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Considerações acerca do Artigo 230 IX


da Lei 9.503/97
• Por Emerson Sakoda
• Publicado 10/11/2010
• Direito
• Considerações acerca do Artigo 230 IX da Lei 9.503/97

“O problema não é a legislação. O problema é o condutor. O problema é o homem. É a


irresponsabilidade, a falta de consciência do cidadão e, principalmente, a crença de que
nada vai acontecer. Esse que é o problema.”

O legítimo brado de Cyro Vidal, jurista, ex Diretor do Departamento Estadual de


Trânsito do Estado de São Paulo – DETRAN/SP, e um dos autores do anteprojeto que
culminou na Lei 9.503/97 – Código de Trânsito Brasileiro, vem demonstrar um grande
paradigma, não somente perceptível no Direito Administrativo de Trânsito, mas em
diversos outros ramos do complexo jurídico nacional, qual seja, a pouca eficácia de
modernos e prestigiados diplomas legais frente as realidades sociais os quais se
propugnaram combater.

São inúmeros os exemplos de ineficácia de disposições contidas no CTB, ECA, CDC


que hoje representam bons exemplos da produção legislativa brasileira. Entretanto é
sempre latente o questionamento acerca da própria ordem jurídica, neste sentido
lançamos o ideário de Kelsen, para que o objetivo do ordenamento jurídico é a paz
consubstanciada pelo não uso da força, senão vejamos:

A segurança coletiva visa a paz, pois a paz é ausência do emprego da força física. (...) a
ordem Jurídica estabelece a paz nessa comunidade por ela mesma constituída. A paz do
direito, porém, é uma paz relativa e não uma paz absoluta, pois o Direito não exclui o
uso da força. (...) “O Direito é uma ordem de coerção, e como ordem de coerção,
conforme o seu grau de evolução - uma ordem de segurança, quer dizer, uma ordem de
paz”.
Como asseveramos, o CTB (Lei 9.503/97) representa um razoável exemplo de técnica
legislativa, possuindo ainda em seu bojo um notável conjunto de soluções jurídicas que
municiam a Administração Pública no combate às drásticas estatísticas que o trânsito
brasileiro apresenta.

Segundo a Organização Mun¬dial da Saúde (OMS), 1,3 milhão de pessoas morrem no


trânsito a cada ano, sendo que 91% dessas mortes acontecem em países de baixa e
média renda. Nesses países, vivem 85% da população mundial, mas estão apenas 48%
dos veículos. Além do custo humano, os acidentes representam um prejuízo de R$ 28,2
bilhões por ano, segundo estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).

Destaca-se neste momento outro dado, não tão surpreendente, qual seja, mais de 85%
dos acidentes são causados por falhas humanas, 12 % por falhas mecânicas e 7% por
outras causas.

Todavia a análise de uma hipótese de falha mecânica como causadora de um acidente de


trânsito, para ter fundamentação técnica e científica, deve sempre ser sistêmica, e,
envolvem exaustivos exames periciais que abrangem desde a identificação; descrição e
orientação dos danos, passando pela análise das condições da estrutura e seus
agregados, sistemas e componentes mecânicos e elétricos.

Ao final da sobredita análise, o resultado prático em esmagadora maioria é de que a


causa-mater de procedência mecânica inexistiu, ocorrendo pois, a corroboração do fator
humano no que tange a conservação e manutenção veicular.

Nesta esteira, temos que é dever primaz do CONDUTOR, antes de colocar o veículo em
circulação nas vias públicas, verificar a existência e as boas condições de
funcionamento dos equipamentos de uso obrigatório, nos termos do artigo 27 do Código
de Trânsito Brasileiro.

A inobservância do dever plasmado no artigo 27 do CTB acarreta pois a tipificação da


infração incursa no inciso IX do artigo 230 do citado Codex, assim vejamos:
Art. 230 – Conduzir o Veículo:

IX – sem equipamento obrigatório ou estando este ineficiente ou inoperante;

Podemos observar que o diploma legal prevê três tipos de condutas típicas, oriundas do
ato de conduzir:

a) Sem equipamento obrigatório;

b) Com equipamento obrigatório ineficiente, e

c) Com equipamento obrigatório inoperante.


