You are on page 1of 43

— 35 —

2 A redação nos vestibulares


Lembretes dação, significa que ela está inserida
dentro do tempo total concedido.
importantes Aconselha-se iniciar a prova pela Re-
dação (o rascunho, ao menos).

6. Toda a redação é normalmente em


1. TEXTO-BASE (OU TEXTO) — Quan-
PROSA, o que significa não fazer
do o vestibular fornece o Texto-
versos, não fazer poesia, mesmo
Base, como texto de apoio ao candi-
que sem rima ou sem métrica.
dato, pode simultaneamente fornecer
o TEMA (título, assunto) ou não. Nes- 7. O estilo que mais se ajusta à discus-
te último caso, a redação será feita a são e desenvolvimento de um assun-
partir da interpretação do texto, de to é a DISSERTAÇÃO. Só a deixare-
onde se tirará a idéia central ou as mos de lado se for solicitada uma
idéias básicas para a feitura da reda- NARRAÇÃO.
ção. Esse tipo de redação pede nor-
malmente ao vestibulando que dê um 8. Na DISSERTAÇÃO, o aluno deve dis-
título à sua redação. cutir o assunto, expor seus pontos
da vista, analisar os vários aspectos
2. TEMA — Quando o vestibular forne- relacionados com o tema/assunto,
ce ao vestibulando apenas o Tema estabelecendo causas, conseqüên-
(título, assunto) da redação. cias, soluções ao «problema», finali-
zando com uma conclusão.
3. DAR UM TÍTULO — Somente quando
a prova, nas instruções, solicitar.
Caso contrário é proibido.
Os erros mais
4. Colocar TÍTULO/TEMA dado na folha
da versão definitiva quando este não freqüentes
estiver impresso. Coloque-o na pri-
meira linha, deixe uma ou duas linhas
em branco, e então inicie seu primei- Estudantes e professores experi-
ro parágrafo. Lembre-se: a linha do mentam semelhante sensação de de-
título e a(s) linha(s) em branco não sespero diante da Redação. Os estu-
são contadas como redação. dantes não escondem seu pavor diante
da folha de papel em branco. Os pro-
5. Quando o vestibular (instruções) não fessores sofrem um pouco depois, quan-
especifica um tempo só para a Re- do a mesma folha volta preenchida, pron-
— 36 —

ta para a correção. Tudo o que faltou ao


ensino de 1º e 2º graus está ali: um texto
Temas de redação
tão caótico quanto o raciocínio de quem
o escreveu, parágrafos quilométricos,
de vestibulares
chavões colhidos na linguagem das
emissoras de FM e muitos erros de Por- Neste item você vai encontrar te-
tuguês, da pontuação à regência ver- mas de redação de várias instituições
bal, da acentuação à concordância. Al- de ensino dos últimos vestibulares.
guns erros muito freqüentes:
O objetivo é dar familiaridade à ma-
• «A maioria estão descontentes» ou neira como hoje são apresentadas as
«mais de uma pessoa estavam à es- propostas de temas nos vestibulares e
pera». O erro é de concordância. é importante que o candidato teste suas
condições, seu grau de dificuldade e
• «Para mim ir» e «entre eu e ela». Os pro- treine o máximo possível, pois esse é
nomes «mim» e «eu» estão trocados. um caminho seguro para aprender ou
melhorar redação.
• «Há cinco anos atrás.» O há, neste Ao selecionarmos os temas, pude-
caso, já indica passado e significa faz. mos perceber que eles são sobre as-
suntos atuais, alguns são referentes
• «Se eu ver», «se ela ver», «se nós aos problemas sociais de nosso país.
vermos». A conjugação do verbo ver Portanto uma outra dica é ler cons-
no futuro do subjuntivo está errada. tantemente, criar o hábito da leitura diá-
É com i. ria de jornais e revistas, pois essa leitu-
ra traz e aprofunda seus conhecimen-
• Conceção, excurção, excessão, tos sobre os fatos, dando argumentos
pichassão. O erro é de ortografia e para sua explanação.
envolve letras que freqüentemente se
confundem na cabeça do estudante: FUVEST/92 — Faça uma dis-
ss, s e ç. sertação discutindo as opiniões abaixo
expostas. É importante que você assu-
• «Esse problema implica em.» O erro ma uma posição a favor ou contra as
é de regência: O verbo implicar não idéias apresentadas. Justifique-a com
pede em. argumentos convincentes. Você pode-
rá também assumir uma posição di-
• «Ela teve menas sorte do que ele.» A ferente, alinhando argumentos que a
tentativa de concordância é entre o sustente.
substantivo feminino «sorte» e o ad- TEXTO
jetivo «menos».
I. Alega-se, com freqüência, que o
(Revista IstoÉ) vestibular, como forma de seleção dos
— 37 —

candidatos à escola superior, favorece “Tevê coloridas / fará azul-rósea /


os alunos de melhor situação econômi- a cor da vida?”
ca, que têm condições de cursar as me- (Carlos Drummond de Andrade)
lhores escolas, e prejudica os menos
favorecidos, que são obrigados a estu- PUC/95 — 3 textos para escolher
dar em escolas de padrão inferior de o tema.
ensino.
TEXTO 1
II. Por outro lado, há quem conside-
DA VIOLÊNCIA
re que o vestibular é apenas um pro-
cesso de seleção que procura avaliar o “Do rio que tudo arraste se diz que
conhecimento dos candidatos num de- é violento / Mas ninguém diz violentas /
terminado momento, escolhendo aque- As margens que o comprimem.”
les que se apresentam melhor prepara-
(Bertold Brechet)
dos para ingressar na Universidade.
Culpá-lo por possíveis injustiças é o TEXTO 2
mesmo que culpar o termômetro pela
febre. “Na primeira noite / eles se aproxi-
mam / e colhem uma flor / de nosso jar-
FUVEST/94 — Relacione os textos dim. / E não dizemos nada. / Na segunda
abaixo e redija uma dissertação, em pro- noite, / Já não se escondem: / pisam as
sa, discutindo as idéias neles contidas flores, / matam nosso cão, / e não dize-
e apresentando argumentos que com- mos nada. / Até que um dia / o mais frágil
provem e/ou refutem essas idéias. deles / entra sozinho em nossa casa, /
rouba-nos a lua e, / conhecendo nosso
TEXTO
medo, / arranca-nos a voz da garganta. /
“Antes mundo era pequeno / Por- E porque não dissemos nada / Já não
que Terra era grande / Hoje o mundo é podemos dizer nada.”
muito grande / Porque Terra é pequena / (Bertold Brechet)
Do tamanho da antena parabolicamará.”
(Gilberto Gil) TEXTO 3

“Como democratizar a TV, o rádio, QUEM É TEU INIMIGO?


a imprensa, que são o oxigênio e a fu- “O que tem fome e te rouba / o últi-
maça que a nossa imaginação respira? mo pedaço de pão, chamá-lo / teu inimi-
Como seria uma TV sem manipulação? go / Mas não saltas ao pescoço / Do teu
São perguntas difíceis, mas a luta social ladrão que nunca teve fome.”
efetiva e, sobretudo, um projeto de fu-
(Eduardo Alves da Costa)
turo são impossíveis sem entrar nesse
terreno.”
PUC/96 — 3 textos para relacioná-
(Roberto Schwarz) los e tirar o tema.
— 38 —

TEXTO 1 (texto da figura: A televisão já transmite


para o computador e o computador ago-
“Para que olhar para trás, no mo-
ra é capaz de mandar texto, vídeo e
mento em que é preciso arrombar as
som para qualquer parte do mundo. Essa
portas do impossível. O tempo e o espa-
rede fala por canais digitais.)
ço morreram ontem. Vivemos já no ab-
soluto, pois criamos a eterna velocida- UNICAMP-SP/92 — TEMA A: As so-
de onipresente.” ciedades ditas civilizadas vêem a violên-
(Marinetti) cia, em especial quando organizada, co-
mo uma ameaça a seu sistema de valo-
TEXTO 2 res. Levando em conta a coletânea abai-
xo, escreva uma dissertação sobre o te-
“Há informação demais no ar, há
ma: Violência nas tribos urbanas mo-
mensagens armazenadas nos suportes dernas.
eletrônicos e tudo isso se torna cada vez
mais disponível a um leque cada vez maior 1. “(...) a violência é de todos e está em
de pessoas, a um custo progressivamen- todos. Mesmo que o sistema judiciá-
te menor.” rio contemporâneo acabe por racio-
nalizar toda a sede de vingança que
(Arlindo Machado)
escorre pelos poros dos sistema so-
cial, parece impossível não ter que
TEXTO 3
usar a violência quando se quer li-
“De fato, a história não tem cessado quidá-la e é exatamente por isso que
de nos mostrar que qualquer novo meio ela é interminável. Tudo leva a crer
de produção de linguagem e de proces- que os humanos acabam engendran-
sos comunicativos também produz no- do crises sacrificiais suplementares
vas formas e conteúdos de linguagem, que exigem novas vítimas expiatórias
produzindo simultaneamente novas es- para as quais se dirige todo o capital
truturas de pensamento, outras modali- de ódio e desconfiança que uma so-
dades de apreensão e intelecção do ciedade determinada consegue pôr
mundo, ao mesmo tempo que tende a pro- em movimento.”
vocar fundas modificações nos modos (René Girard, A Violência e o Sagrado)
de ver e viver e nas interações sociais.”
(Lúcia Santaella)
2. “Aqui nesta tribo ninguém quer a sua
catequização / Falamos a sua língua
mas não entendemos seu sermão /
Nós rimos alto, bebemos e falamos
palavrão / Mas não sorrimos à toa /
Não sorrimos à toa / Aqui neste bar-
co ninguém quer sua orientação / Não
temos perspectiva mas o vento nos
(Veja, 1/3/95) dá a direção / A vida que vai à deriva
— 39 —

é a nossa condução / Mas não se- R: Não foi a primeira vez que mor-
guimos à toa / Não seguimos à toa.” reu alguém em um show de rock. Quan-
(Arnaldo Antunes, Volte para o seu lar)
do muita gente se reúne, pode haver
alguma confusão, principalmente no
3. “O Guns N’Roses, hoje com certeza a Brasil. Fiquei sabendo que o garoto que
banda mais popular do mundo, entra morreu estava com uma machadinha.
em cena ao vivo e a [sic] cores no Ele, então, não foi ao show com boas
maior estilo rock-rebelde: palavrões intenções. Ele não estava ali para ouvir
cabeludos, sexo, drogas, quebra-que- música, mas para brigar (...). Culpar o
bra, atrasos enormes e até interrup- rock por uma morte é mais fácil do que
ções nos shows comprovam que os achar o verdadeiro culpado.
‘bad boys’ continuam fazendo o estilo P: E quem é o verdadeiro culpado?
‘inimigos públicos nº 1’. Com voz ras-
gada, eles ‘descem o verbo’ na disci- R: Acho que é o País inteiro, o esta-
plina, na política, nos amantes, nos vi- do em que o País se encontra.
zinhos, nos críticos e na imprensa.” (Entrevista com Max Cavalera, vocalista do grupo de
rock Sepultura. IstoÉ Senhor, 9/10/91)
(Edição especial de Top Metal Band
sobre o Guns N’Roses)
6. “Hoje é véspera de Natal de 1999...
4. “Policiais e pretos, é isso aí / saiam do Apesar do medo da guerra nuclear,
que ainda nos assusta, conseguimos
meu caminho (...) / Imigrantes e bi-
chas / Não fazem nenhum sentido pra sobreviver às freqüentes guerras en-
mim (...) / Radicais e racistas / Não tre tribos surfísticas antagônicas(...).
Multidões de jovens hipertensos de-
apontem o dedo pra mim / sou um
garoto branco, vindo de uma cidade dicam-se a destruir ondas que mere-
pequena / apenas tentando acertar ciam ser acariciadas pela superfície
lisa de suas peles e pranchas(...).
as pontas.”
Fiscais uniformizados e armados pa-
(Guns N’Roses, One in a million) trulham as praias para controlar as
violentas guerras entre os surfistas.
5. Pergunta: O tipo de som produzido Além disso, aplicam tranqüilizantes
por bandas como a sua não incita à nos surfistas que freqüentemente
violência? piram com a tensão do cotidiano(...).
Resposta: Acho que sim. Mas é Discussões entre surfistas são de-
uma violência que não faz mal. É um cididas em combates rituais, onde a
lance de rebeldia liderada aí no show, morte está sempre presente. Nas ruas
sem precisar agredir ninguém. das cidades imundas e perigosas,
marginalizados povos primitivos que
P: Se é assim, por que então um ga- habitavam as favelas agora vagam
roto morreu baleado num concerto que famintos e agressivos.”
os senhores deram, em maio, na praça (Tito Rosemberg, Lendas e Tribos: Revisando o Futuro,
Charles Müller, em São Paulo? Fluir, out./90)
— 40 —

