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A SomBRA DAS TORRES AUSENTES PUM 0 tae PARA F, N & D, COMO SEMPRE AGRADECIMENTOS SEM FRONTEIRAS AOS EDITORES E CAMARADAS DA PRODUCAO DO Die Zeit, THE FORWARD, COURRIER INTERNATIONAL, THe LONDON REVIEW OF BOOKS, INTERNAZIONALE, THE L. A. WEEKLY THe Cricaco Weekty E Wortp War THREE ILLUSTRATED — MINHA COALIZAO DOS RESOLUTOS — POR PERMITIREM EM PRIMEIRO LUGAR QUE ESTAS PAGINAS DAS TORRES AUSENTES VIESSEM A LUZ. UM BRINDE REFORCADO PARA Lucy CASWELL, DA BIBLIOTECA DE Pesquisa pe CARTOONS, NA OHIO STATE UNIVERSITY; NICHOLSON Baker, Do AMERICAN Newspaper Repository; Harry Katz, DA BIBLIOTECA DO CONGRESSO AMERICANO, E ROBERT BYRD, DA Bisuioteca DA Duke UNIVERSITY, POR SE DEVOTAREM AOS SEUS ACERVOS E POR DISPOREM DE SUAS RARIDADES PARA ESTE PROJETO. O AUTOR ESTA EM DivIDA COM GREG CAPTAIN POR ELE TER INDICADO eG rel oN a oo OM or Kurt Horrman, Janis Yu, JESSE FUCHS E ANNIE SIMPSON, PELA AJUDA NA EDICAO E PRODUCAO. E GRATIDAO DO TAMANHO DE UMA FOLHA DE JORNAL A PETER MARESCA Ea BILL BLACKBEARD PoR COMPARTILHAREM H GENEROSAMENTE SEU CONHECIMENTO, ALEM DE SUAS i COLECOES UNICAS DE QUADRINHOS RAROS. Pig) leet lito Mel Moree ado New York World de Ii de setembro de 1901 é uma cortesia do American Newspapers Repository, : Duke University Libraries. ee ta ee etl eee Oe elo ela Lotte) especial da King Features Syndicate. fete oa alclh mOm 49° Bhar Game cla] BR We TR ee Cee eee ee ea) BECO M CR Cente a Crees coe a CW) ee eee eee ne) Preparacao de texto: Cristina Yamazaki AU aa ier Coen hea errata 7) [CeCe eee ge ee ree eC er otiy Titulo ori San oe ie! oe ete) L Ataques terroristas de Ii de sctembro de 2001 2004 2. Historias em quadrinhos — Estados Unidos 1 Srey Todos os direitos desta edicao reservados a Peru ae t Cre Pecierre} EMCO ea a eee ae eed Oe ui er teer ately eee ee ee LC] oF ii at cored Telefone: (I!) 3707 3500 em recall Sere En ECO aoe Pee RTE Weather Forveants SHOWERS, frst Where Best Known. "Tho American News Company's records show that, The World's regular paid New York “Gily circulation i tens of thousands a day UT reater than that of anyother pap B See Auction Sales, page De Benin XO. 14,631. ‘Weather Forecast: SHOWIN, A ? and the Answer. 4,610 employets advertised for help in The World yesterday. The next highest paper carried only $16. sets daar ich i Ere om sae ‘New York City? mn IMA GOLOMAN 1 JAL HHARGED WITH CONSPIRACY. ht Hiding in a Chicago Flat and/ ken to Police Headquarters—A| ant Is Served Formally Accus- ‘Her of Plotting to Murder Presi- McKinley. | NTLY DENIES THAT HE INSPIRED) CZOLGOSZ. iy Declares She Met Him Only Once i) Only for a Momehit—Makes a De-| lement Covering H¢t Movements for| + |DR. CHARLES M’BURNEY DISCUSSING THE PRESIDENT'S CASE IMMEDIATELY AFTER COMING FROM THE MILBURN HOUSE (REISER A IEEE EERE ERR ses teievacds Remove Several Stitches Be-| cause of Slight Irritation Due to! Presence of a Fragment of Mr. Me- Kinley's Coat, Carried Into the ‘Wound by the Bullet, but They De-| ients Condition Is Un-| Xin All Important Particulars, AKES FOOD FOR THE FIRST TIME, Dr. McBurney Had Planned to Leave for New| York Last Night, but He Postpones His De-| parture and Takes Part in a Consultation: of| Surgeons. that Lasts for Two Hours—Latest Operation Will Delay Healing of Wound. IAT. RULER TIN AEB UR: NW HoUsK, RUED ne iy aA eID ONLY TO-NIGHT, sanury On, Awoount Of Chin alight verte tetera Dew, ellohes- and. parcistby skin wound. nosdent cannot ai surface wound the healing of the same wi firowhut delayed: Prosident is now ment by: the | enough to begin to ; in the form of pure BRIN MRS. a McKINLEY KNOWS oP THY MOOTING NOW; SHOWS SUCH COURAGE THAT PR said Sie Corlelyue, ia reply (0 further quewtlons “Ui Oo CEU ESTA CAINDO! ENDO A FICAR ABALADO FACILMENTE. Pequenos con- tratempos — um cano entupido, o atraso para um com- promisso — me deixam tao perturbado que parece que o céu esta caindo. Pessoas com essa caracteristica podem ficar sem saber 0 que fazer com o céu no dia em que ele realmente cai. Até 11/9 meus traumas eram mais ou menos auto- aplicados, mas fugir da nuvem toxica que mo- mentos antes pairava sobre a torre norte do World Trade Center me fez patinar na falha onde colidem Historia Mundial e Histéria Pessoal — intersegao sobre a qual meus pais, sobreviventes de Auschwitz, haviam me avisa- do quando me ensinaram a viver sempre de malas feitas. Precisei de muito tempo para superar as torres em chamas. Historia pessoal a parte, os enderegos das pessoas pa- reciam estar relacionados a intensidade de suas reacoes. Muito tempo depois que os nova-iorquinos do norte retoma- ram seu jogging diario no Central Park, os que — como eu — moravam no sul de Manhattan viram seu bairro transformado num desses condominios suburbanos murados, tendo de exibir o RG nas barreiras policiais da rua 14 para serem auto- rizados a voltar para casa. Sé quando visitei uma univer- sidade do Meio-Oeste, no inicio de outubro de 2001, entendi que os nova-iorquinos estavam histéricos em comparacao com os outros, para quem o ataque era uma abstrag4o. A agresso ao Pentagono con- firmava que a carnificina de Nova York era na realidade um ataque aos Estados