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Prefacio Ser livre e ganhar a vida operando no mercado é o sonho de muita gente ea realidade de algumas. A vida de um trader parece facil, mas nao é. Como qualquer outra profissio, a de trader exige conhecimento, disciplina e de- dicagao. Todos nés conhecemos a velha dica de “cortar os prejuizos logo e dei- ar os lucros crescerem”. Parece simples e, na verdade, é. Para ser um su- (wn equa epuy “L261 we esjog 3p opSesjtipe 7242 S480 suog we nopmyse axdwas ~ “eae eu sIngsuE> “oyseUOY Neqea immeneT seyTLUey OBE 2p ay oj eu gegen 2 euass nas 1qUOW 2pod apuo efo| ap ody undje eveqsout‘ooueg op asses a5 ~ “OPEDIAU 0 WO B]HEWOS OPUEYfeqely 19d as an33suOD OPN — “reawaugos ‘eipd opensaui op esnaid oN “oxy oWeged op eyURS ep anb o seNeU = “spossad sapoyuon 2/— ‘utsse owsayy 02029 0p ( 0 1H09 O}eIUOD Sle ana} 9996 LH “Popp PUT 4} op 10d sade ‘eu eyun anb op %06) oxayuIp ,ajueyseq, opuapied 1 50-apsep eyege| Jepms9 3 Jeyreqen ap apepsanau bpd epenteut [oy Seu “joDsa eu apepInouip anay BOUT — -soso8 sas s29}ses ered sonny esr ‘oq soquauepuny won 2 soBque sod sepexypsuope/Sepe>ipul Seog sesosdura enesduio aiduias yeded wre exesdwo> ‘9 op jeuy Ou 2 ereKeqes epurE naSoulE> opuL ‘anBag “oudoud ewarsis opuesn LA4GNI OU Aepesuy eadq seu ‘27 wospinmurosiegi ue ope ‘Bpuauadia ap soue gz mssod 9 osoyus8ue 3 “Soyy wed pes — esroalien ou exed ese> 2p eo ‘ouoyase uinu et "BSB> we BYeqes| ~ 7 “Sas0}8} SOMO @ sUEALqUIY “INGONI wy ou (Sep £2) seDuapUA “sequauepuny “oun asypue a sooyex8 opuesn INJGNt ou Aepenul e1adg Sopep a [20¥9 ap eypuejd ewin opuesn sagSdo a sagse exado) Peron Pern Jepey op ody, ee sojapow sos. ray Comportamento Tranaiiilo, sentado no computador de short ¢ chinelos, Escuta musica, entra no bate-papo, = L€as manchees eo que va interessando do cademo de ficar 0 maiar tempo possivel ofhando o pregto, mas é necessério, = Na hora que precisa, apaga tudo e fica s6 naquito,vigiando a Bolsa, ~ Nao opera todo dia. Pelo menos uma operago a cada dois dias. 12-13 por més. ~ Compra e vende usando o Homebroker. ~ Quando esté posicionada, acampanha ~ Fa2 anotacBes quando esta com 0 papel. Dey andona, ~ Se ficar consciente de ndo estar bem, as vezes, destiga 0 ‘computador para nao operat e fazer bestera. Dred ~ Escuta o pregio via telefone e ouve os precos antes de sairem na Internet. ~A decisdo de entrar ou sair ¢ quase automiética. Recebe sinal (grafic = Estuda muito, Lé tudo que pot > Quando tem de tomar uma. focaliza no - ‘vse o grafico tema forma de alguma figura, = Pode fazer 4 trades num da, ~ Nunca vende na primeira correcgo depois de um rally, mas pode acabar fora com prejuzo, s¢a correcdo alcanao seu stop. ~ Antes de entrar, imagina os ce fe esta mentalmente preparada acontega, = Nao calcula rentabilidade em porcentagem, Sd conta dinheira no final do mes, ¢ faz contabilidade no final do ano ‘quando decide o que fazer com os lucros. = Todas as noites ora. perry ~~ Concentrado, Nao se estressa. ~ Trabalha 12-13 horas, ~ Nao gosta de owir a pregio.S6 atrapalha Nao usa a Internet. Liga para seu corretor 10 pts antes de receber sina Fica ando confines do seu sistema. Veo sinal e age mente, ~ Anta os detaes de ca ~ Esta seus erras(prejutos), ~ Escreve suas regras “compra se rompe 350". ~ Usa grafico tick by tick, ~~ Tem um “checklist perto do telefone para verificar a validade de cada trade, é ‘do ter seguido as regras, consegvu se dscilinar bastante, Disse ue no passado era indiscipii ies. ~ Opera todo dia (meximo duas vezes), se recebe um sina “ap sod sazan senp owmxput ou ead — says Ula sopiped nooyquap] apJ0y 0 9 eu uapUD) se (sasaill 2) alppuu “(sasatu 9) ones ot puppuay andes “epuput ep ogSaup eu opuerado oudoud ewoyis es — ‘SPuFRISTS OP OBADSap axaig “a1nnydoys no ssojdors wo> ses “owe op jeuy ou 2 aquauyes ‘eae ap opeyse ‘umu wie30]09 & saguped sassau sepuaiieng 2 puog.> “apurgns wsjog“opue> aajop fs seus ered sopena sono us ou spurs ap opseuno,enasqg ‘auodns wn ap cauaundisos ou 9 SeWPPL Sep ogseuidl anb jaded win ap auunjonfoSaud ou so9%u0}ip se eaunuapt {RUSS op OpSLDsap andig, copenyde ‘QU 10d a1) 2p 01-5 wo sanserodo sou saiopepiad od ‘Selopeyue’ syo9 opunFasuo> ajuauo> euo> e AuaUuny ‘soapelao eupupd esqenss seyByiensy ~ se10do ap opp iy -opiped op opseuuyuen eiedsy “opeye 199 a o835805 0 plopzad ‘spuan ogu as anb opuaqes =puaA ~ 505 95-2]006 — “2sypue ens eu cua un aqacvad no“ 1sad, jaded 34 — sopuepusa By “qqoUout op ogteuLyuoD e eA=SqQ — OBIS ep exbengdae exmaAd- wee 11. Uma distorcdo (prego por cima) em volume e/ou nlimero de negécis. 2, Uma razdo fundamental ou uma noticia | da empresa. ~ Compra as outa empresas depo (23 dias) Obsera a continuidade das ordens de papel € saudével quando os tamanhas das ordens de compra ‘so maiores que as ordens de venda. Sinal de seir (vender) ~ Procura ter um prego de objetivo, mas se vé que no va atingir, vende. = Vende quando percebee que o papel no sobe mais. = Stoploss de +/— 99% do aplicado. O stop nao é fixo, se vé que centrou errado, sai = Se-o mercado continua subindo normalmente, sai aos ‘poucos fazendo preco médio de sada por dina, = No caso de opcdes, seu stop é 100% do aplicado, ou no momento que percebe seu erro, ou quando 0 papel nd0 sobe ~ Se stopou uma posiao, difidlmente recompra de imediato. Espera uma realizaro ou outro padrao de andlise. pry Sinal de entrada ois tipos de trade: INDFUT (grande) = Posiciona na diregdo da tendencia do grafico de 60 min, INDFUT mini ~ 0 stop especuatvo & muito curt, +20 pts + spread. Se romper, entra imediatamente no grande. ~ Operagies previamente combinadas com seu correto. ‘Sinal de sair ~ Seu stop & grfico(fundo, eta, suport, figura) ¢ 0 mais préximo do ponto de entrada, = Geralmente < 100 pts, antes de entrar, Nao entra se o stop fica lange de fcarna posigo. Trader 3 = Quando 0 mercado tem tendéncia, opera no min, efica 2-3, dias numa posigio. = Usa opges, mais para “diversdo”. Compra opgao quando ‘ltidade baiva e vende quando alta, Vende opcées para Sinal de salt ~ Deita o stop lucto de 50 pts com 0 correto ~ Se, depois de meia hora, o preco nao evo — O stoploss¢ mental ecuto. Néo deixa com favo, sa. “anou ap sequa exed oduiay 9 opuenb exjsour odio> “Byoinb ey ‘ais ey oF “nous anb exaoy apepyynbuEN wod aprag — ‘pes eq “eyue8 opuenb ai8ape e314 ~ “Prout seul ~ 272) Ye openious ‘© anb ewpe oja anb o aigos sowaumuassasd/saodesuas uray - “sepupflanp elasqo opuenb ayuconss ety — 2 se12do ogu esed sopeinduos o e8gsap “oghioysip eumn aqaosed opuenb “opisod et 1e34 ap apeWon Kas ~ “own zayanb ga no “Soren seupa epeodays 19s ap siodap oSesuea a aSs2NS9 URS — sade Sep 9 sjog ep ‘a0u Op e809 aze44 ~ [puis ap sagious ews 9p saqsouy -sopeynduuo9 wn owo> “ous ‘opemuenu0s ‘apepyinbuel, apepuinbuest "weg as-anuas ‘spepianbuen‘oBassos aseq 9p opeasy 95eq 9p opesy 9509 ap Opes sopeyse 9 segiomy, ‘sopumy 9 SAU Wa 3 opnsaAu de> op eyed soul y — “soqequoo scomnod won eiadg ~ ‘as1 ap ajonuoy rnosadsa anb o navaquone ogu ‘anb sod Jan exed sousa smas epmyso‘ouao ep Ogu opuend) ~ syoueu 3 ep cyuewr) ors 0 apuio yuu ou Zep ‘emda seu sapuaide UW 9juouyees open ~ Plugesuodsa1 ep exipqe aysK9 oUO} ‘epesueD 2 epessaujso eng opSeiado exenb eu sdoys ¢ eWay ap slodag — ‘segido ¢n0 Z 9 eusye eu sanse ¢ ap owmgyy — “zapinby eonod ‘Wop no O35) OHM 9p sipded we ouayuNp oynus e20}09 OBN) Tuteiobamens “S908 We YD ap 9456-06 - ‘soqSdo wa aD ap w01-S ~ “owoumed 3p so0r-08 = (UD) o25u ap peu) — ‘81 9p afo1ju0) ‘op prodnaas 3 jeden ‘op 04824 0 sewn euewuay ‘ors ap prided 0 assepued a5 — “oual ajenbep Jesuad exed bia auauyear as 19% ‘ered o5uejeg 0 224 nie> an sod 2 noxdwoo an Jad esyeuy ~ “18s yanap anb oy op esj0> e noon cpu anb 196 apog nous 2puo 94 eaTdald = “opuszey piso ant s0U@u ofed no ‘onou op epuazey gys9 an 0 “auujeoe 25 esjog e anb ered] ~ “opisod ens anal a eigd'Sdays Souen ap siodag ~ Ruppunoes einen aaa bird bore Aumentar patrimonio, ue fiz a operacdo certa¢ legal. As icativo. O que vier é lucra. Fico 5 como quando ganho 100. S6 voo8 faz bem para o ego. Vencer. = Operar e ganhar. Aceriar, Dinheiro n&o importa, & 0 sesultado de acestar. Crengas causativas — Para ter sucesso ¢ preciso conhecer bem o seu mercado e a Sear Wu presee asso ls ue ‘camplemento. &seguranga vem de meu outro tra ~~ ABolsa nao éum “fim”, sé um meio. Nao dependo dela, o que vier é lucro. >. Da tranqlilidade material. importante. ~ Tranaiildade é importante, ~E importante estar bem com avida e consigo mesmo. ~~ Concentracao é importante. baixos. Vocé no pode sair do médio. niio da, ‘em mim, no meu jetinho de trabalhar, do que Valores motivadores [war = Cuidar dos filhos. - Ego. Sentir-se bem, Satistacao de estar fazendo as coisas = Melhorat o patriménio material (cara, casa). ~ Se todo mundo quer crescer, eu também quero. certas, ~ Fazer algo que gosto, estar dentro do mercado. E prazeroso. “oumny 0 seyuiripe @ opessed 0 seypo ossod ov ‘opuesid is9 apuo Jaqes anb uray ossaans 10 eed — “e opo} eae> 1872 ‘ep opo}seyfeqen ‘ep ‘opoy seunjey ap usa} -elo} euin owed 9 Jeado ap cwau0D ~ un ied wag gise sid og ‘oyupepad natu nowg 2 B| Now eIp opo| = “pip opcy sesado ‘o4ed “eza2o woo saprad no “(e50qe9 ap 10 eso) sewaygosd gen assod BN ‘WH ‘OpLIBUI naw op sesade ‘oosu sieul xewoy cAap opu anb o> — JPucouse ajaquo> wn 5) 2p way esjog wu Jesodo exeg Bropeyreeg elun ep ZjepIAe |“ eu EY oH 5 euanap anb oyal op esjaa “osseons ap eossad eu anb 2ssiq‘sapepimuyp sep esne> Jod any seu ey aua8 y — . ‘opeio oe opuazeynojsa sdoys owy as ~ ousou js aiqos sebuary ‘ousoun js 2190s seiuaxy ousau 5 axqas sesuay —_ sehvon SEAM -seyene anb op souauu seu ayuuiod aun euydosip y— ‘smauy J27R|sIeS adap ogSexado epe? ‘sapeyUon seyU Se Sepo} eSeysqes oRSe e anb ajueyoduu 9 ‘sesdwIC> ag — ‘repred ou 9 seyueS anb op aquetiodus siepy ~ "10} 1852 oF ;DayUEDAY ajUeLEdu 9 ‘A119 anb ofaA opuehD ~ eaduo 9 OY U0> ‘wopmerp ep aruep e nuiap anb oyvay ~ ‘© 501700) win oWuo> opensoul 0 Jesteue ayveyodun 3 — “ueyd in seo 2 “tanb 220 oquemb 1aqes ap wal ~ “soryalgo ws esjog eu semua atap 25 08h) — “euydosp emu sy ap way - “oyynfand naw oyun - ana esses | “anosuoo onb sesoo se Joye sep aqweyodu Acrea ‘Crengas sobre o mercado = 0 mercado vai refer todas as noticias. 0 diaracdia da Bolsa 6 Telemar, Petrobras eas aces mais nnegociadas, que ttm mais ~ Tem de ter um motivo indmero de negécios = Quando hé dstorcao de pre ‘acompanta o outro. — Uma distro de preco para cima quer dizer que tem mais demanda, ~ Se tem demanda, 0 nimera de negécas e o reco crescem. ~ A Bolsa nao é sorte. Tem que estudare trabalhar. ~ Sorte pode até te, mas: clistorgéo no volume ou oyun eysn> ope. 0.9 aIsy ‘OFSnjana aUEYSHOD Lia EASe ‘aAdt “sojduys sos ap way ewrsig ~ ewaysys nes auqos sesuad) ‘Gauiaquy eu woyes ap saque sosaud copbow e seyde> nosuc> “ye apuan goon as ‘ouisout ‘ums p53 opuend ‘opseyadse 9 opU ‘DUISIs nas aaqos SeSuaD ene ‘oanb ‘sepnfe oss0d na ag sapap epic Jaze 1epmse anb wig sayy ‘seins Sea ‘esoadu ep sagSepofau seu ,ogSroIsp, ‘ewindje way anb aquow ‘injona vsndas jussed emp ea owauowy/oxs ois 6 exe ender nas senasad sopuon an ‘anb opmy exadn>a1 g20n optny 0 e4pe 9008: 43204 'sodoy anb op sopuny seu seype anfasuon equay apod os exreq ap esjog wa opesduaa cee camo 9 (PEIqU 2 sopoBou op arawnu :ogs sagsemunyur ‘EU e N0D9K fein aia Bic es ‘Trader 3. ‘identidade "© ~Sou engenheito, discplinado, com boa memdriaeflexvel | ~Sou especuladora. Dou quer a0 mercado. Nejo-me como um guerrio. Vou lt, mato um elevo para Minha histtria de Bolsa € ganhadora. — Alem de sr alegre, ada, brincalhona -até com | casa. Um predador. coisa sia, sou mtv, agitada, problemas econservadora, mas, no fundo su trangia, day, se amanha voto a lidrio. Vista erifssio Aumentar o patrimdnio e cuidar da famflia. Deus ¢ a base da tranqililidac nele as coisas que ndo- posso resolver. Entrega e fico ail, Deus ndo tem pape para mim no mercado, Nem gosto de pedir para fcar bem no mercado, Vatias vezes eu tive “avsos" na vida. No mercado também sinto as coisas, mas s6 gosto de agirseguindo a técnica Enquanto pudere enxergar, acredito que dé para pbr na Bolsa Meu objetive nao é trabalhar s6 com o mercado. praticamente todos os objetivos na vida, Quero urna atvdade, prazerasa, eque d8 rendimenio, Considero operat ‘como uma atividade, e nao algo a ver com uma misao. Tripulagao ea mente 47 Conclusao HA algo que esses trés modelos podem nos dizer? Pois é interessante observar como sao diferentes, cada um combinando com seu dono, seus objetivos, sua forma de pensar, suas capacidades e suas preferéncias. Cada pessoa personalizou sua metodologia. Isso implica que nao tem “um” método certo, que nao existe nenhum “Santo Graal”, nenhu- ma formula secreta para o sucesso. Cada pessoa constréi, ao longo do tempo, algo que funciona para cla. Para fazer isso, precisa de uma boa dose de otimis- mo —a crenga que vai dar certo —e criatividade — 0 produto de conhecimento, adquirido com cursos e livros e a experiéncia acumulada de acertos e erros. Como previsto, existem elementos comuns entre os trés modelos. Cla- To, com somente trés nao podemos dizer que 0 conjunto desses elementos forma “O Modelo” de um trader, para fazer um modelo definitivo terfa- mos que entrevistar todos os melhores traders “nao-profissionais” do Bra- sil. Obviamente, isso é bastante dificil. Quem é bem-sucedido nao anuncia o fato e fica na sua, tranqiiilo e anonimamente acumulando nosso dinhei- ro! Mas podemos comegar a separar algumas coisas que parecem ser im- portantes. O que tém em comum, entio? Ambiente Todos trabalham sozinhos e gostam do ambiente do mercado. Suas familias os apdiam, ou pelo menos n4o atrapalham. O ambiente familiar nao é uma fonte de estresse, conflito ou cobranga. Nao existe pres- s4o externa para ganhar, ou cobranga, se perder. Todos tiveram “sorte” logo no comegou. Aplicaram e eles viram 0 di- nheiro multiplicar-se. Mais tarde, a “sorte” mudou ¢ cada um enfrentou um perfodo de prejuizos que dizimou sua conta. Em lugar de sair do mer- cado jurando nunca voltar, eles se meteram a fundo, modificando suas crengas e aprendendo novas capacidades, O fato de que todos tém bastante experiéncia, e ainda estdo no merca- do, implica que todos aprenderam como proteger seu capital e que, hoje, dificilmente sofrerao uma derrota que destréi seu patriménio. isso € importante para um trader novato notar. Se levar (por exemplo) tés anos para desenvolver um sistema ganhador, o trader tem que sobrevi- ver aqucles trés anos. Deve aplicar seu capital numa maneira que minimize o risco de prejuizos que podem tir4-lo do jogo. Nenhum prejuizo indivi- dual, nenhuma seqiiéncia de prejuizos deve ser insuportavel. 48 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Comportamentos Todos seguem 05 sinais de compra e venda de seus sistemas. Sao disciplina- dos. Dizem nao ter a disciplina que gostariam de ter, mas tém o suficiente para seguir seus sistemas dia apés dia. Talvez essa disciplina seja uma conseqiiéncia de ter um sistema em que confiar. Um dos entrevistados disse ter tanta confianga no seu método que se sente obrigado a segui-lo. facil ser disciplinado quando se sabe que vai ganhar! Sao flexiveis. Mudam com o mercado ¢ com suas situagdes pessoais. Sabem que ndo so infaliveis. Se seus sistemas comegam a nao dar certo, cles param, estudam, ¢ os modificam. Nao desistem. Apesar de todos terem sofrido prejuizos grandes, conti- nuaram aprendendo e experimentando. Para eles, operar — vencer — € um desafio. Capacidades Todos desenvolveram sistemas que combinam com suas personalidades e situagées. S4o sistemas relativamente simples baseados na observagao de padrées. Eles reconhecem que algum comportamento do mercado repre- senta uma possibilidade de ganho. Todos dominam as técnicas que usam para analisar o mercado, seja fundamental ou técnica. Léem, estudam, conversam ou fazem cursos. Pro- curam conhecimento. Sabem que nao sabem tudo. Todos sabem como minimizar sua exposic4o ao risco e arriscam so- mente o que podem perder. Nao estao tentando ficar ricos com uma ope- ragdo, ent4o nao aplicam grandes quantidades em operagées individuais. Era interessante como um deles disse que s6 contabiliza suas operagées no final do més. Isso implica que o resultado de uma operagio nado tem impor- tancia, e que é 0 resultado de um més de operag6es ~ a funcionalidade de seu sistema — que conta. E como outro disse, sabe que pode perder, mas ser4ao longo do tempo ¢ nao da noite para o dia. Sabe que, no curto prazo, estd protegido. Todos operam com stop. Antes de entrar j4 sabem quanto podem pet- der. Entendem que perder é natural. Nao gostam — um deles 0 odeia— mas sabem que pode acontecer e fazem o mAximo para reduzir seus prejuizos. Um deles cria cendrios na cabega, imaginando o que pode acontecer para se preparar mentalmente para agir se o pior acontecer. Tripulagdo ea mente 49 Sabem que quando as coisas vao mal, é decorrente de algo que eles es- tio fazendo. Nao ficam desesperados. Em vez de aumentar o tamanho das posigdes, ou entrar em situagdes mais arriscadas —visando ganhar/re- cuperar rapidamente — eles param para analisar o que esto fazendo erra- do e como podem corrigi-lo. Sabem que se ndo ganham hoje, ganhario amanha. Eles tém objetivos claros, tanto na vida como em cada operagio. Eles sabem o que querem, sabem o que tém de fazer, e o fazem. O que interessa € ver sua conta corrente crescer. Nao querem provar que tém razdo, ou que s4o espertos, ou conseguir fama, Somente querem lucro. Ed Seykota, um dos investidores entrevistados no livro famoso Magos de mercado, disse: “Cada um obtém 0 que procura no mercado.” Esses tra- ders procuram vencer. Parece mentira, mas ha muita gente no mercado sem objetivos claros, ou satisfazendo necessidades inconscientes. Acabam perdendo dinheiro sem saber por qué. Ed Seykota também disse: “Resultado = intengdo” — que o que vocé ob- tém € 0 que vocé quis obter. Se fosse verdade, quer dizer que quem perde di- nheiro no mercado esté procurando exatamente isso. Concorda? Pense um pouco, € mesmo que nao, imagine que seus resultados realmente indicassem as suas intengGes originais, Quais seriam as implicagGes em todas as areas de sua vida? Talvez vocé comente: “Nao deu certo, mas tentei. Fiz o meu me- Ihor.” Ed provavelmente diria que “tentar” era sua intengio. “Tentar” re- quer um comportamento, “vencer” outro. Interessante observagao, no? Emocdes Todos dizem que seu estado 6timo para operar € a tranqitilidade. Suas vi- das, situagées familiares, crengas e sistemas ctiam um ambiente de estab’ dade. Nenhum dos trés se obriga a operar. Se ndo se sentem bem, nado ope- tam. Também, nenhum dos trés precisa do mercado para sobreviver. Eles tém outras fontes de renda. Isso tira muita press4o e permite que o trader opere com tranqitilidade. Nao “tém que” ganhar. Um trader novato que entra no mercado com a idéia que “tem de” ga- nhar vai criar uma press4o, um “desespero” que nao o deixa pensar objeti- vamente. Sua percep¢o e todas suas decisdes serao distorcidas pela neces- sidade de ganhar. Talvez nao teste seu sistema, arrisque mais que deveria, ou mude de sistema quando nao da certo de imediato. Esses traders vetera- nos ndo tém essa pressio. Paradoxalmente, é bem possivel que € 0 fato que eles nao “tém de” ganhar que lhes permite ganhar! 50 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Crencas Dois tém o critério de vencer como seu foco. O terceiro quer melhorar. Vencer e melhorar, de certa forma, implica algum tipo de competigdo, ou contra si mesmo, ou contra outras pessoas. Dois mencionam o ego, a satisfag4o ¢ sentir-se hem como os valores que motivam tudo. O terceiro diz que, se todo o mundo quer mais, ele também quer. Querer ser como os outros que também, de certo modo, satisfaz 0 ego. Os trés créem que manter um estado emocional bom, tranqiiilo e sem. estresse é fundamental para poder atingir sua meta. E interessante notar que nenhum dos trés pensa em dinheiro no mo- mento de operar. Valorizam dinheiro, ou aumento de patriménio, mas nao € um valor motivador nem uma crenga capacitadora no momento de operar. Um admite que gosta de dinheiro, outro comenta que quer dinhei- ro para comprar coisas. O terceiro disse que o dinheiro nao lhe interessa, mas que € o resultado de seu desempenho. Ganhar dinheiro confirma que estao satisfazendo seu critério, vencendo e melhorando. Cada um dos trés valoriza limitar seu prejuizo. Implicitas em todas suas atividades sdo as crengas de que algo que fa- zem vai dar certo, que, se nao der certo, existe conserto, e que é possivel ganhar dinheiro operando no mercado. Identidade Os trés tém muita autoconfianga. Confiam nas suas decisées e capacida- des. Recebem os sinais de seus sistemas e agem imediatamente aceitando as conseqiiéncias, por bem ou por mal. Nao se questionam. Talvez nao percebam, mas s4o pessoas congruentes nas suas agdes € pensamentos. Suas identidades geram crengas positivas do tipo “vai dar certo” ou “posso ganhar”. Essas crengas fazem com que desenvolvam as capacidades necessarias para provar que essas crengas s4o a verdade. Como seus valores séo congruentes com seus objetivos € facil fazer o que tém que fazer para conseguir o que querem e sentir bem a respeito. Nao existem conflitos internos, necessidades psicolégicas ou dtividas que desviem seu foco. Missao e viséo Nao havia nada aparente, além de aumentar seus patriménios — se isso se qualifica como uma missio! Tripulagao e amente 51 Resumindo Na verdade, ha pouco entre os traders em comum: © Uma metodologia prépria. © Objetivos claros e congruentes com seus valores. © Otimismo que vai dar certo. * Confianga nas suas habilidades, * Disciplina para seguir sua metodologia. * Persisténcia em face de dificuldades. * Sao pessoas trangiiilas. © Limitam seus prejuizos. Susan Blackmore, no seu livro The meme machine, disse: “Fomos desenhados pela selecdo natural a ser criaturas em busca da verdade. Nossos sistemas perceptuais evolufram para criar modelos adequados do mundo e predizer com precisdo 0 que vai acontecer. Nossos cérebros séo desenhados para resolver proble- mas e tomar decisées boas. Claro, nossa percepcao é parcial e nossa tomada de decisao nao é brilhante — mas é bem melhor que inutil.” Ameu ver, isso significa que o ser humano se adaptoua um universo de causa-efeito. A vida nos ensina que as coisas nao acontecem por acaso, mas que uma coisa causa outra, e que existe uma raz4o atrds de cada aconteci- mento. Temos dificuldade de lidar com o mercado porque seus movimen- tos tém causas obscuras, que dependem de tantas varidveis, que variam tanto, que uma previsdo exata permanece além das nossas capacidades. Até hoje, ninguém apresentou um algoritmo que descrevesse as oscilagées do mercado. Mesmo assim continuamos sentindo a necessidade de “enten- der”, “explicar” e identificar padrées. Apesar da incerteza do mercado, algumas pessoas ganham dinheiro nele consistentemente. Conforme sua experiéncia e sua percepgao dos eventos, comecam a suspeitar que “situagao A tende a causar B”, ou que “situacao C geralmente quer dizer D”. Testam suas hipéteses e, uma vez confirmadas, tém crengas com as quais podem formar um modelo do mer- cado. Essas crengas sao generalizagées probabilisticas, nao verdades abso- lutas. Claramente, mais conhecimento e um pensamento mais objetivo 52 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS conduzem a crengas mais titeis. £ como Dr. Van K. Tharp, autor do livro Trade your way to financial freedom disse: “Nao operamos o mercado, operamos as crengas que temos a respeito dele.” Nossos traders desenvolveram sistemas, conjuntos de regras derivadas das crengas que tém a respeito do mercado. Sao baseadas na légica, nos co- nhecimentos e nas suas préprias experiéncias. Como cada um deles passou por varias experiéncias e tem conhecimentos diferentes, cada um observa © mercado com uma perspectiva tinica. Isso faz com que cada sistema seja algo pessoal. Objetivos sdo o motor do sistema. Se, como Ed Seykota diz, o resulta- do é igual a intengao, deve estar muito claro exatamente o que é que esta- mos tentando fazer antes de comegar, porque € isso que vamos conseguir. Objetivos claros e um bom sistema nao sao suficientes. HA que seguir os sinais que recebe, e, para isso, € necessario ter disciplina. Para ter disciplina e persisténcia diante da incerteza é preciso ter con- fianga que 0 que vocé esta fazendo dard certo. Também é preciso saber controlar seu estado emocional. £ importante saber manter sempre essa “tranqiiilidade” que permite agir com a cabeca clara, ou “frio como um computador” como disse um entrevistado. Finalmente, a idéia de controle do risco nio significa simplesmente ar- riscar o que pode perder, porque, se o perde, vocé fica fora do jogo. Desen- volver um sistema ganhador pode levar uma semana ou 20 anos, entao ter um bom controle do risco implica jogar de uma maneira que minimiza o risco de vocé ter que abandonar 0 jogo por razées financeiras ou psicolégi- cas. Por isso se fala em fazer apostas pequenas, arriscando de 1-5% de seu capital de risco, Assim, se enfrenta um perfodo de drawdown brutal, sera dificil que a seqiiéncia de prejuizos acabe com seu capital ou seu estado emocional. Como pensamos Tirando a criag&o de um sistema, e a habilidade de limitar seus prejuizos, os elementos comuns basicamente dependem de como os traders pensam. Obviamente a inteligéncia conta, mas, mais que isso, seu sucesso ou fracas- so depende de como usam seus 1.300g de gelatina cinza. ‘Veremos cada um dos elementos comuns. Antes, é importante enten- der como pensamos. Tripulacaoeamente 53 Associado e dissociado Generalizando grotescamente, ha duas formas de pensar “a respeito” de algo: associado ou dissociado. Estar “associado” quer dizer que, dentro de nossa cabega, vivemos— ou revivemos — uma situagio lembrada ou imaginada como se estivesse acon- tecendo agora. Sentimos as sensagdes € as emogées que sentimos quando aconteceu, ou as que provavelmente sentirfamos se acontecesse. Jareviveu algum argumento que teve com alguém onde sentiu a raiva de ovo, ou se emocionou imaginando varios novos arremates? Quando sente as emogées, é porque esta associado. Como um exemplo, reviva alguma si- tuag4o passada —como seu maior ganho no mercado. Se nao teve um ainda, imagine-se tendo um. Lembre-se (imagine) do que aconteceu, como aconte- ceu, na ordem em que aconteceu. Nao pense “a respeito”, julgando ou co- mentando, mas reviva como se estivesse acontecendo agora, novamente. Mentaimente faca o que fez, veja o que viu e pense o que pensou. Conseguiu? Como se sente? As sensagées que esta sentindo sao simila- Tes as que sentiu originalmente? Dificilmente nosso corpo sabe a diferenga entre uma experiéncia real e uma imagindria, Simplesmente responde aos sinais do cérebro e, se este est4 revivendo uma experiéncia, 0 corpo acaba reagindo como reagiu quando aconteceu. Se estiver imaginando uma situagao nova, reage como reagiria se acontecesse. Podemos associar a situagdes lembradas ou inventadas. Por exemplo, posso me imaginar vendendo 10 contratos do indice futuro — que comprei faz seis meses por 10.000 pontos— por 25.000. Tenho que fazer um pouco de esforco para “montar” o cenario todo, mas, se fizer bem, acabo sentin- do a euforia da venda. Alternativamente, posso imaginar uma situagio na qual estou pagando 25.000 pontos para comprar de volta os contratos que vendi ha seis meses a 10.000! Horrfvel! Que desespero! Nao quero sentir isso nunca! Quase pulei pela janela! Estar “dissociado”, obviamente, quer dizer ndo estar associado. Quan- do estamos dissociados vemos a situagio de uma perspectiva externa, como a de uma mosca na parede, ou como alguém atrs das nossas costas, ou de lado, ou flutuando no ar como numa experiéncia extracorporal. O importante é que nao estamos ai “dentro” da experiéncia, estamos “fora”, observando. Por exemplo, quando me lembro de minha tiltima operagao negativa no mercado de forma dissociada, me vejo “fazendo” a operagio. Estou 54 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS vendo minhas costas enquanto teclo no computador. Estou vendo minha reag4o a perda. E bem diferente. Frio. Distante. Nao sinto as emogdes do trade, e sou capaz de observar e fazer comentarios a meu respeito como se estivesse falando de uma outra pessoa. Posso até ter emogdes ou sensagdes, mas provavelmente estar4o associadas aos julgamentos ou pensamentos que tenho agora, “a respeito” da situagdo em mente, ¢ nado as emogdes que tinha na hora. Posso, por exemplo, notar que estava vendo um grafico, ¢ que este grafico formava uma “cabega e ombros” - algo que nao tinha percebido no momento — e posso sentir raiva e fazer um comentario do tipo: “Seu imbecil! Por que comprou? Vocé nunca vai aprender?” ou “Puxa, nao tinha visto isso, na préxima vez, antes de comprar, vou prestar mais atengao”. A vantagem de pensar de forma associada é que nos permite “explo- rar” experiéncias ou idéias. Se vocé deve tomar alguma decisao, e pensa nas alternativas de forma associada, vocé pode “testar” como se sentiria com cada opgao. F subjetiva. A desvantagem, quando pensamos em coisas que j4 aconteceram, é que “de dentro”, as emog6es, se forem fortes, po- dem dificultar uma avaliagio objetiva. Podemos acabar nos “traumatizan- do”. Nossa lembranga (ou imaginagdo) associada de algo acaba causando um mal-estar tio grande que pode dificultar o que estamos tentando fazer no momento. Um caso extremo seria wma fobia, e um caso mais normal se- ria o medo que um trader sente antes de entrar no mercado quando pensa em uma perda grande que teve. Ea vantagem de pensar de forma dissociada nos permite tomar uma distancia e avaliar uma idéia ou meméria mais objetivamente. Isso é muito util para reavaliar nosso desempenho ou comportamento. A desvantagem €é que falta a emogio. Quando imaginamos algo no futuro, por exemplo, n4o sabemos como vamos nos sentir. Que adianta decidir objetivamente que operar com 10 contratos no indice futuro é a melhor forma de atingir seus objetivos se — quando abre a posigéo— ndo consegue seguir seu sistema devido ao estresse? Muito interessante! Vocé comenta, mas que tem a ver comigo? Bom, serd que vocé percebe quando est associado ou dissociado? Sera que vocé decide conscientemente pensar associada ou dissociadamente? Em geral, a decisao de “associar” ou “dissociar” nao € uma deciso consciente, sim- plesmente “acontece”. Em algumas situagGes automaticamente pensamos de forma dissociada — fria e distante — e outras de forma associada — experi- mentando as emog6es. Nenhuma forma é mais certa que a outra. Mas, em Tripulagao ea mente 55 algumas situagdes uma pode ser mais titil que a outra. Seria bom poder controla-ta. Para ilustrar, imagine um trader numa posigao comprada. O mercado acaba de cair, deixando-o bem abaixo do seu stop. Est4 perdendo muito mais dinheiro do que quis. Nao sabe o que fazer e considera as alternativas. Sabe que deveria vender, mas caiu tanto ¢ tio rapidamente que é bem pos- sivel que recupere um pouco. Vender ou esperar para ver 0 que acontece? O que fazer? Se o trader esta “associado” quando pensa, é bem provavel que acabe sofrendo, talvez sentindo-se mal, frustrado, preocupado ou chateado com ele mesmo ou com o mercado. Geralmente, a “forga” das sensagées € pro- porcional 4 “intensidade” da situag’o, e como a situagao é bastante ruim, as emogées provavelmente estar4o fortes o suficiente para influenciar seus pensamentos. E, como sabemos, pessoas desesperadas fazem coisas deses- peradoras! Com a cabega assim, vocé acha que ele conseguira tomar uma boa decisio? Agora, se ele sabe “dissociar”, pode tomar um passo a tras e distanciar-se do problema, Sem as emogées atrapalhando, ele tem mais chances de pen- sar de forma objetiva e tomar uma decisao calculada e fria. Dé para entender a diferenga? No mercado é preciso agir de forma ra- cional e tomar boas decisdes. Até agora, é bem possivel que a decisio de pensar de forma associada ou dissociada fosse automatica, inconsciente, e talvez nunca tenha atrapalhado. Embora, a partir de agora, a decisdo pode ser consciente. Vocé pode escolher como pensa. Por exemplo, se suas emo- des estao atrapalhando ou perturbando, vocé (provavelmente) est4 asso- ciado aos seus pensamentos. Dissocie. Tome uma distancia. E facil? Nao, nao é, sobretudo quando se esta em algum buraco e ndo vendo uma saida. Mas é isso que tem que fazer se quer tomar uma decisdo objetiva. Distan- cie-se. Também, antes de implementar alguma decisio, associe-se. Viva sua decisio na sua cabega antes de vivé-la na vida real. Comece a tomar controle dos seus pensamentos. Como exerefcio, tente pensar de forma associada e dissociada a res- peito da mesma coisa. Tente “reviver” alguma experiéncia associada- mente, como se acontecesse de novo, junto com todas as emogées. De- pois pense dissociadamente “a respeito” dela, vendo-a como se estives- se acontecendo com uma outra pessoa. Vale a pena praticar. F uma ha- bilidade stil. 56 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Contetdo e estrutura do pensamento Todos nossos pensamentos s4o construfdos. No esto arquivados orde- nadamente em gavetas indexadas, prontos para serem retirados, perfeitos e imutdveis, quando precisamos. S40 reconstrufdos cada vez que os usa- mos, e sofrem mudangas com o tempo e as ligdes de novas experiéncias. Nao cré? Pois os policiais sabem que as “memérias” de testemunhas sio pouco confiaveis e inclinadas a errar. Duas pessoas podem dar descri- Ges diferentes da mesma coisa ¢ jurar que sua versao é a verdadeira. Nao esta convencido ainda? Tente o seguinte exercicio entao. Tente se lembrar de algo que aconteceu na escola. Talvez seu primeiro dia. Nao im- porta se nao lembra exatamente do primeiro dia, qualquer memoria serve. Consegue se ver, vestido, pronto para sair de casa? Consegue se ver na sala de aula com ofa) professor(a) € os outros alunos? O que se vé fazendo? Talvez sua memoria nao seja muito nitida ou clara — Que espera? Aconteceu ha muito tempo! - mas certamente vocé consegue lembrar-se de algo. Nao importa se nao é nada mais que uma “fotografia mental” ono fragmento de um filme de vocé fazendo algo. Focalize nesta meméria de vocé, ajustando os detalhes até ter a certeza absoluta de que é uma repre- sentagao fiel do que aconteceu. Agora, considere 0 seguinte: se vocé est4 se vendo nesta memoria, nao € real. Nao pode ser real porque é impossivel “ ee ver” fazendo algo. E uma distor¢do da realidade. Vocé estava 14, nao “se observando 1a”. Para lembrar, seu cérebro usou as informagées que tem disponiveis e criou um cendrio dentro de sua cabega. Algumas coisas podem ser ver- dade ~ as pessoas presentes, a roupa que usa, a aparéncia do lugar -, mas a imagem/filme nao é. Nao aconteceu exatamente da forma que vocé esta lembrando. Nao estou dizendo que sua memoria nao funciona, s6 que nao é 100% confiadvel. Essa “criagao mental” possui dois componentes: o contetido —“o que” esta pensando/lembrando — e a estrutura — “como” seu cérebro apresentae manipula o conteido. Geralmente sabemos “o que” estamos pensando, mas ndo sempre temos plena consciéncia do “como” estamos pensando. Essa estrutura exerce uma grande influéncia sobre nossa interpretagdo, nosso julgamento e nossa classificacao do contetido. E a estrutura que nos diz sua importancia, quando aconteceu, o que deverfamos fazer com ele e como deverfamos agir ou sentir. Usamos todas as nossas capacidades sensoriais nos nossos pensamen- tos (vis4o, audig4o, paladar, olfato e tato/sensagdes), porém as mais co- Tripulagéoe amente 57 muns sao visdo, audicao, e sensagoes. Aqui ignoraremos as outras, mas nao quer dizer que nao so importantes. Visao € muito importante para nossa espécie, entao é natural que nos- so cérebro tenda a contar com elementos visuais. por isso que a maioria de nés pensa em imagens, Uma imagem vale mil palavras, e também é mui- to flexfvel e facilmente manipulada ou distorcida, Pessoas criativas, artis- tas e até cientistas como Einstein, brincam com clas, aproveitando-se de sua flexibilidade para fazer coisas fantdsticas como se imaginar viajando num raio de luz, visualizar 0 roteiro de um filme, os planos de um prédio ou criar um mapa mental tridimensional de seu bairro, O cérebro também usa audic¢éo quando constréi um pensamento. Internamente escutamos “vozes”, fazemos comentarios ou temos di. logos com nés mesmos. Palavras sao seqiienciais, so excelentes para o racioct- nio légico e verbal e para decorar regras, Para muita gente, seu didlogo in- terno, aquela voz que usamos para comunicar com nés mesinos, € 0 ele- mento do qual sio mais conscientes. O cérebro é uma verdadeira enciclo- pédia de julgamentos, regrase fatos, e essa voz interna pode agir como nos- sa consciéncia dizendo o que deverfamos (ou nao deverfamos) fazer, nos motivando, cobrando ou criticando. Quando lembramos, pensamos ou “viajamos na maionese” sentimos sensagées. Essas sensagées podem ser tAteis, associadas com o contetido e estrutura (calor, peso, vibracAo, textura, por exemplo) ou emogées. Quan- do lembro de algo, posso sentir a emogao que senti quando aconteceu. Por exemplo, lembrando de um presente que recebi sinto, nesse momento, a mesma felicidade que senti naquela hora. Ou, se imagino algo, sintoaemo- Ao que sentiria se realmente acontecesse, Por exemplo, quando imagino como seria ser assaltado na rua, sinto medo. Finalmente, posso ter uma emocao “a respeito” do pensamento. Por exemplo, sinto culpa quando penso a respeito de uma mentira que contei. Certamente tudo isso é muito ébvio até agora. Mas com quanta cla- reza vocé “vé” ou “escuta” seus pensamentos? Sao imagens e sons efé- meros, lampejos momentaneos, semi-inconscientes, ou yocé consegue ouvir € assisti-los como um album de fotos, um filme ou um teatro? Quanta consciéncia tem dos detalhes? Quanto controle tem sobre o contetido, a estrutura ¢ as emogées que sente? Consegue pensar do jeito que quer, ou as vezes parece que seus pensamentos tém uma vida pré- pria, simplesmente “aparecendo” na sua mente sem nenhum esforgo da sua parte? 58 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Se vocé é igual a mim, provavelmente, a maioria de seus pensamentos acontece “sozinho”. Mas € possfvel ter mais controle, e para fazer isso é importante aprender a separar contetido e estrutura. Vejamos uma analogia. Se nosso cérebro fosse um computador, o “contetido” seria os dados, ¢ a “estrutura”, a programacao, a forma como os dados sao manipulados. Num computador, se os dados sao ru- ins ou incompletos, o melhor algoritmo no mundo produziria lixo. E se oalgoritmo no é bom, os mais exatos dados virarao sopa. A mesma coi- $a acontece com nosso cérebro, Se n4o temos toda a informagao, ou se nosso processamento contém falhas (inclinagées, preconceitos, igno- rancia, légica ruim etc.) nossas idéias, opiniGes e conclusdes nao serio boas. Submodalidades Um “pensamento” contém algo que Aristételes chamou de “pares con- trarios”. Ele percebeu que no era o pensamento em si — algo agradavel ou doloroso, por exemplo — mas a forma, a estrutura, 0 “como” desse pensamento, que influencia nossa percepgao dele. Em 1978, no seu li- vro Metéforas terapéuticas, em vez de “pares contrdrios”, David Gor- don usou o termo “submodalidades” para descrever as diferengas sutis nas qualidades perceptuais registradas pelos nossos cinco sentidos du- rante um pensamento. Podemos dizer que a estrutura de um pensamen- to é composta de submodalidades visuais, auditivas, olfativas, tateis e palatais. Vejamos um exemplo: Pense em alguma festa que vocé foi. Descreva-a para vocé mesmo. Pen- se de forma natural, deixe que o pensamento “acontega”. Faga um inventé- rio dos detalhes. Nao precisa “criar” coisas que nao aparecem naturalmen- te, simplesmente preste atengdo em como esse pensamento aparece na sua mente. O que esté vendo? Coisas? Pessoas? O lugar? O que esta ouvindo? A miisica? Conversagao? O barulho de pratos e copos na mesa? Lembra-se das coisas que pensou durante a festa? Est4 fazendo comentarios para vocé mesmo sobre a festa? Percebe odores e sabores? Perfumes? Cheiro da comi- da? Sabor da bebida? Sente a temperatura do ambiente? As vibragées da mé- sica? Pessoas rocando em vocé? Crie a melhor representacdo que puder, mas sem forgar ou inventar. Tripulagao eamente 59 Consideremos a modalidade visual. Assumindo que sua lembranga da festa possui elementos visuais (tamanho, posig4o, cor, movimento etc.) considere as seguintes perguntas: © Sua lembranga aparece como um “filme”, um teatro, ou uma ou mais “fotos”? Se for um filme, que velocidade tem? £ r4pida, normal ou lenta? Vocé esta pensando em trés dimensées ou duas? Tem uma vista panoramica ou enquadrada? Percebe cores ou é preto-e-branco? A imagem é obscura, apagada ou com brilho e luminosidade? Que tamanho tem? E grande ou pequena? Onde, em relagao a vocé, fica? E longe ou perto? No lado direito, es- querdo, em frente, atrds ou em volta? (Enquanto pensa na festa, per- ceba onde seus olhos estao focalizando.) A imagem € limpa ou desfocada? © De que Angulo ou perspectiva esta vendo a festa? De frente, de lado, de cima? © Algo mais que percebe? Agora, considere as qualidades perceptuais da parte auditiva. Nao se- ria anormal se nao tiver, mas preste ateng4o. Talvez. haja algo. Os “sons” podem ser uma representagdo do som que ouviu — misica, vozes etc. — ou podem ser sons internos criados no seu cérebro — vibragées, zumbidos ou até uma voz interna fazendo comentarios ou conversando com vocé. © Ovolume é alto ou baixo? © Que timbre e/ou freqiiéncia tém os sons? © E um som agradavel ou desagradavel? © Onde se localiza a fonte? Que diregdo, a que distancia? © A fonte mexe de um lugar para outro? © Tem algum ritmo? Que durac4o tem? Que velocidade? Rapido? De- vagar? Repetitivo? ® Os sons sao os sons da festa (mtisica, vozes) ou s4o sons criados na sua cabecga? © Se tiver uma voz interna, éa voz de quem? Onde se localiza? Em que ouvido? F agradavel? Que tom e timbre tém? Que volume? Baixo? Gritante? Critico? Suave? © Algo mais que percebe? 