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| Dna Passos Aleneastro kiga EDUCACAO BASICA E EDUCACAO SUPERIOR PROJETO POLITICO-PEDAGOGICO tranegresséo para acerar.In:Veiga, lima Basios © e educagao superior-projeto pol wea, | oe liacistéRio jORMACAO E TRABALHO PEDAGOGICO Projet politico-pedagégico:continuidade ou “iio i PAPIRUS ca ina Passos Alencasr (Or. 3.).Educagao padagogico. Campinas: Papirus, 2004 Cap 1.p.13-45, GisiFeantsComacin ode can ora te conte ber aoot Saranesnire use Conte eer Me ‘esetora le Aho ‘Shee Pomme nr ena {Clivare Beesteks go ve, St raalp aes ER paren fa Scere noes Soar ae maga» neh (as cata rat om seo eas, Betepate Io Seoncnens ,Sameions Bact daca Br) a. Enea sl 809 sire ral Brags sera Se [Roem Ten OSES Prost pate pecagepon i Si, tua Ine pa tg ti i bat pes oe coer oS ee, Prion rrp ee yer cnen ae “Ba natn nines Dedico este livro a: Luciana, minha sobrinha: alegra meu curso de vida desde 0 inicio de minha juventide: Raquel e Nicole, sobrinhas-netas: seus doces ofhares de nfancia me ensinam a ver com mais wcidez men projeto de transi¢0 para wma maturidade serena. 1 PROJETO POLITICO-PEDAGOGICO: CONTINUIDADE OU TRANSGRESSAO PARA ACERTAR? Introdugdo Refletir sobre inovagBes pedagdgicas no ensino superior necessa- ynamente nos encaminha a questio do projeto politico-pedagdgico como aquele que enfatiza a organizago cuticular, confere-Ihe organicidade ¢ polis saseelcun tia longesame ees de um cio quslaoe: cue se) (ci ennai. (objetivos, contetido, metodologsa, recursos didéticos e avaliagio), analisar oot tonne ee iy onal cont epuaniinrpe omer uteor das agdes, enfim, coordenar os esforgos em directo a objetives Seas eave es -acredita nas possibilidades de solugiio de um ou mais problems detectados aa fa teat Semple teen oe €0 foco central em tomo do qual gira este capitolo. Trata-se de uma temitica fete einen eee atanee Edvcacto supenor: Proto paiticapedagonen 13 de seu significado académico no desenvolvimento dos cursos oferecidos pelas institugdes universiténas, Pretendo, ainda, refletr sobre © tema em torno de trés indagagtes com 0 intuito de sistematizar as idéias mass relevantes do debate sobre 0 assunto: 1. © projeto politico-pedagéegico & modismo ou inovacto’ 2. qual é a relagdo entre o institufde e 0 instituinte?; . © investigagdo € um elo artculador entre projeto politice- pedagégico e inovagio?. Posteriormente, procuro refletir sobre as crises que atingem a universidade no bojo da crise social, Meu dltimo objeto ¢ analisar duas idéias norteadoras do processo de construcio do referido projeto: a) a necessidade de buscar, nos paradigms cientificos, um quadiro de referéncia ccapaz de dar sentido & concepgéo de conhecimento, suas relagdes com os tupos de organizago cumicular, € 6) 0 compromisso ético-politico com a formagio profissional 0 sxgnificado do proyeto politco-pedagégico As consideragdes que apresento a seguir, para imctar a reflexfo proposta, revelam 0 caminho que percorrijuntamente com muitos educa- ores, ora em sala de aula, ora assessorando msttuigées de ensino superior na construcdo de seus projetos académicos de curso ¢ mesmo inshituctonais, as mterlocugSes que realize: com varios autores gue discutem as diferentes facetas da tematica em questo Compreencer o significado de um projeto implica considerar que vivemos uma civlizacio de projetos, e que 0 préprio vacébulo “projeto” & utilizado em diferentes contextos ¢ situagdes, E comum a afirmacio de que o projet sempre existe, eaibora nem sempre esta necessaramiente expliitad, Essano-explicitacdo nZo sé propiciacomo assegura a mianutengo ce autudes autontérias por mero de ontentagdes prescrtivase nstitudas, Ao se refer a projeto, Babicr (1996, p. 19) afima que se tata ae uma 14 Paps Era eee (..) palayea migicae cue ae promessas, que] parece ccuperoessencial po campo de renovago das pritieas soci, mas que evbre conteos extemamente varidvess, poxs ¢ utlizada para designar tanto wma conceppdo gral de ecco (un: projet edueativ0) camo ua dispositive espectfico de formagdo (um proseto de formacSo propramente dito) ox ‘anda uma démarcne de aprendizagem (a pecagegia ce projeto) Como se pode depreender, 0 projeto pode ser analisado em diferentes nfveis: instituctonal, académieo (de curso) e de ensino e eprendizagern {pedagogia de projeto). A fim de exprmir a especificidade do proyeto, necessésio considerartr8s pontos bésicos: 1. Oprojeto 6 uma antecipagio, uma vez que o prefixo pro significa antes, A palavra vem do-tatim project, particfpio passado do verbo projicere, que significa “langer para diante”. Assim, significa “dingir-se para o futuro”. “langar-se na diresfo do possivel”. Relaciona-se com um tempo a vir,com o futuro de que ‘constitu: uma antecipagdo, uma visdo prévia, Nesse caso, € 0 futuro que deve ortentar e conduzir nossa agio presente. 2, O projeto tem uma dimensto ut6pica, que significa. na vercade, ‘ futuro “a fazer”, um possivel a se transformar em real, uma idéia a transformar-se em ato. O projeto se compromete com 0 futuro, Santos (1997, p. 323) sintetiza com muita clareza essa dimonsdo 20 afirmar que @ utopia “é a exploragio de novas possibilidades e vontades humanas, por via da oposigio da imaginagdo & necessidade do que existe, sé porque existe, em nome de algo radicalmente melhor que a humanidade tem direito de desejar ¢ por que merece lutar”. Nesse sentido, a utopia ser sempre algo realizavel num futuro préximo, um tornar possivel, ume possibilidadé de existacia, Fssa perspectva reforga caréter politico da educagio e valonza 0 papel da universidade ¢ do projeto politico-pedagésnco vottado para o desenvolvimento de um projeto histénico de transformacdo de ordem social. 