UNICAMP-SP/95 — TEMA A: Em ção Global, Lair Ribeiro (5-50); 5. À


momentos de crise, o homem procura sombra das Chuteiras Imortais, Nel-
desesperadamente encontrar saídas. son Rodrigues (6-5); 6. Pequeno Ma-
Cientistas sociais, filósofos, políticos afir- nual de Instrução da Vida, Jackson
mam que é preciso alterar as condições Brown (7-18); 7. Minutos de Sabedoria,
econômicas, sociais, educacionais, para Torres Pastorino (8-8*); 8. Arte&Manhas
que indivíduos possam resolver seus da Sedução, Marion Vianna Penteado
problemas; místicos, esotéricos e defen- (9-12); 9. Na Sala com Danuza, Danu-
sores de várias formas de auto-ajuda za Leão (4-48*); 10. Manual do Orgas-
prometem saídas pessoais, por vezes mo, Marilene Cristina Vargas (7-5*).
rápidas e eficazes. Na coletânea abai-
Os números entre parênteses indi-
xo, você encontra elementos relevan-
cam: a) cotação do livro na semana an-
tes para a análise dessa questão. Com
terior; b) há quantas semanas o livro
base nos fragmentos dessa coletânea,
aparece na lista; (*) semanas não con-
redija um texto dissertativo sobre o se-
secutivas. Esta lista não incluiu os livros
guinte tema: Saídas milagrosas para a
vendidos em bancas.
crise: solução ou ilusão?
(Veja, 25/8/93)
1. “A auto-ajuda contém uma filosofia do
senso comum, uma espécie de refina- 3. O arcebispo de São Paulo, dom Paulo
mento do que se vê nos pará-choques Evaristo Arns, acredita que os livros
de caminhão. ‘Sorria para a vida e ela de Paulo Coelho sejam uma espécie
sorrirá para você’, por exemplo. Ou de ponto de apoio dos desacreditados
então: ‘Toda jornada começa com um na religião. “Eles oferecem um mundo
passo’. É possível discordar disso?” espiritualizado para o vazio deixado
pelo materialismo da máquina e ensi-
2. OS MAIS VENDIDOS: FICÇÃO — 1. O nam a felicidade que cada um busca”,
Alquimista, Paulo Coelho (8-212*); 2. diz dom Paulo.
Escrito nas Estrelas, Sidney Sheldon (A conversão do mago, IstoÉ, 3/8/94)
(1-14); 3. Memorial de Maria Moura,
Rachel de Queiroz (3-31*); 4. O Dossiê 4. “Para quem ainda não sabe, a grande
Pelicano, John Grisham (4-10*); 5. Re- tábua de salvação chama-se neuro-
começo, Danielle Steel (5-3); 6. A Fir- lingüística, PNL, tem menos de vinte
ma, John Grisham; 7. O Parque dos anos de vida e é um sucesso planetá-
Dinossauros, Michael Crichton (4-9); 8. rio, sozinha ou somada a outras téc-
Bala na Agulha, Marcelo Rubens Paiva nicas. Nada que é humano, de crises
(8-39*); 9. As Valkírias, Paulo Coelho de claustrofobia a paixões por doces,
(2-53); 10. Noite sobre as Águas, Ken lhe é estranho. Tudo é importante, tudo
Follet (10-55*). NÃO FICÇÃO — 1. tem remédio. Ensina que o negócio não
Emagreça Comendo, Lair Ribeiro (1- é ver para crer, mas crer para ver.
6); 2. O Sucesso Não Ocorre por Aca- (...) Andam dizendo que introduziu nos
so, Lair Ribeiro (2-56); 3. Prosperida- trópicos o conceito de felicidade por-
de, Lair Ribeiro (3-37*); 4. Comunica- tátil, do faça você mesmo agora (...).
— 41 —

Imagine-se, vendo para crer, uma 7. As modernas listas de best-sellers ilus-


platéia de cinqüenta pessoas reunidas tram a imensa necessidade que temos
num hotel (...) para ouvir o doutor Lair desses livros de iniciação, verdadei-
Ribeiro (...): ‘O cérebro é uma máquina ros manuais de sobrevivência para a
sofisticadíssima que vem sem um ma- travessia da vida. Mas a arte de viver
nual de instruções’. (...) ‘Ele foi progra- adulta, envergonhada, costuma se
mado para te [sic] dar o que você quer e apoiar em dois álibis: ou na psicologia,
para ele você quer tudo o que pensa’. e então temos lições positivas de Lair
(...) ‘Repita: dinheiro cresce como árvo- Ribeiro, ou na religião, e temos aqui as
re. Dinheiro é limpo. Contribui para a fe- fábulas esotéricas de Paulo Coelho.
licidade. Pessoas ricas são abençoa- Não ousamos ainda nos apegar a uma
das. O ser humano nasceu para ser prós- arte de viver sem muletas, moldada
pero’.” diretamente pela própria vida.
(José Castello, Caderno 2,
5. “Há também quem veja utilidade em O Estado de S. Paulo, 8/11/94)
tudo isso, como o psicanalista cario-
ca Luiz Alberto Py. Ele acha que a 8. A crise criou discursos, que se di-
auto-ajuda é um caso down-trading, gladiam pelos louros do acerto. No dis-
uma característica do mercado de ci- curso clamor à nação, o orador pede
garros em que muitas vezes uma mar- a uma Razão secreta que desperte,
ca barata supera a venda das cam- tipo “Deus, onde estás que não res-
peãs porque o preço delas subiu de- pondes?”. Tende para o religioso, para
mais. ‘A psicanálise é cara. Comprar o sagrado horror; já que não há ne-
um livro de auto-ajuda é mais barato nhuma Central da Razão que tome uma
e pode funcionar’, diz.” providência. (...) A crise é boa para
aumentar o contato com o absurdo;
(Os fragmentos 1, 4 e 5 foram extraídos de:
A felicidade portátil, Veja, 24/11/93)
logo, com o mistério da vida. Neste
sentido, a crise é filosófica.
6. Veja — É possível recuperar a auto- (adaptado de Arnaldo Jabor, A crise é a salvação de
muitos brasileiros, Os canibais estão na sala de jantar)
estima brasileira, perdida na déca-
da de 80? 9. “Os homens fazem a sua própria história,
S. Kanitz [economista] — Os bra- mas não fazem arbitrariamente, em cir-
sileiros foram cobaias de experimen- cunstâncias escolhidas por eles mes-
tos econômicos por quase dez anos, mos, e sim em circunstâncias direta-
o que baixa a auto-estima de qual- mente dadas e herdadas do passado.”
quer um. O Lair Ribeiro é resultado (Karl Max, O 18 brumário de Luiz mBonaparte)

disso. Se as pessoas não estives- 10. “Vivi puxando difícil de difícel, peixe
sem de astral tão baixo, ele não ven- vivo no monquém: quem mói no asp’ro,
deria tantos livros. A auto-estima co- não fantasêia.’ (...) Viver é muito peri-
meça a melhorar quando você tem goso...”
controle sobre sua vida econômica. (palavras de Riobaldo, personagem de Grande Sertão:
(A crise já era, Veja, 12/10/94) Veredas, de João Guimarães Rosa)
— 42 —

TEMA B: Na coletânea abaixo, há em um dia de primavera, em um passeio


elementos para a construção de um tex- que será o último passeio que um o jovem
to narrativo em que se tematiza o fará no lugar que ele ama. Um pai e um
relacionamento entre duas pesso- filho sozinhos em um restaurante, o pai,
as, o cruzamento de duas vidas. Sua triste, olhos fixos na toalha de mesa. Um
tarefa será desenvolver essa narrativa, trem com vagões vermelhos, sobre uma
segundo as INSTRUÇÕES GERAIS. grande ponte de pedra, de arcos delica-
dos, o rio que sob ela corre, minúsculos
“A tragédia deste mundo é que nin- pontos que são casas a distância.”
guém é feliz, não importa se preso a uma
época de sofrimento ou de felicidade. A INSTRUÇÕES GERAIS: Escolha ele-
tragédia deste mundo é que todos estão mentos de apenas uma das cenas
sozinhos. Pois uma vida no passado não apresentadas (A ou B), para construir:
pode ser partilhada com o presente.” as duas personagens, o cenário, o en-
redo e o tempo de sua narrativa. O foco
(Alan Lightman, Sonhos de Einstein, 1993)
narrativo deverá ser em 3ª pessoa. O
desenvolvimento do enredo, a partir da
CENA A: UM HOMEM, UMA MULHER*
cena escolhida por você, deverá levar
“Uma mulher deitada no sofá, cabe- em consideração o trecho de Alan
los molhados, segurando a mão de um Lightman, que introduz a coletânea.
homem que nunca voltará a ver. Luz do (* os fragmentos das cenas A e B também foram
sol, em ângulos abertos, rompendo uma ja- extraídos do livro de A. Lightman)
nela no fim de tarde. (...) Uma imensa árvo-
TEMA C: “Na luta contra a Aids, de-
re caída, raízes esparramadas no ar,
frontam-se os rigorosos, que exigem
casca e ramos ainda verdes. O cabelo rui-
respeito aos princípios preventivos bá-
vo de uma amante, selvagem, traiçoeiro,
sicos e corretos, com os complacentes.
promissor. Um homem sentado na quietu-
Aqueles exaltam o valor do relaciona-
de de seu estúdio, segurando a fotografia
mento sexual responsável, o combate
de uma mulher; há dor no olhar dele. Um
efetivo à toxicomania e adequada sele-
rosto estranho no espelho, grisalho nas
ção de doadores de sangue. Os outros
têmporas. As sombras azuis das árvores
preconizam coisas mais agradáveis,
numa noite de lua cheia. O topo de uma como por exemplo o emprego desbra-
montanha com um vento forte constante.” gado e a doação gratuita de camisinhas,
CENA B: UM PAI, UM FILHO* a distribuição de seringas com agulhas
a drogados e a perigosa, além de pro-
“Uma criança à beira do mar, en- blemática, lavagem delas com água sa-
feitiçada pela primeira visão que tem do nitária. Agora, os permissivos, que não
oceano. Um barco na água à noite, suas estão obtendo qualquer vitória, pois a
luzes tênues na distância, como uma pe- doença afigura-se cada vez mais difun-
quena luz vermelha no céu negro. Um dida, ganharam novo aliado: o Conselho
livro surrado sobre uma mesa ao lado de Federal de Entorpecentes (CONFEN), que
um abajur de luz branda. Uma chuva leve concordou com o fornecimento de se-
— 43 —

ringas e agulhas, sem ônus, aos vicia- tribuição reduziu o ritmo de dissemi-
dos. Portanto, esse órgão público asso- nação da Aids.”
ciou ilegalidade à complacência. ”
* junkies: termo inglês que significa
(Vicente Amato Neto [médico infectologista],
drogados.
Painel do leitor , Folha de S.Paulo, 18/9/94)
(O pico à luz do dia, Veja, 7/9/94)
A carta acima faz referência a uma
proposta polêmica do CONFEN (Conse- 2. Em nosso país, exige-se o diploma para
lho Federal de Entorpecentes): o forne- que alguém aplique injeção endove-
cimento gratuito de seringas e agulhas nosa, porque pessoas não treinadas
a viciados em drogas injetáveis. criam perigos para si ou para outros,
ao realizar inoculações. Fornecer agu-
A ) Caso você concorde com a proposta lhas e seringas a pessoas não habili-
do CONFEN, escreva uma carta ao tadas para seu uso é como dar um
Dr. Vicente Amato Neto, procuran- carro a menores de idade, ou uma
do convencê-lo de que ela pode arma a quem não sabe utilizá-la. Isso é
de fato contribuir para evitar a dis- pelo menos indesejável para a socie-
seminação do vírus da Aids. dade, além de ser ilegal. No caso, a
B) Caso você discorde dessa propos- ilegalidade se tornaria incontrolável,
ta, escreva uma carta ao Presiden- pois o distribuidor dos medicamentos
te do CONFEN, procurando conven- e agulhas seria o próprio Estado. A
cê-lo de que ela não deve ser pos- proposta de um programa como esse
ta em prática. não leva em conta a realidade, cau-
sando desperdício de recursos já pre-
Ao desenvolver sua redação, além cários. Tais propostas são feitas por
de expor suas opiniões, você deverá ne- pessoas que nunca viram, de fato,
cessariamente levar em consideração a como funciona uma “roda”*, provavel-
coletânea abaixo. mente dirigentes sem formação médi-
ca e sem assessoria adequada (socio-
1. “Graças a uma legislação liberal, a
lógica, por exemplo). Não é difícil adivi-
maior cidade suíça [Zurique] criou
nhar que se trata de um plano que só
uma área especial — Letten, uma
beneficia vendedores de agulhas e
estação de trens desativada — onde
seringas e burocratas de escritório,
é possível comprar e usar heroína
não tendo qualquer conseqüência
em plena luz do dia. (...) Desde 1992,
para a epidemia da Aids.
quando os junkies* se mudaram da
Platzpitz, uma praça no centro da ci- * roda: prática, comum entre droga-
dade, para Letten, o consumo não dos, que consiste no uso de uma mes-
pára de crescer — um fato atestado ma seringa por várias pessoas.
pelas 15.000 seringas descartáveis
(adaptado de Vicente Amato Neto & Jacyr Pasternak,
distribuídas diariamente na velha es- A doação de seringas e agulhas a drogados,
tação. A única vantagem é que a dis- O Estado de S. Paulo, 5/9/94)
— 44 —

