You are on page 1of 39
INDICE Adverténcia Inieiando ‘Adestramento ¢ aprendizagem A edueagio, num contexto cultural ... Linguagem e arte © artisia © o espectador .. ‘Funcamentos da arte-etusapio A arte-educagio entre nés n n st a 7 ADVERTRNCIA Quando publique’ Fundamentos Betéticos da Eu carlo (Ra. Cortes — Autores Assooiados — Univeisida- ‘de Federal de Uberléndia), acreditet estar oferecende um terto escrito muma Haguagen simples, o todos 08 {Ie se interessam por educagdo ¢, mais particularmen- te, pela arte-adueagde, Naquete trabalho procerel sua? rte no contesto educacionai, ¢ partir de buses fo- sbjioes bastante amplas que, cro eu, devem nortear @ agio de qualquer erte-educador. Contade, ecabsi percebendo que 0 texto apresen- tava certas dificutdades para 0 altena médio de nossas Universidades, que — num fendmeno sobejamente cO- ‘nhecido em mosses tempos — atnda no se habituon a leitura mots stitemdtica, ‘Revolnt entda tentar uma pequena tintese daque- us paginas que, sendo destinada especialmente ‘cos Ingrersentes em wna universidade, puderse oferecer determmnadas tras gerats norieaderas da arte-educa- ft assim nascex este pequeno texte, Sua intengao do & portento, ser profundo ¢ conclusivo; antet, quer apenes apresenter aigumas idéias sions e alguns ‘pontos para a reflexdo, numa. ‘extrememente ‘simples, quase colequial. Sua finalidade $ rervir de ‘porto de partida pare reflerdee mais profunda:. A quem se interessar pelo aprofundemento das idéias aqui expostas, sugiro entéo a leitura daquele ‘meu primeiro trabalho, bem como a leitura dat obras citadas no longo deste texto, © Autor ENICIANDO "Todos née que passamos por uma escola tivemcs oportunidade (ou & obrigegc) de freqiteiar “in de frie", De uma ou de oulza forma, aquelas aulas esta- aun id: espremldas entre dlsciplinas que em geral era consideradas “mais sérias', ou “mais importantes", para a nossa vida futura. ra preciso saber os teoremas {e cor, os made dos rerbos, a Jocalizagéo ca Patagonis, ‘data da Let do Ventre Livre e o que significava sistole diastole, se cuiséssemos seguir adlante. Seguir adian- te: cursar 0 2° grau, um bom eursinho e entrar numa luniversidade. Na universidade finalmente aprenderia- ‘os @ ser cidedao respeitivel, um profissimal, que ao roeebor 0 diploma daria o dtimo pass no aprendtando da seriedade, Devolvidos & soctedade seriamos ento trutadas por ‘doutor” ¢ seriamos fellzes. trabalhando ‘ariamente a favor de nosso progressn e do desenvolvi- mento da nagio, Nonse ponto & pusaivel que ne recorddasomos de soases priniciroe ance de escola e — quem sabe? — Jaquelas “aulas de arte” Com um sorriso nox bios lembrarfamos toda a “vagunca’” que fasiamos em. sais sulla, J que o professor era sempre mals tolerante (ow ‘nis “bobo, somo pensivames). Lembrariamos tam em que as vezes era uma “vurtipio” jogar tinta sobre 6 papel desordenadamente, afirmando que aquilo era varte moderna”, ou ainda serrar, ixar, envernizar ontar nossos porta-copas e bandejas; ¢ mesmo desa- finar propositalmente durante a execugio dos hinos patriog, na aula de miisien, uw De eras essas lembrangas ¢ provivel que chegis- femos 4 uma concluséo: as aulas de arte servian: testo 6 pra se divertr, pera aliviar a tensto provoesd Dor tocos aqueles crtras professores sizulos ¢ suas ex féneias interminaveis. Hoje, como médicos, engenkel- tos, rsie6logos ou ermomistas, nao veriamas nenkuma ‘utlidade” naquoles atividades, além de diverséo, Ja- ‘mais equelas aulas poceriam ter cumprido outra fina- lidade, jamais elas poderiam fazer de nés um “doutor” nals eficiente. Mos, seré que néo poderlam mesmo? Seré que 3 arte, na vida do homem, nao 4 algo mais do que simples Inzar (se bom que o lazer 6 importantissimo) ? Seri que, expremida entre 2s disciplinas “sérias" as aulas de arte ‘ko extariam jogadas a segundo ou torediro planos pole rriprio sistema educneianal? Seré que no haveria uma forma de a are contriburr mais efetivamente (ara « nosso desensalvizsento? Para tontar responder a estas (#. algsemas otras) ‘questos este livre fo eserlto, B a reepoetas a tals quoe- ‘Ser devers, necessariamente, pascur por um sonflito Irisico om nossa atual eivilisagio: aqusle entre o “ORY” © 0 % I". Bim geral as coleas tela, “ade iat", sio aquelas que identificamas como magantes, ‘trabathosas; em ouires termos: slo as obrigagies que temos de cumprir, mals ou mends a contragosio, © Que nos permitea: sobreviver nus selves de conereto © ago de nossas cldades, J as agradévels, prazerosas, ‘slo aquelas reservadas as nosses férias e feriados, isto 6 as que guardamos para asufruir ape terem sido ‘cumpriaas as nosias macantes cbrigagées. Neste segun- do grupo, além de ontras atividades, esto: a nossa ida ‘a nema, a um concerto, o diseo que oavimos, o quadro {he genhames e que passamos algum tempo & contem- 2 plas, Hin suis: a arte 6 ums cas atividades prazero- Sas deste mando (pelo menos para o espectador) sta diviaio enize 0 iil e o agradivel, eontudo, ‘do pata ai, nas atividades que exercemos, Ela acaba 4 refletinds em nossa propria onganzagéo interior, Mental Assim é que, por exigénciss de nossa eivilian- (980, devemos separar nossos sentimentes + emogSes de ‘nosso raciocinio e intelecgio. Ha lois e alividades onde devers ser “racionals” apenas, deixando do lado ‘as emocdes. Jé em outros, podemos sentir e menifestar dor, prazer, amor, slegrias, tristonas, ote, Hatamon divi iidos ¢ conipartimentados num mundo eltamente cqye- ‘laliado, e, se quisermos sleangar 0 “aucesso", deveros manter esta compartimentoga, Por iuoo nossa escolas Iniclam-os, desde cedo, na Venice do csyuartejamento mental, Ali devemoe ger ‘spenas um humem pensante. As emogoes dever fica: fora das quatiy paredes dss salas de aia, « fim de nao Strapalharem nosso desenvolvimento intelectual. ‘Os ‘Teeteios” e as “sulas de arte” sip os inioes mementos ande a estruture escolar permite alguma fluéneia de ‘osaus sentimentos e emoyoes. E hi jeito de sor dite sente? ‘Talves baja, Talver as emcees nio atrapalhem — como usualmente se aeredita — nosso desenvolvimento intelectual. Pode ser até que ambos — raaio 0 emoyae — se completem e se desenvolmam mutuamente, diale- ticarente Fol penaando ¢ aereditando nisio que alguns estu- loses propuseram uma educagio baseada, fundamen ftalmente, muquilo que seutimoe. Uma educagio que artiese da expressio de sentimentos © amogees, Uma ‘etucapdo otravds da arte, ‘Esta expresso — educapio através da arte —, eria- a por Herbert ead em 104%, se popularizou e chegau 1B até née. Posteriormente fol abrevieds « simplificaia para: arte-eluonedo, mas seu espirito original ainda continus vivo. & preciso diximir dividas desde Ja: arte~ fetueasio nfo significa 6 treino para slgném se ternar tum artists, néo significa a aprendisagern de uma. tée- pea, num dado ramo das aries. Antes, quer significar tuma edieagéo que tenka a arte como uma das suas principals alladas, Uma edveagdo que permite uma ‘naior eensibilidade para com o mundo em volta de cada, sum de née ‘Agui no Brasil este termo arte-educapdo vem seno ‘bastante empregado— pelo menos verbalmente — apis © advenio da conhecida Let 5.632/71. Lel esta que, em A911, pretendeu “modernizar” nossa estrutura ecuca- onal, firando suas diretries «bases. Al. no texto da Lei se reservava (timidamente) algumas poucas horas 6o curticulo (em geral cuss, por semana) para a arte. E partir de en:ao multiolicaram-se os cursos supe- lores para a formacio do arte-educador. Preterdeu- assim, que aquilo que i4 existia nos curriculos, de ‘quase empiriea — as “aulas de arte”” —, se sste- msde e tivesse ta fundamentacio tebrica e filo sifiea Se isto fei conseuido, se a arte passou real- mente & oeupar um lugar mais mobre na estrutura colar, 6 um asninto para diseutirmas mais ediance, no final deste trabalho, Por ora, basta que s* asinale ‘ete ponte do releve ofielal para a exprescio arte.edhi- eagio: rus inciusio na legisingdo osecla, Para que possames analisar adequadamente, atin~ ‘indo o cerne do pensamento que fundamenta a arie- ‘edueseio, ser nacessirio decompor o terme em seus ‘elementos canstituintes Vamos parti-lo em: arte © ducepfo, buscando elarticar o que é, isoladamente, a fducopdo e « arte, Nessa busca, certamente, encontra- emos 2 converginsia de uma série de elementos da + arte e da edusasio parm um ponto comum: a crag de um sentido para as nessas vidas, ‘Como toda adueneio te fundamenta mum process ‘iwico do ter humano, ord por ele que iniciaremos este rneseo caminko: ¢ processe da aprendizgen. Como ‘aprendamos? © que aprendemos? Pare que sprende- moe? ‘Teés qusstdes que alleerpam todo 0 edifisic edu. ‘cecionel, ou melhor, todo ¢ edificio de vida humana cconstrufda aeite mundo, CGomecernas por al ADESTRAMENTO E APRENDIZAGEM Quase tados J ouviram falar que alguns peislogor se ulilizara de ratos em seus experimentos. Os rerulta- os de tais experimentos, em eral, sf0 generalizades ¢ textrapoludos para o homem: eles créers que entre ratos © homens @ clferenca seja mulio pequena; de ymu, omente, ApeSAE de algmas pessuas que conteceinos redlmente se aproximarem bastante dos ratos, anda as \ferengas sio enormes. Porém, um Pequeno e modelar fexperimento com estes roedores pode nos auxiliar © servir de ponto de partide. Deixando tum rato sem beber durante 2 horas @ calocando-o depois numa zniols spropriada (conkecida come ‘eaixa de Skinner"), ele certemente viri a ‘aprender’ um novo camportamento. Nesta gaiola siate uma poquena alaranca que, quando pressionada, fornece ume gota de agua. Apolando-se na alavanca ® recebendo a Agu, logo o animal eotabslece a. ligago cnlre uma coisa e outra © pasa a acionar o mecanismo ‘propositalmente”, para saciar a sua sede. Vamos dizer, no, que 0 zat “aprendeu” (entre amps) a presse: har s' barra; ele aaqulziu win novo comportamento, fundamental deste experimento § que 0 animal 36 “aprenden” este novo eomportamento porque ele 0 fauxilla a resolver um problema crucial: @ sua sobre- vieéneia, Pressionando a barra ele impede a propria, ‘morte: sobrevivel. 0 rato nao poderia ser “treinado” — ‘0 experimento no se realizaria — st ele néo estivesse necessitando da Agua 7 Dai podermos deduzir que o comportamento ani- ‘mal procura sempre resolver este imperativo basico, que é man‘er a vide, O anireal se aaptz a seu meio famblente ¢ all pode vir a desenvolver algumas habil- dades, se estas o auxlliarem na tarefa de sobreviver. Ursos “eprendem" a andar de bicitleta, elefantes = “plantar benaneira””¢ eaes a jogar bola, pois Gependem de tais atividades para receber comila de seu treina= dor. este 0 motor da “apronitizagem” no mundo ani- ‘mal: garantir a vida, © sobrevivinsia, Porém, este modelo de “aprondizagem" néo pode ser inlegralmente aplicado m seres hnarmanos. Nés poo ‘sulmos Umma dimensio @ mais em relogo ao animal, ‘que transforma rudisalmente a vida meraimente bib\é- wea em algo qualitazwmenente diferente. Este clmen- ‘So € a dimensco simbotica do munco Rumano: a pe- dvr, ‘través éa palayre 0 homem se “esprendeu" de (transeendeu) seu corpo fico. © mundo animal é ‘aquilo que seus sentidos Ihe permitem: 0 que ele vé, ‘uve, cheim e tora, JA @ mundo humano vai além, ‘muito além, éaguilo que exists & nossa volta, ncexsivel ‘a nauens sontidoa R vat além através dos simbolos, de pPllavra. Quando digo *Antirtide”, por exemplo, a pe- Taya me tras & conselénela uma reglio do planeia que no esid agora ao sleance de meus sentidos. Posso seber esta regido gelada sem jarsais ter eatedo Is. Pooco ‘conhecé-la através ce um eimbolo, de tama palavra. que a representa, ‘Um outro exemplo: posto pensar no que fiz oniem fe planejar o que farel amanna. ‘Tenho consciéncia do ‘tempo: ce um passado, um presenta ¢ um futuro. Isto é possivel pela pulavra, que me represents o ontem, 0 hoje e o amanbi. Enquanto o animal s6 possui o sex presente; esti sderido a um hoje eterno. 