3. Por scr uma construgio coletwva, o proyeto tem efeito mobilizador ‘ia auvidade dos protagomstas. Cuando concebido, desenvolvido avaliado como uma pritica social cotetiva, gera fortes sentimentos Euucacto super: Proete palicopedagegeo 15 6s pertengae identidace, No plano afetivo, a constragio do projeto apresenta efeitos mobilizadores ca atividade dos atoresimplicados, © que gera compromussos & responsabilidades educativas, A participagio € um elemento politico da agdo e até garanna de execuglo © continuidade das acSes. Vile reiterar que 0 projeto politico-pedagéxico nao existe sem um fort protagonismo dos rofessores, pesquisadores e alunos, e sem que estes dele se aproptiem, a universidade construindo sua identidade ‘msttuctonal, Para tanto, deveremos usar os prineipios aa flexi- bilidade e da autonomnia, de modo a desenvolveridentidases mais distantes da padronizagio burocrética, capazes de insttair ¢ -mplementar proetos politico-pedagégicos prdptios. A falta de clareza acerca co projeto politico-pedagégico reduz ‘qualquer curso a uma grace curricular fragmentada, uma vez que até mesmo as ementas ¢ as bibliografias perdem sua razo de set. Assim, 0 que di clareze a0 proyeto politic-pecagégico & sua intencionatidade, O projeto é ‘uma totalidade articulada decorrente da reflexo € do posicionamento a respeto da sociedade, da educscioe do nomem. f uma proposta ce agio polttico-educacional e no um artefato técnico. Isso implica a necessidade Primordial de distnguir, no proceso de conhecimento, o fundamental ¢ ecessfrio do secundirio ¢ Fortuito, com o fim de que o especifico da nsutuieo educativa nao se diluae no se perca (Frigotto 1994). Assim, 0 Drojeto pedagégico como instrumento de acko politica deve estar sintonizado ‘om uma nova visio de mundo, expressa no paradigma emergente de cigncia © de educagdo, a fim de garantir uma formagio global ¢ critica para os envolvidos nesse processo, como forma de capacité-los para o exereicio da Cidadania, a formacio profissionale o pleno deseavolvumento pessoal Ua triade de maagagées ‘Contando mass com sndagagdes do que com certezas, levanto, como JA indiquer, més questées que me parecem relevantes nas discussies sobre 0 Projeto politico-pedagégico: se se trata de modismo ou movacio, qual é a 16 Paorus Eatera | i i { | | relegdo entre instiufdo e insntuinte sea investigacio€ um elo axticutador centre 0 projet politice-pedagégico ¢ a inovacto. Mais do que dar respostas aessas indagagées, minha tarefaé procurar ccesvelar as concepedes de diferentes propostas para um projeto politico pecagégico académico envolvendo a inovacdo, onsttuinte ea nvestigardo. Essas questdes tim preocupadio muitos educadores nas umiversidades, Jevando 0s envotvidos —tanto os professores, quanto os pesquisadores eos, [alunos — 2 refletr sobre 0 assunto, A idéia bésica do projeto pedagdgico cexige pensar 0 curso inteiro de forma orginica, com vistas & constragdo de sua identidade. E evidente que as respostas a tais questées auxiliam também a definigdo do profisstonal 2 ser formado. Dessa forma, esses trés imdagagBes podem ser considerads por dues cas diferenciadas: 0 dualismo e a dualidade. A primeira mdagagto é um dualism, pois 0s efementos modismo e inovago so vistos como realidades, {nstapostas, sem relagdo entre si, separados em pbs opostos. As duas iitimas formam uma dualidade, que coloca e onde o duelismo coloca ou. A dualidade ‘Eos pares instituido ¢ institunte, projeto pedagdgico e inovagto como das faces de uma mesma moeda, como dimens®es de uma mesma complexidade. 0 principio da complexidade & uma das caracteristicas do projeto politico-pedagéatco. Porele.¢ possivel designaros varios fatores erelagiies, © que implica analisar a teta de inter-relagdes complexas existentes. Bott (1998, p.72) afirma que “tudo esté em retagio com tudo. Nada esté isolado, existindo solitaro, de sie para si, Tudo co-existe e interexiste com todos os, outros seres do universo”. Desse modo, nfo existe um projeto de curso wolado. Ele € parte de um projeto institucional, que é parte de uma universidace, que é parte de um sistema de educaglo. que é parte de um projeto de sociecace. Nesse sentido, 0 principto de complexidade procura considerar as relagGes entre as partes € 0 todo, em movimentos processus, 0 € unicidsde, de modo a consttuir uma toalidade. 0 projeto politico-pedagégico € modismo ou inovasto? A primeira indagagdo tem. contraditonramente, duas conotaghes: de lum lado, 0 modismo passageiro e, de outro, a inovaco que busca rupturas. ‘Edvcanio suporon Proto polio pedagegeo 17 ‘Trata-se, portanto, de um dualismo, Como modismo, areferéneta ao projeto | pedagégico apresenta alguns riscos: + @utilizagdo pouco criteriosa do termo, pois a interpretacto dada | 20 conceito referido no apresenta a mesma consensualidade co referente, ou seja, a generalizagdo no uso da palayra “projeto”” cena a ilusdo de que existe um consenso quanto aos principios€ | priticas que the sao subjacentes; * a falta de clarezt na compresnsdo da iia 0 projet, 0 gue Projet elaboragoe cxecutado apenas para cumprironenagées | rovenientes do poder central e da legislaggo, ‘Dessa forms, 0s riscos de concebermos 0 projeto como um modismo | Jevam-nos auma concepgio estreita e amediatista. De certa forma, a palavra “modismo” vem assoctada &idéia de “inovagio técnica”, de “reforma” ¢ de | ‘novidade”. 