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TEC USy de Penna Ren eee ae Ay ' (At eee eee ee ea eee eee eee Sny Eee ee us, garantir ao profi eet ee ee ee ee ee ee ener ene Cee eee meee ee See ae ee eee ere eee eee ee ee ee ee oa ne cen en ee er een to eee ee ee See eae On ee x rece ed ne aes Ce eet eee cs Service Sacial ¢ Economia, bem como dos Cee ee Cee eee eee Rea eet Peer ears oe eee noe es Dee aa Ml Rr ec ee CE eT ET baat (© 1987 by Editora Alas S.A, so 2 1. ed, 1987; 2. ed. 1989; 3. ed, 1991; 4. ed. 2002; é AY 5 5. ed, 2010 (5 impresses) 42> = CCopa: Leonardo Hermano CComposigo: Lino Jato Editoragio Grafica Dados Internacionais de Catalogagio na Publicagio (CIP) (Cimara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Gij Antonio Carlos, 1946 ‘Como elaborar projetos de pesquisa / Antonio Carlos Gil. ~5. ed. ~ Paulo : Atlas, 2010. Bibligrafa ISBN 978.85.224.5823-3, eISBN 978-85-224-7840-8 1. Pesquisa 2. Pesquisa - Metodologia I. Titulo, pp-001.4 91-1515 001.42 Indices para catdlogo sistemético: 1, Metodologia da pesquisa 001.42 2. Pesquisa : Merodologia 001.42 3, Pesquisa: Projetos 001.4 4. Projets de pesquisa 001.4 ‘TODOS 0S DIREITOS RESERVADOS -£ proibida a reprodugio total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, A vilasio dos direitos de autor (Lei 9.610/98) & crime estabeleido pelo artigo 184 do Céaigo Penal Depésito legal na Biblioteca Nacional conforme Lei n* 10.994, de 14 de dezembro de 2004. Impresso no Brasil/Printed in Brasil Editors Aas S.A Rua Conselheira Nébias, 1384 (Campos Elisios) (01203-904 Sao Paulo (SP) Tel: (011) 3357-9144 ‘wonitoraAtlas.com.br A meméria de Antonio e Maria, meus pais ‘AAnna Maria, minha mulher ‘A Femando, Luciana, Antonio Marcos ¢ Maria Inés, meus filhos Sumario Prefcio, xv 1 Como encaminhar uma pesquisa?, 1 1.1 Que é pesquisa?, 1 1.2 Por que se faz pesquisa?, 1 1.3 Que é necessério para fazer uma pesquisa?, 2 1.3.1 Qualidades pessoais do pesquisador, 2 1.3.2 Recursos humanos, materiais e financeiros, 2 1.4 Por que elaborar um projeto de pesquisa?, 3 1.5 Quais os elementos de um projeto de pesquisa?, 4 1.6 Como esquematizar uma pesquisa?, 5 Leituras recomendadas, 5 Exerciciose trabalhos praticos, 6 2 Como formular um problema de pesquisa?, 7 2.1 O que é mesmo um problema?, 7 2.2 Por que formular um problema?, & 2.3 Como formular um problema?, 10 2.3.1 Complexidade da questio, 10 2.3.2 O problema deve ser formulado como pergunta, 11 2.3.3 O problema deve ser claro e preciso, 11 2.3.4 O problema deve ser empirico, 12 2.3.5 O problema deve ser suscetivel de solugdo, 12 2.3.6 O problema deve ser delimitado a uma dimensio vidvel, 13, vil com ElaborrProjtt de Fesqiss + Gi 2.4 Como definir objetivos, 13, Leicuras recomendadas, 14 Beercicios trabalhos prdticos, 15 ‘3 Como construir hipéteses?, 17 3.1 Que sdo hipéteses, 17 3.2. Como as variéveis se relacionam nas hipéteses, 18 3.3 Como chegar a uma hipétese?, 20 3.3.1 Observacio, 20 3.3.2 Resultados de outras pesquisas, 21 3.33 Teorias, 21 3.3.4 Intuigo, 21, ‘3.4 Caracteristicas da hipétese aplicével, 21 3.4.1 Deve ser conceitualmente clara, 22 3.4.2 Deve ser especifica, 22 3.4.3 Deve ter referéncias empiricas, 22 3.44 Deve ser parcimoniosa, 22 3.45 Deve estar relacionada com as técnicas disponiveis, 23 3.4.6 Deve estar relacionada com uma teoria, 23 3.5 As hipéteses slo necessarias em todas as pesquisas?, 23 Leitura recomendada, 24 Exercicios e trabalhos prétcos, 24 4 Como classificar as pesquisas?, 25 4.1 Que eritérios podem ser adotados para classficar as pesquisas, 25 4.1.1 Como classificar as pesquisas segundo a érea de conhecimento, 26 4.1.2 Como classficar as pesquisas segundo sua finalidade, 26 4.1.3 Como classificar as pesquisas segundo seus objetivos mais gerais, 27 4.1.4 Como classificar as pesquisas segundo os métodos empregados, 28 4.2 Que é pesquisa bibliogréfica?, 29 43 Que é pesquisa documental?, 30 44 Que é pesquisa experimental?, 31 45 Que éensaio elinico?, 33 46 Que é estudo de coorte?, 33, 4.7 Que é estudo caso-controle?, 34 4.8 Que é levantamento?, 35, 49 Que é estudo de caso, 27 4.10 Que é pesquisa fenomenolgica?, 39 4.11 Que é pesquisa etnografica?, 40, 4.12 Que ¢ grounded theory?, 41 5 Como dk Sumiio be 4.13 Que € pesquisa-agio?, 42 4.14 Que é pesquisa participante?, 43 ear uma pesquisa bibliogréfica?, 45 5.1 Ftapas da pesquisa bibliografica, 45 5.2. Bscolha do tema, 45 5.3 Levantamento bibliogréfico preliminar, 46 5.4 Formulacio do problema, 47 5.5. Elaboragio do plano provisério da pesquisa, 48, 5.6 [dentificagio das fontes, 49 5.6.1 Livros de leitura corrente, 49 5.6.2 Obras de referéncia, 50 5.6.3 Periédicos cientifcos, 50 5.6.4 Teses e dissertagbes, 50 5.6.5 Anais de encontros cientificos, 51 5.6.6 Periédicos de indexagio e resumo, 51 5.7 Localizagéo das fontes, 52 5.7.1 Em biblioteca convencional, 52 5.7.2 Pesquisa em bases de dados, 54 5.7.3 Pesquisa em sistemas de busca, 57 5.8 Obrencio do material, 57 5.9. Leitura do material, $8 5.9.1 Leitura exploratbria, 59 5.9.2 Leitura seletiva, 59 5.9.3 Leitura analitica, 59 5.9.4 Leicura interpretativa, 60 5.10 Tomada de apontamentos, 60 5.11 Fichamento, 61 5.12 Construgio légica do abalho, 63 5.13 Redagio do relatério, 63 Leituras recomendadas, 63 Site recomendado, 64 Exercicios e trabalhos préticos, 64 Como delinear uma pesquisa documental, 65 6.1 Etapas da pesquisa documental, 65 6.2 Formulagio do problema, 66 6.3 Elaboragio do plano, 66 6.4 Idemtificagao das fontes, 66 65 Localizagio das fontes ¢ obtenco do material, 66 X Como thborar Prjetoe de Pesquisa it 6.6 Anélise e interpretagio dos dados, 67 6.7 Redacio do relatério, 69 Euercicios e trabalhos préticos, 69 7 Como delinear uma pesquisa experimental?, 71 7.1 tapas do planejamento da pesquisa experimental, 71 7.2 Formulagio do problema, 71 7.3 Construgdo das hipéteses, 72 7.4 Operacionalizagao das varidveis, 72 7.5 Definisio do plano experimental, 72 7.8.1 Plano de uma tnica variével, 72 7.5.2 Planos fatorials, 73 7.6 Determinagio dos sujeitos, 76 7.7 Detetminaco do ambiente, 77 7.8 Coleta de dados, 78 7.9 Anélise e interpretagio dos dados, 78 7.10 Redagao do relatério, 79 Leituras recomendadas, 79 Bxercicos ¢ trabalhos praticos, 80 8 Como delinear um ensaio clinic?, 81 8.1 Enstio clinic randomizado cego, 81 8.1.1. Definigio dos abjtivos, 82 8.1.2 Selesio dos participants, 82 8.1.3 Medich das variéveis basais, 63 8.14 Definigo dos procedimentos do tratamento, 83 8.15 Randomizagi, 84 8.1.6 Cegamento, 85 8.17. Acompanhamento de aderencia ao protocolo,8$ 8.18 Medio do dstecho, 85 8.1.9 Ineerupgéo do ensalo, 86 8.1.10 Andlise dos resukados, 86 8.1.11 Redagéo do telatsrio, 87 8.2 Delineamentofatoral, 87 8.3 Deineamentorandomizado com alocagio de grupos, 87 84 Delineamento com grupo de controle ndo equvalente, 88 8.5 Delineamento de séries temporais, 88 " {80 Delineamentocruzado, 89 Leiturasrecomendades, 89 vertcisetrabathosprtios, 89 9 Como delinear um estudo de coorte?, 91 9.1 Estudos de coorte prospectivos, 91 9.1.1 Definiedo dos objetivos, 92 9.1.2 Selegao dos participantes, 92 9.1.3 Acompanhamento dos participantes, 92 9.1.4 Andlise e interpretacio, 93 9.1.5 Redagio do relatério, 93, 9.2. Estudos de coorte retrospectivos, 93, Leituras recomendadas, 94 xerc(cios e trabalhos prdticos, 94 10 Como delinear um estudo caso-controle?, 95 10.1 Definigdo dos objetivos, 95, 10.2 Selecdo dos participantes, 96 10.3 Verificagao do nivel de exposig&o de cada participante, 97 10.4 Andlise e interpretagéo dos resultados, 97 105 Redagao do relatério, 98 Leituras recomendadas, 98 Exercicios e trabalhos préticas, 98 11 Como delinear um levantamento?, 99 11.1 Btapas do levantamento, 99 1L2 Especificagio dos objetivos, 99 11.3 Operacionalizagéo dos conceitos e varidveis, 101 11.4 Elaboragao do instrumento de coleta de dados, 102 11.4.1 Instrumentos usuais, 102 11.4.2 Elaboragio do questionario, 103, 11.4.3 Condugao da entrevista, 105 11.44 Aplicaglo do formulrio, 107 11,5 Pré-teste dos instruments, 107 11.6 Selecio da amostra, 109 11.6.1 Necessidade da amostragem nos levantamentos, 109 11.6.2 Tipos de amostragem, 109 11.6.3 Determinagio do tamanho da amostra, 111 11.7 Coleta e verificagao dos dados, 112 11.8 Andlise e interpretagdo dos dados, 113 11.9 Redagdo do relatério, 114 Leituras recomendadas, 114 Bxerciciose trabalhos praticos, 115 12 Como delinear um estudo de caso?, 117 12.1 Etapas do estudo de caso, 117 12.1.1 Formulagio do problema ou das questdes de pesquisa, 117 xii come Eaboar Projets de Pesquisa * Gi 12.1.2 Definigio da unidade-caso, 118 12.1.3 Selegdo dos casos, 119 12.1.4 Determinagdo das técnicas de coleta de dados, 119 12.1.5 Elaboragio do protocolo, 120 12.2 Coleta de dados, 120 12.2.1 Entrevistas, 120 12.2.2 Observacio, 121 12.2.3 Documentos, 121 12.3 Anilise ¢ Interpretagio dos dados, 122 12.3.1 Codifieagao dos dados, 122 12.3.2 Fstabelecimento de categorias analiticas, 122 12.3.3 Exibigdo dos dados, 123 12.3.4 Busca de significados, 123 12.3.5 Busca da credibilidade, 123 12.4 Redacao do relatério, 124 Leituras recomendadas, 125 xercicios ¢trabathos préticos, 126 13 Como delinear uma pesquisa etnografica?, 127 13.1 Etapas da pesquisa etnografica, 127 13.1.1 Formulagio do problema, 128 13.1.2 Selecdo da amostra, 128 13.1.3 Entrada em campo, 128 13.1.4 Coleta de dados, 129 13.1.4.1 Observagdo, 129 13.1.4.2 Entrevista, 129 18.2 Elaboragio de notas de campo, 130 13.3 Andlise das dados, 130 13.3.1 Leitura do material, 131 13.3.2 Busea de “categorias locais de significados”, 131 13.3.3 Triangulagio, 131 13.3.4 Identificagdo de padres, 131 13.4 Redagao do relatsrio, 132 Leitura recomendada, 132 Exercicios e trabalhos prévcos, 13 14 Como delinear uma pesquisa fenomenolégica?, 135 14.1 Etapas da pesquisa fenomenoldgica, 135 14.1.1 Formulagio do problema, 136 14.1.2 Escolha da técnica de coleta de dados, 137 14.1.3 Selecio dos participantes, 138 142 14.1.4 Coleta de dados, 138 Analise dos dados, 139 14.2.1 Leitura da descrigo de cada informante, 139 14.2.2 Extragdo das assertivas significativas, 139 14.2.3 Pormulagdo dos significados, 139 14.2.4 Organizagao dos significados em conjuntos de temas, 139 14.25 Integragao dos resultados numa descricio exaustiva, 140 14.2.6 Elaboragio da estrutura essencial do fendmeno, 140 14.2.7 Validagéo da estrutura essencial, 140 Leitura recomendada, 140 Exercicios e trabathos prticos, 140 15 Como delinear uma pesquisa para desenvolver teoria fundamentada (grounded theory)?, 143 15.1 15.2 153 184 155 Formilagio do problema, 143 Selegio da amostra, 144 Coleta de dados, 144 Anélise dos dados, 145 15.4.1 Codificagao aberta, 146 15.4.2 Codificagio axial, 147 15.4.3 Codificagao seletiva, 148 15.4.4 Construgéo da teoria, 148, Redacio do relatério, 149 Leitura recomendada, 149 Exerc(cios etrabalhos prticos, 150 16 Como delinear uma pesquisa-acao?, 151 16.1 162 163 16.4 165, 166 167 168 169 tapas da pesquisa-acio, 151 Tase exploratéria, 152 Formulagio do problema, 152 CConstrugdo de hipdteses, 152 Realizagao do seminario, 152 Selecio da amostra, 153 Coleta de dados, 153 Anélise e interpretagdo dos dados, 154 Elaboragéo do plano de agao, 154 16.10 Divulgacao dos resultados, 155 Leitura recomendada, 155 Exercicios e trabalhos préticos, 155 17 Como delinear uma pesquisa participante?, 157 va 72 tapas da pesquisa participante, 157 ‘Montagem institucional e metodolégica da pesquisa participante, 158 xiv Come Elbarr Projet de Pesquisa + Gi 17.3 Estudo preliminar da regido e da populagio pesquisadas, 158 17.4 Andlise erica dos problemas, 159 175 Elaboracio do plano de aco, 160 Leitura recomendada, 160 xerciciosetrabalhos prétcos, 161 18 Como calcular o tempo e 0 custo do projeto?, 163 18.1 Dimensdo administrativa da pesquisa, 163 18.2 Cronograma da pesquisa, 163 183 Orgamento da pesquisa, 165 Leitura recomendada, 167 Erercicios eerabalhos préticos, 167 19 Como redigir 0 projeto de pesquisa?, 169 19.1 Estrutura do texto, 169 19.1.1 Elementos pré-textuais, 169 19.1.2 Blementos textuais, 170 19.1.3 Elementos pés-textuais, 171 19.2 Estilo do texto, 172 19.2.1 Impessoalidade, 172 19.2.2 Objetividade, 172 19.2.3 Clareza, 172 19.2.4 Precisio, 172 19.2.5 Coeréncia, 173 19.2.6 Concisio, 173 19.2.7 Simplicidade, 173 193 Aspectos gréficos do texto, 173 19.3.1 Formato, 173 19.3.2 Espacejamento, 174 19.3.3 Organizagio das partes e titulagio, 174 19.3.4 Paginagio, 175 19.3.5 Notas de rodapé, 175 19.3.6 Citagées, 175 19.3.7 Ilustragdes, 176 19.3.8 Tabelas, 176 19.3.9 Referéncias, 177 Leituras recomendadas, 178 Bibliografia, 161 Prefacio @ © propésito deste livro é auxiliar estudantes e profissionais na elaboragao de projetos de pesquisa. Pode ser considerado como um manual, posto que apresenta de forma sequencial e detalhada as etapas seguidas nos diferentes delineamentos de pesquisa. Nao pode, no entanto, ser entendido como um receituério, pois nao hd como admitir que uma atividade to complexa como a pesquisa cientifica possa ser compreendida mediante a apresentagdo de uma sequéncia de passos. Dai por que os trés primeiros capitulos tratam do processo de criacdo cientifica, conferin- do énfase & formulagao de problemas e & construcdo de hipéteses. Tanto em relagdo as questdes referentes ao processo de construgio cientifica quanto as referentes aos aspectos préticos da condugio de pesquisas, a principal preocupacéo do autor foi a mesma: garantir a leitura de um texto simples, mas suficiente para capacitar o leitor para a elaboracao de um projeto de pesquisa. Assim, o texto foi elaborado de forma tal que t6picos relativos a aspectos mais abstratos da Metodologia Cientifica, bem como os referentes a procedimentos estatisticos ficaram reduzidos a um minimo. Mas os pesquisadores interessados no aprofundamento dos temas podem beneficiar-se com as leituras que so reco- mendadas ao final de cada capitulo, No lancamento desta S* edigo, que inclui novos capitulos referentes a pes- quisas qualitativas, bem como a pesquiisas no campo da satide, nao poderia deixar de agradecer & Editora Atlas, de forma especial ao seu Presidente Luiz Herrmann \Kinior, a confianga depositada neste autor, ao Diretor de Marketing Editorial, Ail ton Bomfim Brandao, o incentivo para escrever e reescrever este livro, € a Joo Bosco Medeiros e Carolina Tomasi, o competente e simpético auxilio nas questées referentes & correcdo gramatical ¢ ao estilo do texto. Também nao poderia deixar vi come Baborar Pojeor de Fesguss + Gt de lembrar, com muita saudade, de duas pessoas que ja nos deixaram: Alfonso ‘Trujillo Ferrari, que nos encaminhou para o fascinante mundo da pesquisa cient{- fica, e Luiz Herrmann, nosso primeito editor, que ao longo de duas décadas gene- rosamente apoiou nosso trabalho. ‘Antonio Carlos Gil Como Encaminhar @ uma Pesquisa? 1.1 Que é pesquisa? Pode-se definir pesquisa como 0 procedimento racional e sistemtico que tem como objetivo proporcionar respostas aos problemas que sdo propostos. A pes- qqisa requerida quando nfo se dispde de informagéo suficiente para responder do problema, ou entéo quando a informagao disponivel se encontra em tal estado de desordem que néo possa ser adequadamente relacionada ao problema. ‘A pesquisa & desenvolvida mediante 0 concurso dos conhecimentos dispo- niveis ¢ a utlizagdo cuidadosa de métodos e técnicas de investigagao cientifice. Na realidade, a pesquisa desenvolve-se ao longo de um processo que envolve imimeras fases, desde a adequada formulagao do problema até a satisfatéria apresentagao dos resultados. 1.2 Por que se faz pesquisa? Hé muitas razdes que determinam a realizacio de uma pesquisa. Podem, no entanto, ser classificadas em dois grandes grupos: razdes de ordem intelectual f razdes de ordem pratica. As primeiras decorrem do desejo de conhecer pela prépria satisfagio de conhecer, As ltimas decorrem do desejo de conhecer com vistas a fazer algo de maneira mais eficiente ou eficaz. ‘Tem sido comum designar as pesauisas decorrentes desses dois grupos de 2 Como Blaborar Prjetce de Pesquisa = ot conhecimento. Uma pesquisa sobre problemas berta de principios cientificos. Da mesma forma, cer conhecimentos passiveis de aplicagao prati Pepe cn 3 de ins pan pase Procura-se neste li ae ste aor oa pens serd dedicada idéntica atengao aos requisi dims une ise pesquisa adequadas ‘aplicadas”. Dai por que itos bdsicos tanto das pesquisas aca- iss elaboradas para a solugdo de problemas praticos, 1.3 Que é necessério para fazer uma pesquisa? 1.3.1 Qualidades pessoais do pesquisador Exito de uma pesquisa depende fundamentalmen intelectuais e sociais do pesquisador, tais como: eee ee ) conhecimento do assunto a ser pesquisado; b) curiosidade; ©) criatividad 4) integridade intelectual; ©) atitude autocorretiva; 8) sensibilidade social; 8) imaginagio disciplinada; 1h) perseveranca e paciéncia; i) confianca na experiéneia, 1.3.2 Recursos humanos, materiais e financeiros F uito difundida a visio romiintica de citncia que procura associat asin é r vengoes @ descobertas exclusivamente a genialidade di eA genialidade endimento de pesquisa que outra cujos recursos sejam deficiemses Por essa razio, qualquer empreendimento dido, deverd levar enone de pesyuisa, para ser bem-suce- m consideragioo problema dos eesreo : ot recursos disponives Opes ogdo do tempo a Ser ulizado na pesquisa valored eran termos pecuniérios. Deve Pecunidrios, Deve prover-se dos equipamentos e materials necessdrios ae como Encaminhar ma Pesquisa? desenvolvimento da pesquisa. Deve estar também atento aos gastos decorrentes da remuneracio dos servicos prestados por outras pessoas. Em outras palavras, isso significa que qualquer empreendimento de pesquisa deve considerar os re- ‘cursos humanos, materiais e financeiros necessérios a sta efetivacao. Para fazer frente a essas necessidades, 0 pesquisador precisa elaborar um orgamento adequado. De certa forma, isso implica atribuir ao pesquisador certas fungées adminis- trativas, Pode ser que isso cause certo constrangimento a alguns pesquisadores. No entanto, a consideracao destes aspectos “extracientificos” é fundamental para que o trabalho de pesquisa nao sofra solucao de continuidade. 4 Por que elaborar um projeto de pesquisa? Como toda atividade racional e sistematica, a pesquisa exige que as agdes, desenvolvidas ao longo de seu processo sejam efetivamente planejadas. De modo geral, concebe-se o planejamento como a primeira fase da pesquisa, que envolve a formulacio do problema, a especificacio de seus objetivos, a construcao de hipé- teses, a operacionalizagao dos conceitos etc. Em virtude das implicagbes extracien- tificas da pesquisa, consideradas na seco anterior, o planejamento deve envolver, também os aspectos referentes ao tempo a ser despendido na pesquisa, bem como aos recursos humanos, materiais e financeiros necessérios a sua efetivagao. ‘A moderna concepgio de planejamento, apoiada na Teoria Geral dos Siste- mas, envolve quatro elementos necessdrios a sua compreensio: processo, eficién- cia, prazos e metas. Assim, nessa concepgao, 0 planejamento da pesquisa pode ser definido como o processo sistematizado mediante 0 qual se pode conferir maior eficiéncia & investigacao para em determinado prazo alcangar o conjunto das me- tas estabelecidas. 0 planejamento da pesquisa concretiza-se mediante a elaboragio de um pre jeto, que é 0 documento explicitador das acées a serem desenvolvidas a0 longo do processo de pesquisa. O projeto deve, portanto, especificar os objetivos da pes- quisa, apresentar a justificativa de sua realizagio, definir a modalidade de pes- quisa’e determinar os procedimentos de coleta ¢ anélise de dados. Deve, ainde, esclarecer acerca do cronograma a ser seguido no desenvolvimento da pesquisa ¢ proporcionar a indicacao dos recursos humanos, financeiros e materiais necessé- rios para assegurar 0 éxito da pesquisa. 0 projeto interessa sobretudo a0 pesquisador e a sua equipe, jé que apre- senta 0 roteira das agées a serem desenvolvidas ao longo da pesquisa. Interessa também a muitos outros agentes. Para quem contrata os servigos de pesquise, 6 projeto constitui documento fundamental, posto que esclarece acerca do que seré pesquisado e apresenta a estimativa dos custos. Quando se espera que de- terminada entidade financie uma pesquisa, 0 projeto é o documento requerido, Pois permite saber se o empreendimento se ajusta aos critérios por ela definidos, 20 mesmo tempo em que possibilita uma estimativa da relagdo custo/beneficio, Também se poderiam arrolar entre os interessados no projeto os potenciais bene. ficidrios de seus efeitos e os pesquisadores da mesma area, Alguns pesquisadores possivelmente consideram que a elaboracio de um Projeto, com relagdes minuciosas de resultados aferiveis ¢ de atividades correla fas especificas, poderd limitar a pesquisa, tormando-a um processo mais mecani zado e menos criativo, Entretanto, a elaboragio de um projeto é que possibilita, em muitos casos, esquematizar os tipos de atividades e experiéncias criativas, 1.5 Quais os elementos de um projeto de pesquisa? Nao hi, evidentemente, regras fixas acerca da elaboragdo de um projeto. Sua estrutura é determinada pelo ipo de problema a ser pesquisado e também pele estilo de seus autores. E necessario que o projeto esclareca como se processard a Pesquisa, quais as etapas que serio desenvolvidas e quais os recursos que devem Ser alocados para atingir seus objetivos. E necessério, também, que o projeto seja ‘sufcientemente detalhado para proporcionar a avaliago do processo de pesquisa, Os elementos habitualmente requeridos num projeto sio os seguintes: @) formulagao do problema; b) construcio de hipéteses ou especificagio dos objetivos; ©) identificagéo do tipo de pesquisa; 4) operacionalizacio das varidveis, ©) selegdo da amostra; 9) elaboracio dos instrumentos e determinagao da estratégia de coleta de dados; 8) determinagao do plano de andlise dos dados; 1) previsio da forma de apresentagao dos resultados; ') cronograma da execugo da pesquisa; D_ definigéo dos recursos humanos, materiais e financeiros a serem alo- cados. A elaboracio de um projeto depende de intimeros fatores; o primeiro ¢ mais importante deles refere.se & natureza do problema, Por exemplo, para uma pes. uisa que tem por objetivo verficarintengSes de voto em determinaulo momento, & elaboragio do projeto € bastante simples. Nesse caso, é possivel determinay com bastante precisdo as acbes que se fardo necessérias, bem como seus euistos, ‘34 para uma pesquisa que visa conhecer os fatores que determinamn os niveis de Participacio politica de uma populacao, a elaboracio do projeto passa a ser uma come Encaminar una Pesquisa? 5 axivdade mas compleraf até mesmo possvel que nfo sla convenient de ime elaborar um projeto. Nessas circunstaneias, o mai dein sla gndre, ou um antprojat, que ape Posarpo seta eras origem efetivamente a um projeto. : . Rigorosamente, um projet so pode ser definivamente elaborado quando se tem o problema claramente formulado, os objetivos bem determinados, como o plano de coleta e andlise dos dados. 1.6 Como esquematizar uma pesquisa? a 6 feita mediante a cons ‘omo jé foi lembrado, a elaboragio de um projeto derago dos erpas neresiias a0 desenvovimento da pesquisa, Para fetta 9 acompanhamento das aes correspondents a cada uma dessas etapa, € ws apresentagi do fuxo ds pesquisa sob forma de diagrams, conforme a Figura 1.1 convene lembrar que a ordem dssaseapas no absolutment ruts casos, € posse sinplifit-la ou modifica. En € uma dec och ‘20 pesquisador, que podera adaptar o esquema as situagoes especificas. | Fo ae yeracionalizagac Smale || “commie [Dewees | [Om 4 | moms 1 cages | Pirie [Piguet taboo dor | [Beene] [Seto me |, mame l) Pat Ly Sa “e aoa atel lene | lear ener con isin [| Seat “reas” || ates ee Figura 1.1 Diagramagdo da pesquisa. Leituras recomendadas RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. Sao Paulo: Atlas, 1999. 6 como Ebora Prjetot de Rsguse it © segundo capitulo deste livro trata do roteiro de um projeto de pesquisa Cada uma das partes da pesquisa é detalhada em capitulos especificos. Anexa, € feita a apresentacio esquemética das etapas e dos principais erros cometidos nas pesquisas. CONTRANDIOPOULOS, André-Pierre et al. Saber preparar uma pesquisa: defini- ‘so, estrutura e financiamento. Rio de Janeiro: Hucitec: Abrasco, 1994 Esse livro foi elaborado com o propésito explicito de esclarecer as etapas Pelas quais deve passar um pesquisador para elaborar um projeto de pesquisa convincente ¢ realizavel. Seu contetido envolve tanto as indicagdes do que deve conter um projeto de pesquisa quanto as nogées elementares de metodologia necessdrias a sua preparagio. Exereicios e trabalhos praticos 1. Indique a relevancia teérica e prética de uma pesquisa que tenha por objetivo investigar a predisposigio que as pessoas possam ter para sofrer acidentes no trabalho. 2. Analise em que medida as atitudes enunciadas abaixo podem ser prejudiciais a0 desenvolvimento de pesquisas cientificas: + dogmatismo; * desinteresse por problemas sociais; * impaciéncia, 3. Localize um relatério de pesquisa e identifique as fases seguidas em seu de- senvolvimento, 4. Estima-se que cerca de 95% das verbas destinadas a pesquisa nos paises de- senvolvides sao aplicados no campo das ciéncias naturais. Analise as implica- Bes sociais dessa situagéo. 5: Procure exemplos de pesquisas que possam ser classificadas como puras ou aplicadas, Problema de Pesquisa? 2 Como Formular um 2.1 O que é mesmo um problema? Conforme jé foi assinalado, toda pesquisa se inicia com algum tipo de pre: blema, ou indagagio. Todavia, a conceituacao adequada de problema de pesqu:- sa nio constitui tarefa facil, em virtude das diferentes acepgées que envolvem este termo. © Diciondrio Houaiss da Lingua Portuguesa indica os seguintes significades de problema: al 5. 6. 7 Assunto controverso, ainda nao satisfatoriamente respondido em qual- {quer campo do conhecimento, e que pode ser objeto de pesquisas cien- tificas ou discussdes académicas. Obstéculo, contratempo, dificuldade que desafia a capacidade de solu- cionar de alguém. Situagio dificil; conflte. Mau funcionamento crénico de alguma coisa que acarreta transtornos, pobreza, miséria, desgracas etc., que exigiria grande esforco e deter minagao para ser solucionado. Disturbio, disfuncdo organica ou psiquica. Pessoa, coisa ou situago incdmoda, fora de controle etc. ‘Questio levantada para inquiri¢do, consideragao, discussio ou solugao. A primeira acepgio é a que serd considerada ao longo deste livro, pois é a que mais apropriadamente caracteriza 0 problema de pesquisa cientifica Fica claro que nem todo problema é passivel de tratamento cientifico. Isso Fignifica que para se realizar uma pesquisa é necessério, em primeiro higar, vers ficar se o problema cogitado se enquadra na categoria de cientifien Como fazer isso? Para um dos mais respeitados autores no campo da metodologia das ciéncias sociais, @ maneira mais prética para entender 0 que é um problema clentifin Sommiste em considerar primeiramente aquilo que nio & (KERLINGER, 1980), Sejam 0s exemplos: (“Como fazer para melhorar os transportes urbanos?” “O que pode ser feito para melhorar a distribuicdo de renda?” “Como aumentar a produtividade no Eabalho?” Nenhum destes constitu rigorosamente um problema cientfico, pore Sob a forma em que sdo propostos, ndo possibilitam a investigagao segude os ‘métodos préprios da ciéncia Estes problemas sio designados por Kerlinger como problemas de “engenha- “ia” pois referem-se a como fazer algo de maneira eficiente. A eiéncia pode fon, (y) preconeeito racial ©) associagdo entre uma propriedade e uma disposicio. Essas proprieda: des podem ser constituidas por sexo, idade, naturalidade, cor da pele, religido etc. Por exemplo: "Catolicos tendem a ser menos favordveis a0 divorcio que os protestantes. Resposta: > (y) favorabilidade ao divércio Propriedade: religiao (x) 20 como EeborarPojor de Pesquen + il 4) associagdo entre pré-requisito indispensdvel e um efeito. Por exemplo: “O capitalismo s6 se desenvolve quando existem trabalhadores livres.” Pré-requisito: Efeito: existéncia de trabalhadores livres (6) ———— desenvolvimento do > (y) capitalismo €) relagéo imanente entre duas variaveis. Por exemplo: “Verifica-se a exis- téncia de relagio entre urbanizagio e secularizagio.” Nao se afirma que uma variavel causa outra, mas que a secularizacao é imanente & urbani- zaco. A medida que as cidades crescem e desenvolvem estilos urbanos de vida, as explicagdes religiosas cedem lugar a explicagées racionais. urbanizagéo (x) —______-+ secularizagao (y) )relagio entre meios ¢ fins. Por exemplo: “O aproveitamento dos alunos estd relacionado ao tempo dedicado ao estudo.” tempo dedicado a0 estudo (x) —————— aproveitamento —+ (y) dos alunos RelagSes deste tipo so tratadas criticamente por muitos autores por apresen- tarem caréter finalista, o que dificulta a verificagao empirica 3.3 Como chegar a uma hipétese? 0 processo de elaboracao de hipétese é de natureza criativa. Por essa razio é frequentemente associado a certa qualidade de “génio”, De fato, a elaboracio de certas hipdteses pode exigir que génios como Galileu ou Newton as proclamem. ‘Todavia, em boa parte dos casos a qualidade mais requerida do pesquisador é a ‘experiéncia na drea. Nao é possivel, no entanto, determinar regras para a elabo- ragio de hipéteses. Nesse sentido, cabe lembrar 0 que escreveu De Morgan hi ‘ais de um século: “Uma hipétese ndo se obtém por meio de regras, mas gracas a essa sagacidade impossivel de descrever, precisamente porque quem a possui néo segue, a0 agit, leis perceptiveis para eles mesmos.” (Apud TRUJILLO FERRARI, 1982, p. 131.) A andlise da literatura referente & descoberta cientifica mostra que as hipste- ses surgem de diversas fontes. Serao consideradas aqui as principai 3.3.1 Observagdo Este é 0 procedimento fundamental na construgio de hipéteses. O estabe- lecimento assistematico de relagdes entre os fatos no dia a dia é que fornece os Come Consrair ipétesee?- 21 indicios para a solugio dos problemas propostos pela ciéncia. Alguns estudos valem-se exclusivamente de hip6teses desta origem. Todavia, por si s6s, essas hipdteses tém poucas probabilidades de conduzir a um conhecimento suficiente- mente geral e explicativo. 3.3.2 Resultados de outras pesquisas ‘As hipéteses elaboradas com base nos resultados de outras investigagbes ge- ralmente conduzem a conhecimentos mais amplos que aquelas decorrentes da simples observagéo. A medida que uma hipétese se baseia em estudos anteriores ¢ 0 estudo em que se insere a confirma, o resultado auxilia na demonstracio de que a relacio se repete regularmente. Por exemplo, se uma pesquisa realizada nos Estados Unidos confirma que empregados de nivel elevado siio menos mo- tivados por saldrios que por desafios, e pesquisa posterior a confirma no Brasil, esses resultados passam a gozar de significativo grau de confiabilidade. 3.3.3 Teorias AAs hipéteses derivadas de teorias so as mais interessantes no sentido de que proporcionam ligacio clara com 0 conjunto mais amplo de conhecimentos das ciéncias. Todavia, nem sempre isso se torna possivel, visto muitos campos da ciéncia carecerem de teorias suficientemente esclarecedoras da realidade. 3.3.4 Intuigéo Também ha hipéteses derivadas de simples palpites ou de intuigées. A his- tdria da ciéncia registra varios casos de hipéteses desse tipo que conduziram a importantes descobertas. Como, porém, as intuicées, por sua prépria natureza, no deixam claro as raz6es que as determinaram, torna-se dificil avaliar a priori a qualidade dessas hipoteses. 3.4 Caracteristicas da hipétese aplicdvel [Nem todas as hipéteses sio testaveis. Com frequéncia, os pesquisadores ela- boram extensa relacio de hipéteses e depois de detida andlise descartam a maior parte delas. Para que uma hipétese possa ser considerada logicamtente accitavel, deve apresentar determinadas caracteristicas. A seguir, sio considerados alguns requisitos, baseados principalmente em Goode e Hatt (1969) e McGuigan (1976), mediante 0s quais se torna possivel decidir acerca da testabilidade das hipéteses: 22 coma Elbarr Projets de Peeguise » Git 3.4.1 Deve ser conceitualmente clara s conceitos contidos na hipétese, particularmente os referentes a varidveis, precisam estar claramente definidos. Devem-se preferir as definicdes operacionais, isto €, aquelas que indicam as operacGes particulares que possibilitam o esclareci mento do conceito. Por exemplo, uma hipétese pode-se referir ao nivel de rel sidade, que sera definido operacionalmente pela frequéncia aos cultos reli 3.4.2 Deve ser especifica Muitas hipéteses so conceitualmente claras, mas so expressas em termos tio gerais, e com objetivo tao pretensioso, que ndo podem ser verificadas. Por exemplo, o conceito da status é claro; entretanto, nao existe atualmente definicéo ‘operacional capaz de determinar satisfatoriamente a posigao dos individuos na sociedade, Por essa razdo, séo preferiveis as hipdteses que especificam 0 que de fato se pretende verificar. Poderé mesmo ser 0 caso de dividir a hipétese ampla em sub-hipéteses mais precisas, referindo-se & remuneracdo, & ocupacao, ao nivel educacional etc. 3.4.3 Deve ter referéncias emptricas As hipéteses que envolvem julgamentos de valor no podem ser adequada. mente testadas. Palavras como bom, mau, deve e deveria nao conduzem a verifica gio empirica e devem ser evitadas na construgao de hipdteses. A afirmacao “Maus alunos ndo devem ingressar em faculdades de medicina” pode ser tomada como exemplo de hipétese que nio pode ser testada empiricamente. Poderia ser 0 caso de se apresenté-la sob a forma “Alunos com baixo nivel de aproveitamento escolar apresentam maiores dificuldades para o exercicio da profissio de médico”. Neste caso, a hipétese envolve conceitos que podem ser verificados pela observacio. 3.4.4 Deve ser parcimoniosa Uma hipétese simples ¢ sempre preferivel a uma mais complexa, desde que tenha o mesmo poder explicativo. A lei de Lloyd Morgan constitui importante guia para a aplicagao do principio da parciménia a pesquisa psicolégica: “Nenhuma atividade mental deve ser interpretada, em termos de processos psicolégicos mais altos, se puder ser razoavelmente interpretada por proces- 505 mais baixos na escala de evolugio e desenvolvimento psicolégico” (citado por MCGUIGAN, 1976, p. $3). Um exemplo esclarece esse requisito, Se uma pessoa adivinhou corretamente o simbolo de um niimero maior de cartas do que seria provavel casualmente, pode-se levantar uma série de hipéteses para explicar 0 co Conte Hipttses? 23 fenémeno, Uma delas poderia considerar a percepgio extrassensorial e outra que © sujeito espiou de alguma forma. E Iégico que a tiltima é a mais parcimoniosa e deve ser a preferida, pelo menos num primeiro momento da investigacao. 3.4.5 Deve estar relacionada com as técnicas disponiveis ‘Nem sempre uma hipétese teoricamente bem elaborada pode ser testada em: piricamente, E necessério que haja técnicas adequadas para a coleta dos dados exigidos para seu teste. Por essa razio, recomenda-se aos pesquisadores 0 exame de relatérios de pesquisa sobre o assunto a ser investigado, com vistas ao conhe- cimento das técnicas utilizadas. Quando no forem encontradas técnicas ade- uadas para o teste das hipéteses, o mais conveniente passa a ser a realizagio de estudos voltados para a descoberta de novas técnicas. Ou, entao, a reformulagao da hipétese com vistas a seu ajustamento as técnicas disponiveis. 3.4.6 Deve estar relacionada com uma teoria Em muitas pesquisas sociais, este critério nao & considerado. Entretanto, as hipéteses elaboradas sem qualquer vinculagdo as teorias existentes nao possi bilitam a generalizagao de seus resultados. Goode e Hatt (1969, p. 63) citam ¢ cexemplo das hipéteses que relacionam raga e nfvel intelectual, que foram testa- das nos Estados Unidos no periodo compreendido entre as duas guerras mun- diais. Mediante a aplicagao de testes de nivel intelectual, verificou-se que filhos de imigrantes italianos e negros apresentavam nivel intelectual mais baixo que 0 americanos de origem anglo-sax6nica. Essas hip6teses, porém, embora confi madas, so bastante criticas quanto a sua generalidade. Ha teorias sugerindo que a estrutura intelectual da mente humana € determinada pela estrutura da socie dade. Com base nessas teorias foram elaboradas varias hipoteses relacionando 6 nivel intelectual as experiéncias por que passaram os individuos. Essas hipdteses foram confirmadas e, por se vincularem a um sistema tedrico consistente, pos: suem maior poder de explicagao que as anteriores. 