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INTRODUCAO A HISTORIA DA FILOSOFIA/MARIENA CHAUI | | DOS PRE-SOCRATICOS ACCOM eon aia Naini COMPANHIA Das LETRAS istoteles: a filosofia totalidade do saber |ntemplacio ou saber tedrico, especulacio ou saber especulativo, Por iivo, na primeira afirmacao da Metafisica, depois de enunciar que por na- Wy homens desejam saber, Arist6teles prossegue escrevendo que a me- a disso esta no prazer que sentimos em ver as coisas, “mesmo fora de utilidade” e “mesmo quando nao nos propomos nenhuma aco”, 0 admirativo desperta nosso desejo natural de conhecer ¢ é para nés cau- wer, pois todo desejo busca o prazer. A filosofia é desejo de conhecer ¢ no conhecimento. Mas ha uma pequena clausula decisiva no trecho final lo aristotélico: se filosofaram para fugir da ignorancia, escreve Aristote- hiiio buscaram o saber por ele mesmo e nfo em vista de algum outro fim, ca que, sendo conhecer pelo prazer de conhecer, a filosofia é um fim sma. Ora, ser livre, diz Aristoteles em varias de suas obras, é ter o po- dara si mesmo seu proprio fim e ser para si mesmo seu proprio fim. Por |{ilosofia é 0 tinico de todos os saberes que ¢ verdadeitamente livre, pois Hnle cla é seu proprio fim. A teoria é o saber em vista do proprio saber, 0 colocar o espanto admirative como causa iniciante do conhecimento € jn wlicar que o prazer cognitivo trazido pelas sensaces decorre da capacidade ‘fencladora e discriminadora dos nossos sentidos, Aristételes se afasta de Pla- ‘pois nao recorre a reminiscéncia e as Idéias para explicar a origem e a pos- idade do conhecimento, De fato, como lemos no final do trecho da Metafi- &, Messe mesmo primeiro livro, lemos a segunda de suas afirmagées cél acima citado, o espanto admirativo nos faz reconhecer nossa ignorincia € fugir dela, Em outras palavras, o espanto pelo mundo produz um espan- nierion, qual seja, a descoberta de nossa ignorancia, ¢ é esse duplo espanto eausa 0 desejo de conhecer. jo entanto, como observa o helenista Pierre Aubenque, em O problema do i Aristdteles, embora o desejo de conhecer seja uma tendéncia natural dos nos, a abertura da Metafisica também afirma que a filosofia, nascida do e5- [8 filosofia| nfo é uma ciéncia pratica, é evidente pelos que primeiro filo “Pois os homens comecam e comecaram sempre a filosofar movidos pelo (0 thauimdlzein)..J. Aquele que se coloca uma dificuldade ¢ se espanta pe sult prOpria jgnorincia, Por isso, o que ama os mitos (philémythos) 6, de e Heir, fil6sof0 (philésophos), pois o mito esté repleto de espantoso, De sorte q filosofaram para fugir da ignorancia, é claro que buscavamn o saber em vista heclmento, e niio em vista de alguma utilidade, | nflo é um impulso espontaneo, mas nasce de uma pressfio sobre nossa | eatusacla por uma aporia, isto 6, por uma dificuldade que nos parece inso- |, Certamente, foi o espanto em ver a agua mudar de estado que pode ter oem Tales a busca da physis, mas também certamente foi a aporia da tabilidade entre o lado e a diagonal do quadvaco que forgou os pita: imizein & o espanto cheio de admiragilo, Admirar é mirar, plar, Contemplagio, em prego, se iz theorla, do ve i ‘sua ignorancia satisfeita para fazé-los cair em novos espantos, ou seja, em Mostrando a filosofia como didlogo filoséfico. O acordo entre os filésofos é o ‘primeiro sinal da verdade; seu desacordo, o da falsidade de suas opinides. De- envolver uma aporia e recolher a opiniao dos antecessores significa, em primei= Ho lugar, que o filésofo tera que passar pelos mesmos problemas que seus ante= sores e, em segundo, que o didlogo dos fildsofos é uma ascese ou depuragao verdade, nao como um progresso inelutavel, mas como um trabalho sempre enovado. ‘iporias com as quais uma nova ignorancia é reconhecida e um novo movimen- niciado. A crise aberta pela oposic&o entre eleatas ¢ heraclitianos é a melhor demonstracao de que o espanto nao é algo que se encontra no passado da filo- ifla, mas é parte essencial de sua prdpria histéria. Como escreve Aubenque, Aristoteles, “se a pressao das coisas determina a origem e o sentido da bus- ¢ cla também que a anima e sustenta em seus diferentes momentos”. Por que a filosofia caminha de espanto em espanto? Porque, diz Aristéte- Encontramos no espanto admirativo, isto ¢, na aporia e na historia das apo: . ela 6 constrangida a isso pela forca da verdade e pela necessidade de acom- primeira razdo para que a obra aristotélica se realize como investigacdo € : onde houver uma aporia, ha filosofia e por isso filosofia concerne a totalidade dos saberes. A segunda razio para que a filosofia, com Aristételes, surja como plurall- ile ¢ totalidade dos conhecimentos decorre de sua idéia do que seja o objeto llosdfico por exceléncia: o ser. Ora, escreve ele no Livro rv da Metafisica: “O ser. © diz de muitas maneiras”, isto possui muitos sentidos e muitas maneiras d # cabendo & filosofia conhecer todas elas. har os fendmenos, o phaindmenon*, aquilo que aparece ¢ se poe diante de 1 dando-se a conhecer. Eis por que, por exemplo, Parménides, apesar de sua wina, foi forcado a reconhecer a muktiplicidade e a pluralidade dos opostos plano da opinifio. Pelo mesmo motivo, os atomistas, embora materialistas, am obrigados, por sua propria doutrina, a admitir o imaterial, isto é, a exis- ila do vazio. Assim, 0 espanto faz com que, de aporia em aporia, os filésofos ilo cessem de dialogar com 0 mundo ¢ com as coisas. a No quarto livro da Metafisica, Aristételes reafirma o que dissera no Livro lo é, que a filosofia é a totalidade do saber. Entretanto, diz ele, o saber teonés %0 diferencia-se segundo o objeto ou a natureza do ser contemplado ou exami do pelo conhecimento. Desse ponto de vista, 0 conjunto dos saberes teoréth divide-se em trés grandes saberes ou ciéncias teoréticas: a fisica (que estuda | Odidlogo se realiza também entre os préprios fildsofos. Impressiona o lei- w de Aristételes o fato de que em todas as suas obras, a cada novo assunto, 0 ‘of escreva uma espécie de histéria da filosofia, um apanhado das opini6es id endéxa) dos anvecessores sobre o problema investigado. Como um médico, {rstoteles comeca sempre pela anamnese, isto é, pela recordacéo que permite nosticar o estado presente e justifica essa maneira de proceder escrevendo, |Se1es que possuem em si mesmos o principio de seu movimento e de seu re ino 1 da Metafisica: 0, isto é, as causas de todas as suas transformacées qualitativas, quantitath de lugar e tempo, de geracao ¢ perecimento); as matemiticas (que estudlar ves iméveis, isto é, no sujeitos as transformagées ou ao devir, ainda que p existam separadamente dos seres fisicos dos quais séo as superficies, as fig 08 volume etc,); ¢ a filosofia primeira (préte philosophia), a mais alta das cén- i teoréticas (que estucla o ser enquanto ser, sem determind-lo neste ou naqu PECLO, € enquanto imével, isto é, no submetido ao devir). As ciéncias Agem, pois, os conhecimentos dos seres naturais (a fisica comp investigacio da verdade é, num sentido, dificil e, noutro, ficil. A prova disso & jue ninguém pode alcancar plenamente a verdade, mas ninguém exra inteicamen- ‘10, ¢ cada um diz algo sobre a natureza em si mesma; individualmente, essa con- “tHibuigio nio nada ou é pouca coisa, mas o conjunto de todas as contribuigées ja.uum resultado fecundo. De sorte que, verdadeiramente, o caso 6 aqui seme= (e a0 que costumamos exprimir com um provérbio; “Quem ha de errar ao fle uma porta?” Nesse sentido, a investigagio da verdade &, sem divida, ftcil pos 0 alcancar o todo sem poder alcanigar uma parte mostra sua dificuldade, ys ni. ht ana pg Ni ii vibe trenton ilemente da vontade e da aco dos homens e que por isso s6 podem ser con- A filosofia, totalidade de todos os saberes — teoréticos e priticos —, possui dos por nés, Todavia, nao constituem a totalidade do saber. pmo pontos extremos mais altos a filosofia primeira, cujo objeto € o ser enquan- Na abertura da Etica a Nicémaco (no Livro 1), Aristételes nos fala de um ou- ser e cuja finalidade € 0 saber pelo saber, e a politica, cujo objeto sao as acbes nas que visam ao bem humano. Recobre ¢ percorre, assim, 0 ponto mais junto de ciéncias que, sendo ciéncias, séo tedricas, mas nao sao teoréti- to é, seu objeto de conhecimento € alguma coisa que depende da vontade to da especulacio pura (cujo objeto independe da vontade e da agio humanas) ‘aglio humanas. Trata-se das ciéncias da aco ou das ciéncias tedricas sobre aleangar o ponto mais alto da aco pura (cujo objeto depende inteiramente le uma decisao humana racional, voluntaria e livre), E 0 critério da superiorida- icas humanas. teorética e pratica € o mesmo: a liberdade ou independéncia (a autdrkeia*) da- ida arte (tékhne), toda investigacao (méthodos), toda agao (praxis) e toda escolha quilo ou daquele que da a si mesmo seu préprio sentido e finalidade e que tem clonal (proairesis) tendem para algum bem (...}. Mas observa-se, de fato, uma cer si mesmo seu proprio sentido e finalidade. |diferenga entre os fins: uns consistem nas atividades, outros em certas obras, dis- A tarefa gigantesca de adquirir todos esses saberes, organizé-los, classificd- Uintas das proprias atividades. sles, legando ao pensamento ocidental a idéia de que a filosofia é a totalidade Com estas palavras, Aristételes inicia a distingao classica entre as duas conhecimentos possiveis para os seres humanos. A esse respeito, escreve Monique Canto-Sperber: 6 modalidades da aco humana: a aco que tem seu fim em si mesma € p qe tem como fim a fabricacao de uma obra, Trata-se da distingao entre Aristételes € um colosso no conjunto do pensamento antigo. Ninguém depois dele * © a poiesis*. ‘A potesis é a arte ou técnica: agricultura, metalurgia, tecelagem, carpinta- pode rivalizar com a extensio de suas investigagbes cientificas e a profundidade de suas investigacGes filos6ficas. Por sua vida cheia de episddios contrastantes, acaba- lavia, navegacao, pintura, escultura, arquitetura, medicina, todos os artesa- s, poesia, danca, retorica. A prixis compreende a ética e a politica. Ora, na da com sua morte num semi-exilio, pela enorme influéncia que teve sobre seus nu- ca, Aristoteles afirma que o ser € o saber mais excelentes so aqueles que merosos discipulos e pela posteridade, bastante desigual conforme os periodos, es, isto 6, aqueles que nao dependem de outros para existir € que tém em, que iria conhecer seu pensamento, sua personalidade é a imagem dessa época fi loséfica que conclui a filosofia grega classica (M. Canto-Sperber, “Aristote”, in M. Canto-Sperber, org., 1997, p. 303) 0s seu proprio fim. A mesma idéia aplica-se 4s ciéncias praticas: so eclentes as agdes cujo fim se encontra nelas mesmas e menos excelentes cujo fim Ihes é exterior, A praxis, sendo a agio que tem em si mesma n, 6 portanto, superior a pofesis, na qual a aco é realizada em vista de ou- Mas, 0 que significa essa forca enciclopédica que jamais seria igualada na 4m vista de outra coisa, tendo seu fim fora de si, ou seja, na obra. H, na ‘ria da filosofia? Na verdade, quando falamos em enciclopédia precisamos f, a politica é superior a ética. Alids, a politica é superior a todas as outras itar uma impressao enganosa sobre a obra aristotélica, pois poderiamos supor 4 de acto, pois, escreve Aristéreles na Ftica a Nicémaco, se trata de uma seqiiéncia de textos sobre os mais variados assuntos, sem of internos, quando, na realidade, trata-se da mais gigantesca sistematizacao que disp6e, entre as ciéneias, quais slo necessiriay nas Cidades, que tipo de ‘dos conhecimentos, em conformidade com suas articulagSes e relagdes neces- cidadio deve aprender e até onde sew estudo deve ehewar [+ Visto psa irtiles aD piece monumental, a obra aristotélica procura a can jas elénelan que deve e nde deve ustenta a multiplicidade dos fendmenore dos menor experiéncia nos oferece uma multiplicidade mével de aspectos da reali- sensivel. Mais ainda, Ela nos lanca nessa multiplicidade, sem que jamais pos- mos nela encontrar a escapatéria de um recurso a alguma instincia imutavel 41 que produzamos o sentido dessa multiplicidade, isto é, sua razio de ser. A for- especuilativa de Aristoteles foi a de haver enfrentado, em todos os campos de sua fio filosofica, a exigéncia de unidade do miltiplo que — é essa a condigao hu- — nosso espanto pelo mundo nos impée (P. Rodrigo, 1997, p. 5). Istoteles nasceu em 384 a.C, na pequena cidade de Estagira (hoje Star- costa noroeste da peninsula da Calcidia, Fstagira era uma cidade grega: da e colonizada por gregos ¢ ali se falava um dialeto do jonico. Sua Pastis, era origindria de Calcis, onde Aristoteles viveria seus tltimos dias; pal, Nicdmaco, era médico e, como tal, pertencia a uma familia e a uma cor- lo médica (pois os oficios eram aprendidos ¢ transmitidos por heranga aos bros das corporacées), a corporacio dos Asclepfades (de Asclépios, deus 0 da medicina). Perdeu o pai com a idade de sete anos ¢ foi educado pelo {uitor, Proxeno. Nicémaco era o médico de cabeceira de Amintos, rei da a, e € possivel que Arist6teles tenha passado a primeira infancia na ci- capital da Macedénia. Muito possivelmente, também re- i do pai e do tutor o inicio da formacao em medicina, pois, sendo um as- la, estava destinado a seguir o mesmo oficio de seu pai. Muitos atribuem iros anos de formacio o interesse que Aristételes manifestara, du- sua vida e em sua obra, pelas coisas da natureza, pela biologia, pelo is plantas ¢ dos animais, dos astros ¢ da alma. “dezoito anos, Aristoteles transfere-se para Atenas, onde passaré a fre- ademia de Platao, Ai permaneceu durante vinte anos, até a morte ‘eujo pensamento o influenciou decisivamente e, ainda que possuis- proprio € muito independente e que viesse a criticar Platio, Aristé- marca indelével do platonismo, Num poema dedicado a Bude- sim se refere a Platiios com 0 rigor de seus argumentos que o homem se torna bom e feliz ao mesmo tempo. A ninguém, até agora, foi permitido tanto alcancar. Com a morte de Platao, Aristételes deixa a Academia. Esta ficara sob a di- reco de um dos discipulos mais proximos de Plato, Espeusipo, que fez predomi- nar nos ensinamentos da escola ¢ em suas obras 0 pensamento que Plato desen- yolvera nas Leis, obra em que a influéncia do orfismo pitagérico fora marcante € crescente. Com isso, Espeusipo tornara a Academia um grande centro matemé- tico e astrondmico, afirmando que somente por meio das matematicas o homem chega a conhecer a realidade tiltima das coisas — as idéias — como proporcées perfeitas com as quais Deus ordenou o mundo, de sorte que a realidade tiltima é 0 mimero e a unidade. Aristételes discordou dessa concepsio que tende a identificar filosofia e matemitica. Sua origem médica ¢ naturalista nao se adap- lava ao matematismo mistico que comecava a tomar conta da Academia e, com ‘05 sentiments antimacedénicos, que se espalharam em Atenas apés 0 saque de Olinto, em 348 a.C., Aristételes, acompanhado de um outro membro da escola, Xenécrates, transferiu-se para a Eélida, para as cidades de Assos e Atarneu. Es- sas cidades eram governadas por Hérmias (para quem dois discipulos de Platio hayiam escrito uma constitui¢gio), com cuja filha adotiva, Pitia, Aristételes veio a se casar, Hérmias patrocinara a eriaco de uma escola platonica por dois platonicos "tle Asso, Erasto e Corisco (os autores da constituicao escrita), e durante trés ‘anos Aristételes ensinou nessa escola onde foi seu aluno Teofrasto, que vitia a tornar-se seu mais importante discipulo. Dessa época parece datar o primeiro rito contra o pitagorismo da Academia, 0 Sobre a filosofia. Hérmias tinha grande interesse politico numa unificagio entre a Maced6- ‘nia ea Pérsia, mas conspirac6es palacianas acabaram fazendo-o ser assassinado istoteles transferiu-se para a cidade de Mitilene. Do periodo de Mitilene da- Mm suas primeiras obras no campo da biologia, havendo nelas muitas referén- 0 observagées sobre plantas ¢ animais proximos da lagoa de Pirra, ilha de de onde era originario Teofrasto. Foi de Mitilene que, em 342 a.C., Fili- 0 chamou a Pela, para ocupar-se da educagio de Alexandre, A inteligéncia de Aristoteles é simplesmente espantosa. Como escreveu 0 toriador da filosofia Zeller, Aristoteles foi Juma cabeca universal com igual poder para a filosofia especulativa e para a pesqui- 4a empirica, Foi o fundador da filosofia, tal como a entendemos, e seu maior ex- " poente em seu tempo. i§ CAMPOS DO SABER No Livro vi da Metafisica e no Livro 1 da Btica a Nicémaco, como ja vimos. inicio deste capitulo, Aristételes apresenta a finalidade do conhecimento ou ici — epistéme — e da acio — praxis e poiesis —, ao mesmo tempo que apre- ita 0s principios de cada uma delas. O conhecimento de todos os seres, das dalidades de acdes humanas e dos artefatos produzidos pelos homens cha- Reve filosofia, Para Aristoteles e para o Ocidente, até o século xix de nossa era, ‘ofia ¢ ciéncia eram uma sé e mesma coisa. ‘Toda ciéncia, diz Aristételes, investiga os principios, as causas e a natureza wres que sao seu objeto de estudo. “Sé ha ciéncia quando conhecemos pe- causas” o lema fundamental de Aristételes (¢ do pensamento ocidental). 