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COLECAO ARTE E CULTURA VoL. Nos ISMAIL XAVIER (onpanizador) izador A EXPERIENCIA DO CINEMA antologia ‘Cap: Fernando Gomes Revue: ree Moret doe Sonos Prodgte Grafica: Orando Femandes 1 Edito Margo, 1983 Dirt ada para a ingua portuguesa por: EDIGOES GRAAL LTDA. ‘Rou Wermenegdo de Barros, 3-A — Gla 21241 Ro de Janeiro, RE Beas Fone: 528882 © Copprieh da sprsetago gel das introduc ¢ das notes by smal Xvi (0s detenores dos itor de tradogo © reproduce dos artigos que compoem ‘suranga eto Yelaionados na pagina Se colo Impreso no Bras / Printed in Bras CrP-BralCatalognto-ne forte Sindicato Nacional ds Eaitores de ios, RI TEH6 A Faperacia do numa: antaoa/ Toma Xai organizador - — Rub de Jano: Eales Gaal Embrafine, 1989. (Caio Aree eltra S13" 8) Biblograi. ow INDICE Apresenigo geral/ Ismail Xavier PRIMEIRA PARTE — A ordem do olhar: codificagio do cinema clisico, as novas dimenstes imager Inteodugo/ small Xavier 1.1, Hugo Munsters TA. A atengio 1.1.2, A meméria © © imaginagio 113. AS emogses 1.2. V. Podovkin 1.2.1, Métodos de tratamento do material (montagem es- ‘ratural) eee 2.2. Os métodos do cinema 1.2.3. 0 diretor ¢ 0 roteiro 1.3. Béla Balézs 3.1. © homem visivel 3.2, Nés estamos no filme 3.3. A face das coisas uv 19 0 36 55 s7 n 8 84 a7 13.4 13s sa 15.2 183. 1.6.1 SEGUNDA PARTE — A ampliaglo do olbar A face do homer Subjetvidade do objeto 1.4. Maurice Merleau-Ponty ~ © cinema ¢ & nova pscologia 1S. André Bazin i COniologi de imagem fotogrtice Morte todas as tardes [A margem de 0 erosmo no cinema 1.6, Badger Morin A alma do cinema iovenigagies sonoras: Podticas Introdugfo/ Ismail Xavier 2a 21.2. 213 214 220 2.2.2 2.2.3 2.24 2.3.1 2.1. Serguéi M. Eisenstein Montage de atragdes =... Método de realiaagéo de um filme opeitio Da titeratura 20 cinema: Une tragédlamercona [Novos problemas da forma cinematogrtica 2.2, Drign Vertow NOS — variagio do manifesto (1922) Resolugio do conselho dos arés (10/4/23) Nascimento do cineolho (1924) Extato do ABC do kinoks (1929) 2.3, Jean Epetein © cinema © as letras modernas 2 ” or 3 us m2 129 bs 43 Mas 13 ns 185 187 199 203 216 2s T 282 260 263 267 269 2.6 1 Bonjour cinéma — excertos Realzagio. do. detalhe z A imtligéncia de wma miquina — exce.os a) Signos (capitulo 1) ) Capitulos 2 ¢ 3 — excertos 0 cinema do diabo — excertos 4) 0 filme contea 6 tio >) A imagem conta & palaves ©) A divide sobre 8 pesion 4) Poesia e moral dos gangsters 2.4, Robert Desnos © sonho o cinema (0s sonhos dnote transpotados para a tla Cinema frenético ¢ cinema académico ‘Amor ¢ cinema Melancolia do cinema 2.5. Lois Buuel Cinema: instrument de poesia 2.6, Stan Beakhage Metiforas da visko TERCEIRA PARTE — © prazer do olhat ¢ 0 corpo da te do filme Introdugio/ Ismail Xavier 3 3.1, Hugo Maverhofer A peoologla de experitncia. cinematogrtica 276 280 203 287 293 296 ais 37 319 322 25 37 a 333 339 aa 383 355 373 37s 3.2, Jean-Louis Baudry 38 3.2.1. Cinema: efeitos ideolégicos produaldos pelo aparetho de base a3 3.3. Christian Metz aot 3.3.1. Histria/Discurso (nota sobre dois voyeurismos) 403, 3.3.2. 0 dispostivo cinematogrético como insiigho so- Sal emus com Chron Mew an Apresentagdo Geral 34. tau Muy as 3.4.1, Prazer Visual ¢ cinema narrativo .. 437 i 3.5. Mary Ann Doane. 45 3.5.1. Avr po coema: a anate de coro € pape. 487 Ecevit cm a ep es tn Tre Has Mace he posi pe to reba is ors aoe a's Sale Sy tan Dae ieee Gene aia 1a ct Suit" GS Slee toes aan SEE aus rom cae ‘E hich ps li ca Tug te ea ds Seavey cat Dame npn GH SED soos pa oaeere cae . penser ate cet in tag from a Biss wt wane ne ca se Io Teal te its ee ate ae Seals Mae pa Step aera plo tate em man tot So po, 6s eid sop sar ope an eee Species lew or pas tao ream ‘nta tl tao Mean on Soin ae is eas ter spa ei oes ee me cp waco a nine i” 9 ca aed ST joao ssn sla ta Ste hae SS SFr avr Ste tac ef 3 9 ficou bem marcads no descavolimento dos debates © na fiagdo de parimetios paca a ria. ‘A prépianatureza dos dois extemes suger win fo condutor ‘De um lao, 0 estodo de Monsterberg,preacupad em explcar como fencona a naragio cnematograia © sun relyfo com st peragSes rentais Jo espeiador De out, uma colesdo de artigos sob a ‘bres da pane, tezendo todos marca do “rete Freud” ‘ue, antes Ge inciir sobre tcoria do cinema, erm dado carte sia de parcels considervel da refeo sobre ak ares ¢ 4 cata em gecal no contero cotemporiaeo. A prsege, nos dois exe tos, do esrtos gue procuram expicar como se eta a eagS0 flme/expectadorevideacia um eri basic: dst pig 48 tn- tates de carcterzar dct, avaliar 0 tip de expergnia audio visual que o cinema oferece — como sss images e sons se ‘ornem straetes legis, de que modo conseguem a mebiliagdo poderss dow acon ¢ se fimam como insnca de celebraglo de valores © reconhecimentos eolgces, iis talver do que maifstarso. de ‘comsiéncia cris. Bou parte dos textos aqui reunidos traz em comum eta nteogasio digs 20 que sconce na sala escara € tim esforgo em demonstrar que a estutra do filme — entndida como confgursto objeiva de imagem som organizades de um certo med) tem aiidades diets com esturas propia 20 campo da subjevidae. Reproduindo,atualiando determinados proceuot © operagies meni, © cinema se toma expecta inte give e, 20 mesmo tempo, vi 90 enconto de pa demands aftiva gue 0 cpectador tz comigo. Como dise Mutter. jé em Tote, "0 cinema obedew sls da mente, n80 is So mundo ex tein", Esta € uma frase, em tee, enlssvel, prinipinente quando eatendda como negagio de ingeoidade maior que tende @ onda Lngagem do cinema ca propria esrtura do real Ms, fo vela retablhada por ciferents tedricos coca 20 1ong0 os anos, € necesiro pergntar: qu cinema? que leis? partial rear a experizcia que esté.na origem desis reflexes, seja 2 do fpieslogo seo, sia de Mon, Mew ou Medeau-Ponty. Poi FT excogio. dos autres igados 1 vanguarda dos anos vinte ou de ‘vablhes mais rocenes (dos anos seseata para cf), € comun ermos 0 texto térico dcursar sobre 0 cinema em eral, sst- Indo implictamente que 0 tipo de fine » que se refer expresa 2 prin nature do! velo. 10 ‘Quando, portent, falo em estrutra do filme, a especiticagio de imagem ¢ for organzados de um certo modo no € aiden Na vewade, um elemento subjacente que organiza exte livo € 0 problema da fiego cinematogréfica tal como se consolidou a partir 0 cinema narrative liso, produto da indéstia que, adaplando-se fs novas demandas e is possiblidades frangueadas pelo avango da ‘éeniea e pela retragio di censura — ou, se se prefere,avango da “dessublimagdo represiva” (Marcuse) —, pouco mudou em sua e5- tratura ¢ prinipios eat 1916 ¢ 1980.” O filme de festo estilo norte american, com futuagdes © polémicas, & ainda hoje 0 dado rmais contundente da stengio do critic, por fora de seu papel fuclear na organizagio da indistia, por orca de sia prevenga na ociedede, Es, portato, um elemento fundamental de referencia ‘aqui conskerado: a exstncia de um cinema dominane, rgkdamente coiiffeado, ¢ sua reérca de base — a “impresio de realdade”. Eta colegio compreende, em sua primeira pare, texos que procuram deseever o olhar que este cinema deposia sobre at coi as, que buscam caractri4lo em sus estratura e forga. Num pri- Ineiro momento, encontramos pecas de explicag, jluminadores ©, por ito mesmo, clsscas: Munsteberg, Pudovkin, Bars. Num se- {Eundo moment, seguimos © lgfo que « Ieitura destes € de outros ‘lisicos nos tz. Subiahar gue hé um cinema parcular na origem ‘de um pensamento nio ‘que ele esteja condenado a dizer pends 0 que diz respeto a ese cinema, Ao lado de uma primeira deserigto do cinema elissco e suas regras, ainda na primeire parte {a anfologia, tomamos contato com refiexses onde o que se busca ‘ sceatuar @ incidénca de certo aspecto do einem, enguanto dado novo da produgio de imagens, no conterto da caltura do século, Abstraides ab alternativas particalares de linguagem. © 0 proprio ‘Bald quem nos lange auma discesio sobre a “cultura visual"; re- cuperagto através do cinema de uma sensibilidade perdida com a fnvengto. da imprensa., E Mecleau-Ponty explora a relasSo entre cinema e Psicologia da! forma eaguanto instincias contempordneas fave atualizam uma nova percepgso do homememsitussio, uma ova concepeio do olbar como ativdade dotada de sentido, Bazin comparece para inerogar o cinema a partir de sua represcatasio ‘da morte do sexo, para ele pontos enioos que colocam em ques- tio , 20 mesmo tempo, marcam defintivamente o especfieo cine- imetogrifico. Examiner sua tentaiva de claborar uma ontlogia do u cinema € tvar um debate com uma das formalagSes mais sats do problema da “presenga do real" na imagem cinemategétics, Egat ‘Morin nos lange definitivamente na discussio dos procestos subja- ‘entes 20 “charme” do cinema, aum estudo antropoligico que ex- plora as finidades entre cinema e magia, cinema ¢ ronho, cinema © imagingrio, nos trazendo uma caracteraagso dos processos de projegdoidentifeagto e da “parcpasto afetiva” do expectador que ‘toma formulaptes anteriores e prepara todo 0. quadro de {cori ages que veremos na terceire parte. Morin 6 pooto de inter- scsi ‘A preocupssio com o cinema como dado novo de percepsio, ‘como técnica nova que, por isto mesmo, deve ser o lugar da cons (rogio de um novo olhar © de wma nova linguagem tem rea pleno desenvolvimento somente na segunda parte deste livre. al, na ‘efinisio de programas dos poctas cineasiss, que a concepsio do ‘einem como experfneia inaugural se radializa, O cinema fet- sro, antcarteiano, de Epstein; 0 cine-olho, tabricade-fatos, de Vertov; 0 cinema intelectual, da montagem de atraptes e domo logo interior, de Eisenstein; 0 cinema visiondtio, da mera como fextensto do corpo © do ohar que tupera ot limites defnidos pela cultura, de Brakhage; 0 cinema como insramento de poesia e do maravthoso, dos surrealistas; estes sio exemplor de umm pensar € fazer cinema que reivindica 0 dreto a experimentar negado pl indistria, que convoca a uma ampliagio da aventura da nova per- cxpolo, sem as amarras do o6digo vigente, De Fisensicin « Brathage, 0 poeta etcrove para propor, ¢tam- ‘bém para explicar, dar fundamento a suas porgba:e lazer a critica do convencional com veeméscis. Se 0 cinema dominante existe e, fenquanto elemento perencente & qova esfera de producio, tm algo e inaugural, tudo 0 que ele faz & pouco. E, 0 que & pion, € il timo, porque insceve © veiculo novo em obdigos culturis i ‘dado, confirma as limitagdes da experéncia humana moldades pelos Interesses dominantes,accita jogo de inerdighes do. poder const {uido e soneys 20 espetador a possibldade de uma empresa episte- roligica e de uma experénciaestéica mais condizente com 0 ee Pitta mals Weido da epoca. Defess de novas linguagens, a segunda pare dé vor dis Senvolvimento da ato. 34 Um empregado de baleto compra 0 jorel na raa, passa os olhos| fs manchetes eleva um susto. Subitamente a noticia aparece diante fds nosso olhos. At manchetes ampliadas pelo closeup ocupam toda a tlt. Mas aio € aecesiio qué o foco da atengdo recaia Sempre nas “alavancas” do enredo, —Qualguer detalbe sui, qual~ quer eestosigificativo que refore o significado da agi pode ocupar Sreeniro da conscitaia monopoizando a cena por alguns segundos. ‘© amor transparece na fae sortidente da moga, mas iso nos escapa ro meio da sala cheia de gente. De repente, por apenas tts se- frndos, todo o mundo desapaece, inclusive © proprio easal de nt- rmorados, © 36 vemos na tela 0 olhar de deseo do rapez € o soni Ge aguiesctacia dela. 0 close-up faz 0 que 0 teatro nio tela con- ‘igdes de fazer sorino, embora pudéssemos aleangar efeito seme- Thante se tivésemostrzido para teatro os bindcuos, spontando-os rnaquele momento para as duas cabeqas. Mas neste cao teriamos fos desvinculado do qusdro que nos éapresentado pelo palo: a con- Centragio e 0 foco teriam si determinades por nis, e nio pelo es petéculo, No cinema ecorre o inverso [ito teriamos chegado, através desta anise do close-up, mito perto de onde nos conduria 0 estudo da percepszo da profundidade Edo movimento? Vimos que o cinema aos dio mundo plisco ‘inkmico, mas que a profundidade e 9 movimento, 0 contririo do que acontece no palo, nio sto resis. Vemos agora que existe um Sutro aspeeto do cinema em que a relidade da agéo carece de in- ‘dependéncia objetiva porgue se curva 8 avidade subjetiva da ate io. Sempre que a stengio se fixa em slguma coisa especiia, todo resto se ajsta, eliminese 0 que nio interessa e 0 close-up destaca © detae privlegiado pela mente. E como se o mundo exterior forse sendo urdido dentro da nossa mentee, em ver de eis proprias, bedecese 408 atos de nossa aencio, 35 Le. A MEMORIA E A IMAGINAGAO (Capitulo 5) ‘Quando nos sentamos no teatro © vemos o palco em toda sua profundidade, e observamos & movimentagio dos stores, © deh amos atengdo vagar Ide cé, semimos que as impresdes detrés das Iuzes da ribata so objetivas, 30 passo que a atengio ata subje- tivamente. As pessoas © as coisas vém do exterior para o interior ‘© 0 movimento da atengio faz o caminho invero. Mes « atengio, ‘como vimos, nada acrescenta de fato &s impresses que nos chegam do paleo: algunas se tornam mais nitids ¢ cara, outros se turvam fn se dissolvem, mas nada penetra na consciénea wnicamente a ‘Ss da atengéo. Ouaisquer que sejam as volas da atengio pelo paleo, tudo o que experimentamos chega até ds pelos cant dos setids. Eniretanto, a experiencia do espectador que exté na pics na ver dace nio se limita as meras sensagdes luinosas © sonores que Ihe chegam até os olhos e ouvidos naguele momenta: ele pode estar in ‘eiramente fscinado pela agio que se desenola no alco © metmo assim ter a cabera cheia de outras iis. A meméra, sem ser a ‘menos importante, € apenas uma fonte desas ideas Efetvamente, a meméria atuaevocando na mente do espectador cosas que dio um sentido pleno e stam melhor cada cena, cada 36 pelavra © cada movimento no palco. Partindo do extmplo ms tr- Wal, a cada momento precsamos lembrar o que acomlceu nas cenas anteriores. O primeiro ato nao esté. mais no paleo quando assis- timos ao segundo; o segundo, apenes,€ agora responsive pela im pressio sensorial. Nao obstante,o segundo ato, por s 6, nada sig- nifica: ele depende do apoio do primeir. € portato” necessirio ‘que © primrizo ato permaneca na consciéncia: pelo menos ms cenas importante, deveros lembrar as stuagdes do ato anterior capazes de elucidar os novos acontesimentos, Asompanhtmos ar aventuras ‘do jovem missionério em su perigosa jornada e recordamos que no ato anterior ele se encontrava na trangllidage do lar, cercado do ‘amor dos pais ¢ emis que choravam sua partida. Quanto mais fmocionantes of perigos eacontrados na tera distant, mais a me- ‘méria nos tar de volta As cenas domésticas presenciadas antrior- mente, 0 teatro nio tem outro recurso senfo sugerir meméca tal, reirospecto, 0 jovem her6i pode evocar essa reminiséncia mediante ‘um fla ou uma prece; quando, 20 atravessar as slvas da Altica, fs natives o atacam, © melodrama pode pérlhe nos Isbios palaras (que fazer pensar com fervor nos que ele deixou para tris. M cm altima insinci, € » nossa propria meméria com seu acervo de [dens que compde 0 quadro, 0 teatro nto pode ir além. 0 ci nema pode. Vemos a selva, vemos o herGi no auge do pergo: e, ‘num sibito lampejo, aparece na tela um quadro do passado. Por fpenas dois segundos a cena idlica na Nova Inglaterra interrompe 35 emocionantes perptcas na Africa. & o tempo de respira fundo luma snica vez e ja estamos de volta aos acontecimentos presents. ‘Aquela cena domestica do pussado desfilou pela tela exatamente como uma ripida lembranga de tempos idos que aflora & conscincia Para o moderno artista da imagem, esse artifiio técico tem silos utlizagies. No jergio cinematogrifco, qualquer vol ‘uma cena passada § chamada de curback. "© cutback admiteinime- as varagdes © pode servit a muitos propésitos. Mas este que esta- ‘mos considerando é, psicoogicamente, 0 mais interessante. Hi re mente uma objetivagio da fungio da memoria, Neste sentido, 0 ‘uiback apresenta ‘um certo pacaeismo com 0 cicseup: neste iden- tteamos © ato mental de prexar atencio, nagule, o ato mental de lembrae. Em ambos, agulo que, no teatro, no passafa de um ato imental, projeta-se, no fotografia, nos prSprios qusdtos. como se 8 realdade fosse despojada da prépria relagdo de continvidade pare 37 tender as exigtncias do esprito. & como se © préprio mundo ex- terior se amoldasse &s inconstincias da atengdo ou as Hdsie que nos vim da memsri A interrupgio do curso dos aconteimentos por visdes prospec tivas nfo passa de uma outra versio do mesmo principio. “Agu & fungio mental ¢ a da expectativa ou, quando esta se encontra subor dinada aos sentimentos, = da imaginagio, -O melodrama noe mostra © jovem milionéro desperdigando suas notes numa vida de ibertina- gens; quando, num banguete de champanha e mulheres, ele ergue seus brindes Basfemos, surge de repente ma tela uma cena de vinte ‘anos mais tarde em que © dono de um sérdido botequim atira nd ‘arjeta 0 vagabundo sem vintém. No teato, 0 timo ato pode com. , na maior parte, o resultado de nossa 89 curta © insensivel vis, de nossa superfcialidade. Em geral, mal tocamos a complexa e variada substanca de vida A camera des- cobra « célua-mge das matéras vitals nas quais todos os grandes ventas so, em ultima iastincia,concebides: pois © maior pedaso de terra nio passa de um agsepado de particlas em movimento Um grande nimero de cloe-ups pode mostrar 0 instante mesmo em {que 0 eral transformado no particular. O claseup nio s6 ampliou como também aprofundou nossa visio da vida. Na época do c= nema mado, o close-up ndo apenas revelou coisas novas, como tam ‘bem nos devolveu © sguficado das veths. A VIDA VISUAL © close-up nos apresenta uma quilidade existente num gesto ‘manual gue nunca haviamos pecebido, como, por exemplo, quando 4 mio Bate em alguma coisa. Tal qualidade € geralmente mais, fexpresiva do gue qualquer combinacio de figdes. 