Unidos, e nao uma arruaca a mais em solo estrangeiro. A cidadezinha que visitei em Indiana — arvorando tantas bandeiras que me lembrei do alho pendurado na porta para afastar os vampiros — estava pelo menos tao excitada com as pequenas infracdes de uma comunidade estudantil local quanto com as ameagas de “terroristas de cabega oca”. Parecia que eu entrara numa versao invertida do famoso mapa dos Estados Unidos de Saul Steinberg visto da Nona Avenida, onde o mundo conhecido acaba no rio Hudson; em Indiana, tudo o que estivesse a leste das Alleghenies estava muito, muito longe. Uma de minhas percepgées de quase-morte no momento em que a poeira comegou a baixar na Canal Street foi a profundidade de meu afeto pelo bairro cactico que posso sinceramente chamar de lar. A leal- dade a esse nticleo nao desfeito no caldeirao de etnias é o maximo que consigo produzir em matéria de patriotismo. Eu seria incapaz de me imaginar trocando minha cidade pela seguranga, por exemplo, do Sul da Franga, para depois abrir meu Herald Tribune em algum café e ler que Nova York virara lixo radiative. A compreensao de que agora sou um cosmopolita “enraizado” é mencionada na quarta pagina dos quadrinhos das Torres Ausentes que se seguem, mas a epifania nao declarada que subjaz a todas as paginas é apenas implicita: naquela manha tomei a decisao de voltar a fazer quadrinhos em tempo integral, mesmo que fazer quadrinhos possa ser tao terrivelmente exaustivo que para fazé-los seja preciso fingir que se vai viver para sempre. Naqueles primeiros dias depois de I!/9 me perdi construindo teorias conspiratérias sobre a cumplicidade de meu proprio governo no que acontecera, teorias que fariam o orgulho de qualquer francés. (Minha suscetibilidade & conspiragao tem raizes no passado re- moto, mas seu pico anterior fora atingido depois das eleigoes de 2000.) S6 voltei aos eixos quando ouvi arabes-ameri- canos parandides jogando toda a culpa nos judeus. Conclui que nao era tao importante assim saber até que ponto exatamente meus “lideres” ja estavam informados sobre os seqiiestros — bastava constatar que na mesma hora eles haviam instrumentalizado 0 ataque para sua propria agenda. Enquanto eu me deprimia no es- tudio, minha mulher, Francoise, feito uma Joana d/Arc, batia perna em busca de abrigo tem- porario para amigos de Tribeca que haviam ficado sem teto, introduzia-se nas areas de aces- so proibido para levar agua as equipes de resgate e, como edito- rade arte da The New Yorker, até conseguia extrair de mim uma capa para a revista: uma imagem em pre- to sobre preto das torres depois do ataque, publicada seis dias apés 11/9. Eu passara boa parte da década anterior ao milénio tentando evitar fazer quadrinhos, mas de algum momento de 2002 até setembro de 2003 dediquei- me ao que se tornaria uma série de dez paginas em grande escala sobre 11/9 e suas conseqiiéncias. A idéia original era que elas saissem como uma série semanal, mas muitas das paginas me tomaram mais de cinco semanas para serem concluidas, de modo que perdi até meus prazos mensais. (Como faziam os cartunistas dos jornais do inicio do século xx? Sera que os bebedouros de Hearst tinham anfetamina?) Eu me habituara a canalizar meus modestos talentos para a redagao de textos e a confecedo de capas para a The New Yorker. Como um agricultor pago para nao cultivar trigo, eu ganhava mais se deixasse em repouso minha capacidade de reunir as duas disciplinas. Uma inquietagao com a The New Yorker anterior a 11/9 cresceu a medida que a revista se acomodava antes mesmo de eu conseguir me acomodar. Eu queria fazer quadrinhos — afinal de contas, o desastre é a minha musa! —, mas o tom complacente da revista nao parecia desembocar na comunicagao de medo histérico e panico. No inicio de 2002, quando eu estava na fase de fazer anotagdes para uma futura tira, recebi de meu amigo Michael Naumann uma oferta for- tuita para fazer uma série de paginas sobre qualquer tema. Pouco antes, Naumann virara editor e publisher do Die Zeit, semanario alemao em grande formato. Eu poderia ficar com os direitos para outras linguas e tinha garantia de nao-interferéncia editorial — ofer- ta que nenhum cartunista em seu juizo perfeito recusaria. Tampouco um cartunista em seu juizo imperfeito. A escala gigante das paginas de papel jornal coloridas parecia per- feita para arranha-céus de dimensdes exageradas e acontecimentos desproporcionais, e a idéia de trabalhar em unidades de pagina iOGNIVS VLS3A NAD O inteira correspondia a minha convic¢ao existencial de que talvez nao vivesse o suficiente para vé-las publicadas. Eu queria extrair os frag- mentos da minha experiéncia das paginas da midia que ameagavam engolfar o que eu estava vendo, e a natureza de colagem da pagina de jornal estimulava meu impulso de justapor meus pensamentos fragmentarios em diferentes estilos. Aimagem central em minha manha de {1/9 — que nao teve fotos nem videos gravados na memoria do publico mas mesmo assim continua marcada no interior de minhas palpebras — foi a imagem fantas- magorica da estrutura resplandecente da torre norte logo antes de ela se desfazer. Tentei inimeras vezes pintar esse quadro, com resultados humilhantes, mas acabei