10 Livro 1 dos Segundos analiticos lemos: Consideramos que possuimos uma ciéncia de modo absoluto, ¢ nao de modo aci- ] ‘dental como nos sofistas, quando julgamos conhecer a causa pela qual a coisa é, bendo que ela ¢ a causa disso e que ¢ impossivel que o efeito seja diferente do que ele ¢. No entanto, o fato de as ciéncias possuirem em comum 0 procedimento — "— de busca dos principios e das causas, nao as torna iguais, pois dife- orme a natureza do ser ou objeto que investigam, ou, como diz Aris» Livro iv da Metafisica, ht uma sé ciéncia para cada género de sev, ssa la natureza das coisas investigadas faz com gue og prinefpios © as caus As ciéncias teoréticas sio aquelas que investigam os princfpios e as Gil de seres ou coisas que existem na natureza independentemente da yontadt aco humanas e cujo curso se desenvolve naturalmente e por si mesmo, nenhuma participagao dos homens. Porque tais seres existem sem a int cia humana, os homens s6 podem contemplé-los, isto é, conhecé-los teo' te. O cientista teorético é aquele que registra, descreve, interpreta ¢ classifi principios ¢ causas dos objetos ou seres naturais (entendendo-se por tudo que é “de acordo com a physis”, isto & 0 que existe por natureza), gando os principios de que tais seres dependem para existir e para ser como: ‘Tais principios so universais (existem em todos os tempos € lugares) e neces rios (jamais poderao ser diferentes do que so), ou so to regulares e freqil tes que podemos tomé-los como universais ¢ necessirios. Depois de investiga dos os principios e as causas e de haver mostrado qual é a natureza propria de tais seres, 0 filésofo deve deduzir as conseqiiéncias ou os efeitos universais € cessarios que decorrem da existéncia e atuacdo desses seres. Por tiltimo, 0 filé sof deve realizar as demonstragdes, isto é, mostrar de maneira inequivoca @ correta como os seres estudados se vinculam aos seus principios e como d seres decorrem conseqiéncias ou efeitos necessarios. yl Que principio serve de guia para Aristoteles determinar quais so as elén cias teoréticas? O movimento. De fato, vimos que 0 pensamento grego, de seu inicios aré Plato, ocupa-se com o problema da identidade e da mudanga, 01 0 imével-idéntico e 0 mével-muavel. Que faz Aristételes? Recusa que $6 haji ciéncia do imutavel ou imével, afirma que os seres se diferenciam pela "Ga ou auséncia de movimento e classifica as ciéncias teoréticas segundo ferenga. ‘Temos, entio: + a fisica, ou ciéncia dos seres que possuem em si mesmos o prine(pl movimento e do repouso, Sao ciéncias fisicas teoréticas: a ciéncia da nal (que nos séculos vindouros seria chamada de filosofia natural e que nés, chamamos de fisica), a biologia (estudo dos animais ¢ das plantas) ea (pois a psykhé é um tipo cde movimento e de repouso). re Fas matemdticas, ov clénela dos seres iméveis e separados de qualque mas essas formar x6 existem, de fico, ir kas teoréticas: a aritmética (que estuda os numeros e suas operacées), a geome- ‘Inia (que estuda pontos, linhas, superficies e figuras), a musica ou actistica (que estuda os ritmos e as proporgées dos sons) ¢ a astronomia (que estuda os astros ‘Ampereciveis). As matemiaticas so um estudo teorético de entidades iméveis do ‘ponto de vista da qualidade e da quantidade, mas que possuem um tipo de mo- “yimento que nao afeta seu ser: 0 movimento local. E assim que os astros, cuja essencia é eterna e imperecivel, realizam um movimento local, 0 movimento “cieular eterno. Que significa, porém, falar em movimento local no caso da geo- Metria? 'Tomemos um ponto geométrico: se esse ponto se deslocar, formard uma linha; se a linha se deslocar, formara uma superficie; se a superficie se des- jear, formar uma figura, Ora, ponto, linha, superficie e figura séo imateriais (existirao em coisas materiais, por exemplo, numa esfera de cobre, num cubo de nadeira, numa vara de pescar, no tampo de uma mesa de marmore, mas nao “slo nenhum desses objetos). O matematico separa ou abstrai a forma da maté- jie estuda esse movimento local ou deslocamento espacial de seres imateriais. iso significa que cada ser matemitico é, em si mesmo, im6vel ou imutivel. To- memos, agora, 0 caso da aritmética. Podemos somar duas laranjas e duas ma- lis e ter quatro frutas que foram geradas de sementes e que desaparecerao ao serem consumidas, mas os niimeros 2 e 4 e a operacio da soma permanecem Adénticos a si mesmos, independentemente da matéria “fruta”. + a filosofia primeira ou teologia ou metafisica, Por que trés nomes para a ecira ciéncia teorética? Porque Arist6teles usa as duas primeiras express6es — philosophia e philosophia theologikhé — em contextos diferentes e, como vi- |. 08 primeiros editores da obra empregam a expresso metd ta physikd. ilo a ciéncia teorética se refere ao “estudo dos primeiros princfpios de to- 04 seres”, ou a0 “estudo do ser enquanto ser” sem nenhuma determinagéo ficular, ou sem nenhuma referéncia a um determinado tipo de ser, o temo gado por Aristoteles é filosofia primeira. Quando se refere aos primeiros de todas as coisas, ao ser imutivel que é principio do mundo, ao ser bsolutamente necessario, as “causas das coisas visiveis entre as coisas divinas”, risidteles usa o termo theologikhé, que significa conhecimento das coisas divi- Finalmente, quando os editores classificaram a obra, distinguiram o estudo. cia imoyel c independente” ¢ o estuclo das substineias mdveis que: oda fis 6 © met ta physibed*y Ast ' las teoréticas, porque fornece os primeiros princfpios dos quais depen helpios das matematicas € da fisica, sendo a mais universal de tod tudado por ela nao é nenhum ser particular (fisico, biolégico, ps rico, aritmético, astronémico), mas o “ser enquanto ser”, isto 6, O§ ienciais do ser que é fundamento de todos os seres. Como escreve A 4 essa ciéncia compete: “considerar o ser enquanto ser, isto é, simult le, sua esséncia ¢ os atributos que lhe pertencem enquanto ser”, \s ciéncias priticas, a0 contrério das teoréticas, so aquelas cujo prineipi isa ¢ 0 homem como agente da aco e cuja finalidade ¢ o proprio home ijuiclas ciéncias nas quais o agente, a acdo € a finalidade da acio séo um ma coisa, Ou, como se costuma dizer, os trés elementos da atividade sila ariveis ou imanentes. Bssas ciéncias se referem a prixis como algo propria: humano, uma atividade que nao produz algo diferente do agente ¢ euja 4 yontade humana entendida como escolha deliberada, refletida e racio- mo a causa ou principio da acdo € a vontade racional, as ciéncias pritieas das teoréticas porque, além de nao serem contemplativas, seu objeto. hecessario e sim possivel, e ndo é universal e sim particular, Possivel, por se objeto — a aco, a prézxis — é aquilo que pode acontecer ou deixar de cer, uma possibilidade que depende da vontade racional do agente. Part» porque acontece de uma maneira determinada, pois uma ado ou um tecimento dependem das caracteristicas pessoais do agente, das circunstin- m que ele age e da finalidade da aco no momento em que foi realizada, de o objeto da praxis ser possivel e particular ¢ nao necessario e univer jWOteles fala em ciéncias préticas porque podemos conhecer as causas jeipios das agdes humanas, a regularidade e constancia delas porque fh Igo que lhes confere uma certa necessidade e uma certa universalidadey | . As acBes verdadeiramente racionais e refletidas sfio aquelas que se 1 aleangar um fim, o Bem, Este, evidentemente, nio possui a uni de um principio teorético ou de uma causa teorética, mas ¢ uma tele it estivel ¢ geral, valida para todos, e oferece regras constantes para 6 agent her Nine varias ages possiveis, A regra do Bem determina que é1 e conteibul para aumentar ov conservar a independ Rem enunela que (ude qu fevem, cada uma delas, a um aspecto particular da capacidade fabricadora ou sa ética, que estuda a agdo do homem enquanto alguém que deve ser pre- écnica dos hamanos e por isso so tio numerosas quanto nossas possibilidades ilo para viver na Cidade, estabelece os prinefpios racionais da agdo virtuo- 6, da aco que tem como finalidade o bem do individuo enquanto ser s0- . 80 ci ‘produtivas: agricultura, metalurgia, tecelagem, serralheria, marcenaria, carpin= ‘ia, sapataria, olaria, culinaria, pintura, escultura, engenharia, arquitetura, me- que vive em relacéo com outros; politica, que estuda a agao dos homens enquanto seres comunitarios ou procurando estabelecer, para cada forma de regime politico, os principios is da acdo politica, cuja finalidade é o bem da comunidade ou o bem co- n. A politica, como vimos anteriormente, é mais nobre ¢ mais geral do que pois (para um grego) 0 individuo s6 existe como cidadao (sua human le 6 gua cidadania) € por isso “o bem propriamente humano’’ s6 é trazido € ido pela politica. ciéncias produtivas se referem a um tipo particular de ago humana: a fabricadora. Essa ago, como vimos, chama-se, em grego, poiesis e por isso cias produtivas também sto conhecidas com o nome de ciéncias poiéticas. losis difere da praxis porque nela 0 agente, a ago e o produto da acao sao como diz. Atistoteles, a finalidade da acio es- ina, estratégia ou guerra, navegacao, caca, discussio, poesia (drama ou tragé- ia, comédia, poesia épica, lirica) etc. Dessas ciéncias, Aristételes nos deixou ois exemplos com a Arte retérica e a Arte pottica. ‘As ciéncias mais altas e nobres so as teoréticas ou contemplativas, tanto porque correspondem ao que ha de mais préprio em nés (o desejo de conhe- er), tendo seu fim em si mesmas, como por causa de seus objetos (universais ¢ ecessirios). A seguir, vém as ciéncias praticas e, por Ultimo, as produtivas (ndo jos esquecamos de que a sociedade grega é escravista. Nela predominam os va- s aristocraticos, mesmo quando o regime politico ¢ democratico, por isso 0 abalho manual —as técnicas — nao é uma ocupagio elevada, mesmo quando alizado por um homem livre, e nao h4, na lingua grega, uma palavra para de- ynd-lo, usando-se 0 vocabulo pénos, que significa pena, fadiga, esforco ¢ dor). mos diferentes e separados, ou, fora dela, na obra, no artefato, mum objeto ou numa acdo ditigida a um ou- creve uma monumento que € 0 Corpus aristotelicus revela que nado houve um tnico as- (como 0 médico que age em vista do doente ou © poeta que es . ee peeres ecto dos conhecimentos humanos que Aristételes nao tenha investigado e ela- sédia em vista do espectador). As ciéncias produtivas ou poiéticas lidam no particular (o que prado filosoficamente, estabelecendo, para o pensamento ocidental, todos os eampos do saber ou do que passou a ser chamado de filosofia, isto é, todos os b com o possivel (o que pode ser ou deixar de ser) © com o Inte num tempo e num lugar determinados), mas sobretudo com 0 contingen- ‘eomo vimos ao estudar a concepcao grega de técnica. S40 conhecimentos e 0 no caso da praxis, tam- ‘onhecimentos teéricos e praticos de que os seres humanos so capazes. Mas 0 86 isso. A obra de légica ou o Organon mostra também que Aristoteles esta- sleceu os principios e as formas de todos os conhecimentos e discursos, deter- Idades que se realizam para vencer 0 acaso. Com H na poiesis podemos encontrar um ponto de referéncia (um critério ou re- ou) padiiio) que oferesa uma certa necessidade ¢ uma certa universalidade onto também € uma finalidade: 0 linou as regras do pensamento e do discurso cientificos, assim como aquelas pensamento ¢ linguagem proprios da argumentacio sobre opi a) ¢ daqueles praticados em todas as artes ou técnicas 4 agiio produtora ou fabricadora € esse ps ério da acio ¢ 0 modelo ou o paradigma daquilo que se vai fabricar ou que se vai fazer (como no caso do médico, que nao fabrica alguma coi- realiza uma obra ao agir durante o diagnéstico € a cura tendo como mo- corpo sadio; ou o do poeta que escreye um poema seguindo regras € ca de composigfo segundo as quais sua obra ser avaliada). O parade Hmbora em todas as obras da maturidade de Aristételes encontremos ob- © ou exemplo oferece As técnicas um conjunto de procedimentos ang nun jespecificas a cada um dos temas tratados por Platao, na base de todas clas esp cperse commana aL oan © |S OBJEGOES A PLATAO Hivro 1 da Metafisica, ainda que varias criticas se encontrem espalhadas em diferentes. A critica geral de Aristételes as formas platénicas dirige-se a incapacidade ‘teoria para resolver as aporias que pretendera enfrentar, isto é, assegurar eonhecimento universal e necessario da realidade, alcancando a inteligibi le das coisas ao conhecer a unidade invisivel que da sentido a multiplicidade jelhanca da cépia com o modelo, sera preciso encontrar uma te | dispersa ¢ desordenada. Ora, ao dar as Formas um estatuto ontoldgico primeiro, como € br que sabemos que cada um deles participa dessa idéia. Diremos que Joao e a tia de Homem possuem algo semelhante; ora, esse “algo semelhante” s6 pode Tuma outra idéia da qual Joo e a idéia de Homem participam; mas, para di- H que a idéia de Homem participa de outra idéia, novamente precisamos en- rar o “algo semelhante entre elas e, assim, precisamos de uma terceira idéia, sseguindo ao infinito nessa procura, © — clas sao 0 ser — e separa-las num mundo inteligivel eterno a parte, Pla- jpossibilitou que elas pudessem explicar o mundo sensivel, pois nada ha num entre eles, O sensivel se reduz a uma aparéncia degradada ou a uma ilo do inteligivel € 0 filésofo é convidado a abandoné-lo em lugar de \dé-lo. Epistemologicamente, a teoria das Idéias é intuil. Suponhamos, porém, prossegue a critica aristotélica, que as Formas nio tituam um mundo inteligivel separado e que as coisas sensiveis participem 3) Se hd uma idéia para cada coisa, entio é preciso haver as idéias das rela- ‘tias idéias, de tal mancira que chegamos a estas tiltimas pela depuragio das Bes, ja que as coisas se relacionam; mas uma relagdo nao é uma coisa ou uma peiras. Ora, neste caso é preciso admitir que as Formas nfo sio realidades si mesmas € sim a unidade inteligivel da multiplicidade sensivel. Assim sen- | ontologicamente, a teoria das Idéias é imtitil Bim tesumo: se as Idéias forem uma realidade a parte, nao servem para o incia e por isso nao é idéia de nada e, portanto, nao pode haver idéia de rela- lo, Ora, sem a idéia da relacdo no ha como justificar as relacdes entre as coisas, 4) Se ha idéia de tudo o que existe positivamente, isto é, se hd idéia para do ser positivo, tera que haver idéia para o negativo (por exemplo, se ha idéia Ii beleza, tem que haver idéia da nGo-beleza, isto é, da fealdade); também tera © haver idéia do que as coisas deixaram de ser ou nio sao mais (por exemplo, # hid idéia de uma coisa pequena, tem que haver idéia da mesma coisa grande, lo ela cresce, de sorte que é preciso haver uma idéia para cada tamanho de A coisa). Dessa maneira, nao sé temos idéias dos positivos, mas também dos tivos ¢ temos que ter idéias no s6 de um estado ou situago de cada coisa, le todos os estados que ela tiver (uma idéia para cada momento de seu dé. } @ isto para cada coisa e para todas as coisas, de sorte que o ntimero das idéias estendera ao infinito, multiplicando inutilmente 0 ntimero de idéias. 