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OS USOS DO ARGUMENTO Stephen Toulmin Tras BREINALDO GUARANY Martins Fontes Sto Pao 200) owe met geaanioeconi haps mmo Sumério Prefacio. Proficio d edigado em brochura. Introduséo. 1. Campos de argumento e modais. ‘As fases de um argumento Impossbilidades e impropriedades. Forga ecritérios ‘A campo-dependéncia dos nassos padres. (Questbes para a agenda U. Probabilidade. Eu sei, eu prometo, provavelmente “Improviel porém verdadero” Alegagies impréprias e alegagies equivocadas O labirinto da probabilidade Probabilidade ¢ expectativa. Relagdes de probabilidade e probabilificagio ‘A palavea “probabilidade” € ambigua’ ‘Teoria da probabiidade e psicologi, 0 desenvolvimento de nossos conceitos de proba bilidade. var 18 31 B sl 55 111.0 tayout de argumentos. (0 padirio de um argumento: dados e garantis. (0 padrio de um argumento: para apoiar nossas ga rantias « ‘Ambigiidades no silogismo. ‘A nogio de “premissas universis” ‘A nogio de validade formal ‘Argumentos analitcos e substanciais| ‘As peculiaridades dos argumentos analitcos ‘Algumas distngdes crucias, (0s perigos da simplicidade IW, Ligica pritica eldgica idealizada. ‘Uma hipétese e suas conseqincias. A verificagdo desta hipotese ‘A inrelevincia dos critéris analiticos. ‘Modbalidades légicas [Logica como um sistema de verdades eters, Construgdo de sistema e necessidade sistemética, ¥.As origens da teoria epistemoligica ‘Conseqiignciasadicionais de nossa hipdtese Podem os argumentos substanciais ser redimidos? 1 ~ transcendentalismo. Podem os argumentos substanciais ser redimidos? I~ fenomenismo e ceticismo. ‘Argumentos substanciais ndo precisam de redencio ‘A juslifieagio da indugio, Inigo e © mecanismo da cognisio. A inrelevincia do ideal analitico. ‘CONCLUSAO. Referéncias| Indice remissivo: I. Nomes préprios 2. Termos introducidos ow discutidos. 13s 139 17 154 162 176 182 193, 202 209 2 m1 238 2a 253 268 301 310 319 327 331 335 33 354 361 371 33 378 Preficio A intengdes dest lvro so radicais, mas grande parte dos argumentos que apresenta nio sio originais. Tomei em- prestadas de colegas muitas linhas de pensamento © adap- tei-as aos meus proprio propésitos; pela referencias dadas ‘no final ver-se-4 quantas foram. Penso no entanto que ainda no se reeonheceu nem se expos adequadamente a que ponto convergem essa linhas de argumento; porque seas levamos completamente a cabo, com coeréncia, somos levados (se rio estou enganado) a rejeit-las, como concepgio confusa de “inferéncia dedutiva",apesar dos muitos filésofosrecen- tes que as aceitaram como impeciveis, sem esta. A tnica coriginalidade no livro esti na tentativa que fago de mostrar como se pode reeitar aquela conclusfo, Se falharo ataque que equi tento a “inferéncia dedutiva”,sobrara apenas uma misceldnea de aplicagdes de idéias de outras pessoas a con- ceitos et6picos logicos. ‘Alm das referéncias a obras publicadas, que oferego no texto ou que slo relacionadas no fim do livo, estou cons- ciente de que tenho uma divida geral para com 0 professor John Wisdom; suas aulas em Cambridge, em 1946-1947, cha ‘maram minha atengdo, pela primeira vez, para o problema «da “inferéncia rans-tipo”- Mais detalhadamente;o argumen- to que uso para defender tese central de meu quinto ensaio foi construide a partir do curso dado pelo professor Wisdom vit ‘050805 D0 aRcuweNTO hi cerea de sete anos ¢,infelizmente para nés, ainda no pu- blicado ~as Gifford Lectures. Também estou consciente da ajuda particular que obtive, sobretudo em conversa, dost B Alexander, do professor K. E. M. Baier do sD. G. Brown, do dr. W.D. Falk, do professor-adjunto D. A. T. Gasking, do sx. P. Herbst, do professor Gilbert Ryle e do professor D. Taylor. Em aiguns casos ndo me convenceram € sot 0 tinico responsivel pelos resultados, mas todos estes merecem ser creditados por quaisquer boas idéias de que me aproprei e sel aqui Parte do material que apresento nestes ensais ji foi publicada em Mind e em Proceedings e em Supplementary Volumes da Aristotelian Society. Muito do Essay Uj esti Jmpresso em A. G.N. Flew, Essays in Conceptual Analysis (Londres, 1956), ‘STEPHEN TOULMIN Leeds, juno de 1957, Prefacio a edigdo em brochura Nenhuma alteragdo foi feta no texto da edigdo origi- nal para a presente impressio; mas fico contente pela opor- tunidade de dizer que, cinco anos apés a publicagdo orig- nal, ainda sinto que as quests levantadas neste livro con- ‘invam to relevantes para os temas prineipais da atualfilo~ sofia inglesa, quanto na época em que escrevi o livro. Na verdade, a recepgio que os erticos deram ao argumento do livro 6 Serviu para tomar mais aguda, para mim, a questio «de minha tese central ~a saber, 0 contraste entre 0s pares e valores do raciocinio pritico (desenvolvido com um olho ro que chamei de consideragdes “substanciais") € os erie figs abstratos e formais com que contou a logica matemé- tica e muito da epistemologia do sEculo XX. De fat, 0 livro foi recebido com mais entusiasmo por aqueles cujo interes- se em raciocinio e argumentagio tivessealgum ponto de par- tida prtico especifico:estudantes de Dircito, de ciéncias sicas e de Psicologia, entre outros. Falta ver se, & medida ‘que passer o tempo, as implicagdes de meu argumento em favor da eoria lgicae da anise filosfica tomar-se-Bo mais, aceitveis ——— ST Outubro de 1963, Introdugéo Tipdtoy erneiv neph vi xa tog tot A axtytg, ot nepk anodeiGw Kal Emotmpng dnobeucTG -Ariiteles, Primero analitcos, 24310 © propisito destes etudos& Jevantar problemas, no resolvon{ chamar a tengo pra un campo We Tage — ‘io, em vez de examiné-lo completamente; provocar @ discusslo, em ver de ser usado como tatado sistem. ‘Sto “enssis",em ts sentidos: a0 mesmo tempo, sf0in- curses experimentas no campo com que se ocupam; so texames de concetos-modelostrados bem arbiariamente pecial para nds: ele levado a insistir que a propria palavra “probabilidade” ¢ completamente ambigua, ¢ as razBes que presenta para insistir na questo se revelario esclarecedaras. Longe de admitir que seja uma conclusfo apropriada, argu ‘mentarei que é um paradoxo imposto a ele justamente por- {que ele reeita com tanto desdém todas as questdes sobre *probabilidade” num sentido menos téenico. Quando tais, consideragdes s8o reintroduzidas os paradoxos para 0s quais, cle se encontra impelido podem ser resolvidos. (© programa deste ensaio ser, mais ow menos, como se segue, Comecareisnalisando as origens mais primitivas da nog de probabilidade e sequite, por estigios, em direio 1 seus refinamentos mais sofistcados ¢téenicos. Ao fazé-lo, ‘stare visendo apresentar, com clareza, as relagdes entre 0 termo “probabilidade” e a familia geral de termos modais. A medida que a analise avangar, comparare os resultados ‘obtidos com a$ teorias filosdficas de Kneale e de Carnap, ‘mostrando onde, em minha opinido, eles se extraviaram por deixar de tratar, de mancita suficiente, da funsio pritica dos, termos modais. Algumas das distingBes e conclusdes que a investigagio trari luz sero esclarecidase formuladas mais, plenamente nos trésensaios restantes. 6 ‘08 esas D0 ancumeNTo Eu sei, eu prometo, provavelmente Examinemos primeiro aquilo que todos aprendemos, 0 advérbio “provavelmente” sua forga pode ser mostrada da me- thor maneira com a ajuda de alguns exemplos elementares. (Chega um momento na via de um garoto bem-edvea- do em que ele se encontra num dlems, Durant a tima s- ‘mana, ele foi brncar todos 0s das depois do ché com wa ‘menininha que mora na ra prima, e comegou a dar valor ‘estima dela Agora, a hora de ir para a cama esth pert, ‘mane chegou para buci-o e sua companhia diz eam olhos bihantes:“voo® vik maa, no vird?”, Em gral, ele teria respoadido “sim” sem nenbum ree, pos todas as outras tardes el tina plea inten de volar no dia seguine, sem saber de nada que 0 atrapalhasse. Mas...iham falado em ‘asa sobre uma visita aojardim zologico amanhi es sso, lem do chi depois, na casa de chi, ea mulidio no mew sig nificase que eles chepariam tarde em casa e que ele fltaria depois de haver dito "sim. Como avid € dif! Se ele ser “sm! e depois no puder i, ela trio dieito de achar ‘que ele a humilhou. Se ele disser “ndo” e depos volar & ‘tempo afinal de conts, ela noo estar esperando, eel nfo seri capaz de ir, de maneiradecene:e, dese modo, terse rvado, por sua propria palavra, de seu principal raze. ‘que cle deve dizer? Ele se volta & mie par pedir ajuda. El, ‘compreendendoo lems, sore apresenta uma sida: “Diga cla que voetpronavelmentevri, querido.Explique que no pode prometer, i que isto depended hora em que chega Temosem cas, mas dia que voo! vei se for possivel.” Agr teirameme) Seguro disso; quando digo “ari eu nfo pelo menos que espero fazer e, se fui educado de manera esis, ‘ue tenho (plena) inlengo de fazer. Se apenas acredito que SP, poss acrescenar “mas claro que posso (muito ber) ‘estar era; 86 8 apenas espero fizer A posso acrescen- tar “mas elo que poss (muito bem) néo fazer”. Quando eu apenas acredito ou apenas espero, reconhece-se que outros indcios ou outrascircunstincias si capazes dome fazer mu ‘ar de iia Se eu digo "S & P” quando nem sequerscredi- to isso, ev estou mentindo; se e digo isso quando aredito isso, mas no tenho certeza, posso estar induzindo em ero, ‘mas no estou exatamente mentindo. Se eu digo “frei A’ ‘quando nio tenho esperancaalguma, nem mesmo a menor intengo de fo, ento estou enganando de manera dei berada; se digo isso quando no tenho plenaintencio def 22, est induzindo em erro, mas no estou enganando de forma delberada da mesma manera "Mas agora, quando digo “eu prometo”, um novo passo arriscado ¢ dado, Nio apenas anunciei minha inensio, mas, 80 usar essa frmula (elizar ese ritual), eu me compro: ‘eli com outose arrsquei minha eputagio, de uma nova ‘manera, Do mesmo modo, dizer “eu sei” € dar um novo asso arriscado, Mas ndo € dizer “eu realize’ ma proeza ‘e cognigio especialmente admirivel, superior, na mesma ‘scala de acrediar eter cetez, até mesmo ater simples- mente inca cere"; pos ado nada nesta esala supe Fior ater inteiracerteza. Assim como prometer no algo superior, na mesma escala de esperar tencionar, @ apenas tencionarplenamente; pois mio hd nada ness escala supe tencionarplenamente, Quando eu digo “eu sei", dou 0 (5 us0s Do anavMenTO minha palavra ¢outos; dou a outros minha auoridde para dizer que “S € P”. A dificuldade de nosso garoto pode ser expressada da seguinte maneira, Se, em resposta a0 apelo de sua compa ‘heira “voc8 vied amanhi, nfo viri?”, ele disser “sim, eu virei" ele esté se comprometendo, Pois externar as palavras “sim, eu vitei”€ dizer que vira, € isto, embora nio sendo tio solene ¢ portentoso como uma promessa, de alguma ‘maneira quase uma. (“Eu no prometi”;“alvez nfo, mas na tia prometeu".) Ao dizer “sim, eu vite”, ele nfo apenas ‘leva a esperislo (isto 6, a prever, a fazer preparativos para sua chegada). Ele também assegura que vir amanhd € algu- ‘ma coisa que é esperada dele; ele di razbes para ela recti- rminé-lo se no aparecer, embora claro que nao razio para ‘censuri-lo em termos to fortes como teria direito se el fal tasse depois de haverprometido ~ isto 6, apds ter dito de ma- nea solene “eu prometo que virei”. Dizer “sim” quando ba- via alguma razio para supor que podia ser impedido de ir seria, por conseguinte, acumular enerenca para si mesmo. ‘A finalidade da palavra “provavelment a palavra “talvez”, & a de evitar essa encrenca. Ao dizer “eu sei que S ¢ P” ou “eu prometo fazer A”, eu me com- prometo de maneira expressa, de uma maneirs que também ago — embora num grau menor e apenas por ilagd0 —se dis ser que “S €P” ou “eu frei A”. Ao dizer “S € provavelmen- te P” ou “é provavel que eu faga A”, eu evito de maneira ‘expressa me comprometer sem reservas. Desse modo, eu me _asseguro contra algumas das conseqiéncias de faltar. Assim, “cautelosa” ~ isto é, nas palavras do Pocket Oxford Dictionary, “segurada por estipulagdo contra abuso ou mal-entendido”. Mas o seguro ndo ¢ ilimitado; a 5. "Other Mine Lic ond Langage, sein sp 18-4 Prowasiupsne n natureza da estiulago deve, em casos norms, secbem es- cTaresia (“depende da hors em que cheparmas em cas), € 8 proteio proporcionaa pelo so da palara“provavel- tent” se estende,em primero lugar, apenas pare aquels Contingéncias que fram estpuldas deforma express. Di- zr eu