3.5 As hipdteses so necessdrias em todas as pesquisas? Rigorosamente, todo procedimento de coleta de dados depende da formula: fo prévia de uma hipétese. Ocorre que em muitas pesquisas as hipdteses nao so explicitas, Todavia, nesses casos, é possivel determinar as hipéteses subjacentes, ‘mediante a andlise dos instrumentos adotados para a coleta dos dados. Seja o caso de uma pesquisa em que tenha sido formulada a seguinte ques: ‘tao: “Onde vocé compra suas roupas?” Esta implicita a hiptese de que a pessoz ‘compra suas roupas, no as confeccionando em sua prépria casa 24 come tabear Poets de Pesquisa * Git Seja 0 caso de outra pesquisa em que apareca a seguiinte questo, com as. possiveis alternativas “Em que drea da psicologia vocé pretende atuar?” Clinica oO Escolar oO Organizacional —( ) Outra oO Estd implicita a hipdtese de que entre todas as éreas possiveis, clinica, escolar € organizacional correspondem maioria das escolhas. ‘Assim, em algumas pesquisas, as hipéteses so implicitas e em outras sto formalmente expressas. Geralmente, naqueles estudos em que o objetivo ¢ o de descrever determinado fenémeno ou as caracteristicas de um grupo, as hipéteses no so enunciadas formalmente. Nesses casos, as hipéteses envolvem uma tinica varidvel e 0 mais frequente é indicd-la no enunciado dos objetivos da pesquisa, J4 naquelas pesquisas que tém como objetivo verificar relagdes de associacio ou dependéncia entre varidveis, o enunciado claro e preciso das hipdteses cons. titui requisito fundamental. Leitura recomendada Como construir hipdteses LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade, Merodologia cientifica. 5, ed. Sao Paulo: Atlas, 2007. © Capitulo 4 desse livro trata da importéncia e da fungdo das hipéteses na pesquisa, esclarece acerca de suas principais modalidades e das caracteristicas das hipéteses bem construidas. Exercicios e trabalhos praticos 1. Analise o significado do termo hipétese a partir de sua etimologia, Hipdtese deriva dos étimos gregos hipo (posigao inferior) e thesis (proposi¢ao). 2. Formule 10 hipéteses que envolvam relagées entre varidveis. A seguir, class fique essas relagdes segundo sejam simétricas, assimeétricas ou reciprocas. 3. Entre as hipéteses formuladas, relacione as que envolvem relagées assim£uri- cas e classifique-as de acordo com o tipo de relacao. 4. Verifique se essas hipdteses so aplicdveis, de acordo com os requisitos consi derados neste capitulo. ' t | 4 Como Classificar | as Pesquisas? Como as pesquisas se referem aos mais diversos objetos e perseguem obje tivos muito diferentes, é natural que se busque classificd-las. Assim, no presente capitulo procede-se & apresentagao de diferentes critérios para classificagao das pesquisas. Em seguida, faz-se a apresentagio sintética dos principais delineamen- tos de pesquisa adotados tanto no campo das ciéncias fisicas e biolégicas quanto no das ciéncias humanas e naturais. 4.1 Que critérios podem ser adotados para classificar as pesquisas A tendéncia & classificagdo & uma caracteristica da racionalidade humana. Ela possibilita melhor organizagio dos fatos e consequentemente o seu entendi- mento, Assim, clssficar as pesquisas toma-se uma atividade importante. A me- dida que se dispde de um sistema de classificagao, torna-se possivel reconhecer as semethangas e dferencas entre as diversas modalidades de pesquisa, Dessa forma, o pesquisador passa a dispor de mais elementos para decidir acerca de sua aplicabilidade na solugdo dos problemas propostos para investigacao. isa é ai a necessidade Cada pesquisa é naturalmente diferente de qualquer outra. D: de previsio e provisio de recursos de acordo com a sua especificidade. Mas quan- do o pesquisador consegue rotular seu projeto de pesquisa de acordo com um sistema de classificagao, torna-se capaz de conferir maior racionalidade as etapas requeridas para sua execugdo. O que pode significar a realizagao da pesquisa em tempo mais curto, a maximizagio da utilizagio de recursos e certamente a obten- ‘gdo de resultados mais satisfatdrios. i le difer . Mas para que ‘As pesquisas podem ser classificadas de diferentes maneiras. esta classificagao seja coerente, é necessdrio definir previamente o critério ado- 26 como Habeas Projets de Peequi + Gi tado para classificagio. Assim, é possivel estabelecer miiltiplos sistemas de clas- sificagio e defini-las segundo a area de conhecimento, a finalidade, o nivel de explicagéo e os métodos adotados. 4.1.1 Como classificar as pesquisas segundo a drea de conhecimento ‘As pesquisas podem ser classificadas segundo a érea de conhecimento, Trata- se de um sistema importante pata definicdo de politicas de pesquisa e concessio de financiamento, Por essa razéo é que em nivel nacional adota-se a classificagao elaborada pelo Consetho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnolégico (CNPq), que ¢ a principal agéncia destinada ao fomento da pesquisa cientifica e tecnol6gica e a formagio de recursos humanos para a pesquisa no pals. © CNPq classifica as pesquisas em sete grandes dreas: 1. Ciéncias Exatas e da ‘Terra; 2. Gigncias Biolégicas; 3. Engenharias; 4, Ciéncias da Satide; 5. Ciéncias Agrérias; 6. Ciéncias Sociais Aplicadas; e 7. Ciéncias Humanas. Essas grandes reas séo subdivididas em areas, que correspondem a conjuntos de conhecimentos inter-telacionados, reunidos segundo a natureza dos objetos de investigacdo com finalidades de ensino, pesquisa e aplicagées préticas. Cada uma dessas dreas, por sua ver, é subdividida em subéireas, que so estabelecidas em funcao dos objetos de estudo e dos procedimentos metodoldgicos. Essas subéreas, por fim, so subdividi- das em especialidades, que correspondem a caracterizagao temitica das atividades de pesquisa e ensino. 4.1.2 Como classificar as pesquisas segundo sua finalidade ‘Uma das maneiras mais tradicionais de classificagéo das pesquisas é a que estabelece duas grandes categorias. A primeira, denominada pesquisa bésica, retine estudos que tem como propésito preencher uma lacuna no conhecimento, A segunda, denominada pesquisa aplicada, abrange estudos elaborados com a finalidade de resolver problemas identificados no Ambito das sociedades em que (8 pesquisadores vivem. Embora as duas categorias correspondam a pesquisas que t8m propésitos muito diferentes, nada impede que pesquisas bésicas sejam utilizadas com a nalidade de contribuir para a solugao de problemas de ordem pratica. Da mesma forma, pesquisas aplicadas podem contribuir para a ampliagdo do conhecimento ientifico e sugerir novas questées a serem investigadas. A notével ampliagio da quantidade de pesquisas, tanto bésicas quanto a apl- cadas, bem como sua interdependéncia, vem sugerindo novos sistemas de clas- sificagio. Um desses sistemas é o proposto pela Adelaide University (2008), que define as categorias: es ‘como clasiiar a Pesguss? 27 Pesquisa bésica pura. Pesquisas destinadas unicamente & ampliagio do conhecimento, sem qualquer preocupacio com seus possiveis beneficios. Pesquisa bisica estratégica. Pesquisas voltadas & aquisigio de novos co- ‘hecimentos direcionados a amplas areas com vistas & solugao de reconhe- cidos problemas préticos. Pesquisa aplicada. Pesquisas voltadas & aquisigio de conhecimentos com vistas & aplicagdo numa situago especifica, Desenvolvimento experimental. Trabalho sistemético, que utiliza conhe- cimentos derivados da pesquisa ou experiéncia pritica com vistas & produ. gfo de novos materiais, equipamentos, politicas ¢ comportamentos, ou & instalagio ou melhoria de novos sistemas e servicos. 4.1.3 Como classificar as pesquisas segundo seus objetivos mais gerais ‘Toda pesquisa tem seus objetivos, que tender, naturalmente, a ser diferen- tes dos objetivos de qualquer outra. No entanto, em relagao aos objetivos mai gerais, ou propésitos, as pesquisas podem ser classificadas em exploratorias, des- critivas e explicativas. ‘As pesquisas exploratérias tém como propésito proporcionar maior fami: liaridade com o problema, com vistas a torné-lo mais explicito ou a construir hi- péteses. Seu planejamento tende a ser bastante flexivel, pois interessa considerar (05 mais variados aspectos relativos ao fato ou fendmeno estudado. A coleta de dados pode ocorrer de diversas maneiras, mas geralmente envolve: 1. levanta- ‘mento bibliogréfico; 2. entrevistas com pessoas que tiveram experiéncia prética ‘com 0 assunto; e 3. andlise de exemplos que estimulem a compreensdo (SELLTIZ et al., 1967, p. 63). Em virtude dessa flexibilidade, torna-se dificil, na maioria dos casos, “rotular” os estudos exploratérios, mas ¢ possivel identificar pesquisas bibliogréficas, estudos de caso e mesmo levantamentos de campo que podem ser considerados estudos exploratérios. Pode-se afirmar que a maioria das pesquisas realizadas com propésitos aca- démicos, pelo menos num primeiro momento, assume o carter de pesquisa ex- ploratéria, pois neste momento pouco provavel que o pesquisador tenha uma definigdo clara do que iré investigar. ‘As pesquisas descritivas tém como objetivo a descrigio das caracteristicas de determinada populagéo. Podem ser elaboradas também com a finalidade de identificar possiveis relagdes entre varidveis. Sao em grande niimero as pesquisas ‘que podem ser classificadas como deseritivas ¢ a maioria das que sia realizadas ‘com objetivos profissionais provavelmente se enquadra nesta categoria. Entre as pesquisas descritivas, salientam-se aquelas que tém por objetivo es- tudar as caracteristicas de um grupo: sua distribuigdo por idade, sexo, procedén- 28 Com Flbora Projetae de Pesquise = Gl cia, nivel de escolaridade, estado de satide fisica e mental etc. Outras pesquisas deste tipo so as que se propdem a estudar o nivel de atendimento dos érgos puiblicos de uma comunidade, as condigées de habitagdo de seus habitantes, 0 indice de criminalidade que af se registra etc. Sao incluidas neste grupo as pes- 4quisas que tém por objetivo levantar as opinies, attudes e crengas de uma popu- lagio. Também sio pesquisas descritivas aquelas que visam descobrir a existéncia de associacées entre variaveis, como, por exemplo, as pesquisas eleitorais que indicam a relagdo entre preferéncia politico-partidétia e nivel de rendimentos ou de escolaridade. Algumas pesquisas descritivas vao além da simples identificagao da existén- cia de relacées entre varidveis, e pretendem determinar a natureza dessa relacao, Nesse caso, tem-se uma pesquisa descritiva que se aproxima da explicativa. Hé, porém, pesquisas que, embora definidas como descritivas com base em seus ob: Jetivos, acabam servindo mais para proporcionar uma nova visao do problema, 0 que as aproxima das pesquisas exploratérias. As pesquisas explicativas tém como propésito identificar fatores que deter- minam ou contribuem para a ocorréncia de fendmenos. Estas pesquisas so as que ‘mais aprofundam 0 conhecimento da realidade, pois t€m como finalidade explicar 4 azo, 0 porqué das coisas. Por isso mesmo, constitui o tipo mais complexo ¢ delicado de pesquisa, jé que o risco de cometer erros eleva-se consideravelmente. Pode-se dizer que 0 conhecimento cientifico est assentado nos resultados oferecidos pelos estudos explicativos, 1ss0 nao significa, porém, que as pesquisas exploratérias e descritivas tenhham menos valor, porque quase sempre constituem etapa prévia indispensdvel para que se possam obter explicagées cientificas. Uma pesquisa explicativa pode ser a continuagao de outra descritiva, posto que a iden- tificagio dos fatores que determinam um fendmeno exige que este esteja suficien- temente descrito e detalhado, As pesquisas explicativas nas ciéncias naturais valem-se quase exclusiva- mente do método experimental. Nas ciéncias sociais, a aplicagdo deste método reveste-se de muitas dificuldades, razdo pela qual se recorre também a outros métodos, sobretudo ao observacional. Nem sempre se torna possivel a realizacdo de pesquisas rigidamente explicativas em ciéncias sociais, mas em algumas reas, sobretudo da psicologia, as pesquisas revestem-se de elevado grau de controle, chegando mesmo a ser chamadas “quase experimentais". 4.1.4 Como classificar as pesquisas segundo os métodos empregados Para que se possa avaliar a qualidade dos resultados de uma pesquisa, torna- s¢ necessério saber como 0s dados foram obtidos, bem como os procedimentos adotados em sua andlise e interpretagao. Dai o surgimento de sistemas que clas- Come casar as Pxqusa? 29 sificam as pesquisas segundo a natureza dos dados (pesquisa quantitativa e qua- litativa), o ambiente em que estes so coletados (pesquisa de campo ou de labo- ratério), o grau de controle das varidveis (experimental e nao experimental) et. Os ambientes em que ocorre a pesquisa sio muito diversificados. Também io muito diversos os métodos e técnicas utilizados para coleta e andlise dos da- dos. Algm disso, ha diferentes enfoques adotados em sua andlise e interpretacio. © que faz com que se torne muito dificil 0 estabelecimento de um sistema de classificago que considere todos esses elementos. Por isso, torma-se interessante classificd-las segundo o seu delineamento, Por delineamento (design, em inglés) entende-se o planejamento da pesquisa em sua dimensao mais ampla, que envolve os fundamentos metodolégicos, a definigao dos objetivos, o ambiente da pesquisa e a determinacio das téenicas de coleta ¢ andlise de dados. Assim, 0 delineamento da pesquisa expressa tanto a ideia de modelo quanto a de plano. Podem ser identificados muitos detineamentos de pesquisa. Como na defi- igo dos delineamentos so considerados muitos elementos, nenhum sistema de classificacao pode ser considerado exaustivo, pois é provavel que se encontre alguma pesquisa que ndo se enquadre em qualquer das categorias propostas. ‘Também nio se pode garantir que as pesquisas possam ser enquadradas numa \inica modalidade, © sistema aqui adotado leva em consideragéo o ambiente de pesquisa, a abordagem tedrica e as técnicas de coleta e analise de dados. Assim, definem-se 6 seguintes delincamentos de pesquisa: 1. pesquisa bibliografica; 2. pesquisa documental; 3. pesquisa experimental; 4. ensaio clinico; 5. estudo caso-contro- le; 6. estudo de coorte; 7. levantamento de campo (survey); 8. estudo de caso; 9. pesquisa etnogréfica; 10. pesquisa fenomenolégica; 11. teoria fundamentada nos dados (grounded theory); 12. pesquisa-a¢io; e 13. pesquisa participante 4.2. Que é pesquisa bibliogréfica? A pesquisa bibliografica ¢ elaborada com base em material ja publicado. Tra dicionalmente, esta modalidade de pesquisa inclui material impresso, como li vros, revistas, jornais, teses, dissertagdes e anais de eventos cientificos. Todavia, em virtude da disseminacio de novos formatos de informacao, estas pesquisas passaram a indluir outros tipos de fontes, como discos, fitas magnéticas, CDs, bem como material disponibilizado pela Internet. Praticamente toda pesquisa académica requer em algum momento a realiza gio de trabalho que pode ser caracterizado como pesquisa bibliogréfica. Tanto é que, na maioria das teses e dissertagdes desenvolvidas atualmente, um capitulo 0u seco é dedicado & revisio bibliogréfica, que ¢ elaborada com o propésito de 30 Como HiaborarFrojtos de esgies + Git fornecer fundamentacio tedrica ao trabalho, bem como a identificagao do esté- gio atual do conhecimento referente ao tema, Em algumas dreas do conhecimento, a maioria das pesquisas é realizada com base principalmente em material obtido em fontes bibliogréficas. Eo caso, por exemplo, das pesquisas no campo do Direito, da Filosofia e da Literatura. Tam- bbém séo elaboradas principalmente com base em material jé publicado, as pes- quisas referentes ao pensamento de determinado autor e as que se propdem a analisar posigées diversas em relagio a determinado assunto. A principal vantagem da pesquisa bibliogréfica reside no fato de permitir a0 investigador a cobertura de uma gama de fendmenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente, Essa vantagem torna-se particular- mente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaco, Por exemplo, seria impossivel a um pesquisador percorrer todo o ter- Fit6rio brasileiro em busca de dados sobre populacao ou renda per capita; todavia, se tem a sua disposicéo uma bibliografia adequada, nfo terd maiores obstaculos para contar com as informagdes requeridas. A pesquisa bibliogréfica também & indispensdvel nos estudos histricos. Em muitas situagdes, néo hé outra maneira de conhecer 0s fatos passados se nao com base em dados bibliograficos. Essas vantagens da pesquisa bibliogréfica tém, no entanto, uma contrapar- ‘ida que pode comprometer em muito a qualidade da pesquisa, Muitas vezes, as fontes secundérias apresentam dados coletados ou processados de forma equi- vocada. Assim, um trabalho fundamentado nessas fontes tenderé a reptoduzir ‘ou mesmo a ampliar esses ertos. Para reduzir essa possibilidade, convém aos pesquisadores assegurarem-se das condigdes em que os dados foram obtidos, analisar em profundidade cada informacao para descobrit possiveis incoeréncias ou contradigées e utilizar fontes diversas, cotejando-as cuidadosamente. 4.3 Que é pesquisa documental? A pesquisa documental é utilizada em praticamente todas as ciéncias sociais € constitui um dos delineamentos mais importantes no campo da Historia e da Economia, Como delineamento, apresenta muitos pontos de semelhanca com a pesquisa bibliogrdfica, posto que nas duas modalidades wtlizam-se dados jé exis- tentes. A principal diferenga est na natureza das fontes, A pesquisa bibliogratica fundamenta-se em material elaborado por autores com o propésito especifico de ser lido por piblicos especificos. J& a pesquisa documental vale-se de toda suite de documentos, elaborados com finalidades diversas, rais como assentamento, autorizagio, comunicagao ete. Mas ha fontes que ora sto consideradas bibliogré- ficas, ora documentais. Por exemplo, relatos de pesquisas, relatorios e boletins } { como Case as Pesquisas? 31 ¢ jornais de empresas, atos juridicos, compilagdes estatisticas etc. O que geral- ‘mente se recomenda ¢ que seja considerada fonte documental quando o material consultado ¢ interno & organizagio, e fonte bibliogréfica quando for obtido em bibliotecas ou bases de dados. ‘A modalidade mais comum de documento € a constituida por um texto escrito em papel, mas esto se tornando cada vez mais frequentes os docu: mentos eletrénicos, disponiveis sob os mais diversos formatos. O conceito de documento, por sua vez, é bastante amplo, j4 que este pode ser constituido por «qualquer objeto capaz de comprovar algum fato ou acontecimento. Assim, para uum arqueélogo, um fragmento de cerdmica pode ser reconhecido como um im: portante documento para o estudo da cultura de povos antigos. Inscrigdes em paredes, por sua vez, podem ser consideradas como documentos em pesquisas no campo da comunicagao social. Dentre os mais utilizados nas pesquisas esto: 1. documentos institucio nais, mantidos em arquivos de empresas, érgdos piiblicos e outras organizagées; 2, documentos pessoais, como cartas e didrios; 3. material elaborado para fins de divulgacio, como folders, catélogos e convites; 4. documentos juridicos, come certidées, escrituras, testamentos e inventérios; 5. documentos iconograficos como Fotografias, quadros e imagens; e 6. registros estatisticos, 4.4 Que é pesquisa experimental? © esquema basico da experimentagao pode ser assim descrito: seja Z 0 fe némeno estudado, que em condigdes nao experimentais se apresenta perante 0s fatores A, B, Ce D. A primeira prova consiste em controlar cada um desses fato- res, anulando sua influéncia, para observar 0 que ocorre com os restantes. Seja produzem Z no produzem Z produzem Z Dos resultados dessas provas, pode-se inferir que C é condigéo para a pro: dugo de Z. Se for comprovado ainda que unicamente com 0 fator C, excluindo- se os demais, Z também ocorte, pode-se também afirmar que C € condigéo ne- cessdria e suficiente para a ocorréncia de Z, ou, em outras palavras, que € sua causa, Claro que o exemplo aqui citado é extremamente simples, pois na pratica verificam-se condicionamentos dos mais diferentes tipos, 0 que exige trabalho bastante intenso, tanto para controlar a quantidade de varidveis envolvidas quan- to para mensuré-las. 82 Come Eaboar Projets de Pesquisa * Gi Quando os objetos em estudo sdo entidades fisicas, tais como porgdes de iquidos, bactérias ou ratos, ndo se identificam grandes limitagdes quanto a pos- sibilidade de experimentagio. Quando, porém, se trata de experimentar com ob- jetos sociais, ou seja, com pessoas, grupos ou instituigdes, as limitacdes tornam-se bbem evidentes. A complexidade do ser humano, sua historicidade e, sobretudo, implicagées éticas dificultam a realizacao de pesquisas experimentais nas cién- cias humanas. Constata-se, no entanto, a utilizaco cada vez. mais frequente de experimentos com seres humanos no ambito da Psicologia (por exemplo: estudos sobre aprendizagem), da Psicologia Social (por exemplo: mensuragdo de atitu- des, comportamento de pequenos grupos, efeitos da propaganda ete.) e da Socio- logia do Trabalho (por exemplo: influéncia de fatores sociais na produtividade). A pesquisa experimental constitui o delineamento mais prestigiado nos meios cientificos. Consiste essencialmente em determinar um objeto de estudo, selecio- nar as varidvels capazes de influencié-lo e definir as formas de controle e de ob- servagio dos efeitos que a variavel produz no objeto. Trata-se, portanto, de uma pesquisa em que o pesquisador & um agente ativo, e nao um observador passivo. A pesquisa experimental, a0 contrério do que faz supor a concepgao popular, indo precisa necessariamente ser realizada em laboratério. Pode ser desenvolvida em qualquer lugar, desde que apresente as seguintes propriedades: a) manipulagdo: 0 pesquisador precisa fazer alguma coisa para manipu- lar pelo menos uma das caracteristicas dos elementos estudados; b) controle: o pesquisador precisa introduzir um ou mais controles na situagdo experimental, sobretudo criando um grupo de controle; ©) distribuigéo aleatéria: a designacdo dos elementos para participar dos grupos experimentais e de controle deve ser feita aleatoriamente. Em muitas pesquisas, procede-se & manipulago de uma varidvel indepen- dente, Nem sempre, porém, verifica-se 0 pleno controle da aplicacio dos est: ‘miulos experimentais ou a distribuicdo aleat6ria dos elementos que compdem os ‘grupos. Nesses casos, ndo se tem rigorosamente uma pesquisa experimental, mas ‘quase-experimental (CAMPBELL; STANLEY, 1979). Por exemplo, em populagdes grandes, como as de cidades, indiistrias, escolas e quartéis, nem sempre se torna ossivel selecionar aleatoriamente subgrupos para tratamentos experimentais diferenciais, mas torna-se possfvel exercer, por exemplo, o completo controle experimental sobre esses subgrupos. Esses delineamentos quase-experimentais séo substancialmente mais fracos, porque sem a distribuigao aleatéria nao se pode garantir que os grupos experimentais e de controle sejam iguais no inicio do estuido. Nao sao, no entanto, destituidos de valor. O importante nestes casos 6 que 0 pesquisador apresente seus resultados esclaecendo 0 que seu estudo leixou de controlar. Come Cates ar Pxgutar? 33 Hi, ainda, pesquisas que, embora algumas vezes designadas como experi- tmeatais, nfo podem, a rigor ser consideradas como tal. o caso dos estos que envolvem um tinico caso, sem controle, ou que aplicam pré-teste e pés-teste 4 um tinico grupo. Essas pesquisas apresentam muitas fraquezas e melhor serd caracterizé-las como pré-experimentais (CAMPBELL; STANLEY, 1979). 4.5 Que € ensaio clinico? 0s ensaios clinicos constituem um tipo de pesquisa em que o investigador apl a um tratamento ~ denominado intervengao — e observa os seus efeitos sobre um desfecho. Seu objetivo fundamental ¢ 0 de responder quest6es referentes &eficécia de novas drogas ou tratamentos. So estudos de cardter experimental ou quase- experimental, realizados com pessoas que deles participam voluntariamente. Em sua forma mais simples, 0s ensaios clinicos utilizam dois grupos idénticos de pacientes: 0 grupo experimental ou de estudo e 0 grupo controle. No primeire avalia-se o efeito de um novo tratamento. O grupo controle recebe 0 tratamente convencional ou o placebo. O placebo é um medicamento de aparéncia idéntica a0 administrado no grupo experimental, com a diferenga de que nao contém ¢ principio ativo, sendo, portanto, inécuo. Assim, estuda-se 0 efeito de um nove tratamento comparado ao de outro jé conhecido ou 0 efeito de uma nova droge contra 0 efeito do placebo. © ensaio clinico é 0 delineamento adotado no campo da satide que mais se assemelha ao plano experimental cléssico e, por isso, & reconhecido como o mais poderoso de todos os métodos utilizados para avaliar a eficacia de um tratamen to, seja ele efetivado por farmacos, por cirurgia ou por qualquer outro tipo de intervengio. Com efeito, quando conduzidos cuidadosamente, os ensaios clinicos apresentam uma chance de conduuzir a um resultado mais seguro em comparacio a outros tipos de pesquisa. Os ensaios clinicos so utilizados principalmente para verificar a eficdcia de tratamentos e de medicamentos. Mas podem ser usados também na avaliacio de cuidados com a satide. Assim, Crombie (1996) relata a utilizagao de ensaios clinicos para avaliar a contribuigao de servicos psicossociais na reabilitagéo de usuarios de drogas, 0 papel de agentes de satide na prevengio de fraturas em pessoas idosas, os efeitos de exercicios aerdbicos no volume de leite produzido por mulheres lactantes e a eficécia dos cuidados geridtricos na reabilitagéo de pacientes com fraturas 4.6 Que é estudo de coorte? O estudo de coorte refere-se a um grupo de pessoas que tém alguma caracte: ristica comum, constituindo uma amostra a ser acompanhada por certo periodo 34 Como Eatorar Projeos de Pesquse » Gi de tempo, para se observar e analisar o que acontece com elas. Assim como 0 estudo de caso-controle, é muito utilizado na pesquisa nas ciéncias da satide. Os estudos de coorte podem ser prospectivos (contemporéneos) ou retros- pectivos (histéricos). © estudo de coorte prospectivo é elaborado no presente, com previséo de acompanhamento determinado, segundo o objeto de estudo. Sua principal vantagem é a de propiciar um planejamento rigoroso, o que Ihe confere um rigor cientifico que o aproxima do delineamento experimental. 0 es- tudo de corte retrospectivo é elaborado com base em registros do passado com seguimento até o presente. $6 se torna vidvel quando se dispée de arquivos com protocolos completos e organizados. Suponha-se uma pesquisa que tem como objetivo verificar a exposico pas- siva & fumaga de cigarro e a incidéncia de cancer no pulmao. Basicamente, a pesquisa comeca pela selego de uma amostra de individuos expostos ao fator de risco e de outra amostra equivalente de no expostos. ‘A primeira amostra equivale ao grupo experimental e a segunda ao grupo de controle. A seguir, faz-se 0 seguimento de ambos os grupos e, apés determinado periodo, verifica-se 0 quanto os individuos expostos estao mais sujeitos a doenca do que os nao expostos. A despeito do amplo reconhecimento pela comunidade cientifica, os estudos de coorte apresentam diversas limitacdes. Uma das mais importantes refere-se & no utilizagao do critério de aleatoriedade na formagio dos grupos de participan- tes. Outra limitacdo refere-se & exigéncia de uma amostra muito grande, 0 que faz.com que a pesquisa se torne muito onerosa. 4.7 Que é estudo caso-controle? Diferentemente dos estudos de coorte dos ensaios clinicos, os estudos de caso-controle sao retrospectivos. So estudos ex-post facto, ou seja, feitos de tras para frente, depois que os fatos ocorreram. Ou, em outras palavras: partem do consequente (a doenga) para 0 antecedente (a exposicio ao fator de risco). A principal diferenga em relagdo aos ensaios clinicos é que nos estudos caso-contro- Je 0 pesquisador nao dispée de controle sobre a varidvel independente, que cons- titui o fator presumnivel do fendmeno, porque ele ja ocorreu. O que o pesquisador procura fazer nesse tipo de pesquisa ¢ identificar situagdes que se desenvolveram naturalmente e trabalhar sobre elas como se estivessem submetidas a controles. Nesses estudos comparam-se individuos que apresentam o desfecho espera- do com individuos que néo © apresentam. Tem-se, pois, a comparagao entie dusts amostras: a primeira, constitufda de uma determinada casufstica - casos ~ e a se- ‘gunda, selecionada a partir da primeira, semelhante a ela em todas as caracteris- ticas, exceto em relacio & doenga em estudo — controles. Retrospectivamente, 0 | ‘Como Chasen as Pesquisas? 38 pesquisador determina quais individuos foram expostos ao agente ou tratamento Gu a prevaléncia de uma varidvel em cada um dos dois grupos de estudo. Nota-se que os estudos caso-controle também apresentam semelhangas com ‘0s estudos de coorte, pois ambos visam permitir comparacdes internas entre os grupos de estudo e de controle. Mas diferem principalmente em relacdo & ma- neira como 0s grupos sio constituidos. No delineamento caso-controle, os pes- quisadores é que manipulam os dados de comparacao. J nos estudos de coorte, fatores naturais e sociais é que determinam quem se torna caso e quem se torna controle. Pode-se, portanto, afirmar que apesar de suas semelhancas, a estrutura de um estudo de coorte é a inversa da de um estudo de caso-controle, Nos estu- dos de coorte, o que se pretende conhecer sao os efeitos de exposigo, enquanto nos estudos de caso-controle sao as causas da doenga. Essa modalidade de pesquisa tem como principal vantagem o fato de ser ré ppida e pouco onerosa, além de ser itil para gerar novas hipéteses. Assim, opta-se lo estudo caso-controle em relacio ao de coorte em doencas menos comuns. ‘vezes, representa a tinica opgio possivel de estudo em doencas raras. Também se utiliza esse delineamento em situagées em que, por motives éticos, a perma- néncia da exposicdo seria maléfica ao paciente no seguimento da coorte, uma vez que no estudo caso-controle a exposigao jé teria ocorrido. 4.8 Que é levantamento? ‘As pesquisas deste tipo caracterizam-se pela interrogagio direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se & solicitagao de informacées a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para, em seguida, mediante andlise quantitativa, obterem-se as conclusGes cor- respondentes aos dados coletados. ‘Quando o levantamento recolhe informages de todos os integrantes do uni- verso pesquisado, tem-se um censo. Pelas dificuldades materiais que envolvem sua realizagdo, os censos s6 podem ser desenvolvidos pelos governos ou por ins- tituigdes de amplos recursos. Sao extremamente titeis, pois proporcionam infor- magées gerais acerca das populagées, que sio indispenséveis em boa parte des investigagdes sociais. Na maioria dos levantamentos, nao so pesquisados todos os integrantes da populagio estudada. Antes seleciona-se, mediante procedimentos estatisticos, uma amostra significativa de todo o universo, que ¢ tomada como objeto de in~ vestigagio. As conclusdes obtidas com base nessa amostra so projetadas para a totalidade do universo, levando em consideraco a margem de erro, que é obtida mediante célculos estatisticos. Os levantamentos por amostragem gozam hoje de grande popularidade entre os pesqiuisadores sociais, 2 ponto de muitas pessoas chegarem mesmo a conside- [36 Come Esborar Protos de Feguisn + Gi rar pesquisa ¢ levantamento social a mesma coisa. Na verdade, o levantamento social é um dos muitos tipos de pesquisa social que, como todos os outros, apre- senta vantagens ¢ limitagSes. Entre as principais vantagens dos levantamentos esto: 8) conhecimento direto da realidade: & medida que as préprias pessoas in- formam acerca de seu comportamento, crencas e opiniges, a investiga- io torna-se mais livre de interpretagées caleadas no subjetivismo dos esquisadores; ) economia e rapides: desde que se tenha uma equipe de entrevistadores, codificadores e tabuladores devidamente treinados, torna-se possivel a obtengéo de grande quantidade de dados em curto espago de tem po. Quando os dados so obtidos mediante questionarios, os custos tomam-se relativamente baixos; ©) quantificasdo: 0s dados obtidos mediante levantamento podem ser agrupados em tabelas, possibilitando sua andlise estatistica. As varid- veis em estudo podem ser quantificadas, permitindo o uso de correla- {gBes e outros procedimentos estatfsticos. A medida que os levantamen- tos se valem de amostras probabilisticas, torna-se possivel até mesmo conhecer a margem de erro dos resultados obtidos. Entre as principais limitagdes dos levantamentos esto: a) énfase nos aspectos perceptivos: os levantamentos recolhem dados refe- rentes & percepeo que as pessoas tém acerca de si mesmas. Ora, a per cepcio é subjetiva, o que pode resultar em dados distorcidos. Ha muita diferenca entre o que as pessoas fazem ou sentem e 0 que elas dizem a esse respeito. Existem alguns recursos para contornar este problema. E possivel, em primeiro lugar, omitir as perguntas que sabidamente a maioria das pessoas nao sabe ou nao quer responder. Também se pode, ‘mediante perguntas indiretas, controlar as respostas dadas pelo infor. ante. Todavia, esses recursos, em muitos dos casos, sao insuficientes para sanar os problemas considerados; ») pouca profundidade no estudo da estrutura e dos processos sociais: me- diante levantamentos, ¢ possivel a obtengdo de grande quantidade de dados a respeito dos individuos. Como, porém, os fenémenos sociais sto determinados sobretudo por fatoresimerpessosis¢institucionis, 6s levantamentos mostram-se pouco adequados para a investigagio profunda desses fendmenos; ames Paes Sees ©) limitadu upreensio do processo de mudanga: 0 levantamento, de modo geral, proporciona visao estética do fendmeno estudado. Oferece, por assim dizer, uma espécie de fotografia de determinado problema, mas no indica suas tendéncias & variago e muito menos as possiveis mu- Come Csicar as Pesquses? 37 dangas estruturais. Como tentativa de superacéo dessas limitagdes, vém sendo desenvolvidos com frequéncia crescente os levantamentos do tipo painel, que consistem na coleta de dados da mesma amostre a0 longo do tempo. Muitas informagées importantes tém sido obtidas mediante esses procedimentos, particularmente em estudos sobre nf vel de renda e desemprego. Entretanto, os levantamentos do tipo pai nel apresentam séria limitagdo, que é a progressiva reducio da amos- ta por causas diversas, tais como mudanga de residéncia e fadiga dos respondentes. Considerando as vantagens e limitagdes acima expostas, pode-se dizer que os, Jevantamentos tornam-se muito mais adequados para estudos descritivos que ex: plicativos. So inapropriados para o aprofundamento dos aspectos psicolégicos ¢ psicossociais mais complexos, porém muito eficazes para problemas menos delica: dos, como preferéncia eleitoral e comportamento do consumidor. Séo muito titeis para o estudo de opinides e atitudes, porém pouco indicados no estudo de proble- ‘mas teferentes a relagdes e estruturas sociais complexas. 4.9 Que é estudo de caso © estudo de caso é uma modalidade de pesquisa amplamente utilizada nas ciéncias biomédicas e sociais. Consiste no estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado co- nhecimento, tarefa praticamente impossivel mediante outros delineamentos jf considerados, Nas ciéncias biomédicas, 0 estudo de caso costuma ser utilizado tanto como estudo-piloto para esclarecimento do campo da pesquisa em seus miiltiplos as pectos quanto para a descrigo de sindromes raras. Seus resultados, de modo geral, sao apresentados em aberto, ou seja, na condigao de hipoteses, nao de conclusdes. Nas ciéncias, durante muito tempo, 0 estudo de caso foi encarado como pro- cedimento pouco rigoroso, que serviria apenas para estudos de natureza explo- rat6ria. Hoje, porém, é encarado como 0 delineamento mais adequado para a investigagio de um fendmeno contempordneo dentro de seu contexto real, onde 65 limites entre 0 fenémeno e o contexto ndo so claramente percebidos (Yin, 2005). Ora, nas ciéncias sociais a distingZo entre o fendmeno € seu contexto representa uma das grandes dificuldades com que se deparam os pesquisadores; (0 que, muitas vezes, chega a impedir o tratamemto de determinados problemas mediante procedimentos caracterizados por alto nivel de estruturagao, como ¢s experimentos e levantamentos. Dai, entao, a crescente utilizagao do estudo de caso no Ambito dessas ciéncias, com diferentes propésitos, tais como: 38 Come taborar Projets de Perguia + Gi a} eplorar stages da vida real jos limites no extio claramente defi »b) preservar o cardter unitdrio do objeto estudado; ©) descrever a situago do contexto em que estd sendo feita determinada investigacao; @) formular hipéteses ou desenvolver teorias; ¢ ©) explicar as varidveis causais de determinado fendmeno em situagies ‘muito complexas que nao possibilitam a utilizagéo de levantamentos e cexperimentos. A despeito de sua crescente utilizacao nas Ciéncias Sociais, encontram-se muitas objegies a sua aplicagao. Uma delas refere-se & falta de rigor metodo: 6gico, pois, diferentemente do que ocorre com os experimentos e levanta ‘mentos, para a realizacio de estudos de caso nao so definidos procedimentos -metodol6gicos rigidos. Por essa razio, sdo frequentes os vieses nos estudos de aso, os quais acabam comprometendo a qualidade de seus resultados. Ocor- re, porém, que os vieses ndo so prerrogativa dos estudos de caso; podem ser constatados em qualquer modalidade de pesquisa. Logo, o que cabe propor a0 pesquisador disposto a desenvolver estudos de caso é que redobre seus cuida- dos tanto no planejamento quanto na coleta e andlise dos dados para minimi zar 0 efeito dos vieses. Outra objecio refere-se a dificuldade de generalizacio. A andlise de um tni- 0 ou de poucos casos de fato fornece uma base muito fragil para a generalizacao. No entanto, os propésitos do estudo de caso no sao os de proporcionar o conhe- cimento preciso das caracteristicas de uma populacio, mas sim o de proporcionar uma visio global do problema ou de identificar possiveis fatores que o influen- ciam ou so por ele influenciados. Outra objecdo refere-se ao tempo destinado a pesquisa. Alega-se que 05 estu- ddos de caso demandam muito tempo para serem realizados e que frequentemen- te seus resultados toam-se pouco consistentes. De fato, os primeiros trabalhos ualificados como estudos de caso nas Ciéncias Sociais foram desenvolvidos em ongos periodos de tempo. Todavia, a experiencia acumulada nas tiltimas décadas mostra que é possivel a realizacdo de estudos de caso em perfodos mais curtos € com resultados passiveis de confirmagdo por outros estudos. _ Convém ressaltar, no entanto, que um bom estudo de caso constitui t dificil de realizar. Mas é comum encontrar pesquisadores inexperientes, eae ‘mados pela flexibilidade metodoldgica dos estudus de caso, que decidem adoté- Jo em situagdes para as quais néo é recomendado. Como consequéncia, ao final de sua pesquisa, conseguem apenas um amontoado de dados que nao conseguem analisar e interpretar. ‘Como Caster a Pesquss? 