60 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Enquanto vocé percebera sensagées: e/ou “ouve” seu pensamento, freqiientemente * Quais emogées vocé sente? Como essa emogao se manifesta? ¢ Percebe alguma temperatura? * O pensamento tem alguma textura associada? Duro? Fofo? Suave? Aspero? Sélido? Liquido? Sente algum peso ou pressao em alguma parte do corpo? Se tiver, é continuo? Intermitente? Ritmico? © Algo mais que percebe? Submodalidades tém “valores” relativos. Funcionam um pouco como os botGes no controle remoto de um DVD - contraste, brilho, volume, ba- lanco, aceleragao, zoom etc. Geralmente se situam em uma escala entre dois extremos referenciais, ou seja, os “pares contririos” de Aristételes. Por exemplo, digamos que o objeto de seu pensamento aparece a uma distancia que vocé descreveria como “longe”, um pouco a “esquerda”, com uma tem- peratura que vocé descreve como “morna” e um volume “médio”. Os valo- res que usa para definir os limites - como longe/perte, frio/quente; baixo vo- lume e alto volume —sao pessoais. Por exemplo, o conceito de “frio” para al- guém que mora na Bahia pode ser bem diferente daquele de alguém que mora no Pélo Norte, mas isso nao importa porque s6 vocé tem que enten- dé-las. O cérebro usa essas escalas para dar “significado” aos nossos pensa- mentos, um pouco como diretores de cinema e publicidade as utilizam para dar “significados” As cenas dos seus filmes e antincios. Tgnorando os outros sentidos por um momento, se seu cérebro sim- plesmente “gravasse” o que seus olhos “véem” e seus ouvidos “escutam” — como uma filmadora -, lembrar suas memorias seria como assistir a um fil- me chato. Existiria “informag4o” — 0 contetido visual e auditivo —mas nao teria significado nenhum. Seu cérebro teria que gravar outras informagoes em paralelo com o filme para dizer “esta parte da medo” ou “amamos esta pessoa” ou “isso aconteceu 0 ano passado” ou “é importante nao esquecer © que aprendemos aqui”. O cérebro grava nossas experiéncias manipulando as submodalidades para incluir essa informaga4o. Por exemplo, digamos que o pitbull do vizi- nho mordeu sua perna quando vocé tinha cinco anos. E bem provavel que, durante os préximos 10 ou 20 anos, cada vez que vocé vir um pitbull sinta um pouco de medo, ou pelo menos um pingo de ansiedade. Por qué? Pois, em lugar de perceber pitbulls como fofos e brincalhées, de um tamanho Tripulagdo e amente 61 médio, banhados em uma luz suave, a uma distancia razodvel, com uma lingua frouxa, babando e abanando seu rabo excitadamente enquanto late felizmente, seu cérebro provavelmente projeta uma imagem intensa, de cores vivas e chocantes — tao perto que ocupa toda sua “tela” interna, dei- xando vocé na sombra e sentindo 0 calor do corpo e o cheiro fedorento de seu hdlito — de um monstro gigante, musculoso, espumando pela boca, com dentes enormes, brancos ¢ gotejando saliva e sangue enquanto rosna tuidosa e agressivamente, bem nos seus ouvidos, ¢ pula na sua diregao com tanta forca e velocidade que parece um deménio do inferno. Uma repre- sentagdo interna assim causaria medo em qualquer um! E, como disse, os produtores de filmes usam submodalidades da mes- ma maneira para criar emogées e suspense, enquanto publicitarios as usam para nos manipular. Por exemplo, quem nao se lembra do som do tubarao no filme Tubardo, de Steven Spielberg, ou do chiado na cena no chuveiro no filme Psicose, de Alfred Hitchcock? E, durante uma eleigao, por que sera que um partido pinta os candidatos do outro como personagens cin- zas, pequenos e fora de foco, enquanto os seus sao grandes, nitidos, colori- dos e sorridentes? Vamos experimentar. Durante uns segundos, pense no seu tltimo ani- versdrio. Como antes, faca-o naturalmente, sem forgar ou inventar. Sim- plesmente lembre-se. Logo, estude a estrutura—as submodalidades. Preste atengAo nas cores, na claridade, no tamanho, na posigdo, na distancia, no movimento, nos sons, nas sensagées etc. Nao é necessario pegar todas, po- rém as mais aparentes. Anote em um papel. Da mesma maneira, lembre-se de um aniversdrio ha alguns anos. No- vamente, estude a estrutura e anote as submodalidades mais 6bvias ou apa- rentes. Sao diferentes desta vez? Como? Agora, pense no seu favorito, aquele aniversario que vocé mais gostou em toda sua vida. Faca um inventério das submodalidades outra vez e pres- te atengdo em qualquer diferenga que perceba. Finalmente pense no seu préximo aniversdrio. Que vai fazer? Com quem? Onde? Estude a estrutura desta “criagao” da mesma maneira que estudou as memérias, anotando as submodalidades mais Sbvias e prestan- do ateng4o nas diferengas. Pensando nos quatro, um por um — trés memérias e uma construgao -, como vocé sabe que o segundo aconteceu antes do primeiro? Quais dife- rencas vocé percebe na estrutura? Que submodalidade indica tempo? Um fica em frente do outro? Em cima? Embaixo? Maior? Mais longe? Mais co- lorido? Mais nitido? Mais parado? Menos volume? Como sabe que um dos 62 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS aniversdrios ainda nado aconteceu? Que submodalidade indica que algo é real ou imagindrio? Sua posigio? E mais alta? As cores? £ transparente? Desfocado? Como sabe que seu favorito é seu favorito? Obviamente vocé “gosta” mais de seu favorito, mas que/quais submodalidade(s) causa(m) essa sensagao? Lugar? Distancia? Temperatura? Cores? Textura? Talvez vocé esteja pensando que, apesar de ser muito interessante, isso nao tem nada a ver com operat no mercado. Mas tem. Pense num merca- do, ou empresa, que vocé gosta de operar. Agora pense num que nao gosta nem um pouco. Ignorando suas explicagdes ¢ as razées verbais, pense nos dois mercados ¢ preste atencao nas diferencas, primeiro no contetido, e de- pois nas submodalidades. Duvido que vocé pense da mesma mancira sobre os dois. Em uma entrevista, um trader com dificuldades em deixar um tra- de “correr” descreveu o grafico de um minuto como algo tao grande e per- to que nao conseguia focalizar-se nele e que causava uma ansiedade terri- vel, Os graficos didrios das mesmas empresas ndo causavam 0 mesmo efei- to. Eram menores, bem focalizados e lentos. Quando a construc4o de nossos pensamentos acontece inconsciente- mente, a combinag3o de contetido e submodalidades acaba controlando nossas emog6es e estados de 4nimo. Evidentemente, isso nado é desejavel por um trader. Felizmente, sabendo que existem, podemos aprender a ma- nipuld-las, madando como pensamos e o que sentimos. Manipulando submodalidades Feche os olhos e pense numa tarantula venenosa. Crie essa imagem bem perto de vocé, tao perto que ocupe todo o seu campo de visao. Faga a ta- rantula gigantesca com cores vivas, chocantes e desagradaveis ¢ detalhes nitidos. Sinta os cabelos no corpo e pernas rogando seu rosto. Sinta as vi- bragdes no chao e escute o barulho que faz, um chiado que arrepia seus pé- los, enquanto caminha rapidamente aos trancos na sua diregao. Imagine veneno imundo gotejando das mandibulas, caindo nas suas mas. Sinta 0 cheiro horrfvel, a temperatura quente do animal no seu rosto ea viscosida- de pegajosa. Escute os dentes rangendo estridentemente perto dos seus ou- vidos, Sinta seu olho grande e mau fixado em vocé. Perceba uma parede atras de vocé. Duro e frio. Como se sente? Confortivel? Desconfortavel? E assim que pessoas com aracnofobia pensam em aranhinhas de 3mm! Criando uma estrutura assim, nosso cérebro faz duas coisas. Primei- ra, focaliza nossa atengio. E dificil ver, ou pensar, em outra coisa quando Tripulagaoe amente 63 sua “tela interna” esta cheia de uma barata/rato/aranha/grafico gigante. Segunda, cia uma emogao—provavelmente algo como medo ou ansieda- de. Coisas grandes, répidas, coloridas, ruidosas, estridentes e perto de nosso rosto causam uma sensacgao mais forte que coisas pequenas, obscu- ras, longes e lentas. Agora, exploremos a poténcia de submodalidades! Lembra-se de como sentiu a respeito da tarantula? Pois faca o seguinte: © Na sua cabeca, remova as cores da tarantula. Pinte-a em cores pas- téis. Talvez rosa suave ou limao. Ou tinja-a de cinza-claro. Sente-se diferente? Tire qualquer barulho que faz. Faga com que guinche como um hamster, quase inaudivelmente, ou arrote como um bébado. Mu- dou a sensagéo? © Mudea textura do bicho. Dé uma pele como um ursinho de pehiicia. Suave, agradavel. Tire as mandibulas e coloque dentes de borracha. Troque o veneno para mel. Como se sente agora? © Faga seus movimentos bem lentos, ou rftmicos, como se dangasse. Como se sente? « Finalmente, envie esta tarantula tao longe que puder ao horizonte, até ser um pontinho pastel no horizonte. E agora, o que sente? Se vocé se entregou A experiéncia, em lugar de simplesmente ler 0 texto, talvez esse jogo tenha mostrado como as submodalidades podem criar um monstro ou acalmar uma mente tensa. Para aprender um pouco mais sobre suas submodafidades, pense em algum valor que tenha, algum principio muito importante para vocé. Faca um inventario das submodalidades. Pense em outro que nao € tao importante, ¢ faga outro inventario. Que diferenca existe entre eles? Qual submodalidade indica que algo é importante? Agora faga o mesmo exercicio com algum objetivo importante que teve e que realizou, e outro que teve mas nao realizou. Que diferenga existe entre as submodalidades? Faga com alguma situacdo que causou tristeza, e outra, felicidade. Que diferenga existe entre as submodalidades? Faca com alguma comida que gosta e outra que nao. Pratique mantendo seus pensamentos na cabe¢a ¢ fazendo um inventa- rio rapido das submodalidades. Nao desista se “escapam” ou desaparecem quando dirige sua atencio nele, Seja persistente. Estamos tornando um processo inconsciente consciente. E interessante praticar. 64 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Nesse momento, pense em algumas dificuldades que vocé tem no mer- cado, aquelas que causam um mal-estar, ansiedade ou frustragdo, ou dio um né na cabega. Escolha uma e pense a respeito. “Observe” sua dificulda- de e crie o inventario das submodalidades mais importantes. Quando tem uma boa descrig&o da estrutura da dificuldade, mude as submodalidades como fez com a tarantula. A idéia é de encontrar aquelas que afetam a sensagao, tornando algo desagradavel em algo suportavel, re- tornando 0 controle de seus estados emocionais a vocé. Nao existe uma forma certa ou errada de fazé-lo — s6 experimentando — é sua cabega e sao suas submodalidades, entao brinque! Mude as cores, faga-as mais vivas, mais vibrantes, ou tire-as completamente deixando a imagem “morta”, cinzenta ou escura. Adicione um movimento, ou congele movimentos ra- pidos, Traga mais perto, mais Longe, gire, distorga. Mude de duas para trés (ou trés para duas) dimensdes. Faga a mesma coisa com os sons. Aumente, diminua, tire, distorca. Preste ateng4o na sua voz interna. De quem éa voz? Como fala com vocé? Grita? Sussurra? Castiga? Critica? Conversa nor- malmente? Que tom usa? Mude a voz, o timbre, o volume. Dé-lhe um tom de voz feliz, brincalhao, divertido, carinhoso, motivador. Mexa com suas submodalidades como se estivesse brincando com um editor de imagens e sons no computador. Repita a experiéncia com as outras dificuldades. Nao vai resolver o pro- blema, mas pode criar um estado em que encontrar uma solugao € possivel. Seqiiéncias e estratégias mentais O cétebro sempre esta fazendo algo, mesmo quando estamos dormindo. Pensar é um processo continuo, e certas seqiiéncias de pensamentos ser- vem como estratégias mentais que criam e mantém estados fisioldgicos. Estados sio como o cérebro prepara 0 corpo para lidar com uma situagao. Alguns séo automaticos - como o estado de alerta que sentimos quando al- gum medo repentino estimula a glandula pituitaria e as glandulas adrenais liberam adrenalina no sangue. Outros, um produto de um pensamento mais deliberado. Quando temos algum objetivo — estudar um livro, abrir uma posigao ou dar uma palestra, por exemplo — 0 cérebro usa estratégias para criar um estado adequado para realizé-lo. Na maior parte do tempo essas estratégias sio bem-sucedidas, mas, de vez em quando, o processo falha. Um bom exemplo seria o de um rapaz que quer falar com uma moga bonita. Seu objetivo é de criar uma boa im- pressao. O estado ideal seria “relaxado”, mas, devido a uma estratégia Tripulagdoe amente 65 ruim, seu cérebro acaba criando um estado de ansiedade levando o pobre rapaz a gaguejar como um idiota. Essas estratégias sio parecidas com correntes de causa-efeito ou acio-conseqiiéncia. Nova informagao chegando ao cérebro causa algum efeito que dispara alguma emogdo ou cria algum estado. Essa informagao (a causa) pode vit do mundo exterior—na forma de coisas que vemos ou es- cutamos—ou de dentro de nossa cabega—um pensamento—como um obje- tivo ou uma tarefa que decidimos que temos que fazer. O efeito é geral- mente nossa avaliagao das conseqiiéncias da informagao. Por exemplo, po- demos imaginar alguma imagem, um cendrio ou ainda escutar algum co- mentario de nosso didlogo interno. Esse processamento normalmente re- sulta em alguma sensagdo. Se a sensagdo ou emogao ajuda a lidar com a si- tuagdo, a estratégia é boa. Veja a seguir alguns exemplos: Vejo (real) um ledo (o mesmo!) correndo em minha diregao. © Vejo (imaginado) uma imagem grande do meu corpo cinza e mole na boca do leao. © Sinto medo. © Minha voz interna grita: “Corral” © Corro. © Escuto (real) alguém usar o nome da minha namorada em uma con- versa. Vejo (imaginado) seu rosto, cor-de-rosa, suave, macio e calido na minha frente. © Sinto uma sensacao calorosa e agradavel. © Vejo (real) o grafico da minha agao caindo. © Faco (didlogo interno) 0 calculo de quanto dinheiro vou perder. © Vejo (imaginado) algo que poderia comprar com esse dinheiro. © Sinto um peso no meu est6mago. © Digo-me (didlogo interno): “Seu estipido. Esta ferrado!” © Vejo (real) 0 mesmo grafico caindo. © Reconhego (lembranga) meu padrao de safda formando. * Entro num estado de tensdo. © Vejo (real) o prego atingir o stop. © Digo-me (didlogo interno): “Venda agora.” * Vendo. © Sinto-me bem. 66 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS * Tomo (didlogo interno) a decisdéo de desenhar um sistema. * Vejo (imaginado) um monte de indicadores girando rapidamente em turbilhao, grandes, bem coloridos, mas nao nitidos. Meu olho interno pula de um para outro, sem parar, cada vez mais rapido. * Escuto (didlogo interno) um grito interno de frustragdo. Sinto o desejo de jogar tudo no ar, © Vejo-me (imaginado) ganhando muito dinheiro com um sistema que desenhei. ® Sinto-me motivado. Digo-me (didlogo interno) em uma voz baixa, sussurrando ao meu ouvido esquerdo: “Nao vai dar certo. O mercado esta andando de lado. A economia est esfriando. Este ano vai ser ruim.” © A motivagdo desvanece. Vejo (real) uma seta verde aparecer no grafico. Digo-me (didlogo interno): “E um sinal de compra.” Sinto-me bem. Compro. Pratique, observando as seqiiéncias dos seus pensamentos. Tente iden- tificar as estratégias que usa quando consegue fazer coisas sem problemas. Compare essas estratégias com aquelas que usa em situagées que resultam dificeis ou impossiveis. Estratégias mentais eficientes Percebeu como algumas estratégias fluem naturalmente enquanto outras acabam se sabotando? Para um trader, estratégias mentais tais como: ver um padrao, reconhecer 0 padrao como um sinal, sentir vontade de operar, . . . © operar. so eficientes. Resultam na agio desejada. Estratégias tais como: ® ver um padrao, * reconhecer o padrao como um sinal, Tripulacdoeamenie 67 © imaginar ou lembrar as coisas que podem dar/deram errado, © sentir medo, © hesitar ou decidir nao agir. sdo ineficientes. E possivel identificar estratégias ineficientes, mas apenas quando se tem consciéncia da seqiiéncia dos pensamentos que as comp6em. Asvezes, simplesmente identificar 0 ponto onde as estratégias desviam € suficiente para retomar o controle de suas agdes. Cuidado, talvez 0 que vocé chama “ineficiéncia” seja seu inconsciente tentando salva-lo de alguma desgraca. Antes de forjar em frente com suas operagées, € importante distinguir es- tratégias mentais de operacionais e se fazer trés perguntas: 1. Tenho certeza absoluta de que meu sistema funciona? 2. Tenho certeza absoluta de que posso perder o valor que estou ar- riscando sem sofrer conseqiiéncias negativas? 3. Tenho certeza absoluta de que o que estou vendo é 0 padrao certo ou estou seguindo as regras do meu sistema ao pé da letra? Por qué? Se o trader A forja em frente com uma estratégia ineficiente apesar de responder “nao” a uma ou mais dessas perguntas, provavelmen- te vai perder dinheiro. A experiéncia vai ensind-lo que deveria escutar sua intuig4o e acaba reforcando o medo que sente. Esse medo é real, ese deve & sua estratégia operacional fraca. Ele é mal-preparado. No caso do trader B, que também possui uma estratégia mental inefi- ciente, mas que esta seguindo as regras de um bom sistema ¢ arriscando uma quantidade de dinheiro “confortvel”, nao ha razdo para nao agir. Seu medo se deve A sua estratégia mental, nao operacional. Claro, o risco sempre existe no mercado, mas o objetivo do trader ¢ operar, ¢ esta toman- do os riscos em conta, se n4o age quando recebe sinais estara perdendo boas oportunidades. Se o trator B opera—apesar de ter medo —, aos poucos a experiéncia vai afinar sua intuicdo ¢ apagar o elemento ruim de sua estra- tégia ineficiente, tornando-a eficiente. A diferenca entre um bom trader e um ruim é que o bom é mais objeti- vo e sabe olhar para dentro. Nao adianta ter confianga, forga de vontade ou pensamento positivo, se seu sistema perde dinheiro ou artisca tanto di- nheiro que tomar trés stops seguidos acabara com sua conta. 68 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Controlando seus estados emocionais O mercado pode ser uma montanha-russa de emogées. Euforia, tristeza, rai- va, medo, ansiedade, frustracio, decepgdo — é possivel sentir tudo isso em um dia! E se nao sabemos controlar nossos estados, essas emog6es acabam influenciando nosso comportamento. Trader B pode ter um sistema exce- lente, mas se nao consegue lidar com seu medo, ¢ nao opera, pouco importa. Para muitas pessoas, a emogao € uma das razSes que operam. O merca- do é capaz de fornecer sensagées que faltam na vida. Claro, esses traders dizem que querem dinheiro, mas tendem a operar mais que deveriam, usam sistemas duvidosos que dependem de uma “coceira na barriga” e ar- riscam mais dinheiro que seria prudente. Alguns gostam da adrenalina, da sensagao de estar no limite, de tomar riscos ou de provar que s40 mais es- pertos que o mercado, como se 0 mercado se importasse. Outros, desespe- rados para ganhar, sentem-se impelidos a agir assim, vendo como a tinica forma de ficar ricos. Mesmo os trés traders entrevistados dizem que se sen- tem adrenalinados quando estao numa posi¢ao, e que gostam de “especu- lar”. Mas nao se entregam a emogao. Tém bem claro quando estao “espe- culando” e quando esto “trabalhando”. Especulam com pouquissimo di- nheiro. Reconhecem suas emogées, e sabem quais s4o boas para operar e quais nao sd. Se nao conseguem encontrar um bom estado para operar, nao operam. Usam suas cabegas, nao seus coragées. Vimos nas entrevistas que estados como confianga e trangiiilidade sto ideais para operar. Como, ento, podemos controlar, ou modificar, um es- tado indesejavel — por exemplo, a “ansiedade” — para um melhor? Mudando de perspectiva Digamos que tivesse um lucro grande ou um prejuizo doloroso. Depen- dendo disso, vocé pode estar se sentindo ou muito bem ou muito mal. Entretanto, o que aconteceu somente é bom ou ruim para vocé, e somente é assim porque vocé julga o acontecimento usando seus critérios. Usando outro critério, um grande lucro pode ser “ruim” porque indica algo estra- nho ¢ inesperado acontecendo no seu sistema e um grande prejuizo pode ser “bom” porque conduz a uma aprendizagem importante que impede prejuizos futuros maiores ainda. E bom que acontega agora, quando opera com poucos contratos, e ndo mais tarde quando opera com mais. Sempre ha varias formas de ver a mesma coisa. Veja alguns exemplos de mudanga de perspectiva. Tripulagdoeamente 69 Perder R$1.000 em uma operagio pode ser colocado como algo que aprendeu a nao fazer, ou R$1.000, investidos na sua educagdo, ou um au- mento nos custos do negécio, ou um aviso de reduzir seu risco reduzindo o tamanho das suas posig6cs. Se sua hesitagao perdeu um movimento, em lugar de se cobrar, felici- te-se por ter visto o movimento, e afirme que agora deve concentrar-se em agit mais rapidamente. Se ficar confuso porque nao consegue entender como o mercado fun- ciona, lembre-se de que os economistas e analistas também nao sabem. Vocé é normal. E sera que precisa entender tudo para lucrar? Se ficar frustrado porque seu sistema nao da bons resultados, lem- bre-se de que leva muito tempo para ser médico, advogado ou engenheiro. Também leva tempo para ser trader. Vocé esté aprendendo. Engenheiros nao constroem pontes depois de trés meses na faculdade. Se sua esposa (ou seu marido) reclama sobre o dinheiro que vocé perde — ou nao ganha -, sinta-se feliz porque se preocupam com vocé. Se estiver deprimido porque perdeu, reconhega que seus prejuizos s40 importantes. Isso significa que vocé esta conhecendo seus limites, e, quan- do conhece seus limites, pode operar dentro deles. Se nao sabe qual método usar porque hé tantos, fique grato por haver tantas opgées. Certamente uma delas combinara com vocé. E, se errou ¢ esta com raiva, felicite-se por reconhecer seu erro! Agora pode aprender algo novo, Se nao consegue esperar o sinal de seu sistema, fique feliz por ter tanta confianga nele. Alegre-se por ter desenhado um bom sistema e anote que agora seu objetivo é melhorar seu “timing”. Se ganha mais do que esperava, considere a possibilidade que esta fazendo algo errado. Sua boa “sorte” pode ter sido ma. Reveja seu sistema e seu risco. Lembrando ou imaginando o estado desejado Se seu estado desejado é de tranqiiilidade ou confianga, lembre-se de um momento na sua vida quando se sentiu assim. Reviva-o até sentir essa tran- qitilidade ou confianga. Se nZo se lembra de nada, imagine uma situacao. Fantasie. Crie uma situag4o, ou um lugar especial onde se sentiria tranqiii- Jo. Associe-se (lembra-se de como faz isso?) ¢ viva sua fantasia ou memoria. Experimente com as submodalidades e tente aumentar as sensagdes de tranqitilidade e/ou confianga. Cada vez que estiver operando, ¢ perceber que esta entrando num esta- do indesejavel - sentindo-se agitado ou nervoso, por exemplo — feche seus 70 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS olhos, respire fundo e lembre-se de sua situagao trangiiila ou v4 para seu lugar especial. Viva-o novamente. Fitas K7 de hipnose, meditacao e relaxamento funcionam um pouco assim. Dirigem seus pensamentos criando um estado agradavel. Mudando de fisionomia Da mesma maneira que pensamentos causam comportamentos, Compor- tamentos também causam pensamentos. Se vocé quer ter algum estado, aja como se 0 tivesse. Se nao sabe como fazé-lo, copie a fisionomia e 0 com- portamento de alguém que saiba. Ou invente. Como agiria alguém “tran- qiilo” ou “confiante”? Que postura teria? Quais movimentos faria? Como respitaria? Que diria? Se voce esta se sentindo deprimido, levante-se, coloque uma misica alegre e dance. Ou leia algumas piadas. Sorria. Force alguns risos. Finja que vocé est feliz—e acabard se sentindo melhor. Claro, é dificil agir como se tudo estivesse bem quando se estd no fundo do pogo. Mas, afinal, quem évocé? Um lutador ou algum coitado? Quer se sentir bem ou mal? Esta dis- posto a fazer o que for necessdrio para ser um ganhador? Usando submodalidades e estratégias Como ja viu, é possivel modificar um estado ajustando submodalidades e estratégias. Quando vocé é capaz de fazer um inventario de seu estado indesejavel (pensamentos mais sensagdes) pode “desenhar” um estado melhor brin- cando com suas submodalidades. Ajuste-as uma por uma, € mude seu did- logo interno até eliminar as sensagdes negativas € criar outras mais titeis. No caso de uma estratégia ineficiente, se sabe como identificar a se- qiiéncia de pensamentos, pode eliminar—ou substituir—o passo onde a es- tratégia estraga. Digamos que vocé nao consegue abrir uma posig4o por- que um pensamento sobre o dinheiro que pode perder estraga sua estraté- gia. Substitua esse passo por outro: seu didlogo interno comentando que seu sistema funciona, o risco € aceitavel ¢ que, se quer ganhar dinheiro, € preciso operar, por exemplo. Forjando em frente apesar de tudo... Quando um sentimento (medo, raiva, frustragdo, depressio, ansiedade etc.) ameaga tirar vocé de seus planos, pare € reconhega 0 que est sentin- Tripulagaoe amente 71 do. Permita a presenga da sensagao. Nao tente fugir. Saiba que nao precisa mudar 0 que esta fazendo, pode decidir fazé-lo, apesar de sentir o que esta sentindo. Mas somente se percebe que est sentindo algo. O que geralmen- te acontece é que, no momento em que percebemos a chegada de uma sen- sagao ruim, fazemos de tudo para fugir ou evita-la. Esse € o momento que nos desviamos de nossos planos. Converse consigo: “Estou querendo fazer [algo], estou sentindo [tal emogio]. Esta bem sentir [tal emog4o]. Mas, se quero continuar fazendo [algo] tenho que fazer [tal coisa].” Finalmente, lembre-se: nado é 0 que acontece que afeta nossas emo- ges, € como pensamos a respeito. Aprenda a controlar seus pensamentos, ou seus pensamentos controlar4o vocé! Pensamento critico Antes de qualquer coisa, o trader tem de pensar criticamente. “Pensadores criticos distinguem entre fato e opinido. Fazem per- guntas e observagées detalhadas, descobrem presungées e defi- nem termos, além de fazer afirmagées baseadas em légica e evi- déncias.” Dave Ellis, autor de Becoming a master student. “Pensamento critico é decidir racionalmente o que queremos ou n4o queremos crer.” Stephen P. Norris, professor de pesquisa educacional e filosofia da educagdo, Memorial University of Newfoundland. A American Philosophical Association explorou as qualidades de um pensador critico. Apés dois anos de trabalho, concordaram em sete quali- dades que diferenciam pensadores criticos de outras pessoas. 1. Pensadores criticos procuram a verdade e seguem a evidéncia e a razao onde for que os levem. Consideram e aceitam idéias que mi- nam suas assungGes e interesses prdprios. 2. Témamente aberta. Reconhecem e valorizam 0 fato de que outras pessoas nao concordam, respeitando o direito das outras de ex- pressar idéias diferentes. Além de procurar diferentes pontos de vista, verificam seu préprio discurso para inclinagoes. 72 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS 3. Sao analiticos. Reconhecem afirmages que dependem de evidén- cia. Esto ligados a problemas em potenciais e prevéem as conse- qiiéncias de adotar um ponto de vista particular. 4. Sao sistematicos, organizados e focalizados. Eles tém a paciéncia de juntar evidéncias, testar idéias endo desistir de um problema dificil. 5. Confiam em suas habilidades intelectuais e esta confianga apéia todas as outras qualidades. 6. Querem saber os fatos e conceitos. S40 curiosos e dispostos a ex- plorar 0 universo de idéias antes mesmo de saber como aplicar os conhecimentos que obtém. 7. Sao pessoas maduras, com a sabedoria de experiéncia. Entendem que um problema pode ter varias solugdes e que podem se contra- dizer. Resistem ao desejo de aceitar respostas rapidas e superficiais e, também, desistem de julgar quando nao tém todas as evidéncias. Ao mesmo tempo, sabem que, as vezes, é preciso agir antes de ter todas as informacées. Informagio é poder, disseram, E 0 cremos. Hoje nossas escolas nos en- sinam a adquirir e reter informagao. Infclizmente, informagéo em si é int- til. E preciso fazer algo com ela, process4-la e formar crengas titeis a respei- to do “mundo”. Interessante, numa outra parte do livro, dizemos que nao € 0 mercado que operamos, mas as crengas que temos a respeito dele. Seria razoavel dizer, entdo, que as crencas que formamos s4o muito importantes para obter sucesso duravel como trader. Nao tém de ser “A Verdade Abso- Juta”, mas tém que ser titeis ¢ flexiveis. Para formar crengas titeis, temos de processar a informag4o que adqui- rimos, ou seja, temos que pensar. E, para pensar bem — ou criticamente = temos que adquirir ferramentas para procurar e processar informag’o e nutrit o habito de usd-las sempre. Lembre-se de que uma pessoa sem perguntas é uma pessoa sem enten- dimento, e perguntas superficiais mostram compreensao superficial. O metamodelo O metamodelo (Bandler e Grinder, 1975) é uma ferramenta excelente para desenvolver 0 pensamento critico. Oser humano tema capacidade de pensar simbolicamente, usando lin- guagem e simbolos para se comunicar com outras pessoas e consigo mes- Tripulagdo eamente 73 mo. Isso nos permite falar “a respeito” das coisas, e nao simplesmente fazer observagdes de como “sao”. Admita, vocé conversa consigo mesmo! Nao se preocupe porque nés todos o fazemos. Damo-nos ordens, fazemos comentarios, criticas e nos motivamos. Além de conversar, assistimos “slideshows” de “fotos”, “fil- mes” e participamos de “teatros” mentais. Somos capazes de imaginar o futuro e nos lembrarmos do passado, vivendo e revivendo nossos pensa- mentos, até mudando a seqiiéncia de eventos ou os desenlaces. Geralmen- te, sabemos reconhecer a diferenga entre pensamentos internos e a realida- de externa, mass vezes esta distingdo nao € tao clara, ¢ af comegam nossos problemas. Ha milhares e milhares de formas de pensar, limitadas somente pelo que possamos imaginar, e todos acontecem numa frag4o de segundo e sem muita consciéncia da nossa parte. Lembra-se das submodalidades? Pois fe- che os olhos e pense numa banana durante 10 segundos. Depois, descreva esta banana para vocé mesmo. De que cor é? Est descascada? Inteira? In- dividual? Em penca? No supermercado? Na cozinha? Na mao de um ma- caco? Vocé est4 comendo? Deseja comé-la? Conhece o sabor? Tem chei- ro? Pode se imaginar mordendo a casca dela? Estd verde ou madura? Pesa- da ou leve? Quente ou fria? Isolada, sem nada A sua volta ou acompanhada de outros objetos? Esta préxima ou distante de vocé? Vocé esta imaginan- do-a em duas ou trés dimensées? O cendrio da banana é estatico ou dind- mico? Existem barulhos tais como hu hu hu ou nham nham nham? A bana- na fala? Se ela fala, o que est4 dizendo? Hmmm... se uma banana est falan- do com vocé, sugiro que chame 190 e pega ajuda profissional! Entao, j4 deu para brincar. Certamente sua banana apareceu sem muita dificuldade, ¢ se 10 leitores deste livro descrevessem suas bananas, terfa- mos 10 descrig6es completamente diferentes. E por isso que a raga huma- na tem tanta dificuldade em entender coisas mais complicadas que frutas. Se o ponto de vista de uma simples banana apresenta tantas diferengas, imagine os problemas que terfamos concordando sobre idéias mais com- plicadas como o valor de uma empresa, a validade dos ntimeros de Fibo- nacci ou que tipo de sistema é “melhor”. Operar no mercado nfo € coisa facil. Bem, operar é muito facil, mas ganhar dinheiro consistentemente ndo é, e precisa de uma clareza de pen- samento quase sobre-humana. Um método para aprender a pensar de uma forma mais clara € aprender a falar de forma mais clara! Nao necessaria- mente conversando com outras pessoas, mas consigo mesmo, analisando ‘os préprios pensamentos de forma metédica. 74 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Disse falar melhor para operar melhor? Sim. Como? Pois na lingiistica a hipétese Sapir-Whorf afirma que existe uma relacio entre a gramatica que a pessoa usa quando fala, como essa pessoa compreende o mundo e se com- porta nele. Nao sei se isso € verdade, mas creio que as palavras que saema das nossas bocas descrevem nossos pensamentos. E impossivel falar sem pensar, mesino que pareca que a pessoa que esta 4 nossa volta o faga o tempo todo. Falar é como ser um tradutor simultaneo assistindo a um filme em uma lin- gua e o descrevendo simultaneamente em outra. Traduzimos nossos pensa- mentos (visuais, auditivos e sensoriais) em portugués. Nao € sempre facil, como deve saber, sobretudo quando as idéias acontecem a velocidade da luz endo temos muita consciéncia de exatamente 0 que é que est4 acontecendo nelas, ou seja, quando as coisas nao estao “muito claras”. Ja deve ter percebido como, as vezes, vocé tem mais facilidade de ex- plicar certas coisas que outras. Também como algumas pessoas tém uma facilidade em explicar as coisas mais complicadas de uma forma clara, en- quanto outras pessoas deixam vocé confuso explicando coisas muito sim- ples? Por que sera? Algumas pessoas pensam melhor que outras ¢ usam uma linguagem mais precisa. Para ser mais preciso, € necessdrio prestar mais atencao aos detalhes. O metamodelo apresenta uma série de padrées lingiiisticos desenhada para esclarecé-los. E um curso simples de pensamento critico. E, também, o metamodelo se estrutura em torno de trés habilidades humanas: generalizagdo, omissio e distorgdo de informagao. Elas sao mui- to titeis em nossos cotidianos. Sem generalizagao, teriamos de aprender como abrir cada porta que barre nosso caminho. Sem omissao haveria mais acidentes de carro e atropelamentos. Prestariamos menos atengao nos car- ros € mais atengdo nas vitrines das lojas ¢ nas pessoas bonitas no outro lado da tua. Nao saberiamos nos concentrar e omitir informagées intteis. Tam- bém comunicar seria mais dificil do que j4 €. Numa sala de pessoas, nao sa- berfamos escutar uma pessoa s6 ¢ ignorar o resto do barulho. Finalmente, sem distorcer sua visio da realidade, vocé no sairia de casa depois de se olhar no espelho! Estou brincando, mas nossos antepassados no teriam saido das suas cavernas. Nao saberiam dizer: “Aquele mamute nao parece tio perigoso. Se juntarmos nossas forgas, acabaremos com ele num minuti- nho!” Simplesmente veriam um animal enorme ¢ assustador e decidiriam ficar em casa. Também, sem distorgao, que seria de pessoas como Picasso? Aarte nao existiria. Um mundo sem livros? Que mundo triste! Um mundo sem TV? Hmmm, sem alguns programas brasileiros, talvez nao fosse total- mente ruim! Tripulacao eamente 75 Entretanto, apesar de serem titeis em alguns contextos, omissao, gene- ralizag4o e distorg4o podem atrapalhar o trader bastante. Como trader, é perigoso omitir qualquer informagio relevante e seria uma boa idéia to- mar cuidado com generalizagéces num ambiente “quase aleatério”. E dis- torg6es da realidade poderiam acabar com seu capital em seguida. Um in- vestidor que insiste em manter suas agdes em uma empresa furada porque ele acha que vai melhorar seguird 0 caminho dos mamutes. O metamodelo identifica e questiona generalizagdes, omissdes e dis- torgées. Encontra os limites mentais de seu ponto de vista, ampliando suas opgées. Sem mais, vamos ver os padrées. Omissdo: Explicitando 0 cenario e procurando mais informagées Prestamos atengdo em certas dimensées de nossa experiéncia enquanto ex- cluimos outras. Nossa descrig&o é incompleta e/ou faltando detalhes. Padrado 1a: Omissdo simples Uma omiss4o simples é um padrio comum, freqiientemente usado para simplificar uma conversa. Uma omissao acontece quando a pessoa que fala, o emissor, omite uma pessoa, objeto ou relacdo que tornaria claro seu discurso. Muitas vezes a omissdo resulta da pressuposigio de que a outra pessoa sabe o que nds sabemos. Especificando, a omissao esclarece a frase € aprofunda o pensamento. O objetivo das perguntas é recuperar as informagées perdidas. Exemplo Ele disse que daria certo. Tem de comprar menos para te proteger. Estou preocupado. Ja é tarde demais. Sua légica esta confusa. Concordo com o que vocé disse antes. Vou desistir. E hora de cair na real. ‘Todos os indicadores fazem isso. Perguntas Quem disse? O que daria certo? Comprar menos 0 qué? Proteger de qué? Que relagdo ha entre “comprar” e “protecéo”? Preocupado com 0 qué? Tarde para qué? Confuso como? Com respeito a qué? © que foi que disse antes? Cair na realidade de quem? Fazem o qué? 76 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Padrao 1b: Omissdo comparativa Uma omiss4io comparativa é como uma omissao simples, exceto por usar su- perlativos e comparativos. Na frase faltam as referéncias da comparagao. O objetivo das perguntas € esclarecer os critérios da comparagao. Este sistema € melhor que o meu. Melhor como? Esse padrao € muito mais comum. Mais comum que o qué? A média mével € mais importante. Que o qué? Isso faz mais sentido. Que o qué? ft o melhor fundo para investidores Melhor como? Melhor que 0 qué? cautelosos. Ele é o melhor. Melhor que quem? Comparado com ‘© qué? Melhor usando quais critérios? ‘Tenho de operar menos. Menos que 0 qué? Padrao 1c: Falta de indice referencial Bum tipo de omissao na qual na frase falta um sujeito ou objeto especifico. Em vez de especificar, 0 emissor usa uma generalizagao como eles/as, as pessoas, aqueles, esses etc. O objetivo das perguntas ¢ especificar exatamente de quem ou de que se esta falando. As coisas esto ruins. A quais coisas se refere? Eles nao funcionam. Eles quem? O que n4o funciona? ‘As pessoas nao sabem pensar. Quais pessoas? A respeito de qué? Alguém deveria fazer algo a respeito. Quem deveria fazer o que a respeito de qué? Nao deu certo. que nao deu certo? Os tubarGes esto na venda. Quem sao os tubarées? Eles manipulam o mercado. Quem, especificamente, manipula o mercado, ¢ como? Tripulagao eamente 77 Padrao 1d: Verbo inespecifico O sujeito de um verbo “age” no objeto, ou “faz” alguma coisa. Um verbo inespecifico nao detalha o modo de ago, assim evitando explicar “como” esta acontecendo. O objetivo das perguntas é definir melhor a agao, ou processo. Vocé precisa de um sistema novo Como o sistema vai melhorar seus para melhorar seus resultados. resultados? Tenho medo de opgées. O que, especificamente, causa esse medo? Devo prestar mais ateng4e aos Prestar atengao como, e em qué? meus stops. Estou travado. Travado como, de que forma? Estéo manipulando 0 mercado. Como 0 fazem? E mais seguro entender o balango da Mais seguro como? empresa se pretende comprar uma agao. Duas observagées interessantes com verbos. 1. Frases na voz passiva ou usando “eles” como sujeito Quando se trata de explicar um problema ou dificuldade, preste muita atengao no indice referencial, ou seja, o sujeito de sua frase. Como disse anteriormente, o “sujeito” € responsavel por “verbar™ o “objeto”, e cons- trugGes usando a voz passiva, ou sujeitos inespecificos desviam a responsa- bilidade de “verbar” do sujeito. ‘Toda frase na voz passiva possui um “alter-ego” na voz ativa. Imagine- mos que vocé bateu 0 novo carro de seu/sua parceiro/a. Como vocé expli- caria seu “acidente”? “Amor, bateram no carro.” “Amor, o carro foi batido.” “Amor, bati 0 carro.” Na primeira e segunda frases vocé estA evitando a responsabilidade. Ou “cles” sao responsaveis, ou o acidente simplesmente aconteceu. Na til- tima, vocé aceita a responsabilidade. Essa flexibilidade da lingua é excelen- 78 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS te para evitar a culpa, desvid-la de vocé ou amenizar uma noticia ruim. Por isso seu uso abundante no mundo da politica. Entretanto, no mercado, cada vez que vocé perde dinheiro, a culpa € sua € somente sua. Explicando sua situagdo na voz passiva ou com sujeitos inespecificos pode se evitar a sensagdo de ser um “estipido” e permitir sen- tir-se como uma “vitima” do mercado ou da m4 sorte. Mas, se vocé nao aceita a responsabilidade para suas desgragas, como pode prevenir-se con- tra elas? Vejamos alguns exemplos. Evitando responsabilidade Aceitando-a Opgées séo muito dificeis de entender. Tenho dificuldade de entender opgées. A posigio foi estopada com prejuizo. Eu estopei a posigéio com prejuizo. A decisao foi tomada. Eu tomei a decisio. Pegaram meu stop. Eu estopei. O sistema nao esta dando certo. Nao consigo operar este sistema, ou nao estou dando certo. Quando o sujeito é vocé, admita-o! Use “eu” como sujeito de sua frase. Afinal, vocé quer tomar responsabilidades para seus problemas (e tesol- vé-los) ou fingir que nao existem? 2. Uso do tempo presente Traders ¢ investidores adoram analisar o passado e prever o futuro. Quan- to melhor sua anilise, mais prestigio tém, e quanto melhor prevéem o futu- ro, mais dinheiro, ganhardo. Ou assim pensam. $6 que, no mercado, tudo acontece no presente. Vocé nado pode comprar ou vender amanha ou on- tem, somente “agora”. Tudo que acontece com vocé acontece no presente, incluindo seus problemas e suas solug6es. Como trader, tente viver no pre- sente, prestando atengdo no que “esté” acontecendo, e nao no que “ja aconteceu”, ou no que “deveria” acontecer. Dizer “Se fizer isso posso perder R$10.000” é bem diferente de “Estou perdendo R$10.000”. Vejamos mais um exemplo. A seguinte descrigéo poderia ser algo que aconteceu na semana passada tanto que algo que ima- gino acontecendo amanha. Leia em voz alta: O mercado estd subindo. Percebo que estou com raiva. Estou per- dendo o movimento. Vejo as duas médias finalmente cruzando e estou comprando, O mercado estd caindo. Percebo que estou Tripulagao eamente 79 com medo. O prego esté no meu stop. Vejoo sinal de sair. Percebo que estou congelado. Minha mente estd em branco. Percebo um peso no estOmago. Estou pensando: “Espere um pouco, talvez melhore.” Usar o tempo presente para descrever situagdes passadas ou futuras as tornar mais reais — como se estivessem acontecendo agora. Vocé as “vive”. Também, descrevendo o que j4 aconteceu, ou o que nao € real ainda, vocé esta “dissociado”. Usar o presente cria uma aura de realidade e ajuda vocé a se “associar” ao pensamento. No caso de uma situagdo problematica, usar o presente acrescenta uma terceira dimensdo: a de emogées. Certamente j4 sabe que 0 lado emocional é 0 que menos entende e mais atrapalha o progresso do trader. Explorar quais emogées vocé sentiu (ou sentiria) € um passo importante no processo de autoconhecimento. Padrao 1e: Nominalizacao Quando nominaliza, vocé torna um processo em uma coisa, ou seja, um verbo (freqiientemente um verbo inespecifico) em um substantivo. A pala- vra resultante é algo intangivel, algo que nao podemos tocar com a mio. Citime, respeito, harmonia, depressdo, frustracdo, verdade, liberdade, amor sao todos exemplos de nominalizagdes. Um trader sente frustragio, mas esta é o resultado de um processo frustrante. O objetivo das perguntas é tornar a nominalizag4o novamente em um processo. De que maneira precisa? Quando precisa? Para fazer 0 qué? Preciso ter mais forca de vontade. Falta-me disciplina. Quando? Como essa falta se manifesta? Disciplina para fazer 0 qué? Sou trader porque prezo minha Liberdade de qué, pata fazer o qué? liberdade. E preciso compromisso para ser um sucesso no mercado, Especular é um vicio. Quem est4 comprometendo o que para quem? Para quem? Em que sentido? Nao pode parar? 