8 Podemos eoneluir enti que o homer néo esth preso 2 52 corpo & a seu presente como esti animal, mas ‘tem consciénci de outras dimensbes ¢ ée outros tem- ‘pos. A conscérela humana é, desta forma, produto de ‘sua capacidade simbélica, produto de sua palavra. O ‘ue faz do homem uma vida qualitativamente diferen- ‘ede lodas as demas formas de vida. O set humano tem ‘uma conseiéncie reflerioa, isto €, pode pensar em ai préprio, pede tomar-se com objeto de sou pensamento, Pensamento este que ved gragas & palaces, Linhas tts dissemos que © animal se adapta a seu melo amblente, Tncapts de transfoninielo de mae nelra ordeaada, planejaca, ele deve sempre se adaptar fs carcunstaneias, asenvolvendo etiridades que 0 suxt- ler sobreviver aqut e agora. Mas o homert-néo. No ‘2 adapta simplesmente 2 um meio, e sim procura trans- formé-lo, modilic-lo, construi-lo. Fax com que 0 meio ‘ adapie a ele O homem conséréi o mundo. Impeime lum sentido ais suas ag6es. Visa o futuro: piane)a, pen- ‘mi, ¢ entio age, construindo o que imaginou. Este é 0 mundo humano: um murdo que suplaata a simples imensio fisiea, que existe também enquanto possibi- dade; que existe como um vir-a-ser. Em summa: um ‘mundo também simbélico, Esta € entio w radical diferenga entre homem € animal: a consciéncia reflexiva, simbilica 4 palayra 0 prlmelro elemento transformador do mundo de que ‘se vale o wer Human, Por ela o mundo 6 ordexudo aun ‘uo signuticative, Com a palavra o homem organics (¢ real, atriboinds-lne significedcs, ‘Toda a massa de sensasoes © percepcoes ¢ ‘iltrada pela linguagem nu- mana ¢ recete uma significagio. Vejo uma forma ‘dfusa em meio & neblina; néo sei o que & apenas algo vyago, sem sentido. Alguém me diz “aquilo € uma at~ vore™, Imediatamente a forma ganha um seutido, ura significado. Integra-se no meu mundo conhecido. Agora sel o que 6 aqullo, mesmo sem pervedé-lo clara menie. Tem um nome: arvere, Pelo nome adquiriu significacdo, pastou a fazer parte de minha estrutura ‘coneeitial Ou entdo este objeto i minha trenie, Nao set o que 6, no sel ce ous utilidade, nunca 0 vi antes. Al- guim me informa, ‘isto ¢ um grartpeador — com ele odemos prender juntas algumas follus de papel”. Se de agora em diante me falarem de um grampeadcr, ‘saberei do que se trata, Meu mundo s ampliot. Nele Ccoube mais um nome, mais um objeto signiticativo. O grampeador — 0 objeto ¢ & palavra que o representa, ~ passou a fazer parte do mou mundo. ‘© mundo que constraimos tem o carter de um todo unitieada, ordensde. Hevitamnt 0 nos, a desor- dem. Vamos relacionanda as evertos, 08 abjetce 6 a8 nossas parcepgées numa estrutura organizada. Hela- ‘elonaros tudo numa sstrutura eignificativa, que nos permite dizcr como o mundo é. B tal catrutura signi ficativa nos é dada pela linguagem, Merleau-Ponty, ur fil6scfo frances, fala do com- portamento humano caro um comportamento stmubi- lieo, O aniraal reage aos estimulos fisicos de seu melo. (© homem age, em funeic dos significados que ele fmprime a realidade. Age segundo & significagio que sua lnguager permite Antericrmente afirmou-se que o motor de ativida- de animal era 2 sia sobrovivénoie: sua adaptagio 20 meio ¢ 0 cecenvolvimento de noter comportamentos ‘buscar o fim titi de se manter vivo, Tsto também é verdade para o homom, se bem que verdade apenas Dpurclulmente. Forqus, se tcublhamas sempre para a fossa sobrevivéneia, essa sobrevivineia ro tein a ver somente com a manutengio da vids biologica. Tem a 20 ncipalmente, com e manutengio do significa do, do sentido da vida. Buscames néo apenss manter a vida (biolégiea), mas fundamentalmente a sua ece- réneia — a coeréncia. num mundo simbilico. ‘A vida tem que fazar sentido, ‘Temos de possuir nneasos valorer, sonhos ¢ desis, em fungao dos queis nos manteremos vivos. Comprar ume ¢asa, escrovor tum livre, née rouber, ser honesto, enor, eGo alguns ddesses valores ue mati: as pessoas existindo. Tais velores — jals signltleagées — chogem a ser, no mun~ do dos homens, até mais importantes ques propria vida Serd esta uma afirmago paradoxal’ Ao, se pen= sarmos no caso extremo do sticida, Mutitas veues sum estrutura fisica, vital, se encontra perfetia, Mas ele se mala K se mata porque sua existéncia perdew a significagio, deixou de fazer sentido, (Albert Camus, outro filosofo francés, dinia que & tinica questéo filo- sétiea realmente importante ere o saicicio). ‘Ou endo pensemes no guerniineira: ele também fentzoga a vida para que um ideal cortinus aiatindo, ;para que o mundo um dia sqja melhor — mesmo que ‘ls nao mais esteja neste mundo. (Ne momento em que cecrevo eatas inhss ¢ anunciada a morte do 10° prisio neiro politico do TRA, na Trlanda, dovide a greve de ome, Dor eles mantida) Assim, a vida humana nio é apenas vida (tisea), ‘mas eristéncia, ou seja, ccmporia um sentido. H este sentido sao as palavras que nos dao, A linguagem — através dela os valores, os significados — fundamenta eestrutura nosia existincla nesta terra. Portanta, tide am notso mundo possul um valor eum nome, Os significador advém fundamentalmente doo simbolse, das palavraa, doa nomea. “No principio cera a Palavra”, segundo o dizer biblice. Bstamos cons- tantemente buscando significagies para as mosses 2 experidneias Bsiamos consiantemente nomeando-as compargndo-as, tentando explicé-las.F isto através dos iuiboles, da palavr. "Vood nie imagina o que é andar faa montanba-rusea”, dizemos a um amigo que nunea foi ao parque ce diversées. “£ como eta: num ciclone voce rodople, set cetbnrago sobe, deseo; 1a nogio de agar, de espuge, fica perdide” — procaramos explicar- he © que estainos fazendo? Tentando dar wm signifi ao, um sentido para aquela experléncia, ao traduck a em palavras Nossas experiéncias vividas sio sempre seguidas de simbeizagSes, que permitem explieiti-las (& nis mes- mes), Gendlin, wm psieGlogo norte-amerieano, afirms ‘que toda signifieagéo tem dois eampenentes: as expe- réneias e os simbolos, Isto &: tuto 0 que experiencia ‘mos, procramos nomear, expliciiar simbolicamente: € ‘invertaments, odas o¢ novos conceito: que alguirimos, ‘nds 0 compreendemos por rejerineta d-noszas experiin- aa enteriores, Rxpliguemos molnor esta afimagto. (© exemple seims, da montanta-russ, we refete A primeira parte de nossa aiirmagdo: vivemos uma expe rgnela, sentimos 0 que é andar naquele brinquedo e, depois, tentamos dar um sentito a esta nove vivencis. Procuramos torné-la inteligivel, explicitivel, através dos sfmbolos yexbais (palavras). Dizemos ent nossa sentagd fol a de “stax nurn eelone”, que “per- demos & noeio de espaco”, que “nosso estémago parece subir e daseer’, ets. Ou seja: procuramos nomear © ‘comparar a expeciéncia eom outras (ester num cielone, Por exemple) ‘Agora @ soganda parte da assertive: todos os no- vos eonceites gun aprendemas, née os compreendemos por refertncia te aossas experiéncias anteriores. Veja ‘uma miquina que ao couhego, e sou informada de que te trate de sama “gutlnotina”, utiwada para cortar pa~ 2 pis Hste novo conceito, “gulthotina”, eu s6 compreea~ do por jé saber o que & papel e o que é 0 ato de corter. Ista é: nova caneeito “se prende’ As experiéncias ante- ores qua é Hive, com papéis 2 com o alo de cortar, Um. novo simbolo, ums nova palayra, um novo eanceito, somente & compreendido tomando-se por base noses vivéneias antariorse Este € entio 0 mecanismo do conbecimento ha- ‘mano: um jogo (dizlético) entre o que é sentido (viri- Wo) © o que & simeboluado (transformado em palavras 4 outros simboles) De ceria foctna, este & 0 Jogo entze 0 sentir € 0 pen- var, Jd que o pensanento sempre te d& atrarés de pala- eas, Um Jogo em que estamos mergulhados desde que adquirimos @ (ula, em nossa invancia, ‘Vamos retcrnar enti & questo da aprendizagem. © ratinho do primeiro exemplo, nés dissemcs que ele “apeenden” (entre aspas) a pressionar a barm para rseeber Agus, Na reskidade, seria melhor dizer que ele foi adoetrado, os treinado, ox condioionado, 1ss0 por- (g8e 0 rato néo tom a capacidads do traneforrar aquela ua experiénela num slmbdl, ito é, de extraic dela um ‘significado, Jamis cle poders “contar” (“onsizar") 8 lum companhelro seu a forma de se obter 4gua quando fnloeado naguela guldla. Sua eaperléneia no recebe ‘uma signiticagso, nio € transtormada em simbolos que 8 representem. Tnelusive, se este mesmo rato for coloeade numa outra gafola, em que a barra tenha um modelo, ume loeulimeiio @ ums cor diferentes, ele dever§ novamente ser treinado para pressionar a nova barra. Nao Fosstin- do 8 capaeldade abstrativa que ox. simboles permitem, tla no pode trausferir sia awpecidneia para um nove contento, a © que é bastante diferente da aprendizagem hu. ‘mana, no sentido forte do termo, Como nés transfor- ‘mamas nossas experiéncias em simbolos, abstraindo de- las o seu significedo, poderos agir em novas situacces e0m base om exporiéneias pessidas. Exemplifiquemos, Suponha-se que treinemo: um cio a aentarse ‘eada ver que The mostramas um cireulo recortade em ‘um cartio, Cada yex que Ihe aprovertamoe o eartio ele sa» eenta (pam reccbor um pedago de carne —concigio swaencial de qualquer (reinamento). Se, ao invés do cir- culo recaviago, née Ihe apresestarmos um cireule de- senhado nama felha de papel, ele nko main we send, ‘He fol telnado pare responder apenas ap circle ‘record, ‘Agora com uma ctlanga. Dizemos a ela que iremas Jogar tim jogo: eada vee que The mostrarmos um efreulo (ela deve saber o que & um circulo, deve ter 0 concelto) la deverd bater palmas, Podemos apresentar os mais siversos cireulas, recortades, pintades, grandes, peque- os, que fatalmente ela aplaudiré. No caso do eackorra. #e foi freinado a responder a som sina, fbn eimuavel No easo da crianga, ela apren- die 2 respandor s\n sonesito, «UM smbols A erlang abstrai 9 igniticado do conosito eo apliea a diferen- ta situagées On sofa: ela aprende tm significado. Eis ai a difeenga entre aprendizagem © adestra- mento, No adestramento hi ume tespesta fixa ® um staat, Lambéen feo, Ne aprendiaagern i a abstr 0 signiticaco que os simboios permitem. E apens 0 ‘home consiréi simboles Anteriormente foi dito agui gue o animal somente esenrolve novas comporlarientos se estes o ausiliarem xa tarefa de se manter vive. No caso hrumano, onde no 4 apenas & vida biolbgica que est envolvida, mas tam- bém o seu sentido, a sua coeréncia, esta verdade se a amplia um pouco, Nossa mente € seletiva: apenas aprendemos aquilo que peseebemos como importante Dara a nnsta ezstincia. Tudo 0 que fog> 008 nossos va- ores, tudo o que néo pereebemos como necessirio 20 nnoseo dic-a-dia, 6 esquseita. Naa é retido. Um exempio claro desta sitio sio as infindéveis “matérias” que decoramos apenas para fazer uma prova, na escola, ‘Apés a prota, o.que foi daeorado vai gradualmente de- saperecendo de nessa meméria, por nao ter Um us0 ro cectidiano. Por io tum educagio que apenas protenda trant- slr sgnlficades que esto distantes da vida conereta, dos educandes, nib produs aprendivagem alguma. # necessério ques 0s concettas (sdmbolos) estejam emt co- ‘werto com a3 experténctas dos tnstiauos. Yoltamos Assim dialética entre o sentir (vivenciar) ¢ 0 simbo~ sar, Bate € 0 ponto fundamental no métode de alfabe- ‘inago do educsdor brasileira Paulo Freire: aprende-se fa eserever quando as palavras se referem as experién- cas concretamente vivides. Aprender nia é dreorar. Aprender 6 um processo ‘que mobiliza tanto es significads, os simbelos, quanto ‘or sontimontas, as expariincias a quo eles se referer 4, decorar, 6 alge azaim come 0 que ocorre eom 0 ani: Imal: uma resposta fixa, sem eslatividade, a um esti ‘mulo fixo, A eampainha tocs, oe alunos ee sentam ¢ passam a escrover um som numero de palawras, cule significaria nko compreendem bem. Caja signage ‘el distante de sua vida colieiana. As palavras delxam de ser simboios, representando conesitos, para se tor~ dmarem quase que meres nats. Alias, sempre screditei que a escola brasileira, nos diag que correm, esta mais para uma “caira de Skin- nner” do que para um local de real aprerdizado, Esté seals para o adestramento do que para a eprendizagem. Fy Resumo das Idéias Principeis, "© animal ¢ treinadc, se adapta ao meio e responde asinais, +0 homem aprende, transforma o meio, ¢ tem um ‘comportamento simbslic, * A oonsoiinsia humana, reflexive, & fungéo dos sim ‘boles, da linguagem. * Todo provesso de comhecimento e apreadizagem hu ‘mmun0s se Gi. sobre Cols fatores: as vivenelus (0 que @ sentito) © a5 stmbolizagées (o que ¢ pensado). * A tudo o que sentimos, vivemos, procuramos dar um ‘significado, airavés dos simbolos (palarras). + Tx aovo coneto nis o aprencemos 2 partis nossas vivencias, = % A EDUCAGAO, NUM CONTEXTO CULTURAT. Foi comentado, nas paginas anteriores, que 0 slg nifieado dado pelo homem & ous exlstineia provém de lum Jogo eatce o senuir (vivenciar) © 0 simbolizar (lransformar as yivéncias em simbolos). Ou arja: 0 Imiundo humane tem na lingusgem o seu instrumento basico de ordenagio e signficaeko. Porém, tex0s que notar que & Inguagem é um fendmeno essenciximente social, produto néo ce um individuo isiado, mas de cemuhidades humanas, Desde © nosso nasciments, « forma como devemos ver e entender 9 mundo now & ensinada pelos nosses semelnantes através ca linguagem. Para a erlangs, “as eovsas Ihe vem Vestldas em nguagemt, nile em sua aides fisica; ¢ eta vestiments ce comunicagéo a torna Darticipante nas crengas dagueles que 2 todetamy ‘anota Dewey, uum edteador norte-americano, Quer ai- rer: somos educadas primordialmente através do cotigo lingiistioo da comunidade em que estamos, Somos 1e~ vados a compremdermo-nos no mundo segundo os sig- nifieados dados por este cédigo. ‘A partir dat as signiticagdes que eneontraremos ‘tra nossa vide se desenvalver em confarmigade com fa maneira de ser de nosso grupo social. Novem ainda ‘que, na realidade, nossa “postura humans” é apren~ ida, Aprenderos a ser humanos: peroeber ¢ a viven~ figr © mundo como homens, através da comumicace, Fora de um contexto social xo hi seres humanos. n Bsie faio 6 facilmente evidenciivel pelo relato de fesuudiosos 2 respeto de algumaas “erianpas-selvagen encantradas, Trata-se ce erlangas que, sendo percidas (0 abandonadas nas selvas em fenra ide, foram “ado tadas”e criadas por animals (Tarzan e Mowgli tim um func de realidade). Ao serer. encontradss, J beiranco a agolescéncia, bem pouo de humano havia nelas: andar quadripede, dentes mals desenvolvidos, gruabir uivar era auss earacteristicas, Trazidas an enna des homens. poueo consoguiram aprender ¢ logo mor reram, sueumbindo & sosledade, Klas haviam aprendico et animais,e o mundo humano hes era estranhe Tomamo-nes humanos, pertanto, em decorréacia de umn procesio educativo eujo principal veiculo & a Tinguagem. Per ele. aprendemae orfenar © mundo ‘numa estrutura signifieativa e sqhisimos as “vend des" da comunidade onde ceveremos viver."Tal pr esse efucacional primarie — aprender a ser humane = € chamado de sociaitecodo, por alguns autores. A cerianea é sccialisaga: adquite tima lingwagem «, em la, uma determinada forme ce falar pensar © agic, segundo « eallura onde est © final do perfode entorior fol grifado porave pre: ieumos rotar agora um fenémono fudanvental Dife- rentes comunidades huranas eonstituem calturas ints, isto é, manciras diversas de falar, sent, enten- der ¢ agir no mundo. Uma cullase significa wn expo bbumano que aprescnta caraeicrstices proprias em ‘suns conslrugdes © fommalagdes: possul sh determine stn pole, secmin ceo ngun rr arte, costumes, ete Cada cultura apreseata uma fotnomia particular an “jo de se" ao ue € compartilbad pelos seus membros Pode-se entéo falar no “estilo de vida do hints", ‘no “mnoto Dritanieo de sor", no “american way of Me eno “feitinko que o brasleio sempre di". Quando fa- ‘ems tas afirmagies estamos netando que individuns de diferentes culturas apresentam determinados tragos péculleres em sua forma de viver, que as diferenciam tum das eutros. Por esse motivo diese que todos nis apresentamos tuna ceterminada personulidade cultu- ‘ral, ou sela, um conjunto de tragos que so comuns & tedios c@ membres de nesso grupo cultural ‘Ami, quando somor “socialiados” — quando aprendence 4 ger humancs — estamos tambim apren- endo o extlo ds vida de neesa cownidade, Hstemos faéqulrinde noaes yervonalideds esltueal Alguns auto- ‘eo chamam este mecaniame plo qual somos iniciadas zo estilo de vide co noosa cultira de endoculturegdo. ndoculturagio 6, entho, este prooessn pelo qual todas ‘noe pattunios, “interorizando” vm eitlo cultural de ‘Nas culturas ehamadas “primitivas” — nae tnbos soafgenas, por exemplo — devemos notar que existe lu carta nyermmidade ia mnanelra de ver © mundo ‘Todas of seus menbron participa intelramente do junherso cultural, stmbitco, que constitul « enman ‘dade, Quer dleet: i um eaber eoruum a todos, que & ‘uansmaltido de gerugio a geraq Indserimingdamen~ te Todos aprencem 4 cagar, a pescar, a coustrulr suns armas, ulenallles, vesuitientas, lols aprendem seus ‘mites, crengas, costumes, etc, Todos so mesires de ledes” O saber € transintida ncistintamente, através a propria vica do cin-t-dla ‘36 em noise mundo dito “eriliaado” ses nlfor- rmidade cultural nfo existe. Dentro de uma. cultura, ‘encontramos grapis distintas, que apresentam formas Aferentes (e, as vezes, conflitantes) de viver, Sip as chamadas sub-culturas, Pedemos considersr, ‘numa ‘dada cultura, diversss maneiras de se identificar suas » sub-culturas Bor exemplo: em termot geogritioe, td. in, econémicos, ete Vejames » Brasil. Em termos geogriticos podemes considerar 0 gaicho, oearioea e o nordeatian ccma per- tenesntes a sub-cultaras diferentes; isto €: todos si Dbrasleiros (peasuem tragos comuns), mas apresentar ‘caracteristicas proprias de viver. Em ferme etdrios, po sdecfemas falar na “visto Ce mundo dos Jovens” na “dot ‘adulios", "dos velhos', ete. i em termes econdmicos — como muito bem ‘apontou Marx — dividiriamos nasa scledade em classes: alta, média e proletarisdo, sta divisto socio-eeandmica ja gercu, inclusive, ter ‘mos como: “cultura de elite” + “cultura popular” (ou ‘cultura de mastas”), Estamos fazendo esta comparagin entre ax culty. ras "primitivas" e as “civTizacas” parm que eomprem- dames melhor 9 processo sduedeiomal, que evolui desde | tranamissio dire:a do saber, entre of primitivos, até 8 criapio das escolas, entre o® civilandos Come foi agsinalado, nas culturas primitives to- on participa de sea universo de saber: 0 acesio ac conheeimenio é franqueado 4 todos; eada um tem con. sigo a heranga cultured da tribo e a transmite a8 novas igeragdes, Essa transmissdo se 4, na grande maicris, das Yezes, de manetra “informal”, isto é, no contate diério e vivenctal entre adultos e criangas. Aprende-se com a experiencia, Se recordarmos 0 que foi dito no capitulo anterior — que somente occere & aprendiza- fem quando 0s conceitos ¢ simbolos ensinados se refe Ten a experiénoias vivides — notamos que entre os rimitivos 0 proctsso de aprendizagem € fluente na- tural. “Vivendo e aprendendo”, a famosa méxitva, apli- arse perfeltamente 0 caso, Contudo, no decorrer do processo civiizatéria apo ratam-se profundas « radieais tranaformegées, 0 o- 0 ‘nhecimento fol se ampliando ¢ na soviedade ocorreram. divisGes entre grupes de individuos. Tals divisées — fundamentalmente econémices, baseadas na proprie. dade privada — implicaram tarobée numa diviado 40. ciat do saber. Havia que vo criar cepocialistas, peseoas que dominuasom um determinade amo do soahee! ‘mento (médicos, artistas, mancencires, ferrircs, ete,), ‘através do qual ganhassem & vida, A’sociedade fol 3¢ iridindo em eastas ¢ clases, © o stber sendo repartide centre elas — de ferma desigual, é claro. Neste processo surgiu ent a figurada eseala, camo um local onde sio transmitidas As novas gerapSes um ieterminado eonheeimento bisiea — 0 dominio dos simbolos grificos, primordialmente — que as habilitas- sem a melhorar sea desempenho no mercado de traba- Iho. De infeio o acesso as institwigées escolares fo bas. tante resrito as classes altas, as classes dominantes, i ue 0 trabalho exereido pelas classes subaliemnss neces sitavam apenas um “conheeimento prétieo” do oficle, Tavradores, ferreiros, marcendres, pedrelres, te, tranmitiam ciretemente a seas filhes ou aprendizes 6 aoa saber. Lore cacrever,¢ 0 eenangtiente dorainie "te6- ico" sobre © munde, era privilégio das classes. domi nantes. Obsorva-se jé neste pento a separagio entre o pensar e 0 fazer, entre aqueles que tém idéias © aqueles (ue as executes, Todavia, com a Revolugéo Industrial, fol necessério ‘que & escola oss franqueada eada ver mais também as classes subalternas. Isso porque a criagdo de téenicas mais sofisticadss de producdo industrial exigia um ‘maior conhecimento por parte dos trabalfacores, a fim de que seu desempenho se otimizasso nas induistrias [Lar 2 sscrever tornn-ae enti tim fator determinants ‘para o manasolo de méquinas mais sofisticadas e para ‘mulhor enquadramento nes medernas organieagSes. Principalmente pars a classe média. que comecave ‘ase eonstituir, oupando as posigdes intermediarias no ‘coméroio e nas atividades burocratieas, a esrola ¢ um fator bastante impcrtante em sue formasio, 'E claro que este quadro tracado noe parigrafos an. teriorce é bastante eaguerstiene simplifiesdo, pols nfo se pie pretencer lovantar aqui a histéria da educagéo ¢ Go surgumento das inaituigéee secolares. Intoress:-nos apenas verficar agora algwmaa caractecisticas prime ‘als ca escola er nossos tempos, especiaimente da esco Ia brasiietra, Bm pritneito lugar € preciso notar que noje, mals do que munea, o wlume do conhecimento nvmano ¢ enorme ¢ altamento setorializado e especialimto. Com fo advento da ciéneia, gue é bastante recente (cerca de 4390 anes), houve cue s dividir o mundo ea vida em ‘areas distinsas, paz um maior dominio ¢ um conhee- mento mais acurado, Assim é que surgifam (e @ cada dig eargem outras novas) especallaagées, como: & fogia, a fisia, a qofmiea, a economia, a sociolozia, a Daedlogia, cle A naturias, 9 homem e'a sociedade fe- Fam repartidos em fatiag, © cade especialista se 0cap3, de uma dels. 'A ciéncia toenou-se a pada funcamental no edifi- vio do save: e do agir numanos. e sobre este conbec: siento tientifleo repoasan: os nossos crlrios de “verd~ de". A verdads cientifisa ceupa hoje 0 lugar ocupsdo pela vercade teolégica na Idade Media; em geral se fecedita epenes nos fatos cientificamente comprovades, releguntdo-se outras formes do conhecimento (arte, tlo- sofia) «am plano inferior. A racionalidade, 0 “suber Sbjetivo”. tarnou-se 0 valor bésico da moderna socie- Sade ‘Nada sie natural, portanto, que as escolas 2¢ otientaasem no aentide do cenhecimento objetivo, r- ‘clonal, da vida. De certa forma, » escola ge dirige atual- ‘mente & transmnissio de conbecimentos tides como “universais’, isto é vldos para qualquer indiviéus em qualquer parte do mundo. A escola tem enmo fungio a ccomanicagéa de fécmulas cientificas que, espera-se, ha- bilitem o sujelte a conhecer zacionalmente o mundo € a nele operar prodativamente, Er corto sentido catamos vivendo uma eiviizagto racionaliste, cnde se pretende separar « rasio des aon ‘thmentos ¢ emogSes, encontrande-se na primeira o valor miximo da vida, Ocorre que esta separagio ¢ Dusiria, Como assinslamos no eapttulo anterior, € somente & Dartir das vivencins, do sentimento das situagtes, que o Densarento racional pode se dar. O pensamento Dusea, sempre transformar as experiéncias em palavras, em. simbolos que as signifiquem ¢ representer. & razso € uma operasdo posterior & vivéncia (aos sentimentos) Vivenciar (sentir) e pensar esto indissoluvelnente h- sedes, Comenta Rollo May, um psicdlogo norte-amert- cane: “Mas auryia uma nove mudanga no sfeale XIX, ‘Peioolegicamente a ‘ras’ foi soparada da ‘omogio’ « de ‘vontade’. Pera © homem de fine do abewo XX 0 principios do XX a razio zespondia a qualquer proble~ za, a forga de vontade o resolvia ¢ as emogoes... bem, ‘esis ean geral atrapalhavam e o melhor era recaledelas, Vernos entdo a razio (ransformada em raclonallzagéo infelectualista) ao servieo da compartimentaluaiyao di ersonalidade. .. Quando Spinom, no séewlo VL, em [pregou @ palavia razdo releria-se a uma atitude en relaeio Vida, na qual a mente unia as emosoes as finalidades éticas © outros aspectos do ‘homer total’. Ao Usar hoje esse termo, quase sempre se defra impli ‘ita uma eisdo da personalidade.” (O Homem é Procura de Si Mesmo. Petripolis, Voues, 1973. p. 42.) 8 ‘Asim, em nosio ambiente etcolar, esa. sparagto razipemerao € mio eb martida como estimulads Denteode-eous murus 0 alana deve penetra despiido- ferde toda equalqucr emovivdade. Bua vice suas expe- Soncina poset, to conta. El ll esté apenas para Traquirs comectnento',xendo qve "aéquini couhed smotta” ets man, eqmnifios taeesomente “devorar Grates © mais formnlas, forias © mals torts, qe- Ceulo dataates te sue vida estitlana, Pr ine, oven Sbrentagen rainstorms el: shente ae aprende quando se parte das experiences ott Tare obst es ge desenvove a aplcegan de simeoles © coneeitos que as elatique mre "is ewla,porconseguinte,incla-nos deste cedo nls séenieas do exvartejamento/mental. gepamno Fazio f entientsnTntn h ecompromnsiel segundo a égea us rege a mederna tocedade steals individ Jerem produsr, man: exquea racoralista, sem dear Se-emetéeo e valores peotoaisinierfetrem no DreseD pera cata sucidade também nfo inicrena = exsténdin de pessoas com iva vaio gera, do todo de ida Poly sono: teresa Ingviduoe com wom Vide cada yer ras sctorialimda, especaiaca, do nunc. O médica si entende de medicin, oeconorsta de eeonomi, 0 psicdlogo de psceloziae assim por an eS mi: donure da medina, por exemplo, riam-se inca mais. especiales, fraclnando 0 crpanismo amano. ocardiohgsta ré apenas 0 coraro, separi- do do ress do organism, 0 oftalmologista os ols, © deematslogiot & pele ot ‘© que acontece naz exkuras prlmitiras — ma ‘vaio taal ¢ abrangenve do cxthecinente alt prods Yan palo naivdaos — perdeseirremediarcimente om fossa clelzapio, Falta As pasoas una visio cultural 4p todo em que tivern Cada um poss conbecinentos # pareiais, desconexos, sun una vis de mundo que os ‘ntegrem num todo significative. Hoje umm nomem pode ‘tratahar numa fébrica de armas, ser membro de uma socizdade de defesa da eeclogie, ir & teatras e ser um defensor intransigente da censura, como se ‘ais ativi- aces ndo fossem contraditrias entre i, 4 uma esqai- ‘ofrenia (em grego literalmente = mente dividida) la- tente na organizapdo de nosso mundo. Nestes termes, a escola surge para produsix mio. e-cbra para o mundo moderne. Se esto mundo ecté fracianado, cue se edueue oo indirictcs fracionada. mente. Que ae encaminhe desde cedo 0 cidadio para luma visio parcial da reslidade. Que