39 4.10 Que é pesquisa fenomenolégica? A pesquisa fenomenolégica se propde a uma descri¢do da experiéncia vivida da consciéncia, mediante o expurgo de suas caracteristicas empiricas ¢ sua con sideracdo no plano da realidade essencial. Trata-se, pois, de um tipo de pesquise {que busca descrever e interpretar os fendmenos que se apresentam a percep¢ao Seu objetivo é chegar & contemplacao das esséncias, isto é, ao conteiido inteligi vyel¢ ideal dos fenémenos de forma imediata. Seus fundamentos s&0 encontrados na Fenomenologia, movimento filoséfico iniciado no século XX e que tem como principais expoentes Edmund Husserl (1859-1938), Martin Heidegger e Maurice Merleau-Ponty (1908-1961) ‘A pesquisa fenomenol6gica busca a interpretago do mundo através da cons ciéncia do sujeito formulada com base em stias experiéncias. Seu objeto é, por- tanto, o préprio fendmeno tal como se apresenta & consciéncia, ou seja, o que aparece, € nao o que se pensa ou se afirma a seu respeito. Tudo, pois, tem {que ser estudado tal como ¢ para o sujeito, sem interferéncia de qualquer regra de observaco. Para a fenomenologia, um objeto pode ser uma coisa concreta, ‘mas também uma sensagéo, uma recordagio, ndo importando se este constitui uma realidade ou uma aparéncia. Na pesquisa fenomenolégica, a atengao do pesquisador volta-se, portan- to, para a relagio sujeito-objeto, o que implica a extingio da separagao entre sujeito e objeto. Assim, a pesquisa fenomenolégica torna-se radicalmente dife- rente dos delineamentos de pesquisa fundamentados no pensamento positivis- ta, como os experimentos e os levantamentos. Por esta razéo é que a Fenome- nologia constitui muito mais como uma postura, um modo de compreender 0 mundo, do que como uma teoria, um modo de explicé-lo. ara muitos pesquisadores, torna-se dificil a aceitagdo dos prinefpios que re- ‘gem a pesquisa fenomenoldgica, jé que isto implica mudar radicalmente a me~ neira de conceber a realidade. Nesta modalidade de pesquisa nao se busca, como preconizava Emile Durkheim, tratar os fatos sociais como coisas, ou seja, com- preendé-los mediante a utilizagao de procedimentos semelhantes ao das ciéncias, naturais. E por seu proprio modo de ser, ndo existe um caminho sistemético de aprendizagem da postura fenomenolégica, a nao ser pela exaustiva leitura das obras de seus diversos autores, (© método fenomenolégico apresenta dois momentos: a redugo fenomeno- égica e a redugio eidética. A reducdo fenomenolégica (ou epoché, em grego colocar entre parénteses) consiste em restringir o conhecimento ao fenémeno da experiéncia de consciéncia, o que implica desconsiderar o mundo real, colocé-lo entre parénteses”. Trata-se, pois, do processo pelo qual tudo que é informado pelos sentidos é mudado em uma experiéncia de consciéncia, em um fendmeno que consiste em se estar consciente de algo. Assim, coisas, imagens, fantasias, atos, relagées, pensamentos, eventos, memérias € sentimentos constituem ex- 40 Como Hatorar Projets de Pesqulsa + it periéncias de consciéneia. Fazer essa redugio, entretanto, néo significa duvidar dda existéncia do mundo, mas fixar-se no modo como o conhecimento do mundo acontece, na viso do mundo que o individuo tem. A redugao eidética (do grego eidos = ideia ou esséncia), por sua vez, consiste na redugdo do objeto da percepcao a ideia, o que significa a abstracao da existén- cia, de tudo o que é acidental, para permitir a intuigéo das esséncias. Consiste na sua anélise para encontrar 0 seu verdadeito significado. Isso porque tudo o que as pessoas tém em sua mente decorre de informagdes proporcionadas pelos senti- dos. Por essa influéncia dos sentidos existem varias imagens possiveis de um mes- ‘mo objeto, embora todas significando a mesma coisa, constituindo a sua esséncia. Aesséncia € 0 algo idéntico que continuamente se mantém durante o processo de variagao e que Husser! chamou de invariante. Por exemplo, uma mesa, pode ser alta, baixa, quadrada, redonda, pode ser vista de cima ou de baixo. Mas haver4 sempre componentes bésicos — invariantes que estdo em todas as mesas ~ que lhe garantem 0 significado de mesa. 4.11 Que é pesquisa etnogréfica? A pesquisa etnogréfica tem origem na Antropologia, sendo utilizada tradi cionalmente para a descrigéo dos elementos de uma cultura especifica, tais como comportamentos, crencas e valores, baseada em informagies coletadas mediante trabalho de campo, Foi utilizada originariamente para a descrigio das sociedades sem esctita. Seu uso, no entanto, foi se difundindo e nos dias atuais € utilizada também no estudo de organizacées ¢ sociedades complexas. Assim, 0 uso da pes- quisa etnogréfica vem se tornando cada vez mais constante em campos como os da Educacéo, da Satide Coletiva e da Administracao. Pode-se dizer que a pesquisa etnogréfica tem como propésito o estudo das pessoas em seu préprio ambiente mediante a utilizagdo de procedimentos como entrevistas em profundidade e observacdo participante. #0 método por excelén- cia da Antropologia, que, como disciplina holistica, volta-se para o estudo das miltiplas manifestagées de uma comunidade ao longo do tempo e do espaco. A pesquisa etnogréfica cldssica envolve uma detalhada descri¢ao da cultura ‘como um todo. Assim, os pesquisadores — pessoas estranhas & comunidade - ten- dem a permanecer em campo por longos periodos de tempo. Hé relatos de pes- uisadores cujo trabalho demandou anos. Como consequéncia muitos relatos de Pesquisa etnogréfica so constituldos por extensas descrigdes das comunidades em que foram realizadas. As pesquisas etnogréficas contempordneas nio se voltam para o estudo da cultura como um todo nem sao desenvolvidas necessariamente por pesquisadores estranhos a comunidade em que o estudo ¢ realizado. Embora algumas pesquisas ossam ser caracterizadas como estudos de comunidade, a maioria se realiza no Ambito de unidades menores, como: empresas, escolas, hospitais, clubes ¢ par- Como Caster a eegie? 41 ‘ques. E nfo se valem unicamente das técnicas de entrevista e de observagio, mas fimbém da andlise de documentos, de fotografias e filmagem. ‘A pesquisa etnografica apresenta uma série de vantagens em relacio a outros delineamentos. Como ela é realizada no proprio local em que ocorre o fendmeno, Seus resultados costumam ser mais fidedignos. Como nao requer equipamentos especiais para coleta de dados, tende a ser mais econémica. Como o pesquisador presenta maior nivel de participagao, torna-se maior a probabilidade de 0s su- jeitos oferecerem respostas mais confidveis. ‘Mas a pesquisa etnogréfica também apresenta desvantagens. De modo geral, sua realizagao requer mais tempo do que outras modalidades de pesquisa, como 6 levantamento, por exemplo. A pesquisa etnogréfica fundamenta-se num peque- hho niimero de casos, nao se tornando apropriada para promover generalizagces. (© pesquisador, por sua vez, precisa participar ativamente de todas as etapas da pesquisa, j4 que nao ha como atribuir a outros a tarefa de coleta de dados. Como, ha maioria das vezes, os dados so coletados por um tinico pesquisador, existe risco de subjetivismo na interpretacao dos resultados da pesquisa. (0 problema do subjetivismo talvez seja 0 mais critico da pesquisa etnogré fica, Com efeito, a maioria dos antropélogos considera que essa modalidade de pesquisa nao é rigorosamente objetiva. A rigor, a etnografia vincula-se ao pa Tadigma interpretativista, segundo 0 qual o real nao é apreensivel, mas é ume ‘onstrugdo dos sujeitos que entram em relagao com ele. Assim, nessa modalidade ide pesquisa procura-se valorizar as relagées influenciadas por fatores subjetivos {que marcam a construgdo dos significados que emergem ao longo de seu desen- volvimento. 4,12 Que é grounded theory? ‘A grounded theory (teoria fundamentada em dados) tem sua origem nos tra- palhos desenvolvidos por Barney Glaser € Anselm Strauss, na década de 1960, ‘com 0 objetivo de proporcionar uma alternativa ao processo de geragio dedutiva de teorias sociais. Esses dois socidlogos consideraram que as grandes teorias, so bretudo no campo da Sociologia, eram muito abstratas e, portanto, dificeis de ser testadas empiricamente. Propuseram, entao, um método de pesquisa que facil- tusse a explicagao da realidade social mediante a construgio de teorias indutivas, baseadas na andlise sistematica dos dados. Na grounded theory, © pesquisador, mediante procedimentos diversos, ret ne um volume de dados referente a determinado fenémeno. Apés comparé-los, codified-los e extrair suas regularidades, conclui com teorias que emergiram des- Se processo de andlise. Tém-se, pois, uma teorta fundamentada (grounded) wes dados. O propésito do pesquisador nao é, pois, o de testar uma teoria, mas de entender uma determinada situagdo, como e por que os participantes agem dessa rmaneira e por que essa situagao se desenvolve daquele modo. 42 Como Elborar Projetos de Pxgusn + Git A teoria que emerge dos dados revela 0 com A r rg jos revela 0 comportamento das pessoas em si- tuagiesespetfiens NZo poder, portant, ser entendidas como representatives de uma realdade objetiva,extema aos sete. Sioa igor, reconstrugées da ex: periéncia. O pesquisador, em conjunto com os sujeitos da pesquisa, recont experiéncias por meio de uma teria. ; a Esta teoria tem, portanto, uma amplitude restrita. Nao pode ser entendida como,um conjunto de proposgGes ou hipSteses que formam um sistema dedu- tivo, E uma teoria substantiva, especifica para determinado grupo ou situacio, gue ndo pode, portato, ser generaliada. Nio pode ser encarada como una absoluta, mas como a explicagao de uma reali re Yerdade absolute plicag lidade tornada real pelos ‘A grounded theory apresenta alguns pontos de semelhan snomeno: loi, po enfin subperidade do realidad conse plo tespondentr Como a fenomenologia, ela pode ser definida também como uma metodologia interpretativista. Mas distingue-se da fenomenologia em varios aspectos. Sobre- tudo porque enquanto a pesquisa fenomenolégica fundamenta-se essencialmente na experiéncia subjetiva dos individuos, a grounded theory requer a interagao com a realidade dos sujeitos e a interpretagao dos dados pelo pesquisadot. 4.13 Que é pesquisa-agio? A pesquisa-agdo vem emergindo como uma metodologia para intervengio, desenvolvimento e mudanga no mbito de grupos, organizages ¢ ey uma modalidade de pesquisa que néo se ajusta ao modelo cléssico de pesqui- sa cientitica,cujo propésito 6 0 de proporcionar a aquisigéo de conhecimentos claros, precisos objetivos. No entanto, vem sendo amplamente incentivada por agéncias de desenvolvimento, programas de extensio universiriae organi Ges comunitéras. vanes ___ Apesquisa-ago pode ser definida como “um tipo de pesquisa com base em- Birca qu € concebidae realizada em estreitaassocago com uma agfo ou ain- 4a, com a resolugéo de um problema coletivo, onde todos pesqusadores e par. icipantes estio envolvidos de modo cooperativo e part ” thames yperativo e participativo” (THIOLLENT, trap me Pesausa-ago foi cunhado em 1946 por Kur Lewin, a0 desenvotver trbalhos que tinham como propésito a integracio de minoria énieas 8 socie- dade norte-americana. Assim, definiu pesqusa-agéo como a pesquisa que no eel iui para a produgfo de livros, mas também conduz a agao social am 2 Pesgisn-aco tem caracterstias stuacionas, jf que procura diagnoscar lum problema especifco numa situagio espectica, com vistas a aleangar algun Itado prético. Diferentemente da pesquisa tradicional, no visa a obter enun- Como classifica as Pequias? 43 ciados cientificos generalizéveis, embora a obtencio de resultados semelhantes tm estudos diferentes possa contribuir para algum tipo de generalizacao. 4.14 Que é pesquisa participante? Pode-se definir pesquisa participante como uma modalidade de pesquisa que tem como propésito “auxiliar a populagao envolvida a identificar por si mesma os seus problemas, a realizar a andlise critica destes e a buscar as solugSes adequa- das" (LEBOTERE, 1984). Trata-se, portanto, de um modelo de pesquisa que difere dos tradicionais porque a populacao nao é considerada passiva e seu planejamen- to e condugo nao ficam a cargo de pesquisadores profissionais. A selecao dos pro- bblemas a serem estudados néo emerge da simples decistio dos pesquisadores, mas da propria populago envolvida, que os discute com os especialistas apropriados. Existem algumas semelhangas entre a pesquisa participante e a pesquisa acio, pois ambas caracterizam-se pela interagdo entre os pesquisadores © as pessoas envolvidas nas situagBes investigadas. Mas a principal diferenca est nc Cardter emancipador da pesquisa-participante. Enquanto a pesquisa-acdo supde figuma forma de ago, que pode ser de cardter social, educativo, técnico ou ou tro, a pesquisa participante tem como propésito fundamental a emancipacao das pessoas ou das comunidades que a realizam. Essas diferengas tém muito a ver com a origem das duas modalidades de pesquisa. Enquanto a pesquisa-agio iniciou-se nos Estados Unidos no perfodo ‘gue se seguit & Segunda Guerra Mundial, com propésitos de integragao social, a pesquisa participante surgiu na América Latina como meio para aleangar a articu Tacdo de grupos marginalizados. Seus criadores foram pessoas que participavam de programas educacionais voltados para trabalhadores rurais e sua estratégia ‘onsistia em fomentar o processo de formagao de consciéncia critica das comuni- dades para sua insergo em processos politicos de mudanga. ‘As origens da pesquisa participante esto, portanto, na aco educativa. Sua principal influéncia encontra-se nos trabalhos de Paulo Freire relativos a educa- Go popular. Seu método de alfabetizacdo a partir da leitura do alfabetizando Ge seu proprio contexto sécio-hist6rico & que proporcionou as bases da pesquisa participante. ‘Mas a pesquisa participante também tem uma vertente sociol6gica, inaugu- rada por Orlando Fals Borda no inicio da década de 1970. Seus trabalhos indi- ‘cam um compromisso com as lutas populares contra 0 imperialismo e 0 neoco- Ionialismo e propdem uma diviséo entre a ciéncia dominante, que privilegiaria a manutencao do sistema vigente, e a ciéncia popular. A primeira corresponderia D atividades que privilegiam a manutencao do sistema vigente © @ segunda se~ ria construida pelo envolvimento do pesquisador como agente no proceso que testuda, Por isso Fals Borda propée ao pesquisador uma postura de devolugao do conhecimento aos grupos que lhe deram origem. 5 Como Delinear uma s) Pesquisa Bibliografica? | 5.1 Etapas da pesquisa bibliogréfica ‘A pesquisa bibliografica, como qualquer outra, desenvolve-se ao longo de uma série de etapas. Seu nimero, assim como seu encadeamento, depende de mui- tos fatores, tais como a natureza do problema, o nivel de conhecimentos que o pesquisador dispée sobre o assunto, o grau de precistio que se pretende conferir A pesquisa etc. E possivel, no entanto, com base na experiéncia acumulada pelos autores, admitir que a maioria das pesquisas designadas como bibliogréficas segue minimamente as seguintes etapas: a) escolha do tema; ) Jevantamento bibliogréfico preliminar; ©) formulagio do problema; 4) elaboragio do plano provisério de assunto; ©) busca das fontes; 1) leitura do material; ®) fichamento; h) organizagao légica do assunto; € i) redagdo do texto. | 5.2 Escolha do tema {A pesquisa biliogrticainiia-se com a escolha de um tema. f uma tarefa considerada facil, porque qualquer ciéncia apresenta grande nimero de temas 46 Como Elaborar Projo e Pesqien + Gi potenciais para pesquisa. No entanto, a escolha de um tema que de fato possibi- lite a realizagao de uma pesquisa bibliografica requer bastante energia e habili- dade do pesquisador. E muito comum a situacdo de estudantes que se sentem completamente de- sorientados ao serem solicitados a escolher o tema de sua monografia de conclu- 880 de curso ou dissertagao de mestrado. £ claro que o papel do orientador nesta etapa é de fundamental importancia. Com base em sua experiéncia, ele é capaz de sugerir temas de pesquisa ¢ indicar leituras que auxiliem o aluno no desen- volvimento dos primeiros passos. Além disso, 6 capaz de advertir quanto as dif culdades que poderdo decorrer da escotha de determinados temas. No entanto, por mais capacitado que seja o orientador, o papel mais importante nesta etapa do trabalho, assim como nas demais, é desempenhado pelo préprio estudante. Primeiramente, deve-se considerar que a escolha de um tema deve estar re- lacionada tanto quanto for possivel com o interesse do estudante. Muitas das ificuldades que aparecem neste momento decorrem simplesmente do fato de no apresentarem interesse pelo aprofundamento em qualquer dos temas com que o estudante teve contato 20 longo do curso de graduacdo ou mesmo de pés graduacio. Para escolher adequadamente um tema, é necessério ter refletido so- bre diferentes temas. Assim, algumas perguntas poderao auxiliar nessa escolha, tais como: Quais os campos de sua especialidade que mais Ihe interessam? Quais (8 temas que mais o instigam? De tudo o que vocé tem estudado, o que Ihe da mais vontade de se aprofundar e pesquisar? Nao basta, no entanto, o interesse pelo assunto. E necessdrio também dis por de bons conhecimentos na rea de estudo para que as etapas posteriores da monografia ou dissertacio possam ser adequadamente desenvolvidas. Quem conhece pouco dificilmente faz. escolhas adequadas. Isso significa que o aluno sé poderé escolher um tema a respeito do qual jé leu ou estudou. 5.3 Levantamento bibliografico preliminar Aescolha do tema constitui importante passo na elaboragéo de uma pesquisa bibliografica. Isso nao significa, porém, que o pesquisador de posse de um tema J esteja em condigées de formiular seu problema de pesquisa. Como foi visto no ‘capitulo anterior, esse processo ¢ bastante complexo ~ muito mais do que geral ‘mente se imagina. Por isso, logo apés a escotha do tema, o que se sugere é um levantamento bibliogréfico preliminar que facilite a formulaco do problema, Esse levantamento bibliogréfico preliminar pode ser entendido como um es- tudo exploratério, posto que tem a finalidade de proporcionar a familiaridade do aluno com a drea de estudo na qual esté interessado, bem como sua delimitacéo. Essa familiaridade é essencial para que 0 problema seja formulado de maneira lara e precisa. como Delinear uma Pesquisa Sitiogrica? 47 O tema de pesquisa de modo geral é formulado de maneira muito ampla, no favorecendo, portanto, a definigio de um problema em condicdes de ser pesaui- sado. O levantamento bibliografico preliminar é que ir possibilitar que a area Ge estudo seja delimitada e que o problema possa finalmente ser definido. O que fgeralmente ocorre é que, a0 longo desta fase, o estudante acaba selecionando Bina subarea de estudo que, por ser bem mais restrta, ird possibilitar uma visio mais clara do tema de sua pesquisa e consequentemente 0 aprimoramento do problema de pesquisa. Pode ocorrer, também, que esse levantamento bibliografi- ee venha a determinar uma mudanca nos propésitos iniciais da pesquisa, pois o Contato com o material jé produzido sobre 0 assunto podera deixar claro para (0 pesquisador as dificuldades para tratd-lo adequadamente. 5.4 Formulagao do problema Espera-se que, ao final do levantamento bibliogréfico preliminar, 0 pesqui- sador tenha se familiarizado com o tema, Desta forma ele estard em condigdes de formular o problema de maneira clara, precisa e suficientemente delimitada. ‘0 que nio significa, no entanto, que este problema seja mantido. Pode ocorrer {que uma revisio posterior da literatura ou discussio com outros pesquisadores Contribua para identificar controvérsias entre autores ou novas abordagens para fo estudo do fendmeno. Nesse caso, cabe ao pesquisador reformular o problema, lntes de partir para a elaboragao de seu plano de trabalho. 4Jé foi ressaltado no capitulo que nao existem regras claras que possam ser aplicadas invariavelmente nesse processo de formulagao do problema. Algumas perguntas, no entanto, poderdo ser titeis para avaliar em que medida o problema proposto esta em condigdes de ser investigado mediante pesquisa bibliografica: + O tema é de interesse do pesquisador? (0 problema apresenta relevancia tedrica e pratica? ‘A qualificagio do pesquisador & adequada para seu tratamento? « Existe material bibliogréfico suficiente e disponivel para seu equaciona- mento e solugdo? 0 problema foi formulado de maneira clara, precisa e objetiva? + 0 pesquisador dispde de tempo e outras condigées de trabalho necess4- rias ao desenvolvimento da pesquisa? ra que 0 pesquisador possa constatar se dispée realmente de um problema, sugereaelque extesejacoloeado soba forma de pergunta. Por exemplo, 0 tema trabalho feminino pode ensejar multiplos problemas de pesquisa. Mas podera ser colocado em termos de um problema a ser solucionado, a medida que se inda- gue! “Quais as barreiras sociais com que depararam as mulheres brasileras para Gscender a fungdes gerenciais no setor bancdrio ao longo da segunda metade do 48. Com Elaborar Projets de Pee * Gi século XX?” Nesse caso, 0 problema ndo apenas se apresenta sob a forma de per- sgunta, mas também se mostra claro, preciso e delimitado tanto do ponto de vista espacial quanto do temporal. 5.5 Elaboracao do plano provisério da pesquisa ‘Apés a formulagao do problema e de sua delimitagao, 0 passo seguinte consis- tena elaboragio de um plano que define a estrutura légica do trabalho mediante a apresentagao ordenada de suas partes. Nao é possivel, naturalmente, elaborar logo de inicio um plano definitivo. Assim, recomenda-se partir de um plano que pode ser considerado provisério, mas que seja to completo quanto permitirem os conhecimentos acumulados neste momento. Este plano, que provavelmente pasar por reformulacées ao longo do processo de pesquisa, geralmente se apre- senta como um conjunto de segdes ordenadas em itens. Por exemplo, uma pes- ‘quisa que tenha como objetivo analisar a profissdo de administrador de empresas no Brasil poderia nortear-se pelo seguinte plano: 1. A profissio de administrador de empresas 1.1 Caracteristicas da profissao 1.2 Requisitos pessoais e técnicos para o exercicio da profissao 1.3 Formagéo profissional do administrador de empresas 1.4 Regulamentagao da profissao 2. Areas de atuagao do administrador de empresas 2.1 No setor piiblico 2.2. Em empresas industrials, 2.3. No comércio 2.4 Em bancos 2.5 No magistério 2.6 Em atividades de consultoria 3. Aremuneragio do administrador de empresas 3.1 Formas de remuneragao 3.2 Niveis de remuneragao 4. Perspectivas de trabalho do administrador de empresas 4,1 Alteragées estruturais no mercado de trabalho 4.2 Interfaces do administrador de empresas com outros profissionais 4.3 papel do administrador num “mundo sem empregos” cam 5.6 Identificacao das fontes ‘Apés a elaboragio do plano de trabalho, o passo seguinte consiste na iden tificagao das fontes capazes de fornecer as respostas adequadas a solugéo do problema proposto. Parte desta tarefa jé foi desenvolvida na revisio bibliografica preliminar, que s6 difere desta etapa por nao ser considerada definitiva. Para identificar as fontes bibliograficas adequadas ao desenvolvimento da pesquisa, a contribuicio do orientador ¢ fundamental. Recomenda-se também a consulta a especialistas ou pessoas que jé realizaram pesquisas na mesma drea. Essas pessoas podem fornecer nfo apenas informacSes sobre o que ja foi publica- do, mas também apreciagao eritica do material a ser consultado. ‘As fontes bibliograficas mais conhecidas sao os livros de leitura corrente. No centanto, existem muitas outras fontes de interesse para a pesquisa bibliogratica, tais como: obras de referéncia, teses e dissertagdes, periédicos cientificos, anais de encontros cientificos e periddicos de indexagao e de resumo. 5.6.1 Livros de leitura corrente Estes livros abrangem tanto as obras referentes aos diversos géneros literd- rios, tais como 0 romance, a poesia e o teatro, quanto as obras de divulgacao, {sto é, as que objetivam proporcionar conhecimentos cientificos e técnicos. Estas tiltimas so as que mais interessam & pesquisa bibliogréfica. Mas obras literd- rias também podem ser muito importantes. Uma pesquisa referente & obra de determinado autor se fundamentaré, naturalmente, em obras dessa natureza. ‘Mas pesquisas de cunho sociolégico, hist6rico ou antropolégico também pode- rao valer-se de livros dessa natureza. Por exemplo, alguns dos livros escritos por Jorge Amado poderio interessar a um pesquisador interessado no estudo do ciclo econémico do cacau. ‘As obras de divulgacio podem ser classificadas em obras cientificas ou técni- cas e em obras de vulgarizagao. Nas primeiras, a intengio do autor é comunicar a especialistas de maneira sistematica assuntos relacionados a determinado campo do conhecimento cientifico ou apresentar o resultado de pesquisas. Ja nas obras de vulgarizagao, 0 autor dirige-se a um publico néo especializado, utilizando lin- guagem comum. As obras didadticas podem ser consideradas de divulgacio, jé que objetivam transmitir de forma clara e concisa as informagées cientificas, evitando detalhes especializados. Nos trabalhos de pesquisa, deve-se dar preferéncia as obras cientifieas, evi- tando-se as de vulgarizacao. Isso néo significa, porém, que compéndios, tratados ‘e mesmo livros de introdugdo a determinada disciplina devam ser sumariamente descartados. '30 Com Elborer Prjetes de Fergus» Gil 5.6.2 Obras de referéncia Sio obras destinadas ao uso pontual e recorrente, ao contrério de outras, que so destinadas a serem lidas do principio ao fim. Exemplo tipico desta modali- dade ¢ 0 diciondrio de lingua, que ninguém 1é do comego ao fim, mas a que se recorre para obter o significado de palavra especifica. Nas pesquisas cientificas, sio de grande valor os diciondrios teméticos, que incluem termos dificilmen- te encontrados nos diciondrios de lingua e que proporcionam informacées mais completas em relagao ao significado do termo na especialidade, Outra modalidade de obra de referéncia € constituida pelas enciclopédias, que podem ser gerais ou especializadas. As primeiras podem ser consideradas adequadas apenas para trabalhos escolares. J4 as especializadas podem ser de grande valor para uma pesquisa cientifica, pois seu Ambito & claramente defini- do: psicologia, direto, finangas, por exemplo. Além disso, o nivel de tratamento dado ao assunto costuma ser altamente técnico, jé que os verbetes sao esctitos por especialistas que geralmente os assinam. ‘Também so consideradas obras de referéncia os manuais, que sio obras ‘compactas que tratam concisamente da esséncia de um assunto. E nas areas de cigncia e tecnologia que essas obras aparecem em maior mimero, embora também sejam encontradas em outras dreas do conhecimento. Grande parte da iformacio contida nos manuais & apresentada por meio de tabelas, gréficos, simbolos, equagées ou férmulas. Cabe considerar, contudo, que os manuais in cluem os conhecimentos jé sedimentados, ¢ nao constituem, portanto, fontes muito adequadas para informagGes referentes a avancos ou progressos recentes, 5.6.3 Periddicos cientificos Os periédicos constituem o meio mais importante para a comunicagao cien- tifica, Gracas a eles é que se vém tornando possivel a comunicacao formal dos resultados de pesquisas originais e a manutengdo do padrdo de qualidade na investigacao cientifica. Com a disseminagao do uso dos computadores e o desenvolvimento da Inter- net, muitos periddicos cientificos vém-se tornando disponiveis em meio eletrini- co. Alguns desses peribdicos esto disponiveis nas redes eletrdnicas. Muitos deles constituem apenas uma verso on line do periédico tradicional, mas hé os que ‘no apresentam equivalente em papel e que oferecem recursos como imagens em movimento, acesso aos documentos citados no texto, por meio de links de hiper- texto, ¢ possibilidade de contato com o autor, também por meio de links. 5.6.4 Teses e dissertagoes Fontes desta natureza podem ser muito importantes para a pesquisa, pois muitas delas sd0 constituidas por relat6rios de investigacdes cientificas originais Como Deliear una Pesquse Bibogrfica?” 81 ou acuradas revisdes bibliogréficas. Seu valor depende, no entanto, da qualidade dos cursos das instituigées onde so produzidas e da competéncia do orientador. Requer-se, portanto, muito cuidado na selegao dessas fontes. 5.6.5 Anais de encontros cientificos (Os encontros cientificos, tais como congressos, simpésios, semindrios ¢ £6- rruns, constituem locais privilegiados para apresentagao de comunicacées cient: ficas. Seus resultados so publicados geralmente na forma de anais, que retinem 6 conjunto dos trabalhos apresentados e as palestras e conferéncias ocorridas durante o evento. Esses anais muitas vezes so publicados em forma de livros e distribuidos pelos canais normais de venda. Na maioria dos casos, porém, os anais séo publicados pela propria entidade que organiza 0 evento, j4 que conta com as facilidades da editoragio eletrinica, onde a impressio ¢ feita diretamente dos originais dos préprios autores, que os submetem eletronicamente, 5.6.6 Periddicos de indexagdo e resumo Estas obras listam os trabalhos produzidos em determinada érea do conheci- ‘mento coma finalidade de facilitar a identificacao e 0 acesso & informagao que se ‘encontra dispersa em grande niimero de publicagGes, Constituem instrumentos valiosos para os pesquisadores que tém necessidade de obter informacées acerca da produgao cientifica mais recente. Esses periddicos sto chamados abreviada- mente de indices, quando listam apenas as referéncias bibliograficas, e de abs- tracts, quando incluem seus resumos das publicagdes. Muitos desses periédicos sio veiculados eletronicamente, por meio das bases de dados, algumas das quais contém nao apenas as referéncias e os resumos, mas também o texto completo dos trabalhos. ‘Alguns dos principais periédicos internacionais de indexagio e de resumos vvém apresentados a seguir: ‘Agricultura: Agrindex, Bibliography of agriculture. Biologia: Biological abstracts, BIOSIS Previews. Ciéncias ambientais: Pollution abstracts, Enviroline. Giéncias da computacio: Computer & control abstract. Ciéncias espaciais: Aerospace database. Economia e Administrago: Economic literature index, Business periodical index e ABI/inform. Educagio: Education abstracts. 52 Come mare Protos de Pega + ot Energia: Energia, ciéncia e tecnologia, INIS Atomindex. Filosofia: Philosopher's index. Medicina: Excerpta medica Psicologia: PsicINFO, Psychological abstracts. Quimica: Chemical abstracts. Sociologia: Sociological abstracts. 5.7 Localizagio das fontes ‘Tradicionalmente, o local privilegiado para a localizago das fontes biblio- graficas tem sido a biblioteca. No entanto, em virtude da ampla disseminagio ‘de materiais bibliogréficos em formato eletrénico, assume grande importincia a pesquisa feita por meio de bases de dados e sistemas de busca, que também serio considerados aqui, 5.7.1 Em biblioteca convencional Para localizar material adequado para a pesquisa, é necessério que a bibliote- ca disponha de um bom acervo, Lamentavelmente, nem todas as bibliotecas das faculdades so adequadas para pesquisa bibliogréfica, sobretudo em relagéo aos pperiédicos cientificos, que constituem importantes fontes de dados. primeiro procedimento a ser desenvolvido na biblioteca é a consulta a seu catélogo, que possibilita a localizagao das fontes por autor, titulo ou assunto. 0 processo mais eficaz é a localizagio por assunto, embora para os pesquisadores iniciantes possa constituir trabalho dificil. Nem sempre 0 caminho da busca ¢ li near e direto. Dependendo do tema, é preciso explorar seus subtemas, ou mesmo temas paralelos, para localizar fontes significativas. Algumas bibliotecas especia- lizadas dispdem de catdlogos de livros e periédicos referentes a determinados assuntos, que podem facilitar muito este processo. A consulta ao catdlogo é eficaz. quando se trata da localizagio de livros. O ‘mesmo nio acontece em relagéo aos periédicos, cujos artigos de modo geral no so catalogados, Conhecendo-se, porém, os periédicos potencialmente interes- santes em relagdo ao assunto, convém proceder-se a sua consulta de forma re- trospectiva, isto é, partindo dos mais recentes para os mais antigos. A consulta aos artigos mais recentes mostra-se particularmente interessante, porque com base em sua bibliografia torna-se possivel localizar outros artigos de interesse. As bibliotecas mais adequadas para pesquisa sfio aquelas em que 0 consulen: te tem acesso direto as estantes. Como 0 acervo € classificado de acordo com um. sistema, fica ficil localizar as obras que tratam de determinado assunto, Desses sis- temas, o mais utiizado nas bibliotecas brasileiras ¢ o Sistema de Classificagao De- Como Deinear uma Peguise Biblio? 9 cimal de Dewey, que agrupa as varias areas do conhecimento em 10 classes, cada tuma das quais subdividida em outras 10 e assim subsequentemente (Quadro 5.1). Quadro 5.1 Sistema de Classificagiio Decimal de Dewey. 000 Obras Gerais 100 Filosofia e Psicologia 010" Bibliografias TiO Metafsica | 020. iblioteconomia ecitncias da infor-| 120 Episremologia magio 130. Fenémenos paranormais 030. Enciclopédias gerais 140. Escolsfiloséficas 040 Obras nao assinadas 150. Psicologia 050. Jornais, revista eperiicos 160. Légica 060 Associagées, organizagoes e museo-| 170. fica Jogi 180. Filosofia antiga, medieval e oriental 070 Jornalismo, editoracio e novas mi-| 190 Filosofia ocidental moderna | dias 080 Colegdesgerais 090_Manuscritos e obras raras 200 Religio 300 Giéncias Sociais 210 Teologia nawral 300 Sociologia e antropologia 220 Biblia. 