0 “novo" sé adguire sentido a partir do momento em que entra za relagdo com o jd exastente, Além disso, 0 modismo tem um cardter regulador e normativo, | visando & certeza ordenaca ¢ & quantificaco dos fendmenos, deflagrando ‘um processo reformista, fragmentado, limitado e autoritirio; costuma ser implantado pelo sistema burocrético educative, o que significa que os resultados sio transformados em normas, prescrigBes c, conseqilentemeate, aplicados tecnicamente. Se essa for a tinica manewra de proceder, sairio aina mais fortalecidas as po as questtes de nosso tempo de acordo com a racionalidade burveritica, Assim moldado, o projeto politico-pedagdgico é um produto pronto | © acabado, linear e estético, mera declaragdo de intengBes, uma exigéncia | durocritica e formal, em que a quantidade, o preenchimento de formulénios © 0 cartorial valem mais. E concebido solitariamente, sem nenauma possibilidade de sustentapio, porque sem legitimidade ou transperéncia. 0 modismo propicia a construcdn do projeto-produto ~ documento final, documento estratégico, Reduz-se a0 cumprmento de tarefas, implica obediéneia— por er fruto da eubmissto —, gera depenéacia —reforgando 0 trabalho individual e separando qualquer pessoa de qualquer pritica, o 18 Pops Eta iticas publicas que continuam respondendo | I seja.tsolando quem concebee quem execata. Nasce do centro paraa perifena ee cima para barxo, Por outro lado, 0 connecimento produzido funcionalize-se na ordem preestabelecida, tendo 0 progresso como finalidade. De forma geral, as iéias de eficécia, normas, prescrigdes, ordem e equilfbrio permeiam o processo de construcdo do projeto polttico-pedagégico. Se tomarmos os elementos constitatives dessa concepeo, perceberemos que 0 projeto polftico-pedagégico se articula em tomo da novidade, da reforma, da racionalidade crentfica, da aplicacdo técnica, de fora para dentro, ou seja, passa 8 ser nstituldo, Ao considecar 0 modismo como introdugtio do novo no sistema, reforga-se a idéia de algo que se produz extemamente ao objeto, como @ incluso de novas sistenéticas de avaliacio ede novas tecnologias, por exemplo. Esse processo nio considera, porém., os sujeitos (professores «calunos) como protagonistas da construcdo do projeto pecagégico, deixanco ¢ lado as relagGes entre a insttuico educativa e 0 contexto social mais amplo. © projeto politico-pedagégico analisado pela ética da inovagio introduz, nas instituigSes edacativas, a idéia de ruptura. O projeto pecagégico visto como ruptura com o status quo procura a unicidade da relagdo teorta-pritica, é ortentado pelo principio do trabalho coletivo, solidério, © pusca desenvoiver atitudes de cooperacao e reciprocidade. A legitimidade de um projeto pecagégico est devidamente ligada ao prau 40 ipo de participago de todos os envolvidos com o processo educative da Universidade, o que requer continuidade de aces. A adesio 8 construgio do projeto nto deve ser imposta, e sim conquistada por uma equipe oordenadora, compromissada e conseqtlente, Daf 0 sentido de transpa réncia e de legitimidade, © projeto politico-pedagégico na 6tica da movagio deverd conduzir @ uma rupture com priticas anteriores, desenvolvendo-se em terreno conflitual, o que significa “atravessar um perfodo de instabilidade e buscar ‘uma nova estabilidade” (Gadotti 1994, p, 579). Assim, construir um projeto pedag6gico inovador significa enfrentar ‘© desafio da transformagio na forma de gesto exercida pelos interessados, ‘que implica reorganizar seu processo de trabullho pedagégico e repensar a estrutura de poder. ducaczo superar: Prowta police padagegen 19 Ao dar umanova identidace & instimngo ecucativa, o projeto politico- pedagégico deve contemplar a questo da qualidade de ensino, entendida agai nas dimensées formal (ou técnica) e politica, que si indissocigveis. Deve-se observar, ademais, que uma nio esté subordinada & outra: eo contrério, cada uma delas tem perspectivas préprias. A pnmeira enfatiza instrumentos, métodos ¢ técnicas ~ “significa a habilidade de maneyar metos, nstrumentos, formas, éonicas, procedimentos iante dos desafios de desenvolvimento” (Demo 1994, p. 14). A qualidace politica ¢ condigdo imprescindivel da participacio, pois esté voltada para 08 fis. 0s valores ¢ os contetidos, ou sea, para a fungio social da univer- sidade, Portanto, ela é constinitve do ser da instituigio e deve marcar 0 Drojeto mstitucional desde suas origens, concretizando-o em trabalho coletivo relevante, E ainda necessério afirmar que a construgio do projeto pedagégico exige uma reflexio acerca de concepyo e das finalidades da educagio, ¢ sua relago com a sociedade ~ o que niio-dispensa uma reflexio sobre 0 ‘nomem a ser formado, a cidadania ¢ a consciéncia critica, E uma exigéncia necesséria, em que a qualidade e 0 sentido co que se faz vale mais. proyeto politico-pedagégico movador enfatiza mais 0 processo de construgdo. E a configuragao da singularidade da particularidade da insttuigio educative, E algo que se langa para a frente, que avanga, que ompe, que antecipa o futuro e suas possibilidades. A singularidade deve ser considerada porque o projeto pedagégico institucional é construido para uma determinada untversidade, assim como o projeto académicalpedagésico 0 6 para um curs. A possibilidade de antecapacéo articulada com a previsibilidade dé 40 projeto uma compreensio diferenciada do sonho: “Enquaato neste pode existir uma idéia transformadora, de alterago da realidade, ele nio ultrapassa, no entanto, a idéia de ‘um ser em possibilidades', e no se ‘organiza de modo a ultrapassar o dominio do sonto/desejo em direcSo 2 realizacto” (Carvalho