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RT TEXTOS FUNDAMENTAIS 9. Institutas do Jurisconsulto Gaio. Traduedo de J. Cretella Ir Agnes Cretella. So Paulo: RT, 2004. Obras publicadas nesta Série 1. Dos deltos ¢ das penas. Cesare Beccaria. Tradugio de J. Cretella Jt, fe Agnes Cretella. 2. ed, rev. S40 Paulo: RT, 1997 2. principe, Maguiael, Tradugto de J. Cretella Jr. ¢ Agnes Cretella 3.04, rev, Sio Paulo: RT, 2003, 3. A luta pelo direito. Rudolf von Ihering. Tradugto de J, Cretella J. fe Agnes Cretella 4, ed. rev. Sdo Paulo: RT, 2004 do Inperador Justiniano, Tradugio de J. Cretella Je 2. ed. ev. Sto Paulo: RT, 2004, ‘4 ed. ey. So Paulo: RT, 2003, 6. Do contrato socal. JJ, Rousseau. Tradusio de J. Cretella J. Agnes Cretlla. So Paulo: RT, 2002, 7. A Cidade Antiga, Fustel de Coulanges. Tradugio de J. Cretlla Je. Agnes Cretlla. So Paulo: RT, 2003. 8. Discurso sobre a serviddo vol ne de la Botte. Tradugso de J, Cretlla Jr. ¢ Agnes Cretella, Sio Paulo: RT, 2003, Dados Internacionais de Catalogacio na Publcacio (CIP) (Cimara Braslera do Livro, SP, Brasil) tas de Gaio I. Cette, JI. Crt, Agnes II. Séte 04-4670 cpu34@7) Indices para catélogo sistemitic: 1. Dist romano 34 37) RT TEXTOS FUNDAMENTAIS - 9 GAIUS a JURISCONSULTO GAIO Tradugio: J. CRETELLA JR. e AGNES CRETELLA DEDALUS - Acervo - FD 20400026925 EDITORA rae REVISTA DOS TRIBUNAIS 180 INSTITUTAS DO JURISCONSULTO GAIO 223.A pena de injtiria era, segundo a Lei das XII Tébuas, ade taliio, nocaso de membro rupto (membrum ruptum)e de trezentos asses no caso de osso fraturado (os fractum) ou machucado, se a -itima for pessoa livre, porque, se for escravo, a penaerade cento ecinglentaasses, A outras espécies de injtirias cominou-se apena de vinte e cinco asses, penas pecuniarias essas que pareciam sufi- Cientes em tempos de economia pobre. 224, Agora, porém, usamos outro direito. Assim, temos a fa~ culdade, permitida pelo pretor, de nés avaliarmos a injtiriae o juiz decondenar, querno quantum da nossaavaliagao, quer em quantum inferior, conforme sua livre convicgao. Como, porém, o pretor costuma avaliar a injiria atroz, quando determina quanto deve ser pagocomo vadimonium, sem distingui-lodaquantiareclamada pelo autor como pena, pedimos, na formula, a mesma importancia eo |juiz, podendo embora condenar em quantia menor, ndo ousa ge- ralmente reduzir a condenagdo, em homenagem & autoridade do pretor. 225. A injiiria atroz.(injiéria grave) écalculada, deacordocom 0 fato que a gerou, como, por exemplo, se alguém foi ferido, chi- ‘coteado ou fustigado por outrem ou, conforme o lugar, como, por exemplo, se foi molestado no teatro ou no férum, ou, ainda, por exemplo, se a pessoa, vitima de injiria, for magistrado, ou se um senador foi maltratado por pessoa humilde. Comentario Quarto 1. Falta ainda falarmos das ages. E, se procurarmos indagar quantas espécies de agdes existem, parece mais certo dizer que existem dois tipos, as agdes in rem e as ages in personam, porque cos quedisseram que eram quatro os génetos ou tiposde sponsiones, no perceberam que classificaram como géneros certas “espécies” ou tipos de ages. 2. A agdo € in personam, quando agimos contra quem se obrigou conosco por contrato ou por delito, ou seja, quan- do pretendemos que nos devem dar, fazer ou prestar alguma coisa (dare, facere, praestare, oportere). 3. A agio é in rem, quando pretendemos que alguma coisa corpérea se torne nossa, ou quando temos um direito qualquer sobre ela, como 0 direito de uso, de usufruto, de passagem, de ‘caminho, de aqueduto, de elevar a construcio, ou de vista. Ou, ento, quando a agdo de nosso adversério € negativa. 