80 Devo meihorar minha anilise. Lamento minha decisao de fechar aquela posigao. Ele usa candle-sticks para operar. Meu medo me atrapalha. FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Que andlise? Como a analisa? Como vocé gostaria de analisar? Que decidiu? Como vocé tomou essa decis4o? Que parte vocé lamenta? Se pudesse fazer de novo, o que mudaria? Como ele os usa? O que usa como sinal de entrada? Saida? Stop? Que tamanho de posigdo usa? Sentir medo de que o atrapalha; em qué? Generalizagao: Identificando limites e ampliando possibilidades Generalizages sao aprendizagens que separam da experiéncia original e passam a representar uma categoria inteira, Padrao 2a: Quantificadores universais Quantificadores universais sAo grandes generalizagées. Todo, sempre, nunca, cada, todo o mundo, todos, ninguém, jamais. O objetivo das perguntas é identificar contra exemplos que “quebram” a generalizagdo. Nunca vai dar certo. Sempre perco com opgées. Todos os sistemas que testei perderam. Sempre acontece assim. A Gnica forma de ganhar dinheiro na Bolsa é com fundos. Jamais ignora seu stop. Todo o mundo se encheu de dinheiro 0 ano passado. Nunca? Ja houve alguma vez que deu? Ja houve alguma vez que ganhou? Existem sistemas ou varidveis que nao testou? Jé houve alguma vez que nao aconteceu assim? Nunca ouviu falar de alguém que ganha dinheiro sem usar fundos? Conhece algum fundo que perdeu dinheiro? Jamais? Nao existe nenhuma situag3o onde deveria ignorar? Nao existe uma s6 pessoa que perdeu? ‘Todos seus gerentes de fundos sao incompetentes. Tripulagdo ea mente 81 Segundo quais critérios? Ninguém presta para nada? Padrao 2b: Operadores modais de necessidade Essas frases (positivas e negativas) usam palavras como “dever”, “deve- ria”, “4 precisar”, “é preciso”, ‘tem que” para afirmar e identificar regras e limites que podem ser reais ou imaginarios. Freqiientemente, operadores modais sao simplesmente aceitos como regras € limites sem serem ques- tionados. O objetivo das perguntas é desafiar a regra ou limite, coma intengo de estabelecer a sua validez ou invalidez, Observe: Tem que seguir seu sistema, ‘Nao deve abrir mais do que sete posigdes simultaneas. Nao deve arriscar mais do que 2% do seu capital. E preciso muito dinheiro para operar com délar futuro. Nao deveria confiar neste indicador, Tem que comprar/vender agora. E necessdtio ser bom em matematica para ser trader. Nao se deve usar ADX para identificar uma tendéncia. Tenho que aprender isso. Tenho que ganhar R$X.000 este més. O que aconteceria se nao o seguisse? que aconteceria se abrisse? Por que nao? O que pode acontecer? O que aconteceria se operasse com pouco? © que aconteceria se confiasse? que aconteceria se nao o fizer? Quem disse isso? Nao tém traders que nao sabem matematica? Quem disse isso? Que aconteceria se 0 fiver? © que aconteceria se néo aprendesse? O que aconteceria se nao ganhasse? Padrao 2c: Operadores modais de possibilidade S4o basicamente 0 mesmo que operadores modais de necessidade, exceto por tentarem definir o que é, ou n4o, possivel. O objetivo das perguntas é identificar e desafiar as limitagGes. 82 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Nao € possivel dobrar seu dinheiro em Quem disse, e 0 que te impede de menos que cinco anos. fazé-lo? O que precisaria para fazé-lo? Nao posso aprender tudo isso. © que te impede? £ impossivel seguir um sistema ao pé da © que te impede? letra. E impossivel nao ganhar dinheiro com Como vocé sabe? O que impede? este sistema. Ninguém nunca perdeu? Que provas vocé tem? Nio consigo fazer isso. Vocé nao consegue fazer, ou consegue ndo fazer? O que o impede? Nao posso fazer isso. Que aconteceria se fizer? Ese nao fizer? O que o impede? Padrado 2d: Execucao perdida As vezes, avaliagées e julgamentos se separam das pessoas que os fizeram, ou das raz6es para que foram feitas. Palavras como “certo”, “correto”, “er- tado”, “bom”, “ruim”, “melhor”, “pior”, “justo”, “injusto” acabam sendo usadas de forma dissociada. Expressamos um julgamento (ou opinido) sem especificar quem esté julgando (ou opinando), quem originalmente estabe- leceu 0 julgamento (opiniao), e as razées originais para chegar aquela con- clusdo. A pessoa falando confunde sua visdo interna da realidade com a realidade externa. O objetivo das perguntas é desafiar o julgamento, identificando a fonte € 0 critérios usados para fazé-lo. Este curso € muito ruim. Quem diz? Ruim como? Eerrado fazer preco médio por baixo. Quem disse? Errado em que sentido? Média mével é 0 melhor indicador. — Quem diz? Melhor em que sentido? Melhor para quem? O NASDAQ é um mercado dificil. __Dificil como? Para quem? Quem disse? Dizem que aquele sistema € bom. Quem disse? Bom para quem? Bom como? E 0 pior momento para vender. Quem disse? Pior do que o qué? Pior como? E uma idéia estipida. Estapida como? Para quem? Seria melhor reduzir o tamanho das suas posigdes. Sou muito devagar para aprender. Tripulacdo ea mente 83 Melhor para quem? Melhor como? Que acontecerd se nao reduzir? Comparado com quem? Distor¢do: Semantica ruim, frases ambiguas e sem nexo Fantasia e criatividade sao processos nos quais distorcemos nossa expe- riéncia. Padr&o 3a: Pressuposicées Uma pressuposigao é a parte invisivel ou implicita de uma frase necessaria- mente verdadeira para que uma afirmagdo tenha sentido. As pressuposi- ges “pressupdem” que o ouvinte compartilha a mesma realidade que quem esté afirmando, e para que a afirmagdo seja verdade, a pressuposicao também deve ser verdadeira. O objetivo das perguntas é expor e desafiar a pressuposicao, obrigan- do a pessoa a tomar consciéncia dela e explicar as evidéncias ou fatos que a comprovem, Me ferrei de novo. Quando se ferrou antes? Como sabe que é possfvel manipular 0 mercado? Como sabe que s4o as grandes empresas que o manipulam? Como sabe que os pequenos investidores nao estio ganhando dinheiro e que é a manipulagao que os impede? Quando as grandes empresas pararem de manipular o mercado, os pequenos investidores vao poder ganhar dinheiro. Nao tenho alternativa. Tenho de Operar opgées. Como sabe que no existem alternativas? Quando acho um sistema que da 70% de acerto, comego a operar. Nao uso Black-Scholes. Tem que ser muito inteligente para fazer isso. Como sabe que tal sistema existe? Como sabe que tem de ser inteligente? Como sabe que vocé nio é capaz de aprender? 84 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Vou comprar quando o prego cair para 10. Como sabe que vai cair? Quero um sistema em que acho os —_-E possivel aché-los? topos e fundos. Se tivesse prestado atenc4o, nao teria Como sabe que no preston ateng4o? acontecido. Também, cada trader vem da fabrica com duas pressuposigées embuti- das na cabega. * Se decidir operar no mercado — com o objetivo de ganhar dinheiro, claro — o trader pressup6e que isso é possivel. Como sabe que é? Quais evidéncias tém? © Perceba que, quando um trader decide operar usando um sistema. qualquer, existe uma pressuposigao de que esse sistema funcionara. Como sabe disso? Quais evidéncias tem? Alguém lhe disse? Deu cer- to para uma outra pessoa? Testou pessoalmente? Padrao 3b: Causa e efeito Entramos no campo minado de crengas. Vivemos em uma cultura “newto- niana” de causa e efeito onde ha uma causa para tudo. Saber a causa de cada efeito nos permite prever o futuro — algo que traders adoram fazer! Esse padrao implica a existéncia de uma relagdo entre dois eventos. O objetivo das perguntas € comprovar a veracidade da relag4o. Quando a média mével raépida cruza a média mével lenta de baixo para cima € hora de comprar. Quando nao ganho dinheiro fico deprimido. Precisa de dinheixo pata ganhar dinheiro. Ler este livro vai ajudar vocé a operar melhor. Cada vez que opero a Telemar, eu perco. Como sabe disso? Como €, especificamente, que nao ganhar dinheiro deixa vocé deprimido? Como sabe disso? Que evidéncia tem? Como? Entéo sempre ganha quando nao a opera? A culpa disso é da Telemar? Se n4o fosse por meu medo estaria ganhando dinheiro agora. Perdi porque nao segui meu stop. Padrao 3c: Equivaléncias Tripulacdo ea mente 85 Como sabe que nao pode ganhar dinheiro apesar de seu medo? Como sabe que é seu medo que o impede ganhar? Ea tinica raz4o por que perdeu? Talvez nao devesse ter entrado? Uma equivaléncia é a crenga que duas experiéncias diferentes estao tao in- timamente vinculadas que tém o mesmo significado. O objetivo das perguntas ¢ analisar a relagao entre as duas experiéncias. Tem muitas ofertas de venda, entao o mercado vai cair. Nao sei o que fazer. Devo ser esttipido. Eles esto conseguindo, mas eu nao. Nao tenho 0 dom disso. Estou ficando frustrado. Nao consigo fazer isso. Sucesso no mercado depende de controlar seus prejuizos. O estocstico est4 alto. O mercado esta “overbought”. Nao tenho capital suficiente para ser um sucesso no mercado. Juros vio subir, O mercado vai cair. O mercado € igual ao mar. Qual é a relago entre a quantidade de ofertas € a direcéo do mercado? Se ndo sabe o que fazer, onde pode procurar ajuda? Se alguém nao sabe algo, é estapido? © que estio fazendo que vocé nao esté? Como sabe que eles tm o dom? Como sabe que é por falta do dom que no consegue? Tente uma outra forma de fazer. E possivel ter sucesso sem controlar os prejuizos? Como sabe disso? Quem tem muito dinheiro é automaticamente wm sucesso? Como sabe disso? Sempre acontece assim? O mercado sé depende de juros? Como, especificamente, o mercado é como o mar? 86 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS: NOTA SOBRE CRENGAS: Um trader precisa desenvolver crengas a respeito do mercado. Por defini- cao, ele procura padrdes operaveis do tipo A B (se os juros sobem a Bol- sa cai) ou A = B (cruzamento de médias = comprat). Essas crengas nao tém de sera verdade, mas devem ser titeis e, mais im- portante, lucrativas. Padrao 3d: Leitura mental Leitura mental € uma interpretagao pessoal da experiéncia de uma outra pessoa. O objetivo das perguntas é identificar a fonte da informagio e/ou os critérios que a pessoa esta usando para poder fazer sua afirmagao. Eles vao fazer o mercado cair e pegar Por que vao fazer isso? meu stop. Allan Greenspan quer destruir o délar. O que o faz pensar isso? Venden suas agdes antes porque tem um Como sabe que o amigo: (a) disse amigo na empresa, algo € (b) sabia que deveria vender? Fles s6 querem seu dinheiro Como sabe disso? Vocé nao sabe que estou passando. Como sabe disso? Nao tem idéia do quanto estou estudando. Tem certeza? O metamodelo nao é algo para memorizar. Nao adianta. E algo que se deve usar a cada dia. Também nao tente entendé-lo de uma 86 vez. Pegue um padrao um dia, depois outro, até “metamodelar” as palavras que saem de sua boca automaticamente. Cuidado para nao usa-lo com seus amigos. Ser metamodelado é um pouco como ser interrogado por um delegado de policia desconfiado. Entretanto, faca com vocé mesmo, Analise todos os seus pensamentos e, a0 falar, preste ateng4o no que vocé diz. No comego vai enlouquecer. Mas, aos poucos, seus pensamentos vao clarear e ficar bem mais precisos ¢ légicos. Vocé aprenderd mais rapida- mente. Cada pergunta que vocé se faz necessitara de uma resposta; cada “buraco” que encontra no seu conhecimento terd que ser preenchido e cada pressuposi¢ao e crenga precdria precisarao ser fortalecidas. Para praticar, anexei alguns exemplos de textos para testar seus novos conhecimentos. Ish! Pressuposigdo! Estou supondo que voce ndo conhecia antes! Nao duvido que vocé ache que entendeu tudo — Outra vez! Leitura Tripulacdo e amente 87 mental! Como sei que vocé entendeu? — mas vai ver como nao é facil - Oopa! Como sei que nao é facil para vocé? Os supostos expertos adoram dar suas opinides sobre o mercado —Ai ai ai... Quais expertos? —e a maior parte do que dizem, quando analisada criticamente, é completamente inin- teligivel — Putz, af vou de novo. A maior parte? Quanto, especificamente? E serd que é completamente ininteligivel? Nao dd para entender nada? Perce- beu como enlouquece? O objetivo deste exercicio no é destruir a credibilidade de jornalistas e analistas, mas afinar seus olhos para captar construgées lingiifsticas com semantica fraca. Lembre-se dos pensadores criticos. S40 analiticos. Reco- nhecem afirmagdes que dependem de evidéncia, e exigem a evidéncia. Despedace e desfrute! Quais perguntas vocé faria para os autores para esclarecer ainda mais esses textos? 1. A carteira é formada por papéis que tém como caracteristica prin- cipal baixa volatilidade e boa liquidez. Tendo em vista que a osci- lagdo desses papéis € moderada em relagio ao Ibovespa, recomen- damos essa carteira, aos investidores com horizonte de retorno de médio/longo prazos, que ndo querem correr grandes riscos, contu- do, visam a um bom retorno de seus investimentos. 2. Ainflagdo, mesmo em suave desaceleragdo, ainda permanece pre- ocupante em fung&o da necessidade de novos reajustes de gasolina e seus derivados, frente a alta do barril de petréleo no mercado in- ternacional. 3. Parao longo, XXXX ndo é uma boa, o setor vive em crise e ela nado éa exceléncia. Mas a galera aqui vai analisar o grafico como eu fago, ai um tradezinho pode ser estudado. 4, A Petrobras deverd registrar resultado bastante favoravel em 2004, a despeito da previsio de redugao das margens operacionais. Igualmente, as estratégias que vém sendo adotadas, buscando ga- rantir eficiéncia operacional e competitividade, deverdo garantir crescimento de geragio de caixa e de rentabilidade nos pr6ximos anos, 0 que nos leva a continuar indicando a compra de seus titu- los. Contudo, deve-se acrescentar que € importante a administra- cdo manter as estratégias que vém sendo adotadas, focando a ren- tabilidade do negécio. Para tanto a empresa tem que desfrutar de 88 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS certa independéncia em relagao ao principal acionista. Porém, ain- da nao foi possivel vistumbrar a auséncia do risco da ingeréncia politica nas decisdes estratégicas envolvendo, inclusive, investi- mentos que serao efetuados no setor. . Apoiado no bom desempenho de Petrobras e Vale, o Ibovespa con- segue manter a alta de 0,53%, ficando a diivida por conta do quanto aTelemar pode atrapalhar este desempenho positivo do mercado. E provave! que tenhamos novo teste na faixa de R$5,00/4,95, ¢, caso esta zona de suporte seja rompida, teremos a indicagao de perdas mais acentuadas, ndo justificando posicionamentos. . No grafico intraday do Indice Bovespa, a média mével exponencial de 21 perfodos trabalha como suporte, indicando tendéncia de alta. O MACD poder cruzar para cima a linha de sinal, em territ6rio po- sitivo, indicando forga compradora. O indicador IFR aponta para cima, em area de indefinigdo, sinalizando ligeira forga compradora. O movimento de alta devera ser mantido com objetivo na resistén- cia da banda superior do Bollinger Bands em 25.000 pontos. . A perspectiva para os ativos brasileiros entra o ano novo apresen- tando um quadro semelhante ao vigente nas ultimas semanas. A Bolsa de Valores segue como a grande beneficiaria da recuperagao da economia brasileira, cuja eventual desaceleragdo do crescimen- to pelo efeito da elevag4o das taxas de juros deve ser temporaria ¢ relativamente branda. Alguns setores podem sofrer mais com a combinagdo de taxa de cambio mais valorizada e juros mais altos, mas no geral segue a tendéncia de geracdo de caixa pelas empresas. A perspectiva da Bolsa vai ficar ainda mais positiva quando o mer- cado perceber que a alta de juros est4 completa. Este momento também sera absolutamente positivo para o mercado de juros pre- fixados. No momento atual ainda h4 algum risco, pois nao esta ab- solutamente claro se a alta de juros se estende ou n4o até janeiro. Porém, 0 més de janeiro deve marcar uma mudanga importante para este mercado, seja porque ha a possibilidade de nao haver nova elevacao da Selic, seja porque, caso ocorra, ha grande chance de sera tiltima. O mercado de cambio deve retomar novamente a trajetéria de recuo gradual. Os leildes de compra do Banco Central fizeram a taxa de cambio subir num primeiro momento, mas 0 flu- xo de cambio muito positivo nas tiltimas semanas esta fazendo a taxa recuar, mesmo com a compra praticamente didria de délar pelo Banco Central e Tesouro Nacional. Tripulacdoe amente 89 9. Agestora procuraré atingir o objetivo de investimento pela identi- ficagdo, por meio de uma andlise conjunta da situag4o macroeco- némica e politica do Brasil e do mundo, de grandes tendéncias de mercado, buscando assim determinar seus possiveis reflexos no mercado financeiro do pais. Uma vez identificada a tendéncia, a gestora efetuard uma andlise dos tipos de investimentos que pode- rio ser beneficiados pela mesma, acompanhada de detalhado le- vantamento de companhias, instrumentos e veiculos financeiros especificos que deverdo expressar mais amplamente 0 movimento implicito na tendéncia identificada. Durante os periodos de incer- teza extrema, a gestora do fundo poderd aplicar uma quantidade relevante dos recursos em ativos de alta liquidez. 10. A Bolsa de Paris fechou nesta quinta-feira com alta de 0,42% em seu principal indice, enquanto os investidores nao reagiram a deci- sdo do Banco Centra! Europeu de manter as taxas de juros em seus niveis atuais. 11. O délar opera em queda nesta terca-feira ¢ j4 acumula forte desva- lorizagio na semana. A auséncia do Banco Central do mercado de cambio e as boas perspectivas para o fluxo de divisas para o pats se- guem impulsionando a moeda norte-americana. Por outro lado, os precos do petréleo voltaram a subir nesta quinta-feira, com a re- dugéo nos estoques de gasolina elevando os temores de maior de- manda. A alta no prego da commodity pode exercer uma pressao inflacionaria tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, o que se- tia negativo para a economia brasileira. 12. O rating “brAA” na Escala Nacional Brasil da reflete a posigao de lideranga ocupada pela empresa na concentrada indtis- tria brasileira de agos longos; a sua crescente diversidade geografica eamelhora nos fundamentos de suas subsidiarias; a solida rentabi dade operacional de sua estratégica operag’o brasileira resultado de uma posicio de custo diferenciada que se baseia em uma ampla rede de coleta de sucata e investimentos significativos na atualizagéo de suas fbricas. Esses aspectos positivos séo parcialmente compensa- dos pela exposicao da 4 natureza ciclica e volatil do se- tor siderirgico, principalmente no caso de sua opetagao nor- te-americana; pela ainda necessaria melhoria da posigdo de custo de algumas de suas operag6es na América do Norte; ¢ por sua estraté- gia agressiva de crescimento por meio de aquisigées, consideran- do-se a possibilidade de maior alavancagem financeira imediata, justificada por uma maior geragdo de caixa no longo prazo. 90 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Confian¢a Confianca era um elemento comum aos trés traders. Todos sabiam que n4o eram perfeitos e que iam perder as vezes. Também sabiam que iriam cometer erros. Mesmo assim, tinham auto-estimas saud4veis e agiam com confianga, decisao e determinagao. © que é que os permite ter tanta confianga? Conhecimento Primeiramente, conhecem seus mercados e seus sistemas. Todos tém déca- das de experiéncia, muito tempo batendo a cabega contra a parede ou en- frentando grandes prejuizos e periodos de empate. Nunca desistiram, con- tinuam estudando, analisando e aprendendo com seus erros. Hoje sabem o que estado fazendo e, mais importante, sabem o que fazer quando tém difi- culdades. Conhecimento e experiéncia dio confianga. Falta de estresse Segundo, s4o pessoas calmas ¢ tranqiiilas, de bem coma vida e si mesmos. Obviamente sentiam estresse — quem nao tem hoje em dia? -, mas no am- biente do mercado sabiam reduzi-lo e nao agiam por meio de sua influén- cia. Precisavam ser “tranqiiilos” para operar. Disciplina Terceiro, eram disciplinados. Talvez nao tanto quanto gostariam de ser, mas o suficiente para agir de uma forma metédica e sistematica, além de se- guir religiosamente os sinais, ou métodos, referentes a seus sistemas. Consideremos esses elementos um por um. Conhecimento Ha dois tipos de conhecimento. Conhecimento de “coisas” € uma questio de ler, estudar, conversar, questionar e experimentar e analisar. Qualquer pessoa com vontade e uma mente inquisitiva pode adquirir este tipo de co- nhecimento. O outro tipo de conhecimento importante para um trader é 0 autoco- nhecimento. O melhor este que se conhece, o mais facil seré operar com tranqiiilidade, Tripulacdo ea mente 91 Quem sou eu? Muitas vezes nos descrevemos em fungdo de outras pessoas - sou filho de Fulano, marido de Fulana — ou coisas — sou engenheiro, advogado, trader, dono de tal lugar, presidente de tal sociedade. Também, como nos vemos— nossa auto-estima— pode depender de como saimos em situagGes passadas. Se nos saimos bem, os resultados positivos fortalecem nossa auto-estima — e nossa autoconfianga — e se saimos mal, sofremos. Como avaliamos como saimos? Obviamente com base em nossas ex- pectativas, E em que baseamos nossas expectativas? Relativas a qué? No nosso ideal de perfeiga0? O sucesso aparente de nossos concorrentes, cole- gas, amigos e herdis? Nas expectativas da familia? De uma sociedade que prega vencer, sucesso, beleza e juventude? Da mfdia que nos informa como devemos ser e que deveriamos fazer e ter para sermos perfeitos? Depen- dendo de como nos avaliamos, é bem possivel nos sairmos bem, mas pen- sat que saimos mal, Também, nao sao poucas as pessoas no mundo que pensam que, se ou- tras pessoas as respeitam e admiram, é porque tém valor. Querem sentir esse respeito e admiracdo, o que as forga a justificar seu lugar no mundo, constantemente tentando provar “nado sabem exatamente o que” para “nao sabem exatamente quem”. E no seu caso? Quais coisas afetam sua autoconfianga ou, para colocar a pergunta de outra forma, quais coisas a abalam? Como se saiu no passa- do? O rumo de sua conta? O que outras pessoas pensam de vocé? O que vocé pensa de vocé mesmo? Sera que vocé esté avaliando seu desempenho de forma objetiva? Dinheiro e sucesso O trader ocupa uma posigdo especialmente vulner4vel em um mundo ma- terialista onde dinheiro é uma forma de medir nosso valor como pessoas. O trader que nao consegue separar sua conta de seu ego acaba se valorizan- do mais —e sentindo mais confianga nas suas habilidades — quando esta ga- nhando, e menos, quando perde. Os efeitos disso podem ser sutis, mas se interferem como ele opera seu sistema — sendo otimista demais, pessimista demais ov ignorando/antecipando seus sinais — j4 € muito. No caso de prejuizos, o fato de que sua conta esta caindo nao necessa- riamente implica que est4 fazendo algo errado; entao, sua confianga nao precisa sofrer. Conbecimento — das caracteristicas de seu sistema — pode 92 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS ajudar o trader a avaliar de forma objetiva se a queda est4 dentro dos pa- drées do sistema ou nao. Nao é inteligente deixar sua confianga e au- to-estima sofrer se as perdas que est4 sofrendo fazem parte da operacdo “normal” de seu sistema. Na vida, é mais facil justificar insuficiente sucesso oua falta de sucesso. Sempre tem alguma razio, algum impedimento, alguma desculpa. Tam- bém é mais facil mudar as regras com as quais avaliamos nosso desempe- nho e esconder ou ignorar problemas a fim de nos sentirmos melhor. Mas, no mercado, nao d4 para esconder os resultados das nossas operagdes. Nossa conta é como o espelho magico da rainha malvada. “Conta, conta minha! Ha no mundo alguém que ganhe mais do que eu?” Mas, lembre-se disso: a conta nao representa quanto vocé vale. E um sinal, representa o re- sultado do jogo até agora, ¢ 0 jogo no acaba até vocé parar de jogar. Como disse um dos entrevistados: dinheiro é 0 resultado de acertar. Se nao esta ganhando dinheiro, a tinica coisa que isso significa é que ndo esta acertan- do. Isso nao tem nada a ver com quem, ou que, vocé é. Incerteza JA vimos que a confianga de nossos traders tem a ver com 0 profundo co- nhecimento de seus mercados e/ou seus sistemas. Isso facilita uma grande tolerancia para incerteza. Operam sem saber se algo vai dar certo — sim- plesmente seguem seus sistemas e ficam atentos aos seus stops. Nao preci- sam saber com certeza 0 que vai acontecer — se a ultima operag4o nao deu certo, sabem que uma das proximas dara. Eu nao pensava assim, € sei que muitos outros traders também nao pensam assim. $6 quis operar quando tinha certeza. Para uma auto-estima saudavel 1. Aprenda a enquadrar prejuizos de uma forma ttil e positiva. E um cliché, mas pense neles como oportunidades de aprender algo que ndo sabia antes. Tire a licdo, e agradega o que aprendeu. 2. Separe a vida fora do mercado da vida dentro dele. Seus resultados no mercado n4o precisam afetar outras dreas da vida. Pode estar no meio de um drawdown terrivel, mas ainda pode desfrutar de seus fins de semana, seu hobby, suas relagdes familiares e seus ami- gos. Nao precisa, e nao deve, castigar-se. Vocé est4 aprendendo, e Tripulacdo eamente 93 qualquer aprendizagem leva tempo e custa dinheiro ¢ esforgo. Quando algo vai mal, nao generalize dizendo: “Nao estou me sain- do bem, sou indtil.” Se se pegar falando assim, lembre-se do meta- modelo. Nao est4 saindo bem como? Intitil em que sentido? Se- gundo o critério de quem? . Separe o que vocé faz bem do que vocé faz mal, Talvez vocé nao esteja conseguindo os resultados que quer, mas entre todas as coi- sas que vocé faz, provavelmente a maioria vocé esta fazendo mui- to bem. Talvez vocé tenha disciplina excelente, mas precise en- contrar entradas menos arriscadas. Talvez seu sistema seja exce- lente, mas n4o o opera com disciplina. Tudo n4o vai mal, somen- te “algo”. Mantenha sua objetividade, procure esse “algo” e re- solva-o, Aceite que leva tempo a aprender algo novo, Médicos, engenhei- ros, advogados e qualquer outro profissional levam uma década ou mais para chegar ao topo da carreira. Mas, por alguma razao, muitos traders e investidores pensam que, em seis meses a um ano, vao poder sobreviver do mercado. Ser trader é uma das coi- sas mais dificil no mundo e¢ ndo existe nenhum curso ou livro que possa preparar vocé 100% para o que vai enfrentar. $6 fa- zendo. O mercado sao pessoas — racionais ¢ irracionais. Seu tnico con- corrente ou “inimigo” entre elas € vocé mesmo. Déi, mas olhe no espelho ¢ enfrente suas fraquezas com coragem e otimismo, Se fi- zer, amanha ser4o qualidades. Se ndo, o mercado as achard ¢ as explorara. . Desenvolva disciplina nos pensamentos. Por exemplo, muita gen- te diz que teria confianga se tivesse seguranca de sucesso. Como pode saber antes de tentar se vai ter sucesso ou n4o? Esta mentali- dade cria um argumento circular e € uma motivagao para nao fazer nada, Aprenda a ser rigoroso quando pensa. Use 0 metamodelo. . Tome responsabilidade para o que faz e o que lhe acontece. Se per- det, aceite que foi algo que vocé fez (ou nao fez) que causou a per- da. Se algo nao esté dando certo, aceite que € vocé quem tem de mudar. Nao somos vitimas. Temos controle de nossas vidas, se queremos. Somos livres, mas, com a liberdade vem a responsabili- dade para 0 que nos acontega. 94 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Estresse Dependendo de sua perspectiva, o mercado é um dos lugares mais estres- santes que existe. Ninguém gosta de estar errado, nem de perder dinheiro, € o mercado parece se deleitar ao estimular nossas emogées mais basicas (ganancia, medo e esperanga) para depois nos punir por té-las, sadicamen- te sugando nosso dinheiro como um vampiro. O estresse causa tens4o. Prepara os nossos misculos para a fuga ou a luta. Focaliza 0 organismo em escapar da ameaga, algo que, no mercado, nao é necessariamente o mesmo que focalizar o objetivo original de ganhar dinheiro. Esta focalizagao era Util ha 50.000 anos quando nossos antepas- sados enfrentavam decisées de vida e morte. Mas o mercado nao mata, e hoje, quando enfrentar a ameaga é uma escolha, atrapalha. Em um am- biente de incerteza, uma mente estressada toma decis6es pobres. Uma mente relaxada, clara e objetiva consegue tirar muito melhor proveito. Nossos traders adoram o mercado, amam o que fazem e valorizam a tranqjiilidade. Sentir “trangiiilidade” ¢ uma condicdo fundamental para operar — tao fundamental que param quando se sentem estressados. De fato, modelando qualquer habilidade percebe-se que, para um bom de- sempenho, a tranqjiiilidade é importantissima. Os traders tinham vidas estaveis. Suas familias e relacionamentos nao causavam estresse nem pressao. De fato, nenhum dos trés opera porque precisa do dinheiro. Operam porque gostam. Estresse na vida Em 2004 dois psicélogos, Dra. Suzanne Segerstrom, Universidade de Ken- tucky, Estados Unidos, e Dr. Gregory Miller, Universidade de British Co- lumbia, Canada, fizeram um estudo sobre estresse. Observaram trés fatos. 1. Estresse altera nosso sistema imunolégico. 2. Estresse a curto prazo, do tipo “luta-foge”, o fortalece e pode ser algo saudavel. Estresse crénico de longo prazo causa um desgaste até que o sistema entra em pane. £ muito ruim. 3. Pessoas idosas ou doentes sao mais susceptiveis a esses efeitos. Traders sofrem de estresse. Este estudo implica que 0 estresse a curto prazo ~ abrir ou fechar uma posig&o no mercado, por exemplo ~ pode fa- zer bem a satide, mas 0 estresse constante — como ter que ganhar, sofrer Tripulacgdoeamente 95 constantes prejuizos, sofrer um prejuizo devastador ou nao achar um siste- ma confidvel — mal. Vocé sofre de estresse? A seguir h4 uma lista com alguns dos sintomas de estresse. Reconhece algum? Batida r4pida ou irregular no coragaéo Respiragao rapida Susceptibilidade a doengas Dores de cabeca Depress4o Insénia Meméria fraca Sensagao de que “tem de fazer algo” Suor em excesso Boca seca Cansago ou mtisculos duros ou tensos Problemas com o sistema digestivo Alteragées no apetite Problemas sexuais Gastrite Episédios de panico, medo ou ansiedade Trritagdo ou raiva Muito sério ou falta de humor Insatisfagio com a vida Aqueles eram os sintomas, mas 0 que os causa? Vocé sabe as fontes de estresse na sua vida? Para aqueles leitores que nao tém certeza quanto tém 0 mal que faz, responda as seguintes perguntas e tire um ano de vida para cada resposta afirmativa! Foi vitima de algum crime? Sofre com problemas de satide? Alguém na sua familia ficou gravida? Briga com ofa) parceiro(a) com freqiiéncia? Acaba de sofrer uma separagio ou divércio? Tem problemas com os vizinhos, o chefe ou no trabalho? Mudou de casa recentemente? Tem problemas com seus filhos? Sofreu abuso quando crianga? 96 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Tem de cuidar de algum parente doente/idoso? Recentemente perdeu alguém que vocé ama? Foi demitido(a) ou sofreu algum fracasso recentemente? Passa muito tempo no transito? Tem citimes do cénjuge? Vive num lugar apertado e/ou desorganizado e/ou barulhento? Nao presta muita atenc4o a dieta? Esta sendo processado por algo? Est4 preocupado(a) com dividas? Nao faz muito exercicio? ‘Tem poucos relacionamentos intimos? Dorme pouco? Tem dificuldade para dormir? A vida nao vai em frente? Passa o dia correndo? Sente que nao consegue lidar com todas as coisas que tem de fazer? Fuma ou bebe em excesso? E sua personalidade - vocé tem tendéncia a se estressar? Vocé sempre quer fazer tudo sozinho(a)? Vocé tem objetivos irrealistas? Quer mais sucesso? Explode ou fica irritado(a) com facilidade? Tem dificuldade de ver humor em certas situagdes? Tem 0 habito de fazer tempestade num copo d’agua? Vocé sente sua vida desorganizada ou fora de controle? Mantém todos scus sentimentos por dentro? Fica com raiva quando tem de esperar? Deixa as coisas para mais tarde? Preocupa-se com coisas pequenas e insignificantes? Tem dificuldade de decidir? Acha que tem uma hora certa de fazer as coisas? Fica resmungando sobre o passado? Est insatisfeito(a) com a vida? E perfeccionista? Nao consegue soltar suas emog6es? Acha que so as outras pessoas que causam seus problemas e que sao elas que deveriam mudar seu comportamento? Tripulagaoe amente 97 E no mercado: * Ganhar ou perder num trade é mais importante do que quanto ga- nha ou perde? Corta scus lucros antes de perdé-los? Espera para ver se as coisas melhoram quando estd com prejuizo? Preocupa-se que, se nao opera, pode perder algum movimento? As vezes nao consegue dormir por causa de um investimento? Preocupa-se com suas posigdes nos fins de semana? Fica com raiva quando perde? Fica impaciente com o mercado? Uma grande parte das suas poupangas est4 em investimentos de alto risco? * Usa dinheiro das despesas da casa para investir? eooeeeevee Bom, se tirou um ano de vida para cada resposta afirmativa, nas trés se- manas que restam na vida, o que pode fazer para reduzir o estresse? HA muitas coisas. Por exemplo... Passeie no parque, na praia, nas montanhas ou na chuva. Acorde cedo para ver o amanhecer ou mire o pér-do-sol. Escute miisica, assista a um fil- me, leia um livro ou tire uma soneca. Cante no chuveiro, conte uma piada, ria, sorria quanto puder. Seja positivo, seja gentil, cumprimente, respeite as pessoas, fale com um amigo, abrace alguém que ama e a todo custo evite pes- soas negativas, Escreva uma carta, um e-mail ou mantenha um jornal. Brin- que com uma crianga, um cachorro, um gato ou uma bola de borracha, ou fi- que sentado observando peixes num tanque. Reze, medite, mire uma vela no escuro ou faga tai chi chuan. Alongue. Pega ajuda, diga “nao!” e mantenha li- mites. Respire funds, tire os sapatos e limpe o armério. Tire férias. Aprovei- te dos fins de semana. Adquira um hobby, faga algo s6 porque gosta. Prati- que um esporte e faca exercicios trés vezes por semana. Tire tempo para vocé, Faca uma dieta saudavel. Pare de fumar e diminua o alcool. Pense coi- sas boas e procure 0 lado divertido das situagées. Saia antes, para nao chegar tarde ¢ se estressar no caminho. Preste atencao no seu corpo e aprenda a es- cutar os misculos. Relaxe-os. Faga algo diferente. Ligue para os parentes e amigos que nao vé faz muito tempo. Escute um CD de miisica New Age ou de sons subliminais, Aprenda a desfrutar da vida — é a tinica que tem. Saiba que vocé é responsdvel por seus sentimentos. E seus sentimentos e comportamentos dependem dos seus pensamentos. Aprenda a controlar seus pensamentos ou seja controlado por eles. 98 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Saiba seus valores ¢ suas prioridades, e aja conforme eles, e ndo confor- me os de outras pessoas. As ameagas estressam. Se se sente ameacado pelo mercado, reduza seu risco, E como diz o velho ditado: se nao suporta o calor, saia do fogo. Evite as coisas que te esquentam! Finalmente, repito, é sua interpretagdo de uma situacao, e no a situa- ¢40, que causa o estresse, Disciplina Hoje em dia, a disciplina parece ser uma qualidade cada vez mais escassa. A midia e a vida nos ensinam que devemos ter tudo ja, e que existe uma solu- ¢do instantanea para qualquer problema. A disciplina é a habilidade de adiar a gratificagao imediata e atrelar a automotivagao ao trabalho para conseguir um objetivo maior € mais dis- tante. E fazé-lo dia atras de dia, més atr4s de més, ano atras de ano. O prego que a disciplina exige é alto, mas o prémio também — sucesso. Para ter disciplina é preciso: 1. Objetivos 2. Motivacao 3. Persisténcia 4, Autocontrole Objetivos Objetivos podem ser materiais ou relacionados ao seu desenvolvimento pessoal. Objetivos bem-formados servem como uma fonte de motivagao. Como formular objetivos Ter um sonho é facil. Qualquer um com um pouco de imaginag3o os tem. Mas realiz4-lo é outra coisa. Geralmente, um sonho nao se realiza de um dia para outro, pois é resultado de um processo que envolve a criagio de uma visdo, a aquisigao de uma estrutura mental (crengas, capacidades e comportamentos) adequada e em pratica por uma série de estratégias es- pecificamente desenhadas e — mais importante — implementadas para reali- za-lo. Tripulacdo e amente 99 Sejamos honestos. Se, hoje, vocé nao realizou seu sonho, e teme que esta indo em direg4o errada, algo tem de mudar. Esse algo sé pode ser vocé, Logicamente, se continua fazendo o que esta fazendo, s6 pode espe- rar mais do mesmo. Como fez no capitulo de submodalidades, pense em algo que vocé conseguiu. Pode ser o mesmo que antes ou algo diferente. Algum objetivo importante — um diploma, comprar o primeiro carro ou casa, perder peso, atingir uma meta esportiva ou uma promogdo, montar uma empresa ou até criar uma familia. Usando 0 que aprendeu nos capitulos anteriores, preste ateng4o na estrutura e nas sensagdes que sentiu a respeito desse objetivo antes de consegui-lo. Agora, pense em outro objetivo — algo que, em retrospecto, era possi- vel realizar — mas que nunca realizou. Novamente, estude a estrutura e as sensagGes. Existe alguma diferenga entre elas? Algo na estrutura ou nas sensa- gGes? Serd que um era mais sdlido, mais real, mais “seu”? O mercado é famoso por derrubar objetivos construidos em fundos precarios. Como existem mais perdedores que ganhadores, seria légico di- zer que deve haver mais gente nao conseguindo seus objetives que conse- guindo. Talvez tenham md sorte, mas ser4 que realmente sabem 0 que es- tao fazendo e por que 0 estao? Claro que sabem, vocé diz. Obviamente querem ganhar dinheiro. Por que ndo conseguem, entdo? Seré que “ganhar dinheiro” é seu tnico objeti- yo? Talvez “ganhar dinheiro” faga parte de um objetivo maior e mais vago, como, por exemplo: querer dinheiro facil, aposentar antes dos 40, ficar milionario, provar que é bom, ter razao, ndo ser mais escravo dos outros, ter liberdade, fazer como seus amigos que compraram agées naquela pri- vatizag4o, comprar um carro zero bala com o dinheiro da Bolsa como seu vizinho fez, ou qualquer outro objetivo que nao seja simplesmente “ganhar dinheiro”? Curiosamente, um estudo americano de especuladores descobriu que a motivagdo primdria pata operar em excesso foi a “utilidade recreacio- nal” obtida com suas posig6es. Ou seja, operar € divertido. E o dinheiro? Est4o operando para ganhar ou brincar? Sera que esses objetivos vagos e as vezes semi-ocultos tém algo a ver com a taxa de fracasso entre investido- tes? Definir bem o que vocé quer pode dar uma vantagem importante. Nos modelos dos traders, vimos a importancia de se ter objetivos. Eles querem yencer. Se vocé também quer vencer, é importante saber formular esse objetivo bem. 100 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Anote, rapidamente, ¢ sem muita reflexdo, o que € que vocé quer. Seus sonhos. Podem ser coisas pessoais, espirituais ou materiais. Nao importa o que sdo, quao grandes, quao pequenos ou irreais vocé pensa que sao. Ano- te. Nao interessa (ainda) o que vocé pensa a respcito. Simplesmente faga a pergunta e coloque no papel o que seu coracio mandar. Este sonho é algo que pode ser amadurecido. Talvez nao saiba agora exatamente o que quer. Naose preocupe. Leve o tempo que for necessrio. Que seja um dia ou uma semana, sera tempo bem-gasto. Nao esteja com pressa. Faca bem, faca honestamente e faga com calma. Regras para a boa formulacao de seu objetivo Quando tiver algo no papel, sera necessdrio refina-lo. Seu objetivo pre- cisa ser especifico e bem formulado, e existem algumas regras para sua boa formulagio. © Frases negativas como as do tipo “nao quero tal”, “nado quero que tal acontega” ou “nao vou fazer tal” sao terminantemente proibidas! Delete-as. Coloque o que vocé quer, nao o que nao quer. Por exem- plo, nao quer perder? Entdo, o que é que vocé quer? Quer ganhar? Quer empatar? Quer seguir os sinais do seu sistema? Quer acertar em todas suas operagées? Objetivos colocados como “Quero parar de ignorar meu stop”,“ndo quero sentir mais medo de operar”, ou “no vou ficar nervoso antes de entrar” podem ser reformuladas de forma positiva. Nao gaste suas energias evitando coisas — isso nao leva a nenhuma parte concreta. Gaste-a indo atrds das coisas concre- tas que vocé quer. © Seu sonho ou objetivo deve ser de um tamanho realista. “Vou ga- nhar 1 milhdo este ano” é um objetivo admiravel, mas se vocé sé tem R$1.000 na conta, sera que € realista? Nao seja pessimista, mas nao ha nada motivante num objetivo que, depois de trés meses, vocé sai- ba que nao vai conseguir. © Seu sonho ou objetivo deve existir dentro de um contexto e ter um prazo realista na sua obtengao. Imagine como sera sua vida com aquele R$1.000.000? O que esta fazendo? Com quem? Onde? Quando o tera? Vocé deve conhecer pessoas que juram que vao fa- zer algo, mas nunca dizem quando. Acabam nunca fazendo, seu ju- ramento de “vou fazer” sempre fica em algum momento inespecifi- co no futuro — como a cenoura proverbial na frente do burro! Tripulagao ea mente 101 * Seu sonho ou objetivo é seu. E-vocé quem tem que iniciar o processo e leva-lo a cabo. Alguns sonhos podem depender da sorte ~ como ganhar na loteria — mas “seu” sonho depende 99,9% de vocé ¢ de suas agdes. O 0,1% restante depende da sorte. Mas lembre-se, a sor- te favorece os preparados! Objetivos como “publicar um livro” ou “casar com atot/atriz de telenovela” nao dependem 100% de vocé. Escrever 0 livro ¢ fazer 0 possivel para colocd-lo na mesa de um edi- tor depende de vocé, mas é 0 editor quem toma a decisao final. E achar um ator ou atriz de telenovela depende de vocé, mas ser4 que ela/ele quer casar com vocé? Tome muito cuidado. Defina seu obje- tivo em fun¢ao das coisas que vocé, ¢ somente vocé, controla ou pode fazer sem depender das outras. “Quero ganhar na loteria!” — depende das bolinhas numeradas e muita intervencio divina, mas “vou comprar um bilhete de loteria a cada semana” depende de vocé. Serd que um objetivo como “quero R$X.000 de lucro por més”, depende, 100%, de mim, ou das oportunidades que o merca- do langa? Também dizer “quero ganhar 5% ao més” é bein diferente de dizer “durante trés meses vou seguir todos os sinais do meu siste- ma. Deve dar, em média, 5% ao més, se cada operacgio arrisca R$500”. Qual observacgio é melhor? * Como vocé vai saber quando alcangou seu objetivo? Parece uma pergunta idiota, mas nao é. Quais evidéncias indicarao seu sucesso? Como saber4 que esta no caminho certo? Quanto mais especifico seu objetivo, e os passos a seguir para obté-lo, mais facil sera reco- nhecer que est4 indo bem. Digamos que quer comprar um carrdo importado. Imagine-o. Na sua mente, ande em volta dele. Coloque todos os detalhes que possa imaginar. Use todos seus sentidos. Quando 0 quer? Que marca? Que cor? Que ano? imagine-se sentando dentro dele. Quais acessérios tem? Como est 0 inte- rior, a textura dos bancos, o cheiro, 0 som do motor? Imagine-se ligando o motot e dirigindo. Como se sente dentro? Como se sente ao ter um carrao assim? Como responde ao dirigir? Na vida real, visite uma concessionéria para fixar esses detalhes, modificando seu sonho com novos detalhes que aprende. Pergunte quanto custa. Pergunte as formas de pagar. Crieum pla- no de acdo e pagamento com valores e datas. Os detalhes so importantes, € quanto mais riqueza possa colocar, mais chances tém de consegui-lo. Espero que tenha criado um objetivo atraente. Como se sente quando pensa a respeito? Empolgado? Pois, espere! Nao terminamos ainda! 