se separe a rando da emocto, ‘Convém também observar-se que a visio transmi- tida pela escola é sempre a visio deverminada pelas classes domirantes, No interessa que as pessoas elabo- rem a sua visio de mundo, a partir da reslidade con- crete. onde vivern. Importa, sim, ® padronizagio do pentar, segunda os aitames da ligien de producdn n- dustrial, Todos devera ver o mundo da maneira como querom 96 dominantes, para quo a atual cituayéo vo ‘manteaha inaltorada. Se cada um comogaace a formu. Jar 0 seu pensarento de acordo com a sua situagio cexisteneial. pode ser que descobrisse determinadas Ver- dudes que o fiessers lutar pela alleragio desta situagio Dai o desinteresse da escola pela situagao de cada lum @ a imposicao de eoneeitas desvinculados de sitva- oes vividas. Aprende-se que “a familia € a unidede hharménica da soeiedade’. meso que & nossa estela vivenda em total desarmonia. Aprende-se que “o indio 0 negio so ragas importantes ¢ determinantes: na formagio do brasileiro”, memo que atualmente eles stojam condo dizimadcs 9 diseriminados. Ou ainda, laprende-se que “nos tarnamos independents come Na a cio em 1822", mesmo que atualmente s10ssa economia fiteja totalmente abrelada e dependente das granite: poléneias. A liste de “mentiras objetivas” ‘omectdas ela escola é infindével ‘Aredvieaes, que deveria significar o auxilio aos in~ flvdvos para que persem scbre a vida que levam, que fdeveria permitie ns. visio do todo cultural onde esti, fr deeviztva nas escolas, Impfe-se uma visio de mundo { transmite-a0 eonhecimentas dosvinculados das expe~ fénciue de vida. Em suma: preparam-se pesscas para fxecular um trebalno parcializado mecfnico, no con texto sceial, pessoas quo ee proeupem apenas com 0 ‘eu trabalho (com 0 seu 1uez0), eem peredber como ale fe liga a todoe ¢@ ouLros no interior da sociedade. No fande isto s¢ constitu mals num adestrarsexto do que rmuma educcedo. E bom que se recorde aqui a famosa frase co. eseritor irlandes Georges Bernard Shaw: “Minha eduzapao s6 foi interromplaa nos aros em que sregiientel a escola” ‘Resumo das Jaéiaa Prinoipais: * Nosse postura humana é aprendida através da socia- ‘izagio, que se dé basicamente pela inguagern. + A@quirimos desde cedo ums petsonaligace eulturel, fue é a meneira como a calfura onde estamos ve, Sente e interpreta o mundo. + Nas cultiras primitivas a educa se dB com & expe Hiénela + No mundo eivilisada e industrial separam-se as emo (es ¢ as experiineias da raaio e do pensamento, + escola maniém « estimola esta separacio, pois sua, finalidade & proparar mao-deobra para a sociedade industrial. ‘A escula ttausinite conceites doorinevlados da vida ‘conereta des ecucandes, impondo a visio ée mundo das classes dominantes. x LINGUAGEM B ARTE Fetomomee 0 ue fi dito com slag &eultur. 0 omen sempre se apron, comma ioene de vbrevire, Bru conjuats era minis cl reir As orga ca nati Tema, oo as podria se ar de anes coperatia 2 inguagem, dando-ine a consenca reflexiv, post- Stow também a conjugagio das ativdades, no esore> de tener 9 minds, Dewootrera-eet ea eras purr de como cada agrupemento humane taterprtove a realiade ew teansorrara se fundo suas necessidades Cada cullara spresenta pol Som mune sun, Dea. de sentir 9 and 6 ch tele ata Cc enifra tem sins eonstegoes eb a fu alimenticio, anus estumen, sin naigice, argue tims, palften valores, (Um fenomeno eomu a todas es eulturas — desde as mals “primitivas” at mae "eilieasas, desde es mals arias as mals afusls— én ate A arte co no- ‘mem peé-lstee,inlusire, 6 todo o que vertu, inte fraliente; desses nowoesatepassacos Quulquereltu- a sempre preduais are, sea em suas formas male tips, como enfeltaro corpo com tinturas ea nas formas ros snfistenis, como o cinema et teria dimen, ma noma svlimgao, A ta noe ecompeah desde as cavernas. Gacel Je que notamos esta permanéncis da arte na vida Jmumang, coavém que a analisemos em suas linhas gerais. Ou seja: vamos procurar entendé-ta sob 0 panto a Ge vita de min asirutura e de sua fureéo, para o homer. 2 provivel que nos seas primbrdins a arte esteve ligada As manifestagées religiosss das tribos primitivas, Am- ‘bos — arte e religiio — constituiam um todo indivia tel, que sb porteriormente fel partiio em dois fendme- hos distintes, O esforgo humano para ordona: e dar um tentldo a9 univers encontrou nesta “arte-magia” Dprimutiva um poderoso melo de aréo, Atrnrés ela a maginagdo humana podla se vornar conereta, isto €: 4 capacidade original do eérebro de produair imagers se aperielgoava, por translormar tais imagens em aebes fe predutos gravados no munde. Susanne Langer, uma estudiost norte-amerieans, afimma ainda que esta Imaginacao primitira — esta prechgio de imagens montais — fol o primelro pasio fa eriagio nio a} da arte, mas também da linguagem Ito § corapreenstval a medida em que se poreebe que, to evocar imagens rentals daquilo que havia visto, o hhomem das cavernae estava, ce certa forma, represen. fando-es, Imaginemes: o homem ve 0 bisio na selva, fe depois, ne caveraa, & Imagem deste bisko The vem & ‘mente, Com isto ele representa, para si proprio, © ani~ mal ausent» de seu campo de ¥isio, no momento, 40 inscrever tal imagem na mocha e a0 asseiay-ine um determinado som fonétien, ele passa a construir sim- Ddolos, ou seja, determinados sinais que the permitem sionificar 0 objeto ausente, E claro que 1s evisas nio dderem ter se pasiado com este simplicidade, mesmo ‘perque outros fatores eram intervenientes na situse ‘Mas accitemos tal desericGia como um modelo simplifi- cade das origens do eomportamento simbilico humano. Anterlormente J havfannos assinalado que 9 com- poitamento humano € simbdlico; que atrarés (prinei~ palmente) da alavra o homem cris cs seus valores © ‘Significagées, emprestando um sentido vida Convém 3 fagura que nos detenhamos um pouco na linguagers humana, para que possamos enteicer mais preciaa- mente 0 significid ¢a arte no mundo atual. Nossa lnguagem é um e6igo simbélico, Isto quer diver que as palavras (simbolos) sao convencionadas pare transmitir am determinado significado, A lingus- gem # preduto de ima convenodo entre os homens, & fim de que sous simtolos guardem wm mesmo sentido para terior que a emprogam, Por exemplo: na lingua portuguesa existe tm acordo para que ax seguinies le thes, neste ordem, CASA, eignifiquern um determinado tipo de moradia, em inglés, para 0 mesmo objeto, 58 convencioncu a palarra HOUSE, e asdm por dlante Contudo, a linguagem ndo é ume simples lista dos objetos do mundo, wa simples agrupamento de sfubo- los gue tepresentem of colsus existentes. Be assim fosse. a quuais objetos corresponderiam palarres como: isto, agullo, porém, antes, todavia, egora, vida, seme Thante? 4 ‘inguagern ¢ msis que um inventario dss coisas: 6m instrumento de ordenardo da vida humana, ‘num eontexto espioio-temporal. Por ela 0 homem ora niga ar sian perceprdes, classificondo e relacionando cventot, Por ela o homem eoloea ordem num amontot- do de esifmulos (sonoros, Iuminosoy, ttels, ete), de forma a construlr um todo slgnifieaivo ‘Atcavés da linguagem 9 homem relaciona seu et com o$ eventas do mundo, Com ela, tals eventos sito Classficados em “classes gerais" (conceltos), © aqui rem uma significagio (um valor) para a exisiéncia Feito um carretel, nessa vida se desenrola, do nas- ‘eimento 4 morte, num flo continuo. Hé um fluxo vital ininterrupto, tim experienciar eonstante, que perpassa nossa sxistinela, Sobre este continuo de nossas expe- iineiaa é quo advim as palaveas, recortando-o em "fa tins’, eriglalizando-o om momentos, significando-o, 38 contin, Recordom & experidnela da montanmia-russs, no capitulo soore Aprendizagem. 4@ pensar nela, o indie viduo divide aquilo que fol um virenciar continuo, em ‘momentos distintos: aquele em que o estomago the pareceu subir e descer, aquele em que & cabega rodo- iow, aquele em que a expriéneia parecia nao mais tum “resuno fragmentado” do nosso sentir consiante. Blas procuram sempre tomar fete sentir € shmbolizé-o, Buscam significd-lo « expr mi-b, {Ja que falamos em exprimur, coavém ento tracar- mos uma pequena distingao entre dois conceltos bastan- te usudos: 0 de comunicagdo v o de axpressdo, Comum- car significa primordialmente transmitir eonceitos 0 ‘matt explicitamente possive!. com vim minimo de ambi- ipiidades e conotagées O receptor da mensagem deve compreender o significado explicit que o emissar desea comuniear, So digo, por exomplo, “a manga esta estra- fzeda”, poeso gerar uta diivida, uma ambigiidade, no Ouvlnie: seré uma fruta ou a parte de uma vestimenta ue se estragou? Devo der "w manga da casnise ett cestragada”, para que 4 comunicupso se dé nun nivel fotimo, Comunicar se rofere basicamente & transmisso de Significados explicitos, reduzindo um minimo as ‘conctagée. Quanto A expresedo, esta dix rexpelta 4 manifesta- eo de wentimenios (através de diferentes sinais ov ‘Sgnos), Ne expressdo néo ee tranarite um signifleado cexplicito, mas se indioam seneagies ¢ sentimentos. A ‘expresso € ambigim © depende de tuma maior inter pretagdo daquele que a percede. Por exemple: o choro exprime tristeza; ele exprime, mas ndo significa tiste- 2, pols pode-se chorar tambem de alegris. Se veJo alguém chorando, 9 sentido expresso por este chor 0 (alegria, tritoua, dor, ote) vai depondor da interpre: tasio que fayo daqueln situago. No expresso ha semi ‘pre uri maler grau de ambiguidade. claro que comunicarao e expresso nio sio dois fendmenos estangues, separados, ‘Tods comunieapio carrega em si uma expressao, e vice-versa, Quando se ce: unica algo, também se expressam certos sentimentos Usar determinadas palavras e nao outres, construir as frases desta.ou daquela forma, falar com uma ou outra entonagio de vor, tado isto modula nossa comunieaeao com deierminades sentimentes. O ator, por exemplo, ho dove epeniae “dizer” ax suas falas, mas deve colacar rnclas uma carga de oxprocsfo roferente aoe sentimentor do pecsonagem que interpreta, Inversamente, na expresso também sio-nos co- munieados determinedas tatos ou eventos. Um beté chora, por exemplo, exprimindo seu estado de despre- ver, No quarto a0 lado saa mae o excuta, e é informada aque ele necesita de seus cuidados. Acui houve também ‘ima comunieaeéo. A mie, todavia teri que interpre- taro chore para saber.the ag causas, e este 6 0 Indo expressivo da mensagem enviada. Assim, cominicacdo fe exprestéo so o8 dois extremos num continuo, onée te dé o inter-relacionamente humane. Retomemos 0 perfofo onde fol dito que as pslavras ‘busca sempre significar e exprimir 0 nosso sextir. B neeessario que se clarifique mais este ‘sentir’. Como assinalado anteriormente, © processo do c= nheeimsnto humane eompreende um jogo entre 0 vivenclar ¢ 0 simbolir (as vivéncias) Entre 0 que PNertido © 0 que & pesado. Chamo de sentir. ai @ nossa apreensio primeira da situasie em que estames. ‘A nosma “primeira impresséo” das coloas. Porque a olbcagio humana 10 mundo € primeiramente, emo- tonal, sensitiva; @ razio (0 penssinento) € uma ope- a 1agio mental posterior. O mundo (0 a nosse situaco hele) nunca ¢ pereebico de forma “ncutra’, ‘objetivn’, “téglea", mas atm, emocional Thicialmente sentimos, depois ‘elavoramos racionalmiente os nooeos senti- rmentos Segundo John. Dewey, “empricamente as coisas sio comoventes. trdgicas helas, cimicas, estabelecicas, pertarbadas, confor'dves. desagradavels, cruas, mide feoneoladoras esplindidas,atermorizanies” (Citado por Rubem Alves, "Notas Introduténas Sobre ¢ Lingia- gem, Reflesio, (13 31) ) Porgue o homent nies ae Ye coin ecntecimentas objetivos,e elm como promes- Sus ou ammeacas & sua existéncia © sentimento & por eonseguinte, a forma prime a, difeta, ne elaborads, de apreensio do mundo. Useremos, pols, exle termo em sun ocepgéo mais ampla, que compreende: 1) A sensacio mais geral de ‘natn condigao,fsica ou mental (per exemplo: quando fivemos que estamos nos sentinda bem ow ma); 2) Sonsagées feds expecitieas (por exemplo: sentir umn brago dormente); 8) Sonsibilidade (por excmplo: feir fe seulimentos de elgaémn); 4) Emogio (por exenple Seri teste); 9) Alltutes cmocionais em relegdo 8 algo (por exemple: sentir medo de viajar de avilo), ‘A linguagem procura sempre eaptar 08 nossos sen timentos, significando-os e elasificando-os em con cniton Porém, felto apanhar um punhado de azels, fompre Ihe escapa algo por entre os dedos. & Lingus” fem, quo é conceltual e classifiatéria, apenss aponta e Claasilien cate sentir, em, contude, poder doseranilo [la uponia vse isso, endo impotente par noe mok- tear o seu “como”. Peso nomeat 0 que sinto: slegria, Mas, como mottrar em qué ¢ como esta minha slegria ¢ diferente da que sents ontem? Como comparas a si- tha alegria a sus? Como deserevé-ia? 2 Breqiientemente nos yalemos de metiforss, de tiguras de linguagem, para dar ums iéia dos senti- ‘mentos, Quando se val ag médica, por exemplo, 6 algo cifiell