5) A teoria das idéias nao explica a génese das coisas: as idéias so acabadas Podem dara razio do que as coisas sio, mas nao explicam por que e coisas vém ‘4 ser; mesmo invocando o demiurgo do Timeu, nao se tem ta, pois o mundo que o demiurgo fabrica é um mundo pronto e acaba- ihecimento de nosso mundo; e se servirem ao conhecimento de nosso mun- 9, nllo podem ser uma realidade em si mesmas. Se acompanharmos o longo texto do capitulo 9 de Metafisica 1, as criticas Hist6teles 4 teoria platénica das Idéias podem ser agrupadas em seis argu- 1108 principais, cujo resumo nos é oferecido pelo historiador da filosofia Gar- , em suas Ligdes preliminares de filosofia: 1) Duplicagio desnecessaria da realidade: a duplicacao do mundo sensivel lo inteligivel niio resolve as dificuldades colocadas para a filosofia por 10 © Parménides, tanto assim que Platao foi obrigado a “matar o pai Par- ‘e explicacao para a génese e perecimento das cOpias sensiveis. Por esse motivo, nquanto para Plato a nogdo de “género” tinha o sentido de reunido dos seme- Thantes, em Aristételes ela tera o sentido forte de génese, gerago, causa. 6) As idéias impedem que 0 mundo das coisas tenha inteligibilidade: de se somente as idéias so inteligiveis e dotadas de pleno sentido racional, 0 mundo sensivel nao tem sentido, é irracional e incompreensivel e, portanto, tu- jo.0 que se passa ncle é irracional e sem sentido, Nesse caso, as téenicas, a mo- 4 politica, as artes, a vida e tudo o que acontece no mundo das coisas nao we ser conhecido nem compreendido. As idéias roubam o sentido do mundo, vez de dar-the sentido. ; Como dissemos, a argumentacio aristotélica segue duas diregdes: na pri- meiva, ontoldgica, volta-se contra a existéncia do mundo das idéias; na segunda, stemoldgica, contra os efeitos cognitivos de admitir-se tal existéncia. Com relagao ao primeiro tipo de argumentagio, isto é, concernente & on- ygia platonica, Aristételes critica os argumentos de Platao em defesa de um_ ido das Idéias, Quais séo os argumentos platOnicos? Bréhier, em sua Histéria da filosofia, assim os resume: ‘Conhecem-se os trés argumentos platOnicos para demonstrat a existéncia das idéias: © uno acima do miltiplo (uma multiplicidade de objetos possuindo a mesma pro- priedade, a beleza, por exemplo, exige que essa propriedade se sobreponha a to- dos); os argumentos extraidos do conhecimento (uma definigéo geométrica, por ‘exemplo, implica a existéncia de seu objeto, pois mostra sua génese); e, finalmen- {¢, 0 argumento da permanéncia da representagio da coisa depois que esta desa~ parece, o que implica afirmar que o objeto do conhecimento, isto é, 2 idéia, ndo "pode estar submetida ao devir das coisas sensiveis, tendo por isso uma existéncia & parte (Bréhier, 1977, p. 155). Como responde Aristoteles a esses trés argumentos ontolégicos? No que 0 primeiro, esereve ele, o uno invocado por Platio nao é um ente ou um ‘uma qualidade (no exemplo, a beleza nao ¢ um ser, mas uma qualida seres), pois se for um ente ou um ser nio pode ser predicado a um outro -o mesmo, por exemplo, que se cliaséasemos “Soerates ¢ Caldas olocando-a sob um género e sob uma espécie (por exemplo, defino | endo que pertence ao género dos animais ¢ a espécie dos bipedes) e, 6, um definido é sempre uma composi¢ao de um género e pelo menos écie (homem = animal bipede; homem = animal racional; homem = ipede racional etc.). Ora, se o definido (a idéia) for uno, nao pode ser io pode ser distinguido por género nem espécie) e se for composto (se Fa um género ¢ a uma espécie) nao sera uno no sentido platonico, fal le algo que garante sua existéncia como idéia. Por fim, quanto ao terceiro ito é, a permanéncia da representagio da coisa desaparecida, explica Aristote- cla significa apenas que nosso pensamento a conserva ¢ nao que ela seria ja realidade em si, fora de nossa alma racional. A outra direcdo dos argumentos aristotélicos ¢ epistemoldgica e, como dis: mos acima, consiste em mostrar que, recorrendo a existéncia das idéias como iitidades separadas do sensivel, estamos condenados a nao conhecer as coisas nas propriedades sensiveis, sendo também seriam sensiveis € nao idéias) e udo o que delas podemos conhecer é 0 que possuem em comum com as idéias, & modo que delas conheceriamos seus aspectos ou finalidades ndo-sensiveis. O mundo das Idéias é, no fim das contas, um mero duplo verbal do mun- © sensivel, uma duplicacao irreal, desnecessdria e perigosa, pois torna o nosso pundlo e a nossa vida sem sentido, Aristoteles se esforcard para mostrar que 0 igivel esta no sensivel, que é possivel uma ciéncia verdadeira do sensivel, to ¢, um conhecimento universal e necessario das coisas sensiveis, Platdo, se- Aristoteles, teria ficado tao impressionado com o mobilismo heraclitia- jue teria admitido como inquestionavel o flux ou o devir incessante descri- Por Heraclito, uma auséncia de identidade, unidade e permanéncia tais que itariam uma ciéncia das coisas, ciéncia que somente seria encontravel locando fora deste mundo um outro, onde Heraclito nio tivesse razo. Como observa Jean Bernhardt, a grande diferenca entre os dois filésofos i no fato de que Platao desejava explicar por que o mundo sensivel , encontrando a resposta fora dele; Aristoteles, ao contrario, deseja jo de conhecer, Aristételes afasta a reminiscéncia como causa da busca da jade que nos arrastaria para fora e para longe de nosso mundo, tinico real. [Aristdteles, trata-se de mostrar, em primeiro lugar, que o proprio movimen- racional e pode ser explicado de modo universal ¢ necessério, e, em segun- que, no mundo sensivel, o particular (que muda sem cessar) ¢ © universal € ssirio (que permanece sempre idéntico a si mesmo) esto entrelagados, sndo tarefa da filosofia demonstrar como esse laco € possivel, qual sua causa € sua significacao racional ‘Ao mesmo tempo, como vimos pela diferenga entre ciéncias teoréticas, eas e produtivas, Aristételes afirma, contra Plato, que existe toda uma re- da vida humana que permanece contingente e particular (ética, politica, 4) e nem por isso seria sem sentido e itracional, Platao havia tentado fazer tica e da politica ciéncias teoréticas, universais e necessarias. Para ele a idéia em como universal e necessaria, a idéia da Justiga como universal e neces- politica cigncias teoréticas. Pelo contrario, diz. Aristételes, as ages huma~ | mesmo quando feitas por uma vontade racional, permanecem contingen- . dependem de escolhas e de situagdes concretas e nao ha como submeté-las a universal do Bem e da Justica. Sera pelo conhecimento de acdes boas € que definiremos 0 Bem e a Justica como valores ou regras gerais de con- ta, € no o contririo. _ Como veremos.a seguir, se usarmos a terminologia de Aristételes, diremos ‘a forma (0 efdos) é 0 que ha de universal no individuo sensivel e que sua in- dade tem como causa a matéria, que singulariza um ser (esta casa, este 1m, esta estdtua), mas esse ser é o que ele é (é esta coisa € ndo uma outra), e a forma determina a identidade de uma coisa, determina o que ela é em ncia, € se encontra na propria coisa, cabendo ao pensamento separar in almente a forma (universal) e a coisa (singular), isto é, separar a forma da dade da coisa, A idéia da coisa nao est num mundo de idéias, mas na coisa e pode ser separada — abstraida — dessa coisa pelo pensamento, ‘o pensamento é capaz, de fazer essa abstracao, pode conhecer 0 univer: rio ¢ idéntico que se encontra no proprio sensivel ¢ niio fora dele ou pmo pensamos e por que pensamos como pensamos, poderemos saber como por que o pensamento é capaz de ciéncia sem abandonar o sensivel. Essa tare- ‘de nos mostrar o que é 0 pensamento pensando, quais sio as operagdes e as Jas que o pensamento possui, que regras e normas ele segue ao pensar, in- spendentemente do contetido pensado, é a tarefa da légica. LOGICA OU ORGANON Quando observamos a classificacdo aristotélica das ciéncias, percebemnos a logica nao faz parte de nenhuma ciéncia. O motivo € simples: a légica nao an % . 6 0 logica? Como indica o termo grego que foi dado ao conjunto dos eseri- logicos de Aristétetes, Organon, a logica é um instrumento do pensamento pensarmos corretamente. Nao se referindo a nenhum ser, a nenhuma coi- nenhum objeto, a légica nao se refere a nenhum contetido, mas 4 forma ou formas do pensamento ou as estruturas do raciocinio em vista de uma prova de uma demonstracéo. Convém lembrarmos que nao s6 0 termo drganon 0 foi usado por Aristoteles, como também ele no usou o termo “légica”, pa- empregada pela primeira vez pelos fildsofos estdicos e por Alexandre de odisia. A palavra empregada por Aristételes foi analiticos, analytikés, do ver- analyo, que significa: desfazer uma trama, desembaracar fios, desembaracar- de lagos, dissolver para encontrar os elementos, examinar em detalhe e no lenor, remontar as causas ou as condi¢Ges. Os Analiticos buscam os elemen- que constituem a estrutura do pensamento e da linguagem, seus modos de flo € de relacionamento. mnhecimento que deve anteceder aos outros conhecimentos, sendo por déutica (de pro, antes de, em favor de, e paideia: propaideia). | € tim diseiplina que fornece as leis ou regras ou normas ideais do lc © na demonstragio da verdade, ‘A logica é também uma disciplina da prova, pois estabelece os fundamen- necessirios de todas as demonstragées ou de todos os raciocinios demons- ttivos de cardter universal e necessario, Dada uma certa hipétese, a logica per- te verificar suas consequiéncias necessétias; dada uma certa conclusio, a logica sermite verificar se é verdadeira ou falsa. A légica é geral e intemporal, pois a leis e formas do pensamento nao de- sydlem do tempo e do lugar, nem das pessoas e circunstncias, mas so univer- CATEGORIAS OU TERMOS As Categorias dedicam-se a uma vasta andlise e exposicao da linguagem, nto a que empregamos usualmente como aquela usada pela filosofia, partin- da distingao entre as “coisas ditas em combinacao” (isto é, frases ou proposi- Bes) ¢ as “coisas ditas sem combinaco” (isto 6, palavras). Sdo estas que Aristo- jes designa como categorias ou termos, definindo-as como “coisas que servem 1 designar outras”. A palavra kategoria vem do verbo kategoréo, que significa: jlar contra, acusar, revelar, tornar visivel, dar a conhecer, exprimir, significar € necessarias ¢ imutaveis como a propria razio (5 tratados légicos aristotélicos est4o agrupados em trés conjuntos, segun- ‘0 tipo de assunto investigado: lirmar. Kategoria significa: acusac¢4o, indicacao, atributo de alguma coisa, pre- 1) Primeiros analiticos, em que Aristételes apresenta a estrutura geral de to- 0§ raciocinios: o silogismo (ver syllogismds*) € todas as suas variedades; 2) Segundos analiticos, em que Aristételes estuda um tipo determinado de 10, 0 silogismo cientifico, isto é, aquele que tem a preocupacdo com a icado, Percebemos por que Aristételes a emprega para designar os termos ou Wwras: vinda do vocabulério juridico, a categoria é um sinal, um indice, um dicador de alguma coisa que serve para revelar, dar a conhecer, tornar visivel ima coisa, torndJa compreendida. As categorias s4o por isso “coisas que ser- im para designar outras”. Sao indices do que uma coisa é ou faz, de como ela © comparada com outras, de onde ela esta ou esteve, do que lhe acontece em ecorréncia da agao de uma outra sobre ela etc. Sao os géneros supremos de ddicados de uma coisa ou de um sujeito. iocinio que, apesar de estarem colocados na forma de silogismos corretos, niio satisfazem a uma ou mais condiges do pensamento cientifico. Nos Tépicos, oteles examina os silogismos dialéticos, nas Refutagées sofisticas, os silogis- "Termos ou categorias so, pois, os géneros das palavras tomadas quando no combinadas com outras e que sio a condicao de tudo quanto dize- ou pensamos, levando Aristételes a dizer na Metafisica que “o ser se diz de itas maneiras”. Sao elas: ‘Antecedendo a estes trés conjuntos, encontram-se duas obras gerais preli- nares que oferecem os elementos que devem entrar em todos os silogismos. o elas; Categorias, que oferece os termos, e Da interpretagio, que estuda a pro- ‘igo, Como observamos ao nos referirmos as obras do fildsofo, as Categorias nao devessem estar agrupadas junto aos textos logicos e sim aos de me- * substancia ow esséncia, ousta (por exemplo, homem) * quantidade (por exemplo, dois metros de comprimento) + qualidade (por exemplo, branco) , uma vez que tratam primordialmente da idéia de substincia ou de es- _ # telagio (por exemplo, o dobro, a metade) * onde, isto é, lugar (por exemplo, em casa) (ousia*). Como, porém, a tradicao consagrou essa obra no conjunto dos 06h _* quando, isto é, tempo (por exemplo, ontem) de légica, iremos manté-la aqui. Do ponto de vista cronoldgico, ao que tudo indica, Aristételes teria escri- iro as Categorias e parte dos Tépicos (livros 1a vu), € sO mais tarde, ao a regras do raciocinio, escreveu os dois Analiticos, "+ como, isto 6, posigio (por exemplo, sentado) ++ posse (por exemplo, esta armado, ou seja, tem armas) -aciio (por exemplo, corta) lo ou passividade (por exemplo, esta cortado). Visto que a predicagio afirma as vezes o que wma coisa €, as vezes sua qualidade, js vezes a sua quantidade, as vezes sua relagio, as vezes 0 que faz ou © que sofie, es vezes 0 lugat em que esti ou 0 tempo, segues que tudo isto sto modos do ser. so “modos do ser” ou as muitas maneiras em que ferem-se a determinacbes (propriedades ou pre- das quais o pensamento deverd servir-se para ‘As categorias, portanto, ele é ¢ pelas quais o dizemos. Rel dicados) pertencentes a um ser € conhecé-lo ¢ exprimilo. Além disso, entre as categorias, de tal maneira que nao sobretudo nao podem ser tomadas como int (0s predicados ou propriedades da qualidade sio hnio podem ser substituidos por propriedades ou pr a acto € a paixio, e com as demais ca- Atistoteles marca nitidamente a diferenga <6 nao se confundem entre si como ercambiaveis. Em outras palavras, diferentes dos da quantidade e edicados desta iltima. O mesmo se passa com o lugar ¢ o tempo, tegorias. ‘Tratar o lugar como se fosse tempo, on tratar a aco como se fosse passividade e a paixdo como se fos causas mais freqiientes dos erros de pensamento e de linguagem. Esse grande relevancia por dois motivos principais: em primeiro lugar, aspecto é de a distingao categorial 6 um elemento de enorme importancia para verificar se uma proposicZo, um raciocinio ou uma demonstraco sfo verdadeiros ou fal- serio falsos sé as diferencas entre categorias nao estiverem nfunde categorias recebe um nome que se tornou cé- ou 0 tempo como se fosse lugar, se atividade & uma das sos, pois sabemos que respeitadas; 0 erro que co Iebre em toda a historia da Filosofia: metdbasis éis alld génos, “confusdo