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a Capitulo 7 Metais (1* parte) Os instrumentos de sopro da classe dos metais' so relativamente bem antigos. Eram, 2 principio, construidos de madeira, de ossos ou chifres de animais, sendo usados em ocasides festivas, rituais reli- siosos ou mesmo nas guerras. Trombetas e trompas (embora muito diferentes dos modelos atuais) ja ‘eram conhecidos no inicio da Era Crista. 0 trombone de vara, apesar de ter sido criado durante a Renscenca, 6,contudo, um dos instrumentos que menos modificagdes estruturais sofreu até os nossos dias. Com a invenco do sistema de pistdes (c. 1815, embora a novidade ndo tena sido adotada de imediato pelos compositores) aconteceu um grande impulso, tanto na construgo quanto na evolugo da técnica, dos trompetes e trompas (e de outros instruments de suas familias), até entio ditos naturais (Ver nota 4, p. 99). Conseqiientemente, tl fato levou os compositores da época a explorar a seco dos metais com muito mais consisténcia, ousadia ¢ profundidade, o que acabou por acarretar mudangas significativas até mesmo no pensamento musical do Romantismo, que se iniciava, As orquestras comegavam a depender menos das cordas — que dominaram 0 cenéio do Barroco e do Classicismo — apotando- se fambém nos sopros (como jd vimos, as madeiras,igualmente, travessavam uma fase de grandes aper- feigoamentos), que, ao perderem as antigas limitacbes de dindmica, registro, agilidade, articulacao e mesmo de producto de notas (era o caso do trompete, como veremos), igualavam-se aquelas, possibi- litando uma enorme variedade de combinagdes e de contrasts timbricos, antes impenséveis, Ao contrario das madeiras, em que o sistemia de obtencdo das notas baseia-se principalmente no ‘encurtamento” do tubo por meio da abertura dos virios furos em seu corpo (como sabemos, 2 fre- iiéncia do som obtido varia proporcionalmente com a alteragao no comprimento do tubo sonoro), os metais, da combinagao da pressio do diafragma com mudangas de tensio labial da embocadura, 0 instrumentista consegue tirar um niimero varidvel de harménicos (normalmente — dependendo do tipo de instrumento ¢ de alguns outros fatores — de sete a 12, embora tal mtimero possa chegar até mesmo a 20!) a partir de uma determinada nota fundamental. Enquanto nos instrumentos mais simples, exatamente os naturais, hé apenas uma fundamental, no trombone e nos que sio aparelhados com 0 sistema de pistdes (trompete, corneta,figelhorn) ou com similar, composto por ndloulas giratérias (rompa, tuba). Estas chegam a sete: devido & ago das vilvulas, pistées ou da vara do trombone, o ar passa através de um sistema de extensdes tubulares, fazendo que seu “caminho” aumente (e em conse- qiiéncia, variando o comprimento do tubo sonoro), o que vai corresponder a um actéscimo de seis semitons mais graves que a fundamental natural. £ como se o instrumento se transformasse em sete, cada um afinado numa nota diferente, com suas respectivas séries harménicas: sso possibilta ao miisico executar passagens cromiéticas, ou mesmo escolher, entre duas ou mais posigdes (€ como so chamadas as alteragGes no comprimento do tubo), a melhor maneira de tocar uma determinada nota, o que antes era completamente invidvel. ‘Tomemos como exemplo um fiticio instrumento de metal afinado em sol, (ou sef, tendo esta nota como fundamental), suas sete posigdes seriam entdo: sol, solb (ou fi#), fd, mi, mib (r€), ré e réb (d6A). A primeira delas forneceria as notas* sol, ré,, sol,, si, ré,, fd, esol, (consideremos, aqui, serem oito 0 nimero de harmnicos que o instrumentista pode comodamente obter). As demais posigdes apre- sentariam séries andlogas, também com oito notas cada, completando todo o quadro cromitico (obvia- ‘mente, mais rarefeito no registeo grave do instrumento — basta nos lembrarmos da configuragio intervalar 19 da série harménica para que isso seja bem compreendido). 