responder-tne como € a dur que estamos gentin Go. B nos utilizames endo das “imagens” “€ ama dor fave comeca fina, eae uma agulhada, © cepols val se espalhando felto ond Portanto, a linguagem nomeia, classifica os senti- mento em catogorias gerais (alegria, tristem, Taiva, ternurs, compaixio, ete.), mas nio os descreve, NiO ts mostra em seu desenvolvimento, em set desenrolar. ‘Chegantos, finulmente, ne porta de entrada para 9 mundo da arte Se os simbolos linguistices sto incapazes de nos apresentat integralmente os sentimentos, a arte surge tomo uma tentatira de fazélo. A arte é algo assin como a tentativa de se tirar um instantdneo do sentir. Mais do que um instantineo: um filme, que procura eapti-lo em sets movimentos yatiagdes. De acordo com Susaane Langer, “e orte 6a eriapdo de formas per~ Ceptioas expressivas do sentimento humano", (Enos Filoséficor. Sao Poule, Cultri, 1071, p. 62.) Vames acla- rar esta Cefinigdo, ‘A arte ¢ sempre a eriagio de uma forms. Toda arte se dé através de formas, sejam elas estatieas ou dint micas, Como exeraplo de formas estéticas vemes: © flesenho, a pinturs, a escultura, ete, E como exemplo fie dinkmicas: a daca (o corpo descreve formas no fspago), @ mitsies (as notas compiem formas sono- ras), 0 cinema, ele. Nas-artes “dindricas’ 2s formas Se deacewolvem no temp, ao contririo das “estaticas’, cojas formas néo varlam temporalmente, ‘Tals formas, em que se apresente @ arte, consti tuem maneitas de se exprimir os sentimentos. Lembro ‘mo-nos da distingao felta anterlorimente, entre comu * ncagio ¢ expresséo, Hott bem: 9 arte nfo procura ransmitir significedos conceituafs, mas dar expresso ao sentir, F dar expresso de maneira civersa da de um grito, de um geste, de um ehoro Porque & expresso nela esti formalmente estabelecida, isto é, estd con- cretizada, levrada, numa forma harménica. Assim, a arte concreiion os sentimentos numa forma, de hira que pasamins parcebi-los Ax formas da arte como ‘que “reprecentam” os sentimentos humans Contudo, pode-se ser tentaco a considerar a arte coma um simbelo idéntico aos simbolos lingiiisticas ‘Se aa palavras significa ecigae ¢ eventos, por que néo fe pensar que a arte signdfique os sentimentes? Por que nd ae penmar na arte como uma forma de linguager, gue fransmita significazos (0 que &, slits, ummm crenga, ‘isual)? Esta 6 una manelia er:Ones ce Se pesas ba atte, pois ela nio é uma lingtagem: nio transmite signiticadss conzeituals. arte ‘nfo ¢ linguagem, pelo seguinte motive prineip Forgue suas formas néo podem ser consideradas simolos, como sto as palavras. A palavra é um simbo- 1 comoencionado para signitiear um eanceto, uma, ‘idéia, ua coisa, ou uma relago. A palarra portugue- sa CAO, por exemple, significa uma determinada espécie de animal Bste conesito pede, inclusive, ser comumeado através de simbolor civersos, em linguss diferentes: “eachorre’, “dog”, “perro”, ‘chien’, ete. O igniticado dos simboles ligiisticns reside fora doles: ae palavrar eo am meio, para a comunieagie de conceitos, Bxerevends CAO (om moiiiseulae) ou 30 (em minwseulas), muda a forma do simbolo, mas tal alteragio nio interfere no significado, no conteito que le transmite: em ambos as cascs © significado & 0 “ Na atte, por oatro lado, nao hi convenes exph- citamente formuladas. As formas da arve no s8o pro- priamente simbolos convenclonais. O sentico expresso por uma obra de arie reside mela mesma, e na6 tor como s la fosse apenas um suporte para transportar lum mgnifieado determinado. Nao se pode, por exempio, tradusir ama obea de arte em outra, engortrande-the “gindnimce", como so fax com a Iinguagem. Nao se pode “fradusir’ una einfonia em um quadro; nem mesmo “tradusic’ uma sinfonia em outra, como se buscism- ‘mos um “sndnimo” para a primeira. Tsto porgue 0 sentido da arte reside em suas formas, que, se fore ‘lteradas, mplicam, conteqUenteraente, muma altera- ‘980 do seu sentido, uve Alves conta (em Conversas Com Quem Gosta de Ensinar - 8. Paulo, Cortes ~ Autores Assocla~ ‘dos, 1981, p. 66.) Um caso ocorrido com Beethoven, que flustra este fate. ADs executar uma peya sua, mura rreaniao social, 0 compositor fot atorcado por ums se~ rnhote, que Ihe inguirlu: “o que o sr. quis dizer com ext, ‘milsica"? Ao que ele respondeu! ‘isto’, ¢ sentou-se 40 plano, exceutando a obra noramente, Ou seja; 0 sea~ tido de uma obra de arte reslde nea mesma, nao podendo ser "dito" de outra forma. A pergunta mais Incoaveniente que se pode fazer a umn artista 6: “o que ‘yeeé quer diaer com o sau trabalho"? Ora, se 0 sentido que cle busca exprowsar pudasse ser dito, ele 9 faria através da, Hinguagem, que & 0 meio por exceléneia para ‘a comunicagio conceitual © artista nao dis (um significado eonceitual): 0 artists mostra (os sentimentos, através de formas har. fnnicas). O artiste procura concretisar, nas formas, aquilo que & incfével, inexprimivel pela linguagem coneeitual, 4s Portento, a arte ndo é um simbolo verdadelro, como o sio os lingiisticos. Hla & quaze um sfmbole, j& ‘que rimboliea apenas e tao somente as sntimentos que ester nela préprie (Pot teee, 9 teferinwo-not a arte coma um Simbolo, grafaremoe a inieial em matte ula, parm diferoreii-la de um cimbalo verdaéetro.) Quando se pense no que dissemos, com releco & Pole yee twee Dae ey ean ee ee eee eke eee ee Se omnes ee ae ee ee om ees oS eS S eee eee cee Seema teen sare sce op ge een Be pees ie piercer eanraeapei Seren ie erst rmer a Se ener Hels mel bn See AA arte, onto, nda esti rogida por rogms o conver- 00 rigidao, cxpicitamente formmaladas, come « Lingus gem. Se « arte, de cecta forme, Simboliza sentinentos, fla 0 faz de mancira diverse da simbolizagio Hingiis. lca: ea Simbolza apenas e tio-ccmenie on senitien ox gue existem nela propria, engastados em suas formas. Ela nilo nos remete a signifieados conceituns, mas a sentidos do mundo dos sentimentos ‘Sous préprioe “elomantos esnutituintes! ado aio clemenios dlieretos, que guardem om si qualquer significaglo. As notas snusicais isdadas, por exemple, nfo tém sentido algum. Somente quando arranjadas ‘numa deerminada estrutura, noma forma € que se tornam expressivas, O mesino se apliea as linhas por- tos, tragos e cores, na pintura, ¢ a quaisquer elementos eompeenies das’ diversas madalicades artistices — como of mevimentos, na danca, ¢ volumes, na es- celta ‘Nao ha, assim, ‘regras grameticals’ dltanco as leis de combinagao ¢os elementos extétios, Se cide épcea pose: uma ceria muaneira de se expressar (um certo estilo”), isto, todavia, mao se transforma, em norma, ett let, O artista nio’ se escraviza a cédigos ©, freglientemente, os artistas inovadcres wio Justarnente ‘aieles que transgridem o estilo preponderante de seu tempo, Quando dizemas que a arte nap ¢ uma Unguager: estamos, elie, querendo diferencis-la de nossa lingua fem conceitual, diseursiva. Estamos quecendo demons- {ar que sua forma de exprimir sentidos ¢ diferente da manelra Ge transmitir significades da linguagem. Peds ontudo, restar uma divida, com relacs0 as artes que fompregam « palavra ecmo material expressive, A poe sa em Hleratura, por exemple, Poiemes conskderar que, na poesta, a unguagem procure, preeisamente, alierar sia propria maneira de Signifleae. Procura explorar ao miximo 0 seu péio ex- prestivo, distanelando-se da simples transmissio de coneeites. Disiemos, linhas tras, que face ao mundo ‘dos sextinentos procuramos tis exprimir por metifo- rr, por imagens (ecmo quando containos moss. si- tomas ao médieo). K é isto que faz 0 poeta: erie ima- jgens que, 20 nivel ligicn, nao possuem significede — ‘las ee dirigom aos ssntimentos. © poeta Lédo Tvo diz: wo dia @-um cio / que se deita part morrer.. Logisamento isto nde faz rentido: o dia no é um cdo, ‘muito menos que se delta para morrer. Porém. 0 Verto (@ metdfora) ganbe santide ao aproximarmes mosses ” sentimentos em relagao a um cine em relagio a um cao & morte, O sentido da poesia peovem dos sentimen- tos Simbollzados em suas imagens, ¢ nao das relacces Iogicas entre as palavras, Também na literatura em pros linguagem pro- cura o seu lado expressivo, A tarabém o escritor quer eriar uma expressao de vide, consegutda segundo & Jorma como emprege as palavras. Nao se necessite, 10 Interior de uma obra literiria, una plausibilidade, uma légica, uma “realidade” semelhante & nossa, cotidiana O sentide do tects ¢ muito mals “vivenciado”, “expe- rieneiado", durente leitura, do que desodifieado 1a- ‘ionalmonte, ‘Assim, segundo Susaans Langer, é incorreto *.. 20 deixar induair ao engano de cupor gue © autor preten de, por seu uso de palavras, exotamente aguilo que pretendemes com 0 noseo — informer, comentar, in- quits, contessar, em suma: falar as pessoas Um ro ‘mancista, contude, pretende erlar un experiénela virtual, completamente formada ¢ inteiramente ex- pressiva de algo mais fundamental co que qualquer probleme ‘moderno': o sentimento humane, a navtze- ‘@ da vida humana em si” (Sentimento e Forma, S80 Paulo, Perspective, 1980, p. 300.) A arte, em todas as suas manifestagie, 6 por cconseguinte, uma tantaiiva de nos colocar frente a formas que concretizem aspectos do sentir humano, ‘Uma tentativa de nos mostrar aquilo que & inelével, fou anje, aquilo que permansce inacesaivel as redex con ceitunis de nossa linguagem, As malhas desta rede so por domais largas para eapturar a vida que hebita os pprofundes oeeanor de nossoe sentimentor. All, quem se em a pescer, so os artistas. Resume das Iddias Principais ‘A atte € um fengmeno prescate em tofas as cultura. 4 linguagem fragmenta o noo sentir ¢ the atribul signtfieados. Os ccneetios lngtistices, no entarto, io incapases de exprimir e de des:rever os sentimentos, ‘A-arle ¢ uma tentativa de coneretizar, em formas, 0 mungo dinfmico do “sentir” humano. ‘Arte néo é linguagem: ela nao comunica significa ios, mas exprime sentidos. 0 sentido expresso na. obra ce arte é “intraduaivel" ® © ARTISTA E 0 ESPECTADOR ‘Utilizamo-nos, po capitulo anterior. da definicéo de arte propesta por Susanne Langer, que diz ser ela a “eriagio de formas perceptivels expressivas do senti- mento hurmano”. Ali Tol dito que arte é a eoneretiza ‘¢io, om formas (harménieas), doquela dimensio ha- foana inalcanedvel pela Hinguagem conceltual: 0 sonti- mento. Através da arte 09 diveraes aspeotes do noe ‘sentir nio-noy mostrados numa determinads conforma. 0, que se oferece & nossa peceepedo de mansiza mais labrangente que outzas expéeles de simbolus — como os Lingiisticos, por exemplo, & preciso entio que nes dete- rnhamos um pouco nestas duas vias de acess» & arte através éo artista e através do espectador. Ou seja: na ‘riage na jraigao das obras de atte. Iniciemos pelo artista, Porém, antes de se adentrar propriamente na criaedo artislica, vamos tracar algu- mass eonsideragies a respeito do ato de criapao, de ma- neira ger. CGrlar supée a produgio de coisas (sejam ebjotas ou idéins) ai€ entao inexistetes no mundo huamane, upse lum ‘alo onde, baslcaiuente, opera 2 imaginagao, esta capaeidade fundamental do home, Pela imaginagac 0 homen ordena 0 mando numa esirutura signifetiva, 4 que linguagem e magineedo se desenvolver conjun- ‘tamente. Por ela 0 homem projeta aquiio que ainda io existe, aguilo que poderta er, como iruto de seu traba- tho. Mesmo nos atos mais simples do cotidiano nossa ‘maginayo tem o seu papel. Ao plansjar o que farei st aqui ha instantes — por exemplo: dirigi-me a um resteurante, seniar-me e almopar — esiou imeginando ‘minha ago num tempo futuro, num tempo que vir a ser. Dis Rubem Alves: "0 que imporia & simpiesmente constatar que através da imaginarao o homem tra cents a facticdade bruta da realidade que ¢ imediata- mente dada alirma que 0 que é nio deveria ser, € 0 ‘que ainda nfin ¢ deveri sor” (O Enigma dn Relig PetrSpois, Vozes, 1975, p. 20.) Distinto do snimal, que ‘ost proso ao agi e agora, o homem, pela imaginal, aitaa 1 gun ago mam mundo qua sstende oF srs lim ‘tos para além da smadiatidede do procento 0 da mats rishidede das coisas, O homer ele. um universo sign: feative, om seu eneontre com © mundo e através da imaginagio. ‘A propria citncia, que pretende ser um conhecimen- torigoroto das “coisas como séa", ¢ filha direta da ima- ginagdo, 4 eriagio de normas de objetividade, para que a ratio se discipline e nao sofra interferéncias dos ¥a- lores e emov6es, é um produto da imaginaeio, Aliés, cidnela surge, nos primércios do sécalo XVIZ, quando ‘a imaginacio de Galieu leva-o. afirmar: "varios sepor ‘que um corpo exin sem sofrer intarforineias do atrito com o a8", Isto: smagmemos urna ceisa inevistente em hnoqo mundo s eda livre, tem interferéneiaa da ‘atmosfora, o movimento continua. A imaginseéo 6, por tanto, o dado furdamental co univarso humano °° ‘motor de tede ato de criagdo. Precisamos notar também que em qualquer ato criativo nao ha apenas uma mobilizagao da razdo, da esfera logica (que se dé atraves