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Beeler = ae PS ee 7 ME) Cem ia ee ee energia € 0 grande “motor” do sistema Tetra. Ao mesmo tempo, nao ha animal ‘ou vegetal que subsista sem consumir alguma for- ma de energia. Os vegetais utilizam a energia proveniente do sol para efetuar a fotossintese e as- sim fabricar seus constituintes. Os animais, por sua .alimentam-se de vegetais ou outros animais para obter a energia necessiria € se manterem vivos. Os seres humanos aprenderam ao longo dos sé- culos a utilizar diversas formas de energia que sio encontradas na Terra, sendo este um fator de ex- trema importincia no desenvolvimento da civilizagio, petmitindo a fabricacio de instrumen- tos © armas, além de proporcionar o cozimento de aquecimento de ambientes. A habilida- de de obter ¢ utilizar energia tem permitido que a humanidade ocupe iireas do planeta onde o clima € extremamente adverso, locomova-se de forma ri- alimentos pida ¢ mantenha um complexo sistema de 10, empregando diferentes fontes energéticas em distintas regides do planeta. Os recursos energéticos utilizados atualmente pelas nagdes dustrializadas sio os combustiveis fosseis (carvao mineral, petréleo € gés natural), hidreletricidade, energia nuclear ¢ outras formas de energia menos difundidas como geotérmica, solar, edlica, prove- niente da biomassa, de marés e, mais recentemente, de ondas. civilize 22.1 Biomassa -\ biomassa foi, sem duivida, o primeiro reeur- so energético utilizado pela humanidade. A queima de lenha foi responsivel pelo fornecimento de energia desde os primérdios das civilizagées, sen- do utilizada principalmente nos paises menos desenvolvidos. Estima-se que cerca de 10% dos fogdes existentes na Terra ainda utilizem leaha como fonte de energia. Apesar de envolver a des- truicdo de Morestas, o cultivo controlado de arvores pode set uma importante forma de geracao de energia a custos relativamente baixos A biomassa pode também ser utilizada para a producio de combustiveis (por exemplo etanol ¢ ‘metanol), que podem substituir com certas vanta- gens outras fontes de energia (ver o quadro sobre © Proéleool). 22.2 Combustiveis Fésseis Os combustiveis fésseis recebem esta denomi- nagio por derivarem de restos de plantas € animais sotertados juntamente com os sedimentos que for- ‘mam as rochas sedimentares. © tipo de combustivel fossil formado depende da matéria orginica original € da sua subseqitente histéria geologica 22.2.1 Carvio Mineral © carvao mineral € utilizado hi mais de 2.000 anos, desde 2 época da ocupagio romana da Inglater- ra, quando era usado para aquecer as casas dos romanos. No entanto, sua importincia maior surgiu com 0 desenvolvimento das maquinas a vapor, gracas, a seu alto contedido energético e sua grande disponibi- lidade na Europa ¢ dos Estados Unidos. Ainda hoje é um componente importantissimo na matriz, energética (conjunto de fontes de energia que abastecem um pais) de diversos paises, por exemplo, Estados Unidos ¢ China sia, ¢ posteriormente no nordeste No Brasil, a existéncia de carvio no sul de Santa Catarina é conhecida desde 1827, quando tropeiros, acampados na regio conhecida como Barro Branco, perceberam que algumas das rochas que haviam utili zado para 2 montagem de uma fogueira haviam, entrado em combustio, transformando-se em cinzas. No entanto, foi somente durante a 2" Grande Guerra que a exploragio de carvao ganhou relevincia, devi- do a necessidade de substituit os combustiveis importados. Outro grande avango se deu apés a pri- meira grande crise do petroleo (1973/1974), quando houve um enorme incentivo 4 producio de recursos energéticos alternativos, Atualmente a produgio bra- sileira de carvao mineral & praticamente toda consumida em termoelétricas, ou seja, em usinas de geragio de enengia elétrica a partir do calor gerado pela combustio do combustivel, representando hoje cerca de 1,5% da matriz encrgética do Brasil Como se forma o carviio? O carvao é uma rocha sedimentar combustivel, formada a partir do soterramento e compactacio de uma massa vegetal em ambiente anaerdbico, em bacias originalmente pouco profundas (da ordem de deze- nas a centenas de metros). A medida que a matéria AH Usino hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta (1,8GW), Primavera, SP Foto: CESP orgiinica vegetal & soterrada, inicia-se 0 processo de transformagio em carvao, devido principalmente ao aumento de pressio ¢ temperatura, aliados 2 tect6nica. Gragas a0 ambiente crescente compactagio, os elementos voliteis e a Agua werdbico, ¢ com a presentes na matéria orginica original sio expelidos, gerando, concomitantemente, uma concentragio rela- tiva de carbono cada vez maior, A principal matéria-prima do carvao € a celulose (C,H,,O.), € dependendo das condigdes de P T, € do tempo de sna atuagio, sua transformacio pode gerar, progressi- vamente, turfa, linhito, carvao (também chamado de carvao betuminoso) ou antracito, de acordo com, © grau de maturagio ou earbonificacio, exemplificado pelas seguintes equaces: + C,H,0, + 3CH, +8H,0 + 6CO, + CO linhito 6(CH,O) > 8co, + CO H.,03 + 5CH, + 10H,0 + antracito A Tabela 22.1 mostra a classificagio adotada no Brasil para os diversos tipos de carvio mineral Capituto 22 [rere ooo ME © carvao & denominado nimico quando forma doa partir de vegetais superiores de origem continental ou paludal e sapropélico ou saprotético, quando ge ado a partir de algas marinhas. Os carves hiimicos 86 se formaram na Terra a partir do Devoniano, pert odo em que os vege is Superiores surgiram ¢ passaram, a ocupar grandes areas. Hoje os carves hiimicos per fazem cerca de 95% das reservas conhecidas de carvio no mundo. Os ambientes propicios a formagio de depositos de carvao sio bacias rasas, deltas, estuérios ou ambi entes pantanosos, vamente mal oxigenados. Muitos depésitos ocorrem em sucessbes de repetidas transyress6es e regresses marinhas que, com a varia cio do nivel de base, possibilitaram o avango de florestas durante 0 recuo do mar, seguida de soterramento quando o mar invadiu a regio costeira novamente. Isto explica a ocorréncia, numa mesma regiao, de diversas camadas de carvio intercaladas por sedimentos. A distribuigio de carvao mineral no mundo € irre- gular. A Russia detém cerca de 50% das reservas conhecidas, enquanto os Estados Unidos contam com 30%, O Brasil conta com apenas 0,1% do carvio conhecido no mundo. cerca de Tabela 22.1 Voriagéo das caracteristicas do carvao de acordo com 0 grau de carbonificacéo. ere ce Densidade (kg/m?) 1.000 Umidodet) 65090 Carbon” (%) 255 Hidrogénio (8) =6 Origtnio (%) 233 Componentes Volétis*(%) = 60 Corbono Fi (4) (225 CCinas (8) (material nde combustivel £10 Poder Colorfico cal/a 000 0 5.700 Brilho fosco (*) medides sobre © carvdo isento de umidade e cinza Lin ners ery 1.0000 1.300 1.200@1.600 1.3000 1.700 15045 103 ; 65075 7 290 9.09% 5 45055 205 25 Bevzcil 401) +40 10045 3010 235 25.080 +90 +9 05.040 3030 65.700 §:700.09.600 8200.09.20 boixo moderado alto CMe Tea Tee tT carvao brasileiro Os carvoes minerais explorados no Brasil sio do tipo himico, originados a partir de tecidos lenhosos, celulose, esporos, ceras, resinas, géis, hermes hidrocarbonetos derivados de uma paleoflora, tipica do Carbonifero e Permiano do antigo paleocontinente Gondwana € por diversas espécies de gimnospermas, pteridofitas (samambaias), icofitas e esfendfitas extintas. © carvio é produzido no Brasil a partir de depé sitos na Bacia do Parani, principalmente nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em rochas de 1 A Fig. 22.2 mostra a distribuigio do carvio mineral idade permiana inferior (cerca de 260 Ma) (Fig, no Brasil, Fig, 22.1 Mineracéo subterrénea de corvéo no regido de Criciéme, Santa Catarina, Foto: S. L. F de Matos. 