4. Con- clui-se que, tendo distinguido as ages, fica certo que nfo po- demos exigir de outrem uma coisa nossa apenas por esta forma SE PARECE QUE ELE DEVE DAR, porque 0 nosso ndo nos pode ser dado de maneira a sé-lo para tornar-se nosso, nem uma coisa jé nossa pode tornar-se nossa mais do que j4 0 €. Realmente por 6dio aos ladrdes e para submeté-los ao maior némero possivel de agdes, admitiu-se que, além da pena em dobro ou em qua- druplo, ficassem sujeitos ainda & agZo SE PARECER QUE ELES DE- 182 INSTITUTAS DO JURISCONSULTO GAIO ve pan, destinada a recuperar acoisa, embora haja contra eles uma aco com a qual pedimos que a coisa seja nossa. 5. As ages in rem chamam-se vindicagBes (vindicationes) € as in personam, pelas quais pleiteamos que alguém nos deve dar ou fazeralgumacoisa, sechamam condictiones. 6. Movemos ago ou, simplesmente, para conseguir 0 objeto, ou visandoséapena, ou, em outros casos, tendo em vista, a0 mesmo tempo, o objetoca pena. 7. Pleiteamos simplesmente 0 objeto, nas agdes propostas,em raziio de contrato, 8. Pleiteamos s6.a pena, como, por exemplo, na agiio de furto e de injiria, bem como, segundo alguns, também na agiio vi bonorum raptorum, pois, relativamente a prépria coisa, cabe-nos a vindicagdo e a condictio. 9. Pleiteamos,entretanto, o objetoeapena, nas causasemque agimos pelo dobro contra o réu contestante, o que ocorre na ago de coisa julgada, na aco chamada depensi, na agdo de dano injus- to da Lei Aquilia ou na aco proposta em nome dos legados de importincia certa, deixados per damnationem. 10. Bxistem, alémdisso, certas agdes, que reproduzemasagoes da lei e outras com forga e eficdcia propria. Para demonst devemos tratar, em primeiro lugar, das ages da lei. |. Asagées empregadas pelos antigos denominavam-sei ou pelo fato de se originarem das leis (pois, na época, existiam ainda os editos do pretor, que mais tarde introduai as ages), ou por se adaptarem as palavras das préprias: conservando-se, por isso, imutaveis, como os termos das leis. COMENTARIO QUARTO 183 ter-se respondido que perdia a ago quem, agindo por causa de vi- deirascortadas, empregavao termo videiras (vites); poisa Lei das XII Tabuas, na qual se fundamentava a acto por videiras corta- das, empregavaaexpressio drvores cortadas (arboribus succisis) em geral. 12. As ages da lei eram cinco: sacramentum, iudicis postulatio, condictio, manus iniectio e pignoris capio. 13, Sacramentum era uma aco geral, porque se utilizava 0 Sacramentum, em todos os casos paras quais a lei nao estabelecia um processo especial. Esse tipo de ago era tdo perigoso para os litigantes de mé-f6, como hoje é a aco certae creditae pecuniae, Por causa da sponsio perdida pelo réu que nega imprudente ¢ da restipulatio perdida pelo autor, que pede o pagamento do indevido Aparte vencida pagava, atitulode multa, asomado sacramentum, destinado ao erdrio, oferecendo-se ao pretor fiadores responsaveis pelo pagamento. Atualmente, ao contrério, a pena da sponsioe da restipulatio € paga a parte vencedora (non ut nunc sponsionis et restipulationis poena lucro cedit adsersarii qui vicerit) 14. A pena do sacramentum era de cingulenta ou quinhentos asses. Pedia-se 0 sacramentum, fixado em quinhentos asses, para as coisas de valor igual ou superior a mil asses e de cingiienta asses Para as de valor inferior, pois assim dispunha a Lei das XII Tabu- as. Nas controvérsias sobre aliberdade de um homem, porém, alei arbitrou o sacramentum em cingiienta asses, por maior que fosseo valor dohomem, favorecendoa liberdade e impedindo que se one- Fassem os adsertores. 