Lispector Cronista - Debra Castillo

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Castillo SIS ANOS, ENTRE 1967 f 1973, CLARICE LISPECTOR BSCREVEU CRONICAS ‘semanais para o jomnal carioca Jornal do Brasil, um dos mais importantes das Américas, Durante esse perfodo, publicou centenas de textos nas piginas desse jornal, que variavam desde meditages filoséficas cripticas, quase aforismos haiku, até perspicazes comentérios sobre as vidas e afligbes de seus vizinhos,fihos desses edlela, empregadas domésticas eencontros casuais com amigos ou desconhecidos pelas ruas. Sete anos apés sua morte, os filhos de Clarice Lispector editaram uma colegao dessas “conversas de sébado” sob 0 titulo de A descoberta do mundo, volume que se tornou a referéncia basica para cptesente trabalho.’ Uma ver-que sua ficgéo maisintensamente estudada, no obstante a vasta bibliografia secundaria, “permanece para nés, de uma forma geral, um grande enigma’ (Fitz 7) 0s criticos aludem com freqiiéncia as suas @r6nicas, usualmente um ponto de entrada mais acessivel para pensar obras como A hora da estrea eA paix segundo G, H. Nesses estudos sobre a fiecio de Lispector, a coluna do Jornal do Brasil permite aos leitores embasarem suas questdes sobre aqueles romances, referindo casos andlogos de mulheres que seguidamente aparecem naqueles breves textos. Entretanto, as crénicas sfo raramente estudadas de modo sistemético ou recebem a mesma atencao que as obras de ficgo atraem. Parte dessa falta de atengo se deve ao modo como Lispector considerava esse vasto trabalho, tido comoalgo pouco sério, feito meramente por dinheiro em tempos denecessidade epertencente a um género e estilo de escrita que ela achava desconfortavel e "Todas as citagdes de Lispector neste artigo serio retradas desta edicio,indicadas entre parinteses, ry es Debra A. Castillo 89 estranho. Thais ‘Torres de Souza observa em seu raro e extenso estudo das ‘erbnicas que, embora grande quantidade de material tena sido produzido, “a escritora no é reconhecida como uma grande autora no género. Afranio Coutinho e Jorge $4 sequer a citam entre o grupo de cronistas modemos” ‘Mesmo a anélise de Torres de Souza, uma das mais detalhadas em relagio a esse Angulo do trabalho de Lispector, esté apenas marginalmente interessada nos artigos em si preferindo mostrar comoa crOnica “permite ver a obra literéria fem movimentorna observago do conto em seu estado bruto” — ou seja ela se concentra em examinar as crdnicas como © esbogo de um projeto posterior, mais esteticamente elaborado. No entanto, o argumento contrério também é vélido. A forma extremamente flexivel associada em geral& cr6nica latino-americana ajusta-se ‘bem a uma variedade de temperamentos atisicos, eleitores latino-americanos io se surpreendem ao encontrar diariamente jornalismo e poesia ‘amalgamados nas paginas de seus jomais. O género possui uma histéria longa singular, devendo seu impulso nical a poetas famosos como José Marti (Cuba) fe Manuel Gutiérrez Najera (México), aclamados cronistas do final do século ox, processo a que também se associam cultos pensadores contemporaneos como Carlos Monsivais (México) e Pedro Lemebel (Chile), conhecidos primariamente como cronistas. Também nao surpreende que o Jornal do Brasil, Emplamenterespeitado, dirigidoalleitores da elite, convidasse Clarice Lispector para sua colaboradora, Suzanne Ruta lembra que, como em outros patseslatino- Americanos, 0 "Brasil possuii uma tradigdo de dar rédea solta aos grandes ‘escritores. Os precursoresilustres de Lispector na crénica ..incluem Machado de Assis no século xx e Rachel de Queiroz no século atual” Earl E, Fitz comenta “como éadequadlo a0 género, essas cr6nicas (que ela descreve como suas conversas de sdbaclo) variam enormemente em termos de estilo, tom econtetido, e varias delas incluem aspectos politicos tanto implicta ‘quando explicitamente” (135). Aabrangéncia de materiale tépicos que Lispector borda ao longo dos anos é assombroso e inclu o banal ao lado do hermético. Uma breve descrigo do conjunto de textos tetia de incluir uma taxonomia dessa produgio diversificada. Seus temas recorrentesincluem meditagGes sobre as emogGes impulsionadoras do amor, compaixo, medo e culpa; intimeras ‘yezes ela explora o significado de abstragdes como beleza, siléncio, excess0, ser, Muitas de suas ctOnicas poderiam ser frouxamente reunidas como uma drs peta ela também dedica espago ao seu amadurecimento enquanto escritors ea um meticuloso auto-escrutinio extico, Nas passagens mais posticas, ela explora a textura de metéforas favoritas, ustalmente extrafdas da ‘doméstica: uma laranja, um ovo, uma galinha, um guarda-roupa, uma rosa. Fim geral, como observa Fitz, “Lispector medita sobre as diferengas entre 0 modo como esereve stias crénicas (em que acredita conversar com 0s leitores) ® Lispector, cronista ispector, cronista cs 97 ecomoescreve litera 6 escreve literatura, uma forma de escrever em que, alterando um pouco seu estilo, tenta se comunicar em profundi rem profundidadl consi (68) Tracer secomunicar em profundidade consigomesma ecomtr” (8), Entretanto,acrescenta, Lispector “tendiaadesconsiderar” dist fee © no-go (60, uma vez que, pra ela mas importantes see tae consideragdes mundanas eram as negociagé lcangar, no clareza,mas verdade sobre ose nut=BeM Panaleanas, comentrioe ms dros e humeral sbrece eee oe ee rm como sobre a vide cotidana ma cidade. nciem tab condone, apai> las e vigorosas de praticas sociais que cegam as Seat is ferengas queatomentam suacomunidade-"Rapidamente, oleterdecs coluas ass aver Lispector como uma ecirasoclmente cone age ‘due consideraa.si mesma tanto comprometida quanto engajada’”. (Fi te iS; EoSsreptagetaerpcnrrrssrmecwh mmr no hi vida em oso dy profs frosapags kis compromisso em melhorar a situacdo deploravel entre os Pobres e especialmente sua atengao am we eopecialmente ico a mulheres e criancas marginalizadas Mais de um livro poderia ser escrito, exp enquanto importante contribuigdo para o € Propésito deste breve artigo, enfocarei ape cronista, como uma maneira de abrir es jomal Lispetor feqentemente ret in crénica em cartas brasileiras, sua fl desua relagio com os leitores. orando as crénics de Lispector onjunto de trabalho, Para eas andlisedesimesma enguano

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