3. “A distribuição de seringas para usu- UNICAMP-SP(96) — TEMA A : A


ários de drogas pode diminuir pela vida em sociedade exige uma clara defini-
metada a taxa de propagação do ví- ção dos limites entre a liberdade do cida-
rus da Aids neste grupo de risco. A dão e o poder do Estado. A análise de al-
conclusão é de uma pesquisa realiza- guns casos de intervenção estatal na esfe-
da na Universidade Johns Hopkins, de ra privada (como os exemplificados em al-
Nova York, que envolveu 22 mil pes- guns dos fragmentos da coletânea a se-
soas em vários bairros nova-iorquinos. guir) pode levar à conclusão de que, nes-
(...) antes do programa, uma seringa ses casos, o Estado cerceia a liberdade in-
era emprestada, alugada ou vendida dividual, assumindo uma faceta totalitária.
em média 16 vezes nos bairros onde Pode-se argumentar, por outro lado, que
foi feito o controle. O programa redu- tais medidas são inerentes ao papel do Es-
ziu este número em quatro vezes. tado, pois visam a garantir o bem-estar do
Existem 200 mil usuários de drogas cidadão e da sociedade como um todo.
injetáveis em Nova York, metade de- Com base na leitura da coletânea,
les infectados com o vírus da Aids.” escreva um texto dissertativo sobre o
(Programa corta em 50% taxa de infecção de HIV, seguinte tema:
Folha de S.Paulo, 2/11/94)
Poder do Estado e direitos do
cidadão: os limites da liberdade.
4. “No futuro, pagaremos caro pela ig-
norância e irresponsabilidade do pas- 1. “A polêmica surgiu. Há quem proteste
sado. Acharemos inacreditável não contra a nova lei [obrigatoriedade do uso
havermos percebido em tempo, por de cinto de segurança na cidade de São
exemplo, que o vírus da Aids, pre- Paulo]. Que direito tem o Estado de inter-
sente na seringa usada pelo adoles- ferir na minha segurança pessoal?
cente da periferia para viajar ao pa- Como é que legisla sobre os riscos que
raíso por alguns instantes, infecta as quero assumir? Vai agora proibir o alpi-
mocinhas da favela, os travestis na nismo, a asa delta, o boxe? O álcool e o
cadeia, as garotas da boate, o me- cigarro serão banidos da cidade? Mere-
ninão esperto, a menininha ingênua, ce ser multado quem passeia à noite
o senhor enrustido, a mãe de família pela praça da Sé? O suicídio está fora da
e se espalha para a multidão de gen- lei? Sem dúvida, a obrigatoriedade do
te pobre, sem instrução e higiene. cinto de segurança está em desacordo
com os princípios liberais. Se alguém
Haverá milhões de pessoas com
quer arriscar a vida, recusando-se a
Aids, dependendo de tratamentos ca-
usar o cinto, é problema dele. O Estado
ros e assistência permanente. (...)”
nada tem a ver com isso. (...) Mas será
(Drauzio Varella, A era do genes, Veja 25 anos — que, quando alguém deixa de usar cinto,
Reflexões para o futuro, 1993)
está conscientemente optando pelo ris-
co de ter um acidente fatal?”
ATENÇÃO: AO ASSINAR A CARTA, USE (Marcelo Coelho, Cinto desperta desejo de
APENAS AS INICIAIS DE SEU NOME. obedecer à lei, Folha de S.Paulo, 9/12/94)
— 45 —

2. “Embora, em tese, o uso do cinto de assim, que na hora do repasto nin-


segurança diminua os riscos em caso guém possa encurtar a vida. Ao me-
de acidente, a sua imposição cria uma nos com tabaco. Pense quanto tempo
situação em que o sujeito é protegido os paulistanos viverão a mais graças
contra ele mesmo. ‘Por razões filosófi- ao decreto! Pena que, por uma lamen-
cas, condeno a qualquer relação tável falha, não se cogitou em interdi-
paternalista entre o Estado e o cida- tar a ingestão, comprovadamente ma-
dão. É como se tornassem obrigatório, léfica, de doses excessivas de gor-
por exemplo, escovar os dentes. Não dura, açúcar refinado e álcool nos res-
faz sentido. É preciso que o sujeito se taurantes.”
convença de que aquele comporta- (Marcos Augusto Gonçalves, Obrigado por não fumar,
mento é melhor para ele’, diz Celso Folha de S.Paulo, 1/10/95)
Bastos, presidente do Instituto Brasi-
leiro de Direito Constitucional. Segun- 4. “O norte-americano Arthur Younkin,
do Bastos, o uso de cinto de seguran- de 45 anos, foi condenado a cumprir
ça deve ser determinado por critérios 95 dias de prisão por ser gordo. Um
pessoais. Ele só admitiria a obrigato- juiz da cidade de Wichita deu a sen-
riedade se ficasse provado que a au- tença porque ele não cumpriu a or-
sência do cinto põe em perigo a vida dem de perder peso ‘substancialmen-
de terceiros. Ele defende o uso de cam- te’. Younkin pesa 200 quilos e, segun-
panhas para mostrar a importância do do seu advogado, a obrigatoriedade
cinto de segurança, deixando a opção do controle de peso é inconstitucional.
de usá-lo ao indivíduo. (...) ‘O Estado (...) Younkin foi mandado embora da
tem que cuidar de coisas mais impor- lanchonete em que trabalhava, pois
tantes, como o combate à violência. um cliente se queixou às autoridades
Isso ele não consegue fazer de ma- de saúde da cidade que ele suava
neira eficiente’, afirma Bastos.” sobre a comida, apesar de usar duas
camisetas e um pano protetor na ca-
(Eunice Nunes, Para jurista lei é paternalista,
Folha de S.Paulo, 17/11/94) beça. Convocado pelo juiz, Younkin
reclamou que seu peso o impede de
3. “Ah, gozar a vida! Exercitar-se todo ter um emprego. Em vez de retirar a
dia, não comer carne, não beber, usar queixa, o juiz o enviou para uma insti-
camisinha, não consumir drogas e, tuição na qual ele só poderia consu-
claro, não fumar. Está aí a receita para mir 1.200 calorias por dia, no máximo.
atingir a meta final: morrer, sim, mas Depois de perder 25 quilos, [o juiz] de-
um minuto, três semanas, quatro me- terminou sua liberação, com a condi-
ses ou alguns anos depois do amigo ção de que Younkin continuasse a fa-
fumante, gordo, desregrado, carní- zer regime e a perder peso. Como não
voro e promíscuo. (...) Foi, certa- foi isso que ocorreu, o juiz decidiu
mente, pensando nisso que o prefei- colocá-lo atrás das grades.”
to (...) resolveu proibir cigarro em res- (Americano vai preso por ser gordo,
taurante. Está muito certo. Garante, O Estado de S. Paulo, 20/10/95)
— 46 —

5. Ao Estado confere-se autoridade para cidade onde milhões vivem na pior mi-
promulgar e aplicar as leis que defi- séria e violência. Venda essa idéia
nem os costumes públicos lícitos, os como imprenscindível à nossa moder-
crimes, bem como os direitos e as obri- nidade (...) e imponha o decreto aos
gações dos membros da sociedade. poucos, antes como conselho, depois
Exige-se dos membros da sociedade como multa e só no fim como prisão.
obediência ao governo ou ao Estado, Transforme os que aplicam as penali-
mas reconhece-se o direito de resis- dades em propagandistas do Estado,
tência e de desobediência quando a militantes da pureza (do ar, por en-
sociedade julga o governo ou mesmo quanto); submeta as vítimas a sermão,
o Estado injusto, ilegal ou ilegítimo. além de multa. Como na Alemanha dos
anos 30, vá criando uma atmosfera de
A idéia de sociedade pressupõe a
vergonha, estigmatize quem não se in-
existência de indivíduos independentes e timidar (...). Desloque os opositores,
isolados, dotados de direitos naturais e in- aqueles para quem democracia é mais
dividuais, que decidem, por um ato volun- do que uma ditadura da maioria, de
tário, tornarem-se sócios ou associados modo que eles se vejam obrigados a
para vantagem recíproca e por interesses defender as causas mais ridículas: o
recíprocos. A sociedade civil é o Estado direito de se esborrachar no trânsito,
propriamente dito. Trata-se da sociedade de fumar até morrer. (...)
vivendo sob o direito civil, isto é, sob as
leis promulgadas e aplicadas pelo sobera- O que ocorre é que em toda parte o
no. Feito o pacto ou o contrato [social], os Estado deixa de regular a economia e
contratantes transferiram o direito natural transfere sua força de repressão para
ao soberano e com isso autorizam a trans- a vida particular, psíquica e compor-
formá-lo em direito civil ou direito positivo, tamental. O próprio Estado parece des-
garantindo a vida, a liberdade e a proprie- milinguir-se, mas só nas aparências: ele
dade privada dos governados. apenas muda de lugar, infiltra-se na
capilaridade social. (...) Não é que o Es-
Os indivíduos aceitam perder a liber- tado esteja em crise e por conseqüên-
dade civil; aceitam perder a posse natural cia a sociedade se torne mais livre; ao
para ganhar a individualidade civil, isto é, contrário, a sociedade se totalitariza.”
a cidadania. Enquanto criam a soberania
(Otavio Frias Filho, Cortina de Fumaça,
e nela se fazem representar, são cida- Folha de S.Paulo, 28/9/95).
dãos. Enquanto se submetem às leis e à
autoridade do governante que os repre- 7. O Partido ordenava que o indivíduo
sentam, chamam-se súditos. São, pois, rejeitasse a prova visual e auditiva.
cidadãos do Estado e súditos das leis. (...) Eles [os intelectuais do Partido]
estavam errados! O óbvio, o tolo e o
(adaptado de Marilena Chauí, As filosofias políticas,
Convite à Filosofia, 1994) verdadeiro tinham que ser defendi-
dos. Os truísmos são verdadeiros,
6. “Pegue uma idéia com charme interna- esse é que é o fato! O mundo sólido
cional, embora algo supérflua numa existe, suas leis não mudam. As pe-
— 47 —

dras são duras, a água é líquida, os terceiro dia, mais símbolos apareceram
objetos largados no ar caem sobre a no batente esquerdo. Sua esposa, Moon-
crosta da terra. Com a impressão (...) shadow, desde o aparecimento das pri-
de estar fixando um importante axio- meiras inscrições, passava os dias exa-
ma, ele escreveu: minando antigos recortes de jornais, en-
rolada em uma manta indígena, entoando
A liberdade é a liberdade de dizer
estranhos cânticos. Na tarde do quarto
que dois e dois são quatro. Admitindo-
dia, Theodore encontrou um novo con-
se isto, tudo o mais decorre.
junto de símbolos, agora inscritos na pró-
............................................................. pria porta. Ao entrar em casa, constatou
que Moonshadow havia desaparecido.
Não podia mais lutar contra o Parti-
Procurou imediatamente a polícia. Foi as-
do. Além disso, o Partido tinha razão. De-
sim que esse estranho caso chegou às
via ter: como poderia enganar-se o cére-
minhas mãos. Comecei por tentar deci-
bro imortal coletivo? (...) A santidade era
frar o significado dos símbolos, que des-
estatística. Era apenas a questão de
cobri fazerem parte de um código alfabé-
aprender a pensar como o Partido. (...) O
tico. Consegui decifrar algumas palavras.
lápis pareceu-lhe grosso e desajeitado
Mas e os desenhos no centro da porta?
entre os dedos. Começou a grafar os
Certamente não se tratava do mesmo có-
pensamentos que lhe vinham à cabeça.
digo... A partir da coletânea acima, ela-
Primeiro escreveu em grandes le- bore uma narrativa em que o nar-
tras trêmulas: LIBERDADE É ESCRAVI- rador (investigador de polícia) apre-
DÃO. Depois, quase sem pausa, escre- sente a solução para o misterioso
veu por baixo: desaparecimento de Moonshadow.
Siga as INSTRUÇÕES GERAIS.
DOIS E DOIS SÃO CINCO (os tre-
chos acima, extraídos do livro 1984, de INSTRUÇÕES GERAIS: o foco nar-
George Orwell, tematizam a angústia da rativo deverá ser, necessariamente, em
personagem Winston, que vive em uma 1ª pessoa; se julgar necessário, você
sociedade governada totalitariamente poderá introduzir outras personagens
por um partido único). na história.

TEMA B: O que estou para narrar TEMA C: “Veja — Um de seus ensaios


não é apenas um caso incomum e mis- termina com uma frase provocativa de
terioso. É também a história de uma fata- Darwin: ‘Se a miséria de nossos pobres
lidade. Tudo começou em uma tarde clara for causada não pelas leis da natureza
de outono, quando Theodore Morgenstern, mas por nossas instituições, grande é o
ao chegar em casa, encontrou um estra- nosso pecado’. Mais de 100 anos depois
nho conjunto de símbolos inscritos no ba- já se pode determinar sobre que ombros
tente esquerdo da porta da frente. No dia colocar o grande pecado da miséria huma-
seguinte, o milionário californiano repa- na? Stephen J. Gould — Darwin já sabia
rou que outros estranhos símbolos havi- a resposta. Ela está implícita no enunciado
am sido inscritos no batente direito; no da frase. (...) Ele sabia que as instituições
— 48 —

humanas podem produzir miséria. De ma- excelentes. Por exemplo: quando desen-
neira mais geral, a lição que permanece até volvo uma espécie no meu criadouro de ani-
hoje é que as instituições não são imutá- mais, procuro no acasalamento não mistu-
veis. Sermos cruéis uns com os outros rar o sangue de um macho todo ferradinho
não é uma determinação natural. É uma in- com o de uma fêmea maravilhosa. O burro,
venção das instituições que pode ser mu- o incompetente, o que foi comido pelo leão
dada. (...) / Veja — A permanência da mi- não vai passar o gene para frente. Nisso,
séria no mundo moderno pode ser tomada Hitler tinha razão. / Veja — Dentro desse
como demonstração de sua tese de que o ponto de vista, a escolha de Maitê Proença
simples passar dos anos não traz pro- — loura, linda e de olhos claros — para
gresso? Gould — Quando digo que não mãe de seu filho é perfeita? / Fasano —
existe progresso, estou me referindo ape- (...) Quero ter uma cria para ensiná-la a
nas à evolução dos seres vivos ao longo praticar esportes e a amar a natureza. Mor-
das eras. Digo que não há progresso, no ro de medo de que ela se ligue em computa-
sentido de que as espécies, incluindo a hu- dores. Por isso gostaria que meu filho nas-
mana, não sofrem variações com o objeti- cesse de uma mãe que pensasse como
vo de ser cada vez melhores. Elas variam eu. Acho que Maitê é essa pessoa.”
ao acaso. Na natureza não há progresso (Veja, 11/10/95)
como o experimentado pelas culturas e
pelo conhecimento humano, que são cu- TEXTO II
mulativos. Ou seja, o que se aprende em “Hitler, antes de se matar no famoso
uma geração é transmitido à outra, que tra- ‘bunker’ em que se refugiava na Chancela-
balha sobre a herança recebida e passa ria do Reich, escreveu o mais sinistro dos
adiante algo potencialmente melhor. Na na- capítulos da história. Não há (...), em ne-
tureza não há esse trabalho. As variações nhum outro texto trágico da saga da humani-
ocorrem ao acaso e, se o ambiente as dade, nada que se compare ao que fizeram
favorecer, os portadores e seus descen- Hitler, Goebbels, Himmler e o sinistro Men-
dentes terão mais chance de sobreviver.” gele em termos de ódio puro ao homem que
(Veja, 22/9/93) não cabia nos conceitos ‘raciais’ do aria-
nismo. (...) Caso Hitler houvesse ganho a
Na entrevista acima, o biólogo Ste- guerra que perdeu em 1945, nosso mundo
phen J. Gould defende a idéia de que as seria hoje inteiramente diverso do que é. A
variações que sofrem as espécies não gente se irrita com a miséria que grassa no
visam a torná-las “melhores”. Segundo Brasil, com a guerra da Europa Central (...),
ele, as variações ocorrem ao acaso. mas nada disso nos dá uma idéia, pálida que
Abaixo você encontra duas opiniões re- seja, do mundo em que estaríamos vivendo
lativas à possibilidade de aprimoramento caso a guerra tivesse sido ganha por Adolf
da espécie humana. Hitler. (...) Garanto a Victor Fasano que mal
valeria a pena estar vivo em tal mundo. Nem
TEXTO I com Maitê Proença embalando um berço
Veja — (...) Você é nazista?/ Victor com uma bonita criança dentro.”
Fasano — Algumas idéias nazistas são (Antonio Callado, Folha de S.Paulo, 28/10/95)
— 49 —