dos sirtbolos). Como Ja se observou, nossa razéo, nossos simbolos (ingtistios, ‘mateméticns,ele.), asic sompre apoiados nas nessas viveneins, nos nostos sentimentos. Nao id "yersumento 52 puro”, estritamenta logieo: ae pensarmos, mobitieamos tanto 05 simbolos cxmo cs sentimenter a sles subje- ‘centes, Desta forma, masmo nos ate de eriago flonéti- ‘ce @ elenifica ertdo envolvidos of sentimentos numancs — 08 valores ¢ as emogies. O ato criativo, inclusive, dé-se muito mais 2 nivel do “sentir do que co “simbulizar”. MeThor dizendo: a Se criar ocorre uma movimentagio de nasios gentimnen. tos, que Wao senda conftontadee, aproxizaados, funds, para pestariormente setom simnbolimdlos, tranaformadae fm formas que se oferecam & rasio, 0 peneamento (Notem que 6 freqtents 0 fato de noses palarras no conseguirem acompanhar o ritmo Ge nonsus iis, [so & vise articulantdo ioéias que esto w nivel do" Wie", para depols elas serem relatadas pelas palayras) Diversos autores, ques dedicaram ao estudo do process criativo humano, chegaram 2 esta mesma con- lusio: o ato da erlapio é muito mais preduto de sen- tmentes, de IntulpSee, do que de operagsea puraments \picas. Kast R. Popper, um fifo austriaco, comen- ‘a: "A minba visio do problema pode ser expressa aira- és da alirmagio de que cada descoberts conlén um flemento emeclonal’ on uma ‘inbulyae erladora’, no Sentido de Bergeon. Einstein fala de ame forma seme- Thante acerea da "busta daquelas leis eltamente untver- sais... a partir das quass uma visio do munco pode see obtida por pura dedupao. Nao existe um caminho ligi- 0, ee dis, que conduza @ fais leis Blas sb podem sec atingidas por meio da intuigdo, intuigdo esta que se baseia em algo semathante a um amor intelectual pelos bjetos de experiéncia’.” (The Logie of Scientife Dis covery, New York, Harper & Row, 1968, p. 32) ‘Alda com respelto & atibude eriadoca, pode-se aftr ‘mar que ela se constitu: também num ofo de rebetdi. Constituicse num aio de rebeldia na medida em que 0 erlador deve negar 0 estabelesido, o existente, para pro- Por um outro caminbo, uma outra forma, enfim. parm [propor o novo. O novo surge a partir de um desconten- ‘tamento com reiagao 20 estabelecido. Nesses termes ‘qualquer ato cristivo & sempre subversivo, pois visa a alteracds, 1 mositicagio do existente. Por iso, assinala Ruber: Alves que"... a rebeldia € a preaupcalgie bisiea de qualquer ato criativo. Ao fordenar ¢ plantar um Jardim, nos rebelamos contra & aaricee da natures, Ao lular contra a enfermidaée nos rebelamas contra 0 sofrimento. Disemos wma palavre de alento porque nos rebelamos contra a solidi. Ave:- ‘arros a perseguedo por causa de uma razao justa por- que nos rebelamas contra a opressio e a injustiea, Os animais nio podem rebslar-se. Previsamente por 18s, tampouco podem ser criadores. Somente 0 que diz 0 seu ‘nda! és coisas come sio, mostra o desojo de satrer pela ceriagio do nove. 0 mono da eultara seria literalmente impersivel so nia fosse pelos ator de rebeldia. de todes aquslee que fizeram algo para coastruia" (Hijos Del Masiane. Salamanes, Sigueme, 1078, pp, 140-160.) Centremos agora a nossa atencan sobre 0 ato de criagio na arte, sobre o trabalho do artista, Segundo obra de arte ¢ a tentativa de se concretisar, tir” hums no, Ba tentativa de oferecer tals elementos & nossa per- ‘cepede, através cas formas manipuladas pelo artista. Contucio. é preciso evitar uma confuséo. Quando se diz que a arte & a caneretizagio do sentimantos, Isto nfo Sigrifica eatritamente que 0 artista, ac corstruir um bjeto extéico, eseja apenas e tdo-somente exprimindo ‘es proprios sentimentos. Nao signifva que a obra de arte soja um simples “retrato” do “mundo interior” do artista o Peo contritio, Sua capacidade expressiva reside Jjustammente em sua sersiblidade para captar os mean- dros dos seatimenios ca eomunidade humane e expel ‘mislos em formas Smbélicas. Ao construir um objeto estético (uma obra de arte), o artista projeta nele tuclo aquilo que pereebe como préprio dos homens de sua fpoca ¢ lugar. Tudo aquilo que constitu! o “sentir” dos homens (ou das grupos de homens), quo ele eapta 9 ex- prime em formas, B claro que esta captardo se dé a partir dus seus priprios sentimentos e de sua “visio-de-mundo”. Sua Dereepedc dos sentiments bumanos esta sempre, em Ultims andlise, baseaca nos seus préprios sentimentos. Mas afirmar que em sua obra o artista exprime apenas os seus sentimentos, ¢ empobrecer » sentido de sua pra- vis (de seu trabalho). Assim, para Sasinne Langer, “ele 6 um artista nio tanto em virtude ce seus préprios sentiments, quanto de sea recanhecimento intultivo de formas simbélicas do sentimento,¢ ava ten- Aéncia a projetar conhesimento emotiva em toe forma objetivas. Ao manipular sua propria erlagio, ao compar um simbelo de emogée humana, apreeree, da realidade perceptive a sua (eate, pussibilidades da experiencia subjeliva que ele ndo conheee em sua vida pessoal, (Senttmento ¢ Forma. S40 Paulo, Perspective, 1980, . 0b.) O artista apreenie, entio, certos estaras do “son- fir" que parpassam a vida dae comunidades humans, Mnitas vezes esses elementos néo estio claramente co- Jocados, nfo sende masme percehidos pelos homens sua vida cotidiana. F af surge o artista como um de bravader, como um pioneiro na elucitagio expressio desses sentimentos até entéo desperebidos, O artista apreence-os eas devolve, em formas artisticas, pera que 05 demis se reconheeam naqueles Simbolos, Neste sen- ss Udo € que se pode atirmar, com o poeta Ezra Found, que os artistas sdo as antenss da raca. Antenas que Captar aqueles sentimentos em que todos estao imer- ‘3s, sem censeguiter, no entanto, torné-los evidentes. Este €, de mancira esquematica, © sentldo do tra- bho artistic. tarnar objetivas (uo Seatido de concre- as) as manifestagies subjetivas acs seres humsnos, numa Gods €poca e culuara, Mucerios agora a noses. [Perspeetiva, a fim de cbacrva 0 processo ocorrents no ‘espectedor da obra ce are. Varmos considerar, entéo, & experiineia estitica: aquela experiércia que temas frente a um quadro, una mfsica, no cinema, no vex tr, ete Bm primeiro luger, « experiéncia estétion é a. experiéncia da belexa, Cotidianameate uUilaaos a5 palarras belo Qeleoe vein no entanto atentarmes para fs questies que resider por cetrés cess termos, Atl- nal, o que é a beleza que se experimenta na experiencia esietiea? De once surge ea? Somes tentadas a orer que o belo se encontre nos objetes meen; iato 6: que a belera € ume qualidade ‘que cleo possuem (ou ade). Ge isto fosse verfiico, um clentista que estudasse “objetivamonte” ura obre de arie, deveria poder ‘solar ¢ quantificar (medir) nea sia qualidade. Por exemplo: um fisico, especalista em sons, pode decompor uma peya muses! e esiudar as Droprtedsdes de suas notas (elturs, crequencia, inten- sidade), bem como as relagdes que elas mantémn entre sf, Pode tragar grifiens, férmulas o equapGes que regre- sentem objetivaments a melodia. A beleza, todavia, en- quanto propriedade fisiea da pace, néo serd encontrada.. Seo belo fosse ums propriedade cue determinados obje- tos possuem, isto impliceria om que qualquer pessca gue os contempiasse devesse consderi-las belos. Mas se ‘sto nie ororre: o que para mim é bolo, para outro pode iio tar beleza algun Desta manera, pod-se pensar que 4 beleza restda ‘exclusivanente em nossa mente, Que ek @ geraca em nossa consciéncia, independentemente dos objetas do ‘munco. Se tal afirmapao fosse verdedeira, o amarnte da rmiisica néo mais nacessitaria it a coneertas, nem pre- cisaria ouvir discos: para experienciar a beleza basteria relembrar suas experiénclas estélleas passadas, Basta tia “produzir" a beleza em sua constiénela. O que € tum absurdo. Portanta, 0 belo no reside nem nes objetos nem nna conscféncia dee tujelios, maa nasce do encontro dos dole. A bolozn go coleca entre homem e 9 mundo, ontre 4 conseiincia eo objeto A belesa hakite a relagd "A beleze € 0 name de qualquer coisa que no exdsie/Que dou &s cols em troca co agrado que me Oo”, 4 disse © porta Femado Pewos, através de seu hetertmime Alberio Caeiro, Nasce ento a beleza, da retapan que ¢ omem mantém eon o mundo, Forérn, surgiré ela de ‘qualquer tipo de relagao? ‘Naa. 0 relacionamento que faz brotar a experién- cia estética ¢ distinto, por exemplo, do relaelonamento ‘prtico que nossa consciineia mantém eom as coisas do mundo, Na experiéncia estitiea a eomscténcia se eoloee de maneira diferente dz forma com que s# coloca na ‘vida cotidiana Ordinanamente tendemos « persebsr ‘as colsas a partir dos conceitos forjedos pola. aosse lin. fguagem, J& dissemos que a linguagem condicions 8 ‘mancira coro vemco 9 mundo, De corte forma, perec- ‘bemos as coisas atravis do scus nomies, de seus signifi ceados (para 9 homemy ‘Minna tendéncia, per exemplo, sempre ver a gra ‘maa mmha frente come verde, mesmo se, sob determi ‘nadas condigées de iluminegdo, ela ganhe um tom ari- s lado, Ou ainda; um pires sobre @ mesa eu 0 vejo como steal, mesg sna fold, de minha poo, ele apareya como dima elipse, Isio 6; os conveites anietios~ ieute uprendidos (grama = verde, plies = clrculary illam 2 maneire de se dar minne pereep¢ao. “Os oinos, de repente suo palavras”, diz 0 poeta Paolo Neruda, © que cocrrs na exparitnela estética, contado, & que a centeiinsia prosura aproonder 0 cbjeto dosvenci- Thando-se des lagos condicionantes da Tinguagem con- cxilual, Nela © homem apreende o mundo de maneira (ola, sem & media;ao parcladizante dos couceites lin- isticos. Na experiéncia estética suspendemos nossa “percepao analitica’, “racional”, para sentir mais ple- amente 0 objeto, Deixamos fluir nossa corrente de sontimentos, sem proeurar tcansiorma-la em conceitas, fam palavras Sentinos o objeto, ¢ nfo, pensaruot nele. No momento desta experiéneia vcarre como que wa “suspensao” da vica eotidiana, uma “quebra”” nas re- gras da “realicade” ntramos no cinema ¢ nos sentaros. As luzes se ‘spagem € inicia-s> a projecdo. De repente estamos envolrides com uma “outta Tealidade”, que nes faz, momenianesmente, esquecer a nossa. Deiza-se de lado © aluguel atrasado, a conta da Tug, a porta que se deve consertar, a certidso que precisa ser providenciada, para se vivencaar o filme. Agora estamos sentindo a rai- va do herdi frente aos invasores, sentindo 0 redo face 2 emboscads, a ternuira do amor entre mie e Miho. ‘Agora estamos vigende uma experiincia estétice — deixamos 9 ectidiane “or auspenz0", © a ole apenas relornaremcs ao final da seesfo. olare que, no fundo, do nor abandona a conmitnela de que somos epenas um spectador sentude mo cinema, nfo perdemes =. conselénela de nossa individualidade e realidade. Per~ der esta certeza e confundir-se tntegraimente com 0 38 que esta sendo projetaio equivalenia a toucura, a esqui- zofrenia, O cotidiano n&o esté “perdido”, mas foi “co- Iccada entre parénteses”— deixou de ser 0 mais impor- tante, naquele momento. A expertincia da betes é, enti, uma esperiéncin ‘na qual a nossa maneira “racioual” de perceber o man- {dp perde o seu priviégio. Eo perde em favor de uma pereoggéo que fala dlzetamente acs sentimentos. Na vida didria interroga-se » aparecer dos cbjetos segundo propéritos préticas, 4 intelecgéo (através éa lingua- Gem) otieata nose percepc#o em torno das funcoes dos objetos © de suas relacies; a concta serve para ‘serener em. um papel: 10 cinzeira colveamos as cinzas {do cigarro, Jk na percepeio estétiea nao é mais a inte- leoga 9 nosso guia. A “verdade” do objeto estéticn (da ‘obra de arte) teside nole mesmo: nfo so busram sia Telagées ocin outros objetoe nem se pergunta acerca da sua usiidade, [Na percepeéo utilitaria 0 “ser” do objeto reside em suas relugées com outros ¢ com alos bumanes (eaneta- feserever-papel; cinvelro-cinzas-cigarro) . Enguanto que, nna peroepeao estetica, 0 “ser” do objeto & 0 seu préprio ‘aperscer. On seja: 6 a harmonia existente em suas ormas, & no préprio sensivel, no préprio ato de perce- bor, que reside o prazer eatético: na pereepeio direta, de harmonica ¢ riimes que guardam, em si, a sun ver~ dade. Por isco slguns autores chamam a pereepgio ‘stétiea de “desinteressada”: mio existem interessts Driticos a crlenté-la, & yerdade vo objeto reside em suas formas, ‘A exerifncia que a arte nos proporeiona 6, sem ‘vida, praserosa, £ este prazer provém da vivéncia da. harmonia ceseoberta entre as formas dindmicas de nossos sentimentos e ae formas do objeto estéticn. Na cxperiéneia estéticn cs meus sentimentos descabrem-se » has formas que Ihes sio dadas, como cu me descubro ‘20 cepelho. Meus sentimentas vestei-se eam a 7Oupa- gens harménicas das formas estéticas, Através dos sen mentes (dentificarme-nos com o objeto estétia, e com fle nas tornaiuos ur A obra de arte, assim, nio é para ser penseda, tra- dluzida em palayras, sim, sentida, vivenciada. Porque. como jé fol dito anteciormente, sua funcao nfo ¢ a de