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ago editorial inno Benclowier Espagos por Maria Adélia de Souza e Milton Santos audos Internacionais de Catalogacao na Publicacto (CIP) (Cimara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Santos, Mitton, 1926- ‘Ocespago do cad / Milon Santos. — 2. — Sto Pablo Nobel, 1993, — (Cole espagos) ISBN 85-213- | Espago pessoal 2 Sociologia wana 3. Geografia urbana — Brasil ‘lo, Te Seri. Indices para catalogo sistemitico 1. Espago : Geoprafia humana 304.2 ie O Espaco do Cidadao Milton Santos Nobel iveis.territoriais-administrativos responderiam aos di- vorsos niveis da demanda social. Nessas condigdes, deve-se falar de um modelo civico-territo- organizagao e a gestdo do espago sendo instrumentais a uma ‘ca efetivamente redistributiva, isto é, tendente a atribui¢do de justica social para a totalidade da populacdo, nao importa onde icja cada individuo. A plena realizagao do homem, material ¢ ferial, no depende da economia, como hoje entendida pela ia dos economistas que ajudam a nos governar. Ela deve re~ sultar de um quadro de vida, material e ndo-material, que inclua a economia e a cultura. Ambos tém que ver com o territorio e este ‘nao tem apenas um papel passivo, mas constitui um dado ativo, devendo ser considerado como um fator e nfo exclusivamente como reflexo da sociedade. E no territ6rio tal como ele atualmente é, que a cidadania se dé tal como ela € hoje, isto é, incompleta, Mudancas no uso e na gestio do tertitério se impdem, se queremos criar um novo tipo de cidadania, uma cidadania que se nos oferega como respeito & cultura e como busca da liberdade. HA CIDADAOS NESTE PAIS? Cabem, pelo menos, duas perguntas em um pais onde a fi- gura do cidadio é tio esquecida. Quantos habitantes, no Brasil, sio cidadaos? Quantos nem sequer sabem que nio 0 sio? O simples nascer investe 0 individuo de uma soma inaliendvel de direitos, apenas pelo fato de ingressar na sociedade humana. Viver, tornar-se um ser no mundo, é assumir, com os demais, uma heranga moral, que faz de cada qual um portador de prerrogativas sociais. Direito a um teto, A comida, A educa¢i tego contra o frio, A chuva, as intempéri justia, a liberdade e a uma existéncia digna. discurso das liberdades humanas e dos direitos seus garan- tidores 6, certamente, ainda mais vasto. Tantas vezes proclamado e repetido, tantas vezes menosprezado. E isso, justamente, o que faz a diferenca entre a ret6rica ¢ 0 fato. Q respeito ao individuo & a consagragao da cidadania, pela qual uma lisia de principios gerais abstratos se impde como um corpo de direitos concretos indivi- dualizados. A cidadania é uma lei da sociedade que, sem distingto, um estado de espi tido, que se costuma dizer que a lierdade nao é uma dadiva, mas idadania ser um estado de espirito ou uma declaracao de intengées. Ela tem o seu corpo € os seus li- dQ situagalo social, juridica e politica. Para ser man- .cBes sucessivas, para ter eficécia ¢ ser fonte de di- épri is, mediante dis- institucionais que assegurem a fi das prerrogativas das e, sempre que haja recusa, 0 direito de reclamar ¢ ser ido. ‘A cidadania pode comecar por definigées abstratas, cabiveis em qualquer tempo e lugar, mas para ser valida deve poder ser reclamada. A metamorfose dessa liberdade te6rica em direito posi- tivo depende de condigdes concretas, como a natureza do Estado do regime, o tipo de sociedade estabelecida ¢ o grau de pugnaci- dade que vem da consciéncia possivel dentro da sociedade civil em movimento. E por isso que desse ponto de vista a situacdo dos indi- ‘viduos nao é imutavel, mas esté sujeita a retrocessos e avangos. Os homens, pela sua propria esséncia, buscam a liberdade. Nao a pro- curam com a mesma determinagao porque o seu grau de entendi- mento do mundo nio é 0 mesmo. As sociedades, pela sua propria historia, so mais ou menos abertas &s conquistas do homem. ‘E05 Estados nem sempre coincidem com a sociedade civil, mas, ao contrério, Ihes refream os impulsos, e freqientemente des it fividuos, sob as justificativas e disfarces mais di- tica da vida social leva em conta o movimento desses iado institucional, o dado econdmico, o dado cultural ¢ 0 dado individual interdependem e interagem. F.C. Weffort (1981, pp. 139-140), que o cita, mostra como, no seu clissico Citizenship and Social Class, Marshall reconheceu no interior das democracias modernas a existéncia de uma tensdo per- manente, uma “guerra”, diz. ele em determinado momento, entre io de igualdade implicito no conceito da cidadania ¢ a srente ao sistema capitalista ¢ sociedade de clas- ses (Marshall, 1965, p. 92). PAISES COM TRADICAO DE CIDADANIA E OUTROS NAO? ‘A cidadania eyolui através de um processo de Iutas desenvol- vidas paralelamente em diversos paises, que leva da condi¢io de 8 ‘ciais” em pleno sé (1982) desereve a evolugo que comega com a aquisigao do status de cidadao, membro de uma sociedad isto 6, a conquista de direitos politi reconhecimento de reconhecida como tal, ividuais, prossegue com 0 ntes aos grupos que tos coletivos, pet jidade nacional e autorizados a formar associa- jadas, até que “um terceiro conjunto de drio-de-vida decente, uma protegio mini doenga, assim como uma participacdo na heranga social”. ‘A propria palavra cidaddo vai se impor com a grande mutaco hist6rica marcada na Europa com a aboli¢o do feudalismo e 0 inicio do capitalismo. Marx e tantos outros autores saudaram.a chegada do capitalismo como a aboli¢o de vinculos de servidio entre o dono da terra e o “‘seu" trabalhador eo surgimento do tra- balhador livre, dono dos meios de producao. As aglomeragées hu- ‘manas, os burgos, foram o teatro principal dessa luta e 0 palco dessa enorme conquista. Com o homem do burgo, o burgués, nas- cia 0 cidadaio, o homem do trabalho livre, vivendo num lugar livre, como equivocadamente podem pensar os observadores longinquos 1) “Com elagto ao concsto de cidadania(.), uma ripida incusto histérica nos mostra ‘ue, no aboulo XIX, com a emergéncia do Esiado-nacio em toda a Europa, este conceito ‘dquriv um importante elemento: a qualidade de membro. Peto simples fato de ser membro dd uma Estado-naglo, todos os habitants ascendiam ao status de cidadio, apesar de que 0 so da sociedad — que represents um importante dieito politico iris eram essencil 9 mnsiderando os eventos como se fossem um ponto fixo laces sociais feudais e a forma de trabalho corres- geraram, lentamente, um novo caldo de cultura, assen- bases de um pensamento revolucionirio e de sua expan- slo, oferecendo @ rebeldia os fundamentos de um éxito que iria desembocar em novas relagbes sociais e de trabalho. ‘As conquistas cidadas nfo ficaram ai. A prtica dessa porcdo de liberdade adqn i o aprendizado para novas liberdades, até que se chegasse as modernas de sociedade civil, um corpo social que s6 existe porque ha homens ciosos dos seus direitos; € existe a despeito do Estado. Nao fora assim ¢ 0 idedrio liberal nao se teria alastrado na Europa e dela nao se teria transferido para outros continentes. E assim que esse projeto chega aos Estados Unidos, fazendo desse pais seu principal hastidio. (0 fato, porém, € que nfo € licito confundir o liberalismo de ‘Tocqueville ou 0 cidadao da era do capitalismo concorren cidadao na era teletrénica. Impde-se a necessidade de atualizacgao do conceito e do instituto correspondente, Em diversos paises — e isso em maior ou menor grau — 0 idedrio da cidadania e a legislagao correspondente foram se adap- tando. A heranga cultural, as novas idéias politicas, as novas lidades do mundo do trabalho, as novas definigées do intercambio social foram os fermentos dessa mudanga. As revolugdes socia- tas, desejosas de romper com as relagdes sociais impostas pelo ismo