0 close-up mos- tea a sua sombra na parede, sombra que viveu com voce durante toda a sua vida que voc raramente conheca; mostra a face muda € 1 destino dos objetos que coavivem com vost em seu ambiente € ‘exjo destino est ntimamente igado ao seu. Antes do cinema, vooe ‘thava para a sus vida da mesma forms que um despreparado ‘ouvinte de tm concerto ouve a orquesra executando ums sifona, (© aque ele ouve apenss & 2 melodia prisspal, enquanto que todo © resto se confende mum ruido gral. Somente os que conseguem tistingsi 9 argitetura dos contrapontos de cada trecho de partura ‘que podem realmente entender e apreclar a misica Fé assim ‘que vemos a vida: 36-2 melodia principal chega aos alos. Mas um tom filme, com seus closeups, revela as partes mas reconditas de nossa vide polifnia, alm de nos ensinar ver of intrincados de- talhes vsuais da vida, da mesma forma que uma pesioa Ie uma parttura orquesral © CHARME LIRICO DO CLOSE-UP © closeup as veres pode dar a impressio de ume mera preo- cupagio naturalist com o delahe, "Mas os boas closeups ieraiam fama atitade humana carinbore a0 contemplar as coisas escondias, 90 tum éelcado euidado, um gentl curvarse sobre as intimidades da vida em miniaura,o calor de uma sensbilidade, Os bons close-ups Sho lisicos; € 0 coragio, © no or olhos, que os perctbe Close-ups geralmente so revelagbes dramiticas sobre o que est realmente scontecendo sob 2 supericie das aparéncias. Podemos ver um plano médio de uma pessoa, sentada e conversando calma e friamente. O closeup, enetanto, revelard of dedos que ‘remem nervosamente spalpando um pequeno objeto-signo de uma tempes- tude interna. Foire as imagens de uma casa confortive,respirando tum clima de trangia seguranga, podenios observa, de repeat, 0 sorriso do mal numa cabesa esculpida que emoldura a laeira, Ov, fentlo, = imagem ameagadora de uma porta que se abre para a ‘scurdo, Como 0 lelimotiv Jo destino inevitével numa épers, & sombra de algum desaste invitvel cai sobre a cena alegre, Close-ups sio as imagens que express a sensiblidade posta o dietor. Mostram as faces dos cosas e também as expressies ‘que, melas, so significents porque 380 reflexos de expresies de nosso proprio sentimento subconsciente. Agul se encoatra a arte do verdadeio operador de cimera a1 1.8.4 A FACE DO HOMEM* ‘A base © 2 posibildade de uma are do einem residem to fato de que todas as pestoss¢ todas as coisas paresam © que si. “Toda arte lida sempre com seres humanos, & uma manifests Imumana ¢ apresentaseres humanos. Parafraseando Marx: "A riz de toda & arte € 0 homem". Quando o closeup retire 0 véu de fossa imperepibliade e insensibilidade com relagio as pequenas oises escondidas e nos exbe a face dos objets, cle, ainda assim, nos mostra o homem, pois o que tora os objets expressivos si0 fs expresses humanas projetadas neses objets. Os objetos so fpenas reflex de ns mesmos, ¢ € esta caractritica que distingue arte do conhecimento cieatifico (embora este seja, em grande parte, determinadosubjetvamente). Quando vemos fae das casas, fazetnos 0 que 08 antigos fizeram quando evaram deuses a partic da imagem do homem aeles imprimiram ums alma humans. Ox ‘loverups do cinema sto nstrumentos citivos deste poderoso antro- pomorfisme vista. 7 Rewadusio pri Jo cx. VIL, “A Face do Homer 92 Eniretanto, mais importante do que a descoberta da fisionomia das coisas, foi a descoberts da face humana. A. expresso facial € | manifestagéo mais subjetva do homem, mais subjeiva até mesmo que 8 fla, pois tanto o vocabulirio quanto a gramdtica estéo au Jello a regas e convengies mais oa menos vilids universalmente, fenquanto que a combinagio das feigdes, como j fo dio, € ume ‘manifestagio no governada por cinones objetivos, embora sea pin. sjpalmente uma queszo de imitagso, Esta, que’ € uma day mani- festagdes humanas mais subjtivas e indivdusis, € coneretizada no lose-up. UMA NOVA DIMENSAO Se 0 closeup isola algum objeto ou parte dele de seu ambiente, 1s, ainda assim o perecbemeos no espago; do esquecemos em mo. ‘mento algum que a mio, digamos, mostra pelo closeup, perience a algum ser humano. E precisamente eta lgngio que empresa sign- ficado a cada um dos seus movimentos..Porém, quando o génio © ‘ ovsadia de Griffith projtaram, pola primeira ver, “cabegas dcepadas” numa tela de cinema, ele no s6 trouxe a face humana ara mis perto de nds no espago, como também transportou-a do fspago para uma outa dimensio, Nao nos referimos, & caro, A tela do cinema, nem aos raios de uz que nela se movem que, embora sendo coiss vsives, somente podem ser coneeidos no expaco, esta- mos falando da expressio na face, conforme revelada pelo close-up Dissemos que @ mio isolada perderia o seu significado, sua expessio, se nfo soubéssemos ¢ imaginéssemeos sua lgacdo_com qualquer ser Inumano. A expressio facial no rosto & completa e compreensivel fem si mesma ¢, portant, néo hé necessade de pensarmos nela ‘como eristindo no espago e no tempo. Mesmo que tivésemos 2e8- bado de ver © mesmo rosto no meio de uma maltidéo e o close-up apenas 0 separasse dot outros, tinda assim seniiames que de re- Dente estivames a 6s com este oslo, excuindo o resto do mundo, “Mesmo que acabéssemos de ver © dono do rosto num plano gera, ‘quando ofhamos pars os olhos, aum closeup, j6 nfo pensamos mais ‘naguele espago amplo, porque a expresso e 2 sinificagio do rosto ‘fo possui nenhuma relagio nem ligacdo com 0 espago. Ao encarat lum Testo isolado, nos desligamos do espage, aowsa consciéacie do ‘spaco € cortada nos encontramos numa outs dimensio: aquela 93 Ja fonomin. 0 fato de que os trax do roo podem ser Won ft tnso, Leo expo que os olos eat em tim, os ouvir to ladoy 2 boca mis abaio — pag toda referencia 20 espaco endo vemos, nip una Ogura de cane © 080, mas sin une {reso oem otras pala, emexoes,etados de espiito, nengde pensaments, ov sj, colas que, embora nos fhos posal ver, Sao cto no espogo Por sentiments, emogbe, estas de espito, Intengies,pensentos, do #80, em mesos, pstinentes 20 e5pa50 tnesmo que seam siualzados través de mos que ob sjam. MELODIA E FISIONOMIA eee acl acetate ne ep ae ea ent ege pr eo a ee een ce aa ee erent wee ae Saree eh eer cen eal Gals Nake Thc ee pote ae a te to cee tae rere oe ca eee A eee nae na tt io ae See Seoerate se eee eee a Se ee ae tae es Seen Sarentes cteeerg sh er hr eats anes Bie eres eae is eee ce eee cen Bares ne ts ae aa rel ee Eicton§ peeing papery eae ene moe Ss See ee 94 0s tragos isolados,naturalmente, aparecem no espago; mas o signi ficado das suas relagdesente si ado & um fendmeno pertencente 80 ‘expaco, tal como ndo o sio as emogdes, pensamentoy ¢ ideas ma nifestos nas expresses facais que vemor. | Estas sio como imagens «ainda asim, parecem fora do espago; tal éo eleto psiclépecn da expresso facia SOLILOQUIO. SILENCIOSO © ‘teatro moderno no usa mals 0 soliléquio declamado ¢, na sus falta, os personagens apenas slenciam nos momentos de maior sinceridad, aqueles menos bloqueados pela convencio: quando ese 5. 0 pablico de hoje nko toleraé 0 soliiqui falado, presumive!. ‘mente por ser artificial. No momento, o cinema nos apresenta 0 Soliléguio silencioso, no qual um rosto pode se expressar com as gra oes mais suis de significado, sem parecer arfcial © nem des- Dertar a isitagéo dos espectadores. Neste monGlogo silencioso, & alma humana solitiria pode encontrar uma lingua mais candida e esinibida do que no soil6quio declamado, pois la fla de forma ‘nstintva,subconscientemente. A linguagem do rosto no pode set ‘uprimida ou contolada. Nio importa o quéo controlado e forgost~ mente hipéerito seja um roste, no. closeup aumentado podemos observar com certeza que ele dissimula alguma coisa, que’ 0 tosto Parece wma mentra. AS emogdes_possuem sits expresées. espe. ‘aficas superpostas ao falso rosto. muito mas fall meme com Palavras do que com 0 resto, ¢ 0 cinema, sem sombra de divides, roveu isso, No cinema, o soliliguio mudo do rosto fala até mesmo quando © hers do esté $6, e neste fa'o se encontra una nove € prande. ‘portunidade para epreseatar o homem. 0 significado pottico do solildquio esd no fato de que ele € uma manifestagio do solidio mental © nio da fisica.Enetanto no testo, um personegem 38 pode declamar um mondlogo apenas no momento em que slo bower hinguém a sua volta ainda que o personagem se sila mules veces mas solitiio 20 se encontrar s6 no meio de uma multddo. 0 mo. n6logo da soliddo pode levantar sua var dentro do personagem Uma ‘enfena de vezes até mesmo quando ele esiverfalando com alguém, E por isso que os solilquios humanos mais profundamente sent no encontraram expeessio no palco. Someate o cinema possibilita tal expressio, pois 0 close-up pode isolar um personagem no meio 44a maior mulidto e mostrar 0 quo solitrio cle se encontra na rei- Tidade e o que sente nesta soldio povoada, © cinema, especialmente o cinema sonoro, pode Separar a pe lavras de um personagem que se drige « autos do jogo mudo Jos ‘wagos pelos quas, no meio de tal cnversago, somos levados a per ceber tm soliléguio slencioso e sentir a iferenga que existe ene ‘ste solléquio e a conversagéo audivel. © que um ator de carne fe osso consegue mostrar no paleo & que sus palavras, no méxima, do sdo sinceras, © € mera convensio 0 fato de que 0 interlocutor fem tal conversacio ndo veja 0 que cada especiador pode ver. Mas no close-up isolado do cinema podemos penetrar até no mais pro- fundo da alma através daqueles diminutos movimentos dos msculos facials que, meimo 0 interlocuor mais atente, nunca peresbera Um romancsta pode, naturalmente, esecver um didlogo de forma a ele colocar 6 que pensam os personagens enguanto falam ‘Mas, 20 fazer iso, ele quebca a unidade — is vezes chia, as vezes rdgica, mas sempre admirével — que hi entre a palavra faleda ‘9 peosamento excondido.& através dessa unidade’ que tal contra figio ve manifesta no rosto humano e 0 eiema fo} 0 Primero a nos roster, em toda a sua impressionante varedade 96 1.3.5. SUBJETIVIDADE DO OBJETO* ‘Todo objeto, sea homem ou animal, fenémeno natura ow are- fato, possui milhares de formas, de scordo com © angulo do qual ‘observames e destacamos os seus contomnos, Em cada ume das for- ‘mas, defnidas por milhares de contornor diferentes, podemos te conhecer sempre o mesmo objeto, pois las sempre se assemetham a0 seu modelo comum, mesmo que nS0 se paregam ene si. Mas cada hal expressa um ponto de vista diferente, uma inerpre= tagio diferente, um diferente estado de espirito. Cada Sngulo vi significa uma atitude interior. Nao hé nada mais subjetivo do que © objetivo, 'A técnica do enguadramento posible « dentiicagio & qual |iinos referimos como efeto mais espectico do cinema. A cimera ‘otha para os outros personagens © para seus ambientes « partir dos ‘olhos de um personagem. Ela pode olhar © ambiente & partir dos folhos de uma figura diferente a cade instante, Por meio de tai ‘enquadraments vemos o espago da ago de su interior, com os olhos dos dramatis personae, e sabemos como cles se sentem nee. O sbismo no qual 0 her despenca, se abre aos nossospés c a alturas «qu cle deve escalar se estendem pata os céusdiante de nossos rst, 7 Repodupso pul do ap. 1X, “A. muda de Engl” 7 Se a paixagem muda no filme, seatinos como se fssemos nds que tivésemos not movido. Por iso, os enquedramentos que modam ‘onstantemente dio a0 espectador a sensagio de que cle préprio se move, da mesma forma que se tem a iusto de movimento quando ‘um icem na plataforma ao lado comesa a deixar a estapio. A ta refa verdadelra da arte do cinema € de transformar em efeitos artists oy novos efetos psicoldpcos possibitados pela técnica da ‘inematogratia, ALGO MAIS SOBRE A IDENTIFICAGAO A Gsionomia de cada objeto num filme € o resultado de duas fisionomiat — uma é aquela propria ao objeto, que independente do expeciador —e a outre ¢ determinada pelo ponto de vista do ‘expectador © pela perspectiva da imagem. Num plano, as duas se fandem auma unidide tio coeta que 36 um ofho bastante tcinado & capaz de distinguir estes dois componentes dentro do proprio filme. (© operador de cimera procura virios objetvor ao escolher 0 sea Angulo. Ble pode querer acentuar a face real objeiva do objeto mostrade buscando, nee caso, os conornos que expestem mais ade- ‘quadamente este caréter do objeto, ou pode se interessar mais em mostrar o estado de espirito do personagem. Neste caso, se quiser twansmitr as impresses de um homem assusiado,apresentaré 0 objeto de um Angulo dstorcido, emprestando ele um aspecto sterrador, (8, s© iter nor mostrar o mundo conforme pereebide por um hhomem feliz, o operador de cimera pode crit a imagem do objeto de um ingulo o mais favordvel esedutor posivel. portals meios (que se consegue a identfcacio emocional do especador com os pet- Sonagens,nio apenas através de suas posies no espaco mas tambémn for intermédio de seus estados de espisto. © enquadramento © 0 Jangulo podem fazer com que as coisas se tornem odiosas, adoriveis, aterradoras ou rdiculas, 2 sun vontade, Enquadramento e composi dio &s imagens num fle, pathos ‘ou charme, uma objeividade fia ou fantéstias qulidadesromdatcas. ‘A arte da angulagio ¢ a do eoquadramento signifcam, para © di- relor © para 0 operader de cimera, 0 mesmo que 0 estilo significa para o narrador, e € aqui que a personaldade do artista eitivo se reflete de forma’ mais medina 98 MUNDOS_ANTROPOMORFICOS “Tudo 0 que o homem vé possut um semblante fame — esta ¢ uma forma inevtivel de nosta percepsio: Da mesma forma que ‘nfo concebemos as coisas fora das nogoes de espago e tempo, tam ‘bém no podemos vé-las sem fisionomia. Toda forma nos” causa ‘uma impressio emocionat bastante inconsciente que pode set gra ‘devel ob desapradivel, larmante ou trangiilizadora, uma vex que cla nos lembra, ainda que de forma distant, algum rosto humane (ue nelaprojetanios. Nossa visio de mundo antopomrice faz com ‘que pereebamos uma fiionomia humana em cada fendmeno. At esté 4 razio por que, quando cranes, ficévamos umedrontades pelo mo- Dilidrio ameagador num quarto escuo, ou pelos galhoe que balan- ‘vam num jardim sombrio, e também 0 porque, quando adultos, ‘os alegramos com uma paisagem que nos devolve wm olhar de re- ‘conhecimento amistosoeintigents, como se nos chamarse pelo nome. Este mundo antropomérfico € 0 nico sssunto porsvel de toda a ane ¢ tanto a palavra do poeta quanto © pines! Jo pintor s6 podem dar vida a uma realdade humanizada [No cinema, é a arte da angulaglo e do enguadramento que re- vela esta fisionomia antropomérfica em cada objeto, um dos. pos {ulados da arte einematorifca diz que nem um ceatimero de imagem deve ser neuro ¢ sim expresivo, deve ser gestae fisionoms (es ratusidor de Bela als Theory of the Flim — character and tosh ofa nen art New York, Dover Pub, 190). 99 ‘Tradugio de José Lino GRUNEWALD 14 Maurice Merleau-Ponty Lad CINEMA E A NOVA PSICOLOGIA? A\ sacctca ses conten sso an ial oe von ino ou un mono rt, odes on Smet Smo tte at crmponteds eco enc eal "hse Poggi at qu; en tema oct Sona ere a pecs nb pons Sl ce paraletismo enide elas e 0 fendmeno nervoso que as condiciona. vena et vic nut et Soopacy wo pot Crom, em sg spt pc owen tu pw ‘ranean, indo ee pn perce wre a ti jo 32 arson ae” ory se weld Spi vito 80 sein pcos a's ne eer Solo qr De snl psf hone eu, ree pe apa aie ee eee ey Se'tm ao ge dveor soar at din, abo Come on onc ar ot ur sems de cnfguagbs Oto ¢ bin Gp ces andre nat prea Asses 7 Gitta da atologa de Jou Lino Granenad, A lida do Chem, 103 justapostos ¢, sim, conjuntos. Né& sgrupamos as estes em conse Telages, como jd feiam of atigos,e, Sem embargo, muitos outros ‘regados da carta celeste so, @ prior, possives. Se se nos apresenta 3 sere: ab ed ef gh ij sempre emparelhamos 05 pontos de acordo com a férmula ab, cd, Gh le, embors o agropamento be, &-e, Fg, el. Sey ea Principio, igualmente provivl, O doente que contempla a tapecaria Ge seu quarto pode vela, subitamente, se transformar, caso 0” de- Seo e figura se tornem fundo, engusnto @ que é visto habitual- mente como fundo tomase figura. aspeco do mundo fcaria Ttumultuado para nds caso consegussemos ver, como cols, os inter- vals enze as coisas; isto 6 0 espago entre as érvores na avenida — ‘,recprocamente, as proprias coists como fundo, ito é, as mesmas frvores. Eo que ocoerenaquelasadivinhas ou quebracabogas eitas pra serem competadss, « asim solucionadss, com o desenho: 0 foelho ou o cagador nfo eGo visiveis porque os elementos de suas figuras permanecem deslocados ineprados noutras forms; por exemple, 0 que € a oreiha do coeho fics aiada como intevalo vazio re dussdrvores da florsta. © coelho e o eagador aparecem me: Sante uma nova segregasio do campo, uma nova orgenizacio do todo, A camullagem € a are de ocular uma forma, mediante 3 introdugio das lnhas principals que a definem dentro de outras for ‘mas mais dominants Podemos aplicar 8 mesma espécle de andlse as percepedes do ‘ouvida, $6 que, agora, nfo. mais se tata de formas’ no espaso e, sim, de formas temporais. Por exemplo, uma melodia € uma figura Sonora, nio se mescla sos rldos de fundo que podem acompanhi-a, ‘ome 0 som de uma buzina que € ouvido durante um concerto mu. Sica. A-melodia nfo é uma soma de notes: cada nota vale apenas pela fngéo que exerce n0 conjunto €, por iso, a melodia nio fica eorvelmente modificade com uma tansposiio, isto é, ve se madam todas as nota que a compoem, respetando-se as relages ¢ a estru- ture do conjunto. Em contrapesicio, uma gnica mudanga nesas relagGes € sufclente para modiicar a fsionomia total da. melodia Essa percepefo do todo é mais primitiva e natural do que aquela dos 104 lementos isolados. Nas experitncias com o reflero condcionado, fonde se adesram os cachorros para, mediante uma sectetio salvar, responder @ uma huz ov a um som — ascociando-e frequentementc {Itz ou 0 som & exiigio de um pedago de care — constatn-e que © adestremento adquirid, face a uma deteminada sucessto de nots, 6 também adguirido, no mesmo lance, com felacso a qualquer me- ladia de iatica exrutura. A percepedo analiica, que nos propicia (0 valor absolto dot elementos isolados, corresponde, enti, a uma fatitude posterior ¢ excepcional — ¢ aqucla do sibio que observa ov o flsofo que reflete; a perceps2o das formas, no seatido bem geal de extrutur, totlidade ou configurapio, deve ser considerado como ‘0 nosso meio de pevcepedo mais espontineo. ‘Ainda sobre outa perspectva, a psicologla moderna derubs os postulados da psicologa ¢ da fisiologa cdsias. Consitulugar-co- mum dizer que poscuimos cinco sentidos e que A primeira Vista, cada {um dels existe como um mundo sem comunicagzo com of outos: ‘que a luz 00 a cores que atuam sobre 0 olho no atuam sobre os ‘vidos nem sobre o tat. E, todavia, sabese, hi muito, que alguns ‘egos ehegam a exprimir as cores que nfo véem por melo dos sons fue eseutam, Um cego dia que o vermelho deveria ser alguma ‘coisa como um scorde de clarim. Mas, durante muito tempo, pen sava-se que isso era um fendmeno excepcional, quando, na realidade, fe consste num fenémeno geral. Durante a intoieagio pela mes- faina, of sone sfo regularmente acompanhados por manchas cao das, cujas nuansas, formas e dstincia variam de acoréo com o tim ‘bre, a intensdade e a altura dos sons. ALS as pestoss normais falam de cores quenes, fas, berrantes ou metlicas, de sons claros, sgudos, brihants,fanhosos, suaves de ruides mortigos, de perfumes Denetranes, Cézanne dizin que era porsvel enxergar 0 aveludado, 4 dureza, a maciez e alé 0 odor dos objets. Minh percepedo, fatéo, aio € uma soma de dados visu, titis ou autivos: per abo de modo indiviso, mediante meu ser total, capto uma estrutara nica da coisa, uma manera Gnica de exis, que fala, simultanea- mente, a todos os meus sentdos. [Naturalnente, 2 psicologia clissica sabia das relages existentes centre as partes diversas de meu campo visual, asim como entre os ‘dados de meus diferenics sentidos. Mas, para ela essa unidade era ‘consruida;relacionava-a & inteligncia e A meméria. Digo que vejo homens pastando na rua — escrevia Descartes num trecho célebre 105 de Méditaions — mas, na reaidade, que vejo exatamente? Vejo apenas chapéus ¢ capas que poder igualmente cobri ax bonecas ‘que s6 se movem por molas.