chegando perto de capturar di- gitalmente a cena da desintegracao, em meu computador. Consegui dispor algumas seqiiéncias de minhas memorias mais vividas em torno da imagem central, mas nao consegui desenhar outras. Tinha planejado desenhar a travessia torturante.d Escola da Organizagao das Nacoe alvo provavel naquela manha,e de choro, que abalou meus fi mentos que provocaram.me 7 reunidos, ito m Be qu Eu pretendia fazgr-uma seqiiéncia sobre minha filha Nadja instruida a ve ermelho, branco e azul en.sesif na escola sdeant ) ara*Ofide fora enquanto triagem. & filha pap ; ara ‘ocasiao. terror”, sobre'Os béatos U ram no resgate, de eR canco) enquan quadrs. seriami por tudo a Zero assi arranjos dé flores tiveram Seu divisdria entrao sul de Manhattan e 0 resto da levado pelas chuvas e pela policia enquanto o peladamente para nossa “ comecou a se ins#alar Brother de ser,ea pred no lraque — enquanto seus genuinamente mais seguro iam.p de unhas nos aeroportos —, todg a eleigdo de 2000, toda a parandia que mal conse; depois de 11/9, voltaram com forga total. Novos fraul a competir com as feridas recentes e a naturéza comegou a se metamorfosear. Ze eiro morador.de Trib: c a es 9 “uma spss Oa as pegar mulhér?. eile im mais desintumesced@ Eu nunca tivera vontade de ser cartunista politico. Trabalho muito devagar, nao da para reagir a acontecimentos passageiros enquan- to eles estao acontecendo. (Levei treze anos para dar conta da Se- gunda Guerra em Maus!) Além disso, nada tem validade tao curta quanto caricaturas iradas de politicos, e muitas vezes eu abrigara vagas idéias de trabalhar para a posteridade — idéias que me pare- ceram absurdas depois que fui lembrado do carater efémero inclu- sive de arranha-céus e instituigdes democraticas. Quando a série tomou impulso, encontrei minha propria “coalizao dos dispostos” a publicar com o Die Zeit. A maioria dos ilustres jor- nais e revistas que encontraram um modo de acomodar o formato grande, o conteudo acido e o cronograma erratico estava sediada na “velha Europa” — Franga, Italia, Holanda, Inglaterra —, onde minhas posigoes politicas nao pareciam radicais. 0 conceito de imprensa abertamente militante tem muito a seu favor. Na América encontrei ie bem menos entusiastica. Exceto a imprensa alternati- querda, as-publicagoes destacadas que solicitavam ativa- trabalho (inclusive a New York Review of Books e o New New er) fugiram correndo quando lhes Osy da série. S6 0 semanario de tigio em. lingua inglesa do outrora Screvel Zs e publicou os trechos cc hamei a atencao do 6 6 fato de que minhas , diferentemente das pag @ 0 jornal havia pecificamente bem. Vocé ¢ judeu”, a perder tudo com um simples iba suja. Ainda acredito que o P eg, elwire— Nova York, I6 de fevereiro de 2004 Aquelas torres desabando entraram queimancio no cérebro de todo mundo, mas eu moro ao lado do Ponto Zero e vi tudo ao vivo. Em primeira mao. Ainda velo a torre > / g : i na Baixa Manhattan, incandescente a desabar, [igs =e A \\ com os decios bem 4... é dificil re uma caret se “|... mas eu me sentiria um [a morrer! Eu sempre meio que 44K idiota se houvesse outro f| suspeitei, mas aquela manha n desastre enquanto eu ainda f] te convenceu mesmo... y 4 11/9/01 - 15/2/02 estou falando do diltimo... oof giegelwou— 2002 CONDENADO! Condenado a arrastar este maldito albatroz pelo pescoco econtar compulsivamente ‘S calamidades de 11/9 para qualquer um que me escutar!.n Evinsisto que o cé 1 E es a Get hi tnd rag nto do een - ¢ Disturbiode Stress Pos-Tracmatiog vO que me ser uma resposta Fa2oavel para 08 Gltimos acontecimnen' & SOMBRA DAS TORRES AUSENTES « NOTAS DE UM NARCISISTA DESILUDIDO Deixei a barba crescer enquanto os afe gos va A filha deles tinha comeqado © colegial trés dias antes, bem no pé das torres. ATERRORIZADO PELA AL-QAEDA E POR SEU PROPRIO GOVERNO... nosso Heréi olha uma pagina de quadrinhos antigos, em vez de trabalhar, Ele adormece e revive mais uma vez 0 desastre daquele dia, tentando entender o que vi... Viu as torres queimancio enquanto ele e a mulher corriam para Canal ‘Street, em direcdo a escola... ART! ESQUECA O MALDITO TELEFONE. CORRAL : 5 ri Ia Esctranho... gods o 11 cle No erttanto ouviu a exploséio Pea) cuacra seguince. cote zeraaoe iE secertro ane *okticc” I ensurdecedora pela janela. 7 ars 4 Effex insistiram na Morte da Ironia. B T prumesee —_— r F — M €u estava na escola procurando Mm Acuelas caixas eram arrogantes, Nadja quando a Primeira torre mas agora sinto falta das sacanas, fot Parecia 0 fim do mundo Teones de uma era mais Inocente. 