prvavelment vrei, mas depende da hora que vol tarmos do jadi 2olgio", depois noi apesar de volar com tempo de soba, seria (ands que no sja aude deli- berada) em todo caso “rar roveit"; lo enganaor quan- to dizer, sem reeres, eu vie” depois nto i. Voce ext de novo, comprometiae, por consepunt,€ de novo res. ponsivl;tentar descuiparse dizendo "mas eu apenas Ihe disse que provavelment vir seria wma tired de mi claro que alautm qe usa a palava “prowavelents™ dessa manta tampouco est permiid falter sempre ou com freqiénia, mito embora posa terse “protegido™ de rancraexpresa todas as ves. Ao dizer “provavelmen- te, voce se tomou responsivel pelo cumprimento, se n30 ém todas, pelo menos numa proprsiorazoavel de oases no basta que ve tena una desclp par cada fa indi vidual. Apens em certos casos especializados & que ese ‘equisito€suspeso de forma tia "Quando una mulher diz taver ela quer dizer ‘sin’ quando um diplomat diz “talver’, quer dir ‘no Por fim, econforme a natureza do eso, determinadas formas de plavas so probes. Seguindo de novo o exe plo de Austin “"Voed est pribid de dizer eu sei que as Sim, mas posso estar erado, asim como est pri de dizer "prometo gue ii, mas posso fltar. Se woo’ est ciew te de que pode estar equivocado (ter alguma razio concreta para supor que pode estar errado nesse caso), no devia di Zer ne abe, asim como, se ex conciente de gue pode romn- per sua pala, no tem odteito de prometer™ Da mesa n ‘os us0s bo akcuwenTo rmaneira, e pelas mesmas razes, voc# esti proibido de dizer ‘eu provavelmenteirei, mas no serei capaz de it"; visto {que dizer isto &retrar, com a titima metade de sua decla- ragio, aquilo que vooé deu na primeira. Se voeé sabe que rndo seré capaz dei, nfo tem 0 direito de dizer alguma coisa {que 0 comprometa a ir de alguma manera. [Neste primeiro exemplo, vemos como a palavra “prova velmente” vem a ser usada como um meio de dar garantias cuidedoses e fazer declaragies qualificadas das intenges da pessoa, Os filésofos, no entanto, tém estado menos inte ressados nessa espécie de uso da palavra do que em seu uso ‘em afirmagées cientificase, especialmente, em virtude da ligaeio tradicional entre os problemas de probabilidade induglo, com seu uso em previsbes. Por conseguinte,& im- portanteilustrar 0 uso cotidiano da palavra “provavelmen- te” em tal contexte, para este propésito, podemos esco- Ther um tipico resumo de uma previsfo de tempo: ‘Uma complexaalteragioatualmente sobre Islinia ests se movendo na dirego lest. Condigbesmibadas, que agora afetam o nore da Irlanda,atingtto 0 noroeste da Ingles ‘durante o dia, estendendo-se, provavelmente, para oresto do pals no decorrer d tarde e da noite ‘Todos os tragos caractristicos de nosso exemplo ante rior também devem ser encontrados aqui. As pessoas do De- partamento de Meteorologia, que fazem a previsio do tempo, esto preparadas para se comprometer, sem reservas, com a primeira de suas previsBes (de que condigges nubladas ain- Birdo o noroeste da Inglaterra durante o dia), mas no estio preparadas para fazer o mesmo no caso da segunda (de que ‘as nuvens se estenderdo para o resto do pais durante a tarde ‘ea noite; e elas sabem que, sendo o Departamento de Me~ teorologia © que é, temos de nos guiar por aquilo que eles dizem. Se cles previrem, sem reservas, nuvens para hoje prownuioave B mais tarde e 0 cfu permanecer claro, podem, com justifica- fo, ser atacados pela dona de casa que adiou a lavagem da ‘oupa pesada por conta de sua previsio. Se eles dizem'..com. certeza se estenderio.." ou “nds sabemos que as condigies nubladas se estenderdo..", em easo de falha haverd mais ‘azo ainda para queixas; visto que, como a tarefa do D. M. saber isso e eles so as autoridades no assunto do tempo, nbs temos a tendéncia ater como certo no caso deles a fr ‘mula introdut6ria “nds sabemos..". No atual estado de sua cincia, etretanto, eles nio podem sempre se comprome- fer, com seguranga ~ isto &, no podem sem procurar encrenca ~, com previsdes no qualifieadas para mais de tum periodo de tempo extremamente limitado; entio, 0 que eles terdo a dizer sobre a proxima noite? ‘Aqui, mais uma vez, a palavra “provavelmente” ganha {fama merecida. Assim como ela encontra lugar como um meio para dar garantias cautlosas restrtas, também pode ser usada quando temos de externar previsies cautelosas e restritas ~ previsdes para as quais, por uma ou outra azo conereta, nlo estamos preparados, com certeza, para nos comprometer. Mais uma vez, entetanto, © uso da palavea “provavelmente” assegura a pessoa apenas contra algumas, das conseqiéncias da fala. Se os meteorologists dizem “es- tendendo-se provavelmente”, eles se protegem apenas dentro daqueles limites que devem ser reconhecidos como razoé- veis no atual estado da meteorologia, Se ndo aparecerem ravens sobre o resto do pais mais cedo ou mais tarde, temos © direito de perguntar por que. E, se, em resposta a essa in- uirigdo, eles se recusarem a apresentaralguma explicasio, ‘como a que poderiam dar dizendo “o anticiclone sobre 0 norte da Franga petsstu por mais tempo do que ¢ habitual, nessas circunstincias”,e tentarem desculpar-se com as pa- lavas “afinal de contas, ns apenas dissemos que provavel- ‘mente as nuvens se estenderiam”, estario, enti, usando de 1 (05 u80s D0 ARGUMENT cevasivas,Fugindo, tergiversando, e nés teremos 0 direito de ‘suspeitar de que a previsio deles, muito embora cautelosa ¢ ‘esttita, foi uma previsto imprépria ~ isto é, uma previsio feita com fundamentos inadequados. (Nesse ponto, 0 uso do termo modal "provavelmente” para indicar a qualidade de subpadtio do indicio do argumento i disposiglo da pes- oa que fala comega a aparecer) ‘Além disso, se voo# usa a palavra “provavelmente” em previsdes de maneira correta, nfo tem permissio para se mostrar errado sempre ou com freqdéncia, muito embora possa estar protegido de forma express todas as vezes. Nas previsBes como nas promessas, a0 dizer “provavelmente”, ‘océ se tonna responsivel pelo cumprimento numa propor Gio razodvel de ocasides; no basta que tenha uma explica- ‘0 para cada fala isolada. Por outro lado, nas previsdes, tigagdo, Se pudermos ver o caminho que seguimos para es- clarecé-os, seri bem importante solucioné-los ~ sobretudo para entender o que é a ldgica. Mas temos de comesar com cautela e evitar questdes filoséficas sobre as quais espera ‘mos langar alguma luz mais tarde; concentremo-nos, por enquanto, em questbes mais dretas e prosaicas. Sem per- der de vista as categorias da logica apicada ~ isto €, a Vidade pritica da argumentagdo e as nogGes indispensiveis para argumentar ~ temos de perguntar que caractersticas deve ter um layout logicamente immparcil dos angumentos. Para estabelecer conclusies & preciso considerar uma série de questdes diferentes —de diferentes tipos -etemos de con- siderar estas questdes para analisar os aspectos priticos; ‘nossa primeira pergunta€: que questdes so essas¢ como po ‘demos fazer justiga a todas elas quando submetemos nossos argumentos a avaliagdo racional? Duasiitimas observagies anda dever ser feitas guisa de introdugio, a primeira das quais 56 para acrescentar outra pergunta & nossa agenda, Temos o hibit, desde Aristteles, ao analisar a microestrtura dos argumentos, de apresentila {de modo muito simples; apresentam-se juntas tres propos 98es, “premissa menor, premissa maior; portanto, conchi- Ho”, Nosso problema agora € saber se esta forma padrlo & 138 (0s vs0s D0 anouMenTO suficientemente elaborada ou imparcal.E claro que a sim= plicidade & um mérito, mas, neste caso, a simplicidade no hos teri custado caro demais? Podemos adequadamente hum sueco & catélico romano”), também se pode estabe- lecer uma distinglo semelhante. Também este tipo de afir- ‘magi pode ser empreyada sob duas formas ~ como relaté- Fig estatstico ou como garatia de inferncia, Pode servir para simplesmentetelatar uma descobertafeita por um estatist- 0 ~ digamos, que a proporgio de suecos catdlicos roma- nos &, de fato, 2er0;e, por outro lado, também pode servir para justficer que se pode trar uma conclusdo do argumen- to, tornando-se equivalente afirmagdo explicite “pode-se assumir com certeza que um sueco ndo & catéieo romano E podemos fazer a mesma interpreta, se examinarmos um argumento que inclui nossa afirmaglo-amostra como pre- rissa universal, Consideremos 0 argument: Petersen € sveco; ‘eum sueco € catéico roman; assim, com certeza, Petersen ni € calico romano. (Que pode ser entendido de dois modos; podemos eserever: Petersen € sueco: a proporgio de suecos cation romanos € ze; Jogo, com certezs, Petersen ndo calico mane; « podemos também escrever: Petersen &sueco: tum sueco no €, com ceteza, calico roman; logo, com cetera, Petersen no €eatlico romano. OLAvOUT DE ancuMENTOS 139 Aqui, mais uma vez, a primeira formulagio equiva, ‘na nossa terminologia, a dspor o argumento na forma “D, B, logo C”; a passo que a segunda formulacdo € equivalen- tea disp6-lo na forma “D, W, logo C”. Portant, no caso de estarmes lidando com um argumento do tipo “quase ne- ‘nhum..” ou com um argumento do tipo “nenhum..", 0 modo hhabitual de expressi-o tender, nos dois casos, 8 ocular de nds a diferenga que hi entre uma garantia de inferéncia e ‘seu apoio, O mesmo seri verdade no caso de “todos” e“quase todos”; aqui, mbm, a distingio entre dizer “descobriu-se {que todo ou quase todo A é B" e dizer “pode-se assumir ‘com certeza ou com quase certeza que algum A é B” acaba escondida pela forma supersimplificada da expressio “to- dos 0s As sfo Bs”. E, deste modo, pode acontever de uma iferenca crucial na fungio prtica passar despercebida, sso modelo de anilise, mais complexo, em comps raglo, evita esse defeto. Ele no deixa espaco para amt siidade; criam-se, no modelo, lugares inteiramente separa- dos para o que é @ garantia e 0 que & o apoio do qual de- pende a autoridade da garantia. Por exemplo, nosso argumen- to “quase nennum..” tri de ser exposto da segunte manera: D(Paeren Assim Q(quase C (Petersen no sue) ferameni) ection Hague romano) (Pode-sssumin com quae erica que um seco lo & ‘aio romano) I Pergue 8 (A proporso de sscos ‘atlieos manos € menor gue 2%) 160 ‘os usas Do arcuMeNTo EE devem.se transcrever, por este modelo, os outros tr ti- pos. Deve-se portant ter em mente a mesma dstingdo tam- ‘bém quando teorizamos sobre o tipo de slogismo no qual p0 akcuweNro problema permanecerd oculto por trés da ambigdade da forma da sentenca “todos os A's so BS": mas, uma vez que tomemos explicita @ distingdo entre dados, apoio e garan- tias,j4 no podemas continuar a esconder 0 problema de inés mesmos. A grande gloria de David Hume foi ele teren- frentado resolutamente esta dificuldade e ter-se recusado a se esconder por tris das ambigdidades, por mais paradoxais aque fossem as conseqigncias. ‘Tentemos agora levar até o fim estas conseqiéncias, para ver aonde somos levados. O paradoxo no deve nos de- ter: ele ser inevitvel. Para comesar, quando comparado com. nosso novo pads de argumento “dedutivo”, nlo se pode ‘continua a dizer que os argumentos substanciaissejam “de- nos que certas ~ 2s conclusées das ciéncias experiments “tém apenas alta probabilidade”. Ao mesmo tempo, ele rec0- rhece que esta opniio parecert paradoxal para os nlo-ligi- 08, visto que em gral fazemos uma distingo entre conclu ses cientificas que tém de ser rotuladss com um acautela- dor “provaveimente” as conclusbes cient de ser assim rotuladas. Fle atribui esta divergéncia ao pedan- tismo dos légicos, embora ndo pareca convcto. Afinal de conta, se estivesse falando a sério, condenara ele mesmo € seus colegas l6gicos a0 riiculo ou ao desprezo. 