15. Todas estas ages ... viessem para receber 0 juiz e, Fetornando, era dado o juiz. A Lei Pindria reservou o trigésimo dia ara anomeagio do juiz, o qual, antes, eranomeado imediatamen- te. Do exposto, deduzimos que, nas agbes sobre coisas de valor 184 INSTITUTAS DO JURISCONSULTO GAIO inferiora mil asses, o sacramentumera de cingiienta e nao de qui- nhentos asses. Nomeado o juiz, as partes marcavam o terceiro dia para ir a juizo. Depois, perante 0 juiz, antes de debaterem acausa, costumavam fazer-lhe breve resumo da questo, denominado causae coniectio, breve sumério da causa (solebant breviter ei et quasi perindicem rem exponitur: quae dicebatur causae coniectio, quasi causae suae in breve coactio). 16. Se se tratasse de ages in rem, as coisas méveis ¢ as semoventes, suscetiveis de serem levadas ou conduzidas a juizo, pleiteavam-se do seguinte modo, O autor reclamante, empunhan- doa varinha, tomava a coisa, um homem, por exemplo, dizendo’ DIGO QUE ESTE HOMEM E MEU POR DIREITO DOS QUIRITES, SEGUNDO SUA SITUACAOJURIDICA. ASSIM COMODISSE, VE QUE O TOQUE! COM A VARINHA e, ao mesmo tempo, tocava o homem com a varinha. O réu diziae faziao mesmo. Quando as duas partes tinham pleiteado, o pretor dizia: LARGUEM, AMBOS, O HOMEM, € eles o largavam. O primeiro reclamante interrogava o reclamado assim: EGO QUE DIGAS A QUE TITULO VINDICASTE; € 0 segundo respondia: EXERCI MEU DIREITO TO- CANDO CoM A varinsa. Em seguida, o primeiro reclamante dizia:3& (QUEPLEITEASTEINIUSTAMENTE, DESAFIO-TE AO SACRAMENTUM DE QUINHEN- ‘Tos asses. O contratante dizia também o mesmo: 8 EU TEDESAFIO. A provocagao ao sacramentum era de quinhentos asses, nas ages relativas a coisas de valor superior a mil asses e de cingiienta, nas coisas de valor inferior. Procedia-se com os mesmos atos da ago in personam. Depois o pretor concedia vindiciae a um dos litigan- tes, constituindo-o possuidor precério e ordenando-Ihe que pres- tasse & parte contrdria caugdo litis et vindiciarum, isto €, caugio pela coisae frutos. O pretor, por sua vez, recebia também das par- tes outra caugio pelo sacramentum, destinado ao erdrio. As partes usavama varinha em lugar da langa para simbolizar o justo domi- nio, poisacreditavam que cram proprietétias principalmente do que fora arrebatado ao inimigo. Dai, a colocagio da langa diante dos ‘COMENTARIO QUARTO 185 tribunais dos centiinviros (in iudiciis centumviralibus hasta proponitur). 17. Seacoisa fosse de dificil transporte ou sé transportavel a Juizo com dificuldade, como, por exemplo, coluna ou rebanho, tomava-se uma parte dela, levando-a a juizo, retirando-ado lugar onde se achava, Em seguida, procedia-se & vindicatio sobre essa parte, como se a coisa inteiraestivesse presente. Assim, levava-se a juizo somente uma ovelha ou uma cabra do rebanho, ou, entio, tum pouco de pélo desses animais. Tratando-se de navio, ou de co- luna, arrancava-se um pedago dessas coisas. Versando a contro- vérsia, igualmente, sobre terreno, sobre edificios ou sobre heran- 6a, levava-se a jufzo uma parte dessas coisas, exercendo-se sobre elaa vindicatio, como representando a totalidade da coisa. Por exemplo, nocasode terreno, levava-se um pouco de terrae, nocaso de edificio, levava-se uma telha. Havendo controvérsia sobre he- ranga, tomava-se também determinada parte dela... 17a, Ia-se a Juizo, interpondo-se aiudicis postulatio, nosca- sosemquealei mandasse agit conformeaLei das XIITabuas, sobre aquilo que se pede por causa da estipulagdo. Quem assim agia, 0 processo corria mais ou menos assim: Quem agia dizia: eu pico ‘QUE TU ME DEVES PAGAR DEZ MIL SESTERCIOS, POR CAUSA DA SPONSIO. PECO-TE QUE CONFIRMES OU NEGUES 0 QUE DIGO. O autor dizia ain- da: 14 QUE NEGAS, PECO, OH! PRETOR, QUE INDIQUES UM JUIZ OU UM Ansiteo. Nessa categoria de acGes, portanto, podia-se contestar a lide sem incorrer em penalidade. A mesma lei ordenou que agisse também pela iudicis postulatio, na partilha da heranca entre os co-herdeiros. Assim, foi estabelecido pela Lei Licinia, paraa divisio,emcomum, de qualquer coisa. Por isso, indicada acausaem decorréncia da qual se estava agindo, requeria-se um arbitro imediatamente. 