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MARIO FERREIRA DOS SANTOS FILOSOFIA CONCRETA Tomo 1° ENCICLOPEDIA DE CI8NCIAS FILOSOFICAS FE SOCIAIS VoL. X (3° EDICAO) Livragta & EpT02a LOGOS La. Rua 15 de Novembro, 187 — 8.° andar — Tel.: 35-6080 S40 PAULO 1s eaighe — Abr de 1954 28 eaigto — Agésto do 1980 > algae — Setembro de 3061 ADVERTENCIA AO LEITOR sem davids, para & flosofia, 0 voestwulirio & ae raima importanein e, sobretudo, elemento etimols- fico da compesigan dos térraos. Como, na ortogratia tual, slo diepensedas certas consoantes, mudas, en- tretanto, na linguagem de hoje, néa a conservamos fapenas quando eontribuem para spontar étimos que faciitem a melhor compreensto da formagho histé- Hea do térmo emprogade, e apenas quando jolgamoe fconveniente chamar a atengio 0 itor para. és, Fazemos esta observagio somento para evitar a es. ftranbcza que possa causar a eonservacio de tal gratia. MARIO FERREIRA DOS SANTOS Obras de MARIO FERREIRA DOS SANTOS — "Filosofia. e Cosmovisao” — 6. ed. — "Légien ¢ Dialéetica” — 42 ed. — "Paicologia” — 4." ed. — "Peoria do Conkecimento” — (Gnosiologin © Criterio- logia) — 4." ed, — "“Ontologia © Cosmologiu” — (As Cidneias do Ser © do Cosmos) — 4 ed. — "0 Homem que foi um Cumpo de Bataika” — (Prélogo de “Vontade de Poténcia”, de Nietzsche") — Hsgotada. — "Curso de Oratoria ¢ Retiriea” — 8° ed, = "0 Homem que Nascen Postumo” —2 vols, — 2.° ed. — “Assim Falava Zaratustra” — (Texto de Nietzsche, com andlise simbélica) — 3." ed. —“Téenica do Discurso Moderno™ — 4." ed, —~ "Se « Esfinge Falasse...” — (Com © pseuddnimo de Dan Andersen) — Esgotad ‘Realidade do Homem” — (Com o pseudénimo de Dan Andersen) — Bsgotada, — "Andlise Diatéetica do Maraiemo” — Kegotada, = "Curso de Integragdo Pessoal” — 4° ed. = "Pratado de Bcouomia" — (ed. mimeograiada) -— Bs- gotada, — “Aristoteles e as Mutacdes” — (Reoxposigio analitieo- didatica do texto aristotélico, acompanhada da critica dos mais famosos — “Rilosofie da Crise = “Tratato de Simbétien” — 2." e = "O Homem perante 0 Infinite” — (Teologia) — 3.° ed. = "Noologia Geral” — 3. ed ~ "Filosofia Coneveta” — 3 vols, — 3.2 a. — “Sociologia Fundamental ¢ tion Fundamental” — = "Pritiens de Oratiria” — 2." 00. = Assim Deus Falon aoa Homens "A Casa das Paredes Geladus” — 2. — "0 Bim eo Midtiplo em Platao od a, MARIO FERREIRA DOS SANTOS — “Pitégoras ¢ 0 Tema do Niimer = “Filosofia Conereta dos Valores”. = "Eseutai em Siléncio”. — a Verdade © 0 Stmbolo”. "A Arte oa Vida". = "Vida nao 6 Argumento” — 2+ ed. = “Certs Subtilezas Humanas” — 2° ed. TA Lute dos Contrérios” — 2° ed. = "Piosofiaa da Afirmagao ¢ da Negagd — "Métodos Légicos © Diatécticos” — 2 — "Paginas Vérias”. = "Convite & Filosofia”. = "Convite d Bstéticn = "Convite « Psicologia Pritica”. NO PRELO — “Pitosoyia ¢ Historia da Cultura” — 3 vols, = Hpratuto Deeadialéeticn de Economia” — 2 vols. = “Peméticn ¢ Problemdtien des Ciéncias Soviais” — 2 vols. — "ae Tres Criticas de Kant”. = "Tratado de Bsquematotogia". A SAIR jiciondrio de Filosofia, ¢ Citncias Afins” — 6 vols. wos Verses Aureos de Pitégoras". “Teoria Geral das Tensoes”. ‘Hegel ¢ a Dialectica”. rcionario de Simbolos ¢ Sinais”. “Obras Conipletas de Platdo” — comentadas — 12 vole, "Obras Conmlstas de Avisttees” — comentadas —- 10 yols. — "Teindtioa ¢ Problemitica da Filosofia Conereta” — 3 vols, "A Origem dos Grandes Ervos Filossfices”. TRADUGOES — "Vontade de Poténcia” — de Nietzsche. = «até do Bom e do Mal” — de Nietasche. = “Aurora” — de Nietzsche. = «—pidrio intino” — de Amiel. = Seudceao ao Mando” — de Walt Whitman, INDIGE Praicio Anteodugto © Ponta Argan ‘Angomentes Corrlion u Favor da Tose coment Dinttion ” Conston Liicos © Consioe Ontos oor son Dn Tenonatrage Do Valor do Nosto Connesmento coment Sure ves a : Reseach do Agmonicno, do Fdaliviamo » do Mine Comers te ‘Tee Cconentarios is Propenigien haainade coments a Tose Comment Refugio ab Aton Asioamico ites & Poscso ae Kast 1A Infiablidnge doo Uaivenais Vater da tates Gera) mtohgia Yaoee 08 Betatiea Esper Ongsegder Kantanns e Respostas Catrspomient Sunitieagio dos Psneple voor sos : Guaaro Combinas gan Fimiar Pstus do zo di Cate las, Segundo Kant mmo oe eee roves Dalles n 6 xe 6 oa 7 st 201 a a 185 oe 153, 16 162 167 169 xa 97 PREFACIO DA 1 EDICKO Com a publieagio de "Filosofia Conereta”, encerra-ve a primeira parte da "Eneiclopédia de Cigneias’ Filosdficas © Sociais", num total de 10 obras 56 publicadas. Seguirmseeé a segunda parte, iniciando com “Filosofia Conereta dos Valores”, onde seréo tratados os principais temas da Axiologia moderna, visualizados através das povi- tividades conguistadas pel’ Filosofia Conereta. Bm se- quéneia a ésse livre, iniciaremos a publieaedo de nossas obras de problemétien, alim deo "Pratado de Batética”, "Sociologia Fundamental ¢ Eitiea Fundamental” (1), "Filo: sofia ¢ Historia da Cultura”, “Pratado de Eequematologia”, encerrando « segunda parte com "Tratado Geral das Ten- ses”, 0 qual eonerecionn, rewma totalidade, as diversas dow fringa, por née expostas ‘nesta parte, Assim como levamos trés unos para cditar a primeira parte desta Enciclopédia, esperamos levar @ mesmo tempo ¢, no mézimo, cinco anos, pore dar publicidade aos restan- tes volumes, escritos durante trinta anos de devotado e si- Tenciogo trabaiho e de eatudo da. filozofia. 0 apoio que eata obra teve do leitor brasilerio foi tuo givelmente um facto inédito, ndo 36 em nosso pals, como en, todo 0 munito, Somumeve a mais de uma centenn de mithares os exenplores vendidos no Brasil (2), facto auspi- cioso que revela o grau de independéncia do lettor brasileiro, tao ¢ tantay vézes acusado de indiferenga part com on estue dos mait elevates, como airman aquétes brasileira: que 1D) 4 publeados. (2) Hoje somam 2 mais de seis centenas du milhares 2 MARIO FERREIRA DOS SANTOS item eonever mais ou menos bem @ que me passa em OX Tren patens ms que iphoven beolatanetto") tue ge dd fn eh bom compensagi, exe earns hela 08 desecrate, gj ape Gita ora po ea aenteg ania de edigaes, que se afigurava a muitos trealizavel, 16 true nda Eihamos nein gripe ae eapiiatistas @ fone etd-lo. alasa-se de obedcer a wna norma que hastamos tra ado. Queriamos proves de natn iniantewe «erie £0 Fires ¢ loveiris,descventes te poswiblitade de ame tl obra, te cia poderia otter bom éxito, sem emprégo dos conte. Imeivos recura0s de publetiade, nem cilicts encomentadas, tte. ercoe main wna vee trig agai 0 noso profuada agiedecinente to opto ‘neonttte, tee ettanal, for Baste, ate evda agora: grages do sot compl, sma mated utara ane at dar sets fron, setae inane, de pongamenin nots, atnoste © tyadonas om {eter bubsevvtnete ua ponsehuento theo, ofusoado aw te daa oridades de tlencmars recguiis dew etfone- thm’ peanvo, av, flsmente, comegd @ desapavece. de WILOSOFIA cCoNCRETA 13 com, universolmente vitidos, que decarrem, sequndo 0 nosso ‘método diatictico, de fundamentos ontelégicon, Se algunas vézes nosso pensamento coincide com o es coldstico, € porque, naguele, ha posilividades que sto do. pa- trimonio cultural da humanidade, ¢ ques @ ignoréncie o a influéneia de wna mentalidade burguesa, sequutose de ori, ginalidarte, que domina infelizmente o pensamento moderne, poderia tevar n esquecer cu tenospresar. Resas positioilac des se ideniiticam evm as da Filosofia Conerete, como so identifieam com ela as do pensemento genuinamenie pita gorieo, do sceritico-platiniea, do aristotelico, do plotintans do de Toms de Aquino, do de Duns Seot, do de Suares ete, A Filosofia Conereta no & uma sinerese went una si crise do pensamnento humano. Néo é win aewmulado de ta. Rectos inlgaitos mais acquros e sistemalizadoe nusne folate lade, Ela tom sua existéncia antinoma, pois seus postle: 0s sto congruentes e rigorasamente conevionaddos tne nod euros. Se muitas vézes eohicidem comm o que hi de afin ‘mation em outros pensamentor, ¢ que sito Ges aequados aoe da Filosofia Conercte. O valor do pensumenta erposts neste Uivv0 néo a0 funda no de aatoridades varias dat fle, sofia A watoridade, e a iavien que aceitames, € a deda pelo prdprio pensamentoy quando em si mesmo encintra a ean palidles, «sua justificacdo, pois cade wma das teats, expos ‘as ¢ aprosentadas neste lévro, é demonatrada pelas tiverses vias ponsamentais que néle propomes Esclarvee-se, assim, do wna vez por tddas, que nao n: Jilamos ¢ nexhien pentamento sent ao nosso, 0 da Filo, sofia Comercta, enia valides est om s meamn ¢ om evr demonstoucdes.’ Como construgio filoséfiea, ela. valor ne ‘medida que vaterem essaa demonstragoes (1) ‘MARIO FRRREIEA pos SaNTos (2) [Bate proficlo portance & 14 edigio, Esta, que ora apre: fentamas, tsa novas contributes, © multee tests Rovas forms cere eentadas, Lem como muitas sofveram novas demonsttesdes Atenas, fs teses foram nevantente numeradas © Aster, INTRODUGAO Para_o mais eriterioso pensamento filoséfico do Oci- dente, a filosofia nao é um mero tutus, mas sim 0 afanar-se nna obtencéo de um saber epistimien, especulativo, tebrieo, capar de levar ¢ homem ao conhecimento das primeiras ¢ iitimas causas de tOdas as coisas. Pode a filosofia, em miios poueo hébeis, ter servido apenas para a pesquisa desenfreasia de temas varios, ao sa- bor da afectividade e até da sem-razio, Entretanto, 0 que se busca com mais seguranga no pensamento ocidental & a eonstrucdo de juizos apoditieos, isto 6, necessdrios, sufieien- temente demonstrados, para justificar e comprovar os pos- tulados propostos, e permitir que o filosofar se processe em terreno mais seguro. Sente-se, no obstante, que a filoso- fia, em certas regides € em eertas époeas, fundou-se mais fem julzos assertérieos, meras assergdes de postulados acei- los, 0s quais recebiam a firme adesio dos que néle viam algo adequado as suas vivencias inleleciuais © afectivas Bsse o motivo por que a filosofia, no Oriente, quase no s separa da religido, e com ela até se confunde, porque aquel como esta fundam-se mais em juizos assertorieos, para os quais 6 suficiente a £8, que dispensa a demonstragao. Entre os gregos, prodominantemente eépticos & pessi- mistas, a aceitagéo de uma nova idéia impunha e exigia a demonstragdo. Vemo-lo quando Sao Paulo propde-se eris- tianizar os gregos. Bstes nio se satisfazem com o que afi ma, ¢ exiger-lhe demonstrag6es. A filosofia na Grécia, além de especlativa, 0 que de certo modo ja era esotiricamente em outras resides, carac~ teriza.se, sobretudo, pela procura da apoditicidade. ‘A filo- sofia busea demonstrar os seus. prineipios, e com esse afi atravessou os sécilos até os noseos dias. 16 MARIO FERREIRA DOS SANTOS i fio € feita em grande Na Ciencia Natural a demonstraciy € felta em gran arte por via experimental. Mas, se observarmos « mate- Initiea, veremos que a demonstragao se provessa, dentro Uo maior rigor ontologies. ia ve inegavelmente de elo Esta, como ciéneia ausiliar, serve inesavelmente di entre a eléneia experimental ¢ a Filosofia, ‘ue aa ewan Bastam, para a 4, os juizos assertérieos; mas 0 verda- Aeiro filésofo exise juizos’apoditicos, Ao desejar-se construir uma Filosofia Conereta, isto & uma filosofia que dé uma visio unitiva, mio s6 das idéias como também dos factos, n&o s6 do que pertence ao campo propriamente filos6fico, como também ao campo da cieneia, deve cla ter a capacidade de penetrar nos temas transcen- dentais, Deve demonstrar as suas teses e postulados com © rigor da matemética, e deve justifiear os seus principios com a analogia dos factos experimentais, ue $6 assim a filosofia serf eonereta, pois no paie roa afi de eae St ia ob ea cimento, mas englobarg, no seu processo, todo o campo ta ftlividade epinrien do homer” Sune Ils devon ae Al dle para tin at osteras e rondng do wabor humane, Uma , vélida apenas para uma regife, se tio se subordina ‘cerem-se leis © prinefpios, devem éstes ter valider em todos ‘os campos do conhecimento humano, porque s6 assim se onstruvd o nexo gue estrctunirio éaber epismico mum ‘eonjunto evordenado, no qual se dé aquéle principio de har- Jronia dos pltagirios, que é a adejunglo Gos opostos ana: Jogados, eujas fungdes. subsidiarias esto subordinadas fungao principal, cuja normal é dada pela totalidade. 1m ripido esttide do procesco filoséfico grego, mostea- -nos que; apén'a vita de Puayoras & Magna Gres, dosen- volveu-sé ima tendéneia mareante para a demonstracio dos postulados filoséticos FILOSOFIA CoNncRETA iw 25 facil depreender que a ansia da apoditicidade, que se observa nesse filosofar, tornado exetériea, deve-se, sobre. tudo, ‘ influéneia dos estudos matematicos, e, denire cles @ geometria, que por exigir constantemente demonstragoes, fundadas no que anterivomente ficou provado, desenvorren 4 tendéncia para o saber tedrieo, que so 0 v quando Tundade apoditicamente, A jilosofia, tendendo para éase caminho, embora. pare tindo do conhecimento empiric e da doza, tornou-se hme legitima epistéme, um saver euito, Esse tender & assine uma norma ética do verdadeiro filosofar, Os primeiros esquemas noéticos do filosofar grego ti- ham de provir da concsituagao comum, e neles tracer as aderéucias da sua origem. Mas ha uma expressiva tender. cla a afastar-se dos preconeeitos de tipo psicologista, ¢ tens der para o sentido us mateméties, come vemos no’ pensic mento pitagorico de grau mais elevado. Sabesse que Pitégoras foi um grande divulgador dos conbecimentos matemuticos, por ee adquirides ent suas vie gens e estudos, embora awiguus tenham duvida quanto a sua existencia historica, © que ndo cabe aqui discutir, Mase pitagorismo ¢ um facto histérieo, e veinos que é dle que anima o estudo da matemiética, e € dentre os pitagorices aie vao surgir os mais ilustres dos tempos antigus, A demonstragio separase da matemitiea, © ademais esta nio ¢ apenus uma ciéneia auxiliar do cunheeimente, lum simples método, como alguns pretendem. consiloran, ‘Tem cla uma signiticagdo ontolégica muito mais profunda, © @ justifieagdo dessa afirmativa nao eaberia ainda aqun, A matematigngéo da filosofia & a unica manciva de fifastania des perigos da estética © das meras assergoes, Nao gue consideremos um defeito a presenga do esvotice ta Hie sofia, mas 0 perigo esta em o estetieo tender a bastar-se a si mesmo, ¢ reduzir 0 filosofar ao seu campo, com o pre: dominio da coneeituagio, com eonteddos apenas psieologicos, sem a depuragio que a andlise ontologica pode’ oferecer, E essa ¢ a profunda razdo que levava os pitagéricos a exigir, para 03 ‘iniciados, 0 estudo previo da matemiica, a Platio, ésse grande pitagérieo, a eonsiderar impresein: 18 MARIO FERREIRA DOS SANTOS divel o conhecimento da geometria para entrar na Acade- mia (1). eye ele areas ati saree i eS Sah te a na Tmpouse que se revise com euidads o térino eonereto, ‘euja origem etimologica vem do aumentativo ewm e de clon, ser crescide. st» Pate» cig teat como se pet inact eae et Gite ta protas mpiioss,“Ateibulse acute apt SHE Aas Re ae ee eke enter sev adem tng sn cate peep iinet oe ile eae, Ba ome oe ae nt gma mega som eed See ee i een sy ale le eam ig SR Ia, “hte acne teats a on ada seria claro nas coisas para ninguérn, nem em suas eacies Sohste ina nen sue elaine Gm ouan chat ano ae EI STE aie oie fons aati See ohn tay ae Mian at eee or coming occas 2, See ae wettest «zips aus ea a ae yr Sererjdae Seas Mees cette ee Te Set Fl Pe aes mine geal Sate : nade SEE ewaudet igure trie vie eel co 5 0 mimero pode dar a base segura para 0 etal estado skh ele Rat eM cata cou EE RECe id cclettas operas calor a gs Sa eney oe oso rl oo ines (etn PILOSOPIA ConcRETA 19 Esse cu, além de aumentativo, pode ser eonsiderado ademais como a prepesigto com, o que indicaria, o cresseney com. pois a conctesdo implica, ia sua estructura onoldgion, Sfresetga, no 26 do que é afirmado como entidade Cope, Gllcamente determinada, mas também das coordenaias he, dispensaveis para’ seu surgimento, Convém atast do térmo conoret nossos sentidos. tar a acepeRo comum e vulgar que se tem , como sendo tal apenas o eaptado polos Para aleancarmos a eo mneregio de algo, precisamos, nao 86 do conhecimento sensivel da coisa, se € objecto dos nossos fentidos, mas também da sua lei de proporcionalidade ne Fas aeSés eda sua heceidade, que inelul o esquema coneret, (use ¢ a Jel Cogos) da proporcionalidade inteinsves de eng singularidade, , também, das leis que presidem & au fae magio, & sua existéncia e penturacio, bem como ao seu Lots nino, Um comheeimento conereto & um eonhes num sentido semclhante ao ue Stalmande iment Que coueriona tido quanto do objecto ealudala, analogado ‘is leis (logot analoganies), que 0 definen coe Rlonado, por sua ver, com a lei suprema que rege news eeu, isto €: um conhecimento harmonic, que capte ee opestos ahalogados, subordinados 4 normal ¢ hommes Etsies fel totahdade a que pertencem, o que 6s chumercce duima, a decadialéetica, “Esta nfo se cinge apenas mee Gee Eimpos do raciocinar hieriirquico, que estudamos em "ee sca © Dialectica", mas inelui também o conerionmeta (om a Dialéctica Simbslicn eo Pensar Concroto den mae se, © daber través dos Logo’ analogantes, anslocente esse modo, um facto, ou um objecta em estude, & totaidene esquematica das leis universais, ontoldgieas em voc cimento cireular, Lrilio, um conhe: lei da triangularidade, que 6 9 lei a Broporcionalidade intrinseca dos tiiangulos, ¢ Subett stinsedo dessa lei as lois da geometria, que sia cutras tanto (is fa Propovcionalidade iniriuseea das figuras, ylie se ae bordinam ds normas estabelecidas por essa diseiplina, ‘bore 20 MARIO FERREIRA DOS SANTOS conhecimento 6 mais conereio. Eo seré ainda mais, se conerecionaamos ae leis da geometria as leis ontolégieas, Como justifieagao de nossa obra, entendemos por Filo sofia Conerela aquela que busca e justifica os postulados de um saber ontolégieo, valido em qualquer sector da reali~ Gade, ¢ nas diversas esferas da realidade, porque as ha © muitas, pois ha uma vealidade fisiea, uma metafisiea e onto- Hgriea, ‘como hé uma psteoldgica, uma historiea, ete., com seus respectivos critérios de verdade © de certeza. Subordinar assim um eonheeimento especifico & normal dada pelas leis fundamentais da Ontologia, que sio mi bbifestagées da let suprema do ser, @ eonexionar © conbe: mento, de modo a torna-lo conereta © M&TODO PESTA OBRA (© métody usado por nos, nesta obra, para prova dos micamentais de uma filosofia coerente e fun Uada em juizos universalmente validos, 6 0 seguinte: Se permaneeéssemos apenas no campo da légiea for- mal, poderian aeucnr-noo do fermalisme, Como o emprago fe quaiguer via demonstrativa exclusiva pode suscitar dic Vidas quanto aos fundamentos das teses expostas, usamos, hesta obra, toda a gama da demonstragio e todas as vias ate agora conhecidas ¢ manejadas pelo ser humano. Esta, 4 razao por que fazemos varias vézes a prova de um mesmo postulado. Notard o leitor que cada nova demonstragio usa hima via diferente, Preferimos as seguintes: @ via formal, ‘que hos oferece a légica aristotélico-escolastica, primacial= mente deductiva, o metodo Inductivo-doduetivo ¢ deduetivo- Finduetive, a demonstracdo «more geometrico, a demonstra Gao pela reductio ad absurdum, a demonstragto ¢ conversa, & demonstragao pela dialéctica’ idealista, pela dialéctiea so- eratico-platoniea, que emprega com eficiéncia a analogia, na. Cata dos logo’ andlogantes, pela dialéctica pitagorica, pelo método do pensamento circular de Raimundo Lilio e, final- mente, pelo emprégo de nossa dialéetica ontologica, que ine PILOSOFIA CONCRETA 2 elui a metodologia da decadialéctica, da pentadialéetiea e da dialéctica simbélien (1) Desta forma, estamos certos que tédas as principals teses que postulam os fundamentos da Filosofia Conerota, por nés construida, como uma matemstizegao (no sett Re- hhuino sentido pitagérico) do pensamento filos6tico, fundada em juizos universalmente vlidos, so demonstradas através dos mais hébels meios e vias, amas eorroborando as outras, uumas completando 0 que hide defieionte em outras, tavo- recendo, afinal, a robusta prova do gue pretenclemes realizar neste liveo. A matematizagio da filosofin entendemo-la no genuine sentido de Pitagoras, como metamatematica, endo no sen- tido da matemAtien vulgar, da Logistiké como a chamavam 0s pitagdricos, que trabalha apenas com as abstracgdes ce segundo grau, Um rapido exame 6 suficiente