e de reconhecer os direitos das massas, tiveram, tam- 1m papel dialético nessa transformagio, ainda que criticos do que chamam o “socialismo real” protestem contra a \cia de contetido liberal na promogao social empreendida no NEOLIBERALISMO E CIDADANIA ATROFIADA ‘A grande crise econémica em que vivemos conduziu a certos retrocessos em matéria de conquistas sociais e politicas. O neolibe- ralismo, ao mesmo tempo em que prega a abstengio estatal na Area sssim como uma participesio na heranga social. O exercico destes ilgio. dos pases integrados ao sistema do welfare state. (T. produtiva, atribui ao Estado capitalista uma grande e6pia de poder sobre os indiyiduos a titulo de restaurar a satide econémica e, as- sim, preservar 0 futuro. A alegagto de que o grande desemprego &\ necessério para aumentar_o emprego daqui a alguns ati um) * desses argumentos.consagrados. para justificar uma recess gramada..Os “socialismos reais” também prometem, a partir aa restrigdes atuais as liberdades cléssicas, um sistema social em que, no futuro, a intervengdo autOnoma do Estado (separado da socie- }) seré minimizada, se nao abolida, na regulac&o da vida ‘Um trago comum a esses paises vem, todavia, do fato de que neles houve condigio para que a luta hist6rica pela conquista dos direitos dos cidados abrangesse, ao longo do tempo, parcela con- siderével da populagio imbuida, consciente ou inconsciente, da idéia de sociedade civil e da vocagio de igualdade. A instalagaio de tal estado de espirito de tal estado de coisas precede & implan- tacio das grandes mudancas sociais que viriam comprometé-los: 0 nas relagdes internacionais, a chegada do rporativo e a instrumentalizacdo das relagées inter- ia. do consumo como fim em si mesmo, a supressio da vida comunitéria baseada na solidariedade social ¢ sua super- posigtio por sociedades competitivas que comandam a busca de status © nao mais de valores. Em tais sociedades corporativas reina a propaganda como fazedora de simbolos, 0 consumismo como seu portador, a cultura de massas como caldo de cultura fabricado, a ‘como instrumento e fonte de alienagao. 1adro, hoje comum a todos os paises capitalistas, ganha ainda mais nitidez nos paises subdesenvolvidos como 0 nosso. E necessério lembrar que, para muitos paises do Terceiro Mundo, o empobrecimento da moralidade internacional atribuin vos do progresso a presenca de regimes fortes, as dis- ida econémica e social, a supressio do debate sobre os direitos dos.cidadaios, mesmo em suas formas mais brandas. Deixaram de ser permitidos: a defesa do direito ao trabalho e a ‘uma remunerago condigna, 0 reclamo dos bens vitais minimos, 0 dircito a informagio generalizada, ao voto e, até mesmo, a salva- guarda da cultura. ul © NAO-CIDADAO DO TERCEIRO MUNDO, cidadania e cidadania. Nos paises subdesenvolvidos de eral h4 cidadaos de classes diversas, hd os que so mais (ios, 0s que sio menos cidadaos e os que nem mesmo ainda 0 Para Tereza Haguette (1982), o escopo da cidadania “nao é 0 smo nos paises metrépoles e nos satélites"*. Trata-se, devemos ressaltar, de escopo outorgad®; estabelecido. pelos. que. mandam, ‘mas jamais de escopo finalistico_a atingir. E certo que a cidadania iza segundo diversas formas, mas néo podemos partir do de que homens livres possam ter respostas diferentes aos eitos essenciais apenas pelo fato de viverem em paises dife- s. A propria autora, alids, falando do estado de bem-estar (p. em que tais fatores, escalonados no tempo nos pafses do Norte, aparecem e se implantam de uma sé vez. A convergéncia de ‘a0 mesmo tempo revoluciondrias € dissolventes, iria ter um Em nenhum outro pafs foram assim contemporaneos e conco- (es processos como a desruralizagao, as migragbes brutais de- ‘aizadoras, a urbanizagio galopante ¢ concentradora, a expan- do consumo de massa, 0 crescimento econémico delirante, a tragio da midia