0 es as notas das seis posigBes restantes. ‘Trataremos, nesta primeira parte relativa a metais, daqueles mais utilizados dentro da misica popular: o trompete e o trombone. idante deve, como exercicio, escrever 1. Trompete Inglés: trumpet Francés: frompette Utaliano: tromba Alero: trompete Abreviatura: tp. ou tpt Como foi dito, o trompete moderno é relativamente bem recente. Apesar de existirem varios tipos em diferentes afinagoes ¢ tessituras, o mais usado é 0 que tem por fundamental a nota sib (quando di zemos “trompete”, é.a ele a que nos referimos). £ um instrumento transpositor e, como a clarineta eo sax Soprano, suas melodias devem ser escritas uma segunda maior acima do som real bo® 2 1.1 Observages 4) Em cada uma das posigdes do instrumento — que sZo obtidas por combinagbes de seus trés pistOes — o trompetista médio consegue emiti sete harm@nicos. Contudo, tl limite pode ser excedido consideravelmente (o americano Maynard Ferguson, por exemplo, costuma explorar notas altissimas em seus solos), embora nao seja aconselhvel fazé-lo em arranjos de soli. f interessante destacar que, até meados do século XVIII, era comum que certos miisicos se especializassem em tocar apenas no registro extremo agudo do instrumento, como vimos anteriormente, o chamado “clarino” (assim como, 6 claro, existiam experts em notas graves). Entdo conseguia-sealcangara vigésima ou a vigésima primeira parcial da série da fundamental. Entretanto tal prétiea acabou por cair em desuso no final do Classicismo. Abaixo, as notas que podem ser tiradas nas sete posigdes do trompete: (TRANSPOSTO) [) 180 1 e 4 v D) (sou'tsa} v say Obs.: 1) As posigdes estdo indicadas por algarismos romanos, enquanto as dgitagdes dos tres pistes, entre colchetes, por arabicos (nos quais 0 "zero" significa que neahum pistio deve ser acionado); 2) como foi dito anteriormente, as fundamentals das posigies ndo esto presentes na relagdo acima (apesar de, sob circunstancias muito especiais — principalmente em solos vituosisticos — poderem ser produzidas); 3) a8 nolas negras — 0 sétimo barménico de cada série — Ailfilafinagao e, assim, evitadas normalmente io, por natureza (como jf sabemos), de b) Como pode ser facilmente visto no quadro acima (e pelo que jé conhecemos da configuracio dos harmonicos), no registro médio-agudo, algumas notas podem ser tiradas em diuas posigies diferentes Jss0 torna-se um recurso til em passagens tecnicamentedificeis ou na resolugio de ocasionais problemas de afinagZo (que, alids, so maiores nas posigdes que utilizam o ferceiro pistdo). Por exemplo: a nota 6, pode ser encontrada nas posigdes | e V. 0 arranjador, contudo, nado precisa se preocupar nem com A indicagao de tais detalhes técnicos, tampouco coma escolha da melhor opco, que ficam inteiramente 0 encargo do instrumentista, c) O trompete é muito versatil, apesar de tradicionalmente ser associado & médsica marcial ou de cardter herdico, ou deter sido sempre deixado para momentos que exigiam bastante forga e brilho, Ainda que tenha nesses usos, inegavelmente, sua maior caracteristica, o trompete vem cada vex mais sendo ‘empregado, em especial na miésica popular, nos contextos mais diversos, até mesmo como solista em baladas liricas, Possui grande agilidadle e tem como ponto forte a precisio ea clareza no ataque das notas (mesmo sendo estas repetidas, 0 que, como vimios, em relagZo aos instrumentos de palheta é algo um tanto problemético), Tal fato deve-se principalmente a seu bocal, em forma de taca, que atua como uma espécie de amplificador de intensidade do fluxo de ar, posto em vibragao pel: dos labios, 4) Aregito aguda (acima de fi, — transposto) deve ser usada com economia, para pontos climé- ticos principalmente. Nela, 0 som do trompete é muito aberto e brilhante, 0 que torna dificil tocar-se suavemente e/ou com pouca intensidade dincimica. A regio média €cdlida e expressiva, ea grave, apesar de ser pouco explorada pelos arranjadores, tem um