2 it Falel que a outra torre : Se rio fosse toda a tragédia e morte, cai bem atras da genteP é eu poderia dizer que Foi uma critica Foi Impressionante. Lf arduitetSriica radical. oe ‘ gee See Ef ce EEE re OE £ s 6 Eles correram até a escola da filha. Seus dois macos por dia rigo aludaram esse tipo de exercici Lembro de meu pai tentando descrever © cheiro da fumaga em Auschwitz, A escola de Nadja Virou um centro de resgate. As criangas foram para outra escola, HA 3 MIL CRIANCAS AQUI. VAMOS ENCONTRAR SUA FILHA! B if SS ree] \ Ml Eles foram os Gnicos pais que puderam entrar. Histeria tem suas vantagens... { poster mas algins pais protestaram er ele ser forte, demais, sae O mBximo que conseguiu foi dizer que era... “indescritivel’, ELA ESTA HISTERICA! OEIXE ELA ENTRAR PARA SE ACALMAR. Alguns pais ficaram bravos. porque Os filhos ian perder wumag-aulas!... NBs aghamos Stime que sossa filha estivesse longe do Poh to Zero. Le} Ele concluiu que os marcianos tirham lnvadico, que Paris estava queimanco £ claro que nosso governo vom mentinds sobre a qualidadeue ar. EW had quevia jn voltasse, Par aquela ie estou sendo parangico! "1 “8 ar da Baixa Sehat thie uma poco Zz is braca que faa gO Ze a Canal parecer um spa! QUE UM AVIKO ACABA DE EXPLODIR NO PENTAGONO. CONDICGES ESPECIAIS DE HOUE... NENHUM ESTUDANTE PODERA SAIR PARA O ALMOCO! Voltou tudo: a6 FiPamos, normal... mag © que na eseala | eles podem fazer? at Ent Evacuar a cidade eee, ee me i Kg RAS. A tio ansiogo que estou fumande mais de que se3S3en vp Ss & BD LEMBRAM QUE EU DIZIA SER UM "COSMOPOLITA SEM RAIZ, SEM LAR, EM QUALQUER LUGAR DO MUNDO"? EU ESTAVA ERRADO... \ ZAP Logo nossa tranalila rua do Soho estava CHEIA de paparazzi. E durante dias as equipes de filmagem permaneceram no perimetro do Ponto Zero... OLHA AQUI A PASSARRINHO! Os corpos caiindo ele viu na TV $6 depois... Mas 0 cue realmente iu ficou para sempre na Sua cabeca. FINALMENTE EU ENTENDO- POR QUE ALGUNS JUDEUS Na Canal Street, passaram por um cara que pintava as torres. Ao sul, $6 conseguiam ver @ fumaga téxica subir em grandes vagas... ‘© maldite modelo tinha se mexido. Apesar de nunca ter tido uma camiseta "| NY", ele sentia um tormento de afeicao por ruas familiares e vulnerdveis. ELEFANTES REPUBLICANOS DESTRUIDORES... ABOBADOS JUMENTOS DEMOCRATAS. NAO E A TOA QUE OS AMERICANOS DE VERDADE NAO SE IMPORTAM EM VOTARE OS DOIS ANIMAIS PARTIDARIOS SAO AMBOS DINOSSAUROS DO SECULO XIX, INTERESSADOS APENAS NA PROPRIA SOBREVIVENCIA! PRECISAMOS DE UM PARTIDO QUE NOS Piatti ti eds eo ae ae ULE) aRT/d9 po AVESTRUz: x VN Tre eet A. SEUS-COMPATRIOTAS-ANTES QUE SEJA TARDE... VANTEM='SE &_ENFIEM SUA CABECA NA TERRA ea, DAS ELIXIRDASDEUSS! , ms MORRAM SUAS AH-RA! AQUI QUTRRO VESPA score aa HERREGES PODRRES! QUE N4O Fo4 MAIS!’ TIO! ALECKERS ESPERRTAS DE NU AGORRA £ GUERRA =e ! 4 “ YORK, E V8 SE EU ME /MPORRTAM! Vn BRRAVAS QUE NUNCAL w+. até a tarde de 11/9. Apés Finalmente chegarmos em casa, eu cambaleei pelas ruas enmas até 0 estiidio... VYUDEU SUJSO/ VAMOS: PENDURAR VOCES NOS POSTES DE LUZ/ MALDITO YW VOCEL QUE DROGA, MULHER! SE VOCE NKO PARAR DE CULPAR OS JUDEUS POR TUDO, VAO ACHAR QUE VOCE E LOUCAS A nid ser pelas sirenes e pelos jatos no céu, no dia seguinte meu bairro era uma cidade-fantasma... OUVIU, JUUDEUP UM POR UMIL! Mas por que essas bandeiras provinciaras dos B EVA tirham cue brotar das brasas do Ponto Zero? co oy EU DEVERIA ME ve) J SENTIR MAIS SEGURO \\ SS AQUI ENBAIXO, MAS ys = DROGAL NKO CONSIGO VER NADA! O en Ue ae See es mundo para ajudar a unir | Beers aS pessoas. ye UA ee 2S a if i evs As estrelas e listras s&0 um simbolo de unidade considerado um estandarte de guerra. O mapa detalhaco da eleigaio de 2000 (aquela que pés a besta no comando) deixou claro que somos Ele quase nao esteve na Zona Vermelha, onde costumam uma nagio SOB DUAS BANDEIRAS! @ se concentrar os 44% de americanios que nao acreditam em Evoluczio. Meso quando visitau estados "Republicatios’, ele em geral acabava no condado Azul-Claro... SE VOCE NAo ESTA REVOLTADO, NAO ESTA LIGADO DESDE 12/9 ey 50m 6o10N a BSS ronta-caseca Ele comhece rarissimos que sf a Favor da guerra e ninguém que tenha votado naquela criatura da Casa Branca. O estado em que vive é de alientagao, no interior do coracao anil-escuro da Zona Azul... |A SOMBRA DAS TORRES A COMECE! ESTA TACINA BEM QUANDO MEU GOVERNO NAO ELEITO COMEGAVA SUA GUERRA PARA COME¢AR TODAS AS GUERRAS... JK E CERTO QUE MUITOS SOLOADOS AMERICANOS 3 IRAQUIANOS e < : wio ESTARAO. a € ATE ALGUEM LER 1950, E BEM fossiveL QUE ESTEJAMOS BOMBARPEANDO MALFEITORES EM... PARIS, TALVEZ ME PREOCUPO SE NY OVEV AINDA VAMOS ESTAR POR AQUI FARA VER SE MINBA PAGINA Fol BEM IMPRESSA. (onan ay 5536 re DROGA! ESSE REGIME’ NAO OUVE NEM SEUS AMIGOS, MAS SE EV ME VESTIR DE Devs € ENTRAR WA CASA BRANCA... ¢ = y QUANDO 0S AVIOES MEUS “LIDERES" ESTAO BATERAM NAS TORRES, LENDO OLIVRO DAS EU FI JOGAPO NUMA iva vave REVELAGOES... E EU, A REALIPADE PARALELA one, FICGAO PARANOICA DE DZ ONSE GEORGE W. 3 PHILIP K, DICK. BUSH ERA O PRESIPENTE bane —— SS OLHE! UM CARA QUE TINHA SID0 DADO COMO MORTO NO PENTAGONO ESTAVA NA VERDADE NUM 00s AVI UE BATERAM NAS TOR! O PRESIDENTE BUSH VAl ESTAR HOJE NO PONTO ZERO, ONDE... y U: DESLIGA ESSA PORCARIA, \ Anca 6 TERRORISTAL WORP FoR NOTHIN'LEFT T° LOSE. © a wiegewvou— (A.5. fora de A.5!) 29 de abril - 27 de maio de 2003 8 ARABE TINHA KNOW-HOW PARA VOAR.. PENSE! Que rERDERIA | PERDIFO! A CABECAE MINK ICELA DE FE NOS EUA QUANDO | Chena rovov 9PobeR.nnece ESTA € MESMO A TERRA DOS LivRE’ (Numa festa em Tribeca, 3/11/01...) nema ZAZOU, NOSSO GATO DE I7ANOS, MoRgEL,,, A GENTE Apotou ESTE CARINNA PORQUE GLE € MEIO PARECIDO! an E A PREOCUPAGAO DE NY COM AS TOXINAS LIBERADAS PELO 1114 E DESLOCADA PELO NOSSO OX VE PREFEITO, QUE CRIA UMA LEI PROIBINDO FUMAR EM BARES! * Martha Stewart, empresiria da dread PODE SER UMA FORMA BENIGNA DE "DESLOCAMENTO". NUMA FORMA MAIS SINISTRA, E A ULTIMA MANIA NOS EVA. QUE NEM QUANPO A GENTE PEMOLIU O IRAQUE EM VEZ OA AL-QAEDA... 