102 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Ecologia - as vantagens e desvantagens de seu sonho Nao existe almogo gratis! HA que pagar por tudo — sobretudo —as melho- rias que vocé faz em vocé mesmo. O custo cobrado pelo destino é a dife- renga entre as vantagens e as desvantagens de atingir scu objetivo. Como passar do tempo, seu organismo estabeleceu um equilfbrio com ele mesmo, com o ambiente, e com as pessoas A sua volta. Talvez para reali- zar seu objetivo, vocé tenha de evoluir, ou seja, mudar. E, quando vocé muda, as pessoas a sua volta serio obrigadas a mudar também, reajustan- do-se ao novo vocé, € talvez elas gostassem do equilibrio antigo. F hora de fazer o balango! Responda As seguintes perguntas. Parecem iguais, mas tém diferengas sutis. © Se vocé realizar seu sonho, o que acontecerd na sua vida? © Se vocé realizar seu sonho, 0 que n4o acontecerd na sua vida? © Se vocé continuar como agora, o que acontecera na sua vida? © Se vocé continuar como agora, o que nao aconteceré na sua vida? As conseqiiéncias positivas e negativas de conseguir, ou nao, seu obje- tivo devem ser consideradas. Que pode fazer a respeito delas? Precisa revi- sax aspectos de seu sonho? Os recursos necessarios Agora que definin detalhadamente seu sonho, o que precisa adquirir para chegar 14? Faga uma lista dos recursos que acha que serao necessarios. Quais recursos vocé j4 tem? Podem ser qualidades suas, experiéncias que teve, conhecimentos ou habilidades seus — ou de outras pessoas. Quais recursos precisa encontrar? Onde pode encontra-los? Quanto tempo e es- forgo precisar4 para investir na obtengdo de seu sonho? Quem pode aju- dar? Quem pode servir como exemplo? Crie um plano para obter os recursos necessarios. Inclua esse plano no seu objetivo. As limitagdes Existem limitag6es e forgas que dificultarao sua evolugao. O que pode te im- pedir de atingir seu sonho? Pessoas? LimitagGes fisicas, psicolégicas ou ma- teriais? Crencas e/ou valores antiquados? Capacidades? Conhecimentos? Considere cada limitagéo. O que pode fazer a respeito? Inclua suas idéias no seu objetivo. Tripulagio eamente 103 Motivacao Quem ndo tem motivacdo ndo precisa de disciplina. Motivagao verdadeira é o “fogo interno” que focaliza seu “ser”, seus pensamentos, palavras, senti- mentos ¢€ ages em algo que vocé realmente quer. A esposa que perde peso porque 0 marido quer, o vendedor que vende porque precisa do dinheiro, o empregado que trabalha porque tem medo de ser demitido eo filho que toca piano ou pratica esporte porque mamie e papai querem tém uma motivagdo falsa. Nao vem do corag’o. Talvez consigam resultados, mas ser4 que dara tanto prazer quanto conseguir algo que é 100% para eles mesmos? Olhe para sua vida, Olhe para as coisas que vocé faz. Quantas coisas vocé realmente quer, e quantas vocé quer querer? Vocé trabalha para pa- gar suas contas ou por prazer? Vocé estuda porque gosta ou porque precisa da nota? Vocé vai A academia porque est4 engordando ou porque gosta de exercicio? Vocé opera porque ama o mercado e quer se desenvolver ou porque é chique e uma maneira facil de ganhar dinheiro? Quais sAo as coi- sas na sua vida que colocam fogo no seu corag4o? Pare e pense uns minu- tos. Quais so as coisas que valem a pena querer? Quais sonhos ou pensa- mentos acendem fogo no seu coragao? Operar é um deles? Talvez vocé queira, mas nao consegue sentir esse fogo, ou uma motiva- cao tao forte que tire vocé da cama a cada manhi, sol ou chuva, ou as ener- gias para ir aquela milha extra quando o resto do mundo ja parou. O que fazer? Ea hora de ser honesto consigo mesmo. O que é realmente impor- tante para vocé? Motivacio pode puxar ou empurrar. De um lado, podemos estar moti- vados a conseguir algo — a liberdade, 0 dinheiro ou a satisfagao de vencer algum desafio, por exemple. Do outro, nossa motivacio pode ser evitar al- guma conseqiiéncia negativa. Por exemplo, seguimos um regime porque nao suportamos mais o incémodo de ser gordo e temos medo de diabetes, ou compramos fundos porque tememos o que a inflagdo pode fazer com nossas poupangas. Talvez nem pensemos em como ser4 nossa vida com um peso ideal ou como sera ganhar 15% ao ano no capital aplicado, nosso foco é evitar algo negativo. Imagino que para a maioria das pessoas querendo operar no mercado, € bem melhor ser acordado todo dia por um ardente desejo de ganhar di- nheiro, do que por uma ansiedade infernal de que tera que voltar a traba- lhar num escritério até se aposentar. Entio, o importante € que vocé esteja motivado, ¢ se o terror de ficar de 8 a 10 horas dentro de um escritério, 0 resto da vida, é suficiente motivag4o, étimo! 104 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Pensando em seus objetivos, escreva uma lista das coisas que alentam seu desejo, as coisas motivantes que, como trader, conseguird. Use 0 que vocé sabe de submodalidades para aumentar sua atragdo. Depois escreva outra lista das coisas negativas que evitard c, usando submodalidades, tor- ne-as mais desagradaveis ainda. Nao pense somente no presente, responda extrapolando sua vida 5, 10, 20 anos no futuro. Para buscar motivagao, focalize as coisas que quer, e quando isso nao for suficiente lembre-se das que quer evitar. Se forem suficientemente ne- gativas serviréo como um chute no traseiro! Persisténcia Buda disse que a persisténcia era uma das disciplinas mais dificeis, mas que quem a consegue, consegue a vit6éria final. E dificil conseguir algo sem experimentar o fracasso, e ¢ impossivel ser um sucesso no mercado sem perder. A tinica maneira de superar o fracasso é persistir, e ficar focalizado no objetivo. Muita gente desiste porque, de- pois de fracassar uma ou duas vezes, se deixa dominar pelo medo de fracas- sar novamente e, como gatos escaldados, tem medo de Agua fria. Nao hé formula magica para desenvolver a persisténcia. £ preciso se programar cada dia com o desejo indestrutivel de atingir seus objetivos ea decisao de fazer o que for necessario. Como dizem os heréis americanos: “Fracasso nao é uma opgao!” Desistir nao pode ser uma opgao na sua estra- tégia. Se chegar o dia de contempla-lo, serd porque seu objetivo foi mal formulado ou porque ndo era incentivo suficiente. Autocontrole Pogo, o personagem do famoso cartunista Walt Kelly, disse que haviamos encontrado o inimigo, e que ele era nds. Dois mil ¢ trezentos anos antes de Pogo, 0 fildsofo Aristételes disse que quem superava seus desejos eta mais corajoso que quem conquistava seus inimigos. Nao ha ninguém no mercado tentando destrui-lo. Seu maior inimigo é vocé. Dominando vocé mesmo, vocé domina o inimigo. O trader é um ser humano e, como todos, sofre com conflitos internos. Por exemplo, quer ganhar, mas teme perder. Deseja sucesso, mas nao se permite té-lo. Pensa racionalmente, mas acaba se sabotando agindo emocio- nalmente. Quer seguir seu sistema, mas nao consegue nao se intrometer. Tripulagéo ea mente 105 Nao quer provar nada para ninguém, mas estd ansioso para poder demons- trar seu sucesso aos seus amigos ou familiares. Também, todo o mundo en- frenta momentos ruins, mas parece que o trader, operando em um ambien- te de incerteza, sai a procura deles. Quando as coisas nao vao tao bem, ou até quando yao, é importante saber se dominar. Quem lida bem com seus estados emocionais tem uma grande vantagem sobre quem nao pode. Talvez o século XX seja o momento mais dificil na historia da humani- dade de exercer autocontrole. No mundo ocidental existe uma crise de obesidade, depressdo, estresse, crédito facil, cirurgia estética e toda manei- ra de “quick-fix” para a infelicidade. Parece que a sociedade nos “progra- ma” desde o nascimento para sermos indulgentes. Autocontrole, a habili- dade de fazer escolhas entre nossos desejos mais basicos e 0 que é necess4- rio para construir o futuro que queremos, eleva o trader da mediocridade da humanidade. Estratégia de criatividade de Walt Disney Walt Disney, quando criava seus filmes, usava um método interessante que Robert Dilts descreve no livro A estratégia da genialidade. O Sonhador Sonha e cria alternativas Objetivo Planeja estratégias Critica construtivamente O Critico O Realizador 106 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Se vocé experimentou alguma dificuldade em fazer 0 exercicio ante- rior, ou em criar seu sonho, esta técnica desenvolve a sua criatividade natu- ral e pode ajudar a resolver bloqueios. Dizem que existiam trés Walt Disneys. Um sonhador, um realizador e um critico. Também dizem que nunca se sabia qual ia aparecer na sua fren- te. Triplofrénico ele pode ter sido, mas génio ele era certamente. Ele traba- lhava com trés quartos, cada um com uma fungio especifica. O primeiro eraa “sala de sonhos”, onde as idéias criativas fluiam sem limites ou restri- Ges. No segundo, as idéias do primeiro eram coordenadas e organizadas em seqiiéncias. De 14, passaram pelo terceiro, a “sala de suor”, onde a equipe de Disney criticava e revisava a idéia antes de devolvé-la para a sala de sonhos. A idéia continuava circulando até morrer na sala de suor, destruida, ou encontrava siléncio, o que significava que estava pronto para producao. Tudo o que nao foi feito pela natureza foi fruto do sonho de alguém. Alguém sonhou com velcro, bolos de chocolate, robés em Marte, avides supersénicos, fundos multimercado e derivativos financeiros. Bom, no caso de derivativos, é possivel que fossem mais como pesadelos que so- nhos! De todos os modos, algumas pessoas so capazes de sonhar ou ima- ginar coisas fantasticas, enquanto a maioria sé sabe criticar e tirar sarro. Disney usava seu método para tornar sonhos realidade. F facil, e, para copid-lo, nés nao precisamos de trés quartos. Entao, no se preocupe se vive em um apartamento pequeno. Usaremos trés marcadores de papel no chao, eqitidistantes, em um circulo. Um representa a sala de sonhos, 0 se- gundo a sala de organizagdo e o tiltimo a sala de suor. Passo 1 — Definir seu problema ou objetivo. Isso pode ser qualquer coisa: algo que vocé quer desenvolver, algo que esta causando problemas ou algo que tem de ser resolvido na sua vida. Trabalhemos com os objetivos que vocé esta desenvolvendo. Depois de ler o capitulo anterior, vocé deve ter uma idéia mais clara do que vocé quer. Agora pode pensar em estratégias para realiz4-to. Passo 2 - “Sonhar” a solugdo. Pensando em como atingir seu objetivo, ou resolver seu problema, fique em pé em cima do papel que representa 0 es- pago do “sonhador”. Feche os olhos, levante a cabega para o céu, relaxe os bragos e mios, e solte sua imaginag4o. Sua postura é importante, entao adote a postura de um sonhador, alguém com a cabega nas nuvens e os pés fora do chao. Aqui, nesta posigdo, tudo é possfvel. Qualquer idéia que ve- Tripulagéo ea mente 107 mba na cabeca é valida, nao importa quio doida parega. Nao force, sim- plesmente sonhe, imagine, e viaje na maionese. Qualquer coisa vale. Aqui a0 € 0 momento de julgar ou criticar. Aqui na sala de sonhos as regras do mando e da fisica nao existem. Aqui sua criatividade natural é livre. Se ou- ‘vir uma voz na sua cabega comentando, julgando ou criticando, mande-a facar quieta ¢ esperar sua vez. O critico ter4 sua hora, mas nao € agora. Passo 3 ~ Planejar a solugado. Quando “sentir” que tem idéias suficientes, saia do espago do sonhador e vA para o papel que representa a sala de orga- mizacdo ¢ realizagio. Mentalmente “coloque” suas idéias no centro do cir- culo e fique olhando para elas. Sua postura deve ser aquela de um empresa- tio. Precisa ter os pés no ch4o e 0 coragao de um otimista. Tudo da para fa- ter. Nada é impossivel. Sempre tem um jeito. Tire a cabega das nuvens e coloque seu “chapéu” de pensador. Vocé é um planejador, um organiza- dor, um estrategista. Aqui, neste espago, vocé vai pensar em formas de pér em pratica aquelas idéias que vocé sonhou. Como vai implementé-las? Quais passos serao necessarios? O que tem que fazer? Como vai saber que estd dando certo? De quais recursos vai precisa? Quando vai fazer? Quan- to tempo precisa? Mais uma vez, se vocé ouvir aquela voz dizendo que nao vai dar certo, mande-a ter paciéncia, sua hora esta chegando. Nao é neces- sério que tudo seja perfeito ainda, ou que tenha resposta para tudo, mas tente colocar um pouco de “carne” nos ossos de sua idéia, e nao saia da sala do realizador até ter pensado no plano do comego ao fim. Passo 4 - Criticar a solugao, Finalmente, a parte que a maioria das pessoas tem menos dificuldade em fazer! O momento de criticar! Saia do espago do realizador e fique em pé na 4rea do critico. Olhe para seu plano com olhos desconfiados, cruze seus bragos e, cogando seu queixo, procure to- dos os pontos fracos do plano. Lembre-se de que existem dois tipos de cri- tico. Um gosta de destruir. Trabalha sozinho, adora puxar suas idéias para baixo e¢ deixar vocé desanimado. O outro trabalha em equipe. Quer aju- dar. Puxa para encontrar os pontos fracos ¢ os erros inerentes a suas idéias para que possam ser resolvidos e aperfeigoados pelo sonhador e o realiza- dor. Este tipo de critico vigia a seguranga e a viabilidade dos planos. E ele que assegura seu futuro. Nada vai em frente até ele estar satisfeito. Seu ob- jetivo no lugar do critico € o de pensar em tudo 0 que possa dar errado, de encontrar um monte de perguntas do tipo “como vocé pretende fazer isso?” e “mas 0 que acontecerd se isso se realiza?”. 108 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Passo 5 — Repetir 0 ciclo. Agora, o sonhador deve sonhar solugées para as observagées do critico. Mais uma vez, volte na sala de sonhos e adote a postura do sonhador. Logo, armado com suas novas idéias, passe para a sala de realizacdo. Busque formas praticas de realiz4-las. Depois, leve seus planos para o critico, e seus comentarios novamente para o sonhador. Por exemplo, imagine que seu sonho fosse ganhar aquete milhao de reais o mais rapido que possivel. Seu realizador pode ter inventado um pla- no para roubar um banco, O erftico deve mencionar que isso ¢ ilegal, e que poderia trazer problemas com a Justiga. Também pode comentar que nado € facil gastar uma mala cheia de notas marcadas com nimeros de série sem ser preso. Armado com essas novas observagées, volte ao lugar do sonha- dor e repita o processo. Passo 6 - Pronto para acao! O ciclo termina quando todas as partes estao satisfeitas. Ou seja, quando 0 critico néo acha nada para criticar. Quer di- zer que, ou vocé bolou um plano “a prova de bala” para assaltar o Bradesco da esquina, ou vocé descartou essa idéia e pensou em outra — mais arrisca- da ainda — que usa o ADX e uma média mével magica para operar futuros de juros. Falando sério, dependendo do “objetivo” inicial, este processo pode levar 15 minutos ou um dia. Mas, dizem que se algo vale a pena fazer, vale a pena fazer bem. E estamos falando de seu futuro. Existe algo neste mun- do mais importante que isso? Agora... m4os na massa! Controlando estados internos Alimentado por informagées captadas do ambiente por nossos cinco senti- dos, o cérebro passa a vida inteira resolvendo problemas e atingindo obje- tivos. O resultado do processamento se manifesta na forma de um “estado”, um conjunto de sintomas fisicos que nos indica 0 que deveriamos fazer. Estamos sempre em algum estado. Alguns acontecem rapida e automatica- mente — como a explosao de adrenalina que sentimos quando algo nos as- susta—e outros sao resultado de uma combinagio de eventos e pensamen- tos—como a tensao que sentimos durante uma prova na faculdade, ou 0 es- tado agradavel ¢ relaxado num churrasco com os amigos. Tripulacéo ea mente 109 Passamos os primeiros anos das nossas vidas aprendendo a lidar com estados novos: 0 que sentimos a primeira vez que nossos pais nos deixam sozinhos, nosso primeiro dia na escola, a primeira vez que tentamos atar os cadargos, o dia em que nosso amigao, o cachorro, morreu, a primeira vez. que alguém zomba de nés. Para a crianga, cada experiéncia nova resulta em um estado novo. Alguns —um abrago da vové, por exemplo—percebemos como agrada- veis. Sdo experimentados plenamente, desfrutando da sensacio e fluindo com ela, Nao ha nada a aprender e nao € necessario “fazer” nada, s6 apro- veitar do momento. Esses estados vém e vo, passam por nés sem deixar rastro algum. Outros estados, como aquela sensagao horrivel de solidao que senti- mos quando perdemos mamée de vista num supermercado cheio de pes- soas estranhas, percebemos como desagradaveis e queremos climinar. Esses deixam um rastro permanente: “No futuro, faca tudo para evitar este estado!” Nosso cérebro grava os comportamentos bem-sucedidos — aque- les que eliminam ou evitam estados “ruins” —e os usa no futuro em situa- ges similares. Aprendemos rapidamente. Se um berro trouxe mame correndo, aprendemos que “berrar” resolve o estado de “solidao” e berramos cada vez que o sentimos. Nosso cérebro repete comportamentos que eliminam. estados desagradaveis e, As vezes, 20 anos mais tarde, continuamos “ber- rando” quando queremos atengio. Enquanto esse comportamento funcio- na, tudo bem, mas os problemas comegam quando um comportamento deixa de funcionar e 0 continuamos usando. Décadas mais tarde, poucas situagées so totalmente novas e, quando o cérebro processa as informagées que recebe, é bem provavel que ja lidou com alguma situagao igual, ou bastante parecida, & atual. B uma tarefa sim- ples para ele escolher um estado de seu “repertorio” para lidar coma situa- cao. Afinal, a vida é bastante repetitiva, girando em torno de acordar, co- mer, ir trabalhar, voltar para casa, comer novamente e dormir - com algu- mas variagées basicas nas noites e fins de semana. Nao precisamos apren- der como agir em um grupo de pessoas desconhecidas cada vez que nos en- contramos em um grupo de pessoas novas. Nao precisamos aprender a cada dia que maltratar os amigos é uma forma de acabar sozinho. Nao € ne- cessdrio aprender a retirar a m4o do fogo quando sentimos o calor. Uma queimadura é suficiente. Nao é freqiiente que um adulto se encontre em uma situagd4o que nunca experimentou antes — mas acontece quando co- mega a operar na Bolsa de Valores. 310 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Um estado é mais que uma sensagao simples como feliz, triste, raiva ou tranqiiilidade. £ uma combinagao complexa de sintomas fisicos « emocio- nais que serve como uma mensagem, uma instrugdo, de nosso cérebro para o corpo. Nosso lado consciente percebe este estado, ¢ o classifica: “Estou com raiya!” Nio obstante, o conjunto de sintomas do estado de estar “com raiva” porque machuquei o ded4o na porta é diferente do conjunto de es- tar “com raiva” porque o vizinho roubou meu lugar no estacionamento, mas muitas vezes nado prestamos tanta atengdo, e ndo percebemos as dife- rengas sutis— simplesmente agimos conforme o que sentimos. Como nosso organismo ja lidou com raiva, repetir 0 que funcionou antes geralmente a alivia. Oestado escolhido tem muito a ver com nossos valores ¢ objetivos. Um soldado que vé um inimigo moribundo no campo de batalha talvez sinta ¢ aja de forma diferente de um membro da Cruz Vermelha que vé o mesmo ferido. No mercado, um veterano investidor bilionario sente e age diferen- temente diante de uma oportunidade arriscada que um trader novato in- yestindo suas poupangas. O consciente e o inconsciente Olado consciente de nosso cérebro — 0 sistema nervoso central — nao pres- ta aten¢do em todas as informagées vindas dos nossos sentidos. Ele é como uma lanterna, apontando para as areas nas quais estamos interessados. Pense, por exemplo, no palmeirense que nao ouve as reclamagGes de sua mulher durante a partida entre Palmeiras e Corinthians, no rapaz que olha para sua namorada e nao percebe seu novo vestido, no marido que esquece o aniversdrio de sua sogra e no artista que olha para sua obra e vé erros que ninguém mais percebe. O lado consciente pode prestar atenc4o apenas seletivamente, mas é bom para resolver problemas. Calcula, raciocina, julga e, apesar de toda a evidéncia em contrario, pensa que estd no controle. Infelizmente, para ele, nao esta. Nosso lado inconsciente e nossas emogées sao mais fortes que a légica. Quem duvida disso deve lembrar-se da desculpa dada pelo marido apanhado pela mulher na cama com a amante. “Ela se jogou em mim”, chora, “nao resisti”. Depois, pergunte & mulher dele por que nao conse- guiu resistir A tentacdo de atirar nele! Entretanto, o sistema nervoso auténomo — 0 lado inconsciente—capta todas as informagées. E ele que faz o palmeirense perguntar a meio-tempo: “Vocé disse algo, querida?” E ele que cutuca o rapaz, fazendo com que ele Tripulagdo eamente 111 sinta como se algo estivesse diferente, finalmente o obrigando a perguntar: “Vocé fez algo com seu cabelo, amor?” F ele que acorda 0 marido esqueci- do a meia-noite em panico: “Ih! Hoje foi o aniversario da sogra!” E € pro- vavelmente ele que inspira o artista a pintar o que pintou. E muito raro que o cérebro no saiba o que fazer com a informagao que recebe. Consegue achar um estado para qualquer eventualidade, mesmo aquelas que nunca experimentou. Ser raptado por alienigenas é uma coisa bastante incomum, mesmo assim, fugando entre todas as suas experiéncias e referéncias prévias, certamente acharia algo ~ “medo”, se assistimos mui- tos episédios de Arquivo X, talvez “curiosidade” se nos lembramos mais de ET e Contatos Imediatos do Terceiro Grau. Dependendo do estado esco- lhido, terfamos uma boa indicagao de como reagir. Congruéncia e conflitos A maior parte do tempo, os dois lados (consciente e inconsciente) traba- ham bastante bem juntos. O fato de estarmos aqui prova isso. Geralmente, nosso estado, pensamentos e agdes séo congruentes. Quando sentimos fome pensamos, “Hmmm, o que quero comer?” — e abrimos a geladcira a procura de algo. “Congruéncia” deve ser 0 sonho de cada trader. Um esta- do onde age sem conflitos, sem diividas, onde as emogées mandam fazer exatamente 0 que 0 raciocinio e a légica prevéem. Tudo flui. E um estado bastante parecido com aquele que os melhores atletas dizem sentir quando quebram recordes. Infelizmente, nao é 0 que a maioria dos investidores sente. O lado inconsciente, sendo um pouco como uma mae, “sabe” o que € bom para nés. Mas, as vezes, em determinadas situagdes e conforme cres- cemos, como mamae, nao sabe, e acaba nos obrigando a fazer algo que realmente nao queremos, nem devemos, fazer. Como, por exemplo, usar aquela camisa xadrez e calga de moletom para sair, ou oferecer um sandui- che de pernil para puxar 0 saco do novo chefe, Sr. Moshe Cohen, no pri- meiro dia no novo trabalho. Na vida, estar no estado inadequado pode levar a situagées embarago- sas. No mercado leva ao prejuizo financeiro. Vejamos o caso de um trader novo que comegou operando num bom momento e nunca experimentou um prejuizo grande. Estuda e pesquisa durante horas. Fez centenas de cdlculos e conversou com dezenas de pes- soas no bate-papo antes de comprar ages em um papel. Tinha certeza ab- soluta de que 0 prego ia subir, Mas caiu. E muito, Uma voz diz que deve 112 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS vender quando puder, mas nao consegue. £ uma situagao nova. Esta con- fuso, paralisado, assustado, com raiva e sem saber o que fazer ou quem cul- par. Sera que isso é um estado util? Estou exagerando, mas, muitas vezes, algo parecido acontece — 0 lado inconsciente escolhe um estado inadequa- do para fazer 0 que o lado consciente quer fazer —e 0 resultado € conflito ou paralisia. Uma outra situagdo que pode perturbar o trader € quando 0 lado in- consciente repetidamente escolhe um estado que, apesar de ter sido util no passado, nao esté sendo hoje. Quem nunca jurou que jamais faria algo de novo, s6 para se ver repetir exatamente o mesmo erro na préxima oportunidade? Quem nao prometeu obedecer ao stop, ou ao sinal do sis- tema, somente para continuar hesitando ou cancelando nas seguintes o- peracdes? Quem nao conhece uma pessoa que sempre se envolve em rela- des amorosas que todo o mundo (menos ela) sabe que acabarao em lgri- mas? Nessas situag6es, nosso inconsciente ndo somente insiste em nos colo- car em um estado initil, mas se recusa a mudar para um melhor, apesar de toda a légica ¢ raciocinio que o lado consciente usa para convencé-lo. So- mos presos, condenados a observar enquanto fazemos (ou nao fazemos) algo que sabemos que estd errado ad infinitum. E nesses momentos quan- do somos vulner4veis as nossas “inclinag6es psicolégicas” — algo que sera explicado mais adiante — e acabamos agindo emocionalmente ¢ nao racio- nalmente. Obviamente é preciso reeducar o lado inconsciente, ajudando-o a criar um estado mais atil. Porém, antes de qualquer “reeducago” do lado inconsciente, € preci- so uma educag4o do consciente. Da mesma maneira que mamae sempre acha que sabe mais, o filhote também acha. No entanto, antes de agir por conta propria, deveria aprender a escutar o que a mamae esta tentando lhe dizer. Muitas vezes é muito importante, mas se ndo sabe escutar, nunca vai saber 0 que é! O inventario de um estado Talvez vocé esteja pensando que um trader sem emogGes — um robé, sem- pre agindo conforme a raz4o e a probabilidade — teria uma vantagem enor- me sobre os traders emocionais. Nao € verdade. O neurologista Antonio Damasio, em seu livro Erro de Descartes, mos- trou como pacientes com danos cerebrais, ao perderem a habilidade de sentir, ndo viraram robés racionais. Ao contrario, acabaram paralisados Tripulacdoeamente 113 com a indecisao, podendo contemplar alternativas, mas nao podendo or- dené-las numa hierarquia. Precisamos das nossas emogGes. Em vez de re- mové-las, devemos aprender a muda-las. Neurobiologistas definem emogdes como um antigo conjunto de me- canismos que motivam comportamento adaptativo, e que evoluiram bem antes de nossa aparéncia. Nao sei exatamente o que isso significa, mas acho que quer dizer que sAo velhas e titeis. Nossa capacidade de pensamento ra- cional precisa de emogGes para fornecer os valores sobre os quais nosso ra- ciocinio custo-beneficio se baseia. Nao podemos separar pensamento de sentimento, e quem acha que emogées nao tém lugar no mercado deve lembrar-se do burro de Buridan. O coitado morreu de fome no meio de dois montes de feno. Nao sabia qual comer primeiro. Como o capitao que, antes de planejar seu percurso, tem de saber onde esta, para mudar 0 que estamos sentindo — nosso estado — temos que saber em que estado estamos. Perceber 0 estado atual ¢é um pouco como meditar e prestar atengao ao que esta acontecendo no corpo. Para algumas pessoas, isso seré facil. Outras ter4o mais dificuldade. Se seu lado consciente é ligado em nime- ros, fatos e Logica, talvez nao tenha o costume de “experimentar” o que esti sentindo. Algumas pessoas até podem tentar desconsiderar 0 que estado sentindo, concluindo que as emogées 86 servem para sabotar suas operacgées. Mas, como veremos mais adiante, é a recusa de sentir uma emocao, e nossos esforcos para evita-la, que causa o problema, e nao a emogao em si. No capitulo sobre submodalidades, deve ter aprendido como fazer um inventério de um pensamento. Aqui vamos fazer um inventario de um es- tado, uma descrigdo sensorial do que estamos sentindo. E bom sentar-se ¢ fechar os olhos. O objetivo é listar as sensagdes pre- sentes em seu corpo, os “sintomas” de seu estado atual. Nao vamos julgar, somente descrevé-los. Qu seja, nao queremos saber “como” (julgamento) sentimos, mas “o que” (descricio) sentimos. E um pouco como quando o médico pergunta: “O que parece ser o problema?” A resposta: “Estou doente”, no ajuda muito. O médico quer saber onde déi. Quer saber seus sintomas. Se alguém me pergunta “como” estou me sentindo neste exato mo- mento, poderia responder “ansiedade!”. Meu lado consciente nao resiste a olhar de relance aos sintomas mais 6bvios e, num piscar de olhos, julgar to- dos como “ansiedade”. Nao é isso que interessa, queremos o inventario completo dos sintomas percebiveis no corpo. 114. FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Entao, virando minha atenga4o para o meu interior, comeco a perce- ber “o que” estou sentindo. Sinto uma tensdo no peito, uma pressao. Pa- rece que minha respiragao estd presa. Sinto algo no est6mago, um vazio, quente, pesado. Estou respirando rapidamente, pouco profundo. Minha garganta esta fechando e minha boca est salivando, mas estou engolindo em seco. Meu maxilar esta contraido. Sinto calor no pescogo. Minhas mos e pescoco esto suando. Minha perna esquerda esta vibrando. Meus olhos estado secos, parados, e n4o estou piscando, Estéo queimando um pouco. Pisco, fechando-os bem. Minhas costas est4o curvadas e sinto dor, uma tens4o, no lado esquerdo do meu pescogo. Estou mordendo os labios. Meus misculos parecem congelados, como se nao soubessem 0 que fazer, como se estivessem esperando uma ordem. Minha mao esquer- da est ligeiramente trémula. Ha mais coisas, porém ainda nao sou capaz de percebé-las. Eis meu estado, Cada vez que pratico, percebo mais. O nome que dei, “ansiedade”, € irrelevante e enganoso. “Ansiedade” cobre uma multidao de estados diferentes. Sem fazer um inventdrio, eu nunca iria perceber as diferengas. Estados sio como cores. Tém poucos nomes, mas muitas nuances. Agora tente vocé. Pense em duas situagdes. Uma desagradavel ¢ a outra boa. Reviva a desagradavel, e crie um inventario dos sintomas fisicos que sente. Repita com a situagéo agradavel. Preste ateng4o em cada parte de seu corpo. Mas olhe, a idéia nao € definir perfeitamente cada sensacdo. Muitas coisas que sentimos s4o diffceis de descrever. B suficiente que vocé perceba que esta sentindo algo, ndo precisa dar nome. Para que serve um inventario? 1. Para nao agir emocionalmente. 2. Para tomar responsabilidade para o que esta sentindo. 3. Para resolver padrées repetitivos e autodestrutivos. Para nao agir emocionalmente Anteriormente, disse que neurobiologistas definem emogdes como meca- nismos que motivam nosso comportamento. Assim, se esta prestando ateng4o no seu estado, criando um inventdrio, vocé interrompe esse pro- cesso. Nao age. Suas emogées nao esto controlando seu comportamento. Quando um trader esté em uma situag4o dificil, o comportamento emo- cional nao é desejavel. Desenvolver o h4bito de fazer um inventdrio cada Tripulacadoeamente 115 vez que percebe uma emog4o “negativa” ajuda o trader a retomar o con- trole de suas agdes. Também tomar consciéncia de seu corpo e de sua postura permite fa- zer mudangas. Parece mentira, mas agindo e se comportande como uma pessoa sentindo X, acabamos também sentindo X. Se, quando opera, per- cebe que estd tenso, relaxe e estique as partes tensas. Respire fundo. Mode- lea postura de uma pessoa tranqtiila, ou confiante, ou o que for que gosta- ria de sentir. Como dizem os Alcodlicos Anénimos, “Fake it ‘till you make it” — Finja até conseguir. Tranqiiilizando seu corpo, vocé acaba tranqiiili- zando sua mente, Tomar responsabilidade para o que esta sentindo Geralmente nao temos problemas com estados “agradaveis”. Eles apare- cem, os sentimos, e vao embora. S40 os estados “desagradaveis” que cau- sam os problemas. Um estado é uma mensagem do lado inconsciente, e tomar responsabilidade quer dizer aceitar 0 que vocé esta sentindo —mes- mo que seja desagradavel — e “escutar” a mensagem. Quando vocé a rece- be, muitas vezes o estado muda. Cumpriu seu propésito e nao é mais ne- cessario. Por exemplo, digamos que percebe que est se sentindo “ansioso” du- rante um trade. Vocé tem duas opgdes. Uma € aceitar o que esta sentindo e fazer um inventdrio de sua “ansiedade”. Existe por uma razdo. Qual € a mensagem? Prestar ateng4o nos sintomas pode ajudar vocé a encontra-la. Talvez seu inconsciente esteja tentando dizer: “Cuidado! Vocé errou. O ta- manho dessa posig4o € grande demais.” Tomando a responsabilidade, vocé pode fazer algo racional —nao emocional — paraaliviar a ansiedade—fechan- do a posigao, reduzindo seu tamanho ou ajustando o stop, por exemplo. A outra opgao é se entregar 4 ansiedade, agindo emocionalmente numa tentativa de se livrar dela. Por exemplo, vocé poderia verificar as or- dens de compra e venda esperando ver bons sinais, ou seguir 0 grafico de 1 minuto procurando padrées positivos que indicam uma melhora, ou ler relatérios positivos sobre a empresa, ou perguntar a seus amigos o que pensam da empresa/situagao. Algumas vezes, a sorte vai aliviar sua ansie- dade, mas outras n4o. Geralmente a ansiedade cresce, motivando compor- tamentos mais emocionais ainda. E interessante perceber que a existéncia do estado (ansiedade neste caso) implica duas coisas. Primeiramente, parte de néds esta percebendo al- gum “problema” e, segundo, j4 temos uma idéia como resolvé-lo. Em lugar 116 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS de simplesmente reagit como a vitima das emogées, o ato de fazer o inyen- tario adia nossa reagdo “automatica” e nos torna “observadores” de nds mesmos. Para resolver padrées repetitivos e autodestr Lembra-se de Skinner e suas experiéncias de aprendizagem com reforco varidvel? Entao, quando ndo fazemos 0 que nosso “inconsciente” ou a “ra- 240” nos manda fazer, ou quando operamos incoerentemente, a “sorte” nos salva algumas vezes e nos ferra em outras. Age como um reforgo yaria- vel. Percebeu a tragédia da situacao? Em lugar de escapar de estados inde- sejaveis, acabamos reforgando os comportamentos que os produzem, as- sim assegurando que vamos repeti-los novamente! Na verdade, nosso problema nao € 0 estado. O estado nao é nem bom nem ruim, é simplesmente uma colegao de sintomas fisicos. Se sentir um Peso no est6mago ou um aperto na garganta, estou sentindo um “peso” no estémago ou um “aperto” na garganta — ¢ nada mais. E 0 que fago coma mensagem, 0 que penso a respeito, que acaba sendo o problema. Para uma pessoa, 0 peso pode ser algo negativo, um estado que nao gosta de sentir. Para ela significa “fracasso e prejuizo” e fara qualquer coisa para fazé-lo desaparecer. Para uma outra pessoa, 0 peso pode significar nada mais do que: “Oopa! Cometi um erro, hora de sair da posigao para refletir.” O estado — 0s sintomas —é 0 mesmo, mas sua interpretagao é dife- rente, Essa interpretagao depende de varias coisas, tais como sua historia pessoal e seus valores, crengas e objetivos pessoais. Para mudar sua inter- pretagao, pode ser necess4rio mudar um deles. No final, qualquer problema somente é um problema porque estamos olhando-o do ponto de vista “A”. Do ponto de vista “B” (ou “C” ou “D”), aparecem outras informagées que conduzem a uma outra interpretacao e uma percepg4o diferente da mesma situacdo. Uma simples mudanga de perspectiva pode eliminar um problema ou apresentar uma solugdo. OS Método E dificil silenciar nosso lado consciente ¢ nao tentar resolver tudo com alé- gica. E muito diffcil ser um observador imparcial e objetivo de si mesmo. £ impossivel fazer parte de uma experiéncia e observ4-la simultaneamente sem afetar os resultados. Por isso, para resolver qualquer problema, nao é Tripulacdoe amente 117 uma idéia ruim procurar um terapeuta. Esportistas usam “treinadores psi- colégicos” — querem qualquer vantagem que possam conseguir sobre seus adversdrios e nao tém nenhuma vergonha em recorrer a um homem vesti- do de branco. No caso de um trader, ndo resolver o problema vai acabar custando dinhciro de todos os modos, ent4o, em lugar de dar 0 dinheiro ao seu broker ou concorrentes, por que nao pagar a alguém que possa aju- da-lo? E sempre mais facil com ajuda, mas, para quem gosta de fazer tudo so- zinho, este exercicio pode ajudar. Paradoxalmente, 0 objetivo do exercicio nao é resolver seu “problema” e s6 prestar atengdo nas sensagGes associa- das a ele. A solugdo, quando o exercicio for bem-feito, aparece sozinha como uma espécie de “revelagdo”, uma luz acendendo na cabega no mo- mento em que vocé “se da conta” de algo, ou uma paz interna onde vocé percebe que o problema -—o estado ruim ~ simplesmente foi embora. As ve- zes vocé nem sabe como ou o porqué. Desafia a légica, mas, bem-feito, funciona. Oescritor americano Richard Bandler costuma dizer que ninguém esta quebrado, e que todo o mundo jd tem o que precisa para estar bem. Quer dizer, nio h4 problema que nao possa ser resolvido. Os religiosos diriam que Deus n4o nos obriga a suportar fardos maiores que nossos ombros. Agora, ¢ isso € bem mais dificil, considere a possibilidade que qualquer comportamento seu, por tolo ou autodestrutivo que seja, € motivado por uma intengdo positiva que proporcione a vocé algum ganho. Hmmmm... vamos ver se entendi... se cometermos um erro no merca- do, este erro traz algum beneficio? Que beneficio pode haver em cavalgar com PLIM4 de 30a 1? Nao sei, mas, se nao houver, quem 0 faria? Pois... eu o fiz, e uma manada de outras pessoas! Basicamente, a tcoria implica que seu “estado problema” é resultado de algo que aprendeu no passado, geralmente quando crianga. $6 que, como yocé era pequenininho, havia informagGes que ndo percebeu na hora e que limitaram sua perspectiva e, entao, sua aprendizagem (sem vocé saber, dbvio) e que, hoje, é essa perspectiva limitada que esta causando seu bloqueio. A chave para resolver o problema é recuperar essas informagées. Evi- dentemente, seu lado consciente nao sabe quais so — ou teria resolvido o problema ha muito tempo, mas seu inconsciente — 0 tudo-vendo, tu- do-sabendo sistema nervoso aut6nomo —sabe, ¢, através do estado proble- mitico, est4 desesperadamente tentando comunicar-se com vocé. Nossa “Missao Possivel” é encontra-lo e recuperar as “fitas”! 118 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Antes de comegar, é importante lembrar que nossas mem6rias ndo sio “hist6rias” arquivadas em algum banco de dados que nosso cérebro encon- tra e resgata A vontade. S40 construgées mentais, e mudam ao longo de nossa vida. Este exercicio simplesmente faz algo que fazemos natural e in- conscientemente. Aperte o cinto e vamos 14! Imagine uma linha no chao. Uma linha que representa sua vida. Faga-a t4o comprida quanto o espago disponivel permitir. Um extremo representa seu nascimento. Decida qual. Agora, escolha um ponto na linha para repre- sentar hoje. Tente nao escolher um ponto perto demais do outro extremo! Uma linha no chao nao é algo tao bobo quanto parece. Chama-se “psi- cogeogratia” e j4 a usamos no exercicio de Walt Disney. Lembra-se das submodalidades, nas quais imagens e sons tinham posi¢ées? Pois, usar es- pacos fisicos fora de sua cabeca ajuda seu cérebro a separar os pensamentos dentro dela. Agora, pense nas dificuldades que tem no mercado. Quais erros vocé repete? Quais comportamentos ou pensamentos autodestrutivos pertur- bam vocé? O que é que ndo consegue fazer, ou ndo fazer? Pense em uma, somente uma, das coisas gue quer resolver. Olhando para a linha, para a parte que representa o futuro, pode ima- ginar-se tendo resolvido esse problema ou bloqucio? Se pode, dtimo, e se ndo, fantasie. Crie um “vocé” no futuro sem esse problema. Invente. Ima- gine. Use um herdi ou alguém que nao tem esse problema como exemplo. Como vocé seria sem seu problema ou bloqueio? Que aparéncia tem? Como se comporta? Como age? Que postura tem? Que expressio? Como fala? Como pensa? Quais valores e crengas vocé tem? Como € diferente de voce? Voltando ao presente, fique em pé na sua linha, no ponto que representa hoje, olhando para o futuro. Respire fundo. Preste atengdo no seu estado. Faga um inventdrio rapido do que vocé esta sentindo. Agora, pense naquele “vocé” futuro. Imagine-o a sua frente. Coloque-o no futuro, no ponto onde tera resolvido esse problema. Quando criar uma boa visualizagao, mental € fisicamente, dé um passo a frente, bem devagarzinho, com a intengdo de “entrar na pele” desse “vocé do futuro”, Imagine-se mudando para ser essa pessoa, resolvendo seu problema ou bloqueio agora, neste momento. Faga bem devagar, prestando ateng&o o tempo todo nas mudangas sutis no seu in- ventario, nas sensages dentro de seu corpo. Preste atengdo nas sensag6es no seu corpo e os sentimentos que vocé sente no momento em que toma, ou pensa em tomar, esse passo. Ha algo que hesita? Alguma dtivida? Algum medo? Algo que te puxa para tras? Tripulagaoeamente 119 Algo constrangido? Ha algum grito, comentdrio ou queixa interna? Preste atenc4o nas sensagées € como se manifestam. O que sente? O que muda no seu inventdrio? Que sensag4o aparece para te impedir? Pode ser algo sutil, quase imperceptivel, como um “bip” no estémago, ou pode ser algo que arranca pelos intestinos e garganta e puxa para tras. Talvez seja uma sensa- 40 desagradavel, algo que vocé ndo queira, nem gosta de sentir. Neste caso, nao fuja. Lembre-se de que as dificuldades acontecem porque nao nos damos permissao para sentir o que nao gostamos de sentir, ¢ porque nos recusamos a deixar os sentimentos fluirem livremente. Sinta. Focalize sua atengdo na sensag4o que aparece. Nao fale consigo mesmo e ignore seu didlogo interno, sobretudo se este esta tentando oferecer uma explicagao, ou se acha que j4 sabe o que € 0 problema e que nao € necessario continuar. Preste atengdo em alguma crenga ou valor que pode aparecer como um gri- to, ou “flashback” - “nao posso!” ou “nao quero!”