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Estética do Engenheiro Arquitetura Estéticd do engenheiro, arquitetura, duas coisas soli- dérias, consecutivas, uma em pleno florescimento, a outra em penosa regressao. O engenheiro, inspirado pela lei de economia e condu- zido pelo célculo, nos pée em acordo com as leis do universo. Atinge a harmonia. O arquiteto, ordenando formas, realiza uma ordem que é pura criagao de seu espirito; pelas formas, afeta intensa- ‘mente nossos sentidos, provocando emogoes plasticas; pelas relagées que cria, desperta em nds ressondncias profundas, nos dé a medida de uma ordem que sentimos acordar com a ordem do mundo, determina movimentos diversos de nosso espirito e de nossos sentimentos; sentimos entdo a beleza. Ponte de Garabit (Eifel, engenheiro). ESTETICA DO ENGENHEIRO, AROUITETURA 5 Estétioa do engenheiro, arquitetura, duas coisas soli- arias, consecutivas, uma em pleno florescimento, a outra ‘em penosa regressio. Questéo de moralidade. A mentira € intolerdvel. Su- cumbe-se na mentir A arquitetura € uma das mais urgentes necessidades do homem, visto que a casa sempre foi o indispensdvel ¢ Primeiro instrumento que ele se forjou. Os instruments do homem marcam as etapas da civilizacto, a idade da pedra, idade do bronze, a idade de ferro. Os instrumentos proce dem de aperfeigcamentos sucessivos; neles se acumula o ‘uabalho de geragbes. O instrumento 6 a expresso direta, imediata do progresso, O instrumento 0 colaborador obri- gatorio; ele € também aquele que liberta. O velho instru- mento € jogado a0 ferro velho: a escopeta, a colubrina, o fiacre e a velha locomotiva. Este gesto € uma manifestagdo de sade, de saéde moral, também de moral; no temos direito de produzir mal por causa de um mau instrumento; joga-se fora, substitui-se, Porém os homens vivem em velhas casas ¢ ainda nfo pensaram em construir casas para si. Gostam muito do proprio abrigo, desde tempos imemoriais. Tanto e tio forte- ‘mente que estabeleceram 0 culto sagrado da casa. Um teto! outros deuses lares. As religides sao fundadas sobre dogmas, 08 dogmas nfo mudam; as civilizagdes mudam; as religides desmoronam apodrecidas. As casas nfo mudaram. A religiio das casas permanece idéntica hd séculos. A casa desabaré. ‘Um homem que pratica uma religido ¢ néo cré nela, 6 um fraco, um infeliz. Somos infelizes por habitar casas indignas porque elas arruinam nossa saide e nossa moral. Tornamo- fos seres sedentérios, € o destino; a casa nos corr6i em nossa Po imobilidade como uma tuberculose. Logo seré preciso muitos sanatrios. Somos infelizes. Nossas casas nos repugnam; fu. gimos ¢ freqientamos os cafés € os bailes; ou ento nos Tew. ‘nimos sombrios ¢ escondidos nas casas como animais tristes Nés nos desmoralizamos, 6 POR UMA ARQUITETURA (Os engenheiros constroem os instrumentos de seu tempo, Tudo, salvo as casas ¢ as alcovas apodrecidas. Ha uma grande escola nacional de arquitetos e hé fem todos os paises, escolas nacionais, regionais, municipais, de arquitetos, que embrulham inteligéncias jovens e "Ihee casinam o falso, 0 artficio € as obsequiosidades dos cortesdos. Escolas nacionai Os engenheiros sio viris e saudaveis, diteis e ativos, morals © alegres. Os arquitetos sio desencantados e des” cupados, faladores ou légubres. E que em breve nfo terio mais nada a fazer. Nao temos mais dinheiro para construit ‘monumentos hist6ricos. Precisamos nos justificar, (Os engenheiros pensam nisso e construirdo, No entanto a ARQUITETURA existe. Coisa admirével, a mais bela. O produto dos povos felizes © 0 que produz povos felizes. AS cidades felizes tém arquitetura, A arquitetura esté no aparelho telefnico e no Parthenon, Como ela poderia estar & vontade nas nossas casas! Nossas c2sas formam ruas e as ruas formam cidades e mais cidades, € um individuo que adquire uma alma, que sente, que softe, que admire, Como a arquitetura poderia estar bem nas Tuas ¢ em toda a cidade! ESTRTICA DO ENGENHEIRO, ARQUITETURA 7 © diagnéstico € claro. Os engenheiros fazem arquitetura porque empregam ‘um célculo saido das leis da natureza e suas obras nos fazem sentir a HARMONIA. Existe entio uma estética do enge- nheiro, pois € preciso, ao calcular, qualificar certos termos ‘da equagio, e af € 0 gosto que intervém. Ora, quando © maneja 0 célculo estamos mum