186 INSTITUTAS DO JURISCONSULTO GAIO 17b. Mediante condigo (per condictionem) assimse procedia: DIGO QUE TU ME DEVES PAGAR DEZ MIL SESTERCIOS. PECO-TE QUE CONFIR- MES OU QUE NEGUES 0 QUE DIGO. Se 0 adversério negasse a divida, 0 autor dizia: 14 QUE NEGAS, EXUO QUE COMPARECAS DENTRO DE TRINTA DIAS, A FIM DE TERES DIANTE DE TI UM Juiz. Em seguida, deviam apre- sentar-se no trigésimo diadiante do juiz. Condicere significa, nalfn- guaarcaica, avisar(denuntiare). 18, Por isso, tal agao recebia o nome, mui conveniente, de condictio, porque 0 autor avisava o réu que ele deveria compare- cer dentro de trinta dias a fim de escolher um juiz. Hoje, porém, a denominagéo da condictio € imprépria, quando aplicada & aco in personam, mediante a qual pedimos 0 QUE NOS DEVE SER DADO, por- que jénenhum aviso se dé atualmente. 19. Essa aco da lei foi ins- tituida pelas leis Silia e Calptimnia, a primeira, para as agdes por quantia certa (certa pecunia) ¢ a segunda, para coisa certa (certa re). 20. Assunto de muita discussio € saber porque é necesséria tal ago, quando podemos obter o que nos é mediante o sacramentum ou mediante a iudicis postulatio. 21. Entra-se, também, em Juizo, pela manus iniectio, seal- guma lei assim o determinar, como na ago de coisa julgada, de acordo com a Lei das XII Tébuas. Nessa ago, procedia-se as- sim. O autor dizia: POR NAO ME HAVERES PAGO DEZ MIL SESTERCIOS, [A QUE FOSTE CONDENADO A PAGAR-ME, EULANCO A MAO SOBRETI, POR CAUSA DOS Dez MIL SESTERCIOS. AO mesmo tempo, agarrava em uma parte qualquer do corpo do devedor. Ao condenado nao lhe era permitido repelir a m&o que o prendia, agindo pessoalmen- te, mas nomeava um representante (vindex), para agir em lugar dele. Quem nao tivesse representante era levado para casa pela mio do autor e amarrado (ducebatur domum ab actore et vinciebatur). (COMENTARIO QUARTO 187 22. Depois, algumas leis concederam a manus iniectio, em outros casos, contra certas pessoas, em raziio da coisa julgada. Assim, a Lei Publilia concedia a manus iniectio contra aquele em nome do qual o fiador (sponsor) fez 0 pagamento, se nao restituis- se 0 dinheiro ao sponsor, seis meses depois do pagamento. A Lei Fiiria de sponsu também reprimia quem exigisse do sponsor mais do que sua parte na divida. Enfim, muitas outras leis outorgaram tal agdoem varios casos (dederunt talem actionem in multis causis). 23. Certas eis, porém, em determinados casos, criaramagdes pela manus iniectio pura, mas nao por causa de julgamento. Por exemplo,aLei Furia também facultavaoempregodamanus injectio contra quem pedisse emprestado mais de mil asses, como legado ou mortis causa, desde que essa mesma lei nfo abrisse uma exce- 40, permitindo que se recebesse importancia mais elevada. Tam- bém a Lei Mércia, contra os mutuantes onzeneiros, permitia agir contra eles mediante a manus iniectio, para arestitui¢ao dos juros. 