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CAPITULO IL O Poder e a Forca ou (Os Meios da Politica Externa Poucos conceitos sio empregados de modo tio habitual, sendo tio equivo- os, como 0s de poder ou poténcia (power, puissance, Macht). Os ingleses evo cam a power polities & 0s alemdes a Macht Poli, com uma tonalidade de critict ou de resignagio, ce horror ou de admiragio, Em francés, aexpres- ‘so politique de puissance (politica de poster) causa uma impressio estra- nha, como se tivesse sido traduzida de algumna lingua estrangei autores franceses exaltaram a politica de poder, no estilo dos doutrinarios alemies da Macht Politik; ¢ poucos autores franceses condenaram essa politica como os moralistas norte-americanos condenaaram a poser pois. . Poucos, [No sentido mais geral, poder ou poténcia & capacidade de fazer, pro- a destruir. Um explosivo tem uma poténcia mensurivel, assim ‘como a miaré,o vento e os terremotos. O poder de uma pessoa, ou cle uma coletividade, nao pode ser medido rigorosamente, devido a variedade de “objetivos do seu comportamento e dos meios de que se utiliza. O ‘que oshomens essencialmente aplicam seu ao conceito, na politica, seu significaclo auténtieo. O poder de um indi duo é a capacidade de fazer, mas, antes de tudo, éa capacidade de influ sobre a conduta ou 0s sentimentos dos outros individuos. No campo das relagdes internacionais, pader a capacidacle que tem uma unidadle politica de impor sua vontadle as demais. Em poueas palavras, o poder politico nv um valor absoluto, mas uma relagio entre os homens. er per ener et cis sturm (pure) Eater desi ins lads pais. th di atores eden que se on Es portugés. «uso permite que se tri oe ier, € pln le os samo dei oe, da upline 100 Estaé um: siew (a eapacidade de una unidade politica de posencia ofensine (a capacidade de ume ui ‘outra su vontade); distingdo entre os reewsas, ou fora militar da cote dade, que podem ser avaliados objet € 0 poder, propriamente, no dependeapenasden ‘entre politica de force e pultica de par. poseucia defen: vontadedeoutraye Toda politica internacional importa tim choque constante de vonta- des, por estar consti tendlem deter » sujeitas a leis 0 la pela agi cas Mas esta contraposigio dle hem sempre € belicoso; seu relacionsmento pacifico é influet pela wes, passidas ou futur, mas nao & det por elas, 1. Forca, poténcia, poder rekagio hu 1s meios: os muisculos, no caso do individ; as ar mte, € 0 segundo mas, ni ease do Estado, Do ponte de vista fisica, « homer pesore mn ale. Masat fore resolugio. Da Jorca (militar, econdmica, moral) € 0 perder — que € a aplicagio ess for ‘em circunstancias € con acs. A forga pode ser aval dade forma apror saliagao do poder te urge anlicior nal de erro, com relagio 3s forgas disponiveis. Mas € tal adiferengaentreo poder defensivo eo ofensivo,o poder en paz,0 poder dentro e fora de uma de ‘medida, considerada de modo absolute ¢ intrinseeo, parece iva do que ttl, E forte € aquele que, xragas medida, falsamente ex ‘hociva também ao ciemtis, que se itilinaria 1 substi as relagies entre Paz e Guerra Entre as Nagdes 101 le fora, por sua ver. exige outrasdistingdes. Pel inicio da dace atomiea, a esséncia cat e204 ‘© chogque entre soldados (qualquer ‘que fosse a distincia entre is linhas, imposta pelo nivel téenico as arms lisponiveis) permanecia a prova suprema, comparivel a0 paigumento em hciro a que levam neces las as operagies a crédito, No momento do desenlace. isto €, do engajamento bélico. s6 contavam as for- transformadas ¢ ‘nhdese em munigio, os cidadios enviados ao campo de batalha. “Nao so 0 carvio, 0 enxofre.o salitre, o cobre, €0 zinco destinados a fabricagao de