estado de espitito puro e, neste estado de espitito, 0 gosto segue caminhos seguros. Os arquitetos saidos das escolas, essas estufas onde se fabrica hortncias azuis,crisintemos verdes e onde se cultivam ‘orquideas sujas, entram na cidade com o espirito de um Ieiteiro que venderia seu leite com vitriolo, com veneno. Anda se acredita, aqui e ali, nos arquitetos, como se ‘exé cegamente em todos os médicos. Pois € preciso que as ‘casas no caiam! E necessétio, pois, recorrer ao homem da arte! A arte, segundo Larousse, 6 a aplicagio dos conheci- ‘mentos para'a realizagio de uma concepgio. Ora, hoje si ‘es engemheiros que conhecem, que conhecem a maneira de susteniar, de aquecer, de ventilar, de iluminar. Néo é ie? diagnéstico € que, para comecar pelo comego, 0 en- genheiro que procede por conhecimento mostra o caminho ‘© tem a verdade. E que a arquitetura, que € coisa de emogio ‘plastica, deve, no seu dominio, COMECAR PELO COMECO TAMBEM E EMPREGAR OS ELEMENTOS SUSCETI- EIS DE ATINGIR NOSSOS SENTIDOS, DE SATISFA- NOSSOS DESEJOS VISUAIS, e dispo-los de tal ira QUE SUA VISAO NOS AFETE CLARAMENTE delicadeza ou pela brutalidade, pelo tumulto ou pela nidade, pela indiferenca ou pelo interesse; estes elementos elementos plisticos, formas que nossos olhos véem cla- nte, que nosso espfrito mede, Essas formas primérias sutis, brandas ou toscas, agem fisiologicamente sobre sentidos (esfera, cubo, cilindro, horizontal, vertical, Ifqua etc.) e os comovem. Sendo afetados, somos sucetiveis pereeber além das sensagies grosseiras; nascerio entio tas relagdes, que agem sobre nossa consciéneia e nos juzem a um estado de jtibilo (concordancia com as leis, ‘universo que nos dirigem ¢ ais quais todos 0s nossos atos submetem) em que o homem usa plenamente de seus de lembranga, de exame, de raciocinio, de criacao. A arquitetura, hoje, néo se Iembra mais daguilo que a 26a. Os arquitetos criam estilos ow discutem superabundan- ente sobre estrutura; o cliente, o piblico reage em virtude hhabitos visuais e raciocina A base de uma edueagio insu- ESTETICA DO ENGENHEIRO, AROUITETURA 9 ficiente, Nosso mundo exterior transformou-se admiravel- ‘mente no seu aspecto € na sua utiizacio em conseqiiéncia da méquina. Temos uma nova éptica e uma nova vida social, orém, no adaptamos a casa a isto. Pode-se entéo colocar 0 problema da casa, da rua ¢ da cidade € confrontar 0 arquiteto com o engenheito. Para 0 arquiteto, escrevemos os “Tres LEMBRETES”: © VoLUME que & 0 elemento pelo qual nossos sentidos Pereebem © medem, sendo plenamente afetados. ‘A SUPERFICIE que € 0 envelope do volume e que pode ‘anular ou ampliar a sua sensacio, ‘A PLANTA que € a geradora do volume e da superficie € que € aquilo pelo qual tudo € determinado irrevogavelmente. Depois, ainda para o arquiteto, os “Tracabos REGULA- ores”, mostrando assim um dos meios pelos quais a arquite- tura atinge essa matemiética sensivel, que nos dé a benéfica pereepeio da ordem. Quisemos expor ai fatos que valem ‘mais do que dissertagdes sobre a alma das pedras. Perma- fnecemos na fisica da obra, no conhecimento. Pensamos no habitante da casa e na multidfo da cida- de, Sabemos muito bem que uma grande parte da infelicidade atual da arquitetura é devida a0 cliente, aquele que enco- ‘menda, escolhe, corrige e paga. Para ele, nos escrevemos: “OLHos QUE VEEM”. Conheccmos demais alguns grandes industriais, ban- ‘queiros ¢ comerciantes que nos dizem: “Desculpe-me, sou simplesmente um homem de negécios, vivo totalmente estra~ aaho as artes, sou um filisteu”. Nés protestamos ¢ lhes dis- semos: “Todas as suas energias tendem para esse magnifico objetivo que € 0 de forjar os belissimas nas quais reina a lei de economia, o célculo unido A ousadia e a imaginacdo. Vejam 0 que os senhores fazem; &, para falar claramente, belo”. Estes mesmos industriais, banqueiros ou comerciantes, vyimo-los longe de seus negécios, em suas casas, onde tudo parecia contrariar suas existéncias, — as paredes muito cstreitas, o acdimulo de objetos intiteis e disparatados ¢ um ‘spirito nauseabundo que reinava sobre tantas falsidades em Aubusson, Salo do Outono, estilos de todas as espécies c nninharias ridiculas. Pareciam confusos, encolhides como ot POR UMA ARQUITETURA tigres na jaula; via-se bem que cles eram mais felizes na fabrica ou em’ seu