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Capitulo | DANO MORAL Sumario: |, Contigar A evalua da ro = 3. A curmilayzio do dano materiale o dino moral ~4. Dano moral e gewidade da lesio psicoldgics: 4.1 A posigio da kdade da pretensio inglenizatiria por dano mora: 5.1. Legitimidade de pessoa juridica: $.2, Legitimidade do. nascitar: 5.3. Legitimagio do dano moral no plano do ate ilieito ilidade civil pelo dany moral jurispnidéncia; 4.2, O advogado e o dano moral praticado contns 0 juiz no processo ~ 5. Til passiva em enso de dano moral praticado por meio da imprensa; 5:4. A pesigi atoal da jucisprudéncia em matéria de ofensa moral praticedla pela imprensa ~ 6. Dano moral ¢ lesdo A estética dla pessoa = 7, Danw moral e motte de menor ~ 8. Dano moral e abuso de direito ~ 9, Dano moral em acidente do wrabatho — 10. O problema da liquidagao do dane moral 10.1, Juros © corrego monetiia ~ 11. © earater “punitive” da indenizagdo impusta ao eansator do dono moral = 12, 0 arbitramento da indenizacd0 do dano moral & ato exclusive ¢ indelegivel do juiz ~ 13, Os eritérios a observar n0 anbitraniento jueticial do dano moral: um jalgsmento de prudéneia © equidads ~ 14. A tentstiva do tame de reduzit 0 suubjetivisnio no arbitramento do dano moral ~ 15. Sinfese — 16. Un problema de compettneia — 17. O dana moral e 0 recurso especial — 18, Segure de danos materinis © morais ~19. A reparagio do dano moral 2 o imposte de rersta ~ 20. Conelusies, 1. CONFIGURACAO DO DANO MORAL NO PLANO DO ATO ILICITO Em direito civil ha um dever legal amplo de ndo Jesar-a que corresponde a obrigagao de indenizar, configurivel sempre que, de um comportamento contrério aquele dever de indenidade, surta algum prejuizo injusto para outrem, seja material, seja moral (CC, art. 186). No convivio social, o homem conquista bens € valores que formam o acervo tutelado pela ordem juridica, Alguns deles se referem ao patrimOnio e outros 4 propria personalidade humana, como atributos essenciais indisponiveis da pessoa, E direito seu, portanto, manter livre de ataques ou moléstias de outrem os bens que constituem seu patriménio, assim como preservar a incolumidade de sua personalidade. E ato ilicito, por conseguinte, todo ato praticado por tereciro que venka refletir, danosamente, sobre o patriménio da vitima ou sobre o aspecto peculiar do homem como ser moral. Materiais, em suma, sio os prejufzos de natureza econémica, e, morais, 08 danos de natureza nfo econémica ¢ que “se traduzem em turbagdes de animo, em reagies desagradaveis, desconfortaveis, ou constrangedoras, ou outras desse nfvel, produzidas na esfera do lesado”.' Assim, ha dano moral quando a vitima suporta, por exemplo, a desonra ¢ a dor provocadas por alitudes injuriosas de terceiro, configurando lesdes nas esferas interna e valorativa do ser como entidade indiviualizada? De maneira mais ampla, pode-se afirmar que so danos morais os ocorridos na esfera da subjetividade, ou no plano valorativo da pessoa na sociedade, alcangando os aspectos mais intimos da personalidade humana (“0 da intimidade e da consideragéo pessoal”), ou 0 da propria valoragio da pessoa no meio em que vive e atua (“o da reputagao ou da consideragao social)’ Derivam, portanto, de “priticas atentat6rias & personalidade humana’’* ‘Traduzem-se em “um sentimento de pesar intimo da pessoa ofendida” capaz de gerar “alteragdes psiquicas”” ou “prejuizo a parte social ou afetiva do patriménio moral” do ofendido.® A EVOLUGAO DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO MORAL Se os valores intimos da personalidade sio tutelados pela ordem juridica, havera, necessariamente, de munir-se 0 titular de mecanismos adequados de defesa contra as agressées injustas que, eventualmente, possa soffer no plano subjetivo ou moral Quando se cuida de dano patrimonial, a sangao imposta ao culpado é a responsabilidade pela recomposigio do patriménio, fazendo com que, & custa do agente do ato ilicito, seja inenizado 0 ofendido com o bem ou valor do homem como ser moral. Materiais, em suma, s2o os prejuizos de natureza econdmica, e, morais, 08 danos de natureza nfo econémica ¢ que “se traduzem em turbagdes de 4nimo, em reagdes desagradéveis, desconfortaveis, ou constrangedoras, ou outras desse nivel, produzidas na esfera do lesado”,’ Assim, ha dano moral quando a vitima suporta, por exemplo, a desonra e a dor provocadas por atitudes injuriosas de terceiro, configurando lesdes nas esferas interna e valorativa do ser como entidade individualizada.’ De maneira mais ampla, pode-se afirmar que so danos morais os ocorridos na esfera da subjetividade, ou no plano valorativo da pessoa na sociedade, aleangando os aspectos mais intimos da personalidade humana (“o da intimidade ¢ da consideragéo pessoal"), ou o da propria valorag&io da pessoa no meio em que vive ¢ atua (“o da reputagao ou da consideragio social").* Derivam, portanto, de “priticas atentatérias & personalidade humana." ‘Traduzem-se em “um sentimento de pesar intimo da pessoa ofendida”® capaz de gerar “alteragdes psiquicas” ow “prejuizo a parte social ou afetiva do patriménio moral” do ofendido.® 2. AEVOLUCAO DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELO DANO MORAL Se os valores intimos da personalidade sto tutelados pela ordem juridica, havera, necessariamente, de munir-se o titular de mecanismos adequados de defesa contra as agressdes injustas que, eventualmente, possa softer no plano subjetivo ou moral. Quando se cuida de dano patrimonial, a sangdo imposta a0 culpado é a responsabilidade pela recomposigdo do patriménio, fazendo com que, a custa do agente do ato ilicito, seja indenizado o ofendido com o bem ou valor indevidamente desfalcado. A esfera intima da personalidade, todavia, nfo admite esse tipo de recomposicao. O mal causado & honra, 4 intimidade, ao nome, cm principio ¢ irreversivel. A reparagdo, destarte, assume o feitio apenas de sango & conduta ilfcita do causador da lesdo moral, Atribui-se um valor 4 reparacio, com o duplo objetivo de atenuar o sofrimento injusto do lesado ¢ de coibir a reincidéncia do agente na pritica de tal ofensa, mas no como ¢liminagio mesma do dano moral Pode-se, em suma, afirmar, com apoio em Mazeaud e Mazeaud, que o objetivo da teoria da responsal civil pelos danos morais “nao é apagar os efeitos da lesto, mas reparar os danos” A teoria sobre a sangfio reparatéria do dano moral, conquanto antiga, sofren muitas contestagdes evoluiu Jentamente, até chegar aos termos da concep¢ao atual, A abordagem ao tema do dano moral, com efeito, jé se fazia presente no Cédigo de Hamnrabi, na Babilénia, ‘quase 2.000 anos antes de Cristo, onde ao lado da vinganga (“olho por olho, dente por dente”), se admitia, também, a reparagio da ofensa mediante pagamento de certo valor em dinheiro, permitindo aos estudiosos entrever, nisso, a presenga embrionéria da ideia que resultou, modernamente, na “teoria da compensagio econdmica, satisfatdria dos danos extrapatrimoniais”.’ Também, no Cédigo de Manu ({ndia), havia pena pecunidria para certos danos extrapatrimoniais, como, por exemplo, a condenagao penal injusta. Também em Roma se admitia a reparagio por danos 4 honra, mas, a exemplo dos Cédigos de Harurabi ¢ Manu, a sango era aplicada a certos fatos, e no genericamente. A partir da Lei Aquilia (286 a.C.) e principalmente com a legislagdo de Justiniano, houve uma ampliagio no campo da reparabilidade do dan moral, Ha, contudo, enorme controvérsia entre os pesquisadores do Direito Romano acerca da extensio de tal ampliagao, ndo sendo poucos os que, como Gabba, afirmam ter inexistido, em Roma, a regulamentagio do dano moral, cuja reparabilidade teria surgido, de fato, como teoria modema, nunca cogitada entre os antigos. © certo, porém, & que, sem maior ¢ mais profunda sistematizagio, O Direito Romano previa numerosas hipéteses em que dispensava protegao a interesses ndo patrimoniais por meio de reparagao pecuniaria. Parece, assim, “fora de diivida que ele no condenou, nio desconheceu o interesse moral ¢, bem a0 contrario, o admitiu na proporedo em que a época social era com ele compativel”.’ Como pensam Mazeaud e Mazeaud, a jurisprudéncia Tomana chegou a ideia de que “na vida humana, a nogo de valor nfo consiste apenas em dinheiro, ao contririo exisiem, além do dinheiro, outros bens aos quais o homem civilizado atribui um valor e que devem ser protegidos pelo direito”."" idade objetivo de atenuar 0 softimento injusto do lesado de coibir a reincidéncia do agente na pritica de tal ofensa, mas nao como ¢liminagao mesma do dano moral. Pode-se, em suma, afirmar, com apoio em Mazeaud e Mazeaud, que 0 objetivo da teoria da responsabilidade civil pelos danos morais “no ¢ apagar os efeitos da lesio, mas reparar os danos”.’ A teoria sobre a sangio reparatéria do dano moral, conquanto antiga, softeu muitas contestagdes evoluin entamente, até chegar aos termos da concepgéio atual A abordagem ao tema do dano moral, com efeito, j4 se fazia presente no Cédigo de Hamurabi, na Babilénia, quase 2,000 anos antes de Cristo, onde ao lado da vinganga (“olho por olho, dente por dente”), se admitia, também, reparagio da ofensa mediante pagamento de certo valor em dinheiro, permitindo aos estudiosos entrever, nisso, @ presenga embrionéria da ideia que resultou, modernamente, na “teoria da compensagio econdmica, satisfatéria dos danos extrapatrimoniais”.* Também, no Cédigo de Manu (India), havia pena pecunifria para certos danos extrapatrimoniais, como, por exemplo, a condenagao penal injusta, Também em Roma se admitia a reparago por anos & honra, mas, a exemplo dos Cédigos de Hamurabi e Manu, a sango eta aplicada a certos fatos, ¢ nao genericamente. A partir da Lei Aquilia (286 a.C.) € principalmente com a legislagio de Justiniano, houve uma ampliagao no campo da reparabilidade do dano moral. Ha, contudo, enorme controvérsia entre os pesquisadores do Direito Romano acerca da extensio de tal ampliago, nfo sendo poucos os que, como Gabba, afirmam ter inexistido, em Roma, a regulamentagio do dano moral, cuja reparabilidade teria surgido, de fato, como teoria modems, nunca cogitada entre os antigos. © cetto, porém, & que, sem maior © mais profunda sistematizago, O Direito Romano previa numerosas hipdteses em que dispensava prote¢Ao a interesses no patrimoniais por meio de reparagdio pecuniiria, Parece, assim, “fora de diivida que ele no condenou, no desconheceu o interesse moral ¢, bem ao contririo, 0 admitiu na proporgio cm que a época social era com ele compativel”,” Como pensam Mazcaud ¢ Mazeaud, a jurisprudéncia romana chegou a ideia de que “na vida humana, a nogio de valor nfo consiste apenas em dinheiro, ao contrario ilizado atribui um valor € que devem ser protegidos existem, além do dinheiro, outros bens aos quais © homem. pelo direito”,"” Ao longo da hist6ria do direito modemo, revelou-se penosa a elaboragio da teoria de uma ampla reparabilidade do dano moral. A mais séria ¢ insistente resisténcia era a daqueles que negavam a legitimidade moral da atribuigfio de um prego a dor. Com isso, somente se admitia indenizago para lesbes extrapatrimoniais quando, para certos ¢ determinados eventos, houvesse prévia c expressa previsio de sangdo civil pecunidria (numerus clausus). Apés a descoberta dos chamados direitos de personalidade, avolumou-se a corrente dos defensores dos direitos essenciais da pessoa humana, em cujo seio assumit posigo de destaque a plena reparabilidade das lesbes & pessoa, na esfera extrapatrimonial. Vérias leis, em diversos paises tomaram providéncias tutelares em defesa de direitos autorais, de imagens etc, Em 1942, finalmente, o tema veio a figurar no bojo do novo Cédigo Civil Italiano. Entre nés, embora sem maior explicitude acerca dos direitos da personalidade, a doutrina majoritéria defendia a tose de que o art. 159 do Cédigo Civil [dle 1916], ao disciplinar a responsabilidade civil aquiliana e a0 mencionar a reparabilidade de qualquer dano, estaria ineluindo, em sua sangao, tanto o dano material como o moral. A Jurisprudéncia, todavia, vacilava e predominava a corrente que negava a reparabilidade do dano moral fora das hipoteses explicitamente enumeradas em textos de lei Com a Constituigo de 1988 veio, finalmente, o enunciado do principio geral que pos fim as vacilagdes e resisténcias dos tribunais (art. 5*, V e X). Por fim, o Cédigo Civil de 2002 adotou expressamente a reparabilidade do ano moral (art. 186). Hoje, entio, esté solidamente assentada a ampla e unitiria teoria da reparagilo de todo ¢ quelquer dano civil, ‘ocorra ele no plano do patriménio ou na esfera da personalidade da vitima. Ha de indenizar 0 ofendido todo aquele {que cause um mal injusto a outrem, pouco importando a natureza da lesio. Quanto a extensio da reparagio do dano (seja pattimonial ou moral) o regime do C6digo Civil (art. 944) € o da Teparagdo integral, ou seja, deve proporcionar a vitima a recolocago em situagio equivalente a em que se encontrava antes de ocorrer 0 fato danoso, Em tese, essa reposigo pode ocorrer de duas maneiras: (i) in natura, mediante recomposigao do mesmo bem no patriménio do lesado ou por sua substituig&o por coisa similar; ou (ii) por reparago pecunidria, consistente em pagamento de soma equivalente aos prejuizos do lesado, Em relago ao dano moral, é possivel cogitar-se das duas formas de reparagio. Observa Karl Larenz que “o dano material pode ser ressarcido enquanto isso seja possivel por meio da restituigao in natura: isso tem lugar sobretudo em casos de retratagao piblica de declaragées publicamente manifestadas, idéneas para ofender a honra de outrem ou para prejudicar o seu crédito (§ 824 do BGB)."" Entretanto, adverte Pontes de Miranda — em face do dano extrapatrimonial ~ que “a reparago natural é, quase sempre, impossivel” reconhecendo, por outro lado, que se pode admitir, em ontras circunstincias, que o dano moral ‘ou se repara pelo ato que 0 apague (retratag2o do caluniador ou do injuriante), ou pela prestagao do que foi considerado reparador.'