timbre muito interessante, mais encorpado que 0 dos outros registros (aqui, contudo, os cuidados com a afinagio, por parte do misico, precisam ser redobrados. A propésito, ver a préxima observagio) 18 ©) Anotadé#, (mostrada no Exemplo 157), em especial, costuma ser 0 “caleanhar de Aquiles” dos ‘trompetistas, Tirada somente na posigdo VII, sempre que aparece em pontos de apoio com, relativamente, longa duragaio, exige que o instrumentista imprima maior pressao no diafragma, ow que altere sua embo- cadura (para, como se diz no jargio musical, “afinar no bico"), ou busque no abrir efechar parcial de ‘um dos pistdes, uma forma de reequilibrar sua afinacio em relagdo As demais notas (é Sbvio que uma ‘grande quantidade de fatores influ’ no maior ou menor sucesso deta tentativas: a marca do instrumento, 0 tipo de bocal, 0 contexto barménico em que est inserida a frase, sem falar no nivel de apuragio do ‘ouvido do préprio misico etc.). Outra nota, 0 soft, costuma apresentar problema semelhante. Exemplo 157 (Transposto) fe 4 ra 3 fe 1) Atradigo da escrita para o trompete (assim como para a trompa) manda que ndo se indique qualquer acidente na armadura de clave (embora sejafeita a transposigo normalmente), fazendo que as alteragdes eventuais sejam escritas diante de cada nota. Esta convencdo, meu ver, um tanto sem sen- Lido, felizmente ndo é muito empregada nos dias de hoje (ao menos na misica popular), dada a compli- cago desnecesséria que provoca. A seguir, um pequeno exemplo com as duas formas de notagio. Exemplo 158 transposto festa vadcional tanepostoeseta moose) 1.2 Recursos ¢ efeitos Articulagdo e fraseado — apesat de ser mais caracteristico para o trompete a execugiio de passa- gens em non-legato, com proniincia clara e separada das notas (em especial, em staccato), o instrumento se sai igualmente bem nos ligados de expresso. £ aconselhdvel que o estudante, neste ponto, releia a observacio a respeito da variedade dos matizes de articulagio efraseado das madeiras (p. 110), validas da mesma forma para o trompete e o trombone (assim como para a quase totalidade dos demais sopros. E bom relembrar a importncia de tais fundamentos para se conseguir explorar ao maximo a expres- sividade desses instrumentos) Atagues duplo e triplo — assim como 2 auta, ambos os tiposfazem parte do idioma do trompete € contribuem bastante para sua agilidade, 182 Frulato — outro recurso tipicamente “lautistico” que, por caus da embocadura livre (isto é, sem a intermediagio de palhetas), pode ser igualmente conseguido no trompete. Valem as mesmas obser- vagdes e notacdes vistas na p. 115. a diferentes: por meio da movimentago dos dedos (assim, floya i convencional, aquela das madeiras) ou de forma labial. O pri 0 exige uma, de maneira a ‘tengo especial, pois os trinos entre posigdes que obrigam uma alterndncia de mais de um dos pistes (como €0 caso mostrado no Exemplo 1592, no qual as notas Ho tocadas, respectivamente, com 0s pistes 243 1) sto muito dificeis de se realizar claramente ou se tornam mesmo impossives. O segundo ti € obtido numa posigzo fixa, a alternincia do trino sendo felta por parciais consecutivas (Exemplo 159) Obviamente, melhores resultados acontecem na regio aguda do instrumento, onde os harm@nicos apre- sentam-se em configurago quase escalar. Exemplo 159 (posigoes V e Ill (posigao M1) Podemos ver, no segundo caso, que o trinado & entre a sétima e a oitava nota da série: apesar des ‘iltima nao fazer parte da extensio normal do instrumento, no hi grandes dificuldades para sua execugi0 pelo trompetista médio, Glissandos — seguindo-se 0 mesmo raciocinio, os glissandos, no trompete (e na trompa, como veremos oportunamente), so obtidos em uma determinada posicao fixa (ver Exemplo 160a). Por meio das alteragoes na embocadura, jé comentadas, o misico faz com que os harménicos da série se sucedam rapidamente,simulando um glissando diatOnico real (na verdade, o efeito 6 bem