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Copyright © by Francisco Iglésias, 1981 Nenhuma parte desta publicacio pode ser gravada, armazenada em sistemas eletronicos, fotocopiada, reprodusida por meios mecdinicos ou outros quaisquer sem autorizacao prévia do editor. ISBN; 85-11-02011-X. Primeira edicao, 1981 10% edicao, 1990 Revisio: José E. Andrade Caricaturas: Emilio Damiani Capa: 123 (antigo 27) Artistas Grificos IMPRESSO NO BRASIL INDICE Introdugao ... Antecedentes his i O que foi A Revolucao Indi Condicionamento da mudanca Efeitos da inovagao .. Indicagées para leitura Besayn INTRODUGAO A técnica empregada por todos os povos, seja rudimentar ou elaborada, molda suas civilizagdes. da His- Tem-se ai um fator basico para a explics toria, talvez 0 de mais significado, pois ela condi- ciona os modos de produgdo e esses so o elemento fundamental do proceso evolutivo. Se indistria 6 0 Preparo da matéria-prima para seu uso, sempre hou- ve atividade industrial. Ela aparecia de forma tosca, sendo aos poucos transformada, gragas as experién- cias, ao desafio das necessidades e a evoluco cienti- fica. Do primeiro uso das plantas, dos animais, dos recursos do solo, as formas requintadas do labor industrial de nossos dias muitos milénios se passa- ram. Para a obtengdo de energia, impés-se primeiro 0 uso da Agua, do vento, da forga dos animais e do proprio homem. O uso de outros fatores energéticos, como o vapor, a eletricidade, 0 petréleo, a poténcia nuclear s6 se faria na Idade Moderna, sobretudo na ‘Contemporfinea. Ao longo de quase todo o evolver hist6rico a humanidade teve que contar apenas com a natureza insuficientemente aproveitada e consigo mesma. Tem-se pois que a visio e a pratica da indis- tria em sentido racional e econémico séo realidades de nossos dias. Entretanto, sempre se nsou de qualquer port indo-o depois, na fase da automagio, para desenvol- eies tans papieiadvavietter ial unica $6 0 verdadeiro historiador percebe como 0 quanti- tativo afeta 0 qualitativo. ‘rega, se apresentam instrumental que tem seu posto ni ia da indistria, criando uma ‘Tendo em conta a estagnac&o das [dade € Medieval, historiadores e outros Raids oe tessem as novidades, pois 0 escravo usa a forga ort ‘nao lida com instrumentos. Essa é a regra, embora se possa falar de excegbes, ontem e hoje. Ele leva a infa- magio o labor manual ou mecfinico, contra o qual se cria preconceito. Este ¢ de tal modo arraigado que atravessa os séculos, projetando-se até os nossos dias. fato 6 sensivel na histéria do Brasil, mar- cando-a negativamente. Nao desapareceu ainda. H& resquicios da atitude numa terra em que todos que- dade, um eae (287-212 A. C.) € exemplo de cuidados e obras mecdnicas, maquinas. Um Roger Bacon (1214-1294), na Idade Média, ilustra o caso de alguém criativo e de mentalidade cientifica e tecno- Iogica. Na Renascenga, um Leonardo da Vinci (1452- 1519), pouco depois um Francis Bacon (1561-1626) — esses e muitos outros poderiam ser lembrados, atestando persisténcia no tempo com o labor meca- Francisco Iglésias nico, agente por exceléncia da indtistria. Os séculos na histéria econémica, com a evolu lerada inddstria. rec abla Convencionou-se dizer que a Revolucao Indus- trial se verificou na segunda metade do século XVIII, na Gra-Bretanha — sobretudo na Inglaterra —, com os aperfeicoamentos da maquina a vapor, que asse- cxito de Revolugio Industrial. Hé quem prefira ver ai, como Ashley, uma “rdpida e irresistivel evolu- quina usa a forga da natureza — do vento, da agua, do vapor, ou do homem ou dos animais. Sombart (1863-1941) ensina que a ferramenta facilita o tra- ‘batho humano, enquanto a méquina meio que o substitui. Com a Revolucdo Industrial assistir-se-ia A passagem da manufatura a maquinofatura, pois ai a méquina passa a reinar soberana. Tentando defini-la, um de seus estudiosos pio- neiros — 0 velho Arnold Toynbee — dizia que ela é “a transformacdo da pequena indiistria 4 mao para 0 consumo local em grande produgto para o consumo fo”, enquanto o invento é tipico de estidios mais avancados. Tera havido invengdes antes da Revolu- io Industrial, mas excepcionalmente, como poderé haver descobertas hoje, na idade da ciéncia ¢ da téc- nica evoluidas, mas de modo ocasional e sem trazer novidade que revolva o conhecimento e a pratica. A colocag’io no é absoluta, pois houve antes quem tivesse entendimento moderno do problema. Para citar um caso — por certo no o tinico, mas 0 mais expressivo —, seja o de Leonardo da Vinci. Em pleno Renascimento, soube perceber o valor da técnica, ligando-a a investigagdo racional; como escreveu, 0 estudo da ciéncia mec@nica deve ter procedéncia so- bre as invengdes iteis. Talvez nenhum outro elemento seja tio impor- vertiginoso. Hoje no se pode concebé-la dissociada da ciéncia: insistindo na idéia, por sua fecundidade, Francisco Iglésias ‘© homem antigo fazia descobrimentos — observava 0 existente a redor e, empiricamente, melhorava a qi lidade dos objetos; 0 homem moderno parte de pi cipibs fixados pelo estudo e, de acordo com um pla- no, faz pesquisa ¢ chega a inventos. Observagtio e aprimoramento levam a descobertas: pesquisa, par- findo de pressupostos cientificos, lev: como ensinou o sociélogo Karl Man: distingao. A roda, descobrimentos; tador sto inventos. Em outra parte se procuraré mostrar por que € na Inglaterra e na segunda metade do século XVIII que esse fenémeno do industrialismo comega a ve ficar-se, acentuando-se depois e passando para 0 continente europeu, e, com o tempo, para todo o mundo. Por ora, estabelecer conceito univoco da Revolugio Indus- trial. O freqiiente e convencional — aqui seguido — localiza-a na Inglaterra na segunda metade do século ititulado Homens, Mé- la em duas revolugdes lugar dos tempos mais ela vinculadas”; para a agricultura o homem teve que inventar ferramentas, fez no s6 a adaptagao das plantas como domesticou animais, além de usar me- Francisco Iglésias A Revolugao Industrial tais para o fabrico de objetos. Segue-se periodo que & nao primam © das primeiras civilizagdes, as a 1918. E perio- te, mas contestvel. Ha ainda estudiosos que nao se contentam em falar em Revolugao Industrial, como a vista neste volume: ¢ falam na Segunda Revolugdo Industrial, no século XIX, com o petréleo, a eletricidade e os ayangos da quimica; falam ainda na tercei rocesso em nosso tempo, com o uso da ene mica e a automacdo. E 0 gosto de periodizs muito, as vezes antes um agente de complicac: jas neste esboco, detendo- nos no conceito classico: a Revolucdo Industrial veri- fica-se na segunda metade do século XVIII na Gra- Bretanha, divulgando-se no continente € no mundo nos séculos seguintes e desdobrando-se na riqueza de de outras Revolugdes Industriais, nao consideradas agora. Ficam para outro volume, por 10, breve palavra sobre o uso da expres- ‘sfo Revolugao Industrial. Quem a teria criado? A matéria é discutida e ndo encontrou consenso. Se aparece ocasionalmente no século XVIII, pertence nna verdade ao seguinte. Adam Smith (1723-1790), que escreveu no cenério e na época em que o indu: trialismo comegava, se captou alguns de seus sinais, nflo denunciou a novidade do periodo nem o bati- zou; entretanto, ele era uma de suas expressdes € agentes, com a publicacdo de A Riqueza das Nagdes, em 1776. O mesmo se pode dizer dos economistas britdnicos que o seguiram no Oitocentos. O conceito comegou a ser usado com freqiiéncia nesse século, portanto, No anterior, sé Arthur Young (1741-1820) suspeitou de “uma revolug%o em