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1852 3965 1 PB PDF
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(ives, 1995:1
Sitti pessoal &empregu plo conjunivo present: <> (Alves, 1995:190).
8, Uso freqdente de coordenasio e justaposigio, com pouco uso de subbordinasio (Mira, 1954:144.145;,
Delgado 1970:158)
9, Use reqiente de formas expltivasc outros processos de énfase (Mira, 1954:165-170; Marques, 1968:52;
Delgado, 1970:185; Retinho, 1959:199; Peixoto, 1968:204)44 soitae a
3. Sobre a concordancia varidvel no portugués europeu nio-padriio
Voltando ao inicio da pesquisa variacionista no Brasil, nas décadas de 70 e 80,
‘vamos encontrar a hipétes: mais difundida de Naro (1981) de que a vatiagéio na con-
cordancia de némero no PB indica um processo lento de mudanga lingiistica, cami-
nhando em diregdo a um sistema sem marcas. Nato (1981) localiza as origens desse
processo nos ambientes de menor saliéncia, especialmente nos de menor saliéncia f6nica,
‘em que a diferenca morfol6gica da oposicao singular/plural Stona pode ser marcada
apenas pela nasalizacao dadesinéncia vocélica, no caso da concordancia verbal (sabe/
sabe; vende/vendem). Considera que esse processo se localiza no componente
fonoldgico, tendo em vista que os processos de desnasalizagao da vogal tona final
envolvem também nomes (garagem/garage) ¢ constituem uma deriva européia seeu-
lax. Originariamente de natureza fonolégica, Naro (1981:93) afitma que esse processo
“mais tarde se generalizou para outros ambientes”, isto é, atingiu as oposigdes
morfol6gicas, as mais salientes, tais como comeu/comeram, é/sa0, envolvendo toda a
‘oposicio desinencial.
Em verdade, Naro (1981:90-93), que nio tinha conhecimento do trabalho de Mira
(1954) sobre o portugues ropular de Lisboa, bem como de outros valiosos trabalhos da
dialetologia portuguesa hoie consultados, néo precisaria ter ido muito longe na hist6ria
(ch, também, Nato & Scherze, 1993). As palavras de Mira (1954:149) transcritas no
item 3.1 do quadro 3 jé evidenciam # origem da variagdo da concordancia verbal de
a 1ando-a no componente fonoldgico. Vejam outros casos varidveis registrados
em 3.2. 3.6 no quadro 3, que permitem situd-la também no componente motfoldgico.
Ente os registros de quadro 3, destacamos adicionalmente dois pontos de capital
importancia para nossa ardlise, que jé se iniciara no Brasil com dados do portugués
atcaico (cf. Mattos e Silva, 1991; Naro & Scherre, 1999; 2000):
1) O uso da palavra FreqUeNTeMeNTe no texto de Cruz (1991) pata se referit aos
‘casos de concordéncia variavel em que 0 sujeito ocorre A piReita do verbo, ¢ 0 uso da
‘expresso Por vezts para sereferir aos casosem que o sujeito ocorte A ssauexDA do verbo,
que apontam para a hipétese de ser a posicAo retativa também uma restricéo importante
para o entendimento da vaciagdo da concordancia de nimero no PE. Como jé sabemos,
sujelto a esquerda do verbo favorece mais variante explicita de plural no verbo do que
sujeito a sua diteita, tanto no PB quanto no portugués arcaico (cf. Nato, 1981; Scherre &
Naro, 1997: Naro & Scherre, 2000a;2000b);
2) O uso da expresso casos ozRa's do texto de Mira (1954), pata se referir aos
casos de verbos de terceira pessoa “eles oube(m), eles sacode(m)”, que sugere que a
‘0POSIgAO DA SALIENCIA FONIca também possa ser um efeito relevante no entendimento da
variagdo no PE. Sao estes precisamente os casos que Naro & Lemle (1977) ¢ Naro
(1981) classificam como de menor saliéncia fOnica ¢ séo os que mais favorecem a
variante zero de plural no PB (cf. Scherre & Nato, 1997). Resultados para a variacéo
identificada no portugués arcaico indicam de forma semelhante que verbos de oposigao
‘mais favorecem mais presenga de variante explicita de plural (cf., novamente, Naro &
Scherte, 2000a;2000b).
‘CrowzacAo au muanen NATAL? “6
QUADRO 3. CONCORDANCIA VARIAVEL NO PORTUGUES EUROPEU NAO-
PADRAO
5.1 A Linguagem popular (LP) de Lisboa (Mi
'A) Componente morfokigico
5, 1954:149-150; 1145 147)
“Sao meqveres (grifos nostos) na LF, as fates de concordinca, consideradas erros do ponto de vista
sramatical.”