para a boa clareza do que pretendemos realizar neste livro, Os pitagéricos, ¢ posteriormente Aristételes © os esco- lasticos, distinguiam o wiimero numerante (numerug mane rans) de 0 wimero rumerado (numerus numeratus). Bste liltimo se referia ao niimero das coisas sensiveis, enquanto © primeira 20 niimero abstracto, tomade em sua pureza one toligiea, o mimero absoluto. Podemos partir do emprégo do nimero em relagio 2s coisas sensiveis, 0 numero da aritmética, 0 nimero de me- dida e conta, Mas o tridngalo, na geometria, é um niimera (arithmés, em sentido pitagorieo). Podemos tomar o trin- gulo isésceles como um arithmée, independentemente da sua medida extensista, pois j4 0 consideramos em sua forma. Assim também a circunferéncia, e as oulras figuras geomé- tricas. Todas so uritimoi geometrikoi, Pela algebrica- ‘eho, podlemos aleanear 2 um conjunto de arithmoi ainda mais formais, que nao sio meramente ficcionais, como nos prova a aplicacio da matemétiea & ciéncia, Aleancamos, sfinal, a Filosofia Ca cipiamos a trabalhar com arithmoi de creta, quando prin= ructura ontolbgiea (1) Nos divarses comentirios aot postuladas, que apresenta- ‘mos sucessivamente, daremes melhor vies das nossas afirmativas, 22 MARIO FRRREINA DOS SANTOS rigorosa, como: anterioridade ¢ posterioriaade, dependéncia € independéncia, sucessivo e simultaneo, ontolégico e Ontico, abaliedade, sub-alternidade, finitivo, materiado (materia: tum), efectivel, activo, agivel, operagio, operador e opera- do, unidade, multiplicidade, necessidade, contingéncia, ete, desde que seus conteddos esquematicos sejam rigorosamente definidos no campo ontolégico e no ontieo. Sio coneeitos, com os quais podemos rigorosamente construir a matematizagio da filosofia. Se se entendesse por tal a sua redugio a conceitos da Logistiké (da mate- matica de céleulo, ou dos niimeros sensiveis), estariamos trunsformando esta, que é uma diseiplina auxiliar, hierdr- quicamente inferior aquela, em melhor método para o exame filoséfico, quando a Filosofia Conereta é realmente o apice da filosofia, no seu afa de saber, e possuidora, por sua vez, Ge um rigor ontolégico mais seguro, que os factos, em sua ‘onticidade, servem como testemumhos de prova. Doste modo, justificamos, embora om linhas gevais, © ‘que empreendemos nesta hora. Depois de examinada a relagio entre sujeito ¢ objec- to (1), compreendemos facilmente que as diversas prov denclas temadas pela filosofia, com 0 intuito de aleangar a apoditieidade, obeileceram a dois vectores, em que a acti lizagio de um processou-se sempre A custa da virtualizagho do outro, € s6 em raros momentos aeeiton 0 homem a pre- senga actual de ambos. © homem, ao fllosofar, na busea de uma certeza apo- ditica, devidamente demonstrada, de caja verdade nfo po- eria duvidar, 0 ponto arquinéticn, procurowy ore na obser- ‘yvacio do mundo objectivo, ao sequir os caminhos do empi- visio em geral, ora, ante & impossibilidade do, neste vector, encontrar & cetteza’desejada, Duseé-la, através de cuminhos interiores, através da cortez de si mesmo, para sobre ela andar todo o desenvolvimento posterior dos postlados f- laséiees. (1) # 9 que realizames em “Pilosofia © Cosmovisio”, “Liglea f Dialectica”, "Teoria do Conhecimento” ¢ “Nooloaia Geral FILOSOFIA CONCRETA 23 Ao examinar a adequagdo entre os juizes e 0s factos do mundo, nem sempre se estabeleceu um estado de certeza que satisfizesse ao ser humano, Na certeza, encontramos éstes earacteres : um acto men- tal de adesio, © um acto de firmeza sem o minimo temor de érro. 0 espirito adere firmemente ao juizo que enun- cfou. Quando se da um acto menial de adésio, porém nao firme e com receio de errar, estamos em face da doza, da pinto, Quando o acto mental nfo 6 adesivo, no 6 firme, e te- me-se ervar, estamos em plena diivida, Para que a demonstragio seja satisfatsria, deve ofere- cer cettera: a firme adesao 20 juizo enunciado, Na dtivida, a adesdo da mente esté em suspensio, pois teme-se que nfo seja verdadeiro 0 que é enuneiado pelo uizo. Nao iremos agora examinar a longa polémica sdbre problema eritivo que vem até os nossos dias, pois jé o fize- mos em “Teoria do Conhecimento” e em “Noologia Geral”. Antes de examinar a conveniéneia ou no dos dois vec tores, seguidos para a demonstracao das proposigées filo- soficas, precisamos estabelecer se é on no possivel ao ser humano provar apoditicamente alguma coisa. Estubelecida esta possibilidade, deve-se ver se ela cabe no campo da filosofia, e se, finalmente, & aplieivel num. dagueles dois vectores. Ki se néo & que’ outro caminho se pode oferecer & especulagao filosdfica na sua busea de apo- ditieidade? Comecemos, portanto, por partes. Examinemos pri- meitamonte as Tazbes pro e contra a possibidade dx de- monstracio. ___ A posigao classica contra a possibilidade da demonstra io & a céptica, que estabelece que é impossivel um conheei- mento cientificamente objectivo e certo, Outra posi idealistica, estabelece que nav podemos saber o que as coisas sio em si; ndo podemas inteligir © que elas so em si, nem poderiames comprovar os nossos conhecimentos sébre elas, 24 NARIO FERREIRA DOS SANTOS A posigéo relativista estabelece que 0 nosso conheci- mento é mutavel e relative As diversas fases do desenvolvi- mento intelectual do homem, E comum hoje, na filosotia, o ponto de vista de que nfo & poss{vel a demonstra¢io que resolva legitimamente, nio 56 0 problema eritico, como também o conhecimento exacto, acerteza, Vejamos as razdes desta posicdo. ‘Téda 2 demonstrago 6 uma argumentacio lesitima, que decarre do premiseas certas e evidentes, isto & ela parte de prineinios aceitos como certos. Portanto, toda a de- monstracio supée necessaviamenta uma verdade accita. cia demonstracio € impossivel, porgue. do contrario, teria de ser reduzida ¢ outra verdade, a qual deveria ser aecita sem Gemonstragio. Desta forma. 0 fundamento da demonstra. ‘fo reduz-se, em titima andlise, 4 £€ numa verdade nfo de- Inonstrada Outro argumento é 0 seqruinte: quem admite a demons- tracho, ¢ a exige para a filosofia, devera demonstrar suas premissas, e assim sucessivamente, 0 aue o levard, fatale mente, & aretiaeio de uma verdade prévia indemonstrével Foi em parte éste 0 pensamento de Aristoteles quando afir- mava que nenhura ciéneia particular pode demonstrar os seus fundamentos (1) Convém distinguir os termos mostrar © demonstrar 842 )._Aristitees quer neferitse as céncias partiulares, ¢ no a pitsonia ‘coms citate do universal pols‘em "Mestice Br, fot aren dianse\e em Anat post 1, & 726, 10-25 T, 22, 04 6 Stub". “e cm muita ouiran paneaers, mosttacncs que @ impos” Bhilae de Gemonetzas 8 essbnci ncrre ae tue fing Pe Bir outta que tn diferente dela” Mes pote aor cia posta em evic ‘aca pelt seroneteegga FILOSOFIA CoNCRETA 25 © meio de combater a demonstragio € sofismitico, por- que & operagio demonstrativa tem seti inicio quando ela 26 realiza. Bla nao é gerada por uma forma que ¢ transmitida, A demonstragio gera-se da demonstragio, portanto nao se poderia pedir um cireulo vieioso, como o de demonst) a8 premissas que serviram de ponto de partida para ela, « assim sucessivamente, porque ela nfio exige uma eausa uni- voea para ser suficiente, pois, em iltima andlise, ela con siste na comparagio que’ se fax entre um juizo e um juizo evidente, verificando-se quais as semelhangas e as diferen. gas entr> ambos, Nilo é a demonstragio que gera a demonstragho. & 0 acto intelectual da comparacao entre o que ainda nao se sabe como verdadeiro, com algo j dado como verdadeiro, So se poderia negar validec & demonstragio se se provasse, com absoluta validez, que © homem nada pode provar com abso uta valider, A demonstraglo ndo alcancaria sua finalidade se 0 cep- icismo absoluto representasse a tiniea verdade gnosioldgica, Vimos, contudo, na “Teoria do Conhecimento”, que o cepticismo nfo se sustenta como posigao gnosiologica, E a demonstragiio estaria justificada. se mostrassemos algo de validez universal, sabre 0 qual néo pudesse paitar nenhuma divide séria, honesta, s&. A demonstracio implica algo mostrado como evidente, Este seria o ponto arquimédieo de um filosofar eoncreto, Encontrado éste ponto, sobre éle poderfamos eonstruir toda Filosofia, Em “Filosofia e Cosmovisio”, no capttulo sdbre o ine condicionado, examinamos as diversas posigées classicas que Propuseram um ponte arquimédieo para o homem, Eases pontos poderiam ser clissifiendos: @) fundados no mundo objective eno mundo exterior, como procedem os empiristes, 0s materialistas, os sensualistas, ete, ou b) numa eerteza interior, como procedera alguns raeidnalistas, os idealistas, alguns existencialistas, ete. Beses dois caminhos no satistizeram por néo oferece- rem 0 ponto arquimédico desejado, A nosso ver, 0 defeito 26 MARIO FERREIRA DOS SANTOS de tédas as buscas do incondicionada, na filesofia, funda-se num preconeeito eéptica, do qual os Tildsofos nao se liber- tam. Como 6 © homem que filosofa, é no homem, ou com ‘© homem, que devemos encontrar a certeza, Por isso, ou se busca num objecto, que € em parte construfdo pelo ho- mem, ou no mundo subjective, o mundo das nossas iutimas certezas. Resta saber se nds, no acto de despojamento de nnés mesmos, somos capazes de aleangar uma evidenela, s0- bre a qual nenhuma das posigdes filoséficas poderia’ por uma divide, depois de devidamente enunciada. Partamos da davida, e ponhamos em diivida todos os nossos conheeimentos: o' mundo objective e 0 mundo sub jectivo, e levemo-la até Altima eonsequéneia, Deveria surgir um ponto do qual nfo se poderia mais duvidar. Conhecemos 0 proeesso eartesiano da diivida motédica, em que pondo tudo em duivida, aleangou a uma certeza, por- que nfo podia deixar de reconhecer que, ao duvidar, ‘eos tava, tendo a vivencia de si mesmo ao cogitar, da qual ni» podia duvidar 0 cogite cartesiano fio é apenas uma operigio intelee tual, mas também afectiva, porque significa sentir-se ime. diatamente como uma coisa que eogita, euja existéneia nfo pode duvidar, Este ¢ 0 seu verdadero sentido. Ora, Descartes partiu de que a verdade devia ser fun- dada em idéias claras e distintas, € 0 que éle cogitava era, para élo, claro e distinte, portante, verdadeira a cua exis teneta, A ideéia clara e distinta € aquela que ¢ indubitavel, que no pode levar & divida, que é infalivel, que ao érro, e que € inata (ni proveniente da re tiva). © cagite apresenta @stes caracteres. Trés sho, portan- ‘to, 08 caminhos estubelecides por Descartes: 1) métedo: a divide; 2) verdade fundamental: sum cogitans, sou pensante; 3) eritério: @ percepgle clara e distinta, © método cartesiano, entretanto, oferece graves difi- culdades, e tem sido abjecto de repulss, porque nio nos leva FILOSOFIA CoNCRRTA temos necosidade de nesta obra, orifices tat voce, NES Pndemos user a dvide ald dy pripcio sie Meese Penstr quo pense, paleriamoe aucisee ge coe ae hos Oe. preciauibs © tlmgar eer at, mit me Ningust Sond davidae com wera E ha esta corteza, © PONTO ARQUIMEDICO Hd um ponto arquimédico, cuja corteza ultrapassa ao nosso conhecimento, independe de nds, e 6 Ontica e onto- Togicamente verdadeira, Algwna evisa hi... (1) Partamos da anilise dessa verdade ineontestavel, Po- devia nao surgir o homem, e néo haver um ser intaligente lasso pensamentos, mas ha um pensamento real, bsolutamente Seguro, certo, verdadeiro: alguma coisa ha. . Pode nfo haver 0 homem @ 9 mundo. Tudo isso é con- tingente, ¢ poderia nio ser. Mas alguma coisa hd, pois do contrario teriamos 0 vazio absolute, a auséucia total ¢ abso: juta de qualquer coisa, 0 nada absoluto. Ou algun coisn hd, 04 entéo, 0 nada absoluto, 0 iad absolute sevin, a total anséneia de qnalqner eoi- 1, ab-solutum, des-ligada de qualquer coisa, o vazio absolute total. Neste momento, podemos ser a ilusio de um ser, podemos duvidar de nossa experiéne:a ¢ da do mundo exte- rior, porém nfo podemos afirmar que nada hé, porque a pré- pria divida afirma que ha alguma coisa, a propria ilusao alirma que hi alguma eoisa, & nflo 0 nada absolut Quando dizemos hd alguma coisa, afirmamos presen- a do que chamamos “ser”, embora ainda nao saibamos 0 ‘que 6 sev, em que consiste, qual a sua esséneia, 0 que déle podemos dizer. Vé-se, assim, que alguma coisa hé 6 contraditada pe- remptoriamente pelo nada absolute. Aficmar que ha o nada absoluto é 0 mesmo que afirmar que ndo hé qualquer (2) Bimpregamos alguma coisa no se ido neutro de alge. 30 MARIO FERREIRA DOS SANTOS coisa em absolute. Mas, note-se, em absotito, porque, adr) tide que alguma coisa ha, nfo se dé contradigzo em admi- tirse que alguma coisa no ha, pois pode haver alguna coisa, esta ou aquela, e nfo haver alguma coisa, essa ou aquel outra, Chamaremos a9 primeire nada de nada adsoluto, © a0 segundo de nada reldtive, Se ao nada absolute eontradiz, © “alguma coisa hd, 0 nada relativo apenas a éle se opoe, nfio 0 exelui. Portante, ambos podem dar-se, podem por-se, positivos ambos, embora de positividade inversa. Entre o “alguma coisa hi”, ¢ “ha o nada absoluto” nfo pode haver a menor diivida, e a aceitagio do primeiro surge de um acio mental, de plena adesto ¢ firmeza, sem. temor de errar. Onde poderia estar o érro? Se afirmo que alguma coi sa, hé, © tnico @rro poderia estar em no haver nenhuma coisa, 0 que é negado até pelo meu acto de pensar, até pelo mais’ eéptico acto de pensar, pois se nada houvesse nao po deria ter surgido sequer a divida. Portanto, a afirmativa de alguma coisa hé € mostrada apoditicamente, assim como a impossibilidade do nada abso- lato também @ 6 pois sendo verdade que alguma coisa 4, 9 nada absoluto ‘absolutamente ndo hi; o nada absolute & Impossivel de ser porque alguma coisa ha. Portanto, ests demonstrado de modo apoditico 0 pri- meiro postulado da “Filosofia Conereta”. ‘Test 1 — Algwma coisa hé, ¢ 0 nadu absolut nao ké. ‘ase 2 — 0 nada absolute, por ser tmpossivel, nade porte, © nada absoluto seria total ¢ absoluta auséncia de ser, de poder, pois coma ¢ que nav é 0 que nao existe, 0 que é nada, poderia Para poder é mister ser alguma coisa. Portanto, 0 nada absoluto, além de nfo ser, é impossivel, e nada pode- via fazer. FILOSOFIA CONCRETA 31 Porque se pudesse fazer alguma coisa, era alguma coisa, © nfo nada abzoluto. Mas, Ji vimos que ha alguma coisa € que nfo pode haver 0 nada absoluto; portanto, nada pode- mos esperar que déle provenha, porque nfo é nada, © térmo res, em latim (coisa), do verbo reor, sigmitica pensar ou erer. Coisa, seria assim 0 em que se peusa ou se cré. EB. quer tal t@rmo referir-se ao ser conerto tempo- spacial, do qual o homem tem uma intui¢do sensivel, ou a tudo quanto 80 se pode prediear o nada absoluto. 0 ‘to mo alguma, cuja origem latina, dliguid, nos revela 0 sentido de aiud (Outro) © quéd (que), outro que se distingue, que se ngo confunde, que € “algo” (note-se a expressdo: ‘lho Ge algo, fidalgo, que néo é de qualquer, mas de alguém que ve distingue), mostramnos, afinal, que se entende por algwinn coisa tudo quanto se poe, se da e do qual nao se pode dizer jyue 6 um moro nada, Ora, o nada absoluto néo se poe, nko se dé, no tem positividade: € a pura negacdo, a auséncia total de alguma coisa, do qual se pode dizer gue é nada, nada. ‘Também o témo entitas, entidade, em seu logos (em sua razio intrinseca), signifies algo ao qual nao se pode pre- dicar 0 nada absoluto. E tudo 0 que nfo 6 nada absoluto alga (aliquid), uma entidade ( entitas) Afirmar que “alguma coisa hi”, 6 afirmar que, a tudo quanto nao se pade dizer que 6 0 naa absolute, 6 algo que weontece”, pae-se, di Se nio hé alguma coisa, teriamos entdo a auséneia total de qualquer coisa que se dé, poe-se. Nem se podria dizer que © nada absoluto aconteee, porque niio acontece, nem ee da, nem se poe: é a auséncia total. E bastarla gue algo houvesse, a presenga de algo, para ser improcedente o nada absoluto. Podemos nfo ser 0 que julgamos ser, nfo é possivel, po- rém, 0 nada absoluto, a auséncia total e eompleta de qualquer coisa. Alguma coisa hi, acontece, da-se. Em que consist Base “alguma coisa” € o que nos cabe examinar a seguir. Em “alguma coisa hé”, © sujeito se reflete completa- mente no verbo, pois fora de “alguma coisa” nada pode ha- ver, pois o nada nao ha, eo haver € 0 haver de alguma coisa, 32 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Entretanto, no hé identidade real ¢ formal entre haver e alguna coisa, porque ¢ haver 96 0 6 quando 6 de alguma fentsa, pois © nada nao ha, Oportunamente, provaremos por outros eaminhos o que ora afirmamos. Tese 8 — Provas mostrando © ndv #6 demonstrando, © conceito de demonstragd (de-monstrare) implica 0 conceito de mostrar algo para tornar evidente outya propo- sigav, quando comparada com a primeira, A primelra certeza tem naturaimente de sev mostrads, Ja que a demonstragdo implica algo j4 dado como absoluta- mente certo. Para provar-se a vauidez de algo, basta, assim, a mostra, que inelut os trés elementos impresemdivels para a certeza, OU axioma alguma coisa hd ¢ eviaente de per si, fe mostra a sua valider de per ai, independentemente da es quematica humana, pois esta pade variar, podem variar os contends esquematicos, mas que alguma coisa hé 6 evidente para nos, © ctr montis (fora da nossa mente), Tesp 4 — A demonstragéo exige 0 térmo médio; « monstragdo, entretanto, nda o exige, A demoustyagdo exige 0 térmo médio, pois € uma ope- vagdo que consisie em comparar 0 que se pretende provar 4a algo 34 devidamente provado, A mostragdo segue uma via intuitiva. A evidénci do ue se mostra impoe-se por si mesma, pois a sua nko acel- gio levaria ao absurdo. ‘Tambem se pode fazer uma de- munstragdo «iret pela mera comparagao aeima citada; ou indireets, como a reduetio ad absurdum, como no segundo caso, Podemos exemplificar da seguinte forma: se alguma coisa nao hi, terlamos 9 nada absoluto, o que @ absurdo: logo alguma coisa ha. Esta € uma demonstragdo indivecta de que hé alguma FILOSOFIA CONCRETA 33. Tes 5 — Hé proposigies no deduzidas, intetigtucis por vi de per si evidentes (aziomas). Bastaria a mera mostra de uma para dar plena validex fa tese. Alguma coisa hd €-0 nada absoluto néo hé tim tais requisites, 0 que vem mostrar, portanto, que hé realmente roposigdes nao deduzidas (pois estas nfo precisar de ou- tras para se mostrarem com evidencia), e que sio de per si evidentes, pois incluem em si mesmas o suficiente grau de certeza, imprescindivel ao axioma, dispensam demous~ trap ots no € mister serem comparadas com obteas ara Blas se evidenciam de per si, 0 que prova a tese, ‘TeSE 6 — Pode-se construir a filosofia eom jufzo8 unix ‘versalmente validos, # comum dizer-se que a filosotia nao pode ser cons- truida com jufzos universalmente vilidos, isto é, vélidos para todos. No entanto, essa afirmativa 6 facilmente refutdvel, bas- tando que se estabelega um jufzo universalmente valido, s6- bre o qual, eoncretamente, sv possa construir todo um aiate- ma de filosofia, como 0 faremos. Os juizos, que estabelecemos como pontos de partida para a fundamentagao da Filosofia Conereta, so universal- mente validos. 86 um apélo a loucura, refutado pelo proprio apélo, deria afirmar que hé 0 nada absolute e nao “alguma coisa Esta va e louca afirmativa ja afirmaria que alguma evisa hd. Podemos duvidar de nés, néo que alguma coisa hig, pois mesmo que foscemos uma ilusfo, mesmo que nos nto howvessemos, alguma coisa ha. Se para expor uma tie Tosofia precisamos de nés, se para comunicar idéias preci- samos de nés, no precisamos de nés pare que alguma coisa hiaja, pois mesmo que fossemos ilusdes, seriamos a ilusko de alguma coisa que hé. Portanto, este postulado independe de nés para mosérar-se como evidente, & um julao univer: salmente valido, e € sdbre éle que se fundara a Filosofia Conereta. 