e Diogo 1994, p. 8). Passar do sonho a agio ni significa abandonar a utopia, Portanto, 0 projeto pedagégico inovador considera cinco caracte- isticas espevifivas: imtencionalidade, antectpagao, previsibilidade, 20 Pops Ears Legitimidede e transpartncia, A inovacio nfo 6 ruptura total: ela se diem processo de transigfo, em auc hf momentos de ruptura momentos de continuidade (Santos 1989) Ao considerar a movaglo como produce humana, partimos da idéia ‘de que suas bases epistemolégicas esto assentadas no cariter emancipador argumentanvo da citacia emergente. A inovaydo procura maior comu- icagdo e didlogo com os sabetes locais e com os diferentes atores, ¢ se realiza em um contexto que € histénco e social, porque humano. Desse modo, a novagao tem sempre “lugar numa stage concreta em que quem aplica esté existencial, ética © soctalmente comprometido com 0 impacto da aplicagto” (Santos 1989, p. 158). Nao ha separacio entre meios e fins, uuma vez que a aplicagio mcide sobre ambos. E ffeil compreender que @ intencionalidade permeia todo 0 processo inovador e, consequentemente, © processo de construcdo do proyeto politice-pecagégico. Os projetos inovadores lutam contra as formas institufdas € os ‘mecanismos de poder que permeiam as instituigtes, Essa luta consttui um Proceso de dentro para fora, ¢ parte do prinefbio de que a inovagto nao Pode ser confundida com evoluedo, reforma ou invengo, Ela reforga as efinigdes emergentes e altemetivas da realidade. Os projetos transgridem para acertar, reconfigurando as préticas pedagégicas em tomo de seu Potencial inovador e das possbilidades coletivas Visto peta ética da inovacio, o projeto poitice-pedagégico introduz, nas imstituigdies educatvas, aidéia ce ruptura. O projeto nasce da periferia para 0 centro, de baixo para cima, Ele se estrtura com base nas priticas Significatvas ¢ movadoras existentes nos diferentes insutatos/faculdades/ Clepartamentos da instituigo universitana. O projet dé o norte, o rum, a diregdo. Ele possibilita que as potencialidades sejam equacionadss, Cestegitimando as formas instituidas. Sendo assim, a construgdo de projetos Pedagégicos inovadores supde diferentes niveis de acticulagdo. entre: + asttuagio real ea desejada, reduzindo a distncra entre odiscurso ea priticas * 08 diferentes atos operacionais e admnistrativas, concestusss & pedagégicos: Educacdo supence: reco paltice gedagagen 21 © projeto pedagégico mstitucional ¢ 0 projeto pedagégico acadé- q srs ics (ne 7 [> Eeraseacipnsincturnme J» Grameen malign) eeainewess) Ao conser um projet» politco-pedagSico pripnio providenciar | NCIS + Dili tia sais Fears a ane RE secs © condigies opencionas para efetvio, a matinigto eaveatn | EHH el HEHE ftateintyesea tg logitima-se, toranco vatida unta pritica social coletva, fruto de reflexes, ee ce ebates © consisténcia de propésitos, Isso implica o estabetecimento de | CTT | Palispabewab | Faas a relagGes democréticas no intertor ca insttwsg20, bem como a construc de f= urate cece | crestor novos processos.e de condiges de trabalho. Evidentemente, essa construcdo |» Me drcharncbinerctes |e abe seturi cbharenls ‘do & um processo linear, homogéneo ¢ sem tenses. O Quadro 1 sintetza J Scanateracaomia |e uresteon spin os diferentes significados de projeto, | Piebpraia aemeotng, Poinanase comets amacrcao cena fed Quadro 1 = Proieto poltico-pedagogico [WPCC — > Pasar cas @ moaismo ou novagao? ea teeter |+ ti cdba canon cate fora pen 7 frninomttiteate | owe eT feeseo — eames aaa | Sot + Tete! | Tako cose { + cramer > re pa ear eo |. reeroste |r Ti sti osm) ; oo | Sev etnkattenpeninaio |» Conteptnnbuceae > Casto sersmaoes | oem rset | Seamcopioceeaniis [+ Nokiaapaito ea onempne onto sents | Oecmiotaeatnse) [Tenuta Jr wactstcadotatahohia |e Metin cotntto cto fencer (a arpa apes Nae peianaa SS ; fr Nexececrasantibo |e theca oboe cna } Eehionsoasmtsiadacss |e Nas dociocaitk eda ‘lope paroles pestis) atom. dee sian | Exar ecsmminnedesuinmrmse | | nonce | | wart stmt | Ferenc te ; i ce Sonn oie 8 ropa aece qatar ee J+ Camu alorrertespenentes [+ Alsat rms even ase Seoserinniods rao | carries ages [* Strapon ds mehico [+ Costa esrmsanateds rath wiesta ‘ert 22 Pops Eira Qual é a relapiio entre o institutdo e o instituinte? Castoriadis (1982) enfatiza 0 fato de que os ndividuos, por meio de ‘suas representagics,lidam com a sociedade insatuida (fixada estabilizada) ¢ toda a cultura a cla relativa, mas tampém vive e produzem a sociedade imstetuinte (que concretiza as representagGes). Hi, portanto, influéneia de tama sobre a outta. © instituido e 0 mstitunte sio dues dimensdes que devem ser tranalhagas diateicamente, porque o institufdo consttat a referencia dos NOVOs elementos que operam com o mstitunte. E com base no institnide ne © projeto se constréi como instituinte. Ser considerar o institufdo, ‘amos acunas, desfiguramos meménas eidentidades, perdemi0s o vinculo com nossa histéna (Gadot e Romo 1997, p, 34). Assim, estabelecer Eacacdo supenor Prog aotespecapeqen 23 zelagées com © mstfido nfo € desiru-lo ou cnstalizi-io, mas movielo ‘Trata-se de uma relago complexa, uma vez que mstituido-instituinte nfo siio duas dimensGes justapostas. Pelo contrino, so duas dimens6es do complexo processo de construsto do projeto politco-pedagégico, O desafio ‘ior ¢ fazer conviver o insttufdo co institumte no interior de um mesmo rocesso. Por essa razio, é importante buscar um camino que dé importincia a cada uma dessas dimensées, sem dissocié-las, ‘Tomar-se instituinte nfo significa negaro mstitufdo da universidade, ue