. Como, ¢ onde, se ma- nifesta isso no seu corpo? Relaxe, e deixe que as coisas acontegam na sua cabega e no seu corpo. Nao “faga” nada, simplesmente preste ateng4o e deixe acontecer. Dé lugar para que seu lado inconsciente comunique-se com vocé ¢ esteja aberto para receber o que tem a “dizer”. Quando vocé identificar a sensagdo que o impede, focalize nela. Nao a deixe escapar. Comece a andar para tras, devagar, passinho por passinho, na sua linha. Agora, vocé est4 voltando no tempo, ano atras de ano, més atrs de més, passando por todas as suas experiéncias prévias, com a inten- go de encontrar a primeira vez que esta sensacdo apareceu. Quando vocé anda, é bem provavel que tenha “flashs” — mem6ria bre- ve de momentos no passado quando sentiu a mesma sensac4o. Queremos 0 momento em que esta sensag4o apareceu, ent4o continue andando. Se aju- dar, coloque sua mao na parte do corpo onde vocé sente a sensagao que o bloqueia ou impede. Confie no seu inconsciente. Nao tente se lembrar. Nao procure, escolha ou force uma resposta. Mesmo que vocé nao se lem- bre, seu inconsciente sabe. Relaxe e deixe que as sensagées fluam no seu corpo e as imagens, sons € vozes aparegam na sua mente. Simplesmente es- pere que a resposta se apresente, e fara. Se tudo isso lhe parece um pouco “zen”, pode ser que seja. Nao sei abso- lutamente nada sobre o budismo, mas li sobre um estado chamado (em in- glés) “mindfulness”. Em portugués, significa algo como um estado de “estar atento” ou “prestando atencdo”. “Mindfulness” é 0 ato de parar de pensar para “olhar profundamente” o momento atual. Precisamos de “mindful- ness” para reconhecer ¢ estar presente com as energias de nossos habitos destrutivos. Freqiientemente, a energia desses habitos é mais forte que nossa 120 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS vontade e, com “mindfulness”, temos a capacidade de reconhecer um habi- to cada vez que se manifesta e de dizer: “Ola, meu habito! Sei que esta aqui!” Segundo o autor budista, simplesmente reconhecer sua presenga e sorrir para o hdbito faz com que ele perca forga e nao nos domine. Em algum momento, a sensacdo pode simplesmente nao existir mais, ou vocé pode senti-la desaparecer. Quando isso acontece, pare, e ande de- vagarzinho para a frente, até reaparecer. Verifique se realmente desapare- ceu tomando mais um passo para tras. Aqui, pare ¢ faca um inventario, A sensa¢do foi embora, ou mudou em outra coisa? Se foi embora, ande paraa frente até reaparecer, e pare. Se a sensag4o mudou, continue para tras, se- guindo esta nova sensagao até que desaparega. Quando parece desapare- cer, verifique como antes, tomando um passo para a frente, até reaparecer, eum passo para trds, até desaparecer. Se isso acontecer, vocé encontrou o primeiro momento. Provavelmente—mas ndo sempre, sua posigdo na sua linha representara algum momento de sua infancia. Agora que vocé encontrou o ponto, pode ser que vocé se lembre de algo. Pode ser que vocé tenha uma meméria visual, ou lembre-se de algo que alguém disse. Talvez nao haja nada que vocé possa perceber, além da sensacao. Nao importa. Fique onde esta e continue fazendo seu inventario. Tente ignorar seu didlogo interno —se este est4 comentando ou explicando — € preste atengao na sensagdo. Descreva o que vocé esta sentindo para vocé mesmo, como se falasse para outra pessoa. Relate tudo. Tensao, peso, coceira, formigas, dor, calor, frio, cdimbra. Imagens que parecem, sons ¢ vozes que escuta. Tudo. Quando vocé estiver prestando ateng4o, possivelmente a sensacao mude. Siga qualquer outra que apareca. Experimente cada sensagao, mer- gulhando nelas completamente, por “piores” que sejam. Se a sensac4o se transforma em movimento, mova-se. Se pedir um grito, grite. Faca o que seu corpo pedir, expresse o que seu corpo quer expressar. Se quiser gritar, ou chorar, ou rosnar, ou rir, ou cair no chao, faga-o. Siga as mensagens do inconsciente. Quando 0 exercicio é bem-feito, cada sensagao que vocé segue até o fi- nal, some, transformando-se em outra coisa até deixar vocé com a sensa- ao de que nao precisa continuar, que acabou, que o que tinha de resolver foi resolvido. O processo pode levar horas. Siga a viagem. Aprenda ase co- nhecer. Sim, é loucura, mas ser incoerente e perder dinhciro a toa também é loucura. No final, seu consciente capta a mensagem do inconsciente e os dois resolvem o bloqueio juntos — talvez sem consultar vocé! Tripulasdoeamente 121 Se vocé experimenta uma sensagio de paz e tranqiiilidade, acabou. Algo foi resolvido, talvez nao tudo, mas pare aqui e nao dé mais voltas. Pode (e deve) repetir 0 exercicio em outro momento. Outras vezes, vocé pode experimentar uma revelacéo na forma de “Eurcka!”. E como acender uma luz na sua cabeca. Talvez perceba uma mem6ria esquecida, ou uma nova interpretagdo de algo, ou simplesmente se dé conta de algo que sempre soube. Inicialmente, nas primeiras vezes que tenta, pode ser que se canse e nao queira continuar. Nao fique triste e ndo se cobre. Este processo nao € facil, sobretudo fazendo-o sozinho e se nao tem muita experiéncia em escutar seu inconsciente. E como a meditagao — leva tempo a aprender. Nao se es- queca também de que cada pessoa é diferente. Algumas assimilam com fa- cilidade, outras levam mais tempo. Dé um tempo, e tente de novo, mas nao desista. V4 aos poucos, cada dia fazendo um pouco mais, cinco minutos hoje, 10 amanha. V4 praticando fazer seu inventdrio. Em pouco tempo vocé conseguira. Este processo é algo que vocé pode repetir com cada bloqueio que tem. Naverdade, é um processo que nunca termina. Resolver bloqueios é como descascar uma cebola. Tirar uma capa expée outra. Mas, com experiéncia, © processo acontece em segundos. Por exemplo, vocé est4 na mesa de tra- balho, operando, Algo acontece que nao esperava. Vocé para, faz seu in- ventario e percebe, em milésimos de segundos, uma “nova” sensagio. Ago- ra, vocé tem trés opgées onde antes tinha uma. Pode fazer como sempre, € deixar a sensagao desvid-lo do que quis fazer. Pode notar: “Olha, que inte- ressante. Estou sentindo tal coisa”, para continuar depois, sem desviar, com 0 que estava fazendo. Ou pode parar, prestar atengdo na sensagao, e segui-la até completar e resolvé-la. Quando tem escolhas, nunca mais sera “obrigado” a fazer algo. Jadisse que se observar nao é facil. Mas, como tudo que vale a pena, se ndo der certo na primeira vez, continue praticando. E como a meditagio, faga um pouco mais a cada dia. Persista. Nao pense “a respeito” —a idéia é simplesmente experimentar como € ter seu “problema” sem fugir. Se n4o consegue resultados depois de tentar varias vezes, procure um amigo de confianga para agir como um guia, mantendo seu foco na sensa- ¢ao e fazendo perguntas que o ajudarao a criar uma nova perspectiva do problema. 122. FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Nossos valores Nossos valores sao a fonte de nossa motivacio. Agem como filtros, focan- do nossa atengao, forgando-nos a tragar estratégias ¢ a desenvolver capaci- dades que produzem comportamentos que resultam. na sua satisfagao. E, para sentirmo-nos bem, esses valores tém de ser satisfeitos. Sendo, senti- mos frustrac4o, raiva, estresse, ansiedade, culpa e vergonha — emogées que qualquer trader conhece. Entao, em grande parte, seu sucesso ou fracasso como trader depende dos valores que defende. Valores podem ser coisas que nos atraem ou das quais queremos nos afastar. Por exemplo, prosperidade nos atrai, mas queremos nos afastar da pobreza. A primeira vista, podem aparecer como duas faces da mesma moeda, mas o resultado de conseguir prosperidade nao é 0 mesmo que 0 resultado de evitar pobreza. Valores podem ser meios ou fins. O valor “dinheiro” é um meio que (pensamos) satisfard um valor como “felicidade”, que € um fim. O professor de psicologia, Dr. Clare Graves, desenyolveu uma teoria sobre valores. Ele dividiu o comportamento humano em oito niveis dife- rentes, em que cada nivel evolui como uma resposta ao anterior. Dr. Gra- ves cré que a maioria de nés vive a maior parte do tempo atravessando dois ou trés niveis. Preste atengdo nos valores mantidos em cada nivel. Onde vocé colocaria um trader? Nivel Descrigdo do nivel Valores — 0 que é importante 4, Sobrevivéncia. Satisfagao das Sobrevivéncia. necessidades fisioldgicas imediatas. Comportamento instintivo com minima estrutura social. 2 Tribal, Hierarquia de poder. Dever, lealdade ao chefe ou ao Crengas supernaturais. grupo, sacrificio, conformidade, Observacées sisteméticas sobre o — harmonia com mundo espiritual, ambiente. natureza, ritual. 3 Individuos. Egocéntricos, fortes, Orgulho, forga, vitéria, corajosos ¢ sem limites. Rebeldes. Nao respeitam autoridade e procuram conquistar a natureza e influenciar outras pessoas. competigdo, controle e dominagao, sensacées fisicas, pratificagao imediata, independéncia, autoconfianga. O sistema. Cidadaos responsdveis. Sacrificam-se pelo sistema e outros que créem no mesmo sistema. Grupo manipulado por culpa. Empreendedor. Procura liberdade da dindmica do grupo. Prefere controlar o préprio destino. Grupos e causas. Experiéncia humana € mais importante que materialismo. Procura crescimento pessoal e comunidade espiritual. Existencialismo. Reconhece a natureza disfuncional dos outros niveis. Procura uma forma de ser e responder que produz resultados. Responde bem @ incerteza ¢ pensa sistemicamente. Consciéncia global e sobrevivéncia planetéria. Tira o melhor dos outros niveis ¢ deixa o pior. Tripulacao eamente 123 Patriotismo, trabalho, sacrificio, gratificagao adiada, obediéncia, objetivos, conformidade, ser bom. Propriedade, sucesso, oportunidade, éxito individual, situag6es ganha-ganha, independéncia, engenho. Vinculos aditivos, harmonia, consenso, sentimentos, autodescoberta. Paz interna, solitude, autogerenciamento, confianga, diversidade, resultados, competéncia, integridade. Exploragao metafisica, razao, resultados, sobrevivéncia global, propésito, causalidade. A maioria de nossos valores é antiga. Muitos nem sio nossos, s40 assi- milados na infancia por “outras pessoas” — Pais, professores, amigos, nos- sos herdis infantis — pela sociedade — idéias religiosas e politicas - ou pela midia - publicidade, telenovelas, moda. Alguns valores sao “nossos”, colhidos e aprendidos durante nossas ex- periéncias na vida. Formam uma hierarquia dinamica que evolui e muda com o tempo. Dirigem nossas vidas, motivam nossas ages e As vezes bri- gam pela nossa obediéncia. ‘Temos consciéncia de alguns deles, Entretanto, quanto mais profun- dos, ou abstratos s40, menos nos damos conta do poder que exercem em nds. Fazemos (ou pensamos) certas coisas porque “queremos”, porque nos da vontade. Outras causam a sensagao de “dever”. As vezes, nem sabemos por que “devemos”. Pare um momento e pense. Por que vocé quer ser trader? Se quiser di- nheiro, ou independéncia, por que os quer? Sabe? Serd que vocé est4 que- 124 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS rendo satisfazer seus valores, os quais vocé mesmo escolheu, ou aqueles “co- locados” na sua cabega? Saberia diferenciar entre 0 que vocé quer para vocé mesmo € 0 que “os outros” (midia, pais, sociedade) querem para vocé? Geralmente, conhecemos poucas formas de satisfazer nossos valores. Gordos comem, bébados bebem, workaholics trabalham, politicos rou- bam e mies cuidam — mas com um pouco de pensamento, podemos encon- trar outras. Boas noticias para o trader que valoriza “se arriscar” e acabou se viciando em adrenalina! Agora pode satisfazer seu vicio voando em uma asa-delta em lugar de especulando no indice futuro! Uma vez satisfeito esse valor, este nao interferird mais com suas operagoes. Satisfazendo suas ne- cessidades emocionais fora do mercado, o trader ser livre para operar ra- cionalmente e nao emocionalmente. Nossos valores existem numa hierarquia, ou seja, alguns s40 mais im- Pportantes que outros. O que é mais importante para uma pessoa obesa, gra- tificagdo imediata ou sua aparéncia fisica? E sera que 0 executivo estressado valoriza mais seu salario, seu prestigio ou sua saiide? Nossa hierarquia pode ser antiga — como nossos valores ~ e necessitar de uma revisio ou uma rees- truturagio para se adequar mais a nossa realidade hoje. Se nao fizermos, aca- baremos investindo nossos esforcos satisfazendo valores do tipo “dever” — muitas vezes aqueles que recebemos de outras pessoas — em lugar de valores que “queremos” — aqueles que podem dar sentido as nossas vidas. E interessante observar que as palavras: “Eu deveria...” implicam a existéncia de um “mas...”. Por exemplo, eu deveria ir 4 academia, mas. nao gosto de exercicio, ou nao tenho vontade/tempo/etc. Expressam o dever de satisfazer um valor que, talvez, nao seja nosso, que nao compar- tilhamos plenamente e, realmente, preferfamos fazer outra coisa. Existe uma espécie de conflito entre o dever e o querer. Quando se pega dizen- do, ou sentindo, que “deveria” fazer algo, pense bem no “mas...”. Meta- modele seu pensamento. Mas o qué? © que aconteceria se nao fizer? Quem diz que deveria? Que valor vocé satisfaz fazendo seu “dever”? Também, que valor satisfaria se fizer o “mas...” —a coisa que vocé prova- velmente “preferia” fazer. Pergunte-se qual dos dois valores é mais im- portante, hoje, para vocé? Nao nos sentimos bem quando violamos um valor. Culpa e vergonha sdo emogées que muitos traders sentem, e ambos s4o sinais de que um va- lor foi violado. Vergonha porque perdemos nosso capital, erramos, nao ganhamos tanto dinheiro como antes, ou ganhamos mais dinheiro que nossos amigos; culpa porque nao conseguimos os resultados que quere- mos, que nao trabalhamos o suficiente, que nio ganhamos bem e a quali- Tripuiagaoeamente 125 dade de vida da nossa familia sofre. Quando sentir uma dessas emogées, reflita um pouco. Que valor est violando, e qual satisfaz com a violacdo? Qual dos dois é mais importante hoje para vocé? Auséncia de conflitos é harmonia ¢ conhecer nossos valores é uma das chaves de uma vida feliz. Nos da controle sobre nossas agées e emogées. Fazemos melhores escolhas porque sabemos que 0 que estamos fazendo é importante e nos faz bem, E, para o trader que conhece seus valores, quan- do estes estejam em harmonia com seus objetivos, ele também estiverem em harmonia. Reconhecendo seus valores Estou olhando a minha volta. Hé um par de ténis no chao. Por que os com- prei? Porque o vendedor recomendou. Por que era importante fazer o que o vendedor sugeriu? Porque (suponho!) ele sabia mais que eu. Por que era importante que ele soubesse mais que eu? Porque queria comprar um bom par de ténis ¢ precisava de conselho. Por que queria comprar um bom par de ténis? Porque tinha de ter um bom amortecimento. Por que era impor- tante um bom amortecimento? Para proteger meus joelhos. Por que era importante proteger os joelhos? Porque queria correr. Por que éimportan- te correr? Porque quero cuidar da minha satide. Por que é importante cui- dar da satide? Porque nao quero ter um infarto. Por que é importante nao ter um infarto? Porque quero desfrutar da vida. Por que €é importante des- frutar da vida? Por que quero ser feliz. Por que quer ser feliz? Err... nao sei. S6 sei que quero. Epaa! Encontramos um valor: “Ser feliz.” Escolha algo a sua volta. Qualquer coisa. Seu apartamento, este livro, suas meias, seu cachorro, seu companheiro(a), um CD, e repita a mesma pergunta — “Por que isso é importante para mim?” Quando nio sabe como responder mais, quando a tinica resposta é “por que é”, vocé achou um valor. Valores do trader O problema em ser trader é que os valores necessarios sao freqiientemente diferentes dos valores pregados na sociedade. Dinheiro... ganhar... suces- so... individualismo... aceitar perder... admitir seus erros... usar a cabegae nao as emogoes... ndo provar nada para ninguém... ndo sao sempre consi- derados valores “normais”. 126 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Antes de ser trader, vocé fazia parte da sociedade, entdo é bem prova- vel que sua cabeca contenha valores recebidos nas lavagens cerebrais que recebeu da familia, igreja, escola, midia, professores e outras pessoas que achavam que sabiam 0 que é bom para vocé. Existe grande potencial para um conflito e, se sua hierarquia de valores nao combina com os valores ne- cess4rios para ser um trader, ou se nao sao congruentes com seus objetivos, conflito havera. Descobrindo sua hierarquia de valores Vamos usar psicogeografia de novo. Escolha dois contextos. Por exemplo, ocontexto de sua vida familiar, ou pessoal, e 0 contexto de sua vida como trader. Coloque duas cadeiras, uma de frente para a outra. Uma delas repre- senta 0 contexto de sua vida pessoal e a outra, do mercado. Sente-se na cadeira que representa sua vida com um caderno na mao. Feche os olhos ¢ imagine sua vida. Pergunte-se: “O que é importante para mim na minha vida?” Sem forgar as respostas, anote tudo que vem a cabe- Ga, sem parar, até ter 10 ou 20 frases ou valores. Nao filtre nem julgue suas respostas, simplesmente anote 0 que vem a mente, mesmo que ndo goste. Sobretudo, seja honesto consigo mesmo. Sem sair da cadeira, escolha as 10 mais importantes. Ordene-as numa lista, comegando pela mais importante primeiro. Para fazer isso, compare 9 item 1 com 0 2. Qual é o mais importante? Se o 2 for mais importante, compare 2. com 3. Se o 2 ainda € mais importante, compare-o com 4. Se 0 4 é mais importante que 2, compare 4 com 5 ¢ faca isso até acabar a lista. O valor que ganhou, é 0 mais importante de todos. Com os 9 itens restantes, faca a mesma coisa para identificar a segunda mais importante. Depois, com os 8 restantes repita para achar 0 terceiro e continue até ter uma lista hier4rquica dos 10 valores mais importantes na sua vida. Leva um tempi- nho, mas faga. Vale a pena. Como exemplo, veja as respostas de um investidor amador — também pai, médico e evangélico. 1. Ser espiritual 2. Fazer o que gosto 3. Ser um bom pai 4. Aprender 5. Atingir exceléncia Tripulacdo ea mente 127 6. Ter humildade 7. Ter relacionamentos harmoniosos 8. Ajudar os outros 9. Seguranga financeira 10. Proteger o ambiente. Agora, ao lado de cada valor na sua lista, escreva sua definigao, o que esse valor significa para vocé. Ao lado de cada frase na lista, tente “resu- mi-la” em um valor. $6 tem de fazer sentido para vocé. Como exemplo, veja trés definigdes do médico: © Ser espiritual: Sou evangelista. Creio em Deus. Creio em esfor- Gar-me para ter um bom cardter, para ser generoso, bondoso e amoroso. Fazer o que gosto: Creie que minha felicidade pessoal resulta de fazer atividade que me agrada. Deve aumentar a qualidade da mi- nha vida. © Ser um bom pai: Apoiar meus filhos na escola, emocional, espiritual e socialmente. E, quando puder, financeiramente. Creio que crian- cas devem ser tratadas com respeito ¢ amor e devem viver numa casa feliz. Quando estiver satisfeito com suas definigdes, va tomar um café du- rante cinco minutos. Quando voltar, sente-se na outra cadeira, feche os olhos e, durante alguns minutos, imagine-se como trader. O que vocé faze oque quer? Lembre-se de como fazer 0 exercicio de boa formulagao de ob- jetivos? Vocé se lembra dos seus objetivos? Pense neles e faca a mesma per- gunta: “O que é importante para mim no contexto de trader?” Como an- tes, escreva tudo que vem A mente. Quando terminar, escolha os 10 mais importantes, ¢ elabore sua hierarquia como antes. Ao lado de cada valor, escreva sua definigao. O médico respondeu da seguinte maneira: © Seguranga: importante ter controle do préprio dinheiro. Saber que estd em boas maos. Orgulho: Faz bem saber que sou eu quem cuida das minhas finangas. © Desafio: Sei que nao € facil, e gosto do desafio de ganhar no mercado. Satisfacio: E importante sentir-se bem consigo mesmo e fazer 0 que quer. 128 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS * Aprender: Nunca se deve parar de aprender. Aprender mantém a mente flexivel e aberta. © Prazer: F importante sentir prazer com 0 que fago. Gosto de mexer com agées. Rentabilidade: E importante ter uma rentabilidade igual, ou maior, a que consigo no banco. Flexibilidade: £ importante saber que n4o vai levar todo o meu tem- po. Posso fazer outras coisas também. Nao tem horrio fixo para in- vestir ou cuidar do portfélio, ¢ Futuro: Fazer planos para o futuro é importante. Quero fazer pou- pangas pela educagdo dos meus filhos. Posso fazer isso com o meu portfélio. * Aprendizagem: £ algo que, quando maiores, poderei ensinar a meus filhos. E bom que saibam como funciona o mundo financeiro. Agora, compare sua lista de valores pessoais com os de trader. Vejamos a tabela do médico: Valores pessoais Valores de trader Ser espiritual Seguranca Fazer 0 que gosto Orgulho Ser um bom pai Desafio Aprender Satisfagio Atingir exceléncia Aprender Ser humilde Prazer ‘Ter relacionamentos harmoniosos Rentabilidade Ajudar os outros Flexibilidade Seguranga financeira Futuro Proteger o ambiente Aprendizagem Olhando para a tabela, o que vocé percebe? As listas sio compativeis, ou podem gerar conflitos? Obviamente ¢ 0 médico que deve responder, nao nés, mas da para perceber alguns possiveis conflitos. © Nota como ganhar dinheiro nao é uma prioridade em nenhuma das listas. Para que ele quer investir, entao? Tripulagio e amente 129 © Quanto 4 “seguranga” — como ele sabe que ele fard um melhor traba- lho que o gerente de um fundo? * Geralmente, “humildade” e “orgulho” nao vac de mao em mao — podem gerar um conflito. * Como ele definiria seu valor de “atingir exceléncia” em relacdo ao mercado e€ a seu sistema? Se sua idéia de exceléncia é a perfeigao, como ele vai lidar com os prejuizos constantes no mercado? Um bom médico n4o pode errar, mas um trader pode errar até 50% do tempo e ser brilhante. © Sera que “flexibilidade” pode ser sindnimo para “indisciplina”? Sera que essa “flexibilidade” o levaria a abandonar, ou mudar, um sistema em lugar de segui-lo como um rob6? * Quem disse que seus filhos v4o ter interesse em conhecer o merca- do? Investir s6 para mostrar algo para outras pessoas nao é uma boa idéia, © Contar com os investimentos para financiar a educagio dos filhos poderia gerar uma press4o ou uma necessidade de ganhar. Se ele perde, ou nao consegue ganhar o suficiente, como pretende pagar duas faculdades? Vocé acha que ele sera um investidor de sucesso sem rever seus valores e objetivos? Voltemos ao exercicio. O préximo passo é procurar possiveis conflitos entre seus valores. Sente-se na cadeira que representa o contexto de sua vida e olhe para a lista de valores de trader um por um. La, do contexto de sua vida pessoal fora do mercado, o que vocé acha de cada valor que cor- responde ao seu lado trader? Como faz vocé se sentir? Tem algum de que no gosta, ou que causa uma sensag4o estranha? Nao ha uma regta para apontar quais valores podem causar um conflito, dependera de vocé ¢ suas definig6es. Se vocé “sente” que algo pode causar um conflito, provavel- mente vocé tem razio. Anote onde “sente” uma incompatibilidade. Quando terminar, mude de cadeira. Agora, como trader, o que pensa dos valores que tem fora do mercado? Considere-os um por um, Ajudam? Atrapalham? Se no identificou nenhum conflito, parabéns. Do contrario, parabéns também, vocé é normal! Seria uma idéia rever sua hierarquia a fim de fazer uma reestruturacio. Dependendo de quantos conflitos identificou, e seus tamanhos, talvez devesse perguntar-se se “ser trader” é para vocé. Talvez o médido fizesse melhor deixando seu dinheiro com algum profissional do 130 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS mercado. Afinal, seu objetivo é operar ou ganhar dinheiro? Se for ganhar dinheiro, importa quem € que o ganha? Mudando valores Simplesmente ter consciéncia dos valores, pensando a respeito e questio- nando-os, pode causar mudangas. Se identificar alguns valores duvidosos, questione a validade defes na sua vida. Por que esse é importante? Como sei que é importante? De onde vem este valor, de mim ou de meu passado? Combina comigo e com 0 tipo de vida que quero levar? Se nao, que tipo de valor seria ttil ter? Que acho a respeito deste novo valor? Ele combina co- migo? Poderia viver com ele, ou teria que mudar muitas coisas na minha vida? Vale a pena ter este valor? £ possivel usar submodalidades para mudar 0 “formato” de um valor. Escotha quatro valores: 1. Um que tem e que € muito importante para vocé. 2. Um outro que ndo é muito importante, ou que vocé nao comparte. 3. Um que seria util para vocé, ou que tem e gostaria de fortalecer. 4, Um que tem, mas que gostaria de enfraquecer. Pense no valor importante. Como vocé esta pensando nele? Perceba o formato da “idéia” do valor. Pensando nele, quais submodalidades sao as mais aparentes, as mais fortes? Criou uma imagem? Ouve um som? Conti- nue pensando e faga uma lista, um inventdrio, das submodalidades — posi- do, tamanho, cores, movimento, contrastes, sons, tons, volume, ritmo, associado ou dissociado. Agora, repita o exercicio com o valor fraco. Liste as submodalidades, prestando ateng4o nas mais marcantes. Compare os inventarios. Quais diferengas existem? Percebe porque um “sente” mais “importante” que o outro? Quais submodalidades au- mentam ou diminuem essa sensagdo de “importancia”? O préximo passo é pensar no valor que quer fortalecer. Como se sente a respeito dele? Faca um inventario das submodalidades. Para fortalecer esse valor, brinque com as submodalidades, mudan- do-as até que sejam similares as do valor importante. Se perceber o valor importante colorido, perto, bem na sua frente com a sua voz dizendo “isso éimportante!”, e o valor que quer fortalecer é palido, mais longe e no can- to esquerdo com alguém dizendo: “isso seria bom também”, traga este mais Tripulacdoeamente 131 perto, centralize-o, pinte-o com cores e mude a voze as palavras. Seja cria- tivo. Experimente. E seu cérebro e sua imaginagdo. Vocé os controla. Brin- que até “sentir” uma diferenga. Finalmente, é preciso testar a mudanga. Va tomar outro café e volte. Pense neste novo valor. Como se sente a respeito dele agora? Igual? Dife- rente? Diferente como? Mesmo se nao sinta muita diferenga, agora faz parte de seu consciente. Vocé sabe que seria bom ter esse valor. E quanto mais vocé pensa a respeito dele, quanto mais vocé quer que ele seja impor- tante, mais vocé procurard evidéncias e raz6es de por que deveria ser im- portante, e mais ele subira na sua hierarquia. O processo de enfraquecer um valor é idéntico. Mude suas submodali- dades até parecer com aquelas do valor pouco importante. Lembre-se: é sua mente e sua vida. Pode ter os valores que quiser, nao precisa ficar com aqueles que tem. Resolvendo conflitos Normalmente, nés no pensamos muito a respeito de nossos valores. Sim- plesmente existem, silenciosamente influenciando nosso comportamento. E, como muitos deles foram “colocados” nos nossos cérebros por outras pessoas, é inevitavel que, de vez em quando, nos encontremos em conflito. Repito, para ser um sucesso, os valores de um trader devem ser coeren- tes com seus objetivos. Se ndo, em algum momento, o trader se encontrara num conflito entre um “dever” ec um “querer”. Esses conflitos podem in- fernizar sua vida, impedindo-o de agir, ou obrigando-o a fazer coisas que resultam em prejufzo ou perda de oportunidade. Conflitos podem existir entre comportamentos, capacidades, crengas, valores identidade. Vejamos alguns exemplos que podem atormentar um trader: * Nao sabe se estudar graficos ou ler relat6rios é melhor. © Indecisao entre desenhar um sistema ou comprar um. Agoniza entre fazer um curso de andlise técnica ou viajar com a fa- milia. © Cré que saber programar é importante, mas pensa que nao € capaz de aprender. © Quer estudar o mercado 4 noite, mas ndo negligenciar os filhos. * Sonha com sucesso, mas teme que perderd amigos ou que a familia o vera como metido. 132 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS © Quer ser trader, mas acha os valores “egoistas” —incompativeis com a religido ou com a vida familiar. * Quer ser trader pela liberdade, mas nao quer wma vida estressante. © Quer ser trader, mas tem medo de tomar riscos. © Valoriza a liberdade de ser trader, mas busca seguranca em tudo que faz. © Quer ganhar dinheiro, mas, vindo de uma familia humilde, nao acha que merece, ou pensa algo como: “Tanto sucesso nao € para mim, mas € bom sonhar.” ¢ Tem pressa para ganhar, mas prefere evitar grandes riscos. © Cré que o mercado ¢ aleatério, mas ainda acha que pode desenhar um sistema que ganhe dinheiro. © Preza independéncia, mas precisa que outras pessoas validem suas idéias ou elogiem seus esforgos. * Quer ser trader, mas tem medo do compromisso. * Sabe que ser trader implica aceitar prejuizo, mas sé quer operar quando tiver certeza de que vai ganhar. Alguns conflitos sao gerados por nossas inclinagées psicolégicas. Vere- mos mais sobre estas em um capitulo futuro, mas, simplificando grotesca- mente, s40 como programas “naturais” que vém de graga com nosso cére- bro. Sdo diteis em certas situagdes, mas em outras, como no mercado, criam “jlusées mentais”. Da mesma maneira que ilusdes dticas mexem com nos- sos olhos, nossas inclinagdes mexem com nossa percepgio. Infelizmente, temos que viver com eles, mas, sabendo que existem, podemos tomar pre- vidéncias. Outros conflitos sao reais. Os ambientes incertos ¢ probabilisticos do mercado, constantemente, testam a estrutura de nossa hierarquia de valo- res, procurando e encontrando nossos pontos fracos. Quando nao temos uma estrutura congruente, é muito comum nos encontrarmos num dilema onde parte de nés quer “A”, mas uma outra parte quer “B”. Este estado, esta batalha entre valores de uma hierarquia disfuncional, gera frustracao e confusao. Felizmente, como qualquer outro conflito humano, se resolve com comunicagao, vontade e negociagao. O ser humano é um organismo complexo. Parece que é composto de partes, como se possuisse miltiplas personalidades que aparecem depen- dendo do contexto ou das circunstancias. Por exemplo, quando Fulano vai trabalhar como advogado leva consigo seu programa “Eu, o advogado”, onde sua hierarquia de valores pode ser bem diferente daquela que usa em Tripulagdoe amente 133 casa, ou em situag6es sociais, como “Eu, 0 pai”, “Eu, o marido”, ou “Eu, 0 zagueiro do time local”. Talyez seja por isso que algumas pessoas, as vezes, parecem incoerentes. Ja deve ter flagrado amigos ou colegas dizendo uma coisa um dia, e fazendo outra na semana seguinte. Quando mencionamos sua aparente contradi¢gao dizem, “mas isso é diferente”. Provavelmente, para eles, 0 contexto é diferente, ¢ eles o esto avaliando com uma outra “cabega”. Essa idéia de partes € titil na hora de resolver conflitos. Vejamos como. Pense em algum conflito que vocé percebeu no seu dia-a-dia. Pode ser algo que faz, e nao quer fazer, ou algo que nao faz, mas quer fazer. Geral- mente existirao dois lados. Um lado que quer A ¢ outro que quer B. Sente-se numa cadeira. Abra as mos na sua frente, uma em cada joe- lho, e imagine que cada palma contenha um lado do conflito. Visualize cada ponto de vista na palma de sua mao. Vocé, entre clas, ser4 o negocia- dor imparcial. Escotha um lado do conflito, a mao esquerda, por exemplo. Durante alguns minutos, imagine-se dentro de sua mao, “vivendo” o ponto de vista deste lado, Explore a posigdo. O que quer? O que est4 tentando conseguir, ou fazer, para vocé? Por qué? O que é sua “intengao positiva”? Que “va- lor” defende este ponto de vista? Mantendo suas maos onde estao, mentalmente saia da posigdo ex- perimentada e volte para a posicdo de Arbitro. Respire fundo, e pense em outra coisa durante uns segundos para limpar sua mente. Quando “esqueceu” o que acaba de experimentar, repita 0 exercicio com o lado direito do conflito. Olhe para sua mo direita, esqueca de que o lado esquerdo existe ¢ pense nesta nova perspectiva. Feche os olhos e viva esta segunda posigdo. O que é que esta parte quer para vocé? O que esta querendo conseguir? Qual é sua intengAo positiva? Quando respondeu A pergunta, saia e volte para a posigao de 4rbitro. No pr6ximo passo, cada parte reconhece a inten¢ao positiva da ou- tra. Isso nao significa que deve aceita-la ou comprometer-se a algo. Sim- plesmente deve reconhecer a existéncia de um outro ponto de vista e aceitar que o outro lado também age pelo bem do sistema, ou seja, pelo seu bem. Para fazer isso, mentalmente entre no lado do conflito na sua mao es- querda e pergunte se accita que a intengdo positiva do lado direito é um va- lor louvavel ¢ importante. Se for quando reconhece que é, saia desta parte, volte para o meio e repita o exercicio no lado direito, perguntando se a in- 134 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS tengio positiva do lado esquerdo é importante. Quando reconhecer que €, volte novamente para o meio. Lembre-se, nao é preciso concordar, s6 aceitar que 0 valor que 0 outro defende é importante e que 0 outro também age (mesmo que ache erronea- mente) em beneficio do sistema. Se nao aceita que é importante, tente acei- tar que 0 outro lado acha que é, e respeite essa posigao. Quando vivencia o ponto de vista da parte A, e pensa a respeito da in- tengdo positiva da parte B, € importante “sentir” o reconhecimento. EF um pouco como dar-se conta de que uma pessoa querida ou alguém com quem esta brigado, por causa de algo que este fez, o fez porque o ama, porque queria seu bem e queria ajud-lo. O tinico objetivo é entender que o confli- to é simplesmente uma diferenga de opiniao e aceitar que ambas as partes estio “do mesmo lado” e nao inimigos ou adversérios. De volta A posicio de arbitro, pense a respeito dos dois valores ou in- tengées positivas em conflito. Que valor, mais importante ainda, mais alto na sua hierarquia, é compartido por ambos os lados? Com que objetivo os dois est4o trabalhando? Existe algo que os mesmos valorizam altamente? Por exemplo, dois pattidos politicos podem ter idéias totalmente diferen- tes, mas ambos querem desenvolver o pais. As policias civil e militar po- dem nem sempre concordar em como combater 0 crime, mas ambas que- rem melhorar a seguranga do povo. De novo, vocé sentira uma espécie de “6 isso!” ao escolher o valor certo. Uma vez encontrado um valor compartido por ambos, da posigao de Arbitro, explore métodos para satisfazé-lo. Isso pode incluir uma mistura das escolhas, opgdes ou planos existentes ou idéias totalmente novas. De- pois, leve os planos para os dois lados, negociando e mudando até ter algo mutuamente aceitdvel. Para ilustrar o processo, imaginemos que um trader quer desenhar um sistema para operar, mas ndo consegue. Parte dele acha que 0 mercado € aleatério, que é um jogo “soma-zero” — como jogar moedas — ¢ que dese- nhar um sistema seria um exercicio fatil. Cada vez que ele tenta trabalhar no sistema, entra em contflito e acaba enrolando ou desistindo, se prome- tendo que amanhi o fara. PARTE A - MAO ESQUERDA. 135 Tripulacao e a mente PARTE B - MAO DIREITA ARGUMENTO O mercado € quase aleatério. f um exercicio de futilidade pensar que pode desenhar um sistema que ganhe dinheiro. Quem ganha tem sorte. ‘Trabalharemos muito para nada. S6 perderemos tempo e dinheiro € acabaremos nos sentindo mal. Nao quero sentir que estou petdendo meu tempo e ndo quero perder dinheiro. Existem tendéncias no mercado e para aproveita-las é importante agir decisiva e objetivamente. E preciso usar um sistema. O mercado nao € totalmente aleatério. Algumas pessoas, que agem com seriedade e inteligéncia, ganham. Se desenharmos um sistema, ¢ depois 0 operamos disciplinadamente, temos uma boa chance de ganhar. VALOR DEFENDIDO OU INTENCAO POSITIVA F importante nao perder dinheiro. RESPEITA A POSIGAO DA OUTRA PARTE? Sim. Concordo. Mas, se o mercado for aleatério, mesmo operando com seriedade, perderemos dinheiro. POSSIVEIS VALORES EM COMUM Sucesso? Sim, quero sucesso. Mas 1 4 perder dinheiro nao traz sucesso. Seguranca? Sim, quero seguranga. Nao quero perder dinheiro a toa. VALOR COMPARTIDO Seguranga PLANO OU COMPROMISSO £ importante agir com seriedade. Sim. Eu também nao quero perder dinheiro. Por isso quero usar um sistema. Sucesso? Sim, quero sucesso. Seguranga? Sim, quero seguranga. Por isso quero usar um sistema. Eu também nao quero perder dinheiro a toa. * Investir 90% de nosso capital em fundos. O resto sera seu capital de risco. * Durante trés meses desenharemos e testaremos um sistema. * Depois seguiremos o sistema fielmente durante seis meses. Se nao mostrar sinais de dar certo, pararemos. Se der dinheiro, dobraremos a quantidade de capital de risco, resgatando dinheiro de um fundo. 136 NOVA POSICAO Aceito que perdas fazem parte de investir. Nao tenho medo de perder uma quantidade pequena se também tenho a chance de ganhar. Sei que muitos fundos ganham dinheiro a cada ano, ent3o deve ser possivel ganhar dinheiro no mercado. Nao confio em um sistema grafico. Nao € objetivo, mas aceito usar um sistema matemético que trata as Pposicdes como se fossem simples apostas. Nao obstante, sei que desenhar e testar este novo sistema sera um trabalho longo, duro e complicado. FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Agora percebo que queria arriscar muito ¢ que meu método de operar nao era 100% objetivo. Aceito operar com menos capital no comeco é usar um sistema bem diferente do sistema originalmente concebido. Sei que serao necessérios muito tempo e mais estudos antes de ter um novo sistema. SEGURANCA a “E importante agir com +. Quero £3 um si istenaS a » “E importante ndo ee dinheiro” No an ° Cie éum ea O mais importante do processo é ser honesto com yocé mesmo. “Escu- te” o que vocé sente. Nao adianta mentir, se enganar ou forcar a barra em algo que vocé (segundo sua hierarquia de valores) ndo quer ou nao ache t4o importante, Capitulo 3 O barco e o sistema Seu sistema O capitao que conhece o mar, tem uma tripulagao pronta para viajar e um destino definido precisa de um barco. E, da mesma maneira que um barco nao é simplesmente um casco, o sistema de um trader nao é simplesmente um sinal de entrada. A palavra “sistema” é um pouco enganosa. Dé a impressao de uma cai- Xa-preta ou um programa de computador, e nao é isso que quero dizer. Quando digo “sistema”, quero dizer 0 método que o trader usa para gerar seu “negécio” — porque um negocio é o que tem. Tudo bem, nao tem estoque, empregados ou clientes, mas a idéia é a mesma. Usa seu capital, comprando e vendendo mercadorias, com o objetivo de obter um lucro maior que seus custos. Aposto que nao ha ninguém que ganha dinheiro no mercado e nao use um sistema. Mesmo traders intuitivos que, com um simples olhar, conse- guem “ler” um grafico e “ver” o que vai acontecer, operam sistematica- mente. Quer dizer que, além dos seus sinais de entrada, tém métodos para: * Sair de uma posig&o com lucro. Cortar um trade que dé prejuizo. Procurar novas oportunidades. Crescer e proteger o seu capital. . . * Avaliar ¢ corrigir o seu desempenho. . * Lidar com suas emocoes. 138 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS O que funciona para vocé? O tipo de sistema que “combina” com vocé dependeré de varios fatores. Quanto capital vocé tem? Quanto mais dinheiro vocé tem, mais opg6es existem para ganh4-lo. Alguém com R$1.000.000 de capital de risco tem muitas mais possibilida- des de ganhar R$10.000 por més que alguém com R$20.000 - e com mui- to menos risco. Quem ndo precisa de dinheixo ganha-o com muito mais fa- cilidade do que quem precisa dele. Isso € triste e injusto, mas assim é. Quanto quer perder? Entdo, quanto tem? Quanto vocé vale? E quanto disso quer perder? E uma pergunta séria. Quanto, que porcentagem de seu patriménio, esta disposto a perder? Este valor sera seu capital de risco, e o resto deveria estar bem aplicado em fundos ou iméveis. Se perder mais que suporta perder, vai doer, e muito. Entao, se nao quer perdé-lo, nao o arrisque. Pense bem. O mercado nao perdoa erros de julgamento. Quanto quer perder por operacéo? Quando decidiu quanto dinheiro vai usar como capital de risco, suponho que no pretende perdé-lo de uma vez. £ muito mais divertido perdé-lo aos poucos! Quanto — que porcentagem ~ esta disposto a sacrificar em cada operagio? Dois por cento é um valor considerado prudente e mais que 10% poderia ser considerado irresponsdvel. Quanto depende de vocé, ¢ das caracteristicas de seu sistema. Se este acerta com 50% das operagées, eo ganho médio é trés vezes maior que o prejuizo médio, pode ser mais ar- rojado. Onde quer perdé-lo? Digamos que vocé tenha R$10.000 de capital de risco, Dois por cento, dis- so sio0 R$200, o que corresponde a uns 15 pontos no indice futuro, ou seja, incluindo o spread, mais ou menos um segundo de jogo se entrou errado. No mini da uns cento e poucos pontos, ou seja, umas horas dependendo do Obarcoecsistema 139 dia. Agora, em papel, R$200 seriam um stop de 10% em uma posigao de R$2.000. Poucos papéis caem 10% no mesmo dia. Agora, se tiver R$100.000 de capital de risco, suas possibilidades nao s40 tao limitadas! Escolha seus mercados porque combinam com seu jeito de operar, e com o seu capital, nao por estar “na moda” ou porque gosta. Quanto tempo vocé tem disponivel? Day-traders passam o dia todo na frente da tela e depois passam a noite estudando, lendo e testando suas idéias. Quem nao tem 16 horas livres por dia deveria pensar duas vezes antes de decidir que quer ser um day-trader. A medida que a duragdo média das suas operagées cresce, o tempo necessario para “trabalhar” diminui. Quem opera com tendéncias de seis meses ou mais tem tempo para pensar e pode organizar-se como quiser. Se perder um ou dois dias de uma tendéncia de trés meses, pouco importa. O sistema que vocé acabard usando dependerd muito do tempo que pode dedicar e quando pode dedica-lo. Quem trabalha, ¢ nao tem aces- so ao mercado durante o dia, quase sera obrigado a operar no diArio, es- tudando o mercado 4 noite e preparando suas operagées para o dia se- guinte. Como um dos nossos traders mostrou, € possivel deixar suas ins- trugdes com seu corretor. “Compra/vende tal a mercado quando abre!”, “Se tal papel chega a tal preco, compra!” ou “Meu stop mudou para 26.500!” Vale notar também que o estresse é inversamente proporcional a dura- cdo média das operacées! Quanto risco quer assumir? O ditado diz que ha traders velhos e ha traders audazes, mas nao velhos, audazes traders. E preciso sobreviver até ser um bom trader. Sobreviver quer dizer sempre ter suficiente dinheiro para operar. Como assegurar que sempre teremos dinheiro? JA falamos. Arrisque menos — 1-2% do capital - em cada operagao du- rante a aprendizagem. Depois, quando dominou sua técnica e sente con- fianga, aumente até onde seu est6mago agiienta. 