200m Fig. 22.2 Distibuigdo de oconéncias € joridos de carvao mineral no borde leste da Bacia do Paroné, Problemas Ambientais A exploragio do carvio mineral envolve a remo- lo, 0 transporte ¢ © beneficiamento de grandes ‘o meio ambiente (Fig. 22.3). Contudo, a conscientizagio da necessidade da preservacio do meio ambiente ¢ a adog’ de politicas que permitam um desenvolvimento sustentavel sio posturas relativamente recentes. Quan do a mineragio do carvao no Brasil intensificou-se ‘no inicio do século 20, poucos cuidados de preserva cio ambiental foram tomados. Com isso, muitas dreas produtoras de carvio mineral tém softido as conse qiiéncias indesejadas de tal atitude O earviio mineral, por se formar sob condigdes andxieas, é comumente associado a sulfetos, principal: mente 4 pitita. Exposta 4 agio do oxigénio do ar e da gua, a pitita softe oxidacio, gerando uma solucio de cido sulfirico e sulfato ferroso, que € a principal fonte poluidora, Quando estes produtos, provenientes dos depésitos de rejeitos e das minas, alcancam os cursos ePigua, acidificam as Aguas, aumentando 0 teor de suk fato, e desencadeiam uma série de reagdes quimicas, como, pot exemplo, a solubilizacio de metais pesados, ferro, manganés, cileio, sédio ete. Adicionalmente, a reagio exotérmica da oxidacio dos sulfetos pode ge rar calor suficiente pata iniciar a autocombustio do carvio, com a liberacio de H,S; além do odor desa gradavel, a liberacio deste gis na atmosfera pode Promover a posterior ocorréncia de chuvas dcidas. Até poucos anos atris os rejeitos das usinas de beneficiamento eram depositados a céu aberto sem qualquer critério técnico, em sireas proximas as usinas, enquanto os efluentes ssiduos) liquidos eram langa Fig. 22.3 Mineragdo 0 céu-oberto de corvéo na regide de CCharqueados (RS), onde pode-se observar a grande mobilizacéo de moterial para exploragéo do corvéio mineral. Folo: S.L. F de Matos. dos diretamente nas drenagens. $6 a partir do inicio da década de 1980 € que as primeiras providéncias ficiais foram tomadas para diminuir os impactos ambientais das atividades mineiras de carvio, Embora a acidificagio dos rios ea geragio de chuva ‘icida sejam os mais graves problemas ambientais de- correntes da mineragio do carvao, outros impactos, também graves, podem ocorter, como degradagio dda paisagem, subsidéncia local, rebaixamento do nivel freitico, assoreamento das drenagens, poluicio dos solos ¢ doengas relacionadas a0 trabalho. 22.2.2 Petrdleo € gis natural (© petréleo ¢ conhecido desde tempos remotos. A Biblia ja ta referéncias sobre a existéncia de lagos, de asfalto, Nabucodonosor pavimentava estradas com, esse produto na Babilénia, enquanto 0s egipcios 0 uti- lizavam como impermeabilizante. Por varios séculos © petroleo foi utilizado para iluminacio. Apesar da téeniea de perfuragao de pocos profun- dos ser dominada desde 200 anos a.C., 0 objetivo exploratorio era sempre égua potivel. Entretanto, durante © séeulo XVII jf eram cavados pogos a pro- fundidades de até 50 metros que buscavam 0 petréleo. ‘A vantagem desse procedimento era que 0 petréleo assim produzido era mais “leve” do que © aflorante hhaturalmente, ou seja, com os seus constituintey tris voliteis ainda presentes. No entanto, a construgio des- ses pogos efa uma tarefa extremamente arriscada devido a presenca de gases altamente inflamaveis. No inicio do século XE construidas, visando a separagio dos constituintes do petrolco, Paralclamente era desenvolvido 0 lampiio a querosene, que produzia uma chama muito mais bri- Thante © com muito menos fumaca do que os que utilizavam petréleo bruto ou mesmo éleo de baleia, Na primeira metade do século NIX, foram consteuidas, também as primeiras refinarias, que processavam 0 petrdleo extraido dos pogos cavados manualmente, as primeiras destilarias foram A moderna era do petr6leo teve inicio quando um norte-americano conhecido como Coronel Drake ¢n- controu petréleo a cerca de 20 metros de profundidade no oeste da Pensilvania, utilizando uma miiquina perfuratriz para a construgio do poco. Sua descoberta causou tanta sensacio na época que em apenas um ano 15 refinarias de petréleo foram insta- ladas na regio. Na verdade, nessa época, os primeiros cexploradores de petréleo foram pessoas ou empresas Capituto 22 * Recursos Enercéricos 475 ligadas ao ramo da mineracio, que estavam acostu- madas ao cielo da industria mineral (do ouro © do carvio). Nesses setores 0 minério é retitado da mina e comercializado ou armazenado em pilhas até a chega- da de um comprador. Para cles havia também a possibilidade de interromper a mineracio em epocas de baixa demanda, sem que 0 minério fosse perdido. A exploracio do petréleo mostrou-se completamen- te diferente. Devido a seu estado liquido, apos a perfuracio normalmente ocorte surgéncia natural, 0 que torna dificil e extremamente oncroso tanto seu armazenamento para regular 0 fluxo de mercado, como seu transporte por grandes distincias. Isso, alia- do a descoberta de imimeros outros campos petrolifcros, fez com que diversos desses explorido- res, acostumados com outra realidade, falissem © 0 prego do potnilea eaisce tremendamente. Para se tet uma idéia, 0 preco do barril de petroleo (unidade de medida de volume que equivale a aproximadamente 159 litros) caiu de cerea de USS20 em 1860 para USS 0,10 em apenas dois anos. No entanto, a grande revolugio da inddstria do petréleo acorreu com a invencio dos motores de combustio interna ¢ a produgio de automéveis em grande escala que deram & gasolina (obtida a partir do tefino do petréleo) uma utilidade mais nobre do que 4 simples queima ou descarte nos rios (pritica comum x). no século ¥ Petrdleo ¢ Gas © petrdleo é um liquido oleoso, normalmente com densidade menor que a da agua. Sua cor varia desde o incolor até © preto, passando por verde © matrom Existem diversas teorias para explicar a origem do petrdleo. A mais aceita atualmente ¢ de sua origem ongiinica, ou seja, tanto o petréleo como o gas natu ral sio combustiveis fosscis, a exemplo do carvio. Sua origem se da a partir de matéria orginica (princi palmente algas) soterrada juntamente com sedimentos lacustres ou marinhos. Os ambientes que impedem a oxidacio da maté ria orginica sio aqueles de tapida sedimentagio (eg, plataformas rasas) ou de teor de oxigénio restrito (e.g, fundo ocednico). Em ambos 0s casos anaerdbico permite o aprisionamento de mat winica nao oxidada. A semelhanca dos processos que transformam restos vegetais em carvao minetal, vis- tos anteriormente, a matéria organica vai se 6 ambiente or Cr Me Ted ees transformando, com a perda dos componentes vola- teis © concentracio de carbono até sua completa modifieagio para hidrocarbonetos. A grande dife- renca entre a fotmagio do carvao mineral ¢ dos hidrocarbonetos é a matéria-prima, ou seja, pincipal- mente material lenhoso para 0 carvao e algas para os hidroearbonetos, o que é definido justamente pelo am- biente de sedimentagio, Normalmente, o petréleo € © gis coexistem, porém, dependendo das condigé de pressio © temperatura, haveré maior quantidade de um ou de outro. A Fig, 22.4 mostra as modifica- ces da matéria onginica em hidrocarboneto com o incremento da profundidade ¢, conseqiientemente, das, condigdes de pressio e temperatura, \ mais importante rocha-fonte de dleo e gis ¢ formada por sedimentos finos, ricos em matéria or- ginica, soterrados a uma profundidade minima de 500m onde a rocha se comprime, diminuindo sua porosidade e, com a alta temperatura, induz os