Não obstante, os equipamentos obrigatórios dos veículos são aqueles relacionados no
Art. 105 do Código de Trânsito e disciplinados na Res. 14/98 do Contran. Em suma, são
os equipamentos que os veículos, conforme suas características, necessariamente devem
não apenas possuir, mas que além de presentes, estejam em funcionamento e acima de
tudo sejam eficientes, para os fins a que se destinam, sob pena do cometimento da
infração em comento.

Numa breve e sucinta análise do tipo incurso no Art. 230 IX do CTB, ao passo que a
ausência do equipamento obrigatório dispensa maiores comentários, a ineficiência e a
inoperância merecem algumas linhas de argumentação.

Entende-se por ineficiente o equipamento obrigatório, que, apesar de presente e em


operatividade, não atinge o fim à ele colimado. No plano prático, teríamos como bom
exemplo, as luzes intermitentes que indicam a mudança de direção do veículo, as
popularmente conhecidas “setas”. Assim, teríamos por ineficientes as “setas” que
mesmo apresentando todas as luzes em funcionamento, por algum motivo não
transmitem sua luminosidade, seja, por sujeira ou pela aposição de películas.

Quanto à inoperância, podemos para fins didáticos, entende-la como a condição de não
funcionamento do equipamento, ousamos dizer que, e com o máximo respeito aos
posicionamentos em sentido contrário, entendemos que o funcionamento irregular do
equipamento, enseja ainda a mesma tipificação. Isto posto, justifica-se tal argumento,
sob o prisma no momento do ato da fiscalização, que é o momento flagrancial onde
verifica-se a ocorrência do fato jurígeno infracional. Logo, numa eventual abordagem, o
agente policial deparando-se com um quadro de não acendimento das luzes de freio, em
que pese o motorista, imediatamente reparar a avaria, demonstrando sua
temporariedade, já temos in casu verificada a inoperância do equipamento, não se
falando pois, em ineficiência.

No tocante a penalização da conduta, a sistemática adotada pelo Código de Trânsito


Brasileiro, está calcada na atribuição das penalidades aos respectivos responsáveis em
cada infração de trânsito cometida, estabelecendo, em seu artigo 257, as situações de
responsabilidade de cada um dos potenciais infratores: proprietário, condutor,
embarcador e transportador, ressalvando, ainda, o caso das pessoas físicas ou jurídicas
expressamente previstas no Código.

O caput do Art. 257 do CTB, deixa claro que responderão de per si no âmbito de suas
respectivas responsabilidades, senão vejamos:

Art. 257. As penalidades serão impostas ao condutor, ao proprietário do veículo, ao


embarcador e ao transportador, salvo os casos de descumprimento de obrigações e
deveres impostos a pessoas físicas ou jurídicas expressamente mencionados neste
Código.

Verifica-se, pelo artigo transcrito, que o proprietário não responde solidariamente, em


caráter absoluto, pelas infrações praticadas pelo condutor do veículo.

Outrossim, é cediço que no parágrafo 2º do artigo em comento, temos que o proprietário


responde pela infração referente a prévia regularização e preenchimento das
formalidade e condições exigidas aos veículos automotores :

Art. 257…………………….

§ 2º - Ao proprietário caberá sempre a responsabilidade pela infração referente à prévia


regularização e preenchimento das formalidades e condições exigidas para o trânsito do
veículo na via terrestre, conservação e inalterabilidade de suas características,
componentes, agregados, habilitação legal e compatível de seus condutores, quando esta
for exigida, e outras disposições que deva observar.

O Conselho Estadual de Trânsito de Santa Catarina no Parecer 083/2009 externou


entendimento no sentido de que:

A infração do art. 230, IX requer para a sua caracterização que o agente de trânsito
surpreenda o veículo sendo conduzido em via pública estando sem o equipamento
obrigatório ou estando esse ineficiente ou inoperante. Estando o mesmo estacionado,
sem que o agente de trânsito tenha presenciado o condutor realizando tal manobra, a
infração não estará caracterizada. [...]