“0s nossos agasalhos & es es"; “as raises enterrado na carne”.
') Componente fonalégica (p.114) .
ML = Verbos|
Ga)
17 Conjugasio simples —exs0s so.4005
') Formas de primeira pessoa do singular do pet. pert. simples em que seniiodeua metafonia:
eu foi
eu pos
cu pde
eu fez
eu teve
2 Casos cxaass (gifs nosso) (p.117)
Go)
'b) = As formas verbs de tree pessoa do plural (sobretudo dos verbos da 5'conjugagdo)
lerminadas om vogal nasel ?desnesalzam-se:
cles oube (m)
cles sacode (mi)
5.2 A finguagem dos pescadores de Ericeira, Joana Lopes Alves, Lisbon, 1995:190.191:
“A 34 pessoa do singular aparece usada pla "do plural em frases como: <: on) > (p.190)
rrequente 0 uso de singular plo plural,
<>; >, >. (p.191)
5.5 O filer de Odeleite, “uma aldeia do sul do pats, (.) do Sotavento do Algarve” (Cruz, 1991:159)
(oa) S20 suleito & plurle esté depois do verbo, este fica ereavenewene (grlos nossos) no singular:
‘cE wm terreno que se caia em volta pra que ni entre Id gados .>>
‘<<. punhomese pela cabeza, condo morria pessoas de familia chigada>>
‘Mesmo quando 0 sujeito & plural e esti antes do verbo, verificese, ron vezss (grifos nOst0s), 0
cernprego deste no singular.
‘<< Duas canas dé oito mesias>>.
<<. pra ver quais era qui a fazia rir.
540 falar da Azoie, povoasio préximna de Cabo da Roca, na provincia de Estremadura -perto de Sintra
"Yau ld os criadas, (..) "08 borriebras que vero onte & que fez isto” (..) (Marques, 1988:61)
10.0 enxame quando vei a voar pelo a, o enxeme vai aqui, tudo junto, © a mest vai a gular como
equi aqua parede (dois metros) e as outras vo todas a perseguir aquela. Ele arriou o chéo, apoisou no
cho, asoutras val (udo (poisr) em cima dela.” (negritos nossos) (Marques, 1968:58)
5.5 O falar de Balezio, distrito de Bejs, cegiéo centro-su.
“D'pds vein 0 rel ea rainha" Delgado (1970:226946 Scum & Nato
3.6 O falar de Monte Gordo, litora sul de Portugal”
1 €¢'ms andes envenénoy o comer (Ratinho, 185240)
" Nosio Senhori os faga feliz." (Ratinho, 1959:240)
Finalmente, uma pé de cal sabre asuposta origem crioula para @ concordancia
variavel de niimero no PB tem seu respaldo nas palavras de Lapa (1991:157-169). Em
Aestilistica da lingua portuguesa, Lapa dedica 13 paginas ao t6pico concordancia,
onde arrola uma série de casos que, segundo ele, so erros, do ponto de vista da
gramatica. Afirma, todavia, que, do ponto de vista da estilistica, sfo fatos a serem
esclarecidos ¢ explicados. Segundo ele, hé construcées consideradas erradas pela
gramatica que vem desde o século XIV (1301-1400). Sao de Lapa (1991:158-159) as,
seguintes palavras:
os exemplos da lingu antige eutorizamas maioresiregularidades da ingue modera. Quelquet
“es exerplos de construglo imegular pornos apresentados éverdaderamente inolenivo s 0
‘comparormos i eudicias dos ecritores tem vemculos da culos XVI e XVI. Vjam se apenas
‘estas quatro frases, respectivamente, de Het Pinto Jose de Barros, Francisco de Moris e Fe
Antonio das Chagas
1. Aormosura de Pris ¢ Helena forum a causa da dstrugio de Tesia.
21 Os povos destsihaséde co bag ede cabo cored
5 Foi D. Duardose Férda aposentas no eposento que tinba 0 seu nome
“4. Pouco importa que tena a casa cha de pola e diamante, sos ndo aprovsta dela.
(9 Que havemos de conclur de tudo isto? Que © que hoje se afigura aos olhos do
srarottico um erro ou ume impropriedad fot lagomente empregido pelos nosios melhores
‘Sectors elsscas. Combes, em tudo crsdor e genis, wou argomente J odasetaslberdades
de concordancia.
Divergimos de Rodrigues Lapa em um tnico ponto: a descrigao ¢ explicagdo dos
fenémenos arrolados nfo sfo do campo de esilistica, mas, sim, do campo da lingiistca:
ha restrigdes sintéticas, semanticas e discursivas claras que regem a variacio da
concordaincia de ndimero, tanto na fala e quanto na escrita (cf. Scherre & Naro, 1998b;
‘Naro & Scherre, 1999).