24 ‘os vsas bo arcuMexro Para nossos propésitos, que se tem de notar so as mz 28es que Kneale oferece para rejeitaralegagies de certeza ‘em favor das cincias experimentas, Essascincias, ele ar- _Bumenta, slo indutivas (no “dedutivas), e suas conclusdes, ‘0 contririo das conclusBes da matematica pura, nio sio cevidentes por si mesmas nem podem ser demonstradas por raciocinio eonclusivo (no so em si mesmas logicamente necessirias, nem so conseqiéncias analitcas de proposi- «8es logicamente necessrias). Esta € sua primeira razo para Io conceder is eigncias algo mais do que ata probabilidade ‘Como uma reflexdo posterior, ele acrescentao fato aparen- ‘temente adicional de que nés “sempre podemos conceber 3 possibilidade de experiéncias” que nos obrigariam a rever {qualquer teoria cientifica,e, assim, a reconsiderar as expli- cagies que tenham sido dadas até entdo, nos termos daque- la teoria. Mas isto vem a ser a mesma questi, reformulada, visto que fica claro pelo contexto que suas palavras “sem pre podemos conceber a possbilidade.” devem ser lidas como se significassem “é sempre logicamente possivel que tenhamos de..”, ov em outras palavras “nunca ha contradi- 20 em supor que tenhamos de revé-las”. Kneale nio alega ‘que temos, no presente momento, res conerelas para supor que todo resultado individual da pesquisa cientifica,inclu- sive os mais bem estabelecidos, esteja claramente exposto 20 risco de ser reconsiderado, dentro de um futuro previsivel; dizer “é sempre possivel que aconteca de elas terem de ser revistas”,ndo é, para Kneale, expressar uma ressalva ava 6, apenas, falar sobre o reino da possbiidade logica. Resumindo: primeiro Kneale contrasta os resultados das cincias experimentas eas conclusdes da matemitica pura, fim de apontar a diferenga entre argumentos substanciais € analitics; em seguida, invoca eritérios de nevessidade € padres de certezarelevantess6 para argumentos analitcos;, entio, descobre (de modo nio surpreendente) que esses cri~ {LOGICA PRATICAE LOGICA IDEALIZADE 22s térios e padrdes ndo sto apliciveis, dependendo da nature- 24 do caso, aos argumentos substanciis; e apresenta esse resultado sob a forma de um paradoxo. No final, esse para- oxo € atenuado (mas sem conviegio e sinceridade) eapre- sentado como to inocente que chega a parecer pedante “Mas o autor nfo dé o passo seguinte ~o de admitir a prot bilidade s6 para os argumentos anllticos. (2) O que o st. PF. Strawson tem a dizer em sua n- troduction to Logical Theory & especialmente interessante para nossos propdsitos: tendo, no inicio, amarrado as pro prias mos, no final, para soltarse, ele faz gindstcas dignas de um Houdini A corrente de definigdes nas quais se amar- ano capitulo de abertura vincula rigidamente nossos qua- lificadores modaise as nogdes de consisténcia,contradigao implicagdo, e até a nogdo de validade acaba associada a este grupo! Dizer que os passos (num argumento) slo vilidos, que 8 conclusto segue as premissas,€ simplesmente dizer que seria ineonsistenteafrmar as premissase negara eonclusio, ‘que a verdade ds premisas¢incompativel com a falsidade derar a Lgica formal como sendo o estud da cincia€ da ste do racioeinio, Ele observa que todos os procesos ind tivos sho, por pads dedativos,ndo-dlids; a8 premissas jinas implicam necessariamente as conlusdes. Pos bem, ‘0s processosindutivossfonotoriamente importantes na for- ‘magio das renga eexpetativa em relardo ato o que est lem da observacio de testemunbasdisponives. Mas um ar- ‘pumento invalid € um argumentondo-slld; um argumen- to ndo-slid & um argumentoem que io se ofeecenenhuma boa razdo para aceitat a conelusde. Desse modo, s€ 08 pro ‘cess indutivos sd invilids, se fossem nlo-slidos todos (08 argumentos que apresentissemos, se cotestados, em su ore de nssascrengas em relagio a0 que est além daobser- vagio de tstemunhas dsponiveis, eato no tes nennv- ‘ma boa razio para quaisquerdessas cengas. Esta conelusio repunane. Assim, singe a exigéncia de uma justiicago, rio desea ou daqucla erenga particular que val além do que {acaretado por nosso inicio, mas uma justiieaio da indu- 0 em geeal. E quando 2 exigéncia surge dessa manera, 0 {ue se quer, de ito, & que nd seja mosteada como um tipo de ded: visto que nada menos que isto satsfar aquele que duvida, quando esta fra rota das vides.) ‘ge se exige & que a indugdo seja mostada como um pro ‘ess racional;e isto ver ase exigie que um ip de acio- ‘iio sea mostrado como um outro e diferente tipo(..)- Mas, claro, 08 argumentosindutivos no si dedutvamente vl ‘os; 88 fossem, seriam argumentos dedutivos.O racioenio induivo deve ser avaliado, para veriiar se € sido, por LoIC4 PRATICA LOGICA IDEALIZADA 2 ‘padres indutvos. Mo obstante, por mas que paeyafantis- tico desejar que a indus seja deducd, spor este descio podemos compreenderalgumas das tentativas que tém sido feitas para jstiicar a indi. Nesta passagem, Strawson ~ como, antes dele, Kneale — reconhece a divergéncia entre aandlisetebrica de nossas categorias eriticas dadas por légicos e a maneira como as, cempregamos na prética;e faz melhor justia aqueladivergén- cia do que Kneale, ao admitir que as conclusses dos logi- ‘cos muitas vezes parecem nio apenas pedantes a um nilo- fildsofo, mas repugnantes. Desse modo, faz esforgos mais sérios para escapar da dificuldade e procura algum modo de admitir que as conclusdes e argumentos cientificos aspi- ‘ama um poder de conviegdo, forge vaidade daquele tipo, ‘Strawson comega com um mevimento promissor: admi- te que os argumentos podem ser de tipos diferentes, cada tum deles com direito de ser julgado em seus proprios termos. «© por seus préprios padres. Mas ndo consegue ser bem sucedido e completar seu argumento. Para nossos propés- tos, © que temos de esclarecer & a razlo de seu fracasso. “Tudo poderia tr terminado muito bem, se Strawson jé ro estivesse comprometido por sua propria terminologa ‘Como Kneale, ele afirmou o contrast entre argumentos cien- tificas e matematicos em termos das palavras “dedutivo” e “indutivo", mas nio disse qual das quatro ou cinco idéias fundidas nesses termos quer marcar com cada palava, E ai std — no ato de fund cinco diferentes distngSes em uma de confundir questdes sobre validade formal e necessidade ‘com questdes sobre analiticidade — a fonte de seu problema, Por este ato & que faz com que a exigéncia “de a indugdo ser dedugio” ~ que ele considera fantéstica ~transforme-se, de fato, em exigéncia inevitivel ‘Consideremos a afirmagio “é claro que os argumentos indutivos nio sio dedutivamente vilidos; e fossem, seriam. 228 (0s us0s D0 anqumenTo argumentos dedutivos” - que €0 &mago da reducto ad absur- dum de Strawson, Se substituitmos a palavra“dedutivo” por cada uma de suas possiveis tradugdes, uma depois da outa, ‘veremos como se crow a dificuldade. Comecemas com “ana litico”.Essasduas sentengas-chave se tornam entdo:“E claro {que 05 argumentos cientificos (sendo substanciais) nao sio analiticamente validos; se fossem, seriam angumentos ans- liticos. © raciocinio cientifico precisa ser avaliado, para verificar solidez, por padrdes cientifics.” Esta afirmagao esti totalmente em ordem e, reconhecida a verdade que ela expressa, -se o primeiro passo para abandonar o paradig- ‘ma analitico; 0 desejo que os argumentos cientificos sejam analiticas e, por conseguint, no substanciais, seria de fato fantistico, como Strawson diz. Mas ele usa esse insight como cobertura de agicar para uma pilula decididamente amarga, visto que, em ts outras possiveis interpretagies, ‘o que ele diz é absolutamente inacetivel. Se, por exemplo, substituirmos sua palavra “dedutivo” pela expressi0 “for- rmalmente vélido”, obtém-se: “E claro que os argumentos cientficos nio sfo formalmente vilidos; se fossem, seriam argumentos formalmente validos, O raciocinio cientifico deve set avaliado, para verificar solidez, por padrBes cien- tifios.” Hd aqui una lacuna completa: porque os argumen- tos cientificos no teriam de ser formalmente validos? Newton, Laplace e Sherlock Holmes, todos testemunhariam. que nada hi de fantastico neste deseo. ‘Assim como tampouco se seguira algum despropésito se substitussemos “que use garantia” e “inequivoco” pelo “dedutivo” de Strawson, O desejo de que certos argumen- {os cientificos substanciaissejam formalmente vidos, ine~ quivocos e usem garantia, ede maneira perfeitamente apro- priada incluam um “tem de" ou um “necessariamente” na conclusio, 6 parecerd absurdo se identificarmos esse dese~ {o.com um outro desejo manifestamentefantstico ~ 0 desejo LocIea prince ocICA EALIEADA 29 de que os argumentos cietificos sejam analitcos. Esta iden- tifieasio, como jévimos, ¢ um efeito do quidruplo contraste 4o teorico légico entre “dedugdo" e “indugdo”. Meu tinico assombro€ que alguém (exceto, talvez, Carnap) tenha algu- ma vez desejado, de fto, 0 notrio absurdo de trata argu: ‘mentos cientifieos substancials ndo s6 como dedugdes, mas como dedugdes anaiticas. (G) Kneale reeitou qualquer assergio de que as conclu ses cientifieas pudessem seguirse necessariamente dos {0 ter coragem para entrar mais um pouco nels. [Nao temos interesse direto aqui nas opinides de Hume sobre a imaginagio. No entanto, o que ele tema dizer sobre ‘© entendimento tem relevncia dieta para nossas investiga «Bes. Pois 0 argumento pelo qual, como ele dz, “jé mostei que 0 entendimento, quando age sozinho (.), ndo deixa 0 ‘mais baixo grau de indicio em qualquer proposigdo, na flo- sofia ou na vida comum, um argumento no qual, em cada paso, ele reeita qualquer coisa que ni sejam provas ¢ cri {ériosanalitcos. Nao hi nenhuma certeza de que uma pitada de sal posta em agua se dissolva. Por qué? Porque por ma indicios passados e presentes que eu possa ser capaz para apresentar de que o sal se dissolveu e se dissolve na égua, posso supor que uma pitada jogada na dgua aman perma nega sem se dissolver, sem que esta evidéncia contradiga, {qualquer dos indicios que apresentei, Quando duas bolas de bilhar que estdo em cima de uma mesa de bithar colidem, rio hé nenhuma necessidade de o movimento de uma ser ccomunicado outra, por mais eu se saiba que isto unifor- ‘memente aconteceu no passado, Por qué? A resposta€ igual & anterior: porque a suposigio de que a regulridade possa no acontecer no futuro ~ ea bola possa permanecer imé= vel numa proxima vez = ndo contra: — isto €, nao conflta, no sentido mais estreito do termo, “logicamente” ~ nenhu- 'ma colegao de indicios, por maior que seja a invaiabilida- de anterior, “Treat of mon None, ipa V. se LOGICA PRITICAE LOGICA DEMLIZADE a7 Em odo o Treats, Hume recorre repetids vezes a con- sideraies dese tpo: 0 entendimento tem de admit argu- rmentos come acetives, ou como “conformes com aro", se, e somentes, eles corresponderem a patdesanaliticos. ‘Mas, como ele logo descabe, todos 8 argumentos que en volver uma transi de tipo ligico entre dados e conclu sio tom de no satsfzer esses testes; por mas grotesca que seja a incongruéncia que se produz a0 se combinarem 0s resmos dados e propsisio contraditéria da conclusio, a pia presenga de um slto-tipoimpeira que o resultado Seja uma flagrantecontadigio. até mesmo sem o salto- ‘ipo, um arpumento pode ser substanciale assim deixar de aleangar seus padres ‘Assim citcunserit, assim limitada a descobrieconta- Aigdes ea reconhoce fats elementares sobre (digamos) mo- ‘vimento e co, nossa rao ¢ impotent para rejitar as con- clusdes mais fntiticas. Nao € de admiar que, para Hume, “no € contrrio & razio prefeir a destrigdo do mundo inti a um arab em meu dedo” "No etanto, tale se deva insist, no com Hume, mas ‘com 0 Hume-fildsofo. Ele 0 primeiro a admitr que um bom Jantar, um jogo de gamao, ts ou quatro horas em compa- nia dos amigos soo suficiente para trartheo gosto pela especulagho “to fia, frgadaerdicula". Hi alguma coisa ru discuss do di-adia, ens paes de argumentoimpli- citosnela, que deston completamente de sua propia espe- culagdo epstemoldgica «que Ihe tra toda a plausibiidade “Nos negécis comuns da vida, ele explica, “eu me sinto absolutae necessriamentedeterminado a vives, ea fla, ¢ 2 agi como as outras pessoas; 56 quando ee se retira para 0 gabinete de extuo,¢adota 0 manto © os crits de ili Sof, & que volta a estado de espirio epic: neste momen- to, outa vez, suas éristicas conclusds reassumem parte da plausibilidade de ants. 238 ‘0s u80s bo arcuMeNTo A inrelevincia dos evtérios analticos Com tudo isso, posso me sentir ustficado de dar por estabelecida a minha hipdtese, Os ldgicos consideratam 05, argumentos anliticos como paradigma, desenvolveram seu sistema de logica formal inteiramente sobre essa fundagio «sentiram-se lives para apicar a argumentos de outros cam= pos as categorias assim construidas. ‘A proxima questio €: dada a hipétese por estabelecida, aque julgamento devemos fazer da Grande Divergéncia que resultou? O programa que os lgicos formais adotaram para si mesmos foi um programa legitimo, ou eles simplesmen- te compreenderam mal? Pode-se esperar, de modo razodvel, «desenvolver um sistema de categorias lgicas cujos eiterios ‘de aplicagio