24, Essas leis ¢ outras da mesma natureza, por ventura existentes, permitiam ao réu repelira garra que prendia, defendendo-se pes- soalmente. O autor, nessa agao dalei, nao acrescentavaas pé POR CAUSA DEJULGAMENTO, mas, depois de indicar a causaem virtu- de da qual agia, dizia o seguinte: or IsTo, EU PONHO A MAO SOBRI enquanto os que agiam por causa de julgamento, indicada a causa da.acdo, acrescentavam: POR ISTOEUPONHO A MAOSOBRETI, POR CAU- SA DEJULGAMENTO. Lembro-me de que as palavras “POR CAUSA DE JULGAMENTO”, introduzidas na férmula da lei Faria Testamentéria, no se encontram na prdpria lei, o que parece ser sem razo algu- ma (quod videtur factum nulla ratione), 25. Depois, pela Lei Valia, exceto o condenado e aquele em lugar de quem se pagou a divida, e a todos os outros, contra quem se agia pela manus iniectio, foi permitido repelir a garra (manum depellere) e defender-se pessoalmente, Portanto, mesmo depois 188 INSTITUTAS DO JURISCONSULTO GAIO dessa lei, ocondenadoe aquele em lugar do qual se pagou a divida eram obrigados a nomear um representante (vindex) e, no 0 fa- zendo, eram arrastados presos para a casa do credor. Essa regra sempre foi observada, enquanto duraram as ages da lei. Por isso, em nossos dias, o réu na ago iudicati ou depensié obrigado a dar garantia de cumprimento do julgado. 26. A ago da lei per pignoris capionem era movida, em cer- tos casos, por forca dos costumes e, em outros, por determinagao legal. 27. Foi ela introduzida pelos costumes da vida militar, pois se permita ao soldado, para receber 0 soldo, penhorar o dinheiro do responsdvel pelo pagamento, no caso em que este se recusasse aefetué-lo. O dinheiro pago como soldo chamava-se dinheiro mi- litar (aes militare). Também se podia tomar, como penhor, o di- nheiro destinado & compra de um cavalo, dinheiro denominado equestre (aes equestre), Finalmente, se autorizava o penhor do dinheiro necessério a comprar cevada para o cavalo, denominan- do-se este dinheiro para cevada (aes hordiarium), 28. A pignoris capio foi instituida pela Lei das XI Tébuas contra quem comprasse a vitima dada em sacrificio sem lhe pagar opregoe também contra quem nao pagasse o aluguel do animal de carga, que alguém alugou, a fim de aplicar-Ihe o prego nos sacrifi- cios religiosos. Por fim, pela lei reguladora da funcao dos censo- res, facultou-se a pignoris capio aos cobradores de impostos, os publicanos do povo romano, contra as pessoas que, por forca de alguma lei, devessem ao fisco. 29. Em todos esses casos, o penhor se efetuava, pronuncian- do-se determinadas palavras, motivo pelo qual muitos achavam que fosse também uma ago da lei. Outros, porém, entendiam o con- trério, em primeiro lugar, pelo fato de a pignoris capio realizar-se COMENTARIO QUARTO 189 extra ius, isto &, sem a presenga do pretor, e, muitas vezes, até na auséncia do adversario, enquanto as demais acdes somente pode- riam ser propostas perante o pretor na presenga do réu. Depois, porque se podia realizar o penhor também nos dias nefastos, sto é, quando nio era permitido mover a ago da lei. 30. Todas essas ages da lei tornaram-se, paulatinamente, odiosas, porque, em razo da extrema sutileza dos antigos criado- res do direito, chegou-se & situaco de que aquele que cometesse 0 ‘menor erro perderiaa causa. Por isso, as agdes da Lei foram revo- gadas pela Lei Bbiicia e pelas duas leis Jilias, levando os proces- sos a realizarem-se por palavras fixas, isto é, por formulas. 31. Admitem-se as agdes da lei apenas em dois casos: no da aco por dano iminente (dammni infecti) € no das ages perante os tribunais dos centiinviros. Nao resta ditvida de que, nos processos perante 0s centtinviros, se age segundo a aedo preliminar dalei por sacramentum, perante 0 pretor urbano ou perante o pretor peregri- no. Na ago de dano iminente, porém, ninguém observa a agio da lei, preferindo todos, para obrigar o adversério, recorrer & estipu- publicada no edito, meio este mais fécil e eficaz, 3a. Por pignoris captionem...32.Na formula prescrita tam- ‘bém ao publicano, existe a ficcai, condenando odevedor apagaro ‘que deveria pagar outrora Aquele cujos bens tinham sido penhora- dos, caso os desejasse resgatar. 