hidrocarbonetos a migearem para cima, para um am- biente de menor pressio € maior porosidade. Esse movimento ¢ chamado de migragao primaria. A medida que 0 hidrocarboneto atinge materiais de maior permeabilidade, ele se move mais livremen- te, porém, devido ao fato de sua densidade ser inferior 4 da agua, tende a subir para a superficie, Esta migea- cio € chamada de migragio secundaria, Em seu iminho pata a superficie, 0 hidrocarboneto, ao en- contrar uma barteita relativamente impermesvel, iri 5 Mrrerboneten gerade —p | } Zener | 3] Zonade eo ime Gre Oe Fig. 22.4 Esquema simplificade do formagéo de hidrocarbonetos fem funcdo de profundidade. se acumular logo abaixo. Diversos tipos de rocha po dem ter esse papel, por exemplo folhelhos, argilitos, sal, etc. Essas rochas sio chamadas tochas capeadoras, A tocha permedvel em que 0 hidrocarboneto se acu: mula é chamada rocha reservaté Caso esse sistema (rocha reservatério mais rocha capeadora) forme uma estrutura que bloquei vimento ascendente do hidrocarboneto, este se acumulari, armazenadora de hidrocarboneto, Esse sistema, com P associadas i estrutura, é chamado armaditha ou teapa. Um aspecto curioso é que as concentragdes de hidrocarbonetos apresentam, devido as diferencas de densidades, trés niveis de fluids, sendo que no superior fica 0 gis, no intermediério o petrdleo ¢ no inferior, gua. formando, assim, uma estrutura sto pela rocha reservatério € rocha capeadora, madilhas tém basicamente duas origens dis. tintas: estratigrifica ou estrutural, mas podem ter diversas formas, sendo que alguns exemplos sio apre sentados na Fig, 22.5. A “indistria” de hidrocarbonetos A prospeceiio de hidrocarbonetos envolve as fases comuns de prospeccio mineral, ou seja,o mapeamento _geoldgico e geofisico da érea, por meio de levanta-~ mentos aéreos € terrestres, © processamento desses dados e sua posterior interpretacio. Paralelamente sto perfurados alguns pogos exploratérios para que os dados de mapeamento sejam correlacionados com a estratigrafia da regio. Dos pocos exploratérios so extraidos testemunhos, submetidos a andl _geoquimicas e paleontolégicas que indicario a pos- sibilidade de existéncia de hidrocarbonetos na regio. A partir do conjunto de dados adquiridos nessa fase, € claborado um modelo geoligico-estratigrifico-e trutural da bacia, que serviri de base para a locagio de levamtamentos de maior detalhe com vistas 4 def nigio de possiveis armadilhas portadoras de hidrocarbonetos. Uma vez identificada uma armadi tha em potencial (principalmente por meio de métodos geofisicos), & eferuada uma sondagem mecinica (per furagio) que iri comprovar a existéncia ou nio do hidrocarboneto, Se encontrado, éiniciada a delimita- io da reserva, quando diversos furos de sondagem sio efetuados visando a definicio do volume de hidrocarboneto contido. A fase seguinte & chamada de desenvolvimento, quando € montada a infra-es trutusa para a exploracio comercial (produgio) do hidzocarboneto, Fig. 22.5 Exemplos de ‘rapes: (o} anticlinal, (b) falha, c) discordéncia, Durante a fa slo efetuadas cons ede produ tantes reavaliagdes e reestudos que objetivam verificar se as hipdteses adotadas nas fases anterio- res estio se confirmando. Capituto 22 * Recursos Enercéticos 477 Eventualmente, poderio ser necessirios estudos mais detalhados para verificar se a recuperagio do hidrocarboneto esta ocorrendo de acordo com 0 es perado. Nesta fase utilizam-se levantamentos sismicos de grande detalhe que geram imagens em trés dimen- sbes do reservatirio. Na moderna industria de hidrocarbonetos, em to: das as fases de exploracao (ou prospeceao) ¢ produc, 08 diversos profissionais (gedlogos, geofisicos, enge heiros, quimicos, fisicos e matemiticos) trabalham em perfeita integragio conjunto, de forma a haver um: dos dados gerados por meio de cada técnica especifi cca, Essa atitude leva a um desenvolvimento de téenicas indiretas de mapeamento e monitoramento, destacan do-se, entre clas, a sismica de refle: 10, capaz de gerar imagens de grande fidelidade e correlacio com a estratigrafia da drea (Fig, 22.6), Uma vez trazido a superficie, 0 petrdleo € trans portado A refinaria para a sepa produzindo desde os combustiveis de acio de seus diversos constituintes uso consagrado, tais como gasolina, dleo diesel, dleo combustivel, querosene, GLP (gis liquefeito de pe tr6leo), até asfalto ¢ outros produtos. Ja o gis natural, apé diretamente como combustivel. um beneficiamento muito simples, é utilizado Fig. 22.6 Secéo sismica de uma armadilha e suc int <0 sismo-estratigrtico, Ocorréncia dos hidrocarbonetos no mundo A ocorténcia de hidrocarbonetos é varivel no espaco € no tempo, Isto se deve ao fato de regides outrora importantes produtoras terem exaurido suas reservas, a0 mesmo tempo que novas reservas descobertas em outras regides. Atualmente, a distribuicio conhecida de hidrocarbonetos no mundo € extremamente irre gular, ocorrendo uma grande concentracio de petréleo no Oriente Médio e A Fig. 22.7 mostra a distribuicio das re- servas conhecidas de petréleo € gis gis na Europa Oriental, Cire Tas ee ed Distribuigao dos hidrocarbonetos no Brasil No Brasil ja existiam re feréncias 4 existéncia de petrdleo na regio do sul do Estado da Bahia desde o fi nal do século XIX; nesss Epoca, durante a construgio da Estrada de Ferro Leste Brasileiro, as ferramentas uti lizadas ficavam cobertas de leo. Porém, a primeira des coberta de petroleo de 1938, no municipio de Bahia, na bacia sedimentar do Recéncavo. on on de Sergipe-Alagoas, Fig. 22.7 Disiribvigao de petoleo e gas no mundo. n 1968 foi deseoberto primeico campo petrolifero na plataforma continental Fig. 22.8 Distribu Capituto 22 * Recursos Enercéticos 479 brasileira (Sergipe), seguindo-se, en- tio, diversas descobertas, tanto no continente (Bacia do Espirito Santo, Bacia Potiguar, Bacia do Solimées ¢ mais recentemente na Bacia do Parana) como na plataforma conti nental (Potiguar, Campos, Fox do Amazonas, Cearé, Santos € Costa da Bahia) (Fig. 22.8). A Bacia de Cam- pos possui as maiores reservas de petréleo conhecidas no Brasil, des tacando-se os campos de Albacora, Marlin ¢ Barracuda, todos em aguas profundas (lamina d’agua superior a 800 metros), © que exigiu o desen al 9), volvimento de tecnologia espe para torni-los produtores (Fig. Fig. 22.9 Map da Bacio de Campos mosirando 0s campos Apesar de as Bacias do Recéneavo © de Sergipe- pater en EES Alagoas terem sido importantes produtoras, atualmente as Bacias de Campos ¢ Potiguar respondem por quase toda a producto de hidrocarbonetos do Brasil. Fig. 22.10 Mapa com a distribuigéo de petréleo © gés no Bras 480 DeciFranoo a TERRA Impactos ambientais devidos exploragio consumo de hidrocarbonetos Como os outros combustiveis fésseis, os hidrocarbonetos devem ser de alguma forma quei- mados para aproveitar a energia neles armazenada. Se imaginarmos que uma imensa quantidade de combustivel ficou armazenada durante milhdes de anos ‘em sub-superficie e depois, em poucas décadas é quei- mada, € intuitivo imaginar que essa queima iri gerar uma grande quantidade de CO, num espaco de tem- po relativamente pequeno. Sabe-se que 0 CO, na amosfera deixa passar os raios solares, mas tende a absorver os raios infra-vermelhos irradiados pela Terra, funcionando como uma camada de “isolante” térmi- co, Portanto, essa produgio de CO, anormal, derivada da queima de grande quantidade de combustivel, po- deri provocar © aquecimento global da Terra, conhecido como efeito estufa, acarretando © derre- timento das calotas polares e inundagio de terrenos litorineos ou de baixa altitude. maior dano ambiental atribuido ao uso