sejam to campo-invariantes quanto sua forga? (Ou categorias desse tipo serio desqualificadss,inevitavel- ‘mente, pata se aplicarem a argumentos substanciais? No primeiro desses estudas, nés examinamnos em deta- thes 0 uso pritico de uma classe particular de eategorias Tgicas ~ 0s qualificadores modais. Como resultado, vimos com clareza a campo-dependéncia dos critérios para deci na pritica quando um qualificador modal pode ser empre- gado de modo apropriado — caracterisica & qual os logicos formaistém prestado muito pouca atengéo. Tendo em mente as ambigdes prOprias com as quais os lbgicos formais po- diam definit, devemos perguntar: esta campo-dependéncia ¢ inevitivel, ou se poderia encontrar um modo de contort 1a? Esta, evidentemente, era a esperanga dos l6gicos, quan- do desenvolveram seus sistemas formais a partir do para- «digma analitico inicial; e, a0 aplicar o5 mesmos critrios analtcosindiferentemente em todos os campos de agumen- to, estavam tentandolibertara gic tedrica da campo-depen- ‘éncia que marea toda a pritica Logica, Mas supondo que se pudessealeangar uma ldgica completamente campo-invar possivel aleangé-la por essa trilha especifica? Lociea pRanca e Locic4 DEALIZADA 29 Estamos agora em posiglo de mostrar que as diferen- ‘as entre os critérios que empregamos em diferentes campos 6 podem ser evitadas & custa de roubar de nossos sistemas Tégicos toda a possibilidade de aplicarem-se com seriedade ‘08 argumentos substanciis [No priprio comego de nossa investigacdo, nbs introdu- zimos a nogdo de um campo de argumentos, referente as diferentes espécies de problemas 20s quais os argumentos podem estar dedicados. Se os eampos de argumento so di- ferentes, 6 porque estio dedieados a espécies diferentes de problemas. Um argumento geométrico nos serve, quando © problema com que nos defrontamos & geométrco; um ar- ‘gumento moral, quando o problema é moral; um argumen- to que tenha conclusio profética, quando temos de produzir uma previsio; e assim por diante, Como somos incapazes de impedir que a vida nos imponha problemas de todas esses tipos diferentes, em pelo menos um sentido as diferengas centre 08 diferentes campos de argumento sfo, & claro, irre- dutiveis ~ aspecto sobre o qual temos de nos entender cla- ramente, Simplesmente nio ha sentido em exigir que um argumento profético (digamos) tenha de ser apresentado numa forma analitica; a questo a que se aplica este argu mento é “dado 0 que sabemos sobre 0 passado ¢ 0 presen te, qual a resposta mais confidvel que podemos dar a tale tal pergunta sobre o futuro?", e a propria forma do proble- ‘ma exclui a possibilidade de dar como solugo um argumen- to analitico, Um homem que evite uma questio desse tipo até reunir dads também sobre o futuro ~ sem os quais ne- ‘hum argumentoanalitico pode ser afirmado ~estérecusan- do-se a enftentar o problema em debate. ‘Suponhamos que nossa pergunta seja: “poderiam os argumentos substancais estar & altura dos padres apropria- dos aos argumentos analiticos?”; a resposta tem de ser, por- tanto: “dependendo do caso, no”. A parte qualquer outra 240 (05 usos bo ancuMero coisa, muitos argumentos substanciais envolvem, de fato, saltos-tipo, que se originam da natureza dos problemas para (0 quais io relevantes. Nos argumentos anaiticos, sem di vida, temos 0 dreto de procurar implicag@es entre dados e apoio, por um lado, e conelusio, pelo outro; essasimplic ‘Ges serdo completas onde o argumento também for inequi ‘oco, mas sero apenas parciais quando o argumento (em- ‘bora analitico) for tentative. No caso dos argumentos subs- ‘tancais,entretanto ndo hi divida de que os dados € 0 apoio cconsiderados juntamente ou implicam a conclusio, ou no a implicam; nfo és6 porque os passos envolvidos sejam subs- tancais que temos de nos colocar a procurar implicagSes, ou de nos desapontar de ni as encontrar. A auséncia elas nio se origina de alguma lamentivel fraqueza nos argumentos ‘mas, sim, da natureza dos problemas que os angumentos esto se equivocado; talvez osorteio ndo tenba sido como pense, , em minha mente, tenha trocado King’s ¢ New College ‘Mas, por outro lado, posso confirmar que o sorteio foi como pense, ¢ que, no obstante, os eventos subseqientes segu- ram-se como foi descrito. O que digo entio? Alguém pode rita: “hi uma certainconsisténcia aqui! ede fato ha uma inconsisténcia, mas ndo hi autocontradiglo. A inconsstén- ia deve ser procurada, mais propriamente, na condugio da regata; como conseqignca, me perguntarei o que os organi zadoresteriam “aprontado” enquanto eu estava de costas,€ posso protestar contra esse extraordinério deseuido, na es- peranca de que a competigdo seja anulada. O mero aconte- cimento dos jltimos eventos, no modo como foi desrito, 28 ‘os us0s bo arcumero nfo refuta em si as afirmagdes (b) e (c) do mesmo modo ‘como os eventos podem refutar @afirmagao (a): antes, mais propriamente, oacontecimento fornece razBes para um pro- testo, Assim, @ fato de que uma esposa nao pode ser obri- ‘zada a testemunhar contra 0 marido ndo acareta necessaris mente 0 fato de que ela no possa ser chamada a testemu- nhar; implica antes que, se ela for forgada a testemunhar, hi razdes para recorrer a um tribunal superior e para um protesto piblico contra o modo como foi conduzido 0 pro- e380. 0 “no pode" de (b) e (c), em outras palavras, & um “no pode" de cariterprocedimental;ndo é um “no pode” de habilidade ou forca, ‘As afirmagies (b) ¢(c) slo, por conseguinte,hibridas, HE nelas um elemento factual que nés chamamos de acaso do sorte, um elemento procedimental, pelo qual elas se assemelham a afirmagdes que invocam as regras do proce- dimento legal e, por fim, um elemento formal. Para poder ver © elemento formal em sus pureza, temos de dar mais dois 1assos: primeiro, emos de eliminar do sorteio o acaso; em seguida, temos de eliminar as implicagBes procedimentais. Para comecar, podem-se cortar os nomes das verdadei- ras equipes. A afirmagio (b) pode ser desdobrada na afir- rmaglo: “King’s foi sorteado primeiro e a primeira equipe do Sorteio ndo pode entrar na segunda semifinal”, () pode set desdobrada em: "King’s e Lady Margaret foram sortea- dos como primeiro e segundo, e as primeiras duas equipes do sorteio nio podem ambas entrar na fina.” Suprimindo a primeira eldusula em cada caso, nés obtemos: (4) a primeira equipe no soreio no pode entrar na se- ‘gunda semifinal (3s primeiras duas equipes do sortco no podem am- ‘bas entrar a final, LocIe4 PRANCH WOGICAIDEALIEADA 2 (© que ha de diferente entre estas proposigbes as trés anteriores? Neste cass, nio se pode mais mencionar a forca, 8 velacidade ou 0 ritmo, como no caso de (b) e(c); agora, Porém, tampouco se pode levar em conta o acaso do sorteio. ‘As chances do sorteio no afetam (d) ¢(e) elas $6 decidem 8 quais das equipes mencionadas apicar-se-io, de fato, as ‘expressbes “primeira equipe do sorteio” e “primeiras duas ‘equipes do sorteio" e, desse modo, sobre quais equipes men= cionadas seri correto dizet “elas no podem entrar na se ‘gunda semifinal”, O que, ent, fundamenta as impossibi- lidades afirmadas em (d) e (c)? Se habilidade e sorte so igualmente irelevantes, 0 que se pode apontar como fonte da impossibilidade? Parece que atnica coisa que se pode responder & que anecessidade de (a) ¢(e) reside na prépria ‘natureza das competigdes climinatéias, das quas faz parte, em geral, uma regata, or conseguinte,ndo pode surpr a questio sobre o que teria de ser diferente para (d)e (e) no serem vilidos, embo- ‘a possa muito propriamente surgi para (a), (8) @(c). A no ser mudando a propria atividade em cujo contexto os ter 'mos “sorte, “eliminatéra” ¢ “fina” adquirer seu signi- «ado, nio se pode imaginar (d) e(e diferentes; e, se alguém ‘muda essa atvidade, poder-se-ia dizer com justiga que, nesse processo, essa pessoa também mudou o significado desses termos. Além disso, se alguém dissesse “mas eu sabia que ja acontecet”, poder-se-ia responder “Nao em Henley! Nao ‘numa regata adequadamente conduzidal” Supondo-se que @ pessoa insistssee fosse verificado que no tinha em mente (igamos) aquele tipo de regata em que os que perdem na primeira rodada tém uma segunda chance (repescagem), ot lum caso extraordindrio em que todas as outras equipes se retiram da competicio, estariamos autorizados a suspeitar de que ela nem sequer compreendeu 0 que é uma compet- io eliminatbria. Pois, com certeza, se alguém entendet "0 20 (0s usos D0 ancuMenTo {eito” que tem este tipo de competcio, tem de reconhecer ‘anecessidade dessas duas afirmagies, [Neste ponto, uma observaglo, de passagem, pode ante cipar a discussio que faremos dos problemas da teoria do conhecimento, Onde acabamos de dizer, aima, “essa pes- soa tem de reconhecer a necessidade de (d) e de (e)",podia- mos ter dito, em vez daquilo, que ela tem de ver aquela necessidade; no que diz respeito ao idioma inglés, este € urn ‘modo de falar perfeitamente natural e prio, que tem cor- respondente em outras linguas ~ je dois vivre: je n'en vor ‘pas la nécessté. Esse modo de falar & sugestivo, mas po- tencialmente muito enganador. Fil porque mostra como, neste ponto, a nogio de “necessidade” comega a se mistu- rar com a de “exigéncia”: reconhecer a necessidade de (d) «(c) anda de mios dadas com “entender que & preciso” con- ormar.se as regras de procedimento invocadas em (d) (). ‘Ao mesmo tempo, temos de evitar a questio-armadi- tha: com que Olho Interior estamos “vendo”. Malhar na me- tifora visual no ajuda a esclarecer mais, neste exemplo, do ‘que no caso notério de apresentar problemas como “sete mais, cinco € igual a doze” e “devem-se cumprir as promessas”. No easo da nossa regata, pode-se dizer que acontece, com certeza, 0 seguinte, A maioria das pessoas, na maioria dos lugares, que se engaja na espécie de atividade que cha- ‘mamos de “disputarregatas” reconhece as mesmas regras ‘que nés reconhecemos, Nao obstante, pode-se conceber que haja um povo que se engaje regularmente em atividades muito parecidas com as nossasregatas, mas que, ainda assim, nega (de (e) ~e nio s6 as nega por falta de compreensio, mas porque foi preparado para agir de modo consistente com tal rejeigdo. Apesar de disputar toda a competigao eliminatiria ‘como a disputamos, podemos imaginé-lo entregando 0 tro- 5. tn 9 rin Ete deinen ia mesa (clog ge cu vous nec” deve NT) rece enmes Loca prircx x0cICaiEaLeAb4 2s ‘eu para a equipe que venceu a primeira eliminaériae tra- tando-a como “Equipe Camped” se for questionado, poders dizer que a primeira eliminatéria era a finale assim detur- para (e) na pritica, Sem divida sto nos pareceria estranho, endo apenas um modo estranho de falar, principalmente porgue a questio de qual equipe ganharia 0 prémio eas bo- ‘menagens teria passado a ser questo de acaso, em vez de ‘questio de habilidade e velocidade. Como conseqincia, ppdemos muito bem negar sua atividade os titulos de “re gata” e “competigio”, ou dizer que, se aquilo é uma regata, tent € uma regata muito mal conduzida, Poderiamos optat pela conclusio de que se tratava de uma regata muito esta: ‘hae de um tipo de regta diferente da nossa; poderiamos até concluir que nem fosse uma regata, de modo algum:; nao, com certeza, Yo que nds chamamos de regata” Aceitar(d) ¢ (e), portanto, vem junto com aceitar todo ‘ conjunto articulado de prticasinluidas na disputa de uma regia, Se reconliecemos sso como 0 modo proprio, sstemie tivo e metédico de testar a habilidadee velocidade dos com= petidores, ns nos comprometemos, como conseqiéncia disso, ‘a operar com o sistema associado de conceit para os quai, nas condigdes deseritas, as afirmagdes (d) ¢(e) sio neces- sariamente verdadeiras. Trazendo is luz as implicagBes das ponder ambas essas perguntas com uma rigorosa afirma- tiva, Nada, eles argumentavam, poderia ser apontado “em ‘nossos inteletos” que no houvesse chegado a eles duran- te nosso tempo de vida “por meio dos sentidos”. (Niki est in inellectu quod non prius fuert in sensu.) Mas outros fil6sofos ndo conseguiam imaginar um modo pelo qual ces- ts de nossos conceitos fundamentais pudessem ser desen- volvidos dentro de nosso tempo de vida, por processos de aprendizado cuja autenticidade pudessem reconhecer; por Cconseguinte, eles concluiam, algumas idéias eram inatas. ‘Como algumas hablidades e hibitos nfo-intelectuais,deter- ‘minadas habilidades habits intelecuas tinham