semelhante), apesar do fato destes se disporem de forma quase arpejada (somente ap6s a sétima parcial a série torna-se “escalar”) a também outros tipos de glissando, aids, até bem mais comuns, que so empregados em estilos popu- fares — especialmente o funk, 0 rock ea salsa: diferenciam-se do que foi visto acima pelo fato de terem indefinido seu comego (Exemplo 160b) ou seu fim (Exemplo 160e, também conhecido pelos trompetistas por “recolhimento”). Quase sempre sio, como demonstrado nos exemplos, respectivamente, ascen- dentes e descendentes. Numa variante deste titimo (Exemplo 1604), a “queda” é mais lenta (em geral, dura o compasso inteito), sendo representada por uma linha ondulada. Essestipos de glissando, quando ‘empregados em inicios ou finais de frases, slo bastante eficazes, em especial se tocados por dois ou mais {rompetes, em soli ou em unissono. Exemplo 160 (execugdo aproxinads) 183 Surdinas — de um modo geral, as surdinas, nos diferentes tipos de instrumentos, podem exercer duas fungbes distintas: a mais dbvia — e que muitos consideram erroneamente como tinica —€a de fazer diminuir a intensidade sonora; entretanto é possibilidade de alteracdo do timbre do instrumento (causada pelo abafiamento de certos harm@nicos mais brilhantes da série) que torna, para 0s compo: sitores e arranjadores, o uso das surdinas espectalmente atraente, Esta 6 rato do surgimento de um enorme mimero de tipos diferentes, introduzidos pelo jazz das big bands, desde as primeiras décadas do século, SZo quase todas fabricadas com metal (existem também modelos fetos de uma espécie de papelio ‘ou mesmo de fibra); algumas so introduzidas no tubo pelo pavilho, outras seguras pela mio esquerda, podendo, assim, 0 misico alternar as sonoridades abafada e aberta Os principais tipos: 2 surdina propriamente dita (conhecida também por seu nome em inglés, Straight mute), que é empregada na misica orquestral, cup mate (em inglés literal, surdina em form de xicara), também bastante usada, a wd-ud, a plunger, harmon etc, além de muitas outras variantes destas. Como a maioria delas é pouquissimo usada na misica brasileira, nfo € tio necessirio que o es- tudante memorize todas as suas particularidades sonoras: é muito mais pratico e proveitoso procurar conhecer bem as duas principais, a de orquestra e a cup. Notagdo: na tradicdo musical, a colocagao e a retirada da surdina sto indicadas através dos termos italianos, respectivamente, con sordino (abreviatura: con sord.) e senza sordino (senza sord.), além das expressies ‘preparare sord.”e ‘alzare sord.’, ue servem como alertar 0 misico a respeito do ins- tantea partir do qual deve ser aquela introduzida ou retirada do pavillo do instrumento. Exemplo 161 [ 1.3 Outros instrumentos da familia do trompete (preparare sordino) con sord. > alzare sord. Sem considerarmos os antigos trompetes naturais, de diferentes afinagbes e comprimentos de tubo, podemos encontrar atualmente (com maior ou menor freqiiéncia) alguns outros instrumentos semelhantes ‘Trompete em ds Obviamente nao é transpositor. Utiliza a mais agudo (tem idéntica extenstio A transp mesma técnica do afinado em sib, sendo apenas um pouco sta deste tltimo). ‘Trompete piccolo Existem dois modelos, um afinado em ré, o outro em mib (0 primeiro é mais usado). Suas transpo- sigdes devem ser feitas, respectivamente, uma segunda maior e uma terga menor abaixo do som real. Nos dois casos, é a regido aguda a mais aproveitada. Sio empregados muito mais na musica erudita (em especial na execugiio de pecas barrocas) do que na popular. Hlighethorn Além de também ser afinado em sib, possui tessitura idéntica & do trompete. Diferencia-se deste principalmente pelo timbre, mais aveludado e suave, menos brllante, como se fosse um trompete com um tipo especial de surdina (tem também algo da sonoridade da trompa). Por causa dessas caracteris- ticas, o lighelhora 6, muitas vezes, encarregado de executar temas de cardterlirico. Corneta com pistes £ mais um instrumento de timbre entre o da trompa e o do trompete. 