dos gene- tos” (ou, como dizem logicos e epistemélogos, hoje em dia, “ezros categoriais) lim segundo, porque sendo as categorias modos do ser ¢ géneros supremos dos modos de ser, Aristoteles poder demonstrar que as ciéncias nfo podem mes: lo com isso um principio cientifico clar nem confundir os géneros, estabelecends "que ficar conhecido com a expresso “incomunicabilidade dos géneros” e que se refere sobretudo a qualidade ¢ a quantidade, de um Jado, e ao lugar e ao tem> po, de outro. Enfim, um dikimo aspecto importante da teoria categorial afirma que toda categoria, por ser um género, possui sempre dois termos extremos exemplo: a qualidade “calor” possui dois extremos contrérios, 0 contrarios, Por quente € 0 frio; tremos contririos ou opostos; cas toda quantidade possui um méximo e um minimo que sio ex: ¢ assim por diante, E, entre os extremos contra: lima categoria que ndo possui extremos contrérios ou opostos: a subst mM i : wséncia. Ela pode receber predicados opostos, vindos das demais cate, /essé é, assi i que €, assim, 0 substrato ou o suporte de todas as outras categorias acidentes 08 i ‘dentes, recebendo-os como propriedades ou como sues maneiras de ser. principais caracteristicas da substancia/esséncia sii : 1) nao é ‘i a ) nfio é predicado de outras categorias ou ndo pode ser predicada a outras mi linguagem aristotélica, a substdncia é 0 que ndo estdé num sujeito, ou seja, ela ¢ um atributo ou um predicado de um sujeito, mas é o préprio sujeito, o sts, y jal vecebe os predicados, Tt do. ristote ama de 5 s predicados. Trata-se do que Aristoteles chi le substancia pri. a (prote ousia) ow a coisa na sua individualidade (por exemplo, Sécrates, esta sua it lwalidade (por e: x« pr iplo, Séct 2) pode ser predicada a um sujeito sem ambigidade quando for substin- Segunda, isto é, quando for o género ou a espécie a que o sujeito pertenc ar exemplo, “Sécrates € homem”, em que a substancia “homem” é ae a ‘Sberates” para indicar a espécie a que ele pertence); el 4) como substincia primeira ou préte ousia 6 sempre individual; 4) no tem contrarios nem graus (nao posso, por exemplo duentaeee jem é ndo-homem; também no posso dizer que um Priareaay? ath ou = homem do que outro, a nio ser, por exemplo, quando, metatinna ge dizer que este homem possui qualidades morais superiores as de um ane Neste caso, o termo que esté sendo comparado nao é “homem” e sim idade de um certo homem a , u a el ae individuo pertence (assim, por exemplo, 0 adulto & henhuma demonstracéo ou prova (por isso sao kategoria, isto ¢, indice ou si- ‘Jimediato que “acusa” 0 que a coisa é). As categorias nos dio a apreensio di- fe imediata de entidades simples, que, por isso, nao podem ser analisadas, é, desmembradas em partes para verificacao e prova. Por esse motivo, Aris- pois 0 verdadeiro € les diz que as categorias nfo s4o verdadeiras nem falsas, falso € 0 que pode ser analisado, demonstrado e provado. Somente quando nu categoria for “combinada com outras’, isto é, entrar numa proposicio ou juizo, & que se fara demonstracio e prova. A prova se refere & proposicto o juizo € nfo a categoria, pois 0 verdadeiro € 0 falso se referem aos vinew- om lipagGes entre as categorias. Ou, como dira Arist6teles, ha verdade quan- que deve estar junto estd ligado e 0 que deve estar separado esta desligado; falso quando estao juntos os que deveriam estar separados ou esto sepa- Jos os que deveriam estar unidos. ‘Os termos ou categorias sio dotados de duas propriedades logicas: a exten- 0 € a compreensio. Extenséo € 0 conjunto dos objetos designados por um ter- 10, Compreensao é 0 conjunto das propriedades que este mesmo termo indi- "ou significa. Por exemplo: uso "homem’” para falar de Pedro, Paulo e Joao, ‘ou uso “metal” para falar de ouro, prata, platina, ferro e cobre. A extensao do Jermo “homem” ser4 o conjunto de entes que podem ser chamados de homens; ‘extensio do termo “metal” ser o conjunto de entes que podem ser chamados « metais. Se, porém, eu tomar “homem” e disser que é: animal, vertebrado, ma- milero, bipede, mortal e racional, essas propriedades formam a compreenséio lo termo “homem”, Se cu tomar “metal” e disser que é bom condutor de calor, jete a luz etc., tenho a compreensao desse termo. or a compreensio (maior nimero de proprie« 's a extensfio e a compreensio de “homem”, S 3 possivel ("Pedro” tem todas as propriedades de “home propricdades enquanto uma determinada pessoa), _ Hissa distinglo permite clas f importante observar que quanto maior a extensio de um termo (mais ‘slo designaclos por ele) menor a sua compreensio, e, a0 contrério, quan ,dades ) menor a extensao, ¢ tomarmos “Pedro” vere a extensio é a menor possivel (um s6 ente), mas a compreensio ¢ a "e mais as suas wificar og termos em; géneros (extensiio maior, propostgéxs & yuizos No Da interpretagdo, Aristoteles parte de cinco grandes distingdes: o nome {substantivo), 0 verbo, o discurso, a proposicao ¢ o par afirmacdo-negacao. An- tes, porém, define a fala e a escrita como simbolos da alma, isto é, a fala é a ex /pressio direta e imediata de estados da alma, a escrita, sua expressao indireta ¢ inediata. Vemos, assim, que contrariamente a Plato, cuja desconfianca pela lin- guagem era decisiva, Aristoteles apdia-se nela como expressao direta (ou indire- “{a, no caso da esctita) da vida psiquica, dos sentimentos e pensamentos. O nome (énoma) € um “som vocal que possuii uma significacdo convencio- fil e sem relaco com © tempo”. O verbo (rhéma) "é 0 que acrescenta a sua pr6- pla significado, a do tempo” e é “signo do que se diz de uma outra coisa”, isto 6, dos predicados de um sujeito. O discurso (ligos) “é um som vocal que possui sig- jicaco convencional e no qual cada parte, tomada separadamente, possui gnificado como enunciacio, mas nao como afirmagao ou negacio”. O discur- ko nfo é, pois, natural, mas por convencio; e distingue-se da proposi¢ao porque enuncia alguma coisa sem se preocupar com o verdadeiro ou o falso, como é 0 4480, por exemplo, da prece, que é um discurso, mas nio é verdadeira nem fal- A proposicao (prétasis) € um discurso declarativo (ldgos apophantikds) que se jealiza pela afirmagao ou pela negacao, retine o nome e o verbo, corresponde a pensamento (ndema), opera por composic2o (reuniao) ou diviséo (separa- gllo) c a cla se aplica a distingdo entre o verdadeiro e 0 falso. Finalmente, a afir- elo declara que uma coisa se refere a outra ou esta unida a outra, enquanto ‘egagao declara que uma coisa esté separada de outra. Este conjunto de distingdes permite compreender que, enquanto as Cate- so uma teoria dos termos, 0 Da interpretagéo é uma teoria da proposicgao to que a proposigao declara algo que corresponde a um pensamento, ha e dizer ¢ pensar uma relacao intima. O pensamento realiza uma operacio juizo, 10 kritikén — que se exprime verbalmente na proposi¢ao (prétasis). E que retine (afirma) ou separa (nega) e é ele que é verdadeiro ou falso, © quando une © que esté unido na realidade e separa o que estA sepa- j false, no caso contririo, Com isso, pode-se dizer que a pro- ‘© pensamento realiza indo diretamente a realidade ¢ a proposicao é a expresso yerbal do juizo. Conservando a distincdo que Gérgias e Platio haviam feito acerca do ver- ‘bo ser, ou entre o sentido existencial ¢ 0 relacional desse verbo, Aristételes afir- ‘ma que hé trés tipos principais de proposicdes: _ 1) aque exprime um juizo existencial . Por exemplo: ilo &”; 2) a que exprime um juizo predicativo ou uma predicacio, isto é, a atribui- “Sdécrates é”. “Jasao. gllo de alguma coisa a um sujeito por meio da cépula ou do verbo de ligacao “6”. Jor exemplo, “Um homem ¢ justo; um homem nio é justo”; 3) a que exprime uma acdo ou uma paixio (passividade) do sujeito. Por exem- ‘Um homem esta ferido; um ‘Um homem anda; um homem nao anda”, mem nao esta ferido”. Pela expresso verbal, ou proposicao, percebe-se que a primeira e funda- ntal distincao do juizo é sua divisao em proposi¢ées afirmativas e negativas 6 Aristoteles considera as afirmativas superiores ds negativas, porque nos dao uma informacio real e maior sobre as coisas de que falam. A proposicao afirma- tiva é aquela que “atribui alguma coisa a alguma coisa” e a negativa é a que “se- para alguma coisa de alguma coisa”, sem nos dizer 0 que a coisa é ou possui. A classificacio das proposig6es (e, portanto, também dos juizos) as distin. puc inicialmente sob trés aspectos: , 1) pela qualidade: afirmativas (“Sécrates ¢ homem’) e negativas (“Sécrates milo é persa”). 2) pela quantidade: universal (“Todos os S sao P”) e particular (‘Alguns $ sio | ou “Este $ é P”). A quantidade também pode exprimir-se negativamente universal (“Nenhum § é P”) ou numa particular (‘Alguns S nio sio P”; ite S nfo é P”), Duas diferengas, quanto 4 quantidade, aparecem entre 0 Da erpretagdo e os Primeiros analiticos. Como o Da interpretagio esta mais preocu lo é wm tinico individuo (“Um $”, “Sécrates é mortal”). Hssa quantidade ido ao sujeito (por exemplo: “Nenhum triangulo é uma figura de qual "); € possiveis, isto 6, aquelas em que o predicado pode ser ou deixar de ido ao sujeito (por exempl “Alguns homens sio justos”). As ptoposi¢des ou os juizos podem combinar os trés aspectos, Assim, po- 108 formular juizos ou proposigGes afirmativos, universais ¢ necessirios ou Ativos, universais e necessdrios; juizos ou proposicdes afirmativos, particula- possiveis ou negativos, particulares e possiveis. E assim por diante. Via de |, como veremos, as proposicSes ou juizos necessarios tendem a ser univer- alirmativos, enquanto os impossiveis tendem a ser universais negativos; e as Posigdes ou juizos possiveis tendem a ser particulares, tanto afirmativos fo negativos. Arist6teles preocupou-se em mostrar que as proposi¢ées relacionam-se en- ie que essa relacao é de dois tipos: de oposigao e de dependéncia, Para de- ib as oposicdes e dependéncias, Aristételes estabelece um critério considera- 4 verdadeira inauguracio ou fundagao da légica ocidental: a de que nosso wumento, seja qual for o contetido pensado, obedece a trés principios légicos H 08 quais ndo ha pensamento. Esses princ{pios sio: #) principio de identidade (A é A, isto é, uma coisa é sempre e necessaria- te icéntica a si mesma); }) principio de nao-contradigéo (A é A e nao pode ser nao-A, isto é, é im- que uma coisa seja idéntica a si mesma e contraria a si mesma, ao mes- po € na mesma relacgao); ©) principio do terceiro excluido (A é ou x ou nao-x, e nao hé terceira pos- de, isto é, dacas duas proposigdes cujos predicados so contrarios, uma yerdadeira e a outra falsa, nao havendo terceira possibilidade). ‘om a introducdo desses trés principios, chegamos a um quarto aspecto da igllo das eka \parece nos Primeiros analiticos; em contrapartida, nesta obra Aristételes co iasperike com o§ universais ¢ os particulares, os juizos a Essa classificagao dos juizos ou das proposigées em seus quatro aspectos QUANTIDADE ——- MODALIDADE RELAGAO Hincipais permite a Aristoteles classificar um juizo ou uma proposi¢ao pela Universais Necessarias Contririas ibinago dos aspectos, Assim, um juizo (ou proposicao) é chamado asserto- Particulares: Impossiveis Contraditérias eo ou categérico quando é afirmativo ou negativo; hipotético, quando sua afir- Singulares Possiveis Subalternas ligilo ou negacko depende de uma condicio (se... entdo...); disjuntivo, quando Nadererminaens porta duas possibilidades que dependem dos acontecimentos (ou... 0u...). 0 ilzo universal necessdrio afirmativo ¢ chamado apoditico ¢ € aquele emprega- Asias istoie ‘i 4 p nas demonstragées das ciéncias teoréticas, Os juizos particulares hipotéticos “’Alguns homens so irracionais”); contrarias, isto ¢, quando s4o opostas duas roposicdes universais, uma delas sendo afirmativa e a outra, negativa (por exem- Jo: “Todos os homens so mortais” e “Nenhum homem é mortal”); e quando disjuntivos so chamados juizos possiveis, e so empregados sobretudo nas cién- priticas e produtivas, pois, nestas, 0 que é afirmado ou negado depende das feuinstncias e dos acontecimentos. Em outras palavras, 0 juizo apoditico & aque- io opostas duas proposicées particulares, uma delas afirmativa e a outra, nega: iva (por exemplo: ‘Alguns homens so justos” ¢ “Alguns homens ndo so jus: »), gubalternas, isto é, quando ha uma relacio de subordinagao ou de depen- itiva, gue é necessario em qualquer tempo ¢ lugar, enquanto 0 juézo possivel é aquele depende de condicées especificas para se realizar. Por exemplo, “Todos os ‘ sfio mortais” é apoditico; * aevinedos ia entre uma proposicdo universal afirmativa e uma particular, afirma' Bos e poditico; mas “Se a educaco for boa, ele sera virtuo- {re a proposicio universal negativa e a particular negativa (por exemplo: “To~ “Hos 0s homens sic mortais” e “Sécrates é mortal”; ou “Nenhum homem ¢ irra: “¢ ‘Amanha chovera ou nao chovera” sao posstveis. ee i ANALITICOS E A TEORIA DO SILOGISMO Os medievais sistematizaram essas relacées referindo-se a elas com a ex: “ stos”, indi lidade e quantidade das propo- pressio “quadrado dos opostos”, indicando a qualidade ¢ q Nos Primeiros analiticos, Aristéveles expe a doutrina do raciocinio ou da in- figSes com as vogais a, e, 1, 0: éncia, Inferir é obter uma proposi¢ao a partir de uma ou de varias proposicbes Universal a antecedem e que sao sua explicacdo ou sua causa. A proposi¢ao inferida € ‘Universal contrarias 5 = 2 oe ¥ Abiemativa (A) aaa bel conclusio que j4 estava implicitamente contida na proposicao inicial ou nas E, omen “Todos os homens eae em josigGes iniciais e que o raciocinio explicita. Por isso 0 raciocinio é uma ope- i é mortal mortais io do pensamento considerada mediata, isto é, chega a uma conclusio pela \Gio ow por intermédio de outras proposigdes ou juizos. Enquanto a cate- ia é imediata (eu a percebo ou conhego diretamente, sem precisar fazer infe- |, 0 raciocinio é mediato, ‘A forma mediata do pensamento ou raciocinio é chamada por Aristoteles ygismo (em grego, syllogismés* significa: raciocinio; vem do verbo syllogi- significa reunix, juntar pelo pensamento, conjeturar). A doutrina do si- ¢ a grande invengao da légica ou da analitica aristotélica e dela depen- do pensamento cientifico como pensamento demonstrativo, pois AS CONDIGGES DA CIBNCIA. DISTINGAO ENTRE CIENCIA E DIALETICA Os Segundos analiticos j4 nao tratam de todos os tipos posstveis de silogis- 10s, mas somente dos silogismos cientificos. Aqui, aprofunda-se a diferenga com relagdo a Plato, pois Aristételes nao considera a dialética 0 método ou 0 trumento do conhecimento cientifico, como julgara seu mestre. Aristételes distingue silogismos dialéticos e silogismos cientificos, Silogis- 105 dialéticos so aqueles cujas premissas se referem a coisas provaveis, possi- is, contingentes, verossimeis, isto é, a coisas que podem ser ou nao ser, que podem ser de uma maneira ou de outra, que podem acontecer ou nao aconte- fer, Se as premissas s8o provaveis, possiveis ou verossimeis, a conclusio tam- ém o sera, Silogismos cientificos, ao contrério, so aqueles cujas premissas so iversais e necessitias e cujas conclusdes so universais ¢ necessarias, ou seja, io admitem o “pode ser ou nfo ser”, “pode acontecer ou nao acontecer”, jpode ser assim ou de outra maneira”, “é provavel que seja assim”. O silogismo dialético ¢ aquele que comporta argumentac6es contratias, 10 as dos sofistas e mesmo como as de Sécrates nos didlogos platénicos, Suas yemissas so opinides ou se referem a coisas contingentes que nao so objeto ciéncias, mas de persuasio. Por isso, a dialética é uma discussdo entre opinides argumentos contririos, cuja conclusao é obtida pela forca persuasiva maior de Im