante pomtugues. Louse ‘eta passage de Mocidade no Rie Primetravagen a Europe (1950), memériss do esentor, justa e diplomats Gilberto ‘Amado (1887-1969)..)comecei naturalmente a deerme ‘com as obns-prinas a coznha ances, Sub eu 2 raoivel hivel de aptidio para opinar com conhecimenta de causa, € mo aproximativamente como rastaguers a meteco, sobre mothos, condimentos’, Em tras francests, 0 diplomats a lite brastleia nao quis ser confundo com os tnigrames, fe que tmbem se dltanei na tera ntl, © confsco pelo ator do fo narativa do filme nto opect ‘um mero cote dento do fle, oportunidad de que se vale ‘© até entto coadjuvante part tomar a palavra do ltetor € "ssumi, como protagonist, a contnuidade da naratva te ‘final. © confscoassinaa mais: tata-se dum venladcto corte ‘pistemoligica. As palaas © is imagens da lemma de responsablidade de Manoel, oclictor de cinema, deve suecder stexperiéncia de um dla ma vida do ator fences lho ct ‘tio Manoel, © emigrante portugues de que i filamos. O ‘nome de hatismo do ditetor ede todo © qualquer emigrane Portugués €0 mesmo — Manoel, Dferencleos os distanca © norte de faa eo ugar que ocupa ma sociedade port vest, Neste dia, que esta para ger vivenciado pelos usta ‘ompanheirs de vagem, se Ihe desortina o pasa lish ‘ano de todos esses autos Manos, em tide por td diverse do passido dos Manodis que estavatn sendo representaden ela fala aucobiogrificaeltisa do dretor de cinema, O ator {iz uo companhczo de visgem "Gostel de cust, mas o que dise no me diz espe E otto 0 Inteesse da viagem pars o ator, € outa sua ansiedade, sio outras suas lembrangas —ditadas que Ihe focam pela experiéncia de vida desse outro Manoel, sou pa le fora um rapazinko “moi voluntariovo", ilo de pobres ‘cumponeses do norte de Portugal. Sem documentos © sem linheto, esas as montanhas de Flpera si com a rou {80 compo. Gankara a Espanta curunte a Guert Gil. Fors reso. Aprenders na cadeia ridimentos de mecca, Pasar ome e fio muitas vezes nio tives teto para abrigio, Atavessara 0s Prine, sabese I como, gaara rings, Instalarase em Toulouse, onde fora empregado de fens de vulomdvels € depois proprietio. Casaarse com ‘iver dois ios © multas mulheres. No passade dese ovtro Manoel, 0 iho quer coher tanto a miséia da vida no campo ‘quanto © gosto pela aventura em teas dstantes. Dele herdou ST nostalgia, que a trade pelo wiolto que caregava eo fado {que canta, No foturo dopa, de manera inesperda, pinoy tm filho que —sabe-se H. por que esforga e tenackdade — pertence 2 nata dos atores no cinema Fnnets. No hi 56 conguista na vida dos Magodisrastaqderas. O ‘cosmopolitsmo do portugues pobre rouxe perdas para o filo five a0. visgem —inversa fit ap pelo pal emigrate — pode revelar © compensa. A principal perda €a da lingua materna. No perde-ganha da vida cosmopalit, 0 ator feo temo dominio do instnmentalindiapensivel para com hier diretamente com os antepassados. Tendo o pa abundo- ado a nacionalidade origina o filha abou por sofrer ¥io- leno processo de nacionalzagio na Fanga. Na ala do dietor e cinema, durante © primero me dento do filme, 0 por tugués € ina lingua tho exétiea para o ator francés quanto a ‘materia autobiogrfica que veils. Os dois ouleos compa ‘eitos de vagem fizem o papel de intérprete, © Portugal falado dentro do carro mala Uaha a ver com ce, flko de seteco na Fang, {No segundo filme, quando todos se sentam em torn da mest na salad jntar da casa onde nascera 0 pal, o ator © «li conta de que tinha perdido os parentes menos na Tem Danae mais no histo Hingaisticn que os hola no presente ‘A ala da mesa lingua uaz incomunicablidade e gers