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NA_SOCIEDADE SEGUNDO GEORGES BALANDIER Geparata da Revista Brasileira de Filosofia, Vol. XXVI, Fase, 102, Pag. 198 a 207 ANTROPO-LOGICAS: AS “SOCIEDADES” NA SOCIEDADE SEGUNDO GEORGES BALANDIER Zahidé Machado Neto (Da Universidade Federal da Bahia) Georges Balandier, diretor dos Cahiers Internationaur de Sociologie, “Protesseur & la Sorbonne” é, sem duvida, um cientista social exemplar. Sua trajetoria biogrifica (e como conseqtiéncia, toda sua obra) consegue, com um rigor raramente excedido, ultra- passar as canhestras, e as vezes artificiosas ou ingénuas barreiras que separam a disciplinagao da dicotomia episte- mol6gica Sociologia/Antropotogia. Daf que se possa dizer dese Anthropo-Logiques} que é um livro que “ne prétend évidemment pas répondre & toutes les grandes questions, ni aux grandes questions, ni aux gran. des incertitudes. Tl ‘formule néanmoins des | propositions établies sur “dossiers”, et révélatrices de positions théoriques de portée plus générale, Et notamment cel'es qui marquent la rupture avec certaines des conventions dominantes qui ont uU orienter V'activité des scfences sociales jusqu’ & une date récente”. (p. 8/9, grifo nosso). Isto porque, muito coerentemente, Balandier observa que “il faut reconnAitre que le partage des domaines “an- thropo-logique” et “sociologique” est trompeur; il est plus révéleteur d'une incapacité de reconnaitre et traiter les difé rences & leur niveau (cesta-dire en toute societé) que de la nature des choses sociales” (p. 9). a) Paris, Presses Universitaires de France, Col. Sociologie Aujourd’hui, 1974, 278 pags, & ANTROPO-LOGICAS: AS “SOCIEDADES" NA SOCIEDADE... 199 ‘A busca de uma anthropo-logique empreendida pelo cien- tista social francés ¢ um produto continuado de um projeto iniciado no seu Sens et puissance, les dynamique sociales (aris, Presses Universitaires de France, 1971, 336 pags.) Ele explora sua dupla experiéncia: a do antropdlogo que a partir de 1946, principalmente na Africa, “interroga” sociedades e culturas ditas diferentes, e a do socidlogo que apreende sua prépria sociedade naguilo que ela revela de si prépria nos seus problemas os mais atuais. ‘As sociedades do presente, por certo todas elas, formu- Jam interrogagoes sobre seus modos de existéncia e seu futuro imediato. E as ciéneias sociais nfo podem ignorar tais ques- t6es, contribuindo para a elaboraeo do que Balandier chama de uma “Anthropologie de Vactuel”. Assim & que € definitive saber néo apenas como so as sociedades e as culturas, mas como se estruturam e se manifestam seus “saberes”; aqueles que as tém como objeto. Nem sempre as Ciéncias Sociais tém sido capazes de tal empreendimento; e 14 pelas tantas “les artisans des sciences sociales deviennent, volontairement ott involontairement, des producteurs de sens; ils sont incités & contribuer & la fabri- cation des differentes “visions” du monde actuel”. (p, 6) Nas sociedades em que as ciéncias humanas jé se en- contram convenientemente instaladas, aquela “fabricagao” chega a constituir como uma espécie de “mercado”. Hé com- peticao, imposicao de marcas e de Escolas, o que vale dizer: eoncessées aos consumidores do saber e &s modas. Assim, “les risques de perversion du projet scientifique se multi: plient dangereusement, au moment méme ou V'interrogation critique se reforee au sein des sciences sociales” (p. 6), afirma Balandier ao tentar tefletir sobre a crise que a0 mesmo tempo alimenta e poe continuamente em questo as ciéncias sociais. Trata-se de “une crise de croissance dans le temps méme oit les societés commencent & les reconnaitre comme instrument de leur prise de conscience alors qu’elles se trouvent ellesmémes en crise de continuité. Crest la mise en état de ressonance des questions qui concernent aujourd'hui les formations sociales et culturelles et de celles qui visent Ie savoir constitué & leur propos” (p. 6/7). Desse modo, 0. trabalho cientifico do cientista social implica, em principio e por conseqtiéncia, em colocar as proprias ciéncias da societade em perspectiva. ‘Ora, o que se observa, destaca 0 A., é que aquelas cién- cias vém sendo constituidas progressivamente em dois niveis: 200 ZAHIDE MACHADO