34 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Tase 7 — 0 nada absoluto é a contradi¢ao de alguina coisa hd. Ha contradigao quando se afirma a presenga e, simulta- neamente, a auséneia do mesmo aspecto no mesmo objecto. Dizer-se que alguma coisa ha, 6 eontradizer que hé o nada absolute, porque se hi alguma colsa, 0 nada ebsoluto esta Dizer-se: hd o nada absoluto — € dizer-se que no ha nenhuma coisa; isto é, contradizer-se que alguma cofsa hd. Tese 8 — O que hd — 6; € str. O que nao hi é ndo-ser Do que ha, diz-se que tem ser e é sex, © eontedde da palavra ser ndo definivel. porque, para dizer o que € ser, precisamos de certo modo désse coneeite, Mas tuda quanto na &. Ser, diz Suarez, é a “aptidao para existir", Ser 6 alguma coisa, © nio um mero nada (uma auséneia total e absoluta). $6 0 ser pode, porque s6 éle tem aptidio para existir, porque o nada absoluto, por impossivel ¢ impotente, nao tem aptidao para coisa alguma, pois ndo-é, Nio-ser 6 0 que ndo hi. © nada absoluto é absolute no-ser Se agua viva, esta vu aquele, nfo 4, 20 afirma am nada absoluto, mas apenas que esta ou aquela coisa nfo hi ou soja: um nada relative, © nada absoluto & um néo-ser absolute, © nada relative 6 um ndo-ser relative, Postulado o primeiro, negar-se-ia, total © absolutamen- fe, que algumu coisa hi. Postulado 0 segundo (o nfo-ser relative); niio se nega ria, total ¢ absolutamente, que algama coisa hé, mas apenas que esta ou aguela alguma coisa no hi. Mus, aceite que alguma coisa hé, nfio negamos total e cateiricamente que alguma coisa ndo hi, “alguma coisa ha” e “alguma coisa nfo bi” so dois juizos particulares, sub-contrarios, ¢ a verdade de um no implica necessavia FILOSOBIA CONCRETA 35 mente 2 falsidade do outro. Ambo podem ser verdadeiros, como realmente 0 sio. © natla absoluto € impossivel, ndo-pade, pois, para po- der, élhe necessdrio ser alguma coisa. Para que algo possa algtma coisa, € preciso ser alguma coisa, O que hd, acon- tece, nao 0 chamamos nada, mas alguma eoisa, ser. Poi tanto, 0 que ndo ha, nao é; € $6 0 que 6, ha. Nao sabemos ainda em que consiste bemos que é we ser, mas sa Com o toxmo cxistir entende-se o alguma coisa que efectivamente no pleno exereicio de seu ser, pois 0 que pode vir-wser, ainda € de certo modo, do contrario seria o nada absolute, 0 que & impossivel. Se alguma coisa pode vir a acontecer, esta coisa que finda nao se det, € possivel. Se possivel, nao poderia Vir tio nada absolute, porque éete Ja esta afastado, mas de al- guma coisa que é poraue 0 naila, sendo impossivel e impo. fente, n&o poderia produzir alguma coisa Portanto, a existoncia de alguma coisa depende de al- guma coisa que é E alguma coisa que é, deve ser exis tente, deve estar no pleno exereicio de sen ser, para que to ne existente 0 que era apenas possivel. Portanto, pedemos aleangar com toda corteza a esta conclusdo final: Alguma evisa hé, que &, que existe, Que alguma coisa hd, nenhuma divida mais resta, eomo também que alguma coisa & Que alguma coisa existe, que esti no pleno exerefeio do seu ser, que nfio é apenas uma possibilidade, também nfo pode haver divida, se examinar- mos bem os Seguintes argumentos: Se nfo existisse alguma coiea no pleno exerefeio do sen ser, teriamos apenas um ser possivel, isto é 0 que ainda 6 nada relativo, e se tornard, ou nfo, em alge no pleno exer cfelo do seu se © que ainda € uma possibilidade ¢ am ser em outro, porque o que pode é ¢, para poder, tem de estar no pleno exercfeio do seu ser, pois como poderia fazer alguma coisa se nfo tem poder? 86 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Portanto, alguma coisa exists, pois, se nilo existisse, seria a possibilidade de alguma coisa que existe, do contré rio seria do nada absoluto, o que é impossivel, Esta tese ser demonstrada por outra via mais adiante, COMENTARIOS Alguina coisa é wma verdade ontolégiea Na verdade logica, sabemos, hd a conformidade en- tre o intelecto e @ coisa, enquanto, na ontolégica, ha con- formidade da coisa com 0 intelecto. Mas a verdade ontol6- gica & a revelagio do logos da coisa. O juizo alguma coisa hd possui aquela aptidao e aquela capacidade. A verdade ontolégiea decorre da andlise intrinseea da coisa, que é apta ¢ capaz de, por si mesma, revela-lo ou permitir que um ser inteligente' conheca. Alguma coisa hd possui assim as ca- racteristieas, nflo 46 de verdade logica, mua também onto- ogica. Alguma coisa hé & uma proposigio analitica imediata (per se notes), quardo ontotdgicamente eonsiderada, pois alguma coisa iniplica, pelo menos, 0 haver de alguma coisa, 4 que a habituda (a correlagao) entre o sujeito ¢ o predicas Yo, 6 captada pola andlice, "Se quieermes considera la én ticamente, seria, entao, uma proposigho analitica mediate (non per se notas), eujo conkecimento decorreria da expe- riéneia (da nossa experiéneia), Mais adiante veremos que éste juizo pode ser eonsiderado ainda sob outros aspectos. ‘Tanto de um modo como de outro, a proposigéo alguma coisa hi impoe-se de modo necessério, por uma necessidade ontolégica e por uma decorréneia éntica, Tais aspects ro- Dustecem ainda mais a apoditicidade da tese fundamental da Filosofia Concreta que, por qualquer via pensamental se- Zuida, 6 sempre necessariamente evidente. © térmo necessdrio vem do latim necesse, que, etimo- Jogicamente, vem de ne e cede, do negativo ne, nec, © do verbo cedeve, cuja origem 6 obseura. Cedo significa ix, adiantar-se, retirar-se, afastar-se, e também ceder, abando- nar, renunciar, fazer cessto. Decorre, pois, que otimoldgi- FILOSOFIA CONCRETA 37 cemente, o térmo nécesse (necessidade) indica o contetido do que nfo € cedido, do que néo se pode ceder, do que é impostergdvel, do que ndo pode deixar de ser o que € Quando, na disléctica-ontolégica se busca 0 nexo de necessidade, busea-se 0 contetido eidétieo que tem-de-ser 0 finieo que pode-e-deve-ser. Tem o homem eapacidade de construir esquemas eidético-noéticos varios. Estes sio os ide construtdos por abstracglio pelo nosso espirito (nous), através de uma operagio (noesis), e 08 seus contetidos (noe. mq) podem ou nao reproduzir o-gue-nilo-pode-deixar-de-ser- e-que-tem-de-ser-impreseriptivelmente, Quando aleangamos fa &sse contetido eidético necessario, aleancamos 0 contetido fontoligico, Este se impée Independentemente da nossa men- te e deve apresentar as caractoristicas de necessidade, que exeluem ou podem excluir a nose esquemfitica varia, A. principal providéncia da dialéetien-ontotigica est, portanto, em procurar Osse contetido, ponde de lado tudo Quanto prode nao ser, até aleancar o ndo-cedivel, Ademais 0 conteddo ontolégiea deve decorrer de uma andlise que ofe- yeca sempre um nexo de nocessidade. Essa operacio afas- terse totalmente da opinativa, porque a opiniao é um assen- timento da nossa mente sébre eoisas contingentes, ou sobre contetidos eidéticos-naétiens comtingentes, ou sejam, que po- dem ser ow podem nfo cer. O conteddo ontoldgico s6 é ver~ dadeiro quando tda e qualquer contingéneia 6 exeluida, ¢ ela v € quando dela ressalta o absurdo ontolégieo, on pelo menos este & possivel. Aleangar os conteidos ontolégicos do que se examina é pois, a provideneia primordial dessa. dia- Iéetica, ¢ sem ela nfo é possivel alingir a meta desejada, que, em suma, 6 a construcao de juizos universalment ides, por serem ontolbgieamente verduceiros, 0 que ls afastamento total de toda doxa (opiniio) ‘TEs 9 — A proposigéo “alguma coisa hi” é wotoda suficientemente por si mesma. Provamos por outra via. ‘A verdade de “alguma coisa hi” néio exige, para ser notada, uma mente especial. Ela é motada de per si, © ane Ficlentemente, porque @ su negaglo seria afirmar o nada, absolute, que é absurdo. Alguma coisa had nio exige de per 38 MARIO FERRFIRA DOS SANTOS si domonstragio, potia até dispensé-la. Se ajuntamos algu- mas, fazemo-la apenas para robustecer, de certo modo, & sus evidencia objectiva. E dizemos eviiéneia objectiva, porque nfo é uma verdade subjectivamente captada por adequacéo, mas de per si suficientemente verdadeira. A verdade légien dessa proposigio decorre do facto de pertencer 0 predieado & razao do sujeito, mas é também ontolégica por ser necessaria, ‘Tesp 10 — “Alyuma coisa hé” ndo 6 apenas wm ente de razdo, mas um ente real-real. Considerase ente de razdo (ens rationis dos escolésti- cox) agnéle cuja tiniea existéncia esti na mente “humana. Assim para os idealistas absolutos certas idéias; 9 tempo 0 espago, a espécie e 0 género para outros fildsofos, etc. Gonsidera-se como ente real, aquéle que também tem’ uma existncia fora da mente humana (extra mentis). Assim ‘esta casa, para os realistas, além de ter dela uma imagem ‘2 mente humane, 6 uma realidade fora da mente. Em su- rma, para todos so entes de razio aguéles que nfo assogu- ram uma existéneia fora da mente humana, e so entes reais ‘05 que tém essa existéncia, Um ente real pode também ter uma correspondéncia existencial na mente humana, eomo a tem a imagem que formamos das coisas que compéem 0 undo oxterior para op realistai, ““Aljuma ooiea ha” pode metecer de alguns a afirmagio de que é apenas um ente de razto, Mas se alguma evisa hé & um ente de razio, asse- gura imediatamente que no 6 apenas um ente de ‘razéo, mas sim um ente real, porque se hd um ente de razio é porgue hé algo que é 0 sustentaenlo do mesmo. 1 se alguna coisa ha & mentado, entio alguma coisa hi realmente, por- que alguma coisu hé, para que algume coisa hé. soja’ men- tada, 0 que prova, conseatientemente, que € real-real que alguna evisa hi, © que vem robustecer, de modo apoditieo, f tese, € provar também, apoditieamente, que a Filosofia pode fundar-se em ama verdade universalmente vélids, ARGUMENTOS CORRELATOS A FAVOR DA TESW, Depois da seguranga observada no pensamento medic val, tao pouco estirdado hoje, sdbre o que sei o ser, vorifi- amos que, em fildsofos ménores de nossos dias, mus de grande repercussf, 0 ser passa a esvaziar-se ante seus olhos. ‘hegando alguns a hegar-the qualquer contotdo. “Para ésses, G apenas uma palavra a mais, e sem significagao. Alguns propéem substituila pelo aondo, partiespio presente do ver- Bo ser Subsite assim o fetal, ox melhor, 0 indefinido iser pelo partieipio presente gendo (de onde no latim ens, snr no Bray on, ontos). 12 ncuulam diversas Fazies em favor de sua opthifio, razdee jf refutadas com séculos de antecedéncia na obra dos medievalistas, mas que parecem Surgir vivas, quando na realidade si velhos fantasmas. Contudo, isso nos obeiga a alguns reparos, que se tor- nam imprescindiveis, Oe argumontos codigos sf sempre os mesmos, Vamos -alinhi-los, para depois respondé-los: 1) Que o ser 6 algo que nfio vemos, nfo tecamos, nfo sentimos em sums, como vemos a cdr e focamos uma moto- cicleta, Estas so um sendo, mas ¢ 0 ser? 2) Que o térmo ser 6 uma palavra vazia. Nao indica nada de efectivo, de captavel, de real, “eterno fumo de uma. realidacle que se volatiliza” (Nietzsche), 8) Que 9 téxmo ser é um substantivo verbal, que per- tence & familia verbal do eu sou, tu €%, n6s somos, ete, & nada mais. ‘Vejamos se hi valider nessas atirmativas. Para of gregos ser significa presenca, estabilidade, pro- -sisténeia, o que tem sistencia pry, para a frente, physis, © 40 MARIO FERREIRA DOS SANTOS também permanéncia, o que mana através de, per. Conclui Heidegger, 20 examinar o pensamento dos xrexos, que, para Sstes, existir (eristéncia) ‘ignitica nio ser, porque existir 6 sair de uma estabilidade surgida de si mesma, a partir de si mesma. © grande defeito que ha em geral no pensamento mo- derno sdbre o significado de ser esta em confundi-lo com 0 significado meramente légieo. Ora, 0 ser, considerado ape- nas logicamente, é esvaziado de compreonsao, por ter a mix xima extensio, pois abrange tudo. Contudo, se 0 térmo ser Hogicamente é 0 de menor com- preensio (pois ser € apenas ser), & ontoldgicamente 0 de méxima compreensio, poryue tudo quanto ha é de corto modo, e ger € atribuido a tudo quanto ha, activa ou passiva- mente. Existir nio é um afastar-se do’ser, 6 um modo de ser no pleno exercieio de ser, € 0 ente fora de suas causes, Coneeber-se 0 coneeito de ser apenas como estabilidade, como © que permanece sempre, e dal eoneluir que o que existe (0 existente) € 0 que sai dessa estabilidade, portanto, ¢ nio- -ser, ois uma maneira primiria de raciocinar. Ser é tam bém estabilidade, € fluir, & semdo, porque tudo isso nao pode receber a predicagao de’ nada, Pretender-se uma definiche para o térmo ser 6 inverter a ordem da logics. Hse eoneeito 6 por nés eaptado na Gialéetiea ontoldgica de modo mais pati‘co que racional; revela-se a n6s sem que o possamos prender dentro de esque” mas, porque € éle o fandamento dos esquemas, ¢ nfo éstes daquele. Se ser fésse apenas um conevito eonstruide por nés, seria facil reduzi-lo & um esquema. Mas, precisamen- te porque no é apenas um conceito 6 que éle se nos eseapa, Quando Suarez dix que ser ¢ a aptiddo para. existir nko © define, nfo o delimita, mas apenas d4 uma paténcia do seu contelido, porque 0 que & de certo modo pode existir, isto é pode ser fora de suas causas, poderia dar-se no pleno exercicio de seu ser, ow modo de ser, pois 86 nfo o pode o impossivel, 0 absurdo, o que absolutamente nio é Seria arto julgat que Suarez queria, eom essa expressio, definit ser, Era éle suficlentemente filésofo para saber que nao poderia reduzir o ser a outra coisa, porque outra coisa, que iio 0 ser, seria o nada, ¢ éste nad poderia ser genera da- ‘quele, porgue 0 ser nfo 6 uma espécie de nada, Consequen- FILOSOFIA CONCRETA 41 ‘temente, jamais pretenderia dizer que o ser consiste em. isso ou aquilo, porque se isso e aquilo sfo ser, a definigao continuaria ainda sem estar formulada, e se nenhum é ser, seria nada, e o nada néo poderia definir 0 ser. E, ademais, definir 6 delimitar, @ o conceito de ser nao tem limitagées, pois o que o limitaria? Se é 0 ser, limitaria a si mesmo; se € o nada, éste entao teria aptidzio para limi- tar, e nilo seria nada, mias ser. © ser 6 0 que dura, 0 que afirma, o que perdura, o que fundamenta tudo quanto é sendo para os modernos. & 0 fundamento de todo ente. Definir & reduzir algo a outros conceitos. Aristételes jf estudou, © de modo definitive, o que se entende por de- iniefio. Os conceitos transcendentais e os trancendentes so indefiniveis. Se ser f0sse definivel, o sor reduzir-se-in a outro, e reduzir-se-ia a ser, o que seria tautolégico. © que leva a alguns eseritores modernos a fazer tais| confuses é a igmordneia, sem diivida, da longa especulacao que sobre o ser realizaram os medievais. Bm suma, ser é a perfeleo pela qual algo ¢ ente. Ser 19 6 apenas 4 que & pereeptivel pelos sentidos (como o pre- tendiam que fosse os positivistas). o sensorialmente comnos- civel, 0 que jf merecera severas critieas de Platio, algo que se possa tocar, sentir, prender naz maos. Ser transeende a todos os Ambitos dos conceitos, preseinde de todas as deter- minag6es, sem que se confunda com o que Hegel julgava que era o ser, De amplissima extensio, abrange tudo 0 que & existente @ 0 possivel. So alguma coisa que ha no é ser, 6 nada, e, neste caso, @sse alguma coisa nao ha, no acontece, nao sucede, nao perdura, no se di. Dizer-se que alguma que hé é um eendo, um dfant, um seind, um ens, € dizer que é algum modo de ser, e nfio mero mada. Nao hé lugar aqui para nenhuma outra posigdo: ou alguma coisa hi ou nehuma coisa ha. E se 0 que hé 6 algo que ‘lui, é, enldo, algo que flui, uma pre- senga que flui, e néo o nada que flui, porque o' nada nao poderia fluir, nfo poderia passar de um modo para outro, porque é a auséneia de qualquer modo antes, durante e de- pois. O que flui, dura no seu fluir, perdura, é uma presenga 42 MARIO FERREIRA DOS SANTOS do fluix, uma presenga fluindo, é alguma coisa, é ¢ no nada, E ser, em suma, E inGtil, pois, tentar substituir o coneeito de ser por ‘outro, ou negar-the validez, pois nfo se reduz apenas 20 con- tetido Jégico. Ontoldgicamente, 0 coneeito de ser é 0 mais Fico de contetido, 0 mais rico de compreensao, o mais per feito, porque inelui todos os modos de ser, pois észes so modes de ser e nao do nada. Ademais, onticamente, o ser @ 0 fundamento de tudo ‘quanto hii, como veremos a seguir no decorrer das demons- tragdes. Assim se deve distinguir: ‘Ser como entidade logiea: méxima extensio ¢ minima compreensio. Ser como entidade ontologica: maxima eompreensao e maxima extensio, Ser como entidade Ontica: minima extensio e minima compreenséo (porque € apenas esaencial e existentemente ser, como veremos). O primeiro ¢ atribuido @ todos as entes. 0 segundo 6 -sfizmado em todos a3 séree, ¢ refere.se a todas as perfeigies, © 0 tereeire é 0 ser tomado apenas enquanto ser, na sud onticidaide. ¥ o que ressaltard com clarezs, © sob juizos apoditicns, ‘no decorrer das demonstragoes que Se sesuirao, Examina Heidegger as quatro elsdea que Ihe surgem do seu exame sobre o ser: ser e devir, ser © apuréncia, ser © peustr, Ser e dever. Conclui com’ as seguintes palavras: "Ser nos apareceu deade 0 inicio como uma palavra vazia ou dle significagao evanescente, Que ¢ assim, Lal nos apareceu como um faeto eontestével entre outros. " Mas, finalmente, revelou-se que aparentemente nao eolocava a questo, e no podis ser interrogado mais, era a coisw mais digna de per- gunitd Ser e a compreensio do ser no sio dados de facto. © ser é 9 acontecimento fundamental, ¢ © sdmente a partir désse acontecimento fundamental, 6 somente a partir désse fundamento, que se encontra conferido ao sér-ti proventusl FILOSOFIA CONCRETA 43, do seio do sendo em totalidade posto a desesberto.” EB pros segue mais adiante: “As indicagdes dadas sdbre o empréxo corrente, e, con- tudo, bastante variado, do "6", nos convenecram do. segui te: totalmente errdnco falar a indeterminagao © do vazio do ser, Eo “é” que determina a signifieagio e o eonteddo do infinitivo “ser”: e nao a. inversa, Contudo, podemos ‘taminém compreender por que é assim. "0 “6” é considerado como cépula, como “pequena palavra de relagao” (Kant) no selo da proposic¢éo. Esta contém o "6". Mas como a pro~ pésito, 0 logos adauiriu, enguanto categoria, a jurisdigio sobre ser, & cla que, a partir de seu "6", determina o ser.” Ora, dizer que ser é 0 indeterminado, mas que se deter ‘mina plenumente, © afirmar que hi at manifesta eontradi- 40, 6 confundir as diversas acepgdes que o conctito de de- ferminagio pode tomar. Ser, enquanto gramaticalmente verbo, enquanto coneei- to logieo, ¢ indeterminado, é a maxima indeterminagio. Nao, porém, enquanto coneeito ontolbsico, que é a maxima deter minagio, pois 0 ser € determinado por si mesmo ¢ no por outro, quando tomado ontoldgicamente. A eonstante eonfu- silo qite hi entre o logico © 0 ontolégico, é que leva a outras eonfusdes como essa, ¢, Tinalmente, & afirmativa de haver contradiglo, onde realmente nfo hi. O Ser no contradiz asi mesmo quando afirmado como plenamente ser. A de- Terminagdo, aqui, nao € dada por outro, mas apenas é a do seu proprio perfil, O ser € ser, determinadamente ser. Quando aplicado a heterogencidade das coisas que S40, dos sendog que sao, € éle indetermimado. porque agai & um’atri- bbuto légico, enguanto antes era um contetido ontolégico. Heidegger diz (pag. 88 da op. eit.): “A palavra “ser” 6 portanto, indeterminada em sua significagao, e, contudo, a compreendemos de uma maneira determinada. “Ser” re- vela-se como ur plenamente-indeterminad eminentemente determinado. Segundo a légiea ordinéria, hé, aqui, uma con- tradigfo manifesta, Ora, alguma eoisa que se contradiz nio pode ser. Nao héo eireulo quadrado. B, contudo, ha essa contradi¢ao: 0 ser concebldo como o plenamente indetermi- nado que é determinado. Na verdade, o ser ldgicamonte eonsiderndo € mixima indeterminacio,' mas ontoldgicamente € s mixima rleter- 44 MARIO FERREIRA DOS SANTOS minagio real. So haveria contradigio se fésse na mesma esfera. E_af ser esté tomado em esferas diferentes. Ser, como entidade logiea, € 0 sumum genus, 0 género suprema fo qual se reduzem apenas ldgicamente tédas as coisas. Mas ser, ontoldgicamenie, nfo 6 0 gOnero supremo, mas a razio que dé o ser a tudo que é a razio que da @ afirmagéo a ‘tudo 0 que é “Eo ser, onticamente considerado, nao & nem determinado, nem indeterminado, porque ultrapassa a todos os pares de contrérios que & mente humana eria. £0 afir~ magio plena de si mesmo, a etema presenga de si mesmo. E 0 que atinal iremos demonstrar no decorrer das teses, fim de uma vez mais esclarecer um tema que jé fora escla- reeldo, mas que, modernamente, esté envolto, outra ver, nas sombras da confusto, Quanto ao desejo bem primario dos que querem tomar © ser nas suus mios para pesi-lo, para certamente deter- minar sua dureza, sua resisténeia, ete, ou que desejam transformé-lo num’objecto dptico ov auditivo, é tao ingenue ‘que nem pode ser levado em