- Se digo que vejo homens & porgue capte, “através de um exame da inteligéncia, aquilo que acreitava ‘yer com meus olos". Fico persuadida de que os abjetos continua 2 existir quando nyo mais os vejo, como, por exempo, quando eto, alris de mim. Mas, consoante © pensamento clisico, ees objetos invisiveis somente subsistem para mim porque minha consiéncia os mantém presenes. Mesmo os objets diane de mim nfo slo pro- Pramente vistos, mas apenss visulizados, Desse modo, unio sie ‘eria ver um eubo, ou Se, um sido formado de seis faces © doze estas igus; ndo vejo mais do que uma figura em perspectiva, na ‘ual as faces lateras estdo detormadas e «face dorsal completamente ‘cute, $e falo de cubos € porque minha intlgénciareconszGi as aparéncias,restitui a face ocuta. $8 posso ver o cubo e, a parit de sua definigto geoméirca,s6 posso vsualaslo A percepyio do ‘movimento demonstra de mancira sinda melhor a que ponto inte ligénciaintervém na supost visio. No momento em que meu tre, parado na estacio, se pe em marcha, ocore, amide, que julgo ver Sai aquele outro que esté parado 20 lado do meu. "Asim sendo, ‘0s dados sensoriissio, em si, neutros e capazes de receber interpre tages diferentes, de acordo com a hipstese na qual se detém mea ‘xptto. De um modo geal, a pricologiaclésica transforma a per- ‘eepgio num autético decifrar intelectual dos dads sensfves © numa ‘xpécie de principio de cigncia. Signos sho-me dados © & necestirio ‘que eu extraia a sua sigificacio; um texto me € apresentado © & necesirio que o lia ov © interprete. Meso quando toma em conta 4 unidade do campo de percepeto, a psicolopiaclisica permanece fil 4 nogto de sensago, que fornece 0 ponto de pata da anslse: pelo fat de ter, sobretdo, concebido or dadoe visuis como um rmossico de senses, ela tem necessidade de fundar a wnidade do ‘campo perceptivo numa operasio intelectual. que nos propor- ‘ions, com relacio a isso, a teoria da forms? Rejeltando decide mente a nogio de sensocao, nos ensna a nio mais dstnguir os signos de sus sinifiagto, © que é sentido do que € pensada, Camo. po- ‘eriamos defini exatamente a cor de um objeto rem mencionar 8 substinia de que ¢ feito, como, por exemple, a cor az deste tapte, sem dizer que & um “azul lanos0" Cezanne colocou = questi: como, detro das cosas, distnguir sua cor e sua forma? A. per- 106 ‘epcio nfo pode ser entendida como a imposigio de determinado Significado a detrminadossigncs sensiveis, pos ees signos slo in- ‘escitivels, em sua mais imediatatextara snsivel, sem a reterécia ‘0 objeto gue sigificam. "Se, sob uma iuminagio varivel, reco- ‘nhecemos um objelo definido por propredades constantes, aio & por- ‘que a insigéncia lve em conta x naturezs da luz incidente © d ‘eduza a cor real do objeto; & porque a luz dominante do mei, teindo como iluminardo,confere medatamente 30 objeto sua verdi- deira cor, Se olhamos para dois prator desigualmenteiluminados, ‘les nos parecem igualmente brancos edesigualmente ilaminados, ea: ‘quanto o facho de lz, vindo da janela, figurar dentro de nosso campo Visual, Se, pelo contrtio, abservames os mesmos pratos através de lum officio, do outro lado Jo local onde esto, um dels, imediata- ‘mente, nos pareceré cinza, enguanto o outro permaneceré Branco, © apesir de sabermos que nio passa de um efeto de iluminagio, ne- ‘nhuma andise intelectual das aparéncas nos faré enxergar a verda- ‘eira cor dos dais patos. A. permangacla das cores © dos objtos ‘no €, enti, consruida pela intligéncia e, sim, captads pelo olhar, ‘na medida em que este barca ov adota » ofpanizacio do campo visal, Quando, no fim do dia, acendemos # luz, esta luz elérca, {de inicio, afigure-se-nos amare, um instante depois jf ende a perder ‘qualquer cor defnid e, de mancira correla, os objetos que, 4 prin- ‘pio, ficaram rensiveimente mosificados em ss cos, relomee) Ut fsxpecta comparével Aquele que possuem durante © dia. Os objetos fe iluminagso formam um sistema gue tende para determinada cons tinca e cero nivel de estabilidade, néo por causa de uma operagio Inelestual, mas devido & propria configuragio do campo. Quando pereebo, no imapino o mundo: ele se organiza diante de mim. Quan- Gp peresbo um cubo, no 0 fago porque minha raxio recomsrus fs perpectivas da aparénia c, 2 propéito doles, imagine a defii- ‘io geombtrica do cubo. Longe de corigias, nem sequer noto as Seformagies de perspeciva: atavés do que vejo, estou diante do feubo em si, em sua evidéncia Do mesmo modo, 0s objetos det ‘de mim nfo slo representados por qualquer operagio da meméria, fou do pensamento eles me estio presents, valem para mim, tal ‘como o fundo que nfo velo ¢ continua present, apesar da figura que © oculta em pare.” Al a percepeto do movimento, que, de inicio, patecia depender diretamente do ponto de referéncia escothido pel Intligénsi, nfo € mais, por seu turno, do que um elemento da orga- 107 nizacio global do campo. Pois se ¢ verdade que meu trem e o tem 20 lado podem, alternadamente, dar a impresio de movimento, 00 instante em gue um dele comesa a andar, cabe notar que a isto 0 € arbirria © que eu nio a posso provocar A vontade, mediante 1 escola intelectual e desinteressada de‘um ponto de releréacia, Se ‘estou jogando carts em minha cabins, é 0 trem ao lado que come 4 se movimentar, Se, 80 contri, procuro algutm com c= olhos dentro do trem a0 lado, entdo © meu que comega a andar. Em ‘ada ocasito, parece-nes imével aquele no qual fizemos domiciio da visio e que ¢ a nossa ambigncia do momento. O movimento e a inércia dstrbuemse para n6s, de acordo com o nosso melo, © nunc segundo as hipéteses que, 4 nossa ineigeacia, € agradvel coosra, porém coasorante o modo que not fxamos no mundo © a stwagso ‘otada dentro dele por nosso corpo. Tanto vejo 0 campanéio ims ‘vel no efu, como as nuvens deslzando & sun voll, como, em oposto, 2s nuvens parecem iméveis © © campanirio tombs no expapo. Mis, ainda aqui a escolha do ponto fxo no é feta pela insigencia: 0 ‘objeto que olho ou 20 qual ancoro a vata parece-me fino e 36 pose afastr essa significegdo dele se olhar para to lado. Muito menos ‘eu a confiro pelo pensamento, A percepezo ndo é uma espécie de ‘étncia em embriso ou um exercicio inaugural da intligéncia, Pre- ‘Gsumos reencontrar uma permutabilidade com o mundo e uma pre- ‘senga, ele, mais anign do. que a inteligénca, fim, » aova pscologia trax também wma concepgso nova da percepsio de outrem. A psicologa clissica acitava sem dicussto 1 diferenga ene observacdo interior, ou intorpeegdo, © observacio exterior." Os faros paguicor — a eélera ov 0 medo, por exemplo — sé podiam ser conhecidos ditetamente & partir do interior © por faquele que os sents. Tinkarse como certo que nlo posso — de fora captor os signos corporas de eélera ot do modo © que, para interpreta esses signos, deveria revorrer ao conkecimento que tives se du eélera ou do. medo, dentro de mim, por inospecsio, "Os psilogos, hoje em dia, levam-me a molar que a introspecgio, na ‘erdade, no me propicia quase nada. Se procuro estudar 0 amor ‘ou 0 édio, mediante 4 pura abservagio interior, 6 encontro pouces coisas para descrever:algumas angi, algumas palpitagdes de co ragio, em suma, pecturbagdes banais que no reve ‘do amor nem do aio. Cada vex que contigo obrervagies interes santes-€ porque nome contetet em opecar a coincidincia com 108 meu sentimento, & porque consegi estudé-lo como um compor- tamento, como uma modifica de minbss relagSes com outrem e com © mundo, € porque” conseyui_imaginé-lo como imagino ' comportamento de ovtra pesoa ao qual testemunho, De fat, as Cclangas compreendem of geslos © at expresses fsionbmicas bem fntes-de serem capazes de reprodusi-os » seu modo; € loco, em ‘onseqUéncia, que, por assim dizer, o sentido dessa condutas hes Soja aerente. Necessrio, aqui, ejitar esse preconceto que trans forma 6 amor, 0 dio ov a clera em relidadesinceiores, acesiveis uma s6 testemunha, ou seja, a quem as experimenia. Cer vergonha, 6di0 o8 amor no slo fatos psiguicos ocutos no mais profundo da conscincia de outrem; sto tipos de comportamento ou tlos de conduits, vise pelo lado de fora. Estio sobre este ost ou estes gesion , nunca oculos por des dles. A psiolo- tia 36 comegou a ee deseavolver no dia em que renunciou a ife- Teaciar 0 corpo do erpitit, em que abandonou os dois métodos cor Telatos de cbuervagso interior « a pscologa fisilipia, Nada seria, tprendido sobre a emogio enquanto se se limitase a medic a rapidez dd respiraco, 04, no caso da cler, as batidas de coragdo — e nada s¢ aprendera a respito da mesma céleraenguanto se tentasse pro- porcionar o detalbe qualitaivo e indiivel da clera vivid. Fazer 2 pscologa da cera infere a tentatva de fxar 0 sent dn cSlera; 6 indagar qual a wus funglo numa vida humana e para que ela seve. Descobre-se, assim, que a emocto, como diz Jane, & uma reacio dé mica, dfinindo com clareza cada pessoa que conhevemos. Se 0 ci ema desea nos mostrar uma pervonagem tomas de veriem, n80 deve tentar conferir a visio interior da verigem, como Daqui, em Premier de Cordée, ov Malraux, m Sierra de Teruel, quisetam far em. Sentiemos iso bem malhor, spreciindo extrirments, on templando esse corpo desequlbrado a se contocer sobre um pe- asco, ou ese andar vacilante, tentando adapta-se na deocienta- ‘lo do espugo. Para o cinema, como para a prcologia moderna, 1 vertigem, o prazer, a dor, © amor, 0 dio raduzem comportementa, ssa psicologia © as foots conemporineas tém a catacte- tistics comum de nos apreseatar, nfo 0 espirito e o mundo, cada ‘consiéncis ¢ as outras, como o faziam as filosofis classics, porém | consciénialangada no mundo, submetide a0 exame dab outa, e, através dels, conhecendo-se a si prépria. Uma boa parte da filo. Sofia fenomenolégca ou exstencal conte na admiasto desta inerécia do eu ao mundo e 90 préximo, em nos descever esse paradoxo © essa desordem, em fazet er 0 co ente 0 indviduo «0 livers, entre o Individuo os semelbanes, a invés de explicer, ‘como 0s clissicos, por meio de apelos so esptito absoto, Pois © cinema esté particularmente apto a tornar manifesta a iio do cpirto com 0 corpo, do espitito com o mundo, ¢ a expressio de lum, dentro do outro. Eis porgue nfo € surposndente que 0 er tico possa, a propésto de ume fta,evocar a filosofia, Num lato de Here Comes Mr. Jordan, (Que Espere 0 Céu, A. Hall, 1941) Astrue nara o filme em termos sartranos: o morto que sobrevive ‘0 Seu corpo e é obrigado a viver noutro; pemanece @ mesma pessoa ara si, mas € diferente para ourem e io contegiria vive tangiilo ‘i que 0 amor de uma Jovem o reconhega através do seu novo invs- Iucro e Sea restabelecido 0 equillbvio entre 0 eae 0 outrem. Nessa altura, 0 Conard Enchdiné aborrece-se e quer devolver Astra a suas pesquiss flosiieas! “A verdade € que ambos tém razdo: um, por 4 Aleradee Asus, cb « costa tants, que ereen sobre o fh sme; Cand ncaa ral pbbcdo em Pats sacred po ea © Srevertaca. (8 Ore) 116 que a arte nio € feta para expor idfas; outro, porgue 2 filostia ‘ontemporines nfo se consul no encadeamento de conceitoec, sim, no descrever a fusto da consciécia com 0 univers, sew compro” miso dentro de um corpo, sun coexsténcia com as outs; e este sssunto é cinematogtitico por exceléncia Se, finalmente, nos indagamos por que tal flosotia se desenvol- veu jestamente na’ época do cinem, no devemos,evidentemente, dizer que 0 cinema provém del O cinema & antes de tido, um invengéo ténica onde a filsofie tem a sua ri2io de ser. Todavia, ino devemos exagerar,afirmando que essa filsotin provém do ci nema eo traduz no terreno das idéiss.Pois 0 cinema pode ser tal uilizado e 0 insrumento téaico, uma vez inventad, tem de ser retomado por uma vontade arstica e tomarse como que ine ventado uma segunda vez, antes que se chegue a constuir filmes de verdade. Se, enido, a losotia eo cinema estio de acordo, se a refleio © 0 tabalho nico correm mo mesmo sentido, € porgue 0 filsofo © 0 cineata tém em comum um certo modo de set, ume ‘eterminada visd0 do mundo que € aguela de uma geragso. "Uma ccasdo ainda de consatar que 0 pensamento e a técice se corres: pondem ¢ que, segundo Goethe, “o que esté no interior, também ‘sth no exterior” 7 Tradugdo de Huco Séxcto Franco 15 André Bazin 15.1 ONTOLOGIA DA IMAGEM FOTOGRAFICA* ore rscaitss sn as piss cnn ier 2 ser Sohn a ote fame ne NE seams’ ates ose» “cop Seat i pie ce in bys Pathan’ ebetttn a pease mai cp" Com eet meson poe tone Gace‘ontn nye A me no € wale Slo ae attain arcs cama er ee & oe manatee tari yas tate ated qe ‘pete fue s git mnade 6 nC st Sires owe A pics ct cpyen¢s is ron hoen Scr cas ee nse Ma at ¢» mde ‘xref son ft te ete gs Sapa hs er ete’ Sa om prea cms snap mean Se pra Folge tar iane on «ip Sno ainsi 20 team Moss rac st Sea Se no 7 ado retro a partie de Proltmer de te pene, 1946 121 capazes de substuir 0 corpo caso este fos destruido, Assim se rela, ¢ partir das suas origens religiosas, a fangio primordial da esttuiria’ salvar o ser pela apaténca. E provinelmente pode-se ‘consierar um outro aspetio do mesma projet, tomado aa ris mo alidade ava, o urso de argla crivado de flchas da cavernapeé- Iistiiea,subettto magico, sdeniicado A fra viva, como um Voto 0 éxito da cagada ponto pacifico que 2 evolusdo paralela da ane ¢ da civlza- so destin as ates plisticas de svat fongSes migiss (Las XIV fio se far embalsamar: contenta-se com 0 es reat, pintado por Lebrun). Mas esta evlugio, tudo © que consegu foi sublimar, pela via de um pensmento lopico, esta necessdade incoetcvel de fxorczar © tempo. Néo se acredita mais na identdade ontl6gien ‘de modelo e rettato, prim se admite que esto os ajuda a recordar faguele ¢, portano, a salvclo de uma Sogunds morte spiritual. A fabricagio' da imagem chegou mesmo a se libertar de qualquer wi Iitarismo antopoctntrice. 0 que conta no é mais a sobrevivéa- ‘do homem e sim, em escala mais ampla, 2 eriagio de um uni verso ideal a imagem do real, dotado de desing temporal autbaomo “Que coisa via pinture, se por tris de nossa admirasio absurda do se apresentar a necessidade primitiva de veacer o tempo pela Petenidade da forma! Se a histona das ates plisticas nao € 30- mente a de sua etética, mas antes a de sun psicologs, entlo ela € essencialmente a histria da semelhansa ou, se se quer, do realiso A fotografia o cinema, stuados nestas perspetivas socolég- as, expicariam twangiilamente 2 grande cise espinal e técnica da pinure moderna, que se orgine por volta de meados do século pastado. Em seu artigo de Verve, André Malraux escrevia que “o cine: ‘ma nio ¢ senfo a instinei mais evoluide do realimo plistico, que principiou com o Renascimento e alcangou a sua expresso limite ‘na pintura barra”. 4 verdade que a pintura univers alcansara diferentes tpos de ‘quilio entre © simboismo ¢ 0 realsmo das formas, mas no sé- culo XV 0 pintor ceidental comesou a se afastar da preacupagio primordial de tio 56 exprimir a relidade espiritval por meios aut6- ‘nomos para combinar a sua expresso com a imitagéo mais ou menos 122 Integral do mundo exterior. © acontecimento decisivo foi sem db vide a invenglo do primeiro sistema centifica e de certo modo, j& rmectaico: a prespectiva (a cimara escura de Da Vinci prefigurava 44 de Niepee). Fle permita ao artista dar a lasdo de um espago de ts dimensbes onde 0s bjeios podiam se sitar como ma nossa pereeprio dicta Desde entlo, a pintura vinse esquarejada entre duss aspire- ‘es: uma propriamente estética — a expressdo das reaidades espi- Fituis em que o modelo se acha transcendido pelo simbolismo des formas —, outra, esta nfo mais que wm deseo puramente psico- [6gico de substiuir o mundo exterior pelo seu duplo. Esta neces ‘dade de iusto, alcansando rapidamente 2 sua propria satsfecto, ‘devorou pouco & pouco as artes plisticas. Porém, tendo a perspec: tiva esolvido o problema das formas, mas nio o do movimento, ea ratural que o realsmo se prolongasse auma busca da expressio ramasiea no instante, espécie de quarta dimensto psiquica capaz de sugerir 2 vida na imobidade torturada da arte barroca? B claro que of grandes artistas sempre conseguram a sintese dessas duas tendéncias: hierarquizaram-nas, dominando a realidade f abrorvendo-e na arte. Acontece, porém, que nos achamos em {ace de dois fendmenos essenialmente’ diferentes, os quais uma cri- tica objetva precisa saber dissocar, a fim de compreender a evolu- ‘Ho pictrica, A nocessidade de iluséo ndo extsou, a partir do Seoulo XVI, de insigar intriormente « pintura, Neoessidade de natureza mental, em si mesma nio estéica, cua orgem 56 se pode via buscar na mentalidade migica, mas necessidade cfcaz, cuja ara fo balou profundamente © equibrio das ares pistes. ‘A polémica quanto a0 realismo na arte provém desse mabenten- ido, desa confusio ene o esttico © 0 pscolégico, ene 0 verdi- ‘ei realsmo, que implica exprimir a sigficagio @ um s6 tempo concrete esencial do mundo, e © pseudo-tealismo do trompe Fell "~F Sra_neresne, dese powto de vista, acmpashar ot jars radon de 190 0 1910 4 soocmrncla ere 2 eporagem foto, ia hss iene 0 deco.” fae sino stendn stretwo & necenidase ‘trac do damien (et Le Pt Journal lad) 0 sentido do documents otoeritso 36 ae mpc aor poem, Conia c- e feo ald de um ‘Gea sntirgo,um vtome 0 deseo drumtio Jo ip “Raia” 123 {ou do trompe Fesprit), que se contenta com a iusto das formas? Eis porque a arte medieval, por exemplo, parece nfo strer tal con flo: violetamentereaista © altmente espiriual ao mesmo tempo, cla ignorava eae drama que as possbldadestéenicasvieram revel. ‘A perspective fol 0 pecado orginal da pintra ocidental ‘Nipoe © Lamiéze foram of seus redentores, A fotografia, 20 redimir 0 bartoco, iberou as artes plistcas de sus obsessto pela femelhanga. Pois a pintura se esforgava, no fundo, em vio, por nos iudir, © eta iluso bastava & afte, enguanto a fotografia © 0 cinema slo descobertas que sasfazom defintivamente, por sua pré- pria eséncia, a obsesslo de realimo. Por mais hibil que foste 0 Pintor, sua obra era sempre hipotecada por uma inevitivel subje- fividade, Diante da imagem uma davida perssia, por caust ds presenga do homem. Assim, 0 fenémeno esseial na_passagem fa pinta barroea 8 fotografia nfo reside no mero apefeigoamento material (a fotografia ainda continazia por mito tempo inferior 4 pintura-na imitagao dar cores), mas. mum {ato psiclégic: 2 sa- tistagdo completa do nowo aft de lasSo por uma reproducto me- clinica da qual o homem se achava exculdo. A selusio nio