0 modelo mais empregado & 6 afinado em sib (também tem as mesmas transposicZ0 ¢ tessitura do trompete), mas, ainda assim, nao um instrumento muito comum. No jazz mais tradicional, podemos encontrar alguns poucos exemplos, como certos discos de Nat Adderley Ja na musica erudita, talvez 0 caso mais famoso seja bistéria do soldado, de Igor Stravinsky 1.4 Exercicio 1) Fazer um arranjo para o frevo Pombo-Correio, de Moraes Moreira, usando, além da base for mada por guitarra, baixo e bateria, dois trompetes. Durante a pega, a melodia pode ser tratada das se- ‘guintes maneiras: solo, dobramento em unissono ou oitava, soli a2 ou acompanhada por contracantos (rever 0 Exemplo 114). Como sempre, nio se esquecer de marcar todas as articulagdes ¢ os sinais de dinimica e expressio 2. Trombone Inglés: trombone Francés: trombone Italiano: trombone Alemiio: Posaune Abreviatura: thn Como anteriormente se disse, é um instrumento bastante antigo — originado aproximadamente na metade do século XV — que se manteve quase inalterado até os dias de hoje. No inicio, era conhecido por sacabuxa (em certos museus europeus, existem ainda exemplares desse instrumento) e tinha um timbre mais suave e uma sonoridade menos possante que os do trombone moderno, mas sua forma e 0 dispositivo de obtengao das notas — a vara — jd eram essencialmente idénticos a0 do atual instrumento. Existem alguns outros tipos (que veremos mais frente), mas o mais usado, ao qual nos referimos quando dizemos “trombone”, é 0 que oficialmente ¢ chamado de trombone fenor. Nao ¢ instrumento ‘ranspositor, apesar de ser afinado em sib (ou seja, esta € fundamental de seu tubo sonore). A seguir, podemos ver uma extensio relativamente comoda para o instrumento (como jé fi falado no caso do ‘rompete, notas mais agudas podem ser obtidas, dependendo somente da habilidade/eapacidade pulmonar e de embocadura do instrumentista) 185 eee 2.1 Observagbes 4) A fungiio da vara do trombone 6 andloga 3 dos pistdes do trompete: fornecer ao instrumento mais seis diferentes comprimentos de tubo — logo, suas sete posigies —, cada uma delas com uma fundamental eseu pr6prio conjunto de harmdnicos. Normalmente, um trombonista médio consegue emitir de 10 a 12 desses harménicos, podendo, entretanto, dependendo de treino e das circunstincias préprias damisica (como por exemplo, andamento,intensidade ritmica, contexto harménico etc.) ir um pouco além de tal ntimero. 0 funcionamento do mecanismo da vara é bem simples: ela nada mais é do que uma extensiio tubular em forma de “U” que se movimenta dentro de outra idéntica, com a curva invertida, alternado assim a coluna de ar. Quanto mais a vara afasta-se do corpo principal do torna o tubo sonoro e, portanto, mais graves as fundamentais obtidas. As sete posigdes com suas 12 pri- meiras parciais podem ser vistas a seguir. 186 vil Obs. 1) As parciais de nimero 7 e 1/, indicadas em preto, sio, pelas rarbes acistieas jd discutidas, diffceis de serent tocadas afinadas e, portanto, merecem atengZo especial. Porm, gracas a0 mecanismo da Vara, que faz do trombone um instrumento de afinagio nao fixa, o misico mais treinado e de bom ouvido pode corrigir uma nota defeituosa com relativa facilidade. Quanto a esse ponto, 0 trombone leva boa vanlagem em relagio 20 trompete 2) Como jé foi falado, nem todos os instrumentos de metal conseguem emir as fundamentals de suas séries harménieas (reler o primeiro pardgrafo da p.196), 0 trombone é um deste, embora apenas as fundamentais das posigées 1, IL Ill — e mesmo assim, sob certas cércunstancias (por exemplo, elas exigem do instrumentista uma embocadura mais relaxada que, por sua ver, precisa de um certo tempo de past para ser preparada) — sejam exeqiivels. Essas ts fundamentais (sib, de (a6) sio conhecidas por notas-pedal, devendo-se a diffculdade de sua execugdo