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ove Gas les de Azerede Spucdiore setae dP Rio de Sere gortugts roi Zahay, 2004 WL A interagao verbal {As relagoes humanas sao normalmeme mediadas por simbolos ~ ges tos, cores, figuras, palavras ~ orgarizados em sistemas com graus vvanaveis de complexidade. A linguagem verbal ¢ seguramente 0 mais complexo deles, quer por sua estrutura, quer pelas variadas fungbes, ue desempenha, ¢ 0 Unico meio de expressao capaz de traduzir as ‘measagens veiculadas por qualquer outro sistema. Fenémeno tipicamente interactonal, 0 ato de falarjescrever envolve miltplos fatores. Examinanéo os tectos abaixo, explicitare- ‘mos, de passagem, alguns deles, jd que este assunto sera objeto do capitulo VIL Trecho Alb1/ B= B da residéncia do dr. Ari? / Az E sim, mas cle nao esté no momento. Quer deixar recado? / B= Ah, €6.com ele, Eu ligo outra hora, Obrigado.” Trocho 2: A= Pedrinho, até que enfim voc aparceea. Que & que hou: ve, rapaz? Ganhou na loteria? / B= Antes fosse. Estive em Sto Paulo fazendo um tratamento de coluna. /A= Coluna?! io € possivell Vocé sempre vendeu sale!" ‘Trecho 3: “Algum tempo hesitei se devia abrir estas memérias pelo princfpio ov pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar 0 meu nascimento ou # minha morte. Suposto o use vulgar seia comecar pelo nascimento, duas consideragdes me leva- ram a adotar diferente méwdo: a primeira é que eu nao sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor. para quem a campa [oi outro bergo; a segunda, é que o escrito ficaria assim mais galanie e mais novo. Moisés, que também contou a sua more, nfo a pOs no inudito, mas a0 cabo: diferenga radical entre este liveo e 0 Pentzteuco.” ‘Assis, 1960, p.111) Ey inciagso @sitaxe co porvguts DDiremos inicistmente que cada reeho é produzide mura sitaag0 social (1 = comunicacio telefOnica: 2= encontro casual entre dois amigos; 3 = reiato autobiogralico). Os techs 1 €2 envolvem explici tamente dois participants, rtulados como Ae B. Cada um & locutor {emissor ou erunciador) de uma parte do tresho, enquanto ¢ outio & 0 receptor (ou alocutirio).O treo 3 € um ato de escrita,revelado como tal pelo préprio enunciador (ct. ‘o escrito este livzo"), eujo receptor, ‘embora pressuposta, est4 ausente dh situaeao, Os techos 1&2 diferem ‘num ponto essencial: a identdade social dos partiipantes. Em 1 eles se ‘ratam como pessoas que travam contata pelo primeira ver, com a for :maliade que o tipo de contato requer. Nao bao ifnimo siral de inti- ‘midde ou familiaridade. Fm ? a linguagem de A est impregnads des- ses sinais (cf, ‘Pedrinho’, ‘Ganhou na loteri”, "Voce sempre vende side!) 'No irecho 3, a quesito da identidade do emissor e do receptor & Dbastante complexa. jf que se trats de uma obra literiria, Basta-nos, paras propésitos desta segao, identitid-los como 0 marrador-perso. hnagem eo leit ‘Como nesse relato nfo hi lugar pora a interferéncia de um inter- locuior, a texstuea go echo serd controlada por um dnico participan. te: onarrador-personagem. Nos techos 1 e2, o excadeamento do ie cho # contralado por ambos oF paricipantes, gue se altornars no papel de locutor. No echo 3 hia alusdoa umato dscusivo de outra pessoa Moisée , mas que sf interfere no relate segundo a vontads © 0 capricho estilistico do narradcr-personagem. ‘© processo de encadeanento do um texcho é orientado basica ‘mente por dois fatores: | ~ 0 universo cultural e social experimenta- do/purtithado polos parisipartes, «2 ~ tudo que “Fos cnusciado” no trecto e que serve de referéncia para o que ‘ainda Se vai enunciar'. No trecho 2, por exemplo, a pergunta ‘Gankou na loteia” entecsa-se bem ro trecho em viride do fator |: a ecenga afetuosamente irdnica de que, ‘0 ficarsubitamente rica, ume pessoa resringe o cieculo de amigos ou ‘05 substital. Tambér na linha do faior 1, B diz "Antes Fosse", adetindo & ‘convicgde contente ~ © iadiscutivel~ de que ganhar um premio € me hor do que ficar doente ‘Vamos agora aos deter no wecho 3, a fim de destcar alguns dos procedimentos que © encadsiam segundo 0 fator 2: (a) 0 uso do emonstrativo ‘estas, com a fangao de emeter para a ckagao prévia de “‘memérias(o que ocorte no titslo); (b)aelipse