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A homeopatia no SUS na perspectiva de estudantes da drea da sauide PALAVRAS-CHAVE = Homaopaa ~ Sister Unio de Sse — Estudantes de Cri de Sade = ncn ca Side — Reprsennges Soci KEY WORDS, = Homsopaty = Sing Heath System = Sader Health Options = Health scence = Socal Representations Recbid em: 2/11/2008 Reercaminhad em 2/01/2008 ‘Aprovad 2/07/2008 Homeopathy in the Single Health System from the Perspective of Students in the Health Professions Gecioni Loch-Neckel Gecioni Loch-Neckel! Frangoise Carmignan! Maria Aparecida Crepaldi! RESUMO Ahomeopata fi reconhecida como especialidade médica em 1980, ApésacriagSo doSUS, al: ‘guns estadas e municipios brasileitos comegaram a oferecer atendimento homeopsitico aos uss- ras dos servigos ptiblicos de saide. Em 2005, fo editada a Portaria 971, que assegura o acesso 8 ‘omeopatia a estes usuarios, entre outras priticas integrativas ¢ complementares. Diante disto, investigamos as percepsbes de estudantes dos cursos de Farmécia, Medicina e Odontologia sobre ‘2 homeopatia e sua pritica no SUS, tendo por fundamento a teoria das representagies sociais [Estas representagbes foram construidas com os seguintes pardmetros: a homeopatia como tera ‘Peutica; a relagdo entre a homeopatia, 0 SUS eo principio da integralidade. Os estudantes soube ‘am cortelacionar o atendimento integral ao sueito 8 compreensio de suas necessidades a partir cdesua realidade, Constatou-se desconhecimente sobre os pressupostos teéricos da homeopatiae co nko reconhecimento da incarporagio da homeopatia no SUS, para a maioria dos estudantes. Pode ser sugerido que a insersSo dos futuros profssionais no contexto das atividades em satide e ‘acesso a otras racionalidades permitiriam uma escolha mais hicida de suas préticas profissio ABSTRACT In Brazil, homeopathy was officially recognized asa medical specialty by the National Medi- «al Board in 1980, Since the creation ofthe Unified National Health System (SUS), some Brazilian States and municipalities have begun to offer homeopathic care to users of public health services. 1n2006, the government issued Ruling971, which guarantees access to homeopathiccare for these ‘users, in addition to other integrative and complementary therapies, Based on the above, we st died the perceptions of undergraduate students of Pharmacy, Medicine, and Dentistry concer: ring homeopathy and its practice in the National Health System, based on the theory of social re- presentations. These representations were constructed with the following, parameters: homeo- pathy as therapy; and the relationship between homeopathy, the National Health System, and the Principle of comprehensiveness. Students were able to correlate comprehensive patient care with ‘understanding patients’ needs based on their reality. Most students lacked knowledge on the the- ‘retical premises of homeopathy and were unaware that ithad been incorporated into the Natio ‘nal Health System. The findings suggest that the inclusion of future professionalsin the context of ‘health activities andl access to other rationales would allow a clearer choice of theie professional practices. Unorsie Flera de So ls, $C Brash Gein Loch Neck et a RepresentasSo Social: Homeopatia no SUS INTRODUGAO Ahomeopatia um sistema terapéuticode caster sistmico, fandamentado no principio vitalista na lei dos semelhantes, postulada por Hipcrates no século IV aC Sua pritica terapéut ticaconsisteem curar os doentesvalendo-se de remédios prepa- rads em clues infinitesimais e capazes de produzie ne ho- ‘mem aparentemente sadio sintomas semelhantes aos da doenga aque devern curar mum pacienteespectic, f uma terapéutica médica focada na compreensio do individuo dentro do sea con- texto eno aspecto pessoal de suas reagbes diante das agressses. Naaplicagio terapeutica desses pressupostos valoriza-seaindi vidualidade humana, elegendo, dentre os milhares de substan cias experimentadas, aquela que apresente a “otalidade de sin- tomas caractersticos de cada paciente” (nos aspectos psiquicos, cemacionais, gerais eclinicos). Para um mesmo tipo de doenca, sio empregados medicamentos distintos para cada individuo enfermo uma ver que 0 processo diagndstico ¢rado no en fermo ~enio.na dona” ‘A homeopata foi desenvolvida e difundida por Samuel Hahnemann no século 18, ap6s extensos estudosereflexses ba- seados na observagio clinica em experimentos realizados na época. Hahnemann sistematizou os principiosfilséficos e dost teindrios da homeopatia