marcha”, em 1788. Na linguagem dos socialistas ela é repetida desde 0 ‘comego do século XIX, embora nao tenha interes sado aos economistas classicos. Ao que parece, foi 1820-95) que pela primeira vez, entre autores significativos, usou a expresso, em 1845, em Situagao da Classe Trabalhadora na Ingla- le novo ela est em Principios de Economia , de 1848, de Stuart Mill (1806-73). Aparece também em Stanley Jevons (1835-82), em 1865, em A Questdo Carbonifera, como, sobretudo, em Karl Marx (1818-73), em 186 primeiro volume de captando-Ihe 0 exato sentido; a sua obra representa a mais completa anilise do fenémeno, pois 0 autor conhecia toda a literatura econémics vivia na Inglaterra, que fora a pioneira e era a mais avancada nacdo no género, € o estudioso penetrara como ninguém na génese e na esséncia da industria, principal expresso do capitalismo, do qual é 0 mais profundo analista. Nao vivesse em Londres ¢ ndo chegaria as formulagdes avangadas 4s quais chegou. Ele percebeu e exprimiu a Revolugo Industrial. Os primeiros usos, porém, aparecem em autores wutora declara e comprova ter encon- do entre 1820 ¢ 1840, em artigos de Jornal e discursos parlamentares. O pensamento sur- ge claramente em obras do economista liberal Adolph Blanqui (1798-1854), que o desenvolveu em livros de 1828 ¢ 38. Curiosamente, a expresso comega mais em lingua francesa que em lingua inglesa. Alguns historiadores tratam do assunto, embora nilo o aprofundem. Em 1908 Sombart comega a pu- blicar O Capitalismo Moderno, quadro abrangente tem o seu lugar. A primeira obra mente ao tema é a de Arnold , série de conferéncias proferidas ‘em 1881, publicada em livro em 1884, Conferéncias sobre a Revolugdo Industrial do século XVIII. Ou- tras se escreveram sobre a matéria, em sua totalidade ‘ou em aspectos, nem sempre com a expresstio no titulo. Ele apareceria no que veio a ser o livro classico Por muitos anos, em 1906, em A Revoluedo Indus- trial no Século XVII, de Paul Mantoux. Hoje, mul- tiplica-se a bibliografia, dada a importancia do obje- to. Esti consagrada a expresso Revolucdo Indus- trial, embora seja discutivel, pois nto ha propria- ‘mente revolucdes em economia — elas sto raras mes- mo em politica —, mas evolugdes. E certo que em determinados momentos a realidade se acelera, 0 ritmo fica vertiginoso, assiste-se a verdadeira mu- danga qualitat \do-se falar em revolugdo. ‘Como procederam os historiadores e demais cientis- tas sociais. Ninguém é mais incisivo no assunto que o histo- , que 0 afirma de modo sentencioso. produtivo das sociedades humanas"”. Prefere fixar “como decisiva a década de 1780, quando a econo- mia empreendeu Mais impor “chamar revolugio industri: i conforme a uma palavra carece de significado (Las Revoluciones Burguesas, 1). Assim foi o que se verificou na Inglaterra na ide do século XVIII e seré aqui suma- riado. Antes de enfrentar 0 assunto, breve e esque- matico capitulo diré 0 que foi a técnica ao longo da Histéria no perfodo que @ antecede, para melhor realcar sua novidade. A Revolugao Industrial a ANTECEDENTES HISTORICOS Se insistimos em fazer, mesmo com ligeiros tra- 05, o retrato da atividade industrial antes da se- gunda metade do século XVIII, & que o assunto & fascinante e espelha a mentalidade até ent&o, quando 4 técnica € a mecinica nao eram convenientemente desenvolvimento econémico e de toda a sociedade até ai de todo desconhecido, pois o ritmo social e hhumano era lento. Matéria rica e complexa, tem impensa bbllografia; tratar 0 objeto em toda a sua ri- ‘queza exige volume alentado, escapa as dimensdes reduzidas dos livros desta colec&o, que nao preten- dem mais que divulgar o essencial, colocando a ma- téria para pesquisas e leituras. Seremos breves, por- idades humanas tive- ram mesmo © 4pice, todos os outros animais, que repetem atos definidos, coordenados, chegando as vezes a grande habilidade e excelente organizagdo, mas nao inovam, nao inven- tam. J 0 homem, por sua propria natureza, parece feito para criar. Embora fraco, tem condigdes de do- minio. Ha nele uma combinacdo de estrutura fisica ‘mental. Sua mao € uma ferramenta, com 0 polegar convenientemente disposto com relag4o aos outros dedos para apreender e agir. A mao, coordenada com o cérebro, garante-Ihe éxito na acdo. Dai as obras que executa e no so igualadas por nenhum outro animal. E 0 homo faber, do conceito classico. iu o fogo, aprendeu a usé-lo e a con- s Conheceu técnica de irrigacdo, moldou os elementos naturais as suas necessidades. Fez assim a rimeira revolucio na Historia, com a imposicao da gricultura, ainda na Pré-histéria, = palicios, templos — e em material bélico, com armas eficazes, instrumentos de ataque, carros de combate, navios de guerra e barcos para navegagio em geral. © Se-dos primeiros anos da Pré-histéria até cerca A Revolugdo Industrial B 3000 ‘A. O})houve importantes descobertas ¢ até in ; Seguiu-se periodo menos criativo. Desen- volve-se 0 que se esbocara antes. Organizam-se os ‘mente igualadas. Chegaram a idéia da ciéncia pura. ‘Do Angulo téenico, objeto de nosso interesse, a con- tribuigto ja ndo é td importante. Os gregos, princi- almente, chegaram a nocdo de cifncia, eriaram 0 método, desenvolvendo setores naturais e sociais. Em filosofia atingiram altitudes jamais igualadas. Che- gando a esséncia do conhecimento e do método cien- tifico deram a posteridade os caminhos a serem per- corridos com éxito. Sem esse embasamento a ciéncia teria custado um pouco mais a crescer e a depu- rar-se. Os gregos se distinguiram em cincia pura, com acentuado menosprezo pelas aplicagbes praticas. Ti- nham desdém pela técnica ou esforgo manual, como aristocratas ou artistas. Apesar da atitude, fizeram importantes descobertas e inventos — relembre-se a distingdo de Karl Mannheim —, com ferramentas, utensilios, aparelhos; aprimoraram a arte da guerra, como aprimoraram a arte da navegagdo. Levaram ao requinte as condigBes dos portos, a sinalizac&o com | fardis. Grandes matemAticos, eriaram a Mecfinica | Racional. Exemplo de éxito de matemético preocu- r= pado com a mecanica é 0 de Arquimedes (287-212 ‘A. C.), que esclareceu o principio da alavanca, base de tantos inventos decisivos. Tal foi também 0 caso da estitica, estudo do equilibrio dos s6lidos fundado nas experiéncias das primeiras miquinas simples, ponto de partida racional de todos os progressos da mecnica aplicada, como ensina Pierre Ducassé na Historia das Técnicas. Desenvolveram a ciéncia, mas nao se interessaram pelos seus fins praticos. Lembre- se que Arquitas de Tarento, matematico e mecfnico, ficou eélebre sobretudo por ter feito uma pomba de A Revoluedo Industrial madeira que voava. Como Tales (624-545 A. C.), Arquimedes, 0 arquiteto Eupalinos (século VI A. C.), descobriram principios decisivos para a meca- nica, mas pouco os aproveitaram. 