310. Estatstica geral 230. Teologia erst 320. Gigncia politica 240. Teologia moral e devocional 330 Economia 250 Ordens religiosas crits irejs lo-| 340. Direito cals 350 Administracio publica ciéncin mi 260. Teologia social cists litar 270. Histéia da igre eit Servigo social 280 Denominagées crits estas Bducagio 290 Outras religides e estudos compara: | 380 Comércio, comunicagées ¢ transporte tivos | 390 Costumes, etiqueta e folelore 500 Ciéncias Naturais e Matematica 510 Matemética 520 Astronomia 530 Fisica 540 Quimica 550 Ciencias da terra 560 Paleontologia 570 Biologia e ciéncias da vida Botanica Zoologia 400 Linguagem 410 Linguistica 420 Lingua inglesa 430. Lingua alema 440 Lingua francesa 450 _Linguas italiana e romana 460 Linguas espanhola e portuguesa | 470. Linguas iclicas,latim 480 Linguas helénicas, grego cléssico 490 54 Come Eabora rojo de eel + Gi (600 Tecnologia (Ciéncias Aplicadas) 700 Artes (600 Tecnologia geral 710. Paisagismo 610 Medicina |720. Arquitetura 620. Engenharia 730 Artes plisticas, escultura 630 Agricultura 740 Desenho e artes decorativas 640 Economia doméstica 750 Pintura 650 Administragao 760 Artes gréficas, impressio © selos 660. Engenharia qufmica ostais 670 Manufatura 770 Fotografia 680 Manufatura para usos especificos | 780 Miisica |690_Construgées 790_Esportes, jogos e recreages {800 Literatura e Retérica 900 Geografia ¢ Histéria 810 Literatura americana 900 ‘Histéria mundial 1820 Literatura inglesa 910 Geogratia 830 Literatura alema 920 Biografia, genealogia, insignias 840 Literatura francesa 930 Histéria do mundo antigo 850 Literatura italiana e romena 940 Histéria geral da Europa 860 Literatura espanhola e portuguesa | 950 Historia geral da Asia 870 Literatura latina 960 Historia da Africa 880 Literatura grega 970 Historia geral da América do Norte 890 Literaturas de outras linguas 980 Histéria geral da América do Sul 990 _Histéria geral de outras regides 5.7.2 Pesquisa em bases de dados Na maioria das bibliotecas especializadas, 6 possivel ter acesso on line & pro- dugéo cientifica mundial por meio das bases de dados. Essas bases de dados contém artigos publicados em periédicos cientificos, trabalhos apresentados em congressos, relatérios de pesquisa, teses, livros e muitas outras fontes bibliogrdfi- ‘cas. Nestas, os usuarios podem fazer buscas por assunto, por autor, por periédico, Gabe considerar, no entanto, que esse acesso ¢ viabilizado mediante contratos comerciais. O que significa que, com frequéncia, o usudrio precisa pagar par obter 0s textos de seu interesse. Pees ees ‘Algumas das mais importantes bases de dados com as respectivas reas do conhecimento do aprescntadas no Quadvo 5.2. Algumas bases de dados sto de livre acesso. O que significa que o pesquisa- dor poderd acessé-las de qualquer computador conectado a Internet, Algum: dentre as bases nacionais sio: 7 Como Denes una Pesquisa Mibigrtica? 55 Biblioteca Virtual em Saxide Piiblica. Permite 0 acesso on line a uma colecao de fontes de informago que inclui literatura téenico-cientifica, textos com- pletos, eventos nacionais e internacionais. BIREME/Biblioteca Virtual em Satide. Disponibiliza varias bases de dados da drea da satide, por temas e por paises, tais como Medline, Lilacs, Ado- lec, Secs, dentre outras. Livre! Disponibiliza 2.600 titulos de periédicos. O4sis/IBICT. Disponibiliza informagio cientifica gratuita concentrada em arquivos de periddicos cientificos e repositérios digitais Periédicos CAPES. Disponibiliza periddicos com textos completos, bases de dados referenciais com resumos, patentes, teses ¢ dissertagoes, estatisticas € outras publicagdes de acesso gratuito na Internet. Scielo. Biblioteca eletrénica que abrange uma colegio selecionada de pe- riédicos cientificos brasileiros nas areas de ciéncias agrarias, ciéncias bio- légicas, ciéncias da satide, ciéncias exatas da terra, cincias humanas, ‘ciéncias sociais e aplicadas, engenharias, linguistica, letras e artes ‘Também sdo de livre acesso as bases internacionais: DOAJ - Directory of Open Access Journals. Contém mais de 2.000 periédi cos, com avaliagao de sta qualidade. National Library of Medicine-NLM/Specialiszed Information Services SIS. Oferecem servigos de informagao em toxicologia, satide ambiental, quimi- ca, HIV/AIDS e tépicos especializados em satide publica. Open J-Gate, Propicia acesso ao texto integral de mais de 3.000 periédicos. 56. Como Habra Projets de Feseuss + oi Quadro 5.2 Bases de dados. Base Area do conhecimento “GNAITL (Gurmolave Index to Nursing Fafemagem ¢asun and Allied Health Literature) sd res comics Citas Latinoamericanas en Ciencias Giéncias Sociais Aplicadas, Ciéncias Hu ‘manas e Linguistica, Letras e Artes Ebsco Enfermagem, Nutrigéo, Servigo Social, Economia, Demografia, Sociologia, Psico. logia, Educagao Fisica ¢ Esportes BeonLit (American Economic Association) Economia e Administrago ERIC (Educational Resources Information Educacao Center) — FSTA (Food Science and Technology Abs- Engenharia a FIA logy Abs- Engenharia de Alimentos e Nutrigéo General Science Full Text iéncias Biolégicas e Ciéncias Exatas ¢ da Terra GeoRef Geociéncias, Oceanografia e Engenharia Handbook of Latin American Studies Ciéncias Sociais e es i Sociais ¢ Humanidades calé Ciéncias Sociais Aplicadas, Ciéncias Hu- ‘manas, Letras e Artes INFORMS Ciéncias Sociais Aplicadas, com énfase em ‘Administrago e Contabilidade Citneias da Saide Caribe em Giéncias da Satide) MEDLINE/PubMed (National Library of Ciéncias da Satide e Medicina Veterinaria Philosopher’ Index) Filosofia, Religito, Histéria, Educagéo e Linguas BXGINEO (American Psychological Asso. iclogi, Psquitia, Sociologia, Farma- fom cologia, Linguistica e Antropologia Science Direct ‘Todas as éreas do conhecimento Wilson Todas as éreas do conhecimento Social Sciences Full Text Direito, Economia, Administragdo, Psico- logia, Geografia, Estudos Regionais, So. ciologia, Ciencia Politica e Servigo Social Soctndex Ind. CClencias Sociais Aplicadas e Ciéncias Hu- ‘manas SportDiseus Esportes ‘como Delis una Pesquisa Bibigrtia? 57 5.7.3 Pesquisa em sistemas de busca A Internet constitui hoje um dos mais importantes veiculos de informagoes. Nio se podem deixar de lado as possibilidades desse meio. Ocorre, porém, que existe na Internet, mais do que em qualquer outro meio, excesso de informagies. Daf a conveniéncia de utilizagdo de sistemas de busca, que podem ser de trés ca- tegorias: mecanismos de busca, diretérios e mecanismos de metabusca. (Os mecanismos de busca so os sistemas baseados no uso exchusivo de pro- gramas de computador para a indexacao das paginas da Web. Nesses mecanis- mos, a pesquisa é feita por palavras-chave. Para isso, escreve-se a palavra no quadro de busca e clica-se no {cone ou boto de busca que fica ao lado do quadro. A seguir, aparecem os sites cujos contetidos referem-se as palavras-chave. Pode ocorrer que para uma tinica palavra digitada aparecam centenas de milhares de sites relacionados. Isso significa que o pesquisador precisa valer-se de miitiplos artificos para fazer uma boa pesquisa. © mecanismo mais conhecido é 0 Google, mas existem outros, como o Yahoo (), 0 Altavista () e o Lycos (). De muito interesse para os pesquisadores ¢ 0 Google Académico, que permite o acesso a teses, dissertagdes, artigos publicados em periédicos e ou- tros materiais especializados. A grande vantagem deste mecanismo é a de varrer exclusivamente sites académicos. Como em outros mecanismos de busca, 0 Google ‘Académico ordena os resultados por ordem de relevancia, ¢ um dos principais cr térios 6 a frequéncia da citagao dos autores na literatura académica Nos diret6rios, a indexacio das paginas da Web é realizada por humanos. O diretério classifica 0 contetido dos sites segundo categorias e subcategorias, seto- res de atividade econémica ou ramos do conhecimento, facilitando a busca por meio de filtros. Para pesquisar em diretérios, o pesquisador vai navegando desde ‘um termo genérico até chegar a um termo mais espectfico. {A principal vantagem dos diret6rios sobre os mecanismos de busca ¢ a de que, por serem estruturados, corre-se menos risco de obtengao de resultados diibios. Dentre os principais diretérios existentes esto 0 DMOZ () e 0 Yahoo! () e 0 Google (). Mecanismos de metabusca sao sites que repassam a solicitagao a varios meca- nnismos de busca e organizam os resultados. Esses mecanismos contribuem para tornar a procura mais répida e para aumentar as chances de encontrar 0 que se procura. Entre os mais utilizados, esto o Dogpile () ¢ 0 Search (). 5.8 Obtengio do material Nem todo 0 material disponivel em bases de dados pode ser diretamente copiado em arquivo. Muitas vezes, o material s6 pode ser obtido mediante pa- 58 Come Habeas Projets de Pesquisa + Gi ‘gamento, 0 que geralmente pode ser feito on line. Convém, portanto, proceder uma selegdo acurada do que realmente interessa para a pesquisa, para evitar gastos desnecessirios. O resumo, que sempre é disponibilizado, poder auxiliar nesta tarefa, Para obtencio de material em biblioteca convencional, é preciso primeira- mente localizar as obras de interesse. Para tanto existem fichdrios - manuais ou eletrénicos ~ que possibilitam a localizagao da obra por seu titulo, pelo nome do autor ou pelo assunto. £ preciso considerar, no entanto, que, com vistas a garantir direitos auto- rais, a reprodugao de livros ¢ proibida. Assim, a maioria das bibliotecas autoriza Cépias de apenas um capitulo da obra ow de até 10% do total de paginas. Jd os artigos de periédicos podem ser copiados, assim como as teses e dissertacées, exceto quando no exemplar houver declarago expressa do autor impedinde sta e6pia, Um mecanismo bastante eficiente de acesso a informagao € proporciona- do pelo Programa de Comutacio Bibliogréfica (Comut), criado em 1980 pelo Ministério da Educagio, por meio da Capes. O Comut permite as comunidades académica e de pesquisa 0 acesso a documentos em todas as dreas do conheci- mento (mediante cépias de artigos de revistas técnico-cientificas, teses e anais de congressos), exclusivamente para fins académicos e de pesquisa, respeitando-se rigorosamente a Lei de Direitos Autorais. Para isso, atua por meio de uma rede de bibliotecas, denominadas bibliotecas-base, com recursos bibliogréficos, humanos € tecnolégicos adequados para 0 atendimento as solicitagdes de seus usudrios. O Comut esté disponivel via Internet, para usuérios cadastrados no sistema, com cédigo e senha de acesso. Para tanto, o usuario deverd, de posse das referéncias bibliograficas do material, preencher o formulério de pedido, pagar antecipada- mente ¢ aguardar pelo recebimento, 5.9 Leitura do material De posse do material bibliografico tido como suficiente, passa-se a sua leit ra, Embora seja tarefa das mais corriqueiras no mundo contempordneo, convém Que sejam feitas algumas consideragdes sobre este tépico Primeiramente, ha que se considerar que a Jeitura de um livro ou qualquer outro impresso se faz por razbes diversas. Pode ocorrer que a leitura se dé por simples distragéo. Ou com objetivo de aprender seu contetido com vista na apli- ‘casio prética ou avaliagao, Ou, ainda, para a obtengio de respostas a problemas Como os objetivos das diversas leituras variam, naturalmente também va riam os procedimentos e as atitudes requeridas. A leitura que se faz na pesquisa bibliogratica deve servir aos seguintes objetivos: Come Denese una Fegsite Bibione? 59 1) identificar as informagées e os dados constantes do material impresso; ) estabelecer relagées das informagies e dos dados obtidos com o proble- ‘ma proposto; ©) analisar a consisténcia das informagées e dados apresentados pelos au- tores. i it é a que considera cinco {A classificagao dos tipos de leitura aqui proposta € a q\ tipos, cuja ocorréncia se dé em funao do avanco do processo de pesquisa bi bliogréfica. 5.9.1 Leitura exploratéria Esta é uma leitura do material bibliogréfico que tem por objetivo verificar em que medida a obra consultada interessa & pesquisa, ori 0 de reconhecimen- A leitura exploratéria pode ser comparada & expedigao ¢ to que fazem os exploradores de uma regio desconhecida. & feita mediante 0 exame da folha de rosto, dos indices da bibliografia e das notas de rodapé. Tam- ‘bém faz parte deste tipo de leitura 0 estudo da introducao, do prefécio (quando houver), das conclusées e mesmo das orethas dos livros. Com esses elementos, & possivel ter uma visio global da obra, bem como de sua utilidade para a pesquisa. 5.9.2 Leitura seletiva Apés a leitura exploratéria, procede-se a sua selegao, ou seja, & determina ‘gio do material que de fato interessa & pesquisa. Para tanto, é necessdrio ter em ‘mente 0s objetivos da pesquisa, de forma que se evite a leitura de textos que no contribuam para a solugao do problema proposto. _ jtura seletiva é mais profunda que a exploratéria; todavia, nao é defini- va ponivel que se wte ao mesmo materia com propio diferentes. so porque a leitura de determinado texto pode conduzir a algumas indagacdes que, de certa forma, podem ser respondidas recorrendo-se a textos anteriormente vis- tos. Da mesma forma, é possivel que determinado texto, eliminado como néo pertinente, venha a ser objeto de leitura posterior, em decorréncia de alteragdes dos propésitos do pesquisador. 5.9.3 Leitura analitica A leitura analitica é feita com base nos textos selecionados. Embora possa io de outros tantos, ocorter a necessidade de adigéo de novos textos e a supressic a postura do pesquisador, nesta fase, deverd ser a de analisé-los como se fossem 60. como taba Poets de Pesquisa + Gi defnitvos, A finalidade da leturaanaitiea€a de dena esumarar as informa. oes as nas fontes, de forma que estas possibilitem a ai ghesconidas ras fonts a ossibilitem a obtencao de respostas Em termos praticos, pode-se estabele um passa pelos seguintes momentos: * a ) leitura integral da obra ou do texto selecionado, para se ter uma visio do todo. Ser conveniente valer-se de um dicionério para esclarecer o sig- nuleado de palavrasdesconhecdes,Poderd, também, sr interesante em alguns casos, apelar para trabalhos correlatos para se compreensdo da obra ou do texto; paras ober melhor identiicagdo das ideias-chaves. Ao ler tent s. Ao ler atentamente uma frase, identif- case algumas palavras-chaves. Da mesma forma, num patdgrafe, & Possivelescolher uma frase que o sintetia, Ao longo do texto, por in, podem selecona alguns padarafos que si 0s mais siieativs. io da jungdo inteligente entre os pardgrafos do t i ientcar as deine mas importantes; > “° XO: € Posse! ©) hierarquisagio das ideias. Apés a identificagio das i tantes contidasno texto, passa-e a sua hierarquizagdo, OU sla 2 saniaagio das ieias seguindo a ordem de importénca, Isso implica listinguir as ideias principais das secundarias e estabelecer tantas cate- op resets quae forem neces par anv do te; D sintetizagdo das ideias. Esta & a iltima etapa do processo de let nando que é secundétio e fixando-se no essencial para a solucio d problema proposto.. “ee » 5.9.4 Leitura interpretativa Esta constitui a dltima etapa do processo de leitura das fontes bib Esta consi le leitura das fontes bibliogréticas. Natralmente €a mals comple, ja que em por ebjetvo relconar ou oat, tor arma com 0 problema para o qual se prope uma solo, Na letra inter Pretativa, procurase confer significado mais amplo aos resultados obtidos com leitura analitica. Enquanto nesta tiltima, por mais bem elaborada que se Pesquisador fixa-se nos dados, na leiturainterpretativa vai além deles; mediante sua ligagdo com outros conhecimentos. “meen 5.10 Tomada de apontamentos Um dos grandes problemas referentes & leitura refere-se a sua retenclo. sabido que apenas parte do que se Que se fica reida na memera, Por essa aad, vém que se tomem notas do material lido. ae yon Como Deliear una Pesquisa Biblogrétien? 61 Frequentemente se indaga acerca do quao exaustivas devem ser as anotagbes. Como resposta, cabe lembrar que a decisio acerca do que sera anotado deve le- var em consideragio os objetivos que se pretende alcancar com a pesquisa, bem ‘como a natureza da obra pesquisada e sua importancia em relacdo aqueles obje- tivos. Convém lembrar, ainda, que nio é conveniente acumular grande mimero dde anotagées. Devem ser anotadas as ideias principais ¢ os dados potencialmente importantes. As formas de ligacdo entre as ideias podem ser deixadas de lado, texceto quando essas formas de ligacao sao importantes para situar as ideias num contexto mais geral. £ 0 caso das pesquisas de natureza filoséfica, por exemplo. 5.11 Fichamento frequente a situago em que o pesquisador parte das anotagées para a reda- gio do trabalho, Mas € altamente recomendavel proceder ao fichamento, Trata- Se de procedimento que é considerado desnecessério por muitos pesquisadores, mas que, quando bem conduzido, reverte-se em ganho de tempo e qualidade. ‘A confeccao de fichas evita problemas muito comuns, como o esquecimento de referéncias bibliogréficas ou da autoria de uma citagao importante ou a indis- ponibilidade da informacéo contida num livro ou periédico que foi emprestado ‘Assim, convém estabelecer um sistema de fichamento com a finalidade de: a) identificagio das obras consultadas; ) anotacéo das ideias que surgiram durante a leitura; ©) registro dos contetidos relevantes das obras consultadas; 4d) registro dos comentarios acerca das obras; ©) organizacdo das informagées para a organizacdo légica do trabalho. Como o fichamento serve a diferentes finalidades, podem ser identificadas diversas modalidades de fichas, tais como: fichas bibliograficas, fichas de resumo, fichas de resenha, fichas de sumitio, fichas de citacio ete. Para fins de pesquisa, recomenda-se a utilizagio de uma ficha especial de apontamentos que incorpora elementos de outras fichas. {As fichas tradicionalmente sfo confeccionadas em folhas de cartolina pauta- da, Mas a maioria dos pesquisadores prefere elaboré-las utilizando o computador. Para tanto, existem programas de banco de dados que possibilitam sua confecgaic de maneira bem organizada. Mas é possivel utilizar também processadores de texto, criando-se arquivos para cada obra consultada e colecionando-os em pastas ara que sejam funcionais, estas fichas devem apresentar trés campos: cabe- calho, referéncia e texto (Figura 5.1). © cabecalho refere-se ao assunto que esta sendo estudado. Quando se dispée de um plano de trabalho bem detalhado, esta tarefa fica muito simplificada. © 162 como Eabora rojets de eagle + Gi plano de pesquisa apresenta-se sob a forma de seqoes, que, por sua vez, sfo sub- divididas em seg6es secundérias ou tercidrias, Considere-se, por exemplo, una pesquisa referente ao significado sociolégico do carnaval. Uina de suas ceed Poderia referir-se as escolas de samba, Esta seco, que no plano seria a terceita, apresentaria as subdivisoes: = 3. Asescolas de samba 3.1 Evolugao hist6rica das escolas de samba 3.2 Organizagdo e estrutura das escolas de samba 3.3 0 significado cultural das escolas de samba Considerese, agora, que um dos textos consultados tratasse dos setores de Produgio das oficinas de escola de samba, O assunto estaria referindo-se ao tépi- £0 3.2. Assim, esta ficha teria como cabecalho o titulo da seco, : A teferéncia, que corresponde ao _ Ar , onde ao segundo campo, deve possibilitar a id tificagdo dos elementos bibliogrficos do texto. Deve ser elaborada segundo as normas definidas pela Associacdo Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). © terceiro campo refere-se aos apontamentos, que podem ser constituidos por citagdes, esquemas, resumos ou comentdrios acerca do texto. Quando forem transcritas citagdes iis ltteris,é necessério que estas sejam colocadas entre aspas € que incluam até mesmo erros de grafia, se houver. E Organizagao estratura das escolas de samba VERGATUsvia Constant; MORAE, Cnn de Nel; PAIMEIRA, Ped is. cal a brasileira revelada no barracio de uma escola de samba: 0 caso da Fi = ratriz. In: MOTTA, Fernando C. Prestes; CALDAS, Miguel P lara aca | cultura brasileira, Séo Paulo: Atlas, 1997, ee Setores da escola: ferragem, carpintaria, adere\ monarifadoecozinha Pat Adorn, fantasies, chap ria, escultura, al Encargos da adminitradora do barracio: controlar pono, renca, efetuar 0 pagamento dos funciondies, labora weardipl, “O barracao € a oficina do samba. E a fabrica dc Ot samba. ébica ds sonhos, onde algumas toneladss de feo tecidos mae sopor «una infindade de ares sino andra se 0 poco, sah hatuta de wm carnvaleco, em gipatenas cares aegine e ‘centenas de Fantasias” (p. 241), Figura 5.1 Ficha de apontamentos, Como Delinear una Psguta ibigrica? 63 AAs fichas de cartolina devem ser armazenadas verticalmente num fichério, observando-se a sequéncia das secdes do plano. Quando elaboradas eletronica- ‘mente, o mais interessante é colocé-las num programa de banco de dados, jé que este possibilita a localizacdo de cada uma, bem como do assunto a que se referem mediante palavras-chave. 5.12 Construgao Iégica do trabalho # comum pensar-se que, logo apés o fichamento do material compulsado, parte-se para a redagio do relatorio. Todavia, entre essas duas etapas situa-se a construcao légica do trabalho, que consiste na organizacio das ideias com vista fem atender aos objetivos ou testar as hipdteses formuladas no inicio da pesquisa. ‘Assim, cabe nesta etapa estruturar logicamente o trabalho para que ele possa ser entendido como unidade dotada de sentido. Embora de certa forma essa tarefa jj tenha sido desenvolvida na elaboracio do plano provisério de assunto, é bas- tante provavel que ao longo do desenvolvimento da pesquisa este jé tenha sido reformulado e, nesta etapa, mais que em qualquer outra, torna-se necessdria sua reformulagao para o estabelecimento do plano definitivo, {As fichas de leitura constituem os elementos mais importantes nesta etapa. Nao sao, porém, os tinicos. Toda a documentacio selecionada ao longo do pro: cesso de pesquisa precisa estar disponivel, neste momento: recortes de jornais € revistas, o6pias de textos consultados, folhetos, anotagdes etc. Mais do que dis- poniveis, precisam estar organizadas. Para tanto, sugere-se a abertura de tantas partes quantos forem os capitulos definidos no plano de trabalho. Em cada pasta ser4 colocado, folha por folha, o conjunto de documentos referentes ao capitulo, 5.13 Redacao do relatorio ‘A tiltima etapa de uma pesquisa bibliografica ¢ constitufda pela redago do relatério. Nao ha regras fixas acerca do procedimento a ser adotado nesta etapa, pois depende em boa parte do estilo de seu autor. Ha, no entanto, alguns aspec- tos relativos & estruturacdo do texto, estilo e aspectos gréficos que precisam ser considerados e sero abordados no Capitulo 19. Leituras recomendadas SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho cientffico. 23. ed. Sao Pau- lo: Cortez, 2007, Obra cléssica no campo da Metodologia Cientifica, esse livro de Antonio Joa- quim Severino apresenta em sua tiltima edigao as principais diretrizes para a 64 Como tlabore Prjcios de Pesguta + Gi! claboracio de uma monografia cientifica com o auxilio dos recursos fornecidos pela informatica. MEDEIROS, Jodo Bosco. Redago cientifica: a prética de fichamentos, resumos ¢ resenhas. 11. ed. Sao Paulo: Atlas, 2009. 0 autor trata, entre outros assuntos, do uso da biblioteca, das estratégias de Teitura, da elaboragao de fichamentos e das técnicas de elaboragao de restnnee Site recomendado GATHARDO, Eduardo, Uma breve introdugdo ao uso dos recursos disponiveis na rede. Disponivel em: . Acesea en 15 jun. 2009, Exercicios e trabalhos praticos 1. Formule problemas de pesquisa que possam ser investigados com base em fontes bibliograficas. 2. Escotha um dos problemas formulados e elabore um plano de trabalho de pesquisa bibliografica, 3. Faca uma visita biblioteca de sua faculdade e, com o auxiio do biblioteca Flo, identifique o sistema de organizagio das fichas catalograficas 4+ Fecolha um problema de pesquisa e, a seguit, mediante leitura exploratéri, selecione alguns livros de interesse potencial para essa investigagao. 5. Blabore fichas bibliograficas correspondentes aos livros selecionados & Leia cuidadosamente um lvro de interesse para pesquisa cientifica, procu: ando atingir o nivel de leitura interpretativa. A seguit,elabore uma fiche do apontamentos desse livro. 7 Acessealgumas bases de dados e localize material potencialmente importan- te para determinado tipo de pesquisa. 8. ‘Selecione uma das dreas do conhecimento definidas pela Classificagdo Deci imal de Dewey: Dirija-se, entdo, as estantes de uma biblioteca e cms bese ‘numeragéo identifique o conjunto de obras referentes a essa dee 6 Como Delinear uma i Pesquisa Documental | 6.1 Etapas da pesquisa documental I A pesquisa documental, como ja foi visto, apresenta muitos pontos de seme- Thanga com a pesquisa bibliografica. Até mesmo porque livros, artigos de periédi- is de documen- 10s. Por isso, em muitos casos, as etapas de seu desenvolvimento so praticamente as mesmas, embora haja pesquisas documentais cujo delineamento se aproxima dos delineamentos experimentais. f 0 caso de pesquisas ex-post-facto (‘a partir do fato passado”), que sao elaboradas com dados disponiveis, mas que so submeti- dos a tratamento estatistico, envolvendo até mesmo teste de hipéteses. Também ha pesquisas documentais que se assemelham a levantamentos, diferindo destes, simplesmente pelo fato de terem sido elaboradas com dados disponiveis e nao obtidos diretamente das pessoas. De modo geral, é possivel identificar as seguintes etapas na pesquisa docu- mental: a) formutagao do problema; b) elaboragao do plano de trabalho; ©) dentificagao das fontes; umeragao identinque v Conjunto de oDras rererentes a essa area oa sayiiy das fontes ¢ obtengéo do material; ©) anélise e interpretagio dos dados; 6) redagao do relatério. {66 Como taborar Projets de ees + cil 6.2 Formulacao do problema A pesquisa documental, como qualquer outro ti i : , al ipo de pesquisa, inicia-se com a formulacao do problema de pesquisa. Cabe considerar, no entanto, que a for- mulagio do problema nas pesquisas bibliogréfica e documental pode-se mostrar muito diferente. Isto porque a maioria das pesquisas bibliogréficas é de cunho exploratério, no tendo como objetivo fornecer uma resposta definitiva ao pro- blema, mas sim ao seu aperfeicoamento. J a pesquisa documental geralmente é descritiva ou explicativa, requerendo, portanto, um problema mais claro, preciso © espectfico. " 6.3 Elaboragio do plano Na pesquisa bibliogréfica, apés a formulacéo do problema, elabora-se um plano que geralmente ¢ designado como provisrio, pois é previsivel que passe or modificagdes até o fim da etapa de coleta de dados. Na verdade, esse fato fende a ocorter com qualquer plano de trabalho. Mas na pesquisa documental assim como em outros delineamentos, como o problema tende a apresentar mais clareza, preciso e especifcidade, o plano pode ser apresentado como definitvo, embora seja previsivel que venha a passar por alteragdes, : 6.4 Identificagao das fontes As fontes documentais so muito mais numerosas e diversifica rt qualquer elemento portador de dados pode er consderado decane: Ase tes documentais cléssicas sio: os arquivos piblicos e documentos oficiais, a im. Prensa e os arquivos privados (de igrefas, empresas, associagdes de classe, part dos politicos, sindicatos, associagées cientficas ete.). " Classicamente, a documentagio em cigncia é escrta. Mas as locu- menais vem se ampliando consderavelient. Assim: 0 pesquisador pode vler se de documentos contidos em fotografias, filmes, gravagoes sonoras,disquetes, CD-ROM, DVDs ete. Sem contar que em algumas areas do conhecimento, como 4 Argueologia e« Faleontologia, os documentos sdo consttuios por artfatos © sels. Em campos como o da Antropologia da Comunicagdo, por sua vez, podem ser considerados documentos cartas, bilhetes, fotografias e até mesmo as picha- Ges em prédios piblicose as inscrig6es em portas de banheiros, 6.5 Localizagao das fontes ¢ obtengio do material Para localizar fontes documentais escritas e obter-se 0 respectivo material, seguem-se praticamente os mesmos passos da pesquisa bibliogrifica. Até mesmo como Delinear una Fesqusa Documental 67 porque em muitas organizagdes suas bibliotecas sao integradas a centros de do- cumentagéo, Fotografias, microfilmes, discos, fitas sonoras e de video também podem ser localizados em centros de documentacao. Nesses casos, esse processo fica bastante facilitado. Mas hé pesquisas em que a documentagao encontra-se dispersa, dificultando sua localizacao e obtengao. I 0 caso de documentos pes- soais, como cartas e fotografias. 6.6 Anilise e interpretagao dos dados ‘A andlise e a interpretagio dos dados na pesquisa documental tende a variar conforme a natureza dos documentos utilizados. Quando se trata dos chamados documentos de segunda mao, que ja passaram por tratamento analitico, e que sio apresentados como relatérios de empresas e de drgdos governamentais, os procedimentos podem se tornar muito semelhantes aos adotados nas pesquisas bibliogréficas. Ha pesquisas documentais, como as realizadas no campo da ciéneia econmi ca, que se valem principalmente de dados quantitativos, disponiveis sob a forma de registros, tabelas, graficos ou em bancos de dados. Nesses casos, processo analitico envolve procedimentos estatisticos, como medidas de tendéncia central € de dispersio, correlagio, regressio e testes de hipéteses, assemelhando-se aos levantamentos. A principal diferenga passa a ser a de que na pesquisa documen- tal os dados jé esto disponiveis e nos levantamentos séo obtidos diretamente das pessoas mediante interrogacao. ‘Quando os documentos referem-se a textos escritos ou transcritos, como ma- téria veiculada em jornais e revistas, cartas, relatérios, cartazes e panfletos, ou a ‘comunicagao nao verbal, como gestos e posturas, o procedimento analitico mais utilizado é a andlise de contetido. Esta técnica, que foi empregada originariamen- te em pesquisas sobre 0 contetido de jornais, visa descrever de forma objetiva, sistematica e qualitativa o contetido manifesto da comunicagéo. ‘Atualmente, é empregada na pesquisa em muitos outros campos. E empre- gada em pesquisas sobre opinifio publica e propaganda, na identificagio das ca- racteristicas do contetido de obras literdrias, didéticas e cientificas, ¢ em muitos ‘outros campos da Sociologia, da Psicologia e da Ciéncia Politica Existem varios delineamentos de andlise de contetido, como: (a) estudo des- critivo, elaborado mediante contagem da frequéncia de caracteristicas do tex- 10; (b) andlises normativas, que realizam comparagées com padrées, como, por ‘excmplo, reportagens objetivas ou imparciais; (e) andlises transversais, envolver- do textos de diferentes contexts, como, por exemplo, dois jornais cobrindo um assunto especifico ao longo de um més; (4) andlises longitudinais, com compe- rages abarcando contextos semelhantes por um perfodo maior (BAUER, 2002). 68 como EaborarPoeos de Pesquisa + il (0s procedimentos anali 0s variam conforme o tipo do delineamento. Qual- ‘quer que seja, no entanto, o delineamento, podem-se identificar pelo menos os seguintes passos no processo de andlise e interpretagao dos resultados: 1 Definigao dos objetivos ow hipsteses. Os objetivos ou as hipéteses decor- tem do problema de pesquisa. Mas geralmente tendem a se tornar mais especificos e delimitados mediante leitura “flutuante” dos textos Constituigdo de um quadro de referéncia. Requer-se a constituigio desse 4quadro para proporcionar orientagdo geral da pesquisa, bem como a definigéo de conceitos. Este quadro de referéncia também se mostra importante para auxiliar na interpretagao dos dados. Selegdo dos documentos a serem analisados. & realizada geralmente por amostragem aleat6ria para garantir que a amostra seja representativa do universo estudado, Construgdo de um sistema de categorias e de indicadores. Este sistema pode ser previamente estabelecido ou definido a partir da propria leitu ra do material selecionado. As categorias so compostas por um termo- cchave que indica a significagao central do conceito e por indicadores que expressem as variagées do conceito. No estabelecimento de cate- gorias, € preciso garantir sua exaustividade (todas as unidades podem ser colocadas numa das categorias), miitua exclusividade (uma unida- de nao pode ser incluida em mais de uma categoria), homogeneidade (uma tinica dimensio de andlise) e objetividade (independéncia em relagio & subjetividade do analista), Definigao de unidades de andlise. Estas unidades podem ser: palavras ou frases, temas, personagens, acontecimentos etc. Definigdo de regras de enumeragdo. Por exemplo: presenca de elemen- tos; auséncia de elementos; frequéncia com que uma unidade aparece; intensidade (que pode ser medida pelo tempo do verbo, adjetivos, ad. vérbios ete.); ordem de aparicao; e co-ocorréncia, Teste de validade e fidedignidade. A fidedignidade existe quando a mes- ‘ma pessoa pode fazer uma interpretagao semelhante apés um intervalo de tempo ou duas ou mais pessoas sao capazes de fornecer a mesma interpretagio simultaneamente. A validade, por sua vez, existe quando © resultado representa corretamente o texto ou o seu contexto. Muitas vezes, a coeréncia é suficiente para verificar a validade, mas ha casos. fem que se requer correlago com eritérios externos. Tratamento dos dados. Em sua forma mais simples, 0 tratamento dos dados consiste na verificagao da frequéncia com que as palavras ocor ‘rem num texto. Mas ha procedimentos mais sofisticados, como as mul. tiplas combinagées de palavras. Estas tarefas vém se tornando cada vez Como Delinae una Pesquisa Documental 69 mais simples, gragas 4 utilizago de programas de computador, como 0 Sphinx, Aleste e 0 Textpack. - i 3s dados é obtido Interpretagio dos dados. 0 significado mais amplo dos d d mente se eotjo com as teorassleionadas para fundamentagdo do trabalho. 6.7 Redagao do relatério Nas pesquisas documentais de cunho quantitativo, em que os resultados sto i isticos, a redacio do relatério izados em tabelas e submetidos a testes estatisticos, a se faz de forma semelhante & da pesquisa experimental (ver Capitulo 6) dos le vantamentos. Jé nas pesquisas em que dos dados sao de natureza qualitativa, 0 relatério pode ser estruturado de diferentes maneiras, como ocorre com os est dos de caso (ver Capitulo 12). Exercicios e trabalhos praticos 1 Formule um problema de pesquisa cujos dados possam ser obtidos exclusiva: mente com base em documentos. Localize numa biblioteca o Anudrio Estaristico do Brasil. Verifique a parte re ferente a dacos sociais e, a partir dai, formule alguns problemas de pesquisa para os quais esses dados podem ser relevantes. : ‘Analise a possibilidade de paredes de banheiros ¢ latas de lixo serem utiliza: das como fontes de dados em pesquisas sociais. = ie exemplares de jotnais diferentes, Relacione todos os titulos de ar {igor separandoves, seguir, por asunto(politca, esportes, pola ete > Caleule, entao, a porcentagem corresponclente a cada assunto. Esses rest tados constituirdo elementos para a anilise de contetido da matéria impres- sa nos jornais. 7 Como Delinear uma Pesquisa Experimental? | 7.1 Etapas do planejamento da pesquisa experimental | © planejamento da pesquisa experimental implica © desenvolvimento de | uma série de passos que podem ser assim arrolados: | 8) formulagio do problema; | ‘b) construcao das hipéteses; ©) operacionalizagao das variéveis; 4) definigéo do plano experimental; ©) determinagio dos sujeitos; 8) determinagéo do ambiente; ®) coleta de dados; h) anélise e interpretagio dos dados; 4) redagiio do relatéro. 7.2, Formulagao do problema Como toda pesquisa, a experimental inicia-se com algum tipo de problema ou indagagdo. Mais que qualquer outra, a pesquisa experimental exige que @ problema seja colocado de maneira clara, precisa e objetiva. As recomendacées acerca da formulagio do problema, feitas no Capitulo 2, assumem, pois, impor tAncia muito maior no caso das pesquisas experimentais. 7. come Baber Projets de Peasisa + Gi 7.3 Construgéo das hipéteses Na pesquisa experimental, as hipdteses referem-se, geralmente, ao estabele- cimento de relagées causais entre varidvels, Sugere-se que essas relagées sejam definidas pela formula “se...entéo”. Por exemplo: “Se alunos forem elogiados pelo Professor por estarem indo bem na leitura, entao sua produtividade aumenta.” Como a pesquisa experimental se caracteriza pela clareza, precisio e parci- ménia, frequentemente envolve uma tinica hipdtese. Esta, por sua vez, tende a confundir-se com o préprio problema. O que varia é a forma: interrogativa no problema e afirmativa na hipotese. wveis 7.4 Operacionalizagio das vat Nunea serd demais enfatizar que as variaveis contidas nas hipéteses de uma pesquisa experimental devem possibilitar 0 esclarecimento do que se pretende investigar, bem como sua comunicacéo de forma no ambigua. Is50 pode ser ob- tido mediante a definigéo operacional, que € a definicéo especifica das operagées que sero realizadas para que o conceito possa ser medido. Para desenvolver uma definigao operacional, ¢ preciso definir claramente a varidvel, identficar o proce- dimento adotado para coleta de dados, definir 0 procedimento para mensuragio da varidvel e estabelecer um critério para avaliagao da medida 7.5 Definigao do plano experimental © experimento é uma pesquisa em que se manipulam uma ou mais varidveis independentes e os sujeitos sio designados aleatoriamente a grupos experimen. ‘ais. Com base no mimero de variaveis e na forma de designacdo dos sujeitos, podem ser definidas diferentes modalidades de planos experimentais, Serio aqui apresentados os dois planos mais utilizados: plano de uma tinica varidvel inde pendente e plano fatorial, 7.8.1 Plano de uma tinica varidvel Esse plano, que também é designado de “mao tinica” (one way), implica a manipulagao de uma tinica variavel independente, Suponha-se uma pesquisa que tenha por hipétese: “professores que utilizam técnicas de trabalho em grupo ten. dem a ser avaliados de forma mais positiva por seus alunos". Para que 0 experi ‘mento possa ser realizado, toma-se necessdrio manipular a varidvel independen- te, qual seja, “utilizacao de técnicas de trabalho em grupo”. Nesse caso, a variével independente poderia ser manipulada pela utilizagio de técnicas de trabalho em ‘come Detinear uma Pees aperimentl? 