em suas obras Organ de Arte deCurare Doengas Cronica. Desde entSo, ocozreu grande expansio da ho :meopatia por vias regies do mundo, ehoje ela est firmemen- te implantada em diversos paises da Europa, das Américas eda cia. No Brasil a homeopaia foi introduzida por Benoit Mure «em 1840, tomando-se rapidamente tama nova opgio de trata: mento para 2 populaio’. Areforma saitériabrasilira eacriagSo doSistema Unicode Satie (SUS), na década de 1980, se mostraram ressonantes 20s principios doutrinérios homeopsticos,abrindoas portas entra- dda da homeopatia no SUS. Este foi regulamentado pelas Leis 8080 © 8.142 de 1990, e compreende principios doutrinérios como a equidade, a universalidade, a integralidade e prineipios organizativos como hierarquizagio, descentralizagso, resolu vidade e controle soci Afinando-se com os principios bésicos do SUS, alicersada no) controle social, a homeopatia busca consolidar como parimetros da qualidade de sua pritiea 1a intogralidade: compreensio do sujeito enquanto unidade hierarquizada eindivisi |, no sujeitolimitagioderecortes patoldgicos em detrimento da compreensio do processo saide-doenga; ' aequidade: dimensionada na atengto as necessidades de sa tideda populagio, respeitando-seas diferengasindividuais; 1 a universalidade:garantia democrética do acesso. essa racio- nalidade enquanto direito de exereicio de cidadania’ Assim, a partir da década de 1989, alguns estados e municip- fs brasileros comegaram 2 oferecer atendimento homeopstico como especialidade médica aasusustios das servicos piblicos de satide. Alguns deles criaram quadros de médlicos homeopatas & realizaram concursos piblicos, porém como inicativasisoladase, as vezes, descontinuadas, porfalta deuma politica nacional. Ap6s a criagio do SUS, o processo de implantagio da homeopatia nos servigos piiblicos de satide avangou, ¢ a oferta do atendimento médica homeopsitico cresceu, Esse avango pode ser observado no _nvimero de consultas em homeopatia que, desde sua insers80 como procedimento na tabela do SIA/SUS, vem apresentando crescimento anual em tomo de 10%. Em 1998, foram realizadas © aprovadas 32.254 consulta; em 2003, foram aprovadas 291.069 consultas médicas em homeopatia’. Em 1988, a ComissSo Inter- ‘ministerial dePlanejamento (Ciplan)~abrangendo os ministérios da Satide, Fducagso, Previdéncia, Trabalho e Planejamento — pu: biicou uma resolugdo que estabeleceucrtérios para aimplantaglo doatendimente homeopstico nos servigos pibicos de sade. Ini- ciou-se, assim, tam movimento de expansio dos programas dete- rapias alternativas, no qual os municipios ganharam autonomia para a execusio dos servis de satide” Emmaio de 2006, apés trés anos deamplo debate coma soci- edade civilorganizada,estados e municipios, além da pactuagio pela Comissio Intergestores Tripartite e aprovagso pelo Conse ho Nacional de Satide, foi editada a Portaria 971, que aprovou a Politica Nacional de Priticas Integrativas ¢ Complementares (PNPIC) eassegura oacesso aos usuarios do SUS medicinatra- dicional chinesa/acupuntura, homeopata,fitoterapia ¢ terma- lismosocial, Esta politica responde ao anseio de muitos usuérios f profssionais de sade, manifestado nas recomendagies de ‘Congeréncias Nacionais deSaiide desde 1988, além deatenderas recomendagées da Organizagio Mundial da Satide (OMS), p ipalmente aquela contida no documento “Esteatégia da OMS sobte Medicina Tradicional 2002-2005". Estaportaria tem ainda como um de seus objetivos 0 incentivo e apoio a projetos de as- sisténcia, ensino e pesquisa homeopaticos nas diversas esferas do SUS, juntamente com outras priticas no convencionais? [Recentemente, em dezembro de 2007, foi publicada a Porta ria 3.257, do Ministrio da Sade, qu homeopticas da Farmacopeia Homeopstice Brasileira (corea de 450 medicamentos) para serem disponibilizados aos usuarios do SUS, em conformidade com o que recomenda a PNPICS,sugeri- do par Hahnemann no Organon (p2): Jui os medicamentos Geo Lok Neck a Representa Social: Homeopatis no SUS (© Estado, no futur, depois de compreender indi ppenstbilidade de medicamentes homeopsticos prfe- stamente preparados, far§ com que sejam preparados por uma pessoa competente © imparcal a f ‘Aélos gratuitamente a médicos homeopatastreina- dos em hosptais homeopstices, que enh tminados tdricae peaticamente e assim, legalmente ualificados. O médico pode entéo se convencer des ses instrumentos divinos de curar e também dS-ios gratuitamente a seus pacientes, cos 0 pobre Assim, é fundamental conhecer as concepgdes