sio seus métodos, sua hist6na, 0 conjunto dos profiscionais ¢ alunos, seu currfeulo e sua finalidade social, A relagio entre o instuuido e 0 snstituinte deve ser cultivada desde que se exerca uma compreensio do tempo como um elemento dindimico, ¢ nfo como linear seqilencial (Gadott Romo, op. cu. p. 34). O projeto politico-pedagézico instituido por decreto come o isco de descaracterizar-s. A passagem do mnstitn/do para oinstiuinte € um movimento de transigo ¢ muptura. A Figura 1 sintetiza a idéia da rwlagio dialética entre o institufdo e o instante, A instituiglo educanva € entendida como espaco-tempo de arti- ‘culacdo entre o insttuédo (lei, norma, regra) e 0 institumnte (Comunidade ‘scadémica ou escolar), reservado a formagiio de todos os envolvidos no ‘Processo de ensino ¢ aprendizagem, de modo a desencadear uma reflexio ‘coletiva, Portanto, projetar € explicitat solidanamente as intencionalidades © 05 propésitos dos sujentos envolvidos na umversidade. Como se sabe, a pritica mostra que as instituigiies educativas apresentam, muitas vezes, projetos normatizados pelos érgios centrais da ‘administragdo educacional, ou elaborados por um grupo de dirigentes da insutuigo ou sob encomenda, por escriténes de consultoria. Tendo em Vista que esse tipo de projet ndo érefletido coletivamente, cle no representa ‘expresso, as aspiragiiese as necessidades dos instituintes da universidade: € um projeto que expressa as determinacoes legais e normativas do sistema ‘educativo, Na maioria das veves,trata-se de um proyeto instituldo por forga de uma sistemiética avaliativa provemente da esfera administrativa central, ‘uma avaliagdo aneSmoda, por representar uma exigéncia externa, com base em pressGes de diferentes grupos que definem os cmtérios bisicos, 26 Papne Edo Figura 1 ~ Relago entre instituido e mnsttunte 46 Const rstorenca des novoe {ue aperam come natin, stu para com ase nee, tur cata soe, 2 Semsonsidoraromsttuéc, a, Temarse netniw agntca emas iacuas, do nageromitute a8 ‘ustguramos manors 9 Uurneriadelscoi que ea0 su st, sus eutles, ‘sous metas, conus eos priesonas oalies, sua firaidsco 22 insula com a nese hit, Tans eruptra E com base no trabalho cotetivo de todos os envolvidos que se do Proyeto politico-pedagégico insttuinte, Ele ocorre na medida em que se ‘nalisam os processos de ensinar, aprender e pesquisr, as relagdes entre 0 insuiufdo ¢ o institute, 0 cutriculo, entre outros, a fim de compreender um cenirio mareado pela diversidade. Como vemos, 0 projeto politice-pedagégico ¢ mais do que uma formaldade insutufda: € uma reflexdo sobre a ecucagio superior, sobre 0 ensino. @ pesquisa ¢ a extensio, a produgio e a socializagio dos Conhecimentos. sobre 0 aluno © o professor e a pritica pedaadica que se ‘ealiza na universidade. O projeto pottco-pecagégico é uma aproximagio Educsrto supenor Prot pllce-pedagégica 25 zor entre 0 que se situt € 0 que se transforma em mnstituinte, Assim, & asticulago do institufdo como nsttuinte possibiita a ampliagto dos saberes. A discussdo om torno do projeto polftico-pedagégico eresce no momento em que o movimento entre o institufdo € o instituinte vera avangando ¢ mostrando, cada vez mais, a necessidade de tomar a ‘universidade, a faculdade/institut/depactamento, assim como asalade aula, como espagos da pritica pedagsinca, considerando-os como ponto de partida, como 0 Iécus de movacio. Essa compreensfo implica que a umiversidade deve ter clareza de suas crises, da fungo social do ensino superior e do importante pape! da inovaso. Assim, os projetos pedagdgicos mstitucionais ¢ académicos io as intengdes geradas,refletidas e postas em ago por todos aqueles que esto comprometidos com a preparagio de profissionais em condigdes de atualizar seus conecimentos e suas habilidades ~ enfim, de continuar, 20 longo da vida pessoal e profissional, a formago acquirida, No entanto, néo podemos nos esquecer de que 0 institufdo de cuma para ba:xo— portanto, um modismo ou una inova¢Go de cunho regulatéo € téemico — deve ser transformado em inovardo institinte, emancipatérta e ecificante. Com esse movimento em espiral entre oinstituido e o mstituinte, teremos uma nova imagem da instituigdo universitia, que possibilite transformar em instituinte o que for instituido por meio de um proceso transparente, participatvo e legftimo. © projeto polttice-pedagdgico poder, entio, ser consideredo numa perspectiva em que seu desenvolvimento oscilaré numa relacko dilética ‘entre 0 instituido e 0 instituinte, Centrado na umversidade, © projeto pedagdgico desenvolve-se dentro de um quadro normativo-legal- sstitucional do sistema educativo, “numa relagdo de permanente negociaco, impondo, por um lado, o seu recontiecimento e garantindo, por outro, a sua singularidace, adequagio a0 contexto em que se desenvoive a aatonomia 0s actores implicados” (Carvalho e Diogo 1994, p. 40). [Nessa perspective, o projeto procura constrair aiternativas, buscando ‘© reconhiecimento no espago institucional. Continuando o movimento em spiral, encontramos a aceitagio do sistema educattvo eo envolvmmenta da ‘comunidade. No campo da movagio instwinte, © proyeto passa por Sua reconfiguragdo em consoniincra com as dindmicas do l6cus da universidace 25 Paprus Esto, «, finaimente, peta divulgago da inovacdo, quando ela se transforma em onentaco para 0 sistema educativo. A Figura 2 ilustta esse movimento enire 0 institufdo e o institunte. ‘A movagiondo ¢fruto do acaso, mas, pelo contro, smplica oaesejo ‘e superagio ~ portento, implica uma untencionalidade e uma nevessidace de