NETO a) 0 dos conhecimentos institufdos, cuidadosos de se validar por suas aplicagdes (de mostrarem para que server); b) 0 dos conhecimentos mais interrogativos, mais vol- tados para a tomada ou para o reconhecimento de situagdes, para o diagndstico, © por conseqiléncia, para um projeto mais amplo de mudanga. Por outro lado, observase que as ciéncias do homom vém sendo solicitadas por duas tentacoes: Primeira: “pourrait étre qualifiée d'un terme ambigu, en Ia disant technocratique. Elle incite a limiter Ventre. prise scientifique A Vordre des techniques sociales, & Yactivité des “ingénieurs sociaux” qui operent sur commande afin de remédier aux ratés et aux pannes de Ia societé” (p. 7). Tal tentacdo é muito sutil e poderosa, Para ela, para a “tentagaio tecnocrdtica”, se acena com fontes de financia- mento que seriam “substitutivos” do trabalho empirico pro- priamente dito. Assim 6 que ela coloca as ciéncias sociais €m relacdo de coneordancia — ou de convivéncia — com os poderes que as utiliza. Segunda: esta tentacdo poderia ser designada como a do “esoterismo”. “Elle détache de Vordre des réalités auguel elle substitue une construction logicienne, une édifice complexe de catégories, principes, notions et con- cepts auquel on n’accéde que par initiation, La logique lant ces demiers est alors postulée identiquo & la logique du réel; Yordre des choses importe moins que Y'ordre des mots. Et les critéres de Yacquiescement deviennent terme ceux de Ja foi plus que ceux de la raison scien- tifique. Cette tentation réalisée transforme les écoles scientifiques en chapelles ou sectes, les controverses en débats scolastiques et les doutes en hérésies” (p, 7/8). £ entre dois riscos, que tém 1é, alids, suas relagdes com as “tentagoes", que Balandier reconhece que as ciéncias da sociedade devem localizar sua atividade. 12 risco: 0 da “aplicagao” nao controlada de um saber que terminaria por definhar como um saber sem renovacao; 2. risco: 0 da “hierocratizacao” do discurso cientifico em termos de perda de rela¢ao com o real. ANTROPO-LOGICAS: AS “SOCIEDADES" NA SOCIEDADE... 201 Ao assumir os riscos, as ciéncias sociais edquirem sua eficdcia, direta ou indiretamente, em razio exatamente de seus avangos, e no da rotina, E de que dependerdo os avancos? “La societé s'impose maintenant sans V'aspect d’une créa- tion collective et jamais achevée; elle est constamment en vole de se faire, de se construire et de se donner un sens. Le savoir acquis commence & montrer sa réalité sous Yhabit des ‘apparences: un ordre approximatif et vulnérable, un débat constant entre la liberté humaine et les déterminismes, un affrontement permanent des intérets et des interpretations, une “nature” sociale se présentant moins sous Vaspect d’un donné que sous celui d’un projet jamais entiérement réalisé. Ces constatations entrainent a Télaboration d'une sclence sociale genérative retrouvant ainsi Yenseignement d’une épis- temologie moderne qui oriente vers les interprétations défi- nies en termes d’actions et interactions complexes, et en termes d’engendrement” (p. 8). Uma ciéncia social com tais “compromissos” epistemol6- gicos necessitaria de desvendar o sentido freiador de dicoto- mias estereotipadas. Desse modo, a preocupagéo do A, se orienta no sentido de “quebrar” a rigidez das separagses entre “a natureza do homem” e “a presena do homem na natureza”. As socie- dades ndo se realizam e definem so através de sua producao simbdlica e ideal (sua cultura) e sua produgdo material (sue ‘¥éeno-economia), mas através do modo.como elas condicio- ‘am _a reproductio dos homens. Uma outra “quebra” a efetuar seria aquela que visaria 08 obstaculos da oposi¢ao entre as chamadas “sociedades exterlores & histéria” e as outras (as “nossas”) qualificadas de “prometeicas”. Ora, para se tentar afastar a barreira fazse imperioso aplacar 0 sdcio-centrismo, pois... “il n’ést pas insensé de poser le principe que 1"“anthropologie” constituée & propos des sociétés et cultures extérieures éclaire la connaissance de notre propre et rend notre sociologie plus opératoire” (p. 9). trabalho de toda a primeira parte desta obra de Balan- dier, e bem assim seu titimo capitulo, tenta demonstrar como a “antropologia” que se constitui sobre as chamadas socie- dades e culturas “exteriores” esclarece 0 conhecimento da nossa propria sociedade, possibilitando uma sociologia mais operatéria, % na primeira parte — exatamente a que aqui nos inte- 202 ZAHIDE MACHADO NETO Tessa, comentar — que o A.