argumento ou de uma opinitio sobre outros. Nos Tépicas, lemos: £ 0 que parece aceitavel a todos, ou A maioria, ou aos sabios e, entre estes, oua “Provavel los, ou 4 maioria, ou aos mais ilustres”. Visto que Arist6teles, diferentemen- de Plato, nao despreza a opinidio, nada ha de depreciativo em localizar a dia- ica na déxa, embora isso signifique retiré-la do campo das ciéncias teoréticas. Jética torna-se, com Aristételes, arte da discusséo e da persuasio (na ret6 © exercicio preparatério para a légica e para a ciéncia porque ela aponta os prinefpios do pensamento (identidade, nao-contradicio, terceiro excluido), da predicacio (as categorias, os sentidos do verbo ser) ¢ os diferentes julzos e proposiges (afirmativos, negativos, universais, particulares, ne- , Impossiveis, possiveis, assertoricos, hipotéticos, apoditicos). Mas ela “oposigdes, negacdes, possibilidades, verossimilhancas ¢ acordos por persuasio. No silogismo cientifico, as premissas se referem ao universal € necess4rio, que Ino € objeto de refutacao nem de persuasio, mas de demonstracao. O silogis- 6 cientifico € aquele no qual as premissas obedecem a quatro condigSes ne- sirias, sem as quais seriam meras opinides: 1) as premissas deyem ser verdadeiras (nao podem ser provaveis ou veros- ‘eis, nem falsas) ¢ necessarias (ndo podem ser possiveis nem contingentes); 2) as premissas devem ser primérias ou primeiras, isto é, indemonstraveis, vis, se tivéssemos que demonstra as premissas, iriamos de regressaio em re- ssflo a0 infinito, sem demonstrar coisa alguma; 4) as premissas devem ser mais inteligiveis do que a conclusio, pois a ver- lade desta tiltima depende da absoluta compreensio e clareza que tenhamos premissas de que ela depende; 4) as premissas devem ser causas da conclusio, isto é, devem estabelecer as “episas 00.08 fatos que causam a conchusio, de tal maneira que quando as conhe- ‘emos também conhecemos as causas da conclusao e, mais do que isso, quan- do as conhecemos, conhecemos também a causa de nosso conhecimento verda- deiro da conclusio, pois “conhecer € conhecer pelas causas”. Assim, as premissas de uma ciéncia devem ser verdadeiras e necessitias, in- demonstraveis ou principais, inteligiveis ¢ causais. As premissas cientificas sto dle tés tipos: 1), axiomas; 2) postulados; 3) definigdes. Axiomas séio verdades in- demonstriveis e imediatamente evidentes para todos, como, por exemplo, 08 principios do pensamento (identidade, contradicao, terceiro excluido) ou ages como “o todo é maior que as partes”. Postulados so pressuposicoes ma ciéneia, nas quais ela se baseia para estudar seu objeto (por exemplo, 0 nto € © repouso sao os postulados dos seres fisicos). As definigdes sao, “Atistoteles, as premissas mais importantes de uma ciéncia. Que é uma de~ in; “o qué?” “por qué?” “se?” e “o que é?”, Essas quatro perguntas se referem ao ermo médio, xem o qual nfo ha silogismo nem demonstragio, A definigio oft onseqliéncia do conceito de seu género e de sua espécie. A definicio deve ofe er a esséncia da coisa, isto 6, suas propriedades essenciais e necessirias, seja Hnquanto género, seja enquanto espécie geral, seja como especie particular co- nhecida por sua inseredo no género e na espécie geral. O termo médio € 0 atti to essencial da coisa e por isso a definic&o consiste em encontrar para um su- jeito (uma substancia) seus atributos essenciais (seus predicados ou categorias). A tese absolutamente aristotélica, tese que distingue Aristételes de todos scus predecessores que o faz ser considerado o pai da ciéncia ocidental, & a dle que s6 ha ciéncia do universal e ndo do particular ou do individual. J4 vimos (go falar da inducao) que quando uma ciéncia se refere ao particular este no individuo singular, mas a espécie, isto é, o particular cientifico é sempre algu- coisa geral. Por que s6 hé ciéncia do universal? Porque o particular ou o indi dual depende de citcunstancias variadas, de acidentes e acasos, do que poderia er ou deixar de ser ou do que poderia ser de outra maneira, Falta ao particular ilo que é o nitcleo da ciéncia: o necessario. E também porque nao ha como imitar e definir completamente um particular que, como vimos, é um termo ja compreensao ¢ infinita, adquirindo e perdendo incessantemente predica- s ou propriedades, A frase famosa de Aristételes sobre a ciéncia é: ‘A ciéncia conhece 0 homem e no Sécrates ou Célias. Sem daivida, o que eu sou- ber sobre o homem me ajudaré a conhecer melhor Sécrates ou Célias, mas conhe- c6-los j4 nao é ciéncia Assim, por exemplo, a fisica demonstraré que existe uma espécie de movi- lento (0 movimento para baixo) que é proprio da esséncia dos corpos pesados graves. Com isso, vendo uma pedra cair, saberei por que cai, pois incluirei pedra singular na espécie dos graves ou pesados e a ciéncia se refere a estes (08 e no A pedra singular. Se tomarmos a divisio por género e espécies, compreenderemos melhor a io aristotélica, Por exemplo: jal, est afirmando que uma ciéncia s6 se ocupa com esséncias universal GENERO: animal 2 eRe eas 4 (generos e espécies), isto é, com os atributos (ou propriedades) esse hima coisa, sem se ocupar com os predicados acidentais ou contingente Berrie» inverrebradn bo 8 Um ptedicado (ou atributo ou propriedade) essencial é aquele sem 0 sa no € 0 que ela é; aquele que, se for retirado da coisa, ela deixa de s ela é. Um predicado (ou atributo ou propriedade) acidental € aquele SPECIE PARTICULAR: mamifero ave_-—sbatraquio —_réptil faerie PSPECIE SINGULAR: humanos bovinos —eqiiinos... sho somente suas), A diferenca entre os individuos é, portanto, acid { | a ciéncia investiga o necessério e afasta o acidental. Uma vez que o ind é mescla de necessidade (a esséncia da espécie) ¢ acidentalidade, dele ni le haver ciéncia. A tarefa da definigéo é oferecer a esséncia ¢ a diferenca especifica ess Uma ciéncia vai do seu genero mais alto as suas espécies mais singulares (a “espécie infima’) e cada espécie é um género para suas subordinadas. Por que uma ciéncia interrompe a investigacao nas espécies particulares e nao desce até 6 individuo? Por dois motivos principais: em primeiro lugar, a distincdo entre duas espécies de um mesmo género se faz pelo que Aristételes designa diferen- ¢a especifica, isto é, pelos atributos ou pelas propriedades essenciais proprias € exclusivas daquela espécie (além das que possui em comum com as outras do de tal modo que conhecer uma espécie & conhecer suas dife- e nao deve nem precisa ser demonstrada) ¢ dos axiomas e postulados fi is Perec 5 a F mesmo género), sa este género. A demonstracgdo deve provar que o género possui 08 attl rencas especificas, validas para todos os membros da espécie; e ndo ha diferen- gas especificas entre os individuos da mesma espécie. Em segundo, as diferengas entre os individuos de uma espécie sdo acidentais. Por exemplo, um homem po- de nascer em Atenas ou em Esparta, sem deixar, por isso, de ser homem; pode que sua definicao ¢ os axiomas afirmam que ele possui, isto ¢, devert se chega na conclusio. ciéncia possui, portanto, trés objetos: psaxiomas e postulados que fundamentam a demonstragio} a definigio do género, cuja existéncia & admitida sem demo os atributos do género, a respeito dos quais cabera provar que do género e que serdo de suas espécies (estas, numa etapa seg nero indemonstrivel que sera o ponto de partida de novas demi A definigiio que serve de ponto de partida para uma ciéneia 6 a acidentes nfo-cientificos: data de nascimento e morte, familia, ocupagio (pedrele: Bgpaanio poles + ourras definicbes certo obsas Bilis to e soldado), feio, muito falante e curioso, assassinado por Atenas etc, Assim ipesanasecto, isto 6, pelos slogismos clentiichs queiig foram expostas nos Analiticos, ser alto ou baixo, gordo ou magro, branco ou negro, esperto ou lerdo, mas ne- nhuma dessas qualidades afeta sua esséncia de humano, e humano é a espécie, nio o individuo. Dessa maneira, posso dizer que, por exemplo, conheco Sécrates se eu souber que é: um ser, animal, vertebrado, mamifero, bipede, hamano, mor tal (por ser animal, racional (por ser humano), que pertence A espécie dos fi16s0= fis ¢& espécie dos atenienses. Todo o restante que eu souber de Sdcrates si0 08 que o predicado esta contido na esséncia do sujeito (por exemplo, a linha est contida na esséncia do triangulo), seja porque o predicado é uma propriedade essencial do sujeito (por exemplo, curvo nao pode ser definido sem estar referi- . a . - ijeito (por exempl P semos seguir a classificac&o aristotélica das ciéncias, ndo poderlam la metafisica, mas deveriamos terminar nela. Entretanto, como. ia que a ordem que seguimos para adquirir os conhecimentos no “gle seguimos para fazer as demonstracdes cientificas, e como, aqui, do A linha), seja porque existe uma relagdo causal entre o sujeito € 0 predicado, (por exemplo, “eqilidistante do centro” é 0 predicado que causa 0 sujeito “cir culo”, cuja circunferéncia tem todos os pontos eqilidistantes do centro). Em ous tras palavras, a definicio que serve de premissa estabelece ou a ineréncia do pre= Dicio aa i ‘ : : a wocurando adquirir um conhecimento cujo ol é is dicado ao sujeito ou a causalidade do predicado sobre o sujeito; ‘a 1j0 objeto € a filosofia aristot 3) préprias, isto é, pertencerem exclusivamente aos objetos ou sujeitos da- Mais gerais de que dependem todas as outras desenvolvidas pelo fild- demais ciéncias. E, portanto, por um motivo didético e nao légico qi mos pela metafisica, quela ciéncia e a nenhuma outra; por isso, por exemplo, ndo podemos buscar as premissas da geometria na aritmética ou na biologia, nem as premissas da astro: nomia na psicologia. Em outras palavras, 0 termo médio do silogismo cientifico se refere a atributos essenciais dos sujeitos ou objetos daquela ciéncia determi- nada e de nenhuma outra. Quando erramos ¢ usamos premissas de uma cién= cia para uma outra, Aristoteles diz que cometemos uma metdbasis éis all6 génos, isto é, erramos de género (ou cometemos um erto categorial), e tudo que de= monstrarmos estara errado porque comprometido por um erro de principio; Bey? Pols, mesmo fore de qualquer utilidade, elds’ nos a= Mas, e, mais do que todas as outras, as sensag6es visuais. De fato, nao s6 pata |, mas mesmo quando no nos propomos nenhuma aco, a vista 6, por assim f 0 que preferimos a todo 0 resto. A causa disto é que a vista é, de todos 08 idos, 0 que nos faz adquirir mais conhecimentos ¢ nos mostra o maior nme: 4) universais ou gerais, isto é, nunca se referem aos individuos em sentido es~ trito, mas As espécies e aos géneros. A légica é o instrumento para o pensamento verdadeiro. Que é a verdadel £ a correspondéncia entre a predicagio feita pelo pensamento (no juizo, na de- finicdo e no silogismo) e as coisas. Quando ha essa correspondéncia? Quando 0. dle diferencas. que 0 pensamento afirma (retine predicados num sujeito) é exatamente aquilo NM passagem, Aristdteles nos oferece uma indicagao preciosa do er: discriminar, diferenciar, distinguir e reunir, Por outro lado, 0 que, nas proprias coisas, est4 unido, ou quando o que o pensamento nega (separ ra um predicado de um sujeito) é exatamente aquilo que, nas proprias coisas, | esta separado. Bis por que se diz que, com Aristételes, a verdade vai deixando de ser (como j4 comegara a deixar de ser em Plato) alétheia € vai-se tornando orthétes* isto &, corresiio ou adequagao do pensamento a realidade. ] e que é, justamente, a fllosofia primeira, a mais alta entre as ¢ No Livro Iv da Metafisica, Aristoteles escreve: ‘Aicas € também superior as ciéncias praticas e produtivas, Se a fill i 04 metafisica deve ser o ponto mais alto do conhecimento hum Negar aquilo que é, e afirmar aquilo que nao é, ¢ falso, enquanto afirmay Témos primeito que perghintar se tal clénela & posstvel o que é, e negar o que nfo é, é verdadeiro. vel! No Livro yi, lemos} chega a conhecer as coisas mais arduas e que apresentam grande dificuldade para Hentadores e intérpretes nos iiltimos vinte e quatro séculos, ¢ je um sentido diferente, indo desde aqueles que consideram que admitido a impossibilidade da metafisica como ciéncia até os que que todas as outras investigacées aristotélicas nada mais sio do 6 conhecimento humano, este € um filésofo, Além disso, aquele que conhece com maior exatidio as causas ¢ € 0 mais capaz de ensind-las é, em todas as espécies de ciéncias, filésofo e, entre todas as ciéncias, aquela que é escolhida exclusivamente por ela mesma, sem nenhuma outra finalidade e nenhuma outra utilidade sendo © conhecimento ou 0 saber, é a ciéncia mais filoséfica, na qual o conhecimento ica. De onde provém a aporia? De trés afirmacées de Aristoteles, no busca resultados. A filosofia € também a ciéncia mais elevada, aquela que no Jo do Livro 1v da Metafisica. Embora longo, o trech ngo, o trecho em questo m se subordina a nenhuma e a qual todas se subordinam; aquela que nao recebe leis de nenhuma outra, mas dé leis a todas as outras; aquela que nfo obedece a nenhu- ma outra, mas € obedecida por todas. uma ciéncia que contempla o ser enquanto ser ¢ o que Ihe corresponde de seu, @ cigncia no se identifica com nenhuma das que chamamos [ciéncias) parte Assim, a filosofia nfo € a posse de uma ciéncia determinada e sim uma ati- tude determinada no conhecimento, pois fildsofo é aquele que, em cada cién- cia, conhece o mais arduo e mais dificil, e que, em cada ciéncia, conhece perfei- §, pols nenhuma das outras especula em geral sobre o ser enquanto ser, mas, ilo Separado uma parte dele, consideram os acidentes desta [..J. B visto que ficamos os Principios ¢ as causas mais alas, & evidente que serdo principios € tamente as causas, sendo por isso capaz de ensind-las. A ciéncia filos6fica ou a. is de certa natureza enquanto tal. Por conseguinte, se também os que buseit atitude filoséfica ¢ a mais elevada por ser a mais desinteressada, nao tendo ou- (93 elementos dos seres buscavam esses principios, também os elementos tro fim senao a si mesma ou o saber enquanto saber. Por isso mesmo é a mais que ser do ser nao acidental, mas enquanto ser, Por isso devemos também livre ou independente de todas as ciéncias, pois nao recebe leis de nenhuma e as dé a todas, no se subordina a nenhuma e subordina todas as outras. E por le- gislar as demais ciéncias, é a mais normativa de todas, a mais geral ou universal, preender as primeiras causas do ser enquanto ser, Porém, o ser se diz em jos sentidos, ainda que relacionado a uma s6 coisa ¢ a certa natureza tinica, € 9 equivocamente [...J; porém todo set se diz. ordenado a um s6 principio, Com ‘to, uns se dizem seres porque séo substancias (ousiai); outros, porque so alec: a ciéncia suprema, A filosofia ¢ uma atitude de conhecimento, mas também um. (pathe) da substancia; outros porque so caminhos até a substancia, ou corrup: 04 privagSes ou qualidades da substancia [...]