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Chave hermenéutica para a interpretacao da escatologia da profecia classica: estudo em Isaias, Jeremias, Daniel e Apocalipse ~ Reinaldo W. Siqueira' A interpretagao das segdes escatolégicas na profecia classica do AT é uma questao, de certo modo, ainda um tanto imprecisa e pouco explorada no meio adventista do sétimo dia. Provavelmente, isso se deva ao fato da pree minéncia da profecia apocaliptica na historia adventista, bem como na visao e compreensio das predicées escatolégicas da Biblia. A estatua do sonho de Nabucodonosor em Daniel 2; a “ponta pequena” de Daniel 7; a visio das 2.300 tardes e manhis e a profecia das 70 semanas em Daniel 8 e 9, respectivamente; a descrigao dos eventos que precederiam a segunda vinda de Cristo em Mateus 24; a visao do livrinho em Apocalipse 10; ou da triplice mensagem angélica de Apocalipse 14, por exemplo, tém tido um papel e importancia fundamentais desde os primérdios do adventismo como movimento religioso e como igreja Doutor em Teologia em Teologia pela Universidade Andrews (EUA) e diretor da Faculdade de Teologia do Centro Universitario Adventista de Sao Paulo (Unasp), 134 ° Futura A importancia da profecia apocaliptica no meio adventista faz com que a grande maioria de nossos estudos e ensaios sobre escatologia seja dedicada aos livros de Daniel e Apocalipse, principalmente, oua alguns capitulos especificos do NT, como Mateus 24 ‘ou 2 Tessalonicenses 2. Bem pouco, comparativamente, se tem escrito sobre a escato- logia na profecia classica, deixando muitos adventistas em certo “limbo” hermenéutico quanto a essas porgées do texto biblico. Por exemplo, como poderiamos interpretar as predigdes escatol6gicas dos tiltimos versos do livro de Isaias, ou seja, Isaias 66:10-247 Nos versos 10-14, de Isaias 66, um convite ¢ estendido a todos para regozijarem- -se com Jerusalém, pois na sua consolagao eles sero consolados. Nesses versos, Deus fala de um tempo em que ele estendera sobre Jerusalém a paz como um rio, ea gloria das nagées como uma torrente que transborda (Is 66:12). E predito também que, nesse tempo, todos os que atenderem o convite de Deus serao consolados em Jerusalém (Is 66:13), se fartarao das consolagdes que Deus dara a essa cidade e se deleitario na abun- dancia de sua gloria (Is 66:11). Os servos do Senhor vero 0 seu poder e se regozijarao, quando ele vier trazer consolagées a Jerusalém e juizo sobre os seus inimigos (Is 66:14). Os versos 15-17 falam da vinda do Senhor em gloria e do juizo de Deus contra toda carne, O verso 16 prediz que haver muitos mortos da parte do Senhor naquele dia. Logo, no contexto dessa vinda do Senhor, Isaias 66:18-21 fala da evangelizacao das nagées e do restabelecimento total e final de todos os filhos de Israel. O verso 18 diz que todas as nagées viriam e contemplariam a gloria de Deus. Para que isso pudesse aconte- cer, Deus iria enviar representantes seus as mais distantes nagdes, que nunca tinham ou- vido falar de Deus, ¢ eles anunciariam entre elas a gloria de Deus (Is 66:19). Entao, todos 05 filhos de Israel seriam honrosamente carregados de volta a Jerusalém, aparentemente pelos povos das nagdes apés aceitarem 0 Deus de Israel (Is 66:20). O verso 21 prediz 0 restabelecimento do sacerdécio levita nesse contexto de restauragao final. Os uiltimos trés versos do livro de Isaias 66:22-24, colocam essa profecia no contexto da eternidade e do juizo final. O verso 22 diz que esses filhos de Israel, reestabelecidos em Jerusalém, estariam perante o Senhor, assim como estariam ‘08 novos céus € a nova terra . O verso 23 afirma que, durante a eternidade, todo ser humano vira adorar a Deus de uma lua nova a outra, e de um sabado ao outro. O verso 24 conclui, falando do castigo eterno que recaird sobre os impios. Propostas de solugao Como adventistas do sétimo dia, temos enfatizado que o cumprimento das predicdes proféticas feitas a Israel deve ser interpretado e compreendido dentro do contexto da alianga e de seu carater condicional 4 obediéncia a Deus, tal qual Chavehermenéutc para a interpreta da excatolgjia da profeia clssca esto em laias, Jeremias, Daniele Apocalise descrito nas Escrituras. Pertencemos assim ao grupo de denominagées religiosas que veem na teologia da alianca a chave para a compreensiao da profecia clissica.? Consideramos, portanto, que grande parte da profecia classica era condicio- nal. Essa condicionalidade est fundamentada sobre a propria condicionalidade da alianga entre Deus e Israel, como expresso nas segdes das “béngaos e maldicées” da alianga do Sinai (Lv 26 e Dt 28). Nessa linha de interpretagdo, normalmente abordamos os textos escatolé- gicos da profecia cléssica como descrevendo o futuro que poderia ter ocorrido se “Israel tivesse dado ouvidos 4 mensagem dos profetas e cumprido os propésitos divinos apés a restaura¢ao do cativeiro” (I CREATE, 1977, p. 332). Israel, no en- tanto, falhou. Em vista disso, essas profecias devem ser compreendidas dentro de sua aplicagdo secundaria, apontando para os eventos finais da historia humana como descritos no NT e no Espirito de Profecia (I CREATE, 1977, p. 332). Nem todos os detalhes, originalmente descritos na profecia, poderao se cumprir. O cumprimento original era literal e focado sobre Israel; agora, na aplicagao se- cundaria, envolve a igreja crista, 0 Israel espiritual, e tem escopo universal (I CREATE, 1977, p. 38, 332). Alguns autores adventistas se dedicaram a busca de chaves hermenéuticas para a interpretacao das profecias do AT, procurando assim aprimorar e desenvol- ver a compreensio dessa questo. Na sequéncia, destacamos alguns deles. Hans K. LaRondelle (1925; 1983) enfatiza a compreensao neotestamentaria dessas profecias como a principal chave hermenéutica destas, principalmente nas interpretaces “cristocéntricas” e “eclesiolégicas” da escatologia veterotestamenta- ria. Cristo e sua igreja sao 0 cumprimento das profecias do AT. William J. Johnsson, em seu estudo sobre a profecia condicional e apocaliptica, ar- gumenta contra a aplicacao simples e automatica do principio da condicionalidade a todo tipo de profecia na