de ser pen- sados como instintivos; a erianga, sugeria-se, ndo tinka de aprender a sugar o peito nem (talve2) a desenvolver a partir do nada ume idéia de Deus. Pode-seargumenta, no entanto, que a controvérsia sobre idéas inatas nunca foi uma parte estencial da epistemolo- ia. Enquanto os filésofos operavam com uma imagem sim- ples demais dos sentidos e do intelecto,parecia impossivel (sem divida) para eles evitaro problema. Tratando os sen- tides como uma espécie de antecdmara do intelecto — pela qual todos os conceitos e verdades tinkam de passar a fim de aleangara sede de nosse razio — ou, por outro lado, como tum tipo de tubo pelo qual o material sensorial tinha de ser canalizado a fim de encontrar e imprimirse no alvo inte- Jectualsituado na extremidade oposta, cles eram acossados por dificuldades que poderiam ter sido evitadas, se tivessem aveitado uma imagem mais ativa de nosso equipamento inte- Jectual, ¢ uma imagem copiada menos exata da psicologia os Srgios dos sentidos. ASORIGENS DA TEORLA EPSTENOLOGICA 30s De qualquer modo, nada nos obriga a fazer © mesmo; ‘em tudo 0 que se segue, ao mesmo tempo em que reconhe- {G0 que, em altima instincia, no se pode por completa € bsolutamente parte aspects psicoldgicose lgicos da epis- temologia, concentrar-me-ci nos aspectos légicos. Pode no ser realista em alguma situagdo verdadeira tentar manter ‘questdes epistemoldgicas completamente & parte das ques- Wes psicol6gicas, mas, para nossos presentes propsitos, po- demos concentrar-nos nas quest0es logicas 8s qua tais"si- twagdes epistemoligicas” dio origem, Devemos agora ten- tar caracterizar € compreender essassituages. Lembremos as observagdes feitas n0 segundo enssio sobre a natureza das alegagSes de conhecimento; em parti- cular, sobre a verdadeia forga da pergunta “como voce sabe {que p?". Se um homem alega conhecer uma coisa ou outra, dizendo “sei os horirios dos tens para Oxford (o nome do presidente do Equador, que a rainha Ana esté morta, como se faz caramelo de agicar queimado)”, ele ndo diz necessa- Fiamente algo autobiogrifico sobre 0 processo pelo qual chegou a ficar em posigdo de falar a respeito dessas coisas fou de falas, tampouco alguma coisa sobre sua atual ati- vidade psicolégica ou estado de espirito, Mais propriamen- te, como o professor J L. Austin deixou claro para n6s, ele presenta em cada caso uma alegaglo de falar com autori- dade, uma garantia de que nesse caso sua palavra & espe- cialmente confidvel, Ao passo que as formas de palavras “ewacredit..”, “estou confiante.”¢ “tenho certeza..” apre- sentam assergdes externadas pela propria pessoa, com um implicito“é pegar ou larga”, dizer “eu sei isso iss0” é, por assim dizer, emit a asergHo da pessoa sob selo.E compro ‘meter-nos, torarnos responsiveis de determinadas maneiras pela confiabilidade da assergl0. De modo semelhante, quan- do dizemos de uma outra pessoa “ele sabe”, reivindicamos para essa pessoa uma posigio de autoridade, ou endossa- 306 (os us0s po ancuuenTo ‘mos uma teivindicagdo que a propria pessoa pode ter feito. Isto nfo quer dizer, & claro, que més podemos set conside- rados como tendo garantido o crédito dela, pois is vezes podemos dizer “ele sabe" em casos em que ele mesmo hesi- tara em dizer “eu sei; nés no podemos fizervaler 0 direito de outra pessoa ser uma autoridade, assim como no pode- mos fazer as promessas por outro ou espirrar seus esprros. Mas, desse modo, apostamos nossa propria reputacio em {que a opinio dele se provara confvel; e, se ndo estiver- ‘mos preparados para nos comprometermos quanto 4 sua cconfiailidade, mais ainda se tivermos alguma razio para ‘duvidar dea nesse caso, fazemos bem em dizer apenas “ele acredita (esti confiante, tem certeza.. par exemplo, que 0s Tories ganhario as proximas eleigbes gerais, ¢ isto muito cembora ele mesmo possa atrever-se a alegar que sabe. [Essas coisas deverio ser lembradas quando nos volta: mos para questbes tais como “como voc8 sabe?” e “como cle sabo?"; pois 0 propasito dessas questbes & trazer & luz as razbes, qualificagSes ou eredenciais de wm homem em ‘nome de quem foi feita uma alegagdo de conhecimento~ no trazer& luz © mecanismo oculto de uma atividade mental chamada “conhecer”, Tendo isso em mente, podemos expli- car tanto 0 motivo pelo qual essas questdes, fal como em- pregadas em gera, requerem 0s tipos de respostas que re- {quetem, e © motivo pelo qual ndo so confrontadas com perguntas diretas em primeira pessoa, “como eu sei”. Sobre a pergunta “como eu sei?" & verdade que as ve- 2zes a usamos para ecoar a contestagio “como voe® sabe?”, ‘quando nos pomos a estabelecer nossas credenciais ~ “como cu sei?! E assim que eu sei.” Porém, sio comparatvamente poucas e especificas as ocasides em que achamos necessi- rio estabelecer para n6s mesmos as nossas proprias creden- ciais ou a confiabilidade de alguma coisa a respeito da qual 4 temos inteira certeza. Nao é, portanto, nenhuma surpre- \ | ASORIGENS bd TEORIA BPISTEMOLOGICA 307 sa que tenhamos menos costume de perguntar “como eu sei?” do que de perguntar “como voe® sabe?” e “como ele sabe?” —e se essas penzunts fossem sobre provessos men- tais observaveis do conhecer, deviam, todas, estar no mes- mo nivel. No que concerne 4 pergunta “como voc sabe?”: ela pede tipos diferentes de resposta em diferentes ocasides. As vvezes, se a pergunta é sobre como sabemos que alguma coisa ~ é 0 caso, por exemplo, que nto ha tres para Dingwall nas tardes de domingo, que no existem nimeros primos en- ‘re 320 € 330, ou que o aluminio & um supereondutor em 1° ‘Aa pergunta pode ser logica. Nesses casos, temos de apre- sentar razies (indicios, prova, justiicagio) para 0 que quer que afirmemos, Mas, em outras ocasies, quando a pergunta equivalente& questdo “como voc® chegou a ficar em posi- co de falar sobre isso?” a resposta apropriada ¢ biogrfica “sei que nilo hi tres para Dingwall nas tardes de domingo porgue verifique no Bradshaw, hoje de mana”, “sei como fazer puxa-puxa porque minha mie me ensinou". © tipo apropriado de resposta depende do contexto, ‘nem sempre esti claro em que sentido se tem de considerar ‘a questio; de fto, ds vezes, no tem nenhuma conseqiéncia pritica 0 modo come a consideremes. Quando um cientis- ta publica um relato de experigncias que o levaram a uma conclusio nova — por exemplo, que o aluminio é um super- condutar em I® A.~, seu relatério di ambos os tipos de res- posta, numa s6, Pede-se que, nele,o cientistajustifique sua ceanclusdo expondo por completo suas razdes experimentais, para ter afirmado 0 que afirmou; mas, com freqlénea, seu relatéio pode ser ldo também como um relatoautobiogrifi- co da seqléncia de eventos que olevaram & posigdo de fazer ‘essa assergdo, ede fato seréexpressado em geral em verbos ‘nos tempos pretérites do indicativo: “peguei um crisol de criolita de corte transversal cilindrico etc, Para propésitos, 308 ‘0s us0s Do aRGuMEKTO filosoficos, entretanto, a ambigiidade da pergunta “como vos’ sabe?" ¢ crucial, e nosso interesse ser Iigico e no biogri- fico. Embora essa forma de pergunta pergunte as vezes pe- las razdes do suporte eas vezes pela historia pessoal passa- da, de acordo com 0 que a questio em debate éa justifica- ‘90 de nossas opinides ou a histéria de como chegamos a {E-as, nés nos concentraremos aqui no uso jusifietério, Sobre a pergunta “como ele sabe?”,s6 temos de saien- tar aqui que, quase sempre, apergunta pede resposta do tipo biografico. Nao & dificil entender a rao. Assim como com- pete a cada um de nés fazer nossa prprias promessas, uma. vez que minka palavras6 seri considerada como obrigando voed se vocé me deu poder de advogado ou se me nomeou seu procurador-delegado para determinados propdstos, tam- bém compete a cada um de nés justificar nossas proprias assergdes. Se eu mesmo afirmo por minha prépria conta {que © aluminio é um supercondutor em 1? A, tenho a lber= dade de citar 0 ensaio de um cientista entre minhas razbes; {do mesmo mode, ele pode citar os resultados de suas expe- rigneias como inicio de sua propria asserglo, Mas se estou falando sobre o cientista, qualquer coisa que eu citar de seu ensaio seri compreendida como biografia. Sé se “como ele sabe fosse tomado come elipse de "se el tvesse de se por a jusificar sua assergo, como ee faria?”, poderiamos falar de apresentarrazBes, em resposta ~ e estas no seriam “nos- sas razdes” para a assergdo “dele”, mas sim nossa conjec~ ‘ura quanto as razdes dele para dizer o que diz, Mesmo assim, cesta questdo parece ser mais bem expressa ns palavras "por ue ele acredita que..?", em vez de “como ele sabe que.” pois se podemos citar todas as suas azdes e realmente pen- sar que ele sabe (isto 6, se de fatoacreditamos que sua con- clusio ¢ fidedigna, estamos em posigdo de fazer ejusificar ‘a assergdo por nossa propria cont Por conseguimt, situagdes epistemol6gicas do origem 4 quesides que se devem classificar em tipos diferentes. AS ORIGENS DA TEORIA EPISTEMOLOGICK 309 ‘Sempre que um homem faz uma alegacio de conhecimen- to, ele se expae a0 desafio de ter de provar sua alegacio, de {ustfied-la, Nesse aspecto, uma alegagio de conhecimento funciona simplesmente como uma assergio que contém én- fase especial e € expressa co autoridade especial, Para res- ponder a esse desafio, ele tem de apresentar quaisquerrazies ‘ou argumentos que considere suficientes para estabelecer a justeza de sua alegago. Ito feito, nés podemos dedicar-nos ‘acriticar seu argumento, usando quaisquer categoria da l= ‘ica aplicada que sejam necessirias, dada a natureza espe cifica da situagdo, Os encadeamentos de questionamento e critica ao qual somos levados no tm de ter em torno de si, nada nem de psicoldgica nem de sociolégico em torno deles. ‘A questio agora nio seri se as pessoas em geral pensar. dessa manera, ou 0 que em sua infincia ou educasio resulta no fato de pensarem assim; a questio agora serd unicamente se esse argumento especifico esté altura do padro, se me~ rece nossa aceitagio respeitosa ou nosse rejeicho raciocinada [Neste ponto, assume alta relevncia a questi acerca de ‘que espécies de padres temos de aplicarna critica prtica de argumentos em diferentes campos e, a partir de agora, este seri de novo nosso principal tépico. Mas ndo devemos. enfim nos voltar para a consideragio dessa questio sem cobservar, mais uma vez, que questdes desse tipo surgem das ‘mesmas situagdes em que surgem as questbes de psicologia, infantile de sociologia da edueaglo, "Como sabemos as coi- sas que sabemos?”; se se pergunta como, no decorter da vida da crianga, ela chega a adquirir os conceitos € fatos que adquire, ov mediante que mecanismos educacionais Ihe sio, inculcados procedimentos e téenicas racionais especificas, ter-se-, é claro, de proceder a posteriori, usando métodos tirados da psicologia eda Sociologia, e a resposta final pode ser, com muita probabilidade, que diferentes criangas e di- ferentes sistemas educacionais procedem de modos diferen- 310 os usos Do ancuMenTo tes, Por outro lado, se perguntam se as espécies de razdes ‘que temos para acreitar nas coisas em que acreditamos em determinado campo de estudo estio & altura do padrio, a |questio deixa de ser psicologica e passa a ser questi criti «a; provedimentos indutives a posteriori jé nio so mais ‘oportunos, ea questo passa a ser problema para o fildso- fo ou para o especialista em logica apicada, Conseqiténcias adicionais de nossa hipétese A partir deste ponto, portato, temos de interpretar as perguntas “como sabemos que...” e “nds realmente sabemos que.” num seatido légico. Nio estaremos perguntando di- retamente “como funciona nosso mecanismo cognitive?” € “o funcionamento de nosso mecanismo cognitivo é sempre, realmente, bem-sucedido?”, visto que estas perpuntas pode- riam nos levarairrelevantes inestigagbes psicologicas; em vez disso, nossas perguntas sero “que razdes adequadas mos para as alegagdes de conhecimento que fazemos?” € sto as razbes em que baseamos nosss alegagies de co- ‘nhecimento sempre de fato altura do padeio?".