JORNAL DO COMERCIO
23.06.1992
22 Caderno - pag. 20
Surrealismo tributario
A Lei 8.200 (DOU 29.6.91) a guisa de acer-
tamento dos efeitos inflaciondrios ocorridos
no perfodo-base de 1990, apresenta duas hi-
péteses de tratamento fiscal. De um lado
aparcela de coi io monetéria — diferenca
entre IPC e BTN — “poder ser deduzida
lucro real, em anos a partir de
1993 em caso de saldo devedor. Por outro
lado, a parcéla “ser computada na determi-
nagdo do lucro real a partir de 1993, de acor-
do com o critério utilizado para a determi
nacao do lucro inflacionério realizado no ca-
so do saldo credor. Esta postura admite
a tese dos contribuintes que buscam no judi-
ciério 0 adequado Eeerateaineto inflacio-
nario nas demonstragées financeiras, que es-
tava sendo mascarado pelo extinto BTN/
BTNF. Entretando, este “reconhecimento”,
trouxe embutida a impossibilidade do ime”
diato aproveitamento da moeda perdida (no
caso do saldo devedor), bem como uma
{gor Danilevicz, advogado
obrigacao para o contribuinte sobre fato jé
consumado (em caso de (saldo credor). A
voracidade tributéria nao raras vezes torna
a praxis legislativa surrealista. Diante do
caso concreto, ocontribuinte que encaixar-se
na primeira hipétese (saldo/devedor/perio-
do-base 1990), e aprioristicamente deveria
aguardar quatro anos a partir de 1993 para
utilizar parcela de corregéo monetéria preté-
Tita, poderd buscar a tutela jurisdicional pa-
Ta aproveitamento imediato. Pensar dife-
rente seria dar guarida a um empréstimo
compulsério e estar tributando-se nao o ga-
nho de capital, mas o capital propriamente
dito. A segunda hipotese (saldo credor) tao
ave quanto a anterior, tem a pretensdo
g retroagir e alcancar fatos peretetitos (pes
riodo-base 1990) jé consumados. Por est
€ por outras, qualquer tratativa de reforma
iscal, visando aumentar a arrecadacao dei-
xa 0 contribuinte em papos-de-aranha.
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