'Notdvel 6 o invento ou aprimoramento do moi- pritica das invengdes greg inho de Agua e dos instru- mais para a observagio cientifica ou para curio: , do que para.a transformacio sistematica do 10 humano”. O autor vé a razio_do desinte- a escravidao, que dispensava a méqi Ihes faltando mao-de-obra, 0 trabalho era desincum- bido pelo escravo, ficando assim estigmatizado todo esforgo manual. ‘No ensaio Maquinismo e Filosofia, Pierre-Ma- xime Schuhl procura fixar a atitude do pensai antigo ante o maquinismo. Lembra qu inas podiam criar problemas morais: ante uma ita chegada da Sicilia, Arquidamd pergun- ‘que servird agora a coragem?” Lembra que Aristételes na Politica pergunta se um homem va- lente pode empregar fortalezas e maquinas, respon- dendo afirmativamente: as novas maquinas, como as muralhas, so 0 tiltimo recurso da valentia contra a superioridade numérica. Outro perigo denunciado 26 Francisco Iglésias A Revolugdo Industrial as méquinas era o de provocar 0 desi razio exata do menos} tnlag cata ta canlocat sprezo do maquinismo estava na Na Idade ombateu a maquina, como em pleno sé- “io clissica — — no primou pela tésnica, como vimos, coiees ae Jangado os seus fundamentos com os principios ncia que fixou. A dos romanos ais insuficiente. Esse povo se impés Politica ¢ administrativa do Impéri estradas, levando-as aos limites de 0 Posses, em Obras que causam admiragdo até hoje. A construglo tinha graves defeitos, como a rigidez do revesti- mento, levando a falhas graves com as chuvas, por exemplo. Os transportes eram precdrios, com 0 mau aproveitamento da forga dos animais, pelo imper- feito servico de atrelagem: os arreios apertavam 0 pescoco dos animais, tirando-lhes a mobilidade ¢ 0 vigor, assim como desconheciam a ferradura. S6 na Idade Média, no século X, serio descobertas essas faltas. Construfram maquinas, apesar de tudo, mas nada fizeram que marcasse a hist6ria das invengdes mecfnicas, com uma nota forte. O setor mais desen- volvido foi o das técnicas de guerra. Criaram uma arte, uma literatura — embora inferiores as dos gregos, s6 os excedendo no Direito. Tiveram sentido do conforto. O que se disse das limi- tages gregas em matéria de mecdnica pode Ser repe- tido quanto aos romanos. Sua contribuigdo foi ainda mais débil, embora no de todo desprezivel. Em sin- tese, a técnica ndo ficou a dever aos antigos 0 que poderia dever, se no thes faltasse o senso de utili- dade que lhes faltou. As condigdes de facilidade de mio-de-obra para os trabalhos, como se lembrou, explicam o fato. ‘A Idade Média, vista até hé pouco como periodo de obscurantismo, vem sendo valorizada pelas pes- quisas mais modernas, que explicam as dificuldades © falta de brilho dos seus primeiros séculos, mar- cados pela desagregacio do Império Romano e pelas invasdes dos povos chamados barbaros, como expli- cam sua divisto durante a era feudal e custoso renas- cimento a contar do século X, com as Cruzadas e 0 . Francisco Ilésias A Revolugdo Industrial 29 novo surto comercial e urbano. Do angulo da i ‘ria, o Império Bizantino conservou alba as cdl 5s, desenvolvendo-as, enquanto o Império Romano do Ocidente sofreu aco mais desagregadora. © certo, porém, como prova a historiografia is dificil a m4o-de-obra, o que origina o jo de palho e inventos. E verdade que a Seance ubstituida pelo regime livre, mas pela servidao, fem que 0 homem continua sem liberdade, preso a terra, que nao pode abandonar. Depende dos senho- Tes, aos quais presta vassalagem. E forma superior & escravidio, mas nao € ainda o sistema livre. O servo cuida da terra, a produg4o agricola n&o sofre maio- res impactos, apesar dos ciclos de falta de alimen- taco, que levam as crises da fome e aos surtos epi- démics, provocadores de altas mortandades. Onde ey fe BS Se organizara, porém, o fendmeno nao se __ Outra forma importante de trabalho — diz respeito diretamente d industria — so as corpo. ragbes. Vindas da Idade Antiga, eram episodicas ¢ atingem a plenitude agora. As corporacées retinem equenos grupos de pessoas, sob a diregao do chefe de familia, estabelecendo quia que vai do aprendiz ao mestre em seus niveis, até atingir © chefe. Tem muito de regime familiar, pois todos vivem quase sempre na mesma casa, participando da Vida do patra, até obterem os graus que os elevam na hierarquia e tornam-se também mestres. Com 0 culto da qualidade, a corporagdo ajuda a aprimorar ainddstria, Submetida a regulamentos rigidos, prevé ‘a matéria empregada, a forma a ser trabalhada, as quantidades, de modo que nao incentiva a criagio. Se teve a principio papel econdmico, desenvolvendo a técnica e a indistria, com o tempo acaba por ser antieconémica, por suas limitagdes dos regulamentos, rigidos a impedirem maior produgio e qualquer va- riedade. Vem até os séculos da Idade Moderna, mas sofrendo golpes sucessivos. O comércio ampliara-se com as Cruzadas e mais ainda com os descobrimen- tos maritimos, surgem novas mercadorias e os consu- midores aumentam e no podem ser atendidos, se as quantidades foram fixadas por vezes hé séculos, quando a populagdo urbana cresce ¢ os Estados dila- teiras, na superago do atomismo da era , corporacao, antes agente de aper- servador, retrogrado e de bloqueio do crescimento. Na hist6ria da produg&o industrial cabe-Ihe um lu- gar: primeiro de incentivo, depois de retardamento. ‘Afinal, seré de todo superada com os principios de liberdade que se consagram na revolug’o francesa € na ideologia do liberalismo econémico e politico. ‘Suas sobrevivéncias desaparecem no século XIX. ‘Durante a Idade Média cabe papel importante & Igreja, na conservagdo das técnicas agricolas e em seu aprimoramento, com novos aparelhos e mais pro- Gutividade. Cabe-Ihe também cuidar da atividade industrial, melhorada com novos utensilios ¢ outros Francisco Iglésias A Revolugdo Industrial 3 -produtos. Ela incrementa sobretudo de ‘energia hidrdulica e dos recursos minerais, como fez Prineipalmente com 0 ferro, antes de pequeno uso. mos considerar entre as grandes contribui- es do perfodo: cn haa invenc&o da ferradura — por certo de tempos mais recuados, mas s6 entao com uso sistemético —, me permite marcha firme e sem ferir o animal. Passa-se a fazer a atrelagem em fila e a construgo de mais estradas. A Europa cresce, abandona o isolamento e complexo que o hidraulico, custaré a impor-se. Se 0 moinho por animais é de 450 A. C. e 0 de agua é de cerca de 80 A. C., 0 de vento é talvez de 950 da era crist&, na Pérsia; na Europa é de 1105; 3) Trabalho nas minas e metalurgia: depois do uso da madeira como carvao, é a vez da hulha, Gran- gam charruas que preparam a terra. A producao cresce, a agricultura conhece nova fase, intimamente ligada a indistria; 5S) Multiplicagao de inventos: pelas alturas dos séculos XIV e XV, com as crises, guerras, epidemias, ‘a populaglo pouco se altera. Faltando mAo-de-obra, impée-se aprimorar 0 maquinismo. Alguns inventos devem ser narrados, alguns vindos ainda dos dltimos séculos medievais. Francisco Iglésias A Revolugdo Industrial Tal € 0 caso da biissola. Por certo conhecida séculos antes pela China, ela € de novo feita no Oci- dente, nas alturas do século XII — talvez o mais criativo da [dade Média. Era um aparelho simples, constitufdo por uma agulha imantada enfiada em uma palha, flutuando em vasilha cheia de Agua. Aperfeigoou-a a criacdo de um eixo, sobre 0 qual girava. Seu uso representa guia seguro para a nave- wacdo. Do século XII so provavelmente a roda den- toda, os éculos, as lunetas; a iluminag&o pela vela de sebo ou cirio de cera; a chaminé das casas; a inten- sificagio do uso do vidro transparente torna possivel uma arte superior — a dos vitrais, sobretudo nos templos. Se as armas e os aparelhos de guerra sempre so cada vez mais exatas, como as dos italianos portugueses. Os sistemas de projecdo culminam na obra do flamengo Mercator (1512-94), que orienta tancia. Os relégios eram em geral piblicos, nas cate- drais ou mosteiros. A existéncia de muitos nos cen- tros urbanos atesta a complexidade atingida pela vida social, requerendo padrio para que todas as pessoas regulassem seus compromissos. Demais, sa- be-se que a marcac&o do tempo esti ligada A vida religiosa — igrejas e