* Para o STJ, embora reconhecendo a tese douttinétia da possivel reparago natural no terreno da lesio extrapatrimonial, a conclusio é de que ela, por si s6, “no se mostra suficiente para a compensagio dos prejuizos sofridos pelo lesado”, da maneira integral exigida pelo art. 944 do CC. Dai ter conclude o aresto pela imposigao ‘cumulada da publicacao do ato de retratagao com a indenizagdo pecunisria.” Da implantagdo recente, entre nés, da plenitude de reparabilidade da lesiio moral, decorreram numerosos ¢ complexos problemas, de ordem tedrica e prética, alguns dos quais ainda ndo inteiramente solucionados. Deles selecionamos os que se nos afiguraram mais relevantes ¢ mesmo mais intrigantes, conforme a seguir se verd. 3. ACUMULACAO DO DANO MATERIAL E O DANO MORAL Antes da Constituigo de 1988, mesmo quando se admitia a reparado do dano moral, a jurispridéncia predominante negava sua cumulatividade com o dano material, ao pretexto de que havendo o ressarcimento de todos 8 efeitos patrimoniais nocivos do ato ilicito jestaria, a vitima, suficientemente reparada, Hoje, porém, em caréter muito mais amplo, esti solidamente assentado, na doutrina e na jurisprudéncia, nio sé a plena reparabilidade do dano moral como sua perfeita cumulatividade com a indenizagdo da lesio patrimonial. O estégio em que a orientago pretoriana repelia a cumulagio, sob o pretexto de que a indenizagéo do dano material excluiria a da lesio moral em face de um s6 evento ilicito, pode-se dizer que foi superado. Entretanto, adverte Pontes de Miranda — em face do dano extrapatrimonial — que “a reparago natural &, quase sempre, impossivel” reconhecendo, por outro lado, que se pode admitir, em outras circunstincias, que o dano moral ou se repara pelo ato que o apague (retratagdo do caluniador ou do injuriante), ou pela prestacdo do que foi considerado reparador,!” Para 0 STJ, embora reconhecendo a tese doutrindria da possivel reparagio natural no terreno da lesio extrapatrimonial, a conclusio é de que ela, por si s6, “ndo se mostra suficiente para a compensago dos prejuizos Sofridos pelo lesado”, da maneira integral exigida pelo art. 944 do CC. Dai ter concluido o aresto pela imposigio cumulada da publicagSo do ato de retratago com a indenizagéo pecuniatia.'* Da implantago recente, entre nés, da plenitude de reparabilidade da lesio moral, decorreram numetosos € complexos problemas, de ordem tebrica e prética, alguns dos quais ainda néo inteiramente solucionados. Deles selecionamos os que se nos afiguraram mais relevantes e mesmo mais intrigantes, conforme a seguir se veri. 3. ACUMULACAO DO DANO MATERIAL E 0 DANO MORAL Antes da Constituigiio de 1988, mosmo quando se admitia a reparagio do dano moral, a jurisprudéncia predominante negava sua cumulatividade com o dano material, ao pretexto de que havendo o ressarcimento de todos, 08 efeitos patrimoniais nocivos do ato ilicito jé estaria, a vitima, suficientemente reparada, Hoje, porém, em caréter muito mais amplo, esta solidamente assentado, na doutrina ¢ na jurisprudéncia, nio s6 a plena reparabitidade do dano moral como sua perfeita cumulatividade com a indenizagéo da lesio patrimonial. O estigio em que a orientagio pretoriana repelia a cumulagio, sob o pretexto de que a indeniza¢io do dano material excluiria a da lesio moral em face de um sé evento ilicito, pode-se dizer que foi superado. Em acérdos undnimes da 3* Turma do Superior Tribunal de Justiga, tem sido proclamado que: “Se ha um dano material e outro moral; que podem existir autonomamente, se ambos dio margem indenizagao, nao se percebe porque isso nio deva ocorrer quando os dois se tenham como presentes, ainda que oriundos do mesmo fato. De determinado ato ilicito decorrendo lesio material, esta havera de ser indenizada. Se apenas de natureza moral, igualmente der ha de referit-se a ambas, Nao bA porque cingir-se a uma delas, deixando a outra sem indenizagao ‘© ressarcimento, Quando reunidas, a reparaydo Admitiu-se, nos dois precedentes acima, que o homicidio de pessoa que exercia trabalho remunerado & mantinha a familia produz tanto a lesdo econémica como a moral: “O dano material, em virtude da morte, é evidente, e devido nos termos do art, 1.537 do Cédigo Civil [de 1916}. O dano moral é distinto, no se confundindo a hipétese com aquela de que resultou a Simula 491 do ‘Supremo Tribunal Federal”,'* Na mesma linha de pensamento julgou a 2* Turma do Superior Tribunal de Justiga, no REsp 3.604/SP." Finalmente, depois de reiteradas € uniformes decisdes, o tema veio a ser incluido nos enunciados da Simula do Superior Tribunal de Justiga, sob n, 37, verbis: “Sio cumulaveis as indenizagdes por dano material e dano moral oriundo do mesmo fato”. 4. DANO MORAL E GRAVIDADE DA LESAO PSICOLOGICA. Viver em sociedade ¢ sob 0 impacto constante de direitos © deveres, tanto juridicos como éticos e sociais, provoca, sem diivida, frequentes e inevitiveis conflitos e aborrecimentos, com evidentes reflexos psicol6gicos, que, ‘em muitos casos, chegam mesmo a provocar abalos e danos de monta. Para, no entanto, chegar-se & configurago do dever de indenizar, no sera suficiente ao ofendido demonstrar sua dor, Somente ocorrerd a responsabilidade ci exo causal. Se 0 incdmodo & pequeno (irreleviincia) ¢ se, mesmo sendo grave, nfo corresponde a um comportamento indevido (licitude), obviamente nao se manifestard o dever de indenizar (auséncia da responsabilidade civil cogitada no art. 186 do CC). ‘Como adverte a boa doutrina, “o papel do juiz & de relevincia fundamental na apreciagao das ofensas & honra, tanto na comprovagio da existéncia do prejuizo, ou seja, se se trata efetivamente da existéncia do ilicto, quanto & estimagdo de seu quantum. A ele cabe, com ponderagao € sentimento de justiga, colocar-se como homem comam e determinar se 0 fato contém os pressupostos do ilicito e, consequentemente, o dano ¢ o valor da reparagio”." No & possivel deixar a0 puro critério da parte a utilizagao da Justiga “por todo e qualquer melindre”, mesmo os insignificantes. Vern bem a propésito a adverténcia do Prof. Anténio Chaves: I se se reunirem todos os scus elementos essenciais; dano, ilivitude ¢ “propugnar pela mais ampla ressarcibilidade do dano moral ndo implica no reconhecimento que todo ‘qualquer melindre, toda suscetibilidade exacerbada, toda exaltagao do amor proprio, pretensamente ferido, a mais suave sombra, o mais ligeiro rogar de asas de uma borboleta, mimos, escripulos, delicadezas excessivas, ilusdes insignificantes desfeitas, possibilitem sejam extraidas da caixa de Pandora do Direito, centenas de milhares de cruzeiros”.'* ‘Como advertia Cunha Gongalves, em lig&o esposada pelo Superior Tribunal de Justiga,"” “a reparagio nio 6 devida a quaisquer carpideiras. Nao basta fingir dor, alegar qualquer espécie de migoa; hd gradagbes e motivos a provar e que os tribunais possam tomar a sério” Em outras palavras, “para ter direito de ago, o ofendido deve ter motivos aprecidveis de se considerar atingido, pois a existéncia da ofensa poderd ser considerada to insignificante que, na verdade, no acarreta prejuizo moral”. Para que se considere ilicito 0 ato que o ofendido tem como desonroso é necessério que, segundo um juizo de razoabilidade, autorize a presungo de prejuizo grave, de modo que “pequenos melindres", insuficientes para ofender os bens juridicos, nlio devem ser motivo de processo judicial. De minimis non curat praetor, ja resseltavam as fontes romanas, Enfim, entre os elementos essenciais & caracterizagio da responsabilidade civil por dano moral, ho de incluir- se, necessariamente, a ilicitude da conduta do agente ¢ a gravidade da lesdo suportada pela vitima.”” Quanto & prova, a lesao ou dor moral é fendmeno que se passa no psiquismo da pessoa e, como tal, no pode ser coneretamente pesquisado, Dai porque néo se exige do autor da pretensio indenizatoria que prove o dano catrapatrimonial. Cabe-lhe apenas comprovat a ocorréncia do fato lesivo, de cujo contexto o juiz extraird a idoneidade, ou nfo, para gerar dano grave ¢ relevante, segundo a sensibilidade do homem médio e a experiéncia da vida, Nesse sentido, ja se decidiu que: “os bens morais so proprios da pessoa, de foro intimo. os transtornos, 0 abalos de crédito, a desmoralizagao perante a comunidade em que se vive, nio precisam ser provados por testemunha nem por documento, Resultam naturalmente do féto, no sendo exigivel a comprovagio de reflexo patrimonial do prejuizo. Esse dano deve ser reparado, ainda que essa reparagdo no tenha carter ressarcitério, ¢ sim, compensatorio”.”* Tal entendimento se repetiu sucessivamente nos tribunais do pais. A jurisprudéneia do STJ, por exemplo, ¢ unissona no sentido de que, a propésito do dano moral, “a Tesponsabilidade do agente decorre da comprovagao do ato ilicito, sendo desnecessiria a comprovagio do dano em si”. Mas, “para se presumir 0 dano moral pela simples comprovagii do filo, esse fasto tem que fer a capacidade de ‘causar dano, 0 que se apura por um juizo de experiéncia” 2* 4.1. A posigio da jurisprudéncia Depois de alguns anos de convivéncia com as causas de danos morais, ja se pode sentir a firmeza da Jurisprudéncia contra o abuso das pretenses caprichosas de indenizagdes desse natureza, Certa feita uma cliente bancéria se considerou merecedora de indenizagiio por ter sido impedida de fazer entrar na agéncia um carrinho de bebé, que nao passava pelo dispositivo de controle de metais. O TRF da 4° Regidio repeliu a demanda, argumentando que nao se poderia ver no evento uma ofensa & liberdade individual da cliente na agéncia banciria, ou de quebra do principio da isonomia, “pois todos os cidadios estéo sujeitos aos sistemas de seguranga de locais de acesso piiblico, medida esta necesséria até no resguardo da seguranga da propria autora” Para o Tribunal, em suma, 0 correto é que “na ceracterizago do dano moral se exige a excepcionalidade, uma intensidade de softimento que néo seja aquela propria dos aborrecimentos corriqueiros de uma vida normal”? E 0 que tem sido acentuado pelo Superior Tribunal de Justiga: “mero aborrecimento, dissabor, magoa, ivitagao ou sensibilidade exacerbada estio fora da érbita do dano moral”, mormente quando decorrente de ato de outrem que corresponda a regular exercicio de direito.”* O simples litigio acerca de inteligéncia de clausula contratual, se ndo motivado por conduta abusiva ou de mé-fé do contratante, também foi julgado pelo TIRGS como néo ensejador de reparagio por dano moral, sob 0 fundamento de que “ausente 0 ato ilicito, ndo se fala em dano moral”, Ou mais explicitamente; “mero descumprimento contratual nio dé ensejo 4 reparagio de dano moral, salvo quando se demonstrar, de forma inequivoca, que 0 atraso no pagamento da cobertura causou abalo psicolégico consideravel no segurado”.2” B certo que o comportamento do eredor (banco principalmente) pode extravasar os limites da razoabilidede na defesa de seu dircito ¢ ingressar na dea da ilicitude capaz de justificar 0 dano moral indenizsivel, Mas, para isso, € preciso que o dano correspondente a dor imputada a vitima se dé em fungi de “atos que, indevidamente, ofendem seus sentimentos de honra e dignidade, provocando mégoa e atribulagdes na esfera interna pertinente a sensibilidade moral”. No caso, porém, de simples débito langado na conta corrente bancéria sem autorizagio do respectivo titular, © ato, mesmo que irregular, “nfo induz, por si sé, o reconhecimento dle dano moral, a despeito do aborrecimento que isso possa ter provocado; o dano moral apenas se caracterizaria se o langamento do débito tivesse consequéncias extemas, g., devolugio de cheques por falta de provisio de fundos ou inscrig&o do nome do correntista em cadastro de protegao ao crédito” * Atrasos de voo as vezes podem causar abalos morais sérios em face das condigdes do passageiro ¢ das circunstancias denotantes de conduta gravemente irregular da companhia aérea.°” Mas, o simples atraso nio pode sempre ser qualificado como ofensa grave & personalidade de quem o softe. Se se esté num aeroporto que oferece oa infraestrutura para a espera, afastada fica “a caracterizagio de dano moral, porque, em verdade, nao pode ser ele banalizado, o que se dé quando confundido com mero perealgo, dissabor ou contratempo a que estio sujeitas as pessoas em sua vida comum”."" © atraso a que se refere 0 acéridao deu-se no aeroporto de Salvador, considerado ‘como “um dos mais confortiveis do pais, dotado de todo um sistema de seguranga, razoavel entretenimento, opdes de alimentagio ¢ conforto, a afastar, data maxima venta, a possibilidade de lesio moral pela espera, ainda que inedmoda”. Pode-se ter como tranquila a posigdo do STI a respeito do tema, no sentido de que as situagdes ensejadoras de reparagio do dano moral “ndo se confundem com percalgos da vida comum"’" e que “o mero dissabor ndo pode ser algado ao patamar do dano moral, mas somente aquela agtessiio que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas afligdes ou angistias no espitito de quem ela se ditige”. Recentemente, o STJ confirmou o entendimento de que “o aborrecimento, sem consequéncias graves, por ser inerente A vida em sociedade — notadamente para quem escolheu viver em grandes centros urbanos -, ¢ insuficiente a caracterizagdo do abalo, tendo em vista que este depende da constatagao, por meio de exame objetivo e prudente arbitrio do magistrado, da real lesfio & personalidade daquele que se diz ofendido, Como leciona a melhor doutrina, sé se deve reputar como dano moral a dor, 0 vexame, 0 sofrimento ou mesmo a humilhagio que, fugindo 4 normalidade, interfira intensamente no comportamento psicolégico do individuo, chegando a causar-lhe afligio, angistia © desequilibrio em seu bem-estar”."