descos- Fianga no ambiente doméstico, dominado pela cor negra cas roupas. O ator se sete exlido na ers do pal por ums 230 “ifeenie da levantada pela narava do dietor de cinema ‘ho aproximar os distntes, 4 viagem as avessas fits elo fiho distancia de outea forma os parentes que deveriam ser Drcximos. © avesso estva transfomando 2 ansiad e fellz ena do reencontro de familiares nam aft jogo dominado pelo desajuste 2 desconlanes. No proceso de ibridizaedo, Eracteisico da vida dos metecos que mao fazem tabula rasa ‘ds valores familares,o ator cometera um deslze iepacive ‘sto ders continuidade 8 lingua materna, esquecers Intent aida esl e anacrOnica aldo portuguesa ss dincussao sobre a intivel e possmoderna aldeta global, consttuida em tins pelos creuitos eeondmicos do mundo lohalzado, pode tszcralgoma originalidade ao debate hoje frm vigncia. Viagem ao comero do mundo ai dramatist dois Uupos de pobveza minimirados nas andlises soe 0 esto por que passa economia wansnaciona © primeir po de pobeeza dramaszado no segundo filme € anterior 3 Revolugao Industral e configu o homem na soa ‘ondigio de uabathado da tea paso de simi, represen ‘acto romdntiea do autdetone, Dante das pote mula ‘que aram, plantam, colhem esatsfzem ax necessidades da economia tansnacional de gros, diate dos modernssinos procestos de eragto reproduedo de aves e animals domes tics, dante dos misérion da clonagem de ania, ira femblemtiea do campons portugues €snacsonica — um inde duo pedo no tempo e 20 espago do séclo 2, sem airs ‘om o presente e, por iso, desuldo de qualquer icin de Futuro, Nem mesmo coasegue se relacionar com ox modernos aparelhos eleténicos, como @ televiso, que esto 20 sc lance gragas aos tugs perersos dt solide de conser, (0s das que esto por vr se confundem com a visgem de vol a “comeco do mundo". A imagem dts co ator € 10 mineral quanto 2 paisagem pedregosa em que sobrevivem os (que Hier arando a era e rian anita, Se mari tem focinho de animal, como assinala gronseiramente 0 ers0- nagem do dietor ao imitla com cares, Sto ates peas ‘metiforas evanchisiae que veculen tia — uma pecs no melo do caminlo a globalizagao ecoaémia; oo — um labo esprit da menor fala aos apeisooseomputaderizados para dae bote No caso do Bra as cuts metsforas rents encontrm su redengao politea no Movimento dos Trabalhadnes Rais SemvTerra (ST). Lotam pela reform agriia no plano leg lative pela posse de teas inprodativas no Pla judi, [stam pea permanénca do campones nim snd mororza { tecnocritco que os exclu, eduzindores 3 condo de pis 4 sociedade global. Nos nossos dis, em vimude ds pers _ulgio poleial que se acopla a intenniniveis process ud ‘inos, mutos dos avis sobrevivem na condigio de 1eus. Maiores informagdes podem ser obaidas na Internet hip ‘wow aston be a pin ent em poms een ses outs linguas estrangeias, a serie de bom exemplo para ques fentenda concretamente © que estamos caraterzando como ‘ cosmopoltsmo do pobre). alse le que, desde 2001, uta {do MST tem sido marcads pelo exter interacionalista, (© segundo tipo de pobreza dramatizado no sequndo fine € posterior 3 Revolusdo Industral. Gragas & democrtiz¢io ‘dos meios de ranspote, horizon do camponts desexdado ‘de tert do cudada dos anima, ol api. Acenaram-the com a possibilidade da emigeagio fieil para os grandes ‘entros urbanos, tomados earentes de mao-de-obra barat. Os pobres suo anacroaicos de outs fortta, agora no contaste om 0 espeticulo grandiloqiente do pos-madero, que 05 ‘convocou tas suas ters para o tabalho manual eos abeiga ‘em bales lastnsveis das metropoes, Esse novo expediente 4 capital wansnactonal junto aos pases