*destaca trés planos principais que delimitam as sociedades chamadas “de classes”, cocxis. tindo no interior de toda formagio social. So as “fronteiras” tregadas: 0 sexo, a idade e o sistema de desigualdades domi- nante. Sob 0 titulo geral “Societés” dans la societé sio trotadas “Hommes et femmes ou la moitié dangereuse”, “Peres et fils ainés et codets”; “Inégaux et dominants”. Aqui hos ccuparemos das duas primeiras. Como relacies fundamentais, elas se encontram “a Yorigine des societés et traduisent des donnés de nature en faits de culture” (p, 13): relagdes entre os sexos, de uma parte; entre grupos de idade ou geragses, de outra. “La dynamique sociale interne devient tri-dimensionnelle; elle doit de plus en plus étre définie par référence aux classes “sociales” ou a leur équivalent, aux “classes” d’age et aux “classes” sexuelles” (p. 13). As “classes sociais” so analizadas através de um estudo antropoldgico realizado em “material empirico africano” que considera 0 dualismo como gerador de dinamismos elemen- tares. B nio 6 possivel esquecer que na anélise da “situacao de mulher” operada tanto pelos movimentos contestdrios quanto pelas teorias cientificamente construfdas, vem se fazendo um continuado apelo a uma etnologia e a uma socio- logia antropoldgica da mulher. O que esperam em boa parte os combatentes da liberacdo da mulher 6 que a antropologia venha de ajudar a descobrir, e reduzir a termos de equaciona- mento causal ideoldgico as justificagdes da dominacso mas. eulina, as formas culturals de “comprometimento” que con. Guzem a ocultar “la moitié féminine de la societé — Ia motié dangereuse” (p. 14), Balandier observa que o problema pode ser destacado a partir de trés questoes: ae 1” Como a diviso dos sexos afeta o sistema social e a cultura em seu conjunto? 2° Como o dualismo sexualizado se exprime? 32 Como a oposigéo € a complementaridade dos sexos so, a um sé tempo, geradores da ordem e da desordem social? Mas, para isso, 0 que se tera sob a mira de observacao nao serd tanto 0 estatuto especifico da mulher e do homem, mas suas relagées, como elas se definem simbolicamente.¢ “praticamente”, a natureza dos dinamismos socais elemen- tares dos quais elas s4o a ligagio original. Sob 0 crivo da andlise empreendida por Balandier seu ANTROPO-LOGICAS: AS “SOCIEDADES" NA SOCIEDADE... 203 “material africano” oferece condigdes de resposta aquelas questées. Se bem notamos, a questo das relagdes entre os sexos eslé proposta pelo A. em termos de verificar-Ihe o nivel de compromiso de afetagao do sistema, de criagao (e, pois, de expresso) de um dualismo e de elemento gerador ‘de “mecanismos” de conservagao e de mudanca, A estrutura das sociedades Mali, Bambara, Fang ou Béti expressada em suas mitologias ¢ “retranscrita” em suas “teorias gerais da sociedade” em termos de “construcao da sealidade” (Luckmann/Berger). As mitologias “expressam” as ideologias como “argumentos definidores” do sistema social e da cultura, “Les mythes “disent trés précisement union difficile des sexes, des principes males et femelles — en deux versions concurrentes dont les conchisions different, exprimant Véchec. dans un cas, la réussite dans Vautre” (p. 16). ...La loi fon- damentale de la création: association intime des élements miles et femelles, la dualité dans Punité, la concordia discors de forces complémentaires et antithétiques” (p. 17). © dualismo sexualizado tornase o paradigma de todos os dualismos com os quais o pensamento mitico (Bambara) interpreta a ordo rerum ea ordo hominum. O “mundo”, a sociedade e a cultura que lhe dao seus modos de ser e seu sentido resultam, assim, de relagdes multiplas entre elemen- tos marcados pelo signo da masculinidade, de um lado, e elo signo da feminilidade, de outro. “L'union des deux prineipes, source de vie-et clef de Is logique du vivant, reste néanmoins vulnerable; elle lie en opposant — ce qui la fonde est en méme temps ce qui la ‘précarise” (p. 17). Ela