(Poder-s-ia aqui argumentar que falar sobre “mecanismo cognitive” & sua efetividadejé foi falar, de fato, embora disfargadamen- te, sobre nossos ergumentos e seus méritos; mas nio temos. sdenos deter nisto; se houver alguma verdade neste argumen- to, ela s6 confirmari a justeza de nosso propésito, pois con- firmaré que as questBes lgicas sio as mais imparciais e tém de ser consideradas primero.) ‘A critica ligica das alegagdes de conhecimento é, omo vimos, um caso especial de critica pritica de argumento — a saber, sua forma mais estita. Um homem que apresenta alguma proposigdo, com uma alegasio de saber que ela é verdadeira, dia entender que as razses que tera a apresentar > « aR 45 ORIGENS D4 THORLAEPISTEMOLOGICK a em apoio proposigdo so da mais alta relevncia edo maior poder de conviegio; sem a garantia de taisrazBes, ele nfo tem nenhum dieito de fazer uma alegagao de conhecimen- to. Por conseguinte, @ questo de quando ~ se & que em algum momento ~ as razdes em que baseamos nossasaleza- g8es de conhecimento sio realmente adequadas tem de ser interpretada como tendo o seguinte significado: “podem os argumentos pelos quaisapoiariamos nossas assergSes alcan- «ar em algum momento os mais elevados padres relevan- tes?";€ 0 problema geral para a ldgica comparativa aplicada seri decidir o que, em algum campo especifico de argumen- {o, setdo 0s mais elevados padres relevantes, ‘Agora temos aqui duas questies. Hi a questo de quais padres sio os mais rigorosos,estritos e precisos; © hé a questio de quais padrdes podemos considerar relevantes, quando julgarmos argumentos em algum campo especfico. ‘Vimos, no timo ensaio, com que freqiéncia 0s lgions for- mais se concentraram na primeira questio,&custa da segun- da, Em vez de desenvolver um conjunto de categoras logi- as destinadas a se ajustar aos problemas especiais em cada campo ~ categorias para as quais 0s crtérios de aplicacio slo, em teori, assim como so na pritica, campo-depen- dentes- eles viram no tipo analitico de argumento um ideal, © tinico que admitem valido por teora,e trataram os crit ros de possibilidade, necessidade e validade analitica como padres universais, campo-invaridveis, de validade, neces- sidade e possiblidade ‘Veremos agora que a mesma idealizagio dos argumen- tos analiticos esté no fundo de muita teoriaepistemol6gica, tal como ela se desenvolveu de Descartes até hoje. Os pectos em que os argumentos substancais diferem ~ ¢ tim e diferi, dependendo da natureza do caso ~ dos analiticos ‘tém sido interpretados como deficiéncias a serem remedia- das, abismos a serem transpostos. Como resultado, a ques- 32 ‘os us0s Do aRcUMEKTO ‘to central da epistemologia tornou-se, no “quais so 0s mais clevados padres relevantes a que podem aspirar nossas ale- gages de conhecimento substancialmente apoiadas?”, mas ‘em vez disso “podemos ‘empurrar’ os argumentos substan- cis para 0 nivel dos analiticos?”. Por enquanto, portant, nfo vamos insistir na questio da relevdncia. Em vez disso, vamos supor mais uma vez que todos os argumentos podem ser julgados pelos mesmos padres analitcos, e passar um pouco de tempo tecendo as conseqiéncias adicionas de nossa hipétese. Claro que se os fildsofos tém a mais leve tendéncia a considerar os padres de julgamenta apropriados aos argumentos anaiticos como superiores aos padres que empregamos na pritica para jul gar argumentos de outros campos ~ sob o pretexto de que eles sio mais rigorosos~, enti, quando esses mesmos fld- sofos se voltam para considerar questdes na teoria do co- nhecimento, eles tim um motivo dbvio para insistir na ana- liticidade do argumento como condiglo primaria do verda- m8 ‘0S U80s DO ARGUMENTO tos e declaragées, ou escripulls e conseqiéncias, ou de co- ‘mo as coisas nos parecem ser. Enquanto se considerar que afirmagies sobre 2 mesa da sala contigua sio radicalmente diferentes em tipo de afirmagSes sobre sensagies visuais ou téteis, naturalmente nio haveré nenhuma esperanga de os dados e apoio da dltima espécie implicarem as conclusbes da primeira ‘Mas e se essa diferenga de tipo fosse ilusia? Se afir- mages a respeito de mesas forem, fundamentalmente, do ‘mesmo tipo logico que afirmagdes sobre sensagdes, ent 1 meta da implicacio j& nio seri tio completamente inal- cangavel, “Multipliquem-se as experiéncias sensoriais que com- dem nosso indicio ~ passado, presente e futuro, nosso e de ‘utras pessoas ~ e nosso argumento ostensivamente subs- tancial pode, ndo obstante, viraranalitco, Com a diferenga tipo fora do camino, podemos argumentar que uma con- clusto a respeito de mesas “pode ser logicamente constui- 4", mediante transformagées analiticas, de dados sobre sensagdes;e foi sempre assim que o fenomenista respondew ao problema dos objetos mates Propostas semelhantes, de plausibilidade varive, tém sido fitas para salvar outros argumentos substancais. Em alguns campos, o tipo de solucio reducionista tem sido acei- to quase universalmente pelos filésofos. Por exemplo, a dou- trina de que afirmagées sobre impossibilidade ou possibili- dade Logica sio do mesmo tipo que as afirmagées sobre a presenga ou auséncia de contradigBes. Em outros casos, 0 ‘educionismo teve ilustres advogados, mas no consezuiu limpar o campo: poder-se-ia citar a doutrina behaviorista de ‘que as alegagSes sobre sentimentoseestados de esprit esto de fato no mesmo plano que as alegagies sobre verdadeiros ‘ou possiveis gestos, movimentos e declaragBes; ou, por outro lado, as teoras éicas que tratam as afirmagies sobre méri- ASORIGENS D4 TEORIA EPSTENOLOGICA n29 to ou valor como do mesmo tipo que as afitmagdes sobre conseqiigncas, escripulos ou interesses. Por fim, em certos campos, a posisio sempre exigiu ‘uma boa quantidade de audicia: & preciso um paradoxista, profissional para declarar que as airmagdes do astrdnomo sobre 0 futuro sdo, de fat, afirmagdes disfargadas sobre 0 presente e o passado (e que, desse modo, podem ser impli- ‘cadas por nossos dados exstentes) ou que as afirmagies do historiador sobre o passado sio, na realidade, afirmagies sobre experigncias comprobatérias ainda por vi. {As fraquezas da abordagem reducionistasio mais 6bvias no caso da astronomia e da historia, mas so de fato geras. Para deixar-se seduzi por ela ¢ preciso, de fato, ser decidi- ddamente sofisticado e se fechar no gabinete ~ bem longe das mesas de jantare de gam de Hume. Pois quando faze- mos assergdes acerca do futuro, ou do passado, ou dos sen- timentos de outros, ou dos méritos de ages ou quados, as, iferengas de tipo entre nossas assergSes ¢ a informago com {que as apoiamos se originam da propria natureza de nossos problemas e no podem ser destringadas umas das outas Suponamos que demos a um astrénomo uma colegdo de dados sobre o presente 0 passado e Ihe Fagamos uma per- gunta sobre o futuro; se sua esposta ~ mesmo que venha escrita no tempo verbal futuro ~tiver earactristicas iguais fs de qualquer de suas afirmagSes sobre o presente ou o pas- ‘ado, entao ele simplesmente deixou de responder a nossa pergunta: pedimos uma previsio genuina, nio uma retrovi- sho disfarada, Essa plausibilidade extra que éligada & explicagio fe- nomenista de objetos materais ea explicacdo behaviorista ‘dos Sentimentos ¢ estados de espirto deriva das referéncias, due incluem sensagbes ¢ ages futurase possiveis,além das referencias a sensagdes e ages verdadeiras passadas e pre- sentes, dado que essa referéncias reintroduzem, veladamen- 330 ‘os usos D0 arcumeNro te, pelo menos em part, o salto entre tipos lbgicos que 0 fenomenista alegou antes estar destrinando. Cada vez que ‘uma teoria reducionista nega genuinamente o salto entre tipos légicos, que vai de nossos dados e apoio para nossas ‘conclusées, ela deixa sem resolver nossos problemas epis- temol6gicos: ela escapa deles ‘Tendo chegado até aqui, descobrtemos que 96 nos resta tum caminho ~ ito é, sé um caminho a tentar, antes de ter de abandonar o ideal do argumento analitico. Umas apés cutras, as alegagSes de conhecimento sobre questdes de as- teonomia ou de historia, sobre as opinides de outros, sobre (0 méritos e valores de agies, pessoas e obras de arte, até sobre os objetos materiais que nos ceream, mostraram, sem- pre, que se baseavam em dados e apoio de tpos bgicos die rentes dos tipos ldgicas das conclusdes apresentadas como “eonhecidas”. A solugio transcedentalistafalhou: no se en- ccontrou nem sequer um dado extra ou uma suposigdo capaz de emprestar is nossas conclusies uma autoridade genui- ramente analitca. A solugio fenomenista falhou: diferen- ‘58 de tipo entre dados e apoio, por um lado, e conclusées, pelo outro, slo as conseqZéncias incontestéveis das nature ‘a dos problemas em questo. Hi um abismo légico e no ‘temos meios para construir uma ponte sobre ele; a tnica ‘conclusio, ao que parece, & que o abismo no pode ser trans- posto, Em todos esses casos, os argumentos em que se ba- seiam nossasalegagSes de conhecimento se demonstram radi- calmente imperfeitos quando comparados com 0 ideal ana- Iitco, Se a alegagio de conhecimento genuina tem de ser apoiada por um argumento analitico, entdo ndo pode haver rnenhuma alegagio de conhecimento auténtica em campos como esses. O futuro, 0 passado,opinides de outros, a étca, até mesmo objetos materiais: sobre tudo isso nds terfamos e, em termos estrtamente rigorosos,admitr que nfo sabe~ ‘mos coisa alguma, Sé resta oceticismo como solugio para AS ORIGENS DA THORLEEPISTEMOLOEICA 33 ‘ngs. Além do problema de saber como nos reconciliaemos com a existéncia dessesabismos lgicos sobre os quais nio se podem construir pontes. Talvez possamos seguir o exemplo de Hume ¢ argu rmentar que, embora em principio o ceticismo sea inatacd- vel e inevitvel, a natureza nos protegerd onde a razio no nos puder ajudar, de modo que, do lado de fora do gabine- te, acharemos narurais todas as espécies de formagdes men- tais que, por estritos padrdes racionais, so completamente Injustificdveis. Por outro lado, podemos argumentar entio que, fora do campo analitico, as alegagbes de conhecimento sempre foram presungosas dispensiveis. Desde que nos- 80s métodos de argumento sejam suficientemente bons para propésitosprticos, nosa situagao na vida comum nfo pio rar por deixarmos sem ponte um abismo puramentelogico; ro hi nenhuma necessidade de alegar verdadeiro conheci- ‘mento em qualquer desses campos, desde que tenhamos os ‘meios para, na pritca, evtar a verdadeira catistrofe. Em ‘outraspalaras, depois do ceicismo s falta um pequeno passo para 0 pragmatismo, Argumentos substanciais ndo precisam de redengio Toda a série de argumento levada cabo nas timas taés sens foi, entetant, hipotética. Nb perguntaos © ‘que aconteceria com alegages de conhecimento em eam- oss quai dependemos de argumentossubstanciais,su- pondo que insisimos em comparar esses argumentos 56 com padres anaiticos e rejeitamos alegagbes de conheci mento sempre que n0s508 argumentos nfo aleangaram 0 objetivo de impicar suas concusses. Algumas das teoras para as quai fomos impelidos consieram que hi dbvias semelhangas com as teorias de verdadeitos filésofos, mas a2 (as us0s 0 anauMENTO rio fiz nenhuma tentativa de comparéslas em detalhe com ‘uaisquerteorias especificas da historia filos6fica recente, "No entanto, com certeza, no € acidental que, em tantos cam- pos da filosofia, nds encontremos uma sequéncia tripla de teorias endo apresentada: em primeiro ugar a transcenden- talista, depois a fenomenista e, por fim, a teria eéptica. Ao transcendenialista Locke responde o fenomenista Berkeley, 6 para as conelusies de ambos serem postas de lado pelo céptico Hume. Para todos 0s ts, 0 abismo logico entre “impressées” ou “idéias”e objetos materia & fonte de difi- culdade, Berkeley ndo teri coisa alguma a ver com 0 “subs- trato” ndo-observivel de Locke, e oferece o fenomenismo ‘como um modo de passar sem ele, mas Hume se ope com. «8 opinio céptica ~ em todo caso, no plano da teoria. Por ‘outro lado, em filesofia moral, G. E. Moore resgata as con- clusbes éicas que sfo baseadas, primeira vista, em dados inteiramente nio-tticos, tratando-os como subseritos por ituigBes de qualidade éticas “nio-naturais”; I. A. Richards CL. Stevenson oferecem uma respostafenomenista, ana lisando as afirmacoes éticas em termos 36 de idéias ndo-ti cas, de modo que 0 abismo entre sentimentos ¢ valores no 6 considerado; ao passo que A. J. Ayer, por seu tuo, inter- prota Hume para Berkeley de Sevenson eo Locke de Moore «2, deste modo, evita o problema que seus predecessores en- frenaram, ‘Assim se poderia seguir em frente, ilustrando em cada campo nlo-analitico de argumento as trés diferentes espé- cies de mecanismo pelos quais os fildsofos tentam remediar (ou se reconcliar com) as aparentes deficiéncias nos argu- rmentos substanciais, 'No entanto, os trés expedientes so igualmente inefi- cazes ¢ todos os trs s40 igualmente desnecessios — desde que estejamos preparados, no minimo, para abandonar ideal analitico, Dados extras nio nos ajudardo, o salto entre tips ASORIGENS DA TEORU EPISTENOLOGICA a logics é neve, e nem sé em eoria podemos fica satis feits de negar qualquer alegacio de conhecimento em todo campo ado-analitico. Tampouco podemos, no que diz res- peito a i880, fear satseitos de dizer, como pragmatistas ‘modestose despretensosos, qu alegagées de conhecimen- to eram em todo caso mais do que precsivaos fazer, vito «que na prtica podemos prosseguir perfeitamente bem com ‘menos; pois, como vimos no ensaio anterior, se deixamos sem critica 0 proprio ideal anaiico, no sé apenas a ale- tages de conherimento que seremosforgados a sbandona. Ns nem seremos capazes, se fomos coerents, de alegaral- ‘guna “probabilidade” para nossascrengas, ou dizer que te- ‘mos algumas “razSes" adequadas para elas, menos anda qu os argumentosem seu suport sou poderiam ser “con — que nds ‘0 “conhecfamos” ou “no conheciamos” de maneira exata ‘No entanto, nesse aspecto, saber bastante diferente de acreditar ou esperat. Suponhamos que eu diga primero “eu ‘espero (ou acredito) que p", mas depois do acontecimento diga “cu Ihe disse no momento que esperava (acreditava) {que p, mas era uma mentira; mesmo entGo eu esperava (sus peitava) secretamente que no aconteceria”. Neste caso, eu ‘me contradigo. Tendo esse modelo diante dos olhos, pode- se precipitadamenteaceitar a sugestio de que uma alegaco de conhecimento que se prova equivoceda deve ter sido uma alegagio impripria;€fécil nfo notar 0 indicio do contritio, tal como 0 fato de que nfo dizemos depois do acontecimen- to “eu nao sabia” s6 por causa do equivoco. Dizer primero “eu sei que p” e mais tarde “ew pensava que p, mas estava cequivocado” & (seria melhor dizer) primeiro exprimir uma previsio com toda a autoridade, e mais tarde corrigi-la. ‘Mesmo depois que vimos @ inconsistncia latente de pedir uma justifieaglo de indugBes boa para todos os tem- os, ainda podemos achar que ¢ excéntrico julgar uma pre- visdo por um conjunto de padres num momento e por um —— “4 AS ORIGENS Dd TEORA EPISTENOLOGICA aa conjunto diferente de padrdes num outro momento, Isto é mesmo depois de reconhecer os fatos sobre nossas verda- eira ideas, ainda podemos achar esss idias estranhas ou assimétrcas e nos perguntar se no deveriam ser abandons- das. Nao seria mais exato sar a palavra “sei” como os flé- sofos pensaram que tencionévamos usar? Entio, poderiamos, ‘com seguranga,tratar 0 conecimento como “conhecet”,se- ‘gundo 0 modelo de esperar ¢ acreditar, e recusar dizer “eu sei que p” ou “ele sabe que p", exceto para os casos em que eu acredito (ou ele acredita) ¢ esta de fato confirmado, de uma vez por todas, que Para contrapor esta sugestdo nds devemos, primeiro, afastar a idéia de que haja agui alguma estranheza ou assi- metra; ¢, em segundo lugar, nos lembrar de que os tragos légicos caracteristics de palavras como “sei” e “provavel- mente” s6 poderiam ser mudados em nosso prejuizo. Assim, para contrapor © modelo enganador de esperar e acreditar, ‘vamos pergunta se hi alguma inconsisténca, estranheza ou assimetria no seguinte conjunto de fats: (@) quando ganho um faisio numa rifa, eu digo “como sou sortudo!", mas, mais tarde, quando tenho uma intoxi- cagdo alimentar causada por ele, eu digo “na verdade, como euera sem sorte, mas eu devia saber!” — isto pode ser com= prado com “eu sei” e “eu estava equivocado”; i 0s dois ponteros de um reldgiotém tamanhos dite rentese se movem em velocidades diferentes ~esss diferen- ‘588 nfo sio menos naturais do que a diferenga no apoio ne> ‘cessirio para uma previsio antes e depois do acontecimento; (ii) um relégio tem dois ponteros, mas um bardmetro apenas um ~ e, logicamente, “acreditar” & uma nogio mais simples do que “saber” 'Nés também devemos lembrar-nos daquele nicleo de forca, no afetado por mudancas no tempo do verbo € no ‘campo de argumento, ue mostra o que de fato queremos dizer 3a (0s us08 D0 ARGUMENTO com 0 verbo “saber”, € reconhecer como isto seria afetado se fizéssemas a mudanca proposta em nossas dias. Do jeito que as coisas esto, podemos dizer, indiferentemente do tem- po do verbo, coisas como as seguintes: tans Jee seater eres to esi em reagan” “Se voot sabe que ele [No entanto, a emenda filoséfica nos impeliria a dizer: sth mitando-s ‘1 (por out lado) Se voc ebas que cle vai mata, por qu. “sess { Isto é, no caso de previsBes, n6s inroduziremos agora tum verbo novo = digamos, “ebas” — para fazer no tempo fu- tro aquilo que o verbo “sabe” no teria mais permiss30 para fazer sob o novo regime. Se este for o resultado final de “alinhar” os padres pe- {os quaisjulgamos previsdes ants e depois do acontecimen- to, de modo a fazer “sabe” funcionar como funcionam “espe- ra" ou “acredita”, com certeza no tem atrativos, A supers- tigdo de que a verdade ou # falsidade, validade ou justifica- lo de todas as nossas afirmagées ¢ argumentos deveriam ser inteiramente independentes das circunstincias em que foram expressas pode estar profundamente arraigada; mas, longe das conclusdes eternase argumentos analiticos da ma- femitica pura, as expectativas as quais ela leva estio fada- dasa serem desapontadas. O conceito de conhecimento nio € igual a isso, 0s fldsofos esto procurando encrenca Se fo tratarem como se fose, aie ASORIGENS ba TEORU EPISTEMOLOGICE a3 Intuigdo e 0 mecanismo da cognigdo Neste enstio,agumenti que a epistemolopia deveria inclu opica comparaiva dos argumentos em diferentes campos priticos. Aslidez de nossa alegagdes de cone- timento gia em toro da adequagio dos argumentos pelos ‘sis nb as apoiamos,e nests pares de adequacio so, tatrlmente,eampodependenss. partir dese ponto de vista, mitos modostadicionais do eoriarepistemolé co perdem sua patibilidade nici, pois eles a adguirram em grande parte porque nés pensamos 90 assunto como extensio da psicolopa Tsto se mostra, com claez, ses lh para os wos fi Joxficos do termo “itugS0". Muitosfilsofosviram-se como se esivessem ocupados comm “process de cogn- G0, qu cles acredtavam enarenvolvigo em todo saber © depararam com dficuldadesexpeinis quando discuiram 4 maneira como sabemos cosas tais como pricipios mo- ras (por exemplo, qe devemos ajuda aguces que esto pas sandonecessidades as proposigtes elementares da aritmé- tice (por exempl, que dose dos so quatro) sss diicul- dades os levaram a intoduzir em sua dscussio referencias tum senso mor” ou“intigd", ea usar esses termos no apenas como fons de parler sem compromisso, mas com toda a seredade, a ponto de, até mesmo, dserver exes sensos numa frase como “Yaculdads raconsis de spresnsio media. “Todas esas referéacias si desnecessiris: clas esu- tam de uma série de concep es edneas, qe agor estamos em posigio de destin. Vale a pena fazt-lo poraue ess rmesmasconcepyeseréneas dsraram aatengo dos ilb- Sofos das questes da epstemolopa que realmente so efe- tivas; a saber as qustes de que espécies de coisa se podem tomar em consideragio de mancir relevant quando se en- aaa os us0s bo anavMenTo freatam verdadeiros problemas em diferentes campos — ari riético,astronémico, moral ou qualquer outro. O stars das verdades fundamentais da moral e da matemitica, em part cular, tem sido seriamente mal compreendido, como resul- tado dessa preocupacdo quase psicoldgica com o “mecanis- ‘mo de cognigd0”. E verdade,¢ claro, que frases como “intuigdo matem- ‘ica, “um senso moral”, “um senso do que € apropriado” © “a sexto sentido de uma mulher” tém uma vigéncia perfeita- ‘mente boa e conecida, divorciada de todas as considera- ‘es recdnlita da teoriafiloséfica. Mas ha uma diferenga Sighificativa entre as situagdes em que esta nogio de intui- ‘qo nfo-filoséfica é oportuna e aguelas para as quai 0s fi- losofos destnaram otermo. Valera pena explorar um pouco este contrast. (Ost. P.G. Wodehouse, essa fonte de coloquialsmos, es creve da seguinte maneira em sua historia The Code of the Woosters: Eu perce qu teria de haverslgumas discusses infor- mais proliminares anes de i 20x da questo. Quando a r- lage enre um blacoe um outro blaco io tensa, o segundo bloc no pode stacardireoo tpico de querer casar-se com ‘a sabrinha do primeioBloco. Quer dizer, nos tiver um belo senso do que é apropriado, como tem os Woosters, Fsse uso no nos deixa em dificuldades. Nio surgem quaisquer problemas sutis, e nés compreendemos a exat io o que se quis dizer. Estétransparentemente dbvio que ‘ido se tencionam duas coisas: Bertie Wooster nio esti di- zendo que seus parentes sio dotados de algum equipamento psicol6gico ou fisiolégico de um tipo que s6 uma andlise ‘obscura poderia sondare s6elaborados neologismos desere- vveriam ~ a frase “fuculdade racional de apreensio imedia- 1” faria com que seu queixo caisse um quilémetro-, nem AS ORIGENSD« TeORI EPISTEMOLOGICA sas {que algum conhecimento que & comunicado por seu “senso do que € apropriado” ¢ tal que os torne eruditos ou bem informados; saber 0 que se devia fazer no ¢ tanto saber ou informagio como é savoir faire, a marca do bem-educado ‘04 atencioso, do homem de principio, nio do especialista © contraste entre 0s uso filoséficos e ndo-filosificos 4o term “intuigio” pode ser revelado se se volta & nog de “razBes”; isto &, Aquelas coisas que tém de ser especifcadas em resposta& pergunta “como voeé sabe?", anes que uma assergo tenha de ser aceita como justficada. O importante «nota é isso: embora com muita frequéncia deva-serejeitar a alegasio de alguém de saber que isso-e-iss, se essa pes- soa ndo puder apresentar razies, hi duas classes distntas de situagdo em que nlo se a pode rejeitar,e a exigéncia de razBes pode ter de ser retirada. Se se deixa de tragar a dis- ting necessiria entre essas duas classes de stuagdo, o resul= tado pode ser uma proliferado iimitada de faculdades,sen- 505 ¢ intuigdes. A diferenca cardeal entre elas € a seguinte: numa classe (A) faz sentido falar em apresentarrazbes em Justficagio & assergio da pessoa, mas nés nio necessaria- ‘mente rejeitamos a alegacio da pessoa como sendo injusti- ficada caso ela seja incapaz de apresentar; mas na outra classe (B) nem sequer faz sentido falar em apresentar ra- Bes para a asserg20~ a exigéncia de que razbes sejam apre- sentadas éinteiamente fora de propésito, Na primeira clas- se, referéncias a “intuigio” sio inteiramente natura e ¢o- nhecidas; na segunda, elas parecem bastante equivacadas. Poddemos olhar cada classe em separado, (A) Em relagdo a muitas questies na vida caidiana, ferentes pessoas estdo colocadas em diferentes lugares: de modo que estamos preparados para conflar no julgamento dde um homem sem exigit razdes para suas opines na mesma circunstincia em que outro homer teria de apresentar slidas razes antes que foméssemos algum conhecimento dele. As a6 (08 usas D0 anoumewro vezes no exigimos razBes de um homem porque estamos muito seguros de que ele poderiaapresentar boas razbes se The pedissemos; mas em outros casos ~ 0 tnicos que nos inteessam aqui ~ nem sequer importa qu ele seja incapaz. de apresentar quaisquer razbes defnitivas se desafiado apresenti-las, Eu mesmo, por exemplo,s6 deveria estar jus- tifieado de dizer que um certo st. Blenkinsop,alguém rela- tivamente estranho estva excepcionalmente cansado quan- 4o chegou em casa ontem a noite se eu fosse capaz de apre- sentar razbes definitivas ¢relevantes — por exemplo, se eu pudesse descrevero dia atarefado que ele teve ontem eo que ele disse quando saiu do esertério. Mas sua mulher esté nu- ‘ma posigdo diferente. Ela pode saber como ele esti sentin- ‘do-se no momento em que entra na casa, pode correr 80 andar de cima para pegar seus chinelos resolver nie abot- recé-o até mais tarde por causa do video quebrado da janela «da copa. “Como ela sabia?", perpunta ose. B. Ela no pode dizer: apenas sabia, “Mas entdo”, ele refleteenquanto afun- «da na poltrona “este & 0 jeito das mulheres: elas parecer ter uma espécie de sexto sentido intuigo feminina, acho {que posso chamar assim.” O st. Blenkinsop tem razio. Este € justo o tipo de caso fem que frases como “o sexto sentido de uma mulher” © “intuigio ferinina” funcionam bem. Outras pessoas no setiam capazes de dizer o quanto ele estava cansado; na ver- dade, no se areditaria nelas se elas disessem que sabiam, ‘4 menos que pudessem apresentar razbes e, desse modo, explicar como sabiam. Mas. sr. Blenkinsop &tinica, Pode- se confiar nela quando ela diz que sabe, muito embora ela no possa dizer como sabe ~ nio possa apresentarrazSes, {em outs palaras. Ao contri dos outos, dos quai se exi- airiam razdes, ela apenas sabe. ‘Um fato & crucial para nossos propssites: frases como “intuigdo feminina” s6 slo apropriadas em relatos sobre a AS ORIGENS TEORUA EPISTEMOLOGICA a7 Justificagdo de assergSes. Ao falar sobre a inuigdo da sta Blenkinsop nfo incorremos em questdes biogeificas, sobre ‘© processo pelo qual ela velo a saber 0 que sabe. Talvez 20 examinar a questio nés decidamos que 0 que deu a ela a pista foi alguma coisa no som abafudo dos pés dele na esca- da ou a inclinagio de seus ombros quando ele pendurou 0 «asaco, algo tio sem importincia que ela propria nfo pode ter certeza do que era. Mas, quer possamos ou nio desco- ‘rir o que era, justia dese falar sobre osexto sentido dela ‘lo afetada, uma vez que a expresso “sexto sentido” no usada para Se referie a um canal de percepeio em compe tigi com os cinco sentidos comuns. A afirmago “ela sen- tu que ele estava cansado” & compativel com alguma ou rnenhuma explicagdo biogrifica, como “foi a inclinasio dos ‘ombros dele que deu a pista a ela”: ao passo que se referén- dades tanto do bibiotecério como do filésofo esto fadadas ‘a parecer negativas, confusas, destrtivas, ambos tim de con- tar com a caridade dos seus erticos, para que olhem além do caos inicial, para a intengo de mais longo prazo. 