Tomando por base uma leitura cui- 3. "O defeito maior do presidencialismo,
dadosa dos textos I e II, e considerando no Brasil, é que o presidente pode
a entrevista do biólogo Stephen Jay muito e manda pouco — ou não con-
Gould, reflita sobre os aspectos consi- segue mandar. Há sempre alguém, na
derados na questão da evolução da es- cúpula federal, que, embora podendo
pécie humana, e: menos, manda mais. Ou desmanda."
• Caso você discorde das idéias de- (Joel Silveira, Guerrilha Noturna)

fendidas pelo Sr. Victor Fasano, es- BLOCO 2: 1. "Vejo a literatura como
creva-lhe uma carta procurando um exército que está sendo derrotado
convencê-lo de que não se pode
pela cultura das massas. Vanguardistas
tratar a questão do aprimora-
são os autores que conseguem dissua-
mento da espécie humana ape-
dir o inimigo."
nas do ponto de vista biológico.
(Ricardo Piglia, escritor argentino, O Globo,
• Caso você concorde com as idéias Frases do Ano. CD-ROM Folha 1994)
do Sr. Victor Fasano, escreva uma
2. “Os jornais eletrônicos, que estão sen-
carta ao Sr. Antonio Callado pro-
do proclamados como substitutos de-
curando convencê-lo de que o
finitivos dos veículos impressos, são
aprimoramento biológico é um
uma caricatura do jornalismo.”
fator importante no processo
(Alberto Dines, jornalista, Jornal do Brasil,
evolutivo da espécie humana. Frases do Ano. CD-ROM Folha 1994)
ATENÇÃO: AO ASSINAR A CARTA, USE
APENAS AS INICIAIS DE SEU NOME. 3. “A Idade Média nos deu as catedrais
góticas e a Divina Comédia. A nova
FGV-SP/96 — Fragmentos de tex- Idade Média nos dará excelentes se-
tos divididos em 2 blocos para escolha des bancárias e um belo catálogo de
de um deles. eletrodomésticos que poderemos
BLOCO 1: 1. “Em todos os países mandar vir de Miami pelo correio.”
que estão tentando uma adesão perifé- (Carlos Heitor Cony, jornalista, Folha de S. Paulo,
Frases do Ano. CD-ROM Folha 1994)
rica ao processo de globalização, e fa-
zem isso simultaneamente com planos
FAAP-SP/95 — PROPOSTA I
de estabilização, surgiu um fenômeno:
os presidentes ficaram levemente de- TEMA A: “A arte não é um espelho
corativos. Seja ele um gângster, um cor- que mostra a realidade como ela é. A
rupto ou um intelectual.” arte mostra-nos um mundo refletido por
(José Luís Fiori, Veja) uma mente incomum que impõe um estilo
no que retrata.”
2. "Quem vai dar as regras do jogo sou (Walter Kaufmann)
eu. O candidato a Presidente da Re-
pública sou eu. O presidente serei eu." TEMA B: “Curtir filme ruim, música
(Fernando Henrique Cardoso. Folha de S.Paulo.
vagabunda e programa de índio vira
Frases do Ano. CD-ROM Folha 1994) moda entre os jovens brasileiros, que
— 50 —

elegem como ídolos os ultra-imbecis senvolvimento da fotografia é produto


Beavis e Butt-head.” do progresso tecnológico, poesia e pro-
(Veja, 20/9/95, p. 102)
gresso são como dois homens ambicio-
sos que se odeiam. Quando seus ca-
TEMA C: “Nós temos por testemu- minhos se cruzam, um deles deve dar
nho as seguinte verdades: todos os passagem ao outro.”
homens são iguais: foram aquinhoados (Marshall Berman em
pelo seu Criador com certos direitos Tudo que é sólido desmancha no ar)
inalienáveis e entre esses direitos se
encontram o da vida, da liberdade e da TEMA C: “Eu, etiqueta — Em minha
busca da felicidade. Os governos são calça está grudado um nome / Que não é
estabelecidos pelos homens para ga- meu de batismo ou de cartório, / Um no-
rantir esses direitos, e seu justo poder me... estranho. / Meu blusão traz lem-
emana do consentimento dos governa- brete de bebida / Que jamais pus na boca,
dos. Todas as vezes que uma forma de nesta vida. / Em minha camiseta, a mar-
governo se torna destrutiva desses ob- ca de cigarro / Que não fumo, até hoje
jetivos, o povo tem o direito de mudá-lo não fumei. / Minhas meias falam de pro-
ou de abolir, e estabelecer um novo go- duto / Que nunca experimentei / Mas são
verno, fundando-o sobre os princípios comunicados a meus pés. / Meu tênis é
e sobre a forma que lhe pareça a mais proclama colorido / De alguma coisa não
própria para garantir-lhe a segurança e provada / Por este provador de longa
a felicidade.” idade. / Meu lenço, meu relógio, meu cha-
veiro, / minha gravata e cinto e escova e
(trecho de declaração de independência dos Estados pente, / meu copo, minha xícara, / minha
Unidos, de 1776, reflexo na América dos ideais liberais
iniciados pela Revolução Gloriosa em 1688, toalha de banho e sabonete, / meu isso,
na Inglaterra) meu aquilo, / desde a cabeça ao bico
dos sapatos, / são mensagens, / letras
PROPOSTA II falantes, / gritos visuais, / ordens de uso,
TEMA A: “O pior governo é o mais abuso, reincidência, / costume, hábito,
moral. Um governo composto de cínicos premência, / indispensabilidade / e fa-
é freqüentemente mais tolerante e hu- zem de mim homem-anúncio itinerante, /
mano. Mas, quando os fanáticos tomam escravo da matéria anunciada.”
o poder, não há limite para a opressão.” (Carlos Drummond de Andrade)

(Henry Louis Mencken (1880-1956)


Jornalista americano) UNESP-SP/92 — PROPOSTA: O tra-
balhador brasileiro, em sua grande maio-
TEMA B: “Como a fotografia é ca- ria, recebe salário mensal que tem como
paz de reproduzir a realidade com mais ponto de referência a chamada “Cesta
precisão do que nunca para mostrar a Básica”. Leia o texto abaixo e, baseado
verdade, esse novo meio é inimigo mor- no que ele significa para você, escreva
tal da arte e, na medida em que o de- a sua redação, dissertativa.
— 51 —

COMIDA dia em nosso país. O tema tem estado


(Arnaldo Antunes/Marcelo Fromer/Sérgio Britto)
em debate na imprensa e participa de
discussões tanto no bar da esquina
“Bebida é água / Comida é pasto. / quanto no Congresso Nacional. Você,
Você tem sede de quê? / Você tem fome claro, já pensou nisto. Então, faça uma
de quê? / A gente não quer só comida, / redação dissertativa sobre “A Pena de
A gente quer comida, diversão e arte. / Morte no Brasil”.
A gente não quer só comida, / A gente
Demos-lhe, em epígrafe, duas indi-
quer saída para qualquer parte. / A gen-
cações. Se você quiser e achar conve-
te não quer só comida, / A gente quer
niente, utilize-as como estímulo a suas
bebida, diversão, balé.
reflexões.
A gente não quer só comida, / A
FUNESP-SP(94) —Leia o seguinte
gente quer a vida como a vida quer.
texto:
Bebida é água. / Comida é pasto. /
CASO DE ESCOLHA: O padrinho foi
Você tem sede de quê? / Você tem fome
ao colégio, na Muda, e tirou Guilherme
de quê? / A gente não quer só comer, / A
para passear. Olhos de inveja do irmão,
gente quer comer e quer fazer amor. / A
também interno, mas sem direito a sair,
gente não quer só comer, / A gente quer
porque seu comportamento era do tipo
prazer pra aliviar a dor. / A gente não
“deixa muito a desejar”, na linguagem do
quer só dinheiro, / A gente quer dinheiro
padre-reitor. Desejar o quê — ele não
e felicidade.
sabia. Sabia que o irmão ia gozar a vida
A gente não quer só dinheiro, / A lá fora, ar, ruas, cinemas, tudo aquilo que
gente quer inteiro e não pela metade.” vale a pena, enquanto ele, Gustavo, con-
tinuaria mergulhado no marmorto do pá-
(em Jesus não tem dentes no país os banguelas –
Titãs, 1988) tio, dos corredores, do nhenhenhém co-
tidiano. Guilherme tinha planos para a
UNESP-SP/93 — “Quem com ferro emergência, e todos se resumiam em ti-
fere, com ferro será ferido.” (Provérbio) rar o máximo possível da liberalidade do
“Todo homem tem direito à vida, à liber- padrinho.
dade e a segurança pessoal.” — O senhor me dá um presente de
(Art. 3º da Declaração Universal dos Direitos do aniversário?
Homem, aprovada em 10.12.48 pela Assembléia-Geral
das Nações Unidas) — Seu aniversário é daqui a oito
meses.
PROPOSTA: Para muitos, a idéia em — É, mas...
si é abominável. Porém, uns muito, uns
mais ou menos e outros nem tanto en- — Bem, eu dou.
xergam na instituição jurídica da pena O padrinho propôs-lhe um blusão ali-
de morte um dos caminhos para o com- nhado, mas entendia que roupa é obriga-
bate à violência que se exacerba a cada ção de pai e mãe — não vale. Livro tam-
— 52 —

bém não. Nas férias aceitaria a coleção — Palhaço!


science-fiction, mas em pleno ano letivo,
Ah, se fosse com ele...E Gustavo
para descanso de tanta labuta no campo
passou a comportar-se melhor, na es-
da ciência e das letras, o que lhe convi-
perança de também ir à cidade. Um dia o
nha mesmo era um brinquedo bem legal.
padrinho dele apareceu, saíram. Apli-
— Brinquedo? Mas você pode brin- cou o golpe do aniversário. O padrinho
car com essas coisas no colégio? igual a todos os padrinhos do mundo,
pensou em oferecer-lhe um blusão ali-
— Posso.
nhado. Recusou, e foram parar na loja
Talvez não pudesse, mas isso era de brinquedos. Gustavo olhou superior-
outros quinhentos. Foram à loja de brin- mente para o monte de coisas que der-
quedos. O problema era escolher entre rotara Guilherme. Sabia escolher, e pre-
o trem elétrico, o foguete cósmico, a feriu logo a metralhadora japonesa. Mas
caixa de aquarela, o equipamento de Bat pensou que se cansaria depressa de
Masterson, o cérebro eletrônico e ou- seu papoco; trocou-a por um marciano
tras infinitas tentações. com bateria: os marcianos passam de
moda; quem sabe se esse laboratório
— Vamos, escolhe — dizia o padri-
de química? Não, chega a química do
nho, disposto a tudo, menos a esperar.
programa. Foi escolhendo, refugando,
Ele comparava, meditava, decidia, substituindo. O padrinho consultava o
arrependia-se. E como era impossível relógio: “Escolhe, menino!” Era preciso
levar todos os brinquedos que lhe atra- escolher para sempre. E nada lhe agra-
íam, pois cada um tinha seu incoveniente, dava para sempre, nada valia verdadei-
que era não ter as qualidades dos de- ramente a pena. Com a angústia lem-
mais, repeliu todos: brou-se do irmão, procurou aflito uma
coisa no milheiro de coisas e, apontan-
— Quero aquela gaitinha. Aquela do-a, murmurou:
verde, ali. O padrinho fez-lhe a vontade,
sem compreender. Uma bobagem de oi- — Quero aquela gaitinha.
tenta cruzeiros! (do livro Cadeira de Balanço, 1966.
in Andrade, Carlos Drummond de. Poesia e Prosa,
No colégio, Gustavo queria saber. 5. ed. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1979, p. 1226-27.)
E sabendo, escarneceu:
Em todas as fases de nossa vida
— Você é mesmo uma besta. Tanta
temos de tomar decisões, fazer esco-
coisa bacana para escolher, e vem com
lhas. Algumas escolhas têm efeitos pas-
essa gaitinha mixa.
sageiros; os efeitos de outras são per-
Guilherme quis provar que não era manentes. Algumas escolhas são estri-
micha coisa nenhuma, tinha um engaste tamente pessoais; outras dependem de
de pedrinhas faiscantes, som espeta- nosso relacionamento com o grupo de
cular. O irmão voltou-lhe as costas, com convívio, ou mesmo, com toda socieda-
desprezo: de em que vivemos. Carlos Drummond
— 53 —