de hidrocarbonetos. * exatamente esse 0 Outros danos dizem respeito 4 geragio de SO, ¢ NO, durante a queima, que vio se concentrando ‘na atmosfera ¢, na presenga da 4gua geram dcidos que se precipitam em forma de chuva acida, com evidentes reflexos na biosfera em geral e na satide da populacio em particular. Podem, ainda, ocorrer eventuais derra- mamentos acidentais durante o ciclo produtive do hidrocarbone.. Exemplos marcantes foram os aci- dentes na costa ‘ao Alasca em 1989 ¢ a Baia da Guanabara em 2000, que provocaram a morte por asfixia de milhares de animais, 22.2.3 O Folhelho Betuminoso © folhetho betuminoso (também chamado de “xisto” betuminoso) € uma rocha de granulacio fina, telativamente rica em petrdleo que no sofreu os pro- cessos de migracao, Devido a baixa permeabilidade intrinseca da rocha, a extracio desse petrdleo exige ‘um proceso de beneficiamento que s6 se torna eco- nomicamente viivel se a quantidade de éleo contida Ape mnalog de cis Ap) Rios. por toneteds de corte. No Brasil encontra-se a segunda maior reserva de folhetho betuminoso do mundo, na Formacio Irati, Bacia do Parand, explorada economicamente ha varios anos no muniejpio de Sao Mateus do Sul (PR), gracas a um inovador processo de beneficiamento desenvolvido pela Petrobris de nominado “Petrosix”, 22.3 Energia Nuclear A energia nuclear ¢ gerada pela fisso do miicleo do clemento Urinio (“U) por bombardeamento de néutrons (Fig. 22.11). Esta reacao libera trés néutrons ¢ calor. Os néutrons liberados ativam novas reacdes que liberam mais néutrons ¢ mais calor, produzindo. uma reagio em cadeia, A partir do desenvolvimento de sistemas de controle dessa reagio em cadeia, que ‘corre em 1942, foi possivel utilizar a energia pro- dluzida na reacdo tanto para fins militares (na 2° Grande Guerra), como para obtenciio de energia rermoelétrica Atualmente estiio em operacio no mundo todo cerca de 440 usinas nucleares. F) uma importante fonte de cenergia para alguns paises, por exemplo na Franga, onde 75% da energia elétrica € produzida por usinas nucle- ares. No Brasil a energia nuclear ainda foi pouco explorada, tendo-se somente a Usina de Angra dos Reis em operagio. Os sistemas de geracio de energia por fissi clear sio chamados de reatores, ¢ fazer parte das usinas geradoras de cletricidade, conhecidas também como usinas termonucleares, uma vez que a geracio de ener gia eléttica é feita através de turbinas movidas a vapor de agua, aquecida por combustivel nuclear 0 nu Podemos encontrar na natureza trés is6topos de ut io em proporgdes desiguais. °*U representa cerca de 99,3% de todo urinio encontrado, enquanto *"U perfaz 0,7% ™4U contribui com algo em torno de 0,005% Fig. 22.11 Esquemo do fissdo nuclear do ™*U, OU € 0 tinico elemento fissionavel que ocor- re naturalmente, sendo, portanto, essencial para a produgio de energia nuclear. No entanto, para ser utilizado como combustivel, 0 minério deve ser concentrado até atingir um conteiido de urinio de cerea de 3%, na forma de UO, gerando © produ- to chamado de urénio enriquecido, Por outro lado, © *U, apés bombardeado por néutrons, transfor ma-se em *”Pu (plutdnio), que € fissiondvel. O urfinio enriquecido é colocado dentro de tubos fei- tos de uma liga metilica de zircOnio e estanho (zircaley) ou, eventualmente, de ago inoxidavel. tes tubos sio enfeixados formando um arranjo reticulado que varia de tamanho, geometria e quan- tidade de tubos, dependendo do tipo de reator. Existem basicamente dois tipos de reatores, co- nhecidos como BWR (bailing water reactor — reator de agua fervente) © PWR (pressurized water reactor — reator de agua pressurizada). Em média, os 1 res do tipo BWR utilizam arranjo de aproximadamente 60 tubos pesando cerca de 320 kg, dos quais 180 kg sio de urinio enriquecido. Ja ‘os arranjos para os reatores do tipo PWR pesam, cerca de 650 kg, dos quais 460 sio de urinio enri- quecido, dispostos em 260 tubos. Os reatores BWR ém, em média, 750 arranjos, enquanto os do tipo PWR tém cerca de 150. A vida titi desses de combustivel nuclear varia de 4a 6 anos, quando entio devem ser substituidos. arranjos Capituto 22 eee Do cD 22.3.1 Como o reator funciona? © reator nuclear ¢ formado por uma cépsula do reator, um certo ntimero de arranjos de combustivel nuclear, um circuito de tubos que leva agua do reator para um gerador de vapor e de volta ao reator pot meio de uma bomba, outro cireuito de tubos que trans- de contencio que envolve a capsu porta o vapor de 4gua 4 turbina geradora © outra bomba que faz o seu retorno para o gerador de vapor para ser reaquecido (Fig, 22.12). A chave do processo é o controle da reagio em cadeia gerada pela fissio do *“U, que produz calor. Esse controle € obtido por meio da insercio de varetas metilicas que absorvem néutrons (feitas de cédmio ou boro), entre os arranjos de combustivel, limitando a rea a0. Adicionalmente, como os arranjos de combust resfriados, evitando a fusio do n Se as varetas de controle forem todas inseridas en tre os artanjos de combustivel, a reagio cessa, sao mantidos em gua circulante, sio icleo do reator. enquanto sua progressiva retirada gera cada vez mais calor. Uma reagio em cadeia de fissio estavel no niicleo é mantida controlando-se o nimero de néutrons que causam fissio, bem como a con- centragio de combustivel. Uma concentragio minima de combustivel é necessiria para asse- gurar a reagio critica Fig. 22.12 Esqueme simplifcede de uma usina nucleor 482 DeciFRaNDO A TERRA © miicleo do reator é mantido em uma caixa de aco inoxidavel, sendo que, para uma seguranca extra, © reator inteiro é guardado em uma construgio de conereto. No Brasil é gerada energia elétrica a partir de usi- nas nucleares no municipio de Angra dos Reis (RJ), com reatores do tipo PWR, com agua como elemen- to modera 22.3.2 tribuigio do uranio A concentragio média de urinio na crosta terres- tre é de cerea de 2 partes por milhio (2 ppm). Para ser considerada jazida, a concentracio de urinio deve ser de 400 a 2.500 vezes sua concentragao média. No Brasil ja foram estudadas e catalogadas deze nas de milhares de ocorséncias de urinio. No entaato, uma ocorténcia nao leva necessariamente & descober ta de um depésito economicamente explordvel. A primeira unidade mineira ¢ de beneficiamento do Brasil iniciou suas atividades em 1982 no municipio de C: as (sul de MG), tendo fornecido combustivel para as usinas nucleares de Angra dos Reis. Com a exaustio dessa mina, 0 urinio passari a ser produzido na re- gio sudoeste da Bahia, nos municipios de Lagoa Real © Catité, que apres toneladas de urinio, sem outros minerais associados. No Ceari, municipio de Itataia, ha outra jazida com reserva estimada também em 100,000 roneladas. Re- centemente {i noticiada a descoberta, no Para, da mais 10 de urinio, com 600 km’, porém os estudos para avaliagao da reserva ainda estio sendo realizados. entam reservas estimadas em 100,000 extensa drea do n.undo em mineraliza 22.3.3 Energia nuclear (fissao) © meio ambiente Enengia nuclear ¢ os possiveis efeitos adversos associ ados a cla tém sido motivo de muitos debates, pois 0 muimero de reatores em operagio tende a aumentar € s reais possibilidades de de- sastres de terriveis conseqiiéncias, junto com eles os A utilizacio de combustivel nuclear pode ser con- siderada uma forma bastante “limpa” de geragio de cenergia elétrica, uma vez que nio gera HS ou NO, (6xidos de nitrogénio). No entanto, ha varios pro- blemas que devem ser considerados, por exemplo se uma usina sofrer um acidente € se romper, como 0 ocortido em Chernobyl em 1986, onde erros de ope- racio aliados a mau funcionamento dos sistemas