comunicar signijicados (concaituais), mas « de expr ‘mir sentiios. Resta-nos considera, endo, a questo des sentidoy/expresses pela arte, na experiéneia eatition. ‘Tals sontidos nde slo, evidentemente, conceltuall- sivole, rodutivels & palayras — no se pode “leer” qualquer obra de arts, }@ 0 notames A arte abre-me sempre um campo de sentidos por onde vagustim 08 meus senitimentes, eneontrando ali novas e mltiplas imuaneiras de ser. Dissemos que na comunicapao a lin- _guogem deve “fechar”o mais possivel o eampo de signi- ficades, a fim de que uma idéia seja compreencida como 6 deseja sea emissor Deve-se dizer “a manga da camisa estd estragada, © nio a manga esti estraga- da”, para que seja efieaz a comunicagdo, Enquasito que, ha expresido artistica, sucede o Inverso: as ambigti- ddades e as miitiplas possitilidades de sentido si deae. Jadas. Quanto mais sentides possibilite uma obra, sais plena ela sera, Frente a obra de arte o espectador delxa os seus senrilmentes vibrarem, em eonsontincia com 88 Rarmo- hlas ¢ ritmcs nela expostos. O espectadar encontra, Junto as formas ertisticas, elementas que coneretizam = que tornam objetivos, pereeptiveis — os seus senti- zmentos. Notem que dissemos os seus sentimentos, ¢ nao 0s do artista, que produziu a obra. Isto porque, sendo arte ume forina de enpressdo, ela depende de inter- ‘Pretagio, do sentido que 0 espectador Ihe atribui. Como « sua flnngio nao é transmitir um sigaificedo conceituat determinado, seu sentido brota dos tentimentos de seu pitblieo; ele nasce de maneira como as pessoas @ viven- clam, Por este motivo Umberto Eco, um fldeate italiano, ‘chama a obra de arte do “aberta”. Bla € ederta pace ue 0 espectador complete o aeu sentido; para que ele = viveneie segundo eues préprias peculiaridades, sua pad ‘condigto existencial Uma obra de arve pode indicar uma daterminada ‘dlrego aos meus sentimentos — por exemplo: alegr tnsteza, angustia, etc. Porém, a maxeira de viver este Sentimnento (0 seu “como”) é dada por mim. Frente lum drama, no teatro, todos poder: "entrstecer-s¢” todavia, a qualidade dessa tristeza € tiniea (e ineema- nicdvel) para cada espectador. Cada um a viveré fgundo sua situngi particular, com os meandras ¢ mi- niicias des sentimenioe que Ihe so préprios © sentido de uma obra de arte é portanto, aberto, Nao se pode tomar o sssunto (0 tema) da obra como sendy o seu significade. A maneira como esse teria € fexpresio, a forma enmo ele € percedica, sentido pelo espectader, € que constitui o campo de sentidos da arte, [Na arte s spreseniam formas que visain mostrar aqui lo que € impossivel de ser conceituelizado, impostivel ide ser significado através das palavras, ‘A.arte € uma chave com a qual abrimas a perta do osses sentimentos; porta que permanoce fechaca & nosse inguagem conceit Reeumo das Iééias Principais + 0 ato de cringdo é um ato de rebeléia, que nega o ‘aistente para propor 0 novo. “ * Qualquer criacdo envoire néo 96 conceites l6gicos, ‘mas principalments elementos dos sentimentos ¢ ‘ermocoes, * 0 artista oxpressa, em sua obra, 08 sentimentos que le copta junto ds comunidades humanas + A beleza nao é uma qualidade dos objetos nem um produto da comselénela, mas una forme de relagic que © homem mantém eon mundo. * Na expariincis estética experimenta.se 0 objeto a nivel dee sertimentas, sem a madiagao ennceitval da Inguager, * 0 sentido da obra de arte 6 daéo fundamentalmente pelo espectador FUNDAMENTOS DA ARTE-RDUCAGAO Dissemos que nessas moderas sociedades indns- trials esto fundadas schre uma cisio bisiea dt perso nalidade humana: aquela entre o sentir e 9 pene, fenire & rasdo © as emocdes. A clvilizagio ocidental assenteu-to desde logo sobre tea postulades, quait sejam: 1) A primazia da raado — a raaio tem 0 poder desolueionar qualquer problema, © ¢2 Gneos problemas resis aGo aqusles propostos pela iéxcia. 3) A primasio do trabalho — dove-o traballar Ineessantemente pare | producdo de bens; dove-se ariontar nesea aio sem- re na diroglo de fins wtltérios. 3) a natureca tnfndca ~ desenvolvimente significa a predugie cada vee maior de produtos manufatarados, acreditando-se que 4 ua ‘urea, de cade alc rotiradas a5 Matéries-primas,se}6 ‘nesyotivel. (Tals postulados slo ettades pelo fXdsot0 ‘rans Roger Guraudy, em sua obra: O Ocidente € um Acidente: Por um Diego das Cwitensées, Ric de i neiro, Salamandra, 1978.) corre, porém. que 0 primero cesses postnlndas ‘nos conduz & uma eivihztgio racionalista, isto & que hipertrofia « rasio em detrimento das dimensées bist cas da vida: os valores @ as emogies 0 segundo nos Tova rolegar 0 Hideo (0 joge, 0 bringweda) 2.9 t6tieo 4 porigées inferiores; a relogi-loe a ne tarnarant rarae atlvidades do lazer, quando se tom lerapo para tal En quanto 0 terceiro, gera um siatema do produgdio que deve se manter sm perpétuo crevcimento; nilo 2 pro- due para euprir ns necomidades hiarinnas, mas, pele a contro; dave-se erlar nove neceasidedes not homens, ‘para eno vender-Ihes of novos produios Muttos sto os pensadcres que spentam para uma necessidade de resstruturagao radiecs! desta civilizarao, ‘por verem nela o eaminho certo para a destruicdo da ‘ida no planets. Hipertrofiandc a reaio gera-se. diale- ‘eamente, um profundo irracionalismo, na medida em ‘gue valores e emcodes nao possiem canais para serein expressos ¢ se desanvolverem. Assim, a danea, a festa, 8 arte, o ritual, sio afastados de notso cotidisno, que vai ‘sendo preenetido apenas com o trabalho wtlitaro, nko ferintivo, alionante A forma de expresso das emagéeo tarna.s0.a violéaeia, 0 di, a ire eomonte a violéncia ‘odo fazer vibrar noses neeves, exrigeeidos pelo traba- Tho scm sentido. O indivicuo tolado toma-ce 9 valor supremo, © cada qual deve liter contra os outros, em favor de seu progresse e de suas propriedades. Deniro deste quaéro surgem entao iniimeras pro- postas, Buscando restar ¢ homem aot sins valores basi cos, espezinhados pele incustrialiamo. Propestas que pprocurnm, de uma ou eutra forma, fumincr a vida Criativa, a imaginagde, « belom. Surge o movimento hippie", © “maio de 68" (na Frazgs), a busca de cul- tures © religiSes orlentais e — por que no? — s busca de alguma transcendéneia na ulilizagio das crogas, Mas a revalorizecdo da belewa e de imaginacde en: contron, na arte e:ne bring edo, dois aiados poderosos. Por que néo se eluwar us novas geragdes evitando-se (0 orree que viomes cometeado? Por que nfo 20 enten- der a educagio, ca meema, come slgo lidioo ¢ oeté- tice? Por que, ao invés de fundi-la na transmlssio de conkecimentes apenas racionias, nko fandé-la na cria- ‘¢do de sentidas a partir da situseo existencial concre- {4 dos edueandos? Por que nfo tuna arte-etueagdo? Como é, entio, que a arte pode se tornar um ins- trumento para a formspio de um haem mais pleno? Como a arte educa? Eis & questde bisa, cua resposia deve aelerar os propisitos daquilo que chamamos arle- cecucagac. Bendo a arte a conerstizagio dos sentimenios en formas expressivaa sla 2¢ constitu’ num meio de acesso fa dimensées humans nic passivols de simbolizagio ‘conceliutl. A linguagem toma © nosso encontro cot © mundo ¢ @ fragmenta em conceltos © relagSes, que 86 fferecem & ravio, ao pensameato. Enguento « arte, procuma reviver em nis este encuntro, este “primeico ‘lhat” sebre as coisas, imprimindo-o ems formas hacinS- ‘nicas, Através da arie somos levados a vonhecer melhor ‘noses experiéncias @ sentimentos, nequilo que esca- ‘pam & linearidade da lnguagem. Quando, na expertén- ia estétien, meus sentimentos entram em consonéncia (ou sio despertados) por aqueles concretizados na obra, minha atencio se foealiea naquilo que sinto. A logica de linguagem é suspensa e eu vito meus sentimentos, sem toniar “traduai-los’ em palavms. Arte é, por conseguinte, uma maneira de desper~ tar o individuo para que este d® maior aten¢ao a0 seu prOprio process de sentir O intelectuelismo de rosea elriizagéo — reforeudo no ambiente escolar — torna relevante aperas aquile que é concebido racional- mente, logicamente Deve-co aprencer aqueles concei- tas j& “prontos”, “objetives”, que a escola weicula a tudes, indistintamente, sem levar em conta as carse~ lerfslioas existenclals de cada um. Neste processo 08 ‘educandos néo tém oportunidade de elaborar sue “visio de mundo”, a partir de suas proprias percepgées e sen- timontos. Atrarés da arte pode-se, entén, desperiar stencio de cada um para sua maneira particular de © satin wore a gal st elatoram ce os ontos proce: tor raconals Encontando aas formas arisicus, Subdlzagies Para ot seus sentimentan cs indiiduos ampilam ¢ ee Conbecmento de s proproe través da destoberta Sox Dadroes da naiirem do seu centr Por outa lade, arte nao povtbita apenas um mio de woes ao undo 4 entimente, mes tn fen devenvatisento stm educagte Coma, ent, povom sor edueas edomtwsvcon oo selinenton? De Samana ferme gue’ Penmiment’lglen reseed, 3 ‘primora om a utliuayan omstente de sabaoeIi toe lngifateon, matemlicen et). og senmeon se Fefina pola conviveica ea os ainbules a auto © Sana drs de ste cand ana one Son oa Blnboke do sentiment, propando 0 se aprimo- ‘analy. Gamo diz Susanne Langer 0 taeinamento artistn &, portant, a educagio do aentizente, da mesa maneisa como ios eda: au escolar normal em matéries fatasis © hadlidades lbgias, tals como ¢‘eibuio’ matondtio aa a simples argumentagio...,¢& edusseio do pensaments, Poi 2 estas peretbnm ques verdadeseedueardo da femoeio nio €0 eondiconaments eles pela ap Yao deaproranio aoea, mas 0 conta thio ‘esau, amimdor com slmbolo de sn:imenta” Cn {abs Pious So Pasa, Coles, 13, Fag #0) ducer sentinsentos, ae emosic, nao signifien roprintlos yam quo oe mostrm apes aqueles (por. fee) momentos tm que noe “mundo de nego” Thos penile Antea,aigsifion enimliles «se exer- sare, a vibraceo tric a mba que tes set Signiiativon. Couhocer as prdplasemogies ever nels ce fundanentos de nuao proprio “eu” 6 a ca Ul ch que toda ela deveria proper, ae ls 38 etveset voltadas somente para a preparacio de méodeobre ara a sosiedade industeicl A arie & ainda um fator de agizagio de acisa ‘enaginagio, pais na experiéncia oalética a imaginagic amplia os limites que lhe impSo cotidianamente a inte- Toop, J observarmoe que ns "vida pritioa” nome tnte lecto guia a percepsdo em torno das relagées préticas f Tumelonals Jé estabelecidas; pouco espajo nos reste parao“senho", a "iantania”. Bisto ¢ taerbem reforgado pelo ambiente escolar, na medida em que as respostas all }&extdo pruntaa, restando ao educands apenss a su, assmllagdo. Na escola no se ria, mas se reproduz aquilo que j6 existe Ora, a arte se constitu! num estimulo permanente para que nossa imaginaeéo flutue + erie mundos pos- sivels, novas possbilidades de ser e sentirse. Pela arte 4 imagingedo 6 convidada a utuar, rompendo o esireito fespaco qu 0 cotidiano Ine reserva, A Imaginagao € algo projbide em nossa civlizagan racionalista, que preten- eu bani do préprin eampo das elineiss, por ver nela uma fenta de erro ao procesio de conhecimento da “realidad” Dovernos nes adaplar as "ecisas como #80" a “realidad? da vida, sem perdormat 0 noso tampo ‘om sonlnoe visdet utépicas, Contudo, tio os noseos somos e projetos que m0- ‘vem o munco. aguiio que ainda ngo tenho, que ainda ‘nao consegui, que me tax ir & luta; que me ian trabae Jnar para alterar a “reelidade’, Preso 3 exisas “somo ‘So” 9 homem seria \déntieo ace animals, que s2 edsp- lam ao melo, sem utopias e projetos transformadores. De ond» se conelui que a utopia, antes de ser a mera fantasia de loucos ¢ poe‘as, ¢ um fafor fundamental na construpdo do mundo humano. Através de visbes ut6oi- fens 0 homem dosperte para outras relicades possivels, diversas caquela em que ele esta inserido, @ Ao propor novas “realidades possives”, a arte per- mite que, além de se despertar para sentides diforentes, fe peroehs ainda o quio distanie se encontra nossa s0- ledate de um estado mais eqiibrado,Idleo @ etétion Autopia ¢ também uma forma de tomarmos eenscién- tia do que existe atualmenta, de tomarmos coaciéncia do atual estado do munds humano. Afinal, aa visdos dde pessoas eamo Jesus (ao propor 1a “ordo ameris ‘on de Mare (so propor ua “sociedade sem clactes’), io utopias que dover: coudusir a umn transformasie 0 presonto, pars um fature melhor, Pols, sexunde © posta franeés Lamartine, “as ulopias so verdades pre- ‘aturns”, Pela sua vertente uiépica, & arte se Cust: fou, entio, mum elemenwo pedegéglso fundameatal ae homer, Através da erte somos ainds levados a conhecer ‘oquile que nao temos oporiunidade de experieneiar em ‘nossa, vita cotidiana. isto é bisico para que s possa compzeender as experinies vivdas pr ottrat homens Quando, no cinema, einto as emegdes do alpinicin, quando, no teatro, rinto 0 drama do preso polition, quando, frente Ar telar de Portinasl, wiato a trugédia ce retirantes, desousro meus contimentoe frente © stuagdes (ainda) nto vivicae