140 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Saber quanto risco seu estémago agiienta nao é tarefa simples. E facil ser macho e dizer que agiientaria um drawdown de R$X.000, afirmando que doeria, mas que “no ha ganho sem dor”. E outra coisa de estar naque- la situagdo, no meio do drawdown e com R$X.000 menos do que tinha 3 meses atrds. As dividas comegam... Sex4 que recupero? Devo parar ou agiientar mais um pouco? Até onde vai esse drawdown? Meu sistema ainda funciona? Seja conservador. Nunca aumente seu risco até ter 100% de certeza de que pode fechar uma operacao no stop no se importando com o que acontecer. Operar seu sistema com trés contratos é muito diferente — do ponto de vista psico- légico - de operar com seis contratos. $6 precisa de alguma surpresa ines- perada para ficar confuso e paralisado e ver um “prejufzo normal” se tor- nar um “desastre”. As vezes, quando pensa sobre risco, o que mais afeta a psique nao é a idéia de perder dinheiro, mas ver o sonho de ficar rico rapidamente desva- necer. Se vocé arrisca somente 2% em cada operacao, suas chances de ficar rico séo menores do que se arriscasse 20%. As chances de ficar pobre tam- bém sao, mas geralmente ndo pensamos nisso. Pode ser que vocé se encon- tre num conflito, pressionado para operar, mas temendo perder tudo. Ou sabendo que deve operar com pouco, mas querendo/precisando ganhar mais. Use 0 exercicio para resolver conflitos. O que é que vocé quer? Ainda ser trader quando tiver 60 anos de idade ou ficar rico logo? Talvez. as dois nao sejam compativeis. Seus objetivos Ja falamos bastante de objetivos. Se tiver R$10.000 e quiser dobra-lo em um ano, vocé precisara de um sistema capaz de dar 100% de lucro. Infeliz- mente, este sistema vem com um drawdown embutido, talvez 30% ou mais. Ao final do ano, em lugar de estar regojizando-se com R$20.000, vocé podera estar chorando com R$7.000! Fique na realidade. Nao se iluda, sonhando, por exemplo, em dobrar seu capital com um sistema de baixo risco, ou confiando que o pior nao acontecerd com um de alto risco. O primeiro provavelmente n3o acontece- r4, mas o segundo, provavelmente sim. Que fique bem claro: quanto maior © seu objetivo e quanto menor 0 tempo dedicado, maior 0 risco sera. Sera que seus objetivos sio compativeis com o sistema que pretende usar? Quantos mercados vocé terd que operar? Quantas operagées encon- trard por més? Serao suficientes? Em que porcentagem dessas acerta? Que Obarce eo sistema 141 taxa de lucro/prejuizo dara? DA para atingir seu objetivo? Se seu objetivo é ganhar 25% ao ano, o sistema que usa sera bem diferente do sistema da pessoa querendo 100%. Repito, comece devagar, arriscando pouco. Depois, quando souber o que esté fazendo, seja mais agressivo. E melhor cometer todos os erros nor- mais do trader no comego, com posigdes pequenas, onde pagard um prego mfnimo para sua aprendizagem. Sua viséo do mercado Como vocé pensa a respeito do mercado? Que metdfora usa? Guerra? Mar? Jogo? Cassino? Loja? Leilao? Outra? Acha que o prego reflete em to- das as informag6es disponiveis? Que o mercado é eficiente e que os investi- dores racionais? Que as oscilagées sio aleatérias ou que o preco de uma ago tende 4 valorizagao fundamental da empresa? Que o mercado é igual como sempre, ou esta diferente hoje? Estude, faga cursos, leia, experimente e desenvolva suas préprias cren- as a respeito do mercado. Crie uma teoria — um sistema — para capitalizar essas crengas. Suas preferéncias pessoais Quanto mais vocé estuda, mais vocé entende, mais suas preferéncias— para teorias, conceitos e técnicas — aparecerao. Hoje, o que vocé gosta? O que faz bem? Costuma generalizar ou € es- pecialista? Metédico ou intuitivo? Gosta de graficos, algoritmos ou balan- ces? Entende a matemética, estatistica ou a economia? Vocé vé a “Big Pic- ture” ou os detalhes? Percebe tendéncias macroecondémicas mundiais ou desfruta procurando padrées miniisculos repetindo em um sé instrumen- to? Gosta de ler, pesquisar ou de calcular? Sabe escrever programas? Prefe- re commodities ou papéis? Futuros ou op¢ées? Prefere agir com calma ou gosta de ver os resultados das suas agGes imediatamente? Tudo isso, ¢ mais, influencia a escolha do sistema “certo” para vocé. Que seja grafico, mec4nico ou fundamental, que seu horizonte seja de mi- nutos, dias ou meses, ou se vocé gosta de especializar ou diversificar, o sis- tema que vocé escolhe tem que ser confortavel como sua roupa. Quando isso for 0 caso, seu inconsciente e seu sistema estarao em acordo, Nao ha- vera hesitagio, nem remorso, nem conflito, nem estresse. S6 ago. Operar 142 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS ser4 natural. Quando aquela seta verde aparece na tela, provavelmente, aquela voz na sua cabega e, uma sensagao no seu estémago, j4 estarao gri- tando: “Agora!” Ao contrario, se vocé usa um sistema que n4o é seu, que nao enten- de, que nao gosta, ou no qual nao tem confianga, cada vez que a seta aparece vocé a questiona: ser que ¢ agora? Mas o RSI ainda esta 80... 0 balanco é ruim... a terceira onda ndo terminou ainda... 0 $+P esta cain- do... o délar estd subindo... a ultima vez que isso aconteceu deu erra- 0... Que estressante! O “0-0-D-A” Loop Operar é um processo continuo. Nunca para. Tudo est4 em um fluxo con- tinuo de movimento e mudanga. O mercado sobe e desce. Fecha um trade e abre outro. O capital aumenta e diminui. As emogées vao e vém. O de- sempenho melhora e piora. O “sistema” ajuda o trader a lidar com esses movimentos imprevisiveis sem perder seu rumo. Um dos nossos traders se percebe como um guerreiro. Entra na bata- lha, mata um inimigo e volta para casa. Pessoalmente, nao gosto de usar “guerra” como uma analogia para operar, mas nao importa 0 que cu pen- so, importa 0 que funciona, e se tem algo que o ser humano sabe fazer bem é guerra. A guerra foi estudada durante milhares de anos e, portanto, existem muitas idéias que podemos tomar emprestado e usar para atividades mais pacificas. O filésofo militar alemio Carl Von Clausewitz (1780-1831) disse: “Guerra é 0 estado de incerteza. Trés quartos dos fatores, nos quais a guerra é baseada, estéo envoltos em uma neblina de, maior ou menor, incerteza. E necessdrio um juizo sensivel e astu- to, uma hdbil inteligéncia capaz de farejar a verdade.” Um século mais tarde, o Coronel John Boyd (1927-1997) petcebeu o combatente como um sistema que observa o seu ambiente ¢ age, tomando decis6ées baseadas em suas observacées ¢ seus objetivos. Boyd era um heréi americano desconhecido. Para quem o conheceu, era o melhor piloto de caga de todos os tempos. Dizem que, em simulagées de combate, era capaz de derrotar qualquer adversario em menos de 40 se- gundos, e é fato que seu manual de tatica revolucionou a guerra no ar. 144 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS O OODA Loop do Coronel Boyd ‘Suposigses & Julgamentos, Boyd 1: Orientacao Nossa orientagao € 0 pivé em torno do qual o OODA Loop gira. Influen- cia a forma na qual interagimos com o ambiente: * Define nossa percepgio de o que est4 acontecendo e, conseqiiente- mente, 0 que observamos. ¢ Influencia as hipoteses que formamos e as decisdes que tomamos. © Afeta nossas acées. © A observagao dos resultados age como “feedback” permitindo-nos ajustar nossa futura orientacio. Nossa orientacio cria uma imagem mental coesa da situagdo, compara o estado atual com o estado desejado e identifica estratégias para a obten- cao do estado desejado. Obarcoeosistema 145 Aimagem formada dependera de nossa educagdo, nossa cultura e nos- sa religido. As capacidades intelectuais que temos para analisar, estimar, sintetizar e julgar informagao. As crengas e valores que possuimos e as pressuposigées que fazemos. E, sobretudo, nossa experiéncia prévia. Tudo que nos acontece ou aconteceu na vida pode influenciar como o trader percebe o mercado ¢ como pretende “navegar” dentro dele. Mas, antes de construir seu “barco” —seu sistema —, é bom o capitao sa- ber que a ferramenta que pretende usar —seu cérebro —vem da fabrica com algumas peculiaridades que influenciam sua orientag4o, a imagem mental que cria da situagio. Chamam-se, em inglés, “bias” — ou inclinagées. E um fendmeno psicolégico e bem-documentado que afeta todos nés. Nossa percepcao de valor O trader trabalha com o conceito de “valor”, entéo, primeiramente, va- mos ver como essas inclinacgées afetam nossa percep¢ao disso. Depois ve- remos algumas inclinagdes com mais detalhes e diferentes formas de en- quadrar prejuizos. Nos anos 70, Richard H. Thaler, do Graduate School of Business, Uni- versidade de Chicago, deu uma reviravolta no mundo de economia com al- gumas observagdes sobre a natureza humana. Eram tao contrérias ao pen- samento do dia que Merton Miller, ganhador do prémio Nobel para cién- cias econémicas em 1990, recusou-se a falar com ele. Thaler percebeu que o homem nao era 0 homo econ6micus—racional e objetivo — que os economistas usavam como a base nas suas teorias. Na pratica, ele agia mais como um “homo bundao” —alguém imperfeito, irra- cional, emocional e nem sempre agindo de uma forma consistente em ma- ximizar seu proprio bem-estar. Durante um semind4rio, um outro economista declarou que as pessoas aprendem com seus erros e evoluem 4 racionalidade. Thaler respondeu que aprendemos com nossos erros ¢€ evolufmos A racionalidade com coisas que fazemos todas as semanas — como as compras, por exemplo — mas co- metemos besteiras nas decisées grandes — como 0 casamento, a carreirae a aposentadoria — porque nao aparecem tao freqiientemente. A teoria geral afirma que, quanto mais opgdes temos, melhor. Por que ser, ent4o, postulou Thaler, que seus amigos lhe agradeceram tanto quan- do ele retirou uma tigela de caju de sua sala que nao paravam de comer? Por que retirar a tigela facilitou sua decisao de nao comer? Também ouviu um deles dizer que cortava a gramia de sua casa para poupar $10, mas que, 146 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS. em nenhuma circunstancia, cortaria a grama de seu vizinho — mesmo que este pagasse bem mais que $10. Estranho, pensou, porque financeiramen- te, nao gastar $10 era o mesmo que receber $10. Em uma outra ocasiao, quando Thaler e um colega decidiram nao ir a um jogo de basquete devido a uma tempestade de neve, seu colega comen- tou que, se tivessem os bilhetes, sem divida iriam. O que tinha a ver, se perguntou Thaler, ter ou no os bilhetes com o desejo de ir ou nao ao jogo durante uma tempestade? Logo observou como as pessoas se esforgariam para poupar $10 no prego de um rddio-relégio valendo $20, mas ndo para poupar $10 numa televisdo valendo $500. Nao fazia sentido, porque $10 sao sempre $10, ¢ nao deveria importar quanto tivesse de gastar para poupé-lo. O que ha de errado nessas observagées, vocé pergunta? Quem ia per- der horas s6 para economizar $10 numa televisto de $500? Nao ha nada de errado, mas contradizem a teoria que nos comportamos racionalmente. Vejamos, no caso do cortar a grama, a teoria diz que vocé faria uma es- colha entre dinheiro e tempo. O que vocé prefere? Um tempo extra, fruto de pagar $10 para que uma outra pessoa corte sua grama — ou um dinheiro extra, fruto do corte da sua prépria grama, e poupar $10? Se preferisse o dinheiro, vocé cortaria grama de qualquer vizinho que pagasse. Considere ir a um jantar simples entre amigos e que vocé deve levar uma garrafa de vinho. Imagine que vocé encontre um Liebfraumilch Edi- ¢4o Especial por R$200 no Extra. Vocé o compraria para levar? Agora, di- gamos que vocé ache caro e nao compre, mas quando volta para a casa, fu- cando no sétao, descobre uma garrafa daquele mesmo vinho, ¢ lembra que pagou R$50 no ano passado. O que faria? Levaria? Agora imagine que esta fritando numa praia, morrendo de calor e sede. Alguém se oferece para ir comprar uma cerveja. Quanto vocé estaria dis- posto a pagar por uma cerveja geladinha se a pessoa dissesse que a com- prou no patio de um hotel cinco estrelas? Quanto pagaria se dissesse que comprou numa barraca na beira do mato? Obviamente seria “justo” que 0 prego variasse, certo? Hmmm, uma lata de cerveja é uma lata de cerveja, nao importa de onde vem. Se vocé esté disposto a pagar pela “justiga”, além da lata, sera que no mercado o valor de uma agao depende de quema esta vendendo? Consideremos os riscos no trabalho. Digamos que uma outra empresa foi contratada para fazer uma auditoria dos riscos 4 satde no trabalho. Cal- cularam que vocé tinha uma chance de 2 em 100.000 de sofrer um infarto trabalhando entre 9he 18h todos os dias. Mudando de horario, trabalhan- Obarcoeosistema 147 do de 14h até 2h, mas trabalhando um dia sim um dia nao, calculam que esse risco deve subir para 4 em 100.000. Thaler propés esta situagdo aos seus amigos ¢ perguntou quanto a empresa teria que subir seus salarios para que aceitassem esse risco maior. Sua resposta? “Nem por um milhao de délares!” E vocé? Quanto teria que subir seu salario para que vocé acei- tasse um risco novo, o dobro do antigo? Interessantemente, esses mesmos amigos nao aceitariam nenhuma redugio nos seus salarios se 0 risco caisse por 1 em 100.000. Esta é uma situag4o hipotética, mas algo parecido acontece todo dia no mercado. Investidores percebem e valorizam riscos novos — sentem-se an- siosos antes de abrir uma nova posi¢do em uma empresa desconhecida, por exemplo — mas descontam casualmente riscos familiares ou existentes — aceitando numa boa a volatilidade de uma posig4o que j4 possuem. Mais ou menos ao mesmo tempo, outros dois psicélogos, Daniel Kah- neman e Amos Tversky, encontraram padrées similares. Notaram que so- mos mais preocupados com as mudanegas no nosso patrimdnio do que seu nivel absolut. Isso contradiz a teoria geral ¢ explica por que custa tanto fe- char um trade com prejuizo. Pensamos mais no tamanho do prejuizo do que no efeito no nosso patriménio. Separadamente, Thaler desenvolveu uma idéia que chamou de “conta- bilidade mental”, enquanto Kahneman e Tversky chamaram a sua de "en- quadramento”. Para Thaler, um “quadro” é a combinagdo de valores, atitudes ¢ cren- cas que usamos para perceber uma situac4o. Funciona como “éculos colo- ridos” e afeta profundamente nossa compreensao da situagdo. Kahneman e Tversky o definiram como a concepgao do ato, das conseqiiéncias e das contingéncias associadas com uma escolha. Por exemplo. Ofereceram as pessoas uma das seguintes opgées: A: Um ganho certo de R$240. B: Uma chance de 25% para ganhar R$1.000 e de 75% de ganhar nada. 84% das pessoas escolheram a opgao segura, A. B — com esperanga matematica de R$250 — seria a escolha racional. Depois ofereceram uma segunda escolha: C: Um prejuizo certo de R$750. D: Uma chance de 75% de perder R$1.000 e 25% de nao perder nada. 148 =FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Apesar de ambas op¢6es oferecerem o mesmo resultado — um prejuizo de R$750 — frente a um prejuizo certo, 73% das pessoas preferiram arris- car-se com D. Os resultados mostram como o enquadramento de uma escolha (em termos de lucro ou prejufzo) exerce uma influéncia importante nas deci- sdes que fazemos. Geralmente, perder X d6i muito mais do que ganhar X agrada. Por isso, em lugar de aceitar um prejufzo, um trader prefere arris- car-se na esperanga de que a situagdo melhore. Mas, no caso do lucro, en- quadra a situagdo de forma diferente. Nao quer perder o que j4 tem. Um efeito similar é observado quando um investidor que contabiliza o resultado a cada dia tem uma série de operagdes ganhadoras. Percebe—en- quadra — que esta “na frente” e se arrisca mais. O racional seria operar os trades atuais igual a todos os outros, ndo se importando quanto ganhou ou perdeu. Da mesma forma, mentalmente separar nosso dinheiro é uma forma de enquadrar. Temos contas diferentes — corrente, de poupanga, de inves- timento e de crédito — nos quais estamos dispostos a pagar juros diferentes ou justificar compras diferentes. Por exemplo, algumas pessoas podem “jogar fora” dinheiro que acham no fundo da bolsa, ou o que ganharam no bingo, enquanto poupam religiosamente uma proporgio do seu salatio a cada més. Outras investem dinheiro numa poupanga, recebendo 1% ao més, a0 mesmo tempo em que financiam uma divida no cartao de crédito pagando 5% ao més. O légico seria pagar a divida do cartao de crédito com o dinheiro da poupanca, mas ndo o fazem. Pensamento relativo Pensamos melhor de forma relativa do que de forma absoluta. Por exem- plo, imagine duas pessoas que mudaram para Bertioga, uma vivia em uma aldeia no interior ¢ a outra em Sao Paulo. Se perguntarmos a pessoa que vi- via na aldeia quantos habitantes tem Bertioya, ela seria capaz de respon- der: “muitos”. Mas se fizermos a mesma pergunta para a paulista, com cer- teza responderia: “poucas”. Se precisarmos estimar algum valor ou quantidade, sempre comega- mos com um ponto inicial. Este ponto pode ser arbitrdrio, ou fundamenta- do em algo que sabemos, ouvimos, lemos ou adivinhamos. Logo o ajusta- mos até chegar A nossa estimagdo final. Kahneman e Tversky chamaram isso “ancoragem” e mostraram como funciona em uma experiéncia. Obarcocosistema 149 Perguntaram a um grupo A de pessoas que porcentagem de nagdes africanas havia na ONU, se era mais ou menos que 45%. Depois fizeram a mesma pergunta para o grupo B, s6 que perguntaram se era mais ou menos que 65%. As pessoas do grupo A responderam com valores consistente- mente menores que as do grupo B. A porcentagem dada na pergunta serviu como uma Ancora. Geralmente os ajustes que fazemos a nossa estimativa inicial sao inade- quados, ea estimativa final depende muito da ancora usada. Sabendo isso, se oferecemos uma Ancora podemos influenciar a percepgao de alguém. Por isso, quando pretende vender seu carro, é bom pedir um valor extremo no comego da negociacao. Esse valor forma uma Ancora na mente do com- prador. E, se algum dia pretende pedir um aumento de salério, j4 sabe como fazé-lo! Enquanto estamos falando de comprar e vender carros, nao é interes- sante que geralmente valem mais para os vendedores que para os compra- dores? Isso acontece porque temos a percepgao de que algo que ja possui- mos vale mais que algo que nao temos ainda. E dbvio, certo? Se fomas nés que o compramos, é porque é coisa boa! Além disso, se alguém quer com- pra-lo ao preco que estamos pedindo, deve ser porque vale mais! Resumin- do, o “valor” de algo aumenta quando faz parte de nosso “patriménio” e pedimos mais para vendé-lo do que estarfamos dispostos a pagar para ad- quiti-lo. No mercado, queremos evitar dor. Nao queremos ver o prego de uma ago subir depois de a vendermos. Nao queremos nos sentir estépidos por- que vendemos barato (ou pagamos caro) demais. Assim pedimos mais do que pagariamos quando estamos vendendo e oferecemgs menos quando estamos comprando. Mas nao é nosso ego que determina o prego de um papel, o mercado faz isso, Quem exige um prego particular perde a oportu- nidade de negociar agora, neste momento, com o prego atual. Allen Funt, o psic6logo que inventou 0 conceito do programa de TV, Camera Indiscreta, nos fornece um outro exemplo de nossa inabilidade, ou habilidade, de valorizar as coisas. Ele colocou uns tubos de metal com uma asa em um extremo e uma rosca no outro 4 venda numa loja com o cartaz: “S6 hoje. 50% de desconto. $5,95!” Era um pedago de metal com- pletamente initil. Mesmo assim, sem saber 0 que era, algumas pessoas 0 compraram e, quando perguntadas por que, tinham razées para justificar a compra. Era barato, era uma boa oferta, era bonita... Quantas vezes vocé comprou algum papel “intitil” sé porque achava que era “barato”? Com- pre com a cabega, nao com as emogées! 150 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS O valor real de um papel, empresa ou contrato € facil de estabelecer. E © preco que um comprador est4 disposto a pagar e um vendedor esta dis- posto a aceitar. Nada mais, nada menos que o valor “de mercado” naquele momento. Inc! jacgdo e percepcao Em um estudo de 2004, “The effects of pro forma earnings disclosures on analysts’ and nonprofessional investors’ equity valuation judgments”, J. Frederickson ¢ J. Miller encontraram diferengas entre as decis6es de pro- fissionais e nao-profissionais. Descobriram que a metade dos nao-profis- sionais usa “heuristica”, sentido comum ou simples regras de dedo que au- mentam a probabilidade de resolver um problema — para fazer suas avalia- des, enquanto a maioria dos analistas profissionais confia em modelos so- fisticados ¢ bem-definidos. Em geral, os profissionais conseguem melhores resultados que os n4o-profissionais, mas este estudo nao implica que simples é ingénuo. Em seu trabalho “Heuristica Simples que nos Faz Espertos”, Gerd Gigerenzer e Peter M. Todd mostram que usar métodos simples para tomar decisées pode ser melhor que usar alternativos mais complexos. Parece ilégico, mas um ambiente incerto e complexo como o mercado obriga o investidor a to- mar decis6es com informagées limitadas em tempo real e, as vezes, sem ana- lisar todas as possibilidades. Decisdes rapidas, baseadas em alguns dados ba- sicos e regras chaves, podem servir tanto quanto métodos mais sofisticados. E dificil agir de forma racional quando pressionado pelo tempo e pela falta de informagao, ¢ quando nunca se sabe se uma decisao é boa até de- pois de tomd-la. Obviamente o trader acaba usando sua intuigéo para guid-lo. Mesmo os profissionais do mercado, com toda a tecnologia avan- ¢ada 4 mao, usam sua experiéncia e seu conhecimento para acelerar a to- mada de decisdes. Mas, para o investidor privado, com seus recursos limi- tados, treinamento precdrio e nenhum diretor para obedecer ou cotistas a agradar, a tentagdo de cortar caminhos e escutar aquele “feeling” na barri- ga é forte, mas nem sempre uma boa idéia. Nosso cérebro é uma maquina de procurar padrées e fazer sentido do mundo. Isso é 6timo onde existem padrées e sentido, mas onde nao exis- tem e onde o sentido depende de tantas variaveis que nem um computador consegue fazer sentido delas, é muito facil nos enganar. Quem nio viu a ilusdo ética de Muller-Lyer? Mesmo sabendo que as duas linhas so do mesmo tamanho, uma parece maior que a outra. Obarcoeosistema 151 —> >< E, se é to facil ser enganado comparando duas linhas, imagine como sera para o trader comparando uma oportunidade futura contra uma ou- tra. Ja vimos que temos uma nog4o peculiar de valor. Agora vejamos como essa percep¢do fica mais peculiar ainda quando introduzimos o elemento de tempo. Nossa percepcao de valor no tempo Alguma vez vocé fechou um trade antes que quisesse por medo de perder o lucro que tinha? Conhece alguém que vive queixando-se de seu peso, mas que prefere comer um prato de massa com molho quatro queijos a manter um regime? Em virtude de 100.000 anos de evolugao, valorizamos oportunidades proéximas (em tempo) mais que oportunidades distantes. Ou seja, um pas- saro na mao agora vale mais que dois voando (ou trés) na mao na semana que vem. Preferimos gratificag4o instantanea a promessa de uma gratifica- cdo maior no futuro. Uma atitude assim foi atil quando nossa sobrevivén- cia dependia dela, mas ndo é no mercado financeiro. O psiquiatra George Ainslie exemplifica essa dificuldade no seu livro de 2001 The breakdown of will. O titulo é um jogo de palavras, e traduz tanto como “Os componentes da vontade”, como “A pane da vontade”. Ele pergunta ao leitor se prefere receber R$10 agora ou R$10 amanha. Obviamente, todo o mundo responde que quer R$10 agora. Por qué? Por- que, em termos técnicos, “descontamos” o futuro, ou seja, em portugués simples, amanha poderemos estar mortos, atropelados por um Onibus, en- to é melhor pegar e gastar a grana hoje. Agora, ele muda a pergunta. O que vocé prefere, R$10 agora ou R$11 amanha? Hmmm, que dilema, hein? Ainda prefere R$10 hoje? Tudo bem, se fossem R$13 amanh4? Ou R$15? Para todo o mundo chega um momen- to onde receber R§X amanhé € igual a receber R$10 agora. Digamos que, para vocé, receber R$13 amanha é igual a receber R$10 hoje. Se realmente 152 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS tiver que fazer a escolha, seria uma decisao dificil, dado que ambas op¢des tém o mesmo valor. Mas se ele oferece R$10 na proxima quinta ou R$13 na préxima sexta é uma decisdo bem mais facil. Quando esta no futuro, es- perar mais um dia nao faz muita diferenga. A maioria de nés prefere receber R$10 agora a (por exemplo) R$13 amanhi, mas consegue esperar até a proxima sexta para receber R$13 em lugar de esperar até a quinta para receber somente R$10. A diferenga de R$3 éa mesma. Nao faz sentido. Segundo os expertos sofremos de “confli- to intertemporal”. Respondendo a uma série de perguntas deste tipo, é possfvel construir um grafico que mostra como uma pessoa desconta o futuro. Ainslie cons- truiu os seguintes graficos. Valor Tempo Neste primeiro grafico, a linha de pontos representa uma curva de “desconto exponencial”, a outra, “desconto hiperbélico”. Em ambos os casos, quanto mais perto chegarmos do prémio, mais o valorizamos e mais nos importa. Prémio Grande Valor Praémio Menor Tempo Obarceeosistema 153 Se nosso cérebro descontasse exponencialmente, como no caso do se- gundo grafico, se tivermos dois prémios de tamanhos diferentes disponi- veis em tempos diferentes, em todo momento darfamos preferéncia (mais valor) para o prémio grande, Este comportamento seria légico: um prémio maior é sempre melhor que um prémio menor. Infelizmente, sé os robds pensam assim. Nosso cérebro vem pré-programado com uma curva hiper- bélica. Prémio Grande Valor Prémio Menor Tempo Oterceiro grafico representa nosso caso. Quando um ser humano tem a op¢ao entre dois prémios, o menor mais perto que o maior, a curva hiper- bélica causa um periodo — justo antes da sua disponibilidade—de preferén- cia para o prémio menor. A tentag4o morde! O trader sai da posicao cedo com o pouco lucro que tiver, e alguém de dieta empanturra-se de bolo de chocolate! Conflito intertemporal nao € 0 nosso tinico problema. Querendo ou nao, todos temos “inclinagées” que atrapalham nossas decisées. Afortuna- damente, simplesmente sabendo disso, e questionando a racionalidade de nossas escolhas, amenizamos seu efeito. inclinagées comportamentais — a ilusdo de inteligéncia Ja vimos como o trader acaba generalizando, omitindo e distorcendo da- dos para fazer sentido de um mar de informagao. Ele manipula dados pu- ros—como preco, volume, lucros e dividas—criando indicadores técnicos e financeiros com os quais opera. Se o trader sabe como generalizar sem se enganar, omitir sem se expor a surpresas desagradaveis e distorcer sem destruir a utilidade dos dados, sua heurfstica é util. Ao contrario, existe 154 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS uma grande probabilidade de que acabe agindo (inconscientemente) con- forme suas inclinagées comportamentais inerentes. O dicionario define uma inclinagao (“bias” em inglés) como “uma pre- disposigao de gostar de algo, uma inclinagdo que atrapalha a consideragao objetiva de uma situagdo, ou que favorece um grupo ou opiniao sobre um outro”. Todos temos inclinagées, e na vida “real” nos ajudam muito, mas, no mercado, se nao sabemos que estamos operando sob sua influéncia, po- demos agir irracionalmente sem saber. E af comegam os prejuizos! Inclinacao de ter que entender tudo Cada jornalista financeiro orgulha-se em poder explicar por que a BOVESPA subiu 300 pontos. Quando cai 270 pontos, no dia seguinte, sem grandes mudangas no cenfrio politico ou econémico nas tltimas 24 horas, também consegue uma explicacdo de por qué. Alguém, em alguma parte, sempre “entende” o que esta acontecendo. Nosso mundo faz sentido. Como, geralmente, segue regras univer- sais e previsiveis, procuramos explicagées para tudo. Tudo que acontece é 0 efeito de alguma causa. Mesmo que esta ndo esteja aparente, “intui- mos” que algo, em alguma parte, é responsavel. A incerteza gera ansieda- de, mas uma explicagao (as vezes qualquer explicagdo) cria uma sensagao de confianga. Se sente a necessidade de explicar ou entender tudo, perderé muito tempo procurando explicagdes para os movimentos do mercado. E, sera que é possivel ganhar dinheiro com uma explicagio? E preciso entender por que o mercado est fazendo algo para se beneficiar com 0 movimento? Se o infeliz investidor também sofre com a inclinagao a perfeccionis- mo, talyez gaste sua vida inteira procurando o Santo Graal. lluséo da previsao Vocé esta numa sala e vé uma cadeira na sua frente. Vocé decide caminhar até a cadeira e sentar. Pergunta: Como sabe quando est4 sentado? Quando tomamos uma decisao de fazer algo, nosso cérebro cria ante- cipagdes, expectativas sobre o que deveria acontecer. No caso de sentar, ele antecipa nossos passos até a cadeira, o giro, a dobra das pernas ¢ a sen- sagao da cadeira nas nadegas e costas. Quando sentimos nosso peso na ca- deira, exatamente como antecipado, sabemos que a ag4o se completou, Obarcoeosistema 155 Durante cada minuto que passamos acordados, nosso cérebro esta an- tecipando o futuro e as conseqiiéncias das nossas agdes. Como cientistas, observamos 0 passado para poder criar hipéteses que prevéem o futuro. E um passo pequeno para seu cérebro comegar a fazer a mesma coisa no mer- cado. $6 que o mundo “real” segue as leis da fisica, o mercado nao. Até hoje, ninguém conseguiu prever o mercado com um alto grau de certeza. Cuidado com as expectativas que vocé cria a respeito do mercado. Se nao se realizam, podem afetar sua confianca ¢ auto-estima. lluséo da primeira impressao Dizem que quando encontramos alguém leva dois segundos para fazermos uma primeira impresso ¢ o resto da vida para corrigi-la. No mercado, formamos uma Ancora (lembra-se de Kahneman e Tversky?) com o primeiro pedaco de informa¢io, explicagdo ou opiniao que recebemos sobre algo. Dificilmente a soltamos e geralmente os ajustes que fazemos no sao suficientes. E, quando uma nova informagao que gera conflito com nossas opinides aparece, somos muito bons em ignorar ov dispensé-la, A inclinagao da primeira impressdo se manifesta na relutancia de fe- char um negécio ruim, ou na idéia de que o investimento ou posi¢ao atual tem que ser ganhador. Limita nossa habilidade de aprender e interessar-se por idéias e habitos novos. Inclinacao ao perfeccionismo A necessidade de explicar e a de perfeccionismo andam de maos dadas. Como gostamos de ter razdo e fazer a coisa “certa”, medo de errar e expec- tativas irrealistas podem aos imobilizar. Um trader perfeccionista tem medo de tomar riscos e s6 quer operar quando tiver certeza. Ninguém tem certeza no mercado ¢ se fosse possivel construir um sistema que n4o erra, provavelmente alguém mais inteligente que nés 0 teria feito. Quando errar é uma parte inevitdvel do jogo, quem nao quer perder fica atras de quem quer ganhar. 156 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS llusao de que informacdo é poder Dizem que informagao é poder, e 6, se usada corretamente. Ter muita informac4o sobre uma empresa ou um produto pode causar um excesso de confianga baseado em nada mais que a “familiaridade”. S6 porque sabe tudo a respeito de algo nao tem um poder de previsdo infali- vel. Da mesma maneira, nao saber muito nao impede de tomar uma deci- so. De fato, no mercado, vocé nunca terd toda a informag4o que gostaria, E importante saber filtrar 0 que é bom saber do que é imprescindivel para suas decisGes. Quem sabe 0 que quer saber, e como ach4-lo, tem uma grande vanta- gem sobre quem simplesmente acumula informagio. Inclinacao ao excesso de confianca Excesso de confianga pode ter sido titil nas guerras de atrito e duelos até a morte, nas quais sua aparente confianga causaria medo no oponente, mas 0 mercado nao liga para nossa postura. Com excesso de confianga entramos em situag6es arriscadas pensan- do que somos melhores, mais habeis e mais inteligentes que somos. Ve- mos 0 que queremos ver, freqiientemente subestimando as dificuldades inerentes ou o esforgo requerido para fazer uma determinada coisa. Fe- chamos nossos olhos aos elementos desagradaveis assumindo que pode- mos evita-los ou, se acontecerem, que nossa “superior” habilidade nos salvard do pior. Durante a bolha de tecnologia, investidores compravam e ganhavam. Suas carteiras valorizaram. Assumiram que seu sucesso era devido A sua ha- bilidade e esperteza. Nem contemplaram que todos os barcos sobem jun- tos com a maré. Compraram mais e ganharam mais. Como os pregos s6 su- biam, as evidéncias pareciam confirmar a idéia que suas decisdes eram boas e que seu sucesso se devia a sua inteligéncia. Isso criou um excesso de confianga. Todo o mundo sabe 0 que aconteceu depois. Quem tem excesso de confianga pode ser um azardo. Se algo tem uma chance de 5% de dar certo, s6 pensa nos 5%, e nao nos outros 95%, que dardo errado. $6 um imbecil entraria num duelo até a morte “achando” que maneja uma espada como o Zorro, mas quanta gente no mercado acha que maneja dinheiro como Warren Buffet? Obatcoeosistema 157 lusdo de controle Vocé sabe por que a loteria permite as pessoas escolherem seus ntimeros? Porque cria a ilusao de que podem influenciar 0 resultado e aumentar suas chances de ganhar. Mesmo se fosse 0 caso, os outros 10 milhées de pessoas pensando o mesmo cancelaria 0 efeito! Para 0 investidor, poder manipular bancos de dados ¢ indicadores também d4 a ilusao de controle. Como na loteria, é s6 escolher os ntimeros certos para ganhar uma fortuna! Manipular dados nao dé nenhum controle sobre 0 mercado, mas ma- nipulé-los para criar um sistema completo que inclui pontos de entrada, pontos de saida e uma metodologia para sacar 0 melhor rendimento do ca- pital pode dar um bom controle sobre vocé mesmo. lusdo da responsabilidade e seguranca em nimeros Boletins, newsletters, gurus, brokers, chats ¢ vendedores de sistemas exis- tem porque nao gostamos de tomar responsabilidade para nossas decisées. Preferimos delega-la, ouvindo de outras pessoas 0 que deveriamos fazer. E, se outras pessoas fizeram parte de uma decis&o que deu errado, de certa forma, n4o era inteiramente nossa culpa. Também procuramos seguranga em numeros. Sentimos mais confian- ga quando outras pessoas concordam conosco. Isso é uma das raz6es por que tantas pessoas ficam nos chats da Internet comentando suas opera- es, perguntando 0 que outras pessoas acham de tal coisa ou tal empresa. Pensamos que quanto maior a quantidade de pessoas que concordam numa avaliag4o, maior a chance de que essa avaliagao sera correta. Quando sentir a necessidade de ouvir o que deveria fazer ou o que ou- tras pessoas pensam de suas idéias, pergunte-se: Por que sera que preciso de alguém para me dizer 0 que fazer? Por que é importante que alguém concorde comigo? Sera que 40 confio em minhas préprias avaliagées e opinides? Também, nao sao poucas as “feras” do mercado que aconselham fazer 0 oposto da manada. Inclinagao conservadora Dizem que em um mercado “bull” (subindo) as noticias ruins s4o ignora- das e, em um mercado “bear” (caindo), as boas. 158 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Essa inclinagao prediz que as pessoas reagirao menos que poderia ser esperado quando apresentadas a novas informagées, e mais que poderia ser esperado quando a informago similar se repete. Por exemplo, considere uma seqiiéncia de boas noticias, uma atras da outra em um padrdo de sucessivas surpresas positivas. Com certeza isso causa reagGes entusidsticas entre os investidores que compram mais e mais, cada noticia boa confirmando sua boa compra. Agora considere uma seqiiéncia de boas noticias seguidas por mas. As més criam confusdo e indeciséo. Tém um menor impacto no mercado de- vido a inclinagao conservadora — o medo de perder — dos investidores. lluséo de representacao Quando: © avaliamos probabilidades conforme a maneira com a qual a infor- magao se assemelha a um padrao ou teoria reconhecidos, © prestamos pouca atencdo ao tamanho de uma amostra, * prestamos pouca atengao as probabilidades passadas e a previsibili- dade do resultado futuro, * ignoramos informagées contrrias as nossas idéia: acabamos pensando que se algo parece com “algo”, deve ser aquele mesmo “algo”. Por exemplo, vejo algo que parece com uma “cabeca c ombros” em um grafico, ¢ assumo que deve ser uma “cabega e ombros”. Com a ilusao de representagao, cremos que algo é 0 que diz ser. Pensa- mos que um grafico de 15 minutos representa a “atividade” de um papel a cada 15 minutos, e nao que é simplesmente uma série de pregos recorda- dos a intervalos de 15 minutos. Esquecemos que 0 grafico incorpora gene- ralizagGes na manipulagao e representagio do preco, omiss6es como 0 vo- lume e quem sAo as participantes ¢ que é uma distorgao da realidade. Re- presenta, mas ndo é a realidade. Mesmo assim, isso é a informag4o que usamos para operar, e freqiien- temente a distorcemos mais ainda aplicando algoritmos ou indicadores como ADX, médias méveis, MACD, stochasticos e Bollinger bands. Pen- samos que estamos no controle, com o dedo no pulso, mas sera que o que estamos vendo € 0 que pensamos que estamos vendo? Sera que nossa per- cep¢io é melhor ou mais limitada? Obarcoeesistema 159 Considere um sistema casciro— qualquer tipo de sistema — dando sinais de compra e venda. S6 porque da sinais ou identifica padrées ndo quer di- zer que funcione. © Como sabe que os dados que usa para operar sao confidveis e que nao contém erros ou fathas? © Como sabe que a “légica” que estd usando, a teoria na qual se baseia seu sistema, realmente € légica? Seo sistema é informatizado, como sabe que o cédigo realmente faz 0 que vocé acha que esta fazendo? Voct entende cada linha? © Como sabe se mede o que deve medir, ou captura os padrdes que deve capturar? Testou manualmente? Vocé saberia identificar se o sistema est4 dando sinais erroneamente ou se nao dé sinais quando deveria? © Como sabe que 0 sistema funciona de verdade? Ja testou? Como? Com quantos meses de dados histéricos? Temos a inclinag’o para confiar que as coisas s40 o que dizem ser sem. questionar. Inclinacao para crer na lei de pequenos numeros Quando viviamos na selva, a lei de pequenos nlimeros era uma ajuda na so- brevivéncia. Se seu antepassado ficou doente e, refletindo, decidiu que a culpa era daquela r4 laranja e vermelha que comera, nao faria nenhum mal se evitasse comer ras laranjas e vermelhas no futuro. Talvez essa decisio lhe salve a vida. Editoras de newsletters ou vendedores de sistemas sabem que esta lei ainda reina hoje. Por isso destacam suas operagoes € idéias ganhadoras e varrem as perdedoras para debaixo do tapete. Com um ou dois bons exem- plos “provam” sua teoria. Quem cré na lei de pequenos nimeros acha que cada segmento de uma seqiiéncia reflete as mesmas caracteristicas. Pensa que, se seu amigo Fula- no ganhou R$900 esta semana operando com um contrato no mini usando um sistema que achou na Internet chamado de “Exponencial salsicha ar- madilha”, ele pode fazer o mesmo na semana que vern. Também pensa que seo teste de seu novo sistema deu certo com os dados do més passado, dara certo no més que vem. Sera? Tudo bem, pode dar certo, entao v4 em fren- te. Mas nio com meu dinheiro. 