4.Conclusiio
Nosso garimpo estrutural localiza no PE as origens de uma sétie de trecos do PB,
atribuidos a processos de crioulizagao, em que o portugues teria entrado como fingua
de base, fornecendo a maior parte dos itens lexicais,e diversas linguas afticanas teriam,
entrado como linguas de substrato, fornacendo estruturas gramaticais. Portanto, em
Funcdo dos fatos aqui apresentados, refutaros novamente a posi¢do de que o PB tenha
uma hist6ria crioula, seja um semi-crioulo ou tenha subjacente uma leve crioulizacao,
Gc. Silva Neto, 1986; Cémata Jr, 1975; Jeroslow, 1975; Guy, 1989; Holm, 1992;
Ferreira, 1994; Baxter & Lucchesi, 1997; Baxter, 1998; Mello, 1997). Como jé tive-
‘mos ocasiao de colocar em outros textos (Naro & Scherre, 1993; 2000a; 2000b; Scherre
eNaro, a sair), consideramos que o uso do termo ‘crioulizaclo" no Brasil 6 un equtvo-
co, uma vez que nao é possivel haver associagao do processo com algum grupo étnico
particular e nao hé evidéncia que indique a existéncia de um pidgin prévio de base
lexical portuguesa, semelhante a0 Tok Pisin nos adultos da década de 70 na Nova
Crowuzacio ov MuDNNca narURAL? 47
Guiné (cf. Sankoff & Laberge. 1980:208). Consideramos ainda mais que a idéia de
crioulizagao leve (ef. Baxter & Lucchesi, 1997) ou mesmo a idéia de semi-crioulo.
(cf. Silva Neto, 1986; Camara Jr, 1975; Holm, 1992) no acrescenta significado
lingiifstico algum ao arcabougo tedrico da crioulizagio.
Enfatizamos novamente que, no caso do Brasil, os tragos e todas as estruturas
presentes no atual estdgio do processo histdrico de evolugao estavam presentes desde
inicio. Até o presente momento, com relacao a concordéncia, verificamos que mu-
ddanga bésica foi na tendéncia geral da freqiiéneia das formas. Na concordéncia verbal
especificamente, as principais restrigdes varidveis que governam o uso da concordan-
cia nao mudarem com o pasar do tempo; mudou o peso do input, ou seja, da
freqiiéncia global de uso da variante zero, sem ddvida atualmente muito maior no
Brasil (cf. Naro & Scherre, 2000b). Nesse aspecto, o processo é qualitativamente
idéntico a uma mudanca lingiifstica natural (Kroch, 1989).
Resta ainda uma questao, levantada por Mello (1997:41): se as origens vieram_
do PE, numa deriva romanica secular, especialmente com relagao aos fenémenos de
concordancia, por que razo essa deriva ndo se desenvolveu no PE? Quanto a Portu-
gal, gostariamos de enfatizar mais uma vez que ainda sio desconhecidas a verdadeira
extensao ¢ a intensidade da variagaio na concordancia em terras lusitanas, especial-
mente no PE nao- padrao. Quanto a0 Brasil, gostarfamos de fazer um paralelo pa
o trabalho de Sankoff (1980). Esta pesquisadora mostrou que, na Nova Guiné, a
nativizagio do pidgin por uma nova geraco de criangas, nascidas em familias em
que os pais falavam o Tok Tisin apenas como pidgin, endo como lingua nativa, ndo
causou qualquer reestruturagdo ou mudancas radicais na gramética das criangas em
comparagéo a gramética de seus pais. Em verdade, segundo Sankoff & Laberge
(1980:208), a nova geracao de falantes nativos levou “adiante tendéncias que jd esta-
‘vam presentes na Ifngua”. Portanto, no sentido de “levar adiante tendéncias que ja
cestavam presentes” ~ & SOMENTE NESTE SENTIDO ~, vemos um paralelo entre as mudan-
gas no PB e 0 processo de nativizaco na Nova Guiné. Po:tanto, 0 quadro geral que
{ragamos € mais consistente com 0 ponto de vista que se baseia na origem européi
mas também se apéia no efeito catalizador da nativizagao apontado por Sankoff.
Em sintese, o modelo que assumimos para dar conta da mudanga que ocorreu
no PB 60 da cone. uENcIA DE MOTIVAGOES, SEM CRIOULIZAGKO FREVIA. Transcrevendo nos-
sas palavras jé publicadas em outros textos, nossa conclusdo € que o portugués mo-
derno brasileiro € 0 resultado natural da deriva secular inerente na lingua trazida de
Portugal, indubitavelmente exagerada no Brasil pela exuberancia do contato de adul-
tos, falantes de linguas das mais diversas origens, e da nativizagao desta lingua pelas
comunidades formadas por esses falantes e seus descenderttes.
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