302 (05 us0s Do aRcUMENTO estas presentes investigagdes, por exemplo, pode ter parecido que s6 nos preocupamos com questdes negativas: ‘forma que a teria logica nio deveria assumir, problemas 1na teria do conhecimento que sio descobertasilusiias, 0 aque esti erado na nogio tradicional de deducdo, e assim por diante, Mas se assim foi, ndo foi por amor as distingBes 8s abjepdes. Se tudo estivesse bem (e claramente bern) na \opica filosifica, nio haveria sentido em embarcar nestas investigagdes; nossa desculpa esté na conviegio de que & necessiia uma reordenacdo radical da teoria légica @ fim la mais perto da pritica critica, ¢ nossa justfica- se as distingdes e objeges sobre as quais aqui insistimos tornarem mais proxima a tal reordenagao, "No entanto algo pode se dito em conclusto para indicar qusis passos mais positives sfo necessérios, tanto na logi- ce quanto na teoria do conhecimento, de modo a dar pros- seguimento is investigagdes erticas que foram nossa prin- cipal preocupaso aqui. Tendo jogado fra as sees da veh ca” e “epistemologia” do catilogo de nossa biblioteca intelectual, como comegaremos arepor os volumes espalha- ddos numa arrumagao nova e mais pritica? ‘A resposta completa seria um assunto muito longo; mas. se podem fazer algumas observagSes gerais sobre os prin tudo dos métodas de argumento que, em algum momento histrico,serviu como derradeira Corte de Apelacio em di- ferentes disciplinas intelectuas. HE certas maneiras de pensar sobre Matéria ou 0 Es- ado ou a Condua; outas existiram mas foram suplantadas. ‘Sem divide, pode-se imaginar um nimero indefinidamente grande que seré formalmente coerente, mas na logica apli- cada mal podemos fazer alguma coisa a nfo ser comecar do Ponto em que nos encontramas. As ciéncias ~naturais, mo- ras priticas ~ esto ai; um ldgico aplicado ov um episte- ‘mologista ja terd muito o que fazer se estudar apenas as es- pécies de investigago e argumento que existiram historica- ‘mente; faz-lo de maneira adequada pode sero trabalho de toda a vida de muitos homens Aqueles com espirto matemitico podem, se quiserem, claborar outros esquemas formais abstratos — padres de pos- siveis argumentos separados da verdaderaatvidade de argu- ‘mentar em algum campo conhecido. Mas devem tomar euida- do em atribur os resultados a lguma das cigncias existen- tes, a menos que estejam preparados para fazer aquilo que ccovetusto 309 vvimos que tem de ser feito aqui ~ esquadrinar a historia logica, a estrutura e © modus operandi das citncias usando ‘lho de um natualista, sem preconceitos ou idéias pre- ‘concebidasimportados de for, Isto significari vere descre- ver os argumentos em cada campo tal como sio, reconhe- cendo como funcionam: no propondo-se a explicar por qué, fou demonstrar que eles ifm necessariamente de funciona. ( que se pede, numa frase, no € eoria epistemolégice, mas, andlise epistemol6gica. ‘Nao hi nenhuma explicagdo para o fato de que uma cespécie de argumentofuncione na fisica, por exemplo, exce- to um argumento mais profundo também dentro da fsica. {A ligica pritica nto tem nenhuma rota de fuga, nenfum ‘buraco de parafuso que dé para o a priori) Compreender a lbgica dafsica est de acordo com compreende a fisca. Isto no quer dizer que apenas os fisicos prfissionais familia rizados com as mais recentes teorias podem discutros prin cipios dessa légica, visto que a maioria delas é a mesma tanto nos ramos elementares como nos sofisticados da cién- cia, ¢ pode ser ilustrada também por episédios historicos e por episédios do dia de hoje. Mas quer dizer que aqui, como também na filosofia politica, na ética e até na filosofia da religido, deve-se dar mais atensio a0 atual estado do obje- to substantivo no momento presente, como a0 curso de seu ‘desenvolvimento histrico, Ao lembrar como, na ligica ena filosofia das citnciasfisicas, homens como Duhem, Poincaré «Meyerson estiveram empeahados durante tanto tempo jus- tamente nesse tipo de investigacio, e perseguiram-no s0b 0 mesmo titulo de épistémologie, um inglés relembrari com nostalgia de William Whewell,cujos estudos da légieae da historia das cincis indutivas costumavam também ilumi nar um a0 outro. E ele pode ser tentado a murmurar a mei ‘vor, em despedida, as palavras memoriveis de Laurence Sterne: “resolvem esta questio melhor na Franga..”, Referéncias [A andlise de arguments aqui apresentada deve muito 20 professor Gilbert Rye, que deu estimulantes sugestes sobre l= fice tanto em sou lvro The Concept of Mind (Londres, 1949) ‘como em ensaios subseqlentes como J, So and Because (em Philosophical Analysis, e. M. Black, Comell, 1950) ¢ Logic and Professor Anderson (Australasian Journal of Philosophy, 1950, pp. 137 ¢seguines). Sus itias sobre “licengas de ineréncia” foram apliadas as cincias fisicas em meu proprio Pilasophy of ‘Science (Londres, 1983) no qual algumas das questesdiscutdas ‘aqui no Ensaio Ill fram tatadas em maior dtalhe, em especial, ‘a distin ene images de et cietifieaeafimagdes sobre 0 “imbito de aplicago dessa es. Sobre o tipo corespondente em jurisprudénci, vee J L. Montrose, Judicial Law Making and Law “Applying, em Butterworth's South African Law Review (1956), pp. 187 e seguines. {A discusio de avaliago ¢aprecac3o no Ensaio I estende & crtica lien a das do ensaio de .O. Urmson On Grading, que ‘sth ineuido em A.G. N, Flew, Logie and Language: 2 Series (Oxford, 1953), pp. 159 seguintes. O mesmo topico€ diseutido smbém na Parte Ido livro de R. M. Hare, The Language of Moral (Oxford, 1982), onde se di um interessante eftito 20 fa- moro ataque de G. E, Moore 4 “falica naturalist ef Principia Eihica (Cambridge, 1983). Hae, entretano, faz uso no-criico {a nitida dsingdo entre declaragBes “desritvas” e “emt ‘que ¢eitieado por K.F.M. BaiereS.E.Toulmin, Mind (1952), pp. 13. seguntes, ara o Eni I, vejao ensaio de J. 1. Austin, an (05 usas po axcuweNro em Logie and Language: 2 Series, pp. 123 eseguints, também LN. Findlay sobre Probability without Nonsense, Philosophical ‘Quarterly (1952) pp. 218 eseguints. Para. Ensaio I, vealiveo {ensaios de Ryle, e umbém J. O. Urmson, Some Questions Con- ‘coring Validity, Revue Internationale de Philosophie (1953), pp-217 «sequins (reimpresso em Flew, Essays in Conceptual Analysis {Londres 1986), pp. 120 eseguimts),D.G, Brown. Misconceptions af inference, Analysis (1955) H. L.A, Hat, The Ascription of Res Donsablies and Rights, em Flew, Logie and Language: I Se- ‘ies (1951), pp. 145 seguintes. Sobre a questi de “lbgica da ‘firmagi" elgien da proposiao", abordadano Ensaio TV, via ALN. Prior, Time and Modality (Oxford, 1957), Apendice AO. Enso V deve, de novo, muito a Austin, loc. cit Em conclusio,é muito justo dar refeéncias precisa do lie ‘0 aui ttcads, de modo que etx poss jugar por si mesmo a que ponto minhaseriicas Si justas e onde eu deturpei as opi- nies que rejeto, Estes inluem, além de RM. Hare, op. cit, Rudolf Camp, Logial Foundations of Probably (Chicago Lon Ares, 1950), William Kneale, Probability and Induction (Oxford, 1949), A.N. Prior, Logi and the Bass of Ethics (Oxford, 1949) PF Strawson,Inroducton 10 Logical Theory (Londses, 1952), ‘A teferéncia obra de sir David Ross €a The Right andthe Good (Oxford, 1930), «do professor G.I, von Wight € a seu ensaio sobre Déontc Lgic em Mind (1951), pp. 1 sepuintes, 8.4m E- say in Modal Logic (Amsterdam, 1951) . . Indice remissivo 1. Nomes préprios Aristteles,1,2,3, 6,11, 137, Farjeon, Eleanor, 63,129, 186, 210,212,215, 253, | Fermat,P. de, 351 259, 264, 265| Frege, Gottlob, 123,125 Austin, JL, 69, 71,75,308, Freud, Sigmund, 367 339 Ayer, A 1,332 Gauss, KF, 367 Grosis, H. 367 Bacon, Francis, 222 ‘Bentham, Jeremy, 367 Hardy, G.1L,274 Berkeley, George, 127,222, Hare, RM, 230-2 332 Han, HLL. 8,203, Bernoulli, eo, 128 Holmes, Sherlock, 173-4, 197, Boole, George, 124-5, 253 228 Hume, David 13,218, 22, Camap, Rudolf, 6,64, 66,67, 284-7, 260, 314,329, 331-2 108-27, 229-30, 261, 265.6 Hussel, Edmund, 123, Collingwood, RG. 368 Jeans, James, 123, Darwin, Charles, 367 Sees, Harold, 123, Descartes, 110,311, 385-7 Dewey, John, 4, ahem, P., 369 Kepler, Johann, 367 ‘Keynes, JM. 11S, 124 Koeale, W., 64-108, 14-5 120-2, 222-4, 227,338 Euclids, 289, 273,287,367 am Laplace PS. de, 13, 196,228 Lavoisier, AL. 367 Leibniz, ©, W,, 110,283,355, Locke, John, 222, 332 Meyerson, E369 Mil JS, 386 Mises, Roa, 1113 Moore, G. £97,332 Morgan, A. de, 124 ‘Newton, saa, 174,228, 367 Plato, 258,257,259 Poincaré, Henri, 369 Prog, AN. 232-3, 249-50, 258 Pitigoras, 259,273 Quine, WV, 256, 264 Ramsey, FP, 108, 124 Richards A. 332 Ross, W-D, 203-4 ‘Russell, Bertrand, 124 Ryle, Gilden, 173, Sterne, Laurence, 369 Stevenson, C. L332 Stawson, PF, 225-8, 230, 253,264 Unmson,J0., 108 ‘Weismann, F125 Whewell, W. 355, 269 ‘Wisdom, John, 326 Wingensein, L361 Wodehouse, P.G.. 344 Wright G. HL. von, 267, 2. Termos introdusidos ou discutidos snalogajurispradencial, 10-1, 21-4, $9.62, 138, 202-4 apoio de garantia, 148-51 argumentos analitios, 179, 187-202 argumentospresumiveis, 31 argumentes quase-silogisticos, 156-4, 18692, 198-201 rgumenios que estabelecem sara, 172,194 argumentos que usam ‘aranti 172, 194 argumentossubstanciais, 179, 31188, 334 argumentos ‘snalitca/substancial, 179 conclusivortentativo, 195 dedativosindutivo, 173, 7207, 214, presumivel, 3, 143, 147, 203 quase-siogisticn, 156-9, 187-92, 198-201 que usa giratiaggue estabelece garani,172, 194 cielo de sores, 282 58, cileulos,feitos sob media, 288.98 campo-dependéacia 21 ‘campe-invanncia, 21 campos de argumeato, 12,20 slassifcagao, 479 ‘ritrios, para uso de termos mods, 11, 42,438, 518 ads, cm supore a conelusdes, 139 edugio, 9, 13, 173-5, 207, 214,222 ceplsteme, 2,253 55. facia naturalist, 97,104 forga de termos modais, 12, 42,43 5,51, 130 de afirmagées univers, Ist forma lgica, 61-2, 136-7, 2023 ahismo, 13,319 ss impossibliade, 46, 218-9, 242.9, 290 6 nocessidade, 9,218, 242-7, 25058. possbilidad, 218, 242-7, 200s, relages, 262 palavras, 194,213, ‘arantias, 141 imposibildade, 29, 31 ss. formal, 3,278 materties, 46,96, 290 a5 teérica, 39-40, 290-2 impropriedade, 3s indugho, 12, 174,207,214 neeessidadee probabidade, 195-201, nocessidade, 29, 44 possbilidade, 25-6, 244 probabilidade, 30, 115-6, 144 cileulo, 115, BL relages, 102-7, 115, 120 probabilifiaso, 76, 102 148, 146,203 proposices eairmagbes, 2548, ileulo de, 265-6 psicologismo, 120-7 ‘qualificadores, modais, 145-6 refutago,condigbes de, 145 relagdes de suport 115 revopabilidade, 203 salts entetiposLgieos, 19 significado, fora ecritros, 50 sitogismo, principio do, 183, validade formal, 158 valdade, em ligica formal, 21 vetifcabildade, principio de, 178

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