Biblia. Johnsson (2010, p. 259-287; 2000, p. 792-795) propés cinco cate- gorias de predi¢des encontradas na profecia biblica, cada uma delas devendo ser analisa- da e interpretada dentro do seu préprio contexto: 1) predigdes acerca de Israel derivadas do contexto da alianga, compostas de promessas e ameacas condicionais e dependentes da estrutura das “bencaos e maldi¢des”; 2) predigées concernentes ao futuro imediato de + Em portugués, ver os estudos sobre a natureza da profecia classica e sua ligagdo com a teologia da alianga em: Fee; Stuart (1991, p. 153-174); Henry A. Virkler (1994, p. 99-115). Para estudos mais técnicos, ver: N. W. Porteous (1950, p. 143-156); George E. Mendenhall (1955); Hans-Joachim Kraus (1957, p. 11-35; 1963, p. 27-52; 1972, p. 120-127); Henning Graf Reventlow (1961, p. 269-284; 1962, p. 30-56, 73-75, 89-90, 109-116); Walther Zimmerli (1967, p. 42-75); Samuel J. Schultz (1968, p. 19-86); Delbert R: Hillers (1969, p. 120-142); James W. Limburg (1969); John S, Holladay (1970, p. 29-51); Thomas M. Raitt (1971, p. 30-49); John Bright (1976); James Muilenburg (1984, p. 127-150); Douglas Stuart (1987, p. xxxi-xlii); Bruce C. Birch (1991, p. 145-197, 240-279); George E. Mendenhall e Gary A. Herion (1992, p. 1179-1202). 135 136 © Fata nages vizinhas de Israel, ou, em alguns casos, de pessoas especificas ou um grupo de individuos; essas predigdes nao se enquadram dentro do contexto da alianga; elas podem ter um elemento de condicionalidade dependente do exercicio do livre-arbitrio humano e da graca divina, como no caso do livro de Jonas; ou podem simplesmente descrever 0 futuro que vira sobre essas nagGes, futuro esse decretado pela soberania divina; 3) predi- gGes acerca do futuro distante; esse grupo de profecias tem dupla aplicagao, no seu con- texto original se aplicavam a Israel; mas elas também tratam das condigdes prevalecentes no fim dos tempos da humanidade; a aplicacao priméria (antigo Israel) é condicional, enquanto que a aplicago escatolégica final é incondicional; 4) predigGes relativas & pri- meira vinda de Cristo; sao profecias incondicionais dependentes s6 da fidelidade de Deus em cumprir suas promessas; 5) profecias apocalipticas; sio incondicionais, refletem a soberania de Deus e sua presciéncia do que ocorrera ao longo da historia até o fim. Richard Davidson (1981; 1996), no seu trabalho sobre a tipologia na Biblia, aborda as implicagées de suas conclusées para a compreensao da profecia biblica, argumentan- do a favor de um cumprimento escatol6gico dentro de uma estrutura quadrimensional: 1) profecia; 2) cumprimento cristolégico (escatologia inaugurada); 3) cumprimento ecle- siol6gico (escatologia apropriada); e 4) cumprimento apocaliptico (escatologia realizada). No presente estudo, vou focalizar a profecia apocaliptica como uma chave her- menéutica das promessas escatoldgicas da profecia classica, propondo que, ao fazer- mos assim, poderfamos ter ainda mais precisio e esclarecimento dentro da nossa linha de interpretagao dessas profecias. Para tanto, seria necessdrio tentarmos nos inserir, tanto quanto possivel, dentro do contexto biblico e procurar entender 0 objeto de nos- so estudo a partir do ponto de vista do autor biblico. A profecia biblica e a alianga Primeiramente, devemos sempre nos lembrar de que a manifestagao profé- tica em Israel ¢ parte do cumprimento da alianga de Deus com seu povo: em Deu- terondmio 18:9-22, Moisés alude 4 promessa de que Deus levantaria profetas (e 0 Profeta) para revelar sua vontade ao seu povo ¢ servir de mediadores da alianga entre ele e os filhos de Israel. J4 Amés 3:7 nos relembra de que Deus nao faria nada sem primeiro revelar o seu sdd (“segredo, conselho”) aos profetas e ento os enviar a anunciar o que ele faria. Isso tudo era parte da alianga. Os temas abordados na profecia sao os temas bisicos das aliangas do AT, 0 linguajar é 0 da alianga: Deus é 0 criador, rei e soberano; o homem, sua criatura e seu filho; a Terra, sua cria¢ao e seu reino; a lei, com os mandamentos de Deus, € 0 foco de muitas passagens proféticas; varias profecias tratam da solugéo do hermenéutica para a interpretagao da escatologia da profeca clissica: estudo em Isaias, Jeremias, Daniel e Apocalipse ao falar da redencao, morte/sacrificio, e do santuario; apontam para 0 , Filho de Adao, de Abraao, de Davi; lidam com a questdo da eleigao, tan- ‘Abraao quanto de Israel; falam da terra prometida, de promessas e béngios, juizo e maldigées; de Jerusalém etc. O texto biblico nos deixa claro que o propésito de Deus era cumprir todo o seu ‘através de Israel como uma nagio teocratica, um reino de sacerdotes no meio das nagdes. Deus lhes daria prosperidade, béncaos e paz sem igual, ¢ assim atrairia outras nagées a fé em Deus por meio de Israel. Deus planejava também usar Israel instrumento de juizo sobre os impios e sobre povos rebeldes e iniquos. Através Israel, ele proveria também 0 meio para a vinda do Messias. Esse plano comegou a cumprir durante os reinados de Davi e Salomao, especialmente no de Salomio (IRe 10). Apés a apostasia de Salomao (IRs 11), porém, a situagao espiritual e material do povo de Deus entrou em uma rota decadente, com poucos momentos positivos. _ Foi dentro desse contexto de continua decadéncia religiosa, espiritual e oral, e de profunda rebeliao, que Deus enviou os profetas com mensagens de Wverténcia e juizo, com apelos ao arrependimento e conversio, mas em vao (QRs 17:7-23, 13-20). Seguiu-se entao a destruicdo do povo de Deus e seu exilio ra longe da terra prometida (2Rs 17:18-20), 0 que era a tiltima das maldi¢des da alianga (Lv 26:33-39; Dt 28:63-68). No entanto, fiel aos termos da alianga, Deus através de seus profetas fez promessas de béncaos e restauracao que se seguiriam ao periodo de punigao e juizo do exilio, apés esses terem produzido arrependimento e conversao (ver Lv 26:40-45; Dt 30:1-14). Surgimento da profecia apocaliptica e sua fungao E dentro desse contexto de juizo-exilio e expectativa de restauragao que sur- ge a profecia apocaliptica. Nesse contexto, aparentemente, surgiram perguntas tais como: Deus estd realmente no controle da situacao? Sera que