por mim, que nio me so acesevels am mex dia-a-dia. Ansim, a atte pre possl- bilitar oacesso dos sentimentas a situaydes distaates do rom cctidiane, forjando em ns as bases para que se ‘possa campreendé-las, Nas palavrus do fgsolo alomio Emst Picker: "0 desejo do homem de se devenvalver e complelar india ue cle é mais que um indiriduc. Sente que 5 pale atingit 4 plenitude s se apoterar das experiéncias alhelas que potercialmente Ihe concernem, que poce- ram ser dele. E-0 que 0 homem sente ecm potercial- ‘mente seu inclui tido aquilo da que humentdade, “ coino um todo, € caps A arte € 0 melo indispensivel para evia unio do individuo com 0 todo; reflete a dn finite capacldade umes para a assucgéo, pace a ciroulardo ce experiéacias ¢ idbias” (4 Necessidade da ‘Arte. Foo de Janeiro, Zanar, 1976, pag. 13.) © processo do conhecimento, JA 0 notamos, art- cula-ge entre nguio que & vivido denis) e 0 que & fmbotizago (pensade). Ao possbintar-nes 0 acess) a otras stuagoes © expentéacias, pela via do sentimento, 2 arle consti em nes as bases pra una compreenstio Itio: de taisstuagées. Porque a simples transmissao de conceitos verbs, quero se liga de forma alguma a0: sontimentos dos individuos, nao é garantia de que tum precesso de real aprendizagem cara, Ao ditado popular “o que ox ins ndo véem o carario do senie" Doler-se-iaentioacrescenta: “e a cabeca nio apreen- de" Pemitir (através da arte) uma mslor viténcia dos sentimentos 6, festa forma, ranger o proses dt prendisagem como ti tado, « N86 apenas em UR mensio simbélea, sezbesa, palavresca como insste er {ser een tradionsl, HA que se considerar também os aspactos wdeio- culturais da edueagae proporeionada pela arte, peis ela ‘sth sempre situada num contexto histérico ¢ cultural or cla ag eulturag oxprimam: 0 sou “sentimento da ép0. ‘a, foto & a forma como sontem aua reelidade, nisms dado momento. Aquilb que chamarros de “personalid de cultarel”, encontra ta arte um melo paderoso pars be expressare se torr objetivo, O chamado “estilo” de lum dado perfodo hisiérico (par exemplo: 0 barreco, 0 neo-cléssto, o impressionistio) naga mals € do que @ ilizagio de determinadas formes do expressiio, ou de deverminedos codigos, pautados neste “sentimento da poe". o AAs diversss modalicades do significado, u os diver- sos eampos do conkecimento —cientifien, flosifio, r= lipioso.estéticy — mesclam-se na eonstituicio da estilo, gue & sivido pelos individuos. H ests eatlo encentra na arie a sus expressio plena, Assim, mantendo-so om contato com « produgéo antfstiea de eeu tompo ¢ gua culture, 9 individu vivew fe 0 "sontimento da épnea", ou seja, participa daquela forma de sentir que & comum a seis conterportneos, Como em nosso civilizacéo existe uma alavancha de sig- nifieedos, de conhecimentos, € uiflilimo consegitr-se ‘uma visio do todo cultural em que estamos, A arte pede, ‘entdo, vir a fornecer as bases (@ nivel do sentimento) pra que esta visto seja consegulda Conhecendo a arte de meu terapo e cultura, adquiro fundamentos que me permitem uma concomitants ‘ompreensao do sentido da vida que é vivida aqui ¢ ago- rm. Emais: conhecendo a arte pretérita da cultura onde ‘vivo, posse vir'a compreender as transformagSee cpera. das no seu modo de sentir e entender n vida ao lenge fia istiria, até o: moas dias, im termor interculturais a arte tamnbéaa ugresenta Jum importante clemento pedagégico, Na medida et que nos aeja dado experieneiar a produgio artitica de cutras culms, tomarse mais (Gell a compreensio dot ‘sentidos dados & vida por essas culturas estrangeims, ‘Auravés da arte se participa dos elementos do sentimen- to que fundam a euitura alienigena em quest, o que é © primeiro pasen para que se interprete as suas mensa- gens e signiticacées: Hii uma eoria universalidede ros ‘Simbolos artistices, que permitem que as barzeiras im- postas peles linguas Clferentes sejam derrubsds Dissemos que hi wma ceréa wniversalidade em tais imbolos porque, nfo se pode exquecsr, também clos Sio forjadae « parti do vivémeiaa eulturaie préprian, « n hem sempre sio acessveis a outras cultaras, Por exem- plo: para o ouvido osicental é algo difiell aprender © sentir os pacirdes musicais do oriante (estabelecidos 80- bre escalas © harmonias diferentes), Jd que of aosscs fentimenios. em termos musleais, foram edueados 805 estruturas radicalmente distintas, ® dificil parm os hhasses sentimentos encantrarem, na masica tipteamen- te oriental, Simbolas quo Thos sejam exprosstvae, Con tudo, como existe ama certa corerpondéncia ontre o& lum exéelsnio maio ce sesso & "vie ovutres pores. Porem, este fato funciona como uma fara de dos gumes. Pols através da arte a moderna civiizarao Industiial (especialmente com relaedo aos paises hege- ‘ménicos) tem penetrado em diferentes culturas com 0 intuito de amoldar-Ihes os sentimentos isto com a finalidade de condieicnar e formar novos mezeados para os seus predutos, para a sua domina¢do econtmice, Quando um povo abandona os seus padrdes extéticas em favor de padrées estrangeires — brotados de condigoes diversas de vida — deinn de sentir com elareza, Perde= se em Simbolos que no ihe io totalmente expressirar, tucabendo por pracuair uma arte antoxfa, inexpressita & sem vida B recessério culcado quando se manipula, em ter- mos educseionas, as artes produnidas por outres poros, Porque mais do que agentes educacionais, ders estar nos tornanéo agentes invasores: instrumentos de do ‘minagao o servieo de prioridades econbmicas es:rangel- ras, Fundamental, entéo, se torna a estimulagdo em tomo de nossos préprios padrdes estéticos. Especial- mente o folelore, que é a expressdo brotada das mais profunéas raizes culturais de um povo, deve ser cone ido, Conhecer © nosso felclore & ir tuscar. ld onde 0 n ovo enirenta 4 luta pela sua vida, os sentimentes de ‘osia culture, Relegi-lo a panos inferiores, classified Jo de “arte menor” ou “cols de incultos’, 6 fazer 0 jogo dx dominarao e destruicio cultural Apontamos assim algune deo clementos educativos ‘centidos no bojo da axprewio artistica, Estes sa os fundamentoe Hlossficos que embssan « utileurso da arte como veioulo educacional. preciso que se enten- da, enti, ¢ que afirmamos nas prineiras paginas: que farleodueasde née significa o Welno para alguém se tornar um artis. Bla pretende se- uma maneira mais fampla de se abordar 0 fendmeno eaueacional, ceneide- rando-o néo apenas como transmissao simbélica de fcuntedlmentos, mss como um process formative 40 humauo. Um prozesso que envolve a eriagae de tum ‘Sentide para a vids, @ que emerge desde 08 nossos sen ‘timentos peculiares, ‘A emoln hoje se caracteriza pela imposicio de verdades | prontas, s qusis or eduesndos deve 16 ‘Submeter. Nao hd all um espago para que cada um ‘labore a sua visio de mundo, a partir de sua situapdo fexistencil A escola ensina tasportae. Reefostas que, nna maioria das sates, aio corespendem ke perguntas f inquistagées de cada um. An verdadeiras dividas des alunos io chegam sequer a ser colocadas, pois 0 professor j4 sabe o que todos dover ou nao saber, ante- sipadamente, Teprodus-se a cise da personalldade, risente em noosa civllzagao: eriacse um “mundo two Heo, abstrato”, que serve apenas par fazer proves “‘pussar de eno”, © que ndo se articula & vida virica dos cstidantes. 1 ui fusso profundo extre 0 que s2 fala 20 que se faz, Batre a teoris ea pritiea ‘través da arte, no entanto, o individuo pode ex- Dresser aquilo que o inquieta o o prooeupa, Por ela este ode elnborar seus sentimentos, para que aja uma n evolueio mais integrade entre o contiecimento sible ico @ seu préprio “ex”. A arte caloca-o frente a frente ‘com a quesio da eriagio: @ eriazaa de wn senlico pet foal que oxlente sua ayde ho mundo. Por isso, na arte-euraci, o que importa néo é 6 Droduts final obtido: no € a produsie de boas obras earte. Antes, a atonao dove rocaiz sobre o proceso de eriapio. © processe pelo qual © edweand deve elaborst ‘Seus préprios sentidos om relagio wo mundo & sua volt, A finalidade da arto-ecucagio deve ver, semipic, 0 de. senvolvimento do uma saascignci esletica, consciéncia estétics, af, signifien muito mais do ue a simples apreciscdo ca arte Ela eompreende jue famente uma atitude mais harmoniose ¢ equilisrada Berante o munda, em que os sentimentoe, a imaginagao a rardo so intagram: em que o# senidos e valores daddos A Yida so assumidat no agir cotidians. Comarveude Juma atiture onde nfo existe “aieténcia entre intends € esto", segundo o verso de Chico Buarque © Ruy Guerra. Fm nossa atual slviisapic (anti-esiélea pot ‘xeelénela), consolincia estética significa uma eapact dade de esectha, uma copecidade critica para nko Ape. ‘as ee eubmoter & imposicio de valores e sentidos, tas parm selocioné-los © recrié-los segundo nosse situacao ‘existencla, Segundo Lowenfeld « Brittain, dois arte-edueado- tas norte-americanos, ".. 0 que é ecesairio uo desen- Volrimento da conssiéncia astéticn nao ¢ & aproomgae de determinado quatro cu objeto, netn, neecasasiamaen- ‘te, 0 ensino de certos valores adultos oa de uth vex lirio para descrever cores de arte. A consciéncia esié- tics seri mais bem onsinada através do sumento da ontcientisngio pela erianga do seu priprio ea ¢ de ‘maior sensibilidade no pesprio melo.” (Desennotvtmen s to da. Cepacidade Cricdora. Sio Paulo, Mestre Jou, 1977, p. 307.) Arte-edacagio nko deve sigaiticar, finalmente, mera iwclusio da “educagdo artistica” nos cursiealos esoolares, Porque, en se mantendo a atual estruture (compactimentada e raclenulists) de ayssas excolas, 8 arte ali se loma apenas uma disc;plna « mals entre antes ouires, O que esta em jogo 6a propria estruture escolar, onde a edueagdo — entendica como ura ati ‘idace lidiea, findada na relagéo e no cidiogo — tor Srensforniada’em ensine: um despelar de resportes pre fabricadas a questbes percebidas como apsolutamente inrelevantes pelos educandos. ‘A educagio 6, por corto, uma atividade profunda- iene eoiética « sriedora om ai prépels, Ela tem 0 fentklo do jogo, do Eringuedo, om quo nos envolvemes Drazecoanente om busca de uma batmonla. Na woos, Fo joga-se com a consirupio do sentido — de sentico {que deve Tundameatar nossa cumpreensio do svundo & da vida que nele vivernos. No espajo educaciona! com: promelemo-nos com nossa “visio de mundo”, com nossa, palavre, Estamos ali em pessoa — uma pessoa que tem 10g seus pontos de vista, suas opinides, deejos e puixOes, ‘Néo somes apenas veictlos para a transmissio de icéias de tercelzas: repetidares de opiniGes alteins, neutros € ‘objetivos, A relagdo edueacional &, sobretudo, ura rela- co de pessoa a pessoa, humana e envelvente, core porém que asta relagio educaatonal teve de racionalisada por exigineia da moderna organiza ao industrial, O educador 6e transformou om profes- Ser: um funclondrio que deve tornar o seu trabalho ‘bjetivo © racional, Criarain-se os melos de controle fe gereneamento da atividede educative: alseiptinas, currieuice, eargas-horérlas, controle de presengas, etc ‘Jk nde devernoe dizer 8 now palavre; somos apene> 1% Pega na maguinaria escolar, Deverwos nos wdaptar & Instituigéo, mesmo que, para tanto, delxemes de ser educadorss © nos tornemos reproduiores de formulas prontas xe, o conflito en que estamos metidos até a alma, Como realizar ums edueagdo de maneiza Iden v esté tea em irstituiedes fundadas sobre o utiitarisma? Coro ser um educador quando o que se exige é um professor Dourocrate? Como realizar uma verdadeira arto-sdaca- a0? Contesso nio ter reteitas para solicioner a ques- tio. Apenas aeredito na luts, Na ita incessante que a trava no interior da eseola, frente soe alunos, para que se rompao modelo impasitvo e autoritério eriado, Crcio ‘na Iuta que dorrube 0 tofalitarisme implantado mes Inatisuigdes educacicnale: tudo ja eaié pré-decldido, deade os monstragsos cuzrfculos até a forth de se mi fnatrar aa wales, Crelo na berdade de expressdo, ga72n- ca @ todos: mesizes ¢ clseipulos, Porque arte- uma real arte-educagio, endo de uma “arte eullndria”: Uma arte culinéria cuja receita princl- ‘pel é cozinhar-se om fogo brando os coragoes » mentas das novas geraGies, para servis no grande banquoto do desenvolvimento industrialista Resamo das Iéas Prinotpate: * Ness modelo educacional sempre acsentou se sobre bases utiitaristar « pragméticas, * A Tat £.602/71 tove como finalidade principal a pro- a LUcsenwoivimente que adozames, * Apesar de existir a letra da Lei, ¢ acte-ecucagio no Brasil esta relegaca a set mera diselplina “desorati- va" nos curriculos * Neste contexto a arte-edueagao acaba sendo wsada ‘como atais uma imposicao de valores e modelos alheios ao edueanda. * 0 papel homogeneizante da tolevisio a4 reflete tara- bbém no interior da arte-edtcagao. * A edueagio, epecialmente no campo artistico, nia 6 ‘uma atividade “neutra", mas implion na expressio ‘pesooal de valores, scatiments © aignitieagies

You might also like