perifericos ancora © camponés em terms estringeiras, onde os seus descen: lentes poco a pouca perder o peso ea forga da tro ‘ritinalAlguns poveos, como 0 ator n0 filme, chegamn 9 toncigio de ator em evidénca, de edad Fances, nas muitos ‘ivenctam um futuro de que no participa, a no ser pelo texbalho manual, que tnha sida desqualifieado e rejstade pelos nacionas sts eritda uma nova até entdo desconhectdls forma de desgualdade socal, que alo pode sez compreendida 90 bio legal de um Gnico estadornagao, nem peas rages ffciais entre governos nacional, ji que a azo econbsmiea {que convo os novos pabres para a meti6pole pds-moderna iranenacional e, na maiora dos caos, também € ciandes: tina. © fluxo das seus novos hablantes € determinado em unde pare pela nevessidade de rertar oe desprivilegids ‘do mundo que extjum daposto a fazer os chamnados servigos 4 lar e de linmpeza e aceitem trinsgredi as leis niconais ‘esubelecdas pelos senigos de migiaglo. S40 predetern nados pela necessidade pelo luero pés-moderno. Como hama t atengao K. Anthony Appiah, 20 pretielo a lo de Saskia Saseen, "os fonciondros stamente quilifcados ds Segoes executivas, como as ds flaancas, vem seus salsios roscerem escandalosamente a0 mesmo lempo em ue as remuneragoes dos que limpam os escritrios ou tram 2 for (pias estagnam ou afundam de vez" "nce as das pobrezas —a anterior € a posterior & Revo ugha Indust, existe um revelidor elntigantesifncio 1 filme de Manoel de Oliveira, No universa de Viagem ae Comes do mundo, no ibricas nem operinos. (4, quando muito, a indista nacional do enetenimento, represents pelo diet eo ator, hoje toalmeate glohalzada. Na verde Sela que ests senda. questionada pela viwda mukicltral do flme) Para o camponés miserivele voluntanoso, assim ‘como pars os operiios desempregidos no mundo ubano, ‘lesigualdade socal na pata ern proponda im salto part ‘mundo milionirio ¢ wansnacional Salto mela que eats ico na aparéncia, mas conereto na realdade, Esse salto & impulsionsdo peli faa de opto pelt melhoia econdmica & ‘Social ma propria alee, multas vezes, 20s pequenos cents urbanos do proprio pas, como €o caso da Feito de Gover. radoe Valadates, em Minas Gerais. Os desempregados do ‘mundo se unem em Pai, Londres, Roma, Nova Torque © Sto Paulo, ‘Hiv longe o tempo descrto em Vidas seas de Gracin Ramos, dominado pelo eaminhao pav-de-arta, Longe no ‘tempo os retirantes da monocultura do laifndio ¢ sca nowestina. Hoje os Petirantes brasileiros, muitos deles briundos do estado de esados relativamente cos da nao, ‘sequem 0 floxa do capital transnational como um giassol ‘Alnda ovens e fores, quetem ganar as mete6poles do indo pétindustial. De posse do passapone, fem enoxnes fas 2 porta dos consulados. Sent conseguir vit, islam para paises lmicofes, como o México au o Canad, emt relagao sas Baades Unidos da America, ou como Pore Espanis, fn relagao a Unto Europea, e all se untam a companheiros de Viagem de todas a nacionaliades.O campons salt foe por cima da RevolucaoIndusteal eeu a pé, a nad, deter, navi ou avo, detamente na mettopae posers. Mutas vezes sem a intermediagao do necessiio visto consul IRejettdo pelos poderosos esados nacionais,evtada pola Dburguesiatdiional, hoslizado pelo operardo sindial ‘aloe cobigado pelo empresariado trnsnacional, © alge ‘amponds € hoje 0 ‘mot eorsjoso” passagelzo elandestino da rave de loucos da péssmoderidde elimente, Viggem ao comego do murda & ua fe com apy ending © stor franco-portuguds volta a requstarintérrete,agor para conversar com os familiares. A welha i ima do 2 pat CGemirvelmente interpctada por Isabel de Casto), n20 reco hece um sobsiaho nas palavasfrancesas de que se serve. Dirge oF ois a ele ea pale, a ineeprete “Para quem exou a falar Hle azo entende 0 que eu digo.” continua indagar ene tspida Intolerant € ralvos or que que ele no fala # nossa fa?