* Em seu voto, 0 Relator alertou quanto ao fato de que “a indenizagio por dano moral nao deve ser banalizada, alimentando 0 que parte da doutrina e da jurisprudéneia denomina de ‘indistria do dano moral”. Nesse sentido, o ST) ja decidiu que “a interrupgao no servigo de telefonia caracteriza, via de regra, mero dissabor, no ensejando indenizago por danos morais”.”! 4.2. O advogado ¢ o dano moral praticado contra 0 juiz. no proceso O art, 7, § 2°, do Estatuto da OAB (Lei n. 8,906, de 04.07.1994) garante ao advogado “imunidade profissionel, no constituindo injiria ou difemacdo puniveis qualquer manifestagao de sua parte no exereicio de sua atividade, em juizo on fora dele”. Isto, naturalmente, no inclui os abusos ou excessos injustificaveis, cuja punigdo disciplinar seré aplicada pela OAB, conforme ressalva constante da parte final do dispositivo aludido. Assim, quando, fora do processo, o advogado se pée a imputar conduta delituosa ao juiz.em favor de terveiros & em detrimento dos interesses das partes, ¢ 0 faz sem razio fatico-juridica, torna-se, no entender do TIRJ, “evidente que houve dano moral”, Nao se pode cogitar da imunidade profissional quando se depara com “o tratamento agressivo, aviltante, que 0 advogado utiliza niio mais como profissional, mas como individuo em petigHo propria atacando a figura do magistrado, ou de quem quer que seja”."° O Supremo Tribunal Federal, j4 se manifestou no sentido de que a imunidade do advogado nfo & absoluta, cedendo a praticas abusivas ou atentatorias & dignidade da profisséo: “a garantia da intangibilidade profissional do Advogado nao se reveste, contudo, de valor absoluto, eis que a clausula assecuratéria dessa especial prerrogativa juridica encontra limites na lei, consoante dispde o proprio art, 133 da Constituigao da Repiiblica, A invocagio da imunidade constitucional pressupée, necessariamente, © exercicio regular € legitimo da Advocacia, Essa prerrogativa juridico-constitucional, no entanto, revela-se incompativel com priticas abusivas ou atentatérias a dignidade da profissio ou as normas ético-juridicas que The regem o exereicio, Precedentes”.*” Quando o advogado & apenas mal educado e usa, nos autos, expressdes grosseiras e arrogantes contra 0 juiz, ‘entende 0 STJ que nfo fere necessariamente a honra do juiz, para justificar a reparagio do dano moral. ‘A grosseria em atribuir falta de bom senso e despreparo juridico ao sentenciante pode, realmente aborrect-lo ou inrité-to, mas isto nao chegaria ao nivel do dano moral para sustentar a pretensio reparatéria, porque a simples violagdo do “dever de urbanidade” nfo chega “a ensejar o reconhecimento do dano moral” na jurisprudéncia do STJ. Em suma: “De outro lado, no entanto, também na linha da orientagdo desta Corte, “mero receio ou dissabor no pode ser algado zo patamar do dano moral, mas somente aquela agressdo que exacerba a naturalidade dos fatos da vida, causando fundadas afligdes ou angustias no espirito” do ofendido.” Outra coisa a destacar ¢ o catéter pessoal da responsabilidade pelos ataques & honra alheia cometidos pelo advogado, no desempenho do mandato ad judicia, A questio foi examinada pelo TIDF, tendo sido assentado que "a rclagiio do advogado com o seu constituinte nao se amolda as situagdes elencadas no art. 1.521 do Cédigo Civil [at 932 do Cédigo Civil de 2002}, de sorte 2 autorizar a solidatiedade por ato ilfcito perpetrado pelo causidico em nome do cliente, O mandato tem a aplicabilidade para a pratica dos atos nele previstos ou a ele vinculados, mas dentro das balizas legais. Assim, expressdes injuriosas langadas no petitério sio de responsabilidade exclusiva de quem 0 subscreve”."* © entendimento do STJ também é no sentido de que “o advogado que, atuando de forma livre e independente, lesa terceiros no exercicio de sua profissio, responde diretamente pelos danos causados, nfo havendo que se falar em solidariedade de seus clientes, salvo prova expressa da ‘culpa in eligendo” ou do assentimento a suas manifestagdes escritas”. Isto porque “a lesfio causada a terceiros decorre, em regra, da agdo direta do profissional, pois ele tem a iiltima palavra sobre como proceder e pode, de fato, adotar conduta diversa, de modo a atender as finalidades buscadas por seu cliente”. Destarte, “somente em casos excepeionais poder-se-ia falar em responsabilidade do cliente-contratante, mas ai haveria de ser demonstrada, de fato, sua culpa”.“* 5. TITULARIDADE DA PRETENSAO INDENIZATORIA POR DANO MORAL Um dos sérios problemas a enfrentar, na sango do ilicito extrapatrimonial, & o da definigao de quem seja 0 efetivo titular do direito & indenizagao do dano moral. Quando 0 ofendido comparece, pessoalmente, em juizo para reclamar reparagao do dano moral que ele mesmo suportou em sua honra e dignidade, de forma direta e imediata, no ha diivida alguma sobre sua legitimidade ad causam. Quando, todavia, ndo é 0 ofendido direto, mas terceiros que se julgam reflexamente ofendidos em sua ignidede, pela lesdo imposta a outra pessoa, toma-se imperioso limitar 0 campo de repercussio da responsabilidade civil, visto que se poderia criar uma cadeia infinita ou indeterminada de possiveis pretendentes A reparagao da dor ‘moral, o que nao corresponde, evidentemente, aos objetivos do remédio juridico em tela, Exigem-se, por isso mesmo, prudéncia e cautela da parte dos juizes no trato desse delicado problema, Uma coisa, porém, ¢ corta: 0 Cédigo Civil de 1916 previa, expressamente, a existéncia de interesse moral, para justificar ‘a aco, s6 quando tocasse “diretamente ao autor ou sua familia” (art. 76, pardgrafo tmico). Embora o Cédigo Civil de 2002 nao tenha repetido a regra, a jurisprudéncia continua a segui-la, como principio relevante na matéria. Nesse sentido, a jurisprudéncia do ST3 aponta que a legitimidade deve alinhar-se & ordem de vocagio hereditéria.”” Dai ser facil aceitar que pais, esposas, filhos e irmios do ofendido direto tenham titularidade para pleitear indenizago por dano moral indireto ou reflexo." ‘A jurisprudéncia, por exemplo, admite a legitimidade do cdnjuge e dos pais da vitima sobrevivente para, conjuntamente com esta, pleitear compensagio por danos morais, desde que sejam atingidos de forma indireta pelo ato lesivo “dano por ricochete’ “deve-se reconhecer, contudo, que, em alguns casos, nao somente o prejudicado direto padece, mas outras pessoas a ele estreitamente ligadas so igualmente atingidas, tornando-se vitimas indiretas do ato lesivo, Assim, experimentam os danos de forma reflexa, pelo convivio diuturno com os resultados do dano padecido pela vitima imediata, por estarem a ela ligadas por lagos afetivos ¢ circunstancias de grande proximidade, aptas a também causar-Ihes o intenso sofrimento pessoal”? Quanto A legitimidade dos pais para requerer indenizagio pela morte de filho, a jurisprudéncia a reconhece, ainda que o descendente tenha constituido nova familia, com 0 casamento ¢ a concepgao de filhos: “néio obstante a formasao de um novo grupo familiar com o casamento e a concepsio de filhos, o poderoso lago afetivo que une mie e filho nao se extingue, de modo que o que se observa ¢ a coexisténcia de dois niicleos familiares, em que o filho € seu elemento interseccional, sendo correto afirmar que os ascendentes ¢ sua prole integram um nficleo inextinguivel para fins de demanda indenizatérin por morte (..) Nessa linha de intelecglo, os ascendentes tém legitimidade para a demanda indenizatéria por morte da sua prole ainda quando esta tenha constituido © seu grupo familiar imediato, 0 que deve ser balizado apenas pelo valor global da indenizagio devida, ou seja, pela limitagao quantitativa da indenizagho”. Para o Superior Tribunal de Justiga, “os irmaos possuem legitimidade para postutar reparagao por dano moral decorrente da morte de irma, cabendo apenas a demonstragdo de que vieram a soffer intimamente com o trégico mento, presumindo-se esse dano quando se tratar de menores de tenra idade que viviam sob o mesmo © STJ tem mantido sua jurisprudéncia no sentido de que 0 dano moral suportado pela morte de irmio & indenizavel. Mas, em caso em que se desconhecia 0 grau de intimidade da convivéncia entre a autora da ago indenizatéria e seu imo morto, 0 STJ arbitrou quantia médica (RS 4.500,00) para a reparago, a fim de que néo fosse propiciado “o enriquecimento indevido”.** Ant6nio Chaves, lembrando as conelusbes da III Conferéncia de Desembargadores, realizada no Rio de Janeiro, em 1965, prevé que o ressarcimento do dano moral possa ser reclamado “pela vitima, pelos descendentes, cdnjuges © colaterais até o 2° grau”.” E compreensivel, que nesse circulo mais proximo de parentesco, seja mais facil de presumir a ocorréncia da dor moral pelo dano suportado diretamente por outra pessoa, principalmente nos casos de morte ou incapacitagio. E bom de ver, todavia, que, fora da familia em sentido estrito (pais, fillos e cOnjuges), dependera de anélise mais acurada do juiz para, in concreto, determinar a razoabilidade da repercussio psicologica do ato nao patrimonial danoso. Muitas vezes, mesmo sem 0 parentesco civil, pote a pessoa ser fortemente abalada pela lesio a um ente querido como 0 filho de criago, o noivo, 0 compankeiro ete. Recentemente, entretanto, 0 STJ afastou a legitimidade do noivo para reclamar dano moral por morte da noiva. Isto porque, ““o dano por ricochete a pessoas no pertencentes ao niicleo familiar da vitima direta da morte, de regra, deve ser considerado como nio inserido nos desdobramentos ligicos e causais do ato, seja na responsabilidade por culpa, seja na objetiva, porque extrapolam os efeitos razoavelmente imputéveis & conduta do agente. (..) © noivo niio possui legitimidade ativa para pleitear indenizagao por dano moral pela morte da noiva, sobretudo quando os pais da vitima jé intentaram ago reparatoria na qual lograram éxito” Em outras circunstancias, um parente, mesmo em grau préximo, pode ndo manter qualquer tipo de convivéncia ou afetividede com a vitima do dano; pode até mesmo ignorar-Ihe a existéncia ou ser seu desafeto, F claro que, em semelhante conjuntura, nao haveré lugar para pleitear reparagao por dano moral reflexo (0 STJ ja advertiu, por exemplo, que em matéria de falecimento de irmio, é de exigir-se “demonstragio de que vieram a softer intimamente com 0 tragico acontecimento”, embora se possa presumir esse fato quando “se tratar de menores de tenra idade que viviam sob o mesmo teto”."* Nessa mesma perspectiva, aquela Alta Corte também assentou que “a indenizagio por danos morais em caso de morte de imo depende da prova do vinculo afetivo entre aquele que pleiteia a indenizagao e a vitima, para presumir a dor gerada pela perda do convivio familiar”. Procedente, portanto, é a ressalva da jurisprudéncia de que “ino mbito de um ciroulo familiar mais amplo, como aquele em que se inserem 0s tios, os sobrinhos, os primos e, em certos casos, até mesmo os irmdos, impossivel presumir a ocorréncia do dano moral em razio tao sé da morte do parente”. Assim, enquanto um irmao que nenhuma convivéncia ou afetividade mantinha com o falecido pode ser excluido do direito 4 indenizagdo por dano moral, um tio, por exemplo, que morava na mesma residéncia da vitima, ¢ se achava inserido intimamente no niicleo familiar e, por isso, suportou profundo softimento com a morte trigica da sobrinha, tem legitimidade para pleitear a reparago do dano extrapatrimonial a que foi submetido.*! Ha de se considerar, ainda, a realidade destacada pelo STJ que “o sofrimento pela morte de parente & disseminado pelo niicleo familiar, como em forga centrifuga, atingindo cada um dos membros, em gradagdes diversas, o que deve ser levado cm conta pelo magistrado para fins de arbitramento do valor da reparagiio do dano moral”. Nao é obrigatério que todos os parentes do falecido sejam contemplados com indenizagio igual, se o grau de convivéncia ¢ afetividade nao cra o mesmo. Incumbe, pois, ao juiz, o poder de, caso a caso, pesquisar ¢ comprovar a ocorréncia efetiva do dano moral suportado por aquele que promove a agio indenizatéria, a par do nexo causal com a conduta culposa do demandado, E mais razodvel, ¢ mais consentineo com o bom senso, evitar apriorismos que possam inflexibilizar os critérios de solugio do problema. Nao hé melhor caminho a trithar, in casu, do que relegar ao prudente arbitrio do juiz. a definigao, diante dos fatos concretos, da cuidadosa averiguagao das circunstincias subjetivas e objetivas em que 0 dano moral ocorreu, $6 assim a indenizagdo seri deferida ou indeferida, segundo padres de justica ¢ equidade, tanto em relagdo as condigées da conduta do agente e da vitima, como das consequéncias ¢ repercussdes efetivamente provocadas sobre o bem psiquico que se pretende lesionado.