consideragho. Quanto, porém, aos que afirmam que nao conhecemos 0 ser directa ¢ imedia tamente, convém dizer-lhes que todo conkecimento se pro- cessa através de uma assimilagio, e depende, pois, de esque- ‘mas acomodados, que assimilam contetido objective, Ora, © homem ¢ um ser hibrido ¢ defieiente, e nio poderia captar directa ¢ imediatamente o ser em téda a sua pureza, e todo 0 seu conhecimento, pela hibridez de seus esquemas, é con- seytientumente, hibtide. Mus ee milo pode conhecer 0. ser tofaliter, 0 que o poria em estado de beatitude completa, pode, no entanto, eonhecé-lo totum, em tadas as suas expe= rigncias, porque, na heterogeneidade destas, éle esplende sempre, porque ha sempre uma experiéncia de ser na hete~ Yogeneidade dos factos, que se torna a matéria bruta da sua especuledo filos6fiea, que é reduzida a esquemas intelec- tuais construidos posteriormente, Tase 11 — Alguma coisa existe, Prova-se de varios modes: Nao se conclui por aceitar que, se alguma coisa hé, conseqientemente, alguma coisa existe. Existir nao é propriamente incluso no haver, pois en- tende-se por existir a realidade exercitada im re, 0 ser real, ser om si, 0 ser no pleno exereieio de ser. Ora, se alsruma coisa hg, 0 nada absoluto nfo hd. Se alguma coisa que ha nfo existe, nfo seria exercitada em si, mas em outro. E ésse outro, nao podendo ser o nada abso- Into, 6 algum ser que existe, alum ser que esta no pleno exer- cicio de ser. Ese nao for és, ser outro. De qualquer forma, alguina coisa existe para ser 0 portador do que nfo existe ainda, Porque alguma coisa hi, © 0 nada absoluto néo hé, alguina coisa existe. A existéncia de aiguma coisa deeorre, do porque “alguma coisa ha”, mas porque 0 nada absolute nao hi. Portanto, “alguma coisa hé” e “alguma coisa existe”, Ademais, a razio ontolégica do existir implica algo que & uma existéncia que se dé ex, fora, como j4 0 mostramos em “Ontoiogia © Cosmologia”. A ssisténcia existe quando se da fora do suas causas. Ora, o existir ndo pode vir do nada absoluto, porque éste J esti total e absolutamente negado por “alguma coisa ha”. ‘A existéncia de alguma coisa ¢ 0 exercicio do ser dessa coisa, ue € uma sisténcia ex, que se dé fora de sua causa. Se alguma coisa ndo existe, nada se daria fora de sua causa. Nenhuma sisténcia se daria ex. Como 0 nada absoluto nfo € qualquer coisa, alguma coisa existe, pois, do contrério, ha- veria uma sisténeia que nao se daria ez, dando-se portanto, em outro, 0 qual existiria. Alguma sisténcia, que ha, tem 46 MARIO FERREIRA DOS SANTOS de existir, porque, nfo sendo eausada pelo nada absoluto, dé-se ex, no pleno exercieio de ser, pois, da contrario, se daria apoiada em o nada absoluto, © que ¢ absurd. Por- tanto, alguma coisa ha que existe, alguma ccisa se dé o pleno exereicio de ser, alguma sistOneia se di ex, Pode-se ainda demonstrar: “Alguma coisa ha” é evidente de per ei, j4 © demons- tramos. O que ha, 6; @ ser. De qualquer modo é ser, Portanto, alguma ef ha, que 6. “Alguma coisa hé” nao se opde a “alguma coisa 6”. _ “Aliquma coisa existe” nfo conduz a nenhuma contradi- gfo com “alguma eoisa hi". Se alguma coisa existe, ela Ge dla hi. Resta saber se alguma coisa hi, é ¢ exisie sie ‘multéneamiente, ___Existir ¢ estar no pleno exereicio do seu ser. O alguma coisa ha, se nao existe, nio esté no pleno exereieio do ser porianto, ndo tendo um ser no seu pleno exereicio, esté no exerefeio do ser de outro, Este ndo pode ser o nada absoluto, mas sim um ser que existe. Logo, alguma coisa ha, que é,'e que existe simulta neamente, Concluimos, apoditicamente, que algo existe, e. como existir implica ‘ser, chamaremos daqui em diante, de ser, alguma coisa que é, € existe, ‘Yess 12 — O nuda abeoluto nada pode produzir. __O nada absolute nada pode produzir, porque & impos- sivel, nao tem poder, nao tem eficécia para realizar alguma coisa, pois se a tivesse nao seria nada absoluto, mas. sim alguma coisa. ‘Mas, podé-lo-d o nada relativo, 0 nfio-ser relative? iste, como ainda nao est no pleno exereieio do ser, também nao pode, enquanto tal, produzir alguma coisa, pois, se o fizesse, a eficiéneia, que revelaria ao produzir alguma coisa, afirmiaria o seu pleno exerefcio de ser, ¢ nao seria, portanto, um nao-ser relativo, mas um ser em acto, FILOSOFIA CONCRETA ar Se 0 nada nada pode produzir, como so eonelui por de- corréncia logica, ontoldgica ¢ dialéetica, como a expusemos em "Criteriologia”, do nosso livro “Teoria do Conhecimen- to”, 0 principio de que ezrihilo nihil, que do nada nada surge, ¢ absolutamente verdadeiro, pois se de nada se pu- esse’ fazer alguma coisa, ou o nada fazer alguma coisa, automiticamente ndo seria nada, mas alguma coisa, por re velar a ofiedeia de poder, e. portanto, de ser. TEsE 13 — Alguma coisa sempre howe, sempre fol, ‘sempre existin, Se alguma coisa nem sempre houve, ela foi antecedida pelo nada absoluto. Ese o nada absoluto antecedeu-a, de onde teria vindo ésse “alguma coisa” que houve? Ou de sl ou de outro. Bsse outro nao poderia ser o nada absoluto. Consegiientemente, um ser teria antecedido ao “alguma coi- sa” gue houve, S¢ alguma coisa veio de outro alguma coisa, estéve sempre presente alguma coisa, por nfo ter © nada efiedeia para produzir algo. Conseatientemente, sempre houve alguma coisa, E sem pre foi, porque se sempre houve, sempre foi alguma coisa, E sempre existiu, puis, alguma coisa no pleno exer- efeio de sew ser. Se 0 que sempre houve deixou um mo- monte de oxistir, deixon sim momento, conseaiientemente, de aver, para tornay-se nada, E teriamos. entao, um momen to em que s¢ daria ¢ nada absoluto, porque o alguma coisa, que havia, deixou de haver e de ser. Neste caso, como surgiria désse nada absoluto outro al- guma coisa, se aquéle & Impossivel e inefiesz, pois 6 nada? Nao era possivel, portanto, que se desse uma ruptura. Alguma coisa que houve, que era, que existiu, podia dar surgimento a alguna oulra coisa que houve, que era, que existiu, e esta a outra, e assim sucessivamente, Nav poderia, contudo, ter havido uma ruptura nesse haver, neste ser, nesse existir, porque, entao, intercalar-se-ia o nada absoluto, € nada mais poderia haver, ser, existir. Portanto, houve uma continuidade absoluta de haves. de sor, de existir. 48 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Sempre houve alguma coisa, que sempre foi, que sem- re existiu. se um “alguma coisa” fol sicedido por outro, Exse outro’ veio do. primeiro, e esléve contido no'poder do primeito, pols, do contrario, teria vindo do nada absoluto, que € impossivel.-Ademaig,o ser dos sucessivos ¢ ainda do ser do primeiro, que perdura nestes, & alguria eolsa que estes pordura, Portanto, sempre houve, sempre foi, sempre existiu al- guma coisa. "Eo haver, o ser e 0 existir perduraram atra. vés dos diversos algumas coisas; e como é alguma coisa, sempre houve e sempre foi ¢ sempre existiu alguma coisa, que era plenamente haver, ser e existir. ‘Tese 14 — Alguma coise que sempre howve, que seim- pre foi, que sempre ecistiu, ainda hd, 6, € existe, Demonstramos que sempre houve um haver, um ser ¢ um existir, 0s quais sto de alguma coisa, pois, do contra- rio, seriam do nada absolute, © que e absurao. Conseqientemente, em meio das coisas diversas que howveram, foram ¢ existiram, alguma coisa sempre houve, sempre 104, sempre existiu. E se assim nao fésse, haveria rupturas e interealar-se- -ia 0 nkda absoluto, o que teria rompido a eadeia do hever, dy sere do exislin. Pulau, ulyuna einea sempre plo: mente howve, fot, existin, Resta provar que sempre houve um “mesmo” alguma coisa, que sempre foi, ¢ que foi plenamente 0 haver, 0 ser © o existir (o que nos surge intultivamente do que foi exa- minado na tese anterior). B que nesse “alguma coisa” ha- ver, ser e existir so éle mesmo. Alguma coisa 6 0 que 6 por algo que « apresenta como 6 a sun esséneia, Esséncia é 0 que pelo qual uma coisa é 0 que ela 6. Ors, 0 pelo qual é alguma coisa, 0 ser e haver desse algu- ma coisa. E Gsse haver ¢ ser nfo se separam déle, porque se déle se ausentassem, Oste alguma coisa, sem ser nem haver, se- ria nada. FILOSOFIA CONC. ETA 49 O ser e haver de alguma coisa da sua essénela, que sempre houve, sempre foi, Se a sua esséneia nao fosse ele mesmo, teria le vindo do nada, © que € absurdo, ou, entio, de outro alguma coisa, Neate caso, alguma coisa sempre existe; portanto, a sua existéncia’ (o pleno exereicio do seu ser) identifica-se com a sua esséneia, que € pelo qual o alguma coisa & alguma coisa, pois é pelo ser que é pelo ser exercitado, que € ele alguma coisa. Portanto, sempre houve alguma coisa em que essOncia © existéneia'se identifiearam (1). Ha, assim, alguma coisa em que ser e existir sfio idan tices, © alguna coisa, que é, ou velo de si ou de alguma que Ora, hi alguma coisa que é no pleno exercicio de seu para que seja, exige alguma coisa que existe. O de um nove alguma eoiss, nfio podendo vir do nada, provém do primeiro, Como nao ha rapturas no ser, porque haveria interealagio do nada absolnto, o ser do segundo pros- segue, de certo modo, 0 ser do primeiro alguma coisa’ (2). 0 ser, que é sustentaculo do existir do segundo, era no primeiro, e € no segundo, __O primeire ser nfo desapareceu nem tornowse nada, pois o seu sucessor continua o ser do primeira, do contrario haveria ruptura, e se interealaria 0 nada absolute. Ademais J4 provamos que na alguma coisa que € no pleno exereicio {de ser, no qual ser ¢ existir se identificam, Ora, € éste 0 primeiro, som a menor drivida, O segun- do @ peta presenea do primeiro que Ihe dao ser, pois, do contrivio, viria ou de si meamo ou do nada. Se viesse de si_ mesmo, haveria, neste caso, dois séres que, néles, ser e existir se identifieariam, o que mais adiante provaremos ser impossivel. Vindo de outro, entio este é agudle em que see © existir ee ientifieam, (1), Esta prova sinda seré apresentada segunto outras vias semonstrativas (2) Opertunamente provaremos que, alén de ndo haver uma solugio de continuldade ma perduracdo do ser, pela intercalagio do fabsolto, entre um se-que-foi e um sef-que-vemearser, fi, ademas, Faphitss absnlutse entre ag séres que sie simultinese mente, comb seventze dle: ge intervalasse 0 nada abeole, 30 MARIO FERREIRA DOS SANTOS ser do segundo afirma a presenga do ser do primeiro, que 6 na verdade, a afirmagio do segundo, De qualquer forma, hd, porém, pelo menos, um ser que existe, © que, néle, ser e existir se identificam, © que, ade- mais, hA sempre um ser que 6 ¢ existe. E so houver dois, em ambos hé-o ser, que 6, e existe, Prova-se ainds do seguinte modo: Se houvesse mais do um ser, em que ser e existir se identificassem, de qualquer forma um, pelo menos, teria sempre sido e existido, 0 que provaria, entao, a nossa tese, Admitamos dois séres nessas condigdes Ae B. Todos os entes posteriores devem 0 seu ser eo seu existir a ass dois séres primordiais. Eo ser que hi nos sucessivos € dado por aquéles; pois, do contrério, teria vindo do nada, © que 6 absurdo, Admitamos, $6 para raciocinar, que um déles pudesse ter deixado de existir, © nao tivesse transmitido o ser a outro, Mas, de qualquer forma, a existéncia de entes prova que sempre houve, pelo menos, um que sempre existiu, um ser pelo qual 6 transmitido 6 ser aos outros séres, ‘pois, do contrivio, teria havido rupturas no ser, 0 que, como j& v mos, 6 absurdo. ‘Se temos apenas A e B, dois sdres primordiais, um ape- nas poder-se-ia admitir que tivesse deixade de ser, nao an os; pols, do contrario, dar-se-ia o nada, © n&o o' ser, pols intercalar-se-ia 0 nada absoluto. Portanto, hi alguma coisa que sempre houve, sempre foi, sempre existiu, e que ainda hi, é, e existe (1). (1) O ada absolute nfo 6, Portanto o ser de A continua ‘de cette modo em B, e0 see deste, nao podendo provir da nada Sbioluta, o ser, que contém, +A estava em A.A, porlanto, Ja Unha © seu proprio sere 0 ser de B, pols, do contrério, o nada teria Inierforido para que 3 fesse TE por a0 hiver rupturss, 0 ser de C, que velo de B, e 0 de D, que veia eC, j4 estavam, de certo mods, em A. O' que hk 0 ser em B, Ce Dé ser do ser, que estava em A. Portanto, algo do Aesth presente nos que déle dvcorrem. Podor-ce-la dar outro D fissem simultancos, coexistentes ¢ que mae @ nessa evidéncia) sucessao de séres. De qual- quer modo, 0 ser om A,B, C, Dé ser, endo nada absolute e, neste caso, 0 ser sempre houve e ha, foi € 6, sempre existiu e existe, © ‘que provaria tambimn 2 nossa tere. FILOSOFIA CONCRETA 51 ‘Tese 18 — 0 alguma coisa que sempre howe, sempre foi © sempre existin, nao teve principio. Senipre foi ¢ sempre € Que algo sempre houve, sempre foi e sempre existin 6 evidente. “que mio teve principio & um eoreldrio do que Ji ficou demonstrado, pols se 0 livers, ndo tendo vindo de si mesmo, nem do nenhiuma outea colsay que estarle ainda néle presente (pois como veremos a eiséneia ¢ a exictenciay sey 6 existir,nble se identificam), teria vindo do nada absoluto, ‘ite seria, nesse easo, o principio e origem do ser (1) __ Ora, © nada absoluto, sendo impossivel, néio poderia dar principio, a um ser. Portanto, sempre houve alguma eoisa ‘que sempre foi, alguma coisa de imprineipiado, Alguma coisa sempre fol, a qual passaremos definiti- vamente, para abreviar, daqui por diente, a chamar de Ser absoluto, sem ainda diseutirmos quais o8 seus outros atri- hutos e propriedades, o que vira posteriormente, numa de- corréneia rigorosa, ¢ @ fortiori, do que até aqui ficou de- monstrado. Sempre houve o Ser, que foi éle mesmo, pois, como ve- vemos, stia essécia ¢ sua existéncia com éle se identificam; um Ser que € Ge mesmo no pleno exereieio de si mesino, Onticamente éle mesmo. B ésse Sex, que sempre foi, também sempre é EB sem- pre €, porque, do contrario, tendo o Ser desaparecido, ter- seia dado o nada, e o que hi de ser agora teria vindo do nada, 0 que & absurdo, como vimos, Portanto, no houve rupturas nesse Ser, nem interca- lagdes de nada, no perdurar do Ser, que sempre foi, e que sempre 6. Restar-no mais adiante. ‘aber se sempre serd, 0 que examinaremos (1) B ehamamos de absoluio por que est ab solutum (desti- ‘gndo) de outro anterior, ¢ 6 totalmente ser © que decorre ontologicamente dese desligumento, vitd a os tempo. 52 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Test 16 — Hatre ser ¢ nada néo hi meio-térmo. ‘Menos que ser 6 nada, porque se no é nada, é alguma, ; € ser. O coneeito de ser, enquanto tal, € uma per- feigio que nfio admite hibridez.' O conceito de nada abso- juto também ¢ exeludente de todo ser. Menos do que nada 4 seria ger, Por isso, entre ambos, nao ha meio-térmo, © nada relativo, isto 6 a privacdo de uma propriedade, de um estado, de uma perfeigho, ndo é uma auséncia abso uta de ser, mas apenas a privagdo, neste ou naguele ser, de tais ou quais perfeigdes, Conseqtientemente, 0 nada relative néo ¢ meio térmo entre ser e nada absoluto, A partir déste postulade, podem-se demonstrar 03 pri ciyios ontoligicos de identidade, de ndo-contradigio © 0 do ferceiro exeluido, que sio os axiomas que servem de funda. mento 20 filosoiar de Avistételes. Provado que nfo hé um meio-térmo entre 0 nada abso tuto © 0 ser, que estivesse fora do nada e fora do ser Ga que 0 nada relative @ apenas o ser possivel), o que & por- tanto, 6 (fundamento do principio de identidade). Do que se diz que é, nfo se pode simultaneamente dizer que ndo & (fundamento do principio de ndo-contradi¢do), e de algo se diz que € ou nao 6, nao cabendo, consequentemente, uma outra possibitidade, enguanto © ser for eonsiderado formal mente (fundamento do prinetpio de tereviro exclaido). Os enunciados dialécticos destas leis, por nds expostos em “Logiea ¢ Dialéctica”, nio contradizem a justeaa do que dissemos, pois, na decadisléctica (a nossa dialéetiea dos dea ‘eampos), slo éles apenas aplieados sob o aspecto intensista dos entes, como mostramos naguela obra. Mais adiante, ao examinarmos ¢ comentarmos outras fteses, examinaremos com misis exaustio ésses_principios, que, para a Filosofia Conereta, so apenas proposigdes fun- dadas em provas ontoldgicas anteriores, e no principios axiomaticos, que sirvam de ponto de partida do filosofar. Biles ve impoem por aclaramento e pelo rigor ontolérieo que 8 justifiea, como ainda veramos, FILOSOFIA CONCRETA 53. ‘TeSE 17 — O Ser ndo pode ter surgido sibitamente, pote sempre howve alguma coisa, Se houvesse uma precedéneia do nada absoluto e, pos- teriormente, 0 surgimento do Ser, @ste seria ou uma pos- sibilidade do nada absoluto ou uma possibilidade de si mesmo. Se 0 alguma eaise fosse uma possibilidade do nada absoluto dste estaria refatade, pois 0 ave pode fa- zer ou permitir que se faga 6 algo, € néo nada absoluto. Conseatientemente, é impossivel que se algum ser surge, seia ale uma possibilidade do nada absolute, Nao poderia ser também uma possibilidade de si mesmo, pois entao teria um sustentéculo, 0 gual existiria antes de ser, o que é al- surdo, Em iiltimo ¢as0, afirmaria ja a prévia existencia, Ge algo, 0 que seria atirmnar 0 ser, © negar'o nada absoluto. Como poderia surgir alguma coisa, entio? Por seu prd- prio impeto € impossivel; pelo nada absoluto também & im- possivel. Como entre o nada e 0 ser nfo hi meio térmo, como nds € revelado, $6 poderia surgir por algo anterior, J que se surgisse de si mesmo afirmaria que era anterfor- mente @ si mesmo ¢ existiria antes de existir, o que & absurdo. Nao podendo ser uma possibilidade, nem do nada nem de si mesmo, 0 siibito suceder de alguma coisa que ha, nao podendo ser ‘precedido por uma auséneia total ¢ abso- lula te aualguer cus, por ser impossivel, € inevilavel (iu -cedivel, necessario, de ne-cedo), que sempre houve alguma coisa, 4 que hi aliguma eoksa, Pela dialéctica budista, em suas quatro providéncias, poderiamos raciocinar assim: 1) que algo hii; 2) que ab- solutamente nio hé algo; ou sejar o nada absolutos 3) que igo hie, simultaneamente, nao hd sbsolutamente nada; 4) ou, entao, que nem ha alguma coisa nem ha absoluta’ mente a auséneia de qualquer coisa, Afirmar que absolutamente nfo ha alguma coisa 6 ai mar 0 nada absolute, 0 gue 6 absurdo © apoditicamente re futado. Que o que ha € algo que ha, ¢, a0 mesmo tempo, € absolutamente nada, é absurdo, porque afirmaria a pri senga ¢, simultineamente, a auséncia. Resta apenas, po tanto, que o que ha nem é algo que ha, nem é nada absolute. ba MARIO FERREIRA DOS SANTOS Como no hé meio térmo entre sey e nfo ger abaolutamente, © que hé ha, e ndo pode no haver, restando, portanto, como Uiniea conseatiéneis' absolutamente’ valida, mesmo para essa dialéctica: que hé alguma coisa, ‘Vo-se, assim, que, por tédas as vias que se pereorram, a tese alguna coisa hé 6 absolutamente verdadeira, COMENTARIOS DIALECTICOS Nao se pode negar 0 extraordiniirio papel que eabe a Intuigio apofantica (iluminadora) na filosofia, Os irracio- nalistas 20. positivos em suas afirmagbes em favor das in- tuigées apofinticas e eriadoras, e também 0 so quando e=- fabelecem restrigées ao papel a razio, como ela é conce- ida na filosofia moderna pelos racionalistas. F fazemos essa distingao, com o intuite de evitar as confusbes to cos- tumelras, pois a rationalitas, em sentido lato, é 0 entendi- mento, o’conjunto da facaldade commoscitiva intelectual, em oposigio & sensibilidade, o que, naturalmente, inelui a intul- ‘eho apofantica, que nao é de ‘origem sensivel, mas intelec- tual. Em sentido restrito, impGe-se distinguir entendimento (Verstand) de razéo (Vernunft), ou como o faziam os excv- léstieos, entre 0 intellectus (inteligéncia), que eapta ime- Gintaménte a eséne'a, © a inteleegho ou penctracio intelec- tiva, que se confunde com a intuigo intelectual e, final- mente, a atin, que é 3 fneoldavle do pensar discureiv classificador e coordenador dos conceitos, 0 que prapriamen: te caracteriza mais intensamente 0 homem. A capacidade abstrativa do nosso intelecto (que 0 ‘entendimento) realiza 0 pensamento que abstrai, compara © decompée; € analitiea, enquanto a razdo 6 uma fangao Sintetizadora, pois conexiona, da unidade, ¢ estructura, em conjuntos estructurais rigorosos, 0 conhecimento virio ¢ figporso do homem. A rasao de per si nao cria. Demonstramos em "Filo sofia e Cosmovisio” que 0 set papel sintetizador, e emi- nentemente abstracto, afasta-a constantemente da concregio, sem que a eologuemos contra a vida, como algo que so desse fora e contra a vida. A razio, por si s6, nao € suficlente sem a longa elaboragio do entendimento e das fases m: fundamentais da intelectualidade humana, undada na in- 56 MARIO FERREIRA DOS SANTOS tuigdo intelectual generalizadora, & a razio sintetizadora, o, ademais The falta o mais profundo papel poietico, criador. Eis por que é vicioso 0 pensamento racionalista que de- seja partir do conhecimento racional, tomado aprioristica- mente. No entanto, a razao, actuando a posteriori, depois de dado 0 conhecimento analitieo, funetonando em seu papel ordenador, classificador e sintetizador, realiza uma obra grandiosa. B ésse o pensamento de empirismo-racionalista, que vem desde Aristoteles através da escoldstica, Aqui a Taziio est colocada em seu verdadeiro papel. 