mosteiros —, com as oracdes do dine da noite: elas davam o ritmo da existéncia e dos dias, impondo a exata fixag&o das horas; '8) Imprensa: outros inventos de alta ressonain- cia vém a ser 0 papel e 0s tipos de impressio, que levariam a tipografia e a imprensa. Aperfeigoaram-se nos séculos seguintes. A imprensa comegou com Francisco Iglésias pranchas de madeira, depois com tipos méveis de foi obtida 14 primeiro: na Coréia, em 1390. O pro- cesso aleangou sua forma evoluida, que seria a ma- triz da imprensa moderna, na obra de Gutenberg (1400-57), entre 1436 e 1450. A tipografia supse, além dos caracteres de impressio, papel, tinta, gra- vuras de madeira ou metal. Parece que 0 objeto se firmou entre 1440 e 145. Como se vé, devem-se & as, tanques, sste sumdrio que a técnica medieval € jae enriqueceu o patrim6nio hu- carter pragmtico que muito a pelas formas de produglo consagradas. A Idade Mé- dia teve também a servidio ¢ as corporacdes, mas estes dois sistemas — sobretudo o segundo — foram ambiguos, incentivando a produgdo no primeiro mo- mento, bloqueando-a depois pelos regulamentos ri- gidos. S6 a medida que foram vencidos a tecnologia se expandiu, florescendo em técnicas que vo marcar a Idade Moderna, a contar do século XVI, como se verd. Nao importa o recrudescimento verificado ai da escravidao, pois ela ndo perturba — antes a principio ajuda os povos dominantes em franco expansio- nismo. ‘Se todo perfodo é de mudanga ou crise, ha al- guns em que essas se aceleram ou se aprofundam, assistindo-se a uma alteragao de qualidade. O pro- cesso historico as vezes é descontinuo, feito de rup- turas e saltos. Um desses momentos singulares € 0 século XVI, quando alterages dio novos rumos a ‘tudo ou quase tudo. Marx assinalou o seu carter revolucionario, como perfodo fundador. O mesmo fazem os historiadores das varias especialidades, da economia ou da vida intelectual. Entre aqueles — que nos interessam mais —, Marx, Sombart, Fran- ois Perroux, Jean Marchal ¢ tantos outros. Entre os elementos configuradores do novo pe- riodo assinalem-se: diferente mentalidade poe 0 ho- mem como centro de tudo, ao contririo da Idade Média, que punha nesse lugar Deus ¢ a religio, ou seja, a passagem de um sentido teocéntrico a um sentido antropocéntrico; a valorizagio da Antigui- dade classica e a idéia de retorno a suas normas, no discutivelmente chamado Renascimento, manifesto monolitico sob a égide da I giosa de Lutero e outros; a ‘geogrdfico, com os descobrimentos maritimos, que Francisco Iglésias assinalam a passagem de um mundo estreito, cen- trado no mar Mediterrneo, para um ecémeno em que se incorporam a América e também a Asi maior parte da Africa, as ilhas do Indico e do fico, as viagens por todos os oceanos; vem o contacto de outras riquezas acuja exploragdo se lancam os ragdo econdmica; a quebra do vinculo entre a ea Economia e a Btica, de que foram ideélogos, 1527) e Calvino (1: ‘econémicos e financeiros leva as novas formas de vida econdmica, com o aumento da circulagdo mone- taria, dos bancos e operagées financeiras. Apura-se a contabilidade, pelas letras de cambio e uso de ni- j@ em 1494 0 franciscano ‘aos seus Tratados, criando indispensavel aos novos com a “desmaterializagao do todo um outro quadro: ao lado das mani ja arte hé uma diferente pulsag%o econd- 0s postos da aristocracia, os anteriormente quase exclusi- vos dos bens iméveis — e dos poderosos Estados na- cionais, que saem das ruinas do feudalismo. A Revolugdo Industrial Outra nota digna de ser realeada é a valorizacto social e até psicol6gica da técnica, de lugar ainda no século XVI, com o inicio da Filosofia moderna. Ela ‘comeca com a consolidac%io dos métodos cientificos e forgas das experiéncias das artes industriais. En- quanto antes a especulaco perdia-se em abstragdes ‘ou no vazio, agora esté ligada ao trabalho, a impor 0 método experimental. E claro que reviravolta do gé- nero, profunda e avassaladora, nao se faz de um dia para outro. A tradigio resiste e ela tem muitos obsté- culos a vencer. Aos poucos, porém, impde-se, 0 que 6 se dara em nosso tempo. Deve-se consignar que a experiéncia e seu culto tém certa divida com as pré- ticas supersticiosas tio freqientes na Idade Média. Ha um débito relativamente a cabala, & alquimia, & astrologia, & magia. Certo que elas no continham sentido cientffico, mas de sua pratica resultaram ob- servag®es e experiéncias que puderam despertar 0 ‘gosto pela pesquisa. Uma forma equivoca ou aciden- tal de chegar-se a algo aprecidvel, certo. Se durante a Idade Média o monge Roger Bacon (1214-94) proclamava a necessidade do experimen- talismo, fugindo as querelas sutis de conceitos e pa- layras, progride-se muito na nova directo. Mais se atitude com a obra de Francis Bacon (1561- chanceler inglés. Segundo ele, as técnicas ‘em devaneios e s6 conquistaré posigdo seguindo 0 método experimental. Descartes (1596-1650), se po- deria passar por filésofo puro, tem o culto do tra- balho. Estudou o maquinismo e seu alcance, apre- sentando os fundamentos da mecanica. Pregou a necessidade de uma Escola de Artes e Oficios, um fato algum tempo depois nao s6 na Franca, como em portante a valorizar a ténicé matematico Leibni apresenta uma série de pensadores que valoriz: cigncia e a técnica. Entre eles, Voltait autor de vasta obra, na qual se mecnica. A seu ver, ela é mais liosa que a discussao: “é a um instinto mec@nico que existe na maior parte dos homens que devemos todas as artes ¢ de modo nenhum a sa filosofia” foi o mais afeicoado as té tudo das artes industriais, para melhorar os homens des dos artifices. Es quieu (1689-1755), Rousseau (1712-78). Os assuntos cientificos e técnicos, as noticias sobre artes meca- nicas ai mereceram atengdes especiais, com admird- A Revolugdo Industrial veis desenhos e estampas. Tem-se na obra uma si- mula do pensamento livre do século SS iria Antes que esses aes existanem 3 fai ticos e esbocos de aparelhos de extrema sofisticago, 0 génio mecanico alta compreensio da mecéni fisico ¢ astro- nomo Galileu Galilei (1564-1 utor de desco- bertas e obras originais, sempre voltado para 0 expe- rimentalismo. O primeiro grande nome a invocar na Astro- nomia foi o de Nicolau Copérnico (1473-1542), nas- cido na Polénia, mas formado na Itilia, onde reali- zou sua obra. Apresentou um sistema planetirio ori- ginal, colocando 0 Sol como centro de todo o sistema de que a Terra faz. parte; a Terra, como os demais planetas, giraria em torno dele; sugere o principio da gravitagdo universal. Até entio dominava o sistema de Ptolomeu, grego do século II de nossa era e autor de obras sobre o sistema planetério, nas quais a Terra era o centro de tudo. Outro a ser destacado é 0 alemAo Kepler (1579-1630), astronomo e matemético responsivvel por descobertas definitivas, contribuindo para enriquecer 0 método cientifico. Na linha de cita- ‘glo dos fundadores da ciéncia, lembre-se Isaac New- Francisco Iglésias ton (1643-1727), com importantes inventos e desco- bertas, publicando em 1687 Principia Mathematica (fundamentos da mecinica ¢ lei da gravitacao uni- versal). Muitos nomes poderiam ser citados ainda de cientistas, que foram médicos, fisicos, quimicos. Ou filosofos. Restringimo-nos aos que deram contribui- Bes A mecfinica ou praticaram 0 método experimen- tal, ou escreveram valorizando-o. Desse trabalho re- sultaram os avancos da técnica, eles fazem as gran- des inovacdes que vao levar ao impulso das indés- trias. Destacou-se o de mais significado, no se ten- tou o levantamento