cexplosivose de canhdes que si necessirios, mas as armas pron isclequeca parte desses recursos efet ‘extern, durante a guerra ou eu a fon militar (sem que os dois conceitos poss mente, porque ¢ por modalidades nao-militares de luta). Em tempos de paz, a forga real porque as divisies clo exército, a frots nae qualquer tos servic da polie potencial ea forga real intervém a mobiizagéio. A Forgt ‘empregada pelas iacles pola, rvs entre si & proporcional a seu patencia! de mobilize —o qual depend, por sta ver. dle numerosis crcunstineias que poxtem ser redusidass nogdes abstratas le caida ede vontude. As eondigies de capacidade, eco oa ministrativa, de resolucao coletva, manifestadas pelos chefes e sustentadas . io Sio constantes através ct historia, seniio variam de époct para €poca, (O poder dos gover estem, auureza ca poténeia cas uni dads politi Ovinculo entre: 61 poteucia dessa mesn unidade politica se lias nogives—0 ponder, dentro da unidade politica, dale politica — ¢ facilmente perceptivel’s 1 por oposicio; ese torna o que € tornan- rset 2. p18. aa ne de Pi, ii gin deste ap 102 Raymond Aron do-se capaz de agir fora de si mesn politica semaintermediagao de: poler (para traduzira express represent ler an die Macht kommen) sio.0s guiss, 08 tes externos da unidkacle politica, Ao mesmo tempo, ma res dace de mob selva onde se bate esses“ ‘como as relagbes internacionais no nascem do estado natural, os dade de influenciar & concluta dos seus semelhantese a propria existéncia da coletividade, Esta anise no nos leva a confusio entre patéucia € pater, A ago do estadista ni tem o mesmo sentido, nao se situa no interior do mesmo un verso, conforme se oriente no sentido de ‘hum caso como no outro, tenda a deter der {quais 0 soberano deve governar. A escolha feita pelo chete dle Estado neira como exerce seu governo sio cada ver mais institucion sociedacles moderns, ess institucio , expr houve quistador eas do soberano legitimo. E tudor emprega ow invoca a forge bruta, téxprete da coletividade, ‘cous regras da sucesso dos chefes, em confo sorte ou do sentimento pop Entreta o entre poder e potincia pelo papel que os detentores do poder t& tas vezesestestitimos sio “homens de poténcia” que tiveram éxito. ASun dades politica ¢ 08 regin ever todos sua origem a vio- lencia, Eoque. na Franca, ascriancasaprendem nos, os rei fizer nga. Os autores dos manuais que ensi vocaciio das guerra através las quai os reis cagio nacional, lutando contra senhores feu dacle comasclecisies da os subverterama mon em 1958, o voto da Assembléia Nacional mal disfargou a ilegalidade com Paz e Guerra Entre as Nagies 108 ‘que se estabeleceu o novo regime: a ameaca de violéneia— como um de- sembarque de tropas de pra-quedistas — € também uma forma de vio lencia Desses fatos incontestives se passa facilmente a interpretagio “reas list’, de que a sociologia de Pareto €um exemplo. Segundo essa interpre- tag « lata pelo poder seria, em si, uma rivalidade de poténca, tendo ‘como atores as minorias ativas. A legalizagao do poder nao aterara a sig- nificagao do fendmeno: as lasses dirigentes se combateriam como 0 fae zem 3s unidades politicas,e a dase vitoriostexerceria sua potencia do ‘mesmo modo como 0 conquistador domina e governa ‘A meu ver, esta interpretagao falseia 0 sentido da politica’, que € 20 mesmo tempo uma lita entre os individuos e os grupos pelo acesso aos postos de comando e pela parttha dos bens escassos, e a busca de uma ‘ordem equitativa. Mas nao ha duivida de que.aluta pelo poder eoexercicio do poder, dentro das coletividades, guardam certos tragos em comum com a rivalidade de poténcia entre as unidades poltcas autdnomas ‘Quem governa em