* Além disso, ha um outro problema sério, que € © de quantificar a indenizagio, quando concorrem varios interessados reclamando ressarcimento por dor moral provocada por um s6 evento, como, por exemplo, a morte de uum sé parente dos diversos autores do pleito indenizatoro. Uma coisa é de se ressaltar, segundo 0 entendimento do Superior Tribunal de Justiga: “Para evitar especulagdes desonestas, conta-se com o bom senso dos juizes, que haverdo de rejeitar pedidos, deduzidos por quem nao tenha legitimidade, ¢ arbitrar com recomendavel moderagio 0 montante da reparagao”** Assim, enquanto um irmao que nenhuma convivéncia ou afetividade mantinha com o falecido pode ser excluido do dircito a indenizago por dano moral, um tio, por exemplo, que morava na mesma residéncia da vitima, e se achava inserido intimamente no nicleo familiar ¢, por isso, suportou profundo sofrimento com a morte tragica da sobrinha, tem legitimidade para pleitear a reparagio do dano extrapatrimonial a que foi submetido." Ha de se considerar, ainda, a realidade destacada pelo STJ que “o softimento pela morte de patente é eminado pelo niicleo familiar, como em forca centrifuga, atingindo cada um dos membros, em gradagdes diversas, 0 que deve ser levado em conta pelo magistrado para fins de arbitramento do valor da reparagio do dano moral”.** Nao é obrigatério que todos os parentes do falecido sejam contemplados com indenizagio igual, se o grau de convivéncia e afetividade nio era o mesmo. Incumbe, pois, ao juiz, © poder de, caso a caso, pesquisar e comprovar a ocorréneia efetiva do dano moral suportado por aquele que promove a agio indenizatéria, a par do mexo causal com a conduta culposa do demandado, E mais razodvel, ¢ mais consentaneo com o bom senso, evitar apriorismos que possam inflexibilizar os critérios de solugio do problema. Nao ha melhor caminho a trilhar, in casu, do que relegar ao prudente arbitrio do juiz a definicio, diante dos fatos concretos, da cuidadosa averiguago das citcunstincias subjetivas e objetivas em que 0 ddano moral ocorreu. Sé assim a indenizagio sera deferida ou indeferida, segundo padrles de justica e equidade, tanto em relagio as condigdes da conduta do agente e da vitima, como das consequéncias ¢ repercissdes efetivamente provocadas sobre o bem psiquico que se pretende lesionado,”* Além disso, ha um outro problema sério, que & 0 de quantificar a indenizagio, quando concorrem virios interessados reclamando ressarcimento por dor moral provocada por um s6 evento, como, por exemplo, a morte de um s6 parente dos diversos autores do pleito indenizatério. ‘Uma coisa ¢ de se ressaltar, segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justica: “Para evitar especulagdes desonestas, conta-se com 0 bom senso dos juizes, que haverio de rejetar pedidos, Geduzidos por quem no tenha legitimidade, ¢ arbitrar com recomendivel moderagao 0 montante da reparagio No caso, por exemplo, de ofensa a um pai de familia, nao é razoavel atribuir uma indenizagio de monta a cada um dos membros do conjunto familiar, mormente quando este esteja integrado por menores de pequena idade, ainda sem o discernimento necessério para dar ao evento uma dimensio moral maior. E preferivel ver-se, na hipotese, o nicleo familiar como uma unidade ou uma comunidade, cuja honta foi ofendida € que, assim, se faz merecedora de reparagio geral, em beneficio conjunto de todos os seus integrantes, Nao que uma crianga no tenha honra a ser tutelada, mas é que a sua imaturidade nfo justificaria uma reparagdo isolada, fora do contexto maior da familia. O ST) ja entendeu que, embora se deva considerar a familia como uma unidade, para fins de arbitramento do dano moral, o valor deve levar em consideragio, também, o nimero de parentes legitimades, para evitar que 0 montante torne-se infimo para cada um dos afetados: “4. Em se tratando de danos morais, o sistema de responsabilidade civil atual rechaga indenizagses ilimitadas que alcancam valores que, a pretexto de reparar integralmente vitimas de ato ilicito, revelam nitida desproporgao entre a conduta do agente e os resultados ordinariamente dela esperados. 5. E certo que a solusao de simplesmente multiplicar o valor que se concebe como razodvel pelo nimero de autores tem a aptidio de tomar a obrigagio do causador do dano demasiado extensa e distante de padrées baseados na proporcionalidade e razoabilidade. Por um lado, a solugo que pura e simplesmente atribui esse mesmo valor ao grupo, independentemente do nimero de integrantes, também pode acartetar injustigas. 1860 porque, se no primeiro caso 0 valor global pode se mostrar exorbitante, no segundo o valor individual pode se revelar diluido e se tomar infimo, hipéteses opostas que ocorterio no caso de famitias numerosas. 6. Portanto, em caso de dano moral decorrente de morte de parentes préximos, a indenizagio deve ser arbitrada de forma global para a familia da vitima, néo devendo, de regra, ultrapassar o equivalente a quinhentos salérios minimos, podendo, porém, ser acrescido do que bastar para que os quinhdes individualmente considerados néo sejam diluidos e nem se tormem irtisérios, elevando-se montante até o dobro daquele valor”.‘* Importante destacar a posigdo jurisprudencial acerca da legitimidade do espélio para reclamar compensagdo pot dano moral suportado pelo de cwjus. Analisando situagdo em que © dano moral foi provocado apés a morte do de eujus, 0 STF entendeu pela ilegitimidade, uma vez que “o espélio nfo pode softer dano moral por consttuir uma universalidade de bens e direitos, sendo representado pelo inventariante (art. 12, V, do CPCI73) [NCPC, att. 25, VII] para questies relativas a0 patriménio do de cujus”. Entretanto, reconheceu a legitimidade do cdnjuge sobrevivente & dos herdeitos.°* Esta Corte Superior entendeu, ainda, que “o espélio nio tem legitimidade para ajuizar ago de compensagao dos danos morais softidos pelos herdeiros, em virtude do falecimento do pai”. Isto porque, nessa hip6tese, “o espélio pleiteia bem juridico pertencente aos herdeiros por direito proprio ¢ no por heranga”, de tal sorte que “néo ha coincidéncia entre o postulante ¢ o titular do direito pleiteado, sendo, a rigor, hipétese de ilegitimidade ad causam”.* Entretanto, havera legitimidade do espélio “nas hipéteses de agdes ajuizadas pelo falecido ainda em vida, tendo 0 espdlio assumido o processo posteriormente (i), ¢ nas ajuizadas pelo espélio pleiteando danos experimentados em vida pelo de cwjus (ii. 5.1. Legitimidade de pessoa juridica Outra indagagdo importante é a que versa sobre a situagio da pessoa juridica, Seria a leséo moral um fendmeno exelusivo da pessoa natural? A melhor jurisprudéneia tem acolhido @ ligo doutrindria que ensina serem 0 nome, o conceito social e a privacidade, bens juridicos solenemente acobertados pela tutela constitucional, bens que cabem tanto & pessoa fisica como a juridica, Logo, nfo ha razio alguma para excluir, aprioristicamente, as pessoas juridicas do direito de reclamar ressarcimento dos prejuizos suportados no plano do nome comercial, do seu conceito na praca, do sigilo de seus negécios ete. Assim, os tribunais adotam, hoje, o entendimento de que: “E ndo tem mais lugar a tese de que a pessoa juridica, por nio ter sentimentos, nem sentir dor, no possua honra, fama, moral, enfim os atributos que a distinguem no universo dos negécios de outras tidas por contumazes descumpridoras de suas obrigagdes. © bom conceito no mundo dos negécios constitui sem diivida, patriménio imaterial da pessoa juridica que, uma vez maculado injustamente, assegura-Ihe o diteito a reparago do dano moral”.”” © mesmo Tribunal de Algada de Minas, por diversas vezes, j4 teve oportunidade de voltar ao tema: “Possuindo a pessoa juridica interesse de ordem imaterial, faz jus & indenizago por dano moral, assegurada no art. 5°, X, da Carta Magna, em decorréncia do protesto de titulo efetivad posteriormente & quitagio da divida, por acarretar abalo de seu conceito no mercado em que atua’ “Adnmissivel a indenizagao por dano moral causado & pessoa juridica, em decorréncia de manifestagdes que acarretam abalo de seu conceito no mercado em que atua, uma vez. que o direito & honra e a imagem € garantido pela Carta Constitucional, em seu art. 5*, X, cuja interpretaco nao hé de se restringir a8 pessoas naturais”. © mesmo entendimento tem merecido apoio do Superior Tribunal de Justica, como se vé dos seguintes arestos: “A pessoa juridica pode ser sujeito passivo de danos morais, considerados estes como violadores de sua honra objetiva, Precedentes”."" “A honra objetiva da pessoa juridica pode ser ofendida pelo protesto indevido de titulo cambial. Cabivel a ago de indenizagao, por dano moral, softide por pessoa juridics; visto que a protegao dos atributos morais © personalidad nio esti reservada somente as pessoas fisicas”. Ha quem pense que, integrando 0 nome comercial, 0 fundo de comércio da pessoa juridica, configuraria um valor econdmico e, assim, no poderia ser, em caso de ofensa, sendo objeto de dano patrimonial. Ocorre nesse tipo de raciocinio 0 equivoco de confundir “nome comercial” com “conceito comercial” do empresirio. O fato de 0 jcamente, nao tome do comerciante, como a marca de seus produtos, representar um objeto valorizavel econon exclui o lado ético relative ao “bom nome" de que 0 empresério tem o direito de usufruir no relacionamento social Uma concorréncia desteal pode afetar puramente o lado econémico do nome comercial. Mas um protesto ilegal, ou © escfindalo acerea da conduta contratual da diretoria de uma sociedade, podem, inegavelmente, acarretar 20 conccito da empresa uma leso que, na pritica, ficara restrita 2o plano moral Além disso, ha uma razio prética de relevante fungdo juridica: se se considera a pessoa juridica como detentora apenas de um nome de valor patrimonial, os danos que este sofresse, em similitude com aqueles suportados pela pessoa natural no respectivo nome ¢ conccito, dificilmente seriam indenizados. & que, em se tratando de dano ‘material, teria a pessoa juridica a seu cargo o pesadissimo, e quase sempre insuportavel, nus de provar o resultado econémico da esto sofrida. Assim, € muito mais razoavel ¢ justo colocar a pessoa juridica na mesma condiglo da pessoa fisica, de modo a permitir uma reparagao & luz da potencialidade ofensiva da agressio extrapatrimonial sem cogitar da prova de reflexos econdmicos mensurdveis. Situagdes iguais em esséncia encontrariam, nessa ética, tratamento também iguais no plano da responsabilidade civil. Basta, portanto, esse tipo de consideragao pratico- Juridica, se nao ocorressem outros inerentes aos elementos extrapatrimoniais, para justificar a admissibilidade da reparagio do dano moral também em favor das pessoas juridicas. A possibilidade de a pessoa juridica softer dano moral encontra-se, atualmente, sumulada pelo Enunciado n. 227 do STJ: “a pessoa juridica pode softer dano moral”, Entretanto, o reconhecimento do dano moral softido pela pessoa Juridica requer que haja “violagio de sua honra objetiva, ou seja, de sua imagem e boa fama, sem o que nao é caracterizada a suposta lesiio"."* Dai por que nao se reconhece lesio pelo mero corte no fornecimento de energia len Cumpre observar, ainda, que 0 STJ nio reconhoce legitimidade da pessoa juridica de direito piiblico para requerer do particular indenizagao por dano moral: “3, (..) de modo geral, a doutrina e jurisprudéncia nacionais s6 tém reconhecido as pessoas juridicas de direito puiblico direitos fundamentais de cardter processval ou relacionados & protec constitucional da autonomia, prerrogativas ou competéncia de entidades e orgios piblicos, on seja, direitos oponiveis 20 proprio Estado ¢ ndo ao particular. Porém, ao que se pode pesquisar, em se tratando de direitos fundamentais de natureza material pretensamente oponiveis contra particulares, a jurisprudéncia do Supremo Tribunal Federal nunca referendou a tese de titularizagdo por pessoa juridica de dircito piblico. Na verdade, ha julgados que sugerem exatamente o contrario, como os que deram origem a Siimula n, 654, assim redigida: “A garantia da irretroatividade da lei, prevista no art. 5°, XXXVI, da Constituigio da Repiblica, ndo é invocdvel pela entidade estatal que a tenha editado”. (...) 5. No caso em exame, o reconhecimento da possibilidade teérica de o municipio pleitear indenizagio por dano moral contra o particular constitui a completa subversio da esséncia dos direitos fundamentais, nfo se mostrando presente nenhum elemento justificador do pleito, como aqueles apontados pela doutrina e relacionados a defesa de suas prerrogativas, competéncia ou alusivos a garantias constitucionais do processo. Antes, o caso & emblematico ¢ revela todos os riscos de se franquear a0 Estado a via da ago indenizatdria’* 5.2, Legitimidade do nascituro Situagdo interessante, também, & a do nascituro, que somente se torna pessoa apés o nascimento com vide. A lei, no entanto, desde a concepcao, jé Ihe protege os direitos eventuais (CC, art. 2°). Isso faz. com que, embora para 0 direito positivo, o nascituro, antes do parto, no seja ainda pessoa, ele goze de um status, pelo menos, de “uma personalidade condicional”, cuja consolidagao, ou extingdo, se dard com o evento superveniente do termo da gravidez,* Fatos como a morte do pai ou a imputagio de bastardia ao filho apenas concebido so capazes de acarretat pessoa, apés o nascimento ¢ pela vida afora, graves repercussdes A sua personalidade ¢ & normalidade de seu psiquismo, Muito correta, portanto, foi a decisio do 2* TACivSP, na Apelagio n. 489.775-017, relatada pelo Juiz Adail Moreira, quando, com excelentes fundamentos doutrinarios, reconheceu ao nascituro, sob condigdo de nascer com vide, o diteito a uma adequada indenizagio pela perda de seu genitor, culposamente provocads por seu empregador, Nesse sentido é a jurisprudéncia do STJ ao reconhecer “que o nascituro também tem diteito a indeniza¢do por danos morais”.” 