Semana da Filosofia e da Psicologia, 2019
Semana da Filosofia e da Psicologia, 2019
Artigo de Miriam Brito, 12.º A1 (2018/2019).
Professora: Edite Azevedo
Edição: Biblioteca ESJAC
Semana da Filosofia e da Psicologia, 2019
Semana da Filosofia e da Psicologia, 2019
Artigo de Miriam Brito, 12.º A1 (2018/2019).
Professora: Edite Azevedo
Edição: Biblioteca ESJAC
Semana da Filosofia e da Psicologia, 2019
Semana da Filosofia e da Psicologia, 2019
Artigo de Miriam Brito, 12.º A1 (2018/2019).
Professora: Edite Azevedo
Edição: Biblioteca ESJAC
Brraaaa...ffff (encolher os ombros). Por que é que eu sou assim? Por que é que isto não para?
Estou frustrado… ninguém me entende… Sinto-me exausto de tentar, constantemente, explicar às
pessoas que a Tourette é uma doença. Uma doença neurológica crónica que me leva a fazer estes barulhos e movimentos estranhos, com bastante frequência. São involuntários, juro que não faço de propósito… Brraaaa...ffff (encolher os ombros). Segundo a minha mãe, eu era um bebé completamente normal, até que um dia, com cerca 5 anos, acordei com uma vontade incontrolável de, num movimento energético, encolher os ombros e soltar uns ruídos aleatórios… Assustei-me. O que se passa comigo? Normalmente, os tiques (físicos e vocais) aparecem na juventude e, apesar de não haver cura, podem amenizar na idade adulta, o que infelizmente não foi o meu caso. Brraaaa...ffff (encolher os ombros). Sessões de psicoterapia e estimulação cerebral profunda, assim como ansiolíticos e neurolépticos podem ajudar no controlo dos tiques, porém nem sempre são suficientes para que as pessoas consigam viver uma vida normal. Os médicos e cientistas que me acompanham não sabem ao certo as causas desta síndrome, porém sugerem a existência de uma componente genética, de caráter hereditário, que afeta 3 vezes mais os homens do que as mulheres e causa anomalias nos neurotransmissores cerebrais. Lembro-me perfeitamente do meu primeiro dia de aulas… Sento-me, nervoso, e, de repente,…. Brraaaa...ffff (encolher os ombros). Como já estava à espera, todos os olhares se centraram em mim e, logo em seguida, vieram os “AHAHAH’s”, “que esquisitóide”, entre outras frases que já fazem parte do meu dia a dia. Gostava de ter sido como as outras crianças que correm, saltam e brincam sem esta doença chata a atazanar-lhes o juízo... Como é óbvio, todas estas situações deixam-me envergonhado e sob stress, o que só faz piorar os meus tiques, podendo ocasionar dor ou até mesmo lesões, tornando-se extremamente doloroso… Ao contrário do que possam pensar, quando estou relaxado, calmo, a fazer algo de que realmente gosto, sinto-me outra pessoa, os meus tiques suavizam e sinto-me realmente feliz… Brraaaa...ffff (encolher os ombros). Assim, com o passar dos anos, fui-me me questionando. O que é que eu acho realmente importante? Será o que os outros pensam de mim? Uma pessoa louca e sem maneiras, mas que tem piada e diverte os outros… Ou a minha verdadeira essência? Aquilo que realmente sou e que devido à minha doença não tenho oportunidade de mostrar ao mundo… Descobri que afinal posso ser feliz… Posso alegrar as pessoas e ao mesmo tempo mostrar-lhes o que verdadeiramente sou por de trás deste disfarce que é a Tourette. Encontrei o meu caminho… Encontrei a minha profissão… Encontrei o motivo de ter vindo ao mundo… Hoje sou comediante e a Tourette é minha companheira de espetáculos. Já não a vejo como uma doença, mas sim como parte de mim, como eu mesmo…Brraaaa...ffff (encolher os ombros). Afinal o que importa não é o que somos, mas sim no que nos tornamos… Brraaaa...ffff (encolher os ombros). Miriam Brito, 12.º A1 (2018/19) (Texto orientado pela Professora de Psicologia, Edite Azevedo)