. Por isso também dizemos que saber que se dirige ao conhecimento das causas e dos principios de todas as cién= cias, portanto, de todas as coisas. Ora, se a filosofia nao é a posse de uma ciéncia determinada e sim o conht cimento do que torna possiveis as ciéncias, que estatuto dar A filosofia primei como ciéncia teorética? & possiveL a mETAF{sIcA COMO CIENCIA? Sea filosofia possui as caracteristicas que Aristételes lhe atribui, por que dagar se a filosofia primeira ou metafisica € possivel? Nao é evidente que el deve ser possivel uma vez que sem ela nenhum outro saber seria possivel? A pergunta de Aristoteles, porém, é necessiria, e diz respeito a uma apori texto precisamos acrescentar um outro que também faz parte da I lo capitulo 1 do Livro vi da Metafisica, Atistoteles afirma que las teoréticas; a matemiatica, a fisica e a teologia” e explica a pre- “ge env algun lagar esta « esse lugar é a twilidade indeterminada do ser a um género supremo de ser, a primeira Poder-se-ia, com efeito, duvidar se a filosofia primeira é universal ou se ela tata, fegorias. Ainda com relacao a primeira afirmacdo, muitos comentadores de um género ou de alguma natureza em particular (como vemos nas mateméti- que, nos Analiticos, Aristételes prova que nao é possivel uma ciéncia cas, em que aa geometria e a astronomia tém por objeto um género particular da, ¢ puramente acidental. Ora, os acidentes existem, eles sdo, e, por conse- quantidade enquanto a matemitica universal € comum a todas). Pois bem, se ndo fazem parte do ser enquanto ser, tanto assim que o Livro tv menciona ha nenhuma outra substincia afora as constituidas pela natureza, a fisica sera a cién- ‘bes do ser, se refere 4 qualidade, a privacdo, ao perecimento e até mes- cia primeira; porém, se hd alguma substincia imével, esta ser anterior e [o obje- nio-ser como maneiras pelas quais o ser enquanto ser se diz. Todavia, fp laa-Alosata brieieien © Univerml| preciannees pee ser pamela jem os comentadores, como dos acidentes ou afecgdes nao pode haver ha aspectos do ser enquanto ser incompativeis com a propria idéia aris- Se reunirmos os dois textos aristotélicos, notaremos que Aristételes pare- de ciéncia. Conseqiientemente, a metafisica é impossivel como ciéncia, ce fazer trés afirmac6es diferentes sobre 0 objeto da filosofia primeira. De fato, no Livro 1v, 0 filésofo afirma que a filosofia primeira é a ciéncia do ser enquan- to ser e que justamente por isso nfo se confunde com nenhuma das ciéncias objeto extravasa 0 quadro cientifico proposto por Aristételes, relagio a segunda afirmagao, de acordo com a qual a ciéncia mais alta as primeiros principios de todas as coisas, lembram varios comentadores particulares, as quais tomam sempre um aspecto determinado do ser ou um ser Analiticos, Aristételes declara que uma ciéncia deve partir dos inde- determinado. A segunda afirmacio do Livro 1v, porém, enuncia que a filosofia pri! meira é a ciéncia dos primeiros principios de todas as coisas e que o primeiro € a substincia ou a esséncia (ousia). Mas, no Livro v1, uma terceira afirmacio apa- rece: a filosofia primeira é a teologia, isto é, seu objeto € a substancia imével, 0 divino na natureza. A diferenca visivel entre cada uma dessas trés afirmagGes su- geriv a muitos comentadores que Aristoteles nao teria conseguido determinar! iveis, isto é, de principios que sao o fundamento dos conhecimentos des- € que, por isso mesmo, nao podem ser submetidos & prova, porque Os significaria aceitar que nao s4o evidentes em si e por si mesmos e que iam ser tidos como falsos se sua verdade no for demonstrada. Ora, ode a metafisica ser ciéncia dos primeiros princfpios de todas as ciéncias, Imiente, os principios so indemonstraveis? Em outras palavras, uma cién- © objeto da ciéncia mais elevada e mais livre, e que essa dificuldade do filésofo mpre demonstrativa, fundando-se em indemonstraveis. Como, entio, a simplesmente indicaria que a metafisica é impossivel como ciéncia. Seria ciéncia dos indemonstraveis ou a demonstragao do que nao Que dizem esses comentadores? demonstrado, pois um principio demonstravel nao é um prinefpio? As- A primeira afirmacio de Aristoteles (ciéncia do ser enquanto ser) signific que 0 objeto da ciéncia suprema é 0 ser enquanto ser, no entanto, em varias pas sagens dos Analiticos e da Metafisica, o filésofo afirma que o ser nao é um géne ro (aliés, € exatamente por isso que a filosofia primeira no se confunde coma demais ciéncias particulares). Ora, os Segundos analiticos afirmam que toda cién: cia tem como ponto de partida a definicio de um género (0 género supremo dos objetos que serao investigados por ela). Assim, se o ser enquanto ser nio “duas, uma: ou a metafisica € ciéneia, mas seu objeto nao podem ser os OU OS principios sao o objeto da metafisica e ela nao pode ser a cién- pstrativa] deles, Portanto, a metafisica como ciéncia é impossivel. Se ivel, tudo seria demonstravel e nao haveria principios supremos de to- 0d terceira afirmacdo, pela qual a ciéncia suprema é a filosofia teo- sintérpretes argumentam recordando que, pela primeira afirmaco , A metafisica pretende ser a ciéncia do ser enquanto ser, mas a teo- um género, nao é objeto de ciéncia e a metafisica, no tendo objeto, nao se possivel como ciéncia. Eis por que, argumentam alguns intérpretes, ao lermo: a Metafisica, nela vemos Aristoteles tratando da esséncia ou da substaneia, niio do proprio ser, Em loc nhecem o desejo, drexis*, isto é, 0 apetite pelo que é prazeroso. Os humanos de ferver o sangue para transmitir a vida, enquanto 0 sexo do macho , macho é quen- capaz de esquentar 0 sangue para a transmissio do pnetima (vem dai a ideo- de que as mulheres so frias ou frigidas e que as prostitutas sio. uma espé- dle monstro, porque, embora sejam mulheres, fervem sem procriar). Embora isto seja uma regra geral para todos os sangiiineos e embora para Jos os animais (sangitineos ou nao) a gera¢ao implique o mesmo desenvolvi- 10, isto é, o mesmo movimento para todos os seres (verme, ovo, estrutura ginica, nascimento), cada género e cada espécie realiza de maneira diferente producio, dependendo de sua forma organica, de seu habitat, modo de vida, Jo de locomogao e modo de geracdo, Na escala dos seres vivos, ponto mais é0homem, por fim, possuem as quatro primeiras almas € uma quinta, a alma racional, qu os faz dotados de pensamento ¢ vontade, por isso, neles, além do desejo como apetite irracional, ha também 0 desejo racional, baileusis*, que se costuma ta duzir por vontade. Ha continuidade na escala vital natural, ¢ cada género ou € pécie superior deve possuir as almas dos inferiores, mais as que The so propria como se houvesse uma integracio de cada grau inferior pelo superior. O mu do da vida , como toda a natureza, um késmos hierarquizado ou ordenado po graus de perfeicao dos seres. ‘Aristoteles classifica os animais em quatro grandes géneros, dois pelo ma} do de geracdo e reproduciio (viviparos ¢ oviparos) e dois pela presenga ou atl séncia do sangue (sangitineos e nio-sangiiineos). Do ponto de vista da geracag los que sao produzidos sem relacao sexual (verm existe, ainda, a classificacio d pars). Apesar destas diferencas, todos os animais sfo compostos dos quatro elt HUMANOS: PSICOLOGIA E TEORIA DO IHECIMENTO mentos (ar, 4gua, tera, fogo) e suas qualidades (frio, timido, seco e quente), q se combinam e se distribuem em seus érgios, embora a proporcao dos elemel tos e de suas qualidades seja diferente em cada género ¢ em cada um predor A psicologia e a teoria do conhecimento aristotélicas estio expostas no D. as no Da (em grego, Peri psykhés; em latim, De anima). A teoria do conhecimento m est exposta no Livro 1 da Metafisica. ‘Que é a alma? No De anima, Arist6teles escreve: ne um dos elementos sobre os outros. A carne (seja como epiderme, seja com miisculo) é a sede da sensacio do corpo inteiro e de cada érgao, isto é, a sede alma sensitiva. A vida é uma forma de calor, ¢ 0 portador do calor chama: pnedima* (como se vé, Aristbteles conserva a concepgéo médica das fungdes tais como processos de cocci ou de cozimento). © pnefima introduz nos s li necessario que a alma seja substincia ¢ forma de um corpo fisico di que tema vida vivos a quinta-esséncia ou 0 quinto elemento, o éter, 0 sopro vital invisivel € m poténcia; mas a substéncia como forma é ato [entelequia] e a alma, portanto, perecivel que o gerador passa ao gerado de mesmo género e de mesma espe ‘ato [entelequia] de um corpo que tem a vida em poténcia © pai (a mie é somente 0 receptaculo, para Aristételes) gera a vida transmit . do o pnetima. A sede do calor vital 6 0 drgéo central de uma espécie. Nos anim Mo para Plato, também para Aristételes a alma nao é simples, m: i 33 x, . 3, mas com- sangilineos, como os humanos, o pnetima se localiza no corago, sede da BP lect cceasplucalidade de Funebes:e-cada uma destas & designada a Por que o pai, endo a mie, é 0 gerador ou o transmissor do pnetima que o pai dé a progenitura, enquanto a mae dé apenas o corpo? A explicagad eapaz de realizar, as almas estio hierarquizadas, cada grau superior da pressupondo os graus inferiores, de sorte que, nu trina dogmética pela Igreja (durante a Idade Média) e, até hoje, fora dos cre etka iscicces o.sor: ce Paes ipess cientificos, ainda é considerada verdadeira (em lugar de ser vista como con Bebe posteuprery qiiéncia do modo como os homens da antiga Grécia consideravam a mull Qual ¢ slicaglo aris ‘i \ -aristot é calor; | siolégica de Aristdteles teve tamanha aceitagio que foi transformada numa dl istente em todos os seres vivos diferentes capacidades a medida que se sobe na escala dos seres vivos. A ord \co sentidos do corpo humano desaparecesse, com ele desapareceria uma de apaticao dessas capacidades é: tato, paladar, olfato, audigao e visio, Essa alm a inteira, isto é, aquela que trataria dos objetos trazidos pela experiéncia ou funcao da inicio ao conhecimento: a sensacao (aisthesis*). Além do conht ‘ial desse sentido. mento sensivel ou sensorial, a alma sensitiva possui mais duas func6es: a de s@ tir prazer e dor, e no homem, além do prazer e da dor, tem a fungio de ima nar e lembrar: GAo © IMAGINAGAO + alma ou func3o locomotora-apetitiva, existente nos animais dotados | sensa¢do e meméria: é o que faz buscar os objetos de prazer e fugir dos que jensacdo é um ato. Pensamento também é um ato. A sensacio é 0 ato dos sam dor, ou seja, realiza 0 movimento do apetite ou desejo; no homem, 0 aj los; 0 pensamento, o ato do intelecto. A sensibilidade s6 existe atualizada tite ou desejo refere-se no s6 4 sensacao, mas também a imaginacao. Essa ‘Acao; 0 intelecto s6 existe atualizado no pensamento. A sensibilidade é a ao apetitiva é considerada locomotora porque incita 4 mudanga de lugar Ja para ter sensacGes € s6 existe enquanto a sensacio é 0 ato de sentir. O corpo daquele que busca alguma coisa ou foge dela; 0 € a poténcia para ter pensamento e s6 existe enquanto o pensamento + alma ou funcio intelectual ou intelectiva, exclusiva do homem, respon io de pensar. Os humanos sio, portanto, potencialmente dotados de sensi- vel pelo conhecimento intelectual. Essa funcao subdivide-se em duas: intele¢ isle e intelectualidade. A esse respeito, Monique Canto-Sperber escreve passivo, quando 0 conhecimento depende dos objetos oferecidos pela sensag pela meméria, pela imaginacdo e pelo apetite; intelecto ativo, quando 0 cot contribui¢ao notavel da psicologia aristotélica diz respeito 4 anilise da sensaco. cimento depende exclusivamente da atividade do proprio pensamento. a, com efeito, dé um paradigma da maneira como Aristételes define, em geral, Nutricdo, reproducio, sensagdo, imaginac4o, memoria, apetite/desejo faculdades mentais, mostrando que sua atualizacio depende da identidade do pensamento so os movimentos préprios da alma, cada qual com sua finalidat jo no motor eno movido e da idéia de que existe um ato tinico e comum ao mo- prépria e que, no homem, se renem numa tinica finalidade: realizar sua né re ao mével. Dessa maneira, Aristételes encontra os meios para definir a rela- reza ou sua forma humana enquanto ser racional. Todas as almas tém, eng) jo entre uma causa fisica e um estado mental [...]. A concep¢ao aristotélica da fa- to movimento, funcées vitais no duplo processo da vida, isto é, no crescimt Juldade racional desenvolve © mesmo tipo de andlise mostrando de que maneira ena depauperacio vital. E essa dupla fungao que estabelece a continuidade fazio também requer a percepeao € a imaginagio. Ora, a percepcao s6 € possi- hierarquia dos seres animados, pois, em cada grau, essa dupla fungao se rea num corpo vivo dotado de alma, corpo capaz de se nutrir e de reproduzir. Na de modo cada vez mais perfeito e completo. «lida em que os diferentes poderes da alma se condicionam uns aos outros, sen- Convém observar que, sendo a alma entelékheia do corpo € 0 corpo sé ibilidade e imaginacao nao sao obstaculos ao conhecimento, mas mediacées ne- drganon da alma, ambos sao inseparaveis, e o estudo da psicologia faz pal jivias (M. Canto-Sperber, “Aristote”, in M. Canto-Sperber, org,, 1997, p. 373). filosofia da natureza e, nesta, faz parte da biologia. Isso nao significa, pol que a alma racional nao possa ser estudada por si mesma, pois Aristoteles e¢ Imo as poténcias de sentir ¢ de pensar so atualizadas em seus atos? O sidera © pensamento separavel da matéria e concebe 0 ato intelectual como © Sensacao e o pensamento? No Da alma, Arist6teles escreve: pressio perfeita da alma racional. No entanto, diversamente de Platio, Arist les considera que, embora 0 pensamento ¢ a sensagio sejam diferentes, no quando passa ao ato 0 ser capaz de ouvir e que ressoa um objeto sonoro, en algo mais sobre ela, algo que nao esta dado diretamente pela sensacio. audicio em ato ¢ 0 som em ato se produzem simultaneamente; diremos qi Bis, percebo uma coisa de duas peas, eam tim rosto, de cor branco> LCS ONS SA SOE om duas mos, correndo, sorrindo, e digo “estou vendo o filho de Cé- yor acidente que a coisa percebida é 0 filho de Célias, pois o que, por ne- Ko pensive] sta,é; 0 objetn:extemno que; pode aes scalitiny tana estou percebendo sfo cores, figuras, tamanhos, movimento, niimero do sobre os érgios dos sentidos, atualiza a poténcia de sentir e causa a send Bc sesccvcaatyite quando o sentido recebe a forma do sensivel sem sua matéria.’ Para que snsacao no acontece ao acaso nem arbitrariamente, mas obedece a prin- sensacao € necessario, portanto, o sensivel (ou a forma do sensivel) e o sen (ou a aptidao ou poténcia de sentir de um 6rgio corporal). Como a sensa Para que um sensivel afete um érgio do sentido é preciso que tenha uma © ato do sensivel sobre a poténcia dos sentidos, é preciso levar em consider a pluralidade de formas do sensivel, ou seja, que ha sensiveis, no plural, deve haver uma semelhanca entre o motor (0 sensivel em ato) e o movido ( BY cos etc. jensidade, caso contrario no sera sentido ou percebido (por isso nao ve- dos objetos minisculos ou dos objetos muito distantes, nem ouvimos um dos sentidos). Aristételes os classifica em trés tipos: im sensivel é um composto de forma e matéria segunda, portanto, cons- 1) Sensiveis proprios, isto é, aqueles que afetam de modo determinad Bi combinacdes de quence, ftio, seco'e imido, por variagGes de quanti- 6rgio sensorial especifico. Assim, a cor age sobre a vista; o odor age sobre 1, posicao etc. E um principio necessario da sensac&o que a proporcao fato; © som age sobre a audicao; o sabor age sobre 0 paladar; a textura do Jnacko ou composicao das propriedades contririas num sensfvel nao Jetos age sobre o tato. Os sensiveis préprios exprimem a diferenga intrinse ya mesma que a existente no érgao do sentido. Em outras palavras, para tre as propriedades das coisas e a diferenca intrinseca entre os cinco sentidos, objeto seja sentido como quente ou frio, por exemplo, nao pode estar cles, estamos no campo da discriminagao e diferenciagao das propriedades ombinacio ou proporcao de quente-frio igual 4 da mio, isto é, ambos 2) Sensiveis comuns, isto é, aquelas qualidades ou propriedades dos of dem estar na mesma temperatura, mas um deles deve estar mais quente tos sensiveis que nao atuam sobre um tinico sentido ou que nao sao pereeb ise. c outro. por apenas um dos cinco sentidos, mas como que por todos eles de uma s6 Todavia, a proporco de combinacao dos contririos num sensivel no como é 0 caso do movimento, do repouso, do nimero, da unidade, da excessivamente diferente da proporgio dessa combinacdo no érgio do do tamanho, do tempo. Na verdade, os sensiveis comuns sio percebidos po ‘pois se a diferenca entre ambos for muito elevada, o sensivel nao seré sen- ‘percebido e, pior do que isto, poderd destruir 0 érgio do sentido (exces- faz perceber como uma s6 coisa aquilo que Ihes vem por sensagdes difere iz cega; excesso de calor destréi o tato; excesso de som ensurdece etc.). em cada drglo ou aquilo que [hes vem simultaneamente por varios orga Os sentidos especiais (isto é, os que sentem um sensivel proprio) preci- sentide comum é a unidade ou sintese dos cinco sentidos num sexto sentid pre dle um meio ou de um intermedidrio para se atualizar (por exem- nos faz sentir a unidade da coisa sensivel sob a multiplicidade das sensag6e | a mediagao da luz, 0 olho nao enxerga; sem a mediacao da pele, 0 tato prias a cada um dos sentidos, ou seja, os sensiveis comuns e o sentido cor /4em a mediagao do ar, o ouvido nao pode ouvir um som). O meio, po- realizam a unificacdo sensorial da diversidade das sensagdes proprias a cad ver umn senalvel prdprio, mas deve ser transparente como a luz dos cinco sentidos. Sao eles que nos permitem sentir uma coisa sob a ), como a pele (para o tato) ete, Isto é, na cidade das sensagdes proprias de cada sentido, — \ mae 10 e decorre das condicdes em que o sensivel afeta 0 sentido. Assim, por iplo, posso julgar que vi fantasmas a noite, porém, durante o dia percebo ‘© que julguei serem fantasmas sio galhos de érvores; mas ter visto formas cidas € em movimento foi uma sensacao verdadeira, foi o que realmente inganei-me quando julguei minha sensacdo visual, dizendo que as formas is que via eram fantasmas. Bm segundo lugar, a sensaco, gracas ao senti- do comum é 0 que me faz saber que vejo (no o proprio olho), que ouco (nao proprio ouvido), que toco (nao o préprio tato) etc. O sentido comum, por s sintese ou unidade da multiplicidade de sensagdes eo conhecimento da sens do enquanto tal, é propriamente a percepefo, isto é, o sabermos que temos sensagao. 