5.3. Legitimacéo passiva em caso de dano moral praticado por meio da imprensa Merece ser destacado um problema de legitimago passiva gerado por uma interpretagio restrtiva da Lei de Imprensa, segundo a qual s6 a empresa jornalistica, € no autor do artigo ou o entrevistado, deveria responder civilmente pelo dano moral acarretado A vitima de noticia capaz de configurar caltmia, injéirin ou difamagio. O prdprio Supremo Tribunal Federal e, postetiormente, o Superior Tribunal de Justiga, assentaram tal exegese. E de ressaltar-se, entretanto, que, quando editada a Lei n. 5.250, de 9 de fevereiro de 1967, pouco se discutia no Pais sobre ressarcimento civil dos danos morais. Alids, foi, nesse sentido, pioneira a Lei de Imprensa, entre outras, no campo de tipificagio da caliinia, difamagio e injiiria como illcitos civis, de modo a impor-Ihes indenizagio tarifiria, Ao contririo, o que, de forma unissona e massacrante, se tinha como assentada jurisprudéncia da Suprema Corte Constitucional e Federal (STF) era a impossibilidade de indenizagio do dano moral puro. Justificdvel, portanto, & época, a conclusto de que somente a empresa de jomalismo poderia responder pela indenizagao. E assim o era porque nao havia, segundo a jurisprudéncia da época, qualquer outro fundamento legal, 2 no ser 0 art. 49, da Lei de Imprensa, que justificasse a indenizago de um dano moral puro, no havia previsio constitucional de protecéo contra as lesdes ao nome, intimidade e & honra que se tornou realidade com a Carta de 1988, ¢ a exegese do art, 159 do Cédigo Civil (de 1916] [CC/2002, art. 186] eta no sentido de que somente os danos ‘materiais ali previstos se sujeitavam reparagdo civil A partir do momento em que a mesma conduta (ofensa a honra e integridade moral) passou a ser tipificada como ilicito civil om vérias outras normas do ordenamento juridico, inquestiondvel & que ulirapassada resiou a antiga jurisprudéncia restritiva, formada em tomo da Lei de Imprensa, por incompativel ndo s6 com 0 art. 159 do Codigo Civil de 1916 (atual art. 186 do CC de 2002), como, principalmente, com a nova Carta Magna (art. 5°, V eX). A Lei de Imprensa, dessa forma, foi suplantada por normas mais amplas, srarquicamente superiores, © até supervenientes, que passaram a dar énfase a cobertura indenizatoria para todas as espécies de ilfcitos contra 0 patriménio imaterial das pessoas humanas. Por isso mesmo & que, modernamente os mais avangados Pretérios, sensiveis as mudangas sociais ¢ legais © atentos 4 nogdo de justica, tém se insurgido contra o antiquado pensamento do Supremo Tribunal Federal, nos moldes do que ocorreu anteriormente, com a indenizagao civil dos danos morai Allis, seria mesmo um absurdo que o lesado, diante de um criminoso, passivel inclusive de ser condenado pela pratica dos crimes de calfinia e difamagio, no pudesse contra ele se voltar, no plano civil, sob o argumento de que 86 0 poderia fazer contra seu patrdo (empresa jomnalistica), quando em varios outros diplomas legais, esse diteito Ihe € assegurado (11g., CC de 2002, arts. 186, 942, 953; NCPC, art. 515, VI § 1°; CF, art. 5*, Vc X). Destarte, todo aquele que softe injuridica ofensa & honra, sem excegao alguma, tem “assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo, além de indenizagdio por dano material, moral ou a imagem” (CF, art. 5*, V). E, por esses danos, serio responsiveis sempre os autores ¢ aqueles que, segundo a lei, devem responder por atos de terceiro, Tendo 0 dano moral sido objeto de publicaydo em periédico, além do autor do ilfcto, a Lei de Imprensa institui, também, a responsabilidade civil da empresa empregadora”’, Alias, nao ¢ essa uma hipétese isolada no ordenamento juridico brasileiro, Pelo mesmo principio da preposi¢io ou da propriedade, se encontram varios responséveis solidérios por atos de terceiros. Em acidentes de vefculos respondem, solidariamente, condutor do automotor e seu proprictério, segundo a teoria da guarda da coisa perigosa e da culpa in eligendo; o art, 932 do Cédigo Civil estabelece a responsabilidade do patrio pelos atos de seus funcionétios, a Constituigo atribui, outrossim, & Administragao a responsabilidade do Estado pelos danos causados por seus agentes, dentre muitas outras hipéteses. Em todas as situagées de multiplicidade de responsaveis, emprega-se, indistintamente, a regra esposada no att, 942 do Cédigo Civil, segundo qual “os bens do responsivel pela ofensa ou violagao do direito de outrem ficam sujeitos & reparagio do dano causado; ¢ se a ofensa tiver mais de um autor, todos Tesponderio solidariamente pela reparagio”, sendo, também, devedores os responsaveis por atos de terceitos (arts. 932 ¢ 933). Pode, destarte, a vitima escolher entre acionar o patrdo ou o empregado, 0 Poder Piiblico ou scu funcionrio, o proprictario ou 0 motorista do carro, o jornalista ou a empresa exploradora do periédico. A regra da responsabilidade do mais forte economicamente pelo ato do subordinado, do eleito, ¢ similares sempre foi concebida como reforgo e garantia do direito de indenizagdo, ¢ jamais como limitagao ao direito de se ver reparado. A tese exposta goza do prestigio de ser adotada pelo Superior Tribunal de Justiga, alm dos tribunais estaduais, principalmente quando se trata de punir civilmente o dano moral cometido por meio da imprensa, & certo que nunca se reconheceu a imprensa a liberdade de caluniar ou injuriar pessoas, mediante veiculagio de noticias falsas ou deturpadas. E antiquissima a jurisprudéncia a respeito do tema ¢ se mantém firme ¢ atual semelhante posicionamento.” Bis um acérdio paradigmatico daquela alta Corte: “Recurso especial. Responsabilidade civil. Dano moral, Matéria jomalistica, Extrapolagio do direito de informar. Ofensa & honra configurada.(..) 1, Consoante a jurisprudéneia sedimentada nesta Corte Superior, os direitos & informagio e a livre manifestagio de pensamento, apesar de merecedores de relevante proteréo constitucional, nfo possuem caréter absoluto, encontrando limites em outros direitos e garantias constitucionais no menos essenciais & coneretizagdo da dignidade da pessoa humana, tais como o direito & honra, & intimidade, & privacidade ¢ & imagem 2. No desempenho da nobre fungao jomnalistica, 0 vefculo de comunicagio no pode descuidar de seu compromisso ético com a veracidade dos fatos narrados ¢, menos ainda, assumir postura injuriosa ou difamatéria com o simples propdsito de macular a honra de terceiros. (..)".” Em todas as situagdes de multiplicidade de responsaveis, emprega-se, indistintamente, a regra esposada no art, 942 do Codigo Civil, segundo o qual “os bens do responsivel pela ofensa ou violagdo do direito de outrem ficam sujeitos 4 reparagao do dano causado; e se a ofensa tiver mais de um autor, todos responderio solidariamente pela reparagio”, sendo, também, devedores os responsaveis por atos de terceiros (arts. 932 ¢ 933). Pode, destarte, a vitima escolher entre acionar o patréio ou o empregado, 0 Poder Pablico ou seu funcionsrio, o proprietério ou o motorista do carro, o jomnalista ou a empresa exploradora do periédico. A regra da responsabilidade do mais forte economicamente pelo ato do subordinado, do cleito, ¢ similares sempre foi concebida como reforgo ¢ garantia do direito de indenizagao, e jamais como limitagao ao direito de se ver reparado. A tese exposta goza do prestigio de ser adotada pelo Superior Tribunal de Justiga, além dos tribunais estaduais, ptincipalmente quando se trata de punir civilmente o dano moral cometido por meio da imprensa, & certo que nunca se reconheceu a imprensa a liberdade de caluniar ou injuriar pessoas, mediante veiculagio de noticias falsas ou deturpadas. FE antiquissima a jurispridéncia a respeito do tema ¢ se mantém firme ¢ atual semelhante posicionamento, Eis um acérdio paradigmético daquela alta Cort: “Recurso especial. Responsabilidade civil. Dano moral. Matéria jornalistica. Extrapolagao do direito de informar. Ofensa 4 honra configurada. (...) 1. Consoante a jurisprudéncia sedimentada nesta Corte Superior, os direitos a informaglo ¢ & livre manifestagdo do pensamento, apesar de merecedores de relevante proteco constitucional, nfo possuem cardter absoluto, encontrando limites em outros direitos e garantias constitucionais ndo menos essenciais & coneretizagao da dignidade da pessoa humana, tais como o direito 4 honra, a intimidade, a privacidade e 4 imagem 2. No desempenho da nobre fungio jomalistica, o veiculo de comunicagio nfo pode descuidar de seu compromisso ético com a veracidade dos fatos narrados e, menos ainda, assumir postura injuriosa ou difamatéria com o simples propésito de macular a honra de tercciros. (..)".7> imprensa, previsto no art, 56 da Lei de Imprensa, teve sua vigéncia suspensa pelo STF no julgamento da ADPF n, 130/DF.™ Em outro julgado, o STI decidiu que: “Posto seja livre a manifestagio do pensamento — mormente em épocas eleitorais, em que as criticas & debates relativos a programas politicos e problemas sociais sio de sua importincia, até para a formagio da convicgao do eleitorado ~, tal direito no € absoluto. Ao contrario, encontra rédeas téo robustas e proficuas para a consolidagao do Estado Democritico de Dircito quanto o direito a livre manifestagio do pensamento: trata-se dos direitos 4 honra ¢ imagem, ambos condensados na maxima constitucional da dignidade da pessoa humana”,” Aspecto interessante destacado pelo acérdio do STJ diz. respeito & defesa reconvencional acolhida pelo juizo para reconhecer dano moral também na propositura da propria agao principal. E que o direito de atuar em juizo nio ‘dé d parte imunidade para denegrir @ honra daquele que primeiro praticou a ofensa contra o demandante. Para o STJ, “no se hé confundir direito de resposta com diteito de vinganga, porquanto aquele nao constitui crédito 20 ofendido para que possa injuriar ou difamar o seu ofensor”.”* Convém observar que, por fim, 0 Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADPF 130-7/DF, declarou a Tevogagio da Lei n. 5.250/1967 (Lei de Imprensa), considerando seu texto normative nio recepeionado pela Constituigdo de 1988 (DJe 06.11.2009). Com isso ficou definitivamente encerrada toda a polémica em torno dos limites impostos por aquela lei especial em matéria de responsabilidade civil derivada de danos morais praticados pela imprensa, 6. DANO MORALE LESAO A ESTETICA DA PESSOA. Mesmo antes da Constituigao de 1988, 0 Codigo Civil [de 1916] ja continha norma espeeifica que autorizava, no caso de lesdes corporais, nao s6 0 ressarcimento das perdas patrimoniais infligidas ao ofendido, como também @ imposigdo a0 ofensor de uma verba referente & lesdo estética (aleijume ou deformacao permanente) (arts, 1.538, § 1°, € 1.539). Com a implantagio da ressarcibilidade plena do dano puramente moral, houve quem entendesse que, nas lesdes deformantes, haveria cumulagdo de tr8s verbas indenizatérias: uma, pelo prejuizo econdmico ({ratamento médico ¢ hospitalar, dias parados, redugio da capacidade laborativa etc.); outra, pela deformidade permanente; ¢ uma dltima, pela dor moral provocada pelo aleijume. Hi, data venia, um excesso em tal posicionamento. Indenizar a lesio deformante e, 20 mesmo tempo, considerd-la causa de reparagdo por dano moral corresponde a um evidente bis in idem, capaz de transformar a medida ressarcitéria em fonte de enriquecimento sem causa. (O que pode é, num mesmo evento, concorrerem lesdes distintas, geradas pela deformidade estética. Assim, uma pessoa que depende da estética para sua vida profissional, pode além do desgosto psiquico provocado pelo aleijume, perder a condigo de continuar usufruindo de sua carreira, como se di com artistas, modelos ete, Jn casu, pode-se falar em duas indenizagées; uma, pela dor moral do aleijume, e outra, pela perda material das condigdes profissionais preexistentes & lesio. Se, porém, a justificativa da indenizagdo prejudicada restringe-se & propria deformidade fisica, néio ha como dissocié-la da reparagao do dano moral, A distingao era feita, com exatido, pelo Superior Tribunal de Justiga: “O dano estético subsume-se no dano moral”. “Afirmado 0 dano moral em virtude exclusivamente do dano estético, nio se justifica 0 cimulo de indenizagdes. A indenizagao por dano estético se justificaria se a por dano moral tivesse sido concedida a ‘outro titulo”. Entretanto, paulatinamente o STS veio modificando o seu entendimento quanto ao tema, culminando na edigo, em 2009, da Siimula 387, no sentido de que “é licita a cumulacao das indenizagdes de dano estético ¢ dano moral”. A possibilidade dessa cumulagio, entretanto, depende de as consequéneias do evento danoso poderem ser separadamente indentificveis.” Ver a evolugio da jurisprudéncia apontada no Capitulo 1V, item 11 7. DANO MORALE MORTE DE MENOR Ainda, antes da Constituigdo de 1988, a jurispradéncia do Supremo Tribunal Federal firmou-se no entendimento de sor cabivel a indenizagao por morte de filho menor, ainda que no exeroesse trabalho remunerado (Simula n. 491 do STF). Como a exegese entio dominante nao autorizava a indenizagio de dano puramente moral, a ndo ser nas hipdteses excepcionais cogitadas em leis expressas, o Supremo ‘Tribunal Federal qualificava a morte do menor, na espécie, como representativa de um dano econdmico “potencial”, Apés a Constituigio de 1988, que afastou categoricamente qualquer oposigio & indenizabilidade da lesio moral pura, surgiram pretensdes de cumular a indenizagdo autorizada pela Siimula n. 491 do STF, que seria de ordem patrimonial, com outra, de natureza moral Ha, data venia, um excesso em tal posicionamento. Indenizar a lesio deformante e, ao mesmo tempo, consideré-la causa de reparagio por dano moral corresponde a um evidente bis in idem, capaz de transformar a medida ressarcitéria em fonte de enriquecimento sem causa. que pode &, num mesmo evento, concorrerem lesdes distintas, geradas pela deformidade estética. Assim, uma pessoa que depende da estética para sua vida profissional, pode além do desgosto psiquico provocado pelo aleijume, perder a condigéo de continuar usufruindo de sua carteira, como se dé com artistas, modelos ete. Jn casu, pode-se falar em duas indenizagSes: uma, pela dor moral do aleijume, ¢ outra, pela perda material das condigdes rofissionais preexistentes & lesio. Se, porém, a justificativa da indenizagao prejudicada restringe-se a propria deformidade fisiea, nao hé como dissocié-le da reparagio do dano moral. A disting2o era feita, com exatidto, pelo Superior Tribunal de Justiga: “O dano estético subsume-se no dano moral”.”