33. Nenhuma férmula se exprime em forma de ficgdo da condictio, porque, quando reclamamos dinheiro, ou coisa certa devida, declaramos, na intentio, que ela Nos DEVE SER DADA, sem acrescentar qualquer icc de condictio. Compreendemos, assim, simultaneamente, que as formulas com as quais pretendemos que 190 INSTITUTAS DO JURISCONSULTO GAIO nos devaser dada certasomaem dinheiro ou determinadacoisa, tém forgaeeficécia préprias, poissiodamesmanaturezado que asagoes de comodato, de fidticia, de gestdo de negécios e indmeras outras (etaliae innumerabiles), 34. Em certas formulas, hé ainda artificios de outra espécie, como, por exemplo, no caso de pessoa que pleiteia a bonorum ossessioem virtude do edito e age depois como herdeiro ficticio, Porque 0 bonororum possessor, sucedendo como herdeiro Pretoriano e nfo como herdeiro legitimo do de cujus, nao é titular das ages diretas, nem pode pretender que seja sew 0 que foi do de ccujuis, como também nao pede que se Lite DEVA Dar o devido aque- le, Porisso, age como herdeiro fictfcio do seguinte modo: seta suIZ. SE AULO AGERIO (isto €, se 0 prdprio autor) FOSSE HERDEIRO DE LUCIO TICIO, ENTAO AQUELE TERRENO, OBJETO DESTA ACAO, LHE PERTENCERIA ‘OR DIREITO Dos QuiRITES. Se for devida soma de dinheiro, usando s¢dlo semelhante, se substitui oherdeiro assim: ENTAO, SE PARECER (QUE NUMERIO NEGIDIO DEVE DAR DEZ MIL SESTERCIOS A AULO AGERIO. 35. Do mesmo modo, o bonorum emptor age como herdeiro , Mas, 4s vezes, costuma agir de modo diverso, pois, for- mulando a pretensio, em nome da pessoa, cujos bens adquiriu, 0 bonorum emptor pede a condenacdo em seu favor, de modo que 0 adversario seja condenado a dar-Ihe o que pertence ou que é devi- do ao vencedor. Esta espécie de ago se chama Rutiliana, por ter sido criada pelo pretor P. Rutilio, que parece haver também intro- duzido a bonorum venditio. A primeira espécie de ago, pela qual obonorum emptorage comoherdeiro ficticio, chama-se Serviana. 36. Hd também umaespécie de usucapigo na agtio denomina- daPubliciana, porque se facultaesta ago aquem aindando usucapiu acoisa, de que se Ihe fez tradicao com justa causa, e pede a coisa COMENTARIO QUARTO 191 por Ihe ter perdido a posse. Assim como o autor ndo pode preten- der que ACcoIsa SEA SUA POR DIREITO Dos QuIRITES, finge-se que elea tenha usucapido, e formulamos o pedido como se fosse proprieté- rio por direito dos Quirites, do seguinte modo: sEsa 1012. COMOA. A SERIA PROPRIETARIO DO ESCRAVO EM QUESTAO, PORDIREITO DOS QUIRITES, SE TIVESSE POSSUIDO DURANTE UM ANO OESCRAVO QUE A. A. COMPROU E LHE FO! ENTREGUE. 37. A cidadania romana também se atribui ficticiamente ao peregrino, quando ele for autor ou réu em acdo instituida por nos- sas leis, contanto que seja justo estendé-la, mesmo ao peregrino, como, por exemplo, quando for autor ou réu em agdo de furto. Se oréu for peregrino, a formulaé aseguinte: sesA,U1z.SEPARECER QUE, POR OBRA OU CONSELHO DE DION, FILHO DE HERMES, LUCIO TICIO FOL MA DE FURTO DE UMA TAGA DE OURO, &, VISTO QUE, EM VIRTUDE DE TAL [ATO, DION SERIA CONDENADO POR FURTO, SE FOSSE CIDADAO ROMANO. Outorga-se, também, ficticiamente a cidadania romana ao pere- grino que age por furto. Igualmente, seo peregrino forautor ouréu em agdo de dano injusto, fundada na Lei Aquilia, a ago é dada, fingindo ser ele um cidadao romano (iudicium datur ficta civitate romana) 38, Além disso, imaginamos, as vezes, que nosso adversério no sofreu nenhuma capitis deminutio. Assim, se um homem ou uma mulher estiverem obrigados conosco por forga de um contrato sofrendo, por exemplo, a mulher uma capitis deminutio, em virtude da coemptio, eo homem, por causa da adrogacdo, deixam ambos de nos dever pelo direito civil e nao podemos pedir diretamente que ele ou cla nos dé alguma coisa. Para que eles nao tenham o poder de anular onosso direito, intentou-se contraambos umaagao itil pela qual a capitis deminutio é anulada, ou seja, entra-se com uma agao que dissimula nao ter ocorrido a capitis deminutio do homem ou da mulher (fingitur non esse capite deminutus vel deminuta), 192 INSTITUTAS DO JURISCONSULTO GAIO 39. As partes da férmula so as seguintes: demonstratio, intentio, adiudicatio, condemnatio. 