1 facil agora compreender porque t0das as tentativas de matematizagéo da filosofia, que foram fundadas no mais ru racionalismo, tinkam naturalmente de malograr por cair fem construgées inanes, vazias, porque a razio, actuande ape~ nas em sua fungao abstractora, tonde, fatulmente, ao esva- ziamento das heterogeneidades, a ponto de atingir 0 dpiee do abstraetismo, que é 0 nada. B assint que a actuacdio meramente racional tende a esvaziar os vonceitos, quando racionalizamos ao extremo, como temos evideneiado de mo- do definitive em nossos trabalhos, © método, que usamos nesta obra, evita-nas ésses per- caleos costumeiros, pois nao nos fundamos no deductivisme idgieo do racionalismo, nem no indnetivismo, que geram sal- tos de uma esfera para outra, muitas vézes perigosos, e nou tras falgo, Nosso método procura tomar 0 raciveinio a pos- terior! 2 intuigéo apotantica, que as eontigdes ontologicas oferceem. Quando aleangamos uma situogao ontolégiea, ela exide, necessériamente, uina sé resposta, ela é por si mes- ma, esclarecedora, ela se apresenta mua’ A intuigao intelec- tual do entendimento. Bo que se vo em fuce das teses demonstyadas. Nao hé propriamente deduccao nem induc Gio; hi revelagéo, desiudamento, desclamento, A necessi- dade ontolégica resulta, exibe-sé, ¢ ela mesma inougura a descoberta pelo espirito do homem. E 0 rigor ontolopico, & © logos do ontor examinado, que esplende, que ilumina o que estaya oculto (apophaos).. Nosso trabalho 6, entio, ape- nasmente intuitivo-apofantico, e a sacionalizagio processa- se a posteriort, Esea matematizagio da filosotia nao 6, pois obra apenas empreendida por uma busca inteneionalmente mental. A matematizagao ontologica impée-se por si mesma ao espi- FILOSOFIA CONCRBTA 87 ito. Nosso método 6, pois, de deseoberta © nfio de procurs. R como uma vereda que nos levasse a um prado, de onde descortinamos 0 esplendor das coisas belas, porque verda- deiras e verdadeiras porque genuinamente velas. Nés nao 0 buscamos; nés 0 achamos, nds nfo foramos a sua desco- herta, le se revela exigente a nds. A matematizagio da filosofia, como a empreendemos, no € uma zealizagdo nossa 6 apenas o resultado de eontemplagao da verdade, como ela esplende gos nossos alhos (1). Atentemos dagui por diante, no exame das teses, para ésses aspectos de que ora falamos. Ademais, mostraremos que @ entrosagem e coordenacéo dos logo nao sao produtos de uma composigio humana, de um trabalho sintetizador do nosso espirito. A coordenagao impde-se de per si; a unida- de ontologica da filosotia eonereta revela-se a n0s, € 6 ela que dirige o espirito 4 contemplagéo. £ um reveldr-se, um desnudar-se, um desvelar-se constante. O nosso trabalho cconsiste apenas em dar aos térmos verbais aio apenas um conteddo esqueméitica noétieo-vidétiea, mas 0 eontetide es quemdtieo eidético, independente de nos. A Filosofia Con- ereta impde-se de ‘per si, independentemente do homem. Se o homem nao existisse, as teses impunham-se inde- pendentemente déle. Blas 0 antecedem, 0 acompanham ¢ © sucedem. © homem @ apenas um instante histories do universo, mas as verdades entologieas, por nis eaptadas, fogem, alheiam-se, separam-se de toda historieidade. Blas sao allieias & historia, e, por isso, virgens das sedimentagoes decorativas do espirito humano através da sua histevieidade. Os contetdos conceltuais impOem-se de per si. E cada contetide € assim, ¢ néo pode ser de outro modo, ¢ revela-se necessariamente assim edmo & exposto. Esta é a fundamental raziio por que a Filosofia Conereta uma matematizagio do conhecimento. ‘Tra a marea hu- mana, apenas no clementar dos termos verlais, mas os con- tetidos ultrapassam o homem. A Filosofia Conereta, déste modo, transcende campo antropolégico, para revelar-se como genuinamente ontolégica. (2) A metodologla que empregamos & examinada © exposta ein , de nossa auterin. — A cantemple- {eto impitea a Tectio (ligio, excolha), w meditatic (meditagio) © ‘ratio (slccurse). A meditagio & portato, funcamental be MARIO FERRNIRA DOS SANTOS Igualmente se dé quanto aos portulades prineip: matemétiea, les valem de per si. Revelam-se ao homer. Eels por que a matomatica manifesta-se melhor através das intuiges humanas, e deve suas conquistas mais aos dotados ‘exprit de finesse, do que qualquer outra diseiplina, O es pirito geométrico (Vesprit de géométrie) constroi apenas & racionalizagio posterior. Os grandes mateméticos foram intuitivos apofanticos. F. intuitivos apofinticos foram tam- bém_os grandes filésofos, aquéles a quem cabe um papel eriador (poiético) na Filosofia, Distinguo-se, assim, a matematizagio filoséfiea de "esprit de géométric”, dirigida pela razio aetuando aprio- risticamente, da matematizagdo de “Vesprit de finesse”, que 6 iniuilivo-apofantiea, e que nasce de uma revelagéo onto- ogiea, como acima dissemos. F comum considerar-se que # falta de precissio mate- mitica da Filosofia, ¢ sobretudo da Metafisiea, no & con- seqiiéncia da falta de um método, mas sim da’ prépria na- tureza da Metafisica, que é um produto da insecuritas humana, no dizer de Peter Wust, ou 0 produto da nossa ignordncia na busca das respostas &s magnas perguntas do homem, no entender de outros. Embora titinieos os intentos feitos, tdda_a vez que 0 hhomem escolheu um “eaminho real" (méln'odos) matemé- tico para a Filosofia, essa provideneia termmou num grande malgre. E malogrados eatéo, de antomio, no pensar ger. todos aqutles que, outra ver, tentarem procursr um tal et: Partindo as cigncias naturais de certos pontos seguros, podem clas, sem aleangar as primeiras e tiltimas eausas (e aqui empregamos esse. térmo no sentido aristotélieo), esta helecerem-se firmemente, e manterem-se dentro de postuli- dos universalmente vélidos. Masa Filosofia, por ter fatal- mente de partir de mais distante para aleangar o mais Ton. ginquo, nao tem aquela. base de seguranea (sveuritas), que a cigneia natural pode usufruir. A Filosofia encontra suas di- ficuldades deade o inicio, devido & impossibilidade radical, para muitos, de dar uma evideneia apoditica aos seus prin. Gipics fundamentais, como 0 de contradigio, 0 de razio sul ciente, 0 de eausalidade, ete. Para a filosofia elassiea, tais prinefpios eram de per si evidentes (principia per se notas), FILOSOFIA CONCRETA 59 € nfo sofriam os excoldsticos com agudeza de eonseidneia 0 abismo da insecwrifas, que se dé quanto a ratio lnmana na filosofia moderna, para repetirmos uma passagem de Wust. Aquéle estado feliz de inocéncia infantil dos escoldsti- os néo a tem mais o homem moderno, roido e eorroide pelo cepticismo, X init repetir aqui as scusagies eostumeiras contra a rasio © contra as possibilidades pensamentais do homem, que todos os adversirios das noseas possibilidades esgrimi- Yam através dos tempos. Se realmente a razio, de per si, nio € suficiente para estabolecer com securitas 9 conheei- mento metafisico, se 2 intuicao, pelo seu irracionalismo, tam- Jem nko 0 6, como apontam otitros, se intelectualmente, em suma, nao esti 0 homem habilitado suficientemente para §nvadir 03 terrenos ocultos do conhecimento, nao se pode, contudo, deixar de estabelecer o seyuinte: hil positividade ¢ hom fundamento em muitas dessas acusagées. Mas nenhurea elas procede em relagéo & Filosofia Conercta, Ea razio € muito simples; 6 que 0 método dialéctico-ontolégico, por nis escolhido como oeapaz de dar ao homem a seeuritay do- sejada, ndo se funda na esquematica que o homem constréi, mas na esquematier ontologies; isto 6 na necessidade on: tologica. mister, pois, distinguir os coneeitos logieos de os ontologiens CONCEITOS LOGICOS E CONCEITOS ONTOLSGICOS A diferenga entre os conceitos légieos ¢ os ontolégieos ‘consiste em serem os primeiros produtos da abstracelio fun- dada na experiéneia humana, com a qual tém muitas vézes apenas um nexo de adequacao. ‘Mas os coneeitos ontoldgicos nao sio construfdos através da experiencia apenas. Bles surgem da necessidade da coisa, Sao independentemente de nés, éles se nos Impéem in-codivelmente, necessariamente, Assim infinito 6 necessiriamente o que nfo apresenta limites de qualquer espécie. Este 6 0 conecito ontologico de infinito (1). Nés captamos 0 conceito ontclogico. ndo 0 construimos. Hssa eaptagdo so processa através de operagao de nosso es pirito, que consiste em exeluir tude quante é contingente, accidental, para aleangar ao que é necessiirio. E, ontold- gicamente, podemos falar no que é necessario absoltitamente simples, ou no ncecaslirio hipotiticamentc absolute. fate liltimo se caraeteriza pelo juizo: Se A é, necessiriamonte 6. “0 primeizo € aguéle ao qual no cabe qualauer condicio- nal, porque ¢ ineondicionado, Assim 0 Ser Supremo é ne- cessério absolutamente simpliciter, como voremos. © homem nao 6 necessiriamente o gue é por uma ne- cessidade abyoluta.simpliciter, por que o homem & um ser contingente, e podia nflo existir, mas se o homem existe com a forma humana é hipotéticamente necesséirio que seja o que (D,_ 0 concelto léxieo permite diversas weepeBes, € 0 jul ico € bivalente, positive ou nevative. Ou Ae Bow A nto é B O-conceito ontoldgicn 86 edmite uma acepedo, 3 pode ser isto, € Ido aguilo; @ menovalente,” A € necessiniamente A, & 0 enunciado do julzo ontoldgico. 86 hi Juizo ontoldeico once hi monova'en-is, Dnecossidade de exelusto. 0 juizo catologien exciinivo © exchaienter 62. MARIO FERREIRA DOS SANTOS 4 Mas podia haver um sor inteligente, como 0 6 9 homem, sem ser éste homem, mas com outra natureza. Mas pode- rinmos afirmar que ge 6 homem, necessiriamente & 0 que 6: animal racional. Para que ee distinguisse ele do homem, como o homem é, deveria ter uma diferenca espeeifiea ontra que a de homem, que é a racionalidade. 2, assim, que se o homem é necessiriamente éle é 0 que éle & E, deste modo, estamos considerando ¢ homem dentro da dialéctiea ontologiea. Ademais se vé que a doutrina aristotéliea do gonero e da espécie, por Ole construida para a Logics, tem validez centolégica ‘segura. PROVA Chama-se de prova em geral qualquer proceso da men- te pelo qual adquirimos de alguma coisa uma certeza. Nesse sentido amplo, inclufmos as espécies racional, irracional, ete. A prova rucional, também chamada inteleciual, & um 'pro- eesso da razio, que decorre da experiéneia imediata, quer interna, quer externa, através da andlise dos térmos, dos principios do raciociio, por meio dos quais adquirimos certora de algo. A prova irracfonal no ee funda propri mente em coneéitos ou juizos, mas no sentimento, na aceao, na simpatia, ete. A prova racional pode ser imediata e medinta. A ime- dicta, @ aquela por cujo proceso adquirimos a eoxteza de alquma coisa, que se manifesta por si mesma a nossa mente, como & que surge da anélise imediata dos eonevitos e dos factores. A mediata ndo se manifesta por si mesma ao in- telectn, @ 2 que eaptamas alravéa da proceso inteleolnal, pelo emprégo de meios, como se processa no raciocinio, na. argumentagho, na demdnstracdo. A prova mediata 6 propriamente a demonstragéo, a qual pode ser directa ou indirecta, £ directa quando adqui: rimos a certeza de alguma coisa, nao que ela se manifeste de per si ao inteleeto, mas quando decorre necessAriamente do que se manifesta de per si ao intelecto. A indirecta & fa que usa outro proceaso, como seja 0 emprégo das negatl vas, dos contrérios, ete. A demonstracio directa pode ser inductiva e deductive. E inductive, quando de algunas coisas singulares se deduz, luma conclusio universal, e deduetiva quando de prineipios universais deduz-se algo menos universal ou, entiio, 0 sin~ gular, A demonstragiio deduetiva pode, por sua vet, ser a priori, @ posteriori, a concomitante © a simultaneo. A de~ 64 MARIO FERREIRA DOS SANTOS monstragao « priori € a argumentagio na qual a conclusio @ deduzida das premissas que eontém eausas vordadeiras ou rario suliclente delas, a qual esta na eonelusdo, Assim, partimos da aceitagao que a alma humana é espivitual, de- duz-ce a priori que ela é intelectiva. Bstabelecido o rigor fontoldgico de um conesito, déle se deduz a priori o que néle ontoldgicamente esté ineluide. Assim, quando dizemos que antecedente 6 0 que tem prioridade em qualquer linha, vee tor, ete, a outro, que The € conseqiiente, deduzimos a prior ‘que necessariamente hi, a todo conseqtiente, um anteceden- te, e que a antecedéncia é absolutamente nevessérin & conee- alleneia, A. dialéctica ontoléica, por nés_preconizada ¢ empre- gada nesta obra, usa a demonstragho deduetiva a prior’, mas sempre sujeita a0 rigor ontoldyico, € nfo apenas ao ligico, como facilmente se pode ver. A demonstragio a posteriori & aquela na qual a eonelu- siio 6 deduzida das premissas, que contém o ofelto ou pro- priedade da coisa que esti: na eonelustio, Assim, da existéne Gia de coisas contingentes ¢ eausadas, deduz-se existir uma causa ineansada delas, A demonstracio a concomitanite, rouito usada por nbs, rea nossa dialcetica ontologiea, é aqucla na qual a conelusio € dedurida das premissas que n&0 contém a causa nem 0 feito da coisa, que esti na conelusio, mas tanto a eoisa, que esté na premissa, como a que esti nh conclusho, estdo inse- parivelmente conjugadas, por dependerem do mesmo prin= cipio comum, A demonstragio a sinultaneo, yue & considerada como nao sendo propeiemente uma argumentagao nem demonstra. ‘cdo, € uma coyenigao imediata, na qual a conclusdo ¢ inferida, niio de outra coisa que seja causa ou efelto dela, nem de al guma coisa que dela se distinga, segundo uma razio de dis finedo perfeita, mas de alguma coisa que, implicita e fo malmente, j4 contém a conclusiv. Assim se é homem, é vivente. Nao ha ai propriamente demonstraclo, mas & &x- plleitacdo do que j4 esté implicitamente no auteeedente, ‘A demonstragio indiecta 6 0 processo da raza pelo qual adquirimos a certeza de algums coisa, nfo porque’ elt se manifeste por si mesma ao intelecto, nem porque tenha FILOSOBIA CONCRETA 65 cones positva ou intrinssea com algums esisa ane capta- cine, gee go ieee i es a Tatars (ad atyuriin), ou porgie no se. provam. os cra tire’ om pore we fdr dae € eoneca peD aaversirio (argumentum ad hominen), ou poraue a conchi- wee Tied or autordedosfidedietas (argeeentiom (25- fimowio) (A daica demonstragio indivecta, por ns usadn, & 0 angumento ad bondi. UAs demonatvagSes ireaoionas nfo as aptowetamos nesta bra alse aponat iatulgao apotuatien, a qual € acompa- sore ee ange demanctragao detctiva a prirt oX @ poste: ma dane Tazcoon no cecooter deste teal DA DEMONSTRAGAO ‘Todo conhecimento dado ou reeebido pela via do racio- ‘einio vera de um conhecimento pré-existente, afirmava Aris tételes nos “Segundos analiticos”. A demonstracio, para Aristételes, reduz-se a deducio silogistica. Possuimos a eiéneia: a) quando eremos conhecer a causa pela qual # coisa €; b) quando sabemos que essa cau- sa 6 a da coisa; e €) quando, ademais, nao é possivel que fa eoisa seja outra do que ela A causa da coisa 6 0 meio térmo, ravio da eonelustio, que € da primeira condi¢do. A relacio entre a causa e 0 efeito 6 da segunda e, finalmente, a conelusio deve ser ne- cessiria, € impossivel de ser de outro modo, que é a tereeira eondigfio, como nos mostra ‘Tredelenburg, que é & por nos preferida, sempre que possivel, na dialéetiea ontologica. Afirma Avistételes, ¢ com fundamentos, que dos exa~ mes por éle feitos, "o objecto da ciéncia, em sentide proprio, 6 algo que nio pode ser qulro do que €; ou seja, 0 objecto da cigneia 6 0 necessario.” E prossegue: “Por demonstraglo, considero o sllogise ‘mo elentifico ¢ chamo de cientifico um silogismo enja posse constitui para nés a eigneia.” Impie-se, assim, partir de premissas verdadelras, primeiras, imediaias, mais conheci as que a conclusdo, e’anterfores a ela, ¢ que so sus causa, Sao anteriores e mais conhecidos de nés 03 objectos mais prOximos da sensaedio; e anteriores e mais conhecidos de maneira absoluta os objectos mais afastados das sentidos, ‘As causas mais universais so as mais afastadas dos sentidos, enquanto as causas particulares sdo as mais apro- 68. MARIO FERREIRA DOS SANTOS ximadas, ¢ esaas nogies so assim opostas umas as outras. Aristoteles identifiea premissa primeira e princfpio, Um principio de demonstragao 6 uma proposigio ime- diata, ¢ é imediata aguela A qual nenhuia outra é anterior ‘Uma’ proposigao é uma e outra parte de um enuneiado, quan- do cla atribui um 36 predieado a um sd sujeito (pois ai hé identificagio) ; ela & dialéetiea, se ela toma indiferentemen- te qualquer parte; eln 6 demonstrativa, se ela toma uma par- te determinada, porque esta parte & verdadeira. ‘A contradigio € uma oposigao que nfo admite por si nenbum intermediario. Déste modo, @ parte da contradiedo que une um predi- cado a um snjeito © uma afirmagio, e a parte que retira um predicado de um sujeito € uma negagho. ‘A tese & suscepitvel de demonstracio, ou no, E quan- do ela se torna indispensavel, e impde seu espfrito como uma proposigio que envolve a existéncia, ela @ um axioma, Tor har axiomiticas, no sentido moderno, as teses da filosofia, {oi sempre tum desejo que animon 0 coragéo dos maiores 7 lésofos de todos os tempos. Hipdtese & aquela tese que supbe fa existéncia de uma coisa. Examine Aristoteles a diverséncia que bé entre os que admitem que todas as verdades sto susceplivels de demons. tracdo, © os que efirmam 0 contriie, Ambos pecam pelos cexeessos, firma, e ainda demonstra a falta de Fundamento ‘que Ihes’€ peculian, pois une afirmariam que tudo pode ser conhecido por demonstracko, e, outros, que nada pode ser eonheeido, Esta ultima posigao funda-ce em que @ demons- Uragao dos pasteriores exise o conhecmento dos anteriores, € chegariamos, afinal, a prinefpios mcognoseiveis por nao Serem mais. suscepliveis de demonstragao. Nao nos seria pols possivel conhecer as premissas primeiras. Déste modo, Zs conelusbes, que delas decorrem, néo eonstituiriara object de uma cigncia em sentido absoluto; o eonkecimento seria ‘apenas fundado na euposigao de serem verdadeitas es pre- inissas, Demonstra. Aristoteles que ha proposigdes imellia. tas, eitia verdude ¢ aleangnda independentemente da demons- tragio, Hla, assim, um eonhecimento superior, que & ante- rior it demonstragio, que € 0 conhecimento intuitive dos prineipios pelo espirito, FILOSOFIA CONCRETA 69 As primeiras verdades imediatas so necessiriamente incemonstraveis, mas evidentes de per si. As teses funda- mentais da Filosofia Coneteta, “alguma coisa ha” "0 nada ubsoluto nao ha” eo verdades evidentes de per ai, que dis- pensariam demonstracao. Essa evidencia nao & meramente subjectiva, porque, independentemente da esquematica hu- ‘mana, ela'se impde como verdadeira. © que 6 eonhecido pela ciéneia demonstrativa deve ser necessfrio, ja que necessario & 0 que nao pode ser de outro modo, diferente do que & Ora, uma demonstragdo neces siria constitui-se a partir de premissas necessarias, pois, do contravio, a conseqiiéncia nao poderia ser necessdria. Para que a demonstragdo atinja uma conelustio neces- ., impose que se faga por um meio tarmo necessti pois, do contririo, nao se saber nem por que a conclusio é necesséria, nem mesmo se ela 0 & $6 hé ciéneia do universal; mas, para Aristoteles, 0 u versal existe no priprio sensivel; ¢ simplesmente « possibi- lidade du repetigio do mesmo atributo em diversos sujeitos. 