suas promessas pode- rio um dia se cumprir? Como isso sera possivel? Como Deus as cumprira? O livro de Daniel responde a esse tipo de indagagées: a) os capitulos histéricos (Dn 1-6), por exemplo, demonstram o pleno controle de Deus e sua soberania sobre 0 mundo, os reinos dos homens, e sobre os fatos que estavam ocorrendo na hist6ria; b) 0s capitulos proféticos (Dn 7-12) respondem como Deus cumprird as suas promessas. ‘Assim, poderiamos dizer que as profecias apocalipticas foram dadas como uma chave para ajudar na compreensao de como se cumpririam as promessas 137 138 ° Futuro feitas por Deus através dos profetas classicos. Isso fica bem claro em Daniel 9, um capitulo basico para a compreensio dessa questo. Daniel 9 ¢ o inter-relacionamento entre profecia classica e apocaliptica Em Daniel 9 nos deparamos com uma seco singular na Biblia, na qual po- demos observar de forma bem clara a confluéncia ¢ inter-relacionamento entre a profecia clissica e apocaliptica. De um lado, o profeta Daniel estava vivendo no tempo do possivel cumpri- mento das predigées da profecia classica. Cerca de 150 anos antes, 0 profeta Isaias tinha predito o surgimento de um rei estrangeiro, Ciro, que seria o instrumento di- vino para libertar Israel do cativeiro (Is 42:21-45:1-7). Daniel havia algum tempo ja deveria estar vivendo essa expectativa. Em 558 a.C., Ciro se tornara rei dos persas, e entre os anos 553-550 a.C., ele venceu o rei Astiages e tomou posse do trono da Média, unindo-a com a Pérsia e formando um poderoso reino.’ Esses eventos, evi- dentemente, devem ter causado certo impacto sobre a vizinha Babilénia, causando comogao na corte. E precisamente nessa época que Daniel tem suas duas primeiras visdes (Dn 7:1, no primeiro ano de Belsazar, cerca de 550 a.C.; Daniel 8:1, no ter- ceiro ano de Belsazar, cerca de 548 a.C.).‘ Quando surge no horizonte a “estrela da libertagéo”, Daniel recebe visdes divinas que falam nao de restaura¢ao e bén¢aos, mas de uma sequéncia de violentos reinos e poderes terrestres que trariam terrivel perseguigao e sofrimento ao povo de Deus por milhares de anos, até o fim dos dias (Dn 7:1-8, 17-2! 12, 19-25). A restauragao aparece sé no final, apés 0 longo perfodo de tempo da supre- macia desses poderes (Dn 7:9-14, 22, 26-27; 8:13-14, 26). Nao é de admirar que a reagao do profeta fosse de confusao, espanto, terror e sofrimento diante do futuro que as visdes Ihe apresentavam (Dn 7:15, 28; 8:27). Em Daniel 9:1 (no primeiro ano de Dario, 0 medo,® cerca de 539 a.C.), esta- mos em pleno contexto das profecias biblicas acerca de Ciro. Esse poderoso rei ha- via acabado de conquistar Babilénia, como predito pelos antigos profetas de Israel. Para um breve resumo sobre a histdria de Ciro, o Grande, ver Schultz (1995, p. 228-231) € Clines (1992, p. 845-849). Sobre a questao das datas dos primeiros anos de Belsazar, ver Hasel (1977, p. 153-168; 2011, p. 121-122). Para uma discussao sobre a identidade de Dario, o Medo, ver Hasel (2011, p. 111-117). Cave hermenéutica para a interpretar da escatologia da profecia cassia: estud em sis, Jremia, Daniel e Apocalpse Daniel, que fora deportado na primeira leva de exilados a Babilénia em 605 a.C., jahavia passado cerca de 67 anos no cativeiro. Nesse tempo, como 0 texto nos diz (Dn 9:2), ele se volta para outra profecia classica, agora de um contemporaneo seu — Jeremias. Através desse profeta, Deus tinha predito, anos antes, que o cativeiro babilénico duraria 70 anos (Jr 25:1-14; 29:1-4). S6 faltavam agora trés anos para que essa profecia se realizasse, mas um “problema” afligia Daniel: as visdes que ele tinha recebido de Deus previam um longo periodo de perseguigao e sofrimento para o seu povo (Dn 7 [3,5 tempos] e 8 (2300 tardes e manhas]), e nao a restauracao, redencdo e bén¢dos dentro de um breve espaco de tempo. Segundo as visdes de Daniel, a tao almejada restauragao e redengao sé viriam apés esses periodos pro- féticos (“a mar’éh [visao] é verdadeira e para dias mui distantes”: tinha afirmado Gabriel [Dn 8:26]). Havia, claramente um conflito entre as informagées da profecia de Jeremias (d*bar-“hwah ‘él-yirmiyah, Dn 9:2) e os dados das visdes de Daniel 7 8, cujo climax era o longo periodo predito no capitulo 8, a mar‘éh (“visio”) das 2,300 tardes e manhas (Dn 8:13-14, 26). Em Daniel 9:3-19, o profeta entra em uma “luta” espiritual a favor da “pa- layra” de Jeremias. Ele faz exatamente o que Deus, por meio de Jeremias, tinha ito que 0 seu povo deveria fazer quando chegasse o final do periodo profético do exilio babilénico: Assim diz 0 Senhor: logo que se cumprirem para a Babilonia setenta anos, atentarei para v6s outros e cumprirei para convosco a minha boa palavra, tornando a trazer-vos para este lugar. Eu é que sei que pensamentos tenho a ‘vosso respeito, diz.o Senhor; pensamentos de paz e nao de mal, para vos daro fim que desejais. Entao me invocareis, passareis a orar a mim, e eu vos owvirei, Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo 0 vosso coracao. Sereiachado de v6s, diz.o Senhor, farei mudar a vossa sorte; congregar-vos-ei de todas as nagdes e de todos os lugares para onde vos lancei, diz 0 Senhor, € tornarei a trazer-vos ao lugar donde vos mandei para o exilio (Jt 29:10-14). Diante dessa exortagao profética e de sua énfase sobre a necessidade da ora- para a realizacao da restauracao prometida, nao é de admirar a profundidade 0 fervor com que o profeta se langa a essa tarefa. E isso ele fez, provavelmente, 0 diante da ameaca de morte imposta pelo decreto recentemente assinado Dario, o medo, proibindo a oracao a pedido de seus presidentes e satrapas (Dn |. No final da oragao, ele clama veementemente: “O Senhor, ouve; 6 Senhor, per- ; 6 Senhor atende e age [isto é, ‘cumpra o que foi predito através de Jeremias’}; teretardes [isto 6, ‘nao deixe que se cumpra o que eu vi em minhas vis6es’], por 139 140 ° Fata amor de ti mesmo, 6 Deus meu; porque a tua cidade e 0 teu povo séo chamados pelo teu nome” (Dn 9:19).