de seguranea provocaram o superaquecimento € poste- rior combustio do nuicleo do reator, causando uma explosio liberando a atmosfera. A repeticio de um acidente desse tipo, es © particulas radioativas para contudo, é muito dificil de ocorrer uma ver, que aquela usina utilizava tecnologia ultrapa: ha muitos anos, Pars nas dois acidentes com vi em cerea de 50 anos de operagio das usinas nuclea la e fora de uso se ter uma idéia, ocorreram ape: amento de tadioatividade res, evidenciando os grandes cuidados com a seguranga das usinas. Contudo, deve ser lembrado que um tinico acidente com qualquer das usinas pode atingir grandes proporgdes, com efeitos ambientais duradouros. No entanto, o maior problema ambiental diz respeito 4 disposicio dos rejeitos radioativos pe~ rados pela usina, Estes rejeitos so compostos de elementos radioativos de meia-vida longa. A grande questio € como dispor e isolar de maneira segura tais rejeitos, para no contaminar os recursos hidricos ou mesmo a atmosfera, Nenhum pais usuario de cenergia nuclear encontrou uma solugio definitiva para este problema que se agrava a cada ano A medida que novas unidades entram em operagao € 0s rejeitos sio acumulados em depdsitos provisdrios, sem con- dicées adequadas de seguranca a longo prazo, inclusive no Brasil Recentemente, atendendo 10 dos drgios ambientalistas, a Alemanha resolveu desativar progres- sivamente suas usinas nucleares. 22.4 Energia Geotérmica A variagio da temperatura tanto espacial como temporalmente & uma das mais importantes proprie: dades fisicas da Terra, Tal vatiagio se reflete na superficie do planeta devido as peculiaridades sazo nais ¢ internamente em fungio da evolucio térmica do planeta ao longo dos tia (Caps. 5 € 15) bilhdes de anos de sua hist: As diferentes temperaturas sio 0 resultado de hetcrogencidades laterais ¢ verticais em pequena escala ‘ou na escala da Terra. A tendéncia de equilibrio destas diferengas € regida pelo transporte de calor, que, sob © ponto de vista da Geologia, ¢ mais especificamente da tectonica das placas (Cap. 6) influi na distribuigio de calor na Terra, modificando-o continuamente tan- to no interior como nas camadas mais superficiais do planeta, 22.4.1 Gradiente geotérmico O gradiente geotérmico é simplesmente uma ex- pressio da diferenga de temperatura entre duas superficies ou dois pontos na Terra. O geadiente, as sim como a temperatura, depende do tempo € de sua Posicio espacial, ¢ sua dimensio € normalmente dada em °C/km. Sempre que houver um gradiente térmico entre dois pontos, ocorreri um proceso dinimico que vise © estabelecimento do equilibrio diminuindo esse gra- di » ocorre a transferéncia de calor do ponto mais quente para o mais frie, se- gundo a diregio do gradiente, Hssa transferéncia de energia € chamada de fluxo térmico (Q). O fluxo térmico, por sua vez, depende de uma caracteristica de cada material, chamada de condutividade térmi- ca, A unidade normalmente utilizada para dimensionar © fluso térmico € m\W/m. ente, Durante esse proc ‘A teansferéncia de calor na ‘Term € dada, por sua vez, por meio de es mecanismos distintos, descrtos a seguir. 22.4.2 Condugio A transferéncia de calor por condugio se da pela uansferéncia de calor entre moléculas devido ao con- rato fisico entre elas. Portanto a conducio depende da estrutura molecular do material. Desta forma, obser- is sto bons condutores de calor, em geral so pobres condutores. Denire estas, as rochas biisicas ¢ ultrabisicas apresen- tam melhor condutividade do que as alcalinas ¢ acidas. va-se que os me enquanto as roch: 22.4.3 Convecgio A transferéncia de calor causada pelo deslocamen- to de um fluide é chamada de convecgio. Trata-se de lum processo extremamente mais eficiente do que a condugio, predominando na astenosfera, ¢ também no nucleo externo, 22.4.4 Radiagio 10 ele- ‘Toxlo objeto emite energia na forma de radia tromagnética; a emissio na faixa de comprimento de onda entre 10! ¢ 10 metros (regito do infra-vermelho) € um poderoso mecanismo de transferéncia de calor. Este processo pode ocorrer mesmo quando a trans- feréncia por conducio € conveccio ¢ impossivel, pois independe de contato molecular, ¢ torna-se particu- (run yr) Recursos Enercéticos 483 larmente eficiente quando a temperatura do material ultrapassa os 1.000°C, I! 0 mecanismo principal de transferéncia de calor do niicleo interno para as cama das mais periférieas. 22.4.5 Condigies térmicas da crosta terrestre \Viirios fatores ambientais afetam a temperatura das camadas superiores da erosta terrestre, sendo que trés deles merecem ser citados: a. temperatura em sub-superficie éalterada por variagdes de temperatura tanto diirias como anuais ou de longo termo, o que é refletido, por exemplo, pelas placiagdes e deglaciacies; b. a distribuicio de temperatura € modifica pela morfologia da superficie (por exemplo pela pre- senga de cadeias de montanhas) ¢ estrururas geol6gicas de regides adjacentes 4 crosta (por exemplo pela pre- senea de batdlitos); . movimentos de gua, fluidos hidrotermais € eventos teetdnicos que sio capazes de movimentar grande quantidade de calor através de conveecio a0 invés de condugao térmica. Apesar da quantidade de calor irradiado pelo Sol e recebido pela crosta terrestre ser d 2500 vezes 0 irradiado pela ‘Terra, esta enengia € dissipada nos primeiros centimetros ou metros da crosta (Fig, 3), Portanto, sto as fontes de calor internas na Terra que exercem total influéncia nos eventos tecténicos. ordem de Profundidade (cm) ei ee ee ees Temperatura (°C) Fig, 22.13 Variagéo de temperaturc do solo a diferentes profundidades, em diferentes hordrios do dio. Medidos eletuedas no Nordeste do Brosil 484 DeciFranvoo a TERRA 22.4.6 Fontes de calor da Terra As teorias hoje aceitas para a origem do calor da Tetra consideram duas fontes principais, o calor origi nal, gerado por ocasido de sua formagio, ¢ o calor gerado pelo decaimento natural de elementos radioa tivos presentes na composi¢io quimica da Terra (Capitulos 3, 4 ¢ 5). A principal fonte de calor da Terra, a partir do Arqueano, tem sido 0 decaimento isordpico de ele longa vida (comparivel a idade da Terra). Estes elementos sio mentos radioatives de média los na Tabela 22.2, com dados de suas ins relativas calculadas a partir do conhe- cimento de suas meia-vidas. Evidentemente, durante 0 primeiros estigios do desenvolvimento da Ter- 1a, 0 calor gerado pelo decaimento isordpico de elementos radioativos de meia-vida média e curta contribuiu significativamente no balanco energético. 