estava fo resultado, mas na genese* Bis porque o conflito ene eso © semethanca vem a ser um fenémeno reativamente modern, cujos tagos quase ado so encoo- travels antes da invengdo da place sensvel. Bem se vé que a obje- tividade de Chardin nada tem a ver com aquela do fotdgrato. E tno séeulo XIX que iniia para valer a evse do realismo, da qual Piceso é hoje © mito, abalando ao mesmo tempo tanto a condigbes de existenia formal das artes plistias quanto os seus fundamentos ‘sosolégcos. Liberado do complexo de semelhanga, o pintor mo- 3 Te rl cai, om prt, deve, de dr ta limporticn so sapemionama eile em pir prs de flr sa como ‘evterapuddo fatio no oéalo XVII, aes da Toogrta « Jo chem=, porta mato poco tae, ue « Rusia Sven prod tf para Ye TE eadus bom coca Bantin #9 ten Tatereno. Tapers 0 sy ‘Sates goeer ses coment tomile por em Reps "Siro sno, pum dete eadar 4 paloga do» pinto pisos nee, cet 4 modsiagem de Mcrae moran oF guas areentam, {Shien ei cer astomatemo na repro. Nese sentido, Pose Sonera ftogatia como ana modsagem, am repro dat Impression do ‘eto por teed da 124 demo o relegn 4 massa, que eno passa identifcé-o, por um lado, © por outro com aguele pintura que a tanto se A criginalidade da fotografia em relaglo & pintura reside, pois, na sua objtvidade exiencia, Tanto que o conjumo de lentes {que constitu © olho fotogréfco em substuigde a0 olbo humano, denomina-se.precsamente “objetva". Pela primeira vez, ent o ‘objeto incial © a sua representagio nada se interpée, a alo ser um ‘outro objeto. Pela primeira vez, uma imagem do mundo exterior se forma, automaticamente, sem a intervengio criadora do homem, ‘Segundo um rigoroso detemminimo. A’ pesonalidade do fot6gato entra em jogo somente pela ecotha, pela ‘rienacio, pela pedagogia do fendmens; por mais visitel que ‘cia na obra acibads, jf mio Figure nela como a do pinto. ‘Todas as artes se fundam sobre a prerenge do homem; unicamente na fotografia € que fruimos da su fuséncia. Ela age sobre nés como um fendmeno “natural, como tuma flor ov um evista de neve cuja beleza € inseparivel de sua corigem vegetal ou teria. Esta ginese autométca subverteu radicalmente a psicologa da ‘imagem. A objetividade da flograia conferetne um poder de ere- ibiidade ausente de qualquer obra pictorica. Sejam quai forem 5 objeges do. nosso espirito erico, somos obrigados a cer na fxistincia do objeto representado, literalmente re-presentado, quer ‘Mar seré memo “a masa” que se acta na orgem do dco ete © esto! ¢ 2 senehanya que eletiameateconsttamos hoje em a? ND Sein ats © adeno. do “epinio bargas”, msddo com a India e que ‘ra fae Se pono e rept para esta So oeuo IK, eto {or te poses defint pe reloso do are 3 exegras paola? Por Sina fotpafia up for hisorcamente 4 ucewors ta do reno Dat ooo’ € Mara oben cnito n propio. que a peicipio cls nfo the ‘era peop eve nfo. de “iar 2 a coplando igesumente © filo petro. Nips e'n malo ov poner da ftp bossa, ai, ‘Siar por ewe web es pares Sore proc ors de ae em oren ‘Mtg por dectcomanin” Proto ipco « enemainete burs mat aie entre’ nose seed, por ssn die. o gated Era nalaal ‘te a ob de are Tose m pricplo 0 mndelo als gs de imate pare otigzfo, poss ses oles ela gin laa a strc, ainda 2 ne ihorava" Ge queen, Fol pee alin emp pars que oeandose cle Ps 0 ans, compreendese gut no pod Ima Sento snare 125 dizer, tornado. presente no tempo eno espago. A fotografia se ‘eneiia de uma tansferéacia de realidade da coisa para a sua eprodugio® 0 dssenho o mai fel pode nos fornecer' mais in ‘Gor acerea do modelo; jamais ele possi, a dspeto do nosso esp- Tito erica, o poder irracional da fotografia, que nos areata a ‘redulidade, Por iso mesmo, » pinturajé nfo passa de uma técnica inferior a semsnanga um sucedineo dos procedimentes de reprodugi. $6 f objetiva nos dé do objeto uma imagem capaz de “desrecalear", hho fundo do. aosto incoasciente, esta necesidade de substuir 0 ‘objeto por alge melbor do que um decalgue aproximado: © préprio ‘objeto, porém liberado das contingéacis temporais A imagem pode set nebulose, deformads, descolorida, sem valor documenta, ‘nas ela provém por rua geese da ontologia do modelo; ela & 0 Imodslo. Dai o fasinio das fotografias de slbuns. Essas sombras Cinzentas ou sépas,fantamagérics, quasedegves, jf deixaram de Ser traiionasretats de familia para se tornaem inquitante pre senga de vidas paralisadas em suas durases, Uberas de seus desti- for afo pelo sortigio da ate, mas em virtude de uma mectnica Iimpasivel, pois a fotografia no cria, como a ante, etemidade, oe cembalsama © tempo, simplemente subtrai & sua propria corupeéo. [Nesta perpectiva,o cinema vem a ser a consecugio no tempo di objeividade fotogrifiea.O Slme nfo se contenta mais em con- Servar para age 0 objeto lacrado no instante, como no ambar 0 ‘compo intact dos insets de ume era entinta, ele livra arte barioes ‘de sua caalepie convulsiva. ela primera vez, a imagem das coi Sas € também 1 imagem da durasso dela, como que uma mimia dda mutagi. ‘As categorias™ da semelhanga que espeifcam a imagem fo- togréfica determinam, pois, também a sua estélica em relagGo Spa na pt te ve or Sa er ee Sid ee ee A ce hare cree P'S oe a Ei oe oi cm St pe tant St 126 — pinta. As virualdades estécas da fotografia resdem na reve- Iagio do real. O refleso na calgada molhada, 0 gesto de ‘uma tanga, independia de mim distingu-los no tecida do mundo exte~ rior; somente a impassbiidade da objetva, despojndo 0 objeto e bites © preconceitos, de toda a gangs epiitual com gue minha pereepeio o revestia, podera torné4o virgem a minh ate oe, afinal, a0 meu amor. Na fotografia, imagem natural de lum mundo que aio satemos oa no podemos ver, a matrezs, ex fim, faz mais do que imtar a are: ela imita o aris E pode até mesmo ultrapsssi-io em crativdade. O univeno| cstético do pintor € heterogéneo a0 univereo que o cerca, “A mol. dura encerra um microcosma essencial © substancialmente divers [A existéncia do objeto fotogratado participa, pelo coneirio, da tetisténcia do modelo como uma impressdo digital. Com iso, ela se acrescenta realmente 8 ergo natural, ao invés de subsitubla por uma outa Foi o que 0 surealismo vislumbrow, ao recorer & gelatin da placa seasivel pera engendrat «sua teatrologiaplstice, que, para © surrealismo, 0 efeitoesttico ¢ inseparavel da impresso mecca «da imagem sobre 0 nosso esprito. A dstingzo lgica entre 0 ima- iniio'eo real tende a er aboida, Toda imagem deve ser senda como cbjeto € todo objeto como imagem. A fotografia representa- va, pois, uma técnica privlegiada para a eracto surrealist, j& que cla materializa ume imogem que participa da natureza: wma alc glo verdadeira. A utlizagdo do trompe Foell e a precsto me- tieulosa dos detales na pintura surelsta slo dito a contraprovs, A fotografia vem a ser, pois, o acontecimento mais importante a histria das artes plisticas, "Ao mesmo tempo sun iberagdo © ma- nifestagio plena, a ftogafia permitiy pintura cedental deseba- ragarse definiivamente du obsessio realita © Teeacontar sia ‘ulonomia estétiea, © “reaisma” impressionist, sob seus slbis lento, & 0 aposto do tromp Poeil. A co, als, $6 ple devor ara forma porque esta nko mais possutaimportnelaimitava. quando, com Céranne, a forma se reaposar da tela, jf nfo seri, ‘Anim como a tesio drumitica io inp sea quiiade atic, 2 Derteio da Umtgio ao se entific com a bel contin somente on 127 fem todo caso, segundo © geometria iusonsta da perspective, A. imagem mecinica, ao opor & pintura uma concortéosa que atingla, mais que a semelhanga barrora, a identidade do modelo, por su0 vez obrigowa 2 se converter em seu priprio objeto Nada mais vio doravante que condenasSo pasaliana, uma vez que a fotografia nos permite, por um lado, admirar em sia reproducio 0 orginal que 0s nossce olbor nfo teriam sabido amar, © na pintura um puro objeto cujareferncia & naturera jé no & ‘mais & sua razio de er, Por outro lado, © cinems & ums tinguagem, on nie Se Ane Rae Oven ee cin wl Py Ea 128 15.2 MORTE TODAS AS TARDES' Compreendese que Pierre Brauaberger tenha acalentado por tanto tempo o peojeto dese filme, O resultado prova que valeu a pena. Talver Plere Braunberger, aficionado insiga, vsse aa em- ‘rest apenas uma homenagem ¢ um servigo a prestar tauromaguia, alm da tealizgio de. um filme que 0 produtor nip lasimase. Reslmente, devs slime ponto de vista fol um excelente nepscio (© apreso-me a dizer, merecido), pois os amantes das touradas no 0 perderio por nada e oligos igo velo por curosdade. Nao ercio ‘gue oF primritor se decepcionem, pois o material 6 de uma extraot- linia beleza. Poderio ver os mals eflebres toureros em ag80 © ‘comptovar que 6 tomadss reunidas e montadas por Braunberger @ Myriam sfo de uma eficcia surpreendente. Fol preciso que as, touradas fossem fmadas repetda e fartamente para que a cimera nos resttuise de forma vo completa a faina da arena, Inimeros ‘io 0s pases ow matances fiimados no correr de importantes eves- tos, com vedetas que nos brindam minutos, a fio pratcamente sem corer, 0 enguadramento de animal e homem rarameate aguém 40 plano’ medio, on mesmo do plano americano. E quando a cabera —T Gahs du Cina, 951; Eel, 1968 artigo soe o te A Conia de Tovor (La Couse & Threaus, este Braubere, 1969) 129 do tou passa em primeio plano, ela no esté empalhads, 0 resto ‘Talvez eu eseja um pouco deslumbrado pelo talento de Myriam, Bla soube montar o material com diabslca habildade, sendo preciso smultaatened para se dar conta de que o fouro que entra em campo pela equerda nem sempre é o mesmo que havia sido pela diet, Faltaia vero filme na movita pata se dsinguir com alguma certeza 38 tomadas auténomas das seqUéacas inteitamente reconsiuidas & partir de cinco ou ses tomadas diereates, tal a peceigio com que oF ‘ortes em movimento dissimolam a ariculaso des planos. Uma "ve- roniea” principiada por um matador © um touro termina com outro homer outro animal sem que percebamos a subsituigio. Desde © romance de wm trapaceiro (Le Roman d'un Tricheur, Sacha Guitry, 1936) e sobretudo de Paris 1900 (Pari 1900, Nicole Védres, 1948), tinhamos Myriam a conta certa de mootadora de grande talento, Com A Covrida de Touros (La Course de Taureaus, Bec Braunberger, 1949), 0 confrmamos uma vez mais. Neste nivel, & arte do montdor ultrapasa singulamente sua fonglo ordindtia para tomarse um elemeato primordial da criagdo do filme. Havers, por sinal, muito a dizer acerca do filme de montagem assim conce- bido. © que seria constatado & alga bem diverso de un rotomo & antiga primazia da montagem sobre a decupagem, tl como postlava © primeiro cinema sovidico. Paris 1900 ou La Course de Taureous ‘fo sio “cine-olho”, sio obras “moderas", estecamente conte ppordneas da decupagem de Cidade Kane’ (Citizen Kone, Orson Welles, 1961), 4 Repra do Jogo (La Résle du Jeu, Jean Renoir, 1938), Pérfide (The Litle Foxes, Wiliam Wile, 1941), € Ladrdes de Bicileta (Ladri di Biciclerte, Vittorio de Sia, 1948). Nelas a ‘montagem no visa a suger relapbes simbolicas ¢ abstates ent 25 imagens, como na famose experincia de Kulechov com © primero Plano de Mosjoukine. © fendmeno iusvado por esa experiéncis, ‘nfo deixa de ter algum papel nessa nova montagen, mas a serigo de um propésito interamente outro: dota a decupagem, 80 meso tempo de uma verssmilhansa fisica e de uma maleailidade gia, [A sucesso da mulher nua e do sotiso ambiguo de Mosjoakin si: nifleava lbricidade ou deseo. Ou melhor, a signifcacio moral ert de algum modo anterior & sigileag fret: imagem de ama mulher ‘nua + imagem de um sorriso =" deseo. No hi dlvida de que 2 exstncia do desejo implica logicamente que o homem otha pats 130 mulher, mas essa geometia néo esti contda nas imagens. Essa dedugio € quase supérlua; para Kulechov, era secunditia; 0 que importa era o sentido conferida a0 sorrso pelo chogue das ima sets. Bem divera € a relagio no nosso caso: 0 que Myriam visa fm primeiro lugar ¢ ao realsmo fico. A fraude da montagem Se aplca 8 veresinilhanga da decupagem. O encadeamento de dois {ouros em movimento io simboiza forge do tour, mas substitu se insensivelmente a imagem do touro ineisente que cfemos vee EE somenie a partir desse realsmo que o montadorestabelece 0 sen 1ido de sua montage, bem como © direior 2 purr de sua decupe- gem. Nig mais a cimera-olho, mas a adaptagdo da técnica da mon tagem a essicn da camérastyio®™ is porgue 0s ligos como eu encontrario nese filme wa ini iasio tdo clara ¢ completa quanto postive. Pois o material nio foi montado ao capicho de suas afinidades espetaculares, mas sim. ‘com rigor © inteligéncis, A hinria das touradas (e do. proprio Touro de combate), a evolugio do estilo até Belmonte « desde entio, ‘io apresentadas com todos os recursos diditicos do cinema. Na ‘escrigdo de um pase, 9 imagem se detém no momento ciioo © 0 ‘arrador expica as poigdes rlativas de animal © homer. Por mio, ‘ontat, pelo visto, com tomadas em chmera lents 8 sua dsposicio, Pierre Braunberger recorrew & oR tas 0 congelamento. da imagem mosta-se gualmene fice (Sem dvida, as vurudes ide thas desse filme constituem também“ sus limitesto, pelo menos sparentemente, A empresa no 6 fo grandiosa, tio exaustva quanto ‘de Hemingway em Death in the Afternoon. Le Course de Tai ‘eaux pode patecer vm apaixonante documentiio de loaga-metr ‘2m, mas afinal de conta apenas um “documentrio”. O que seria F Comin: temo cambado por Alnnire Asrue — ver ago “0 sawinesto de una nove vanguard: camel” (Lorn Fangs n® 14h, {9i8) para we refer ose. de sur one o inet ebal omn fev, 2 comusenia de someone Mr maieconplsee A 2pox ‘Rip ‘clocmssrias no soreno tants enh oad nor pues, 20 ‘Seema de Haber Brewon, ou do pr Ast, « alo tm relaia com © Etoems Ge montagem de Bien, de quem a tera france, al 1968, pee ‘tanecird disuse. "A formes se Avr conta dat tse do. ‘ov anos $0. ser donomiado “plea dex sare” ~~ tag ‘arcane dt fakincls cre don Cahers du Cid, que tlm em AnHE Bann um dot in tandasoes (em 1981). (Note do Or.) 131 uma impresioinjsta ¢ errOnea. Injusta, pois que a modéstia peda- ‘épica da reaizagso & muito menos uma linitagao do que wma te fuss, Diante da grandiosidade do tema, da suntuosidade do assunto, Pie Braunberger tomou o partido da humildade, a narrardo se limita a explicar, recusando um lirsmo demasiado’ fil que seria arrasado pelo lrsmo objetivo da imagem. Erénea, pois que 0 tems ompors ems a sen pera supra, € ni gue 9 propor A experincia do teat filmado — € 0 seu fracasso quase total, at aos €ator reenter que renovam problema — fer com ‘que Yoméssemos consciéncia do papel da presenga real. Sabemos ‘ue a filmagem do espetculo nko faz mais do que rexitutlo ex "ado de sua realidade psicolgica: um corpo sem alma. A presenga reeiproca, 0 canfronto em carne ¢ oso de espectador © ator, nfo uma mera czcunstnia fisica, mas um fato ontoligion consitue tivo do espetéculo como tal. Partindo desse dado teico bem como dda experiéncia, poderseis infeir que a tourada é ainda menos inematogriica do que o teatro. Se a reaidade tetra nlo se im- prime & pelicula, o que dizer eno da tragidiatauroméquics, da sia Tnuggia € do sentimento quase religioso que 2 acompanha? "Sus filmagem pode possuir valor documenta ou ddtico, mas poder cia resitui-nos 0 essencial do espeticulo: © tréngulo mitco homem snimal-muldio? ‘Nunca ass a uma tourada © no chegatie ao ridiculo de pre tender que o fine me oferccese todas as sits eases, no entanto afirmo que ele me resiui 0 essencial dela, 0 seu cerne metalsico: fa morte. 6 em tomo da preseaga da mort, da sua permanente virtualidade ( morte do animal e do homem), que se consti @ balé trigico da tourada. Gragas a els, hi alguma colsn a mae ra arena do que 1o paleo teatal: aqui, brinca-e de morte; Id, 0 toureito brinca, mas é com a vida, como o tapezsta sem rede, Ord, 1 morte € um des raros eventos que fazem jus 20 termo, cro 3 Claude Maurie, de especitiidede cinematografica. Are do tem Po, 0 cinema possi o exorbitant prvlégio de repett-lo. Privilégo ‘comum as ates mecinicas, mas do qual ele pode se valer com uma pottacia infintamente maior do que 0 rétio ou o disco. Sejamos Sinda mais preciso, jf que existem outras aries temporis, come & 132 risica. Mas 0 tempo da misica ¢ imediatamente © por definicio tim tempo eatsice, ao paseo que o cinema somentealcanga ov constedi 0 sea tempo extético a partir do tempo vivo, 6a “duragho” bergsoniana,ireversvel e quaitativa pot eséncia. A realkdade que ‘o cinema & vontade reproduz e organiza & a realiade do mundo que ‘not impregna, & 0 continuum sensivel pelo qual a pelicula se faz moldar tanto espacial como temporalmente. No posso repetie um 6 instante da minha vide, porém qualquer um dessesinstantes pode ‘0 cinema repetirindefinidamente, posso vE-lo. Ora, se € verdade five part conscigncia nenhum instante ¢ idatiso 2 outro, néo hi Senko um para o qual converge esta diferenga fundamental: o ins tante da morte. A morte € para o set 0 momento tnico por exce- Tencia, Bem relaglo a ela que se define rtroaivamente 0 tempo ‘qualitative da vida, Ela demarea 8 frontcra ene a durasio cons Gente € 0 tempo objeivo das coises. A morte nfo € senfo um Instante depois do outro, mas o dime. Sem divida, nenhum ins tante vivido € imtco aos cutros, mas os instante podem s¢ asse- tmelhar como as folhas de uma avore; vai dal que 2 sun repetiio ‘inematogréfca é smuito mais paradoxal na teora do que na prtica ‘dmitimorla apesar da sua contradigao ontlégia, como uma especie de réplica cbjetva du meméria. Dois momentos da vida, no ene tanto, escpam radcalmente a essa concessio da consiénia: 0 ato sewal € a morte. Cada uma seu modo, sho ambas negapio abso- ta do tempo objetva: © instante quabtativo em estado puro, Como a more, © amor se vive, mas nBo se representa — nfo € sem rario que o chamam de pequena morte —, pelo menos no se repre= Seova sem violetars sua netureza. Tal vielentago chama-se obsce- nidade, A representagio da morte real também ¢ uma obscenidade, fhéo mals. moral, como no amor, mas metafisica.NBo se morte fas vezes A fotografia nfo tem nese ponto 0 poder do filme, ‘io pode representar mais que um moribundo ou unt cadéver, jamais ‘ patsagem inapreensvel de um o outro. POde-se ver na primavera fe 1949, gum clnejornal, um documento slucinante sobre'arepres- Ho anticomnista em Xangai, "espides” vermelhos execatadas a tiroe de ever em praca publica. Ao toque da campainha, » ctda Sesto, ees homens estavam novamene vivos: impacto da mesma bale estremecio thes & auca. Nao falava sequer 0 gssto do poicial fue devia puxar uma segunda vero gailho travado de seu revlve. Expetaculo inolersvel, alo tanto por seu horror objetivo, mas por 133 seu cariter de obscenidade ontoligca, Antes do cinema, conbe- mse apenas a profanagio de cadiveres « a wolagio de Sepul- turas. Hoje, gras a0 filme, podese vilat ¢ exbir A vontade 0 nico dos nossos bens temporalmente inalenivel. Mortos sem re ‘uiem, etemnos