™ (0s sucessves peides de reconhecimento como sobrinho por parte do ator, raduzilos > lingua portuguesa pelo(s) Imerprete(s), sio motivo para que ela repita a mesma Pergunta até 4 exaustio: "Por que que ele no fala a nosst fala” © ator se di conta tardamente de que, na economia ido amor familias, de nada vale o tabalho dos interpretes linghisticos. A boa vontade deles nao compensa a perda da lingua materna Perscratando o enigma da gnorinclarstica que defronta 4s boas mancitss © 0 savoir faire metropolitanos, © ator evanta a possibildade de uma fila comum que uanscenda fs palavtas — a fala do afeto, A tn entra no dislogo sem palavras que 0 sobrinho Ihe acena. Comoca a recontiece-1o pelo oltre pela gues da semethanca.O Mlb se parece 20 Pai tem os mesmos ofhos. Em segvida, a fla do afeto Serve do vocabulavo do comato de pele com pele © arta © pallet, aproxima-se data, aregaga # manga da cams, the pede, através do interpreta, para que he apene 0 bao. Bragos © mos se cnizam, estetando or lagos Failaes Dinh © ator ‘Nao 6a lingua que importa, o que impona é0 sangue.” Actmologa dos elementos el fal do afeto ext no dicondsio osangue. Ata orecoahece faalmente como othe domo [abragamse. O sobrinho the pede para ir ao cemitero,vstat SG timul dos avs. fla do afer tomas pena no moment fom que ata selao encoatro coma doagio 20 sobrinho dumm pho camponés. Porém, perdura a consti amarga da th ‘otha, Afonso, s€ 0 teu pai no te ensinow nossa fla fou um mae pai io se pode pedir aos Manodis pobees € cosmopalitas que abdiquem das suas conguistas alia global, longe ‘Eade ptr, mas cca eto nacional do Pameio Mundo pode, ito sim: proporcionarthes, a despeito da falta de Fespoasabilidade 90 plano socal ¢ economico, 2 possibl- ‘ade de no perderem 3 comunieagao com os valores sociais {ve os sustentam no fsolamento cultural em que sobrevivem tts mettépoles por-moderns. eee Se tos somos favor do muklcukuralsmo, hé ve define pelo menos duas das sats formas — uma jf antiga e outa mais do que atu Hd um antigo muliculturlismo — de que o Brasil edemais rnagdes do Nove Mund sio exeniplo — ct referencia lumina fineada nagio pdrcolonil és civilizagio ocdental tl coma ‘ehinida pelos conquisadores e constutda pelos colonia ‘ores originais e peli levas dos que Ihes sucederam. Apesar ‘de pega a conviventa pacfca ene os varios grupos eos fe sociis que entraram em combustao em eida Mellin pot (idinho) nacional, tera e pritica sto de responsabilidad ‘de homens brancos de oigem europea, tolerates (ot 10), ‘atslicos ov protestnes, alates de wins das Weis linguas fo Velho Mundo. A eto multicultural 6 obra de homens byrncos part que todos, indstintamente, sj disiplinae mente curopelnados come eles Nos aostos dias, o antigo mulicalturalisma tem sido siesprezado pelos governantes das rcémrladasnagdes al ‘ints ezsiicas eValorizado peas ages do Velho Mondo, ‘hina 4 Alemanha, a Fransa ea Inglaters, onde ainda existem, 2 luz do da bolsbesvolentos de ntlerincia, para ato dizer the racism. © bumerangue que na século 19 atou o mult- ‘itralismo para 0 Novo Mandl, a fim de que ele permane- ‘este apendice da Boropa no period ps-olonia, aos lunes snow passow por cma do alvo Afca Asia, para vole 40 ugar do arremesso. © fetigo se ven contr a fii #8 propria casa deste, Fort do seu lugar de etiagio, 0 antigo fruliculturalimo serve hoje para resolver sinagdes confl- tosis ¢ apociipsicas que piporam nas nagées da primelra Yersto da Unite Europe. te os mais legimos eécas do antigo moteurs esti 0 noneamencino Wiliam G. Summer que, em 1906, ‘Stahow efi o ermo etnacenrioma. No seu leo Folks. Dpublead em 1906, define Summer: “O etmocentsismo € 0 {emo tecnico que designa a Visto das coisas segundo a qual fo mosso proprio propo fo cena de todas as cosas, endo todos os demas grupos medidos © avalids por referencia to primeiro” continua adinte: “Cada grupo pens que 08 Seus proprio costumes [flltays, no exiginl sto os dnicos hms, c se aber que Outros grupos tem outros costumes, testes provocam o seu desdem™ Entre cles também sido o nosso Gilberto Frere, autor de asa grande & senzata, ox estudiosos do Canselho de pes Gules em clénclassocais dos Estados Unides, que desde os Sinos 1930 defenderam a divesdade cultural, «3 antroploga Margaret Mend. sta, diate do escadalo que representa, Auante a Segunda Grande Guora, o recrutamento de “second ‘tase citizens" fos negros, part ser preciso) pelo governo fhore-amerieano, cuthou célebe fase que passou s englobsr Iiufercntcmente os nacionae "Somes todos eres pera.” Os fundamentos desse mulicukuralisna fepousam em um Coneettorchave, ode deutura¢do. Rober Redfield, Ralph intone Melville Herskovits defini aculturaga0 em 1936: 'A seulluo €o conjunia de fendmenos que resulta de tum contato continua e direto entre grupos de individuos {de calturas diferentes © que acaretam transformagbes dos tmodelos {patterns no orginal cultura inieiais de un ou {don dois grupos © velho eoneeito de moltculturaismo fepoust nese concelto.e 0 trabalho que, anactonicamente & ‘Coma ajda de Jacques Deda, chamaremos de desconsrtor tho etnocentismo, No Bras, como se sabe, a visadd mult ‘uluatsta foi fotlecida pela ideologla da condiaidade. (0s exemplos em literate latao-americana do multcul twas coral sto mos e ntigos, Giemos alguns prove- hicntes da literatura branileira. Comecemos por Iracema ‘ines, de fost de Alene, passemos por O corto (1888), de Aula Azevedo € paremos em Gabriel, enti ecanela 1958), te Jorge Amado. Por esve mutcuturaisin fla vor inpes soale sexuade do estado-nasto que, retrospectivamente, tinha sido constiuido no interior do meltngspot Nese, sob 0 limpéro das elites governamentise empresas e das lis Jo ils, vas e diferentes etnias, visa eiferentes cultura, fcionas se cruzaram patrarcal¢ fiteralmente (os termes slo caro a Giibeno Frere. Miscuraram-se pars consi ona ‘vir © original cultura nacional, soberana, cots donninntes, nn caso bral, foram o exteminio dos indies, modelo ‘escravocrata de colonizacio, @ silncia dis mulheres © das mninorias sexuis Emigrantes que escapassem aos prinipiosdefinidos pelo ‘stado-macio que os acolbera genetossmente,seiam tern rnantementeexcluos da agenda da imigriso planed, ov ‘mio seiam acetos em terri nacional Un dos debates Fistdricos mais lustatvos do procesto de rejeigio demi rants, que seam possielmente inbmissos 8 oganizagao ‘ional ditad pelo establishment da Segundo Reina bras Feito, aparece no caso da emigragto chines no ial do séeulo 19. Em 1861, povco antes da sboligo da eseravidag negra no nosso pais, Salvador de Mendonca define & sun posigio eol6gis, que acabou por ser eeferendada pelo governo brasileiro; “Usa fo povo chinés] durante melo sécul, sem ccondigbes de pemmanéncia, sem deiticlo fase em host solo, com renovagie pesiédics de pessoal © de contrat, afiguraenos 0 pass mais acenado que podemos fazer para vencer as dificuldades do presente e prepara auspiclosameste © futuro nacional.” Fiea Gara » ryzio do lobor contar com © trabalho dos