mvestgacio, Para que a instituigo unrversitria soja um espago de movesio ¢ de anvestgagio, ¢ assim se tome verdadauramente uma insutuigdo autOnoma, fundamental que se embase em um referencia tedrico-metodoléeico capaz «denortearaconcepeto ea concretizagio de seu projet poitco-pedugszico, ‘que é “o fundamento epistemoldgico de direita & diferenga no quadro de uma ‘matriz’ nacional que preconiza a igualdade” (Vilar 1993, p.49, gritos do auto) Figura 2-0 movimento entre insttuide @ instiuinte (bs: Fig atataca do Carat Diogo 1604 p Eeveacdo swore: Prosiopaltice-pedagogce 27 A investigacdo é um elo articutador entre peoyeto politico edagégico e inovaciio? A imovagio pressupde ume esteita elacdo com a mvestigagdo. uma vez que ambas so atividaces intencionais, conscientes e complexas. A investigacdo ¢ um elemento impulstonador da inovago, quer no ambito da sala de aula, quer no ambito de toda a institugao. Nesse sentido, € preciso notar que, se, por um lado, mutos professores conseguem, pela propria pritica pedagégica realizar experi@acias movadoras que se expressam por meio de novas idéias e novas formas de tabalhar, por ‘outro lado, existem muitos estudos que atnda carecem de impacto sobre @ realidade ecucacional, em virtude de seremn o resultado da reflexio teérica pra, isto, de ndo constinuirem, ainda, elemento da pritica pedagéica da sala de aula, Portanto. um projeto poltico-pedagégico inovador e msttuinte necessita estar vinculado a um contexto imediato concreto, e associado a uma atiude investigativa. A inovagio vinculada 8 investigacto pedagégica € ‘curricular consist na criagio de espagos de reflexdio ~0 que supe processos de partcipagio dos diferentes agentes educativos que diariamente convivem ‘com os problemas postos pela prética pedagégica, Além de estmatar a eflexdo, a investigagio orienta a atengio para ‘questdes importantes, tomando mais claros o debate ¢ 0 intercimbio de ‘opedes. Enfim, a investigagdo € um elemento impulsionador do projeto pedagézico e da inovagdo. O que esté em causa no é 0 enaltecimento ca importincia da investiga¢do, mas seu reconheermento como um valor intrinseco & gesto, ou seja, a construc, a execuglo ea avaliagSo do projeto politico-pedagégico, utilizando-a em beneficio da aprendizagem dos alunos. Portanto, a nvestigagio no constitu: um fim em si mesma, mas um meio de a nsttuicdo unverstiria realizar suas finalidades em melhores condigoes. ‘Na vercace, a pesquisa também se aprende, ¢ essa aprendizagem é 0 pnmesto 1passo para que ela prOprta se torne uma necessidace, A construgio de projetos pedagégicos adequados as necessidades € aos interesses dos alunos cde toda a socicdade tornou-se uma questo central nas propostas educacionass da década de 1990, Os projetos pedagdgicos acedémicos contextualizados tSm uma forte arteulagio com @ realidade soctal mais ampla. E preciso ficar claro que os limites ¢ as possibilidades 28 Papas Eatora do projeto passam, obviamente, por questiies do contexto extemo. conyun- tural e de natureza organizativa interna da snstiturgdo, Universidade no bojo da ense social Nesta seyo, pretend tever algumas consideragdes em torno da crise luniversitdnia — sem grandes pretensGes, mas com o intuito de clarear a seflexio sobre a construgiio do projeto politico-pedagégico no contexto de ‘uma realidade complexa. Para tanto, procuro destacar apenas 0s aspestos que contribuem para nortear a reflexéo. Reporto-me, por exempio, & globalizagdo da economia, que, 20 Provocar a competicdo internacional, vem criando sociedades cada vez mas ‘esiguais. Nesse contexto, 0 projeto da reforma do Estado brasileiro pretence ‘modemizar ¢ racionalizar as aividades estatai, redefinidas e distribuidas fm setores: 0 Estado pode prover tsis servigos, mas nio os executa. Além disso, entre esses servigos incluem-se a educagto, a sade, a cultura e as Utilidades pablicas, prestadoras de secvigos. O pressuposto ideolégico bésico €216gica do mereado, que ameaga aniquilar a universidade, tansformando- ‘2¢m centro de reprodugo acritica da ciéncia e da tecnologia. Essa adesio ‘0 desenvolvimento alicergado na légica do mercado verifiea-se com muita clareza nos seguintes pontos apresentados por Silva (1999, p, 21): + produgo de coahecimento e técni do mercado; * concepcao de ensino como edestramento: + busca, no mercado cientifico internacional, de liderangas em pesquisa e, obsessiva ¢ exclusivamente, de padrtes intermacionals de julgamento; 8 em Fungo das demandas * envio, aos palses centras, de liderangas cientfficas potenciais (conseqdentemente, estimulo & evasio de cérebros); ‘+ estabelecimento de intercdmbios isolados com nécleos de exce- Jencia cientéfica dos parses altamente desenvolvidos; + arremedo de laboratéios de ponta (dc punla nus pafses de Primero Mundo), Eaueacao superior Propo patco-padagégioo 22 [ | 1 | | Assim, a educagdo superior esté totalmente inserida nas exigéncias do mercado globalizado, sob @ hegemona do modelo neoliberal. As ‘sientagdes normatrvas preconizadas S30 asda eficiénciae da racionalidade, a que desarticula as possbilidades de resistencia ¢ Inta. Como pensar a taniversidade, nesse contexto? O que isso pode significar para o ensino. & ‘pesquisa ¢ a extensio? Na verdade, mutas so as cnses por que passam as instizaigdes de ensino superior, Etimologreamente, a patavra “cnse” tem suas rafzes no Latim crise, significando “tensio”, “conilito”, “deficiéncia”, “falta”, “pentina”, Nesse sentido, a universidade esti em crise de conflito, {de teasio, de pemtiria.Trata-s ca “transigdo entre uma época de prosperidade