re-mortos do cinema! Imagine a suprema perversio cinemarogritica como sendo 2 projegio a0 inverso de uma execugio, asim como. vemos nessas Stualidade burleseaso mergulhador salar da 4gua para © tampolim, sas comserasSes no me afastaram tanto quanto parece de Lo Course de Taureaut. Compreender-me-io se eu diser que a filmagem de uma enceaagio do Malade Imoginaire nao possu qualquer valor tetra ov cinematogrfico, mas, se 2 cimera tives asistido & thima representapio de Mole, terfamos um filme pro- Aiioso. is porgue a representacio na tela da morte de um touro (que supe 0 H5co de morte do homer) & em si mesma to emocionante {quanto 0 espeticulo do instante real que ela reprodux Mais a fm certo seatio, pois muliplica a qualidade do momento orginal pelo contaste de sua repeicdo. Conferedhe uma solenidads su Plemeataz. © cinema dotou a morte de Manolete de uma eter ‘ade materi Na tla, 0 toureiro morte todas as tades (Tatu de Ande Baia, vente que le cinéma? vol 1, Pa, El inn Cut 1958) 134 5.8 A MARGEM DE “O EROTISMO NO CINEMA"" io ocorrenia a ainguém escrever um lio sobre etotismo ro teatro, No que o tema, a rigor, no se pres a reflexes, mas Dorgue estas seiam excusivamente negatives, (© mesmo, 6 verdade, nfo acontece com 0 romance, jf que 10 lum setor ndo\nepigenci4vel da Titeraura fanda-se mais ou menos fexpressamente no eformo. Mas é s6 um setor, e a existincia de ‘um “inferno” na Biblioteca Nacional conreiaa essa paricularidade. B verdade que 0 erotsmo tende a desempenhar um papel cada vez mais importante na literitre moderna ¢ que ele invade completa: mente of romances, até os populares. Sem conta teria de atibuir ceramente ao cinema wina grande fo do erotsmo, ese sinds continus subordinado a nogées moras ‘mais gers que justimente tomam a sua exlensSo um problema, Malraux, sem diva o romancisa contemporineo que mais cla ‘mente props uma fica do amor fundada no etotismo, também lust perfetamente g carter moderno, histrco por consegunte ahirs de Cinéma, sit de 1987 135 relative de uma tal ops, © erotismo tende, em sma, a dese Penhar em nossa literature um papel comparivel ao do amor cons a Iteratura medieval, Mas por mais infuente que sia o seu mi ‘20 futuro que the antecipemos, tomase evidente que nade de espe- ‘ico 0. prende literatura romanessa na qual cle se manifesta ‘Mesmo a pinturs, em que a representaio do corpo humano bem poderia ter desempenhedo um papel determinante nesse sentido, Spends em lermos aidentis e acesérios pode str consderada 6: tiea.Desenhos, gravuras, estampas ou pinturas libertnas consttuem tum género, uma varedade, tal qual a Uherinagem Iterita. Poder. sea estadae o nu mas artes plisticas e entlo mio haveria como ignorar a tradugio por seu intrmédio de Sentiments exéticos, mas fstes, uma vez mais, constinuariam sendo um fenémeno secundério Do cinema pois, © dele $6, € que se pode dizer que 0 erotsmo aparece como um projcto ¢ um conteGdo fundamental. De moco iqum nic, evidentemente;j que muitos filmes, © no dos meno res, nada the devem, mas ainda assim um conteddo maior, espect fica talver mesmo essenca Lo Duca? tem razio, pois, ao ver nese fendmeno uma cons- tante do cinema: “Hi meio séeulo 0 pano das teas porta em filgrama um motivo fundamental: 0 erotismo, .." Mas © que inte- tessa saber & 56 a onipresensa do erotismo, conquanto genetalizada, ‘bo seria um fendimeno acidental, resultado da livre concorréncia capitalsta entre a ofeta © a procura. Em se tratando de atrir a lintels, os produtores teviam naturaimente record a6 topismo 0 Ins efisaa; 0 s0x0, Em favor desse argumento se poderia aduzir © Tato de que 0 cinema sovidtico & de longe 0 men0s erstico do ‘mundo. O-exemplo eertamente mereceria reflexio, mas alo parece decisiv, pois antes de mals seria preciso examinar os fatores cultu- rai, diicas,rligiosos ¢socioldgios que concorreram pera ess 350 € sbetudo indagar se 0 puritans dos filmes sovitcos nBo seria tum fendmeno artificial e pasagsco, muito mais fotuito que o afl ‘nism capitalists. _O recente O quadragéximo primelro (Quarante 1 unidme, diigido por G, Chutra, URSS, 1956) abre-nos, dee onto de visa, muitos horizoates. Fe Desa, tame au cinima Ueandasgues Paar, 1956) 136 Lo Duca parece ver a fonte do etismo cinematogritico no perentesco entre 0 espeticulo cinematogrifco e o sonbo: "0 eine- fa esté proximo do sonho, caja imagens acromiticas sio como 3s do filme, o que em parte explca a menor intensidade er6tica do ‘Sinema em cores, que’ de algem modo escapa as regras do mundo ‘nica io pretendo polemizar com 0 nosso amigo, 9 no ser quanto ‘ao pormenor. Nao sei de onde surgis este sido preconoeito se- [undo o ual jamais se sonha em cores! Nao pode ser que eu sia nico a destrutar dese priviégio! Cheguei lfm do mais a Neiificé-lo 8 minha volt, Com efeto,existem sonhos em preto-e- branco e sonhos em cores tal como no cinema, segundo um ou outro process, Quanda muito, concordarei com Lo Duea que a prod [uo cinematogréfice em cores j6-uapassou a don soahos em fechri- olor. Mas 0 que ev nio posso mesmo ¢ sepuilo na sia incom preensivel depreciagio do erotsmo colorido. Enfim, deixemos esas Giverpéncias por conta dss peguenas perversGes individuals ¢ nfo fos detenhamos nels, O eseacial esté no onirsmo do cinems ou, see prefore, da imagem animada, Se a hipstese (or exata — ¢ crelo que a menos em parte ela £2 pscologa do espectador de cinema tendera entio se ien- Tear com a do individuo que sonha. Ora, sabsmos muito bem fave todo sonho é, em altima ands, extico, Mas também sabemos que ceasura que os rege € infntamente mais poderosa due todss ar Avastcias do mando. © superego d= ade um de nés-€ um Mr, Hays que se ignora.” Dai todo o extra- tondintio repertrio de simbolos geras ou partcuares encrtegados de camoflar 40. nosso proprio esplrito os impossves enredos dos nossoe sho. De sorte que a analogia entre 0 sonho e o cinema deve, a meu ‘er, ser levada ands mae longe. Ela nto reside mais naguilo que profundemente nis desejamos ver na tela do que naquilo que nfo 3 Anastcin, aqui, persnifica & censure, represeniads ma figura de uma sethaseaorn com nt tourna on SM Wil Hay, fig ere 6 {alowed inna noresmercia, que df nome 20 rinclo é autcen Sra Ge Hipnoad o elipo Hays vigete sm prticn ov anon 20-20 oso, (No Ore) 137 Se conseguir mostrar rela. por equivoco que se assimila a par lavra sonho @ nio sei que iberdade andrquiea da imaginagio. De fato, nada € mais predeterminado e ceasurado do que 0 sonbo. BE verdade, e os surealsias eso certos em lembri-lo, que no 0 & beolotamente pela rario, Também ¢ verdade que 0 somho 18 36 define negativamente pela censure, quando a sua realdade postva consist, pelo contri, na irresstivel transgresso das proiighes do superego. Tampouco me escape a diereaca de natureza entre a feensura cinematogratcs, de essénca social e juriica, © a census ‘nies; apenas comstato que # fungio da censura ¢ esseacal tanto fa sonho como ao cinema. Fung, est, daleieamente conse. tiva de ambor CConteso ser isso © que me parece carecer no apenas 2 andlise proliminar de Lo Duca, mas sobretudo 20 seu vaso coajunto de Tstragtes, as quais constituem em todo caso wma documentaclo uplamente instimavel io que o autor ignore tal papel excitante que podem desem- pena as proibigbes formals da censura, loge dso, mas é que ele parece ver nelas tio $6 0 pior dos males, quando, afinal de comtas, © espirito que presi selegdo das ilstragGes demonsira a tse lnversa. Tratavase de mostrar antes o que a censura suprime habi- talmente dos Ses do que aguilo que la dcxa passa. Nao ego fem absolute o interest, 0 charme sobretudo, desta documenta, sas se 0 caso € Marilyn Monroe, por exemplo, acho que a imagem ‘que se Impte nfo foi aquela do calendirio, em que posh mua G6 que esse documento extracinematogréfco & anterior a0 sucesso da Yedeta ¢ nfo poderia ser considerado uma extensio do seu sex {appeal i tela), mas a famosa cena de O Pecado mora ao lado (The Seven-Year Ich, Billy Wilder, 1985), em gue deixa a corrente de ar do metsé levntarihe a sti, Es idéa genial s6 poderia ter hnaseido no contexto de um cinema dono de uma longa, ria © bzan- tina cultura du censura. ‘Tait achidos sopdem wm extraordinério refinamento da imaginasio, adguirido na Iuka contra a esupider a= ada de um eédigo purtano. O fato & que Hollywood, apestr © or causa das proibigGes que nelavigorem, continu sendo a capitel ‘do erotsmo cinematogrfico, Entetanio, aio me obriguem a dizer gue todo erosmo verda- iro tea, pata aflorar aa tela, que butler um cédigo oficial de 138 ensura, msi do que certo gue 45 vantages btdas com esa trample celta poem ser mt Ifrores aoe dans fon gues tabus mora soi os csr lo por deals et fides itary para coaltarconvenentnente «Hnapaso, Bencicos na comeda cu no feb por eemplo, ect conmtitiem tn empecng etic nconorivl now genres reat Pressamere porgoe 4 nin conse desiva da qu 0 cine ima pole st ‘afar € agin consign pels ria imagem Sendo em alina ands em apfo'asl'¢ roente ea que #0 vera te tntar dra pig © uma esis de censor psi ‘No tenho certments « ambigo de ibrar aqui seauer as soasTinhas pera mas to somente propor ima si de exes Sho eneodamento pode indcar una dat ses posses seem ‘xploradas Fogo questi, antes de mais nada, de reir 0 esi do inst ge pos er esas suesten ge de i,j ge lt recede de una observer gue me fer recetemene Domarchi* Pape esnca parecome earowinasamente feud. ‘marci, pi, que no € io por cos, dine qi a eens de cag no ene sce ota, om mn generics, toda Sena evseaIncompaiel com impasse dos tors Em Str temes,ptecarIhe qu a cea ents dim et ere {dus como cs ours gue a emopt exta oneeta ds pares ‘Tanto cdmera conidia ns eiincia de arte Ess imposo ose supeenic primera vt, mnt elas apa Tum argumen'o Iretotive ¢ que aio em sholto de ordem mata. Se me me tram ny tcum omen e uma tere tj © Pots ti oe aa svermi que no minimo as primes 6 consumesto ‘Chu atenam acompsnhado saci, tenho odio de ex Sum me pac, que Se mate a vine do verde ov ue peo Mont fen sam nin ow enor graviade Pos esa hiptese Sistem dessus Ji que no fr tuto fepo asin que © 5 Tat dea de sr um ceria. A execu ne Place de Grve Mo era cut coun ¢ pars os fmanor os jopos morta do ico Tramo eqnatete de uns oma. Lembrorme deter eset era feasts, olborador don Coles ds Cig. 139 Dropésito de uma clebre seqiéncn de cine-ornal em que se viata “espdes comunistas” sendo executadoe no meio. da rug, em Xangai, por ofciais de Chang Kai-chek, lembro-me, digo, de ter ‘observado que a obscenidade da imagem era da mesma orem que 4 de uma fta pornogratca, Uma porografia ontoloica. A morte aqui o equivalente negativo do goao sexial, que no & por menos Gualficado de pequena morte (petite morte) Pit o teatro nfo tolera nada semelhante. Tudo o que no paleo toca ac amor fico acaba ressaltando 0 parsdoxo do comedhante, Ninguém jamais se sent exctado no PalaisRoyal, nem no palco nem na plata. & verdade que o sripteare renova a questi, mas hi de se coavir que ele nko depende do teatro embora. sje um espeticulo, sendo essenial notar que nele é a prépria mulher quem se despe. io poderia séo por um pareeio, 0b pena de prover car 0 lime de todos os mathos da Sala. Na realidade, 0° stip. ‘ease fundirse na polarizacio e na excitagho do desejo dos expect ores, eads qual possuindo virualmente a mulher que finge = ofe- recer, mas se um dele tepasse n0 palo, seria linchado, pois 0 500, \desejo eniraria em concorfEncia e em oposgéo com os demais (9 rio Ser que descambe para a orgia ¢ 0 voyeurismo, que afinl se Tigam a mecanismos menais outos). No cinema, pelo conteiio, a muther, mesmo nus, pode ser tbordada por seu parceiro, expressamente dssjada ¢ realmente ac riciada, pois difeentemente do teatro — lugar concreto de wma represcatacdo fundada na consciéncia © aa oposigio —, 0 cinema t tn eeminado emul & cap de prove una determinate. fo (ceo) apnss ex um pico de dotminnla clase. Pre Se 0 eto sja mls ecco pblen peste deve sr eave ene homostne, se posse por caepre poison, qualquer he ec oa ie, enon sc ob mo rene pny emerge, dpa rage de todo ‘oamen Sven s em dicen momen 2 unt esas oor Essa “fatalidae” do cariter de clasie, quando se examine a ficicia de uma obra, € facimente iustrada pelo curioso insuceso fem meios operirios de uma atrago que produs fore impacto nos homens de cinema. Refiro-me 2 cena do matadouto, Seu eeito ssociativo, sanguinolento e conceatrado, produzido numa certa ca- ‘mada do pblico, ¢ notério. Na Criméia, a censura chegou mesmo 8 cortéa com... as privadas! (Um amercano que asta a Greve ‘eclarou que cerios efits brutaiseram inaceitiveis e que esta cena, certamente, precisaria ser cortada antes de o filme ser exibido 0 ‘extangeto). No entanto, a cena do matadouro mio provocou exte feito “sanguinoleato” num pablico operirio, pels simples rario de ‘que pars um operéro o sangue de bot se associa em primeiro gar A fibviea ligada 20 matadouro! E para oe eamponeses,acostumados, 4 abater 0 gado, a cena nio suscitou efeito algum. © segundo {ator na escolha dos estimulos emotivos & a acesi- biidade de clase deste ou dagueleeximulo. spedelo eto por S. Treakv par 0 Pro Testo Opec ‘yf m8 ened cm cena «dro We Eset ta 200 [Exemplos negativos: a variedade de aragdes sexuis, que sfo 1 base da msiorin das obras burgusss comeriais, of procedimentos xpresivos que ditanciam da realidade conerets, por exemplo, 0 xpresionisno doe vrios Doutor Caligr: © veneno adocicado pe- (Gueno-burguls doe filmes de Mary Pickford, que exploram © ades- fram, com # excitagio sisemitica dos germes pequeno-burgeses, rossas platian mais avangadas sadas (© cinema bargués tanto quanto 0 900, conhese estes “tabus” 4 classe. Assim, no livo de The Art of Motion Picture (New York 1911), quando as atragSes teméticas sho analisadas, encon- ‘ramvse em primeiro lugar uma lista de temas desaconsethados, relagces entre capital ¢ trabalho”, seguindo-se as “perversoes sexi 1 “erueldade excestva", a “detormidade tics" (© estudo dos estimulos ¢ sua montagem com uma orientagio efnida nos forece wm exausivo material para a andlise dos pro- blemas elativos & forme (© contedo, tl como 0 compreendo, é 0 esquema geral da (quela série de choques 803 qoais, numa determinada ondem, a pla- tia se expde (ow rosteiramente: am certo perentual de matriais para ftar tengo, outro tanto para iitar,et.)._Mas estes ma feriais devem ser oganizadot segundo um principio que visa a um leit. desejado. [A forma & a relizdo dessas dspescdes sobre um certo ma- terial por meio da eriagto e da coreta orzanizagio dos estimulos tapazes de provorar os percentuais necessrios, isto €,o lado efetivo fe conereo da obra. preciso mencionar ainda as “atragbes do momento, isto é as reagdestemporaras que aparecem no curso de determinados acom tecimentos ou correntes da vida soca COposia a estas sma, evste ume série de fendmenos © pro- ‘edimentor “lernos” de atrgées. Uma parte deses sfo atagies tes de um ponto de vista de classe, Por exemplo, « epopéia da Iuta de classes atua ineitavel- mente sobre um piblico sadio e intro. ‘Assim como existem atragies de efeto “neutro”, como, por cexemplo, os sllos morta, 0 nonsense, o duplo sentido, ete. 201 Sn itegfo aieca tev & Fort pour Far conuerevoicndria fl sufcienemente deommearda one i 9 8 ns to lev esperar em vst de sua stall, Cpa ko core slo Unga de ani sees a sceitével exctusivamente como procedimento destinado a provecar Aquset relexos nlocondcionaion, ness abo por sb ene as sim pare formato de refexoncondcionai, Wek do pone se vista de classe, os qua de os quai desejamos assocar'« dterminadosabje- tivos de noso principio sci. dos bi mento, sobre as quais io se 7 ie fants 20 ora 202 21.3 DA LITERATURA AO CINEMA: UMA TRAGEDIA AMERICANA* SeRGUEI M. EISENSTEDY Do sublime 80 grotesco nio hi mais que um pass, De uma idsiasublimemente conecbida, formulada como slogan, uma obra de are viva, hi mois centenas de pasos Se dermot spenss um pass, vamos ter como resultado nada rmais que 0 protesco das actmodadas porcariss do presente recisimos antes aprender como se faz obras vives em tes imensées a pattir de padres planos e bidimensionas, com uma Tgaglo "iteta” do slogan para © earedo — sem esas Posto descrever € mostrar em minha propria obra © modo pelo qual ume concepedo ideolgica interfere e se consitui em sélida [Gite tero foi orisnimente pubindo om Prolantoye Kino, n° 17/18, 1952, em Moreau enretrandose seroduivo com virion seins, ts bry Bethe (0 It). S08 outa forma, fl Indio na silos Tle de am Chcaste 9 tale "Uma Tagéia Americana” A 5 ‘a ado covespoode um fragmento dh versio atric de Jy Leys cou te Trower) ica eo itm Form (edn Books, New Yorks 987). Cada ie Viner ast) 203 perspectiva para um filme, mesmo em circunstincies sociis um fanto incomuns. Cumin “on gta nev plo" an Pawn Pie In 3 trees dapat edo leo de aa ars rapt de excepeional qualidade. ne io enor se eit de aps desceros design, Una Trap dmercana, de Teeodoro Dieser ¢ a ae eaacane tate ens Hr tis Se Shes a Py ‘ue ct materi! dra marge so shied dis pont vista insoncves — o da “empresa” ¢ 0 nono "foi" ue se Since ptr do istmts trate 9 nee wae Se ‘teiro foi submetido & apreciactio. _ ee — Na sn ata, ye Gifs 6 cpt on ase Dendéncia cinematogrtics. © cas, alguma vez, jé vos fez olhat Spee através de uma lupa? Esranbo ofu; as consiclagies de por, fzuladas e castamhas, respiram como guelrs; anémonas afogadss. Um cabelo se horspiae leva sua vidt 8 margem. Tudo o que nio se pode nem eserever, nem flar, nem pintar, o cinema expe com fanfa massa e afinidede, que ele encona até o que foi exlado fem Balzac oo mento par Lote Fuller* CComercilmente, uma histéria indispensivel e, mesmo no filme ideal, € necessirio um argumento pare revestr a imagem de sentimento, A primeira lei do cinema — sua gramstiea, slgeba Tae Fuller; Matieouise Faller (1862-1928), dangrinn americana ue se sprains ao Flies Berere ‘Se Parse fot tema de um carta luis Laat Seu eptiion de Sana etceriavamee pea ulicnglo vous mips « om jogo de lae«sombra (Note Go Orgad) 280 fordem — € a decomposicfo de um fato em seus elementos fotog’- tices, Mas, a ordem, sem amor, no € nada.” Digo amor como Sentimente, ” Comumente, 0 sentimento #6 pode brotar de uma si- ‘useio: logo, de uma anedota, Arsim, a anedota deve exis, Ma, como a objetva comeca 2 gugucjar quando msl & toca, ela deve Ficar ivisivel,subentendda, expressa nem pelo texto nem pela im gem: ene. ‘De fato, se pstsamos do olhar de um homem para a cintara de uma mulher, isto expressamente significa — na jungio & Somente ali — um deseo. Quanto mais ums cena for deserve, menos chances terd de funcionarna tela; e vice-verst, Se-0 bangueico deve levantarse de sua mesa e ir até porta, receie mester muito ao mesmo tempo. Este movimento foigratara bem melhor se divdido em wés ese forem consieridos seus elementos autttios: a presséo da sola sobre 0 tapete, 0 recun bruseo da polons, 0 movimento do brago 0 andar. Esta redugio em {aloes einemstograticos expde auto- matcamente a um ridiculo ampliado os dirtores medioctes que sf ‘= langam. Julgo 0 realiador pelo que ele revela na montagem dos de- ‘athe. (Os peimeitos planos de Marcel L'Herbier so luz pura solii- ficads num estiglo préximo da temura. Faltou pouco so marido cenganado do Carnaval des Vérités para iat empalado sobre a obje- tiva, Toda a festa, als, era uma seqUéncia de ideogramas precsos acerciando os olhos: bel fase em pelicula, quase uma esrofe, Em LHlomme du Large, Booge pegava os roxios em corda como carvas perigoras nas corrdas, A fluxlez da danga em) El Dorado conse- {hue Iteralmente, fotografar um ritmo, E ainda: a mesa, antes © fepois, em Berea, a bainha do vestido em movimento. no Rose- France © muitos outos Como satéitestranspotados pela graga da ovidade, as rodas de La Rowe de. Abel Gance fario histria. Duss mos sobce um teclado, si0 La Xe Symphonie e, no inicio de Jaccuse, 2 ronda, cuja necessidede episica no mas se poderé manter, esti, embora um fpouco vermelha demis, entre os mais belos trechos de filme que exten Le Silence de Louis Delue se ica exatamente na corrente de ar das vinte manecas psicoligicas para se abric uma porta © nas 281 fuses vinte para feché-la. Seguindo M. Signore, passeinse com prazer por todo o apartamento. Entre os detalhes episodicamente Inlos que Fumée Noire reine em torno de um fato banal — feliz- mente anvlado no final — 0 diflogo no toalete e a conversa dos coquetds sio cinema pleno, com a fotografia a seu lado, © cigarro em La Cigareste era tedioso, mas havia af um disco que girava bem... La Belle Dame sans merci fotogrfa a sutra flewosa de Germisine Dulac melhor do que a cena do tixi e a do tira ao alvo em Malenconire, O filme que se comercia entre a trig e 0 conde € tho fio e manhoso, tio bem extofado e tio menos fruto proibido e, naturalmente, menos rico, porém mais interior € mais cinema do que o cinema'do “silken Cecil" Lembro-me ainda de ums bela moto em L'Homme qui vendit son ime au dable de Pere Caron Bis af alguns exemplot; mas nio todos, nturalmente inca, 17 de margo de 1922 Sa cada parirno dept, toon of flee embradon so de suuria do enh cto n0 tesa" Maree! Ufa Abe! Gate. Lone Dai. “Sitee Casi, em ingles no. ri pre fare sao 90 corms Ceci B de Mil advo de "sda (Nota do Organiza). 