05 PILANTRAS DA HALIBURTON, AMIGOS PO CHENEY, SAO RECOMPENSADOS. A GANGUE DA ENRON APLICA UM GOLFE BILIONARIO... £ EA MARTHA STEWART* QUE FAGAO PATO”? Um CARA VEIO"POR TRAS DE (itd € PUXOU UMA FACA! 9 O N.Y, TIMES DESLOCA SUA CULPA POR PUBLICAR COMO FATO AS LETAIS FICGIES 00 PENTAGONO SOBRE AS BOMBAS 0 iRAQUE... Al PUBLICA UMA DESCULPA DE 7 MILPALAYRAS PELAS MENTIRAS INCONSEQUENTES DE UM JORNALISTA MENOR! MEROA!¢s5A CANGUE No PODER ME DEIKA TAO LOUCO QUE EU PODERIA GRITAR! ELE ME JOGOU CONTRA UMA | PAREOE, PEGOU MINHA BOLSA € SAIV CORRENDO! i 1 PERLE A SCL COLECIONE ee ss Ba Dd en PETROLEO. (OP eta ace Cara) PUI TESTEMUNHA LEMBRANCAS VVAS OCULAR DO BOMBARDEIO DOS HORRORES DO KITCH A VENDA NAQUELE PONTO ZERO NO 11 DE DIA... E QUASE VIREI UM AINDA TENHO SETEMBRO... DE 2002! JM PARTICIPANTE! ‘A NBC VAI TRANSMITIR UM "CONCERTO PARA A AMERICA" EM 11/9 DIRETO DE WASHINGTON, EM 12/9 OS RELOGIOS VOLTARAM A ANQAR.... ISO QUE ATE A ADRENALINA DE NOVA-IORQUINOS ‘APLITOS ACABA E... MAS TODO MUNDO SABIA QUE ERA UMA BOMBA-RELOGIO. +NOCE VOLTA A PENSAR QUE TALVEZ VINA PARA SEMPRE, APESAR DE TUDO! ee aa eat E TOM BROKAW DIZ AQUI QUE VKO SAA eae ee QUER VOCE A IPERGUNTAR COISAS| NUMAS 00 TIPO “QUEM ENTREVISTAS COM € 0 MEU HERO! Ie NOVA-IORQUINOS AMERICANO"! Logo depois de 11/9/01) enquanto esperavam algum outro sapato terrorista cai, muitos encontraram conforto na poesia. Outros, nas velhas tiras de jornal. IDE VISTA NUNCA APARECE NA TV! £m 11/9/03 “o indescritivel odor da morte” aimala nos agride enquanto comemoramos 2 anos de oporturidades esperdicadas cle unir a comunidade das nacées... |A GENTE INSERE ELE DEpois. COMEGO UMA FRASE E VOCE TERMINA, O.K.? HMM... MINHA COMIOA, AMERICANA FAVORITA €... BOLINHO TAI DE CAMARKO! BOM, A GENTE PODE TIRAR 1SSO NA EDICKO! "0 LUGAR DA AMERICA ONDE EU ME INTO MAIS AMERICANO €..." VAMOS LA: "MINHA COMIDA ‘AMERICANA FAVORITA €...* Per esie E setembro de 2O04P Botas de caubél vao cair No Ponto Zero quando NY se transformar num palco para a Corivencdo Republicana, e Tragéciia for transformada em Parédia... ws. HR QUE € PERMITIDO PENSAR QUE A AMERICA NKO E TAO BOA ASSIM, DESDE QUE VOCE NAO SEJA ARABE! PUTZ! DEVIA TER DITO "TABACO AMERICANO"! SUSPIRO. "A | b s é j r : MELHOR COISA e ‘ | | , DA AMERICA €..." LORE cea AURA ORY cack esate) ee Huplemento de Quadrinkos “Logo depois de 11/9/01, enquanto esperavam algum outro sapato terrorista cair, muitos encontraram conforto na poesia. Outros, em velhas tiras de jornal.” A Sombra das Torres Ausentes, X eituras de poesia pareciam tao freqtientes quanto 0 som das sirenes de policia apos 11 de setembro. Os nova-iorquinos ouviam poesia para dar voz a sua dor; a cultura servia para reafirmar sua fé numa civiliza- Ao ferida. Acho que ouvi “1° de se- tembro de 1939”, de Auden, uma du- zia de vezes naquelas semanas, mas minha mente ndo sossegava. Musica tampouco me aliviava, pois me pare- cia algo obscenamente delicioso. Os tinicos produtos culturais que ven- ciam minhas defesas e afastavam de meus olhos e meu cérebro as ima- gens das torres em chamas eram ve- thas tiras de quadrinhos; criagdes efémeras, vitais, despretensiosas, do inicio otimista do século xx. Execu- respeitado da Escola Ash Can). Os dois Garotos dominavam 0 panora- ma nova-iorquino. Em 1897, quando o piblico volivel ja se cansava de seus Yellow Kids, Hearst apresentou 0s ATZENJAMMER Kips, Hans e Fritz, uma criagdo de Rudolph Dirks. [Ver alto desta pagina e prancha IV.] Inspirados na historia em imagens alema do século xix Max ¢ Moritz [Juca e Chico, no Brasil], de Wilhelm Busch, os “Katzies” intro- duziram o quadrinho no século Xx. Dirks adotou e inventou dispositivos que seriam 0 léxico basico dos qua- drinhos: baldes para as falas, gotas de suor, tragos para movimentos fre- néticos... Suas paginas, as primeiras a por em cena personagens constantes tadas com competéncia e verve, sem a pretensdo de durar mais do que 0 dia em que saiam no jornal, eram pungentes. Nada mais adequado pa- ra um momento de fim-de-mundo. Ha cerca de cem anos e a dois quarteirdes do Ponto Zero, Joseph Pulitzer e William Randolph Hearst, ti- tas do jornalismo moderno, criavam as tiras de qua- drinhos de jornal como subproduto de uma feroz guerra de tiragem (que conduziu a guerra real, em torno do possivel afundamento acidental de um na- vio damericano em Cuba). O relato distorcido que fize- ram da guerra hispano-americana — primeira aven- tura colonialista americana — teria deixado a Fox News orgulhosa. Esse sensacionalismo foi alcunha- do “Jornalismo Amarelo” e seu simbolo era o Yellow Kid, moleque de rua cujas falas apareciam no cami- solo amarelo-vivo. Ele saiu no primeiro suplemento de quadrinhos dos vA, langado por Pulitzer em 1893, Pulitzer resolveu edificar os leitores do New York World, muitos deles imigrantes incultos, com repro- ducdes coloridas das grandes obras-primas da arte mundial. Para isso, desenvolveu um dos primeiros prelos em cor para jornal. O resultado, berrante e fora de registro, ndo fez jus a tarefa, mas a tecnologia era boa para desenhos