73 ive estabelecer que alguns professores 0 por parte dos professors, Seria posivl {leno prefrenalmente as ties de aba em grape drat as alas autos professores ndo as wlizassem. O Quadro 7.1 most como este plano poderia ser esquematizado, do dos professores em fungao da fadro 7.1 Plano de experimento sobre avaliagto dos professores a utilizagdio ou ndo de técnicas de trabalho em grupo. Utilizagéo de téenicas de trabalho em grupo AD no utilizam Al utilizam Resultados na variével dependente (avaliago dos professores pelos alunos) Nesse caso so estabeecidas apenas duassituages experiments: utlizam ¢ nfo usizam téenicas de trabalho em grupo. Contd, pode haver um némero maior de sitagBes. Para esse mesmo experimento, poderiam ser estabeeci trés condigées, O Quadro 7.2 mostra como o plano seria esquematizado, Quadro 7.2 Plano de experimento sobre avaliacdo dos professores em funcdo da utilizagdo ou ndo de técnicas de trabalho em grupo. Ustilizagio de técnicas de trabalho em grupo AL Aa I utilizam utiliza no utiliza intensamente moderadamente 7.5.2 Planos fatoriais lassico de pesquisa experimental envolve uma varidvel indepen- dene «dscns expertenas vito qe o mero de cone x perentispoe set amplado para és ov mas Contud, meso aim 9 ex Ehren continua ase cua dia varvel E possi, no enantio iad ume viel ndependente no experiment, Quando oor tm tm plan do po stoi xe conse, baseament, em le: ds, 0 ov svar independents, sinltancament, Pre erica es eee conjuntos ou separados em uma varvel dspendente- Com fas tomas ps fevtr hipoteses mais complenas © eaborarteoras mas abrangentes, 7A Como BaboarPojetrdePeguish + Gi ‘Tome-se o seguinte exemplo de aplicagao do plano fatorial: admite-se a hip6- tese de que a avaliagao do professor pelos alunos tem a ver com a metodologia utilizada, Todavia, também hé motivos para admitir que a avaliacio do professor € influenciada pelo contetido de disciplina. Assim, é possivel definir um plano para a verificagio experimental de cada uma dessas hipdteses, conforme indicam os quadros 7.3.¢ 7.4. Para o teste da primeira hipétese faz-se variar a metodologia de ensino me. diante a constituigéo de dois grupos: 0 dos professores que utilizam técnicas de grupo e o dos que utilizam técnicas expositivas. Para o teste da segunda hipétese faz-se variar 0 contetido da disciplina: afetivo ou cognitiv. Quadro 7.3 Plano de experimento sobre avaliagao dos professores pelos alunos em fungdo da metodologia de ensino adotada. Metodologia de ensino | Al AD Técnicas de grupo Exposigdo. Resultados na variével dependente (avaliacio dos professores pelos alunos) Quadro 7.4 Plano de experimentagio sobre avaliagéo dos professores pelos alunos em fungdo do contetido da disciplina, Contetido da disciplina BL B2 Aietivo Cognitive Resultados na varidvel dependente (avaliagdo dos professores pelos alunos) Cada um desses experimentos pode ser feito separadamente. Contudo, torna- se mais interessante estudar simultaneamente os efeitos das técnicas e do conteti- do das matérias sobre a avaliagdo dos professores Para tanto, elabora-se o plano indicado no Quadro 7.5, baseado em Kerlin- ger (1980), que permite trés testes num tinico experimento. O primeiro avalia (0s professores que utilizam técnicas de grupo ou exposico, O segundo avalia 0 professor considerando o contetido afetivo ou cognitive da materia. O terceiro, Por fim, avalia a interagdo, o trabalho miituo das duas varidveis independentes em seu efeito conjunto sobre a varidvel dependente. Lesbo ‘como Deliear una Peseta Experimental? 75 Quadro 7.5 Plano fatorial de experimento sobre a avaliagdo de professores em fun- do da metodologia de ensino e do contetido da matéria. <_ Metodologia 4 de ensino Trabalho de ea) Contetido sgrupo (A1) ‘pass da matéria Afetivo (B1) AL BL ae 42 BI Cognitivo (B2) Al _B2 dependente A2_B2 i lefinidos alguns resul- CO entendimento desse plano fieard facilitado se forem defi : tados fieticios. Imagine-se que os professores tenham sido avaliados numa escala de 10 pontos, com 10 indicando a atitude mais positiva possivel e 1 a mais nega- tiva, Considerem-se, agora, quatro possibilidades distintas de resultados, como indica 0 Quadro 7.6. Quadro 7.6 Quatro conjuntos hipotéticos de resultados obtidos em experimentos fatoriais, Cc © a ‘trabalho Exposigiéo ‘Trabalho Expos posi de grupo ae de grupo al a2 a Aetivo [At pi] A2_ Bi |s afeivo | ar pr | a2_ Bi |7 Br 3 BL 7 2 cognitive) Al B2 | A2 52 |5 Cognitivo] AI B2 | Az B2 | 3 Lg 3 B2 1 : we o / rahe exmite pace tees a ns auve [Romp mw |s acme [aw] A ws Cognitive} Al B2 ‘a2 B2|S Cognitive) Al B2 | A2 B2 |5 5 pai 3 7 4 5 5 76 como Eaters Projets de Pesausn + Gi s dados contidos em (1) indicam q ii licam que os professores que utilizam predomi nantemente trabalho em grupo recebem avaliao mais posiiva em relaglo que. les que utilizam a exposigéo. As médias referentes ao contedido das disciplina: obviamente, néo se alteram (5 e 5). ‘spins Os dados contidos em (II) indicam diferen fi ; i licam diferenga grande entre o contetido afetivo ¢ cognitivo (as médias so 7 e 3) e nenhuma diferenga entre a aplicaga balhos de grupo e exposicao. * picasto de wae Os dados contidos em (II) indicam que a avaliaga dicam que a avaliagdo de professores que utili- zam trabalhos de grupo e exposicdo apresentam diferencas significativas unica. mente em disciplinas de contetdo afetivo (7 e 3). Nenhuma diferenga é obser- vada nessa avaliagao quan ido é Siti ae liagéo quando 0 contetido da disciplina é de natureza cognitiva dan fim 08 dados em (IV) indicam que a avaliacio dos professores em funco la metodologia adotada varia significativamente com disciplinas de conteiido afetivo ou cognitive, mas em direcdes opostas. A avaliacio dos professores que utilzam trabalhos de grupo postva em diseplinas de contetdoafeivo; toda. via, a avaliacio dos professores que se valem da exposigéo é mais positiva em disciplinas de contetido cognitive. mes mame 7.6 Determinagao dos sujeitos Para que se efeive um experimento,tomase neces sue Essa tarefa€ de fundamental mportnela,vato que a peng tem por obeaee ee os resultados obtidos para a Populagao da qual os sujeitos pesquisa- a hee uma amostra. Populacao significa o ntimero total de elementos ie uma classe, Isso significa que uma populagao nao se refere exclusivamente a Lara mas a qualquer tipo de organismos: pombos, ratos, amebas ete. Pode, na, poplars ojos nnn, con por exemple No planejamento de um experimento, é necessério determinar com gr ae per tela seas que so elevates para a are precisa dfinigo da popula For exem blo, 20 referr uma populacio de pessoas, convém que se expeiiqueo sex, lade, a instrugdo eo nivel socioecondmico. Para uma populagao de ratos sera conveniente considerar 0 sexo, a idade, o peso, os horirios de alimentacao ete. Como ja foi lembrado, os individuos selecionados para participar dos expe- rimentos devem ser alocados em pelo menos dois grupos. Para que as iferengas entre os dois grupos em relagio ao fenémeno pesquisado sejam significativas do ponto de vista estatistico, torna-se necessério conferir um earater aleatério para a alocacio dos participantes. Daf a necessidade da randomizagao, que é 0 ‘como Delinear una PesqussRepeimestal? 77 processo que visa garantir a cada participante a mesma chance de ser alocado a qualquer dos grupos. essa forma, fatores como sexo, idade e outras caracteristicas dos participan- tes, que poderiam confundir os resultados, tendem a ser distribuidos igualmente fentre os grupos. O processo de randomizacao procura, pois, garantir que os ele- mentos de cada um dos grupos apresentem o mesmo nivel em relagdo a todos os fatores de risco, conhecidios ou desconhecidos. HA vérias técnicas de randomizagao. A mais empregada é a randomizagio simples, na qual os participantes si colocados diretamente nos grupos de estu- do e de controle, sem etapas intermedirias. Essa randomizacio pode ser feita mediante o uso de uma tébua de niimeros aleatérios ou por meio de envelopes umerados sequencialmente, cada um contendo um niimero ao acaso, gerado por computador. Outra técnica ¢ a da randomizacio pareada, em que inicialmen- te séo formados pares de participantes e a alocacdo aleat6ria é feita no interior do par, de tal forma que um individuo receba um tratamento experimental ¢ © outro o de controle, 7.7 Determinacao do ambiente 0s sujeitos de um experimento desenvolvem suas ages em determinado am- biente, Esse ambiente dever4, portanto, proporcionar as condigdes para que se possa manipular a varidvel independente e verificar seus efeitos nos sujeitos. Seja, por exemplo, o caso de um experimento que tenha por objetivo testar a influéncia das condigées de iluminacao sobre a produtividade. Para tanto ser necessério que o ambiente possibilite variar as condicdes de iluminagao, bem como verificar a produtividade dos individuos. {Jd foi lembrado que as pesquisas experimentais podem ter como ambiente 6 laboratério ou 0 campo. Quando é realizada em laboratério, a possibilidade de controle das variaveis é bem maior, j4 que o ambiente pode ser preparado de forma que permita a maximizagéo do efeito das varidveis independentes sobre ‘a dependente. Nos experimentos de campo, 0 controle das variaveis é bastante reduzido, tanto por constituir empreendimento custoso quanto por poder artifi cializar situagoes que se desejam naturais. Para que o ambiente se torne o mais adequado para a realizacio da pesquisa, ‘uma série de cuidados devem ser tomados. E preciso, primeiramente, assegurar {que o fenémeno ocorra numa forma suficientemente pura ou notavel para que se tore exequivel a pesquisa. Isso exige, naturalmente, apreciével conhecimento do ambiente. E preciso, também, garantir que o pesquisador disponha de autoridade e pericia para dispor 0 ambiente de forma adequada, 130 € muito importan- te quando se considera que frequentemente as pesquisas sd desenvolvidas em ambientes cuja administragao é confiada a pessoas estranhas a quem a realiza 78 como) Imagine-se uma pesquisa desenvolvida numa fabrica, com o objetivo de estudar conflitos no trabalho. Essa pesquisa poderd exigir a observacao dos empregados no trabalho, a realizagéo de entrevistas, bem como a andlise de relatérios da empresa. O desempenho de atividades dessa natureza geralmente & vedado a terceiros. Logo, para que a pesquisa seja desenvolvida a contento, é preciso ter, antecipadamente, a garantia de que o pesquisador nao terd cerceado seu trabalho de coleta de dados. 7.8 Coleta de dados A coleta de dados na pesquisa experimental é feita mediante a manipu- lagio de certas condigées e a observacio dos efeitos produzidos. Na pesquisa Psicolégica, o experimento geralmente envolve a apresentagio de um estimulo € 0 registro da resposta, Essas duas fungdes podem ser efetuadas pelo pesquisa- dor das mais diversas maneiras. A mais simples consiste na emissao de alguma mensagem oral ou visual a um grupo de sujeitos e no registro de seu comporta- mento mediante anotagées em folhas préprias. Contudo, com frequéncia cada vez maior, a pesquisa experimental vale-se de recursos mecénicos, elétricos ou eletrénicos. Podem ser utilizados, dentre muitos outros, os seguintes recursos: espelhos, cdmaras de video, galvandmetros, encefalégrafos, aparelhos de resso- naincia magnética etc. 7.9 Anilise e interpretagao dos dados Na pesquisa experimental utiliza-se a andlise estatistica. O desenvolvimento das técnicas estatisticas tem sido notavel e sua aplicabilidade na pesquisa expe- rimental tdo adequada que nao se pode hoje deixar de utiiz-las no processo de anélise dos dados. O procedimento bisico adotado na andlise estatistica nas pesquisas experi- mentais consiste no teste da diferenga entre as médias. Suponha-se, por exem- plo, que um plano de dois grupos seja usado e que a média obtida com o grupo experimental seja 21,0 e a média para o grupo de controle, 18,8. Dai se conclui que a média do grupo experimental é superior & do grupo de controle. Todavia, a limitada quantidade de informagoes disponiveis néo ¢ suficiente para garantit essa conclusio. Néo se sabe se a diferenca entre as duas médias é significativa; hao se tem a certeza de que 0s resultados nao foram devidos ao acaso. Daf por que é necessdrio utilizar um teste estatistico que indique se a diferenga entre as médias dos dois grupos ¢ significativa A Estatistica dispde de intimeros testes de significdncia. A utilizagéo de cada tum deles depende de conhecimentos prévios acerca da extenséo, distribuigao e qualidade dos dados. Por isso, convém que todo o processo de andlise estatistica T ome Delinear ue Fesguse Experimental? 79 Jeja planejado antes de conduzir o experimento. Esté fora do alcance deste livro ‘rea? Ceauaivamente dos procedments de anfse esata dos dados. Con ‘véin, portant, que o pesquisador recorra a obras que tratam especificamente da _ilizagdo de testes estatisticos na pesquisa experimental. Algumas dessas obras so indicadas e comentadas ao fim deste capitulo. £ claro que a Estatistica por si s6 no possibilita a interpretagao dos re- sultados. Isso exige 0 concurso de fundamentagao teérica. Iss0 significa que © pesquisador devers estar habilitado a proceder a vinculacio entre os resultados obtidos empiricamente e as teorias que possibilitam a generalizac3o dos resul- tados obtidos. 7.10 Redagao do relatério (0 relatério da pesquisa experimental compée-se de partes distintas. Inicia se a Introducio, onde se apresenta o problema da pesquisa, sua contextualiza- Go, a justificativa para sua realizagao e culmina com a apresentacio dos obje- tivos, Nessa parte também pode ser incluido o Referencial Teérico, que, quando for muito extenso, vem em se¢do especifica. A seguir vem a segio dedicada apresentacio dos Materiais e Métodos empregados. Segue-se a seyio dedicada 8 apresentacio dos Resultados obtidos e a secao destinada a sua Discusséo, que muitas vezes aparecem juntas o titulo Andlise e Discussdo dos Resultados. O relatério se encerra com a Conclusio alcancada pela pesquisa. Leituras recomendadas KERLINGER, Fred N. Metodologia de pesquisa em cigncias sociais: um tratamento conceitual. Sao Paulo: EPU/Edusp, 1980. ‘Trata-se de obra clissica de metodologia em ciéncias sociais. Os capitulos 6 7 tratam, respectivamente, dos delineamentos de uma tinica variével indepen dente e do delineamento fatorial LANTOWI, oy; ROBDIGE I, Hen i ME, l,l ce Livi ios diferentes delineamentos de pesquisa em Psicologia, com psicoldgica. {80 come EsborrPrjetor de Pesquiss + Gi Exercicios e trabalhos praticos 1. Identifique alguns fatores que poderdo dificultar a realizagao de uma pesqui- sa experimental a respeito do tema conflitos no trabalho. 2. Construa, de acordo com a férmula indicada no texto, hipéteses para pesqui- sas experimentais relativas aos temas: motivagao no trabalho, agressividade infantil, influéncia da televisa 3. Formule um problema de pesquisa. A seguir, elabore duas hipéteses cujas varidveis independentes sejam distintas. Por fim, construa um plano de tipo fatorial para estudar o efeito miituo dessas duas varidveis independentes so- brea dependente. 4, Procure, mediante consulta a livros de Estatistica, analisar o significado dos termos: probabilidade, aleatoriedade, significdncia, erro tipo I e erro tipo Il, teste paramétrico e teste néo paramétrico. 8 Como Delinear um Ensaio Clinico? | (Os ensaios clinicos podem ser definidos como pesquisas experimentais. Logo, iniciam-se com a formulagao de um problema, seguido pela construgao de hips- teses e demais etapas do processo, que culminam com a redagao do relatério. Em virtude, porém, de seu aprimoramento metodolégico, tendem a apresentar maior especificidade e a ser considerados separadamente. Existem diversas modalidades de ensaios clinicos. O mais conhecido e mais valorizado é o ensaio randomizado cego. Outras modalidades sao: o delineamen: to fator to com grupo de controle nao equivalente, 0 delineamento de séries temporais e o delineamento cruzado. Assim, procede-se a apresentacio das etapas do ensaio clinico randomizado cego e, em seguida, A caracterizagio das outras modalida- des, ressaltando suas especificidades. , 0 delineamento randomizado com alocagio de grupos, o delineamen- 8.1 Ensaio clinico randomizado cego [As etapas do ensaio clinico randomizado cego sto: a) definigao dos objetivos; b) selegdo dos participantes; )_ medigio das varidveis basais; ) definigéo dos procedimentos de tratamento; €) randomizagio; ) cegamento; 82 Com Haborar Projo de Perquien + cit ) acompanhamento da aderéncia ao tratamento;, hh) medigdo do desfecho; 4) andlise dos resultados. 8.1.1 Definigdo dos objetivos Um ensaio clinico requer a elaboragdo de um protocolo minucioso que do- ‘cumente nao apenas 0 que se pretende fazer, mas também as razdes que condu- ziram ao ensaio. O protocolo deve primeiramente apresentar uma descricio das questées de fundo e dos propdsitos gerais da investigagao para ajudar a esclare- cer por que o ensaio é importante e também que se baseia na experiéncia obtida com pesquisas anteriores. Depois, definir os objetivos especificos, ou seja, o que se pretende exatamente com o ensaio em termos de resultados esperados. O pro- tocolo deve também apresentar claramente o grau de beneficio esperado com a intervengio, bem como sua provavel duracio, além de informagées acerca dos pacientes para os quais o beneficio ¢ esperado. 8.1.2 Selegdo dos participantes A experiéncia acumulada dos pesquisadores clinicos permite estabelecer al: ‘guns principios que podem ser utilizados na definicdo de critérios de incluso e de exclusdo com vistas a maximizar a influéncia da intervengéo. Assim, incluir participantes com alto risco para 0 desfecho contribui para a diminuicdo do nit mero de sujeitos necessdrios. Incluit apenas participantes que j4 tém a doenga também. Mas limitar a participagio a individuos que jé tém a doenca ou apresen: tam maior risco de contrai-la também apresenta desvantagens, principalmente a de tornar impossivel a generalizagdo dos resultados para populagdes de menor risco. Sem contar que a identificagao do nivel de risco dos participantes poderé exigir coleta de dados e medigées capazes de tornar 0 processo mais complexo, demorado e custoso, Existem varios motives para excluirindividuos de um ensaio: (a) suscetibi- lidade de individuos a efeitos adversos; (b) baixa probabilidade de que o trata mento seja eficaz, como, por exemplo, quando o individuo apresenta um tipo de doenga que dificulte a resposta ao tratamento; (c) baixa probabilidade de aderir a intervengao; (d) baixa probabilidade de completar o periodo de acompanha- mento; e (e) problemas de ordem prética para participaglo, como, por exemplo, deficiéncin mental que torne dificil seguir instrugdes (HULLEY et al, 2008) 3s critérios para a definigao do tamanho da amostra so os mesmos adotados ara outros delineamentos. Mas recrutar participantes para um ensaio clinico Come Belinea vn Ensaio Clinics? 83 costuma ser mais dificil, pois estes precisam ser alocados aleatoriamente e estar dispostos a participar cegamente de um tratamento. Embora sejam muito valori- zadas as amostras probabilisticas, ndo ha por que preferi-las nos ensaios elinicos. ‘As amostras intencionais podem, em muitos casos, ser mais adequadas, j4 que possibilitam incluir participantes com caracteristicas diversas e, dessa forma, am- pliar a validade externa dos resultados para um contexto mais amplo. 8.1.3 Medigao das varidveis basais conveniente dispor de informagGes prévias acerca dos participantes, pois estas poderdo auxiliar na avaliagdo da capacidade de generalizacio dos resulta- dos. E aconselhavel medir varidveis que podem constituir fortes preditores do desfecho. Por exemplo, numa pesquisa referente aos efeitos do fumo, & conve- niente saber se o individuo trabalha num local em que outras pessoas fumam. A ‘medigao dessas varidveis ¢ importante principalmente em ensaios que envolvem poucos participantes. Com amostras maiores 0 processo de randomizago contzi- ui para minimizar o problema de confusdes decorrentes da distribuigao desigual de fatores no inicio do estudo. Mas é preciso considerar também que fazer muitas medigdes eleva os custos e a complexidade do estudo. 8.1.4 Definigao dos procedimentos do tratamento Parte considerdvel do protocolo deve ser dedicada & definigdo precisa dos procedimentos necessarios para o tratamento. Os tratamentos podem referir- se & terapia com drogas, procedimentos cirtirgicos, radioterapia, cuidados pés- operatérios, intervengio dietética etc, Torna-se necessério, portanto, definir com clareza 0s procedimentos necessérios para levar a cabo o tratamento. Para os tratamentos com drogas, que constituem a maioria dos ensaios elinicos, podem ser definidos os seguintes procedimentos (POCOCK, 1983): a) rota de administragdo; b) dosagem; ©) frequen 4) duragao do tratamento; ©) efeitos colaterais, modificagao da dosagem e suspensio; 6) submissao do paciente ao tratamento; 8) tratamento auxiliar e cuidados com o paciente; fh) empacotamento e distribuicao da droga; i) comparacao de politicas de tratamento. 84 Come EaborrFrojetos de eis + 8.1.5 Randomizagao Os individuos selecionados para participar dos ensaios clinicos devem ser alocados em pelo menos dois grupos, sendo que em sua forma mais simples um grupo recebe tratamento ativo e outro placebo. Para que as diferengas entre os dois grupos em relagéo aos desfechos sejam significativas do ponto de vista es- tatistico, torna-se necessério conferir um cardter aleatério para a alocagio dos participantes. Daf a necessidade da randomizacao, que ¢ 0 proceso que visa ga rantir a cada participante a mesma chance de ser alocado a qualquer dos grupos. Dessa forma, fatores como sexo, idade ¢ outras caracteristicas dos participantes, que poderiam confundir os resultados, tendem a ser distribufdos igualmente entre os grupos. © processo de randomizagao procura, pois, garantir que os ele ‘mentos de cada um dos grupos apresentem o mesmo nivel em relagdo a todos os fatores de risco, conhecidos ou desconhecidos. Hi varias téenicas de randomizagdo. A mais empregada é a randomizagio simples, na qual os participantes so colocados diretamente nos grupos de es- tudo e de controle, sem etapas intermedidrias. A randomizagao pode ser feita mediante o uso de uma tébua de niimeros aleatérios ou por meio de envelopes numerados sequencialmente, cada um contendo um niimero ao acaso, gerado por computador. utra técnica ¢ a da randomizagao em blocos, que é utilizada para garantir que o niimero de participantes seja igualmente distribuido entre os participantes do estudo, Ela tem como caracteristica a formagao de blocos com um mimero fixo de individuos, de igual tamanho. Por exemplo, quatro individuos podem consti- tuir um bloco, se houver dois tratamentos a serem testados. Esses tratamentos Sao aplicados aos individuos do bloco inicial e depois, bloco por bloco, até que se termine o processo de alocagio dos individuos. A principal vantagem dessa técnica é a de possibilitar um ndmero de participantes igual nos grupos de estudo € de controle, mesmo se o ensaio for interrompido. A randomizagao em blocos torna-se itil, portanto, em estudos com niimero reduzido de pacientes. ‘Também pode ser utilizada a randomizacao pareada, em que inicialmente so formados pares de participantes, e a alocagao aleatéria ¢ feita no interior do par, de tal forma que um individuo receba um tratamento experimental e 0 outro ode controle. Outra téenica é a da randomizacao em blocos e estratificada, que é utiliza- a tipicamente quando se considera importante obter um equilibrio das carac- teristicas basais chaves, como, por exemplo, sexo, idade ou vatiantes clinicas. Formamse, assim, blocos, tanto no grupo experimental quanto no de controle. Recomenda-se esta técnica principalmente em ensaios com pequeno nimero de Patticipantes, pois em ensaios com amostra mais numerosa, a designacio leat tia garante uma distribuigao quase parelha das varidveis basais. Como Deiger um Entio Cinco? 8S 8.1.6 Cegamento Existem ensaios abertos, em que tanto os pesquisadores integrantes da equipe, assim como todos os pacientes envolvidos, sabem a que grupo pertence cada indivi. duo, Também existem os ensaios unicegos, em que apenas a equipe de investigacao sabe qual foio tipo de tratamento instituido em cada paciente, ou a que grupo cada ppaciente pertence. Mas essa modalidade sé é aplicada em situagdes em que tecnica. ‘mente nao é possivel o investigador nao saber 0 que estd fazendo, como, por exem: plo, estudos relativos a tratamentos por intervengées cinirgicas ou radioterapia. A ocorréncia mais comum na pesquisa clinica é a adogio de ensaios duplo- egos, em que nem os planejadores da pesquisa, nem as pessoas que lidam com 6 pacientes, nem os investigadores que coletam os resultados, e tampouco os pacientes, saibam a que grupos os mesmos pertencem. O cegamento é to im- Portante quanto a randomizacio, pois protege o ensaio de diferencas resultantes de aspectos associados ao tratamento, mas que nao fazem parte da intervengio. Cabe considerar, no entanto, que a randomizacao elimina apenas a influéncia das varidveis de confusdo presentes no momento em que é operada, nao elimina a influéncia de outras variéveis que podem ocorrer durante o tratamento, Num estudo ndo cego, é possivel que 0 pesquisador dé atengio diferenciada aos parti cipantes que sabe estarem recebendo o tratamento ativo, 8.1.7 Acompanhamento de aderéncia ao protocolo Em praticamente todos 05 ensaios clinicos, certo mimero de participantes do estudo nao recebe a intervencio, deixa de aderir a0 protocolo, ou é perdido no acompanhamento. Quando esse ntimero se torna significativo, os resultados do ensaio fieam comprometidos. Torna-se necessério, portanto, adotar algumas estratégias para maximizar 0 acompanhamento e a aderéncia, tais como as suge- ridas por Hulley et al (2008): + escolher sujeitos com maiores chances de aderir& intervengo e ao pro- tocolo; * facilitar a intervengio; * fazer com que as consultas sejam convenientes e agraddveis; * garantir que as medigdes do estudo nao causem dor e sejam interessantes; *+ encorajar 0s sujeitos a permanecer no ensaio; * localizar 0s sujeitos perdidos no acompanhamento. 8.1.8 Medigdo do desfecho Desfecho ¢ 0 evento em investigagdo supostamente causado pela interven- fo. A escolha do procedimento adequado para medicao algumas vezes é muito 86 como taborarPojetor de Pescusn = Gi simples. Por exemplo, num estudo em que se comparam métodos para a preven- ‘do de fraturas, a medida mais evidente desse desfecho ¢ a da frequéncia com ‘que as fraturas ocorrem, Ja um ensaio para verificar o efeito do exercicio fisico ‘em maes que amamentam 20 seio, a medida néo pode referir-se unicamente & quantidade de leite produzido, mas também & sua composi¢ao, ingestao pela crianga e seu peso, O que significa que o desfecho precisa ser medido de maneira objetiva, acurada e consistente. 0 desfecho num tratamento de cdncer, por exemplo, pode ser medido median: te 0 estabelecimento de categorias da retragéo do tumor. Apés o tratamento: (1) Resposta completa (todo o tumor desapareceu); (2) Resposta parcial (aproximada- ‘mente 50% de decréscimo no volume do tumor, com evidéncia de alguma doenca residual ainda permanece); (3) Resposta menor (decréscimo de mais de 25% do volume total do tumor, mas menos do que 50%); (4) Doenga estével (0 crescimen- to do tumor ficou abaixo de 20 ou 25%); e (5) Doenca progressiva (0 tumor cres- ‘eu significativamente ou novo tumor apareceu) (THERASSE et al., 2000). Nem sempre o desfecho mais relevante & 0 mais ffeil de medi. Por essa razio, os pesquisadores precisam decidir se ndo é mais conveniente preferir des- fechos medidos por marcadores biolégicos substitutos para o risco do desfecho. Esses marcadores so componentes celulares, estruturais e bioquimicos, que po- dem definir alteragdes celulares e moleculares tanto em células normais quanto associadas a transformagées malignas. Por exemplo, o colesterol é usado como marcador de doenca coronariana; a densitometria dssea, de risco de fraturas e © antigeno prostatico especifico (PSA), de risco para o de cncer de préstata. 8.1.9 Interrupgao do ensaio Embora constitua a tiltima coisa que 0 pesquisador deseja, podem existir razes para que 0 ensaio seja suspenso. Se os danos superam os beneficios, no ha por que manté-to. Entretanto, se 0 ensaio se mostra mais eficaz do que se ima- sginava no planejamento e os benelicios ja podem ser percebidos, nao é razodvel ‘continuar com a intervencao. E se hd indicios de que o ensaio nao iré possibilitar a obtencdo de respostas ao problema de pesquisa, nao é ético exigir que os parti- cipantes nele permanecam. 8.1.10 Andlise dos resultados Os procedimentos utilizados na anélise dos resultados dos ensaios clinicos silo praticamente os mesmos dos estudos experimentais, Os testes de diferencas entre médias sao os mais importantes. Como, porém, muitos dos dados sao de natureza qualitativa, e as amostras, por no serem probabilisticas, nao se distri- como Daisear um Eaenio Cie? 87 buem, na maioria dos casos, segundo os pardmetros da normalidade, utilizam-se, com frequéncia, testes nao paramétricos. 8.1.11 Redagdo do relatério A redagio do relatério dos ensaios clinicos segue os mesmos passos das pes- quisas experimentais (Ver Capitulo 7). 8.2 Delineamento fatorial O delineamento fatorial envolve a aplicagdo simultinea de duas ou mais i tervengdes num tnico experimento, Um exemplo desse tipo de delineamento € © estudo sobre ataque isquémico, em que a aspirina e a sulfimpirazona foram comparadas com 0 placebo (THE CANADIAN COOPERATIVE STUDY GROUP, 1978). O estudo indicava que a aspirina poderia ser utilizada para a redugio da frequéncia do ataque, enquanto a sulfimpirazona nao teria efeito e a combinacao das drogas nao produzitia efeito melhor do que a aspirina isoladamente. Os par- ticipantes foram, pois, aleatoriamente alocados para quatro grupos, mas cada pétese foi testada comparando-se duas metades do grupo. Primeiramente, todos aqueles que tomavam aspirina foram comparados com os que tomavam placebo. Depois, todos aqueles que tomavam sulfimpirazona foram comparados com os que receberam o placebo correspondente. Assim, tornou-se possivel realizar dois, ensaios pelo custo de um. © delineamento fatorial tem algumas vantagens. Se existe a chance de inte- ragio entre duas intervengGes, e utiliza-se uma amostra de tamanho apropria- do, o delineamento fatorial pode ser muito informativo e eficiente. Mas também. apresenta algumas limitagdes. A principal delas refere-se & possibilidade de inte- ragio entre os medicamentos e o desfecho. Assim, cuidados especiais devem ser tomados em relacio ao recrutamento, & aderéncia ao tratamento e ao potencial efeito dos medicamentos. 8.3 Delineamento randomizado com alocagao de grupos Nessa modalidade de delineamento, 0 pesquisador, em vez de alocar indivi- duos, aloca grupos ou aglomerados, como, por exemplo: comunidades, escolas, instituigdes religiosas e fébricas. Apesar de serem aglomerados que se manifes- tam naturalmente, esse delineamento também é randomizado. Tem sido muito utilizado em ensaios referentes a tratamento de cdncer, nos quais pesquisadores costumam ter dificuldade para tratar com os sujeitos acerca da ideia da rando: mizacao. 88. Como Eaberar Poets dePesqusn + i Essa modalidade de delineamento é prética e econémica. Mostra-se muito Util nas pesquisas sobre programas de satide publica, como as que tratam de questées referentes 4 nutrigéo, que sao dificeis de implementar individualmente sem afetar os outros membros da familia. Sua principal desvantagem esta no fato de que as unidades nio so pessoas, mas sim grupos, 0 que toma a analise dos dados mais complicada, 8.4 Delineamento com grupo de controle nao equivalente Esse tipo de delineamento envolve um tratamento experimental a dois ou ‘mais grupos, mas os sujeitos néo so designados de forma randémica. Um exem- plo desse delineamento é o da comparacio dos resultados de pacientes tratados em duas instituigées, sendo que numa delas utiliza-se uma nova modalidade de cirurgia e na outra uma mais tradicional. Esse delineamento é considerado quase-experimental, porque, apesar de en- volver a manipulagdo da varidvel independente, carece da designagio aleatéria de individuos tanto para o grupo experimental quanto para o de controle. Trata se, portanto, de delineamento mais fraco, pois nao ha garantia de que os dois ‘gTupos sejam iguais no infcio do estudo. Mas tem valor porque a coleta de dados no pré-teste possibilita determinar diferencas entre os grupos, sobretudo quando forem constituidos por um grande mimero de sujeitos. 8.5 Delineamento de séries temporais Nessa modalidade de delineamento, uma nova intervengio & usada numa série de sujeitos e os resultados so comparados com os resultados obtidos na primeira série, Dessa forma, cada patticipante serve como o seu préprio controle para avaliar 0 efeito do tratamento. Trata-se, a rigor, de um delineamento pré-experimental, pois nao apresenta nem grupo de controle nem designagao aleatéria dos participantes. E evidente a fraqueza desse delineamento, Nao hé como garantir que a eficdcia da intervencao tenha sido determinada, por exemplo, pelo efeito do aprendizado: participantes que apresentam um desempenho melhor em testes posteriores de fungdo cogniti- va por terem aprendido no teste basal. Mas, apesar de sua fraqueza, os delineamentos de série temporal sio relativa- mente frequentes. Isso porque hé situagdes em que é muito dificil a constituigéo aleatéria de dois grupos. Assim, esses delineamentos possibilitam o trabalho com lum niimero menor de casos, pois cada participante contsibui com a informagao Para ambos os tratamentos, Também pode ser considerada vantagem a elimina- ‘sao da influéncia de varidveis inatas, como sexo, idade e fatores genéticos. Como Delinar un Enso ines? 69 8.6 Delineamento cruzado (0 delineamento cruzado ¢ uma sofisticagao do delineamento de séries tem- porais. Num primeiro perfodo, metade dos participantes no primeiro periodo ecebe 0 tratamento A ¢ a outra metade o tratamento B. No perfodo seguinte, aplica-se o tratamento B na amostra anteriormente tratada com Ae o tratamento B na amostra tratada com A. A seguir, confrontam-se os resultados por tratamen- toe por ordem de tratamento, verificando se existe interacéo. A grande vantagem desse delineamento & que minimiza as possibilidades de confundimento, pois cada participante funciona como seu préprio controle. Dessa forma, amplia-se o poder estatistico do ensaio, o que possibilita utilizar um niimero menor de participantes. Apresenta também a vantagem de possibilitar a verificagao da relagao entre fenémenos num momento fixo no tempo. Leituras recomendadas OLIVEIRA, Granville Garcia de. Ensaios clinicos: principios e prética. Brasflia: Edi- tora ANVISA, 2006. Este livro, ao longo de 16 capitulos, trata dos fundamentos cientificos da pesquisa clinica, da condugio de ensaios clinicos, da organizagao de centros de pesquisa clinica, dos ensaios multicéntricos, do uso da bioestatistica e das impli- cages éticas na pesquisa clinica. HULLEY, Stephen B.; CUMMINGS, Steven R,; BROWNER, Warren S.; GRADY, Deborah; NEWMAN, Thomas B. Delineando a pesquisa clinica: uma abordagem metodoldgica. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. £ um dos mais conhecidos manuais de pesquisa clinica. Os autores, utilizan- do linguagem simples e concisa, fornecem os esclarecimentos necessérios para 0 planejamento das diferentes modalidades de ensaios clinicos. Exereicios e trabalhos praticos 1. Discuta a influéncia de fatores, como sexo, idade e outras caracteristicas dos participantes, que podem confundir os resultados se nao forem considerados no processo de randomizacao. 2. Identifique raz6es de ordem pratica e ética que podem dificultar a constitui- Gao de dois grupos aleatérios para a realizacao de uma pesquisa clinica. CO IEIAS'_TT CC~CS LL 90 come Eisborar Projets de Pegulsh + ci 3. Que procedimentos técnicos podem ser adotados com vistas a identificagéo das caracteristcas dos individuos selecionados para compor os grupos aos. | quais sera submetido o tratamento. | 4. Num livro de Bioestatistica, localize téenicas que podem ser utilizadas para | verificar quao significativas sao as diferengas dos resultados obtidos nos grupos. 