enciclopédico. Do século XV ao XVIII verificou-se verdadeira mudanca de mentalidade. A mecinica ea técnica, de menosprezadas, passam a supervalorizadas. Nao é generalizada essa aceitagdo, pois os preconceitos tém raizes fundas, dificilmente removiveis. Ainda no sé- culo XVIII e mesmo nos seguintes, até o atual, en- contra-se certa atitude de suspeita ante o manual ou mecfinico, enquanto se realca 0 écio, o lazer, a con- digdo de nobreza, que nAo trabalha ou s6 trabalha com a inteligéncia e exerce o comando. Dai a descon- sideragdio com tarefas como as agricolas — revolver a reiras, ou mesmo as comerciais. Segundo parece, s6 a civilizagao arabe venerava 0 comércio e soube pra- ticé-lo com éxito: Maomé, o seu profeta, era comer- ciante. Mesmo relativamente aos engenheiros havia certa suspeita, pois lidavam com esforgos mecnicos. Curioso lembrar como os médicos, forrados de hu- ‘manismo, nao tinham respeito pelos cirurgides, pois A Revolucao Industrial exerciam labor mecdnico. Até 1743 — repare-se a data — eram vistos como espécie de barbeiros. Jé havia, porém, forte opiniio contréria, valori- zadora da mecdnica, como se vé em filésofos da cate- goria de Francis Bacon, Descartes, Pascal, Leibnitz, Locke (1632-1704), Voltaire, Diderot, génios como Leonardo ou astrénomos e matemiticos como os ci- tados. Leonardo escreveu mesmo que “‘a ciéncia da meciinica é, entre todas, a mais nobre e a mais util”, ou “o tratado da cié jecdinica deve preceder 0 tratado das invengé ", como se vé na citag&o aqui ja invocada. ‘A essa mudanca de mentalidade, tao positiva e sinal de avango dos tempos, corresponde o aumento dos esforgos manuais e mecinicos, com a multipli- cago dos inventos. Entre os nomes da Antiguidade superestima-se o de Arquimedes: chegou a ser colo- cado em uma obra de Jerénimo Cardan, de 1569, em posicdo superior a de Aristételes, em atitude que escandalizou na época e no pode de ser estra- nhada também hoje. Cresce 0 mimero dos homens interessados no progresso técnico e eles se unem em sociedades cien- tificas, para estudo ou incremento de atividades. A primeira foi a Academia dos Segredos da Natureza (Academia Secretorum Naturae), fundada em 1560 em Népoles. Tinha muitos objetivos, o principal era técnico. A de Napoles se seguiram outras, em dife- rentes cidades: Paris, Hamburgo, Berlim, Sio Pe- tersburgo. Londres teve a Royal Society e a socie- dade para encorajamento do comércio, das artes € a ‘manufaturas (1754), tal como outras cidades inglesas (Birmingham e sobre pie s primeiros gran- carn, Giovanni Branc: as bases do conhecit e inventos se multi- plica, de modo que é impossivel acompanhé-lo. Lem- ‘brem-se apenas algumas coisas, por sua importancia ou curiosidade. Aperfeicoando os rel6gios, no inicio do ois os anteriores eram em geral grandes € de dificil manobra. Foi penosa a busca de relégios com seguranga para a navegagao: muitos se empe- nharam nela, 0 que s6 foi conseguido em 1790. Outro aparelho que ocupou atengdes e deu muito trabalho foi a maquina téxtil. A roca, bem conhecida, obri- gava primeiro a fiar e depois a enrolar os fios em uma bobina. Um aperfeigoamento permite realizar ao mesmo tempo as duas tarefas. Seu uso se fez eficiente em 1530, no torno de fiar de Johann Jungen, que faz mais ainda, com 0 emprego de pedal e manivela, libertando as maos. O invento é vulgar j4 no fim do século XVI. O tear de cintas permite tecer varias cintas ao mesmo tempo. Um operario Dantzig em 1579, mas o Conselho Municipal, teme- 1050 do desemprego entre os teceldes, suprimiu 0 invento e estrangulou o autor. A maquina reaparece em 1621 € no fim do Seiscentos era usada em varios paises. Outra maquina util é a de tecido de ponto, criada em 1589, por Lee, quase de todo automatica. Havia maquinas movidas por rodas hidréulicas, para fabrico de seda. Todos esses inventos ou pesquisas tém em vista a mecanizacao da indistria téxtil — 0 que s6 se obterd no fim do século X’ ‘Como ensina Sam Lilley, o principal problema era bombear 4gua, para esvaziar as minas e para 0 abastecimento das cidades. Interessam sobretudo os esforgos feitos com o intento de utilizar o vapor de 4gua. Tratar-se-A deles, dos éxitos e dificuldades, no capitulo seguinte. Ao lado da tecelagem, teve papel o interesse pela indiistria pesada — no caso, mineraco e metalurgia. As duas formas se desenvolveram mais que quais- quer outras, dada a procura de metais solicitados pelo comércio ¢ indiistria crescentes. Como no caso anterior, a matéria ser4 vista no capitulo seguinte. Maior comércio e industria levam ao crescimen- to das cidades. Sam Lilley diz que no século XV Paris tinha 300000 habitantes; Veneza, 190000; Bruges € Praga, 100000. Para Hobsbawn, Londres em mea- dos do século XVIII tinha “mais ou menos 750000 habitantes (...), sendo talvez duas vezes maior que Francisco Iglésias A Revolugdo Industrial sua rival mais proxima, Paris" (Da Revoluedo Indus- trial Inglesa ao Imperialismo). Criam-se problemas de abastecimento de égu: tas bombas. A Alemanha foi pioneira em todas essas atividades, talvez j4 desde o ano de 1500, seguindo- se as cidades inglesas; 1608. Para acionar as ma usava-se a energia hidréulica, como se vé em quase todas as indiistrias. Além desse moinho, usavam-se ‘outros, como o de marés, o de vento. Continuava a busca de formas de energia. A principal preocupacio era a do potencial do vapor, mas nio se sabia como aproveité-lo. Apés tentativas, na segunda metade do século XVI chegou-se a um resultado: em 1560 Ba- tista Porta (1541-1615) conseguira elevar agua pela condensacao do vapor, como se vé em descrigdes em livros e em figuras. As mAquinas eram ainda preci- rias, nao atendiam bem a seus objetivos. Exito s6 no século XVIII. As técnicas dos séculos XVI e XVII alteram a ordem social vigente. O poder estava ainda em parte nas mios dos senhores feudais, pois a indtistria existia para servir & agricultura, A industrial tfpica era o artesio independente, possui- dor de sua oficina e utensilios. Contava com 0 auxilio de aprendizes — dai as corporacdes ou guildas, re- gidas por normas severas e invioldveis; como lem- ramos antes, elas salvaram e incentivaram a indtis- tria a principio, mas, com 0 tempo, passaram a blo- quear a producio. Com o desenvolvimento urbano e comercial, nova ordem politica, com os Estados Na- cionais, outra forma de indiistria comegou a apare- cer, fora dos estatutos corporativos, em atividades no regulamentadas ou mesmo nessas. As méquinas requeriam concentragdes em fabricas e com alto nii- mero de empregados, ja livres ou quase livres. Cresce assim o sistema fabril. E 0 que se vé sobretudo na mineracdo ¢ meta- lurgia, como em outros labores. Sam Lilley d4 alguns exemplos expressivos, como 0 de uma fabrica de 120 teceldes em Amiens, em 1371; com 120 impressores em Nuremberg, cerca de 1450; no comego do século XVI Jack de Newbury teve uma tecelagem com mais de 200 teares e cerca de 600 trabalhadores. Tais ‘empresas se tornam comuns sobretudo na Inglaterra, pelas alturas de 1660, empregando as vezes até 0 capital de 10 mil libras: entretanto, “nao eram mais que pressdgios da grande mudanca para o sistema fabril, transformagio ocorrida durante 0s séculos XVIII e XIX". ventores ou inovadores eram perseguidos, até com a morte, para ndo afetar a ordem estabelecida. Em 1397 em Colénia as maquinas eram proibidas; 0 ovo as temia, pelo desemprego; o Parlamento inglés 1553 uso de pegas acionadas por energia 1a; em 1623 Carlos I fez destruir a mé- quina de fabricar