nao sera nem a unido perfeita que ¢ simbolizada pelo andrégino Faro (comego absoluto), nem a unio “desastrosa” do casal mitico gémeo (e genealogicamente sua seatiéncia), uma uniao tensional. O casal mitico original instaura a primeira relagdo homem/mulher em razao de suas diferencas. Os “princfpios” se instalam em termos de dependéncla/complementaridade numa unio tensional “ameacada”, Afastada a possivel unido perfeita que se consumaria no andrégino (Faro, na mitologia Bambara) — concretizador da Jel fundamental da cris¢éo, associacdo intima dos elementos macho/fémea, dualidade na unidade e comeco absoluto — sua seqliéncia genealdgica, 0 casal gémeo, uniao “desastrosa” cheia de dramas ¢ peripécias, a mitologia Bambara esbarra no dualismo em complementaridade e oposic¢ao. Tratase de um unigo tensional “ameagada”. A definicho do principio ZAWIDE MACHADO NETO 204 fémea é ambfgua, talver negativa do papel feminino e da propria mulher. Como agao criadora (fertilidade) sem o concurso da fémea, impossivel seria a vida; mas ela evoca a terra impura, a noite, a feitigaria e a cumplicidade com forgas obscuras. O sexismo depreciativo da feminilidade 6 encon- trado em numerosissimas culturas africanas. Lowie de hé muito descobrira na metafisica da cultura chinesa a assimi- lagao do mal ao principio feminino, Os “argumentos” miticos reforgam e “socledade femi- nina” néo apenas como “moitié necessaire et subordonée”, mas também como “moitié dangereuse”. A mulher 6 0 “outro” prdximo, o “estrangeiro” (0 processo exogamico em sociedades tribais oferece uma importante confirmacao dis- to.) Associada ao “de fora”, a mulher est ligada “a ordem da natureza”. Seu grau de sexualidade parece menos sociali- zado (por evidéncia, na gravidez) que 0 do homem. © homem “operador” da natureza amplia sua dominagio a0 elemento da reprodugao necesséria, “reduzindo” a mulher a_um estado “instrumental”. Ele desenvolverd, inclusive, 0 “projeto Social da mulher” no qual se inclui silencio e submis- ‘sto a um mundo de valores, de normas e de modelos a prior masculinos. A condi¢so_fem minorias sociais, a dos grupos op: [| caracteristicas proprias. Corelativamente, o trabalho femi- nino € depreciado. Por sua vez a situacio de classe nao altera substancialmente os elementos constitutivos da “condi- ‘g80”. O sexo prevalece sobre a situacdo de classe. O universo social feminino € feito pelo © para 0 homem. Quando 0 quadro econémico/tecnologico, e seu caudal socio-cultural oferecem condiedes de contestacdo, de “mise en-question” do jé agora, problema, a andlise antropoldgica pode chegar ao nivel da compreenséo do processo do mito, sua forga ideolégica (no sentido de alienante) de suas raizes socioestruturais, to profundas, definitivas e definidoras como as dos Bambara, dos Fon ou dos Béti, Ao realizar uma antropologia das geragdes, Balandier destaca um importante elemento cientifico-motivador — o debate social, hoje historicamente em cena nas sociedades industriais “avancadas”: a juventude —. Ele mostra como © “dossier” antropologico se ocupa da “forga da idade” como regente das formagées sociais, ¢ como a teligifo, o trabalho, ‘@ moda, o sexo, @ politica, sao reconsiderados em fun¢ao da contestagdo, da iniciativa e da procura “jovem” como modelo social dominante. | ANTROPO-LGGICAS: AS “SOCIEDADES" NA SOCIEDADE... 205 A temética generacional — explorada a nivel filoséfico- existencial por Ortega y Gasset, e talvez ainda mais por seu disofpulo Julian Marias, gragas aos aportes socioldgicos que este traz em sua teoria das geragdes — encontra no antro- pologo uma chave de andlise relevante. Balandier vai & descoberta das varidveis que atuam no processo das geragées, daquilo que faz dos “estratos genera- clonais” “societés” dans la socteté. Afastase, em principio, qualquer simplificacso metodo- I6gica; por exemplo: o grupo (de idade). Nao se trata disto, mas de algo complexo, que afeta, inclusive no retorno, como conceito socialmente construide, o proprio sistema social. Juventude e velhice (como polaridades) sao categorias imprecisas. Estao sendo socialmente construfdos alguns con- ¢eitos, como por exemplo “cultura jovem”. Seu “codigo” de diferenciacdo um “oddigo” de oposigdes, caracterizado