? “Afirmado 0 dano moral em virtude exclusivamente do dano estético, nio se justifies o cimulo de indenizagées. A indenizagio por dano estético se justificaria se a por dano moral tivesse sido concedida a outro titulo”.”* Entretanto, paulatinamente o STJ veio modificando o seu entendimento quanto ao tema, culminando na edo, em 2009, da Siimula 387, no sentido de que “é licita a cumulagdo das indenizagdes de dano estético e dano moral”. A possibilidade dessa cumulagio, entretanto, depende de as consequéncias do evento danoso poderem ser separadamente indentificaveis.”” Ver a evolugio da jurisprudéncia apontada no Capitulo 1V, item 11 7. DANO MORAL E MORTE DE MENOR Ainda, antes da Constituigdo de 1988, a jurisprudéncia do Supremo Tribunal Federal firmou-se no entendimento de ser cabivel a indenizagdo por morte de filho menor, ainda que nao exercesse trabalho remunerado (Simula n. 491 do STE), Como a exegese entio dominante nio autorizava a indenizagio de dano puramente moral, a no ser nas hipdteses excepeionais cogitadas em leis expressas, o Supremo Tribunal Federal qualificava a morte do menor, na espécie, como representativa de um dano econdmico “potencial”, Apés a Constituigao de 1988, que afastou categoricamente qualquer oposigao a indenizabilidade da les moral pura, surgiram pretenses de cumular a indenizago autorizada pela Simula n. 491 do STF, que seria de ordem patrimonial, com outra, de natureza moral No entanto, esse posicionamento, num primeiro momento, foi rejeitado pelo Superior Tribunal de Justia, sob a justificativa de que a morte de crianga, sem atividade econdmica, nunca poderia Tepresentar um verdadeiro dano econdmico. O que o Supremo Tribunal Federal anteriormente fizera, fora apenas usar o sinuoso pretexto do “dano potencia!” ou “hipotético” para, na realidade, “conceder indenizagdo pelo dano moral, sem afirmé-lo diretamente”. Aliés, o proprio Supremo Tribunal Federal, ‘em mais de uma oportunidade, chegou a admitir que a indenizagio pela morte do filho menor “inspirou- se no principio da reparagao do dano moral”, de sorte a representar o princfpio da Stimula n. 491 do STF “uma forma obliqua de se atingir a reparagio do dano moral, dadas as reagdes que suscita o pleno reconhecimento do instituto”.** Dai que se 0 menor falecido niio era fonte de renda para a familia, no haveria lugar para cumular indenizagio de dano material como dano patrimonial. Lesio patrimonial nio teria havido, embora configurada, sem sombra de divida, a dor moral pela perda do ente querido. “Nesse caso, obviamente, no se podem sobrepor (as duas indenizagdes). E que o dano, em verdade, era apenas moral, ndo se podendo conceder outra verba a esse titulo." A posigio da jurisprudéncia antiga pode ser assim resumide: 4) seo filho menor jé era uma fonte de trabalho dtil ao sustento da familia, ha dano material e moral a indenizar, o primeiro sob a forma de pensionamento, eo segundo por meio de uma verba fixa arbitrada jjudicialmente; 5} se 0 menor nfo trabalhava “em prineipio os seus pais ndo fazem jus ao pensionamento de danos materiais, mas téio somente aos morais”;** ©) a indenizagao por danos morais “deve ser paga de uma s6 vez.e no em forma de pensio”."” entendimento, contudo, foi alterado. Atualmente, para o STJ, em se tratando de familia de baixa renda, & devida indenizaglo por dano material aos pais de filho menor morto, por se presumir o auxilio mituo entre os familiares: “Na hipétese de atropelamento seguido de morte por culpa do condutor do veiculo, send a vitima menor e de familia de baixa renda, ¢ devida indenizagao por danos materiais consistente em pensionamento mensal 0s genitores do menor falecido, ainda que este no exercesse stividade remunerada, visto que se presume haver ajuda mitua entre os integrantes dessas familias”."* “Reconhecido como indevido 0 aponte a protesto, sustado por forga do ajuizamento de medida eautelar, ¢ admitida a responsabilidade do recorrido, que agiu com imprudéncia, hé de ser acothido o pedide de danos morais”."* “Esta Corte, consoante entendimento pacifico, tem admitido 2 alteragdo do valor indenizatorio de danos ‘morais, para ajusté-lo aos limites do razodvel, quando patente, como sucede na espécie, a sua desmesurs, Tem sido de vinte salérios minimos a indenizagao por danos morais, resultante de situagdes semelhantes como a inscrigo inadvertida em cadastros de inadimplentes, a devolugio indevida de cheques, 0 protesto incabivel de cambiais etc.”®” A respeito da falsa imputagio de crime para abertura de inquérito poticial ou ago criminal, esta assente a Jurisprudéncia no sentido de que o simples arquivamento do inquérito ou a improcedéncia da demincia formulada no so suficientes para impor tesponsabilidade civil ao autor da notitiacriminis. A comunicagio da suspeita de ctime 4 autoridade policial no é apenas um direito da vitima, 6 também um dover de todo cidadio, « quem compete colaborar na persecutio criminis € na apuragio da verdade em tomo das condutas ilfcitas ou prenunciadoras de ilicitude penal Quando, porém, a acusagio ¢ maldosa ou leviana, torna-se abusiva a provecagio da atuagdo dos érgios repressivos da delinquéncia ¢, pelos reflexos altamente negativos que produz, o seu efeito juridico imediato, para o agente, € sua sujeigao A responsabilidade civil de indenizar o dane moral acarretado a vitima da ‘imputagio infamante. O crime de demunciagio caluniosa, para a lei penal, s6 se configura quando o agente atua com dolo especific. Para a responsabilidade civil também se entende que nao basta a culpa ordinaria, sendo necessiria a intengio maldosa de imputar falsamente 0 crime a vitima, ou pelo menos a culpa grave, préxima do dolo, que é a conduta temeréria na veiculagio da falsa noritia criminis perante as autoridades responsdveis pela aplicagao das leis penais. Nese sentido, Wladimir Valler distingue o elemento subjetivo do crime de denunciagio caluniosa (dolo criminal) daquele necessério para a configuragio da responsabilidade civil por dano moral (conduta temerdria).” E Aguiar Dias contenta-se em exigir, para o cabimento do direito de indenizagdo pela falsa acusago desonrosa, a culpa do acusador que agiu “sem tomar as precaupdes necessdrias para ndio perpetrar uma injustiga; nesse caso, a temeridade ou a mera leviandade configura 0 abuso”.” Nesse sentido, o entendimento do STJ: “a notitia criminis, desde que nao caracterizada ma-fé, enquadra~ se no exercicio regular de direito, nao ensejando qualquer reparagdo civil”.”” “Nao comete ato ilicito quem, em boa-fé, leva ao conhecimento da autoridade policial fato que, em tese, constitui crime, ainda que posteriormente o inquérito seja arquivado”.”* ‘Numerosas so, por outro lado, as ages de indenizagao por dano moral em que os promoventes acusam seus credores (bancos ¢ comerciantes em geral) de lhes terem causado dano moral por meio de inscrig&o de ocorréncia desabonadora no Servigo de Protegdo ao Crédito - SPC ou na SERASA, por considerar tal expediente como constrangimento empregado na cobranga de crédito, pritica ilicita segundo 0 art. 42 do Codigo de Defesa do Consumidor. A doutrina, todavia, adverte que esses registros cadastrais de pontuatidade so indispensaveis a seguranga das relagdes comerciais € nunca foram qualificados como praxes ilicitas. Pelo contério, 0 Cédigo do Consummidor reconhece sua existéncia © os aprova, tanto que disciplina sua instalagdo ¢ funcionamento, “equiparando-0s a0 servigo publico (art. 43, § 4°, do CDC)”. Logo, “sua utilizagdo pelo credor nao pode ser tida como abusiva”, para fins de dano moral, tornando “ausente a possibilidade juridica do pedido”."* constrangimento que o Cédigo de Defesa do Consumidor (art. 42) quis impedir ne cobranga de dividas “nio & qualquer forma de constrangimento, mas apenas o constrangimento ilegal ou abusivo”. Por siio corresponder praxe ilegal nem tampouco abusiva, “ndo é ilegal ameagar o devedor de negativagio dos servigos de protego a0 crédito, de envio do titalo ao Cartorio de Protesto, ov, ainda, do ajuizamento de ago juclicial”** ‘A propésito do cadastro de pontualidade da clientela mantido em comum pelo sistema bancério nacional, jé tivemos oportunidade de observar 0 seguinte: “A SERASA é uma sociedade andnima, isto é, uma entidade privada, que mantém um cadastro da clientela bancétia, para prestagdo de servigos exclusivamente a seus associados, que so virios bancos nacionais. Os dados compilados, como acontece em qualquer cadastro bancério, so confidenciais ¢ sigilosos. Seus registros no sio publicados ou divulgados perante estranhos. Servem apenas de fonte de consulta para os bbancos associados, os quais utilizam as informagbes como dados necessétios ao estudo ¢ deferimento das operagdes de crédito usualmente praticadas. Anotar, portanto, a conduta de certo cliente no cadastro da SERASA é operagao de rotina que jamais podera ser vista como ato ilegal ou abusivo, mesmo porque a atividade bancéria tem, nos dados sigilosos do cadastro da clientela, o principal instrumento de seguranga da atividade crediticia que desempenha. ‘Na verdade, nenhum estabelecimento de crédito pode prescindir do apoio de rigoroso controle cadastral sobre a idoneidade moral e patrimonial dos seus mutudrios, em virtude da propria natureza das ‘operagdes que constituem a esséncia de sua mercancia. Se, pois, 0 langamento, no caso da consulta, foi verdadeiro, em hipétese alguma paderé ser havido como danoso do ponto de vista moral, pelo menos para justficar uma indenizagdo civil. que sem 0 dado da ilicitude inadmissivel ¢ cogitar-se de responsabilidade civil, seja por dano material, seja por dano moral, conforme jé se demonstron, A anotagio de que se queixa o autor da agG0 indenizatéria teria como objeto o inadimplemento dos financiamentos que Ihe foram concedidos pelo Banco demandado. Ora, a falta de pagamento ocorreu, de fato, a seu devido tempo. Logo, sendo verdadeiro 0 contetido do registro cadastral, impossivel seria t@-1o como ‘ilicito’, para justificar uma indenizago por dano moral. ‘Ausentes se acham, & evidéncia, os requisitos indispensveis & configuragiio do ato ilicito, E, sem ailicitude, impensivel é a responsabilidade civil, pelo menos em caso de simples dor psicolbgica suportada subjetivamente por alguém”™" Assim, também, tem sido, desde longa data, o promunciamento dos tribunais “Indenizagio ~ Dano moral ~ SPC - Estabelecimento bancério ~ Culpa —Nexo causal. ~ 0 fato de o banco credor passar & entidade de protegdo ao crédito informagdes sobre devedores realmente inadimplentes constitui, 120 somente, exercicio regular de direito, — Nio provado nexo causal, impossivel imputar ao banco conduta culposa, que geraria constrangimento capaz. de ensejar dano moral” Em linha de prinefpio, o dano moral, como ato ilicito, no prescinde do elemento subjetivo, de modo que os registros de protegdo ao crédito, bem como os atos de protesto € as medidas judiciais de cobranga, quando manejados sem abuso, néio podem ensejar responsabilidade civil para o credor. Assim, sendo legitimo o protesto, o pagamento posterior da divida, nfo acarreta dano moral indenizével pelo fato de nao ter 0 eredor procedido ao cancelamento previsto no art. 26 da Lei n, 9.492/1997, uma vez. que 0 dnus da diligéncia cabe a0 devedor € nao ao credor.”