282 23.4. 4 INTELIGENCIA DE UMA MAQUINA — Excertos 8) SIGNOS (Capitulo 1) Rodas enfeligades Por vers, uma erianga nota na tela as imagens de um extro que avanga em movimento regular, mas eujas rodas.giram sitmadss, ‘ora mum sentido ora noutro, e que mesmo em alguns momentos deslzam sem rotagio. Espiatado, até mesmo ingusto com esa falta de ordem, o Jovem observador interoga um adulto ual, ‘quando sabe ¢ om, explica ett evidente conradgio tentando des- fulpar um exemplo to imoral de anarquia. Na mairia das vezes alts, © quesionador contentase com uma resposta que nfo entende tbem! mas, pode acontecer também que um fdsofo de doze anos figue, desde entS0, com uma cora desconfiansa em reo a um cexpeticulo que &f uma pintre eapcchosa e talvez até mentrosa do ‘mundo, 283 Revator que dio medo Decepolo, desencorgiamento, tal é a impresséo habitual des iniiantes, mesmo as bonita ¢ dotadas de talento quando, pela pr mera vez, vem ¢ ouvem seu proprio fantasma numa projesdo. les escobrem na prépria imagem defeltos que no acreditam realmente postr; sentemse traidas,lesadas pela objetiva e pelo mierofone, ‘io reconhecem nem accitam certs tragos do préprio rosto ou en onagdes na propria vor; sentemse dante dos Sslas como que em presenga de uma estanha, de uma irmd jamais encontada anterior. las diem. Raramente tal mentica rece favordvel,embelezadors, Seja pare melhor ou pior, 0 cinema, em seu registro © repro: dogo de Sees, sempre on transforma, os recrin uma segunda pe sonaidade, ajo aspecto pode perturbar a consciéacia a0 ponto de fazer com gue clase pergunte: Quem sou eu? Onde esté 2 minka verdadeiraidentidade? E ter de actescentar ao “Pent, 10, exit © “porém alo peaso em mim do modo como existo” € uma at ‘muante singular’ evidtncia do exis. Personalimo da matéria © primero plano levra um outro tento contra @ordem familie das sparéncis. A imagem de um olho, mio, boca, que ocupe toda ‘tela — fo apenas porque ela é ampliads irezentas vezes, mat também porgue a vemos islada da comunidade orginics —— vwestese de uma espécie de autonomia imal. Esse olho, estes dedos, esses Lihios jf se tornam seres que tm cada um seus prsprios limites, seus movieatos, sua vida, seu proprio fim. Eles existe por si mesmos. Nio parece mais ume fébule o fato de 0 ol, ‘mio ¢ a lingua trem alma propria, como acreditavam os vitalistas No fundo da itis, um espiito forma seus oriculos. Esse olhar imenso, gostaamos de tocilo, nio fosse ele cartepado de tanta forga perigosa. 34 nfo é mais uma fibula o fato de a luz ser pon- derivel. No o¥o de um cristalino, transperece um mundo confuso © contradtio no qual advinhamos © monismo universal da Mess fe Esmeralda, a unidade do que se move e do que & movido, ubi 284 So ae tote nee yesanmeantat someone commen tat _itade da mexma vide, o peo do penamento © & spite Unidad da vida sa subverso a hitrarqia ds css apvase com a re produto cinemas do ovine, sam cnc ene Scirada Os cian plnam cima do obtusa pans clam; os eas se acoplam, reprodvcmse,caoam ms Te res; vs lt, aguassormase cr Se, borach, bree ferent; © hen sls dane de une none, oe Sistnia do vapr: ele € um animal puramentegsne, de ua pore fein, de uma desterasmiica” Todo oe sstas Sompertnes tas da atren fiom desriclado.” Resta penn as lms vor [Nos gestos, mesmo nos mais humanos, a inteligncia se apage iante do instinto que, sezinbo, pode comandar jogoe de misculos tio suts, tbo muangados, io absclutamente certo e flizes. O uni ‘ersointiro & um animal imenso cujs pedra, flores e passaos sto ‘rgios totalmente coerentes em sua participaggo numa Gnica alma ‘comum, Muitas das clasfcagdesrigorovas e superfcss, que alt= buimos’ natureza, no passam de artifice e ilusbes, Sob esses rmiragens, 0 povo das formas revela-se essencaimente homogéneo © ‘stanbemente anérquico. Pirueta do Universo Experéncies sem fim prepararam o dogma da ineversibiidade vida, Todas as evolupdes — no atomo e na galiis, no mundo inorginico, no animal e 90 humaso — se dio 30 sentido inrevo- avelmente nico da degradacio da enerpia. O aumento constante 4a entropia & essa tava que impede que as engrenagens da miqui terrestre © celeste movame a0 contri, Nenu tempo pode felomar a sia origem; nenbum efeto pode preceder sua causa E tum mundo, que gostaria de poder liberar-se dessa ordem vetoial ou de poder modiit-la, parece fiscamente impossvel, logiamente inimaginsvel 285 Mas, is que, mum velo fle de vanganda em slum but tecoy veer une conn projets a0 sonar. E, de repent, 0 “idem decrove com pits sae ym indo que vi do fim 80 fro, um astunver que M6 exto, © homem nlp conepla se ‘eps othas motes voam do solo para i 20 econo dos temo das yore gots de hive ora da tet em eo fers ume Tcomctiva enol ox fara sam ina, aspire 0 Sea pio vapor 1 mdqui contme fo pach ofetee table Sar tor ase Go feet © marche mom Bolo gue voll fara 0 cui.” Este, emvelbcendo, ries para 2 semen. A ida spree pe esurreno, save sbando. a ecep- Tole da ide para dessrochar da mature." Rep durante ajovenude ea inftocia ene isle enfin no limbo pre-natal fist replso univers diminlgo. da carpio. aumenio ont da cues format at verdaesinveras dale de Newton, don prncpon de Corot de Clnsis 0 efeto torovse caus; 1 ata, ft. Seva a entura do uve amine? permits el um paso i rene eum pars ts? admiita oma logis dupa, ds Ueminsmon, Goa Salads cones? (0 cinema insiaminto nto apenas de wna arte, mas de wma ilosofia (0s microscope as lnetas sstondmicas servem, bf jé alguns sécalos, para multpicar 0 poder de penctrasso da visio, esse sen- tido maior. A rellexo sobre as novas aparéncias do mundo, forne- tides por estes aparelhos, ransformou ¢ desenvolveu todos os si temas da fiosofia © da ciéncia. Por sua vez, 0 cinema, embora rio tenia mais que 50 anos de existéaca, comesa talvez a contat para o sea ali revelagies das como importantes, especialmente fo aimbito da sndlise dos movimentos. No entanto, 0 aparetho que deu origem a “étima arte” representa gos olhos do piblico antes de mais nada uma miguina para renovar e difundir 0 teatro, para fabricar um género de espetéelo acesivel a0 bolso © & intlgtacs dda numerosa média internacional. E um papel benético © prestigioso, sem divide, eajo nico err 6 sbafar, sob a sua gra, ouras posi- billdades dese mesmo instrumento que chegam a passar quase de- sapecebidas. 286 ‘Assim, af agora, prestou-e pouca ov quase nenbuma stengio| fas vias Singlaridades de repeesenapio das colts que’ o filme pode dar; tampouco percebewse que 2 imagem cinematogrfica — ‘que tem um veneno sutil — nos previne de um monsiro que poderia corromper toda a ordem Iégica'a muito custo imaginads para o ‘esting do universo, Descobrr & aprender sempre que os objetos nfo so 0 que acreditivamos que fossem; conbecer mais é, antes de tudo, abando- far © lado mis claro e mals seguro do conhecimento eslabelecio, Nilo 6 certo nem inaereditivel que o que nos parece estanha per- veridade, inconformismo surpreendeatc, desobedigncis, posa sevit para dar mais um passo em dtegéo ao “terivel ocuko des costs”, fue apavorava até mesmo o pragmatismo de um Parteut. 'b) EXCERTOS DOS CAPITULOS 2 ¢ 3 0 quproqué do continuo © do descontinuo Um jeto de milagre Como se sabe, um filme se compie de grande nimero de ima- ‘gens justapostas sobre a peicla, mas ditnts e um pouco disseme- Thantes pela poscdo mais ou menos modificada do objeto cinema toyafado, Numa certs cadincia, a projeyio desea série de figuras, separadas por curts intervalos de espaco e de tempo, produz uma apartacia de movimento ininterupto. E 0 prodigio mais espela- alae da miguina dos Iemios Lamigre & que ela transforma a des- continuidade em continuidade; permite a sitese de elementos descon- ‘inuos e iméveis num conjunto continuo e mével;realiza a tansgdo entre 0s dois aspectos primordiais de neturers que se opuakam & fe excluiam mutuamente desde que existe uma metafsicn das cién- A cominuidade, folsa aparéncia de uma descontnidade ‘Quem opers 0 prodisio? O aparetho de registro 01 o de pro- ego? Com efeito, todas as figuras de cada uma das imagens de um file, projetadae sucessvamente na tela fcam tio hmovels © 287 separadas quanto jé 0 estavam desde a sua epargio sobre a cama- Gu sensivel. A animapio e a conflvénca deseas formas so, prod ides, ndo na pelicula ov na objetiva, mas unicamente no. propo hhomem. A: descontinuidade x6 se transforma em continuidade de- pois de haver penetrado 0 espectador. Tratase de um fendeno Ppramente interior. Fora da pestoa que estéellando, n8o hi mo Vimento, fuxo ou vida nos mossicos de Iuz e sombra que & tc mostra sempre fitos. Deniso, hi a impressio de que, como todos (05 outros dados dos sentido, trata-se de uma intrpretasio do obje- to, ou seja, uma iusio, um fantasme Se 0 homem, aravés dos semis, etd apto a perceber 0 des. continuo como continuc, a propria mdguina “imasina” mais fale ‘mente 0 continuo como descontinud. [esse pomto, revela-se um mecanismo dotado de subjetividede rdpria, uma vez que ele representa as costs no como eas sio per- ‘xbidas pelo olho humano, mas, apenas, como ele mesmo st v8. de scordo com sua estrutura particular, que the confere uma personal dade. E a descontinudade das imagens fas (nas enquanto dura 1 sua projetfo,e nos intervalos entre seu desiocamento pulsante). © qual serve de fundamento zeal a0 continuo humanamente imaginirio do filme proeado, verifcase ndo ser mais do que um fantasme coo. ‘ebido e pensado por uma miguina, No ino, © cinema mostow-nos, no continuo, ume transigure- ‘io subjetiva de uma descontinuidade mais verdadira; em segude, esse mesmo cinema nos mosia, no descoatindo uma interpreta arbitra de uma cootinidade primordial. Concise entso que ambos, © continuo € o descontinva cinematogréfics slo na verdade ‘qualmenteinexstents; que © continuo e 0 descontinuo atuam alter: ‘nadamente como objeto coneeito,sendo asus realidade apenas ume fungi na qual ambos podem substiuise muluamente Aprendizado da perspective ‘Todo espeticulo que € imitasdo de uma seqiacia de scontei- mentos crs, pela propria sucessie nee contigs, um tempo que the € 288 particular, ume deformagio do tempo histrico. Nas manilestagses primivas do teatro, ese tempo falso ousava apenas afastar-se © mi- ‘imo possivel do tempo realmente ocupado pela ago descita. Do mesmo modo, os primeios deseahistas © patores aventuravam-se t- tidamente no also relevo; mal sablam representar umna profundidade ituscia do espaco, restrngindose &reaidade da superiie plana so- bre a qual trabalhavam. Foi somente aos poucos que 0 homem, de- senvolwendo seu ginio de animal imitador por excelncia indo de imitagdes da netureza para segundas © teecias imitagses desss primciras, hubituowse a utllzar expagos e tempos ficticios que se Mastavam cada vez mais dot models crigins Assim, a longa duragio dos mistros representedos durante a ade Média traduz bem a dificuldade que os espiries da époce te bam em mudar de perspesiva temporal. Conseqlentemente, um drama que nio durasse no palo quase tanto quanto o seu deseavol wvimento rel, nlo parecin digno de crédito ow de suscitar uses a regea das tls unidades, que fava em vinte © quatro horas © maximo de tempo solar pasivel de ser reduzido para tes ou quato horas de especulo, marca uma outta etapa do. caminho" para (0f encurtamentos eronolégcos, ou sea, pars a relatividade tempor ‘al Hoje, esta redueto da duracto a uina escala de 1/8, que era 19 méximo que se permitia a tragédia clissica, parece um esorgo bem fraco se comparado 8s compresses de 1/50.000 fetes pelo ce ‘nema e que nio deixam de nos dar wm pouco de verigem A méquina de pensar 0 tempo Um outro mério surpreendente do cinema & multpicar ¢ abran- dar imensamente 0s jogos da. perspectva temporal, levando ¢ inte iéncia para uma gindstica que The € sempre penosa: pasar do sbso- Into artigado a ‘nstiveis condicionsis, Neste pont, ainda, esta iquina, que etic ow condensa a durasio, demorsirindo nae tureza varivel do tempo, que prega a relavidade de todos 08 pa metros, parece provida de uma espécie de priquismo. Sem essa ‘iguina, nio veriamos materiimente 0 que. pode ser um tempo ingenta mil vezes mals Fipido ou quatro Yeees mais Teato do. que ‘aguele em que vivemos. Ela é um insirumento material, sem di vide, mas com um jogo que oferece uma aparéoca tio elaborada, 289 ‘tio preparada para 0 uso do esptto que jf se pode consieré-la um teio pensamento, um peasamento sepundo regres de anise sin- {ese que, sem o insirumento.cinematogrific, 0 homem teria sido incapar de realizar Tempos locals © incomenturdveis © cinema nio explica apenas que © tempo & uma dimenséo di- rigid, conelativa das dimensOes do espaco: cle explca também que todas ‘as estimativas essa. dimensso.s6 tém um valor. particular Admite-se que as condigdes ssrondmicas em que a tea se site imponamhe um aspecto © uma divisio do tempo radicalmente di vetsos dos que devem existe na nebulosa de Andromeda, onde 6 ‘fu © 0s movimentos lo sto os mesmos; mas, para quem nunca viu a cimera lenta ou # acleragio do cinema, ¢dificl imaginar 9 paréncia que pode ter, visto do exterior, um outro tempo além do ‘nosso, Um filme curto documentirio que desreve, em alguns mi- nutos, doze meses da vida de um vegetal, desde a germinagio até 4 maturidade © degenerescénca, até a formacio das sementes de uma ova geragio, basta para nos fazer realizar a. mais extrardiniis Viagem, a evasio mais diffe que © homem }4 tentou Ente flme parece libertar-nos do tempo terrere — isto & do tempo solar — de eujo ritmo parecia que nada poderia jamais nos srancer, Sentimo-n0s introduridos num. novo Universo, num ow ‘no continuo, ajo deslocamento no tempo & elngienta mil vezes mais ripido. Lé reina, sobre um pequeno dominio, um tempo parculr, tum tempo local, que parece eneravado no tempo terete, 0 qua, spesar de abcanger zone mais vast, € apenas um tempo local em. ravado por sua vez, em outros tempos ou justaposio © mesclado @ les, Mesmo 0 tempo do conjunto do nosso universo nda nio € mais do que um tempo particular, vido para esse conjunto, mas ‘fo fora dele e nem mesmo em todas as regiges que Ihe s80 inte lores. Por analogin, eatrevemos esses incontivels tempos ultapar- calares, ordenadores dos ultramirocosmos atémicos que # meek nice ondulatria ou quintica acreit serem incomensuraves entre si, 290 ssp bttameR a do mesmo modo que els néo tém uma medida comum com o tempo rola. ‘A aceleragto do tempo viifica & expritatin A amplide ns jogo de pepe pamper ue oe sect cnr et ges lade 9 in po, Fe tan movimento « it no quot ants for ive ¢ ee, tr ropete ser aras do ac desoeda — aan: tb at irda area Ge clap — no tenio de me fer qifleagio cues Anim or cbt camera ave fra unt ds els ves; pla nial, cde Kian « spre, cpinem st viaiude por moo Go pen Tembraneans eno com ments errs de ce Fenda tapetinmal eb por patents pennies Pr emp ‘Sumo conraranene tsar MOGs pram te evade + Sigurt ies dunes ire a ecb Grae 0 AS Sendo, moon ves gem nou tno, mal come fume ding com econ, au qu o lo deja ree Sime’ eekeeir cet" do emp tem spear, Eerranu cnjp ts flan fe genet ome Matis enblne a nem na gu eo baer. ioige ile do gue emocho, Donan rene em He Sh tata qe te toap co ue pop a ogo, ses une snc gat win as de un ales Ei. teomese etlnente press» pour gun cle ete se penune opto Do monn mate vise pee el Seo oars de saber ones bncadose Ge ape Sega ou nein spe Forte = ‘aires «vet em en iv ae ore eae emer or etn dcr dace € sl SSE" Settee de npn que ‘seman, to en ‘te & lana rte se flere cano dine Hg! © gue O'S" Uber o slo) ete sm mene, 2 an Iipen's So sender, como wens Cie Beard i, thin ow ante Hgeano evi 291 0 retardamento do tempo morttica € matraiza [Numa projec esta, a0 contri, observase uma depradagto das formas que, a0 sofrerem uma diminuigso em sus mobildade, petdem algo ds sua qualidade vial Por exemplo, a aparéncia hi: mana € privada, em bos parte, da sua espintuaidede, © pensamen- ‘o apagese no olhar: na fisiopomia, © pensamento fica ettorpecido tome-se iegvel. Nos gestos, a flla de jeto — signo de vontade, resgate da Uberdade — desaparece, absorvida pela grasa inflivel 4o instinto animal. Todo homem & apenas um ser de misculoy I ‘ss, nadando mum meio dens, onde fortes correntezas sempre care {gam ¢ moldam este dbvio descendente des velba faunas marines, dds Gguas-mies. A regressio vai mais longe e ulrapansa o exigio nimal. E enconra, nos desdobramentos do torso ¢ da nut, ¢ slasticidade ava do caule; nas ondulapbes dos cabelos © da ctna, agitados pelo vento, o balango da floes; noe batimentos das bat” Datanas e das ases, as papitages