6) O sentido comum tem também a funcao de discriminar entre dois 6 giios dos sentidos e seus sensfveis, De fato, a sensagao ¢ 0 ato do sensivel sol pmum, é um conhecimento, isto é, uma percepgao em que sabemos que te- a poténcia do érgio sensorial e a operacdo que atualiza essa poténcia torna o sé {uma sensagao. Em outras palavras, é uma apercepedo, ou seja, consciéncia sivel e a sensacdo idénticos. Por exemplo, yejo o branco, isto é, 0 que sinto ¢ nsagao. E é exatamente o sentido comum, como funcio de sintese, que meus olhos é exatamente a mesma forma que o sensivel colorido possui, ou §t Ip nos levar ao engano no momento de emitir um juizo sobre uma sensacio. ja, a sensac&o como ato tinico ¢ comum do sensivel e do érgio sensorial estal ngano, porém, nao estd na sensagdo mas numa outra faculdade mental, ce a identidade entre a forma do sensfvel ¢ 0 que é sentido pelo dxgao sensor ila dela ou derivada do sentido comum: a imaginagio. Imaginacio (phantasia*, da mesma familia do verbo phantdzo ¢ phainestai, gnifica aparecer) designa tanto um processo mental de fazer aparecer a m de uma coisa que foi percebida como designa a propria aparicao dessa pois este recebe a forma do sensivel que © afeta. Ora, se tenho, agora, a sensad de um sensivel como branco e, por alguma razio, logo a seguir, tenho a cio do mesmo sensivel como negro, a visdo nao pode saber que se trata de di sensagGes do mesmo objeto, mas seré experimentada como duas visdes de d 405 meus sentidos. Ou seja, phantasia tanto pode ser um acontecimento sensiveis diferentes, pois uma visio é o ato do sensivel branco sobre os oho Bricnte mental —faco aparecer em minha mente a imagem de vima coisa a outra ¢ 0 ato do sensivel negro sobre os olhos. A visio discrimina dois at@ rcebi e que esta ausente — como pode ser a operacao de sintese feita pelo mas nio pode, sozinha e por si mesma, saber que séo dois atos causados pf lo comum para oferecer a imagem uma de uma coisa percebida numa mesmo objeto ou unificar os dois atos de visio num 6 objeto sensivel. A dise Bre Seririetnca aeleensltbes'epedinay a Gada Sate cea ESE inacio ¢ a unificagio dos atos de visio sio feitas pelo sentido comum, que eens minag: “ icaca Pp é quell ‘segundo caso que pode haver erro, engano ou ilusio, isto é, 0 sentido co- sui, de um lado, as nogdes comuns de brancura e negrura, e de outro, a capa rc 8 Pi pode enganar-se ao oferecer a imagem uma da coisa multiplamente sen- dade de sintese, de sorte que pode nos fazer saber que se trata de uma sensa rah ; : : : Dra, Aristételes mostra que esse engano se deve, justamente, ao outro sig- diferente (brancura e negrura) do mesmo sensfvel. Essas operacdes de disc! Sahih 05 Ps si sctRc tor Ope . . do da imaginacao como processo mental de fazer aparecer uma imagem nagio, unificacao e identificacio sio sempre realizadas pelo sentido cor i . cee €oisa ausente ou da qual nao estamos tendo sensagées. Em outras pala- seja com respeito a um ou a varios érgios dos sentidos. Isso significa que - Z ‘ " ” quando o processo mental que produz na mk i 7 sempre conhecimento e que esse conhecimento é sensorial, ou seja, é realizado: P ue EGS VA ART Sas Sieh ei enacts fe embaralha com 0 processo de sintese da sensac4o numa imagem tini- ido comum, pode haver erro, Quando as duas funcées da imaginacao aradas, nio hd erro em nenhuma delas. aginagio entendida como sentido comum esta diretamente ligada a ‘Porém, sineainagle entendida como processo mental de fazer apa- em iemOria, F neste segundo significado que Aris- Vemos, assim, a distincia entre Platao e Aristételes, pois o primeiro ni uma imagem, mas presentifica ou reproduz as imagens vindas da sensacao, oF que estabelece a ponte entre 0 apetite/desejo (sensivel) e a vontade (racio- ganizando-as e estabilizando-as. Na sensago-percepcdo, a alma movimenta-se por intermédio do corpo, | Os objetos da vontade racional (no desejo) ¢ os objetos da razdo (no pen- jento) so, antes de quaisquer outros, as imagens trazidas pela phantasia. “A eolhendo as sensacGes; esse movimento da alma repercute nela mesma eno 0 B irscarpen etter una taser haiiraadaniesstclen ‘po, a percepcio ow a sensacdo sendo conservadas ou permanecendo em estad potencial neles. Seja no sono, quando 0 corpo se libera das sensagdes, seja i mmeméria ou reminiscéncia, quando a alma ativa potencialidades nela guard By ancewro das, a imaginagao se realiza, atualizando 0 que estava em poténcia. No sono, imaginacao se realiza por meio do sonho; na meméria, por meio da lembran Os seres humanos sao seres racionais dotados de linguagem. Vimos, em ca- A imaginacio possui, portanto, quatro funcGes: 1) formar imagens persistent jos anteriores e no estudo da légica e da metafisica aristotélicas, que para os asadores gregos linguagem e pensamento so insepariveis ¢ que essa unidade prime na palavra légos, que significa a0 mesmo tempo discurso e pensamen- das coisas, em contraste com as imagens efémeras da sensacao; 2) ativar a moria; 3) sonhar, quando 0 espirito, livre das exigéncias dos estimulos extel es, pode examinar-se internamente por meio das imagens; ¢ 4) suscitar € lio foi por acaso, alias, que os editores mais antigos da obra de Aristételes servar o desejo. De fato, a alma sensitiva ou funcao sensitiva permite a atualizagao da i pminaram “ldgica” os escritos em que o estudo das formas do pensamento bém um estudo das formas da linguagem. Para Aristételes, os humanos ginacdo e da meméria, ao lado do conhecimento; mas permite também a al silo simplesmente dotados de voz (phéne), pois dela também sao dotados iitos animais, e sim dotados de linguagem, isto é, no s6 so capazes de se co- issas duas modalidades de sensacdes desencadeiam no corpo e na alma d lear (como a maioria dos animais), mas também de exprimir uns para os ou- moyimentos diferentes. No corpo, 0 movimento de busca do prazer ¢ fuga significados, opinides, valores ¢ idéias. A linguagem é, por assim dizer, 0 cor- dor 6 0 apetite ou desejo (seja como um movimento suscitado no proprio ‘do pensamento, sua manifestacio visivel e sua dimenséo comunitéria. Por rior da alma em direcdo a alguma coisa externa, em grego drexis*, seja como motivo, Aristdteles considera que aquele que nao consegue ouvir e respon- movimento ou impulso suscitado na alma por alguma coisa externa, em g hormé’), impulso natural para agarrar e possuir alguma coisa ou para afastit destrui-la. Na alma racional ou na faculdade racional, ¢ desejo nao é um imp s0 apenas, mas é o movimento da deliberacdo e da escolha, é vontade ou igumentar e compreender, ensinar ¢ aprender, participar de um didlogo é , isto &, ou é desprovido de razo ou esta desprovido dela e € louco. !OMO examinamos varios aspectos da linguagem ao estudarmos a légica, vamos ocupar-nos com o pensamento sem fazer uma teferéncia direta a jo racional, boulésis, uma tendéncia ou um movimento que nao se ditige a q quer fim ou a qualquer objeto, como 0 apetite, e sim a um: objeto ou um f ira compreendermos a concepeao aristotélica da funcao intelectual, de- determinado pela razdo e que ¢ um bem. O apetite e 0 desejo sio movi fazer algumas observag6es preliminares. porque ha uma caréncia, uma falta a ser preenchida — algo no interior do. - Ointelecto, exatamente como a sensagao, recebe ou capta apenas a forma prio ser o leva a mover-se — e aquilo que os preenchera é 0 motor que os mo ‘@nio sua matéria, Ou seja, o que o olho vé é uma cor, o que o ouyido to objeto apetecico ou desejado oferecido pela imaginagio, seja orientada, sim OM, 6 que o tato xente é UMA rugosidade ou lisura. Quando vejo uma ‘has pela sensagfo (apetite), seja orientada pela razio (vontade), va sua materialidade, mas sua forma (sua con / tem, assim, um papel intermedideio findamental, \ \ colsali © intelecto apreende a forma intelectual delas, isto é, sew signifi Conceito, mas ndo a materlalidade em que podem estar insetitas (como Por exemplo, das idéias matemiéticas). © motivo para {sto & ontoldgico, se conhecer (pela sensago ou pelo intelecto) é um ato capaz de spice r da coisa conhecida ou aquilo que ela é, entdo, coisa. Além disso, as relacdes de causalidade, racao dos seres, 56 Wade e passividade, é capaz de atividade pura, realizando-se sem a interven- corpo e de qualquer funcao corporal. Entretanto, a concep¢do do inte- como pura atividade ou como ato puro é problematica, pois Aristoteles dera que todo conhecimento se inicia na sensagao ¢ que sem esta nao ha conhecer é captar a forma atl jecimento possivel. Em outras palavras, o problema consiste em saber co- 0 intelecto pode ser um puro ato se depende da sensacao, portanto, de um. jo externo que o afete e 0 atualize. Como evitar dizer que o intelecto é sem- Ihante conhece o semelhante. Como conhecer 6 um ato 7 tum ato e somente as formas sio atos. Isso significa que, na sua causa tar wassivo? Ou que, como a sensacdo, a intelecco tem um aspecto passivo ¢ : sensacao, por J outro, ativo, mas que essa atividade nao se desvincula de um fundo de pas- plo, € porque a vista eo visivel possuem semelhanga (sao se 3 minados) que a visio é possivel; assim também, no pensa mmelhanga entre o pensante e 0 pensado, Ou seja, o pensamento é 0 ato eg do intelecto e do inteligivel, exatamente como a sensacdo € 0 ato comu to de Aristételes. Sensivel e do sentido, © pensante (o intelecto) é um ato e o pensado (0 i Ese a vel, aidéia) também deve ser um ato, isto é, uma for te, a imagem mental oferecida ao intelecto para qu Bivel, ito 6, a idéia ou o conceito das coisas de que No entanto, hé algumas diferencas de nature lecto, pois, caso contratio, seriam uma th hada, Aristételes afi res luminosos 01 ile porque o objeto a ser pensado é traziclo ao intelecto e 0 afeta ou age so- mento, deve hay ele? I; este 0 centro e 0 problema maior da psicologia e da teoria do conheci- Se considerarmos as fungées psiquicas, diremos que hé és: sensibilidade ma. Essa forma é, inicialy Hsacdo, meméria e imaginac&o), que conhece a forma do sensivel; inteleccio, nela atualize a forma conhece a forma inteligivel potencialmente contida na forma do sensivel; e a imagem é a forma sen muigao intelectual (nofis), que conhece imediata e diretamente formas inteligi- za entre a sensacio ¢ @ inica fungio da alma. Antes de Hina que o Orgao do sentido nao perdura sem o corpo, | sem passar pela mediacao da sensibilidade ou das formas sensiveis. fi cla ¢ inteiramente ativa. Vimos, pela Idgica, que 0 pensamento possui leis préprias, independente- inte do contetido pensado. Vimos, ali, que o pensamento é capaz de tornar- objeto para si mesmo, analisando-se a si mesmo, conhecendo suas proprias i as. Vimos, também, quais séo as maneiras pelas quais o pensamento pen- Ha fincio intelectual. Ou, como diz Aristételes ‘i Aeon i Wlocinar nao so afeccées do intelecto e sim do s Korte que, desaparecido 0 sujeito, essas afeccdes di rece 0 intelecto. sentir, lembrar, amar, ujeito que possui in lesaparecem, mas nifo } categorias, proposigées, juizos, silogismos, definicdes, conceitos. Vimos que, /metafisica, os contetidos que preenchem as categorias, as proposigdes, os jul- | os silogismos, as definicdes e os conceitos, sao “o ser enquanto ser” ¢ vimos . na fisica, © contetido pensado sdo os seres “enquanto tem em si mesmos a ww do movimento”. Ora, todas essas maneiras de pensar e todos esses con- los pensados nao nos vieram diretamente das sensag6es, nem nos foram da- ‘por um mundo inteligivel de idéias, Como chegamos aos conceitos ou idéias | Logica, cla metafisica, da fisica, da psicologia? Se examinarmos como se dao nalidade externa que Ihe est sendo dada. No caso do conhecimento intelectual, porque é da natureza da alma racional conhecer, 0 ato de conhecimento pode ter como finalidade ou término 0 ato do proprio pensamento, de sorte que a ye contidas nos seres materiais ¢ atualizadas pelo intelecto que as separa da causa final é a forma do préprio pensamento. Enquanto conhecimento, a sensa- ia, assim também as sensagdes e as imagens contém potencialmente as fio é 0 ato que finaliza a relacéo entre um sensivel e um sentido, ou entre um as Ou Os conceitos, ou formas inteligiveis, que o intelecto atualiza. Dessa ma- sensivel e o sentido comum; da mesma maneira, o pensamento € 0 ato que fi- ‘4, todo conhecimento comeca na sensa¢io e torna-se independente dela & naliza a relago do intelecto com o inteligivel. Como atos cognitivos, sensacao € inteleccdo so completos ou finais, sto aquilo em vista do que hé atualizagio. dida que o intelecto passa a operar apenas com as formas inteligiveis. Toda~ reciso, entao, distinguir dois aspectos na fungao intelectual: seu aspecto pas- {s50 ainda nfo nos explica como é possivel a intuico intelectual. De fato, a sivo, quando recebe as formas apreendidas pela sensacio, ¢ seu aspecto ativo, quando atualiza nas formas sensiveis as puras formas inteligiveis (como o mate- mitico que separa da forma sensivel de um circulo a pura idéia geométrica do info Ihe sao apresentadas a partir das formas sensiveis, e essas idéias sio da. circulo). Assim, o intelecto passivo precisa da sensibilidade para atualizar-se; Jor relevancia, pois constituem o contetido dos primeiros principios e das pric © que ha de comum ou de semelhante entre a sensibilidade ¢ 0 intelecto passi- \s casas, condicdes de toda ciéncia, e algumas delas se referem ao divino coisas divinas, desprovidas de matéria ¢ das quais nfo se pode ter sensa= Yo 6a forma do sensivel que o intelecto capta como contendo potencialmente uma forma inteligivel, a qual somente 0 préprio intelecto, agora ativo, pode atuali- “Nosso