* Ainda por auséncia de ilicitude, “a denegagao de concessio de financiamento por inslituigéo financeira néo constitui, de per si, ato ilicito, destacadsmente por configurar o miituo um negécio juridico euja consolidagdo é antecedida de um procedimento interna corporis objetivo e subjetivo no ambito do agente econdmico, com intimeras variantes a serem observadas, dentre as quais a liquidez, rentabilidade ¢ seguranga”.”” ‘Também por igual motivo, “ndo comete ato ilicito © comerciante que, recebendo cheque sem provisio de fundos, encaminha o nome do emitente para cadastro de protegio ao crédito”, ja que nio hé configuracao de dano moral, Se, de um lado, nao comete dano moral o credor que executa a obrigagdo vencida, também entende a jurisprudéncia que o devedor que nio paga o débito no vencimento nio causa dano da espécie ao credor: “O mero inadimplemento contratual niio enseja, por si 86, indenizagao por dano moral, ‘Salvo circunstincia excepeional que coloque 0 contratante em situagdo de extraordindria angistia ou humilhagdo, nfo ha dano moral. Isso porque, o dissabor inerente a expectativa frustrada decorrente de inadimplemento contratual se insere no cotidiano das relagdes comerciais e nio implica lesfio & honta ou violagdo da dignidade humana’ (REsp n. 1.129.881/RJ, relator Ministro Massami Uyeda, 3* Turma, undnime, DJe 19.12,2011)".'" £, outrossim, jurisprudéncia antiga e consolidada no STS a tese de que nfo é vedada a “inscrigao do nome do devedor em servico de protegao ao crédito quando, a respeito da divida, existe litigio posto em jufzo. Hipoteses em que se teve como ausente o fumus bon iuris” para obtengao de medida cautelar impeditiva.'”” E evidente, no entanto, que havera dano moral ressarcivel sempre que o langamento realizado no cadastro do Servigo de Protegdo ao Crédito - SPC, ou na SERASA for indevido (divida ja paga ou a qualquer titulo inexigivel). E que os efeitos de tais registros sio nocivos ao conceito do devedor, podendo comprometer-lhe a honra ¢ o bom nome no seio da comunidade em que vive. Se nao havia razio legitima para explicar 0 assento, reveste-se a conduta de quem o promoveu do cardter abusivo e ilicito, Nesses casos, entende o STJ que o dano moral “configura-se in re ipsa, isto 6, prescinde de prova, ainda que a prejudicada seja pessoa juridica”." Reconhece-se, também, que o devedor, mesmo inadimplente, tem 0 diteito de set notificado antes do langamento de seu nome no servigo de protegio ao crédito (CDC, art, 43, § 2°). Desse modo, se niio se observa essa cautela, que daria oportunidade 4 purga da mora, configurado estaria o direito a uma indenizagio por dano moral. © STJ, entretanto, ja sedimentou o seguinte entendimento, em julgamento de recurso especial repetitive: “O STJ j4 consolidou sua jurisprudéncia no sentido de que ‘a auséncia de prévia comunicagio a0 ‘consumidor da inscri¢ao do seu nome em cadastros de protegao ao crédito, prevista no art. 43, § 2° do CDC, enseja 0 dircito compensario por danos morais, salvo quando preexista inscrigio desabonadora regularmente realizada’ (Recursos Especiais em Processos Repetitivos n° 1.061.134/RS_ ¢ 1,062.336/RS)”.'" Vale dizer: a reiteragio de notas desabonadoras contra 0 mesmo devedor inadimplente, no obriga a comunicagéo prévia a cada uma das insergdes repetitivas, ou pelo menos nfo configura, pela omissio, dano moral indenizivel. 9. DANO MORAL EM ACIDENTE DO TRABALHO ‘A atual Carta Magna consagrou a autonomia entre o ressarcimento previdenciério da lesio softida pelo obreito em acidente do trabalho e a responsabilidade civil comum do empregador, podendo ocorrer a cumulagio de ambos, ‘quando se configurar dolo ou culpa patronal no evento danoso. Justamente por ser inerente & atividade laboral, no desempenho das préticas comerciais ¢ industria, um certo risco, a ordem juridica instituiu o seguro de acidentes do trabalho, tomando-o exigivel em cariter objetivo, sem qualquer conotagtio com o elemento culpa, ¢ obrigando o empregador ao seu custeio perante a Previdéncia Social. No entanto, como o patrio pode agravar o risco da prestapdo de servigo por seus empregados, a Constituigdo previu que, no acidente do trabalho, concorrendo dolo ou culpa do empregador, haverd este de sujeitar-se & responsabilidade civil de direito comum, sem prejuizo da indenizagio previdencitia. Essa responsabilidade concorrente, como é intuitivo, no pode ser objetiva como a da infortunistica, nem pode fundar-se em mera presungo de culpa derivada do caréter perigoso da atividade desenvolvida ou por qualquer ‘mecanismo de apoio da responsabilidade indenizatérie na teoria do risco. Para cobrir todos os riscos da atividade desenvolvida na empresa, 0 empregador custeia o seguro previdencidrio de acidente de trabalho. Para que nas¢a, entdo, 0 dever paralelo de responder pela teparacao de direito comum, ¢ imprescindivel que, in concreto, tenha ocorrido violagdo de alguma norma de seguranga obrigatéria nas condigdes em que o trabalho se desenvolvia 0 ressarcimento de dano material e moral, na espécie, somente seré imputado ao empregador se 0 autor da ago indenizat6ria cumprir, adequadamente, o 6nus da prova quanto A infragdo praticada pelo réu, no fato configurador da causa do acidente Nesse sentido, era pacifico na jurisprudéncia do Superior Tribunal de Justiga o entendimento de que: “Na agio de indenizagio fundada em responsabilidade civil comum (art. 159 do CC) [atual art. 186], promovida por vitima de acidente de trabalho, cumpre a esta comprovar o dolo ou culpa da empresa empregadora, Somente se cogita da responsabilidade objetiva em sc tratando de reparago acidentaria, assim considerada aquela devida pelo érgio previdenciério satisfeita com recursos oriundos do seguro obrigatério, custeado pelos empregadores, que se destina exatamente a fazer face aos riscos normais da atividade econdmica no que respeita ao infortinio laboral”.* No entanto, mais modemnamente, a jurisprudéncia daquela alta Corte tem invertido o énus da prova, carreando-o para o empregador: “Na linha da jurisprudéncia desta Corte, presume-se a responsabilidade subjetiva do empregador nos casos de acidente de trabalho, Assim, para exonerar-se da obrigacio indenizatéria, cabe ao empregador comprovar nfo ter agido com culpa, mesmo leve”."* ‘Vé-se, pois, que, no tema sob enfoque, ha que se distinguir a indenizagio oriunda da infortunistica (risco da atividade) e a indenizagio fundada na responsabilidade civil do direito comum (responsabilidade aquiliana). Aquela so aplicaveis os prineipios da responsabilidade objetiva, ou da culpa presumida. Porém, para que a vitima faca jus indenizagdo civil de direito comum, “é necessério que prove a culpa do empregador”.!"” Destarte, tratando-se de indenizagio de direito comum, por acidente de trabalho, a nosso ver, nao se pode valer de presungio de culpa do empregador,transferindo-Ihe o dnus da prova de alguma das excludentes para ver afastada sua responsabilidade como, data venia, se faz em alguns julgados. abusivo e ilicito, Nesses casos, entende o STJ que o dano moral “configura-se in re ipsa, isto 6, prescinde de prova, ainda que a prejudicada seja pessoa juridica”.'”* Reconhece-se, também, que o devedor, mesmo inadimplente, tem o ditcito de sor notificado antes do langamento de scu nome no servigo de protegao ao crédito (CDC, art, 43, § 2°). Desse modo, se no se observa essa ceautela, que daria oportunidade a purga da mora, configurado estaria o direito a uma indenizagio por dano moral. © STJ, entretanto, ja sedimentou o seguinte entendimento, em julgamento de recurso especial repetitive: “O STI ja consolidou sua jurispridéncia no sentido de que ‘a auséncia de prévia comunicagio a0 consumidor da inscrigio do scu nome em cadastros de proteyio ao crédito, prevista no art. 43, § 2° do CDC, enseja o dircito & compensagéo por danos morais, salvo quando preexista inscriglo desabonadora regularmente realizeda’ (Recursos Especiais em Processos Repetitivos n® 1.061.134RS_ 1.062.336/RS)".""* Vale dizer: a reiteraglio de notas desabonadoras contra o mesmo devedor inadimplente, néo obtiga a comunicagio prévia a cada uma das insergées repetitivas, ou pelo menos néo configura, pela omissio, dano moral indenizivel. 9. DANO MORAL EM ACIDENTE DO TRABALHO A atual Carta Magna consagrou a antonomia entre o ressarcimento previdencifrio da lesdo sofride pelo obreiro em acidente do trabalho ¢ a responsabilidade civil comum do empregador, podendo ocorrer a cumulagdo de ambos, quando se configurar dolo on culpa patronal no evento danoso. Justamente por ser inerente a atividade laboral, no desempenho das priticas comereiais e industria, um certo risco, a ordem juridica instituiu o seguro de acidentes do trabalho, tomando-o exigivel em caréter objetivo, sem ‘qualquer conotagdo com o elemento culpa, ¢ obrigando o empregador ao seu custeio perante a Previdéncia Social No entanto, como o patrio pode agravar 0 risco da prestagdo de servigo por seus empregados, a Constinigaio previu que, no acidente do trabalho, concorrendo dolo ou culpa do empregador, haverd este de sujeitar-se & responsabilidade civil de direito comum, sem prejufzo da indenizagio previdenciéria. Essa responsabilidade concorrente, como é intuitivo, nao pode ser objetiva como a da infortunistica, nem pode fundar-se em mera presungo de culpa derivada do carder perigoso da atividade desenvolvida ou por qualquer ‘mecanismo de apoio da responsabilidade indenizat6ria na teoria do risco. Para cobrir todos os ris 08 da atividade desenvolvida na empresa, o empregador custeia o seguro previdenciario de acidente de trabalho. Para que nas¢a, entdo, o dever paralelo de responder pela reparagio de dircito comum, é imprescindivel que, in concreto, tenha ocorrido violagdo de alguma norma de seguranga obrigatéria nas condigdes em que o trabalho se desenvolvia ressarcimento de dano material e moral, na espécie, somente sera imputado ao empregador se o autor da ago indenizatoria cumprir, adequadamente, o nus da prova quanto a infragao praticada pelo réu, no fato configurador da causa do acidente. ‘Nesse sentido, era pacifico na jurisprudéncia do Superior Tribunal de Justiga o entendimento de que: “Na ago de indenizago fundada em responsabilidade civil comum (art, 159 do CC) [atual art. 186), promovida por vitima de acidente de trabalho, cumpre a esta comprovar 0 dolo ou culpa da empresa empregadora, Somente se cogita da responsabilidade objetiva em se tratando de reparagao acidentéria, assim considerada aquela devida pelo érgio previdenciério satisfeita com recursos oriundos do seguro ‘obrigatério, custeado pelos empregadores, que se destina exatamente a fazer face aos riscos normais da atividade econémica no que respeita 20 infortinio laboral”.!* No entanto, mais modernamente, a jurisprudéncia daquela alta Corte tem invertido o 6nus da prova, carreando-o para o empregador: “Na linha da jurisprudéncia desta Corte, presume-se a responsabilidade subjetiva do empregador nos casos de acidente de trabalho, Assim, para exonerar-se da obrigagio indenizatoria, cabe ao empregador comprovar nao ter agido com culpa, mesmo lev ‘Vé-se, pois, que, no tema sob enfoque, hé que se distinguir a indenizagao oriunda da infortunistica (risco da atividade) e a indenizagio fimdada na responsabilidade civil do direito comum (responsabilidade aquiliana). Aquela so aplicdveis os principios da responsabilidade objetiva, ou da culpa presumida, Porém, para que a vitima faga jus & indenizagio civil de dieito comum, “é necessério que prove a culpa do empregador”."”” Destarte, tratando-se de indenizagio de direito comum, por acidente de trabalho, a nosso ver, nao se pode valer de presungio de culpa do empregador, transferindo-the © aus da prova de alguma das excludentes para ver afustada sua responsabilidade como, data venta, se faz em alguns julgados. Consoante as regras vigentes no direito patrio, a culpa do empregador nao pode ser presumida, Pelo contrério, sua responsabilidade somente se configura com a cabal demonstragdo de sua conduta culposa € cujo 6nus da prova compete ao empregado. E totalmente inaceitével, segundo nosso entendimento, imputar-se ao empregador 0 Gnus de provat, por exemplo, forga maior ou culpa exclusiva da vitima, ¢ presumir culpa do patrio porque o acidente ocorreu durante transporte dos operitios para o trabalho ou por explosio de méquina, para a qual nfo se apurou culpa alguma do emprogador. Essas presungbes de culpa aceitas pela teoria do isco (Fato da coisa, ou dever de transportar ineélume 0 passageiro) vigoram nas relagdes comuns do deno da coisa perigosa com terceiros, ou do transportador com 0 usuario do seu servigo, Nao podem, definitivamente, ser transferidas para 0 campo do acidente do trabalho, porque representatiam sujeitar 0 empregador duas vezes a responder pelo risco de sua atividade: a primeira, a0 custear 0 seguro previdenciirio; © a segunda, ao ser condenado a uma indenizago, sem culpa efetivamente comprovada € apenas presumida. Nada obstante, o Superior Tribunal de Justiga tem hoje como entendimento consolidado o de que, sem embargo de tratar-se de responsabilidade subjetiva por forga do texto constitucional, eabe inverter-se o énus da prova, certamente em decorréncia da hipossuficiéncia do trabalhador. Assim, € pacifica a jurisprudéneia atual dagucla alta Corte que libera o acidentado do encargo de provar a culpa do empregador, cabendo a este comprovar que observou todos os requisitos de seguranga do trabalho, nfo tendo assim incortido na culpa necessitia para suportar a responsabilidade civil ordinaria no evento danoso.'"