a0 fato de encontearem-se fora da extensio normal do trombone As fundamentais das posigbes IV, V, VIe VIL (indicadas na pagina anterior por pequenos fosangos) so, na pritica, difcilimas, se ndo impossiveis, de serem obtidas, a nio ser com a transformagio do instrumento em trombone fenor-baixo (falaremos sobte ele mais adiante) Notas-pedal so be b) Como 0 que acontece com a maioria dos instrumentos de sopro, a extensiio do trombone pode ser dividida em trés regides: “grave ~~ media “~aguda Uma das vantagens do trombone & 0 fato de ndo haver, entre as sonoridades de suas regides, grandes diferencas de timbre ou de, principalmente, capacidade din mica (0 que ndo acontece com a flauta, Por exemplo). Contudo, seu registro mais expressivo é 0 médio, geralmente usado nos solos mais liricos €nas caracteristicas melodias de carter solene e majestoso. A regio aguda é também muito empregada hos estilos populares (como num tema de samba, por exemplo), os quais, devido as acentuagdes e aos incopados que quase invariavelmente posswem, pedem um ataque preciso e uma sonoridade ritmos mais forte e brilhante. ©) Em arranjos, 0 trombone pode ser encontrado nas mais diversas situagGes: como instrumento solista, em soli a duas partes (geralmente sendo confrontado com outro sopro de tessitura mais aguda ‘Como um sax alto, por exemplo), na excelente combinagio a trés partes jf menctonada, a0 lado de um trompete cum sa, em sol a3 ou 24 com outros trombones (respectivamente, nas formagoes tipias de uma orquestrasinfOnica e de uma big bad), ow mesmo como a yor mats grave de um ensemble de sopros miso (por exemplo, fauta, trompete, clarinet, sax tenor e trombone), de escritaessencalmente polifnica tema da vara 6a relativamente maior dificuldade de se executarem passagens ritmicamente inten (ainda mais em andamentos répidos) que obriguem alterfincias de rotas pertencentes a posigBes muito afastadas (por exemplo, le VII). Nesses casos, pode acabar oor tendo unt lve falta de sincronia entre os movimentos da no (posigdes) ¢os da Kingua (articulagio das s), comprometendo a clareza da frase. <8) Uma limitagio causada pelos Exemplo 162 ow ©) Tradicionalmente, melodias para trombone por demais agudas (ou seja, aquelas que pedem 0 uso de vi Jinhas suplementares) sao escritas em clave de dé na quarta linha (também. conhecida por lave de tenor). Porém, na misica popular, é comum os instrumentistasterem pouca ou mesmo nenbuma pritica com tal notagio,preferindo utilizar simplesment a clave de sof. De uma forma ou de outra, 0 trranjador deve deixar esss lternncia para trechos de maior durago;trocas de claves para apenas ‘uma ou duas notas pode ser um “tiro pela culatra”, dificultando mais do que ajudando a leitura do trombonista (compare, a seguir, a formas de escrita em {e] e (4) A pS Exemplo 163 f (a) 2.2 Recursos e efeitos Portamento — é o mais caracteristico de todos os efeitos possiveis no instrumento. Alias, devido & vara, que desliza ndo cromaticamente, mas por todas as comas existentes entre duas notas (de maneira andloga a0 que acontece com 0 contrabaixo actistico), 0 trombone é o tinico instrumento de sopro capaz de executar portamentos reais. Uma observacio importante deve ser feta: as notas envlvidas,aém de preci- sarem estar em posigdes diferentes, dlevem ser parciais de idéntica ordem. No Exemplo 164, podemos ver © portamento entre as notas mi (harménico de n® 6 da posicio I!) e dé# (também n® 6, quinta posigao) Exemplo 164 | a Outra consideragio também é importante e bem légica: como a maior distincia que a vara pode percorrer €0 caminko entre as posigdes Ie VIL, € 0 intervalo entre elas é 0 de quarta aumentada (ou seu enarménico, a quinta diminuta),entio ese, igualmente, deve sero maior limite para os portamentos Exemplo 165 aes : — — — Cepoesiel eas oasngo > a wet SSopareat Someone see) E €claro que ha também a posslbilidade de o miésico executar 0 que €informalmente chamado