22.4.7 Comparagio entre litosfera continen- tal e ocednica © fluxo térmico nos continentes é menor do que nos assoalhos oceinicos. Valores médios po: mW/m? para os continentes € 95 + 10 mW/m? para os oceanos. Além da diferenca de condutividade térmica entre A crosta continental € occanica (devido 4 propria diferenca litolégica), é também atribuida ao fendmeno de formacio de dem ser considerados 55 + 5 a diferenga em fluxo térmico nova crosta a longo das cadeias meso-oc (Cap.6), onde a surgéncia de novo material rocho s0 € a acio hidrotermal nos oceanos com crosta ocednica jovem gera calor convectivo. Portanto, i medida que se afa ocorre uma grande diminuicao no fluxo térmico. das cadeias meso-ocednicas © fluxo térmico é mais clevado (100 a 200 mW m?) em regides de crosta oceinica mais jovem, de caindo até um valor constante de 50 mW’/m para as rochas ocednicas mais antigas (200 milhdes de anos), valor este que representa uma estabilidade da crosta ocednica. Por outro lado, o fluxo térmico em regides continentais que experimentaram algum tipo de magmatismo ou metamorfismo é clevado, decrescendo para um valor constante de 40 a 50. mW/m:? apés 1,000 milhdes de anos de tal ativida- de, € s6 entio atingindo a estabilidade. Uma vez, que a concentrac3o de materiais radioativos na litosfera ocednica é to pequena que chega a ser desprezivel, 0 fluxo térmico af & fungio apens calor conduzido € do tltimo evento magmitico. Ji para a litosfera continental, devido a sua maior heterogencidade, o fluxo térmico advém da crosta inferior, manto superior, elementos radioativos, © também do dltimo evento metamérfico ou magmatico. Apesar das dificuldades para a determinacio do valor de fluxo térmico, tanto em escala global como em escala local, reas peorermicamente andmalas apre sentam-se também sismicamente ativas, conforme ji foi discutido nos Caps. 5, 6 € 17. Tabela 22.2 Meia-vida e abundéncia relativa de isétopos produtores de calor no passado em relacéo ao presente. Pee ee es Seg One) *x 1,30 28 1,00 = Th 14,01 Be 100 mu. 0,704 56 1,00 may 497 96 1,00 at Paty Ceo ere ce coe 1,70 2.89 491 10,90 1,05 un 116 1,25 2,64 6,99 18,50 80,00 17 1,36 80,00 2,00 Fig. 22.14 Mopo do fluxo térmico do Brasil (cedido por V. M. Homa) No Brasil ha uma relativa estabilidade tect6nica, porém, a distribuigio geotérmica nao é regular, como pode ser observado no mapa geotérmico apresenta- do na Fig. 22.14, 22.4.8 Sistemas de aproveitamento da energia geotérmica 10 do calor natural do interior da Terra (energia geotérmica) para aquecimento de edi A convers cios € geragio de eletricidade resulta da aplicacio dos conhecimentos geolégicos 4 engenharia, A idéia de se trabalhar com o calor interno da Terra no é nova. Ja em 1904, a enetgia geotérmica foi apro- veitada na Italia usando o vapor seco. No entanto, © interesse pela energia geotérmic: crise energética da década de 1970, devido & eleva umentou na cio mundial do prego do petréleo. Constitui-se considerada limpa quando comparada as energias termoelétrica nuclear, ji uma fonte energetic: que 0 vapor e gua geotermal nio produzem resi duos e geralmente contém baixa quantidade de CC um dos gases que pode causar 0 aquecimento glo: bal pelo efeito estufa, © desenvolvimento comercial de energia geotérmica é possivel em regides com fluxo relati- vamente alto de calor, ou seja, em reas onde a fonte relativamente pr6- xima a superficie (3 a 10 km) e esti em contato de calor, tal como o magma, é com as aguas subterrineas circulantes. Lim exem Capituto 22 et rd ac Ld plo de local apropriado para seu aproveitamento comercial é onde ocortem géisers, com atividade vul- cénica recente, ou outros pontos quentes localizados présimos a superficie, que podem ser detectados utilizando métodos diretos (sondagem) ou indire: tos (geofisica) de prospeccio. Dependendo 4: geotermicamente anda caracteristicas geoldgicas da drea diferentes sistemas de apro veitamento sio utilizados. Estes sistemas sio chamados de: 1) conveceio hidrotermal, 2) sistemas igneos quen tes ¢ 3) sistemas de geopressurizacio. Sistema Convectivo Hidrotermal Este sistema é caracterizado por um leito permei- vel no qual circula uma quantidade variével de égua quente. Os sistemas de conveccao hidrotermal com- preendem reservatorios naturais de Agua € vapor em profundidade. Proximo a superficie, onde a pressio menor, 2 gua flui na forma de vapor superaquecido, que pode ser captado ¢ canalizado diretamente para turbinas para produzir eletricidade (analogamente a ‘uma termoelétrica) (Fig, 22.15). Nesse sistemaa recarga de agua subterrinea lenta permite que as rochas quen- tes convertam a Agua em vapor, Sistema gneo Quente Este sistema pode envolver a presenga de magma a temperaturas de 650 2 1.200°C, dependendo do tipo de magma, Mesmo se 2 massa ignea nio estiver fun- dida, ela pode envolver uma grande quantidade de rochas uentes. Estes sistemas contém mais calor ar mazenado por unidade de volume que qualquer outro sistema geotermal; entretanto, neles falta agua quente de circulagio que existe no sistema de conveccio. Alpuns desses reservatérios geotérmicos com ro: chas quentes e secas, por serem subsuperficiais, sio acessiveis para perfuracio, podendo mesmo ser fraturadas com explosives ou téenicas de hidrofraturamento. Assim, a Agua pode ser injeta da, a partir da superficie, dentro da rocha em um, local e bombeada com temperaturas elevadas em outro local, recuperando-se 0 calor. O vapor dégua assim produzido € utilizado na geragio de energia clétrica, analogamente ao sistema convectivo hidrotermal (Fig, 22.16). Apesar de ser um sistema tecnicamente aplicével para profundidades até 10 km, a tecnologia de perfuracio ¢ aproveitamento do calor ainda nao esta desenvolvida. 486 DeciFRANDO A TERRA Are vapor ttt ewe Fig. 22.15 Diograma esquemético do aproveitamento de energia pelo sistema convectivo hidrotermal Sistema Geopressurizado Este sistema ocorre naturalmente quando o fluxo al de calor da Terra é impedido pot rochas im- permedveis que atuam como um eficiente isolante térmico. Tal siwagio pode ocorrer em sedimentos depositados rapidamente em bacias que estio passan- do por subsidéncia regional. A agua assim aprisionada ganha consideravel pressio conseqiiente temperatu- ra, Adicionalmente, a ‘gua aprisionada pode conter grande quantidade de gis metano, que também pode ser explorado. 22.4.9 Utilizagies de energia geotérmica A utilizagio da energia geotérmiea para fins elé- tricos foi efemad cio do cla primeira vez no século XX na Itélia, na regio da Toscana. O apro veitamento de campos geotermais de regides vuledinicas recentes encontra-se em franca expan- sio. Vapores geotermais sio empregados em usinas de produgio de eletricidade em regides da Europa, Nova Zelandia, Japio, Ishin Central, América do Norte € América do Sul. Na ilha do Havai, por exemplo, na primeira perfuracio (1.970m) realizada nas proximidades do vulcio Kilauea foi obtido vapor geotermal com temperatura de 350°C. A realizacio de outros pocos a iirea permitiu a instalagio de uma usina de energia de 25 MW res: ponsavel pela producio de um parte significativa da eletricidade da itha. © maior campo de exploracio de ener; alifiirnia (BUA). io cerca de G0 perfuracdes que produzem vapor 2 240°C giloso muito fraturado. A producio atual aleanga 1:28 MW 4 cidade com cerca de 1,000,000 de pessoas. A ener- gia geotérmica é considerada uma fonte inesgotivel de energia na escala humana de tempo, uma vez que a recarga de gua metedrica que penetra além dos limites externos da cobertura rochosa imper geotérmica localiza-se na costa da xteaido de um reservatorio de arenito ar Capituto 22 + Recursos Enercénicos 487 Profundidade >3km Fig. 22.16 Aproveitomento energético de um sistema igneo quente. meavel é continua, Entretanto, na usina da California a extracio ripida de enormes quantidades de vapor tem causado uma diminuigio na pressio com con- seqtiente reducio na producio de energia no campo geotérmico. Novas técnicas de injecio de agua taxas menores de producio de vapor deverio ainda prolongar a vida itil deste campo por vérias déca- das. Os aqiifferos com baixo contetido de calor (baixa entalpia) podem também ser titeis para subs- tituir Fontes de energia mais caras em determinadas situagdes, uma vez que as tecnologias modernas de isolamento térmico permitem o transporte desses fluidos a distincias superiores a 10 km sem grandes perdas de calor. Aguas com temperaturas inferiores ‘adem ser empregadas, por exemplo, em habitagdes e estufas, nas inddstrias de lie de tefti- geragio, nos processos de dessalinizagio de égua do mar ¢ na eriagao de animais. Aplicagdes no elétricas dos fuidos geotérmicos a baixa entalpia ja existem em muitos paises