virtude da lei possui uma poténcia maior ou me- nor (sto €, uma capacdale maior ou menor dle impor sua vontade), de ‘acordlo com avendéncia que tem sobre seus companheires,scios, con correntes ou subordinados; deacordo como preigio de que gosanaclitee no povo. Ora, ess poténeia — quer se trate de governantes ou de grupos de pressio — nunca édefinida exatamente pela repartigo legal das atri- buigies ou das prerrogativas. O grau de influéncia que tém efetivamente 6s individuos ou grupos. « partiipacio de uns e de outros nas decisies sgovernamentais relativas is relacdes externas ¢ no relacionamento entre ‘os grupos que compéem a coletivdade, dependem dos meios de aco & oscio de uns e de outros: dependem, a0 mesmo tempo, do talento ‘que cada um revela no emprego desses meios. A constituigio exclu vio- Jencia abertae raga o quadro dentro do qual se desentola uta pelo po- der, seguindo normas determinadas; mas nao suprime o elemento “rival dade de poténci ‘Os atores do jogo politico interno sio também animados pelo desejo de potencia e, av mesmo tempo, por conviccées ideologicas. Os donos do poder satsfazem sua ambigio (raramente isenta de interesses pessoais) ‘mesmo quando estéo convencidos de que servem a coletividade. Os ter- mos da constituigio pritca oficial dos parlamentos, das ad ‘eds governos nao permitem conhecer exatamente a distribuicio real da poténcia dentro de um pais. Que capacidade tém os homens de dinheito, de partido, de ida ou de intra. de convencer ou de forgar os governos, t comm wn stem partici nerd tn sax 104 Raymond Aron de comprar o apoio da admi jsrago ou da imprensa, de suscitardewo- «Ges desimeressadas, de ransformar a opiniio das elites ou ds mass? [Nao ha uma resposta genérica que se possa dar 2 essa pergunta. O que se pode dizer éque seriaingénuo procurarrespondé-ta com aletrada consti- {uigio ou com as termos dos procedimentoslegas. Seria cnicoeincorreto dizer que aconstiuigao € fctcia, e que os detentores legais da autora apenas emprestam © nome, ou a palavra, a outros interesses. Nao teria tide que as regras do jogo nao tivessem qualquer influéncia sobre os {ogadotes ou sobre as possbilidades de éxito ou que os posuidores egais ‘do poder consentissem em executara vontade de outrem (ainda que fosse ‘a vontade daqueles a quem devem sua ascensio). ‘Assemelhangase diferencas entre a conduta da “politica interna eda “politica externa” e as razBes por que as teorias sobre uma diferem das teorias sobre a outra podem ser percebidas simultaneamente, pelo menos ‘numa primeira andl. A teoria da politica externa permite atibuir 30s stores em cena — as unidades polticas — independéncia das leis € de ‘qualquer dsbitro ea possblidade da guerra. Daiocileulo de forgas. sem 0 qual o comportamento de qualquer dos atores, quando ameagado de _agressio, ndo seria racional Por sua ver, teoria politica €equivoca, porque seus conceites Fane mentais no esto isentos de controvérsia Para reduir estaincerteza tosfundamentais,a politica pode serconcebida.em termosde uma compe- tigio permanente (quem recebe o que, como e quando?" em terms de exigéncia, a qualquer preco, de uma ordem pacifica (a guerra civil: supremo, sendo preferivel suportar qualquer tipo de ordem): em termes de busca da melhor ordem possivel: enfim, em termosde uma conciliagio entre aspiragies complementares ¢ divengentes (igualdacle e hievarqui, autoridade e reconhecimento reeiproeo etc) ‘Os Estados que reconhecem mutuamente sua soberania eigualdade, por definigio, nio tm autoridade uns sobre os outros. Os governantes que dirigem a administragio piblica, exército ea polcia, ocupam a posi

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