otra de depresstio, ou vice-versa” (Ferreira 1984, p. 402). &, portanto, vem situagBo grave, em que 08 acontecimentos ca vida social, politica, ccandimica ¢ ideolsgica perturbam a organizacio dos grupos integrados na sociedade, repercutindo, conseqtientemente, na untversidade, caracterizada param certo sentimento de falta, de caréncia © de peniina. Rodrigues (1996) considera que 6 conceito de crise esté articulado com o sentimento de falta, O autor esclarece: Se uma socieaaae. um grupo, uma instui¢io ou mesmo umn sndividvo tem conscitncra ce ter dreites as condicbes co exsténcia(alimentagio, ‘eaueacio, formacto profissional,produtos materials ee pexcebe sua ‘mensi@aciaou msuffcignes, tende a extravasaro sentimento dessa falta ‘earelegio ene a certoza do direito ea consigneta a fila, nsala-s2 tum procesto de reconniecumento de ligamento ou de exctosi, especial- ‘mente quanco considera que outro indiviéno, grupo, instisio o Sociedade similar no apresentam a mesma insuiciéeia (p. 107) Existe um significatwvo consenso em relago & crise por que passa a universidade. Essa erise tem duas dimenstes principais: uma vis{vel e outra siia-visivel. Os aspecios néio-visiveis da ense “se encontram na base mais profunda dos problemas que sio enftentados pela educacZo nos tempos smademnos” (idem, ibider), Em sua dimensio visfvel, a cnse pode ser identificada com relacio a vvéxios aspectos, dentre os quaiscito a falta de condigSes matenais ¢ numanas paca.0 decenvolvimento das fungSes seciais da instituiedo, a auoéneia de uma politica de valorizacto do magistério, a inexisténeia de uma carreara 30 Pops ator (que realmente prestigie a dedicago exclusiva ea formagdo elevaca, precrias condigdes de trabalho, dissocrabilidace entre ensino, pesquisa e extensio, # importante, ainda, registrar que qualquer uma desss fagilidades, imsuficiéneras ou inexisténcias cria pontos de tens%io - tanto no relacio- namento das unrversidades com o Estado ¢ a sociedade, como no ambito das proprias universidades como mnsttuigdes educatvas Alm da cimensiovisvel da cnse univer, no €possvel deixar «ce efletr sobre os aspectos aa dimensionfo-visvel, que no se apresentam e modo uniforme na histéria da ecucagio no mundo ocidental. A ease respeito, Santos (1997, p. 192) alerta-nos, ao afirmar que “so diferentes os tempos histGricos dos fatores que os condicionaz, tl como slo diferentes as ldgicas das acces que visam controlé-las” As crises de negemonia, de legtimidace e insttucionais ectodiram nos Gltimos 20 anos ¢ continuam hoje em aberto. Assim, 2 umversidade tem softido presses diferenciadas do contexto social diante das trans- formagdes que se do em toda a sociedade. E minha intengao, agora carac- terizar essa tiple onse. A crise da hegemonia, ou de identidade, € a mais ampla, porque mela estd em jogo a exctusividade dos connecimentos que a universidade produz © ‘ransmite. A universidade softe uma crise de hegemonia, na medida em que sua “incapacidade para desempentar cabalmente fungSes contadit6rias leva (8 grupos soctais mais atngidos peio seu défcit funcional ou o Estado em ‘nome deles a procurar meios alternativos de atingir os seus objectives” (Santos 1997, p. 190). Isso significa uma incapacidade para determinar fins ¢ meios due atinge 0 micieo da fnalidade constitutiva ca universdace. Santos (idem, ibidem) explica quea contradigéo entre conhecsmentos exemplares ¢ conhccimentos funcionais manifesta-se como crise de hegemoma” Essa erise tem possibilitado trés grandes dicotomuas: alta cultura versus cultura popular, educagto versus trabalho e teoria versus pritica. Essa crise traz 1gualmente repercussBes sobte 0 conilito entre anstrugio e formagio, entre adestramento e educacio. A tensfo entre exemplaridace e funcionalidade 6 peroebida também no tratamento diferenciado & pesquiea de base e & pesquise apicada, Paraa Pameira, contabilizam-se custos e, para a segunda, beneficios e recursos. Ecucarto supcror: Praca poles pedaganeo 9t Por fim, a exemplaridade e a funcionalidade balizam as opgSes por ‘atendimento as demandas da sociedade ~ sociais, tanto fisieas quanto espintuais ~¢ As demandas de mercado, cujo principio norteador € o hucto. 5s fins e 0s meios passam a ser determinados pelos crtérios de mercado € slo por pressupostos ¢ citérios definidos em um projeto académico baseado ‘em um projeto institucional, cultural, ctentifico e politica, constrafdo mas relagOes de interdependéneia com o contexto social mais amplo. Trata-se. ortanto, de uma crise de identidade. Questionaga peta sociedade pela qual é formada quanto & sua relevancia para esta mesma sociedade, a insttuigo universitiria responce ppavilegiando, em graus diversos, diferentes grupos, de acordo com o grau ‘de pressio por estes exercido, Nesse sentido, distngue o apoto a grupos ea interesses dos grupos cominantes, mas procura apoiar os grupos daminados xa busca por solugSes aos problemas socinis mais urgentes. Essa resposta da universidade aos grupos domninados se traduz peta fungio da extensio. A ense de legitimidade € marcada pela contradigio entre hierarqui- zagio ¢ democratizaglo, que atinge sua fungio social. H4 uma crise de legitimidade “sempre que ume dada condigéo socsal deixa de sex consen- sualmente aceita”, como aficma Santos (op cit p. 190). A crise delegitimidade snsere-se nacnse de hegemonia quando as raabes da existéncia da universidade ‘io questionadas. Essa 6 uma das faces da crise da legitimidade, pois a outra se dé pelo questionamento da soctedade com relacéo ao caréter democrtico dessa instinct. A unaversidade