86 ha © universal quando © mesmo atributo pode ser afir- mado de sujeitos diversos. Se nfo inf o universal, nao bé térmo médio, nom por conseguinte demonstragéo, Acres centa Aristoteles que é mister haver alguma coisa de um € Identico, e que seja afirmada a multiplieilade dos individuos, dle mandira no equivoea, Ila principios quo nfo 280 coisas demonateaveis, conhecidos imediatamente por uma intuiglo do “nous”, cujo conheeimento dai resuliante & de natureza superior & da demonstra, Prova nde 66 doweonstra- 0, nas mostrando. A domonstragio é ora universal, ora particular, e, ade- mais, afirmativa ¢ negativa, Examina Aristoteles qual de- Jas é'a melhor, e também examina se ha superioridade entre a-demonstragio directa © a xa redugao ao’ impossivel. A primetra vista, parece que a demonstragio particular € a melhor pelas seguintes razdes: ¢ melhor a demonstragao que nos permite conhecer mais, e nds eonhecemos mais um coisa quando dela sabemos por ela mesma, do que quando dela sabemos por intermédio de outra coisa, ¢ exemplifice que corhevernos melhor 0 musieo Coriseo, quando sabemios ‘que Corisey € mmisieo, do que quando sabemos que o homem 0 MARIO FERREIRA DOS SANTOS 6 miisico. A demonstragdo universal prova uma coisa que nfo 0 sujeito, e nao propriamente o sujeito. Assim, para 6 tridngulo isésceles, prova somente que é um trifngulo, nfio que o isosceles ‘possui tal propriedade, ou seja que 0 ftriangulo isésceles tem dois angulos iguais. Contudo, mostra-nos Aristoteles a superioridade da de- monstragio universal, porque o que conkeee um atributo ‘universal, eonheve-o mais por si, que aquéle que conhece o atributo particular. ‘As coisas incorruptiveis fazem parte dos universais, enquanto as coisas particulares sio mais corruptivels. E para Aristételes, no se impée que se suponha 0 universal como uma realidade separada das coisas particulares, e, an- da, se a demonstragio 6 um silogiamo que prova a causa e © porqué, € 0 universal que é mais causa. Consegliente- mente, a’demonstragao universal é supericr, porque prova mais & eausa e 0 porqué, pois a demonstracéo, que mostra ‘@ cause 0 0 porque, & sempre melhor. Por outro lado, a domonstragio, tornada particular, cai no ilisnitado, enquanto ‘2 universal tende para o simples ¢ para o limite. ‘Enquanto ilimitadas, as coisas particulares no so cognoseiveis; 6 quando finitas que elas 0 so. B, pois, enquanto universal e nao particulares, que nds as conhecemos. Os universai sho conseqilentemente mais demonsteaveis, ¢ quanto mais {5 colsas sto demonstraveis, mais a elas se aplica a demons- "raga, B corroborando a sua posigéo, afirma que se deve pre ferir a demonstragio que ios fae’ eonkecer & coisa, € uma outra coisa ainda, do que a que nos faz conhecer a cuisa sbmente. Ora, quem possui o universal eonkece também o particular, enguanto que quem conkece o particular nfo co- mhece o universal. I pode-se demonstrar melhormente o universal, porque 6 Ge demonstrado por am termo médio, que € mais préximo do principio, © 0 que é mais préximo & a premissa imediata, que se confunde com o principio. E 44 que a demonstraede, que parte do prinefpio, € mais rigo- rosa do que a que déle nao parte, a demonstragao, que adere mais estreitamente ao principio, mais rigorosa que a que The 6 menos estreitamente liguda, E sendo a demonstragio universal, caracterizada por uma estreita dependéncia ao seu principio, € ela a melhor. Se eonhecemos a proposicao an- terior, conhesemos a que the 6 posterior, pelo menos em po- FILOSOFIA CONCRETA a téncia. No entanto, ao conhecer a posterior’ niio conhece- mos ainda de modo algum a universal, mem em poténcia nem em acto. E, para finalizar, diz Aristétoles que a de- monstragio universal € integralmente inteligivel, enquanto a particlar € eonhecida apenas, e termina pela’ e na sen- sagao. HG ainda superiovidade da demonstracio afirmativa sé- bre a negativa, I sendo a afirmativa anterior & negagio, Jd que a negacao é conhecida pela afirmagio, e a afirmacao % anterior, como 0 ser 0 6 ao nao-ser, resulta dai que o prin cipio da demonstragao afirmativa € superior ao da demons- tragio negativa: Ora, a demonstragao, que emprega pri cipios superiores, & conseatientemente superior. Nao ha demonstragao negativa sem que se apie numa demonstra Gio afirmativa, Ha superioridade ainda Ga demonstragio directa & da reductio ad absurdum, Se a demonstracao afirmativa é su- rior & negativa, evidentemente é superior a veduetio ao impossivel (1). Ciéneia € um conhecimento certo, aiquiride através de demonstragées, Demonstragéo é portanto, a argumentagéio, na qual, partindo-se de premissas certas e evidentes, deduz-se uma concluséo que se torna, também, certa e evidente. ‘Uma afirmativa é certa quando nfo dé lugar a davi- a, quando hi assentimento da mente 20 que expressa sera {DAs tundamentats demonstragses, que usamos nesta obra, Daselamse, sobratude, mas domonsiragoes dinetas © afiemalivan, t Yprlorl © a posterior, © a coneomitante, No entanto, para covroborat Ie proves, ara Ianetmnon tao da redactlo ad. absurdum, ors de de ‘monstraches neyatives de (da espécle, sempre com o intuito de ro- Inastecer s nossa prova, segundo tadea as vias conbecldas ¢ Usadas eto. esnito aumano. 2 a necessidade de sallenta-ias ¢ enumers-ins t es, pois 0 leitor perfeitamente perceve a qual espécie ela perten~ ce.’ Ademais, néo usamos sempre toda n gima probativa, sobre {do yuondo’ sao evidentemente reetaltivels ae provas adicionals, que se podem por para robustecsr a demonstragzo da tee 2 MARIO FERRFIRA DOS SANTOS © menor temor de errar, e também, euja contradiglo & con- negitentemente falsa. Como o corto e o errado esto sujeitos & esquemsticn subjectiva, busea-se, nesta obra, alm das demonstragoes fundadas nessa esquemitica, a demonstragio que caamamos dialéetico-ontolégica, que consiste em estabelecer premissas cerlas ¢ evidentes, dialectico-ontoldgicamente fundadas. Uma premissa é dialéctico-ontoldgicamente certa, yuan- do essa certeza surge da necessidade vntoiogiea do seu con- tevdo, Assim € ontoldgicamente certo que o antecior & que tem prioridade, 0 que de certo modo se dé antes, pre viamente owire Wa mesma espécic. Assim, como ainda veremos, 0 emnceito de eyeetiva ime plica ode efeito, pois o que é capaz de fazer algo, quando lz lus algo. Bisse rigor ontologie, que procuramas, & 0 que permite aleancar a metamatematizagao da filosofia, ‘Nio parte, pois, de enunciados admitides, mas dos que niio podem dersar de ser admitides como tals. Pode-te pi tiv de promissxs hipotétieas na lézien, como por exemplo esta: dado que A seja B, se Be C, A eC. No argumentar Gialéetico-ontoldgico nfo se admitem premissas dessa ordem, © que se alirme sé pode ser como se afirma, pois 0 cone watio 6 tas. Assim no Julzo alguna cote hd, 0 haver impliea agus ‘ma coisa e, 2iguma coisa, para ser siguma coisa, impllea 6 haver. “Necessariamente '& postulaglo de alguma coisa como presente implica que ela hf, 0 quo hd implica necessaria- mento alguma coisa. O nexd de necessidade & aqui patente 6 aimultaneo, eviiente, certo e verdadeiro. (1) A demonstragio, na logiva, pode ser a priori e a poste. viovi, como vimos, Ba priori se as premissas contem a caus da coisa, Mas, nas demonstracdes a priori, hd ora uma reado propriemente dita, quando as premissas podem ser pela rariio adequadamente distinguidas da conelusio, ora (@) Tomado logleamente © conceito de alguna culsa nfo ime plea 0 haver, mea desde gle afirinamos mia Provence, © haver dle FILOSOFIA CONCRETA 73 impropriamente dita, quando 2 premissas sio, pela razio, imperieitamente distinguidas daquela, como acontece, como Yeremos, quanto aos alribatos do Ser Supremo. Dinse que 2 argumentagio € @ posteriori quando con- tém as premissas, ou o efeito da coisa, que esta na conchae so; isto é quando partimos dos factos para provar uma lei (logos), quando dos factos podemos provar a realidade a conclusio, guando dizemes que A ¢, sua cansa B é. Na eseolistica, para as provas da exisiéneia de Deus, prevalecem a8 demonsiragées a posteriori, enquanto as de- Inonstragoes @ priori sao em geval desprezadas por deficien- fes., Desea fora, © chamado argumento ontoldgico de San to Anselmo & repufado por quase todos os grandes fildsofos, e800 defendem, mas com modifieagdes, Duns Seot, Leibaitz, Deseartes, cle," Oportunamente, mostraremos que o angus mento ontclogico de Santo Anseimo, pelo nosso métoda, tem tima valider que supera a de muitos outros axgumentos. Na Teologia © na Teadicéia, predominam os argumen- 1s a posterior’, ¢ quando se usam os « priori, usam-se 03 impropriamente ditos, ao estabelecer, por exemplo, os atri- butos de Deus. © principal fundamento para vejeitar os argumentos « priori propriamente ditos esta em que, nfo tendo Deus uma Causa de si mesmo, nem uma ravi a privri de sua existen cca, fal demonstragao nao pode ser eita, Pode haver uma ‘yazko formal Intrinacea de sua exist@neia, nfo porém uma razio @ prior’ da mesma. Mas eabe fazer aqui uma impor- tante distinedo. A demonstragao @ priori ontologica dis- tingue-se da demonstvagdo @ privrt logica, A detiniedo, que demos hd poueo, aceita e expressa pelos escolasticos, reie~ yese a esfera ligics. Quanto & esfera ontolégica nfo hd propriamente a relagao de causa e efeito. Nao € a cemonstracho ontolégica w. priori tundada no conterem as premissas as eausas da coisa. As razies onto~ Togieas so simultaness, ¢ entre elas ndo hi relagao de causa ¢ efeito, mas sim de nécessidade, Como ja vimos, do que & antecedente conclui-se que & unierior ao que € posterior de sua espécie, ov genoro, ou vector, ou classe. A anteriorida~ Gv implica ontologicamente a posterioridade mas simultanea- mente; como esta, aquela, O racioeinio dinléctico-ontoldxico 4 MARIO FERREIRA DOS SANTOS desdobra em premissas 0 que se dé simultémeamente, A ra- zo ontolégiea quando paira apenas nessa esfera, é simul- tinea as outras, como ainda veremos ¢ demonstraremos. Assim, também,’0 haver implica ontoldgieamente o algumd ‘coisa, embora logicamente alguna coisa nao implique 0 ha~ ver. Mas, ontoldgieamente, nenhuma evisa no hé, tomado ‘em Sentido absolute, & ontoldgieamente false, poraue alguma coisa hg. Nao, porém, deixa de ser verdadeiro que alguma coisa (esta ow aquela) ‘nito ha, pois pode ser verdadeiro que éste alguma coisa nfo ha, como nfo ha a cdr verde neste lipis, tomado nestas coordenadas, em relagio a mim 208 meus sentidos. Ontoldgicamente, no mundo dos séres onto- Iseicos, eomo ainda veremos, rege a simultaneidade, ¢ a re- Jagan de causa e efeito ni predomina, porque se hi neces- sidade da eausa para que haja 0 efeito, nay ha necessidade ‘que, por haver o untecedente, haja necessiriamente 0 conse- aliente possivel. No momento que o antecedente @ causa, necessitriamente ha o efeito, porque nilo pode haver um efei to sem causa, nem algo é causa se nao produz, um efeito, Mus causa e Gfeito implicam sucessio, e ha tal onde hé su. eessio. Onde nio ha sucesso, 9 relagdo de antecedento € conseqiiente € simultimea, ¢ a antecedéncia é por isso, ape- nas ontoldgica. Conseaiientemente, no ¢ de neeessidade ontoléqica que uma demonstragio dessa espécie « priori im- plique & presenea, nas premissas, da eausa, O que se exige © que, nas premissas, haje a razto ontologiea do anteceente fe da eonseniionte. ‘Maris adiante essas nossas palavras aerfo melhor ecor- roboradas, = mele Algumas diferencas entre o raciocinar ligieo e 0 onto- logico podem ser apontadas desde logo. Logicamente, poder-se-ia estaheleeer que 0 conceit de possivel contém ¢ de necessivio. Este seria uma espécie de Possivcl, pois algo necessirio, quando se deu, ou se dé, re- vela que era possivel; pois, do coutrario, nao ve daria, O necessfrio é pois, necessiriamente um possivel, Aqui esta, tomados confusemente, o neecssinio hapotéticn © 0 neveasie rig absolutumente simples. Aquéle 6 um poder ser que se actualizou de modo neeessario (nocessiirio. hipotético) . FILOSOFIA CONCRETA 6 Nao hé, eontudo, coizcidéncia eidética entre o possivel eo necessatio; dai nfo se poder dizer que tudo que & neves- rario & possivel maguele sentido exposto. Ademais, 0 possi- Vel exige o necessario, sem 0 qual aquéle nfo seria tal. Vase, assim, que, ontoligieamenta, 6 0 necessirio que dé a razao. (Jogos) de ser do possivel. ste, como um ente (on- tas), tem naquole sua razio de ser. Ontoligicamente, 0 necessério nio & uma espécie do possivel, nem este uma espécie daquels. Na dialéctica on- Tologiea nao ha relagées do género e espécie, no modo por aque foram estahelecidas por Aristételes no “Organon”, € que Permaneceram na Logica Formal. 14, apenas, relagdes de Eimultaneidade, ou melhor, de concomitdncia, mo que nés eonatrulmos, eidético-noéticamente. Nossos esquemas loui- cos eo estructuras proporeionadas & intencionalidade de nosso entendimento, "Sao constituids como unidades, for- mais, que @ actividade abstractora de moss mente reduz a unidades scparadas, Na realidade ontologica, essas estrue- furas nao se dio por implicagdes e complieagdes identicas & Ga logic, Aleaacamos pela mente a isting conceitual Que surge necessiriamente da anélise. Recebemos um co- Mheeimento primordialmente sintético, que a analise desdo- bra em conceltos varios, Mas o exame ontolégico faz rv saltar 0 conereto, o que se dé unitivamente numa totalidade; Sto 6, concomitantemente. Ha, sem divida, implicincla ¢ complicincia, mas fundadas num nexo de necessidade onto- Yomlea. A dialectica ontologica nav repele a légien, néo a nog, nao a abandona. Mas, torna-a apesterioristica, ou bejay £6 acelta e emprega o racioeinio com juizos logieos. depois de os haver devidamente fandado ontoldgieamente. esa providéncia é acauteladora, e evita os perigos de um racioeinar meramente logico, que pode levar a erros, de- vido ao carécter bivalente da I6giea formal, Desde que se aleanga o valor ontolégico, 0 juizo xeduz-se ao enunciado “A G necessariamente B, ¢ 56 8". Esse enunciado expressa bem fa diferenga, que é por ora suficlente para os nossos exames nesta obra. Uma demonstragio mais cabal de nosso método ‘ontoldgico, bem como a exposigio pormenorizada das provi~ éncias que so impdem usar, nbs o fazemos em "Métodos Logieos © Dialécticos”. Ai mostramos que hi um racioc!- nar triplice. um que sobe, um que deseo e am que s0 estabi: liza eqiidistantemente dagueles. Em sume, é 0 seguinte: 6 MARIO FERREIRA DOS SANTOS f dialéctica ontologies, em busca dos nes sidade, € raciocinar ascendente; X08 de neces: a légica formal, com t6das as contribuigdes dos medie- valistas © as da logatica moterna, constitu! © parte ca estabilizada e fundada naquela; ak parte central & dialéctica, no. sentido classieo, a decadalet pentadialéetia, por nés estabelecdas ‘coro mleg te eereen conertosntin ou tos pear aie dene 4 onl © eataheloce ands até das singularidades cone um raciocinar descendente, sy const Uma dialéctica simbati . letiea ea, como a que propomes em ‘Traiado de Simiolica”, ausitianoy a aleangdr fo masta, dor ontologies, pois, euina 0 mostraremon ain gests or, 0 ractoeinio analdgico, que segue as notmas sacralce piety leas, auslinenos a deseobnira tel (logon), aac oe ae dam as analogias, 0 que permite ofereecr uma boa via pata © exame das religiées, ligando-as a dialéetica ontolagice, DO VALOR DO NOSSO CONHECIMENTO Através do método que usamos nesta obra, tendemos a construir uma disléeties ontolégiea que nfo pretende subs- tituir a logiea, mas apenas dar-lhe os fundamentos ontol6~ sgicos que julgamos nela faltar. A vin légiea pode levar-nos A verdade mas também a falsidade, enquanto a via ontolé- giea, como © provaremos, se nfo nos leva a thdas as ve dades, pode, contudo, evitar, com seguranga, que resvalemos na falsidade, Ademais, demonstraremos que via ontolégica € m mais segura, e nos permite, nela fundados, reexaminar (6: das as estructuras logieas, dando-thes 03 contetidos precios, ‘que nosso método dialéctico-ontoligico pode oferecer. Ao construirmos a “Filosofia Conereta”, dirigimo-nos 208 nossos semelhantes, e se procuramos fundar nossas pri- mciras (eses gem a Impresvindibilidude do homem, nB0-po- demos negar que é eomo ser humano, que a fundamos, Poderia alguém preeipitadamente dizer que a verdade ontolégica, por nés afirmada, ainda é relativa a nos, é, por~ tanto, inerente & esfera antropolégica, pois € através de nussos meios de comunieaeao e de pensamento que argumen- tamos @ favor da nossa tese. Mas essa objeccho eal fieilmente por terra, porque 6 no homem, € no antropolégico, que se dé a commnicagéo do pensamento ontolégi¢o, nao, porém, seu fundamento. “Ale guma coisa ha” nfo se funda no homem, mas neste apenas 8 sua comunicagio. B, ademais, se se fundasse apenas no fhomem, a tese estaria por sua vez demonstrada, ¢ a afir- mativa estaria salva, pois uma ilusiio nfo poderia ser um 8 MARIO FERREIRA DOS SANTOS nada ubsoluto, mas ao ser ilusfo, era alguma coisa, e afir- maria, por sua vez, que “alguma coisa hi", Conseqitente- mente, a afirmacéo tem prioridade, pois 0 conceito de prio- ridede implica que algo & anterior a algo, em qualquer esfe- ra que tomemos, © sob qualquer espécie que a consideremos, Algumas teses subordinadas decorrem dus primelras. RSE 18 — 0 que tem prioridade 6 alguma coisa, Se a prioridade vem do que 6 absolutamente nada, a prioridade esté negada. A afirmagdo é pois, o fundamento real da prioridade, ‘Tesz 19 — 0 que fem prioridade & afirmativa, Se o que tem prioridade 6 nada absolutamente, a atir- mago esté consegllentemente negada. A prioridade, por- tanto, fundamenta-se numa afirmacao. ‘TesE 20 — Se o nada absoluto tivesse prioridade nan erin nada absoluto, pois seria afirmativo. Provado que o gue tem priovidade é afivmativo, se o nada absolute tivesse prioridade ao ser seria afirmative, & no se Ihe poderia chamar de nada absoluto. O nada absoh to é ontoldgicamente impossivel de qualquer modo, como J vimoe nae outras domonstragoes J4 Teitae. TEsE 21 — A divide hamana ofirma. De qualquer forma a diivida humana afirma, mesmo quando ela se dirija até & propria divida, davida da davida. © acto de duvidar 6 afirmativo, porque algo duvida, algo afirmando e afirmante duvida. ‘Test 22 — A diivida absoluta 6 impoastve, A diivida seria absoluta quando até 0 que duvida néo fosse absolutamente nada, Neste caso, nada duvidaria, & a diivida estaria totalmente negada. Portanto, nao sendo possivel a davida absoluta, a diivida s6 pode ser relativa e, de certo modo, fundada afirmativamente, 0 que, por sua vez, afirmaria algo, o que é exeludente da absoluta negacho. 