de Andrade, com singeleza de artista, menos, a conversar com o boticário so-


explorou o tema em forma de narrativa, bre as intrigas de seu lugarejo; é este
na crônica “Caso de Escolha”. homem cuja cultura artística se cifrou em
dar corda no gramofone familiar; é este
Faça uma redação sobre o tema da
homem cuja única habilidade se resume
“escolha”, em forma dissertativa. Esco-
em contar anedotas; é um homem destes,
lha livremente o enfoque a partir do qual
meus senhores, que depois de ser depu-
abordará esse tema.
tado provincial, geral, senador, presiden-
FUNESP-SP/95 — “O Brasil de te de província, vai ser o mandachuva de
ontem, de hoje, e as eleições de Bruzundanga. (...) Durante esse longo
amanhã.” tempo em que ele passa como deputado,
senador, isto e aquilo, o esperançoso
O MANDA-CHUVA
mandachuva é absorvido pelas intrigas
Como dizia, porém, na Bruzundan- políticas, pelo esforço de ajeitar os corre-
ga, em geral, o mandachuva é escolhido ligionários, pelo trabalho de amaciar os
entre os advogados, mas não julguem que influentes e os preponderantes, na políti-
ele venha dos mais notáveis, dos mais ca geral e regional. A sua atividade espi-
ilustrados, não: ele surge e é indicado ritual limita-se a isto. Os preponderantes e
dentre os mais néscios e os mais medío- influentes têm todo o interesse em não
cres. Quase sempre, e é um leguleio da fazer subir os inteligentes, os ilustrados,
roça que, logo após a formatura, isto é, os que entendem de qualquer cousa; e
desde os primeiros anos de sua mocida- tratam logo de colocar em destaque um
de até aos quarenta, quando o fizeram medíocre razoável que tenha mais ambi-
deputado provincial, não teve outro ambi- ção de subsídios do que mesmo a vaida-
ente que a sua cidadezinha de cinco a de do poder. Além disso, eles têm que
dez mil habitantes, mais outra leitura que a atender aos capatazes políticos das locali-
dos jornais e livros comuns da profissão dades das províncias; e, em geral, estes
— indicadores, manuais etc.; e outra con- últimos indicam, para os primeiros postos
vivência que não a do boticário, do médi- políticos, os seus filhos, os seus sobri-
co local, do professor público e de algum nhos e de preferência a estes: os seus
fazendeiro menos dorminhoco, com os genros. A ternura de pai quer sempre dar
quais jogava o solo, ou mesmo o “truque” essa satisfação à vaidade das filhas.
nos fundos da botica. É este homem que (in Lima Barreto. Os Bruzundangas. 2. ed. São Paulo:
assim viveu a parte melhor da vida; é este Brasiliense, 1961, p.90-91.)

homem que só viu a vida de sua pátria na


UNESP-SP/96 — “A violência
pacatez de quase uma aldeia; é este ho-
contra a mulher, no Brasil.”
mem que não conheceu senão a sua ca-
mada e que o seu estulto orgulho de dou- O BRASIL E A DESIGUALDADE
tor da roça levou a ter sempre um desdém ENTRE HOMENS E MULHERES: Brasil é
bonachão pelos inferiores; é este o ho- o 53º colocado no índice mundial de
mem que empregou vinte anos, ou pouco igualdade entre homens e mulheres. São
— 54 —

dados divulgados pela ONU (Organiza- gacias de Polícia de Defesa da Mulher


ção das Nações Unida) e integram o do Estado de São Paulo. Neste ano de
Relatório do Desenvolvimento Humano 1995, em que se completam 10 anos de
de 1995. Foram pesquisados 130 paí- implantação dessas Delegacias, só no
ses, levando-se em conta alfabetização, primeiro semestre foram registrados
esperança de vida e economia. Em 116 67.957 Boletins de Ocorrências (agres-
países foram pesquisadas a represen- sões físicas e psicológicas, estupros,
tação feminina nos parlamentos, a por- atentados violentos ao pudor, ameaças,
centagem de mulheres em posições de cárceres privados, raptos, seduções
gestão, a participação na força de tra- etc.). Resumido do Boletim Informativo
balho e sua parte no rendimento nacio- da Campanha contra a Violência à Mu-
nal. No Brasil, o salário médio das mu- lher nº 4 (maio de 1995). Os dados so-
lheres equivale a 76% do salário dos bre ocorrências policiais foram forneci-
homens; apenas 5% das mulheres fa- dos pela Coordenadoria-Geral das De-
zem parte do parlamento. No ranking de legacias de Polícia de Defesa da Mulher
igualdade entre homens e mulheres na do Estado de São Paulo.
América do Sul, embora o Brasil seja o
país mais rico, situa-se em 6º lugar, abai- ISTO É UM ENFORCADOR
xo do Uruguai, Argentina, Venezuela, — RASTEJA, seu burro! RASTEJA!
Chile e Colômbia.
Repetiu isso um bocado de vezes,
(Resumo de notícia publicada no jornal Folha de
S.Paulo, Cotidiano-1, em 18/8/95. eu já estava com o corpo mole e dor na
nuca.Totó, encolhido, parecia surdo. Seu
O CASO SOLANGE: A impunidade Quinca não desistia. Entrou outra vez
começa a partir dos pequenos gestos na Serraria:
de indiferença e de preconceitos contra
— Roma não se fez num dia!
as mulheres que são registrados no co-
tidiano da comunidade. Ao levantar in- Voltou com uma coleira especial.
formações sobre o assassinato de So-
— Agora ou ele faz ou diz por que
lange [jovem morta por resistir ao estu-
não faz.
pro, em São Paulo], infelizmente pude-
mos observar a atitude, às vezes bas- Colocou-a no pescoço do Totó, fe-
tante cúmplice da violência, por parte da chou a fivela, segurou firme, gritou no-
comunidade. Parece que a comunidade vamente:
ainda aceita que se bata na namorada
— RASTEJA!
ou mesmo na esposa. Assim, torna-se
cúmplice da violência. Essa cumplicida- Totó parecia de pedra. Achei que
de vai-se consolidar nas salas dos tri- ele simplesmente não queria rastejar. Ti-
bunais de justiça, que acabam colocan- nha pulado, deitado, subido, descido, es-
do o réu em liberdade. E a impunidade perado, mas rastejar ele não queria. Não
se perpetua. Em 1994 foram registrados era uma questão de aprender como seu
114.832 casos de violência, nas Dele- Quinca pensava. Mas seu Quinca pu-
— 55 —

xava, puxava, fui ficando aflito. Totó quei assustado, Dona Cecília vivia san-
dava ganidos estrangulados, entupidos, grando, só que era sangue invisível. Ela
como o choro do Gentil. Seu Quinca es- e o Gentil, de manhã até a noite sendo
tava vermelho de ódio, as orelhas pare- treinados, como não percebi antes? Lar-
ciam maiores, o dente de ouro mais pon- guei a carrana no chão com nojo, quem
tudo, cuspe no canto da boca: importa que roubem, melhor pros cachor-
ros! Voltei correndo pra casa, com medo
— RASTEJA senão te acabo com de Seu Quinca chegar. E me enfurnei no
a raça! quarto pra fazer curativo no pescoço
Quando abriu a mão para ajeitar me- do coitado do Totó. (...) Na hora da janta
lhor a coleira, Totó deu sua melhor piru- a Mãe disse pro Pai:
eta. E, no caminho de ida, mordeu a mão — Dona Cecília e o filho dela fize-
de seu Quinca. Fez três furos num arra- ram a mala e pegaram o trem das seis.
nhão de sangue. Mordeu e correu para Nem deixaram o endereço. Ela veio se
casa. Como um corisco. Seu Quinca fi- despedir de nós, disse que vai pro ser-
cou uma fera. Gritou: tão, não quer ver nunca mais a cara de
Seu Quinca.
— Depois eu acerto as contas com
esse cão do diabo, ele me paga! Você (Valle, Dinorath do. Totó Piruleta e o Menino do Povo.
Curitiba: Criar Ed., 1986, p. 22-25.)
vai pra casa, leva a carrana pra mim, dá
pra Cecília guardar. UFMT/99 — Os textos abaixo, de
A carrana era a coleira. Cheguei em fontes diversas, apresentam opiniões,
casa assustado, Totó estava tremendo de fatos, dados sobre aspectos da reali-
baixo da cama. Tirei a maldita carrana de dade social, econômica e cultural vivida
seu pescoço com cuidado, havia sangue pela criança brasileira.
nos pêlos. Fiquei parado com ela nas Leia-os atentamente.
mãos, medindo a maldade das garras, ca-
1
paz de fazer qualquer um rastejar. Eu ain-
da chorava quando bati palmas na porta da
casa de seu Quinca pra entregar a coleira,
nunca mais vou deixar treinar o Totó.
Não havia ninguém lá, era quase
absurdo, Dona Cecília não tinha ordem
de sair nem para ir na esquina comprar
sal. Fiquei parado olhando a porta, a boa
fechadura mais o cadeado. E tive, de
novo, uma idéia-urubu bem pretinha des-
cendo em minha cabeça: — Dona Cecí-
lia também usava carrana! Uma carrana
invisível que seu Quinca empurrava pra (Marcus Vaillant. Fotógrafo — Diário
baixo — RASTEJA! Mesmo de longe! Fi- de Cuiabá, 26/7/96)
— 56 —

2. “Chega suado e veloz do batente / e


traz sempre um presente pra me en- Proposta
cabular / tanta corrente de ouro, seu
moço / que haja pescoço pra enfiar. / Produza um texto verbal que ex-
Me trouxe uma bolsa já com tudo den- presse sua reflexão sobre a realidade
tro: / chave, caderneta, terço e patuá, apresentada.
/ um lenço e uma penca de documen-
tos / pra finalmente eu me identificar.
/ Olha aí, olha aí, o meu guri ...”
(Chico Buarque, Almanaque, 1981.)

3. “A criança não deve permitir que de-


sejos ilícitos prevaleçam deixando es-
paço para exploração, violência, cru-
eldade e opressão. A criança deve
aprender desde cedo que ninguém to-
ca seu corpo sem sua expressa von-
tade” — afirma a professora Irenilda
Ângela dos Santos, que orientou a pes-
quisa “O Lado Obscuro da Violência
Doméstica: Abuso Sexual Incestuoso.”
(Romilson Dourado, “Pesquisa pede mais
educação”. A Gazeta, 22/9/96)

4. “A criança deve beneficiar-se de pro-


teção especial e dispor de oportuni-
dades e serviços assegurados por lei
ou por outros meios, a fim de poder
desenvolver-se física, mental, moral, UFPR — Na Mostra Comemorativa
espiritual e socialmente de modo sa- dos 20 Anos de Anistia no Brasil, foi apre-
dio e normal, em condições de liberda- sentada a charge acima. A partir de sua
de e dignidade. Na adoção de leis com leitura, escreva um texto, de até 10 li-
este objetivo, a consideração funda- nhas, que compare os dois períodos da
mental deve ser o interesse superior história recente do Brasil contrapostos
da criança.” na charge, focalizando os contrastes ex-
plorados pelo humorista.
(Artigo 2o da Declaração dos Direitos da Criança,
aprovada pela Assembléia-
Geral da ONU, em 20/11/59) UFBA — TEMA

Os textos lidos devem servir de A identidade cultural no Brasil é uma


base para a sua produção textual. Refli- questão polêmica, sobretudo no que se
ta sobre o que eles dizem. refere à língua portuguesa.
— 57 —

Leia, a seguir, alguns textos sobre como em expressões do tipo os teens


o assunto, refletindo sobre o seu con- (por adolescentes) ou high technology
teúdo, sem contudo copiá-los como parte system (sistema de alta tecnologia).
de sua Redação.
(Pasquale & Ulisses)
I. A Nação é uma resultante de agen-
tes históricos. O índio, o negro, o es- III. Uma saudável epidemia tomou conta
padachim, o jesuíta, o tropeiro, o poe- da imprensa brasileira. Os jornais pu-
ta, o fazendeiro, o político, o holan- blicam seções de valorização da lín-
dês, o português, o francês, os rios, gua portuguesa.
as montanhas, a mineração, a pecuá- .............................................................
ria, a agricultura, o sol, as léguas
imensas, o Cruzeiro do Sul, o café, a A conclusão é que se deve cuidar
literatura francesa, as políticas ingle- dessa matéria de forma inteligente, sem
sa e americana, os oito milhões de patriotadas, mas com objetividade, no
quilômetros quadrados... sentido de valorizar o idioma de Macha-
do de Assis e de Fernando Pessoa. Se a
Temos de aceitar todos esses fa- nossa pátria é a língua portuguesa, por
tores, ou destruir a Nacionalidade, pelo que não cuidar bem dela?
estabelecimento de distinções, pelo
(Arnaldo Niskier)
desmembramento nuclear da idéia que
dela formamos. IV. O uso desnecessário, abusivo ou en-
Como aceitar todos esses fato- ganoso de palavra ou expressão es-
res? Não concedendo predominância trangeiras será tratado como lesivo
a nenhum. ao patrimônio cultural brasileiro.
(Manifesto Nhengaçu) .............................................................