do complemerto de ‘co- megat", que o ieltor, apoiado no contexi, facilmente interpreta como ‘meméras; (€) os numerais “primeira” e "segunda, que se ligam &expres- a0 ‘duas consideragoes"e & qual servem de eaumeragao; (d) por fim, a alusio a Moisés — que ‘contou a sua morte” ro Pentateuco ~ligatdo © letras verbal 2 presente relate a outro, produzido em épeca passada. As igacBes que Acabamos de referr em (a), (b) ¢(¢) oeorrem no mesmo contexto ver- bal, e2 referida em (A) em contextos verbais distintos; esta faz. uma “ponte” entre dois textes, ria um intertexto (Os techos 1, 2 3, ulizados eaceitos como unidades de sentido relovantes aa situagdo em que ocosrem, constiem texto, isto &, ex Dresses verbais de passagens comunica.vamente anitirids da Coat hia atvidade social do ser humano, Todos temps a intuigdo do que seja um texto, visto que toda interagao social medisda peta linguagem verbal se faz por meio de tex. tos. Una ordem, um pedido, uma exclamagéo, um snuncio, um avs0, tum comentiio, ama descrigao, uma narragdo sto textos. Uns interpre: laveisem Fangio apenas do instante ¢ lugar de sua ecorrencia; outos, mais consistentes e permanentes por reunirem em si os elementos Indispensavets a sua inerpretagio. Seja como for, nenhum texto € nte- ‘ralmente auténomo como unidade de sentido; que hi sBo graus de ‘omprametimenta e aderencia do Iexto celatlvamente sos mUlUplOs Tatores que envolvem a produgdo deles. As interjeigdes ocupan 0 [onto mals alto dessa escala; Jao grau mais reduzido de aderencia€ 6 os textos consagrades como monumentos literirios, ‘ho teetone, una pesioa provavelmente di” AIO!” e nunca “Eo sanunciando que me acho a escuta da pessea que fe este conta tele: rico’, O AIO” €a opyao adequada de expressao naguele comtexto,tas- tante fara afinaidade do locutcr; a segunda frase cand s6 esdrdxula ‘eredundanie, mas sobretudo aniicomunicativa, NBO S20 poucas as pes- soas que ficam embaragadas ao depararem pela primeira vez com a es- posta las secreuriascletronicas: "Iso € uma gravado Deine © eu nome e recado apés osinal Nao € bastante, portanio, que um texto esteja bem estuturado em termos lexiais €lOgico-gramaticais; ee rem de ser, antes de tuo, Pertinent &situagdo, isto €, adequado quamto ao registro Uscurso. ‘Além de ser pertinente& stuagSo, 0 texto deve, também, ser ‘in- formative”, jd que se destina a comunicarsentilos inteligiveis pelo re= ceptor na mesma medida das intengBes de seu enunciador. Para tanto, ‘texto costuma se organizar aleve de uma seqdentalieagio semii= «a das unidades que ¢ consituen. Esa propriedade se chama coesa2, Tnlerjeigdes € teatos motovocabulares em geral do tipo saida, amas, perigo sé precisam atender & exigéneia do registro para funcio- rarem como teatos, Perfodos formados de sujeito © predicado, park sralos formados de virios perfodos, artigos, capituls, contos, roman- 25 eI. slo internamente estruturados ein teemos de coesdo, © apre- Sentam, como vimos, graus varidveis de independéncia relativamente 40 contexte de sua produgio, Iv Categorias da descrigéo gramatical 1. FRASE E ORACAO, ‘Um conceitochave em toda a andlise gramaticaléo de unidade. Fone ‘mas, slabas, vocabulos, estofes, pargrafos,capitulos so unidaes de diferentes planos,nives.tigos. Nas paginas nrecedentec shoe fhogao de texto, definido, no em termos de sua propria constiuiga interna, mas enquanto unidade de comunicagdo, O texto €, portato, uma entidade pertencente ao dominio do ato verbal de comunicagao, isto , do diseurso, Neste dominio, portant, situa-se a frase, que € 0 ‘meno texto possivel, [Na sus realizagao mais aderente a0 contextosituacional, a frase toma a forma de uma interjei¢do, a qual representa glahalmente a situagdo a que se refere. No outro extremo, apresenta normalmente ‘uma estrutura bimembre ~ a orago - centrada em um verbo com © ‘ual se faz uma declaragao ~ predicado ~ sobre um dado tema — Ssujeito, Enquanto representagdo analtica de um contelido, portanto, a oragdo articula as fungdes Sujitoe predicado,c, no predicado. 