das folhas; no enroscar © desea oscar dos répteis, o sentido espiral de todo crescimento. vegetal ‘Quando a projegéo & ainda mais lenta, toda substinca viva retorna sua viscosidade fundamental, deixindo vir & tona sui natureea ‘essencialmente cooidal. finaimente, quando nfo hi mais movi- mento visivel num tempo bastante dilatado, 0 homem tomas est tua, o vivo confunde-se com o inerte,o univers involui num desert de matéia pura sem tag0 de esprit, 292 on ae SINEMA DO DIABO — Excertos 8) 0 FILME CONTRA 0 LIVRO* B porque permanece sempre concreta, de mancica precisa «rca, que a imagem cinematogrifica se presta pouco a exquemati- aso que permitria uma clasificapio rgorosa, necesiria a uma argutetra lgiea © um pouco compicada. Na vetdade, a imagem Gm simbolo, mas um simbolo mito préximo da realidads sens. vol que cle representa, Enguanto io, a pala constitu) um sim- bolo inareo, elaborade pela razio e, por ito, muito afastado do objeto. Assim, para emocionar 0 letor, a palavra deve passar no- vamente pelo cicuito dessa razH0 que a produziu, a qual deve de- tifrar © arrumar logicemente este signo, anes que cle desencadeie 9 representagio da fealdade afastada 8 qual corresponde, ou ea, tes que essa evociyo exeja por sua ver apta a mexer com o8 sat ‘mentos. A imagem animada, 20 conuério, forma ela prépria uma representaclo jf semipronta que se dirige & emoivdade do espec- tador quase sem preciar da medigio do racioino. A frase fica ‘como wm cxipograma incapar de suscitar um estado sentimental n> 7 reso do capt “0 pesado conta a ratio 293 unt sia Imula fo for adie em daon clos ¢ semis fiav de operages ictal ue laterpcam Teeny aba trie tga, termes abso prt es doe unk see at concen Por one lno, x sipicidae cena com qo s Og 1 ume seins cinema, onde Tos os elenest> 8, tina de to, figura presi er pens um ergo nino de deotieaioe ane, parm qu o gos tea agi Or to pena de emaxao elect, mes os woes qe, Se Rinbad sos sare, prem ou pends rare 4 consaaginno do ranch lipo, cieguram pen com Blar «dita dal modo sexta loge dh exes, que E preso oper toda sna mates amet, toa tg Sn ‘ica, pars reser os prolemas de ui poesia gue para sr com presale send,exigenlo apenas una senda stl, mes EE ina habia cones seats Jeu von ee les erazatae” Now anda Se tay sabiided,o efor Stu Inapcace de aura, cm reo da pobera Su cos C30 lps, eu npn faa dete, espa Se recor sinters digests, Ani, fe ¢ theo se opm. © testo fla a sentiment ans do fie Saar.” As imgens Sl iio fete 0 pit da peometia pram soda, sng 9 spo do remamana Asim end, a ato emote em pogo de exec uma inna an marante un sot wa ear ste pies proven da era do qu stress ae emaam & sp tao cnematopca.” Goalguer due sje 0 aunismo Seatimetal com qu pon dour tm fet, ima pie dea tnt as parno decor de opergies lips sur os sos deem sabe: tees anes dese tanforaren pra‘ ios, ex coop gu o wo dlp dena vale sem see, tanto quo sea imposiel eoneeer una dens fal seperdas da Out. Mes mmo quando ten «dria ogi ou tare, 20 et tanee como un tami gad Pel ar um cami Pr gan precede © govern too un cent, prt sss Se, cls. or ouo ldo, a representa fomecdes plo fine, sndo subnets spent uma tage loca eee bestente sunk petden mui pouc des fogs etn e i tca Dans? 294 s te a sensibilidade do espectador. Esse poder maior de contigio ‘mental, os dspostvs legals reconhecem implictamente no cinem fonde quer que se manteah uma censura de filmes, enguanto que Jmprense — em principio, peto menos — foi iherada da twela dos poderes publicos. A primera apreensio légica ¢ to Tugez que ‘erdadeira iia, aquela que a imagem pode gerar, $6 se produz de- ‘pois que 0 setimento fol envalvido e s0b a sua ifloéacia. Mesmo ‘quando amplin conviceGes que, posteiormente,poderio ser confi fmadas pelo raciocino, o filme continus a set, por sis, um cami- fnbo potce racional, um camino sabre o quals propagasio do sea- fimento ganha em velocdade sobre a formaglo da ida. um ca- sminho roméntic, acime de tudo. ‘A invensio do cinema marcaré, na histéria da ciilzacéo, uma data ti importante quanto & da descoberta da imprensa? Em todo ‘ato, vé-se que a influgacia do filme do livo € exereida em sen- fidos bastante diversos A letra desenvolve na alma as quaidades considradas supe- rlotes, ou seja, adguridas mais recentemente: o poder de sbsra, Casficar, dedusiz O espeticulo cinematogéfic tua primeira- Inente sobre as faculdades mais anigas, logo, sobre as fundamen- tai, que clasifiamos de peimitvas: © emogio © a indugio. Oli ‘wo’ aparece como um agente da intelecualizacio enguanto que 0 filme tende a resvivar uma mentalidede mis instintva. Tal fato parece justficar « opinigo dos que acisam o cineme de ser uma tecola de émbrutecimenta. Mas 0s excess do intelectualiso con- ‘duzem a uma ouira forma racionalizante de estupider da qual ae ‘ostica, no seu apogee, pode servir de exemplo, onde a abundin- da de absiragies © de taciocinios sufoca a propria rzko, afastan- do da reaidade ao ponto de no mais permits 0 apaesimento de ‘uma proposigio sti: em dima iastinca, de nenhuma outra verds- de. Seo lito encontrou o seu antdoto no cinema, pode-se con- cuir entio que tal reméaio era necesiro Recoahegamos que o cinemaiéprafo &, de fat, uma escola de iacionalismo, de romantismo e que, por isso, ele manifesta nova- mente caracteristies demoniacas, que ats procedem diretamente do emonismo primordial da ftogenia do movimento. Na vida da ak ima, a razio, por meio de reprasfixas, procura impor cera medida, fama relative enabildade sos fluxos © detluxos continuos que agian 295 © dominio afetivo, as fortes marts ¢ furionss tempestades que trans tomam sem parat o mundo dos instnts, Se nio 0 caso de pre tendEla imutével a raxdo no entanto constitu mitidamente 0 fator mental de menor mobilidede. Assim, a let de fotogenia 8 deinara Antever que oda interpretasdo racional do mundo prestarseia me ros & representagio cinematogrfica do que a uma concepgio in ‘uit, sentimental Rival da leitura, 0 espeticulo cinemstogético € seguramente ‘apaz de suplaté-la em influéncia. Ele se divge 2 uma platéia que pode ser mais numerosa e diversiicada do que um pablica de lei tores, pos no exclui nem os semiltrados nem os atalfabetos: nfo 5 limita os wsuérios de certs idiomas e dialetos; compreende até ‘mesmo of mudos e os surdos; ispensatradutores e nfo press te- mer seus contrasensos; e, nalmente, porque esta plata sente-se respeitada na fraqueza ou na preguiga intelectual de soa imensa rmaoria. E como 0 ensinamento do filme vai dteto a0 coragéo, ‘nfo dando tempo nem oportuniade & erica de censuréio previa ‘mente, esta aguisgao ransforma-se imediatamente em paisio, em potencisl que exige apenas a elaboragdo, a descarga em fos seme- Thanies aos do espeticulo do qual foi iado. Assim sendo,o cinema parece poder transformatse — se jé nfo o fez — no instrumeato ‘de uma propaganda mais eficaz que a da coisa impress, b) A IMAGEM CONTRA A PALAVRA* Existe um esteito parentesco entre © modo como se formam cs valores signiicatvos de um cinegrama e de uma imagem onitck, No sonho também, todas as represenagies reeebem um sentido sim ‘blico, muito particular e diverso de seu sentido comum pric, (© que se consitui aumma expécie de idealizagio sentimental, Por cxemplo um estojo de dculos pode vir a signfear avo, mie, pas fmf, desencadeando todo o complexo afeivo — filial, maternal, familiar — lgado 2 lembranga de uma pessoa. Como a idalizagto do filme, a do sonbo néo constiui uma verdadcira abtrago, pois ‘sta skim nfo cra signos to comuns, to impessoais quanto pons vel, para uso de uma slgcbra universal esta idealzagio = faz Gar, por meio de assocagGes afetives, a signfiagto de’ una ima + “Tete do captto “O pedo conta a rst" 296 4 gem a6 uma outta wm povco menos concreta, porém mais ampl fais definida, mas igualmente pessoal ‘A anaogia entre a linguagem do fime ¢ 0 discuso do sonho ‘no se limita a esta dilatasdo simbslica ¢ sentimental do significado Ge certs imagens. Tanto quanto o filme, o sonho amplis, isola ‘etalhes representatives, produzindo-s no primeio plano dessa aten- ‘io que eles mobiizam jteiramente._Do mesino modo que 0 sonho, b fllme pode desenvolver um tempo proprio, capaz de difere ampla- ‘mente do tempo dx vide exterior, de ser mais lento ou mais ripido do que este. Todas essah caracteritices comuns desenvolvem © ‘péiam uma ‘dentiade fondamental de natweza, uma ver que am- bos, filme ¢ sonbo, coasituem discursos visuals. Donde se pode conclu que o einem deve wansformar-se no insirumento aproprie~ do 8 deserigho desta vida mest} profunda, da gual a meméria dos sonhos, mesmo que impercita, nos dil um bom exemplo, Quando o sono a fbera do controle da raz, a atvidade men- tal nfo se tora anirquica; tela descobre-e ainda uma ordem, que ‘consiste principalmente de assocapbes por contglidade, por seme Thangs, ¢ cuja disposigio gral esté submetida a wma orintagso afetive, O ile eats naturamente mais apto a reunir as imagens ‘de acordo com o sistema inacional da textura nirca do que segun- do. logics do pensamento da lingua, falada ou escrita, em estado de vig, uma vez que lanca mio de imagens caregudas de vale ‘das sentimentsn, Todas a6 diculdades que o cinema tem para ‘express iias racionals prenunciam a facidade com que 6 capaz de tradvir poesia de imagens, que ¢ a metatsica do senimento e ‘do instinta, Asim se coafirma’e natreza do obsticulo fundamen- tal que of realzadores curopeus encontravam em suas tetaivas de substiir totalmente as palevras por imagens, para obrigaro cinema ‘transmit ntegralmente 0 pensamento logico. A despeito da ci Pacidade natural do insumento, este camitho de Jdbia ulizagio 16 podia chegar 2 resultados inexpresivos. ‘Todavia, se 20 invés de pretender imitar os procesosliteréros, 0 filme tivesse se empenhado em utilizar os eneadeamentos do sonho fe do devancio,jé teria podido constiuir wm sistema de expressio de fxtrema sutleza, de extaordinéria poténca e rca orginalidade. E ssa linguagem nfo pareceria desaprumada, desnaturada, meio per- ‘ida em esforgosingratos para apenas repeti 0 que a palavra © a rita significavam com faclidade. Ao contri, teria aprendido 297 2 copa, sept, publica tama fina © motel de wm pensimenio mens sierticil, malsprximo da resale rbjva, ms oicws «verdad, Raton 180 oF mes cn A Concha eo Clo (G. Daas, 192730), 0 Cio Andale (Butvcl, 1988), 0 Salgue de tom Pocta (Sean Cocrea, 1529), ou ines agmenin de ines (eos cobigados, mais sinceon), que marcam oy piney sos dadostinidamente paras reveagho na ea de uma via i, ‘tor mis profunda com au ettno more, seus meando se ‘elas sia misteroneespontncdae, su estes sito, sa tetas impenetaves para a comic» vomade, seu pee inguin de sombras carrzndas de seatinento © isnt. Base fereno sempre novo dexconecido que cade um Wat rn ie oe ‘odor vém a tener, min in menos dn fo ¢ snd, pra muon © laboratrio em gue 0 Diabo dita seus vencaen ‘24 ate a represetagso visa rein about sobre ee feud tominico« diabolo, o cinema ~ € prec rope surge Some ue etpesament designs pare iro sca cnhecnemo $e instrument par, devera contr preponderanemente pars estabcecer dlvlgar una forma de culture gua ignorant agora © qu «psicaalse, por outro tnd, eomey'a enborr, Cult 18 reputads como perigos paras rio © mord, coo 6 pods led, uma vee ue ela se basin ao ested dot fein, tree, tal ¢ exon movinentos slo anteriores a toda opera ie oo Sica “Cate esa, pore, qe, ado a lado com 2 Secobeets dor Aontinios do infintamente grande ¢ Jo itinimente pereent et ‘aura a cléca do infiatamente memo do nifintamene siceo 6 que € mas maravihosa e mais nec, tee, que toda os cuir, uma vez gus ela mona Be fontes do pensavete que Taga sobre toda a prandrstodn pgueen, Se & rmal ge 8 hone fenka verge ao sondar seus poprios abi, tanto guano ee sents ao tear pela primera vez apeender meni ds pains Ou iniiade'dos ‘elon parce pr evar ta deconforn Ho a série, a ponto de ieniiclos como avon provident dr, sinados a dematear profiatzamente 0 lier "dor conhecinenes eco Neste cso, enegarse & puslanimidad, ete-se em pretasos consthos de iene mental, sia 0 mesmo du Tenuncy 2 ane engi, eo valor supomor tjaproporiona ao igor diner ‘ges gus rocuram the barr ocamahe. A algo ons 298 ¢ A aS RRR Se de uma sslidde gue se teva cada ver gue 0 home pre fom pa coler out into Ge irvore do onbscment. Sem OS Tide, no € eto que 9 progreso enka um sel absoio, nem [ree contra Tseidde, com que m0 tem tee, nethume ‘Reso de causldae,Tampouco € xo gue fide seit 0 Sbjsvo tine do mdvdvo ey Ga bumasiade. No extn, com te sem razio,atibinos um aio lor 20. dervlvinesio da Steigtacn e da ciinigto. Or, em gue polo staan nse ‘elon x Galen « Coptic, Latro¢ Calvino, anes Bacon © Descres Dist ¢ Com, Ribot e Pres, Care « de Broglie, ‘on outs theses ubmcado forge dh ini 8 poito de fF ima Tonge 0 inv de obederer eng do movimento 2 AF the de apeedere cong sempre mas? Eavortart 0 cm, tle and, inventors corsoson gue he ewan rein pleaa eso enaaldade como elo ce trade uma forma prior femumento aan dem prcesimenio joo de expessio? Esta Ecoqusta tl como a 0 velo de our, merece que owes aromas mnt rv dem dagio magni. Saemos nis gual pode ver 0 poder dco de signiiceto de tum Ting de inagean, ent 68 mnior pare de sobecarg © das Mervogde etinlopsn, du reser complica gramaicas, de use crs da rtrie, que entorpecem, satan eno {Ung fads ¢ eran de mato? "Agua «mov gta It oftecen an premises de rua exaontiniia foe de con, fe Son efkiia quite mii, bncadn a extn fied 30 ‘histo, obudasprciamente sprimindo a medaco de abtio ‘etl ctr a cosa fora do sjeto «8 repentant sense {Sins no meta. Asim, anuavese uma experca de aance SSeauee uma fforna fundamental inteigincs © home four Goaprenr pensar encsvamente por mio‘ peste Minder day palava,huboarse 8 onceet © iment, Soo 20 Sono, auaves de imagens vias, to poninas dreads que imensunde de un aio emo eqivleria em toda parte 8 fo dos abs © don pepo aon : Tio # eaprao dizer gue o cinema mid, por pouco qb ene cutivado o pre dese totus ment smear enon fodo modo aca segundo Gul © bomen, hi ncn, sre= {edo o Ucar era catertne, crea guse ue unkamente Ses toculdgespsqucas comciente Aw somo inpresa ot 299 «continua a sero instrumento especitico para a expansfo da cultura ‘lisica, dedutivae lopica, do esplito de geometta, 0 cinema come- sou trazendo uma promessa semelhane: 4 de lomarse ese instr ‘mento para o desenvolvimento de uma cultura romfatis, sentimen- fal e intitiva, do espitito de refinamento. Assim, diante do mo- vimento continuo da civlizagao, uma sepunde estrada, até nto ma ‘conhesida, pouco segura, apenas assinalada na superficie do incon lente, como sobre um mar noturno de nuvens,podia rer alargada, iluminada e sedimeniada. Se parece temeriri prejlgar exataments ‘2 mudanga que ji poderla terse produrido on que se produzia um dia, gras ao cinema, na relagio entre as respectivas importincas ‘estes dois modos de desenvolvimento intelectual, ¢ legitino asinlar desde agora sigificacio, eventualmente capi histria de culture, no qual esta recebe a posi ‘cago, de uma escotha — que, ais, nem Sempre costal uma alter- nativa — entre a busca do método racional, tradicional, ortodono, © 8 Inovagio de um procesto ieracional, revocionsria,hertco, de uma inverso no eqlibrio, ue nunca & estivl, entre a imobilidade, «8 impassvidade divinas e os fermentor demoniacos da att, ©) A DOVIDA SOBRE A PESSOA * Tncrédvla, decepcionads, escandalizads, Mary Pickford chorou 40 se ver na tela pela primeira vex O gue dizer, a nfo ser que Mary Pickford nfo sabia que cla era Mary Pickford: gue ela igno- ‘ava sera pesto eujaidentdade, anda hoje, pode seraestade por rihares de pessoas. Esse aventura, gerlmente penosa, de sma redescoberta de si pedprio, & 0 pedmio de quate todoe agules € aguelas que reccbem o batismo di tel Essa surpresa faz lembrar ‘aqueles antigos eatos de viagem que contam sobre o deslumbra- mento © pavor com que ot selvagens perceiam, num pedago de cspelho, © pripri rosto, que nunca tittam visto com ta preciso. Mas suponhamos que revelgio néo sera, para cada um de 265, descobrir num espetho a cor dos nossor olhos, « forma de nossa boca se nds 56 os conhectsemos de ouvi fala. © cinema nos revela aspectos nossos que munca havamos visto ou ouvido, A imagem da tla alo € a que nos mosiram 0 expelho 7" Coil ceproduiso ‘ntgrainent 300 ‘on fotografia, A imagem cinematogrifica de um homem nfo epe- fis € dierene de todas as suas outres imagens nfo cnematcpraficas, Como também se modifica continuamente em relaglo a si propia ‘Quando s¢ pasa ot olhor sobre algumas das fotografis de uma ‘esto, sejam elas obras de profisionis ou istantneos de amado- Fes, e, em seguida, sobre Wechos de filmes, notamest, nesses rests, fais disemethancas que se ¢ tentado a atribut-as a varias personal dades disinas, Asim € que, olhando 0 resto filmado de um lamigo, imagem por imagem, di-se: naguele, ele parece str ele mes- ‘mo; neste, nfo ce de feito nen. Mss, quando hi ros jules, f opinises contrastam: numa certa imagem, o homem que & ele ‘mesmo para uns, nlo © parece ser para outros. Entio, quando & fle algaém © quem? |ApGs sun primeira experiacia cinematogrifica, se tvesse cor ido a Mary Pickford afiemar: "Penso, logo sou", teria sido pre- tdko screicentar eta grave resalva: Mas no sel quem sou, ‘Ora podemos susienta, como uma evidneia, que somos se igno- ramos quem somes? Assim, esta dvds tho importante, sobre unidade e a perma ‘tncia do cu, sobre a identdade da pesos, sobre o sr, o cinema, se fo a introduz, pelo menos a revela de modo singular. Davida que tende a se tensformar em total desconhecimento, em aegagio, quando © sujelto pass, através de uma transposicio pela cimera ienta ov ‘ctlerada, a outros expagos-tempos. Como a malor pate das nogées fundameniais (Sendo todas) que server de alcere & nossa concep- so do mundo « da vide, o eu dein totalmente de parecer um valor Simples fixo; transforma-se, evidentemente, auma realidade com- lesa ¢ Hplatva, uma varivel Bem antes do cinema, sabiase que todas as efulas do corpo Inumano so renovadas quake que ifciamente em alguns anes, mas persisia-se em acredtar comumente que esta colin regenecava um polipo sempre idéatico asi propo, cja natureza psguica fora estar beecida, do mesma modo que 0 tipo espectio, como una e ind sivel de'uma vez por todas, Cada um sabia também que pia ser ‘onsiderado belo, bom € inteHgente por seus amigos, fei, mau € bobo por seus inimiges, mas cada um maninha a opinio mais ou ‘menos favordvel que tnha de si mesmo apesar dessis contradig6es, Tidas como ertos de ordem subjetiva. 