* E no contexto desse atordoante conflito interno do profeta que, em Daniel 9:20-23, aparece Gabriel, enviado imediatamente desde os céus (Dn 9:23a), para fa- zer com que Daniel pudesse entender o relacionamento do contetido da profecia de Jeremias (a dabdr) e a visao que ele tinha tido (a mar éh). O anjo lhe diz: “considera, pois, a palavra [dabar] e entende a visio [mdr'éh]” (Dn 9:23b). Ao lermos 0 texto da profecia das 70 semanas, em Daniel 9:24-27, vemos que ela responde diretamente as inquietagdes de Daniel: todo o verso 24 e as primeiras partes dos versos 25-27 esclarecem como e quando se cumpriram as predicdes da dabar de Jeremias; enquanto que a segunda parte de cada verso em Daniel 9:25-27 esclarecem elementos pertinentes as visdes do proprio Daniel.” Podemos também perceber, pelo contetido dessa profecia, que a preocupa¢aio do profeta nao se limitava somente ao fim do exilio e retorno a terra prometida, mencionados em Jeremias 25 e 29, mas que ela se estendia também as promessas de redengao que deveriam ocorrer apés 0 retorno do exilio, promessas que apare- cem nos capitulos seguintes a Jeremias 29. Essas promessas corresponderiam ao detalhamento daquilo que Jeremias 29:11 chama de “pensamentos de paz” de Deus para o seu povo, para dar-lhes “um futuro e uma esperanga”. Com essas promessas em mente, podemos compreender mais facilmente 0 contetido da profecia das 70 semanas. A explicagao apocaliptica, mediada por Gabriel, tinha por objetivo trazer esclarecimento e compreensio acerca das predicdes da dabar de Jeremias. Em Jeremias 29:10-14, o profeta fala do fim do exilio e da realizacao do plano re- dentivo de Deus para Israel. Por sua vez, Daniel 9:24 esclarece como isso ocorrera: a re- dengio vird dentro do tempo de 70 semanas proféticas, entendidas desde a antiguidade ‘como sendo semanas de anos, ou seja, dentro de um espago de tempo de 490 anos.* Os textos de Jeremias 30:3, 8, 10, 18-20, 31:1-40, 32:26-44 e 33:1-13 falam de um tempo vindouro quando ocorreriam a restaura¢ao do cativeiro babildnico, o retorno 4 terra prometida e a reconstrugao da cidade de Jerusalém, dentro de um contexto de cura, paz e alegria. Por sua vez, Daniel 9:25 diz que esse tempo vird, por meio de Para um estudo mais detalhado da oracdo de Daniel e sua ligagdo com a profecia de Jeremias, ver Siqueira (1986). No estudo apresentado aqui, seguimos a estruturacio das 70 semanas apresentada por Doukhan, onde toda a primeira parte de cada um dos versos 25 a 27, de Daniel 9, fala acerca do Messias e de sua obraa favor do povo de Deus; enquanto que a segunda parte destes fala acerca do destino da cidade face a vinda do poder assolador predito nas profecias dos capitulos anteriores de Daniel (ver Jacques Doukhan (1977, 1p. 88-92; 1980, p. 113-118; 1993, p. 207-209, 221). Ver os abundantes estudos adventistas sobre o principio “dia-ano” e a natureza da profecia das 70 Sema- nas, entre eles: William H. Shea (2010, p. 56-93) e Doukhan (1993, p. 204-207). Chave hermenéutica para a interpretagao da escatologia da profecia clssica: estudo em Isaias, Jeremias, Da Apocalipse decreto oficial para restaurar e edificar Jerusalém. No entanto, em contraste com o que foi predito por Jeremias, Gabriel esclarece que essa restaura¢ao ocorrerd em tem- Pos angustiosos. Nesse verso, vemos 0 anjo Gabriel inserir elementos pertencentes a marréh de Daniel 8 na explicagio de como se cumpririam as profecias de Jeremias: a estauragio ocorreria dentro de um tempo de angiistia para o povo de Deus, tempo esse que se iniciaria to logo comegasse o processo de restauracao do exilio babilonico. As profecias de restaura¢ao em Jeremias 30-33 falam também acerca do Mes- sias. Seguindo a linha da teologia da alianga nos profetas do AT, as promessas de estaura¢do da alianca sinaitica (Lv 26:40-45; Dt 30:1-14) estdo sempre ligadas ao cumprimento da alianca de Deus com Davi, na pessoa do “descendente prometido” que se assentaria para sempre sobre o trono de Israel (ver Is 9:1-7; 11:1-16; 16:5; 42:1- 17, 49:1-56;8; 61:1-11; 63:1-6; Am 9:11-15; Mq 5). Em Jeremias 30:9, o profeta fala que | apés a restauracdo o povo de Deus nao mais serviria aos estrangeiros, mas somente | ao Senhor e “Davi, seu rei, que Ihe levantarei”, uma clara referéncia ao Messias. Mais adiante, no mesmo capitulo, a restauragao é descrita em termos de cura, reedificagao | dos lugares assolados, alegria, jibilo e crescimento numérico acentuado da popula- 40 “como na antiguidade” (Jr 30:17-20). O verso seguinte, Jeremias 30:21, introduzo | tema da morte sacrifical do Messias como instrumento de reconciliacao entre Deus eos homens: “O seu principe procedera deles, do meio deles saird o que hé de reinar; | euooferecerei como sacrificio e entdo sera possivel aproximar-se de mim; pois quem | desi mesmo ousaria aproximar-se de mim? — diz o Senhor”? Essa ideia do sacrificio | do Mesias é logo seguida pela afirmagao da formula basica da alianga entre Deus | Israel: “E vés sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus”.” texto interliga assim as duas ideias fazendo do sacrificio do Messias a base so- | brea qual se firma o relacionamento estabelecido pela alianga entre Deus e seu povo. A certeza do cumprimento da alianga de Deus com Davi é afirmada entao de modo ine- | quivoco em Jeremias 33:14-26, e esse cumprimento é novamente apresentando como a | base da realizagao da “boa palavra” de restauracao que Deus proferiu “A casa de Israel | €a casa de Juda” (Jr 33:14). Seguindo a linha de compreensio da profecia das 70 sema- | as, como uma explicagao apocaliptica de como se cumprirao as predigdes da dabar | de Jeremias, torna-se algo plenamente natural o tema do Messias, que aparentemente | Parece ser um elemento desconexo da preocupagao e das ideias previamente expostas * Seguimos aqui a traducdo e compreensio de qrb (“aproximar, sacrificar”) e ngé (“acercar-se, apro- ximar-se”) em paralelo ao sentido desses termos em Levitico 21:21, como sugerido por Doukhan (1977). Ver também a discussio da questao em Siqueira (1986, p. 88-90), | ® Ver Exodo 67; Levitico 26:12; Deuteronémio 2617-18; 29:13, Ver discussio sobre a importancia dessa formula em Pierre Buis (1976, p. 70-73); O. Palmer Robertson (1980, p. 45-52); Thomas Edward McCo- miskey (1985, p. 69-70). 