5. Identifique razdes que justifiquem a realizacio de ensaios quédruplo-cegos, | 0s individuos pertencem, mas também as pessoas responséveis pela andlise estatistica dos dados e pela redacio do relatério. | Como Delinear um Estudo de Coorte | © delineamento de um estudo de coorte apresenta pontos de semelhanga | com o dos ensaios clinicos, pois é constitufdo por uma amostra de pessoas expos- tas a determinado fator e outra amostra equivalente de no expostos. A exposi- } $0, no entanto, nao é aplicada aleatoriamente, pois as condigdes de selecio da | amostra séo muito limitadas no estudo de coorte. Os estudos de coorte podem ser classificados em prospectivo e retrospectivo, Em ambos 0s casos, o grupo é formado no presente, mas enquanto o retrospec. | tivo € seguido em direcdo ao futuro, o retrospectivo é estudado em relagdo ao Passado. Assim, procede-se, inicialmente, & apresentacio das etapas seguidas nos estudos prospectivos. Em seguida, apresentam-se as diferenas entre as duas mo. | dalidades de estudo quanto a sequéncia das etapas. | 9.1 Estudos de coorte prospectivos As etapas de um estudo de corte prospectivo sao: a) definigao dos objetivos; | b) selecio dos participantes; ©) verificayae da exposicao; | ©) acompanhamento dos participantes; 4) andlise ¢ interpretagio dos resultados; 92 Come Haborar Projets de Feguia + Gi 9.1.1 Definigéio dos objetivos Um estudo de coorte tem sempre como objetivo verificar os efeitos de deter minada exposicio sobre os individuos. Verificar, por exemplo, quais os maleficios para a satide decorrentes de habito de fumar. Assim, o estudo de coorte implica a construco de hipéteses. O pesquisador, com base ne literatura e em observagdes, antecipa efeitos, que espera verificar ao longo do estudo. 9.1.2 Selegdo dos participantes © estudo de coorte se inicia com uma especificacio clara do grupo dos indi- vviduos expostos ao fator de risco. O grupo de individuos néo expostos, por sua vez, deve apresentar caracteristicas similares ao dos expostos, exceto em relacdo a exposico que se pretende estudar, Deve apresentar também o mesmo risco po- tencial de apresentar os desfechos ¢ as mesmas oportunidades que 0s expostos. Para garantir essa similaridade entre os grupos é necessdrio que sejam recrutados nas mesmas fontes e mediante os mesmos procedimentos. Mediante observacio, interrogagéo ou exame clinico dos integrantes da amostra, determina-se’o nivel de exposi¢ao @ que estiveram submetidos. Por exemplo, numa pesquisa sobre os efeitos do fumo, os participantes respondem a ‘um questionério cujos resultados possibilitam formar o grupo de expostos e de ‘no expostos. Para controlar possiveis varidveis intervenientes, é preciso, nessa mesma ocasido, certficar-se de que 0s individuos incluidos na amostra nao este- Jam doentes. Especificamente nesse caso, que nao sofram de bronquite crdnica ‘ou padecam de outras afeccdes relacionadas ao habito de fumar. A existéncia de doencas dessa natureza levaria a exclui-las da amostra Embora o modelo clissico de estudo de coorte considere a exposigéo como ‘um evento dicotémico (exposto/ndo exposto), isto nem sempre ocorre na rea dade. Por essa razdo convém que a coorte possa ser subdividida segundo diferen- tes niveis de exposigao. Num estudo sobre os efeitos do tabagismo, por exemplo, conviria que os individuos selecionados pudessem ser categorizados em diferen tes niveis de consumo. 9.1.3 Acompanhamento dos participantes ‘Uma das indagagées mais comuns em relacio aos estudos de coorte é a refe rente ao perfodo em que os participantes devem ser acompanhados. A resposta é simples: pelo tempo suficiente para que possam ser detectados efeitos relevantes. Mas € necesséirio ter muita clareza acerca dos desfechos. Estes podem ser simples, como, por exemplo, morte ou incidéncia de enfermidade. Mas também podem ser miltiplos, como os que se referem a enfermidades recorrentes, sintomatolo- Bias ou eventos fisiolégicos. ome Delica un Hauge de Coone 99 © periodo de seguimento pode envolver anos, meses, semanas ou dias, de. pendendo da natureza da pesquisa. Por exemplo, se o interesse est em verificat a expectativa de vida de um grupo de pacientes, podem ser tequeridos muitos anos. J um estudo para verificar a morbidade que se segue a alguns tipos de cirurgia de modo geral néo requer mais do que algumas semanas ou mesmo dias. seguimento da populagéo continua até que ocorra uma das seguintes con- digées: (a) manifestagao do desfecho, que pode ser tanto a manifestago quanto a cura da doenca. Neste caso, 0 individuo deixa de contribuir para a coorte, mas poder reingressar caso o evento seja recorrente; (b) morte dos sujeitos; (c) abandono do estudo; e (d) fim do estudo. ‘Também ¢ importante considerar que as coortes podem ser fixas ou dindmi- cas. Fixas sto aquelas que por critério definido no planejamento ndo preveem a nclusdo de novos sujeitos apés 0 perfodo fixado para recrutamento. Dindmicas séo aquelas que consideram a entrada e saida de novos sujeitos durante 0 se- guimento. Nesse caso, 0s sujeitos entram ou saem da coorte quando cumprem critérios de elegibilidade. 9.1.4 Andlise e interpretaso A base da andlise de um estudo de coorte é a quantificagéo da varidvel de- pendente em ambos os grupos ¢ 0 céleulo das taxas de ocorréncia indicativas do risco de cada grupo, O que se espera é que haja associagdo positiva entre a exposigdo e 0 evento. Ou seja, que a proporcao de sujeitos do grupo exposto que desenvolve a enfermidade seja maior do que a proporcéo do grupo nao exposto. Assim, os estudos de coorte geralmente envolvem o célculo do risco relativo e do risco atribuivel. O risco relativo indica quantas vezes o risco é maior num grupo, quando comparado a outro. O risco atribuivel indica a diferenga das incidéncias entre os dois grupos, diferenca que é atribuida & exposigao ao fator de risco. Em algumas circunstancias, os estudos de coorte podem requerer téenicas bem mais sofisticadas de andlise. Isso pode ocorrer quando efeitos sutis esto sen- do investigados. Nestes casos torna-se conveniente utilizar técnicas multivariadas. 9.1.5 Redagdo do relatério Aredagio do relatério dos estudos caso-controle segue os mesmos passos das pesquisas experimentais (Ver Capitulo 7). 9.2 Estudos de coorte retraspectives ‘Nessa modalidade de estudo, o investigador jé tem conhecimento de que tan- toa exposicao quanto a doenca jé ocorreram. Assim, os dados de interesse para 0 94 Come taborar Projets de Peguin + Gil estudo devem estar disponiveis em arquivos ou obtidos por anamnese. A medida que disponha dos dados, o pesquisador pode organiz4-los, formando o grupo de expostos € nao expostos. Entao, para cada um dos grupos, calcula a incidéncia dos efeitos. Tem-se, pois, uma pesquisa de cunho histérico, mas em que se man: tém o prinefpio dos estudos de coorte. A principal vantagem dos estudos de coorte retrospectivos é a de poder ser realizado em tempo reduzido, ja que nao requer 0 acompanhamento dos indivi- duos pelo pesquisadot. Mas esses estudos também apresentam limitagées, sobre- tudo para investigacao de doencas de longo periodo de investigacao. Isso porque nem sempre se dispde de arquivos mantidos em boas condigées de utilizagao. ‘Também porque nao hé garantia de padronizagao das anotagoes. E, ainda, por- ‘que dados obtidos por anamnese tém que ser analisados com muitas ressalvas. Leituras recomendadas HULLEY, Stephen B.; CUMMINGS, Steven R.; BROWNER, Warren S.; GRADY, Deborah; NEWMAN, Thomas B. Delineando a pesquisa clinica: uma abordagem metodoldgica. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. © Capitulo 7 deste livro trata das diferentes modalidades de estudos de coor te, discute suas vantagens ¢ limitages e apresenta exemplos de cada um deles. OLIVEIRA, Therezinha de Freitas Rodrigues. Pesquisa biomédica: da procura, do estudo e da estrutura de comunicagées cientificas. Sao Paulo: Atheneu, 1995, 0 Capitulo 10 deste livro trata dos estudos de coorte, onde so apresentadas as etapas de seus desenvolvimentos e sio feitas comparagdes entre essa modal dade de pesquisa, experimentos ¢ estudos caso-controle. Exercicios e trabalhos praticos 1. Discuta como a perda de participantes ao longo do seguimento pode compro- meter a validade dos resultados de um estudo de coorte. 2. Considere as vantagens e as limitages da utilizagdo dos seguintes procedi ‘mentos para coleta de dados em estudos de coorte: dados de registro, ques- tiondrios de autopreenchimento, entrevistas por telefone, entrevistas pes- soais e exames fisicos. 3. Discuta a aplicabilidade dos estudos de coorte no estudo do impacto de fa- tores prognésticos, como, por exemplo, os marcadores tumorais na evolucio do cancer, 4. Considere a necessidade de considerar variaveis demograficas e socioecond- ‘micas no planejamento dos estudos de coorte. 10 Como Delinear um s Estudo Caso-Controle? i © estudo caso-controle tem objetivo semelhante ao do estudo de coorte: esclarecer a relagio entre exposigdo a um fator de risco e a doenca, Difere deste, no entanto, porque é de natureza retrospectiva, ou seja, parte do efeito para clucidar as causas. De modo geral, os estudos de caso-controle seguem as seguintes etapas: a) definigao dos objetivos; 1) selecdo dos participantes; ©) verificagio do nivel de exposigao de cada participante; 4) andlise ¢ interpretacao dos resultados; € €) redagdo do relatério. 10.1 Definigao dos objetivos A légica subjacente a esta modalidade de pesquisa consiste na busca de evi- déncia de que maior exposicao entre os sujeitos que constituem os casos em comparacao com os controles pode ser caracterizada como fator de riseo. O que significa que seus objetivos devem ser apresentados sob a forma de ; com a definicéo clara das varidveis independentes e dependentes. A varidvel de- pendente é a varidvel de desfecho, ou seja, referente & doenca ott condigdo que se pretende estudar. Jd as varidveis independentes sao as preditoras do desfecho, referindo-se, portanto, & exposi¢ao ou a qualquer outra caracteristica que se acre. dite preditora. 96 como Maboay Projets de Peguisn + Gil 10.2 Selecao dos participantes Os casos devem ser selecionados com base em critérios de incluso e exclu: so previamente estabelecidos, mediante procedimentos diagnésticos sensiveis, de forma tal que se tenha uma amostra representativa da populagdo em estuclo, Assim, tornam-se mais expressivos os estudos realizados com base populacional, em que se seleciona uma amostra representativa de uma populagdo definida, que considera o total de casos numa populacao. Todavia, em face da dificuldade de se obterem dados populacionais, muitos estudos sio realizados a partir de uma base hospitalar ou institucional. Nesta modalidade séo selecionados apenas os casos detectados nesses hospitais ou estabelecimentos. Em qualquer das situagées, os participantes sao escolhidos em fungao de apresentar caracteristicas que possibilitem a investigagio dos efeitos da expo. sigo na ocorréncia da doenga. Requet-se, portanto, a selegdo de um grupo de individuos portadores de uma doenga ou condicao especifica e um grupo de indi. viduos que nao sofrem da doenca ou apresentem essa condigao, Para cada caso é escolhido um controle adequado. O prinefpio bisico é 0 da maxima semelhanca entre casos e controles, exceto no que se refere A doenga, pois a principal caracteristica dos controles é a de nao ser portador da doenga ou da condigdo em estudo, Os controles devem, portanto, apresentar idéntica probabilidade de serem expostos ao fator de risco que esté sendo investigado. De modo geral, nao é muito dificil a obtengo da amostra adequada de casos, mas a selecio de controles tende a ser mais problematica. Isso porque exige-se dos controles que nao sejam portadores da doenga ou condigdo em investigacao, ‘mas que pudessem ser incluidas no estudo, caso a tivessem. Por essa razaio & que se deve evitar escolher casos em regides ou ambientes muito diferentes daqueles em que foram escolhidos os casos. Também € muito importante garantir que a mensuragao da exposicao dos dois grupos seja feita com a mesma preciso. Com vistas a minimizar os erros decorrentes da selegio dos controles, propée- Se que estes sejam selecionados da mesma maneira que os casos. Quando, por exemplo, os casos forem constituidos por pacientes de hospitais e ambulatérios, 8 controles poderdio ser selecionados na comunidade atendida pelo hospital, ou dentre pacientes hospitalizados em decorréncia de outras doeneas. Recomenda- se também utilizar 0 pareamento para garantir que 0s casos e controles sejam Compardveis. Assim, escolhe-se, para cada caso, um controle com as mesmas caracterfsticas de idade, sexo, cor da pele, nivel socioeconémico, ocupagao, ot qualquer outra varfavel que possa interferir nos resultados. ‘Também se recomenda selecionar mais de um controle para cada caso, de ‘maneiras diferentes. Assim, poderdo ser selecionados vizinhos, pacientes do mesmo servigo ete. Isso porque ce a associagdo for consistente, mediante a ul 2aGao de varios tipos de controle, é provavelmente porque essa associacao existe 1a populacao. Como Denese ua Exade Cao-Conttle? 97 10.3 Verificacao do nfvel de exposi¢ao de cada participante ‘Apés a selecio dos casos ¢ controles, passa-se A verificagio do nivel de ex- posigo de cada caso e controle ao fator que se acredita capaz de influenciar na ‘ocorréncia da doenca ou condigao. Um dos procedimentos mais utilizados para a obtencio das informagdes é a entrevista. A validade dessas informages, no entanto, pode ser critica, pois depende em boa parte do tipo de informacao requerida, ja que as pessoas apre- sentam diferentes graus de habilidade para se lembrar de acontecimentos. Muitas, pessoas podem se sentir aptas para lembrar dos locais em que jé viveram, os dos trabalhos que jé executaram, mas podem ter dificuldade para falar de seu com portamento dietético recente, Também é preciso considerar que as pessoas doen- tes (casos) tendem a se lembrar de possiveis exposigées de maneira diferente da dos nao doentes (controles). ‘Algumas estratégias podem ser utilizadas para evitar esses problemas, tais como a utilizagao de dados obtidos antes da realizagio da pesquisa, como os disponiveis em prontuérios médicos. Também é possivel realizar entrevistas com parentes, amigos ou colegas de trabalho. Um procedimento reconhecido como muito itil é a realizagio da entrevista com investigador “cego”, que nao tem co- nhecimento dos objetivos da pesquisa que est sendo realizada, Mas assim como a entrevista com entrevistados igualmente “cegos”, este é um procedimento mui- to dificil de se realizar. 10.4 Anélise e interpretacdo dos resultados © que interessa num estudo caso-controle & verificar a distribuigdo das va- ridveis nos diferentes grupos e calcular o risco dos casos em relagao aos controles para os fatores ou varidveis de interesse. Mas, diferentemente do que ocorre com 9s estudos de coorte, nos estudos caso-controle nao se pode estimar diretamente aincidéncia da enfermidade nos expostos e nos nao expostes, visto que os sujei- 10s séo selecionados com base na presenca ou auséncia de evento de estudo e no pelo status da exposigéo. Assim, enquanto nos estudos de coorte geralmente se utiliza 0 céleulo do risco relativo e do risco atribuivel, nos estudos caso-controle utiliza-se a frequéncia relativa da exposigdo entre os casos e os controles, ou seja, dos expostos sobre os nao expostes. Essa medida de frequéncia relativa ¢ 0 odds ratio, que indica quantas vezes é malor a probabllidade de que os casos tenham estado expostos ao tator em estu- do em comparacao com 0s controles. Calculando-se, por sua vez, o intervalo de confianga desta medida, tomna-se possivel calcular sua precisao. 98 Come Elabovr Projets de esgiea + Git 10.5 Redagao do relatério Aaetatio do relatério dos estudos caso-controle segue os mesmos passos das Pesquisas experimentais (Ver Capitulo 7). Leituras recomendadas OLIVEIRA, Therezinha de Freitas Rodrigues. Pesquisa biomédica: da rocura, do achado e da escritura de tese e comunicagdes cientificas. $30 Paulo: Atheneu, 1995, 2 Fapitulo 10 deste livro é dedicado ao delineamento de estuclos caso-con- tre, Enfase especial & confeida aos padrées metodoldgcos eigides sacasee, guardar a validade desses estudos. Deb, Stephen B.; CUMMINGS, Steven R.; BROWNER, Warren $.; GRADY, Deborah; NEWMAN, Thomas B. Delineando @ pesquisa clinica: uma abordagem metodolégica. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008, LO apiulo 8 deste livo trata das diferentes modalidades de estudos caso-con. ‘role, dscute suas vantagens ¢ limitagdes e apresenta exemplos de cade uns dclen Exercicios e trabalhos praticos 1 Considere como o pesquisador pode influir nos resultados da pesquisa, intro- luzindo distorgdes voluntarias ou involuntérias, quando sabe que o agony tado é um caso ou um controle. 2 Keentifque possveis diftculdades para avaliaro nivel de individu a expos Séo de individuos a contaminagao do ar, 3. Mentfique problemas éticos que podem ser encontrados em estudos caso controle, + Prena vantagens do pareamento nos estudos caso-controle, ou sea, a faaght, Pare cada caso, de um controle com as mesmas caracteristieg, de ‘dade, sexo, cor da pele, nivel social, ocupagio ete, 11 Como Delinear um ' Levantamento? | 11.1 Etapas do levantamento 3s dos mais diversos tipos (socioeconémicos, psicossociais exc) desnvoiem se av longo de are etapa. De mao grees foe dem ser definidas na seguinte sequéncia: a) especificagdo dos objetivos; b) operacionalizagdo dos conceitos e variaveis; ©) elaboragao do instrumento de coleta de dados; 4) préteste do instrumento; €) selegdo da amostra; 1) coleta e verificagao dos dados; 8) anilise e interpretagdo dos dados; h) redag do relatério. 11.2 Especificacao dos objetivos Os problemas propostos para investigacio geralmente o so de maneira i tance geral Todas, para que se poss cealzara pesquisa com a preciso requer- da, & necessrio especies. Os objetivos geal sto pontos de pata, indicam uuma diregéo a seguir, mas, na maioria dos casos, nao possiil tam que se par para a investigagio. Logo, precisam ser redefinidos, esclarecidos, deli Dai surgem os objetivos especificos da pesquisa. 100 como tsborar Projet de Pesgulsa + Gi Os objetivos especificos tentam descrever, nos termos mais claros possiveis, exatamente 0 que serd obrido num levantamento, Enquanto 0s objetivos gerais referem-se a conceitos mais ou menos abstratos, os especificos referem-se a ca racteristicas que podem ser observadas e mensuradas em determinado grupo. A especificacéo dos objetivos ¢ feita pela identificagao de todos os dados a serem recolhidos e das hipéteses a serem testadas. Por exemplo, determinado levantamento tem como objetivo tragar o perfil socioecondmico de determinado grupo. Esse objetivo geral, de certa forma, indica 0 que se pretende como produto final, Contudo, ndo foi formulado levando em consideragio 0 que requerem os procedimentos de coleta de dados. Logo, toma-se necessdrio formular os objeti- vos especificos, que indicam exatamente os dados que pretende obter. Assim, os objetvosespeticos do levanamento exemplifeado vera como orients do grupo se daibucn aoe Pose 2) gtnero; +b) idade; ©) estado civil; d) numero de filhos; €) religiao; f) nivel de escolaridade; 8) ocupacio profisonal; h) local de residéncia; i) nivel salarial; J) posse de automével; 2) patrimonio mobili Em alguns levantamentos, o objetivo é testar hipsteses. Pode ocorrer que se arta de uma hiptese bastante geal Dai a necesidade de subvil s tese em sub-hipéteses. ae aa ‘Ssia, por exemplo, o caso de uma pesquisa que tena como objetivo testar a hipétese de que a preferéncia politico-partidéria de determinado grupo relaciona. 5 mais a farores perceptivos que a fatores socioecondmicos. Assim os objetivos especificos dessa pesquisa poderao ser definidos pelas hipoteses: Observa-se a existéncia de relagdo posit it i gar; NT 8 eniténcia de relasio positiva entre preferénciapoitco-parti- * género: + idade; * estado civil; ¥i Come Daliesr un Levatamenss? 101 * nivel de escolaridade; + nivel de rendimentos; e + nivel de socializagao urbana. Observa-se a existéncia de relagdo positiva entre preferéncia politico-parti- daria e: * status social percebido; + percepgio acerca das instituigdes politicas do capitalismo; {bes democraticas; * crenga nas ins + conformismo em relagdo as desigualdades sociais, Nesse caso, hé duas hipéteses: a primeira, que associa preferéncia politico- partidaria a fatores socioecondmicos, e a segunda, a fatores psicossociais. Por serem muito amplas, as hipéteses foram subdivididas. Deve ficar claro que as hipdteses a serem testadas mediante levantamentos indicam apenas a existéncia de associacio entre variaveis. Qualquer tentativa de atribuir relago causal implicara um delineamento de tipo experimental ou quase experimental, 11.3 Operacionalizagao dos conceitos e varidveis “Muitos dos conceitos ou varidveis utilizados nos levantamentos sociais so empiricos, ou seja, referem-se a fatos ou fendmenos facilmente observaveis € mensuraveis.E 0 caso, por exemplo, de idade, nivel de escolaridade e rendimen- tos. Muitos outros fatos e fendmenos, no entanto, no sao passiveis de observagio, imediata e muito menos de mensuragao. E 0 caso, por exemplo, de “status social” e nivel de socializagio urbana. Nao é possivel observar uma pessoa e determinar prontamente a posiglo que ocupa na sociedade ou em que medida esta imegrada no modo de vida urbano. Nesses casos, toma-se necessério operacionalizar esses conceitos ou varidveis, ‘ou seja, torné-los passiveis de observagao empirica e de mensuragdo. Para tanto serd necessario primeiramente defini-Io teoricamente. Caso seja muito complexo, ser necessério determinar suas dimensGes. A partir dai procede-se & chamada definigio operacional do conceito ou da varidvel, ou ainda de suas dimensGes. Essa definicéo operacional fard referéneia aos indicadores do conceito ou da va- ridvel, ou seja, aos elementos que possibilitardo identificé-lo de maneira pratica. Seja 0 caso do “status socioeconémico". Pode-se definir teoricamente essa vvaridvel como a posigio de um individuo na sociedade, tomando-se como refe- réncia a posigdo de outros individuos em relagao a sua. Naturalmente, essa é uma 102 Como Baber Poets de Fein + Git varidvel bastante complexa e, como tal, envolve diversas dimensées, como: a eco- nomica, a educacional e a de prestigio ocupacional. Essas ts dimensdes, por sua ‘vez, podem ser medidas por indicadores como: renda mensal, graut eduencional alcangado ocupacao (desde que seja conhecido o grau de prestigio relativo das ocupagGes). Esses indicadores, por serem bastante coneretos, possiblitam ses medica, conduzindo ao estabelecimento do valor da variavel. Deve ficar claro que as operagdes a serem realizadas com as dimensoes de uma varidvel para tomné-la mensuravel dependem de sua distancia em relacao 20 plano empirico. Assim, a dimensio educacional enquanto conceito estd mut Inais proxima da realidade concreta que a dimensao prestigio ocupacional. Tanto € aue basta 0 conhecimento do grau de educagao formal de um individuo pars medi a dimenséo educacional. J a mensuracio do prestigio ocupacional exigitd 8 consideragio de indicadores diversos,tais como: denominagao da ocupaeto, Posiséo na ocupacio, tarefas desempenhadas e escala de prestigio das ocupagdes no local em que se realiza a mensuracio, Nos casos como o do prestigio ocupacional, que exigem a selecéo de diversos indleadores, a mensuracao efetiva 36 se faz mediante a combinagio dos valores gbtidos pelo individuo em cada um dos indicadores propostos, Essa combinacio €denominada indice. a A tarefa de selecdo dos indicadores, embora simples, & bastante delicada € exige do investigador muita argticia e experiéncia. Ocorte que multas vores cxic tem diversos indicadores para a mesma varidvel, tomande-se diflel scat 0 mais adequado. Em alguns cas0s, os indicadorestidos como mais aproeriades nio slo féceis de medir, devendo ser substtuidos por outros menos eontidven todavia passiveis de medio pelos meios de que dispde o pesquisador Tambere hd casos em que os indicadores nose referem exatamente 4 varidvel em queseae ‘mas a um aspecto conexo de menor relevancia, Para bem decidir acerca dos indi cadores necessério que o investigador seja dotado de grande intuigao e séidg Gonhecimentos sobre o tema pesquisado. Caso contéri, a pesquisa, a despelte se seeeavse de grande aparato tecnico, enderé a produzi resultados bastante uivocados. 11.4 Elaboracao do instrumento de coleta de dados 11. 1.1 Instrumentos usuais Para a coleta de dados nos levantamentos sio utiizadas as técnicas de inter- Tosacio: o questionério, a entrevista ¢ o formulétio, Por questiondrio entende. Enc Confunto de questdes que sto respondidas por escrito pelo pesquisado, Entrevista, por sua vez, pode ser entendida com a téeniea que ehvolve dacg pessoas numa situagdo “face a face” e em que uma delas formula questoes ea outta responde. Formulétio, por fim, pode ser definido como a técnica de cole, Como Delia um Levantamento? 103 ta de dados em que o pesquisador formula questdes previamente elaboradas e anota as respostas. Como se pode verificar, estas trés técnicas apresentam muitos pontos de se- melhanga entre si. Por essa razo so definidas de forma diversa por alguns au- tores, Todavia, para garantir coeréncia, as mengdes as técnicas de interrogacao a serem feitas a0 longo deste livro estardo relacionadas as definigées estipuladas. Qualquer que seja o instrumento utilizado, convém lembrar que as técni cas de interrogacao possibilitam a obtengio de dados a partir do ponto de vista dos pesquisados. Assim, o levantamento apresentard sempre algumas limitagdes hho que se refere ao estudo das relagdes sociais mais amplas, sobretudo quando estas envolvem varidveis de natureza institucional. No entanto, essas técnicas mostram-se bastante titeis para a obtengdo de informagées acerca do que a pes soa “sabe, cré ou espera, sente ou deseja, pretende fazer, faz ou fez, bem como a respeito de suas explicagdes ou razdes para quaisquer das coisas precedentes” (SELLTIZ, 1967, p. 273). Deve ficar claro que as perguntas sobre fatos so as de mais facil obtengdo. Nao ha maiores dificuldades para obter dados referentes a sexo, idade, estado civil, mimero de filhos etc. Em alguns casos, porém, as pessoas podem negar-se a responder a algumas perguntas, temendo consequéncias negativas, tais como cobranca de impostos ou desprestigio social. J4 as perguntas referentes a senti- mentos, crencas, padrdes de agdo, bem como a razdes conscientes que os deter- minam, sio mais dificeis de ser respondidas adequadamente. Isso exige esforgos redobrados na elaboracao do instrumento e, sobretudo, na andlise e interpreta- Gao dos dados. Analisando-se cada uma das trés téenicas, pode-se verificar que 0 questi nério constitui o meio mais répido e barato de obtencio de informagées, além de nao exigir treinamento de pessoal e garantir 0 anonimato. J a entrevista 6 aplicdvel a um mimero maior de pessoas, inclusive as que no sabem ler ou escrever. Também, em abono a entrevista, convém lembrar que ela possibilita 0 auxilio ao entrevistado com dificuldade para responder, bem como a andlise do seu comportamento nao verbal. © formuldrio, por fim, retine vantagens das duas técnicas, mas, em contrapartida, algumas das desvantagens tanto do questionario quanto da entrevista. Embora apresentando limitagdes, como a de nao garantir 0 anonimato e a de exigir treinamento de pessoal, 0 formulrio torna-se uma das mais praticas ¢ eficientes técnicas de coleta de dados. Por ser aplicdvel aos mais diversos segmentos da populagao e por possibilitar a obtengo de dados facilmen- te tabuldveis e quantificdveis, o formulério constitui hoje a técnica mais utilizada nas pesquisas de opiniao e de mercado. 11.4.2 Elaboracao do questiondrio A elaboragio do questiondrio consiste basicamente em traduzir os objetivos especificos da pesquisa em itens bem redigidos. Naturalmente, nao existem nor. 104 Como tlborar Projo de Pesguise + Git mas rigidas a respeito da elaboracio do i A a laboracao do questionério, Todavia, & possivel, com b ns expertnia ds pesquisadores, dein slgunasrepras pts see a) as questées devem ser preferencialmente fechadas, mas com altemnati- tas suficientemente exaustivas para abrigar a ampla gama de respostas ossiveis; b) devem ser incluidas apenas ionadas ao problem: apenas as perguntas relacionadas a a rg ©) nilo devem ser includas perguntas cujas respostas possam ser obtidas de forma mais precisa por outros procedimentos; 4) devem-se levar em conta as implicagé 'a as implicagées da pergunta com os procedi- mentos de tabulagdo e anilise dos dados; * proces ©) devem ser evitadas perguntas que penetrem na intimidade das pessoas; as perguntas devem ser formuladas de maneira clara, concreta e precisa; 2 eves evar em considera cea de referéncia do entrevistado, 5») @ pergunta deve possibilitar uma tinica interpretacio; }) a pergunta no deve sugerir respostas; Das perguntas devem referr-se a uma vinica ideia de cada ver; D_ omimero de perguntas deve ser limitado; ‘m) 0 questiondrio deve ser iniciado com as i Perguntas mals simples e fina lizado com as mais complexas; a 1) as perguntas devem ser dispersadas sem 0 se Fema 5p ipre que houver possibilidade ©) convém evitar as perguntas intas que provoquem respostas defensivas, este. Feotipadas ou socialmente indesejaveis, que acabam por encobrir sug real percepcéo acerca do fato; ) deve ser evitada a inclusio, nas perguntas, de palavrasestreotipadas em como a mencio a personalidades de destaque, que podem itflens, iar as respostas, tanto em sentido positivo quanto negaciver cuidados especiais devem ser tomados em relacio & a ec tomados em relago & apresentacio gré- fica do questionério, tendo em vista facilitar seu preenchimentn 1) 0 questionétio deve conter uma introdugi ‘ 0 mer uma introdugdo que informe acerca da en. tidede patrocinadora, des razBes que determinaram a realizaghe da Pesquisa e da importincia das respostas para ating ses sbjccnns 9G auestionério deve conter instrugdes acerca do correto preenchimento das questdes, preferencialmente com caracteres gréficos diferenciados, (Como Dainese um Levanasento? 105 11.4.3 Condugdo da entrevista E facil verificar como, entre todas as técnicas de interrogagio, a entrevista 6 que apresenta maior flexibitidade. Tanto é que pode assumir as mais diversas formas. Pode caracterizar-se como informal, quando se distingue da simples con- vversago apenas por ter como objetivo basico a coleta de dados. Pode ser focaliza- da quando, embora livre, enfoca tema bem especifico, cabendo ao entrevistador esforgar-se para que 0 entrevistado retome ao assunto apés alguma digressio. Pode ser parcialmente estruturada, quando é guiada por relagio de pontos de in- teresse que o entrevistador vai explorando ao longo de seu curso. Pode ser, enfim, totalmente estruturada, quando se desenvolve a relacao fixa de perguntas. Nesse aso, a entrevista confunde-se com o formulétio. Nos levantamentos que se valem da entrevista como técnica de coleta de dados, esta assume forma mais ou menos estruturada. Mesmo que as respostas possiveis néo sejam fixadas anteriormente, o entrevistador guia-se por algum tipo de roteiro, que pode ser memorizado ou registrado em folhas préprias. A realizacio de entrevistas de pesquisa € muito mais complexa que entre vistas para fins de aconselhamento ou selecao de pessoal. Isso porque a pessoa escolhida nao é a solicitante. Logo, o entrevistador constitui a tinica fonte de mo- tivagio adequada e constante para o entrevistado. Por essa razo, a entrevista nos levantamentos deve ser desenvolvida a partir de estratégia e tética adequadas. Acestratégia para a realizacdo de entrevistas em levantamentos deve conside rar duas etapas fundamentais: a especificagio dos dados que se pretendem obter ea escolha e formulagéo das perguntas. Com relagéo a primeira etapa, cabe lembrar que, com muita frequéncia, co: ete-se 0 erro de colocar 0 problema de maneira muito ampla. Por exemplo, caso se deseje pesquisar a atitude da populacdo em relagdo a greve, nao basta informar-se acerca de suas reagbes a esse respeito, E necessério obter informa~ ‘ges sobre a atitude em relagao a greve de modo geral, sobre as greves reivindica- Xérias, sobre as greves com fins politicos, sobre a conveniéncia de se decidir pela sgreve geral etc. Isso significa estabelecer as relacdes possiveis entre as miltiplas variaveis que interferem no problema, Com relagéo & segunda etapa, qual seja a de escolha das perguntas, convém gue se considerem diversos aspectos, tais como: a) as questdes devem ser diretas (por exemplo: “O que vocé acha da ma- conha?”) ou indiretas (por exemplo: “Seus amigos séo favoraveis & ma- cana”) )_as respostas devem ser formuladas previamente ou devem ser livres?; ©)_ os aspectos a que se referem as perguntas so realmente importantes?; 106 como sabore Projo de Pesquisa» Gi @) as pessoas possuem conhecimentos suficientes para responder As per- ‘guntas?; ©) as perguntas nao sugerem respostas?; 1) as perguntas néo estio elaboradas de forma a sugerir respostas num contexto demasiado pessoal?; 8) as perguntas nao podem provocar resisténcias, antagonismos ou res sentimentos?; 1) as palavras empregadas apresentam significagio clara e precisa; ') as perguntas néo orientam as respostas em determinadas direcoes?; 3 8s perguntas nao estio ordenadas de maneira tal que os pesquisados sejam obrigados a grandes esforgos mentais? Como se pode verificar; muitos dos cuidados a serem tomados na prepara- Sao da entrevista so os mesmos do questiondrio. Entretanto, é necessdrio con. siderar que na entrevista o pesquisador esté presente e, da mesma forma como Pode auxiliar 0 entrevistado, pode igualmente inibi-lo a ponto de prejudicar seus objetivos. Dai por que a adequada realizaggo de uma entrevista envolve, além da estratégia, uma tatica, que depende fundamentalmente das habilidades do entrevistador O entrevistador, antes de mals nada, deverd ser selecionado com vista em ga- Fanti que possua 08 requisites basicos para bem conduzir uma entrevista. Algu- ‘mas das caracteristicas inconvenientes para um entrevistador so: problemas de nsiderado. Se p& < 0,5, a amostra pedida & mulkiplicando-se o dado que aparece nud TAGLIAGARNE, G. Pesquisa de mercado. Sio Paulo: Aas 11.7 Coleta e verificagao dos dados Para que os dados da pesquisa sejam livres de erros intracusides pelos pes Guisadores, ou por outras pessoas, € necessério supervisionar rigorosamente a Sauipe coletora de dados. Primeiramente, é preciso garantir que os pesquisadores Como Delinar um Levastamento? 113 sejam honestos e no coletem dados enviesados. Selecao rigorasa dos pesquisa- dores, realizada por profissionais, poderd eliminar a maior parte dos problemas dessa natureza, ‘Também jé foi lembrado que os pesquisadores devem ser devidamente trei- nados. No entanto, é necessério também, & medida que os dados sejam coligidos, examind-los para verificar se esto completos, claros, coerentes e precisos. Pode ser conveniente selecionar alguns dos elementos jé pesquisados ¢ rea- plicar o instrumento. A medida que se verifica alguma discrepancia, é convenien- te discuti-la com o primeiro pesquisador. Por meio desta discussio, sera possivel verificar se houve lapso no preenchimento ou incapacidade do pesquisador na obtengdo dos dados. A medida que isso é feito, toma-se possivel controlar muitas das deformagées introduzidas durante a coleta de dados. 