agulhas. Como conclui Sam Lilley, “esta oposigiio nunca chegou a deter por completo 0 rogresso técnico, mas logrou entorpecé-lo”’. Por ou- tro lado, se havia fatores adversos — 0s mais comuns —, havia os pioneiros ou associagdes que incentivam Pesquisas, com prémios a quem trouxesse algo de novo. A realidade descrita até aqui refere-se sobretudo Arealidade inglesa, em menos escala a alema. Houve outras orientacdes de éxito. Para citar apenas uma, lembre-se a Franca do tempo de Colbert (1619-83) — inspetor geral das financas piiblicas, um superminis- Ieceu as fabricas faziam enormes imentos, gozando de prote- goes. Para elas Colbert atraiu o de melhor na indiis- tria do tempo, como metalu febeicsotes do vides ila artigos de luxo dos paises Paises Baixos. Era uma forma pioneira e arrojada de estatismo econémico, mais que de simples interven- cionismo econdmico, que fez o engrandecimento fi- nanceiro da época e marcou uma das orientacdes do ‘mercantilismo. Com o amparo as novas fabricas 0 governo afrouxou as corporacdes, esvaziando-as mes- mo. Os tempos estavam maduros para nova ordem, que se caracterizaria por uma transformagio juridica — a Revoluc&o Francesa, que leva a nascente classe da burguesia ao poder, com a derrubada da aristo- cracia e a instituic4o — em parte te6rica — da igual- dade € rdade; por nova maneira de ver — experimentalista, pritica, valorizadora do trabalho mecfinico e técnico, s6lido produtor de riqueza; por transformagao no proceso produtivo, com outras formas de trabalho, diversa organizagio, as grandes fabricas, 0 esforco técnico fundado na mecdnica e na liberal completa-se com diversa visio da econdmica, esta cada vez mais volt tria. O fim do século XVIII é um revoluciondrios da Hist6ria. Ele configurou a socie- dade, a politica, a economia e o proprio homem da Idade Contemporanea, com a Revolucdo Francesa € a Revolugao Industrial. A Revolugdo Industrial O QUE FOI A REVOLUCAO INDUSTRIAL Como se viu no capitulo anterior, da Pré-histé- ria aos dias atuais houve atividade : artesanato, manufatura, industria. E que fa se entende sobretudo o emprego de maqui- nas, que ¢ a substituic4o do trabalho do homem mais que sua simples ajuda. O homem passa a agente de Revolugio Industrial, que poderia ter seu esquema completado com a producio em série, em grande Para um consumidor indeterminado. En- antes se produzia para certo mercado, cons- I oe rmoes: conhecidas, agora se produz para um mercado andnimo; enquanto antes o artigo era feito por um artesdo, uma pessoa, agora o € pela méquina ou por varias pessoas, que dividem as tare- fas, de modo a tornar o labor mais racional e rent4- vel. A produtividade da maquina é evidentemente muito superior a do trabalho antigo. Altera-se no fundamental 0 modo de produgo, com proveito para o agente produtivo, a quantidade ea qualidade do artigo a ser posto no comércio, bem. como para o dono da fabrica. O capitalista que acu- mulou bens e os investe nos grandes estabelecimentos vé multiplicar os seus recursos. Nao mais a producao domiciliar do artigo, mas a existén fabrica, a ‘agrupar até centenas de trabalhadores. O empresério €0 dono do aparelhamento e do material, o artesto & apenas o que vende sua forga para a fabrica: 0 pro- prietirio ter 0 lucro — poderd ter também o pre- juizo —, o operirio terd o salério. A diferenca entre 0 lucro € 0s salarios ficara o ganho do investidor. Nao é aqui o lugar adequado para estudo do mecanismo econémico com Ele é livros de Economia, notadament que ‘estudam o funcionamento do sistema capitalista: se este tem antecedentes em séculos anteriores, é sobre- tudo no século XVIII que se estrutura, ganha forma € vigor, pois é com a indiistria que o sistema se corpo- 'O que é recente nio s40 as mAquinas, € 0 ‘maquinisrio”, como afirmou Paul Mantoux. 0 que hd antes, com a agricultura, a extragdo, 0 comércio, fa finanga 6 0 seu preparo ou seu esquema incom- pleto. O capitalismo propriamente dito € decorréncia da grande indistria, desenvolvendo-se pois ha cerca de duzentos anos. 0 destino Se tivemos antecedentes tecnolégicos, eles se impuseram com descobertas ¢ inventos feitos lenta- ‘mente, se nos periodos mais recuados havia um pre- conceito antimecdnico ou antimanual, explicdvel pe- la ordem social com o trabalho nao livre — a escra- vidio, a servidao e a corporac&o. A medida que esses entraves foram sendo superados foi mais necessério esforgo do homem, que o leva as pesquisas, Os resul. tados se acumulam e a técnica se aprimora. Também como decorréncia o pensamento liberta de peias os que s6 0 imaginavam em forma pura, sem finali- dades praticas. Chega-se assim A valorizacio do meciinico e a ciéncia é cada vez mais pragmatica. Associando-se técnica e ciéncia obtém-se resultados Significativos e os inventos se multiplicam. Maior nii- mero de facilidades € colocado a dispor do homem: seu trabalho se suaviza e torna-se mais produtivo, ele Pode dedicar-se cada yez mais a ativi ‘avango teenoldgico o esforgo vai diminuir, sobrando- Ihe oportunidade a ser aplicada no estudo e no lazer. Como resultado o desenvolvimento técnico e econd. mico se acelera, como se vé na fase atual da ciber- nética. As experiéncias bem-sucedidas tém alto efeito multiplicador e a marcha da técnica se acelera: dos Primeiros tempos da Historia ao século XVIII ob- ‘tém-se muito menos do que das duas iltimas décadas desse século aos dias atuais. E a tao proclamada ace- eraco da Hist6ria, que faz em uma geraco ou em dois ou trés anos alterar-se todo um estilo de vida ou ‘mentalidade, como se vé nestes anos do fim do século XX, cujas transformagdes sao velozes e fulmi- A Revolugdo Industrial 31 nantes, por vezes perturbando 0s que as vivem e nem chegam a perceber 0 quadro. re _quisermos datar a Revolucao Industrial tere- Fala-se genericamente que da segunda metade do_séc objetivos chegam a dizer, di lo XVIII —, no ha diivida quanto ao local: foi a ing iterra e parte da Escécia, pois o Pais de Gales e a Irlanda viviam em condigdes semelhantes as partes mais pobres da Europa e nada ou pouco tiveram a ver com a industria no periodo citado. Impée-se mostrar quais 0s setores que se desen- volveram e caracterizaram a Revolugao Industrial. Esquematicamente, pode-se dizer que foram trés: a miquina a vapor, tecidos de algodao, com novas formas de fiagao e tecelagem, e, por pesada, com a mineragdo ¢ a metah setores foram os mais atingidos, apresentando pro- ‘gresso que altera as condigdes anteriores e vai defla- grar crescimento sem precedentes, capaz de afetar Outros segmentos produtivos. Assim se dé notada- de modo exaustivo. A matéria é convenientemente exposta em livros especializados — como a Histéria das Invengdes Mecénicas (1929), de U. P. Usher, ou a Revolugdo Industrial no Século XVII, de Paul Mantoux, entre outras obras. Demais, o problema tem aspectos técnicos que nos escapam e nos pare- cem dispensfveis, pois nosso propésito é dar 0 con- Junto de transformagao social, prescindindo de por- menores descritivos de aparelhos. O vapor como elemento energético ja era conhe- gumas praticas vém do século XVI, com as sugestdes de Cardan (1501-76) ¢ de Porta (1541-1615); Salo- mao de Caus (1576-1626) aperfeicoou-as, distin- guindo entre ar e vapor de Agua, explicando a con- por Denis Papin (1647-1712) desde 1690, chegando quase A méquina ja completa. Outro caminho foi o da necessidade de extrair a gua das minas, através das bombas de fogo. Quem mais teve éxito af foi Edward Somerset, segundo Marqués de Worcester (1601-67), com