de contorno definido e cores planas. Assim, em 1893 nasceu 0 primeiro suplemen- to dominical de quadrinhos em cor. Era a Grande Arte destinada as massas que chegava. Em pleno século xxi, nossas érbitas exaustas nao ava- liam 0 impacto das exuberantes manchas de cor de Pulitzer num mundo de tipos cinza, mas na época foi um Grande Negocio (literal e figurativamente: uma pa- gina de 43 x 58 cm inserida no jornal que custava alguns centavos). Toda semana saia um novo quadri- nho com os mesmos personagens. HOGAN'S ALLEY [prancha IN, de Richard Outcault, trazia uma gangue de moleques num gueto do sul de Manhattan. As cenas A explosdo que desintegrou aquelas torres da Baixa Manhattan também desenterrou fantasmas de algumas estrelas de suplementos dominicais nascidas ali perto, na Park Row, cerca de um século antes. Eles voltaram para assombrar um aturdido habitante do bairro. ; A Somera as Torres Ausentes, VI de comentario politico e social de Outcault (um Hogarth alegremente sociopata) exibiam violéncia caluniosa, tortura grotesca com animais e 0 racismo jubilante da época. Em Hogan's Alley um moleque de camisolao amarelo-vivo tornou-se imensamente popular. Foi a primeira estrela do quadrinho e a primeira proprieda- de intelectual importante dos EUA. O empreendimento provocou em Hearst um caso grave de inveja-do-su- plemento. Em 1896 ele inaugurava uma segdo concor- rente de cartuns no New York Journal estrelada pelo... Yellow Kid de Outcault! O Journal apregoava as mar- avilhas de seu suplemento como “Oito Paginas de Resplandecéncia Policromatica que Faz o Arco-iris Parecer um Tubo’de Chumbo!”. Nelas, 0 Garoto de Hearst agia no McFadden’s Row of Flats, enquanto 0 Yellow Kid “original” continuava na Pulitzer’s Alley, agora desenhado por George Luks (mais tarde pintor em painéis seqiienciais, faziam um yaudevile niilista (inclusive com fal- so dialeto alemao) do desejo monoma: niaco dos dois moleques de implantar 0 caos no mundo adulto, “Mit dose kids, society is nix!", dizia, severo, 0 Inspetor — 0 policial barbudo e desocupado da tira, Ao trocar Hearst por Pulitzer em 1914, Dirks cha- mou sua tira de The Captain and the Kids {Os so- brinhos do capitéo, no Brasil], enquanto os gémeos originais eram genialmente clonados para Hearst por Harold Knerr, que os desenhou por décadas sem mudar 0 titulo da tira. No auge da febre jingoista da 1 Guerra, durante um curto periodo os personagens de Knerr foram rebatizados como The Shenanigan Kids, Mike e Alek, prentncio da recente experiéncia americana no campo do eufemismo. vingativo que criou as freedom fries. (Os garotos de Dirks perde- ram 0 sotaque durante a guerra e tentaram se pas- sar por holandeses.) Seja como for, talvez os pe- quenos terroristas sejam imortais, pois aos 107 anos de idade ainda aparecem capengando em alguns jor- nais do século xxI. Os Katzenjammers inspiraram algumas imitagdes e ramificag6es e originaram todo um género. Transmu- tacdo mimosa, 0 incansavel Vové Raposo de “Bunny” Schultze frustrava os planos dos dois netos — peral- tas um pouco mais socializados do que Hans e Fritz —e tornava o suplemento de quadrinhos menos an- siogénico para leitores maduros perturbados pela visao constante de adultos sendo explodidos. Em 0 GLORIOSO 4 DE JULHO, de 1902 [prancha IV], quatro cartunistas presos nos dominios de Hearst tratam de mostrar os garotos de Schultze suplantados pelos de Dirks, Hans e Fritz: eles dinamitam a leitura patrid- tica que Vov6 tenta fazer da Declaracao de Indepen- déncia. Ferido na explosio, Alphonse — um dos dois franceses patologicamente bem-educados criados por Frederick Opper — explica a Gaston: “Eu detesto 0 4 de julho”. E como eu digo, algumas dessas pa- ginas centenarias de jornal, que se desmancham de tao velhas, podiam ter sido desenhadas ontem! Frederick Burr Opper, patriarca dos estadistas entre os pais fundadores do quadrinho, ja era um ilustrador bem estabelecido e cartunista-estrela da Puck Maga- zine quando foi atraido para os dominios do The Jour- nal, em 1899, para dar alguma classe a publicacdo. Felizmente, a classe que levou era vira a pagina de ponta-cabega. “O palacio encantado”, de 1904 tem minaretes e umbrais gémeos. Muffaroo transmuta seu género ao tornar-se Lovekins, “fadin- has engracadas” viram “detestaveis duendes” e um génio se transforma em touro furioso. As paginas de quadrinhos sao estruturas arquite- t6nicas: a sucessdo narrativa dos painéis é como os andares de um edificio. Ao passo que um artista energeticamente baixa. Em pouco tempo Opper absorveu e expan- diu a linguagem emergente dos quadrinhos e ofereceu ao publico uma galeria memoravel de perso- nagens cOmicos, O mais inesque- civel deles, naquelas tiras quase esquecidas, foi HAPPY HOOLIGAN [prancha V], vitima chapliniana avant Ia lettre cujo chapéu de lata foi tao icénico quanto o chapéu- coco de Chaplin. No dia 27 de agosto de 1911 0 pobre vagabun- do, descrito por Opper como “fi- lho predileto da Desgraga”, troca a lata por um turbante e vira Abdullah Hooligan, palhaco de circo de pele escura que irrita seu camelo e é arremessado sobre uma... torre de acrobatas! Contratar Opper fol uma medida cautelar de Hearst para repelir as acusagdes de vulgaridade, violén- cia e analfabetismo dirigidas aos novos suplementos de quadri- nhos um ou dois segundos depois que eles nasceram, Seu pecado era serem suplementos domi- nicais ¢ circularem no dia em que as criangas devem estar na esco- la dominical estudando a Biblia, € nao distraindo-se com aulas se- mi-analfabetas e esfuziantemente coloridas. Na verdade, o perpétuo cabo-de-guerra entre as culturas vulgar e erudita na América pro- duziu muitos frutos: 0 jazz de pu- teiro de Nova Orleans e a “Rhap- sody in Blue”, de Gershwin. 