11.8 Andlise e interpretagio dos dados 0 proceso de analise dos dados envolve diversos procedimentos: codificagao das respostas, tabulagio dos dados e célculos estatisticos. Apés, ou juntamente coma anilise, pode ocorrer também a interpretacao dos dados, que consiste, fun- damentalmente, em estabelecer a ligagio entre os resultados obtidos com outros 44 conhecidos, quer sejam derivados de teorias, quer sejam de estudos realizados anteriormente. Embora todos esses procedimentos s6 se efetivem apés a coleta dos dados, convém, por razées de ordem técnica ou econdmica, que a andlise seja minucio. samente planejada antes de serem coletados os dados. Dessa maneira, o pesqui- sador pode evitar trabalho desnecessério, como, por exemplo, elaborar tabelas que nao serio utilizadas, ou, entio, refazer outras tabelas em virtude da nao incluso de dados importantes. Claro que o planejamento prévio e completo da andlise nem sempre é possivel. Entretanto, num levantamento € sempre possivel € desejdvel estabelecer os esquemas basicos de analise. No referente & codificagdo dos dados, convém que se defina se esta serd reali- zada antes ou depois da coleta de dados. Quando se decide pela pré-codificacao, a elaboragao do questionério ou do formulério exige que se considerem os cam. os préprios para esse fim. Quando se decide pela pés-codificacdo, o que é usual quando sio exigidos julgamentos complexos acerca dos dados, torna-se necess4- rio definir esses critérios. # conveniente também uma definigdo prévia acerca do procedimento a ser usilizado para tabulagao, sobretudo porque o desenvolvimento dessa tarefa tem muito a ver com 0 orgamento da pesquisa. Quando se decide pela tabulagio eletrénica, os custos tendem a ser altos. Por outro lado, quando se tem amostra 114 come biabore Projo de esq + Gi bastante numerosa e grande quantidade de dados, a tabulagdo eletrénica torna- se necessdria para garantir sua efetiva andlise num espago de tempo razodvel. Por fim, na anélise dos dados ha necessidade de célculos estatisticos. Em todos 0s levantamentos, hi que calcular percentagens, médias, correlagdes etc, Esses procedimentos esto intimamente relacionados com os objetivos da pes. uisa, Por tal razio, néo hé como deixar de consideré-los quando ocorrer seu planejamento, 11.9 Redagao do relatério O levantamento € uma modalidade de pesquisa que pode servir para o al ance de objetivo tanto académicos quanto profissionais. Assim, 0 relatorio pode assumir diferentes formatos. Quando a pesquisa tem propésitos rigorosamente cientificos, o relatério ¢ elaborado de forma semelhante 20 da pesquisa expe. Himental, abrangendo, portanto, as seqdes: introdugio (envolvendo problema. Szacdo do tema, contextualizacao, delimitagio ¢ justifcativa da realizacdo da Pesquisa, com a indicagio de seus potenciais beneficios), revisio bibliogréfica Cenvolvendo sistema conceitual, fundamentagao teérica ¢ estagio atual do co, nhecimento a respeito do tema), apresentagao dos resultados, discussao doe re. sultados e conclusdo. Quando, porém, é realizado com propésitos profissionais, como ocorte com as pesquisas de mercado, sua elaboracio tomna-se mais simples Nesses casos, elabora-se uma curta introdugo, apresentam-se informagées ba. sieas acerca da maneira como foi realizada a pesquisa (com énfase na selecio ¢ extragio da amostra) e parte-se para a apresentagdo dos resultados, com énfase ‘os aspectos quantitativos, Leituras recomendadas BABBIE, Earl. Métodas de pesquisa de survey. Belo Horizonte: UFMG, 1999. Uma das obras mais completas sobre levantamentos de campo. Esse livro ‘mostra-se muito util porque nao se restringe a apresentar as etapas dos levanta, ‘mentos, mas também expe as razdes de ser dos procedimentos utilizados, VIEIRA, Sénia, Como elaborar questiondrios. Sio Paulo: Atlas, 2009. Este livro aborda as etapas da construgao de um questionério. Mostra como tedigir as questdes e como propor alternativas de resposta. Mostra, ain. le» como escolher os respondentes e como testar os questiondrios, Tadas ae explicagdes sio acompanhadas de exemplos, Como Deine um Levananente? 115 Exercicios e trabalhos praticos 1. Convém que os projetos de pesquisa abaixo sejam desenvolvidos como levan- tamentos? a) Projeto de pesquisa acerca das contribuigdes de cientistas brasileiros na rea de Microbiologia. sim () no ( ) Se no, por qué? b) Projeto de pesquisa sobre a idade média dos el sim() nao ( ) Se no, por qué? ... ©) Projeto de pesquisa sobre a opiniao dos professores acerca dos livros “des. cartéveis”. sim() no ( ) Se no, por qué? . . 4d) Projeto de pesquisa da preferéncia politico-partidaria dos eleitores brasi- leiros. sim() nao () Se no, por qué? ©) Projeto de pesquisa acerca do ajustamento do trabalho em inchistrias de migrantes otiundos da zona rural. sim () no ( ) Se nao, por qué? 2. Examine diversos questiondrios e procure classificar as questdes em dois gru- pos: objetivas (que tratam de caracteristicas concretas dos respondentes) erceptivas (que se referem a suas opinies, valores etc.) Dos cinco projetos do bxercicio n 1, tr8s correspondem a levantamentos. Defina para cada um destes 0 universo a ser pesquisado, bem como 0 tipo de amostragem mais adequado. 116 cone tiaborse Projets de Pesuin + ct 4. Qual dos enunciados abaixo & que menos induz a uma resposta? 8) Voeé é contra a legalizacio do aborto? B) Vocé aprova a legalizacio do aborto? © Qual sua opinido acerca da legalizacio do aborto? @ Voce nao aprova a legalizacéo do aborto? ©) Voce & contra a legalizagio do aborto, ou nao? 12 Como Delinear um ( Estudo de Caso? | 12.1 Etapas do estudo de caso Diferentemente do que ocorre com outros delineamentos, como o experi mento e o levantamento, as etapas do estudo de caso no se déo numa sequéncia rigida, Seu planejamento tende a ser mais flexivel e com frequéncia 0 que foi de- senvolvido numa etapa determina alteragées na seguinte. Mas é possivel definir ‘um conjunto de etapas que, ndo necessariamente nesta ordem, sio seguidas na das pesquisas definidas como estudos de caso: a) formulacdo do problema ou das questées de pesquisa; b) definigao das unidades-caso; ©) selegao dos casos; 4) elaboracdo do protocolo; ©) coleta de dados; 1) andlise e interpretagio dos dados; 8) redagao do relatério. 12.1.1 Formulagdo do problema ou das questdes de pesquisa ‘Como qualquer pesquisa, 0 estudo de caso inicia-se com a formulagao de um problema. Mas ha autores que evitam mencionar esse termo em seus estudos, dando preferéncia a indicar questées de pesquisa Alegam que o termo problema mais adequado aos estudos quantitativos, que conduzem a definigao de metas 118 Como Rabors Peete de Feguss = Gi Probl eatOs epecificos ou a construgio de hipdteses. também alegam que os Free cea Ss Pesaulsa si geralmenteapresentados como declaragées interop, Saas cae, iciam por tm “por que”, sugerindo o teste de verifcagio de i sigesenes sit ue nfo se aplica aos estudos de caso. Assim, Creswell (2008) feconhesa @ adequacio de questées do tipo “por que” também aos eras de «aso. Nao seriam adequadas Questdes do tipo “quem”, “onde”, “quanto” e “quan. tos", que sugerem a realizacéo de levantamentos de cam uisas baseada: em dados de arquivo, Dee pesaulsas aseadas 12.1.2 Definigéo da unidade-caso Sc confirmar,contestar ou estender uma teria (3) caso reveladee nec oo auando um pesquisador tem a oportunidade de observa eanslisar an feeders mepracessvel a outros pesquisadores; (4) eas tipic, que temo pepetens PGR Ot descreverobjetos que, em fungio de informacio prévd, core se Jamapcl exPressio do tipo ideal da categoria; (5) caso extremo, duct orn faye em Poder oferecer uma ideia da situagdo limite em que Ce tendons Pode se manifestar; e (6) caso diserepante, que “passa dos inven Os casos tinicos podem ser intrinsecos ou instrumentais ( n intrinsecos ou instrumentais (STAKE, 1995). 0 nce 28260 €Selecionado porque o pesquisador pretende & conhecélace, pro. Como Delinear um Eetide de Ca? 118 minado fendmeno. Nao podem ser confundidos, no entanto, com estudos de caso tinico que apresentam muiltiplas unidades de andlise. Quando, por exemplo, 0 caso em estudo refere-se a uma universidade e so estudadas as faculdades que a compdem, estas constituem unidades de andlise e no casos. 12.1.3 Selegiio dos casos A légica da escolha dos casos nao & da amostragem estatistica. Tem mais a vet com a légica dos procedimentos experimentais, especificamente com o méto do de concordancia (MILL, 1979), que estabelece que quando dois ou mais casos de um mesmo fendmeno tém uma e somente uma condigio em comum, essa con- digo pode ser considerada a causa (ou efeito) do fenémeno. Assim, quando se aplica essa légica aos estudos de casos miltiplos, o que cabe é selecionat os casos de forma tal que prevejam resultados semelhantes. Ou que produizam resultados diferentes por alguma razio previsivel Uma importante contribuigéo a selegdo da amostra nos estudos de caso é a amostragem teérica. A medida que diferentes conceitos vo emergindo, 0 pes- Guisador inclui novos casos e o processo se conclu com a saturacdo teérica, que ‘corre quando a incluso de novos elementos jé nao é mais suficiente para alterar © conhecimento do fenémeno (GLASER; STRAUSS, 1967). 12.1.4 Determinagio das técnicas de coleta de dados Os estudos de caso requerem a utilizagao de miltiplas técnicas de coleta de dados. Isto é importante para garantir a profundidade necesséria ao estudo ¢ a sergio do caso em seu contexto, bem como para conferir maior credibilidade 0s resultados. Mediante procedimentos diversos é que se torna possivel a trian- gulagdo, que contribui para obter a corroboragao do fato ou do fenémeno. Os estudos de caso executados com rigor requerem a utilizagdo de fontes documentais, entrevistas e observagées. Considere-se, por exemplo, um estudo que tenha como propésito analisar a atuagao de um sindicato de trabalhado- tes, Poderiam ser analisados documentos elaborados pelo préprio sindicato, como atas de reunidio da diretoria, folders, jornais e cartilhas e também docu. Imentos elaborados por outras organizacdes. Como documentos poderiam ser considerados também outros artefatos fisicos, como faixas, distintivos e cami- setas. Também poderiam ser entrevistados dirigentes do sindicato, funcionarios ¢ trabalhadores filiados, bem como ex-dirigentes e sindicalistas que se opSem a atual gestdo. Também seria interessante observar sindicalistas em agao, tanto em assembleias da categotia quanto de manifestagées em lugares pliblicos e no interior das empresas, 120 como Elaboer Projets de Pesquisa + Gi 12.1.5 Elaboragao do protocolo © protocolo é 0 documento que trata de todas as decisées importantes que foram e ainda deverio ser tomadas ao longo do processo de pesquisa. Nao apenas esclarece acerca dos procedimentos a serem adotados na coleta de dados, mas subsidia as tomadas de decisio, que sao constantes ao longo de todas as etapas do estudo de caso, ‘Nao existe um modelo fixo para elaboracio do protocolo, mas recomenda-se {que seja subdividido em partes, tais como as que se seguem: Dados de identificagdo. Titulo do projeto, nome do responsével, entidade patrocinadora, perfodo de realizado e local de realizagio. Introdusdo. Relevancia teérica e prética do estudo, justificativa de sua rea- Tizagio, identificacdo de seus potenciais beneficiérios e a sua circunserigao espacial e temporal. ‘Trabalho de campo. Definigao de organizagées e pessoas que constituirdo objeto da pesquisa; definicéo de estratégias para obtencdo de acesso organizagées ¢ a informantes; agenda para as atividades de coleta de da dos e modelo do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, quando for necessétio. Questdes especfcas. Questées a serem utilizadas na coleta de dados, que sao baseadas no problema ou nas questdes mais amplas de pesquisa Previsao de andlise dos dados. Guia para elaboragao do relatério. 12.2 Coleta de dados Na maioria dos estudos de caso bem conduzidos, a coleta de dados ¢ feita ‘mediante entrevistas, observacao e andlise de documentos 12.2.1 Entrevistas A entrevista requer a tomada de miltiplos cuidados em sua condugéo, tais como: 8) Definigdo da modatidade de entrevista, que pode ser: aberta (com ques. ‘tes e sequéncia predeterminadas, mas com ampla liberdade para res- Ponder), guiada (com formulacdo e sequéncia definidas no curso da entrevista), por pautas (orientadas por uma relagéo de pontos de in. ‘Como Deliner um Estado de Cato? 121 teresse que 0 entrevistador vai explorando ao longo de seu curso) ou informal (que se confunde com a simples conversago) b) Quantidade de entrevistas. As entrevistas devem ser em niimero sufi- ciente para que se manifestem todos os atores relevantes. Cabe cons derar que mesmo que a pesquisa se refira a um caso tinico, como uma empresa, este pode envolver miltiplas unidades de andlise, como os seus departamentos, por exemplo, exigindo, portanto, maior quantida- de de entrevistados. ©) Selegao dos informantes. Devem ser selecionadas pessoas que estejam articuladas cultural e sensitivamente com o grupo ou organizacao, ‘Nem sempre os dirigentes méximos de uma organizacao so os melho- res informantes. 4) Negociagdo da entrevista. Como as pessoas, de modo geral, nao tém uma razdo pessoal forte para fornecer as respostas desejadas, recomen- da-se estabelecer tipo de contrato em que sio esclarecidos 0$ objetivos da entrevista e definidos os papéis das duas partes. 12.2.2 Observagiio Enquanto técnica de pesquisa, a observacio pode assumir pelo menos trés modalidades: espontiinea, sistemdtica e participate. Na observagio espontanea, © pesquisador, permanecendo alheio & comunidade, grupo ou situacao que pre. tende estudar, observa os fatos que af ocorrem. E adequada aos estucos exploraté- ios, jd que favorece a aproximaco do pesquisador com o fendmeno pesquisado, A observacio sistematica € adequada para estudos de caso descritivos. Ao se decidir pela adocio dessa modalidade, o pesquisador sabe quais os aspectos da comunidade, da organizacao ou do grupo sao significativos para alcancar os obje- tivos pretendidos. Assim, ele se torna capaz de elaborar um plano de observagio ara orientar a coleta, andlise e interpretagio dos dados. A observacao participante consiste na participagéo real do pesquisador na vida da comunidade, da organizagio ou do grupo em que é realizada a pesquisa O observador assume, pelo menos até certo ponto, o papel de membro do grupo. 12.2.3 Documentos A consulta a fontes documentais ¢ imprescindivel em qualquer estudo de caso. Considere-se, por exemplo, que num estudo referente a determinada orga- nizagdo, mediante a consulta a documentos, torna-se possivel obter informacdes referentes & sua estrutura e organizacdo, a descrigdo dos cargos e fungées, aos 122 como tater Projets de Fesguisa + Gi critérios adotados no recrutamento e selegio de pessoal ete. Essas informagées Podem auxiliar na elaboragio das pautas para entrevstas e dos planos de oles Dentre as principais fontes documentais que podem interessar aos r 2m interessar aos pesquisa- dors esto: (1) documentos pessoal; (2) documtentor adios ete terial publicado em jornaise revista; (4) publicagdes de organizagdes (9) lene Pens Cisponibilizados pela Internet; (6) registro cursivos;e (7) attefatos isees € vestigios, 12.3 Andlise e interpretagao dos dados Em virtue da multiplicidade de enfoques analiticos que podem ser adotados proce de caso, fica dificil dfinir a sequéncia de etapas a serem seguidhe vg rraeaso de andlise ¢ interpretacao dos dads. f possivel, no entanto, enufen: fisumas etapas que so seguidas na maioria dos estudos de cason since que de forma nao sequencial, 12.3.1 Codificagdo dos dados Sorsiste basicamente em atribuir uma designagao aos conceitos relevantes sane ageencontrados nos textos dos documentos, na transcrigao da entreviee c Cares aiGs de observagies. Gracas a essa coditicagdo & que os dados poder: se categorizados, comparados e ganhar significado ao longo do processo anal 12.3.2 Estabelecimento de categorias analiticas Essas categorias so conceitos que expressam padrées que emergem dos da dos so utlizadas com 0 propdsito de agrupilos de acento ann 'srlitade paragee sattam. © estabelecimento de categorias dé-se geralmente pels cone Paracao sucessiva dos dados. A medida que estes sao comparados entre si, vio Gude definides unidades de dados. Unidades de dados sae segmenen seria que exis possivelatribuir um significado, e sao identificadas quando se voriticg ‘que existe algo em comum entre os dados. Como Deliear um Estilo de Caso? 123 12. 3 Exibigdo dos dados A forma tradicional de anzlise dos estudos de caso consiste na identificagio de alguns tépicos-chave e na consequente elaboracio de um texto discursivo. f Fecomendavel, no entanto, a elaboragao de instrumentos analiticos para organi zat, sumarizar e relacionar os dados. Dentre os instrumentos, os mais utilizados sio as matrizes e os diagramas. As matrizes s4o arranjos constituidos por linhas ¢ colunas ¢ linhas que possibilitam rapidamente o estabelecimento de compa- Tagdes entre os dados. Os diagramas sio representacdes gréficas, por meio de figuras geométricas, como pontos, linhas e Areas, de fatos, fenémenos e das relagoes entre eles. 12.3.4 Busca de significados Os estudos de caso exigem do pesquisador muito mais habilidades, quando comparados a pesquisas quantitativas. Suas habilidades analiticas é que definem em boa parte a qualidade dos achados da pesquisa, jé que as tarefas analiticas ‘no podem ser confiadas a especialistas. Para facilitar a busca de significados, existem diversas tdticas (MILES, HU- BERMAN, 1994). Uma dessas téticas consiste na verificagio sistemdtica dos te- mas que se repetem com vistas ao estabelecimento de relagdes entre os fatos e Possiveis explicagdes. Outra tética é a do agrupamento, que consiste num pro- cesso de categorizagio de elementos, como eventos, atores, situagdes, processos € cenarios e que permite identificar agrupamentos que se definem por compar- tilhar © mesmo conjunto de atributos. £ possivel, ainda, estabelecer constantes de comparagdes e contrastes, construir cadeias logicas de evidéncias e procurar a construsao da coeréncia conceitual e tedrica, 12.3.5 Busca da credibilidade Com vistas a proporcionar maior credibilidade aos estudos de caso, sugerem- se alguns cuidados, tais como: a) Verificar a representatividade dos participantes. & preciso garantir que os Participantes da pesquisa sejam apropriados para proporcionar infor- magdes relevantes. Um problema comum em estudos de caso é a sele- ‘0 dos informantes pelo critério de acessibilidade, o que pode levar & exclusio de informantes-chave. b) Verificar a qualidade dos dados. A qualidade dos dados tem muito a ver com os informantes selecionados. Assim, dados obtidos de informantes bem articuladas, e que fornecem as informagées com satisfacao, ten- 124 como Eiabors Projets de esgise« Gi diem a ser mais ricos e, consequentemente, conduzir a melhores resu- tados. A qualidade dos dados também tem a ver com as circunsténciae cm que estes foram obtidos, pois dados referentes ao comportamente observado tendem a ser melhores que os obtidos mediante relato. ba. dos obtidos depois de repetidos contatos tendem a ser mais confiaveis ue 08 obtidos logo no inicio do trabalho de campo. Dados de prime, ‘mio, relatados por informantes que praticaram as agbes, sio prefer eis aos relatados por informantes que apenas detém as informnagoes Também os dados fomnecidos espontaneamente tendem a ser melhe res que os obtidos mediante interrogacéo, assim como aqueles obtidos com maior privacidade. ©) Controlar os efeitos do pesquisador. O pesquisador, por ser uma pessoa estranha a0 grupo que estuda, pode levar seus membros a encarar sua bresenea com desconfianca e a manter comportamentos que nao so os Uusuais, ou fornecer informagées que néo correspondem rigorosamente 2 suas opiniOes, crencas e valores. Para minimizar essa influéncia, 6 Preciso um rigoroso planejamento da coleta de dados. Mas é necessdvio também que sua possivel influéncia seja reconsiderada no momento de andlise e interpretagio. Fazer triangulagao. A triangulacao consiste basicamente em confrontar & informacéo obtida por uma fonte com outras, com vistas a corroboray os Fesultados da pesquisa. Assim, quando sio obtidas informagdes de trés diferentes fontes e pelo menos duas delas mostram convergencia, © Pesquisador percebe que os resultados podem ser corroborados, Se, org, as informagées Se mostrarem totalmente divergentes, 0 pesqui. sador se decidiré pela rejei obtensio de informagées adicionais, ©) Obter feedback das partcipantes. A credibilidade de um estudo de caso tem muito a ver com a adequacéo de seus resultados 20s pontos de vista de seus participantes. De fato, os pesquisados sio capazes de cn, ahecer mais que o pesquisador acerca da realidade que esti sendo ex, tudada, Logo, eles podem atuar como avaliadores dos resultados da pesquisa D Obter avaliagdo externa. Uma importante estratégia para confirmagéo dos resultados consiste em sua andlise por outros pesquisadores, q) 12.4 Redacao do relatério A Sdagio do relatério de estudos de caso exige muito mais de pesquisa- somite 2 de outras modalidades de pesquisa. Os dados geralmente see ans yimeros0s ¢ obtidos de formas diferentes, tomando-se necessdria sua selesdo Come Deliear um Estado de Caso? 125 ¢ organizagio nao apenas para fins de analise, mas também de apresentagéo. Assim, podem ser definidas diferentes estruturas redacionais para os relatérios, dos estudos de caso: 2) Estraua clésia.f a preferida tanto para pubicagdo em periddicos cientificos quanto para redagio de teses e dissertagdes. O relatério ini- ia-se com uma sego de Introdugdo, que é seguida pela Revisao Biblio. grafica, Metodologia, Andlise e Discussio dos Resultados e finalmente pela Conclusao. b) Estrutura narrativa, © relatério inicia-se com uma introdugao, que seguida de segdes, cada uma delas correspondente a determinado pe- iodo de tempo. E adequada aos estudos de caso historicos, que o re. constroem desde sua origem até a fase contemporanea, ©) Estrutura descritiva, Inicia-se também com uma introdugo, que esc. kece acerca da organizagdo das secdes seguintes, que podem se refers, or exemplo, aos varios aspectos da vida social de uma comunidade ou ‘20s departamentos que compdem uma empresa. Estrutura de construgdo de teoria. A sequéncia das segdes & determinada pela ldgica subjacente a construcdo da teoria. Cada seco, no entanto, deve ser elaborada de forma tal que possibilite desvendar uma nova parte dessa teoria ¢ o relatorio conclui-se com a apresentacao sintética da teoria. ©) Estrutura de suspense, Nesta abordagem parte-se de uma situagio no explicada, que vai sendo gradualmente desvendada. @ Leituras recomendadas jook- YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3. ed. Porto Alegr: ‘man, 2007. Traa-se do mais conhecido livro referente a estudos de caso. Aborda a ela- boragdo de projetos de estudos de caso, a coleta de dados, 0 proceso de andlise dos dados e a elaboragao do relatério, ima estratégia de pesquisa. 2. MARTINS, Gilberto de Andrade. Estudo de cast ed. Sao Paulo: Atlas, 2008. i i vente do estudo de © primeiro livre publicado no Brasil que trata especificament caso como extratgia de pesquis, O pimeiro capitulo apresenta ce Predicados de um estudo de caso exemplar, finalizando com a indicagao do que nao pode ser concebido como um estudo de caso cientific. 126 como thbora Projo de Posse» Gi Exercicios e trabalhos praticos 7 Mentique pessoas, grupos, orgnizagSes ou comunidades que justifcaram a realizado de estudos de caso intrinsecos. 2 Apés sscolher um tépico, defina algumas questées de pesquisa, Para cada Gina dessas questées, identfique uma técnica adequada para coleta deat es. Em seguids, defina quem seriam as pessoas mais adequadas para sere, interrogadas ou observadas. 3 Que tipos de documentos poderiam ser utilizados num estudo de caso refe. Fente ao relacionamento professor-aluno numa universidade? 4 Gonsidere um fato polémico que tenha sido veiculado pela imprensa. Caso Wace quisesse certificar se do que realmente ocorreu, que procedimentos vack Ghotaria para reconstruir a realidade? Que pessoas vood entrevistaria? Que documentos voc8 analisaria? 13 Como Delinear uma Pesquisa Etnografica? i 13.1 Etapas da pesquisa etnogréfica pesquisador que se dispde a realizar uma pesquisa etogratica assume uma visdo holistica com vistas a obter a descrigo mais ampla possivel do grupo pes. quisado. A descrigdo pode incluir miltiplos aspectos da vida do grupo e requeret consideragdes de ordem hist6rica, politica, econdmica, religiosa © ambiental, Os dados obtidos, por sua vez, precisam ser colocados numa perspectiva bem ampla ata que assumam significado, Por outro lado, é preciso garantir que os resulta. dos da pesquisa privilegiem a perspectiva dos membros do grupo investigado. Essas caracteristicas da pesquisa etnogréfica indicam, portanto, que os pes guisadores tendem a desenvolver 0 trabalho de campo em periodos significativa mente superiores a0 despendido em outras modalidades de pesquisa. Indicam também que essas atividades tendem a ser mais integradas e menos sequenciais Dai por que se toma dificil definir previamente as etapas a serem seguidas na Pesquisa etnogréfica. & possivel, no entanto, identificar um conjunto de etapas que so comuns & maioria das pesquisas dessa natureza: a) formulagao do problema; b) selegao da amostra; ©) entrada em campo; 4) coleta de dados; €) elaboracdo de notas de campo 1) anilise dos dados; e 8) redagdo do relatério. 128 Come Elbert Projets de Pesquisa + Gi 13.1.1 Formulagdo do problema A pesquisa etnogréfica inicia-se com a selegio de um problema que vai se aprimorando & medida que a pesquisa avanga, Cabe consideras, no entanto, qou rem todo problema pode ser adequadamente solucionado mediante pesqvies cumoatafica. Essa modalidade de pesquisa ¢essencialmente descritiva. Nao tons pois, como propésito verificar a existéncia dos nexos causais entre varidvels, ‘embora descrtiva, ndo se propde a descrever com precislo tragos ou caraetar ticas das populagdes, Gs Problemas que melhor se ajustam a essa modalidade de pesquisa sio aqueles que podem ser interpretados como expressio de coletivos eulturais, coms Crsanizagoes e comunidades. Alguns dos problemas mais prvilegiados s4o, pois, Os due se referem a desigualdades de classe, de género ou de idade, barteinss cul, ‘urais,estere6tipos, cultura organizacional, subeulturas e representagdes socine 13.1.2 Selegao da amostra Na pesquisa etnogréfica ndo existe a preocupacio do pesquisador em selecio- sar uma amostra proporcional e representativa em relacdo ao universo pesquise, do, A ocorréncia mais comum é a selesio da amostra com base no julgamenvo do réprio pesquisador. Ele seleciona os membros do grupo, organizacaoou comunt dade que julga 0s mais adequados para fornecer respastas ao problema proposte, {sto significa que a extensao da amostra néo pode ser definida antes do trebalhe de campo. A medida que avanca na pesquisa & que o pesquisader val deters Ghantos elementos ainda convém pesquisar. O que requer muita perspicécia pare evitar que os resultados da pesquisa sejam comprometidos por suas preferéncias, E muito importante na pesquisa etnogréfica selecionar informantes-chave Pessoas que dispem de notavel conhecimento acerca da cultura do grupo, or Zanvzacio ou comunidade que estd sendo estudada. O informante nio precisa Ser Lm membro proeminente do grupo. Pode ser até mesmo uma pessoa que por alquer razio dele jé tenha se afastado. O que interessa & que seja capar ce fornecer informagées que enriquecam o trabalho de pesquisa, 13.1.3 Entrada em campo © Processo de entrada em campo é crucial numa pesquisa etnogréfica. Cone vémn considerar que de modo geral os membros do Como Deinear uma Fergus Engrs? 129 representado, no caso de uma organizacao empresarial, por um de seus diretores ou gerentes; no caso de uma comunidade religiosa, um de seus lideres; no caso de uma aldeia indigena, pelo cacique ou pelo pajé. Ou seja, por uma pessoa que detenha credibilidade no grupo que esté sendo pesquisado. 13.1.4 Coleta de dados Na pesquisa etnografica sio utilizados varios procedimentos para coleta de dados. Os fundamentais so a observagio e a entrevista. 13.1.4.1 Observagio A observacio assume geralmente a forma de observagao participante, que se caracteriza pelo contato direto do pesquisador com o fendmeno estudado, com a finalidade de obter informagdes acerca da realidade vivenciada pelas pessoas em seus préprios contextos. Tem, pois, como pré-requisito sua presenga constante no ‘campo, em convivio com os informantes durante algum tempo. Trata-se, portan- to, de um processo longo. A observagio participante supde a interagio pesquisador/pesquisado. Assim, as informagdes que obtém dependem do comportamento do pesquisador e das relagées que desenvolve com o grupo estudado. Sua integragio plena ao grupo, no entanto, éimprovével, pois sempre pairaré sobre ele uma atmosfera de cutio- sidade ou mesmo de desconfianga. E ele nao pode se esquecer que é um observa. dor que esté sendo observado o tempo todo (WHITE, 2005). 13.1.4.2 Entrevista Embora a observacéo participante seja reconhecida como a técnica que mais se identifica com a pesquisa etnogréfica, ¢ provavel que a maioria dos dados relevantes seja obtida mediante diferentes formas de entrevista: estruturada, se- miestruturada ou informal. Entrevistas estruturadas e semiestruturadas podem ser dels em apenas al- guns momentos da pesquisa etnogrdfica. Por exemplo, uma relagao de questes Pode ser titil numa pesquisa em determinada empresa com a finalidade de com- Parat os empregados em relacio & sua qualificagéo © experigncia, Esse tipo de entrevista pode ser stil em etapas mais avancadas da pesquisa com vistas & ob- tengio de dados referentes a um t6pico especifico. Entrevistas informais sdo as mais utilizadas na pesquisa etnogréfica. Elas po- dem ser vistas como conversagées easuais, mas, assim como as entrevstasestru- turadas, também tém uma agenda especifica, embora nio explicita. O pesqui- 130 Como Elabort Project de Resgli * Gi sador as utiliza para descobrit as categorias de significados no Smbito de uma Cultura, Sf ites para vrfcar o que as pessoas sabem, pens, creere sephany € teen, bem como para compar eas peeps oer en Essas comparagdes € que possibilitam identificar valores ‘compartilhados na co. sunidade, na organizagao ou no grupo pesquiseda, ‘As entrevista informais, embora paresam ser as mais fdceis de ser condu: Zidas, a Hgor slo a8 mais difes, pois questOes de natureza cae decane ne cmergem de cada entrevista, Considere-se, por exemplo, cone oale een estd procurando saber acerca da vida de outras pessoas de maneira sistema (FETTERMANN, 1989). , snare Stems 13.2 Elaboracio de notas de campo ‘As otas de campo so consttuidas pels dads obidos mene cbsewagdo claps eaist2. Séo fundamentais na pesquisa emnografica e constituem importante etapa entre a coleta e anélise dos dados. Possivel apés a obtengéo dos dados para evitar a perda de detalhes importantes Para conferir maior agilidade 20 processo de tomada de notas, conven que E recomendével a construgao de um banco de dados para atmazenar ¢ or- Fem gs Rotts de campo. As notas devem ter um formato padronizado ¢ po. dem conter dados como: (1) data, hora e local da entrevista ea observacio; (2) tes especificos, nimerose detalhes do que acontece no local; (3) impreeasey eisoriais: vistas, sons, texturas,cheiros, gostos; (4) palavras especificas frases Fesumos de conversas elinguagem dos informantes;e (5) numeragio das piston, ara ordenar os dados (CHISERI-STRATER; SUNSTEIN, 1997) 13.3 Andlise dos dados 2 anllise dos dados na pesquisa etnogréfcainict-se no momento ei que e pesquisador seleciona o problema e sé termina com a tedasio de a mina com a redagio da tiltima frase de seu relatério. Os procedimentos analiticos, por sua ver, sto os make ne ste a ‘ome Denese une Pease Etna? 131 indo dos mais simples ¢ informais até os que envolvem sofisticagao estatistica Embora néo haja uma tinica forma de organizacio das tarefas referentes & analise dos dados, os itens considerados a seguir referem-se a procedimentos adotados nas pesquisas etnogréficas. Embora nao constituam rigorosamente etapas do pro: cesso de analise. 13.3.1 Leitura do material ‘Todo 0 material escrito, como notas de campo, memorandos e transcrigdes de entrevistas, deve ser lido varias vezes. Caso haja dados registrados sob outras formas, como videos e fotografias, o material correspondente também deverd ser exaustivamente analisado. Esse procedimento é importante para tornar o pesqui- sador familiarizado com as informagbes obtidas. 13.3.2 Busca de “categorias locais de significados” A pesquisa etnogrifica privilegia os pontos de vista dos membros da comuni- dade, organizaco ou grupo que esta sendo estudado. Cabe, portanto identificar “categorias locais de significados” nos dados (HAMMERSLEY, M.; ATKINSON, 1995). Essas categorias constituem importantes componentes da pesquisa. Sua ‘compreensio torna-se necessdria para a construgio de um modelo explicador da realidade. Assim, cabe investigar que significados os informantes atribuem aos termos utilizados. A conclusio desta etapa da pesquisa, por sua vez, dé-se me- diante a elaboracao de uma lista de categorias a partir dos dados 13.3.3 Triangulagao A triangulagio é um processo basico na pesquisa etogréfica. Em sua acep- ‘20 mais simples, 0 conceito refere-se ao uso de dois ou mais métodos para ve- rificar se os resultados obtidos so semelhantes, com vistas a reforcar a validade interna dos resultados, Na pesquisa etnogréfica, seu propésito é o de utilizago de dois ou mais processos compardveis com vistas a ampliar a compreensio dos dados, a contextualizar as interpretagées e a explorar a variedade dos pontos de vista relativos ao tema. 13.3.4 Identificagdo de padrées Para que um estudo etnogréfico tenha valor, é necessério que seja capaz de acrescentar algo ao que jé & conhecido. Isso nao significa, porém, que deva obri- 182 Como Elborer rojeoe de Pesquisa + cit gatoriamente proporcionar nova perspectiva tedrica ao problema. O estudo pode ser feconhecido como vilido quando se mostrar capaz de levantar novas questoes ou hipéteses a serem consideradas em estudos faturos. Mas a idemtficagao dle padres de pensamento ede comportamento €0 objetivo mais procurado no pro, cpss0 de andlise na pesquisa etnogréfica. O que interessa ao pesquisador ¢ prin: cipalmente verificar seem meio & ampla diversidade de ideias e comporramertog ‘manifestados por diferentes atores em diferentes situacGes existe algo que pode ser definido como comum a todos ou a maioria, Esse processo se inicia geralmente com uma massa de ideias ou comporta- difers nlferenciados. O pesquisador, mediante a identificagdo de semelhancas, ciferencas e conexdes entre os dados, percebe que alguma coisa se destaca een, forma usual de pensar ou de agir no local. Progressivamente, mediante compara- S20 s contrast define um comportamento ou pensamento identficavel, Tense, itso um padrdo, ainda que definido de forms insipiente, i comegam a emergir Srestoes & regra e detectam-se variagées em relacio ao modelo. Essas variagtes ajudam a circunscrever a atividade ea clarificar seus sigificados, Entao, medion: defiaee ComParades e combinagses entre o modelo e a realidade observada, definem-se os padrées. 13.4 Redacdo do relatério Nos estudos etnogréfios, o pesquisador dispée de muita liberdade para apresentar seus resultados. Mas como esses estudos visam descrever com cerra Profundidade os comportamentos observados, os relatdrios tendem a ser volte ‘Mosos. Por isso, é necessério muito cuidado em sua elaboracéo, jé que a maioria it Bessoas nio se dispde a ler um relario com grande numero de péginas cx a linguagem nio se mostrar clara atraente. Mas também € necessaris que g Ffsduisador abandone a tentagao itréria e elabore um texto caracterizado pele ‘igor cientifico, Seu propésito nao pode ser o de impressionar o leitor mas de convencé-lo acerca das evidéncias obtidas, Leitura recomendada SOGROSINO, Michael, Znografiaeobservagto participante. Porto Alegre: Artmed, 2009, Este livro trata dos temas que podem ser efetivamente estudados pelos mé- todos etnogréficos. da coleta ¢ anilise doe dados etoguificos, das estratégias Sk apresentacio dos dados, das questdes de ética, bem como das perspective’ as aplicagao do método etnografico nas préximas décadas como Deiesr uns FesausaEtnogréin? 138 Exercicios e trabalhos praticos imento problemas que possam ser 1, Identifique em diferentes dreas do conhecimento pi a efetivamente investigados mediante procedimentos etnograficos. 2. Considere uma comunidade ou organizagao, Identifique pessoas que possam: atuar como informantes-chave numa pesquisa etnografica ante numa pesquisa etnografica, Procu: 3. Imagine-se como observador participant pesqu Pr ee tipo de desconfianga em relagdo a sua presenga. _ sum periodo de tempo. Procure elaborar 4, Observe um acontecimento por algum p 2 notas de campo referentes & situacdo, aos participantes, as atividades desen: volvidas € aos relacionamentos entre as pessoas. 14 Como Delinear uma Pesquisa Fenomenoldgica? | 14.1 Etapas da pesquisa fenomenolégica A uutilizagao de métodos filoséficos para investigar no campo das ciéncias empiricas ndo constitui tarefa das mais simples, ja que ciéncia e filosofia sao dis- ciplinas em que se procede de forma distinta para alcancar seus objetivos. Dai por que nao ha consenso acerca dos procedimentos a serem adotados numa pesquisa fenomenolégica. Diversos autores, no entanto, dedicaram-se a defini modelos de pesquisa fenomenolégica. Dentre os mais conhecidos esto: Van Kaam (1959), Giorgi (1985), Colaizzi (1978) e Van Manen (1969). Todos, no entanto, esclare- cem que os passos constantes de seus modelos no devem ser vistos como rigidos nem definitivos. Papel importante cabe, portanto, ao pesquisador, no ajustamen to do modelo ao fendmeno em estudo. ‘A maioria dos modelos propostos refere-se ao processo de andlise. Como, porém, 0 propésito deste trabalho & o de proporcionar ao pesquisador um es- quema que possibilite 0 delineamento de toda a pesquisa, apresenta-se aqui a deserigdo das etapas do processo de pesquisa desde a formulacao do problema, passando pela coleta de dados. Para a andlise dos resultados, segue-se 0 modelo de Colaizzi, que se caracteriza principalmente por sua clareza. Assim, podem ser definidas genericamente as seguintes etapas de uma pesquisa fenomenol6gica: a) formulagao do problema; b) escotha das téenicas de coleta de dados; ©) selegdo dos participantes; €) coleta de dados; 136 como taborr Projets de Feguia * Gi ©) andlise dos dados; e f) redagao do relatério. 