a maquina elevatéria pelo uso da pressao do vapor. Vem a mé- quina de Savery (1650-1716), em 1698, simples mas tismo da maquina a vapor. Newcomen trabalhou na Bega desde 1705, mas seu primeiro Exito concreto € de 1712. Como afirma Ducassé, ela“ dades”. Pouco econdmica, precisava ainda ser apri- morada. ‘Muitos trabalharam nesse sentido, mas quem teve éxito foi James Watt (1736-1819). Fabricante e reparador de instrumentos de Fisica, era habil e cria- tivo: Paul Mantoux fala mesmo em sua ciéncia e em seu génio. Trabalhando na Universidade de Glas- Substituiu-o por uma cémara de condensagio sepa- rada — 0 condensador. Em 1765 obtinha resultados era na verdade uma bomba de fogo. Desde 1775 0 ‘engenho de Watt comeca a dominar. Arruinado em importante, desde 1773, ap6s a ruina de Roebuck. Os estudos prosseguiram e a criagfo foi sendo aper- feigoada, bem como outras iniciativas que fazem de cionando a érea; ‘ aplicago aos transportes leva a ‘A mevowugao snausiriat navegacdo eficiente. Comegou-a o barco de Robert Fulton (1765-1815), estadunidense que trabalhou no de Nova Iorque a Albany. A Inglaterra foi a primeira a atravessar 0 oceano, com o barco Savannah, em 1819. Era antes um barco a vela, com o vapor como Cunard Line. Os barcos eram de madeira e movidos por rodas; mais ou menos em 1836 comega o funcio- namento com a hélice; a construgio de ferro é de meados do século XIX. O primeiro barco de ago é de 1863, e, em 1874, 0 aco substitui completamente 0 t6rio, o que nao era dificil, pela sua pequena dimen- slo — o ponto central mais distante do mar estava a pouco mais de cem quilémetros. Demais, a terra in- de qualquer outro pais. Depois é a vez das locomotivas: houve experién- cias e realizag6es no princfpio do século: os trilhos Francisco Iglésias primeira metade do Setecentos ele ¢ produzido e omega o movimento de invengbes para elevagio da qualidade, melhores pregos e maior produtividade. As dificuldades nto desapareceram de todo, € os inventores tiveram sempre que enfrentar os que pre- feriam as formas antigas, alegando os males do de- semprego causado pelas inovagSes, embora essas fos- sem mais econdmicas ¢ racionais. ‘Série enorme de melhoramentos tem lugar, so- bretudo no século XVIII. A produgdo era insuficiente para o consumo local ¢ o de seus mercados, era pre- ciso aumentar as quantidades. Impunha-se melhorar ‘a fiagdo, pois as tecelagens requeriam cada vez mais. s6 aparecem nesse século. os cientistas que as tratam, mas com dificuldades a ultrapassar A teoria romantica ou herdica das invengdes € quase sempre sem base. Como bem afirma Paul Mantoux, “a hist6ria das invengdes nfo € somente a dos inventores, mas a de experiéncia coletiva que pouco a pouco resolve os problemas pos- tos pelas necessidades coletivas”. John Kay (morto em 1764) faz a lane: 1733, iniciando a série de melhoramentos na fiagdo méquina de fiar, de John Wyatt (1700-66) e Lewis Paul, embora a patente seja de 1738 e atribua a peca apenas a Lewis Paul. Hargreaves (morto em 1778) consegue sua maquina de fiar — a spinning-jenny — em 1765, uma roda com varios fusos e que funcio- nava a mao. Com ela o operario podia controlar oito fusos, logo depois oitenta ou mais. Arkwright (1732- 92), simples comerciante, que lida com muitas coi- sas, criou em 1768 0 tear hidraulico (water-frame), eficaz e produtor de um fio mais forte que os ante- riores. Atuava sob a aco da forca hidréulica ou ani- mal. Antes 0 fio de algodao era tAo fragil que s6 se podia us4-lo com a ajuda do linho para a trama, para reforgo. A nova maquina produzia tecidos totalmente de algodao. Arkwright, apesar de suas dificuldades, foi glorificado como ‘‘o fundador da it derna”, como se lé em Paul Mant retrato entusiasmado que Carlyle (1 dele em famoso escrito. Apesar de tanta consagra- ‘eho, foi acusado de nio ser o autor do invento dado como seu, fonte de interminavel processo. Pouco de- pois, em 1774, Crompton (1753-1827) combina as méquinas de Hargreaves e de Arkwright e faz a mule (o nome provém de sua formagao hibrida, usando caracteristicas de duas outras maquinas), produtora de fio superior, mais fino e resistente que o da India (a grande produtora oriental de tecidos). Crompton comegou sua pesquisa em 1774, exibindo a m4quina em 1779. Se antes os teceldes reclamavam da falta de fios, hi agora excesso e as tecelagens tém de se desdobrar. Contribuicio para enfrentar a dificuldade é dada pelo Reverendo Cartwright (1743-1823), com o seu tear mecdnico, em 1784. Era defeituoso e s6 teve aceitagio depois que varios outros trabalhadores imaginosos 0 aprimoraram. E 14 para as alturas de Francisco Iglésias A Revolugéo Industrial 1810 0 aparelho encontra a forma adequada. Como generalizado dos inventos s6 se faz no século XIX, as vezes muito depois de suas criagdes. O tempo hist6- territério britinico nfo produzia. Assim, ficava na dependéncia de importagdes das Colénias na Amé- rica do Norte — depois Republica dos Estados Uni- ‘dos —, em menor escala de outras partes do conti- nente americano ¢ do Levante. Houve periodos de dificuldade de importa¢do, como na guerra de inde- pendéncia das coldnias americanas, na guerra com Acima uma impressora, abaixo um tear. 0s Estados Unidos e nas guerras com a Franca (a Revolucdo Industrial coincide com periodo de Polf- tica externa conturbada, fonte de embaragos). Entre tanto, foi essa indistria que fez que “a Inglaterra se que, em Da Revolusao Industrial categérico: “Quem fala do algodao”. no pafs, teve seus cen- tros de concentragdo, o principal dos quais foi Man- chester, cidade que cresceu A sua sombra. A impor- tancia da planta e do tecido & do fim do século e sobretudo do século XIX: basta lembrar que Adam. Smith em A Riqueza das Nagdes, em 1776, s6 faz referéncia de passagem a producdo algodoeira. O certo é que o algodao fazia fortunas: Hobsba Ff bra que “o maior dos primeiros industriais dao foi o Sr. Robert Peel (1750-1830), um homem, que ao morrer deixou quase 1,5 milhao de libras — soma astronémica para a época —e um filho que em. breve se tornaria primeiro-ministro da Gra-Breta- nha", E 0s Peels eram de origem humilde — campo- de Revolugao Indust Atividade gener A Revolugdo Industrial neses remediados. A estatistica de importagio do artigo prova sua importancia: como se vé em dados de Paul Mantoux, a importac&o em 1701 nao passava de um milhdo de libras; cinqienta anos mais tarde, era de 3 milhdes. Em 1771, elevava-se a 4760000, em 1781 a 5300000. O crescimento fica mais sur- preendente: em 1784 € de 11482000 e em 1789 de 32576000; em 1799 € de 43000000, em 1800 de 56000000 e em 1802 de 50500000 de libras. O mes- mo se dé com a exportagdo: em 1780 ndo chega a 360000 libras. Em 1785 jé ultrapassava 1000000. Em 1792, 2 milhdes; em 1800, 5500000; em 1802, 7800000 libras. Trata-se, pois, de crescimento no- tavel de producdo e de peso na balanca comercial briténica. Para tanto, contou o protecionismo oficial, io do governo. A produgio algodoeira, por stava livre dos embaracos das corporagdes: livre, no tinha de obedecer a prescrigBes que tanto limitavam a If e a seda, por exemplo. ceiro elemento configurador da mudanca: minerac&o e metalurgia. Na Antiguidade lidava-se com metais; a mineragio era prat de modo tosco. A pritica continua na Idade Mi que na aurora da Idade cifvel nivel, notadamente nas mins ciam-se processos de sondagem, mento, regularizagao € drenagem das aguas, bem como alguns utensilios de trabalho, que tornavam possivel a exploragdo em profundidade. A Ingla- terra, de