0 Chicago Tribune \angou os KINDER KIDS de Lyonel Feininger, em 1906 [prancha I como anti- da South Street. Um gigantesco Flip (seu parceiro mastigador de charutos) tenta alcanga-los e derruba os edificios altos préximos ao local onde as torres gémeas tombariam, 94 anos depois. George McManus, colega de McCay, transferiu a sa- ga de Nemo e seus companheiros para o subtrbio numa de suas primeiras tiras, Nibsy the Newsboy, sobre um garoto miseravel arrastado para Funny Fairyland [Divertido Pais das Fa- das}. Depois McManus retomaria seu projeto de longo prazo: levar a comédia doméstica dos sitcoms para os quadrinhos, empresa que culminou em seu classico PA- FUNCIO E MAROCAS [prancha VII]. Apesar de em geral voltar-se pa- - ra 0 conflito conjugal e de classe — Marocas, megera* nouveau riche, tenta arrastar escala social acima © proleta do marido ga- nhador de loteria, Paftincio — 0 episédio se passa numa terra de sonhos onde personagens podem impedir que torres desmoronem. Mas quem me pegou em cheio foi Krazy Kat. O triangulo amoroso Kat-Pupp-Mouse, de George Her- ~ riman, foi universalmente aco- Thido como a joia do chapéu de bobo de minha forma de arte; ao menos uma vez aceito entrar no coro que incluiu juizes culturais como cummings e Umberto Eco. Houve muitas tiras “de uma nota 6” na histéria dos quadrinhos, co- moo efémero Little Sammy Snee- ze, de Winsor McCay, sobre, um vira-lata de roncos potentes que derrubam o que estiver por perto: um carrinho de vendedor ambu- lante e, quem sabe, toda uma ci- dade. Mas, nunca nada se compa- rou a Krazy Kat: a tira lirica e idiossincratica em estilo rabisco- déco apresentava um Kat que adora ser “esmagado por um tijo- lo” jogado quase diariamente por “um rato de maus bofes, Ignatz, que em seguida é perseguido por um certo Offissa Pupp (um buldo- gue discretamente -apaixonado por Kat), que arremessa o vilao doto sofisticado aos grosseiros ‘Katzenjammers. Seu objetivo era atrair leitores en- tre os imigrantes alemaes. As preocupagdes formais visualmente poéticas de Feininger colidiram comi- ‘camente com o carater perecivel da imprensa escrita, seus editores, carentes de humor, guilhotinaram o projeto alguns meses depois. O cartunista, um nova- iorquino emigrado para a Alemanha aos 16 anos, vol- tou para a América em 1937 e virou um respeitado cubista da segunda geragdo, um dos Bauhaus boys. Mas o maior trunfo estético de Feininger é 0 punhado de paginas dominicais que testou as 4guas niio ma- peadas entre a arte elevada e a baixa, a tradicao gra- fica da Europa ea dos EUA. A primeira década do quadrinho foi o Ano Zero do género, 0 momento da possibilidade ilimitada e da desorientagao febril forgadas a ceder terreno diante das restrigdes surgidas 4 medida que o género se definia. Uma das anomalias hilariantes daquele mo- mento desalinhado foi a criagdo efémera de Gustave Verbeck, 05 ALTOS E BAIXOS DA SENHORITA LOVEKINS E DO VELHO MUFFAROO [ prancha IIT), Experiénicia ousa- damente engenhosa em matéria de compressdo, essas tiras se transformam magicamente quando 0 leitor excéntrico como Verbeck conseguia virar a estrutura de cabeca para baixo, Winsor McCay, 0 génio da primeira década do quadrinho, desenhava estruturas monumentais destinadas a durar. Um dos primeiros inovadores importantes do cartum animado e tam- bém dos quadrinhos, McCay dava forma a nossas vidas oniricas, téo concretas em suas figuragdes quanto Feininger era abstrato, Em LItTLE NEMO IN SLUMBERLAND [prancha VI], sua criacdo instantanea- mente popular iniciada no New York Herald no fim de 1905, ja estamos longe da Hogan’s Alley. Nemo, filho de uma familia de posses, toda noite viaja para um pais de sonhos de arquitetura barroca e cenarios de circo. La, perambula com a filha de Morfeu até a hora de acordar, aborrecido, no tltimo quadro. Mu- dangas de escala (dos quadrinhos e de todo o resto), figuras voando e caindo ea arquitetura fantasiosa do mundo real da bem-amada Nova York de McCay do- minavam aquelas surpreendentes paginas semanais. Em nosso exemplo de 29 de setembro de 1907, um Nemo descomunal e seu amigo, um filho da floresta, vagam nos canions da Baixa Manhattan e avangam penosamente ao longo do East River para os pieres numa prisao feita de... tijolos! Os admiradores da tira podiam ler — e liam — as variacdes cotidianas de Herriman: da alegoria poli- tica (Mouse como anarquista, Kop como fascista e Kat como espirito fugidio da democracia) ao drama psicossexual (Mouse como ego, Kop como superego € Kat como incontido id). Mas a beleza inefavel de Krazy Kat estava no fato de que o assunto da tira era simplesmente um Kat sendo atingido por um tijolo. Ela