14.1.1 Formulagdo do problema A Pesquisa fenomenolégica inicia-se com uma interrogag&o. Mas diferente. ‘mente das pesquisas experimentais e levantamentos, 0 problema nesea etapa no ipeomoda, gerando uma tensio que o leva a buscar a essencia do Proneog pepameno este que, ao mesmo tempo em que the causa certa estranhiers ean bem Ihe ¢ familiag, pols faz parte da realdade vivida, Mas essa lamiligidons Feopeanititl ainda o conherimento, Asi, este primeiro momento da peace fepomenoligica & denominado pré-reflexivo,jé que hd algo que o pesralehee Pretende conhecer,mas que nlo est bem explcitado para ele (BICUDO, 1994), essa primeira etapa é importante que pesquisador deine de lado tdo sna te Jé conhece a respeito do fendmeno que esté sendo investigadec boc oreo correspond & chamada epocké, ou suspensio de qualquer eenea, he Pétese, teoria ou explicagao do fendmeno. Ele nao espera ~diferemtamene ue ocorre na pesquisa experimental, por exemplo - que of resultadee abudes he per acordo com teorias estabelcidas a priori, por mais consltentes soe Nim Por Ho, na pesquisa fenomenolégica ndo é tao importante a revsaoree ogee, que em muitas pesquisas conttui etapa previa neceséra vara ‘stabelecimento de um sistema conceitual ¢ fundamentagio tedrica da percues, ‘Também é importante considerar que problemas si T ante considerar que problemas so adequados para inves eaten mediante a usilizagio do método fenomenolégico. A pesquisa fenomene, \6aica ajusta-se mais a problemas que se referem A experiéacie viaie dia a dia das pessoas. Mas é preciso certficar-se de que a vivida compar: Exemplos de tépicos apropriados para a pesquisa fenomenologica si os refe- ates &experiénciavivida pelos seres humanos, que se expressa Cn semimnecen, seins fy SPiaGGes € temores. Na Area administrativa, por exemplo, & possivel Ulisdla para pesquisarsatisfacao no ambiente de trabalho, o portencinc ey wine Ofganizacho, o exerciio da lideranca, o moral no wabalho be cealdien de Tide uo trabalho, Na érea de saide, pode ser utlizada para investiga’ oc hatte nos elaconados a vida, & doenga, a dor, ao sofrimento, ao convvie tom pecenee ss EE Como Delinear una FegutaFenomensligica? 137 doentes, & perda de uma parte do corpo, ao medo da morte ¢ & hospitalizagéo. No campo psicol6gico, pode ser itil para estudar 0 convivio com a frustragi ‘com a depressio, com a separacio e com a sexualidade. Em educagio, podem ser interessantes para investigar o cotidiano dos alunos, o relacionamento professo: aluno, as aspiragdes académicas, 0 medo do fracasso e da punigio e a satisfacdi dos professores com a profissio. 0 14.1.2 Escolha da técnica de coleta de dados ‘As técnicas mais adequadas para coleta de dados na pesquisa fenomenolé gica sto as que possibilitam a livre expresso dos participantes, que é essencial tanto para a descricéo quanto para a interpretagao da experiéncia vivida. A mais ‘comum dessas técnicas é a entrevista semiestruturada, que, a0 mesmo tempo em que permite a livre expresso do entrevistado, garante a manutengio de seu foco pelo entrevistador. Para tanto, ele prepara uma lista de questdes que vio sendo formuladas oportunamente com vistas a obtencio de mais detalhes e 20 aprofundamento das descrigées. Requer-se, portanto, do entrevistador que tenha experiéncia com entrevistas desse tipo que esteja aberto as mais diversas descri- ‘98es, pois é mediante a diversidade dos participantes que se obtém maior riqueza nas descrigées. Embora sejam feitas diversas perguntas ao longo de toda a entrevista, é pre ciso definir uma pergunta norteadora, capaz de dar inicio ao didlogo e permitir sua continuidade. Por exemplo, numa pesquisa que tenha como objeto a vivéncia do profissional de satide com pacientes portadores de HIV, a pergunta norteadora poderia ser: Como vocé se sente trabalhando como profissional de saiide com pessoas portadoras de HIV? ‘Também podem ser utilizadas outras téenicas que possibilitam a expresso oral dos individuos, como histérias de vida e depoimentos pessoais. Por historia de vida entende-se o relato de uma pessoa sobre sua existéncia através do tempo, procurando reconstruir os acontecimentos que ele considera importantes. Por depoimento pessoal entende-se o relato de uma experiéncia individual que reve- Ja sua agao como pessoa e participante da vida social. A diferenca bisica entre as duas técnicas esté, pois, na forma de agir do pesquisador. Na obtengdo de depoimentos, o pesquisador adota uma postura mais ativa, procurando obter as descrigées que se relacionam diretamente com o tema da pesquisa. J4 na histéria de vida, o pesquisador permanece mais silencioso, minimizando sua interferéncia (QUEIROZ, 1987). Enquanto as histérias de vida referem-se & trajetéria de um individuo num. longo periodo, os depoimentos pessoais concentram-se niim curto espago de tem- po. A histéria de vida demanda muito mais tempo tanto para obtengao das infor. magées quanto para sua transcrigo. Assim, as pesquisas que utilizam hist6rias de vida de modo geral apresentam pequeno mimero de informantes. Jé as que 138 Como Eaborr Projets de Feu » cit utilizam depoimentos permitem a ampliag&o desse nt fem a ampliacao desse niimero, o que contribui par destacar as semethancas e diferencas, meconelpara sraupam hd pesquisas fenomenolégicas fundamentadas em relatos escrits, dentas eats relatos decortem de solictao para responder por escte x por A selecao dos participantes de uma ai e le uma pesquisa fenomenolégica néo requer a utilizagdo do processo de amostragem probabi : mer percebey aie para se expressar fcilmente com palavtas; (2) habldade an Pieter (GerRressar seus sentimentos interiors e emogdes sem vertenhe ns Nore (3) hablidade para pereeber © expressar experince Orehoe que capetamanai esses sentimentos; (4) experignciarelatvamente retenre cores sorgue oak Ate esté Sendo estudada; (5) hablidade para escrever oueponne so 0 que ocorre consigo ao longo do tempo. 14.1.4 Coleta de dados ga tt coleta de dados na pesquisa fenomenolégica requer-se 0 estabelecimen. dades syle de receptividade. & importante assegurar a confidenciiehea dos radon G05 € obter permissio para que as entrevstas ou denoimenree sejam serd necessério para obtencio das informacdes Essa provider ecessaria anslosos pele ga stida que © tempo for passando, os respondentes sinters se ansieses pelo final da entrevista e passem a fornecer informagdes inadequadas (Como Delinear una FesgucsFenomenctigice? 139) ou insuficientes. E como o tempo necessario para a obtencao dos dados pode ser Jongo, convém que o local e as condigdes em que sio realizadas as entrevistas sejam satisfatérios. 14.2 Anélise dos dados Apés a coleta, procede-se a andlise dos dados, que na pesquisa fenomenol6gi- ca consiste basicamente nos procedimentos adotados com o propésito de chegar a redugdo eidética, ou seja, A abstragao de tudo o que é acidental para permitit a intuigdo das esséncias. Para tanto, adota-se aqui o modelo proposto por Colaizzi (1978), que se desenvolve em sete etapas 14.2.1 Leitura da descrigdo de cada informante Procede-se & leitura completa, palavra por palavra, das descrigées de cada dos informantes (designadas como protocolos), com vistas & obtengao de uma visao do todo 14.2.2 Extragiio das assertivas significativas Retorna-se a cada protocolo com o propésito de extrair frases que digam respeito ao fendmeno que esté sendo estudado. As frases que se repetem ou se sobrepdem devem ser eliminadas. As frases nao precisam ser inteiramente epetidas, mas apresentadas de forma genérica. Ao final dessa etapa, o pesqui- sador passa a dispor de uma relagio de declaracdes (statements) significativas de cada protocolo, 14.2.3 Formulagio dos significados ‘Nessa etapa passa-se do que os participantes dizem para a formulagdo de seu significado. Essa é a etapa mais critica do processo interpretativo da pesquisa fe- nomenolégica ¢ requer do pesquisador exercicio de intuigéo criativa, posto que ele precisa manter-se fiel ao que as pessoas disseram, 2o mesmo tempo em que procu- ra extrair os significados implicitos. 14.2.4 Organisagdo dos significados em conjuntos de temas Apés formular os significados de todas as declaragées significativas, o pesqui- sador passa a organizé-los em conjuntos de temas que revelam padrdes ou ten. 140 Come tisborr Projets de Feaguls + Gi éncias. Os temas podem ser contraditérios ou nio apresentar relagéo entre si, 0 que requer do pesquisador certatolerancia & ambiguidade. Torna-se necessdri, Portanto, contrastar esses temas com as descrigdes dos informantes para verficay se existe algo que esté nos protocols e que no foi considerado e vice-versa, 14.2.5 Integragéo dos resultados numa descrigéo exaustiva Nessa etapa procede-se & descrigio detalhada e analitica dos significados ¢ ideias dos sujeitos relativos a cada tema. 14.2.6 Elaboragdo da estrutura essencial do fenémeno Essa etapa culmina com a elaboragao de uma sintese que integra os aspectos dda experiéncia que so comuns a todos os participantes numa descrigio geral e Consistente das estruturas da experiéncia que esto sendo investigadas, 14.2.7 Validagdo da estrutura essencial Apés a identificacao da estrutura essencial do fendmeno, procede-se a sua ‘alidago mediante 0 contraste da descricdo com as experiéncias vividas dos par. ticipantes. Isto requer o retorno a cada participante e, se necessério, a modifi. cago da descrigéo com vistas a obter sua congruéncia com a experiéncia vivida pelos participantes, Leitura recomendada MOREIRA, Daniel A. método fenomenolégico na pesquisa. So Paulo: Pioneira/ Thomson, 2002, Exercicios e trabalhos praticos 1. Localize um relato de pesquisa em que se tenha utilizado o método feno- menolégico, Analise a justficativa do autor ou da autora para adogao desse Procedimento metodoidgico. 2. Localize um relato de pesquisa em que os dades forain utilizados mediante entrevistas abertas. Nao é necessério que este tenha sido realizada sob en. foque fenomenolégico. Apés identificar os objetivos da pesquisa, leia aten, Como Deinear una Pesquisa Fenomenoligica? 141 tamente a transctigio de trechos das entrevistas ¢ identifique frases que se refiram diretamente ao fendmeno que estd sendo estudado. Discuta a exigéncia da suspensdo de qualquer crenca, hipstese, teoria ou ex- plicagio do fenémeno como essencial para a aplicagao do método fenomeno- lgico. Faca o seguinte exercicio para aprimorar sua capacidade de “contemplar as esséncias”. Dado um objeto, como, por exemplo, um carro, considere como este pode conduzir a imagens que podem ser diferentes quanto as cores, for- as, tecnologia empregada etc. Considere como este pode ser visto por dife- rentes angulos, mas que, independentemente das variagdes, ha algo que se ‘mantém durante todo 0 processo de variagao e que constitui a sua esséncia. 15 Como Delinear uma Pesquisa para Desenvolver Teoria Fundamentada (Grounded Theory)? i Dentre os delineamentos de pesquisa qualitativa, 0 que estabelece com maior rigor as etapas a serem seguidas é o definido para desenvolver teoria fundamen- tada (grouded theory), embora haja divergéncias nas orientacées definidas por seus criadores. Para Barney Glaser, o pesquisador deve ir a campo sem qualquer concepgéo prévia para nao enviesar sua interpretacéo, Jé para Anselm Strauss, © conhecimento prévio é um meio indispensavel para que os dados empiricos te. nham sentido, Assim, Strauss, juntamente com Julit Corbin, escreveu em 1990 0 livro Basics of qualitative research: grounded theory procedures, que apresenta de forma detalhada o processo de pesquisa, cujas grandes etapas sao: @) formulacao do problema; b) selegdo da amostra; ©) coleta de dados; 4d) anilise dos dados; e @) redagio do relatério, 15.1 Formulagao do problema © pesquisador que se dispée a construir uma teoria fundamentada parte do principio de que o fenémeno proposto para investigacao ainda nio foi devida. mente esclarecido, pelo menos no contexto em que se realiza a pesquisa. Qu que as relacdes entre os conceitos so pouco conhecidas ou conceitualmente potico desenvolvidas. Assim, cabe-the formular um problema como primeiro passo para a construgéo da teoria. 144 come etabore Projets de Pesquisa + Gi ‘Ao contrétio, porém, de outros delineamentos, como os experimentos € os levantamentos, 0 problema nao pode ser muito restrito nem foceligeds ara 15.2 Selecdo da amostra Pierentemente do que corre em outros delineamentos, na grounded theory ep eagulsador nfo determina previamente o tamanho da amostra, Os partition, [os [> [oofany ial aay aafas|c]v7]xe|vo[zo| ai] za] 25] aq] as| an] a7] a0] an] oo] 1] 0 Etapas do Levantamento Operacionalizagao dos concei Impress dos questionarios 108 3. | Elaboragio do questionario 7. | Selegio dos pesquisadores 8. | Treinamento dos pesquisadores 10,| Andlise e interpretagao dos dados | Especificagio dos objetivos 4, | Présteste do questionsrio 5. Selegdo da amostra 9. | coleta de dados 11.) Redagio do rel 2 6 Figura 18.1 Cronograma de uma pesquisa. ee 1 Como Calculer Tempo 9 Custo do Prieto? 165 E claro que o cronograma de pesquisa corresponde apenas a uma estimativa do tempo. Por uma série de fatores imprevistos, os prazos podem deixar de ser observados. Contudo, & medida que o pesquisador tenha ampla experiéncia e a organizagéo a que pertence disponha dos recursos necessérios, 0 cronograma elaborado tem grandes chances de ser observado. 18.3 Orgamento da pesquisa Para estimar os gastos com a pesquisa, convém elaborar um orgamento. Para ser adequado, este deverd considerar os custos referentes a cada etapa da pesqui- sa, segundo os itens de despesa. Neste orcamento, deverdo ser discriminados os itens de despesa, com a indicagio das quantidades, do custo unitério e do custo total. Convém que os itens sejam agrupados em segdes, como: a) Material permanente. Sao aqueles que tém durabilidade prolongada permanecem apés 0 encerramento do projeto. Podem ser: despesas com aquisicao de méquinas, equipamentos hospitalares, equipamentos para acampamento, computadores, impressoras, méveis, livros etc. b) Material de consumo. $0 aqueles materiais que nao tém durabilida- de protongada. Normalmente sao consumidos durante a realizagao da pesquisa. Podem ser: papel, tinta para impressora, canetas, material para fotografia e filmagem, material de protecio, material de limpeza, combustivel etc. ©) Didrias. Despesas com alimentagio e pousada do pessoal envolvido na execugdo do projeto d) Passagens e despesas com locomogdo. Despesas com aquisigao de passa- ‘gens aéreas ¢ terrestres, taxas de embarque etc. ©) Outros servigos de terceiros. Podem incluir fretes e carretos, conservacio € adaptagéo de bens iméveis; servigos de comunicagio e divulgacdo; despesas com congressos, simpésios, conferéncias ou exposicdes ett. Essa discriminagdo poderd parecer exagerada para alguns pesquisadores. ‘Mas ¢ importante fazé-la, sobretudo quando se deseja obter recursos de agencias de fomento, Como o principal produto dessas agéncias é constituido pela conces- sio de financiamento, precisam organizar suas ages mediante observacio dos principios da administragao financeira e contabil A Figura 18.2 exemplifica a elaboragao de um orgamento de pesquisa com base nos itens de despesa prevista, agrupados nas segGes: material permanente, material de consumo, recursos humanos e infraestrutura.. 165. como Eaberar Protos de Peguse + it Material permanente Item Descrigio ‘Quantidade Custo unitério ‘Total Total: Material de consumo em Deserigéo ‘Quantidade Custo unitério Total Despesas com locomogao Trem Trecho Total: ‘oral geral: Figura 18.2 Ciileulo dos custos de um projeto de pesquisa. ‘Também é preciso ficar atento & exigéncia de algumas agéncias de fomento 4 pesquisa quanto a especificagio das metas e dos indicadores de desempenho. Assim, para cada uma das metas, toma-se necessério definir as atividades neces. Sérias para sua execugio, com indicac3o do infcio e término de cada uma delas, 0s resultados a serem alcancados, além da indicagio do pessoal envolvido, as ccargas hordrias semanais e os custos estimados (Figura 18.3). como calcu Tempo 9 Cuno do Projets? 167 Meta 01 (Descrigio): Resultado a Pessoal Horas Custo estimado Atividades Inicio Término ser atingido envolvido semanais (em RS) oral: Figura 18.3 Metas principais e indicadores de desempenho (exemplo). Leitura recomendada KISIL, Rosa. Elaboragdo de projetos e propostas para organizagdes da sociedade civil. Sao Paulo: Global, 2001. Elaborado com a finalidade de orientar a elaboragiio de projetos para ONGs, a consulta a este livro pode contribuir para a elaboraco de orcamentos de pro- Jetos de pesquisa, Exercicios e trabalhos praticos 1, Selecione alguns relatérios de pesquisas e procure identificar 0 tempo des- pendido em cada uma de suas fases. 2. Identifique fatores que podem determinar atrasos no cronograma de uma pesquisa 3. Relacione consequéncias desfavordveis que podem advir da néo observancia do cronograma de uma pesquisa. 4. Escolha um relatério de pesquisa bem detalhado e procure fazer uma estima- tiva de seus custos. 4 19 Como Redigir o Projeto de Pesquisa? Como as pesquisas diferem muito entre si, no hé como definir um roteiro rigido aplicavel a todos os projetos. Mas € possivel oferecer um modelo relativa- mente flexivel que considere os elementos essenciais e possibilite a incluso dos itens inerentes & especificidade da pesquisa. Assim, seguem-se orientagées para a redacdo de projetos baseadas em manuais de diferentes universidades e institutos de pesquisa, bem como nas normas da Associacao Brasileira de Normas Técnicas. 19.1 Estrutura do texto Os itens que compéem o texto de um projeto dependem de suas finalidades, pois este pode referir-se a uma pesquisa profissional ou académica, Nesta tltima hipétese, pode destinar-se também a qualificagéo de um candidato, a uma disser- tagdo de mestrado ou doutorado ou a solicitagao de um financiamento de pesquisa. ‘Segundo a Norma Brasileira ABNT NBR 15287:2005, a estrutura de um pro- {jeto de pesquisa compreende: elementos pré-textuais, elementos textuais € ele- ‘mentos pés-textuais 19.1.1 Elementos pré-textuais Os elementos pré-textuais sao: + Capa (opcional) Apresenta as informagées transcritas na seguinte ordem: (a) nome da en- tidade para a qual deve ser submetido, quando solicitado; (b) nome(s) do(s) Fn INN 170 como Bsborr Projo de Pesquisa» Gi autor(es); (c) titulo; (d) subtitulo (se houver, devendo ser evidenciada a sua subordinacdo ao titulo, sendo precedido de dois-pontos, ou distinguido tipogra- ficamente); (¢) local (cidade) da entidade, onde deve ser apresentado; e (f) ano de depésito (entrega). + Lombada (opcional) * Folha de rosto Apresenta as informagées transcritas na seguinte ordem: (a) nome(s) do(s) autor(es); (b) titulo; (€) subtitulo (se houver, devendo ser evidenciada a sua subordinagio ao titulo, precedido de dois-pontos, ou distinguido tipografica. mente); (4) tipo de projeto de pesquisa e nome da entidade a que deve ser submetido; (e) local (cidade) da entidade onde deve ser apresentado; (Nano de depésito (entrega) * Lista de ilustragées (opcional) * Lista de tabelas (opeional) * Lista de abreviaturas e siglas (opcional) * Lista de simbolos (opcional) + Sumério 19.1.2 Elementos textuais Os elementos textuais devem ser constituides de uma parte introdut6ria, fa qual devem ser expostos o tema do projeto, o problema a ser abordado, (8) hipétese(s), quando couber(em), bem como (3) objetivo(s) a ser(em) atingido(s) e a(s) justificativa(s). E necessério também que sejam indicados o referencial tedrico que o embasa, a metodologia a ser utilizada, assim como os Fecursos € 0 eronograma necessérios & sua consecugao. Esses elementos textuais devem ser apresentados preferencialmente em se- S6es especificas. A primeira corresponde a Introdugio, que se inicia com a apre- sentacao do tema do projeto e do problema que se pretende solucionar com a Pesquisa, assim como sua delimitaco espacial e temporal, Também nesta seco procede-se & apresentacéo dos objetivos da pesquisa cm fermos claros e precisos. Recomenda-se, portanto, que em sua redaclo sejam Ulllizados verbos de agéo, como identificar, verficar, descrever, analisar © avatar, Possivel em algumas pesquisas definir objetivos gerais e especificos. Quando & Pesquisa envolver hipéteses, & necessério deixar explicitas as telagbes que se acredita existir entre as varidveis, Cabe ainda na Introdugao apresentar a justificativa de pesquisa, que poderd incluir: (a) fatores que determinaram a escolha do tema, sua relagio com a ex. (Como Redigr 0 Proje de Pexgusa? 171 periéncia profissional ou académica do autor, assim como sua vinculagio a érea temética ou linha da pesquisa do curso de pés-graduacio, quando for o caso; (b) argumentos relativos a importdncia da pesquisa do ponto de vista teérico, meto- doldgico ou empirico; (¢) referéncia a sua possivel contribuicéo para 0 conheci: ‘mento de alguma questao teérica ou prética ainda nao solvida. ‘Uma segunda sego poderé corresponder & Revistio da Literatura, © que interessa aqui € contextualizar teoricamente 0 problema e apresentar 0 estagio atual de conhecimento acerca da questo. Isto implica o esclarecimento dos pres. supostos tedricos que dio fundamentago a pesquisa, bem como das contribu ses proporcionadas por investigacOes empiricas jé realizadas. Cabe ressaltar que a revisio bibliogréfica ndo é constitufda apenas por referéncias ou sinteses do relato de estudos, mas por discussao critica das obras citadas. ‘Outta seco imprescindivel é a que trata da Metodologia adotada na rea- lizagdo da pesquisa. Sua organizacdo varia conforme as peculiaridades de cada estudo, Hé, no entanto, algumas informacoes cuja apresentacao é imprescindivel, como as referentes a: * tipo de pesquisa (experimental, levantamento, estudo de caso etc); + populagao ¢ amostra (extensio da populagio, processo de extragao de amostra ete.); + coleta de dados (descrico das técnicas, tais como questiondrios, entre vistas, observacao etc.); + andlise dos dados (testes de hipéteses, correlagio, andlise de regressio etc). Também é conveniente elaborar 0 eronograma de execugao, indicando © tempo necessario para 0 desenvolvimento de cada uma das etapas da pesquisa (ver segdo 18.2). Quando o projeto destina-se & obtencio de financiamento, convém destinar ‘uma seco correspondente ao Orgamento da pesquisa (Ver seco 18.3). 19.1.3 Elementos pés-textuais * Referéncias Elemento obrigat6rio. Elaboradas conforme a ABNT NBR 6023. + Glossario (opcional) + Apéndice (opcional) Os) apéndice(s) é(sé0) identificado(s) por letras maiisculas consecutivas, travessio e pelos respectivos titulos. 172 como tlbora Proje de Resquisa + oi + Anexo (opcional) Elemento opcional. O(s) anexo(s) é(s4o) identificado(s) por letras maitiscu- las consecutivas, travessao e pelos respectivos titulos. indice (opcional) 19.2 Estilo do texto Os projetos de pesquisa sao elaborados com a finalidade de serem lidos por professores pesquisadores incumbidos de analisar suas qualidades ¢ limitagées, Espera-se, portanto, que seu estilo seja adequado a esses propésitos. Embora cada pessoa tenha seu préprio estilo, a0 se redigir o projeto, convém atentar para certas qualidades bdsicas da redacdo, que sio apresentadas a seguir. 19.2.1 Impessoalidade O relatorio deve ser impessoal. Convém, para tanto, que seja redigido na terceira pessoa. Referéncias pessoais, como “meu projeto”, “neu estudo” e “mi. nha tese” devem ser evitadas. Sao preferiveis expressdes como: “este projeto”, “o Presente estudo” etc. 19.2.2 Objetividade © texto deve ser escrito em linguagem direta, evitando-se que a sequéncia seja desviada com consideracées inrelevantes, A argumentagao deve apoiat-se em ddados e provas e nio em consideragées e opinies pessoas 19.2.3 Claresa AAs ideias devem ser apresentadas sem ambiguidade, para nao originar inter- retagdes diversas. Deve-se utilizar vocabuldrio adequado, sem verbosidade, sem expresses com duplo sentido ¢ evitar palavras supérfluas, repetigdes e detalhes rolixos. 19.2.4 Preciséo Cada palavra ou expresso deve traduzir com exatido o que se quer trans rltir em especial no que se refere a registros de observacbes, medigdes € andl Ses. As ciéncias possuem nomenclatura técnica especifica que possibilita conferir preciso ao texto, O redator do relatério nao pode ignoré-las. Para tanto, deverd Como Reig Poet dePesgute? 173 recorrer a dicionétios especializados ¢ a outras obras que auxiliem na obtendo de preciso conceitual Deve-se evitar 0 uso de adjetivos que nao indiquem claramente a proporgdo dos objetos, tais como: pequeno, médio e grande, bem como expressdes do tipo: quase todos, uma boa parte etc. Também devem ser evitados advérbios que nao explicitem exatamente 0 tempo, 0 modo e o lugar, como, por exemplo: recen emente, antigamente, lentamente, algures, alhures e provavelmente. Deve-se preferir, sempre que possivel, o uso de termos passiveis de quantificacio, ja que si estes 0s que conferem maior preciso ao texto. 19.2.5 Coeréncia O texto deve ser elaborado de maneira harmoniosa. Para tanto, deve-se con ferir especial atengo a criagéo de pardgrafos. Cada pardgrafo deve referir.se um tinico assunto e iniciar-se de preferéncia com uma frase que contenha 2 ideia-mticleo do paragrafo - o tépico frasal. A essa ideia basica associam-se pelo sentido outras ideias secundétias, mediante outras frases. Deve-se também evitar a criagao de um texto no qual os pardgrafos sucedem-se uns aos outros come ‘compartimentos estanques, sem nenhuma fluéncia entre si. 19.2.6 Concisio O texto deve expressar as ideias com poucas palavras. Convém, portanto, que cada periodo envolva no maximo duas ou trés linhas. Periodos longos, abrangen- do varias oragées subordinadas, dificultam a compreensio e tornam pesada al tura. Nao se deve temer a multiplicagao de frases, pois, & medida que isso ocorre, o leitor tem condigées de entender o texto sem maiores dificuldades. 19.2.7 Simplicidade Devem ser utilizadas apenas as palavras necessdrias. O uso de sindnimos pelo simples prazer da variedade deve ser evitado. Também se deve evitar o abuso dos jargées técnicos, que tornam a prosa pomposa, mas aborrecem o leitor. Convém Tembrar que 0 excesso de palavras nao confere autoridade a ninguém; muitas vezes, constitui artificio para encobrir a mediocridade. 19.3 Aspectos grificos do texto 19.3.1 Formato O texto deve ser apresentado em papel branco, formato A4 (21 em x 29,7 em), digitado no anverso das folhas, impressos em cor preta. Qutras cores podem ser uttlizadas, mas somente para as ilustragées. 174 came tab Para digitagao recomenda-se a utilizagdo de fonte 12 para todo 0 texto, ex: cetuando-se as citagbes de mais de trés linhas, notas de rodapé, paginagdo e le- sgendas das ilustragdes e das tabelas, que devem ser digitadas em tamanho menor € uniforme. No caso de citagées de mais de trés linhas, observa-se, também, um ecuo de 4 em da margem esquerda, Nas margens devem ser observados os espagos: 3 cm para a superior e es- querda e 2 cm para a inferior e a direita. 19.3.2. Espacejamento O texto deve ser digitado com espaco 1,5, entrelinhas, excetuando-se as ci tagdes de mais de trés linhas, notas de rodapé, referencias, legendas das ilustra- s6es e das tabelas, tipo de projeto de pesquisa e nome da entidade, que devem ser digitados em espaco simples. As referencias ao final do projeto devem ser separadas entre si por dois espagos simples. Os titulos das subsegdes devem ser separados do texto que os precede ou que os sucede por dois espacos 1,5. 19.3.3 Organizagéo das partes e titulagao Cada uma das partes do relatério recebe um ntimero para facilitar sua locali- zagio no texto, Para a numerago das secoes primérias ou capftulos sao utilizados algarismos arabicos, a partir de um. Para a numeracao das sees secundérias, utiliza-se 0 nimero do capitulo, mais o mimero de cada parte, separados por Ponto ¢ assim sucessivamente, Recomenda-se que nao sejam utilizados mais do que trés estagios de subdivisto, em virtude da quantidade de digitos que devem set utilizados. Exemplo: 1 Seco primaria 1.1 Seco secundaria iT) 13 1.3.1 Segdo tercidria 1.3.2 133 Os titulos das segdes primérias devem ser alinhados & esquerda ¢ aparecer em catxa alta (maidsculas). Nos demais titulos, também alinhados a esquerda, apenas a primeira letra e as iniciais dos nomes préprios é que deverdo aparecer com letras maiisculas. Como Redigr rojeo de Pesquisa? 175 texto de cada seco pode incluir varios parégrafos e também utilizar alf- neas (representadas por letras mintisculas) para relacionar itens de conteudo pouco extenso. 0s titulos sem indicativo numérico — lista de ilustragées, lista de abreviaturas ¢ siglas, lista de simbolos, sumério, referéncias, glossério, apéndice(s), anexo(s} € indice(s) - devem ser centralizados. arias, por serem as principais divisdes de um texto, devem iniciar em folha distinta. Devem ser alinhados & esquerda e aparecer em caixa alta (maitisculas). Nos demais titulos, também alinhados & esquerda, ape: nas a primeira letra e as iniciais dos nomes préprios devem aparecer com mais culas. Destacam-se gradativamente os titulos das segées. 19.3.4 Paginagéo Todas as folhas do projeto, a partir da folha de rosto, devem ser contadas sequencialmente, mas néo numeradas. A numeracdo é colocada, a partir de primeira folha da parte textual, em algarismos ardbicos, no canto superior di reito da folha, a 2 cm da borda superior, ficando o tiltimo algarismo a 2 cm de borda direita da folha. Havendo apéndice(s) e anexo(s), as suas folhas dever: ser numeradas de maneira continua e sua paginacéo deve dar seguimento a do texto principal 19.3.5 Notas de rodapé ‘As notas devem ser digitadas dentro das margens, ficando separadas do texto por um espaco simples e por filete de 3 cm, a partir da margem esquerda. Devem ser utilizadas apenas quand 19.3.6 Citagoes As referéncias a autores ou transcrig#io de informagdes retiradas de outras fontes devem ser indicadas no préprio texto, indicando o sobrenome do autor, seguido do ano de publicagao entre parénteses, Exemplos: De avordo com Weber (1978), ‘Tripodi, Fellin e Meyer (1975) classificam. Almeida et al. (2000) acentuam, 176 come Babar Poets de Resi * Gi As citagées textuais devem ser indicadas pela inclusao de aspas no inicio e fi- nal dos perfodos e o miimero da pagina entre parénteses no final. Citagdes curtas de até trés linhas, poderdo fazer parte do préprio pardgrafo em que sio inseridas, ‘14 citagdes mais longas devem ser apresentadas em bloco préprio, afastado da margem esquerda, com espaco simples e em itélico, Por exemplo: Chalmers (1993) ressalta que: (A ciéncia é baseada no que podemos ver, ouvir, tocar etc. OpiniGes ou pref ‘éncias pessoais e suposigées especulativas no tm lugar na ciéncia. A ciéncta € objetiva. O conhecimento cientfico é conhecimento confidvel porque ¢ co nhecimento provado objetivamente” (p. 23). 19.3.7 Iustragées Qualquer que seja a modatidade (quadros, desenhos, mapas, esquemas, f- Xogramas, organogramas, fotografias, graficos, plantas e outros), sua identifica, So aparece na parte inferior, precedida da palavra designativa, seguida de seu nimero de ordem de ocorréncia no texto, em algarismos ardbices, do respecte titulo e/ou legenda explicativa e da fonte. A ilustragao deve ser inserida e mats réximo possivel do trecho a que se refere. 19.3.8 Tabelas As tabelas devem ser apresentadas conforme as Nor de mre “ac ‘Tabular do IBGE (1993). ae Exemplo: Tabela 1 Area plantada ow destinada & colheita, colhida, quantidade produsida, rendimento médio e valor da produgdo, em crescente de valor da produ 0, segundo os principais produtos ~ Brasil - 2004. - ‘Arca plantada fea [ound [endive] ying eet | tha) | tO | cgay | (080 Rs) — | © | Soe engin | Bisoiaw |aistaas0| wosmon! 2300 |saanem Gansdeagicar | “5.633700 | ssaurai |aisaosess | 7726 | 2143002 Mihovemgrio) | 12864898 |rasiosr7 | ai7ersse| ‘sa07 |itsossis Aree mene) — | 3.7421 | 3733148 | 19277008 380 | 7.75058 cate tbenesciado) | 2309598 | 2368040 | ‘a¥ss0| oa | 7277981 god berbdceo fem cao) 1asv67 | aso0w| a79¢4s0| sac | s.ss.on Mandioes@) 1776967 | 1754875| anga6sss | 13684 | 4954060 Laranja 823.902 823.220 | 18.313.717| 22.246 | 4.307.155 Fumo em hn saan | ssaass| saias| “1992 | Seazzie Festo(em aris) | 4325777 | a97aaeo | asoroor| "74s | 3oszs0 Banana 495.385 | 491.042) 6.583.564| 13.407 | 2.273.680 Tigo (em st) amor | 2e07226| Sarees) ‘20m | 2iozazs Datningsn vaz7i | 12704] ao470e3| 21352 | ines? Tomate oass | oasa| asisser| saasa | teins ba nisao | _risar| taoraea| ieazs_| 1380206 Fone IE, Drove de Regus, Coordenago de Agropecri, Produ Agile Mung zo (1) A Area plantada refere sea area destinada& colheta no ano, 19.3.9 Referéncias Todos os trabalhos citados no texto devem ser referenciados em ordem alfa- bética, seguindo as normas da NBR 6023:2000, da ABNT. Seguem exemplos de alguns tipos de referéncias. Livro MEDEIROS, Jodo Bosco. Redagdo cientffica: a prética de fichamentos, resumos € resenhas. 4. ed. Séo Paulo: Atlas, 1999, Capitulo de livro GUBA, Egon G.; LINCOLN, Yvonna S, Paradigmatic controversies, contradictions and emerging confluences. In: DENZIN, Norman K.; LINCOLN, Yvonna (Org.). Hand- ook of quatitative research. 2. ed. Thousand Oaks: Sage, 2000. Cap. 6, p. 163-189. 178 como Babort Projets de ergs + Gi Artigo de periédico cientifico Mea, Fatima Magro et al. O uso de drogas vasoativas em terapia intensiva, adic ~ Revista do Hospital das Clinicas e da Faculdade de Medicina de Ribeinao cree ey nversidade de Sao Paulo, Ribeitdo Preto, v 31, n 23, p. 400-411, jue set. 1998, Matéria publicada em revista Ba ny gg O8é Roberto, Vermelho, 6 Papai Noel Exame, S40 Paulo, ano 35, nt 24, p. 40-43, 28 now. 2001. Matéria de jornal assinada Pauley Ethic. Na slkima hora, Argentina paga divida, Foha de S, Paulo, So Paulo, 15 dez. 2001. Folha Dinheito, p. B-1 Matéria de jornal néo assinada 200 TAS acusados de tréfco so presos. Fotha de S. Paulo, So Paulo, 15 des. 2001. Folha Cotidiano, p. C-1. Tese ou dissertagio CONCEIGAO, Jefferson José da. As indlstrias do ABC no olho do furagao. 2001, Zab b, Dissertagéo (Mestrado em Administragio) — Centro Universitas Men Pal de Sdo Caetano do Sul, Sio Caetano do Sul. Documento eletrénico Leituras recomendadas Me IROS, Jogo Bosco; TOMASI, Carolina. Comunicagdo centfica: normas tée- nicas para redacdo cientifica. Séo Paulo: Atlas, 2008. Jag N70 apoia se rigorosamente nas normas da ABNT, que so as mais di fundidas no meio académico e gozam de maior aceitacao, Oferece, pois, a expli- ome Reine © Projo de Pesquisa? 179 4 norma, que abrange da elaboraio do citasio de um conjuno signifcativo de normas, b projeto de peagusa A elaborag dos verso ties de wabaos academics A NI - Norma brasileira SSOCIAGAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS ~ ABNT. il ‘avr NDR 15207: 2005 informaghe © domenoesa Dojo de mena ‘oresentagao, Rode Jano: 2008 Ena norma etabelece os principio geri para apresemagSo de projetos de pesquse a Bibliografia @ ANGROSINO, Michael. Etnografia e observagdo participante, Porto Alegre: Artmed, 2009, ASSOCIACAO BRASILEIRA DE NORMAS TECNICAS - ABNT. Norma brasileira ABNT NBR 15287: 2005. Informagio e documentacao ~ projeto de pesquisa - Apresentacao. Rio de Janeiro, ABNT, 2005, —__.. Norma brasileira ABNT NBR 6023. Informagio e documentagaio ~ referéncias. Rio e Janeiro: ABNT, 2002, BABBIE, Earl. Métodos de pesquisa de survey. Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. BARDIN, Laurence. Andlise de contetido, Lisboa: Edigées 70, s/d BEAUD, Michel. Arte da tese: como preparar e redigir uma tese de mestrado, uma mono- srafia ov qualquer outro trabalho universitirio, Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. BICUDO, M. A. \! Sobre a fenomenologia. In: Pesquisa qualitativa em educagdo: um enfo- {que fenomenolégico. Piracicaba: UNIMER. 1994, CAMPBELL, D. T; STANLEY, Julian C. Delineamentos experimentais e quase-experimentais de pesquisa. Sao Paulo: EPU: Edusp, 1979. CONTRANDIOPOULOS, André-Pierre et al. Saber preparar uma pesquisa: definicio, es ‘trutura e financiamento. Rio de Janeiro: Hucitee: Abrasco, 1994. CHISERI-STRATER, Elizabeth; SUNSTEIN, Bonnie S, FleldWorking: reading and writing research. Blair Press: Upper Saddle River, 1997. COLAIZ2I, Paul E Psychological research as the phenomenologist views it. In: VALLE, RS, KING, M, (Ed.). 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