subsolo to rico, abastecia-se com alem&es € suecos. Até o século XVIII a siderurgia dependeu do dido que era relativamente livre de impurezas”, forma Phyllis Deane. No dizer de T. S. Ashton, “seu dos fatos mais notveis na his- tho inteligente do ferro, Meee eee ‘205 metais finos, macios e leves, que permitem a fabricagio dos metalurgia. Multiplicava-se o ntimero de operarios € artifices e muitos deles, diligentes e imaginosos, iam aprimorando aos poucos o metal e os objetos feitos ‘com seu uso, como também os artigos de tecelagem. Em 1589 William Lee fez a maquina de tecer nieias, para a preparaco do aco. Eles abriram, para 0 mundo inteiro, a era da grande produgio metalir- ica”. A metalurgia vai dar auxilio considerdvel A agri- cultura, com a construgdo de m4quinas para arar o agricultura, 0 que a colocava na dependéncia dos interesses dos senhores feudais. Agora a indtistria € independente, depois de passar pela organizacio das guildas ou corporacdes. O artestio ou operario de- pende do seu esforco, pois é dono de sua pequena oficina — em geral doméstica — e do seu trabalho; se serve em unidades maiores — as fabricas —, depende do proprie que traca programa vi- sando ao lucro. Dé-se A agricultura se tal Ihe con- pes caso contririo, fixar-se-4 no setor mais ren- 50. Destacou-se antes a prioridade da indistria al- godoeira. Sabe-se, porém, que ela nao mantém mui- tos vinculos com ferro e transporte extensivo e bens de capital, por um lado, ¢ na reducao de custos numa ampla série de bens manufaturados bem como nas indistrias de transporte e construcdo, por outro — podemos ver a inddstria siderirgica desempenhando um papel mais Poderoso ¢ penetrante no processo de industrializa- ‘¢fo britiinica do que o desempenhado pela ir i algodoeira”’. Segundo a mesma autora, importante da revolugdo industrial foi verteu a economia britnica duma economia baseada para uma alicergada no carvao e ferro". Se a atividade é generalizada, talvez se possa dizer que Birminghan e Sheffield foram seus centros principais. E a Gra-Bretanha, que no prin- cfpio do século XVIII dependia das importacdes de Estados alemies e Suécia, no fim do século jé & importante centro siderdrgico e metaliirgico. fato de a Inglaterra ter superado o sistema feudal antes que outros paises ¢ importante para compreender seu pioneirismo industrial. Demonstra- se a alteragiio do quadro britinico pelo mimero de patentes concedidas: na década de 1630/9, 75 paten- tes; nas décadas de 1640 a 1659, 4 apenas em cada década; o niimero se eleva a 31, de 1660 a 69, atinge a cifra ‘de 102 de 1690 a 99, para cair na década seguinte a 22 patentes. Continua inferior a 100 até a década de 1760/69, quando alcanga 205 (na década anterior foi de 92). E 0 crescimento é continuo ¢ expressivo: 1770/79, 294; 1780/89, 477; 1790/99, 647; 1800/09, 924; 1810/19, 1124; 1820/29, 1453; B.R. Mitchell, citado por Phyllis Deane). ‘Lembrou-se 0 nome de muito inventor. E claro que inimeros outros, operdrios ou cientistas, deve- riam ser citados. Varios aperfeicoamentos revolucio- nérios no foram percebidos na época e os nomes de seus autores se perderam. Na histéria da indistria, como na econémica, ha muitos herdis andnimos. Gente talvez mais significativa que a invocada teve 0 nome esquecido. Sobretudo artesios ou operdrios Francisco Iglésias A Revolugao Industrial ‘que no tiveram quem Ihes assinalasse os feitos. Aqui também, como na Historia Geral, a Historia 6 feita pelos dominadores, que tém todos os beneficios fun- dados nos sacrificios do maior mimeo. Afinal, a ver- so € sempre a dos vencedores, pois eles & que a es- crevem. Por Giltimo, uma palavra sobre o ritmo em que se passavam as coisas: 0 tempo conhecia a aceleracdo que transfor anos todo um quadro econdmico. - culo XVIII custavam a ser postos em pratica: sabe-se do éxito da maquina de Watt; ainda em 1830, ses- senta anos depois de sua patente, apesar da superio- ridade relativamente as outras, continuavam em uso muitas méquinas de Newcomen. Entretanto, o in- vento de Watt foi, de todos os da época, o de mais repercussio. No fim do século comega a ter uso gene- ralizado. Nos diltimos anos do Setecentos € nos pri- meiros do Oitocentos era comum, como escreveu um ia 1802, espantado de encontré-lo a , em sua viagem pelas zonas industriais da Inglaterra. Segundo Svedenstoerna, ‘“n&o é exagero dizer que essas miquinas sto na Inglaterra t4o co- muns, © mesmo mais, que entre nés os moinhos de ‘4égua e os moinhos de vento”. O resto foi de adapta- so custosa. A langadeira yolante de John Kay, de 1733, tinha uso limitado ainda em 1820. O tear mecfnico de Cartwright, de 1784, s6 foi empregado em alta escala depois de 1820. A indtistria algodoeira do- méstica persiste até 1830, pois havia a resisténcia de chefes de familia ao trabalho em fabrica; na década de 40 € que o mimero de teceldes operando em teares mecanicos ultrapassou o de teceldes que continua- vam trabalhando em teares manuais. A extincdo des- inovagdes, os empresarios nao se arris- pecas continuavam em uso. Na Esc6- io do século XIX era comum ver mulheres carregando carvao nas costas pel metros ou mais, quando a maqui r o carvao mais répida e comodamente. Pior que essa indiferenga ante a inovagdo era o seu combate, com a destruigtio das m&quinas e o trucidamento dos jo medieval. O tempo se —, Por apatia ov de visto € obs firme e liicida dos governos Po larecido 0 piiblico e dado impulso & téc- ni tigada. O bem seria entdo maior ¢ de todos, mas nao houve essa firmeza e lucidez. CONDICIONAMENTO DA MUDANCA. A Revolugao Industrial na sej -gunda século XVIII na Inglaterra nao foi mach casual. {rrificou entlo e af e +6 poderia ter outros paises nio estavam - ae. Es cea peta para o pioneirismo inglés, vi i 4 Pesca seule XVII o que outros s6 conheceriam primeira a superar em parte atomismo do regime (© caso portugués, no século XII, no conta, Sit eugene ane , quando em 1215 bardes e cavaleiros im. em a Magna Carta a Jodo Sem Terra (1167-1216), Para coibirabusos © garantia das liberdades pili «as. 1 afrouxa-se com a Guerra dos Cem 13378 entre a Inglaterra ranga, que se alonga de 7 21483 (na verdade 116 anos), sobretudo depois A Revolucao Industrial que produt ‘medida precursora da lei de navegacio de a 6 flexivel, e, ao lado dos direitos da nobreza, ¥ jente ganhando forca a burguesia, surgida do comércio. As corporagdes nao tém a mes- ma presenca que nos demais Estados. ‘As grandes mudangas verificadas preparam 0 terreno para o industrialismo, impondo-o antes que ‘em qualquer outra parte. Sao alteragdes em profun- didade em trés setores, convencionalmente chama- das Revolugdes: Com Agraria e Intelectual. ‘Subverte-se a ordem antiga e prepara-se a area para ‘0 novo, propiciador de outra Revolugio — a Indus- trial (advertimos mais uma vez contra o abuso da palavra revolugao, de sentido sociol6gico exato, para seguir 0 convencionado nos livros. Questdo de én- fase, apenas, sem maior prejuizo) 'a) Revolugdo Comercial. O comércio, estag- nado grande parte da Idade Média, comeca a renas- ‘cer com as Cruzadas. Seu imp dé nos séculos XV e XVI, com os descobrimentos, realizados sobre~ ‘tudo por portugueses e espanhéis. Ante o éxito desses povos, outros, como holandeses, franceses, ingleses se empenham na aventura, Amplia-se o horizonte ‘geogrifico, o mundo deixa de concentrar-se em torno do Mar Mediterraneo e os oceanos Atlantico, Paci- fico e Indico passam a ser percorridos. E um mo- n

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