141 142 "Futuro por Daniel, no capitulo 9 de seu livro. A vinda do Messias e sua obra sao elementos fundamentais nas profecias da restauracao. Assim, Gabriel deixa logo claro que sua vinda se daria dentro do espaco de tempo de “sete semanas e sessenta e duas semanas” (Dn 9:25a). Apés as “sessenta e duas semanas” ele seria “morto” e jd nao mais estaria (Dn 9:26a). No entanto, ele confirmaria a alianga com muitos na ultima semana desse periodo profético, e na metade dessa semana faria cessar os sacrificios e as ofertas de manjares (Dn 9:27a). As palavras de Gabriel reuniram assim os elementos-chave que aparecem no texto de Jeremias acerca do Messias — sua vinda, sua morte sacrifical, sua importancia no estabelecimento do relacionamento da alianga entre 0 povo e Deus, apresentando 0 quadro cronologico de quando essas predigGes se cumpririam. © tema da alianga, mencionado acima, é também uma questio fundamental nas profecias de restauragao de Jeremias 30-33. Enfase especial Ihe foi dada através da promessa do estabelecimento de uma nova alianga entre Deus e Israel encontrada em Jeremias 31:31-34. O resultado dessa nova alianga é 0 estabelecimento de um re- lacionamento ainda mais profundo entre Deus e o seu povo: “Porque essa é a alianga que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente, Ihes imprimirei as minhas leis, também no coracao lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, ¢ eles serao © meu povo” (Jr 31:33). A repeticao da formula basica da alianga (“Eu sere © seu Deus, e eles serao 0 meu povo”), em Jeremias 31:33, coloca essa passagem em paralelo com Jeremias 30:21-22. Assim o texto de Jeremias interliga a nova alianga com a morte sacrifical do Messias, a qual é apresentada como 0 fundamento sobre que se estabelece esse “novo” relacionamento com Deus. Por sua vez, a profecia das 70 semanas precisa 0 tempo quando ocorreria o estabelecimento dessa alianga: “De- pois das sessenta e duas semanas” (Jr 30:26a); “na semana um." ‘A forma como essa alianga ser estabelecida é expressa por duas ideias basi- cas em Daniel 9. Primeiro, ao falar da morte do Messias, Daniel 9:26a usa 0 verbo krt (“cortado”), ou seja, o termo técnico mais comum no estabelecimento de uma alianga (ver HASEL, 1995, p. 349-352; ROBERTSON, 1980, p. 7-15). Segundo, em 1” Preferimos a tradugao “na semana um’ a “por uma semana”, como é normalmente traduzido o periodo de tempo mencionado em Daniel 9:27a, porque nos parece harmonizar melhor com 0 contexto, visto que: I) a expresso de tempo no v. 27 nao é precedida por nenhuma preposigao que daria o sentido a frase de que a alianga foi confirmada para o periodo de uma semana profética somente (0 texto diz literalmente: “con firmaré uma alianga com muitos, semana um”); 2) as outras expresses de tempo em Dn 9:25-26 indicam © tempo no qual alguma coisa deveria ocorrer e nao por quanto tempo ocorreria (“desde a saida da ordem ara restaurar e para edificar Jerusalém, até o Messias, ao Principe, sete semanas e sessenta de duas sema- ras”, v. 25a; “depois das sessenta e duas semanas ser morto o Messias’, v. 26a); 3) 0 mesmo se da com a frase “na metade da semana fara cessar 0 sacrificio e a oferta de manjares” no préprio v. 27. Assim, a expressio “Sabit® Shad”, parece indicar 0 tempo no qual ocorreria a confirmacao da alianga em vez de a duragao do: tempo para o qual ela seria confirmada. Chave hermenéutca para a interpreta da escatologia da profeciaclissica: stu em Iaias, eras, Daniele Apocalipse Daniel 9:27a, 0 texto profético usa o verbo higbir (“fortalecer, confirmar”), indican- do assim que o resultado da morte do Messias, mencionada no inicio do verso ante- ior, seria a confirmagao da alianga no periodo da ultima semana profética.” Assim 0 texto de Daniel aparece em extraordinario paralelo aos de Jeremias 30:21-22 e 31:31-34, fazendo da morte sacrifical do Mesias a propria base do estabelecimento da alian¢a de Deus com seu povo. Além disso, Daniel 9:27 adiciona um elemento extra ao dizer que a alianca seria confirmada com “muitos” (heb. rabbim). Esse termo, relacionado com a morte do Messias, nos leva a Isafas 53:11-12. Através do seu sacrificio vicario 0 Messias poderia restabelecer 0 relacionamento entre o ser humano e Deus, trazendo perdao e justificagao ao ser humano. Assim, Daniel 9:26-27 estaria combinando temas de dois dos principais livros proféticos do AT, trazendo luz adicional sobre como e quando essas profecias iriam se cumprir. Finalmente, é interessante notar que o NT parece interpretar 0 texto de Daniel 9:27 como se referindo 4 nova alianga de Jeremias. Quando Jesus, na tltima ceia com os discipulos, tomou o cilice e disse: “Bebei dele todos; porque esse é 0 meu sangue, 0 sangue da nova alianga, derramado em favor de muitos, para a remissao de pecados” (Mt 26:27-28), ele parece estar se referindo a profecia de Daniel 9, visto que as ideias de “sangue/morte”, “alianca”, “muitos”, “perdao de pecados” aparecem juntas no AT ® Overbo higbir tem sido usado como um dos principais argumentos a favor de ver em Daniel 9:27 uma referéncia a uma confirmagao da antiga alianga do Sinai por um periodo de uma semana profética, como uma tiltima chance dada por Deusa Israel. A ideia basica é que highir (“fortalecer, confirmar”) implica que a alianga em questo sé poderia ser uma alianga que ja existia antes endo uma nova alianga. Uma nova alianga nao poderia ser confirmada visto que nao existia até entao ver Boutflower (1977, p. 196-199); “He shall confirm a covenant” [Dn 9:27], (I CREATE, 1977, p. 854); Shea (2011, 231-232; 2012, p. 95-96). Esse argumento nao toma em consideracio 0 relacio- namento entre a morte do Messias descrita em Daniel 9:26, usando uma terminologia prépria do contexto da alianga, ¢ a confirmagao da alianga mencionada em Daniel 9:27, Esse relacionamento existe tanto ao nivel estrutural (ver nota 13 acima), como tematico (indicado por este estudo). Além disso, dentro do contexto biblico, a nova alianga pode ser considerada mais antiga do que avelha (Sinaitica), visto que ela foi estabelecida entre o Pai e Cristo antes mesmo da fundacdo do mundo (IPe 1:19-20) e primeiro proposta a Adao, logo apés a queda. Falando