Evidencia-se no conciso parecer que o ato de conduzir o veículo na via terrestre é


DETERMINANTE para a ocorrência da infração. Todavia o Tribunal Paulista, é
taxativo no tocante a responsabilizar o proprietário do veículo, quando este for flagrado
sem as condições exigidas para o trânsito na via terrestre. Senão vejamos:
"Apelação Cível - Mandado de Segurança — A anulação de ato de suspensão do direito
de dirigir — Exclusão da pontuação - Concessão da segurança - Inconformismo -
Responsabilidade do condutor por infrações relativas ao estado e conservação do
veículo - Inadmissibilidade - Observância do parágrafo 2º do art. 257 do CTB - As
infrações referentes à prévia regularização, formalidades e condições exigidas para o
trânsito de veiculo, na via terrestre, são de responsabilidade do proprietário do veículo -
Recursos improvidos." (Apelação Cível n° 276.904-5/3-00, Pompéia, rei. Des. Castilho
Barbosa, j . 09/09/2008).

Todavia devemos considerar que quanto a responsabilidade por atos realizados em


trânsito, leciona Celso Antonio Bandeira de Mello que:
“O que se vem de dizer exibe, desde logo, a diferença entre a figura do infrator e do
chamado responsável subsidiário. O infrator, bem se percebe, é o sujeito que pratica a
infração e que, de regra, suportará a sanção por ela; ao passo que o responsável
subsidiário é aquele que, por força da lei, responderá pela infração caso aquele que a
cometeu não possa responder ou não responda por ela”
Ora, é louvável penalizar o proprietário que mantém em seu veículo equipamento
obrigatório em mau estado de conservação, ou que não funcione, ou ainda que não
licencie seu veículo tempestivamente.

Porém, torna-se injusta a penalização do proprietário, quando este mantém em seu


veículo um equipamento obrigatório a contento, e por atitude imprudente ou deliberada
do condutor tal equipamento torna-se inoperante, ineficiente, ou ainda, é retirado do
veículo automotor. Condutor este aliás, que inobservou seu dever de abster-se de todo
ato que possa constituir perigo ou obstáculo para o trânsito de veículos, de pessoas ou
de animais, ou ainda causar danos a propriedades públicas ou privadas, configurado no
art. 26, inciso I do CTB.

A obrigação oriunda da infração constitui sanção administrativa ao infrator e não sanção


ao veículo (mesmo porque coisas não são sujeitos de direitos e de deveres), tanto, que a
legislação admite a dicotomia da responsabilidade entre o proprietário e o condutor,
como se observa nos parágrafos do art. 257: do proprietário é a responsabilidade pelas
infrações atinentes à regularização do veículo; do condutor, a responsabilidade pelas
infrações decorrentes de atos praticados na direção do veículo.

Logo, deve o operador do Direito distinguir entre a previsão legal da multa nas normas
abstratas dispostas na Lei 9.503/97, e a aplicação administrativa da sanção, mediante
atividade administrativa.

A Carta Magna de 1988 em seu artigo 5º, incisos XLV e XLVI, vetoriza expressamente
o princípio da individualização da pena, que tem aplicação não só no campo penal mas
também em qualquer momento em que pretenda o Poder Público sancionar o indivíduo,
principalmente pela necessidade de se compreender a ciência jurídica como um sistema
único entrelaçado por princípios basilares que dimensionam seus efeitos a todos os
setores ou situações análogas, isto posto, para que uma pessoa não pague pelo erro da
outra.

O Código de Trânsito Brasileiro é um código austero, visto que de seu artigo 161 até o
artigo 255 existem cem tipos de infrações para os mais variados comportamentos do
usuário da via terrestre. A legislação em seus aspectos técnicos amolda-se à
configuração do Estado Democrático de Direito em que vivemos no Brasil.

Outrossim, “um trânsito seguro, regular e ordenado foi erigido como direito
fundamental, ao mesmo passo que, em contrapartida, estabeleceu uma série de
obrigações ao Poder Público”.

Todavia, não nos parece cabível a interpretação restritiva do texto legal. Mesmo, tendo
o Estado o dever de agir, seja ele genérico ou previsto objetivamente, deve-se acima de
tudo sopesar quando possível a aplicação que se coaduna com os vetores constitucionais
e fazer justiça em cada caso concreto.
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Considerações acerca do Artigo 230 IX da Lei 9.503/97 publicado 10/11/2010 por
Emerson Sakoda em http://www.webartigos.com

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/51695/1/Consideracoes-acerca-do-Artigo-
230-IX-da-Lei-950397/pagina1.html#ixzz15YyIq96t

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