pela mudanga répida (v. g,, moda), com apelos a simbolos, signos e “mensagens” de culturas tradicionais e exéticas. A fonte e 0 modelo das dissidéncias: os Estados Unidos. Como “cultura, nova” ela pode radicalizar a nivel de contracultura: teori- zarse (Rozak), chegar ao plano de uma “visio salvadora”. “La question des rapports de génération — diz Balandiet —est centrale parce qu’elle exprime brutalement le probleme de la reproduction sociale” (p. 67). E 0 é em qualquer sooie- dade; nas ditas “avangadas” como nas chamadas “tradicio- nais”. Mas ha difereneas, nos dois modelos, entre suas soci dades “jovern” e “adult ‘A separagio das geragGes, os antagonismos nelss conti- dos, ora mais ora menos evidenciados, tém passado por numerosos tratamentos tedricos, daf decorrendo tipologias generacionais que nem sempre tém conseguido dominar o Ponto erftico das relagées generacionais: o elemento fatal ¢ necessério: o elemento natureza/cultura, E ainda mais: nao tém dominado convenientemente a forca social da “teoria social” implicita, isto ¢: da “construcdo social” da dinimica das geracoes, “devolvida” até o nivel da propria mitificacao, A historia _genético/generacional, “sacralizada” muitas vezes, vé-se hoje ameacada, e, pols, em vias de ser remane jada face & inseminacdo artificial. ‘Ainda uma vez seu “material africano” possibilita a Balandier analizar as relacdes de rivalidade e antagonismo, de ambivaléneia, de dominagao/subordinacéo generacional; suas raizes e seus compromissos antropoldgicos, entre os quais se conta a morte. ZAHIDE MACHADO NETO “Les rapports de générations (et leur modéle: 1a relation pére/fils sont essentiellement liés 4 Yensemble du systeme social” (p. 90). “L/ordre général de 1a societé est indissociable de Yordre des classes d’Age; (et que) ces derniéres ne forment pas un niveau archaique au sein des societés les plus modernes. Elles révelent que la crise sociale, & son point extréme, se “dit” aussi dans le langage de I’age; notamment lorsque Ia “classe” montante prend I'initiative de sa propre socialisation, recher- che une nouvelle définition sociale, d'autres modes de la solidarité et vise a faire de sa propre organisation — de la “gocieté jeune” en voie de se construire — le moule de la societé & venir” (p. 111). As anilises dos chamados “movimentos de_jovens”, “rebelides estudantis”, “revolucdes de juventude”, tio nume- rosas nos idos de 1968, quando eles surgiram em tantos paises do mundo desenvolvido, em sociedades envolvidas no com- plexo tecnolégico-industrial-urbano nao lograram atingir um nivel de necessério rigor cientffico; 0 “quente” que o assunto representava impediu outras tantas anslises de averiguarem mais cautelosamente o problema, perdendo-se em sensacio- nalismo, = ‘A preocupacio com o extraordinério do tema levou alguns estudos e andlises a afoitamente desprezar coeréncias 16gico-metodolégicas. Conttudo, a questéo estava posta na mesa. E aquele material pode, hoje, oferecer ao antropélogo/ socidlogo dados fartos para @ anilise ndo s6 do que recolheu como depoimento, mas da “reconstruco” que ele proprio representa como reinterpretagdo, como “teoria social” social- mente construida. Este excelente caminho de andlise permite atravessar as simplificagdes das explicagdes sumariamente historicoestruturais, j& que absorve o histérico-estrutural como elemento constituinte. As interpretagdes e andlises antropolégico/sociolégicas das “‘sociedades” na sociedade para serem completas incluem o “dossier” expontineo, representado na auto-interpretacao corrente, continuamente vivificada numa espécie de “vulgata” social, e assim também os esforgos tedricos, intelectuais, de sua interpretagao. No caso, néo bastard interpretar e compreender a dini- mica generacional; mas, avancar mais, chegando @ “teoria ANTROPO-LOGICAS: AS “SOCIEDADES” NA SOCIEDADE... Social” da socledade sobre ela propria, os condutos, apelos © mecanismos de mahutencao e mudanga atuantes na “‘socie. dade da idade” geragoes, fronteira social sociologicamente gravada de alta representatividade, como Balandier pode des- Vendar no seu substancloso e cientificamente excitante “material africano”,

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