que 0s est ddantes da drea da satide tém sobre a homeopatia, se utilizam ou negligenciam os pressupostos da cignciasistémica,eobservar as fontes de informacSo a partir das quais obtiveram estes conheci- ‘ments, a fim de caracterizar a homeopatia como objeto de re- presentagio social para esse grupo de futuros profissionais Representagées sociais As representagies dos académicos de cursos da rea da s de sobre a homeopatia foram abordadas por meio da Teoria das Representacdes Sociais. © estudo das Representagées Sociais surgiuino campo da Psicologia Social, com Senge Moscoviei, na déeada de 1960, como uma abordagem alternativa is teorias tra: icionais de cogniglo social. A representacSo social se encontra na interface entre o psicolégico e o social ese apresenta como uma atividade de transformagao entre os saberes, cientifico ede (social intervémna construso das representagdes, de algu ‘mas formas: pela influéncia do contexto de insergSo dos indivi duos e grupos, pelos processos comunicatvos, pelas experi as prévias que sfo acumuladas como “bagagens” cultura, pela ideologia, pelos cédigos e valores relativos 8 posicio e pertenca social, Aconstrugio das representagbes ocorre a partir de expe: rincias, informagées, estruturas de pensamento recebidas ‘ransmitidas pela tradigio, educacio e comunicagSo social!” A construgio das representagSes sociais das teorias cient. «as ou de profisses formalizadas - ox seja, as modificasbies que sofrem & medida que so apropriadas pelos diferentes grupos sociais- deve ser considerada a partir de fatores como posigSo social, renga religiosas,politicas eescolaridade. As representa Ges sociais engendram um procesto de transformagio recipro- co de tipos de conhecimento, isto 6, do saber cientifico edo saber de senso comum. As representagées socials si0, portanto, uma {forma de conhecimento pritic, de" pensamento social”, que di reciona aspectos da comunicago, da compreensio edo dominio do ambiente social, material e ideal" Assim, as concepgées eas representagbes que os académicos| constroem eadotam implicam diretamente as suas priticas e as relagdes que desenvolverio a partir de sua insersSo na atengio bisica, Ito oferece aos proissionais desatide etambéma toda a sociedade instrumentos de questionamento e reconstrugso de simbolos,ideias e aplicagdes,interferindo na prética de assstén- cia savide, METODO Participantes Participaram do estudo académicos de graduagio dos cur sos de Medicina, Farmacia e Odontologia de uma universidade localizada no Sul do Brasil, de ambos os sexos, queno tiverama dlisciplina de homeopatia ministrada. Cor, clase social e estado geral de satide ndo foram dados relevantes para esta pesquisa e, sendo assim, ndo foram considerados. Caracterizagdo da pesquisa _Apesquisaédo tipo desertvo-corelacianal de bas epistemo- ‘sgica qualitatva, pertinent investigagto de fenmenas comple- 103, como represeniagbes, vivénclas,crengas, valores e significa di!" pesquisa oirelizada de acondo com asnormas da Reso- Jugio 196 /% do Consetho Nacional eSaide tendo sido aprovada pelo Comité de Fica em Pesquisa de uma universidade do Sul do Brasil Coep Paneer il /07), Todos os participates foram eslare- cidos sobre os abjetivos ea metodologia, mediante litura eassina tua do Teemo de Consentimento Live e Escarecido. A pesquisa no apresentou rises para os artcipantes hes fi garantido 0 siglo, assim como 0 etomo sobre os resitades. Instrumento para coleta dos dados ‘Osdados foram coletados dejullhoa setembro de2007 por meio doppreenchimento de um questionsrio individual, voluntxo,apli- ado nos primeiros 15 minutos de aula. questionsriofoientregue de forma coletiva em sala de aula, com 0 auxilio do professor € 0 consentimento da direglo de cad curso. Realizowse uma andlise prévia do questiondrioa partir de sua aplicagSoacinco académicas, {quedo foram incluides na pesquisa, As perguntas norteadoras fo ramasseguintes: (a) O que Ghomeopati?;b)O que 6atendimento Jntegral ao usustio do SUS?; €) Qual relagto da homeopatia com ‘0SUS?; (d) Como &0 medicamento homeopstico?;(€) Voc® faz us0 da homeopatia?; () Como é. consulta homeopstica?;(g) Como 60 tratamento homeopstico? Procedimentos para andlise dos dados ‘Osdados coletados foram analisados de acordo.comameto- dologia da anslise de contetdo categorial tematica”, que permi- Gein Loch Neck et a RepresentasSo Social: Homeopatia no SUS ‘iu identificar« posterior as categorias de anslise em fangSo das _generalidades e peculiaridades encontradas nas respostas dos participantes. Procedeu-se a uma andlise estatistica descritiva, baseada em dados de frequéncia, percentagem e incidéncia de ‘ocorréncia de respostas!