chineses na agrscultors, sem, no entano, acolhélos definaivamente em tenitio nacional. Feline 1 posiivisas reagieam 20 raclocino intoleraate, subor nando o exercicio da politica 8 moral. Delararam que se lava da substiuigio do brago eseravo por unt brago quase ‘esrivo. Os chineses mio emigearam pars @ Bra, por dois Imotivos complementres As plivras dads pela itletici do eado-nio face 2 sterenca da cosa estrangeira no ext ausentes de mites lis declaragdes recentes de politicos nonte-anverieanon Durante discuss no senado daguele pas sabre as vantages desvantagens de um mercado comum nas Américas, poemi- fente senador proferiy esta pérola que acentua a impossibi lidade de um caldeamento equilibrido enise as nagdes do continent: *Se 0s outos[palses do continente americano} to demasiado lento, avancaremos sem eles.” Sabemos 0 que 0 avango desmedidoe egosta de um nico estado-eacao pode acarretir. Depo dos acontecimentos de It de stem '8e 2001, cm que se acerbam as diferengaséiicise religions pelo viés do fundamentaismo mituo, as possibllidades de tim mulicukuralismo, tal coma fort pratieada desde as srandes descobertis no século 16 determinado teoricamente ‘ha primes metade do século 2, forum jogadas na lita de Txo do novo miénio, 29 mesmo tempo em que grupos de emigrants (ou de ft imigrantes) nos Estados Unis soem 235 constrgdes € os Vexames qu todos os oma e elevisoes © mulicuturtsmo que reorganiza os elementos espares ‘que se encontram numa determinada regiao colonial (e poe colonial), ou que referenda a imigracio planejada peo esto fcional staves de um ssteta de cols, sempre teve como referencia invarivel a retrica do foralecimenta dis “conn nidades imaginadss", para etomae a coahecida expressio de Benedct Anderson, Para Andetson, 1 nagio imaginada como tama comunidad iit esoberana,Ctemos 4 defines ‘que cle nos di dos tds tenmos gafados. Prima. definigao “A-nagio & imaginada como limtlada, porque até esto & maior dela, que abarea faves um bho de seres humnos, Possulfrontelas fintas, ainda que eliseas, para alem das ‘Gus se enconiam outs mages: Nenhuma nagao se imaging ‘ovextensva com humanidade" Segunda: nagiada como Soberana, porque o canceito nasceu mms époes em que & Tyminismo e 2 Revolugio estavam destruinds a leyitinkdade da reino dindstico hierirguica, divinamente insuido. (.) ( peahor ¢osinbolo dessa ibendade ¢ 0 Estado sobersno. ‘Teycels"(.). nagao€ maginada como comunidade poe sem considera a desigualdade © exploragto que atualmente prevalecem em todas elas, a nagio € sempre concebida coo ‘um companheiismo profundo € horizontal” Pela persuasto de cunko patric, os multleukuralsas 4s combnidade imaginads desobvigirim a elie dominant ‘de exigénclas socials, pola e cultural, que eansbosdam to ciclo esteto da nacionalidade econdmica. Se se quiser ara rOupa sua, tee de se em casa. Av diferent éticas, lingciticas eigioses e econdmieas,ralzes de conitos ines” tines ou de possivelscoalitos no foro, foram escamoteaclas 2 Tavor de um todo nacional integra, patiacal fraterno, epublicno e dsciplinado, aparentemente coeso€, he vez demoeritica, Os cacs ea sabris do ater de constrcio, ‘que ajudou a elevae 0 eifico da sacionalidade, so rides 1 Lixo da subwersi, que deve ser combatida 2 qualquer reso pela policae pelo exgecto. A consti da Estado elas regras desse multicultural tove como vstda por {es o engrandecimento do estidornagao pela pena da me sméria individual do marginalizado © em favor da artificial dade ds meméria colts Em tempos de economia de mercado tansnacionl, seria Justo pregar os prinipiostesrions desenvolvidos na ierior pesquisa e da