do mundo. Porexemplo, na regiio de Pars, varios milhares de habi- tagdes so aquecidas por 4guas com temperaturas entre 60 ¢ 73°C, provenientes de profundidades em tomo de 1.800 m. Na Iskindia os gfsers€ fontes quentes que nas. ccem em meio aos derrames de lava constituem parte da vida diéria, Em Reykjavik, a capita, a maioria das habita- Ges 6 aquecida e servida por ‘aguas com temperaturas 100°C, cujas fontes termais sao basaltos muito poto- sos. Fissas Aguas quentes sto utilizadas por lavanderias também para irigar a terta, possibiltando o cultivo de plantagdes proximas 0 circulo artico. As ‘guas termais das ilhas vulednicas do Japio sto de longa data uma fonte de lazer, a exemplo dos tradicionais banhos co- muniticios até hoje praticados, bem como em hospitais ‘nos programas de reabilitagio de pacientes com artrose e reumatismo. Co Me et ey No Brasil a utilizagio dessas aguas jd ocorre em algumas regides. Experimentos estimaram tempe raturas médias da ordem de 60°C para 0 aqiiifera Bott dades inferiores a 2.500 m, ¢ em Presidente atu, bacia do Parana (Cap. 7) para profundi Prudente (SP) aguas termais bombeadas da rocha basiltiea em profundidade abastecem balneirios Famosos sio, também, os balnedrios de Termas do, Rio Quente (GO) ¢ de Gravatai (SC) 22.4.10 Impacto ambiental Os impactos ambientais provenientes do apro: veitamento intensive de energia georérmica sto talvez menores em extensdo que as outras fontes, de energia, uma vez que nao é necessirin 0 trans- porte de matéria-prima ou beneficiamento do combustivel. Devemos lembrar que a energia geotérmica & aproveitada em locais bi culares e os proble ante parti as também serio localizados, consistindo em ruido ambiental e geragio de gases. Sua produgio, ao contrério de outras fontes cnergéticas, nao necessita de queima nem da dispo: sicio de rejeitos radioativos, Por outro lado, a exploragao continua pode causar problemas de subsidéncia devido tanto ao alivio de pressio do sistema (Cap. 7), como do resfriamento © conse giiente contragao da rocha. Os demais problemas ambientais sio advindos das obras de engenharia civil necessérias para a implantacdo da usina, 22.5 Hidreletricidade Barragens ji eram construidas na antigiiidade para regulatizar o suprimento de agua das cidades, pata irrigacio das lavouras © para o controle de inundagses. Com o desenvolvimento do uso de energia elétriea no final do século XIX, as barra gens paysaram a ser utilizadas também para geragio de energia clétrica, aproveitando 0 gradiente hidra ulico dos rios, promoveado um fluxo de agua continuo, que é utilizado para mover turbinas € radores de energia elétrica. A selecio dos locais para 4 implantagio de barragens leva em consideracao a largura do rio © 2 topografia no entorno para mai of aproveitamento do gradiente do rio ¢ para evitar 1 inundagao de uma area muito extensa, ja que esta irea sera inutilizada para outro aproveitamento eco. A enengia elétrica assim gerada é considerada como, energia renovaivel, sendo muito utilizada no Brasil, prin cipalmente nas repides Sul © Sudleste, geagas 4 extensa malha fluvial, responsivel por cerca de 30% de toda energia utilizada no pais (Fig, 22.17) Os lagos formados pelas barragens dos tins po: dem propiciar o desenvolvimento da navegacio fluvial servir para a piscicultura, recreacao e como fonte de gua tanto para o consumo humano como para int gaGio, tornando-se importante fator deddesenvolvimento € via de escoamento da producio agricola, ao longo do tio, alm de serem atilizados também para o lazer Apesar da geracio de energia por hidrelé- tricas poder ser considerada limpa, tém sido colocadas restrigdes quanto a area inundada pela barragem. A relacio entre a energia gerada © a firea inundada € dependente da altura de erista da barragem ¢ das condigdes topogriticas lo cais, sendo considerada ideal a relagio de 10W por metro quadrado de area inundada. A re Norte do Brasil, apesar da enorme malha hidrogratica, sofre restrigdes a implantacio de mais usinas hidrelétricas, justamente devido as suas caracteristicas topograficas, muito plinas, que exigem o alagamento de areas muito maio, res daquela considerada ideal, como pode ser observado na Tabela 22.3. Tabela 22.3 Comprometimento ambiental de algumas usinas hidrelétricas brosileiras reo Porte emer rny (7a) Xings (SE/AL) 588 Searedo (SC) 153 tru (PR) 9A troparica PE) 18 Tucurut PA) 1A Porto Primavera (SP/MS) 0,85 Serra da Mesa (GO) 0,67 Bolbine (AM) on Ideal 10 Fig. 22.17 Usina de aproveitamento multiplo Trés Inméos (Pereira Barreto, SP). Foto: CES Diversos fatores contribuem para aumentar as res trigdes & implantagio de barragens. Entre eles pode-se destacat a necessidade de desmatar a area do lago, a possibilidade de ocorrer salinizagio da agua do reser: vatorio devido a0 aumento da evaporacio, a eventual necessidade de deslocar cidades, povoados ou popula ges indigenas ¢ a também eventual inundacio de atragdes turisticas (a exemplo do que ocorreu com Sete Quedas (no rio Parana). Pode também ocorrer, assoreamento nos reservatGrios das barray ns, © que levaria a uma diminuigio si ficativa de sua capacida de de geracio de energia € mesmo de sua vida stil Este fator se torna mais relevante pois, normalmente, a implantacio de uma barragem gera desenvolvimente populacional nas margens do lago € 0 conseqiiente in: cremento na taxa de urbanizacio que, se nio seguir um planejamento adequado, pode conteibuir ainda mais para (© assoreamento dos lagos. Outro questionamento diz, respeito destinagio que seri dada as barrag {érmino de sua vida ttl 22.6 Outras Fontes de Energia Além das fontes de energia j4 apresentadas, outras fontes sio utilizadas em pequena escala. Entre clas estio 1 eneryia edlica, produzida pelos ver Estas fontes de energia apresentam grande vantagem sobre os combustiveis fissis, uma vez que sao renoviveis No entanto, 0 seu uso depende de aspectos econdmi cos, tendo se mostrado viveis pa clétrica em regides que nao sio ussistids pela rede de distribuicio de outras fontes de energia, 22.6.1 Energia edlica \ energia edlica é produzida pela movimenta: » de hélices pela acio do vento, A energia gerada pode ser utilizada diretamente para bombear ‘gua ou mover moinhos, ou ainda para O uso para bombear gua € bastante antigo € conhe Ce ee economicamente viivel apés o desenvolvimento de rotores ¢ geradores de alta eficiéncia. Hoje este tipo de energia é aproveitado em virias partes do mundo que apresentam incidéncia constante de ventos, incly sive no Brasil, que dispoe de usinas em operacio no Ceari (Fig, 22.18) ¢ Parana, além de virlas éreas po tencialmente favoriveis, uma vez que 0 custo de energia edlica gerada torna:se competitive & medida que as melhores possibilidades dle aproveitamento hidrelétsi co forem se esgotando. F importante ressaltar que, por se tratar de uma fonte limpa de energia ¢ a drea ocupada poder ser usada simultaneamente tanto pela agricultura Fig. 22.18 Usina edtica da Tatba, C sua utilizago tem erescido sensivel- primeira a ser implantada sobre dunas. Foto: Wobben mente. Fim 1990) a capacidade de Windpowe mundo era da ordem de 2 MWY, saltou para 10,2. MW produz5MW,ée como pela pecuai 22.1 Proalcool Com a primeira crise do petréleo ocortida no final de 1973, diversos paises incentivaram pesquisas para 0 desenvolvimento de energias alternativas. Dentro de tal cenario, 0 Brasil criow o que, sem daivida, tem sido a maior experiéncia mundial na produgio ¢ utilizagio de energia provinda de combustiveis derivados da biomassa ‘no mundo. Trata-se de um programa, criado em 1975, cujo objetivo central era substituir parte das importagdes