sobre isto, a partir de seu ponto de vista, Ellen G. White (1993, p. 370-371) escreveu: “Assim como a Biblia apresenta duas leis, uma imutével e eterna, e outra proviséria e temporaria, assim hé dois concertos. O concerto da graca, que foi feito primeiramente com o homem no Eden, quando, depois da queda, foi feita uma promessa divina de que a semente da mulher feriria a cabeca da serpente. [...] Este mesmo concerto foi renovado com Abrado, na promessa: ‘Em tua semente serdo benditas todas as nagdes da Terra’ (Gn 22:18). [...] Se bem que este concerto houvesse sido feito com Adio e re- novado com Abraio, nao poderia ser ratificado antes da morte de Cristo. Existira pela promessa de Deus desde que se fez a primeira indicagao de redengao; fora aceito pela f€; contudo, ao ser ratificado por Cristo, ¢ chamado de novo concerto”. Podemos entender higbir como a ratificagao dessa alianga, através da morte de Cristo. 143 144 © Futuro somente em Daniel 9:24-27. Em vista disso, poderiamos compreender as palavras de Jesus como uma referéncia ao cumprimento dessa profecia.'® ‘Além de trazer esclarecimento sobre como e quando se cumpriria a dabar de Jeremias, a profecia das 70 semanas tinha também por objetivo esclarecer elemen- tos relativos & mdr’éh que Daniel mesmo tinha recebido. Como jé foi mencionado anteriormente, a segunda parte de cada verso de Daniel 9:25-27 ¢ destinada a esse propésito, Dentro do mesmo periodo profético para a vinda do Mesias, ocorreria também o tempo dos reinos preditos em Daniel 7 € 8, e 0 inicio do terrivel tempo de angustia descrito pela mar éh de Dn 8. A restauracao viria, mas Jerusalém seria reedificada “em tempos angustiosos” (Dn 9:25b). No mesmo tempo em que apare- ceria o Messias, viria também o quarto reino descrito na profecia, como “o povo de um principe que ha de vir” o qual destruiria a cidade e 0 santuario, cujo fim seria como um dilivio, e “até o fim havera guerra; desolagdes que estao determinadas” (Dn 9:26b). Por fim, é dada a informagao de que “sobre a asa das abominagées vira o assolador, até que a destruigdo, que esta determinada, se derrame sobre ele”, lem- brando assim as predicgdes de Daniel 7:7-8, 11-12, 19-26; 8:9-14, 23-26. A profecia de Daniel 9:24-27, juntamente com outras predigdes em Daniel 2:34- 35, 44-45; 7:13-14, 27; 8:13-14, 25; 12:1-13, nos ajudam a entender o tempo do cumpri- mento de um outro aspecto importante da escatologia classica. Na profecia de Jeremias, como na de outros profetas clissicos, a restauracao do exilio, a vinda do Messias e sua obra a favor da humanidade, e o reino eterno de Deus sobre a Terra, sao apresentados como praticamente simultaneos, ocorrendo todos no tempo do cumprimento um do outro. No entanto, a profecia apocaliptica de Daniel nos alerta de que havera um gran- de lapso de tempo entre varias dessas predigdes: a restauragao do exilio ocorreré no tempo indicado, mas a vinda do Messias ocorreria somente dentro do espago de tempo de 70 semanas proféticas, a partir da restauragao. Tudo ocorreria dentro de um tempo. de angiistia e opressio do povo de Deus. Apés a vinda do Mesias, a cidade seria des trufda e os tempos se tornariam mais dificeis ainda, se estendendo muito além do tem- po da vinda messiainica. Esse longo periodo de perseguicao e anguistia é representado pelos extensos periodos proféticos de Daniel (“um tempo, dois tempos ¢ metade de um tempo”, Dn 7:25; 12:7; “duas mil e trezentas tardes e manhas”, Dn 8:14; “mil duzentos e noventa dias” e “mil trezentos ¢ trinta e cinco dias”, Dn 12:11-12). Somente ap6s o juizo, que ocorreria depois desses tempos profticos, é que finalmente viria 0 reino eterno de Deus e do seu Messias, e a paz e a felicidade eterna seriam estabelecidas para 0 povo ‘>. Poderiamos notar também o elemento “tempo se cumprindo” em Mateus 26:18, o que poderia ser mais uma referencia & profecia de Daniel 9. Para um estudo sobre possiveis referéncias no NT a Daniel 9:26-27 (ver SIQUEIRA, 1986, p. 91-95). Chave hermenéutica para a interpretacao da escatolagia da profecia classica: estudo em Isaias, Jeremias, Daniel e Apocalipse de Deus e para toda a humanidade (Dn 2:34-35, 44-45; 7:13-14, 27; 8:13-14, 25; 12:1-13). Assim, 0 livro de Daniel nos esclarece que haveria duas vindas do Messias, uma no meio da histdria para morrer como sacrificio vicario e confirmar a alianga entre Deus seu povo, ea segunda no final da historia da humanidade, para estabelecer o reino de Deus sobre a Terra por toda a eternidade. Implicagoes Ao lidarmos com o modo como a profecia apocaliptica de Daniel lidou com predigdes escatolégicas de Jeremias e, mais indiretamente, com alguns aspectos das de Isaias, poderiamos extrair algumas implicacdes para a nossa interpretacao dessas profecias: x O texto biblico apresenta claramente que 0 retorno do exilio babiléni- co é um cumprimento escatolgico da profecia clissica do AT. Daniel 9:24-27 entende desta forma as predigdes de Jeremias 25, 29 e 30-33 e de Isafas 45 e 53. Isso implica que muitos dos textos dos profetas do AT, hoje utilizados para falar dos eventos que deveriam ocorrer antes ou durante o milénio, sio usados de modo inapropriado, pois se referiam ao retorno do cativeiro babilénico que ja se cumpriu ha muito tempo. O que torna a questao confusa para muitos leitores da Biblia é que, quan- do se pensa em predig6es escatolégicas, pensa-se automaticamente em fatos que ainda estao para se cumprir, algo ainda distante no futuro. As- sim, ao se ler muitos dos textos de Isaias, Jeremias, Ezequiel e de outros profetas, muitos pesquisadores transportam suas predigées mecanica- mente para o futuro que esta adiante de nds. No entanto, devemos nos lembrar de que, em muitos casos, os profetas estavam falando de algo que era futuro para eles, mas nao necessariamente futuro para nds hoje. Nao devemos transpor o futuro escatolégico deles para o nosso futuro, antes devemos verificar no texto biblico quando isso deveria ocorrer, se jé ocorreu, ou quando ocorrerd. Sem diivida, nessa dificil tarefa, a profe- cia apocaliptica aparece como um farol a nos indicar o tempo profético ‘em que essas predi¢ées deveriam ou deverao se cumprir. Do ponto de vista dos profetas do AT, a historia narrada no NT é to- talmente escatolégica, e corresponde ao cumprimento de boa parte de suas predigdes acerca da redengao futura. 