* © STI nao transformou ~ € bom ressaltar — a responsabilidade subjetiva na espécie em objetiva. A criagdo pretoriana limitou-se ao plano do énus da prova relativamente ao elemento culpa, que continua sendo essencial. E sempre bom ter em mente que culpa presumida e responsabilidade objetiva so conceitos que, tecnicamente, nio se confundem. Enquanto a responsabilidade objetiva elimina qualquer andlise do elemento culpa, na culpa presumida tem-se apenas uma presungiio juris tantum, por isso mesmo, passivel de prova em contrario. FE justamente o que a jurisprudéncia tem feito em relagdo responsabilidade aquiliana, em concorréncia com a responsabilidade acidentiria. Apenas por impropriedade de linguagem alguns arestos falam em responsabilidade objetiva na espécie, muito embora todos admitam prova em contrério a cargo do empregador. Ver, por exemplo, 0 Ag no REsp 1.287.480/SP, Relator Ministro Mareo Buzzi, ac. 05.05.2015, DJe 01.06.2015. Compete destacar, por fim, que a partir da Emenda Constitucional n. 45 de 2005, a competéneia para apreciar ¢ julgar agdo de indenizagao decorrente de danos sofridos em raziio de acidente de trabalho ¢ da Justiga do Trabalho. Esse é o teor da Simula Vinculante n, 22 do STF: “A Justica do Trabalho € competente para processar e julgar as ages de indenizagio por danos morais € Patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra emprogador, inclusive aquelas que ainda nfo possuiam sentenga de mérito em primeiro gran quando da promulgagao da Emenda Constitucional n® 45/04”. ‘Ver sobre o tema da competéncia, no Capitulo |, 0 item 16 a seguir, 10. O PROBLEMA DA LIQUIDACAO DO DANO MORAL 0 problema mais sério suscitado pela admissdo da reparabilidade do dano moral reside na quantificagao do valor econémico a ser reposto ao ofendido, Quando se trata de dano material, calcula-se exatamente o desfalque softide no patriménio da vitima, e a indenizagio consistird no scu exato montante. Mas quando o caso ¢ de dano moral, a apuragio do quantum indenizatorio se complica porque o bem lesado (a honra, o sentimento, nome ete.) niio se mede monetariamente, ou seja, ndo tem dimensdo econémica ou patrimonial. Cabe, assim, ao prudente arbitrio dos juizes ¢ a forca criativa da doutrina e jurisprudéncia, a instituigdo de critérios e pardmetros que haverio de presidir as indenizagdes por dano moral, a fim de evitar que o ressarcimento, na espécie, no se tome expressito de puro arbitrio, jé que tal se transformaria numa quebra total de principi basicos do Estado Democritico de Direito, tais como, por exemplo, o principio da legalidade e o principio da isonomia. Se a vitima pudesse exigir a indenizagio que bem quisesse e se o juiz pudesse impor a condenagio que the aprouvesse, sem condicionamento algum, cada caso que fosse ter & Justica se transformaria num jogo lotérico, com solugdes imprevisiveis e as mais disparatadas. Onde estaria, entio, 0 ampato que a Constituigio assegurou a0 prineipio da legalidade? Aonde iria parar o principio do tratamento igualitério de todos perante a ordem juridica? Para fugir aos célculos arbitrérios, no caso, por exemplo, de indenizagio por dano moral nas relagdes de consumo, Tupinamba Miguel Castro do Nascimento sugere o recurso a analogia, com base no art. 4° da Lei de Introdugao, Uma vez que, por exemplo, 0 Codigo do Consumidor nio cuidou de apontar qualquer critério, poder-se- ia langar mio dos dados constantes do Cédigo Brasileiro de Telecomunicagdes (Lei n. 4.117, de 27.08.1962), onde existem céloulos reparatérios organizados em fungao de certos nimeros de salérios minimos,'™ Esse recurso & solugdo analégica com as regras da Lei de Telecomunicagdes e, as vezes, também, da Lei de Imprensa, JA foi, algumas vezes, adotado, igualmente, pela jurisprudéncia,'"” Ja em antigo acérdio do Tribunal de Apelagao de Minas Gerais, Amilcar de Castro invocava as ligdes de Ripert, Pedro Lessa, Clovis, Planiol, Vanni, entre muitos outros, para afirmar que, na espécie, a indenizagio nao compensa nem faz desaparecer a dor do ofendido. A reparagio nio compreende, por isso mesmo, uma “avaliagio da dor em dinheiro”, Representa, apenas, uma forma de tutelar um bem no patrimonial que foi violado. A indenizagio ¢ feita, entéio, como maneira de substituir um bem juridico por outro.""" Como a dor nfo se mede monetariamente, a importéncia a ser page tera de submeter-se a um poder discricionario, mas segundo “um prudente arbitrio dos juizes na fixagio do quantum da condenagaio, arbitrio esse que emana da natureza das coisas”. E concluia o douto Des, Amilear de Castro: “Causando o dano moral, fica o responsivel sujeito as consequéncias de seu ato, a primeira das quais ser essa de pagar uma soma que for azbitrada, conforme a gravidade do dano ¢ a fortuna do responsével, a ctitério do poder judicidrio, como justa reparagio do prejuizo softide, e io como fonte de enriquecimento”.'"? Recomendava, ainda, 0 mesmo decisério, que a condenagio fosse o pagamento do “que for arbitrado razoavelmente”, porque nao se trata de “enriquecer um necessitado” nem de “aumentar a fortuna de um milionério”, ‘mas apenas de “impor uma sangdo juridica ao responsivel pelo dano moral causado”.!"> A reparagéo do dano moral, segundo Aguiar Dias deve seguir um processo idoneo que busque para o ofendido um “equivalente adequado”, Lembra, para tanto, a ligio de Lacoste, segundo a qual nfo se pretende que a indenizagio fundada na dor moral “seja sem limite”. Alias, “a reparagio pecuniéria seré sempre, sem nenhuma divide, inferior ao prejuizo experimentado, mas, de outta parte, quem atribuisse demasiade importincia a esta reparagio de ordem inferior se mostraria mais preocupado com a ideia de Iucro do que mesmo com a injiia As suas afeigdes; pareceria especular sobre sua dor e seria evidentemente chocante a condenagio cuja cifra favorecesse tal coisa”. Uma vez que nenhuma possibilidade hé de medir-se pelo dinheiro um sofrimento puramente moral, Caio Mario da Silva Pereira recomenda que se faga um jogo duplo de nogées: “d) de um lado, @ ideia de punigdo do infrator, que no pode ofender em vao a esfera jutidica alheia; ) de outro lado, proporcionar a vitima uma compensagdo pelo dano suportado, pondo-Ihe © ofensor nas mfos uma soma que no é o pretium doloris”.""* Quanto & punigao do culpado, a condenagio “nio pode deixar de considerar as condigdes econdmicas e sociais dele, bem como a gravidade da falta cometida, segundo um critério subjetivo” — observa Caio Mério. Quanto 20 ressarcimento, deve corresponder a um equivalente que a quantia em dinheiro proporciona a vitima “na proporgio da lesiio sofrida”.'"* Mais do que em qualquer outro tipo de indenizagio, a reparacdo do dano moral hé de ser imposta a partir do fundamento mesmo da responsabilidade civil, que no visa a criar fonte injustificada de Iucros e vantagens sem causa. Vale, por todes os melhores estudiosos do complicado tema, a doutrina de Caio Mario, em tomo do arbitramento da indenizago do dano moral: “E, se em qualquer caso se dé a vitima uma reparagio de damno vitando, e nao de lucro capiendo, mais do ‘que munca hé de estar presente a preocupagio de conter a reparagio dentro do razodvel, para que jamais se converta em fonte de enriquecimento”.!"” ‘Se de um lado se aplica uma punigZo Aquele que causa dano moral a outrem, e é por isso que se tem de levar em ‘conta @ sua capacidade patrimonial para medir a extensio da pena civil imposta, de outro lado, tem-se de levat em conta também a situagio € 0 estado do ofendido, para medir a reparagdo em face de suas condigdes pessoais € sociais. Se a indenizagdo ndo tem o propésito de enriquecé-lo, tem-se que atribuir-lhe aquilo que, no seu estado, seja necessirio para proporcionar-Ihe apenas obtengao de “satisfagdes equivalentes ao que perdeu”, como lembram Mazeaud e Mazeaud.* Em anilise feita j4 8 luz da Constituicao de 1988, 0 grande civilista contemporiineo Caio Mario da Silva Pereira, tragou o seguinte balizamento para a fixagio jento no caso de dano moral, que, sem diivida, corresponde a melhor e mais justa ligéo sobre © penoso tema: “A vitima de uma lesio a algum daqueles direitos sem cunho patrimonial efetivo, mas ofendida em um bem Juridico que em certos casos pode ser mesmo mais valioso do que os integrantes de seu patriménio, deve receber uma soma que lhe compense a dor ou o sofrimento, a ser arbitrada pelo juiz, atendendo as circunsténcias de cada caso, ¢ tendo em vista as posses do ofensor ¢ a situaglo pessoal do ofendido, Nem tio grande que se converta cm fonte de enriquecimento, nem téo pequena que se torne inexpressiva”.!"* Rafael Garcia Lépez, lembrado por Arruda Alvim como autor de excelente monografia sobre assunto, ensina, coerentemente com 0 que se acaba de expor, que o ressarcimento da lesdo aos bens que integram o imbito estritamente pessoal da esfera juridica do sujeito de direito, dé-se “por via satisfativa sujeita ao critério equitative do jie Caberd, portanto, ao juiz arbitrar o valor que, no caso concreto, entende suficiente para indenizar a vitima, sempre pautando-se no critério da razoabilidade, A jurisprudéneia do STJ ¢ pacifica no sentido de que o valor arbitrado pelas instincias ordinérias somente pode ser objeto de revisio pela Corte Superior, “nas hipéteses ‘em que a condenago se revelar irriséria ou exorbitante, distanciando-se dos padrdes de razoabilidade” 10.1. Juros e correcéo monetiria ‘Como reparagio de ato ilicito, o ressarcimento do dano moral sujeita o responsdvel a juros moratdrios monetéria, Os juros, & taxa legal, incidem desde a consumagiio do dano, visto que “nas obrigacdes provenientes de ato ilicito, considera-se o devedor em mora, desde que o praticou” (Céd. Civil, art. 398). 0 STI, apis divergéncia quanto ao termo inicial dos juros, pacificou 0 tema, entendendo pela sua incidéncia a partir do evento danoso: e conegio “1. O acertamento do direito & indenizagio por dano moral e sua quantificagio pela via judicial nio clide 0 fato de que a obrigagdo de indenizar nasce com o dano decorrente da pratica do ilicito, momento em que a reparagio tomna-se exigivel. Inteligncia dos arts. 186, 927 e 398, todos do Codigo Civil (..) 3. (Os juros moratérios fluem a partir do evento danoso, em caso de responsabilidade extracontratual” (Stimula $4/STJ)"."22 Quanto A corregdo monetitia, é de ser calculada a partir do ato judicial que arbitrar © quantum indenizatorio. Antes, porém, de caleular os juros € necessério cotrigir 0 principal da condenagio, pois deverdio aqueles scr aplivados sobre o valor atualizado da indenizagao, Sobre o tema existe jurisprudéncia sumulada do STJ: “A corrego monetéria do valor da indenizagao do dano moral incide desde a data de arbitramento” (Simula 362/STJ). E certo, pois, que 0 reajuste das indenizagdes por dano moral ha de ser feito a contar da data em que o valor foi definido na sentenga e no da data do ato ilicito ou da Propositura da ago, Quando 0 juiz condena e arbitta o valor da condenagao, o faz segundo uma estimativa contemporanea ao julgado e no segundo dados pretéritos.. 11. O CARATER “PUNITIVO” DA INDENIZACAO IMPOSTA AO CAUSADOR DO DANO MORAL Fala-se, frequentemente, em doutrina ¢ jurisprudéncia, num certo cardter punitivo que a reparagio do dano moral teria, de tal sorte que a0 condenar o ofensor a indenizé-lo a ordem juridica teria em mente nio si 0 ressarcimento do prejuizo acarretado ao psiquismo do ofendido, mas também estaria atuando uma sangdo contra 0 culpado tendente a inibir ou desestimular a repetigao de situagdes semelhantes. Ha, nisso, razio de ordem étice, que, todavia, deve ser acolhida com adequagio ¢ modereg4o no campo da responsabilidade civil, que & geneticamente de direito privado, e nao de direito piiblico, como se dé com o direito penal. A este, e nio ao direito privado, compete reprimir as condutas que, na ordem geral, se tomam nocivas a0 interesse coletivo. Urge, pois, respeitar-se a esfera de atuaglo de cada segmento do diteito positivo, sob pena de sujeitar-se 0 individuo a softer sangdes repetidas ¢ cumuladas por uma tinica infragio, Um dos principios fundamentais da repressdo piblica aos delitos & justamente o que repele o Bis in idem, isto é, a imposigo de duas condenagdes, em processos diferentes, pela mesma conduta ilicita. Dal que o carater repressivo da indenizagio por dano moral deve ser levado em conta pelo juiz cum grano salis. A ele se deve recorrer apenas a titulo de critério secundirio ou subsidiétio, € nunca como dado principal ow determinante do calculo do arbitramento, sob pena de desvirtuar-se a responsabilidade civil e de impregné-la de um cunho repressive exorbitante ¢ incompativel com sua natureza privada ¢ reparativa apenas da lesio individual Emblematica & a previsio do art. 944 do Cédigo Civil, segundo a qual “a indenizagdo mede-se pela extensio do dano”, segundo jurisprudéncia firme do STJ, a reparagdo devida em razio do dano moral deve sempre ser estimada 4 luz da razoabilidade em face das cireunsténcias de cada caso.'”” 12, O ARBITRAMENTO DA INDENIZACAO DO DANO MORALE ATO EXCLUSIVO E INDELEGAVEL DO JUIZ Por se tratar de arbitramento fundado exclusivamente no bom senso ¢ na equidade, ninguém além do préprio Juiz esta credenciado a realizar a operagio de fixagio do quantum com que se teparari a dor moral. Esté, portanto, solidamente estabelecide na doutrina que, nao apenas 0 poder de decidir sobre a existéncia ¢ configuragéo do dano moral e do nexo causal entre ele € a conduta do agente, mas, também e sobretudo, a sua quantficagio, comespondem a temas que somente podem ser confiados ds mdos do julgador ¢ ao seu prudente carbitrio,! & inaceitavel, nessa ordem de ideias, relegar a determinagio do valor da indenizagio do dano moral a uma atividade de érbitros em procedimento comum de liquidago por arbitramento, Isto equivaleria, in casu, a uma delegagio de jurisdigio, o que é inadmissivel, segundo os principios. O julgamento por equidade apenas o juz esti credenciado a promover, em tais circunstincias. Por isso mesmo, a jurisprudéncia tem sido enfitica em proclamar que: “O arbitramento do dano moral & apreciado eo inteiro arbitrio do juz, que, nfo obstante, em cada caso, deve atender a repercussio econémica dele, a dor experimentada pela vitima e a0 grau de dolo ou culpa do cofensor”,!” J4 houve, outrossim, quem recusasse ao Tribunal de Segundo Grau a competéncia para arbitrar a indenizag' quando o juiz de primeira instincia nfo o houvesse feito, por qualquer razio, como, por exemplo, por ter julgado improcedente o pedido de reparagdo do dano moral, porque a decisto do recurso que procedesse, desde logo, ao referido arbitramento ofenderia os principios do contraditério ¢ do duplo gran de jurisdigfio. Nao nos parece procedente tal censura. E certo que vozes abalizadas defendem, na doutrina, a exigéncia de respeitar-se 0 contraditério até mesmo nas questies

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