160 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Inclinacao da hipétese Quando temos uma opinido, uma idéia ou uma hipétese, estamos muito bons em ver, ou procurar, evidéncias que a corroboram enquanto nao per- cebemos, ou nd0 procuramos, evidéncias ao contrario. Quando tinha 18 anos de idade inventei um sistema “infalivel” de ga- nhar a roleta. Era sé apostar no vermelho depois da bola cair duas vezes se- guidas, em uma caixa preta, e dobrar a aposta, acrescentando um, cada vez que perdia. Fui diretamente ao cassino onde ganhei com —o que era para um estudante — uma pequena fortuna. Minha teoria foi confirmada! Seria rico! Nao dormi aquela noite e voltei no dia seguinte com a intengdo de quebrar o cassino. Quinze minutos mais tarde voltei para casa sem um tostdo. Fiquei tao entusiasmado com minha teoria “original” que: * Assumi que ninguém havia pensado nela antes. ‘40 sabia que existia um limite maximo para as apostas — algo que impedia que este sistema funcionasse. * Arredondei meus calculos, assumindo que a probabilidade de ga- nhar era 50% e nao 48,6%. Pensei que uma caixinha verde {ntimero zero) no faria muita diferenga no resultado. * Nao pensei que, estatisticamente, esperar duas pretas seguidas nao faria nenhuma diferenca. A probabilidade de a bola cair em uma cai- xa vermelha era sempre 48,6%, nao importando se tivesse cafdo em uma ou 50 caixas pretas antes. © Tinha dinheiro suficiente para dobrar minha aposta seis vezes. Assu- mi que uma seqiiéncia de nove pretas seguidas (duas para comecar a apostar, mais seis dobrando a aposta, mais uma nona para perder tudo) era t40 pouco provavel que n4o iria acontecer nunca, Uma se- qiiéncia de oito e uma de nove no espaco de uma meia hora destrui- ram meu sonho! lluséo de que entendemos probabilidade e chance Enquanto os académicos discutem se os movimentos do mercado sao alea- térios, os traders ganham dinheiro com eventos que, segundo a teoria dos académicos, nao deveriam acontecer mais que uma vez a cada 100 anos. Como vimos na discussdo sobre valor, o ser humano tem uma grande dificuldade de pensar de forma probabilistica. Para nossos olhos leigos, coisas que parecem ser aleatérias nao sao, e coisas que parecem ter uma ex- plicagéo nao tém. Obarcoeosistema 161 470 160 Qual a curva aleatoria? Uma das curvas neste grafico foi criada coma fung4o que gera ntimeros aleatérios no Excel. A outra, a mais fina, representa a empresa Internatio- nal Power da FTSE entre 1/1/2005 ¢ 25/4/2005. Um passatempo favorito de investidores é procurar fundos para com- prar € os picos para vender. Se o mercado fosse aleatério, isso seria total- mente impossivel. Os picos ¢ fundos ocorreriam em momentos aleatérios, impossiveis de prever. Em um mercado “quase” aleatério, é “quase” im- possfvel encontré-los! Masisso nao nos impede de tentar e achar alguns. Curiosamente, os mesmos padrées que usamos como sinais de entrar e sair do mercado, freqiientemente aparecem em graficos construfdos com dados verdadeiramente aleat6rios. O que isso implica para esses padrées? Inclinacao de ver rostos nas nuvens No passado, o ser humano era predador e presa. Para sobreviver, tinha de encontrar alguns animais que serviam de comida e evitar aqueles que que- riam comé-lo, Qualquer movimento, sombra ou barulho no mato podia indicar uma barriga cheia ou a morte. Os membros de nossa espécie que se sobressairam detectando esses padres sobreviviam melhor e, aos poucos, os mecanismos de deteccao evoluiram. Evoluiram tanto que detectavam 162 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS coisas que nao estavam 14, e qualquer rufdo ou sombra atrafa a atengao de- les, ou os fazia pular de susto. Perceber coisas que nao estavam 4 — falsos positivos — n3o era um problema, porque essas “intuigdes” eram faceis de descartar. Por outro lado, nao perceber coisas que estavam 14, entretanto, podia ser fatal. Hoje em dia ainda temos aqueles mecanismos que continuam procu- rando padrées e detectando coisas que nao esto 1a. S40 eles: rostos nas nu- vens, as segundas inten¢6es nas acées e palavras de outras pessoas, ameagas terroristas, conspitagdes governamentais, a existéncia de alienigenas e, quem sabe — blasfémia! — ntiimeros de Fibonacci, ondas de Elliot, e um monte de outros “padrées” e “indicadores” que usamos para operar. Sera que realmente “existem”? Podemos prova-lo? Esta inclinagao induz o investidor a procurar padrées, razdes e expli- cagées, forgando-o a concentrar-se no mercado e nao em seu sistema. Tal- vez, em lugar de se concentrar em identificar coisas que podem ou nao existir, o trader deveria test4-las matematicamente antes de inclui-las na légica de seu sistema. Inclinagao do jogador Num jogo de roleta, depois de cair cinco vezes no vermelho, a chance dea bola cair no preto é bastante alta, certo? Jogando com uma moeda, depois de tirar trés coroas seguidas, a probabilidade de tirar uma cara é mais alta que a de tirar uma outra coroa, certo? Depois de um més subindo, a ten- déncia no mercado deve estar para reverter, certo? Quando perde em uma operagio, é uma boa idéia dobrar o tamanho da préxima posigao, certo? Depois de pegar quatro stops seguidos, na quinta operagio tem de ganhar, certo? Jd teve duas operacées ganhadoras. Entao, na terceira, seria melhor reduzir o ntimero de contratos porque tem mais probabilidade de perder. Certo? Se vocé respondeu “sim” alguma vez, feche sua conta de investimentos agora, compre um livro de estatistica ¢ probabilidade, e estude-o. Ilusdo de que mais é melhor Graus de liberdade é um termo usado por cientistas e engenheiros. Hé4 va- rias definigdes: o nimero de estados possiveis num sistema, o nimero de coordenadas necessdrias para especificar o movimento de um sistema me- Obarcoeosistema 163 cAnico, ou o mimero de informacées independentes necessérias paca esti- mar um parametro. Seu braco tem sete graus de liberdade. Trés movimentos no ombro, dois no cotovelo e trés no pulso. Um sistema usando uma média mével de 60 dias tem um grau de liberdade e um com trés médias méveis, ADX, candle-sticks, Fibonnacei e RSI tem mais que sei contar. Cada indicador usado acrescenta um grau de liberdade. Um sistema com mais graus de liberdade tem mais flexibilidade. Usando muitos indica- dores e varidveis € posstvel otimizar um sistema até prever perfeitamente o passado. E muito gostoso ver seu sistema pegando todos os pontos de en- trada e saida num banco de dados histéricos. Um sistema otimizado da confianga. Infelizmente, isso nao significa que o mesmo sistema funciona- r4 no futuro. Um panda é um “sistema” (biolégico) perfeitamente otimizado para viver numa floresta de bambu. Mas como ha cada vez menos florestas de bambu, é facil adivinhar o que vai acontecer com os pandas. Ao contrario, um vira-lata ndo é tao bonito quanto um panda, ¢ as vezes pode sofrer de sarna, mas tem bem mais chances de sobreviver em qualquer ambiente onde o deixam. Além de ser mais simples, um sistema com menos indica- dores—menos graus de liberdade — é mais robusto e menos sensivel. Supor- tamelhor as mudangas ¢ tem mais chances de funcionar no ambiente varia- vel do futuro. Quem sofre desta inclinagéo pode complicar seu sistema com indica- dores ou filtros na ilusao que “mais é melhor”. Nao é necessariamente ver- dade. Um sistema que usa uma heuristica simples, além de ser bem mais f4- cil de entender e diagnosticar, pode funcionar tao bem quanto um sistema mais sofisticado. Inclinacdo ao otimismo Pensar positivo é uma qualidade. Mas pensar que o pior ndo vai acontecer éuma boa forma de acordar um dia devendo uma fortuna ao seu corretor. Um dos objetivos de curto prazo de um sistema deve ser o de manter 0 trader no jogo até que este atinja seus objetivos de longo prazo. Osistema deve impedi-lo de fazer algo que possa prejudicar sua participagao futura no mercado ou lev4-lo a receber uma cacetada letal. A idéia n’o é ser um pessimista, mas simplesmente operar de acordo com o fato de que coisas ruins podem acontecer. Por exemplo, levar em conta o maximo ntimero de operagées perdedoras seguidas ¢ o valor do 164 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS drawdown maximo que possa esperar ajuda a adaptar o tamanho das posi- Ges e reduzir sua exposicao ao risco. Claro, €impossfvel saber exatamente esses niimeros, mas testar o sistema deve dar valores para o pior trade, um ntimero de trades negativos seguidos e a pior queda (pico-fundo) no capi- tal. Uma estimativa inteligente é melhor que nada. O problema é que nio é preciso ser um génio para perceber que reduzir 0 risco também reduz as expectativas de ganhos. Como o objetivo de en- trar no mercado era ficar rico, isso nao faz muito sentido. Aqui entra a in- clinagao ao otimismo: como achamos que 0 pior nao vai acontecer, para que queremos reduzir 0 risco? Inclinagéo do kamikaze ou Bambi Cada trader conhece o lema: “Corte os prejuizos e deixe os lucros cresce- rem.” Mas com tantos perdedores no mercado a maioria deve estar fa zendo justamente 0 oposto, agindo como Bambi quando tem lucro — caindo fora rapidamente com medo de perder o que tem — e kamikazes quando tem prejuizo — cruzando os dedos e esperando que uma situagdo ruim melhore. Por que fazemos isso? Porque enfrentamos o prejuizo e o lucro de ma- neira diferente. Considere os seguintes dilemas. Vocé esté comprado com um prejuizo de R$7.000. Vocé analisa a si- tuagao e percebe duas opgGes. A primeira é vender agora, perdendo defini- tivamente R$7.000. A segunda é esperar mais uma semana. Vocé calcula que existe uma chance de 10% de que o mercado vire, assim deixando vocé recuperar seu prejuizo. E um risco, e se nao der certo, vocé acha que acabar4 com um prejuizo total de R$9.000. O que vocé faria? Agora, em uma outra operacdo vocé tem R$8.500 de lucro. O merca- do esta ameagando virar, mas vocé calcula que, esperando mais alguns dias, existe uma chance de 85% de que seu lucro aumente para R$10.000. Se o mercado vira, deixara vocé com a metade do lucro, uns R$4.250. O que vocé faria? No primeiro exemplo, matematicamente falando, se cortou seu prejui- 20, vocé fez “certo”. Se sempre age dessa forma neste tipo de situacao, a mateméatica diz que acabar4 perdendo menos do que a pessoa que espera. O prejuizo provavel de quem espera seria R$8.100, bem maior que os R$7.000 garantidos, Prejuizo provavel = (0,1 x -0) + (0,9 x -9.000) = -R$8.100 Obarcoeosistema 165 O que vocé fez? Esperou ou vendeu? No segundo exemplo, a probabilidade favorece quem deixa os lucros crescerem. Esperando, o trader “provavelmente” iria ganhar R$9.137,em lugar dos R$8.500 que conseguiria vendendo na hora. Lucro provavel = (0,85 x 10.000) + (0,15 x 4.250) = R$9.137,50 O que vocé fez? Esperou ou vendeu? Este é somente um exemplo. Na vida real vocé nunca calcularia a pro- babilidade de um cen4rio com tanta precisao. O que importa é como vocé tomou sua decisdo, se vocé usou sua intuicao, “sentindo” a resposta, ou se fez algum cAlculo “matematico” usando a cabega? Inclinacao a retrospeccdo Retrospecgao — “hindsight” em inglés — é a compreensdo da natureza de um evento depois que 0 evento aconteceu. Ja nao disse? Quando j4 temos uma opinido, senumes um desconforto quando des- cobrimos uma nova informagao ou perspectiva que abala nossa versdo da verdade. Sofremos uma espécie de “disson4ncia cognitiva”. Sea nova informagao contradiz algo que achamos que sabemos, tende- mos a resistir a ela. A seguranga do st.utus quo é sempre mais agradavel que ainseguranga da mudanga. Embora. se estrvermos obrigados a aceitd-la, ea aprendizagem for dificil, dolorosa ou humilhante. nunca admitiriamos que 0 novo contetido nao é importante. Fazer isso seria como admitir que fomos “enganados” ou “burros” originalmente. Por exemplo, considere o trader que pagou um bom dinheiro para fa- zer um curso de andlise — ou comprar este livro! Digamos que estudou mui- to para entender 0 contetido, mas quando tenra explica-lo para uma outra pessoa, esta produz evidéncias que implicam que o curso nfo vale para nada e que a andlise nao funciona. Esta nova informagao cria um choque, uma dissonancia cognitiva que se manifesta em uma sensac¢do de mal-estar. Se o trader aceita essas novas evidénciass. deve admitir que errou, ¢ que jo- gou seu dinheiro fora. Vai se sentir pior ainda! E nao acaba af—depois teria que investir mais tempo e mais dinheiro em um outro curso. Alternativa- mente, pode nao aceita-las e procurar evidéncias convenientes que apdiam sua posigao original e aliviam a desagradavel dissonncia cognitiva. Se nada obriga o trader a mudar sua posicao. a tendéncia serd de seguir 0 ca- minho mais facil, ou seja, nao assimilar as novas informagées. 166 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Um outro exemplo comum € o do trader que analisa 0 mercado deta- lhadamente e faz previs6es do que este vai fazer. Um trader flexivel reco- nhece que sua previsao simplesmente representa um dos muitos cendrios possiveis. Se o mercado age como espera o trader, estar pronto para capi- talizar no movimento e, se nao, simplesmente fard uma outra andlise - nao haverd nenhuma reacdo emocional. Entretanto, o trader que padece da in- clinac4o A retrospeccdo sofrerd uma dissonancia cognitiva se o mercado nao obedece A sua andlise. Na cabega dele, ou ele ou o mercado esté errado. E, mesmo que ele nao queira aceitar, a tinica conclusao racional € que é ele. Isso pode causar raiva, frustragao, confusac ou depressao, nada do qual é necessario. Ele ndo errou, ele simplesmente confundiu um cenério possivel com a realidade. O exemplo final € 0 do trader que abre uma posigao para ver, logo de- pois, o mercado virar contra ele. O trader flexivel sabe que isso pode acon- tecer e tem seu stop preparado. O trader com dissondncia cognitiva nao consegue assimilar a diferenga entre a realidade externa observada ¢ sua realidade interna — 0 que “deveria” acontecer. Ele é capaz de refazer sua andlise para justificar a nova situag4o. Por exemplo, um “day”-trade acaba sendo um “semana”-trade. Nao consegue mudar a realidade, entéo muda suas interpretacées. O trader que age assim veleja num barco sem timao. Inclinacao 4 supersticao Retornamos ao psicélogo americano Burrhus Frederic Skinner, que mos- trou que seres humanos — como macacos, pombas e cachorros — tém a ten- déncia a repetir comportamentos para os quais recebem um prémio ea de- sistir dos que nao. E evidente que aprenderfamos um comportamento rapidamente se re- cebéssemos um prémio cada vez que acertassemos, mas Skinner também mostrou que aprendemos igualmente rapido quando recebemos 0 prémio em apenas algumas das vezes que acertamos. Ele chamou isso “reforgo va- ridvel”. Dificil crer? Pois que tal a proxima observac4o: quando animais (seres hu- manos incluidos) recebem prémios aleatoriamente, sem nenhuma relagio com seu comportamento, desenvolvem comportamentos supersticiosos. Como trader, vocé sabe exatamente quando vai ganhar? Nao. E quando ganha, os ganhos vém aleatoriamente ou com intervalos varidveis? Vocé sa- beria me dizer a diferenga? De qualquer forma, segundo a teoria de Skinner, cada prémio que o trader recebe reforca seu comportamento atual. Obarcoeosistema 167 Agora considere isso... o trader que usa —e segue — um sistema “mecA- nico” sempre opera com as mesmas regras rigidas e objetivas e pode mu- da-las quando nao dao certo. Mas um trader “intuitivo”, por definigao, no é tao objetivo. Suas regras variam. Se vocé é um trader que usa seus ins- tintos para operar, como vocé sabe que suas operagées nao séo nada mais que um comportamento supersticioso desenvolvido, inconscientemente, devido ao reforgo aleatério? Inclinacao ao status quo Preferimos as coisas como sao e nao gostamos de mudangas. O diabo co- nhecido é melhor que o diabo desconhecido. Com esta inclinagdo, quando avaliamos uma situagdo, as desvantagens de mudé-la parecem maiores que as vantagens. Se parecesse que as mudangas poderiam piorar a situagao mais que poderiam melhoré-la, prefeririamos nao fazer nada. E por isso ficamos com posigées perdedoras tanto tempo. A perda que temos € preferivel A que poderiamos ter se fizéssemos algo. Decidimos es- perar, somente saindo quando nao agiientamos mais ¢ a situagao é tao ruim que a mudanga ~ fechar a posigd4o e aceitar o prejuizo — nao poderia piord-la. Inclinacao a recuperar Pensamos de forma relativa. Algo é bom, ou ruim, relativa 4 outra coisa. Digamos que um trader perdeu 20% com STUVS. Admite seu erro, mas, em lugar de vender, jura que se 0 prego voltar ao prego de compra vendera e nunca mais repetird o mesmo erro. Parece familiar? Pensando assim, o trader se engana duas vezes. Primeira, o dinheiro jé era, Seu “prejuizo” n4o existe, 6 um conceito relativo a um valor passado, 0 que existe agora € 0 saldo atual da sua conta. Nao ha nada a recuperar. A partir de agora, s6 pode ganhar ou perder. Segunda, nao importa onde ele “recupere”. STUVS nao lhe deve nada. Nao é uma conta no vermelho que tem que saldar. Dinheiro é dinheiro, no importa de onde vem, e tem centenas de outras empresas que podem oferecer uma melhor rentabilidade que STUVS. Por que ficar em STUVS s6 para recuperar 20% perdidos—o mesmo que ganhar 25% com 0 capital atual — se pode ganhar 40% em outra empresa? 168 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Conclusao Nosso cérebro nao € desenhado para sobreviver num mundo virtual de in- certeza e probabilidade. Esta desenhado para sobreviver num mundo real de causa-efeito onde um passaro na mio vale mais que dois voando. Todos temos inclinagées. Talvez nao todas, mas certamente algumas. Existem porque eram — s4o? — titeis. Existe cura? Existe cura para a iluséo Mul- ler-Lyer? Nao, mas podemos mediras linhas com uma Tegra se tivermos al- guma divida, No mercado, como sabemos se estamos sendo enganados pelas incli- nag6es que nao sabemos que temos? Pois, sem usar aleuma “regra” dificil- mente vamos saber. Felizmente, sabendo que existem ¢ questionando nos- sos motivos com a pergunta “Ser4 que estou me enganando?”, fara com que pensemos duas vezes antes de agir. E melhor que nada, mas, para anu- {4-las definitivamente, como pilotos de caga como o Coronel Boyd, temos que aprender a confiar em nossos instrumentos a bordo, e ndo nos nossos sentidos. Prejuizos Sejamos francos. Prejuizos causam medo. Depois de uma série de stops, a confianga de qualquer um sofre. As vezes, no fundo do pogo, fica dificil to- mar decis6es, outras, ficamos paralisados sem saber 0 que fazer. Ter medo pode ter varias significag6es. Por exemplo: © Est arriscando mais do que suporta perder. © Falta confianga no sistema. * Nao consegue lidar com perdas. Arriscando mais Se no suporta o tamanho dos seus prejuizos, reduza o tamanho de suas posigdes até um nivel mais confortavel. Vocé esta arriscando mais que deveria. Se encontrar resisténcia quando pensa em fazer isso, parte de vocé nao quer abrir mao de algo enquanto outra parte quer agir racionalmente. O que ser esse “algo”? Por que vocé insiste em operar com grandes Pposi- ges? Esté com pressa? Est4 esgotando seu tempo? Acha que hé poucas oportunidades no mercado? Nao seria mais légico comegar com posicées Obarcoeosistema 169 pequenas, aumentando-as conforme vocé vai aprendendo? Se nao conse- gue resolver o conflito pensando a respeito dele, resolva-o usando 0 méto- do explicado neste livro. Falta de confianca no sistema Como mencionado, uma série de prejuizos nao significa que um sistema nao esteja funcionando. Mas, devido a sua inclinagdo a lei de pequenos né- meros, isso é exatamente 0 que muitos traders pensam. Depois de alguns prejuizos, decidem que o sistema nao serve ¢ procuram outro. Por isso € importante conhecer as caracteristicas de seu sistema. Quantos prejuizos teriam de acontecer para poder afirmar que a culpa é do sistema? Se nao sabe, teste-o com dados histéricos para entender como se comporta em varios tipos de mercado. Se seu medo realmente se deve a uma falta de confianga no seu sistema, pare de operd-lo. Vocé nao entraria num duelo com uma pistola defeituo- sa, entao para que entrar no mercado? Teste-o com dados histéticos, e nao volte a operar até convencer-se de que funciona — ou encontrar outro. Novamente, se encontra resisténcia a fazer isso, tente resolver o confli- to com o exercicio. Inabilidade de lidar com perdas Se vocé simplesmente nao consegue lidar com perdas, bem-vindo 4 huma- nidade! E normal ter medo de perder e fazer de tudo para evitar perdas. Masa realidade do mercado é que tem que perder para ganhar. Quem nao aceita isso, deve procurar uma profissio mais estavel ~ funciondrio publi- co, por exemplo. vezes, nosso medo aparece porque confundimos o processo de per- der com o ato. Um prejuizo, ou uma série de prejuizos, nao faz um perde- dor. De fato, um trader pode perder muitas vezes, mas se a soma das perdas € menor do que a soma dos ganhos, é um ganhador. Mesmo assim, se a idéia de perder afeta suas operagdes, pode usar o que vocé sabe de pensamentos, submodalidades e valores para explorar seu conceito de perder. O que acontece com vocé quando pensa em per- der? O que significa perder para vocé? O que acontece com vocé quando pensa em perder dinheiro? Que significa perder dinheiro para vocé? Por que nao perder € t4o importante? 170 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Formas de enquadrar prejuizos Como um dos nossos entrevistados disse, estar obrigado a perder da liqui- dez ao mercado. Seus prejufzos s4o 0 custo de fazer negécios. £ uma boa maneira de vé-los. Poderiamos argumentar que esses prejufzos nado sio nem verdadeiros “erros” porque, se seu sistema acerta 60% do tempo, quatro em cada 10 operagées perderao. i o custo inevitavel de operar. O outro tipo de prejuizo que existe realmente é 0 erro: erros operacio- nais ou de anilise. Estes sao oportunidades de aprender. Também sao cus- tos. O custo de sua aprendizagem. Estude-os. Existem outras formas de enquadrar prejuizos. Podem amenizar a dor, mas nado sdo sempre titeis. Irreais Conhece as frases: “Um prejuizo nao é um prejuizo até fechar a operagio” e “Prejuizos sao somente no papel”? Sera que isso é verdade? Digamos que gastou R$10.000 em acdes que deram R$2.000 de prejuizo “no papel” — ser4 que alguém trocaria tudo isso por R$10.000 em dinheiro? Duvido. A outra pessoa perceberia o prejuizo como real. Temporarios JA mencionamos como pessoas se convencem que tém que “recuperar” o que perderam. Quando vocé tem essa mentalidade, vocé esta fazendo uma separac4o mental entre o dinheiro que “esta” na sua conta e o dinheiro que “estava” nela. E como se vocé percebesse o prejuizo como algo tempora- rio, ou como dinheiro que ainda é seu. Arealidade é que o dinheiro ja era. Est4 na conta de outro trader. Ago- ra é dele, ndo é mais seu. A tinica forma que vocé tem de “vé-lo novamen- te” é de seguir seu sistema usando o dinheiro que restou. E, digamos que vocé perdeu 50% de seu capital, ganhar esses 50% “de volta” é exatamente © mesmo que ganhar 100% com o capital restante. Se seu sistema era tao bom a ponto de ser capaz de ganhar 100%, provavelmente vocé nio teria perdido 50% em primeiro lugar. Caia na real. Esque¢a o que tinha e prote- ja 0 que tem agora, no presente. Obarcoeo sistema 171 Porcentagem Um prejuizo pode ser visto como uma quantidade de dinheiro ou uma por- centagem de sua conta. Obviamente, R$1.000 perdidos so R$1.000 per- didos, quer sejam 50% de sua conta ou 1%, entretanto, as vezes, pode ser mais confortavel vé-los como uma porcentagem. Considere um trader operando um sistema testado e confiavel, com capital de risco que pode perder, que entra num periodo de drawdown aterrorizante, mas inferior ao pior drawdown que poderia esperar de seu sistema. Se o trader olhasse seu prejufzo como dinheiro perdido — ou pior, como uma lista de coisas que poderia ter comprado com ele - sua confian- a poderia ficar abalada e as dividas comegariam a aparecer. Entretanto, tomar uma atitude mais distante e fria e pensar nos prejuizos como uma porcentagem pode ajudé-lo a agiientar e continuar operando. Tempo O tempo cura todas as feridas. Isso é bom, mas nao sempre quando vocé esté com uma posicao perdedora sem um plano. Imagine que vocé errou na sua andlise e ABCD4 acaba de despencar de 99 para 91. Seu stop esté em 90 e seu prejuizo é de R$2.000. Investir é assim, certo? As vezes, se ganha, e outras, se perde, vocé se diz. Mas ainda n4o tocou 0 stop, ainda tem esperanga. Vocé cruza os dedos e fica de olho. Durante uma semana, ABCD4 oscila entre 91 e 95 e 0 grafi- co comega a mostrar sinais positivos. Talvez volte para 99, vocé pensa. De- pois, sem nenhuma razao aparente, na abertura da sexta-feira, o prego des- penca para 89. Vocé fica paralisado. Estava mentalmente preparado para vender em 90, mas agora o prego € 88. Nao é possfvel que caia tanto sem motivo. Vocé notou algumas vendas grandes de corretoras e bancos importantes. Devem estar manipulando o mercado. Provavelmente muita gente tinha seu stop a 90, Seria estapido vender agora. Os tubarées esto pegando os stops das sardinhas. Vocé decide ficar. O prego deveria voltar acima de 90 quando a fumaga se assenta. Nao vende, e tem o fim de semana para con- templar. Talvez a semana que vem ser4 melhor. O prego oscila entre 87 e 90 durante uma semana. Vocé jd nao pensa em voltar a 99, seu preco de compra, mas qualquer coisa acima de 90 seria bom. Sem aviso, ABCD4 comega a cair. Algumas ordens grandes de venda levam o preco para baixo. Para em 85, Agora esta com raiva. Ficou tao pre- 172 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS ocupado em recuperar seu prejuizo que nao tinha contemplado uma nova queda. Nao sabe 0 que fazer, e se cobra por nao ter vendido a 90 quando ti- nha a oportunidade. O prego oscila durante alguns dias, até vocé perceber que estd oscilan- do para baixo: 85, 84, 85, 84, 83, 84, 83; R$4.000 de prejuizo! 16%! Bom, 16%, nao é tanto assim, 25% seria ruim. O preco cai um pouco mais. 81. Agora sao 18%? Qual é a diferenca entre 16% e 18%? Pouca coisa. Agora perdeu tanto que é melhor esperar mesmo. Tem que subir emalgum momento. O prego fica entre 81 e 85 durante um més. Vocé se acostuma com 0 novo prego e com seu prejuizo. Déi, mas ndo tanto como antes. Que o pre- co volte para 99 é um sonho distante. Agora, se chega a tocar 90, vocé ven- derd sem dor na hora. Como acostumou, tita seu olho da bola. O preco cai novamente. Chega a 79 antes de perceber. Comprou com 99 e agora vale 79. Vocé calcula quanto dinheiro perdeu e sente-se mal. Jura que aprendeu aligdo, e se volta para 85 venderd. Mas cai de novo para75,¢ agora vocé sé reza para que volte para 79. J4 esqueceu seu stop original de 91, Agora s6 quer recuperar um pouco antes de vender. Se aparece qualquer rallyzinho vocé vender, j4 sofreu o bastante. Nao sobe, continua caindo, e nao para até chegar a 65. Agora vocé se sente como um coelho nos fardéis de um carro. Paralisa- do, Nao sabe 0 que fazer. Vocé sabe 0 que deveria ter feito, e o que nao fez, ese cobra por ter sido tao estipido e despreparado. Sabe que tem que ven- der, mas realizar um prejuizo tio grande déi muito. E dificil crer que isso aconteceu. Até abre o Homebroker com a intengao de vender a 65, mas sua resoluc4o desaparece quando vé que o melhor prego que consegue é 63. Tem que subir. Nao é légico que o prego tenha caido tanto. Nao sobe, e finalmente n4o agiienta mais. Vende a 60 e, como toda boa historia do mercado, 0 prego bate 59 e toca fundo. Seis meses mais tarde ABCD4 alcanga 110, mas nao importa, vocé nao esta vendo. Jurou nunca mais tocar naquele papel. Prejuizo explicado Quando entram numa posigao perdedora, alguns traders procuram expli- cagdes. Uma boa explicagao de “por que” o mercado fez o que fez ameniza a dor do prejufzo. Nao traz o dinheiro de volta e, as vezes, nem ensina como evitar situagdes parecidas no futuro, mas os deixa se sentindo justifi- cados e menos estipidos. Estao perdendo dinheiro, mas pelo menos enten- Obarcoeo sistema 173 dem por qué. Também tém uma boa histéria para contar — sao vitimas da imprevisibilidade do mercado. Valentes perdedores. A realidade dos prejuizos Preste atencdo na seguinte tabela. Mostra por que é importante cortar os prejuizos logo. E facil de entender: se perder 15% de seu capital, precisa ganhar 17,6% com o capital restante para recuperar 0 prejufzo. Perdeu: 5% 10% 15% — 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% Deve ganhar: 5.3% 11,1% 17,6% 2596 42,9% 66.7% 100% 150% 233% 400% 100006 Para ter uma idéia de quanto um trader pode esperar ganhar —realisti- camente -em wm ano, verifiquei as rentabilidades histéricas dos fundos do meu broker. Nos iiltimos quatro anos, a maior rentabilidade anual, entre todos os seus fundos, era 122%. A rentabilidade total deste mesmo fundo durante os quatro anos é 176%, uma média de 28% ao ano. fum fundo ar- riscado, exposto a risco de mercado, risco de crédito, risco de liquidez e tisco do uso de derivativos — e pertence a uma das mais sérias instituigdes financeiras do Brasil, Mas 28% ao ano nao é muita coisa — sobretudo se perdeu 50% de sua conta e tem que ganhar 100%. Até Bill Dunn, o lenda- tio Turtle Trader, “s6” fez 350% entre 1993 e 2003. Uma pechincha de 16% ao ano. Se, com todas as suas regras, sua logistica e seus recursos, essas empresas conseguem valores assim, quanto pode um trader privado esperar ganhar? Drawdown - prejuizo pico-fundo Prejuizos correm de mao em mao com lucros. Nao pode existir um sem o outro, e é dificil visar lucros grandes sem correr riscos Proporcionais. Inevitavelmente, tomar riscos grandes expde o trader a potenciais drawdowns grandes — seqiiéncias de prejuizos que sangram seu capital e forga psicolégica. E pouco provavel que alguém desenhe um sistema que proporcione lu- cros anuais de 100% com um drawdown de somente 10%, Se vocé quer ganhar 100% ao ano, pode ter certeza de que os drawdowns que deve agiientar serao entre 20 ¢ 40%, ou até mais. A tabela a seguir mostra os lu- cros e os drawdowns de um sistema que segue tendéncias. 174 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Ano Lucro anual Maior drawdown (pico-fundo) 1 40% (29%) 2 52% (37%) 3 (16%) (30%) 4 66% (21%) § 10% (18%) 6 150% (16%) 7 (26%) (33%) 8 (7%) (35%) 9 14% (36%) 10 8% (27%) li 46% (35%) 12 71% (18%) 13 57% (25%) 14 15% (32%) 15 12% (39%) Como pode perceber, visar a lucros grandes é uma estratégia arriscada. Além disso, é interessante notar como os drawdowns sao muito mais con- sistentes que os lucros! Boyd 2: Observacao Para tomar uma decisao inteligente, é necessario avaliar as ameagas ¢ as oportunidades atuais ¢ futuras. Para fazer isso, € preciso observar e captar informagGes do ambiente. As informagées que observa sero determina- das pelo sistema que vocé opera, e seu sistema por sua orientagao. De um lado, parece que ha tanta informagdo circulando no mercado quanto do outro, nao hi suficiente. & preciso filtrar, separando o funda- mental do supérfluo. S6 pode filtrar quando sabe o que € importante, e s6 vai saber 0 que é importante quando tiver um sistema que funciona. O sistema observa o ambiente... Um “sistema” pode ser vocé mesmo — no caso de um trader intuitive — ou uma caixa-preta que bipa na hora de operar. As regras podem ser baseadas Obarcoe co sistema 175 na intuig4o, informagées fundamentais, padrées graficos, conjuntos de in- dicadores técnicos ou paginas e paginas de cédigo em C-+-+ ou Metastock — ou combinagées deles. Qualquer sistema que funciona deve capturar tendéncias. Essas ten- déncias podem durar segundos ou meses, néo importa, masa diferenga en- tre o prego de entrada e o prego de saida deve pagar as despesas e deixar um lucro. Ao definir quais sao as informagées imprescindiveis para que seu siste- ma capture essas tendéncias — ou os padrées que indicam possiyeis tendén- cias ~ € preciso achar uma fonte confidvel de dados. Essa fonte pode ser um jornal, Bloomberg TV, Yahoo Finance ou empresas como Enfoque, CMA ou Broadcast. Antes de tentar poupar dinheiro, lembre-se do lema dos in- formaticos: “Lixo in —lixo out.” Se os dados nao sao de qualidade, ou se seu cédigo possui falhas, o melhor sistema no mundo produzird lixo. Se um erro, ou uma falha, nos seus dados causa um prejuizo, o barato pode sair caro. .» € vocé observa o sistema... S6 porque vocé estd identificando padrées ou seu sistema esta dando sinais no quer dizer que esté funcionando. Como, entao, saber que estamos fa- zendo a coisa certa? Como saber que o sistema esta reagindo e adaptando as mudangas do mercado? Infelizmente, nao existe nenhuma resposta definitiva e nenhum teste que dird isso. £ preciso usar uma combinagio de sentido comum, pensa- mento racional e um conhecimento profundo do que seu sistema deveria estar fazendo. Se vocé usa um sistema mecAnice © Documente suas regras. Estude a légica do desenho. Faca testes com dados histricos até ter certeza de que faz o que de- veria fazer e capta os padrGes que deveria captar. Familiarize-se com as caracteristicas operacionais e estatisticas dele como, por exemplo: —lucro médio — ntimero de barras do lucro médio — maior lucro ~ maximo ntimero de lucros consecutivos 176 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS — prejuizo médio —ndmero de barras do prejuizo médio — maior prejuizo — maximo nimero de prejuizos consecutivos —mAximo drawdown Se vocé usa um sistema misto ou intuitivo: Documente suas regras. Quais padrdes vocé procura? Quais sinais vocé observa? © Estude sua légica. Mesmo que vocé ache pense opera instintivamen- te, seu instinto capta e processa informacao. Que informagio? Como processa? Se vocé consegue tornar seu processo “intuitivo” num processo “consciente” vocé tera mais controle e mais chances de melhoré-lo. © Faca testes com dados histéricos para verificar se suas idéias funcio- nam. . @ oS resultados da interacao do sistema com o ambiente Assim como uma empresa precisa de um plano de negécios, o trader tam- bém precisa. Compare os resultados reais com seus objetivos, Estude-os procurando formas de aumentar o tamanho e/ou a freqiiéncia dos lucros e diminuir 0 tamanho e/ou freqiiéncia dos prejuizos. Se vocé estiver atingindo seus objetivos, parabéns! Do contrario, reve- ja-os — tem certeza de que sao realistas? E, se so realistas, tem certeza de que pode atingi-los com este sistema? Mantenha uma agenda. Anote tudo que faz e os resultados obtidos. Além de vigiar o mercado, é importante manter um olho no préprio desempenho, a fim de revisar periodicamente 0 que € que est fazendo. Como ganhar dinheiro deveria ser a Gnica raz4o pela qual vocé opera, a evolucao do seu capital € um bom indicador de seu desempenho. Nada vive para sempre Todos os sistemas tém drawdowns inerentes no seu funcionamento. Um drawdown excessivo pode ser o primeiro sinal de que um sistema j4 nao Obarcoeasistema 177 funciona como no passado. O mercado € dinamico, e os padrées lucrativos que o sistema capta hoje podem deixar de ser lucrativos amanha. Quando muitos operadores percebem e¢ operam 0 mesmo movimento — um brea- kout, por exemplo-alguns tentam antecipar o sinal, entrando e saindo an- tes da “manada”, e outros apostam contra. De qualquer maneira, a efetivi- dade do padrao € rapidamente diluida. Se vocé esté em um drawdown importante, como saber se € normal ou o sinal de um sistema moribundo? Como saber quando abandonar um sistema? Aresposta 6bvia é quando o sistema nao faz mais do que deveria fazer. Mas saber isso nao é facil, e se vocé nao entende exatamente 0 que seu sis- tema deveria fazer ¢ que tipo de resultados esperar, € quase impossivel. Vigie seu capital Uma forma simples de avaliar o desempenho do sistema € tratar a curva de seu capital — seu portfdlio - como se fosse uma agao. Da mesma maneira que usa algum tipo de stoploss para vender algo que comprou, também pode usar um para abandonar — ou reavaliar — seu sistema. 18.000 160 Variagao de capital 17.500 140 — 40 las ria move sodas médiaméved | i Objet 17.000 120 16.500 100 16.000 80 15.500 15.000 14.500 14.000 13,500 4 an 22rt 1172 218) 2/8: 114 15 218 10/6 80/6 20/7. 918 29/8: 48/9 ata: 2ario: a7 7H2: ame: No caso de seu sistema, que stoploss usar? Nao hd regra, € uma escolha individual baseada em quanto drawdown agiienta e quao bem vocé conhe- ce as caracteristicas do sistema. Lembre-se de que um drawdown pode ser 0 pior que j4 enfrentou, mas n4o significa necessariamente que o sistema nao funciona. 178 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Média movel Uma média mével indica a tendéncia do portfolio. Se estiver subindo, 0 sis- tema vai bem! Se nao esta subindo, é um sinal que deveria prestar atengao. Talvez precise modificar algo. Procure saber qual € o motivo da queda. O cruzamento de duas médias pode servir como um aviso. Quando uma média curta cruza de cima para baixo uma média maior, é hora de comparar as estatisticas obtidas na realidade com as obtidas nos testes. O sistema esta agindo no presente da mesma forma que agiu no passado? Esta acertando menos operagées? Os prejuizos tém tamanho ou freqiiéncia maior que no passado? Os lucros tém tamanho ou freqiiéncia menor que no passado? O sistema estd encontrando mais ou menos operagbes? Desvio-padrao O desvio-padrao é uma medida do grau de dispersio dos dados em face da média. Um desvio-padrao elevado indica que um dado est4 longe da média da mostra da qual faz parte. Um desvio-padrao pequeno indica que € perto. No caso do grafico anterior, o desvio-padrao esté sendo calculado usando as variagées diarias no portfélio dos ultimos 10 dias. Isso quer di- zer que quanto maior o desvio-padrao, maior € a volatilidade enfrentada Por seu sistema naquele momento. Volatilidade Volatilidade nao é a mesma coisa que risco. $6 porque um mercado é volatil nao quer dizer que é arriscado. E como vocé o opera que deter- mina seu risco. Mas este grafico mostra a soma das suas posiges, nao uma delas. Uma alta volatilidade pode indicat uma grande correlagao entre as posigdes. E isso que vocé quer? Ou prefere um portf6lio bem diversificado? Se 0 valor do portfélio estd subindo, tudo bem, seu sistema esta aproveitando a vola- tilidade de suas posig6es. Mas, se est caindo, estude seus mercados, talvez devesse diversificar mais. Um desvio-padrao baixo pode ser uma indicagdo que seu portfolio é bem diversificado — quando umas posig6es caem, outras sobem. Bem me- nos estressante! Obarcoeosistema 179 Avaliacao Mesmo que 0 seu capital esteja crescendo, quando as médias méveis estao bem debaixo da linha reta do objetivo, seu sistema nao esté atingindo seus objetivos. E hora de fazer uma avaliag&o. O que esté dando errado? © Sera que seus objetivos sao realistas? © Serd que esta usando um sistema adequado? * Serd que deve mudar a forma com qual vocé opera o sistema — au- mentar 0 tamanho ou o ntimero de posigées? Seu sistema Sistemas sio como sua roupa favorita —sente-se confortavel ao usé-la, ajus- ta-se ao seu corpo, combina com sua personalidade, diz. quem é e como pensa. O que fica bem em vocé pode nao funcionar para mim. Sistemas evoluem. $40 personalizados e dependem das capacidades e da orientagdo do dono. Qualquer sistema precisa de trés elementos. 1 - Estratégia de entrada Todo trade comega com uma entrada. Muita gente focaliza sua atengao e seus esforgos em o que comprar e quando compra-lo. Considerando que a maioria dos investidores nao ganha dinheiro - apesar de concentrar-se em entrar corretamente — e que um sistema que acerta somente 30-50% do tempo pode ser altamente rentavel, sera que a estratégia de entrada é tao importante assim? Entradas s4o emocionalmente importantes. Nao queremos errar. Se errar, perdemos dinheiro. Também nao queremos ficar fora e perder uma oportunidade. Psicologicamente, a sensac4o de que estamos perdendo oportunidades € quase tao forte quanto perder dinheiro. Essa mentalidade cria pressio e acabamos agindo como se nosso futuro dependesse do préximo trade, ¢ nao de uma seqiiéncia de dezenas, centenas ou milhares de trades ao longo de cinco, 10, 20 ou 30 anos. 180 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS 2 ~ Estratégia de saida Da mesma maneira que um voador que decola tem que pousar, um trader que abre uma posigdo, em algum momento, tem que fechd-la. Uma vez comprometido, o trader nao tem nenhum controle sobre o que acontece. S6 pode observar e escolher o “melhor” momento de safda. Nunca saber se realmente é o “melhor” momento. Ele pode sair, s6 para ver o mercado continuar (ou virar) a seu favor, ou pode esperar, e ver 0 mercado virar-se (ou continuar) contra ele. Aestratégia de saida deve minimizar o prejuizo quando o trader errae maximizar o ganho quando acerta. O stop-loss Se a operagao deu errado, a coisa racional a fazer é dar wm tiro de miseri- cérdia nela. O momento deste tiro — 0 stop — que pode ser um padro grafico, um conjunto de indicadores ou simplesmente um prego — deve ser calculado antes de entrar no trade. Primeiramente, decida quanto dinheiro esta disposto a perder/sacrifi- cat/gastar. Chamemos este valor “S”. Se vocé escolheu um ponto fixo para seu stop (um pico ou fundo re- cente, um suporte ou resisténcia ou uma mudanca de X% no pre¢o, por exemplo) “S” determinara o tamanho da sua posicdo — quantos contratos ou agdes vocé pode comprar. Por exemplo, se no quer perder mais que R$100, ¢ os precos da entrada e do stop so 10 € 8, respectivamente, vocé pode comprar 50 acées/contratos. As vezes, a diferenca em preco entre o ponto de entrada e de um stop sensato pode ser tao grande que o prejuizo seria maior que o trader esta disposto a aceitar. Nao entre neste trade. Haverd outros. ‘Também, se 0 provavel ganho nao é maior (muita gente calcula trés ve- zes maior como uma regra de dedo) que o prejuizo do stop, nao entre. Da mesma maneira que um bando de piranhas acabaria com um ele- fante, confiar em stops pequenos nao é sempre a melhor forma de proteger seu capital. O prego oscila naturalmente. A maior parte do tempo — durante acu- mulagées e distribuigdes, por exemplo — o mercado nao esta “indo” a ne- nhuma parte, simplesmente oscila devido aos desequilibrios entre as com- pras e as vendas constantes. Esse movimento — como o chiado de um radio ~se chama “ruido”. Obarcoeosistema 181 Para ser util, o tamanho de um stop deve ser maior que esse “ruido” porque, se essas oscilag6es pegam seus stops, vocé esta jogando dinheiro fora. A amplitude do rufdo depende da volatilidade do mercado naquele momento, e seu stop deve tomar essa volatilidade em conta. Uma forma de medir 0 rufdo do mercado é usar 0 indicador “ATR” -0 “average true range”. Basicamente, o ATR € a média das diferengas entre ‘os precgos maximos e minimos de cada perfodo, durante um nimero de pe- riodos que vocé especitica. Por exemplo, digamos que nos tiltimos 20 pe- riodos o ATR (20) = 10 pontos, isso quer dizer que, em média, 0 prego os- cila 10 pontos cada perfodo. Se o prego hoje é 100, seria razoavel concluir que em 3 dias 0 prego mais alto seria 130 € o mais baixo, 70. Hé uma chan- ce razoavel de que a volatilidade natural do mercado disparard um stop menor que 10 pontos no primeiro periodo e um stop de 15 pontos no se- gundo. Se vocé quiser evitar muitas operacdes negativas desnecessarias, use um stop duas ou trés vezes maior que o rufdo natural do mercado. As vezes um stop grande produz um resultado melhor que um stop pe- queno, mas a tinica forma de saber que tamanho funciona melhor, sem gas- tar dinheiro, é fazer testes com diferentes valores e escolher aquele que da o melhor resultado. “Melhor resultado”, para vocé, poderia significar “maior lucro” ou “menor drawdown”. Finalmente, devido a uma combinagdo de alto prego e volatilidade, al- guns instrumentos ou posigdes podem ficar fora de seu alcance. Um erro seria caro demais. Tenha paciéncia. Opere os mercados que seu capital permite e escolha seus instrumentos porque atendem as suas necessidades, ndo porque vocé conhece a empresa, acha chique operar futuros ou rece- beu alguma dica de um amigo. Trailing-stop Um trailing-stop é um sinal de safda que sobe com a tendéncia do mercado. O objetivo dele é proteger seu lucro. Um exemplo simples (para uma posi- ¢do comprada) seria o de colocar o trailing-stop 10% baixo do ultimo pico. Cada vez que um novo pico se forma, o valor do stop aumenta. O trailing-stop visa a ficar na posigao o maximo de tempo possivel. Vocé sai quando o mercado vira contra sua posigéo. Sempre acaba sacrifi- cando uma parte de seu lucro. 182 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Tempo-stop Quando um trader abre uma posigo, pode ser porque est4 “esperando” que algo acontega. Se o que estA esperando nao acontece num tempo pre- determinado, o trader fecha a posigio. Stop-lucro Para quem nao quer sacrificar 0 lucro que tem, um stop-lucro fecha a posi- cdo no momento em que o prego atinge um objetivo predeterminado. Tra- der 3 usa um stop-lucro de 50 pontos no {indice Futuro. Como vocé sai quando o mercado ainda est indo a seu favor, um objetivo garante, mas li- mita, seus ganhos, Contradiz o ditado de “deixar os lucros fluirem”, mas se © teste de seu sistema mostrou que funciona, use-o. Sempre dentro Um sistema “sempre dentro” nao usa stops. Sua posigdo simplesmente os- cila entre comprada e vendida, nunca sendo fora do mercado. Digamos que a posi¢ao atual € comprada com um contrato. Em lugar de sair, quando recebe o sinal, 0 operador vende dois contratos — um para fechar a posicio comprada e 0 outro para abrir uma nova posigao vendida. Um sistema simples “sempre dentro” compra e vende cada vez que duas médias moveis cruzam. Se gostar de operar assim, por que nao con- tratar algum estagidrio para sentar em frente a tela o dia todo enquanto vocé vai fazer algo mais interessante? 3 — Estratégia de controle de risco George Soros disse que nao importa a freqiténcia com a qual vocé erra ou acerta, s6 quanto vocé ganha quando tem razAo, e perde, quando nao tem. Além do uso de stops, ha quatro coisas simples que influenciam seu risco: diversificagao, alavancagem, o tipo de sistema e como aplica seu capital. Diversificacao Diversificago espalha o risco entre varios mercados ou posig6es. Os lu- cros de uns compensam os prejuizos de outros € as oscilagdes no seu capital s4o menores. Obarcoeosistema 183 Mas, para ser efetivo, os mercados nos quais vocé diversifica devem exibir uma correlagdo minima. Colocar R$1.000 em trés empresas de tele- comunicagées — que sobem ¢ descem mais ou menos juntas — ndo € muito diferente de colocar R$3.000 em uma delas. Nao é uma diversificagao. © Excel tem uma fung’o - — para calcular a correlagao. Compara uma seqiiéncia de precos contra outra e dé um valor entre 1, para precos perfeitamente correlatos, e—1, para pregos que nao exibem nenhu- ma correlacio. E dificil encontrar instrumentos que nao tém nenhuma cor- relagdo entre eles, mas quanto mais negativo o ndmero, melhor sera sua di- versificacdo e, esperamos, menor seré a volatilidade de seu portfélio. Tirar todos seus ovos da mesma cesta também reduz o estresse. Se uma posigdo entra em um drawdown de 25%, e vocé somente opera com uma a cada vez, 0 efeito negativo no seu psicolégico pode resultar em decis6es ir- yacionais. Agora, se vocé opera cinco posigdes em mercados diversificados, é di- ficil (mas ndo impossivel) que todos entrem em drawdown ao mesmo tem- po. Quando uns zigam, outros zagam! Nenhum sistema funciona perfeitamente o tempo todo. Um outro mé- todo de diversificar é usar sistemas diferentes. Um trader poderia usar, por exemplo, um sistema “swing” que procura fundos e picos ¢ constantemen- te entra e sai do mercado, junto com um sistema que segue tendéncias ¢ procura ficar posicionado o maximo tempo possivel. Reduzir sua alavancagem Operando com papéis, nao tem como reduzir sua alavancagem. Mas, para quem queimou os dedos com o indice futuro e/ou opgées, papéis oferecem uma forma de reduzir a velocidade (e 0 estresse) dos movimentos. D4 tem- po para pensar. Na pratica, é dificil que isso acontega, porque quem opera futuros tem olho grande e gosta de adrenalina! $6 consegue pensar em como é facil ga- nhar rios de dinheiro rapidamente. Acaba considerando papéis vagarosos, chatos e pouco rentaveis. Asvezes esquece como € igualmente facil perder rios de dinheiro, algo que nao € nada rentavel! Tem outros métodos de controlar seu risco como hedging e compran- do agdes enquanto vende as opgées. Se vocé gosta e entende, faga, mas se no, “keep it simple!”