™ RESULTADOS E DISCUSSAO A seguir serio discutids o resultados das entrevista, divi- dios em quatro grupos: 1. perfil ds académicos pesquisados: 2. concepts dos académicos acerca da homeopati como rapétca 3. a homenpatia eo Sistema Unico de Satde SUS) 4. fontes de informagto acerca da homeopatia edo SUS Perfil dos académicos pesquisados ‘Foram pesquisados 53 alunos dos cursos de Farmécia, Medi- cina e Odontologia. Destes, 36 (67,9%) s80 do sexo feminino e 17 (62,1%) do sexomasculino, com predominancia do sexo ferninino principalmente no curso de Farmacia. A maioria dos académicos tinha enire 19 e 27 anos (77%), destacando-se 5 entrevistados commas de40 anos. A grande maioria dos entrevistados era pro veniente do municipio onde estésituada a universidade (48%). (Quando perguntadas se faziam uso da homeopatia como te putica para cuidar da propria sade, 132% responderam afirma- tivamente,e dentre estes a maioria era de académicos de Farms- cia. Os dados sobre a populago estudada esto na Tabela 1. Concepgses dos académicos acerca da homeopatia como lerapéutica (primero objetivo da pesquisa foi levantarinformagSesa.es- pelo das percepces dos esticantes universities sobre a homeo- tia, por meio das penguntas: “O que 6 homeopatia? 0 que vocé sabe sobre homeopatia?”. Constatou-se que 361% dos entrevista- dos atibuisam & homeopatia a representagio de que se tata de ‘uma terapia que uiliza produtesnaturais (Tabela 2), Resultados se _melhantes foram obtides por Micali et a em estudo que invest- {gow as representacées sobre a homeopatia em Vit6ria (ES) etam- ‘bém constatou a assaciago da homeopatia a um tratamento nati- ra por 384% da populacio estudada!S. Os autores constataram que a representagio da homeopatia pelos entrevistados, enquanto tratamento natural, estava relacionada 3 imagem de um medica- mento nfo claborado e sem a possibilidade de efeitos colaterais sta associago da homeopatia com ervas naturais€ bastante co- ‘mum. Como no estudo realizado recentemente, 0s usuarios entre- vistados se referiram & homeopatia como um medicamento natu- ral, mais saudvel, sem efeitos colateras. Sugerimos aqui que ais respostas estio ligadas a0 fato dea ‘homeopatia utilizar plantas paraa produucio da maioria dos me- dicamentos homeopsiticos. Mas os fundamentos que diferenci- amas duas priticas sSo opostos, A homeopatia se baseia na cura por meio do principio enunciado por Hipdcrates, ‘semelhante cura semelhante’, com a utilizagio de uma substincia capa de provocar determinados sintomas num individuo sadio e tam ‘bém capaz de curar estes mesmos sintomas apresentadas por ‘uma pessoa doente;jéa fitoterapia segue a lei do ‘contréio cura contrério”. Além desta diferenca, também é fundamental que teriham sido empregadas as doses infinitesimais eo processo de dinamizagio, para entio serem considerados medicamentos ho- meopsticos™ ‘Duas outras concepses referidas com frequiéncias semelhan- tes pelos entrevistados, foram quea homeopatiafaz uso demedica ‘mentos diludas e que estes agem por meio da cura pelo semelhan- te. A referéncia pelos alunos ao medicamento diluido parece se ba- sear na utlizagto de doses infnitesimais na preparagio dos medi- camentos homeopsticos, ot sj, as sibstncias aivas so usadas Tabela 1 Perfil dos académicos pesquisados Sexo (n) Usuarios de homeopatia (n) Graduagio Amostra (a)_|_ ————— sim rio Parmécia 3 5 2» 5 2» Medicina 18 10 8 1 7 Odontologia 10 2 8 1 8 Total 53 7 36 7 46 Geo Lok Neck a Representa Social: Homeopatis no SUS cr dases muito baivas, Histriamente, este € um dos prineipais uestionamentos.no meio cenifco em reasS0 & homeopata como substnciasdluidas eagitadas,ousea, dinamizadas, podem ssusctaralguma respesta em sistemasbiol6gicos ou organisms vi- ‘vos? 0 modelo farmacolgico bioquimico e dose-dependent, en- sinado ¢fundamentado desde o primero dia de aula, pas et antes universititios ds cursos degraduago da Sra cla sade 6a refertncia de praia terapéutia.f eno, partir desta igia que «emerge o principal alvo das extcas a0 modelo homeopsice ‘Acuutra resposta também citada pelos entrevstads~ cura pelos semelhantes fi proveniente, er sua maioria, de alunos Go curso de Farmécia(dados nfo mostrados). Fstedado podees- ‘mentonatural e14% oefeito placebo". As respostas que associa- vam a homeopatia a um tratamento alternative e tratamento

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