80 MARIO FERREIRA DOs SANTOS ‘TeSE 25 — A afirmacao tem do preceder necessiviae mente & negagio, Como necessitriamente 0 que tem prioridade ¢ algo afir mativo, a afirmagao, outoldgicamente, precede & nepacao, Ademais se provaré, oportunamente, que a negagio ¢ sem: pre relativa, pois ao negar algo, a megagho afirma o alir- Mado. Se a negacio afirma, ela nfo pode eer absohutaments negativa, mas apenas relativamente negativa, Conseqtion temente: TESE 24 — A negucéo afirma a afirmagéo, A negacio, por ser relativa, afirma por sua vez algo. Pois negar s6 pode sor a aleguefio que exclu’ da oxist@ncia cu do ser, algo que, de certo modo, 6 acital ou possivel. A. negagio da negacdo por sua vex afirmaria a afirmagio, E dat: TesE 25 — A negucdo absoluta seria, por sua ves, afirmagao de algo, Se, como o demonstramos, a negugio relativa funda: menta-se em algo que é mas que 6 negado, a negaeio abso- uta veria a negacto de’algo que absolutamente nao é Por. tanto, negucio absoluta terminavia yor ulirmar que alzo €. Conseqiientements ‘Tese 26 — A neyaodo 6 sempre afivmativa, seja de que modo far. Parta-ce de onde partir, a negacdo sempre afirma, 0 que termina por negar uma negagao absolutamente sitaples, vin. do eorroborar a tese fundamental, que & nosso ponto de par- tidar Alguma coisa hd. COMENTARIOS SUBORDINADOS © cepticismo sistemético parte, conseyiientemente, de uma afirmagdo. -O eéptieo, de certo modo, afirma; sfirma, portanto, Imaginemos que éle negue a tese do dogmatismo mode- rado, que diz: “por introspeeedo, somos ednscios de que em nds existe um estado de certeza, ora de ddvida, ora de opi nifio, pois nés, ora temos certera (alguns), ora duvidamos, fora opinamos.” Bsses estados se do, Contudo, 0 eéptica sistematico suspende seu jutfzo, considerando que nada pode afirmar. Por mais sistemétieo que seja o copticiema, em nada ofonderia a validez apoditiea de nossa tese, como passare- mos a provar. Passaremos, em primelro lugar, a dar todos os argu- mentos favorivels ao dogmatisme maderado, depois a consi- Gerar as razdes dos cépticos, e, finalmente, seguiremos 9 caminho da dialéetien ontologies. A certeza, para 0s dogmiticos moderados, 6 a adesio Sirme do entendimento ao objecto conhecido, fundada em um motivo evidente, que exelui todo temor de errar. Ha verdade Wgica, quando hé conformidade entre 0 esquema cidético-noétieo e a realidade da coisa conkecida, E dizse que ha verdade metatisica ou ontologiea, quando & visa conhecida & adequada ao nosso esquema, Ora, & verdade légica opde-se a fulsidade; & verdade ‘ontolégiea opde-se a negagio de téda realidade, 0 nada. Se algo ontoldgicamonte nao 0, 26 The podemos prediear o nada, A verdade ontoldgiea de um jutzo decorre da perfeita adequacao do que se predica ao sujeito, euja relacao ou 6 82 MARIO FERREIRA DOS SANTOS necesséria ou € da propria natureza da coisa, Assim a prio- ridade indica a anterloridade de algo em vector ou ordem ou eapéeie a outro do mesmo vector ou ordem ou espévie, necessariamente. A anterioridade est necessAriamente in clusa na estructura ontoldgiea da prioridaie. Assim qual- quer acto de espirito ¢ em si afiymativo, porque onde ha uma acelo, hi afirmac&o, embora a acco seja negadora que, neste caso, @ a afirmacao da nio presenca, da auséncia de alguma coisa ou da recusa de algo, como vimos, Os dogmaticos moderados fundam em geral sua po eho na certena, que é humana, E esta surge, para eles, apo- diticamente Capoditicidade logica), pela reflexto ow’ pela observagao subjectiva, que revela muitos actos psiquicos he- iwrogéncos, entre eles os representatives, nos quais se di tinguem Varios estados, tais como: a diivida — guando nfo damos nenhuna adesto firme do entendimento, ea mente permanece suspensa com temor 8 opinifio, quando hi adeso da mente, mas com temor a certeza, quando hé essa adesio da mente sem temor de ern Ora, a verdade logica esta no juiz0; a verdade ontold- gira ost na esséneia da propria eaisa. A cortera ontologies € firme. O que tem prioridade € de certs modo anterior. Se a prioridade € cronolégiea, tem anterioridade no temp se axiolégiea, tem-na como valor, ete. Na certeza ontologica, nd uma evideneia intrinseea. uigulo antropolégieo, 0 que engendra a certeza na mente deve sor um motivo supremo, o Gitimo porgué de toda certeza. E ésse motive supremo deve ter fs seguintes eondicoes: a) Ser primério na ordem cognoseitiva, de maneira que nao supouba outro do qual dependa, Censequentemente, sera indemonstrével, © 9 mais jéeit de ser conhecida por todos. b) Tera de ser universal, isto é hi de estender-se a todos os conheeimentos certos, e deve estar Incluido em to- dos 0g outros eritério FILOSOFIA CONCRETA $8 ¢) Ha de ser necessario, de maneira que sem éle nie enham valor os outros motivos de certeza ) Ha de ser 0 altima, no sentido de que néle venham tinalmente resolver-se todos os outros. 0 gue tom tais condigdes 6 a evidenein obje a evidencla objectiva de que o iodo macrofisico & quantitati- vamente maior que cada uma de suas partes é suficiente pa- ra obrigar qualquer mente a assentir firmemente com a ver- dade que tal principio encerra, A certeza 6,subjectiva, mas a evidéncia € objectiva, £ f@ segunda que cngendra a'primeira. A luz da evidencia 6 bastante para si mesma, e nada mais se poderia pedir, por- que é ela suficionte. a evidencia que encerra em si todos vs requisitos anteriormente apontados. Poder-se-ia objectar que a evideneia pode levar ao érre. Se alguns so levados a0 erro, deve-se a néo terem usado a verdade e a razao, Nao é essa a evidéneia que empregamos para asse- xurar a validez apoditica de nossas teses. Nao precisamos agui repetir a longa poldmies em torn deste tema, que esté dispersa nas obras de filosofia, porque nfo € dela que lan- gamos méo, sem que por isso lhe neguemos validez, Se na verdade légica ha a adequacio entre o inteleeto ea coisa, ena verdade ontologica, a da coisa com 0 inte- ecto, em'ambas, ha, porianto, a adequade assimilagio entre © esquema noétiea-eidético e'a coisa. Numa, daquele com esta; noutro, desta com aquéle, Mas a verdade dialéctico-ontolégica exelai o esquema eidétieo-noético do homem. Nao parte déle, mas da razao do proprio ser. Quem di a solidez aos nossos esquemas noétieos-eidétieos € a razio ontolégica, é 0 logos do ontos. A. prioridade da afirmagao ¢ necossiria, ¢ ela afirma ‘gue alguma coisa hd. Essa verdade dispensa adequagéo, £ verdade em si mesma. O que constraimos novticamente vale na proporeio que eorresponde ao que é ontologicamente yer- dadeizo, Nossa verdade 6 dada pelo eontetido ontolégico; yor isso a Logica deveria ser sempre a posteriori & snalise ontolégica E o fundamento ontolégieo que basein « validez do 16- ico, @ nfo o inverso. at MARIO FHRREIRA DOS SANTOS A valida das idéias humanas esté na proporeao em que o ontoldgico Ihes dé contetdo. E yor easa raaio podese dai partir para téda uma nevis dos nossos Juans Togicas, como finda veremos. Nossos eaquemas (species) constituem 0 que, pelo quat (quo), & conherido o objecto, no 0 que € conhecide (species eat id quo objectum coqnoscitur, non id quod cognosettur) Esta. afirmacho escolisticn € de grande valor. Q esque eldctico-nostien expressado representa o objecto como ns centendemos, Mas a validez de tais esquemas é dada pela YValides dialéetien-ontologieo. ‘Ao partirmos do léqico, sdmente deduzimos 0 que 4 ‘sti nas promissas, somente deduzimas 0 que nas premissas 44 puseros. Por essa raz%0, com o uso da logics apenas, pode o homem perder-se aleangar 0 érro, Mas, na capta: ‘0 ontologica, ha outro modo de proceder. Por meio dels do extraimos o que pomos, mas o que ja esti na raZo da coisa, Désse modo, pode 0 ser bumand errar quando uss a logica. nfo quando usa a via dialéctico-ontologica. Do- Giam-se apresentar argumentos contra os antipodas, porque todas os corpos pesaitos eaem, e se houvesse séree abuixo de 26 cairiam, mas ontologieamente nada impediria que ho Verse anijpodis. Prsteriormente, conelui-st, gragas aos €0- becimentos cientificos, que 08 eorpos pesados cuem em di- reedo 20 centro da Terra. (como se d& em nosso planéta), o aie 4 afirmava Tomis de Aquine. Ja nevee enunciado, Gs'antipadas no so mais absurdos, S29 motivos como tais que nos levam a afirmar que a via dialéctico-ontologica supera a via légica, para alean mos 4 evidéneia, sem que se despreze o valor que aquela ofe~ rece para o filosofar, Mas o que queremos estabelerer, nesse nosso intuite de matematizar no bom sentido a filosofia, & que devemos sempre submeter as premissas logieas & and- lise ontoldgiea por nés preconizada, a fim de evitar os erros que a deficiéneia humana fatalmente provoca. E aqui encontramos ademais uma justifieago a favur de nossa posigio filosdfiea. Chamamos a nossa filosofla de conereta, precisamente porque se funda cla no antalogico, fe éste 6a realidade dltima du coisa, é a realidade funda- mental da coisa, Nao surgem as estructuras ontoldgicas de claboragoes mentais. Elas ndo so impostas pela nossa men- FILOSOFIA CONCRETA 85 te, mas se the impem. As estructuras ontolégicas sio vé lidas de per sie Justificam a sua validez, mostrando-se a nos. O que construimos ldgieamente temos de demonstrar, mas o fundamento dessa cemonstragio esta na mostragao da vaiz ontoldgica. Por isso, a via dialéctico-ontologiea é conereta, & 36 pode levar a’ construgao de uma jilosofia eonereta, Nao seguimos, assim, o eaminho usado pelos fildsofos de todos os tempos, sem’ que tal impega que muitas das nossis afirmativas ¢ das leses por nos demonstradas coin- ‘cidamn com © peysamento exposto por outros. Nao é, poréin, © pensamento alheio que fundamenta a nossa posigho; é 0 nosso métode dialéctico-ontoldgico que fundamenta os” seus postulados. A Filosofia Conereta nflo 6, assim, uma eons- fruggo sinerética do que ha de mais seguro no filosofar. E que o que hé mais seguro no filosofar, através dos tempos, 6 0 fundamental conereto, no sentido que damos. A Filo” sofia Conereta forma, assim, uma unidade, e a sua valider € dada por si mesma. Para mostrar a diferenga entre o Hilosofar submetido apenas ao légico e o filosofar dialéctico- contologico, apresentamos diversas diferengas, mas quere- mos oferecer outro exempto, Nao devemos confundir a génese noética do eonceito como conteiido légico, nem com a sun estructura ontolégi- ca, Tomemos, como exemple, 0 conceito de infinite, Combaiende os argumentos eseotistas, 08 suareziatas, ‘gue sto fildsofes tio. grandes como aquéles, ¢ to. grandes coma os maiores de totos os tempos, repelem a afirmativa Aéstes' de que a primeira diferenga de Deus € constituica pela infinitude. Para estes, Deus € 0 onte simplieiter infec hitum, absolutamente infinito. Ora, tal no. procede, afir~ maum, porque infinsto é algo negative, ¢ o negative Tunda-se em aigo positive. Ese fundado em’ algo positive, é3se po- sitive seria a diferenga primeira, ¢ constitutiva de Deu © infinito seria, pois, um sceidente, e nao podria constic iuir a diferenga priniciva, HA outras abjeegies ainda dos suarezistas que virdo a seu tempo, mas enquanto a esta po- Gersse-ia, abravés de uma analise dialéel co-ontologies, Yes ponder do seguinte modo No nosso mndo de conceber, a géneze do conceito de infinito (ctimoldgieamente tomado) surge de negagao da Zi- 86 MARIO FERREIRA Dos SANTOS nitude, in-finito, Mas se, gendticamente, 0 conceito 6 ne. gativo, nao o ¢ em sua estructura ontolégiea, eomo nao o & 9 conceito de Nao-eu, 0 de tomo (a-tomos), porgue se re. ferem a contetidos positives. Mas o eonteiido positive de infinito € a absoluta independéncia, o ser absolutamente ne cessirio, ‘Sea mente humana pereorre um longo caminho para alcancar 0 contetido conereto-ontalégico do conceito de infinite, o seu verdadeiro conteddo é 0 final, e no o que 6 dado nos printeiros ensaios. Neste easo, se tomarmos infl- nito em sentido meramente logico, o argumento dos escot! ‘tus € Inaceitavel, mas se tomarmes em seu contetido ontolo. zico € éle vilido.’ Este ponto vai merecer de nds mais adian. te outros exames, pois exige tivéssemos aleangado varios es ‘MMeios da andlise'dialéctico-ontoldgiea, 0 que ainda nfo Quoremos aponas mostrar, de modo suficiente por como se diferenciam os dois proceasos: o ligieo td oneld: ico, Ese apresentamos até aqui algums mises on tavoy de nosso métode, no decorrer desta, obra acreseentarenios outros elementos’ que corroborario ainda mais a sossa po. sigée, REFUTACAO DO AGNOSTICISMO, DO RELATIVISMO, E DO NIHILISMO Ontolbgicamente, 0 cepticisme universal, em face das teses jf demonstradas, nfo procede, pois nenhum céptico deixaria de reconhecer validez apaditica do que expuse- mos, pois nfo poderia afirmar o nada xbsoluto. Nem tam- pougo podé-loiam fazer o agnosticismo nem 0 relativismo, Caberia discutir apenas a posiedo nihilista. Veremos oportunamente que também no procedem as objeceées dessa posi¢ho & capaeidade humana de um saber yerdadeiro. Por ora, porém, inleressa-ios apenas o que se refere as teses expostas. 0 eéptico poderé dizer que nada sabe sdbre gue lid, mas ter de eoneordar gue hé alseums coisa, ¢ também 0 agnéstico eo relativista, pois, para éste Ultimo hi, pelo menos, @ velagio, ¢ o ser é relative. Os prineipais argumentos cépticos na Criteriologia po- dem ser simplificados em dos: um q priort e outro « pos- teriori, Aprioristicamente, «firma a impossibilidade de um eritério seguro e inapelivel da verdade por parte da razio, porque esta terd de demonstrar, ndo por si, snas por outrem, sendo impossivel alcangar um primeiro critério, base certa e segura de tida demonstragio. 0 defeito fundamental dessa objecciia eonsiste em afir- mar gratuitametne que tudo ¢ demonstravel, e que nada poder-se-f ter por eerlo e seguro sem uma demonstracio, Como a primeira deveria ser corta e segura. e como exige demonsiragio, essa seria indefinidamente levada avante. Estamos no diafeta, Mas j4 evidexciamos que nfo se prova apenas demonatrando, mas zostrando, brio de @vidéncia aue nfo necessita de, nem pode s+" justificado por outra, © que se justifiea por si mesmo: algama eoiaa hi Esta verdade € ontoldgicamente perfeita, porque a sua pro- 88 MARIO FERREIRA DOS SANTOS posigdo encerra em si a verdade. Nao ha possibilidade de uma fiegdo absoluta, porque @ stia mera enunciagao afirma que alguma evisa hi. Na proposigHo wlgumu evisa ha, 0 80 jeito € suprido perfeitamente pelo predicado. Essa eviden- tia € objectiva. “Se ¢ 0 homem que a promuneia, a evidénela Subjectiva apoua-se numa evidencia objectiva. Algwna cose fid, pois, para que o homem possa afirmar ou nfo que al- guma coisa hd. © segundo argumento dos eépticos esta no facto de nos enganurmos quanto & yerdade das coisas, E porque nos, enganamos alumas vézes, coneluem que nos enganames sempre. Quod nimis probat, mihil probat (o que prova ent demusit nao prova) afirmavam og eseoldstieos, © com fun daniento, porgue 4 conclusdo désse argumento aposterioy tia dos’ céptieos @ dogindtion, exageradamente dogmatico, aalém de estender a conelasio além das premissas, Que nos enganamos algumas vézes, é procedente a afi mativa, mas que nos enganumos sempre, & uma alirmativa que extede e refuta © proprio cepticisme, pois saberiamos. ‘ento, com certex, como verdade, que sempre nos engan mos. ' No entanto, aguma coisa hd retuta que nos engana- ‘mos sempre, porque 0 proprio engano afirmaria que “algu ma coisa hd”. Nossa tese, portanto, é valida também para os eépticos. © cepticisme tornarae-ia sinda mais absurda so nee se ate aiguma coisn hi, pois a sta megagao seria a afivmna: sao de que alguna coisa hi. Gonzalee simtetian sua objecgto ‘to ceptieismo com estas palavras, onde mostra a contradic sao Tondamental que a ahima: a0 falar ao caption ete az: “ou sabes que nae sabes nace, ou nao o sabes. Se mio 0 sabes por que o-atirmas?” E se-o sabes, ja sabes algo, € prova Ue que se pode saber aiguma coisa.” Repete, assim, lis pulavras de Sinto Agostino: “"Qnom’ pode duvidar qu¢ vive e entende, e quer, ¢ julga? Se duvida, vive: se duvide, fuitende que duvida; se david, € porque yor ter certers} Se duvida, penn; 80 duvida, sabe que mao fate; se duvida, inlga que’ cbnviém nko prestar um Aasentimrenta temerar i" (De Trinitate, Ho. X, exp. 10, n. 143 XV, 12). Ademais o cepticismo apliesdo & pratica seria destrue- ,, © tornaria impossivel a vida humana, pois 0 eéptico, para 0 Ser integralmente, teria de exeluir téda pritica. FILOSOFIA CONCRETA 89. ‘Pal nfo impede que haja um cepticismo até certo ponte, henctico para 9 progresso do saber humano, Se se trava yu uma grande polemiea na Filosofia, certa divida metédi poderé levar o homem a investigagdes mais longas € inais profundas, o que corresponderia 2 um desejo mais amplo le saber.” Contudo, convirit ostabelecer os limites désse cepticismo relativo, pois a divida metédiea de Descartes det fratos cides para a tilosefia, embora nao fosse essa fasta vercadeira imenglo, Entre os escoléstieos modernos, hé muitos que a admiiem, como Sentroul, Monaco, Monnot, Maguart, Geny, Donat, Jeanniere, Guzzetti, Maréchal, Mon’ tagne, Jolivet, No@l, d’Aquasparia, Kleuigen, Liberatori, Paimjeri, ete.” Admitem-na apenas metodicamente, em face do estado de cepticismo que avassala certas camadas inte- lectuais, © @ mecessidade de partir dela para estabelecer as bases fames de um critério gnosiologieo, Para a funda- mentagio de nossas teses, porém, a polemica que surge aqui cm nada viria diminuir a apoditicidade da nossa tese fan- damental: alguna coisa hi. A posigio agnésticn 6 fundamentalmente céptica, e pi dece dos mesmos deieitos do cepticismo e a sua refutacio se faz pelo mesmo caminho. J4 0 velativismo tem encontrado na époea moderna seus caltoves, Protigoras € considerado o fondador dessa posi- oho, ¢ a fese fundamental do relativismo consiste em afir~ nar que 2 nossa verdade relativa ao sujeito comnoscente. Nao eonhecemos © abjecto como ele 0 em si; afirma e finds nega possamos adequadamente distinguir ‘entre cog- nigio absclutamente verdadeira e vognigho falsa, j4 que a coisa nio pode ser captada, sendo segundo as nossas medi- das, Se hé um velativismo absoluto, hd, ademais, um rela Uivismo moderado, Este afirma que nossas verdades sio relativas 20 sujeito cognoscente, segundo o sea modo de co- nhecer, aceitando, portanto, que ha um conhecimento ver dadeird do que a coisa é em'si, mas proporeionado ao sujeito coxoseente, Ora, tanto 0 agnosticismo, como o relativismo universal c até 0 moderada nao podem por em divida a tese funda mental da filosofia concreta, pois se 0 agnostico declara que nao podemos saber 0 que & coisa 6 em si, nfo nega que algo hg e. por sua vez, o relativismo afirmaria que a relagao hi, ea relegio nfo @ um pura e absolute nada. 90 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Os relativistas intelectualistas, como os idealistas © os fonomenalisias, que chegam a negar a exsténcia da coisa em ai, € apenas afirmam a das nossas idéias e representa- Ges, niio negam, conseglentemente, que algo ha. No fundo o relativismo 6 eéptico, ¢ sdbre éle cai a mes- ma refutaglo. Pode-se, de certo modo, considerar o agnos- ticismo cientifico, bem como o psicologisme, 0 historicismo, 1 pragmatismo como cépticos, pois todas essas doutrinas s¢ fundamentam nos mesmos. postulados. Em “Teoria do Conhecimento” refutamos essas posigdes filoséficas, Agora, porém, em face dos postulados. funda mentais da filosofia conereta, 0 filosofar de tais filosofos em nada ofende os seus fundamentos, que seriam vilides, inclusive para Gles. © idealismo em geral, afirma que ¢ objecto conhe- cido € totalmente imanente’ao cognoscente, chesando até & negaglo do mundo exterior, como o idealismo acosmistie: de alguns, que nao nega, portanto, que algo ha, ‘Se os acosmisticos negam a existéncia real do mundo corpéreo, no afirmam uma negacio absoluta de que algo ud, nem’o fenoministice, ao afirmar que nosso Unie conbe eimento & aparente, nem os idealistas munfsticos, nem 0s pluralistas negam tal postulado. 