escrita, faladae televisionada, a degradagio , a instalacdo de um regime repressivo com a supressio elementares dos individuos, a substituiclo rapida e ai, o triunfo, ainda que superficial, de uma filosofia de vida ‘que privilegia os meios materiais ¢ se.despreocupa com_os aspec- tos finalistas da existéncia € entroniza o egofsmo como lei superior, porque ¢ o instrumento da buscada ascensio social, Em lugar ‘cidadao formou-se um consumidor, que aceita ser chamado de usudrio. Em menos de trinta anos, isto , no espaco de uma ou duas geracdes, essas transformacdes se deram concomitant Brasil, 0 que multiplicou exponencialmente o seu potencial jé por si s6 negativo, sobretudo porque a classe média entio criada debaixo das influéncias indicadas acima, Na realidade, tais mu- danas perversas no apenas se deram paralelamente, mas siste- maticamente, 0 que acentua a sua forca ideologica, na medida em ‘que 0s fendmenos correspondentes acabam por se justificar a partir de suas proprias relagées causais, isto é, naturalmente. O quadro no esté, certamente, completo. Com certeza nao saberiamos empreender a imensa lista de va- riaveis com valor explicativo, mas temos de acrescentar, pelo me- nos, mais duas, extremamente imbricadas com as demais. Uma é_ do pais, desde praticamente o fim da Segunda Guerra imerst Mundial, em um clima de guerra fria e 0 concomitante engaja- mento em uma pol econémica subordinada a Alianga Atlan- fica, Essa causa é muito pouco mencionada quando se deseja.equa- cionar a problemética nacional, mas realmente presente na equa- ao politica internacional interna, na conduco da economia, na ‘conformacao da sociedade e na moral correspondentes, tanto quan- to na configuracao territorial. O modelo econdmico que conduziu ao chamado “milagre eco- n6mico” vai buscar suas raizes nos mesmos postulados que levaram A supressaio das liberdades civis, acusadas entio como um fermento deletério, capaz de levar o pais A anarquia. Trata-se, também, de um modelo politico e social, tanto responsivel pela eliminaao.do embridio de cidadania que entio se desenvoh somo pela opgaio de alargamento de uma nova classe média em detrimento da massa de pobres que o “milagre” nao apenas deixou de suprimir, como tam- B i setores produtivos e baseado em certos lugares, veio a ‘a concentraclo da riqueza e as injustigas, ja grandes, de ¢ de sc generalizar, as linhas de crédito abertas para fortalecer os produtores ajudaram a agravar as desigualdades e santificar as dis- torgdes. O equipamento do pais, destinado ao escoamento mais fé- cil ¢ mais rapido dos produtos, serviu ao modelo econémico que o gerou para a criag’o do modelo territorial correspondente: grandes e brutais migragdes, muito mais migracdes de consumo que de tra- balho, esyaziamento demografico em intimeras regides, concen- ‘ragiio da populagao em’ crescimento em algumas poucas, fireas, so- bretudo urbanas, com a formagao de grandes metrépoles em todas as regides e a constituigéo de uma verdadeira ‘megalépole do tipo brasileiro no Sudeste. ‘Além do que, para’ os seus moradores menos méveis, a sidade) é impalpayel. Ela, porém, se impde como um amontoado de signos. aparentemente desencontrados, agindo, no entanto, em concerto,, para limitar mais do que para facilitar a minha ago, tornando-me de das coisas que me cercam e de que posso dispor®, 1 UMA SOCIEDADE MULTITUDINARIA. Criava-se, assim, uma sociedade multitudiriéria — seria, uma sociedade de massas ou um seu arremedo? — sem 0 cot tio existe um iro chamado ‘Qexpsito das futuras eis brasieitas’, nem Montesquid ie porque o expirito que buscamos necesita de juntura de "fue esprito fem de enquadrar um sistema de desenvolvimento ‘om Estado com séras capacidades para manter 0 processo de de iougio da renda 40 mesmo tempo. Esse esprit ges dade individual 2 participasio sociale 7) mitante de um real