era a metafora aberta capaz de conter TODAS as historias; e depois de 11 de setembro passei a achar Ignatz muito parecido com Osama Bin Laden! Uma pagina silenciosa de 1936 mostra Krazy uivan- do na paisagem desértica de Coconino County. Kop se une a Kat para formar um duo, depois Mrs. Kwak Wak vem formar um trio. Uma nota extraviada des- penca no quadrinho; os trés confabulam e véem que tém de unir-se a Ignatz em sua cela para formar um. quarteto. O material é profundo. Depois do ataque, ele me veio 4 mente como uma pedrada no meio da testa: no fundo, diz que todo Paraiso tem sua ser- pente e que temos de aprender a viver em paz com a tal serpente! Ainda estou tentando chegar la... Os hin-der - Kids viaJam Partida triunfal dos Kids, na banheira da familia!! FEninger THE WORLD: DOMINGO, 15 DE MARCO DE 1896. — SUPLEMENTO COLORIDO — __ 0 Medo da Gaerra em Hogan's Alley - © PALACIO “@pEPySO}.ANS BA ¥ A9peo STwuL YOUNU E Op}OEp es SuPeAC] OJUNDus weHoy @ ‘Sopjzay end “Vamos entrar!”, exclama a senhorita Lovekins. E, como a grande porta esta aberta, para dentro eles vio! “gn o ered ope un op o Uuna eied so-woUe “Spy STOP sossou sop 9s-esepode ‘opueyoreur res sapuonp Um dia Lovekins e Muffaroo chegam num belo lago, igualzinho a um espelho, e 4s suas margens véem um lindo palacio, para o qual eles rumam. Z 7, Wouter DOTEA NIA S SUP{SAOT Osjo}uy OfopEd Op BuoD sjod ‘opryaure Za ‘guro} OpUose TeayLz3 tn ian Op OxUep ved zea wUIN ep SOpOy TA” NSS p Wy RS —S ; = $ SS SSSS72 CLG ye SS . 73 ate res fe SS SON 3 O Génio desaparece e logo os dois acham os armérios misteriosos. muitas fadinhas engragadas, cantando doces melodias para eles. Muffaroo recorda as palavras do Génio. “Como viio vooés, fadas?”, diz Muffaroo. PRANCHA II] b es sn9s 80 1109 © ba[op 4 100 WEA OsUTUTT ONO} WIN OFFUST Z L4, um enorme Génio flutua até eles numa nuvem de fumaca. “Vocés viio encontrar dois misteriosos armarios”, diz ele. “O da direita podem abrir, mas o da esquerda nio! Nao abram!” “SUUTPUUTO Bi zvp vied eyTE;SEG O OS v-OIge @ EPIgIOI ((, BHOd® 9Fe ox.ioo supptenoT “ses00 sv eta o[@ OpuEND SER m= | | ‘As fadas voltam para dentro do armario e Muffaroo fecha a porta, “O que seré que tem no outro?”, Lovekins pergunta. “Ah, isso nunca saberemos!”, responde o velho Muffaroo. i$ r % ay COMIC SUPPLEMENT LS | BY7 NEYIYORK @ AMERICAN \ YN, i! SLUR 20819087, Ve Re EL CS € ae a ———= © Glorioso Quatro de Jalhol PRANCHA IV -Herode Quavrins = Avtrott eh News Critune — or de.Agoste de1911 = Fhe. 2 o Chefe Arabe? eer at Arte met Bots Riis Rare, Oh boy nooo ; | *s 08 ie O FLIP on 5 f CORRENDO! fi L bdo ‘OH! OLKE Tore: (nts ’ fi oe IRANCHA VI PAPAl, TEMOS QUE: — MELHOR LIGAR} Sees S VISITAR GENOVA fF ANTES E VER SE | SE om’ ENQUANT bee Ms A ESTA! ae . JOMIC SECTION on SUNDAY, MAY 24, 1921 NEW YORK AMERICAN PELO AMOR DE Deus, OLHA AQUELE PREDIO. IMA 1SSO NO CAI, FO! CONSTRUITO 4 ASSIM! NENHAM AQUI, DEPRESSA! BOM, sO SEI QUE E TRABALHO iy DE PREGUIGOSO. O CONSTRUTOR NEM USOU UM ONSERTADO ¢ GORA MESMO!|# pase =f SEN SE EU TIVESSE sIDOO = MESTRE-DE-OBRAS ISSO NUNCA\ TERIA SIDO CONSTRUIDO DESSE JEITO. PRANCHA VII (\\¢ BBs toons —, a HALLIBURTON = xis 80.14 ae aggre pe DE TEMPO FORA DAC CORRIDA. : Tf { ha ict e- JANTIGO PATRAO DE CHENEY Nilo PAPEL OPES) il i \ : 1) KOOP EN S\_ , Declsivo Na PECONSRUGIOOD ae | La "0 wy ARMBES © CONN 5/2/08 wy CHARLES M'BURNEY Ma2@@nNG TH WN PALA jEMGt Ast DR. 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OF TH he prealtand Bees OE yeh “ies ee amis 12/2/08 ; BIN LADEN ATE AS VESPERAS.DA. GUERRA USA'10 SOSIAS P, ae CIENTISTA IRAQUIANO TERIA CONFIRMADO ee PAREM AS MAQUINAS: A "t r lt at the burn hour for an 7 een teaaase st nn sg NOTICIAS Vetus: sree — Reuters 17/11/0 se 4 és DEPOIS DAS DOLOROSAS MaNGiETEs ae oe VIDEO DE BIN LAD BUSH, DES! GOMES ea mae r COV. i a | See a my taken out 100 Reirel sa afore EM LAS 0, a g/4/02 Time 30/12/02 st the Iam eens cea 7 fact that A dressing Mentred by the ORISTA rome at APOSTAS ALTAS, 1 PROTESOS: a cupopy, ALERTA TERE AINGTON si i as PROSTITUTAS E HOMUS HAO De ManFeSTaNTes NY eon Osh aca Weekly World News 31/ RA GUERRA NO IRAQUE si en POD PODE ESTAR SE ian So tea a cata NY Times 16/2/03 BIN LADE 0 PARA BOMBARDEAR RP iaie Diz BUSH — race #4 fe ee RSHINGTON [finer Se eee ESQUEGAM OSAMA, Novn' iio cere uvsnos JWIDADO, SADDAM BUSH APARECE NY Daily New re ATERRISSANDO EM CARGUEIRO le ee peu NY ay 1A DESISTE DE vi ART SPIEGELMAN E autor Do PREMIADO Maus — A HISTORIA DE UM SOBRE- VIVENTE, QUE RELATA A HISTORIA DE SEUS PAIS NO HOLOCAUSTO. TRADUZIDO PARA yr Ae HOM CU Heme ee eS CL Le Premio PULITZER. De 1980 a I991, SpiEGELMAN E SUA MULHER, FRANCOISE MOULY, EDITARAM RAW, RENOMADA REVISTA DE VANGUARDA NA AREA DE QUADRINHOS E ARTES GRA- FICAS, De 1992 a 2002, ELE ESCREVEU E DESENHOU NA THE NeW YORKER, QUE tr TWO url ler Mer Ukelce Weer Mi Lele a LM ea kelelN PRETA, COM AS TORRES GEMEAS NUM TOM MAIS ESCURO. O ARTISTA MORA EM MANHATTAN, EM NoVA YORK, COM SUA MULHER E SEUS DOIS FILHOS, NADJA £ DASHIELL. Em 2003 a Compania pas Letras pusLicou Litrte Lit — FABULAS E CONTOS DE FADAS EM QUADRINHOS, EDITADO POR ART SPIEGELMAN E FRANCOISE MouLy. Ti

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