40. Chama-se demonstratio a parte da f6rmula, inserida no principio, coma finalidade de expli- caro motivo da ago, como esta parte da férmula: TENDO A. AGERIO \VENDIDO UM HOMEM AN, NEOIDIO, OU eSta TENDO A. A. DEPOSITADO UM HOMEM JUNTO A N. NEGIDIO. 41. Intentio 6 a parte da formula que contém a pretensdo do autor, €, por i8$0, € assim: SE PARECER QUE N. NIGIDIOS DEVE DAR ML SESTERCIOS A A. AGERIOS; OU assim: TUDO O QUE PARECER QUEN. NIG{DIOS. DEVA DAR OU FAZER A A. AGERIOS; OU ainda assim: SE PARECER QUEO HOMEM £ DE A. AGERIOS POR DIREITO DOS QUIRITES. 42, Adiudicatio € a parte da formula que permite ao juiz en- tregar a coisa a um dos litigantes, como na aco de partilha entre co-herdeiros, ou nade divisao dacoisa comum entre consortes, ou nna de demarcagao entre vizinhos. Essa parte da férmula é do se- guinte contetido: 1012, E PRECISO ADIUDICAR A TICIO TUDO QUANTO LHE EVA SER ADJUBICADO. 43. Condemmatio € a parte da frmulaem que se concede po- der ao juiz para condenar ou absolver, como esta parte da formula: 1UIZ, CONDENA N. NEGIDIO A PAGAR DEZ MIL SESTERCIOS A A. A.3 SNKO PARECER QUE N, NEG[DIO DEVA PAGAR, ABSOLVE-O ou simplesmente: , CONDENA N, NEGIDIO EM FAVOR DE A. AGERIO, Sem se acrescentar SOMENTE ATE DEZ MIL SESTERCIOS. 44, Nem todas as partes da férmula se encontram sempre reu- nidas, pois umas aparecem, outras nao. Na verdade, encontra-se as vezes $6 a intentio, como nas férmulas prejudicais, onde se in- daga se alguém é liberto, ou qual 6 0 valor de um dote. Ao contré- io, ademonstratio, aadiudicatio ea condemnatio nuncaseencon- COMENTARIO QUARTO 193 tram isoladas, porque inttil é a demonstratio sem a intentio ou a condemnatio. Sao initeis igualmente a condemnatio sem a demonstratio ou a intentio, motivo pelo qual nao se encontram separadas. 45, Denominamos concebidas in ius nfo s6 as formulas refe~ Tentes a questdes de direito, como também aquelas cuja intentio€, por exemplo, assim: “Que alguma coisa nos pertence por direito dos Quirites”. Ou Quenos deve ser dada”, ouainda “Que deve ser decidido 0 dano causado por furto”. Existem ainda outras formu- las, cuja intentio tem, como objeto, uma questio de direito civil (sunt aliae in quibus est intentio iuris civilis). 46. Asdemais formulas, porém, denominamos concebidas in Factum, isto€, formulas que no contém intentio desta espécie, mas ue, indicando no inicio os fatos, acrescentam palavras que confe~ rem ao juiz o poder de condenar ou absolver, como a férmulausa- da pelo patrono contra liberto que o chamou a juizo, contrarian- do 0 edito do pretor. Essa férmula € assim: sEDE Juizes RECUPERATORES. SE PARECER QUE AQUELE PATRONO FOI CHAMADO AJU 20 POR AQUELE LIBERTO, CONTRARIAMENTE AO EDITO DO PRETOR, CONDENAI O LIBERTO EM DEZ MIL. SESTERCIOS, EM FAVOR DO PATRONO. SE NAO PARECER, ABSOLVE-o. Sao também concebidas in factum as de- mais ages propostas com o titulode in ius vocando,comoapropos- tacontra quem, chamado a jufzo, ndo compareceu nem ofereceu re- presentante. Ou ainda a proposta contra quem impediu o compareci- mento de um terceiro, chamado a jutzo. Enfim, intimeras outras f6r- mulas da mesma natureza so propostas nas tébuas (et denique innumerabiles aliae formulae eius modi proponuntur in albo). 