pritica multicultural, fal como foram set fldos no passade? | estaturagio do antigo mukicukuralisnto — seferendado 1a nova ondem econdmica pelos mas diverson governos ‘acionls,hegembnics, ou nto, — deve se opor hoje a eee Sdade dma nova torizasao, que passat se fundamentar ‘i. compreensio dum dup proceso em marcha avassiladoes pela economia gobalizda —o de “denationalizing of the Urban space” desnacionalzagto do expago wane) © 0 de *denationalzing of pole lesnacinazasi da pola) pars ‘sar as expresstes de Saskis Sisten em loblearion a tts discontens, Continua ela, caracterizand 0s atores socials sedluzdos pelo process: “E maitos das trabalhacores des ‘ilegiades nas eiades globe so nul, migrants © gene the co, cujo senido palico de ndvidalidade © cus ident tdades nao estio necessriamente imeros na ‘aigd0" ou na ‘comunidade nacional.” ‘Os principio consituvos da comunidade imaginadaestio sendo minados pela fonte muir e pela economia trans- ‘acional em que beberum e ainda bebem os estadow-nigoes penfeticos também as hegembnicos. Primero: © estado hago passa a ser covestensivo com a humtanlade. Como exemple, citese polemic artigo de Vaclav Havel, “Kosoves ‘0 fi do estado-nagio", em que alert para 0 fato de que 0 Thombateio da Tugoslia peas tapas da OFAN coloca cs licetos humanos acina dos dietos do Estado (responsivel ese, lembremos, peli “lavagem éinlea" de Kosovo). Havel Fnvorece a voatade de aconar una lei mais als do ue a que silvaguarda soberania de eada estado-nagio. Visvelmente Inspirado por um elica cris escreve’“Diretos humanos Nberdades humnanas (.)¢ dignidade humana tm sas rites nas profundas em algun lugar Fra do mundo que vemos.) Enquanto 0 estado € uma erasio humana, seres humanes 30 uma ero de Deus” Segundo: & questonada 4 soberania do estdo-nagio na tacane sles e modelos chlictonas, “Tereeio:dei-se que o "eompanheirimno profundo e hor zontal” naulague nas peopeasNiguran de erica qe 0 cme ‘Uma nova e segunda forma de multiculturalism pretend (D dar conta do inluxo de migrantes pobres, na maria excamponeses, mas megallpoles pow modems, constitvindo ‘208 legtimos e clandertinos moradore, (2) resgatar, de permeio, grupos éinicos e socals, economicamente deste Vorecides no processo assinalado de multiculuralismo a Servigo do esado-aagao. ‘4 luta politica dos primeizos, os migrantes mas megalé- poles pos-madernas, ¢ dos outos, os marginalizados 20s fstados-aagdes, esd sendo hoje fortlecca pelo suporte © ‘apoio de movimento politicos tansnacionas vjo exemplo mais contundente reside nas alvidades desenvolvidas pelas (Organlzagoes n26-governamentais (ONG) junto 3 sociedad civ de cada esado-nagio, Ges, por exemplo, caso do ‘movimento cas mulheres negra no Bas, que se velaem ext ‘www.erlaongorg. Als "Nosso abjtvo stamens ago das mulheres e jovens acgras pars 0 enfretamento do racism, do seximo ¢ da homofabla vgentes na soctalade Tpasiela.” A feigaosopranaiona ue modla as ONGs toma-se passvel de ser aelinatada na perfera econdmi gracis 30 fate de que o pat abandons os melos de communiagtocsicos (ds corres etlégralon ao fax) ese adenta pas cia vez mais barsts © veloresrodovia lntecontineatas dnt ‘Uma sociedade civ na perfra € paradoxalmente iaypensivel sem os avangos teenolicos da informstics, ‘Ao perder condgao utépen de nagt0 — inagiaaa apenas pela sta elite intelectual, politica « empresiil, repos — © eto nacional pss 2 exgi uma seconfguasd0 cosmo Dra, ve comempe tatoos moves meradoes qu ‘socusvelhos aban maialzdon peo process hits, Neo. Ao ser reconigurado praginaicamente pelos aaie

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