II. O contato entre culturas produz efei- Mais que uma lei, queremos criar um
tos também no vocabulário das línguas. Movimento Nacional de Defesa da Língua
Portuguesa. Sem xenofobia, mas com al-
............................................................. tivez e brio, é possível proteger o idioma
Atente para o fato de que os em- contra o corrosivo bilingüismo que o des-
préstimos lingüísticos só fazem sentido figura e infunde nos brasileiros a depri-
quando são necessários. É o que ocor- mente ilusão de que a língua portuguesa é
re quando surgem novos produtos ou feia, limitada e vaga. Apesar das regras
por vezes tortuosas, é bela, pródiga e
processos tecnológicos. (...) São con-
precisa, dotada de recursos léxicos sufi-
denáveis abusos de estrangeirismos de-
cientes para acompanhar as descober-
correntes de afetação de comportamen-
tas, invenções e mudanças que transfor-
to ou de subserviência cultural. A im-
mam o mundo. Como indagou o professor
prensa e a publicidade muitas vezes não
Niskier, “por que não cuidar bem dela?”
resistem à tentação de utilizar a denomi-
nação estrangeira de forma apelativa, (Aldo Rebelo)
— 58 —

V. “Gosto de sentir a minha língua roçar MACK-SP- 99 - Faça uma dissertação


a tinta com, no máximo, vinte linhas, desen-
A língua de Luís de Camões volvendo um tema comum aos dois textos.
............................................................. TEXTO I
Gosto do Pessoa na pessoa “O possível é aquilo criado pela nos-
Da rosa no Rosa sa própria ação.

E sei que a poesia está para a prosa É o que vem à existência graças ao
nosso agir. No entanto, não surge como ‘ár-
Assim como o amor está para a ami- vore milagrosa’ e sim como aquilo que as cir-
zade cunstâncias abriram para a nossa ação.”
E quem há de negar que esta lhe é TEXTO II
superior
“A liberdade não se encontra na
E deixa os portugais morrerem à ilusão do ‘posso tudo’, nem no confor-
míngua mismo do ‘nada posso’.”
‘Minha pátria é minha língua’.” (Marilena Chauí)
(Caetano Veloso)
PUC-RS — TEMA:

A partir da análise desses fragmen- Em maio de 1999, a revista Época re-


tos, produza um texto dissertativo so- alizou uma pesquisa nacional para verificar
bre o tema: o que o povo brasileiro pensa de si mesmo.
Reproduzimos abaixo uma das questões e
Brasil: Identidade Cultural e Preser-
as respectivas respostas, que poderão
vação do Idioma Nacional. auxiliá-lo na elaboração do seu texto.
— 59 —

Selecione os traços que, na sua As conseqüências de experiências


opinião, melhor caracterizam o modo de felizes como essa são maiores do que
ser e agir do brasileiro, mostrando como imaginamos.”
eles influem (positiva ou negativamen- (Jurandir Freire Costa, Folha de S.Paulo,
te) sobre nossa vida. 28/11/99)

FGV-SP — Redija um texto a partir UFU-MG — Faça sua redação, pro-


das idéias apresentadas. Dê um título curando convencer um bebedor inve-
terado dos malefícios do álcool.
TEMA:
Observações:
“Em meados deste ano o atual pre-
feito de Camaragibe, Paulo Santana, re- 1. Fazer um texto expositivo ou argu-
cebeu o prêmio Prefeito Criança, con- mentativo;
cedido pelo Unicef e pela Fundação
2. Dê um título à sua redação;
Abrinq aos 20 municípios brasileiros com
projetos mais bem-sucedidos na assis- 3. Não copie trechos dos textos motiva-
tência a crianças e adolescentes. A im- dores.
plantação do atendimento dentário do-
Leia os trechos abaixo:
miciliar fez da cidade modelo de saúde
bucal; o projeto de atenção médico-psi- “O Brasil sofre no paradoxo das
cológica a meninas reduziu, de modo drogas legalizadas. Maconha é crime,
drástico, a gravidez infantil: a lei de Da- mas cigarros podem ser facilmente com-
ção, que permite o pagamento de dívi- prados no supermercado. Tranqüilizan-
das ao município em doações de imó- tes precisam de receita médica, embora
veis ou serviços de infra-estrutura co- qualquer um possa relaxar com o álcool
munitária, fez de maus devedores cida- na festinha de batizado. Álcool e fumo
dãos empenhados em participar do são vendidos e consumidos no Brasil
bem-estar de sua cidade; espécies na- com facilidades banidas nos países de-
tivas da mata atlântica estão sendo cul- senvolvidos. O efeito dessa liberalidade
tivadas em um viveiro florestal; 5,5% do é devastador. As drogas legais viciam,
orçamento é destinado ao incentivo da causam doenças, separam famílias e
cultura e do esporte e, por último e o constituem graves problemas sociais e
mais importante, a cidade tem a menor de saúde pública.”
taxa de mortalidade infantil do Nordeste (In Superinteressante, set./98)
(5,6 por 1000, inferior à de São Paulo) e
100% das crianças com idade de 7 a 14 “Beber pode ser agradável sem
anos estão na escola. Tudo isso, pas- prejudicar a saúde. O primeiro efeito é o
mem, não impediu a prefeitura de pagar bem-estar. Um drinque entorna alegria,
a seus funcionários um salário mínimo desinibição, segurança. O álcool é uma
de R$ 163,00 — acima da média da maio- substância que ultrapassa facilmente
ria do país!... as membranas celulares e em minutos
— 60 —

encharca todos os órgãos e tecidos. rapadura. Serei teu cicerone. Mas não
Mesmo o cérebro, protegido por filtros te levarei, apenas, aos bairros ricos, de
bioquímicos, é imediatamente invadido.” casas modernas e confortáveis, a Bar-
(In Superinteressante, set./95) ra, Graça, Vitória e Nazaré. Iremos nos
piores bondes do mundo para a Estrada
O Brasil está gastando cerca de da Liberdade, onde descobrirás a misé-
US$ 61,2 bilhões por ano com proble- ria oriental se repetindo naqueles case-
mas de bebidas alcoólicas — interna- bres do Japão e da China, te levarei aos
ções hospitalares, tratamento de doen- cortiços infames.
ças e assistência a acidentados no trân-
sito. Esse é o balanço do Hospital das Esse é bem um estranho guia, moça.
Clínicas de São Paulo. Outros números: Com ele não verás apenas a casca ama-
rela e linda da laranja. Verás igualmente
• Cada brasileiro consome em média
os gomos podres que repugnam ao pala-
por ano 35 litros de cerveja contra 20
dar. Porque assim é a Bahia, mistura de
litros do leite.
beleza e sofrimento, de fartura e fome,
• 60% dos leitos de ortopedia estão de risos álacres e de lágrimas doloridas.
ocupados por vítimas de acidentes
causados por álcool. Quando a viola gemer nas mãos do
seresteiro, nascido na Bahia e cheio da
• O alcoolismo é responsável por 80% sua poesia, não reflitas sequer. Moça, a
das internações psiquiátricas. Bahia te espera e eu serei teu guia pe-
las ruas e pelos seus mistérios. Teus
(In IstoÉ, 6/10/99)
olhos se encherão de pitoresco, teus
UFPA ouvidos ouvirão histórias que só os
baianos sabem contar, teus pés pisarão
CONVITE sobre o mármore das igrejas, tuas mãos
Ah!, moça, esta cidade da Bahia é tocarão o ouro de São Francisco, teu
múltipla e desigual. Sua beleza eterna, coração pulsará mais rápido ao bater
sólida como em nenhuma cidade brasi- dos atabaques. Mas, moça, estremece-
leira, nascendo do passado, rebentan- rás também muitas vezes e teu coração
do em pitoresco no cais, nas macum- se apertará de angústia ante a procis-
bas, nas feiras, nos becos e nas ladei- são fúnebre dos tuberculosos na cida-
ras, sua beleza tão poderosa que se vê, de de melhor clima e de melhor percen-
apalpa e cheira, sua beleza de mulher tagem de tísicos do Brasil. A beleza ha-
sensual, esconde um mundo de miséria bita nesta cidade misteriosa, moça, mas
e de dor. Moça, eu te mostrarei o pi- ela tem uma companheira inseparável
toresco, mas te mostrarei também a dor. que é a fome.

Vem e serei teu cicerone. Juntos Se és apenas uma turista ávida de


comeremos no Mercado sobre o mar o novas paisagens, de novidades para
vatapá apimentado e a doce cocada de virilizar um coração gasto de emoções,
— 61 —

viajante de pobre aventura rica, então Redação:


não queiras esse guia. Mas, se queres
ver tudo, na ânsia de aprender e melho- Assim como o escritor baiano, es-
rar, se queres realmente conhecer a creva um texto convidando alguém para
Bahia, então, vem comigo e te mostrarei visitar a cidade onde você nasceu.
as ruas e os mistérios da cidade do Sal- O convidado pode ser uma pessoa
vador, e sairás daqui certa de que este real ou imaginada. Evidentemente, ele
mundo está errado e que é preciso re- não conhece sua cidade. Procure mos-
fazê-lo para melhor. Porque não é justo trá-la com objetividade, mas também com
que tanta miséria caiba em tanta beleza. sensibilidade. Seja um guia crítico, bem
Um dia voltarás, talvez, e então teremos humorado, até mesmo irônico, mas nun-
reformado o mundo e só a alegria, e a ca pessimista. Afinal, você quer que seu
saúde e a fartura caberão na beleza convidado conheça sua cidade e goste
imortal da Bahia. dela.
Se amas a humanidade e desejas Sua redação deve ser em prosa e
ver a Bahia com olhos de amor e com- ter, no máximo, 30 linhas.
preensão, então serei teu guia. Riremos
juntos e juntos nos revoltaremos. Qual- UFMS
quer catálogo oficial, ou de simples ca-
vação, te dirá quanto custou o Elevador O marciano Arc já se tornou perso-
Lacerda, a idade exata da Catedral, o nagem conhecido do público-leitor da
número certo dos milagres do Senhor revista Veja pelo seu hábito de questio-
do Bonfim. Mas eu te direi muito mais. nar os usos e costumes dos terráqueos,
Junto com o pitoresco e a poesia te direi como no diálogo a seguir:
da dor e da miséria. Arc* e os economistas
Vem, a Bahia te espera. É uma fes- Arc, o marciano, quer saber o que
ta e é também um funeral. O seresteiro fazem os economistas. Por exemplo,
canta seu chamado. Vou mandar que fazem economia?
batam os atabaques e os saveiros par-
tam em sua busca no mar. Serão a doce — Claro que não, Arc. Fazer eco-
brisa e os ventos e as palmas dos co- nomia qualquer um pode fazer. Basta
queiros que te saudarão das praias. gastar menos... Os economistas se de-
dicam a importantes estudos sobre a
Vem, a Bahia te espera! conjuntura econômica de um país, até
(Trecho do prefácio que Jorge Amado fez ao seu livro
do mundo: produção, consumo, arreca-
Bahia de Todos os Santos, em 1968.) dação, déficits e superávits, entende?

*Arc é marciano e invisível, vem regularmente à Terra – inclusive ao Brasil – para ver se vale a pena Marte investir
aqui. Por enquanto, ele acha que não dá...
— 62 —

— Não. Isso tudo serve para .............................................................


quê? Por exemplo, melhora a vida
A escola pública de ensino funda-
da população?
mental e médio forma três vezes mais
— Tá difícil, hein, marciano? Eu dis- alunos do que a escola particular, mas
se “importantes estudos”, entendeu? Por oferece uma qualidade de ensino
exemplo, fazem previsões sobre o futu- notadamente inferior e fica com a mino-
ro da economia... ria das vagas nas boas faculdades. Re-
sultado: quem tem dinheiro no bolso e
— ... e acertam?
gastou com a educação do filho conse-
— Nunca. Mas não é isso que inte- gue matriculá-lo na universidade públi-
ressa. Ao estudar os movimentos da ca, que é de graça e melhor que a facul-
economia, eles elaboram tendências dade particular.
para o futuro...
FUVEST
— Entendi. Estudam o que já Recentemente, o Deputado Federal
aconteceu, para prever o que não Aldo Rebelo (PC do B-SP), visando pro-
vai acontecer... Desculpe a insis- teger a identidade cultural da língua por-
tência, mas isso serve para quê? tuguesa, apresentou um projeto de lei que
(Veja, 28/7/99, p. 36) prevê sanções contra o emprego abusivo
de estrangeirismos. Mais que isso, de-
Tomando por base o trecho abaixo, clarou o Deputado, interessa-lhe incenti-
retirado de uma reportagem publicada var a criação de um “Movimento Nacional
no mesmo número da revista Veja (28/ de Defesa da Língua Portuguesa”.
7/99, p. 46-7), e usando sua criatividade,
estabeleça um diálogo com Arc, anali- Leia alguns dos argumentos que ele
sando a situação apresentada: apresenta para justificar o projeto, bem
como os textos subseqüentes, relacio-
............................................................. nados ao mesmo tema.
Qual é a chance de um estudante “A História nos ensina que uma das
ingressar num curso disputado numa formas de dominação de um povo sobre
universidade pública? Se ele foi aluno outro se dá pela imposição da língua. (...)”
de escola particular, a chance de pas- “...estamos a assistir a uma verdadeira
sar no vestibular é uma em nove. Se descaracterização da Língua Portugue-
estudou em colégio do governo, a pos- sa, tal a invasão indiscriminada e des-
sibilidade é bem menor: uma em 104. necessária de estrangeirismos — como
Outra forma de dizer a mesma coisa: ‘holding’, ‘recall’, ‘franchise’ ; ‘coffee-
75% dos candidatos ao vestibular de break’, ‘self-service’ — (...). E isso vem
medicina da Universidade de São Paulo, ocorrendo com voracidade e rapidez tão
USP, são oriundos da escola pública, espantosas que não é exagero supor
mas eles só conseguem ocupar 20% que estamos na iminência de compro-
das vagas. meter, quem sabe até truncar, a comuni-
— 63 —