problema é duplo: por um lado, 0 de como o intelecto, cujo ato & lizado pelas formas dos sensiveis, pode também ser atualizado por outra ‘ar, A sensacio é, portanto, a ocasiao para que o intelecto passivo receba uma forma e se atualize como intelecto, devendo, a seguir, ser 0 ato que atualiza a for- “ima inteligivel contida potencialmente na forma do sensivel. este o primeiro sentido de intelecto ativo. Resta porém o outro sentido, no qual a atividade inte- Tectual nao esta articulada a sensagio. comecemos, portanto. Um ser s6 passa da poténcia ao ato pela acao de Chegados a esse ponto, vemos que nosso problema ressurge: qual é 0 ato ito ser em ato. Assim, sem o Ato Puro ou Primeiro Motor, o universo in: “qe atualiza nosso intelecto ativo, isto é, quem ou o que atualiza aquela parte do Intelecto que opera sem qualquer referéncia a sensibilidade? Mas nfo sé isso. A yressdo intelecto ativo parece empregada por Aristételes para significar um 10 a fémea, a semente nunca germinaria. Da mesma maneira, no c@ ecto sempre em ato, pois, do contrario, seria uma potencialidade que al- to, a sensibilidade é © ato que atualiza a potencialidade da razao, faz ‘pensar; mas também o intelecto atualiza na sensibilidade os inteligiveis ‘Um ato s6 atualiza outro de duas maneiras; ou porque é a causa n © eficiente desse segundo ato (os dois atos sto de mesma ni A ii ts idéias universais ¢ as esséncias que esto potencialmente contidas nas ima- a causa final desse outro avo, Neste segundo caso, os dois atos ‘gerais das coisas, formadas na imaginagio), mas é sobretudo aquele que mma natureza (como na prdxis, em que a agio ¢ o fim da agio por intuigio direta 8 prineipios, as causas ¢ as coisas divinas imateriais, i \ "i yi iélas, Portanto, cabe perguntar; o que é & outro ato atualizaria. Ou seja, em muitos textos, o fildsofo dé a entender © intelecto ativo nao é apenas aquele que realiza o ato em que sio atualiza- is as formas inteligiveis contidas nas formas sensiveis (isto é, aquele que encon- © divino e o humano que nos permitisse Jos que somente os seres materiais s40 compostos e que o intelecto é imaterial mento das verdades primeiras agin- Imite nenhuma relagiio causal entre Jomo um ser imaterial poderia ser composto de uma parte passiva € outra ativa? {upor que o deus nos transmitiria o conhecit Em terceiro, se 0 intelecto ativo é puro ato, nao poderia ser alma de um sobre nosso intelecto, mesmo porque, se o deus agisse sobre n6s, teria que orpo, pois o corpo é sempre potencialidade e, neste caso, teriamos que admi- sobre uma potencialidade nossa e, neste caso, terfamos que dizer que os hu: possuem intelecto passivo que pode ser atualizadlo ou ps 0s inteligiveis enviados pelo deus, ¢ por isso mesmo nio témne- elas formas que a parte imaterial e imortal do intelecto é justamente aquela que nao nos manos so tence e que, enquanto humanos, somos mortais de corpo ¢ alma. No entan- {yeis ou pel nhum intelecto propriamente ativo ou sempre ativo. Todos os comentadores da filosofia de Aristételes reconhecem ser este um problema ao qual o fildsofo nfio deu uma resposta satisfatéria, sendo por isso jyma aporia auténtica, que vinte © quatro séculos de comentirios nao puderam Io, 0 texto do De anima que citamos acima parece sugerir essa conchisao, pois listingue 0 sujeito mortal (que tem afeccdes) e o intelecto imortal (que & pos- ido por esse sujeito, mas nao sofre as suas afeccdes), de tal maneira que a par- imortal da alma nao nos cabe, pois somos 0 sujeito composto mortal. Mas, pr outro lado, se o intelecto ativo nao nos pertencer enquanto fungao de nos- alma, entio, ndo poderemos compreender a afirmacao do inicio do texto do Vejamos 0 texto do De anima que se encontra na origem dessa aporia e que subentendido por nés até aqui: anima de que a distincao entre poténcia ¢ ato deve existir na alma humana ser uma distingdo existente em todos os seres da natureza. Assim, ou o in- Visto que em toda a natureza existe algo que € matéria ¢ proprio desse género de a iN a divino e nado o humano, ou, como sugere uma outra passagem do De ani- e algo que é causa eficiente coisas (¢ € isso que é em poténcia em todas as coisas), 4, ele é humano, mas possui “algo mais divino’ € necessdrio que na alma também existam es: ‘Tomando essa tiltima passagem aristotélica, na tentativa de resolver a apo- porque produz todas as coisas [...) sas diferencas. H4, pois, um intelecto potencial, na medida em que se converte em a helenista Monique Canto-Sperber prope a introdugao de dois elementos, todas as coisas, um intelecto ativo, na medida em que as produz todas e que é uma espécie de estado semelhante ao da luz: em certo sentido, também esta converte éimpassivell + movimento se no houver um ponto imével no qual o movimento se inicia as cores em poténcia em cores em ato, E esse intelecto esta separado, outro, também imével, no qual o movimento termina. Assim como para fe sem composigao, e possui uma esséncia intacta: o agente € sempre superior 4g M o é . ‘eres fisicos, em geral, a imobilidade do centro da Terra e a imobilidade da Separado [da matéria] é unicamen: paciente ¢ 0 principio € superior matéria (.] te aquilo que 6, e somente isso ¢ imor tal ¢ eterno. i. Por que a yimento animico ou psiquico é 0 Primeiro Motor Imével, situado fora da na- eneontra em pelo menos trés aspectos. ine wane 0 tnsseste nos tocar, uma vez que a causa que precisa d direto é jal que € um ato sem potencialidades (caso contririo, seria intelecto pas Maen ala aaa M adie Paes ees . ‘ pha ame ou como pode haver um ato puro no mundo sublunar, isto é, no mundo as acon paoimenaida 4 sit pain Qpilcace ido ate pony e' de matévia forma, como é 0 caso dos humanos? ae sensagio intelecsio. Dessa maneira, como j ' eves ou duns {aces par ae : filoyofia como imitagio do divino, a contemplagio ou especu- : Y t } ‘um sd € mesmo ato, emula ou imita a colocagéio de Aristételes € aporética? Onde esté a aporia? Ela a, E nfo precisamos supor uma relaco causal direta entre ambos porque \eiro Motor, na qualidade de causa final, pode simplemente agir & distan- a ativo é aquela parte da alma humana 1 (humano) 0 Essa explicacio, no entanto, se nos diz por que 0 intelecto aspira & ativida- de pura e a imobilidade, contudo nao nos diz. de que maneira isso se realiza. Ou} melhor, ela nos explica como € por que o Primeiro Motor ¢ inteligéncia pura ot inteiramente ativa, mas ndo por que nés humanos temos um intelecto em ato 0 ¢ individual ow singular, uma fungdo da alma de certos seres naturals Os de corpo e vida. Dessa mancira, quando Aristételes fala no “divino lo estaria afirmando que temos um intelecto ativo, imortal ou eterno, recebemos uma iluminacio vinda do intelecto ativo e que essa iluminat capaz de conhecer diretamente as verdades primeiras sem a mediacao sensorial. divino em nés”. Isso significa também que somos seres inteiramente mi ssa alma desaparecendo quando desaparece aquilo de que ela é 0 érganon, HF que o “averroismo” foi considerado uma heresia pelos tedlogos da Ipre| 6lica Romana. Queremos ainda propor mais uma observacdo que, de certa maneira, nos impede de aceitar sem restrigdes a explicagio de Canto-Sperber. No texto do De anima, Aristoteles compara o intelecto ativo e 0 ato da h (esta converte todas as cores potenciais em cores atuais). No pensamento di Dificuldades ou aporias como estas so freqiientes (com outros contetidos a outras questdes) na filosofia. Longe de invalidar o esforco dos filésofos, elas que fazem a filosofia possuir uma histéria, na qual cada filésofo, como ristoteles na Metafisica, tenta resolver as aporias que Ihe foram deixadas pe= predecessores. O problema deixado por Platao era o de saber como 0 inteli- 1 pode explicar o sensivel. Aristételes resolveu este problema, mas deixou HUtro que os filésofos seguintes terao que resolver. Aristoteles, a luz é e est sempre em ato (uma luz em poténcia ndo é luz, € va), Isso lhe permite distinguir a luz e a coisa uminosa ou iluminada, ou seja, coisa cuja potencialidade colorida foi atualizada. Vimos também que a sensagai visual s6 pode se atualizar se a forma do visivel atualizar a poténcia da visao e qi Graficamente, a psicologia ¢ a teoria do conhecimento de Atistételes po- h ser representadas da seguinte maneira: pode pensar o que puramente intelectual ou o que € puramente inteligiy Essa observacio nao supera nenhuma das aporias assinaladas acima, porém ps telecto ative como separado das fungées corporais ¢, sob este aspecto, “algo mais divino”. Além disso, se nos recordarmos do sentido platdnico da logia entre a luz ¢ o inteligivel, a diferenga entre Aristoteles e Plato també comprova aqui, uma vez que, em termos atistotélicos, a luz nao ¢ a Idéia € © proprio intelecto. Essa aporia explica, por exemplo, o chamado “ayerroismo’, isto 6, a pretagiio dada pelo filésofo medieval | (ORLA DO CONHECIMENTO Se rcunitmos os ensinamentos aristotélicos contidos na légica, na psicolo- ha abertura da metafisica, veremos que a teoria do conhecimento deve res- Wer a algumas quest6es fundamentais; qual a relacao ou diferenca entre sen- © © ciéncia, qual a relacao ou diferenca entre o inicio do conhecimento e o O da ciéncia, e como se dé a aquisicéo de conhecimentos? A primeira ques- /fonsiste em compreender tanto por que a sensacdo é condicio da ciéncia s6 no homem Ho a diferenca entre 0 conhecimento sensivel dos particulares e 0 conheci- intelecto into inteligivel dos universais, uma vez que s6 hd ciéncia do universal, A se- Passivo leone Hila consiste na distingdo aristotélica entre o que é primeiro para nds e 0 que ee Himeiro na ciéncia, isto é, a diferenca entre 0 inicio do conhecimento por santa a : s lingoagens lo das sensacdes ¢ 0 inicio de uma ciéncia por meio de prinefpios ¢ axiomas, (tdgos) IM vex, que a ciéncia é conhecimento dos principios e das causas € por meio Principios ¢ das causas, A terceira consiste em determinar quais as qualida- € disposic&es psiquicas que permitem a alguém passar da ignorancia ao es- lo de saber, uma vez que o desejo de saber é natural em todos os humanos meméria (nnemosyne) 86 no homem: reminiscéncia (amannese) sensagio (aisthesis) Compreenderemos as respostas de Aristételes a essas questdes se observar- todos as que sua teoria do conhecimento possui trés caracteristicas principais: animais | 86 no homem: percepeio 1) Procura os instrumentos que permitam conhecer as coisas particulares, locomogio (kinesis) movimento do apetite (éreris, hormé) ils sao elas a tinica e verdadeira realidade, ainda que para conhecé-las tenha- f que passar pelo universal (o ser, a substancia, a esséncia, o movimento, as essario, visa alcancar 0 conhecimento do particular, pois s6 este existe real- mite. Nao podemos ter ciéncia de Scrates ou Célias, mas € para conhecé-los Hie precisamos ter a ciéncia do homem. 2) Baseia-se na idéia de que o mundo é uma totalidade hierarquicamente inizada e racional que pode ser conhecida gracas a certos principios validos into para as coisas como para o pensamento, tais como o principio de contra- de identidade, do terceito excluido, ou os principios de classificag&o dos se- por géneros ¢ espécies segundo a diferenca especifica, e os trés grandes pares ‘oneeitos da metafisicn € da fistea, quais sejam, matéria-forma, poténcia-ato, conceitos que delas formamos (o inteligivel presente em cada sensivel) e discur- jo c a intuigao, realiza-se a ciéncia (demonstraco causal) como inferéncia de 80s nos quais as exprimimos (a logica). A afirmacao constante de Aristoteles de a conclusao a partir dos dados abstraidos das sensacdes ¢ fundada nos prin- jplos conhecidos por intuicao. que © ser se diz de muitas maneiras exprime essa articulacao interna entre re lidade, pensamento e linguagem, articulagdo que o leva a definir 0 verdadeiro € O conhecimento cresce em qualidade, quantidade ¢ complexidade 4 medi- que avanga dos objetos muito simples aos muito complexos, abstrai os aci- 0 falso conforme 0 juizo una ou separe o que realmente est unido ou separa do (verdadeiro) ou separe e una 0 que esta unido ou separado na realidade (fal sidade). a solidariedade interna ow a articulacao necessaria entre os seres, nies para recolher as esséncias, generaliza os casos individuais para obter um iversal genérico ou especifico, formula os juizos ou predicacdes por meio da ¢ao dos novos casos individuais nos géneros e nas espécies € realiza cada pensamentos ¢ os discursos que nos permitem conhecer ¢ comunicar a reali BE feo werdadetraimiben Guia ei@ntiay insista Avitdtclen,@/o1guepade seam esses procedimentos sob a orientagio das normas légicas de cada ciéncia. ‘sinado ou transmitido e s6 6 pode porque pode ser demonstrado segundo r Resta-nos, por fim, considerar 0 processo de aquisi¢ao do conhecimento. "gras € normas comuns ao pensamento, a linguagem e a realidade. 0 inicio do processo, somos como um pedaco de cera ao qual nao foi dada for- Conhecer é reunir os componentes de uma coisa singular, ou de uma subs eno qual nada foi gravado (somos uma “tabula rasa”), e conhecer é apenas tincia real, unir os semelhantes e separar os discordantes, para formar 0 concels potencialidade de nossa alma — somos seres sensiveis em poténcia € seres in- (ctuais em poténcia. As coisas sensiveis atualizam nossa sensibilidade e passa- ao ato da sensacao; as imagens mentais atualizam nosso intelecto € passamos ‘ato da intelec¢ao. Assim, apoiando-se na experiéncia, nossa tazo realiza nos- {0 00a definicao dessa coisa singular. Para isto, comecamos com os dados dis /petsos da experiéncia —a sensacao , passamos a uma primeira sintese desses _ dados empiricos — 0 sentido comum e a imaginacao auxiliada pela memoria hatureza, pois, como lemos na abertura da Metafisica, somos seres que, por © chegamos a uma primeira unidade racional que nos oferece os atributos ou ipredicados essenciais ¢ acidentais desta coisa — a razo. O percurso do conhe: iMureza, desejam saber. Este, de acordo com 0 Da alma, deve ser entendido em - cimento é, portanto, o caminho que vai das sensagées as imagens e percep¢des sentidos: 1) como pura poténcia ou aptidao para conhecer, ligada 4 nature- humana; 2) como aptidio determinada para um certo conhecimento, ou ja, a modificacao de uma aptiddo geral num habito determinado, adquirido dlestas as palavras, ¢ destas aos conceitos, juizos, proposigGes ¢ silogismos. davia, esse é 0 percurso “segundo nds”, isto é, conforme as nossas disposicbes polencialidades psiquicas que nos fazem comecar na sensacio ¢ terminar na di aprendizado; ¢ 3) como exercicio efetivo ou ato de saber, © exemplo ofere- por intui¢ao intelectual. Assim, a razdo, operando com princfpios, axiomas o sentido dos signos escritos estamos na posse da ciéncia da leitura ou so- es € demonstracbes, formula juizos sobre as coisas, tomadas numa Teitores em ato. inala algo de grande importncia, ou seja, que ngular, mas desta vez tendo o seu conceito verdadeiro. [passagem da sensacao ¢ da imaginacao para a inteleccao nao se da espontanea- ‘Nas duas pontas do conhecimento. isto é, na sensagio e na intuigio int nie ¢ sim por aprendizado, Por sua vez, o lugar conferido a aprendizagem (nfs), nunca hd erro ¢ falsidade, somente verdade, pois o erro, como vi \ dois significados: em primeiro lugar, significa que a ciéncia & a aquisicio fato do juizo, quando reunimos em idéia o que esta separado na rei n habito, ou seja, ¢ a passagem de uma aptidao (potencial) a uma disposi- ndo separamos em idéia o que esta reuniclo na vealidade, Na sen n aguisigio s6 ¢ possivel porque uma caracteris- unas e 0 poder ser ensinada ou transmitida,

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