0 idealismo é, em suma, relativismo, ¢, consegiientemente, eéptico. Em oposiglo ao ideelismo, poder-se-ia dizer que o inte- ecto humano 6 naturalmente ordenado a verdade, e que a verdade objectiva existe independentemente da eognigAo hi- mana. Mas a prova de tal postulado néo cabe por aa, pois vird & seu tempo, apds havermos trithado os caminhos da dialéctica-ontologiva. -O que, no entanto, Tiea afirmado, ante essas posigdes, @ que algo ha. ‘Também entre os filésofos anti-inteleetuslistas, como Bergson, Nietusehe, ¢ o§ existencialistas, que afirmam. se- rem insuficientes 0s meios intelectuais de conhecimento, © que a realidade conereta nés a atingimos através de uma experiéneia vital © aldgiea, apesar da fraqueza dos seus pos tulados, aceitam também que algo ha. A fenomenologia moderna, em todos os seus aspectos, ndo mega validez ao nosso postulade fundamental, FILOSOFIA CONCRETA ot Restaria apenas a posig@o nihilista absoluta, que nega~ ria terminantemente que algo hi, e afirmaria que nada ubsolutaiente néo hd. Tudo seria mera e absoluta ficedo. Mus tal posi¢do ainda afirmaria que a ficgdo, que & algo. hi, &, conseauentemente, que algo hi. Portanto, sob nenhum dos aspectos do filosofar, sob nenhum das seus Angulos, em nenhuma das posigoes filos6 Tieas consideradas em todos os tempos, nenhuma sequer nega validez a0 postulado fundamental da filosofia conoreta, © due prova também a sua universal validez Poder-se-ia, ainda, diseutir a validex dos coneeitos al- uma coisa (dliquid) € 0 de haver (ha). Mas que apontam fais conceitos? liquid diz-se do que tem positividade de qualguer modo, do que se poe, do que se di, do que se afir- ma. Haver indica presenga ‘de certo modo, predicado afitma que se pode predicar a presenga de algo (ser, devir, FiegHo, nfio importa), ¢ que ossa presenca tem uma’ positi- vidadé, pois no se pode predicar 2 absoluta aus@neia. En tre os coneeitos de presenga e de auséneia total e absoluta, ‘a mente no pode vacilar, pois a afirmacdo da segunda sevia negada pela propria afirmacao. Conseatientemente, prova-se ainda que ¢ verdadeiro 0 postulado expresso na’ tese abaixo: SSE 2T — #8 absoluiamente falen a predieagio da au séncia total ¢ absoluta C01 iseqilentemente: Tuse 28 — # abeotitarn de uma prescnea, vordadeira a predicagio ‘Tem, assim, o filosofar um ponto arguimédieo de par- tida sdbre 0 qual nenhuma objeegio pode sev feitas ou seja: hd um juizo universaimente valido absolutamente verda- deiro, sobre o qual se podem construir os fundamentos de um filosofar cocrente, que era a que desejévamos mostrar e demonstrar. Tese 29 — 4 verdade ontoldgiea prescinde da vigor pricologica, Ha distingao, sem duvida, quando nfo ha reeiprocidade verdadeira. Entre o rigor ontoldgico e 0 rigor psicoligico, ha distingdo, embora muitos afirmem que nao Na, resuzine dose aquele a éste. H4 distinefio porque o rigor psicologica exige 0 ontologico, mas éste mio exige aauéle, Uma verdade psicoldgica tal reulinente, quando onto- logicamente é verdadeira, mas uma vurdade antolégiea pode preseindir do rigor psicolégieo, Thse 80 —~ O Ser, que sempre foi c sempre é, & pleni- tude dbsoluta de ser. © que contradiz 0 Ser que sempre foi e sempre é, seria © nada absoluto, auséncia total e absoluta de ser Qualquer redugao no ser enquanto tal. serfa nada absolute (1) (2) Também mio poderia ser um nada absolute parcial (um ‘Yazio totol de ser 20 Tada do que &) come 6 pravaremas mais adiante, nem um ser relative, porque a positividade déste 96 hhavendo @ ser, por ser relativy do ser absolito, com vereius Res aria apenas sim nosser que corzespunicria a0 que aindacndu-anase spode-ser, ive chamamos Mom (ao gress mie, siegative, © ony ete) fo qual tratoremoa opertinaments) FILOSOFIA CONCRETA 98, © Ser, enquanto tal, é plenamente ser. Nao pode sur- gir de uma composicio de ser e de nada absoluto, porque @ste nao pode compor, porque & tmpossivel, eo tOrmo posi- tive da composigéo seria plena e absolutamente ser. Se éste nao fOsse plenitude absoluta de ser seria nada, o que é im- possivel Portanto, Ser ¢ plenitude absoluta de ser. Ora, o ser, que sempre houve ¢ Sempre Zoi, se no fosse plenitude ab’ soluta de ser, teria composi¢io eom © nada absolute, 0 que @absurdo. © ser do alguma coisa que sempre houve e sempre é, e sempre existia, 6 plenitude absoluta, sem desfalecimentos, sem ruptura, num continuum absoluto de ser, no seu pleno exercielo, pois ¢ essencial e existencialmente ser, como vimes, ‘THSE 31 — 0 Ser ¢, pelo menos, de certo modo, abso- lato ¢ infinito. E absoluto o que 6 ab-golutnm, 0 que 6 desligada, 0 que néo provém de outro, o que do precisa de outro para ser. © que se poe a si mesmo no seu pleno exereieio, Diz-se que um ser 6 infinite quzndo nfo tem finitude, quando néo tem fronteiras, nem limites. Ora, o que pode- tia Timitar Sue cer absolut © primordial, enquanto merdial? © nada absoluto? Bas este nao 6; nem teria eficaci- dade de determinar, de dar limites; pois, se tivesse essa aptidao, seria ser, Portanto. ndo poderia finitizé-lo o nada, porque 0 ser, que sempre houve © ha, 6 ab-solutum, € abso luto e primordial, & plenitude de ser, pois ossOncid ¢ ex: téneia néle se identificam, sio a mesma coisa. Nao tendo sua origem em outro, nem dependendo de outro, éle € a) absoluto; b) independente; ©) ingenerado, imprineipiado; 94 MARIO FERREIRA DOS SANTOS 4) plenitude absoluta de ser, sem limites porque s6 dle € plenamente ser. Conseqtientemente, © ser absoluto & infinite, E mais adiante se provara que 6 dnico. © térmo infinito pode ser tomado privativa e negati- vamente, je infinto privativo consiote ma auséncin de uma fin Neste caso, poder-se-ia dizer que 0 Ser absolute néo tem finitude de qualquer espécie. © infinite negativo consiste em nfo ter propriamente limites, Tomi-lo quantitativamente ndo seria aplicével ao Ser absolute, porque, como veremos mais adiante, a sua infini- tude no € quantitativa, Mas veu pod se considerarmos os limites como a fronteira do: a0 Ser absolute nilo xe Ihe antepoera fronteius. Portanto, éle infinito, Surgiriam aqui diversos ax pectos a sertm justificades © demonstrados. Camo prinei- pio, ésse sev seria absolute, pois é ab-solutum, desligade de outrem. Mas hi heterogeneidade de entidudes, varios séres que nao siio absolutos, mas ligados « outros. Resta saber se 0 Ser, que € imprineipiado e absoluto, ¢ independente dos ou frog séres, o que se provaré mais adiante, embora desde logo se veja que os outros, que sio posteriores, déle depen- em, enguinta ele nfo depend de outro, pos enito depen. deria do nada, Resta ainda suber seg sua infinitude 6 dada enquanto visualizamos o nada absoluto, nao enquanto visualizamos os outros sores. Essa infinitude ante os outros mais adiante, de modo apoditieo. sera demonstrada, FILOSOBIA CONCRETA 95 'TRSE 32 —- O ndo-ser relative 6 v apontar de uma au eéneia de perfeigaes determinadas, © nao-ser relative nfio é a negagdo total © absoluta do B se no o é, aponta a algo, a uma perfeigio (1), que € do ser, e positiva, ou @ uma negagde de algo positivo, que esta ausontady de algo. Nesse apontar indiea apenas a re- cusa da presenca de determinada perfeigao. Portanto, » nao-ser relative é positive, pois ¢ o apontar de uma recuse da presenca de, algo (2) A niio-presenga de algo positive da suficiente positivi- dade ao nio-ser relative, Compreendendo-se assim, no cabe mais @ priméria confusao entre nao-ser relativo ¢ nAo- sser absolute, Ambos se exeluem absolutamente, E com> © ndo-ser relative tem positividade, le se analoga com 0 ser 9 suficiente para no contradizé-W Déste modo, 0 nao-ser relative nio ofende o prinefpio de ndv-contradi¢ao, nem o principio ontologieo de ilentiae- ‘de, como ainda veremos. A perteigao recusada é uma certa perfeigao. A recusa do que nao é, do impossivel, inelui-ze na mesma demonstra io, mas, neste caso, 0 que é recusado nfo € positivo. Ademaix o nada, feigho; & nada, considerade enquanto tal, no é per (U)_Perfeigdo (de, per e fectum) 6, etimoldgicamente, o “ha- ver chegado a0 intogro” (Votlkommenkelt, na lingua alomi). £0 befeeluado, o que so to2nou acabado, em acto, portanto, Ou um set 64 aeabado, perfeite, ou @ pouco e pouco alcanca a sua perfel- 80, Ia, assim, uma perfelgdo absolute, que seria a do ser (que 38°6 plenamence si mesmo, sem mnie nada a acrescenter, come. 9 G10 Ser absoluto, como veremos), © uma perfeipdo relative, a tem @ possiblidade de alcangar maior aeabamento ou nto, Déste mnedo, 8 selo ¢ a perfelgio da poténcia. O conceito de parfeigao Sera entiquecide A propargao que examinemes outras tests (2 Se se nega una negagio, como dizersse que “nko 6 vi dade que algucn ja" nav-doms,”afirmarse. ura postuvidage. A uséneia de wma avsénela firma sempre uma positividade, —por- fue se afitma que 0 que era recusady néo 0 € mais. A auséncia 2 vempre de igo powitivo, porque suséneia de nada néo ¢ auséncis 96 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Tes 33 — A afirmagdo precede ontologieamente & negitedo, Provames agora de outro modo: A negagio implica o negado, e éste € positivo, pois ne- garse o que nfo é, retiraria da negagio a sua positividade fe, neste caso, ela amiquilar-se-ia. Conseqlientemente, para negar-se, € preciso que algo esteja afirmado. A afirmagio posiciona-se ¢ positiva-se por si mesma, Nao precisa de outrem para ter realidade. A negaefo 1% eusa alguma coisa; implica, portanto, algo positive, afir- mative, Consegientemente, a tese estd demonstrada: a afirma. gio precede ontoldgicamente & negagao, Ora, 0 ser é afirmacio, afirmagio imediata sem deter minagao’(indeterminada), ‘Como afirmativo, é presenga, & © agir imanente que se coloea e possui a si niesmo, ‘Tesn 34 — 0 sev tem privridade a relagéo. A relagio implica o dual, ¢ no minimo duas positivida des, pois uma relagio entre ‘térmos no positives deixaria automiticamente de ser positiva. A xelagio implica anteriormente subsidneia © 0} duas categorias que a antecedem. Os que consideram que ser & expresso na e6pula ser, reduzem-no a uma relagio. Mas uma relaelo 6 relncio de qualquer coisa que 6B, afinal, qualquer coisa deve ser pare que haja relagies, Portanto, ha prioridade ontologica do ser A relagéo. COMENTARIOS AS T ES: O ser, como afirmagio, & presenga. B como a negagio nido poderia preceder ontoldgicamente & afirmagao, 0 nada Absoluto nio poderia preceder ap ser. Para aflrmar o nada aabgoluto, seria neceesirio afirmar o Todo para. suprimicio plenamente; nio apenas substituir éste por aquéle. A sua Afirmagio ¢, portanto. impossivel e contraditoria, Teria mos de-colocar a negagho como suficlente ex, si testes, 0 que € absurdo, A idéia do nada absolute surge no homem, Mas essa idéia € apenas a idéin do Todo suprimido pela idéia, Ese a idéia do nada nio é a idéia do todo suprimido pela idéia, ela é nada de idéia, uma nogdo vazia EE nada pér nao 6 pir 0 nada, Se 0 homem, constré désse modo a idéia de nada, por supressdo do que é, esvazia a idéia, nao poe 0 nada, porém, 0 scr coloca-se, aasira, independentemente de nés3 poe- -se ante nés, mas independe de Ora, o ser nio 6 uma relagdo, pois, como 4 vimos, 0 fundamento da relacdo 6 0 ser, ¢ no 0 inverso. Ha, assim, prioridade ontol6gica déle sobre a relaeilo. Quanto ao ho" mem, a idéia do ser é a idéia conereta do concreto, O sor 6 assim presenga (afirmagio) imediata do indo terminado, do que néo tem determinagées. Entre sere nada absoluto hi contradigio; nilo entre ser-isto, ¢ ser-aguilo. O nada relativo 6 afirmagio de algo positive determinado, euja presenga @ recusada. Portanto, & tinica negacao possivel € negacdo de, funcionalmente de pendente de algo positive, que é ser.” O nada relative & assim positive. € essa positividade muito nos auxiliaré a compreender diversos aspectos da filosofia, sobretudo a he 98 MARIO FERREIRA DOS SANTOS torogeneidade, ¢ a solugio do problema dialéetico entre o Um e o Multiplo. 0 ser finito € um composto de ser e de ndo-ser (de nada relative). A demonstragdo desta ultima tese vird oportunamente. Tesp 35 — Nao se podem predicar propriedades ao ndo-ser absoluto. A atribuigdo de propriedades exige, préviamente, que © portador delas seja algo, pois a ausencia de positividade do portador negaria a da’ atribuigdo. Q ndo-ser absoluto ndo poderia ser portador de qualquer propriedade (1) Test 86 — 0 ndv-ser relative (nada relative) néo tem propriedades. A avséncia de propriedades 6, mo entanto, relativa ¢ ndo absoluta, Que o no ser relativo nfio tem propriedades decorre de nao ser Gle um suppositum portador delas, porque con~ siste na auséncia de determinadne perfeigécs. O nfo-verde déste ente nao tem qualquer propriedade. ‘Mas, a ausineia de propriedades € relativa, porque se @ste ente nfo € isto ou aguilo, apenas ndo o 6 enquanto € isto Ou aquilo, 0 que nao 0 ausenta de toda e qualquer per Feigho, A auséneia é assim relativa. O nilo-verde, que nao ha neste ente, no 6 um ndo-verde absoluto, porque seria predigar a total e absolute auséncia de verde, mas apenas a auséneia de verde neste ente, portanto relative a éste ente. ‘Tas 37 0 nada-relativo tom senpre positividade, © nada absoluto € a auséneia total de ser e é impossi- vel, como jé demonstramos. © nada relntive é a aus! de determinado modo de ser aqui ou ali, 0 que the dé posi- tividade, pois o que é ausente & um modo de ser, que, como tal, & ser, pois auséneia de nada mio € sequer austneia. (Quando dicemos que 0 nlo-ser absoluto € o € nde pa tence a0 Verbo sat suosantivemente considerada, tnas apenas 80 ser coputetivo, que se refere & nosta esquemitica negtieg, © ni fordem do ser eatieamente considerate, “Em sua. A conce uae Ge ndo-ter-absoluto pode unir-se a conceituagae de ausenela-total- FILOSOFIA CONCRETA 99 Se dizemos que, A nfo é B, reeusamos em A a presenga dio predieado B. Se Bono 6'um ser ou modo de ser, B & nada, e reeuser nade 2 algo & recusar absolutamente nada; no 6, ‘portanto, privagio, A privacdo de algo implica a positividade dé pois ser privado de nada ndo ¢ earecer de nada, © algo, Mais uma ver se comprova, assim, a positividade do nada-relativo. © nada-rolativo 6, portanto, nada em relaglio a isto ow Aguilo, © no nada em absoluto, o que ja foi demonstrado, TrsH 88 — Ante o ser, 0 néoser relative nda 0 con tvadiz, porgue néo nega absolutanente ser a9 ser. O ndo-ser relative € apenas @ aie adneia de wna perfetedo, = néo a auséncia absolutamente total do ser. Portanto, o Ser se opde 20 ndo-ser, mas 0 Ser € con- traditado pelo Nao-ser absolute, Para postular 0 nfio-ser absolute, ter-se-ia de nega to- tal © ubsolutamente o ser. A prépria postulagio, como vi mos, € & negagia formal e suficiente do nfonser absolute, Basta apenas que coloquemos a sua impossibilidade para que le esteja total e absolutamente refutado, Nao esti refutudo, porém, o ndo-ser relative. ste nao implica uma diminuigéo de poder do ser, mas apenas que uma perfeigtio do ser néo esta presente este ou naquele ente, ‘TESE 39 — Bntre o nio-sor relative eo ndo-ver abso Into, hé 0 diferenea que primeiro & po sitive, enquanto a postulacdo do segundo nega tédo ¢ qualquer positividadte, Demonstra-se por oulra via: o nflo-ser absolute 6 au- séncia total ¢ absoluta de ser. E ja 0 refutamos pela pro pria postulagéo que o pretendesse olen. Sua refutagao foi suficiente e total, 0 nao-sor relative 6, portanto, 0 inverse do nfo-ser ab- soluto. 100 MARIO FERIEIRA DOS SANTOS fio se Ihe pode atribuir uma total e absoluta ausdncia de positividade, pots, do contrario, estariamos afirmando 0 nio-ser absoluto, 0 que ja cst afastado, Portanto. 9 nio- sex relative tern positividade, sem ser’ contudo, enquanto tal, ser subsistente. B 0 que nos leva a postular uma distinglo fandamen- tal entre positividede e ser subsistente, A tudo quanto nao se potle dizer que 6 nada, tem uma entidade, © © entidade ( entitas). © nada relative nao 6 uma entidade real, mas tem po- sitividade por referéneia. COMENTARIOS AS PROPOSIGOES EXAMINADAS Com muita razdo dizia Avicena, e posteriormente Duns Scot, que todos os fil6sofos esto de acérdo quanto & exis- téneia do ser. © ser 6 inegivelmente o primeiro objecto do conhecl- mento, ja 0 evidenciara Aristételes, Se ha fildsofos que afirmam nada saber sobre dle, em ue consiste, 0 que 6 em suma o ser ( quid sit), esto, no entanto, de acdrdo em, directa ou indireetamente, admiti-lo, pois negi-lo seria afirmar o nada absolute, 9 que é absurdo. Bxaminames em “Ontologia e Cosmologia”, como ¥: iam as opinioes sobre “o que” 6 0 ser. Alguns 0 reduzem ao conceito Yégica, dandothe a mai xima ertensdo, pois ineluiria tédas as entidades apenas por Serem, inibindo, Virtalizando 0 hoterogenco, , eonseaue emente, em a minima compreensao; 0 set apenas é. Assim temos 0 exemple de Hegel, que 0 eonfunde as vezes com 0 naa, pois o nada é indetermiado (sem determinagio}, set, Hogicamente considerado, também 06 Mas, para Hegel, o nada surge com o deixar de ser, enquanto € do nada, eomo ponto de partida, que algo vem ase. Ora, quando algo comeca a ser (incipit este) algo comega a ser; € ser (1), (2). Tal nfo quer dizer que algo venha do nade, realizado por Geto, ou feito” de mada, como ce fesse materia de’slguma co jonas quer dizer que ‘antes de um ser determinado ser éste ser, ‘era med déste cer. Esta mosa, antes dle scr ela, era mala desta tesa, io porém uma ciagio do nada ou felig de nada.” Por isso tin ter comeca @ ser no preeipuc momento em que comeca a se! 02 MARIO FERRWIRA DOS SANTOS No entanto, como jé vimos em trabalhos anteriores, 6 um érro do formalism reduzir o ser a0 conceito légico, porque éste € um coneeito de classificago, © aquéle € exis: tente, eoncreto. HE se examinarmos todos os pensamentoz filoséticos ‘mais coerentes, veremos que todos accitariam a yalides u versal dos postulados até agui expostos por nés, A con- copeao mais avessa a admitir um Ser Supremo seria a po- sigdo materialista e as que The séo afins. No entanto, aquela, ao admitir a matéria, tem de ad- mitir tais postuiados. Sendo vejamos: nao pode admitir o nada absoluto, porque entéo matéria seria nada, e nada poderia dela sargix, Bm segundo Ingar, a matéria nfo foi eriada, é ineria da; 6 primeira e anterior a todas as coisas que so dela, « dela provém. A matéria deve conter todos os poderes e tidas as per- feigdes, porque se estas se actualizam posteriormente na realidade tempo-espacial, j4 estavam contidas, de certo mo- do, na matéria, pois do eontrério viriam do nada, Por outro lado, tém og matertalistas de admitir que 2 matéria, enguanto tal, & imutivel, pois sendo simplemente matéria, sua mutagio dar-se-ia para outro, que seria a néo- smateria, © fnateriat, © que hes causaria’calalzios. ‘Tém éstes de admitir que os entes singulares_provem dela, ¢ se tais entes so isto ou agnilo, a matéria nao deixa, de sor ela mesmaa, Hé, assim, nesta, algo que é eterno © imutivel. Ade- mais, tem de lhe dar actualidade, pois se ela pode produzir isto ou aquilo, as possibilidades’ esto nela como possivels de viraser; mas @ matéris, enquanto tal, & acto, pois se se poténcia seria a poiéneia de outro, que por sua vez estaria em acto, e no seria matéria, Ademais, a matéria seria parte em acto © parte em potineia. Parte actuaria sObre parte que sofreria a acco, E levada mais longe essa andilise, ver-se-ia que Gase acto ert puro acto, o que exigiria postular as teses das quais o ma terialismo tanto desejou afastar-se, FILOSOFIA CONCRETA 103 B poderiamos ir além nesse exame, e dirigi-lo ademais ‘a outras concepgées, ¢ 1édas, vom excepeo, nao poderiam por em diivida, por falta de fundamento, a nenhum dos pos- tulados até aqui expostos e por nds demonstrados. HA ainda a posigio ofptica ¢ # agnéstien, stas atir- mam que pouco ou nada sabem sobre o ser, ou melhor sabem que pouco ov nada sabem, ou sabem que nao saber se 0 que sabem 6 verdadeire ow néo. 1as_tais posigdes, como vimos, slo mais um demitir do filosofar que um filosofar. Porque qualquer céptico, ow ‘qualquer agndstico, sabe que no ha o nada absoluto, mas que hd algo, que ambos ignoram o que soja, ou pensam ignorar. Nenhum eéptico deixar de admitir que o que ha nao foi precedido pelo nada absolute. E, conseqiientemente, aleangaria os postulados ja ex- postos, Sé por uma obstinada negativa, que revelaria s0- bretudo @ precéria fortaleza da sua mente, neraria o ser, pois afirmaria que o nada seria eapaz de realizar a davida céptica. Portanto, sur mente se analoga ao ser, e em algo teri uma identificagho com éle, pois, do eontréirio, 0 pensamen- to humano, estando desligado do ser, ¢ sendo outro que o ser, seria nada. Assim, © reto pensar 6 capaz de nos dar ésse fio de sina, que nos lovaria a alguma certeza, © essa certeza 5 mdos até dos cépticas, se quiserem procur: A esta Ha ainda a posigio dos mobilistas. Podem éstes, 20 argumentar contra a idéia de ser, afirmar que éste é "ne- gado totalmente pelo fluir das coisas”, pois nada é real- mente um, nenhum sujeito @ idéntieo, porque esta em cons tante fluir, Nada é em si mesmo am, nem um “algo”, porque tudo sofse uma mutagho constante, devém, torna-se outro. © sor é entio alteridade; é sempre outro, iniitil ten- tar fixar as coisas, como tenla proceder a nossa razio, por que estas estio ¢m constante devir. Nao hé portanto, nenbuma substincia que seja portadora dessas mutagdes, pois tudo cambia, muda, transmuta-se. 304 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Tais afirmativas encontram cultores, ¢ ha nelas, ine- gavelmente, aspectos positives. Mas se muitos aclualizam apenas a mobllidade, virtualizam a permanéncia, porque a niutabilidade & gradativa, e algo perdura enquanto muda, como provaremos ainda por outros caminhos. Pois se somos eada instante diferentes, ¢ outros que nés mesmos, somos também algo que perdura, pois do eontré- rio seriamos apenas wina passagem instanténea, que ultra passaria o proprio tempo, pois se neste algo ‘perdurasse, por pouco que fosse, j4 negaria o excesso do mobilismo que, levado aos extremos, termina por tornar-se absurdo, e me war alé a propria mutagio. Se esta gota de agua esté em constante mutagdo, ela perdura enquanto géta-de-dgua. um gravissimo érro pensarem alguns que os grandes filGsofos, que aceitam a presenga do ser, nfo tenham de tal coisa suspeitado, HA muito de infantil nessa suposiga0, pois bem sabiam les que as coisa, que sie objectos da nosea intuicio sensi vel, esta em constante mutacdo, Mas, na_mutagéo, ha graus, pois nem tudo muda com a constante fluidex de um. rio que corre yeloz, pois éste ¢, anles e depois, um rio-que-

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