cação oral e escrita com o nosso ho- que já é regra na França. O risco de se
mem simples do campo, não afeito às cair no nacionalismo tosco e na xeno-
palavras e expressões importadas, em fobia é evidente. Não é preciso, porém,
geral do inglês norte-americano, que do- agir como Policarpo Quaresma, perso-
minam o nosso cotidiano (...)” nagem de Lima Barreto, que queria
transformar o tupi em língua oficial do
“Como explicar esse fenômeno in-
Brasil para recuperar o instinto de na-
desejável, ameaçador de um dos ele-
cionalidade.
mentos mais vitais do nosso patrimônio
cultural – a língua materna –, que vem No Brasil de hoje já seria um avan-
ocorrendo com intensidade crescente ço se as pessoas passassem a usar,
ao longo dos últimos 10 a 20 anos? (...)” entre outros exemplos, a palavra ‘entre-
ga’ em vez de ‘delivery’.
“Parece-me que é chegado o mo-
mento de romper com tamanha com- (Folha de S.Paulo, 20/10/98)
placência cultural, e, assim, conscien-
tizar a nação de que é preciso agir em Levando em conta as idéias pre-
prol da língua pátria, mas sem xenofo- sentes nos três textos, redija uma DIS-
bismo ou intolerância de nenhuma es- SERTAÇÃO EM PROSA, expondo o que
pécie. (...)” você pensa sobre essa iniciativa do De-
putado e as questões que ela envolve.
(Dep. Fed. Aldo Rebelo, 1999)
Apresente argumentos que dêem
“Na realidade, o problema do em- sustentação ao ponto de vista que você
préstimo lingüístico não se resolve com adotou.
atitudes reacionárias, com estabelecer
barreiras ou cordões de isolamento à
entrada de palavras e expressões de
outros idiomas. Resolve-se com o dina-
Modelo 1 –
mismo cultural, com o gênio inventivo do
povo. Povo que não forja cultura dis- ENEM 2000
pensa-se de criar palavras com energia
irradiadora e tem de conformar-se, quei- “É dever da família, da sociedade e
ram ou não queiram os seus gramáticos, do Estado assegurar à criança e ao ado-
à condição de mero usuário de criações lescente, com absoluta prioridade, o di-
alheias.” reito à saúde, à alimentação, à cultura, à
(Celso Cunha, 1968) dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além
“Um país como a Alemanha, me- de colocá-los a salvo de toda forma de
nos vulnerável à influência da coloni- negligência, discriminação, exploração,
zação da língua inglesa, discute hoje crueldade e opressão.”
uma reforma ortográfica para ‘ger- (Artigo 227, Constituição da República Federativa
manizar’ expressões estrangeiras, o do Brasil.)
— 64 —

(...) Esquina da
Avenida Desembarga-
dor Santos Neves com PAPAI NOEL,
Rua José Teixeira, na COELHINHO DA
PÁSCOA...
Praia do Canto, área no- PANACA! DAQUI A
bre de Vitória. A.J., 13 POUCO VAI DIZER QUE
anos, morador de Caria-
cica, tenta ganhar algum
MÃE
EXISTE!
trocado vendendo balas
para os motoristas. (...)
“Venho para a rua
desde os 12 anos. Não
gosto de trabalhar aqui,
mas não tem outro jeito.
Quero ser mecânico.”
A Gazeta , Vitória (ES),
9/6/2000.

Entender a infância (Angeli, Folha de S.Paulo , 14/5/00)


marginal significa enten-
der por que um menino
quiridos e as reflexões feitas ao longo
vai à rua e não à escola. Essa é, em
de sua formação. Selecione, organize e
essência, a diferença entre o garoto que
relacione argumentos, fatos e opiniões
está dentro do carro, de vidros fecha-
para defender o seu ponto de vista, ela-
dos, e aquele que se aproxima do carro
borando propostas para a solução do
para vender chiclete ou pedir esmola. E
problema discutido em seu texto.
essa é a diferença entre um país desen-
volvido e um país de Terceiro Mundo. Observações:
(Gilberto Dimenstein. O cidadão de papel. 19. ed.
São Paulo: Ática, 2000.)
Lembre-se de que a situação de
produção de seu texto requer o uso da
Com base na leitura da charge do modalidade escrita culta da língua.
artigo da Constituição, do depoimento
Espera-se que o seu texto tenha
de A.J. e do trecho do livro O cidadão
mais do que 15 (quinze) linhas.
de papel, redija um texto em prosa, do
tipo dissertativo-argumentativo, sobre A redação deverá ser apresenta-
o tema: Direitos da criança e do ado- da a tinta na cor preta e desenvolvida
lescente: como enfrentar esse de- na folha própria.
safio nacional?
Você poderá utilizar a última folha
Ao desenvolver o tema proposto, deste Caderno de Questões para ras-
procure utilizar os conhecimentos ad- cunho.
— 65 —

Modelo 2 – TEXTO 2

REPORTAGEM
UFMG 99 O trem estacou na manhã fria,

num lugar deserto, sem casa de estação:


Prova de Língua Portuguesa a parada do Leprosário...
e Literatura Brasileira "A" Um homem saltou, sem despedidas,

deixou o baú à beira da linha,


Questão 1
e foi andando. Ninguém lhe acenou...
Leia os Textos 1 e 2.
Todos os passageiros olharam ao redor,
O Texto 1 é um trecho de uma co-
luna de jornal que publica pedidos, re- com o medo de que o homem que saltara
clamações e sugestões dos leitores, tivesse viajado ao lado deles...
bem como a resposta do jornal a essas
manifestações. Gravado no dorso do bauzinho humilde,
TEXTO 1 não havia nome ou etiqueta de hotel:
ATENDIMENTO
só uma estampa de Nossa Senhora do
Leitor — Há uma senhora que fica Perpétuo Socorro...
na esquina da rua Iraí com o Largo José
Cavalini. Ela dorme no chão, espalha lixo O trem se pôs logo em marcha apressada,
e parece ser doente. Quem pode socor- e no apito rouco da locomotiva
rer essa senhora?
gritava o impudor de uma nota de alívio...
Resposta — A Assessoria de Im-
prensa da Secretaria de Desenvolvimen- Eu quis chamar o homem, para lhe dar um
to Social disse que a referida senhora já sorriso,
foi atendida pelo Programa de População
de Rua da Prefeitura de Belo Horizonte e mas ele ia já longe, sem se voltar nunca,
também pelo Departamento de Saúde Men-
como quem não tem frente, como quem
tal da Regional Centro-Sul. A última abor-
só tem costas...
dagem foi no último dia 20. Ela aparenta ter
doença mental e, apesar de não ser agres- (Rosa, João Guimarães. Magma. Rio de Janeiro:
siva, resiste aos encaminhamentos. Mes- Nova Fronteira, 1997. p. 68-69.)
mo assim será realizada outra tentativa
de encaminhá-la por equipe especializada. A partir dessa leitura, redija um tex-
(Jornal de Casa, Belo Horizonte, fev./98, p. 4, 8-14.) to narrativo, em prosa, que atenda aos
(Texto adaptado) seguintes requisitos:
— 66 —

a) tenha, como material básico, o episó-


dio documentado no Texto 1, acres-
Proposta de Redação
cido de outros elementos criados por
você; As notícias sobre trabalho infantil,
abandono, violência a reclusão de me-
b) apresente estratégia narrativa seme- nores têm trazido à discussão a forma
lhante à do Texto 2 — um narrador como nosso país investe no futuro.
que fala em primeira pessoa, adota
uma posição exterior aos aconteci- A partir dessa discussão, redija um
mentos e, ao mesmo tempo, expres- texto argumentativo capaz de sustentar
sa sua avaliação pessoal quanto a seu ponto de vista acerca da seguinte
esses acontecimentos; afirmação-base:

c) configure-se como matéria publicável O Estatuto da Criança a do Ado-


em jornal de grande circulação, ca- lescente desencadeou a adoção de
paz de provocar o interesse dos lei- uma política que tem provocado mu-
tores. danças profundas na vida dos me-
nores carentes.

Para fundamentar sua argumenta-


Modelo 3 – ção, você encontrará, a seguir, uma
Coletânea com diferentes tipos de tex-
UERJ 2000 tos, organizada em 4 conjuntos. Leia-a
com atenção, pois você precisará usar,
nas duas etapas da prova, idéias apre-
sentadas nesses textos.

Instruções
Coletânea de Textos
Nesta prova você vai planejar e re-
digir um texto argumentativo, em duas
etapas obrigatórias: Conjunto 1 — Crianças e
ETAPA 1 – preencher o esquema de adolescentes no Brasil
“Planejamento do texto”, na página 2 do
Caderno de Respostas, preparando a ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
redação; ADOLESCENTE (Lei 8069/90)
(...)
ETAPA 2 – escrever o texto argumen-
tativo, na página 3 do Caderno de Res- Art. 3º – A criança e o adolescente
postas, respeitando o “Planejamento do gozam de todos os direitos fundamen-
texto”. tais inerentes à pessoa humana, sem
— 67 —

prejuízo da proteção integral de que tra- flexo da desestruturação social, em que


ta esta lei, assegurando-lhes, por lei ou crianças e adolescentes em situação
por outros meios, todas as oportunida- de indigência são levados às mais varia-
des e facilidades, a fim de lhes facultar das e divergentes estratégias de sobre-
o desenvolvimento físico, mental, moral, vivência...”. A sociedade brasileira está
espiritual e social, em condições de li- encontrando dificuldades em evitar que
berdade e dignidade. parcela significativa de sua população
viva imersa nesta “situação de indigên-
Art. 4º – É dever da família, da co-
cia”. E quando os adolescentes, pressio-
munidade, da sociedade em geral e do
nados pela total falta de perspectivas,
Poder Público assegurar, com absoluta
cometem atos infracionais, só raramente
prioridade, a efetivação dos direitos re-
contam com iniciativas que contribuem
ferentes à vida, à alimentação, à educa-
de forma consistente para sua resso-
ção, ao esporte, ao lazer, à profissio-
cialização e reabilitação.
nalização, à cultura, à dignidade, ao res-
peito, à liberdade e à convivência familiar (Site da Associação Nacional dos Direitos da Infância -
ANDI, seção “Conversa Afiada”
e comunitária. http://www2.uol.com.br/andi/afiada/afiada 8.htm)

O JOVEM E A VIOLÊNCIA
O Brasil conta com uma legislação
Conjunto 2 — A infância na mídia
de vanguarda – o Estatuto
da Criança a do Adolescen-
te (ECA) – mas os fatos in-
sistem em demonstrar que
muito chão precisa ser tri-
lhado antes que a realidade
passe a refletir o quadro de
justiça a cidadania tão bem
desenhado no papel.
Um ponto extremamen-
te crítico é o que focaliza o
tratamento dado aos adoles-
centes autores de atos infra-
cionais. O Ministério da jus-
tiça reconhece, em pesqui-
sa publicada este ano, que
o acentuado crescimento do
número de jovens em con-
flito com a lei não é fruto de
mero acaso. O problema,
aponta o documento, “é re- (Época, 17/9/99)
— 68 —

(Propaganda institucional da Casa do Caminho


http://www.cosmo.com.br/casadocaminho)

(IstoÉ, 8/7/99)
— 69 —

Conjunto 3 — Alguns dados

Segundo dados do IBGE, 40% das


crianças brasileiras entre 0 e 14 anos
vivem em condições miseráveis, ou
seja, a renda mensal familiar não pas-
sa de metade do salário mínimo. Qua-
se todas as crianças brasileiras têm
hoje acesso ao ensino elementar, mas
pouco mais da metade chegará à 8ª
série. Uma em cada seis ingressa no
mercado de trabalho antes de comple-
tar 15 anos. Dos 15 aos 17, quando
http://www.IBGE.gov.br/IBGEteen/pesquisas
deveria estar na escola, metade está
no batente. Milhões de jovens cres-
ção da qual não há retorno. É um erro.
cem sem outra perspectiva senão a
Nesse momento, milhares de funda-
de legar suas dificuldades aos filhos.
ções a de organizações não governa-
O desafio é tão dramático que muita
mentais, ONGs, estão demonstrando
gente acaba dando de ombros, con-
como boas idéias, um pouco de dinhei-
vencida de que se chegou a uma situa-
ro a uma disposição podem mudar essa
realidade para melhor.
(Veja, 22/9/99)

(Veja, 22/9/99) (Época, 20/9/99)


— 70 —

Conjunto 4 — Cenas brasileiras Modelo 4 –


ESPM-SP

TEXTO I

o barro
toma a forma
(Veja, 22/9/99)
que você quiser
você nem sabe
estar fazendo apenas
o que o barro quer

Como sugerem os versos acima,


(IstoÉ, 15/9/99) do poeta e publicitário Paulo Leminski,
uma criação não expressa apenas o
FOTOPOEMA
que deseja o seu criador. Veja-se, por
exemplo, o caso da linguagem da pro-
paganda.

TEXTO II

O produto da propaganda não se


limita apenas à marca, à mercadoria
ou ao serviço que ela anuncia. É sem-
pre muito mais que isso: há valores,
conceitos, idéias a comportamentos
envolvidos em qualquer peça publici-
tária. Será possível, portanto, imagi-
O garoto trabalhando os grãos nar que os responsáveis pela criação
de café. dos anuncios deixem de considerar
Na parede, solidária sombra. os limites da ética, em suas ativida-
des? Não faltam exemplos de como a
Foto: Bruno Alves
propaganda pode influir, positiva ou
Texto: Raimundo Gadelha
negativamente, no comportamento das
(Brasil Retratos Poéticos. São Paulo: Escrituras, 1996.) pessoas.
— 71 —

Modelo 5 – • cópias ou paráfrases de textos


constantes na prova objetiva.

PUC-RS 2000 Boa prova!


A seguir, você encontrará algumas
idéias expressas pelo eminente edu-
cador Paulo Freire, em seu livro Peda-
Redação gogia da autonomia – saberes ne-
cessários à prática educativa. (São
A seguir, são apresentados três te- Paulo: Paz e Terra, 1997). Elas estão
mas. Examine-os atentamente, escolha aqui por duas razões: para homenage-
um deles e elabore um texto dissertativo ar esse grande pensador da Educação
com 25 a 30 linhas, no qual você expo- e para auxiliar você a encaminhar sua
rá suas idéias a respeito do assunto. redação.