. Simples é melhor! Quando ganha dinheiro com pa- péis ou fururos pode pensar em estratégias mais sofisticadas. 184. FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Os nimeros do sistema - estatistica JA mostramos como o sistema que pretende usar deve ser capaz de satisfa- zer seus objetivos com o capital que tem. Mas como determinar isso? S6 testando, em tempo real ou usando dados histéricos. Os dados mais basicos que queremos saber sao: © A porcentagem de ganhadores/perdedores. © O valor do ganho médio em reais. © O valor do prejuizo médio em reais. © O custo de cada operagao. © Quantas operacées o sistema faz por més. © Quantas posig6es podem operar simultaneamente. Por exemplo, digamos que testou um sistema usando trés anos de da- dos histéricos de trés empresas. O sistema comprou agées (sempre RS1.000) nessas empresas € usou um stop de aproximadamente 10%, O preco do suporte mais perto de 90% do prego de compra. Os resultados foram os seguintes: © 57 operagées em trés anos Lucro total = R$2.836. Soma dos luctos = R$6.138 e dos prejuizos = RS3.302 31 operacées ganharam e 26 perderam, uma taxa de acerto de 54% Ganho médio = R$198 Prejuizo médio = R$127 Custo de cada operagao = R$20 Esperanca matematica A primeira coisa que queremos saber é se o sistema funciona. Para saber, podemos usar algo chamado “esperanga matemiatica”. Sig- nifica quanto vocé esperaria ganhar num jogo de azar (ou com um trade sistema) com cada jogada (ou opera¢ao). £ calculado da seguinte maneira: (% ganhadores x ganho médio) — (% perdedores x prejuizo médio) = (0,54 x 198) — (0,46 x 127) = 106,92 — 58,42 = R$48,50 Este sistema ganhou quase R$50 para cada R$1.000 aplicados. Cada real aplicado gerou RS0,0485. Quase 5 centavos. E um sistema ganhador. E impossivel perder dinheiro com ele! Obarcoeo sistema 185 U66! Espere! Ainda nao tomamos em conta os custos. Digamos que 0 Homebroker cobra R$20 para cada operacdo. O trader fica com R$28,50. Em 35.088 operagdes — 615 anos, seis meses ¢ 25 dias — seria um miliona- rio! O sistema é bom, tem uma esperanga matemiatica positiva, mas, ope- rando somente um mercado com posig6es de R$1.000, duvido que atinja os objetivos de alguém! Os cassinos operam com uma esperanga matematica positiva muito pe- quena, mas ganham muito dinhciro. Na roleta, por exemplo, tem 38 células: 36 nimeros e 2 células verdes, 0 e 00. O cassino pagou 36 vezes a aposta para cada jogador que acerta no niimero. O jogador acha que isso é uma boa apos- ta, mas nao é. Em média, se jogar 38 vezes, apostando sempre no seu niimero de sorte, perder em 37 delas e ganhard uma. Ele pagaré 37 apostas e receberd 36 de volta quando ganhar. Em 97,37% dos jogos o jogador perde 1, mas em 2,63% ganha 36. E matematicamente imposstvel o jogador ganhar. Por que ele joga, entao? Talvez ele goste das bebidas gratis e das mulhe- res bonitas, mas provavelmente ele esteja agindo influenciado por suas in- clinagées e reforgo em razao variavel! Aesperanga matematica em favor do cassino é de 0,026 —2,6 centavos por délar jogado. E pouco? Sim, mas mesmo assim é uma fabrica de dinhei- ro! Para ganhar, a tinica coisa que o cassino tem de fazer é manter as portas abertas ¢ induzir os jogadores a jogar. Eis as bebidas gratis e as mulheres bonitas! E por isso que Las Vegas nunca dorme e os cassinos operam 24 ho- ras por dia. Infelizmente, o mercado fecha a noite, nos fins de semana e nos feriados. O jogador de roleta tem uma esperanga matematica negativa. Ele ga- nhard de vez em quando, mas ao longo do tempo, ele perdera tudo que tem se nao parar de jogar. Se seu sistema tem uma esperanga matematica nega- tiva, com a mesma certeza de que a Terra esta na 6rbita do Sol, vocé tam- bém perder. Vejamos um outro exemplo de como usar a esperanga matemiatica. Digamos que tem R$500 disponiveis para investir e que quer ganhar R$10.000. Quantas operagées vocé teria que fazer utilizando o sistema an- terior? Muitas. Investindo R$500 em cada operagdo vocé ganharia 500 x R$0,0485 = R$24,25. Vocé paga R$20, deixando um lucro de R$4,25. Com 19 (57/3) operagées por ano, o lucro anual seria R$80,75. Seria me- lhor vender balas na rua! Esqueca os R$10.000. Agora, se vocé tivesse R$100.000 para investir, e disposto a colocar R$25.000 em cada posigdo, isso renderia R$0,485 x 25.000 = 186 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS R$1.212,50 por operago. Tirando os R$20 de comissdo, vocé ficaria com RS$1.192,50. Em um ano vocé ganharia 19 x R$1.192,50 = R$22.657. Nada mal, mas seré que 22,6% atingem seu objetivo? Unidades de risco No seu livro Trade your way to financial freedom, dr. Van K. Tharp expan- de essa idéia de risco e de esperanga matematica para criar uma unidade de risco chamada “R”. Se vocé coloca R$1.000 em uma acao, nao est arriscando tudo. Na verdade, seu risco, R, ¢ somente o valor de seu stop. Se usar um stop de 20%, o risco, R, seria R$200. E dai? Bom, sabemos que, operando nosso sistema, queriamos perder, no maximo, 10% ou R$100. Nosso “R”, entao, era R$100. Devido as realida- des do mercado —a diferenga entre as ofertas de compra e venda, a rapidez dos movimentos, gaps e os custos — alguns prejufzos acabaram sendo bem mais que isso. A média do sistema era R$127, ou 12,7%. ‘Trader A, com R$1.000 e que compra agdes com um stop de 10% (R = R$100) s6 pode abrir uma posigdo. Para ele, a idéia de R nao € muito itil. Mas, Trader B, que também opera ages, mas com R$100.000, e Trader C com R$1.000, mas que opera commodities, futuros, e-minis, CFDs, spre- adbets ou outros instrumentos que requerem margem, podem abrir milti- plas posigées. Trader C poderia abrir até 10. Ele poderia ter muito boa sorte e ganhar com todas as operagées, ou muito ma, e perder, o que o deixaria sem um tostao e provavelmente devendo para seu broker! 10 x (-R$127 + R$20) = —RS1.290 — mais que ele tem na conta! De certa forma, abrindo miltiplas posigées, o risco € o mesmo que as operando uma a cada vez, mas tudo acontece muito mais rapido. Eum Pouco como operar com op¢ées. Nao é para aqueles com estémago fraco, ou que no testaram exaustivamente seu sistema ¢ ndo sabem a diferenga entre esperanga matemitica e pura esperanga! Quando usamos o método de Van K. Tharp, expressamos tudo em miiltiplos de R. Em nosso sistema, o lucro médio de R$198 seria 1,98R (198/100) e 0 prejuizo médio, 1,27R. O calculo da esperanga é o mesmo, s6 que agora parece Algebra. Esperanga = (0,54 x 1,98R) — (0,46 x 1,27R) = 1,07R - 0,58R = 0,49R Obarcoeosistema 187 0,49 R quer dizer que, em média, cada operagdo ganha 0,49 vezes, a quantidade arriscada. Um investidor usando este sistema e arriscando R$150 por operagao sabe que, em média, cada operagao rende 0,49 x R$150, ou seja, R$73,50. Um investidor arriscando R$5.000 por opera- 40 sabe que, em média, cada operagao rende R$2.450. Nao esquega, isso nao inclui os custos das operagées ainda. Isso € muito util porque, se seu objetivo anual é ganhar R$30.000, e nosso sistema encontra umas 19 operagées por ano com uma esperanga de 0,49R, é facil calcular quanto deve arriscar em cada operagio. 19 x 0,49R = 30,000. R = R$3.222. Se vocé nao tem capital suficiente, ou nao suportaria perder alguns miiltiplos de R$3.222, nao vai atingir seu objetivo com este sistema. Deve procurar outro que ofereca uma maior freqiiéncia de operag6es e/ou esperanca matematica, assim permitindo que arrisque menos com cada operacao. Calculando o tamanho adequado para posicGes Um sistema que usa um stop (R) de 100 pontos para cada operagao forne- ceu os seguintes resultados: Operagées negativas: 10 -310, -305, -220, -205, -130, -120, -110, -110, -115, -125. Operacées positivas: 10 550, 490, 330, 300, 80, 90, 140, 125, 120, 110. Aprobabilidade de uma operagao que ganha 1R (+/— 100 pontos) = 30% A probabilidade de uma operagao que ganha 3R (+/- 300 pontos; A probabilidade de uma operac4o que ganha SR (+/—500 pontos) = 10% A probabilidade de uma operacdo que perde 1R (+/- 100 pontos) = 30% A probabilidade de uma operag4o que perde 2R (+/—200 pontos) = 10% A probabilidade de uma operagao que perde 3R (+/—300 pontos) = 10% Usando o método de Van K. Tharp, a esperanga do sistema = 0,3R. Cada R$1 arriscado ganha, em média, R$0,30. 188 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS = [(0,3 x 1R)+(0,1 x 3R) + (0,1 x SRY [(0,3 x 1R) + (0,1 x 2R) + (0,1 x 3R)] = (0,3 + 0,3 + 0,5 - 0,3 - 0,2 -0,3)R = 0,3R Vejamos como o tamanho da posigio afeta o resultado final. Usando a fungao de ntimeros aleatérios este sistema foi simulado no Excel. Gerou resultados para cinco seqiiéncias de 20 operagées. O capital inicial era sempre R$1.000, Ha seis colunas para diferentes valores de R: 2% do capital inicial, 5%, 10%, 15 %, 20% e 30%. Cada uma dessas colunas tem duas subcolunas: uma para 0 resultado da operagao como um miltiplo de R e outra para o valor em reais, Para simplificar, R era constante — sempre 2, 10, 15, 20 ou 30% do capital inicial. Obviamen- te usar 2, 10, 15, 20 ou 30% do capital atual (depois de cada operagao) mu- daria os resultados consideravelmente. Veja os resultados das primeiras 20 operagGes: Exemplo 1: Resultado da R R R R R R operagio cin =» 2 RS 5% «=O RS 10% =—-RS— 15% RS «20% RSS mitltiplos de R -1 20 980-50 950-100 900-150 850-200 800-300 700 1 20 1000 © 50 1000 100 1000 150 1008 200 1000 300-1000 2 ~40 960-100 900 -200 800 -300 700 400 600 600 400 5 100 1060 250 1150 500 1300 750 1450 1000 1600 1500 1900 “1 20 1040-50 1100-100 1200 -150 1300 200 1400 -300 1600 a 60 980-150 950-300 900-450 850-600 800-900 700 5 100 1080 250 1200 S00 1400 750 1600 1000 1800 1500 2200 -1 20 1060-50 1150-100 1300 150 1450-200 1600 -300 1900 er 20 1040-50 1400 -100 1200 150 1300 -200 1400 -300 1600 1 20 1060 50 1150 100 1300 150 1450 200 1600 300 1900 2 40 1020-100 1050-200 1100-300 1150 400 4200 -60v 1300 5 100 1120 250 7300 500 1600 750 4900 1000 2200 1500 2800 A -20 1400-50 1250 ~100 1500 -150 4750 -200 2000 -300 2500 5 100 1200 250 1500 500 2000 750 2500 1000 3000 1500 4000 3 60 1140 -150 1350 -300 1700 450 2050 -600 2400 -900 3100 3 60 1200 150 1500 300 2000 450 2500 600 3000 900 4000 1 -20 1180-50 1450 100 1900 -150 2350 -200 2800 -300 3700 a “20 1160-50 1400-100 1800 -150 2200 -200 2600 -300 3400 3 60 1100 -150 1250 ~-300 1500 -450 1750 -600 2000 -900 2500 1 20 1120 50 4300 100 1600 150 1900 200 2200 300 2800 Capital final 1120 1300 1600 1900 2200 2800 Obarcoeasistema 189 Como poderiamos esperar, o capital cresce mais répido com um R de 30%. Mais risco, mais ganho. Com 20 operagées, 1.000 acabariam em 2.800. Exemplo 2: Outras 20 operagées mostram um cenério bem diferente. Resultado da R R R R R R operacéo (xR) 2% Cap. 5% Cap. 10% Cap. 15% Cap. 20% Cap, 30% Cap. 2 40 960 -100 900 -200 80 -300 700 4100 600 ~600 400 1 20 980 50-950 100 900 130 850 200 800 300700 at 20 960-50 900 100 800-150 700 -200 600 300 400 2 40 920 -100 800 -200 600-300 400 400 200 -600 0 1 20 940 «50-850 «100-700 150-550-200 400, 300 3 ~60 880 450 700 -300 400 450 100 600 0-900 3 60 820 -150 550 300 100 450-9 -600 8 900 0 2 40 780 -100 450 -200 0 300 9 400 9 -600 0 3 60 720 -150 300 300 @ 450 9 600 9 -900 0 20 740 «50-350 1000150 200300 2 760 «So 400 100 «0 «500 200 300 20 780 «50 450 1000 «81500 200300 -l 20 760 50 400 -100 9 -150 0 -200 0 300 @ 2 40 720 -109 300 200 «0 300 «0 400-6000 3 60 660-150 150-300 9 450 0-600 0-900 2 40 620-100 50-200 300 400 400 3 60 $60 -150 0 300 0 450-600-900 4 20 540 50-0 100 8 150-200-300 4 20 $20 -50 0 100 0 -150 9 200 0-300 0 3 60 S80 150 0 300 0 450 0 600 9 90 9 Capital final 580 o ° o o o Depois de 17 operagées, usando R > 5%, perde-se todo o capital! Eo mesmo sistema, operando com as mesmas probabilidades. Que md sorte! 190 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Exemplo 3: Outras 20... Resultado da R R R R R R operagio ("R) 2% Cap. 5% Cap. 10% Cap. 15% Cap. 20% Cap. 3000 Cap. 1 20 «1020 50 1050 100 1100 «150 1150 200 1200 6300 1300 3 60 960 -150 900 -300 800 -450 700 -«600 600-900 400 Zz 40 920-100 800-200 600-300 400-400» .200 600 0 3 60 980 150 950 300 900450850 600 «800 «900 o i 20 1000 50 2000 «100 1000 «150 1000 ©6200 «1000 «= 300 0 -1 -20 980-50 950-100 900-150-850 200 «800-300 0 3 60 920-150 800-300 600-450 400-600 200-900 0 3 +40 860-150 650 300 300 450 ao -600 o -900 oO i 60 920 150 860 300 600 450 @ 600 @ 900 o a 20 940 SO 850 «100 700 150 o 200 Oo 300 0 x 20 960 SO 900 «100-800 150 0 200 Oo 300 oO s 60 1020 150 1050 300 1100 450 Oo 600 oe 900 0 al 20 1000 «-50 1000 -100 1000 -150 oO -200 o -300 0 a2 40 960 -100 900 -200 800 -300 oO 400 oO -600 0 3 60 900 -150 750 -300 S00 -450 Oo -600 oO -900 oO a 20, 880 «=-50 700-100 400-150 ao -200 oO -300 o 2 0 «840-100 «600-200 200-300 a 00 0 -600 oO 20 860 50 650 100 300150 0 200 oO 300 0 20 880 50 700° «100 400150 0 200 Oo 300 a 3 60 940 «150 850-300 700450 0 600 Oo 900 o Coie Sina mo 850 700 ° ° ° Operando com R > 15 acaba com 0 capital, e R = 2% apresenta um melhor resultado que R = 5%? Obarcoeasistema 191 Exemplo 4: Outras 20... Resultado da R R R R R R ‘operagio (xR) 296 Cap. 5% Cap. 10% Cap. 15% Cap. 20% Cap. 30% Cap. 3 -60 940 -150 850 -300 700 -450 $50 -600 400 -900 100 1 20 960 ©50 900-100 800150 700 200 600-300, 400 1 20 980 50-950 100 909150 850-200-800 300700 1 20 960-50 900 -100 800 150 700 -200 600 -300 400 2 40 920 -100 800 -200 609 -300 400 400 200 600 0 1 20 940 © «50-5010 700,150 $50 200400 300 1 20 960 50-900 100 800150 700-200 600-3000 3 -60 900-150 750-300 $00 450-250-600 0-900 0 1 20 920 30 800 100 600 «150 400 2000 «03000 1 20 940 «50 850 100 700 «150 550-2000 0 300 3 40 380-150 700-300 400 450 100-600 = G -900 2 -40 840 100 600 -200 200 -300 9 400 0 600 0 a -20 820-50 550-100 100 -150 0 -200 0 3000 0 3 60 880 150 700 300 400 450 0 600 0 900 9 2 40 840 -100 600 -200 200 -300 0 -400 9 -600 0 3 60 780 150 450 300 0 450 0 600 9 -900 0 5 100 889 «250 700 300 «0 750 O 1000 0 1500 0 a 20 860-50 650-100 0 150-2000 300 a 20 840 -50 600 1000-150 200 300 5 100 940 250 850 300 490 750 G 1000 0 1500 0 Capital final 940 850 o ° ° 0 Novamente R = 2% apresenta o melhor resultado, mas dé um prejuizo de 60! Como pode? O sistema apresenta uma esperanga positiva! Usando R > 10% acaba com o capital. 192 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Exemplo 5: E finalmente... Resultado da R R R R R R operacto (xR) 2% Cap. 5% Cap. 10% Cap. 15% Cap. 20% Cap. 30% Cap. 1 20 1020 $0 1050 100 1400 150 1150 200 1200 300 1300 a 20 1000-50 1000-100 1000 -150 1000 -200 1000 -300 1000 - 20 980-50 950-100 900-150 850-200 800-300 700 a 20 960-50 900-100 800-150 700-200 600-300 400 a -20 940-50 850-100 700-150 550-200 400 300 100 3 ~60 $80 150 700-300 400 450 100-6000 90 3 60 940 150 850-300-700 450 550 600 900s—si* a ~20 920-50 800-100 600-150 400-200-300 3 60 980 150 950 300 900 450 850 «600900 2 40-940 -100 850-200 700-300 550-400 0 600 3 60 1000 150 1000 300 1000 450 1000 600 80 900 «0 1 20 980-50 950 -100 900 150 850 -200 0 300 0 3 60 1040 150 1100 300 1200 450 1300 600 0 900 9 at -20 1020-50 1050-100 1100 -150 1180 -200 0 300 0 1 20 1040 © 01100 100 4200150 1300 2008 300s 1 20 1060 50 1150 100 1300 150 1450 200 «0 «300g 1 20 1080 = $0 1200 100 1400150 1600 200 0 3000 1 20 1100 © 50 1250 100 4500 150 1750 200 «0300 1 20 1120 50 1300 100 1600 150 1900 200 0 300 0 5 100 2220 250 1850 500 2100 750 2650 1000 0 1500 0 Capital final 1220 1550 2100 2650 a 0 R > 20% destréi seu capital, e o melhor resultado vem com R = 15%, Conclusées As conclusées? Maior 0 risco, maior a chance de perder todo o seu capital! Existe uma certa correlacdo entre risco e lucro. Este tiltimo (exemplo 5) mostra claramente que quem arrisca, ganha—mas sé até um ponto. De- Pois, o risco se torna desejo de pobreza! Embora, veja exemplo 2, exista uma possibilidade de perder o seu ca- pital mesmo operando com um risco baixo. Todos os Rs, menos o de 2%, perdem tudo, e R = 2% deixa a conta dizimada. Que significa isso para o trader? Deve usar R > 2%? Nao necessaria- mente. Usar 2% quer dizer que tem menos chances de quebrar, mas tam- bém, como exemplos 1 e 5 mostram, ganha menos. Obarcoeosistema 193 Que R deve usar? Nao existe uma resposta definitiva. E como cruzar um lago de gelo. Quanto peso agiientaria antes de quebrar? Como vimos, usar um R pequeno nao é nenhuma garantia que ndo vai perder dinheiro. Também, o primeiro exempio mostrou que, com um R alto, vocé poderia ter sorte e ficar rico antes de encontrar a seqiiéncia de trades negativos de seu pior pesadelo! Um método que pode indicar um R “conservador” € um teste estilo Monte Carlo. Este método assume que todas as operagées negativas acon- tecem uma atrds da outra. Vocé deve escolher um valor de R que permita que seu capital sobreviva a esta seqiiéncia. Por exemplo, assumamos que: © Nosso sistema encontra umas 50 operacdes por ano. © Queremos sobreviver um ano com nosso capital, RS1.000. Usando o segundo exemple, o pior de todos, temos os seguintes resul- tados negativos: -2,-1,-2,-3, -3,-2,-3,-1,-2,-3,-2,-3,-1,-1.-29R em total. Vin- te operagées representam mais ou menos cinco meses. Em um ano, pode- riamos esperar que o resultado negativo fosse (29 x 50)/20 = -73R Dividindo 73R entre os R$1.000, temos RS14, ou 1,4% de nosso capi- tal original. Nosso stop, a quantidade de que estamos dispostos a perder em cada operagio, deveria ser sempre menor que R$14, ainda assim terfa- mos capital para investir quando a seqiiéncia negativa terminasse ¢ a se- qliéncia positiva (+8) comecasse. Acabarfamos com [(8 x 50)/20] x R$14 de lucro, R$280. Se nosso capital inicial fosse R$50.000, arriscarfamos 50.000/73 em cada operagao: R$684, Usando o quinto (melhor) exemplo, temos—15R, ou seja, -38Rem um ano. Dividindo isso entre o capital original, da R$26, quase o dobro. Obviamente, como qualquer teste, o resultado obtido depende muito do tamanho da amostra. Mais dados darao um melhor resultado, mas ne- nhum resultado sera 100% confidvel, porque o futuro nao sera igual ao passado. Faga uns calculos e use seu sentido comum. Eu penso que arriscar me- nos e ganhar menos parecem bem melhor que arriscar mais e perder tudo. 194 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Body 3: Decisdes Tipos de decisées Algumas decis6es so mais importantes, ou tm maior impacto nas nossas vidas que outras. Conseqiientemente, merecem mais atengdo. Direcionais Decisées direcionais podem ser relacionadas com nossa misao, valores, fi- losofias on objetivos a longo prazo. Definem o que queremos € 0 que é im- portante para nds. Sao decisées que dependem muito da imaginagio e, de- vido 4 sua importancia ¢ o prazo distante, so freqiientemente as mais ar- Tiscadas ¢ os resultados menos previsiveis. A decisao de ser trader é uma decisao direcional. Estratégicas Quando definimos nossa direcao, temos as decis6es estratégicas que defi- nem as capacidades e as estratégias ou encontram os meios que (espere- mos') nos levam a nossos objetivos. Sao decis6es a médio prazo ~ que siste- ma usar. que metodologia seguir, que curso fazer, que livros ler. Comportamentais e operacionais Decis6es comportamentais e operacionais sao aquelas que tomamos a cada dia. Seu impacto € imediato ou visivel a curto prazo. As vezes, as tomamos sem refletir muito. Para o trader, as decisées de compra ¢ venda sao opera- cionais e, usando regras simples, elas podem ser mecanizadas ou automati- zadas, Geralmente, pagamos um preco baixo por um erro em uma decisio operacional. Entretanto, uma seqiiéncia de decisdes ruins, ou a repetigdo dessas, pode sair caro. Decidir é um processo. No OODA loop, novas decisées so influencia- das pelos resultados das decisées anteriores. Podem ser decisées intuitivas ou analiticas ~ nao importa o método que vocé usa, somente os resultados. E, lembre-se, para ter sucesso no mercado, suas decis6es devem contribuir para a realizaco dos seus objetivos financeiros e nao emocionais. DecisGes intuitivas A teoria econémica tradicional descreve 0 mercado como “eficiente” ¢ as pessoas operando nele como “racionais”. Alguém operando racionalmen- Obarcoeosistema 195 te tomaria decisGes que resultariam em conseqiiéncias financeiramente vantajosas para ele. O fato de que existem tantos perdedores mostra que isso obviamente nfo é 0 caso. No mundo real, como cada investidor sabe, em momentos de estresse e confusao a maioria de nés acaba agindo e deci- dindo emocionalmente. Se perguntar a um grupo de pessoas como decidem, provavelmente di- rao que consideram os aspetos positivos e negativos da situagio antes de decidir. Na realidade, 0 que muitas vezes acontece é que nossa percepg4o da recompensa (ou do prego) emocional associado a varias opgées deter- mina nossa decisio bem antes de fazer qualquer avaliacdo estruturada. Essas recompensas € precos emocionais podem ser quase imperceptiveis, mas influenciam a maioria das decisées que tomamos inconscientemente em nosso dia-a-dia — como abrir a porta para uma colega, oferecer ajuda a uma idosa com compras pesadas, ou guardar (ou entregar) uma nota de R$10 que vimos cair da carteira de um desconhecido. Pior, na nossa sociedade, a expressao publica de qualquer opinido ou decisio ven acompanhada de um investimento emocional. Gostamos de ter raz4o e nado gostamos de errar. Como conseqiiéncia desse compromisso emocional, procuramos argumentos, fatos ou outras pessoas que supor- tam nosso ponto de vista, as vezes ignorando ou desconsiderando outros. Num mundo ideal, decisées intuitivas avaliam a situagdo, procuram padres e identificam elementos chaves do problema e usam experiéncia e julgamento para resolvé-lo. Quando funcionam, “sentimos” uma preferéncia forte para nossa es- colha e/ou uma aversao para outras opgdes. Mas, quando nao, sentimos sensagées positivas para todas as opcGes e uma ansiedade terrivel causada por nossa inabilidade de ver claramente uma delas como a melhor. VANTAGENS DESVANTAGENS Sao rdpidas. Quando uma opgio parece atraente, Tomam em conta o que nos As vezes nZo consideramos outras importa. opgées disponiveis. A sensagao positiva (ou negativa) A decisao pode ser baseada em associada com a decis’o acaba Preconceltos, ignorancia ou motivando a ago. informagio errada ou incompleta. Aproveitam a experiéncia prévia. Tomar uma decisao intuitivamente resulta em dificuldades quando outras pessoas ndo concordam conosco. FY 196 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Decisées analiticas Decis6es analiticas identificam, estudam e comparam varias opgées para escolher a melhor. O processo seria parecido com o seguinte: © Definir o problema. * Especificar os objetivos a que a decisao deve satisfazer. © Gerar alternativas. © Considerar — usando critérios comuns — cada alternativa, ordenan- do-as em fungao da probabilidade que tem de satisfazer o objetivo. * Escolher a opg4o que tem mais chances de dat certo. Existem va ios métodos para analisar uma situacao. Tabela de vantagens e desvantagens Este método é uma simples tabela com duas colunas: uma para as vanta- gens € a outra para as desvantagens de cada opgao. Considerar evidéncias de ambos os lados antes de se comprometer com uma opiniao pode aumentar consideravelmente a qualidade de uma decisdo. PNI — positivo, negativo, interessante Este método € basicamente igual ao método anterior, porém cada opgdo tem trés colunas: uma para 0s pontos positivos, uma para os negativos e uma acrescentada por Edward de Bono para itens “interessantes” — conse- qiiéncias ou observagGes que nao séo nem positivas nem negativas. O burro de Buridan Lembra-se dele? O coitado que morreu de fome? Quando, assim como o burro, vocé se encontrar entre duas propostas igualmente atraentes, e nao conseguir decidir, faga uma lista de todos os pontos negativos, complica- goes e dificuldades de cada uma. Depois escolha a “menos pior”. O Matrix Este método, um pouco mais complicado que 0s outros, usa critérios para avaliar as opgdes. Cada critério tem um peso relacionado com sua impor- Obarcoen sistema 197 tAncia. Por exemplo, imagine que vocé quer decidir entre aprender andlise grfica e andlise fundamental. Os critérios importantes (para vocé) sao: fa- cilidade de entender, rapidez de uso, exatidao ¢ facilidade de encontrar in- formagao. Cada critério é avaliado entre zero e dez, e cada um tem um peso na decisdo final. Critério Peso Grdfica Tot. Fundamental Tot. Facil de entender 10 S 50 9 90 Rapidez de uso 15 9 135 5 78 Exatidio 50 vs 350 7 350 Facil encontrar info. 25 10 250 8 200 100 740 71S A decisao final é que a andlise grafica é o melhor método para apren- der. Mas sera que €? Que aconteceria se vocé nao gostasse de graficos? Cadé a emogao? Como vimos, é impossivel remover a emogao do processo de decisao. Emog4o é o manémetro que a natureza nos deu para “ler” a balanga. Sem ela acabarfamos como os pacientes do neurologista Dr. Antonio Demasio ~ eternamente avaliando opgées, mas incapazes de decidir. Pior que isso, quando a decisao “certa” é acompanhada por uma reagao negativa — medo, por exemplo -, o trader acaba se paralisando. Sabe que “deveria” fazer, mas € incapaz de fazé-lo. VANTAGENS DESVANTAGENS Consideram varias alternativas. Talvez vocé nao goste da “melhor” Tomam em conta os objetivos. opcio. Uma reagio negativa pode ‘ impedir, ou desmotivar, a agdo. Comparam cada alternativa imp. es aan objetivamente. E possivel que vocé use critérios irrelevantes ou de pouca O processo é visivel, légico ¢ pode ser compartido com uma outra woe pessoa ou grupo. A forma que usa os critérios para avaliar cada alternativa é subjetiva. importancia. | | 198 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Intuicaéo educada Evidentemente, o trader inexperiente precisa de um método menos imper- feito que a intuic&o “crua” e mais natural que o analitico. E preciso educar — treinar — sua intuigao. Como um exemplo, vejamos como nossos trés traders decidem no mo- mento de comprar: TRADER 1 TRADER 2 Comprando: —Percebe a distorgdo. —Percebe sinal. — Sente a excitacao. —Procura a explicagao da - Age. —Sente confianga. TRADER 3 ~Percebe padrao formando. = Corpo fica “a mil”, distorgao. — Espera confirmacao do — Observa a confirmacio padrao. do movimento. ~ Age. — Age. Simplificando, suas decisées tém trés passos: 1. Eles sabem o que querem. Tém bem claro na mente o que estao procurando: padrées que oferecem uma grande chance de ganhar dinheiro. 2. Quando reconhecem o seu padr4o, experimentam uma reagio emocional. 3. Agem imediatamente. No primeiro passo, seu objetivo é bem claro. Querem ver um padrao. Este pode ser o resultado de sua experiéncia, ou de um teste/experimento que fizeram. O que € interessante é que sabem que este padrao ndo é infali- vel. Os traders ndo procuram ter certeza, simplesmente um padrao com uma esperanga matemiatica positiva. Sabem que, ao longo de muitas opera- ¢6es, seu padr4o ganhard mais dinheiro do que perdera. Um trader novato nem sempre pensa assim. Quer ter certeza antes de agir. Procura um pa- drio infalivel e, como nao existe, experimenta dificuldade/dtividas/medo na hora de operar. No segundo passo, o trader fica de olho nas informagées ou indicado- res onde o padrdo se manifesta. Sua atengao esta focalizada. Se o padrao Obarcoeosistema 199 aparecera num grafico, o trader n4o fica lendo relatérios. Se aparecer4 em informagées fundamentais, nao presta atengdo em graficos. O trader inseguro procura outros sinais para confirmar o sinal origi- nal. Por exemplo, se o padrao no gréfico sinaliza compra, 0 trader novato pode procurar o balango da empresa para confirmar que é uma boa com- pra. Quando vé que tem dividas grandes e pouco lucro, sente diivida e aca- ba hesitando ou desistindo da compra. Quando o trader age assim, € dbvio que nao tem um sistema completo ou nao confia naquele que tem. Seria Util prestar atencdo nas informagées que usa para confirmar e — depois de testar sua validade, claro —inclui-las nas regras e padrées de seu sistema. A reagdo emocional que acompanha a aparéncia do sinal era diferente nos trés traders. O que importa nao é a emog4o em si, mas que o trader a reconhega. Para o trader, essa emocio é associada com a agao. Um dos tra- ders disse que scu corpo ficava a mil. Um novato poderia descrever isso como “medo” e, se sente medo, provavelmente nao operaria. O trader experiente nao julga a sensacdo, simplesmente a sente ¢ sabe que quer dizer “Agora!”. Por isso é importante saber fazer um inventario de seu estado — para saber 0 que vocé est sentindo e vincul4-lo consciente- mente com o que esté acontecendo. Digamos que um trader identificou um padrao com uma esperanga matematica positiva, mas sente medo cada vez que aparece. Se operar, 0 sucesso que terd ao longo do tempo acabara ensinando-o que os sintomas que, antes, ele julgava como “medo”, agora sinalizam uma boa oportunidade. Como educar sua intuicdo 1. Defina seu problema bem. Saiba exatamente o que vocé quer re- solver ou conseguir? Identifique seus objetivos e, sobretudo, seja especifico. Qual a importancia dessa deciséo para vocé? Pense um pouco a respeito. Quais critérios vocé esté usando? E possivel que vocé esteja exagerando a importancia deles devido 4s crengas que tem? 2. Pense em varios métodos que poderiam resolver seu problema ou ser a resposta que vocé procura. Seja criativo. Tente ser objetivo e explorar todos. Nao descarte nada ainda. 3. Um por um, reflita como vocé se sente a respeito de cada opgio. Imagine-se usando essa opgdo e faga um inventario de como vocé se sente. 200 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS 4. Um por um, reflita como cada opg4o resolveria seu problema ou atingiria seu objetivo. Quais funcionariam? Quais nao? Quais evi- déncias vocé tem? Pode confiar nelas? Existem outras melhores? 5. Com base em como se sente a respeito de cada opgao e suas crengas arespeito das possibilidades delas, use sua intuigdo para decidir. Se quiser, pergunte a outras pessoas 0 que pensam, ou se tém outras idéias ou perspectivas. 6. Decida e aja. Compare os resultados obtidos com a sua previsao, Sente-se como imaginou? Acontece como previu? Como e em que diferem? Basicamente, a idéia é ser consciente de seu estado emocional e como isso afeta suas decisdes. Este método no é definitivo, é simplesmente uma sugestao de como combinar as vantagens da decis4o intuitiva com as da de- cisao analitica. Boyd 4: Acao Quando o trader decide 0 que quer ¢ sabe como consegui-lo, quando seus valores e sistema combinam com os seus objetivos, tem que agir. Operar é uma iarefa bastante simples, mas nao ¢ facil. A vida de um tra- der € uma rotina — como qualquer outra profissio — que consiste em: ¢ Estudar e analisar seus mercados, © Desenvolver e testar um sisterna ou método. © Operar o sistema. * Analisar os resultados. © Adaprar e refinar seu cardter e seu sistema. © Voltar a estudar e analisar seus mercados usando as novas aprendi- zagens. Como pode ver, O OODA loop do trader é um processo circular, 0 “output” (a saida, a andlise dos resultados) de um loop acaba sendo o “in- put” (entrada) do préximo. Note também como, depois de passar algumas vezes pelo loop, a intui- 40 comega dirigir o trader. Ja estd orientado. Nao precisa decidir porque sabe que tem de fazer. E automatico. Simplesmente observa e age. Obarcoeo sistema 201 Resultados da ago Para analisar seus resultados, é importante manter algum tipo de agenda onde anota o que fez: suas operagées, agdes ¢ pensamentos. Somente do- cumentando assim podera ver seu progresso e comparar objetivamente o resultado real de suas agées com o resultado esperado. Além disso, manter uma agenda é uma forma de treinar sua intuigio. Como vimos, emogGes sempre existirao e, querendo ou no, influenciario nossas decisdes e agdes. Melhor entao que sejamos conscientes delas. Somente assim podemos diminuir 0 efeito das emog6es que nos atrapalham e aumentar aquelas que s4o titeis. Quando nossas emogées nos ajudam a ganhar dinheiro é porque nossa intuigao é boa. Manter uma agenda didria Como parte de sua rotina didria, anote o que faz e como se sente. Como me sinto hoje? A primeira pergunta do dia: Como se sente mental e fisicamente? Tem algo que o preocupa? Esta cansado? Estressado? Tranqjiilo? Otimista? Marque numa escala de zero a 10 como se sente e depois escreva algumas linhas. O que vou fazer hoje? O que tem de fazer hoje? Priorizar as tarefas do dia. Organize seu tempo entre estudar o mercado, planejar suas operagées, vigiar suas posigdes ¢ leitura. O que esta acontecendo nos meus mercados hoje? Escreva brevemente o que est4 acontecendo. HA alguns fatores econémi- cos ou politicos importantes acontecendo? Alguma posicio interessante se desenvolvendo? O que esta acontecendo com minhas posi¢ées abertas? Quais indicadores ou informagées vocé segue? O que estdo dizendo? £ preciso ajustar algum stop? 202 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS Para cada operacao Cada vez que recebe algum sinal, ou decide abrir ou fechar alguma posi- g4o, anote tudo que fez. Como foi a execugio? Conseguiu o prego que queria? Entrou ou saiu no sinal? Hesitou? Nao viu? Errou? RazGes técnicas para entrar ou sair Por que entrou ou saiu? Sinal do sistema? Conjunto de indicadores? Pa- drao grafico? Informagao fundamental? Atingiu stop ou objetivo? Intui- 40? Medo? Panico? Anote tudo que puder. Imprima e cole o grafico no seu caderno. Seré ditil para ilustrar as razées de sua decisao no futuro. Estado emocional Como se sente antes de entrar ou sair? Faga seu inventario e descreva os sintomas fisicos que apresenta. Essas emogées estao influenciando sua operac’o? Se estiverem, des- creva, usando submodalidades, como esta pensando a respeito do trade é da situacio. Stop Antes de entrar, defina ¢ explique seu stop. Resultado Quando fechar a posigdo, anote quanto ganhou ou perdeu. Avaliagao técnica do trade © que foi bem/errado? O que percebeu ou aprendeu? O que pode melho- rar? O que precisa aprender? Avaliagao emocional do trade Apareceu alguma emogdo ou conflito? Atrapalhou? O que percebeu ou aprendeu? © que pode melhorar? Quais observagées vocé pode fazer? Obarcoeosistema 203 Revisao periédica O sistema esta atingindo os objetivos? Se nao, onde est4 falhando? Quais mudangas serao necessdrias? Que freqiiéncia é melhor? Mensal, trimestral, semestral? Maos a obra O objetivo bélico do OODA loop, de Boyle, é sobreviver (nos préprios ter- mos) e prosperar. Nao é um objetivo muito diferente do “Capito Tra- der”, Na verdade, 0 loop nao é um loop, é um sistema dindmico de “feed- back” e “feedforward” — retro e pré-alimentacao — posto em movimento para atingir este objetivo. Como vimos, a primeira coisa que um “capitéo” deve fazer é orien- tar-se sobre a situago competitiva, formar sua versio da realidade. O que estd acontecendo? O que pode acontecer? Quais os fatos de que tem co- nhecimento? Quais percepgdes? Impressées? Idéias? Quais s40 suas for- gas? Seus pontos fracos? Quais oportunidades existem? Quais ameacas? Depois comega um processo de andlise e sintese. Andlise divide 0 geral em partes especificas, quebrando o “tudo” em fragmentos, deduzindo, di- ferenciando e procurando relacées e padrées entre as miiltiplas partes que compéem um mar de incerteza. Sintese volta do especifico ao geral usando atributos e qualidades comuns entre as partes para reconstruir um novo “tmdo”, uma estrutura ou um sistema que o capitio pode usar para fazer sentido do “oceano”. A decisao deve determinar a natureza exata das agGcs, e essas agdes de- vem ser testadas e suas conseqiiéncias ¢ resultados avaliados. Entao, para atingir 0 objetivo, qual seria a ag¢do mais efetiva? Como mencionado anteriormente, 4 medida que conhecimento, expe- riéncia e confianga nas decisées aumentam, o capitio pode cortar o cami- nho. Explicitamente observar e decidir nao s4o mais necessdrios e a obser- vacao leva diretamente a acées intuitivas. Para fechar 0 livro, vejamos o loop de um quarto trader. Sobreviver ¢ prosperar nos termos de trader 4 significa ter qualidade de vida. Quer sentir-se livre, confortdvel, as contas pagas, tempo para aprender ¢ dinheiro para viajar. Sua motivagio € ganhar. Gosta de operar e quer ser o melhor. Para que isso seja possivel, tem de sentir paz. A visao, a orientagao, deste trader é que precisa ter foco. Quem nao tem foco nao consegue nada. Ele tem um plano para a vida. Quer acordar 204 FERRAMENTAS MENTAIS PARA TRADERS. cada manha sabendo o que esta fazendo na Terra. Quer sentir que seu tem- po é bem utilizado fazendo coisas boas. Operar cabe neste plano. Dé prazer, E um jogo, o trader gosta de certos tipos de jogo e gosta de calcular. Viu gente ganhando no mercado e decidiu ser um deles. Sabia que ia encontrar o caminho. Dedicou-se e 0 achou. Mas, para ter a paz que tanto preza, operar nao pode ser a tinica coisa que faz. Tem de haver outras atividades. Cré que tem que ver como operar um business. Tem que ganhar 0 pao de cada dia. Depois de fazer dinheiro de maneira regular, aumenta. Quan- do sabe ganhar 10, tenta ganhar 100. Quando sabe ganhar 100, tenta ga- nhar mil. Percebe dinheiro como algo positive — tem energia e uma boa idéia atrai mais ainda. Apesar disso, nao opera pelo dinheiro. Se fizesse isso, per- deria o foco. Nem sempre percebeu dinheiro como algo bom. Sentia culpa. Achava que dinheiro tinha de ser algo dificil, que tinha que suar para ga- nhar. Percebeu 0 problema, procurou ajuda e o resolveu. Para ele, quando traga as linhas de Fibonacci, percebe Deus agindo no mercado. Nao cré em sorte nem coincidéncias, Cré que quem tem pressa para ficar rico s6 ficar se Deus quiser. Sucesso precisa de planejamento e é preciso trabalhar, Ficou um ano desenvolvendo e testando sistemas “me- cAnicos”, Nenhum deu certo e hoje cré que um trade system existe dentro da cabega do trader. Para ele, um sistema tem que ser intuitivo ¢ simples, e o que da certo para ele sao médias méveis, Fibonacci e candle-sticks. Agora disse que o mercado “grita” o que vai fazer. Opera disciplinadamente com os mesmos padrées e sempre esta ten- tando refind-los. Segue cinco ou seis ativos que satisfazem seus critérios: tém que ter volume ¢ volatilidade. Somente opera com tendéncias, nunca briga contra elas. Quando opera, esquece o dinheiro, mas nao corre riscos com o seu capital. Toma uma atitude e corta as perdas quando passam do ponto. Usa um stop técnico e curto porque n4o quer um prejuizo que atrapalhe sua vida. Tem certeza com suas idéias, mas sabe que vai errar no “timing”. O prego age como um “pingue-pongue”, vai e vem. Quando n4o se move na dire- cdo dele imediatamente, sabe que esperar tem um custo que, as vezes, nao vale a pena pagar. F melhor aceitar o prejuizo, sair e esperar uma outra oportunidade. Tem mais stops que ganhos, mas, os prejuizos sao peque- nos e os ganhos grandes. Quando perde trés vezes seguidas, volta para operar no papel. Sabe que seus cAlculos sao bons e que o problema é “ele”. Obarcoeo sistema 205 Decidiu operar e inicialmente se deu bem. Depois comegaram as pan- cadas. Quando perdia, foi dificil agir. Tinha diividas e medo. Quando fazia testes em papel ganhava, mas com dinheiro perdia. Nas voltas subseqiientes do loop, com novas informagées ¢ os resulta- dos das suas ages, o trader comecou a ver coisas que no havia visto antes. Percebeu que seu sistema tinha de ser intuitivo e nao mec4nico. Percebeu coisas nele mesmo (sua personalidade) que n4o tinha visto antes. E cada vez aprendia mais sobre 0 mercado. A proxima rodada de decisées incluia a decisao de que ia ser bom. Ele sabia que tinha traders ganhando no mercado e decidiu ser um deles, dedi- car duas horas cada noite a estudar e operar como se fosse um negécio. ‘Também decidiu que, para manter a paz, tinha de meditar e ter outras ati- vidades. Hoje, cinco anos mais tarde, continua girando no OODA loop. E auto- mético, j4 cortou a “orientagdo” ¢ opera intuitivamente — exceto quando os resultados nao s4o 0 que ele quer. Entao ele para volta a se orientar até suas operagGes darem certo de novo. Operar é simples. Mas nao é facil! Boa sorte. E lembre-se do que disse Louis Pasteur: “A sorte fayorece a mente preparada.” oe Eo . as itt if : oe jae Cd Orne nates Entao, quer operar no mercado? Quer Beane) tt a oa E pion ecrat ra @LUCmaas ale fry Boa sorte. E uma decisao corajosa. Sai- ae | UU A d UT, | Lee Met Oe Monee TiCeCO Move tTENM Ce. ieott bientes mais concorridos e darwinianos ey | a a ‘ en na face da Terra. Somente os predadores f mt ii aa sobrevivem para recolher as recompensas. E, AE ma para juntar-se a eles, vocé tera de ter — ou de- ae | é France) Ao aero ato CCUG Cann rl ote Conte Mace i » i librio emocional. Bika ycd os ecre oka (OM Ne Rela Co Tem OTC zee acon ce Tbe LCkeRe US querem, tém um plano para consegui-lo e executam-no sem medo ou piedade. Vocé também pode dominar o lado técnico do mercado e desenhar um plano, mas sera que consegue dominar seu lado emocional o suficiente para segui-lo? As estatisticas mostram que nao. A maioria perde, apesar de saber 0 que deveria fazer. Acaba sucumbindo as suas emogdes — medo, esperanga e avareza — e desviando-se do plano. E bom que existam iraders assim. Afinal, o mercado é um jogo em que nem to- Flore srorelesesUeCe NOV TeV @ Lg Ts) MIAO Meo ce eos oo tetec UL ROSe O Ke SO mais consistentes. Dao vida ao mercado, sao seu sangue. Vocé, antes de entrar, deve decidir em que lado quer jogar. Quer dar vida ao mercado ou viver dele? Este livro ira ajuda-lo a vencer stias emo¢oes, minimizando o “sangue” derrama- do enquanto aprende as regras do jogo. C2 —< Uma empresa Elsevier PDA agiaay 2 cat ni TRADE ICRI lan PETIT MIOSMUN GT TLIC ay - ca ae i O i e mn nut om tt mT ‘ ‘il «l= cv i te wa mM G Eo tee a To | THULE unl aly

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