de slissando labial ou glissando de série barménica,jé descrito para o trompete. Neste, o instrumentista deve — dentro da mesma posi¢do —alterar a embocadura, de modo a conseguir, bem rapid e suc sivamente, as parciais existentes entre dois limites (ver Exemplo 166). Exemplo 166 ao [ Surdinas — todos os modelos abordados anteriormente existem da mesma forma para o trom- bone. Contudo a surdina orquestral é de longe a mais empregada. “ ee 0s demais recursos ¢ efeitos vstos para o trompete — 0s tipos de articulagZo, o frulato, 0s trinos labiais — sio, com maior ou menor dificuldade (que depende de indimeras varidveis, como andamento, regio, complexidade ritmica etc), igualmenteaplicaveis para o trombone. 189 2.3 Outros instrumentos da familia Apesar de existirem outros tipos, como o contralto (afinado em mib, uma quarta justa mais agudo {que 0 trombone) ou 0 contrabaixo (em sib, uma oitava mais grave), hoje em dia, além do tenor, apenas dois outros tém aplicacio pratica (principalmente na mifsica orquestral, erudita ou popular): o j4 mer cionado trombone tenor-baixo (equivalente ao baixo propriamente dito) e um modelo de tenor equipado com pistdes (& maneira do trompete) ao invés de vara, Examinemos ambos os tipos mais detalhadamente —— o ‘Trombone tenor-baixo Naverdade, no é um outro instrumento, mas sim o resultado de una engenhiosa transformagio do trombone comum, por meio da adigo de um tubo que fz sua afinagio descer aft (atenga0: como todos ‘0s outros trombones, ele ndo € instrumento transpositor). Devido a sua praticidade, cada vez mais é ‘empregado no lugar do trombone baixo comum (de idéntica afinagao e extensio). Uma pequena valvuls, ao ser acionada, permite ao misico utilizar o novo registro (e, obviamente, retornar a qualquer momento para o original). Sua maior vantagem é fornecer as notas que faltam entre o primeiro pedal (sib,) eo limite grave (mi) da extenso normal do trombone tenor (ver a seqiiéncia abaixo e o quadro de posiges dda pig.201), Isso permite 20 novo instrumento a execugo de melodias bem mais graves, o que o torna perfeito para ocupar a funcio de baixo de um naipe de trombones, ou para melhor auxiliar a tuba na miisica orquestral * apesar de o trombone baixo possuir apenas seis posigdes (as distncias em relagio as do tenor ficam maiores), esta nota (que corresponde & sétina posigio) também pode ser trad por meio de um mecanismo especial £ normal que os instrumentistas que tocam o trombone tenor-baixo utilizem um bocal maior, mais apropriado para tais notas graves. ‘Trombone de pistes £ um instrumento de mesma tessitura de seu similar, o trombone de vara. 0 sistema de pistées pro- voca algumas diferengas importantes entre ele a) Impossibilidade de executar 0 efeito mais idiomatico associado 20 nome “trombone” — 0 portamento; +) maior agilidade (pelo menos em tese); ©) perda de peso e corpo na sonoridade do instrumento. Esta Gltima, sem divida, é a que mai influi na preferéncia quase geral dos instrumentistas pelo trombone de vara, embora o de pistoes venhia sendo utilizado em estilos musicais caracterizados por andamentos rapidos e grande 190 intensidade rfunica (6 cil comprovar tal coisa em grupos de choro, orquestras de gaf das de frevo ou de bailes de carnaval). 2.4 Exereicios 1) Criar uma melodia que seja formada principalmente por portamentos (consulte o quadro das posigBes do trombone, nas pp. 186 ¢ 187, para nao correro risco de escrever algum impossivel de ser tocado), de carter bem expressivo, estilo e andamento & livre escolha, para trombone solista. 0 aicompanhamento deve ser deixado para apenas um piano. 2) Fazer um arranjo da miisica Casa-Forte, de Edu Lobo, para base (guitarra, baixo e bateria) e luma seco de quatro trombones (um deles fenor-baixo). Além de, obviamente, soli a4, wilizar outras {exturas (por exemplo, unissono, soli a3 + baixo independent etc.) 11

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