procura continuar sua fumgo de formar elites e, a0 ‘mesmo tempo, tena responder 3s camadas sociais excutdlas. A tensio gerada ‘por essa crise verifica-se na exctusio de uma maioria ov na inclusfo muito reduzida de grupos marginalizados, na oposiglo entre selenvidade e aio seletividace, no acesso por meio de vestibular ou por programas de avaliagio progressiva, o que faz emergirem algumas indagacoes: ‘Como fornecer aos goverados uma edueaso cemelhaate 3 que ai6agors {bi fomecida os governanes, sem provocsrum “excesso de democrcia” «,comiso, a sobrecarga do sista potico para alk do que étoierivet? (Como éposstvel, em vez disso, adaptros pases de educaeio 3s novas excunstinciss, sem promover a mediowiduue © desea acitaaar anivetsidsae? (Santos 1997, 212) 2 Paps Esto Essa segunda crise manifesta-se também nas hierarquizacdes & lassificagbes de universidades, mstitutos, faculdades e cursos, "bem como ‘emtodas as tentativas de transformar o sistema unuversitério num aglomerado de centros dedicados: aqui, universidade de pesquisa, ali, universidades de fensino, acolé, de extensio e, meta das metas, universidades de prestago de servigos em toda parte” (Silva 1999, p. 18). A crise institucional destoca a universidade de seu propno exo, ‘impedindo-a de se definir ast mesma. Trata-se da crise que esté no amago {da sobrevivéneia da universidade: sua autonoma, Santos (1997) afirma: ‘Hd uma crise nstituronal sempre que urna dada condigfo social estével auto-sastentaca cena de poder garaniros ressupostos que asseauram ‘asua,eprodueio. A universe soe uma ense mstnueional na medida em que a sua especificidace organczativa é posta em east e so Ihe Dretende impor modelos organizativos vgentes noutasinstitlges das or mais efcientes (9. 190) Isso se reflete num desestimuto as instituigdes universitérias pablicas, com cortes orgamentérios signficativos, provocando tés efeitos principais na vida institucional da universidade: 1) sto seletivos, “porque slteram as Postgdes relativas das diferentes dreas do saber universitério © dos ‘departamentos ou unidades onde sio investigados ¢ (ou) ensinados"” (idem, P. 214); 2) sto sempre acompanhados do discurso da produtividade. e obrigam a universidade a submeter-se a crtérios de avaliagdo de produto; 3) ndo restrngem as fungdes da universidade na medida das restricdes orgamentéries. Para se manter, ¢ universidade busca, entio, recursos na inievetiva privada, em forma de parcerias, A crise instituctonal assume diferenciados aspectos, um dos mais importantes sendo a avaliaeo do desempentio universitino. A idéia de avaliago do deserpenno da universidade tomna-sc incOmoda e € vista com fstranheza por representar uma avaliagio extema: 0 que esté em jogo so seuidesempenno funcional, va centratidade e sua autonomia. O que avaliar? ‘Como avaliar e segundo quais partmettos de desempenho? Santos (1997) sinteuza essa problemdtica em trés aspectos: a definigdo do produto Uuntversitério, os crterios de avaliagao ea tutuaridade da avaliaco. Eaveanio supa: Prot police padagogion 3 {A dificuldade em defi qual é 0 produto da wnuversidade deve-se & multiplicidade de fins que ela vem incorporando, em sua busca por acomedacio 2s virias erses que enfrenta. Da formaeao numanistica € profissional & produclo e 2 transmissfo de conheeimentos, da formacio profissional & elevacio“do nivel cutural da soctedade € & resoluczo de ‘problemas sociais tado pode ser considerado produto da universidade. Como avaliar produtos tio varados dificets de define? ‘Tenta-se avaliar a produgio untverstéria como empresa, por um vies econémico basicamente funcionalista ¢ utilitansta, Essa questio liga-se & dos entérios de avaliagdo, O grande desatio esti em defintr medidas para a avaliagio da qualidade e da eficscia, No entanto, o que ndo podemes perder de vista € 0 cariter histérico da universidade como espaco de produgio, apreensio ¢ socializagio de conhecimentos ¢ tecnologias. ‘A questio da titularidade da avaliagio € 0 que mais diretamente cconfronta a autonomia da universidade. Mesmo se desoonigando de manter financeiramente a universidade, o Estado insiste em tornar-se mais vigilante ‘e intromissor com relago 2 aplicacio ¢ & gestio dos financiamentos. A ‘esse respeito, Santos (1997, p. 219) afirma que “por todas essas razies, a umversidade vé-se confrontaca com uma erescente pressio para se dcixar avaliar, 2o mesmo tempo [em] quo se acumulam as condigées para que lhe ‘escape a titularidade da avaliagao”. [sso significa aceitar a avaliagdo dos virios grupos que constituem a universidade — ndo de forma passiva, mas como uma forga interior para enfrentaraexigéncia da avaliagio, Para tanto,"auniversidade deve procarar ‘coligagées politicas, no sew interior e no seu exterior, que fortalegam a sua ppsi¢20 na negociagdo dos termos ca avatiago” (idem, p.220). Isso implica ‘um dilogo com 2s comunidades mternacionais, nacionats ¢ locas, € que & avaliagZo externa seja realizada entre os pares. Fiea evidente que essa concepgio de avaliago coloca em risco a autonomia da universidade, prncipalmente por considerar a produgio "universitiria como produto, sem corisiderar o tempo necessérioa construed do conhecrmento. Além de demandar tempo, a produgao acadénuca necesstta de um grande ntimero de profissionais, afim de atender 4 multiplicidade ce fungdes que a universidace vem acurmuando em sua busca de acomodagio as vdrias crises que atravessa, 94 Paps Edtora 1 | A crse internaliza-se na universidade plblica por meio de conflitos

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