Ao realizar sua tarefa, tenha pre- Para produzir seu texto, escolha um
sentes os seguintes aspectos: dos três temas propostos abaixo. Lem-
bre-se de que você deverá escrever
♦ Evite fórmulas preestabelecidas ao uma dissertação; portanto, mesmo que
elaborar seu texto. O mais importan- seu texto possa conter pequenas pas-
te é que ele apresente idéias organi- sagens narrativas ou descritivas, nele
zadas, apoiadas por argumentos con- deverão predominar suas opiniões so-
sistentes, e esteja de acordo com a bre o assunto que escolheu.
norma culta escrita.
TEMA 1
♦ Antes de passar a limpo, a tinta, na
folha definitiva, releia seu texto com “O professor que desrespeita a
atenção e faça os reparos que julgar curiosidade do educando, seu gosto es-
necessários. tético, sua inquietude, sua linguagem;
que ironiza o aluno, que o minimiza, que
♦ Não é permitido usar corretor líquido.
manda que ele ‘se ponha no lugar’ ao
Se cometer algum engano ao passar
mais tênue sinal de rebeldia legítima, tanto
a limpo, não se preocupe: risque a
quanto o professor que se exime do
expressão equivocada e reescreva,
cumprimento de seu dever de propor
deixando claro o que pretende co-
limites à liberdade do aluno, que se furta
municar.
ao dever de ensinar, transgride os prin-
♦ Dê um título a seu texto. cípios éticos de nossa existência.”
(p.66)
♦ Lembre-se de que não serão consi-
derados: Considerando que cada nível de en-
sino requer um professor com caracte-
• textos que não desenvolverem um
rísticas particulares, e que você está às
dos temas propostos;
portas da Universidade, disserte sobre
• textos redigidos a lápis ou ilegíveis; a questão abaixo.
— 72 —

Que características deve possuir um Como conciliar liberdade com respon-


professor universitário para ser con- sabilidade na escola?
siderado competente?

TEMA 2 Modelo 6 –
“Saber ensinar não é transferir PUCCAMP-SP
conhecimento, mas criar as possibili-
dades para a sua própria produção ou
construção. Quando entro em uma sala
de aula, devo agir como um ser aberto Instruções Gerais
às indagações, às inibições dos alu-
nos; um ser crítico e inquiridor, inquieto
diante da tarefa que tenho – a de ensi- I – Dos cuidados gerais a serem
nar, e não a de transferir conhecimen- tomados pelos candidatos:
to.” (p. 52)
1. Leia atentamente as propostas, es-
Considerando que a aprendiza- colhendo uma das três para sua pro-
gem depende de inúmeros fatores, va de redação.
entre eles o comprometimento do pró-
prio aprendiz, disserte sobre o tema 2. Escreva, na primeira linha do formu-
abaixo. lário de redação, o número da pro-
posta escolhida. (A colocação de tí-
O papel do aluno na construção do tulo é optativa.)
seu próprio conhecimento.
3. Redija seu texto a tinta (em preto).
TEMA 3 4. Apresente o texto redigido com letra
“A autoridade coerentemente legível (cursiva ou de forma) em pa-
democrática, fundamentando-se na im- drão estético conveniente (margens,
portância de si mesmo e da liberdade paragrafação etc.).
dos educandos para a construção de 5. Não coloque o seu nome na folha de
um clima de real disciplina, jamais redação.
minimiza a liberdade. Empenha-se em
desafiá-la sempre e sempre; jamais vê 6. Tenha, como padrão básico, o míni-
na rebeldia da juventude um sinal de mo de 30 (trinta) linhas.
deterioração da ordem.” (p.104)
Considerando que um ambiente II – Da elaboração da redação:
propício à construção do conhecimento
pressupõe disciplina e autonomia, dis- 1. Atenda, com cuidado, à proposta es-
serte sobre a questão a seguir. colhida em todos os seus aspectos.
— 73 —

Às redações que não atenderem à pro- Típica do comodismo é a reação do


posta (adequação ao tema e ao tipo de governo brasileiro contra relatório do
composição) será atribuída nota zero. Fundo Mundial para a Natureza que
aponta o Brasil como campeão mundial
2. Empregue nível de linguagem apro- do desmatamento de florestas tropicais
priado à sua escoIha. nos últimos anos.
3. Estruture seu texto utilizando recur- Para o porta-voz da Presidência,
sos gramaticais e vocabulário ade- os dados do governo indicam diminui-
quados. Lembre-se de que o uso ção do desmatamento. O importante não
correto de pronomes e de conjunções é tanto se o desmatamento aumentou
mantém a coesão textual. ou diminuiu, mas o fato de que ocorra
4. Seja claro e coerente na exposição sem que fique clara uma política de ocu-
de suas idéias. pação da Amazônia.
É preciso levar em conta que, se-
III – Das Propostas: gundo a ONU, o Brasil é o terceiro país
do mundo em área preservada de flo-
Proposta I — Dissertação restas de fronteira atrás apenas de
Rússia e Canadá.
Todo texto dissertativo aborda um
tema, ou seja, a delimitação de um assunto. Se se considerar que quase a me-
Após leitura do edital da Folha de S.Paulo tade das florestas mundiais já virou pasto
e percepção das suas idéias principais, ou campo agrícola, fica evidenciada a
verifique qual é o seu tema e sobre ele es- importância internacional de se preser-
creva uma dissertação clara e coerente. var o que resta.
TEXTO Mas o comodismo se estende tam-
bém aos governos dos países ricos
O fenômeno meteorológico batizado
(que, aliás, já promoveram uma devas-
de “EI Niño” começa a assumir, no mun-
tação quase total de suas florestas). O
do todo, o papel antes reservado às pra-
presidente dos EUA, Bill Clinton, por
gas bíblicas, responsáveis por todas as
exemplo, nega-se a aceitar um aumen-
desgraças.
to nos preços dos combustíveis fós-
Sem negar os efeitos do fenôme- seis, uma forma de tentar conter a emis-
no, parece um raciocínio simplista e cô- são dos gases que geram o efeito es-
modo atribuir a ele os males, do inverno tufa, responsável pelo crescente aque-
que foi verão forte no Centro-Sul brasi- cimento da Terra.
leiro às enchentes na Espanha, passan-
Tudo somado entende-se o motivo
do pelas queimadas no Sudeste Asiá-
da cômoda satanização do “El Niño”: ela
tico. Culpar um fenômeno natural exime
evita que cada um enfrente suas própri-
as autoridades e a sociedade de refletir as responsabilidades.
sobre os danos provocados pelo ho-
mem, cada vez mais graves. (Folha de S.Paulo 1/2, 10/10/97)
— 74 —

Proposta II — Dissertação Walmor: 40 anos, estatura média,


argumentativa cabelos claros, pele clara, ligeiramente
avermelhada; os olhos são pequenos,
Leia cuidadosamente os dois tex-
esverdeados e nunca se fixam nos olhos
tos abaixo. Observe que eles tratam do
de um interlocutor. Veste-se com apuro;
mesmo tema, mas apresentam argumen-
usa sempre meias da mesma cor da ca-
tos contrários, pois defendem teses
misa. É formado em administração de
opostas.
empresas. Seu passatempo predileto
Com qual delas você concorda? são filmes de ação; seu livro inesquecí-
vel chama-se A vida dos grandes esta-
Redija uma dissertação argumen- distas.
tativa clara e coerente, defendendo um
dos pontos de vista e refutando aquele Paulo: 25 anos, cabelos e olhos cas-
contrário ao seu. tanhos, pele clara, alto, magro. Só veste
algodão; não se preocupa em combinar
TEXTO I cor de roupa. Queria muito estudar ar-
Há um clássico argumento que pro- queologia, mas acabou se formando em
cure justifìcar a ditadura cubana: o fe- economia. Gosta de viajar e andar de
roz isolamento que o governo dos EUA bicicleta. Tem sempre consigo uma anto-
impõe à ilha, dificultando a vida econô- logia da obra de Manuel Bandeira.
mica do país e de sua população, tese Imagine uma situação em que es-
ainda defendida por intelectuais e políti- sas personagens se encontram. Ba-
cos brasileiros de esquerda. O raciocí- seando-se em suas características, de-
nio é em parte correto, mas acaba por senvolva uma pequena narrativa.
legitimar o regime ditatorial.
TEXTO II
Os que se horrorizam com o ditato-
Modelo 7 –
rialismo dos regimes em que não há
revezamento no poder esquecem-se de
UNIFOR-CE
que as democracias de fachada podem
ocultar os piores totalitarismo: a fome, a 1. Das 3 propostas apresentadas a se-
concentração de renda, o desamparo guir, escolha a que mais lhe agradar
social. Os índices da educação e da saú- e faça uma redação.
de públicas de Cuba ainda são melho-
res do que os nossos, apesar dos EUA. 2. A redação deve ter a extensão mínima
de 20 linhas e máxima de 30, conside-
(A partir de um editorial da Folha de S.Paulo, 15/10/97) rando-se letra de tamanho regular.
Proposta III — Narrativa Proposta I — Dissertação
Atente para a descrição das se- 1. Leia o tema dado a seguir a ana-
guintes personagens: lise as idéias nele contidas.
— 75 —

2. Com base nessas idéias, faça quem nada


uma dissertação em que você exponha tem
seus pontos de vista e conclusões.
neste vale [...]”
TEMA (Poema sujo. p. 42)

Houve época em que os operários


II
paravam as máquinas; hoje, as máqui-
nas param os operários. “[...]
Na província, enfim, cada um tem o
Proposta II — Narração
seu coração, por ele vive e pratica, por ele
Faça uma narração levando em con- ama e só ele delibera; na capital, há somen-
ta o espaço de um dia, iniciando-o assim: te um coração oficial, uma víscera de na-
ção, um aparelho mecânico e econômico –
Hoje foi um dia em que nada deu certo. tem a mesma pulsação e o mesmo calor
para todos; é quase que um coração artifi-
Proposta III — Descrição cial; é mais um objeto de luxo, que um órgão
Você está observando um salão no necessário; é uma tetéia dourada, é um
final de uma festa. boneco de papelão, é um trapo, é lama! [...]”
(Uma lágrima de mulher. p. 66)
Descreva-o.
III
“[...]
Modelo 8 – UEMA — Que desleixo é esse, Arian? Mu-
lher que não se cuida, que não se arru-
ma, que não se ajeita, que não se perfu-
1. Leia atentamente os fragmentos a seguir. ma, que não zela pela sua imagem, não
é bem mulher ... E tu, pelo abandono em
2. Extraia de um deles o tema e elabore que estás, te esqueceste de tua obriga-
sua redação. ção fundamental como mulher! [...]”
I (Uma sombra na parede. p. 57)
“[...]
Vale quem tem
vale quem tem Modelo 9 – UEL-PR
vale quem tem
vale quem tem
nada vale
Redação
quem não tem
nada não vale 1. Leia o tema dado a seguir e analise
nada vale as idéias nele contidas.
— 76 —

2. Com base nessas idéias, faça uma da experiência foi, literalmente, ater-
dissertação em que você exponha rador, mas uma oportunidade excelen-
seus pontos de vista e conclusões. te para que possamos refletir sobre
nossa educação, valores e sobre o
3. A dissertação deve ter a extensão
roteiro que estamos imprimindo à nos-
mínima de 20 linhas e máxima de 30,
sa juventude.
considerando-se letra de tamanho re-
gular. Desnecessário seria afirmar que
esses jovens, por usar uma fita inocen-
TEMA
te, sofreram todo o tipo de rejeição
Num noticiário de TV, tão veloz e imaginável. Desde singelos apelos de
tão variado, todas as notícias parecem professores para que a tirassem em
ter o mesmo peso. nome de uma uniformidade disciplinar,
até pais que se rebelaram com o pedido
para que esperassem uma semana para

Modelo 10 – UFPE conhecer a razão do gesto insólito. Uma


semana depois os alunos puderam tirar
as fitas da testa, revelar os objetivos
do experimento e relatar de forma minu-
ciosa toda a segregação sofrida e toda
Objetivo: a violência que o seu gesto causou.
Mas, além do fato circunscrito, fica a
grande indagação: os jovens puderam
Elaborar uma dissertação, demons-
tirar a fita que os fazia “diferentes”, mas
trando originalidade e organização
os negros, os índios, os favelados, os
das idéias com correção, coerência
velhos e outros tantos jamais poderão
e coesão.
tirar o estigma que os distingue e a mar-
ca que os faz sofrer. De repente, ser
Leia o texto com atenção: diferente deixa de refletir característi-
A uma turma de alunos do segun- cas de individualidade para se trans-
do grau, com cerca de quinze anos de formar em rótulos intolerados que bus-
idade em média, foram explicadas as camos extirpar.
muitas formas de preconceito e a dis- Um homem é um homem, indepen-
tinção entre o que é formalizado e as- dentemente da cor de sua pele, da sua
sumido e o sutil e disfarçado, como no idade, conta bancária ou fita na testa?
Brasil. O professor propôs uma expe-
Adaptação: Uma fita de cor laranja – Celso Antunes
riência a cerca de dez voluntários. (DP – 24/12/95, F.1 – Caderno 2)
Consistia em se atar uma fita de cor
laranja na testa dos alunos e mantê-la Mantendo a temática do texto, redi-
em diferentes ambientes, sem que se ja uma dissertação que responda à per-
esclarecesse sua razão. O resultado gunta do título:
— 77 —

Um homem é um homem, indepen- – Atendimento às normas gramaticais.


dentemente da cor de sua pele da sua
idade, conta bancária ou fita na testa? – Coerência, coesão e clareza na expo-
sição das idéias.
Critérios básicos
de correção – Originalidade (transcrição literal de fra-
ses implica perda de pontos).
– Adequação da dissertação à temática
e ao título proposto. (Fuga ao tema – Obediência ao número de linhas (20
implica nota zero.) a 25).

You might also like