0 pro- ‘cesso verbal ea epoca de sua acnerénciarelatvamente io momento da ‘enunciagao = tomado como pélo do universo comemtado ou 4 um ™momento histrico ~ tomado como plo do universo narrado (ef. VII. the VII. 3) [As interjeigdes, as inscrigdes meramente indiativas do tipo sai= da, Casas Permambucanas, as frases imperativas ¢ exclamativas © interogativas ndo retéricas acham-se necessariamente unidas 8 situa {plo em que se enunciam. Ordens & enclamasoes se exprimer {emente por simples inerjeigoes. Somente frases declarativas podem Ser totalmente alfcias a0 contexto situacional e, portanto,intira ‘mente interpretéveis sem o seu respaldo. Elas s40 upicas de qualquer ‘texto em que prevalega a chamada “fungdoreferencial’ da inguagem, catporiae ca coerce gramatca! 1 De qualquer forma, declarativas ou no, as frases que represen: ‘am analiticamente um conteddo Fazem-no segundo os prineipios sit ticos da lingua, isto 6 0 sistema de unidades hierarquizadas ~ pala ‘ras, sintagmas, ragBes ~e relacionadas umas 8s outras por um con- Junto de mecanismos Formals, 2. A HIERARQUIA GRAMATICAL ‘A estrutura gramatical do portuguts comporta varios niveis. O mor- {ema € a menor unidade dessa estrutura;e 9 period, a maior. Acima do nivel dos morfemas achase 0 dos voedbulos;acima deste, 0 dos sn Tagmas, a que se superpde o das orades. Esquematicamente, mos: oxacko VocaauLo, exempliticande: Nivel deo ‘ines tree“ com amt pine [Nivel oe ema] mein! incom ual pli Provisoriamente,diremos que a andlise gramatical consste em ‘dentificaressas unidades eas reras que permitem combind-las entre sem cada nivel. Tradicionalmente, os compéndios gramaticais tém-se referido ans niveis da oragao edo perf, recohertos pela sintaxe.& 0s niveis do morfema e do vocibulo, recobertos pela morfotogia, Manteremos esta distin, por consideri-la adequada & descrigao da etamitica do portugués. O nico problema esti em nao se ter explic tado um outro nivel ~o dos sintagmas ~ que medeia entre os vocdbu- lose a oragdo. Com efeito, os vocdbulos nto se unem para formar a ‘oragdo do mesmo modo que os gomos se unem para formar uma laran- ja, Os vocdbulos nao formam a oragto sendo indirctamentc. Eles 3¢ ‘ssociam em grupos, os sintagmas, queso os verdadeiros constiuintes da oracto. ‘Vamos ilusrar essa afirmagio tomando para exemploo seguinte periodo: 2 lining a sintaee oo poruguis desatou 0 n6 das cordas com os dentes Proporemos inicialmente a segmentagao desse periodo nos Sseguinessintagma"oprisioneio’"desatou ond das cord’ © “com os dentes’. Poderiamos nos perguntar por que os sintagmae sao estas s "do outa Sequtncias, como: T= "o prsioniro desatou eo n6 das cor. «as com os dees", 2~ "0 prisionir’,desatou onde “das cordas conn 6s denies’ ou 3 ‘0 prisioniro" “desatou o nb das cordas com os dem. 1es" (que, como se ved, €compativel com a que propusemos), ue 88 unidades gramaticais se detinem por meio de ceras ecullardades disuibuionais, como posgaoe mobilidae, Por excin- Blo, € possivel deslocar para a primeira posigao do periado tous a Seancia “com os dems. r 12) ~ Com os dents 0 prisioneirodesatou 0 n6 da cordas A possbilidade desse movimento ¢suficiente para provar que ¢sta seqléncia¢ um sintagma. Também pelo deslocamente se ident fica como sintagma o scgmento “0 prisioneto" 12e ~ Com os dentes, desatou o prisioniroo n6 das cordas Outro rocedimento a substi da sequsncte por uma uni dade simples Observemos 13 ~ Mandaram amarraro prsioneiro apertar bem 0 n6 das cords, mas ele (= 0 prisionir) dsatou-o (0 m6 das cordas) com os ‘entes Seqiéncias que se deixam substituir por unidades simples no Jmterior ds oragdes também sto sinagmas ‘Um teretto Ce aqui dima) pracediento que vamos adotr€ « interposigo de um 'e™ Normalmente, a presenga de um "indice 4 unio de duasunidades perencentes mesmo nivel. Ito se passa cin ~ O prsioneroe seu amigo desataram 0 n6 das Cordas com 08 12-0 prisione dentes 15-0 prisioneito desatow ond das cords com os dente fugiv “Fugiu”€ uma unidade funcionalmente (c dstbucionalmens) equivalent doutea a que se une por meio doe", podonder sor cay Substtuta, como em * mann 16-0 pisioncir fugia (0c inserido em 15 nto est, por conseguinte,ligando 0 verbo “desaou" forma fugu’ nem ampouco afoma “gio subsanivg ‘dents’, que a precede; 6” est indo sinaticamente toda a seq

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