de petrdleo, que comprometiam pesadamente a balanga comercial do Brasil, devido ao seu repentino aumento de pregos. Esse programa visava a utilizacio de élcool (etanol) produzido a partir da cana-de-acticar em substituigo aos combustiveis derivados do petrdleo, principalmente a gasolina, Para isso, deveu-se criar uma infra-esteurura de plantio, destilagio ¢ distribuicio que atendesse a tal objetivo, Paralelamente, o programa exigia, por parte dos fabricantes de veiculos automotores, um esforco de desenvolvimento teenolégico na adaptacio dos motores movidos @ gasolina. A implantacio do programa se daria paulatinamente, primeiramente com a adigio de um percentual crescente (até 25%) de alcool a gasolina para, posteriormente, implantarem-se veiculos movidos exclusivamente a alcool © Proileool foi sendo implantado com sucesso, apesar da sua inerente complexidade, devido A extens territorial ¢ a conjuntaras politicas internas, sendo que em 1985 cerca de 96% dos automéveis novos eram movidos exclusivamente a élcool Apesar do éxito aleancado, a partir de 1986, com o decréscimo dos precos internacionais do petr6leo, € paralclo aumento dos pregos do acticar, 0 ilcool combustivel perdeu sua competitividade, provocando uma crise no abastecimento interno. Tas fatores levaram a um relativo deserédito popular 20 programa, deerescen- do sensivelmente a produgio de novos veiculos movidos a fleool. No entanto, 0 programa possibilitou exptessivo desenvolvimento tecnolégico tanto na rea de refino como na biotecnologia e cultura da cana-cle- agticar. Fica evidente que 0 futuro do Prodleool depende das oscilagdes do prego do petréleo. No entanto, o fator Positivo € a disponibilidade de um programa bem-sucedido, com tecnologia propria, que, além de utilizar uma fonte de energia renovivel e menos poluente, quando comparada a encrgia produzida a partir de com- is fosseis, é um fator importante na geragio de empregos ¢ desenvolvimento nas areas rurais Capituo 22 * Recursos Enercéticos 491 ‘no final de 1998, sendo a Europa responsivel por mais, de 60% dessa produgio, Na Europa, estima-se que a partir de 2020 cerea de 10% de toda energia elétrica gerada seri de origem edlica 22.6.2.Energia solar A energia solar & aquela aproveitada da incidén- cia de raios solares na superficie terrestre. Pode set utilizada de forma passiva simplesmente para o aque- cimento de 4gua ou mesmo de ambientes, sendo que, nos tiltimos anos, cada vez mais unidades coletoras de calor podem ser vistas sobre os telhados nas cidades brasileiras. A energia solar pode também ser aprovei- tada por meio de células fotovoltaicas, que geram uma cortente elétrica eapaz de carregar baterias, O custo relativamente clevado dessas eélulas tem caido sensivelmente nos tltimos anos, possibilitando sua uti- lizagio em areas que nao dispoem de outras formas de cnergia, a pregos que, a longo prazo, tornam-se compensatérios, visto nao necessitarem de extensas redes de distribuigai social que 0 aces células fotovoltaicas pode passat a ser um importante meio de promogio social, principalmente para as re gies mais distantes dos centros urbanos. Levando em conta o retorno 10 energia elétrca propicia, 0 uso de 22.2 Fusaio Nuclear ssio nuclear, que envolve a quebra de ftomos pesados como o uriinio, a fusio nuclear envolve a combinagio de elementos leves como o hidrogénio para a formacio de hélio, a exemplo do que ocorre no sol ¢ outras estrelas. A Fig. 22.19 esquematiza a reacio provocada na fusio, com a respectiva liberacio de energia, Em contraste com a Em um hipotético reator de fusio, dois isétopos de hidrogénio (jitomos com diferentes massas devido a diferentes mimeros de néutrons presentes no micleo), deutério (D) ¢ tritio (1), sio injetados na cémara do reator onde sio mantidas as condigSes necessitias para a fusiio (temperatura, tempo, densidade). Como produto da fusio D-T, 20"% da energia liberada é utiizada na formacio de hélio, enquanto os outros 80% de energia sio liberados em néutrons, Para a ocorréncia desta fusio, no entanto, € necesséria a eriagio de um ambiente com condicées favoriveis: 1) temperatura extremamente elevada (aproximadamente 104) milhdes de graus Celsius), 2) elevada pressio de confinamento, criando um plasma, ¢ 3) confinamento do plasma durante um certo tempo de modo a assegu- rar que a cnergia liberada pela fusio exceda a energia necessiria para manter o material em estado de plasma. A partir desse sistema, um grama de combustivel D-T (de um suprimento combustivel de agua ¢ litio) tem a cenergia equivalente a 45 barris de dleo, sendo que © Deutério pode ser extraido economicamente da fgua dos ‘oceanos, enquanto 0 ‘Tritio pode ser produzido em uma reagio com litio em um reator de fusio. No entanto, pata que a fusio nuclear se torne comercialmente viivel, as tecnologias de geracio \eetipes do de altissimas temperaturas ¢ pressdes necessérias — \ fomgeems para sua ocorréncia devem ser desenvolvias = a sen @ aii ‘A cnengia gerada a partir da fusio teria aplicagbes ee et diversas, tais como a getagao de enerwia elétrica © 3 zo etre produgiio de combustiveis sintéticos oma vo BRS Do ponto de vista ambiental, a fusio nuclear se Gain _eehaedencone (Cine area oe ‘mostra atraente quando comparada com os com- plot bustiveis fosseis ou com a fissio nuclear, pois Bree gern uma quantidade minima de residuos além da (©) Neutron possibilidade de instalacio de regides de maior consumo de enerpia. Mev Mis de seven a sinas proximas as (robe ewer) Fig. 22.19 - Esquemo da réacio de fusdo nuclear. 492 DeciFranvo a TERRA 22.3 E o Futuro? Como foi visto neste capitulo, cada uma das alternativas de producto de energia apresenta algum tipo de impacto 20 meio ambiente, que nfo tem sido contabilizado no seu custo. Os combustiveis fosscis apresentam problemas com respeito ao efeito estufa, a alternativa nuclear com a disposigao final dos rejeitos radioativos ¢ as barragens com a frea inundada e a alteraco do regime dos ios. As demais alternativas tém uma aplicagio muito localizada. As questdes inevitiveis sao: 1) haverd energia suficiente para suprir uma populacao crescente? 2) até quando o planeta suportari a degradacio ambiental causada pelas fontes de energia em uso atualmente? Os especialistas que se ocupam em avaliar 0 comportamento do mercado internacional e o futuro dos recur- sos enemgéticos nio acreditam que possa haver uma crise energética a curto prazo. Estimam que ha reservas de petz6leo para mais um século de consumo, além da possibilidade de se implantarem muitas novas usinas nucleares, Paralclamente, 0 decréscimo de custo das unidades eélicas ¢ fotovoltaicas tem levado a um incre- mento no uso destas alternativas, Prevéem, também, que em tempo muito menor (talvez 50 anos) jd se tenha desenvolvido um recurso energético que substitua 0 petréleo ¢ que aio cause tantos problemas ambientais. Estas suposigdes explicam, em parte, a relativa estabilidade dos precos dos combustiveis fésscis, Leituras recomendadas BUNTERBARTH, G. Gevthermies— an Introduction. Springer-Verlag, 1984. DEMETRIO, J. G. A. Pegis de temperatura na loea- io de popastubadares no cristina do nordeste brasileira ‘Sio Paulo: Instituto de Geociéncias - USP, 1998 (tese). KELLER, E. A. Environmental Geology. New York: Macmillan. 1996. PRESS, F. & SIEVER, R. Understanding Earth, 24 ed. New York: W. H. Freeman, 1998, RAHN, PH. Engineering Geolgy — an Environmental Approach, New York: Elsevier, 1986. SKINNER, BJ. & PORTER, S. C. The Dynamic Earth: an Introduction to Physical Geology. New York: John Wiley & Sons, 1995.

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