145 146 © Futur Ao abordarmos 0 préprio texto do NT, encontramos que seus auto- res tinham uma clara consciéncia de que os eventos por eles descritos eram 0 cumprimento das predigées da profecia classica. Em Marcos 1:15, Jesus comega seu ministério proclamando que “o tempo est cumprido, e o reino de Deus esta proximo”. Em 1 Corintios 10:11, Pau- lo diz que “o fim dos séculos” ja chegou; enquanto que Hebreus 1:2 diz que a vinda de Cristo ocorreu “nestes tltimos dias”. Tanto a expressio de 1 Corintios quanto a de Hebreus usam a frase escatolégica hebraica b*ah*rit héyyamim (“fim dos dias/tempos”). O mesmo ocorre em | Pe- dro 1:20, onde 0 apéstolo fala do sangue de Cristo, como cordeiro sem defeito e sem macula, conhecido desde a fundagéo do mundo, mas manifestado no “fim dos tempos” por amor dos redimidos. Essa auto- consciéncia escatolégica neotestamentéria é explicitamente expressa pelas intimeras citacdes proféticas encontradas no NT e que sao apli- cadas diretamente a vida e obra de Jesus (ver Mt 1:23; 2:5-6; 2:15, 18, 23; 3:2-3; 4:14-16) e de sua igreja (At 2:16-21; 15:15-18). Partindo desse ponto de vista do NT e de sua implicacao para a fé crista nessa ques- téo, nao podemas considerar que a visio neotestamentiria seja uma “interpretacao livre”, um tanto simbdlica ou alegérica, como alguns argumentam; nem uma “apropria¢do”, um tanto forgada, de profecias originalmente direcionadas a uma outra realidade. Antes, pelo contra- rio, ela claramente se apresenta como a realizagdo e o cumprimento do que fora prometido e isso no sentido literal da profecia (ver LARON- DELLE, 1983, p. 10-22; DAVIDSON, 1981, p. 390-408). O livro de Apocalipse e seu papel Dentro desse contexto, o livro de Apocalipse desempenha um papel de suma importancia. Tendo sido escrito no final do primeiro século, um bom tempo de- pois da realizacao dos principais eventos escatolégicos referentes 4 vinda do Mes- sias e o desenvolvimento de sua igreja, as revelacdes de Deus dadas a Joao, além de encorajar os crentes da época que estavam experimentando a terrivel realidade do longo tempo de anguistia que seguiria a vinda do Messias, vém também responder & inquietante pergunta: e agora, como e quando Deus cumpriré suas promessas que ainda estao por realizar-se? O livro de Apocalipse traz a resposta a essa pergunta. Evidentemente, para nés, leitores de hoje, muitas de suas predigées ja se tornaram histéria. No entanto, varias have hermenéutca para interpreta da escaolgjia a profeialissca: esto em laias, Jeemias, Daniele Apocalipse passagens no livro falam sobre eventos que estao ainda por acontecer, e em especial nos ajudam a entender o que da profecia classica ir ainda se cumprir e como se cumprira. Poderiamos tomar como exemplo Ezequiel 47:1-12, onde, entre as predicdes de restaurago para 0 perfodo pés-exilio babilénico, aparece a promessa de um rio que nasceria no ‘Templo em Jerusalém, mais precisamente embaixo do limiar do templo, na face oriental, e dali correria para a direcao do oriente, para a campina onde se encontra o mar Morto (Ez 47:1-2, 8). Esse rio iria aumentar drasticamente de volume erapidamente se transformaria em um rio extremamente caudaloso (Ez 47:3-5). Nas margens desse rio iriam nascer todo tipo de arvores, de um lado e do outro, arvores frutiferas dando toda sorte de fruto a cada més, suas folhas nunca murchariam e ser- viriam como remédio (Ez 47:6, 12). Esse rio caudaloso iria tornar saudaveis as Aguas do mar Morto, e tanto no rio quanto no mar Morto haveria uma grande abundancia de peixes, com peixes de grande porte vivendo em grandes cardumes, como no ocea- no (Ez 47:8-10). Muitos pescadores viveriam nas margens desse rio e do mar Morto (Ez 47:10), somente os charcos e pantanos do mar Morto nao seriam feitos saudaveis para servirem de fonte de sal para a populagao (Ez 47:11). Evidentemente, nenhuma parte dessa profecia se cumpriu apés 0 retorno do exilio babilénico, nem nos tempos do NT, e permanecem sem se cumprir até os dias de hoje. A pergunta seria: ser4 que se cumprird algum dia? O que se cumprira? Como se cumprira? A resposta biblica aparece em Apocalipse 22:1-3: a profecia se cumpriré na Nova Jerusalém! Apés 0 milénio e apés a destruigdo dos impios e desse mundo atual (Ap 20), Deus criara um novo céu e uma nova terra , € so- bre essa nova terra descer a Nova Jerusalém, vinda do céu da parte de Deus (Ap 21:1-3). Deus estabelecera seu trono nessa cidade e vivera com os homens por toda eternidade (Ap 21:3-5). A Nova Jerusalém nao tem nenhum edificio que sirva de santudrio, porque Deus mesmo e o Cordeiro serao 0 seu santuario (Ap 21:22). En- tao Apocalipse 22:1-3 fala acerca do rio da vida, usando para o mesmo as imagens preditas em Ezequiel. Esse rio sai, entao, do trono de Deus e do Cordeiro (Ap 22:1), endo mais do limiar da base do temple, edificio que nao existird nessa cidade. De uma margem a outra do rio estaré a 4rvore da vida, produzindo o seu fruto a cada més e cujas folhas serao para a cura dos povos (Ap 22:2). Assim, Apocalipse nos indica 0 que, quando e como se cumprira. Ao indicar 0 modo como se cumpriré a profecia de Ezequiel 47:1-12, 0 texto nos indica também os detalhes da profecia que nao se cumprirdo: 1) 0 tempo da realizagao sera outro, em vez do periodo apés 0 retorno de exilio babildnico sera somente ap6s a restaura¢ao de todas as coisas, apés 0 milénio e a nova cria¢ao; 2) cumprir-se-4 na Nova Jerusalém e nao na Jerusalém histérica; 3) 0 rio nao saira mais do templo, que nao existira mais na Nova Jerusalém, mas sim diretamente de 147 148 Fata debaixo do trono de Deus e do Cordeiro; 4) nenhuma mengao ¢ feita ao mar Morto, a atividade da pesca etc., pois esses nao mais existirao na nova terra ; 5) em vez de uma transformagio fisica da presente terra de Israel e mudanga do mar Morto em um lago saudavel, 0 texto apocaliptico nos aponta para o restabelecimento do proprio Eden no seio da Nova Jerusalém (Ap 22:2-3). Assim, 0 texto