301 (Ora, cis aqui uma méquina a cujos retados nio se ouse atibuir ainda neahuma subjetividade ¢ que, alii, paoce fazer ence lentes reiratos. De modo surpreendente, esta mecinica,cuje engre- fagem dominamos e que parece mio poder disimalar nem a malica, ‘em 0 rs, reproduz, de um homem, wma imagem que ele juts ser 4e outro; ou que, em todo cao, ele jura nfo ser a sua imagem fel ‘Ao hsitar entre 0s dois revaios, ¢ aa medida em que se supe | subjetvidade como uma abundante fonte de eros, devese dat ‘maior erito 4 imagem mecinica do que & represenacio. psiguca ‘que © svjeito tem de si mesma. Mas esta verdade fotoquinica € Ah nlp, Jo soldmente falda cm son velba ade préica ¢ anigarespetabldale. que precem lables. Ener frame cites que Govdam dost Go leno ou da province hte, = né'meamo quae dey tas foo mundo acesta com uma fe que depen tare: — que quem pe, exe, Gye sma ¢ inv she enidacia € ivi, gue tan Shs so gna por sn clsto de cata» ell, todos oF fentenss se sucdon segundo les gras A meinen om Shin a verddea rly catia — & univeralmene amide ‘Mf mundo chuliada, i perthemos gue se tata de wel {io desde o momenta en que To proso secoeese que a geomet a. ensadaeveetada tnt ou a do gue 0 Cacao, repos find em dein sobre im dogma std, um pro mio: 4 ex tdci de pls, 305 ‘Talvez Descartes tenha sido apenas wm desses doutoes que codiicaram o culto da raz80, mas seu nome fornou-se 0 simbolo de ‘oda 2 metaftica racionalist,eujor prncpios esto resumidoe 20 rméiodo e andlse cartesianos. Todo homem, de um extremo 20 ‘outro dos valores intlectuais, quando fla ou esereve, ordena o peas samento de acordo com ests rgras. Sem elas, ot sibion no teria consiuide nada do edifeio de sua file veriginoss, Do fretito 20 académien, somos todos tio profunda e naturalmente cartesianos que mal temos consetncia de sé. E somente quando precisemos stanciar-nos desse hbito — por pouco tempo © por intermiéncia ‘= que essa forga parece © exige uma contaviolénss. Assim, so- ros levadas # considerar of slstemas nfo cartesiance ci esboqo, ‘como anticartesianos. No entanto, Riemana, Einstein, de Broglie hltrapasaram Eucldes, Newion, Fresnel sem anvlar a obra desis ‘timos, apenas parindo delas ¢ englobando-as em concepsGes mais semis." Sem Eucldes, Newion e Fresnel, a evolucio sempre s0- maléria do conhecimento nlo teria conseguido chegar is geometas transeucidianas is mecdnicas transoewtianas, 4 dics teasfresneian. Se 0 racionalismo cartesiano nos conduzi além dele proprio, ele fo} 1 6 um gua cujaimportincia se mede pela difeuldade que o espiito Sente 20 tentar relegi-lo, 28 vezes, & fungio de sistema particular, inluido numa generalidade msis ampla, menos raional quando n80, fnraionl, menos detemminada seni indeteminada, Reforma extn {que assume ares de escindslo ¢ que taver nunca atngise a mente lidade do grande pblico sem a propaganda discret, mas tenaz € infinitamente divulgads, deste insiromesta de represenaglo tent ‘aresana que €essencialmenteo cinema 4) PORSIA E MORAL DOS “GANGSTERS” * © cinema, através da revelagio de incontivels varantes por ele intoducdas na expressio de uma personalidad, opera uma espe cle de imitapio da psicandlse que pode ajudar a despstar © veneer ‘um reealqve. Bis & razio desta sutda tepugaincia em se deixar ‘inematografar que experimentem mites pesosas — justamente ‘mais interesantes — que parecem pressenir que & abjetiva & capez de descobrir nelas um Segredo bem guardado, sem o qual creditam + ‘Capo reproduio interment 306 na aon RN ‘lo poder mais viver, Esta recusa em se reconhecerem diferente do ie gostariam © do que acreditam ser bem comm no idoso © 20 fio — que evitam 0 que pode lembrilos da idade ou da deformi- dade na qual els evitam pensar, aparece em todos os eulpados, tanto nos que Sabem como nos que ignaram o que tm para ser eiicado (Ora, ninguém tem tants escrupulos que nfo posta sentir-se crimi- oso ou corrupo,seja por ago ou por intenglo, por veeidade oa sonno. No plano social, essa agressto individual das mentalidades forresponde a um regine da alma coletva que consul também as pscosts,psicoseseoletvas, sobre as quai @ cinema pode exereer uma ‘asio calmante,Iibertadora, teapéutica. Em eral, o grav de uma ciilizcto se mede na proporcio| dicta das represses que a sociedade impoe 20 indvidvo, "Os c6ai- 10s € 06 costumes feiam, canalizam, sufocam, obrigam a sublimar eras aspiragies © instintos em fungio das necesdades da comuni- nidade,considerades soperiores bx individu, Ext adaptagio, mais ‘ou menos penosa, do homem 2 vida social ndo ocorre sem reclques lmpereitos em grande némero de consciéncas que, em decorréacia dito, fleam perturbadss. Acumolando-e na alma’ du masta, cscs residuos formam as neuroses ou picoses coletivas que expressam 1 média dos recalques de cada um, sendo que a psicose do pecado ‘original alvez sea o exemplo mais ‘pico, Sob a luz de uma pica- rflse da moral social, descobrimos razdes mentais, corliias das raa6es habitualmente alegadas — e que so tio valdas quanto estas, nas guerras, nas religbes, nas ondas de eximinalidade, nae doutr= nas econdmica, nos sistemas politicos e-em todos or acontecimentos istricos. Sabesse que © homem consegue suportar exes recalgues ¢ s8- tisfazer em parte suas tendéncas reprimidas através do sonho, do evaneio ow de qualquer outra espicie de flcsio. E, no minino, injuso, que a repibica — e fo apenas aquela de Patio — con ‘eda tio pouco espag, tio pouca estima e apoio aos poeta e outros artistas, A poesia © arte em geral slo extremamente iis 8 so- ciedade, pois favorecem a concretizasio inocente de anscos cuja realizagio mais exterior seria proibida como contritin a ordem, sey anielos, no enlanto, se totalmente inatsetos,condiiam futtas desordens, interiors desta eis, «nem por iso deixariam de ‘manifstarse finalmente, destrindo » harmonia da vida pablica. A ane, 4 poesia sfo processos de sublimacko © Uberti, individuals 307 iniitmente, mas organiza para ume atuasuo coletiva sob a forms 4e especuleseuj efet, no decorrer da histria, vem senda usado como remedio part o descontentamento © 8 agitasio populares ‘On, jé fot visto que, dente todas as artes de espeticulo, den- tne todos os melos de expresio, 0 que mais se prsta 4 vulgarzagio € cinema, O filme se pauta por uma elogiéncia simples, © sentimental que emociona dletamente e est perfetamente apo 4 tocar # alma de uma mutdlo ¢ a atuar sobre um problema mental ‘omam a todo grupo humano. Constatamos também que o filme € um discurso visual, etetemente relacionado com 0 sonho ¢ im Gerivativa natural de oda tondéncie reprimida, Além isso, a8 con- sige habitus em que se processa 4 projegio dos filmes concorrem para apontar a semeclhanca entre a Imagens oniicas © as da tel, Iméves, semados comodamente, relaxadoe na penumbra protelora que os envolve, os erpeciadores abundosamse a ume erpéce de Tetargia, que os lbera do mundo cotidano exterior, 4 hipnore exer. ida por um tnico panto de luz « pelos rutdos que vém d imagem animada. Racieinam pouco ¢ eriicam menos ainda; im apenas 8 constigncia de que continuum a pensar; vivem um sonbo pré fabricado, que Ties é oferecido, uma poesia da qual tr quartet jé so imaginados e que hes é dada de modo 4 absorver e colocar em ‘so uma reserva de emoséo A busca de consumo. Assim, tudo 56 conjugn para fazer do espetéculo cinemstogitico o melhor adjuvante ‘do devanei, o melhor sucedneo do sonko euj Fungo liberadora é transposta © moliplicada a escala de uma necessdade coletive. de ‘uma obra de utidade © salubridade publics Ente os transformisas seus adverstiosdiacute-semmito saber quem cra quem — se o Srp ov sia fangfo, —Sio os neurénion do nivel do quar ventriculo que provocaram a faculdade de sonar, sivagar, poetizar ou ¢ 0 execiio do sono © da poesia que formou esse centro cerebral? Foi o intrumento cinematogrifico que ctiow uma nova espécie de criagio poétca com imagens, ou fol a neces sidade dessa eringGo que fez surgir 0 instrumento? Por que supor © procurar ums prioridade da fungio sobre 0 érgfo ou do Srp Sobre a funsio, quando tudo faz crer numa convergénca sem pre cxdentes. [Nossa ciilizapdo ocidental exige, em seu estigho stual, uma extravisio do espiito ¢ um raconalsmo que tém 0 sonho” como uma inutidade perigosa & a poesia como um luxo iteramente des 308 tate tinado & severidade das Isis suntuoses. No meio de suas jovens pata, os pedagogos persequem essa faculdades hersicas; “Fulano, ‘oo! esti sonhando! esti no mundo da lua! Mas codomas no faem assidas do céu cm boca abertal™ Ea cranga que, apesar esses apelos 3 razio, continua a deixar corzer soto 0 pensamento, & suspeita de se entepar as tentagbes, pois sabese que © Diabo introduz-se facimente nos devancios para poder conduzios a seu ‘modo. No entanto, sia caga 2 fantasia também oferece peg, [porque o exercicio do sonho ¢ da poesia € um fator de hig men Tal, indispensivel ao equilibria pskquico. Nao que o homem poss, através da educasio consiente, perder o hibito de somhar durante f sono. Mas nio ¢ de todo isso, o fato de que quanto mais noe imteressamos pelos sonhos, mais teniamos nos lembrar dees € mals Soahamos, Quanto 20 devaneio e & potsa, sibendo-e que ees ependem de uma dlsposgio inata, é evidente que podem ser de- seavolvidos ow reprimidos,voluntariamente Hoe como antes, temos poetas que desempenham o papel de terapeutas espiituas. © grande pablico, porém, ache-se afsstado dds poesia, leva uma vida cada vex mais mecanizada, regslamentad, pedonizada por uma economia sempre mais dirigidae racionalizada, Nos temos, € verdade, um Aragon, um Eluard que, como reacko, produzem uma poesia muito sutl e excesivamente podica, para U0 de um reduzido nimero de especilstas: mas, nlo temos mals poets populares, um Vitor Hugo, wip Lamartine, nem mesmo um Laprede 0 um Delavigne cuja obra a Imprense Nacional espere edit. ‘Temos um sem-nimero de insrumestos que, de preferéacia ov ex closivamente, multplicam nosso poder de abstr, racioeinar, mate Imatizar; cenienas de process mesanogriicos que, Bem ow mal, divulgam o pensamento atculado lopiamente; méquinas de calcular, ‘que fazem contas mais ripido que 0 eérebro apuelhos para ana: liar, esquematizar © medi tudo, para tudo teduzir a figurts geome treas e nimers. Se alguns deses aparelhos conseguem por ventura sjudar-nos a sonkar, a fazer arte ¢ poesia € apenas por desvio do so # que se dextnam normalmente. Em contrapartiga, a instr rmentalizagdo que podemos considerar como divta e principalmente estnada a expressio da seasibilidade, &criagio artistic, conta ape fas com dois tpos de spareho: os que servem para fotogafar © aqueles usados na gravagdo ou reprodugio mecca da mista, 309 Predute do crazamento ents 0 apart ftogifco © lane ten mig, o nuna supa sem gue subsemos anh no que le oder ser uzado.” Nos pimcvos mes, porém, raliados por nso onto da masa present cafusamente as posbliades Sxtvardinaias a iagemaimada como agente de expresso ¢ {Tanmisor de um modo de pensar sae, muito prio da rea dade seme, etemamentefocantee maraviRosamenie apo a ei Mter un forma de posi aces oon A mde de fabricar Scans em sce —insguina de qo «cvs neestava urenie+ treme para combaero excess de radonazaio — vio, ela prop Serecerse ao publi, que 6 perstbeu que eva b procure det Stscobeta_po momfo oh giv een descoberta scones. Nem Sempre eaconcamor o que bscamon. Ms, lgumas ees, deseo Times que buscivanos istemene o|gie sebumes de nsonras © ve expla o lado mseriono do etrondoso.suceso. Jo eps Selo cnematoptico nese dtino quarto de seulo € que grande parte da humunkade, que cova oso de car sem potas © sm oss, de desprendcr a sonbat, de nfo mais poder svbimar saat TSpvojes rcalcadas,tenba comegado a usar t abuser do cinema tho tremedicamens, como praze-alvla de cape Sob esse dngulo, convém conigir 0 julgamento de norividede que fteqlentemente atibuimos a alguns fines a todo um género Ge ficgdo que retata complacentemente a vida mais aventurosa, mais spaixonada ¢ sté mesmo a mais criminosa, Com base nesst spa ‘Hocia de imoralidade, acusamos estes espeticulos¢ livros de incita fem os homens a se enlegarem aos seus impulsos, a se revoltarem ‘contra qualquer Je, a s6 trem por ideal satsfago dos seus ins- tintos, "Tal censura ndo carce de verdade, mas nfo & repeesenta por intro Em nosis ciilizeSo, as represses soci, inimeras ¢ tirdnicas, permitem 20 individuo realizar apenas uma parte, cada vez maby Eanalizads, de suas aspiragbes pesoais. O proprio poder pabico rio consegue mais se encontrar 0 labtinto das medidas de ordem por ele extabelecidas, «que fazem com que tudo parecaproibido, que ingném possa viver hoje em dia sem infingr esa ou aquela ei Sob ese aspeto groteco da quosfo, permanece o drama da al cada vez mais atormestada por tendéocias condeniveis que resister epresio ¢ que ameacam avangat 0 sital ou criar um estado men 310 tal nitdamente patolgico. Para escapar A newrose que o espreita ov que ji esti instalada ele, para descarepar seu potencal de instintosinstisfeitos,o esplrito pode escoler apenas uma dentre a8 tots opptes apresentadas: ceder completamente, dexando que 0 at0 probido se cumpra na realidade exterior, socialmente perigoa; ceder pela metade © orientar 0 desejo para um similar de realizagio inte- flor e psiguica, socialmente indferente; trapacear totalmente, des- Pista, Yencer a necessdade, de modo que ela posta ser satselta ‘numa’ obra, também exterior, mas Gl & Sociedade, Do ponto de vista moral, a tereirasolugdo ¢ evidentemente prefervel, mas exi (qualidaes individais de ciatvidede e circunstincias que, na msioria os casos, so dices de ser conjugadas. A. segunda solugio, mais ici, & em geral mais adoteda, sendo de grande auxio na mans tengio do equirio mental no meio cviizado. Necesta apenas de sinagdo s6 consegue preencher razoaveimente 1 realidade exterior Sepois de ter sido despertada, cstimulads,alimentads, vvilicada por ‘uma contrbuigao nova de representagdes vindss de fora: da reali= ‘dade natural ou de uma realidad arificialmente combinada, como & ‘0 caso do jomml, ivr, quadro ou espeicul, De todos esses superlimentos ofetecidos & imaginagio, 0 mais ietemente asimilvel, mais sentimentalmenteativo, mais préximo e susctar 0 devaneio‘capuz de absorver 0 exceio. de emotvidade 0 utiliaada € aquele que o filme prope, FreqUentemente, male do que um alimentador de sonhos, 0 préprio filme € wma espécie de substtuto de sonho, e tho completo que, esitits pouco imagi- natvos e pesoals se apresiim em adot-lo como ta. Tendo em vista que as tendénciss imorls slo as que devem ser agltinadas © usadas pelo fllme-tonho, ¢ jf que a grande msiria do. piblica é ‘composta de espritos poueo capazes de transmutar suas aspzagses socials para objetivos socias,& preciso que o cinema, so quiser ‘impr seu papel moralizador, apresente também uma fore pro. porgio de obras destinadas principalmente a fixar, de modo fill © Seguro, essa veleidades daninhas, mal reprimidas, das quais os ‘expectadores devem fcat lives. Tanto quanto o vinagre ago alah ss moseas, também as imagens de ausera virtude nfo vencem of rmaus descos. B vivendo mentalmente, uma vez ou outa, mas inten- sameote, a fortes emopies de uma vida de bandido, que un homens, 30) tirade da ordem monétona de suas ocupagées cotidianss, consegve fenganar sun fome de aventaras, gitar suas tentativas de escapar A rotin, curarse de uma isatisfagso que, ora surda, ora lancinante, ‘opde-se i sua paz de esprit, [Nilo hé divida de que o exorcism 6 sempre um parente prximo o fetigo € que 0 exorista fraco ou desajeitado, a0 inves de expul- sar of deménios, of excita ¢ Hibera. Assim é que acusamos com Drazer certos filmes de desenvolver a eiminaliade no lugar de Combaté-a. Esta é provavelment, uma visso supertiial. Em pe- ‘quenss doses, visio de alguns “polcais” ou “gangsters” pode efe- tivamente excitar, em vez de_acalmar, of iasinos de desordem. Mar, no vigésino ou cingientésimo fle do género, sobrevém & saciedade, 0 desinteresse e depois 0 n0j0. As tendéacias imorais ‘entdo canstdas, esgotadas, vencdes pelo sev proprio jogo. Sabemos que uma proibigio total em geral facasa, conduzindo| 1 desordens plores que aquelas que pretendia coibir. Isto acontece porque nio se tra do comando do espirto ow do corpo uma ne essidade natural; ou s¢ leva a revola o espitto contariado ov se Consegue govern, distendé-lo, netrligto, dstaindo-o com st- tsfagdes imaginiias. Ora, a natureza humana nio é senio amor do présimo, A jugar pelo seu compertamento, 0 filo do homem fasce Iibric, lario, asaisino. Mil vezes milenar & @ heranga da emma Tata pela sobrevivencia, da longa submissio a lei do mais Torte © do mais esperto, de todas as anigas necessdades que const- tuiram e marcaram, até mesmo nossos gens, com os reflexos de animal eagador ¢ predador. Uma organizacio socal relaivamente recente nos ime recalcar esses insitos crus como obsoletos. Io 16 pode ser foto com a condicio de dear que o estégio natural frchico — sempre pronto a ressureit — vi gastar seu fogo numa “no man’s land” qualquec, que a mente sabe criar para tas fin. Pra poder realmente deixar de volar, roubar, matar, 0 homem pre cian cfetivamente de muito pouca coisa: rever ds vezes, durante alguns ‘guartoe de hor, vida de um Alla, de um Mandrin, de um Al Ca pone, Bai que exté a moral dos filmes de gangsers. Ea poesia também, Eminentes crtcos observeram que com bons sentimentos $6 se faz mé literatura, E que a esética no escapa ao principio geal a ulidade a verdadera beleza de uma méquina, evel, casa, obj 312 to ov obra esté no méximo de comodidade, na edaptacdo a0 uso ‘mais minuciosa, a0 grau de conforte mis tfinade. Ora, ume obra de arte que s6 apresenta virtades no apenas ¢ povco itl como também pergosamente prédigs, pois esbanja tendlacias que, ao invés de serem dilpidadss em contemplagio, deveriam ser expressas em ‘tos. Da mesma forma, « alma nfo sente nenbuma necesidade de ‘gucimar aspiragdes morsis que, em geal, no possi em excesso, 08 ‘gue nfo tem para esbunjar com poesia numa avidnde imaginiria de Sttituigio. E inconsequente e,talvez,perigoso, fazer arte através do bem. E iso explica porgue nfo se consogue fazt-lo. 0 bem, jovem ainda, pobre, raro, inswiiente em relagio 2 demanda, deve fer economizadg ¢ reservado para ws0 pritico. Asim ¢ que tantos ‘mes "bem pensantes” e que foram feos com a melhor das intengies, sfo um contra-senso, dsprovides de valor pottico, poueo capazes de agdo moral e, acima de tudo, chaos. 33 ‘Tradugdo de TeRESA MACHADO 2.4. Robert Desnos 4d © SONHO E 0 CINEMA* Bos accom mat mais gu gues cnr Onn fio dom Ge snare sur neh fle os al em Serum nog fe nel ge pot Atta» som Be de tae pn © le e's Ct pao cnt" fn tern unos ale Bis dr tae no era vans rts crs om ben 0 sono at's ane apes or oe et wm sin Counne gor dst saree dn ‘in dq terre © pues pn nn ss Too Nlo wt mak snide st pac ran cos ‘Shona ar§ nmi plc'mns Ge Cea ‘= ito mp on tea eet oe apo tao Cec Ghem mn wade fet Stn sont ee txts penal ow“ tome oat a cove pris dr on pep su dette soe te Aca ptm for otc as we Ss ‘pi tains ea fine: eb ao we ae = ses artigo de Robert Desot frum taser do tno Cinna (ents reds €spreseados por André Tobe). Pais Galland GH 317

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