47. Mas, em certos casos, o pretor pode propor férmulas con- cebidas in ius e in factum, como as do depésito e comodato. As- 194. INSTITUTAS DO JURISCONSULTO GAIO sim, éconcebida in ius, a férmula: SEs4.U2. VISTO QUE A, AGERIO DE- POSITOU JUNTO AN. NIGIDIO UMA MESA DE PRATA, OBIETO DESTA AGAO, CONDENA N. NIG{DIO EM FAVOR DE A. AGERIO NAQUILO QUE, POR CAUSA DE DEPOSITO N. NIGIDIO DEVE DAR OU FAZER EM BOA-FE, A NAO SER QUE RESTITUA A MESA. SE NAO PARECER QUE ABSOLVE-O. Mas é in factum a outra assim concebida: PARECER QUE A. AGERIO DEPOSITOUJUNTO AN. NIGIDIOUMA MESA DEPRATA E QUEN. NIGIDIO, POR DOLO, NAO A RESTITUIU A A. AGERIO. CONDENA W. NIGIDIO A PAGAR A A. AGERIO TANTO QUANTO VALER A MESA. SENAO PA- RECER, ABSOLVE-O. Existem também formulas semelhantes no comodato. 48. A condenagao, em todas as frmulas que a contém, é for- ‘mulada sob a forma de célculo em dinheiro. Assim, se pedirmos ‘uma coisa corpérea, como terreno, escravo, roupa, ouro ou prata, ojuizndocondenaoréu prestagdo da prépriacoisa, objetodalide, como era costume fazer-se, antigamente, mas condena-o em di- nheiro, depois decalculadoo valordacoisa (aestimata re, pecuniam en condemnat), 49. A condenacao € pedida, na férmula, em quantia certa ou incerta, 50. A condenago, em quantia certa, esta na respectiva formula em que pedimos quantia certa, porque a tiltima parte da formula esté assim redigida: su1z, CONDENA N. SESTERCIOS A FAVOR DE A. AGERIO. SE NAO PARECER JUSTO, ABSOLVE-O. 51. A condenago em quantia incerta, porém, tem significa~ do duplo. Existe assimumadeterminagodenominada vulgarmente condenagao com avaliagdo, como quando pedimos algo incerto, porque, nesse caso, a tiltima parte da formula é: sU1Z, CONDENA N. NIGIDIO EM FAVOR DE A. AGERIO SOMENTE ATE DEZ MIL SESTERCIOS. SE NAO PARECER, ABSOLVE-o. Outras vezes, a condenag&o € incertae COMENTARIO QUARTO 195 como quando declaramos que € nossa acoisa possufda por outrem, ou seja, quando agimos in rem ou ad exhibendum, porque, nesses casos, a formula € 1U12, CONDENA N. NIGIDIO A PAGAR A A. AGERIO A IMPORTANCIA EM DINHEIRO CORRESPONDENTE AO VALOR DA COISA. SENAO PARECER, ABSOLVE-O. Portanto, que mais dizer? Se o juiz condenar, deve condenar em quantiacerta, mesmo que nao tenha sido indicada a importancia certa na condemnatio (etsi cer- 1a pecunia in condemnatione posita non sit) 52. Se a condenagio for pedida em quantia certa, o juiz nfo deve condenar 0 réu nem em importancia maior nem em impor- tancia menor, da que foi reclamada pelo autor, pois, do contrario, faz sua a lide (facit litem suam). Havendo avaliagio, nfo deverdo condenar em quantia maior do que a coisa foi avaliada, pois, docontrério, faztambém suaa lide. O juiztemo poder, entretanto, de condenar em quantia inferior ao maximo avaliado. E se tam- bém.... que recebe a fSrmula, no deve pedir mais ... ser obrigado por condenago certa, ... quiser 53. A pessoa que, na intentio, pedir mais do que aquilo a que tem direito, perde a causa, ou seja, perde 0 prOprio direito endo pode ser feita pelo pretor a in integrum restitutio, excetuados os casos em que o pretor nfo admite ... 53a, Pede-se, a mais, de qua- tro modos: em razdo do objeto, do tempo, do lugar e da causa. O pedido € amais em razio do objeto, quando, por exemplo, alguém pedir vinte mil sestércios ao invés de dez mil devidos. Ou quando se pedir a totalidade, ou quase, que so a totalidade da divida, sen- do credor de uma parte apenas. 53b. O pedido é a mais, em razio do tempo, quando feito an- tes do dia convencionado para a execugdo pelo devedor. 53c. Pe- dimos quantia maior, em razdo do lugar, quando reclamamos em

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