apocaliptico nos serve de chave hermenéutica para a interpre- tagdo do texto de Ezequiel, mostrando quais so os aspectos da profecia classica que nao se cumprirao e os que se cumprirao e como isso ocorrera. Interpretando Isaias 66:10-24 Podemos voltar agora ao problema apresentado na introducao deste ar- tigo: como interpretar Isafas 66:10-24? Aplicando o principio hermenéutico acima apresentado, podemos buscar na literatura apocaliptica a chave biblica para essa tarefa, especialmente sobre o que o livro de Apocalipse apresenta acerca dessas predicées de Isaias. A predi¢ao de que todos os seres humanos serao consolados em Jerusalém, quando Deus cobrir essa cidade de paz e de gléria e manifestar perante todos os seres humanos 0 seu extraordinario poder (Is 66:10-14), é apresentada em Apoca- lipse 21 como se cumprindo na Nova Jerusalém, apés 0 milénio e a nova criacao. O tema do consolo aparece em Apocalipse 21:3-4. Deus habitaré na Nova Jerusalém e enxugard dos olhos dos redimidos toda lagrima. Nao haverd mais pranto, nem luto, nem dor, pois as primeiras coisas j4 passaram. O tema da gloria extraordindria de Jerusalém (Is 66:11-12) aparece em Apocalipse 21:9-26, a Nova Jerusalém tem a gloria de Deus (Ap 21:11) ea gloria da nagées (Ap 21:24, 26, ver Is 66:12). J4 os temas do juizo de Deus contra seus inimigos (Is 66:14b) e de sua vinda em fogo e gloria para entrar em juizo contra toda carne (Is 66:15-17) aparecem em varias pas- sagens de Apocalipse, como em Apocalipse 19:11-21; 20:11-15 e 21:8. A referéncia especial aos impuros e idélatras de Isaias 66:17 aparece também em Apocalipse 21:8, 27 e 22: A predigao de um trabalho de evangelizacao mundial, que aparece em Isaias 66:18-21, o qual ocorreria de forma concomitante com a vinda do Senhor e a glori- ficagao de Jerusalém é, no entanto, totalmente transformada pela visao apocalipti- ca. Essa pregacao é agora apresentada como ocorrendo antes da vinda do Senhor; ela nao se inicia mais a partir de uma Jerusalém glorificada, como em Isafas, antes € representada pela pregacao de trés anjos, voando pelo meio do céu. Estes pro- clamam a mensagem de Deus por toda a Terra, convidando a todos os seres hu- manos a temerem a Deus e dar-lhe gloria bem como a sairem da grande Babilénia Chave hermenéutica para a interpretagdo da escatologia da profecia cléssica: estudo em Isaias, Jeremias, Daniel e Apocaipse escatolgica, descrita em Apocalipse 13 ¢ 17, antes que os juizos de Deus sejam derramados sobre essa cidade. A predico de que todas as nagées viriam a Jeru- salém e contemplariam a gloria de Deus (Is 66:18) é descrita em Apocalipse como ocorrendo somente depois do milénio, na Nova Jerusalém (Ap 21:24-26). O tema do retorno de todos os filhos de Israel a Jerusalém, carregados nos ‘ombros pelos povos das nagées (Is 66:20), é apresentado em Apocalipse através do grupo dos 144 mil, que junto com a grande multidao de todas as nac6es adorarao a Deus diante do seu trono e do trono do Cordeiro (Ap 7:1-17; 14:1-5; 19:1-9)e serao todos consolados por Deus (Ap 7:17; 21:3-5, ver Is 66:10-13). Quanto ao restabelecimento do sistema sacerdotal predito em Isaias 66:21, com a escolha de alguns para sacerdotes e levitas, Apocalipse 20:6 diz que todos ‘0s remidos “serao sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarao com ele mil anos”. A nogao da funcao sacerdotal aparentemente desaparece apés os mil anos, com 0 fim do juizo, o exterminio dos impios, a destruicéo da Terra e a criagao de um novo céu e uma nova terra (Ap 20:4-15, 21:1-4). As primeiras coisas passaram e orelacionamento de Deus com suas criaturas é novamente direto sem nenhuma mediagao (Ap 21:3-4, 22-27). Em Isaias 66:22 diz que esses filhos de Israel, restabelecidos em Jerusalém, estariam perante o Senhor, assim como estariam 0 novo céu ea nova terra. Apoca- lipse 21:1-5 indica que isso ocorrera na Nova Jerusalém, quando Deus criar novos bus e nova terra . Jéa predicao da continua adoragao de Deus por toda eternidade, em Isaias 66:23, aparece também em varias passagens de Apocalipse (como em Ap 79-15; 14:1-3; 15:2-4; 19:1-10; 22:3-4). A referéncia ao juizo final de fogo que caira sobre os impios, em Isaias 66:24, aparece também em Apocalipse 14:10-11; 19:20-21; 20:10, 14-15. A mesma imagem de horror eterno que aparece nesse verso de Isaias (“porque 0 seu verme nunca morrera, nem o seu fogo se apagar4; ¢ eles serio um horror para toda carne”), aparece também em Apocalipse (“a fumaga do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e nao tém descanso algum nem de dia nem de noite” [Ap 14:11]). O livro de Apocalipse nos deixa claro como e quando isso ocorrera: apés milénio, ‘no juizo final quando tudo sera destruido sobre a face da Terra, inclusive Satands ‘eseus seguidores (Ap 20:7-15). Consideracoes finais Ao adotarmos a profecia apocaliptica como uma chave hermenéutica para a escatologia da profecia classica, somos direcionados a compreensao de quando, 0 143 150 "Futuro que e como essa profecia se cumprir4. Poderemos assim evitar interpretagdes espe- culativas que nao tém nenhum suporte biblico, e nos mantermos fiéis 4 orientagao divina biblica acerca dessas profecias. Como adventistas, somos um movimento religioso fundamentado sobre a profecia apocaliptica e é dessa mesma profecia que podemos buscar orientagdes sobre os eventos descritos nas Escrituras que esto ainda por vir, Ao fazer assim, podemos também esperar usufruir as bén- ¢4os provenientes da firme orientagao biblica acerca do futuro, como esta escrito: “Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo est proximo” (Ap 1:3). Referéncias BIRCH, B. C. Let justice roll down: the Old Testament, ethics, and christian life. Louisville: Westminster Press, 1991. BOUTFLOWER, C. In and around the book of Daniel. Grand Rapids: Kregel, 1977. BRIGHT, J. Covenant and promise: the prophetic understanding of the future of exilic Israel. Philadelphia: Westminster Press, 1976, BUIS, P. La notion d’alliance dans l’Ancien Testament. Lectio 73, Paris: Les Editions du Cerf, 1976. ina, n. 8, p. 70- CLINES, D. A. Cyrus. In: BROMILEY, G. 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