consumo de massa, pois 0 poder aquisitivo fal- tava cruelmente a uma grande parcela dos novos urbanos. O con- sumo de massa é multiforme e abrangente. O que se deu no Brasil ji um consumo exclusivo e mesmo, para os estratos sociais bene- ficiados, mais se referiu a alguns bens materiais que ao conjunto de imateriais, que facilitam o acesso a uma vida ndo apenas mais confortdvel, como, também, mais digna’. © consumo de massa esbocado valeu-se da m{dia, em cresci- mento vertical, para impor gostos e precos. Esse trabalho de se- dugdo foi facilitado pela propria atragao que as novas midias impu- seram sobre 0 piblico®. Criadores de moda, difusores do crédito, 0 papel dos meios de difusie deve ser realcado como 0 do colabo- tador privilegiado das artimanhas da produgio de massas estilo brasileiro, uma produco de massas contente de si mesma ¢ neces- sitada apenas de um mercado voluntariamente restringido. Isso ga- rante o ndo-esgotamento da revolueao das esperancas — isto é, das ‘grandes esperangas de consumir —, ¢ ajuda a colocar como meta, nilo propriamente o individuo tornado cidadio, mas o individuo tornado consumidor. Os efeitos daninhos dessa metamorfose ainda se farao sentir por muito tempo, e agora funcionam como um fator limitativo na elaboracdo de um projeto nacional mais conseqiiente, ja que os pro- jetos pessoais afloram e se exprimem com um vasto componente de (7 Bm uma de suas colaboragtes semansis & plgine 2 da Folha de S. Paulo, intitulads “Celso Furtado revstado”, Jarbas Patsarisho comenta a impressto que obteve, hf vinte anos, da leitura Jo livro A Pré-Revoluedo Brasileira, do renomado economists brasileiro erado como um falso dlema pelo comentaristaatual Na verdade, a contradiclo se deu erado pouco preocupado com a esséaca e realizagio {gue caracterizavam a ermagadora maloria de brasiiros, Cidadios de primeira classe sto os {gue se Denaficisram dese crescimento exondmico dstrcio. "A delormaco que s faz arespeito dos meios de comunicasto eletnicos decor, pr tanto, da evidente deformagio do significado do que eles efctivamentetransmitem e de uma incompreensio a respeito da relagdo entre a aparénciae a esséncia prdticas do powo brasileiro,” (Retrazo do Bras, “Projeto de um Disrio", n°0, p.7, 1988) Isso 6 assim para a maioria da populacdo, desprovida de anélise critica de sua propria condi¢ao. 6 ainda mais grave para os milhdes de individuos que aseoram depois que tal processo se iniciou ou que a ele se incor- .ram sem poder distinguir aspiragdes pessoais legitimas e impo- sigdes do sistema econdmico e politico. Trata-se aqui daquela con- fustio entre liberdade e dominacao, de que fala Marcuse quando se relere as condigdes de exis 10 mundo de hoje’. ‘A urbanizagio fundada no consumo é, também, a matriz de ‘um combate entre a cultura popular que desertava as classes mé- para ir se abrigar nos bairros pobres, cultura popular hoje iefendida pelos pobres, cuja pobreza impede, afinal, sua completa imersdo nessas novas formas de vida, fundadas pelo mesmo con sumo que levou os pobres & cidade ow nesta fez pobres os que ainda nao eram.. ‘Na cidade, sobretudo na grande, os cimentos se dissolvem € i lidariedades ancestrais. Ali onde o dinheiro se torna a medida de tudo, a economizacao da vida social impde. uma com- petitividade.e um selvagismo.crescentes, As causas dos males apa- recem como se fossem a sua solugio, circulo vicioso que escancara as portas das fayelas para a cultura de massas com 0 seu cortejo de despersonalizacdo € a substituigiio dos projetos pessoais saidos da cultura, isto é, de dentro do individuo, por outros projetos elabo- decididos a con- irracional, é substituida, lenta ou rapidamente, pela cultura de massas, o espago “‘selvagem” cede Psiolopicamente,¢€ 6 aso o que aqui nos precupa, a dilerenga entre dominacto &

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