banco. Nés reclamamos em nome do transatlantico, do avido ¢ do automével, a sade, a l6gica, a audécia, a harmonia, a perfeicio. ‘Somos compreendides. So as verdades acacianas. Nio € indtil apressar a limpeza. Finalmente, € agradivel falar ARQUITETURA de- pois de tantos’ silos, fébricas, méguinas ¢ arranha-céus. KR Arguirerura € um fato de arte, um fendmeno de emogao, fora das questdes de construgio, além delas. A construsio £ PARA SUSTENTAR; a arquitetura £ PARA EMO- CIONAR. A emocéo arquitetural, existe quando a obra soa fm voc’ 20 diapasao de um universo cujas leis sofremos, re- ‘conhecemos e admiramos. Quando séo atingidas certas rela ges, somos apreendidos pela obra, Arquitetura consiste em Srelagdes”, 6 “pura criagio do espirito’ Hoje, a pintura precedeu as outras artes, Sendo a primeira, atingiu uma unidade de diapaséo com a época*. A pintura moderna deixou a parede, a tape- ‘carla ou 0 vaso decorativo e fechou-se num quadro, alimen- fada, chela de fatos, afastada da figuragio que distrai; ela fe presta 4 meditago, A arte no conta mais est6rias, cla faz meditar; depois do labor, ¢ bom meditar. ‘De um Indo, uma multidéo espera um alojamento de- cente e esta questo é de uma atualidade violenta. Por outro lado, o homem de iniciativa, de agéo, de pensamento, 0 CONDUTOR, pede para abrigar sua medi fugio num espaco sereno ¢ firme, problema indispensével para a saide das elites. Senhores Pintores.c escultores, campetes da arte de hoje, que tem que suportar tantas zombarias € que sofrem tanta indiferenga, limpem suas casas, unam seus esforgos para que se reconstruam as cidades. Suas obras viro entéo Botocar-se no quadro da época e em toda parte os senhores Serio admitides © compreendidos. Digam enfaticamente que a arguitetura tem necessidade de sua atengdo. Tenham em mente o problema da arquitetura, ey ueremon falar de eolus capital traida pelo cabiomn o a esata te en a Eee LE Seal decane que, da abs ooderoe peas cit nests ue yendan © cntgusnton por ricos 10, pence SEL REGS Gant inmates "C020. rés Lembretes aos Senhores rquitetos . O Volume Nossos olhos sdo feitos para ver as formas sob a luz. ‘As formas primérias so as jormas belas porque se Iéem claramente, ‘Os arquitetos de hoje nao realizam mais as formas simples. ‘Operando com 0 célculo, os engenheiros usam formas ‘ricas, que satisjacem nossos olhos pela geometria € nosso espirito pela matemdtica; suas obras esto no caminko da grande arte. TRES LEMBRETES, 0 VOLUME 13 A arquitetura nfo tem nada a ver com os “estilos”. Os Luis XV, XVI, XIV ou 0 Gético, so para a arqi tetura o que é uma pena na cabeca de uma mulher; as vezes € bonito, mas nem sempre ¢ nada mais. ‘A arquitetura tem destinos mais graves; suscetivel de sublime, ela toca os instintos mais rudes pela sua objetivi- dade; solicita as faculdades mais elevadas, pela sua propria abstragio. A abstragdo arquitetural tem de particular © de magnifico o fato de que se enraizando no dado bruto, ela © espiritualiza, porque o dado bruto ndo é mais que a mate~ jalizagdo, 0 simbolo da idéia possivel. O dado bruto s6 & passfvel de idéias pela ordem que projetamos nele. As emogdes suscitadas pela arquitctura emanam de condigies fisicas inelutdveis, irrefutiveis, hoje esquecidas. (© volume e a superficie sio os elementos através dos quais se manifesta 2 arquitetura. O volume ¢ a superficie Sho determinados pela planta. £ a planta que € a geradora, Pior para aqueles a quem falta imaginacéo, Primeiro Lembrete: O Volume ‘A arguitetura € 0 jogo sibio, correto ¢ magnifico dos ‘volumes reunidos sob a luz. Nossos othos sio feitos para ver formas sob a luz; as sombras € 05 claros revelam as formas; (05 cubos, os cones, as esferas, 0s cilindros ou as pirimides ‘fo as grandes formas primérias que a luz revela bem; suas imagens nfo so nitidas ¢ tangiveis, sem ambigiidades. & por isso que séo belas formas, as mais belas formas. Todo mundo esté de acordo com isso, a crianga, 0 selvagem € 0 metafisico. E a propria condigao das artes plisticas, ‘A arquitctura egipcia, grega ou romana é uma arqui- tetura de prismas, cubos ¢ cilindros triedros ou esferas: as Pirtmides, o Templo de Luxor, o Parthenon, o Coliseu, @ Villa Adriana. ‘A arquitetura gética nfo é, no seu fundamento, & base de esferas, cones ¢ cilindros. Somente a nave exprime uma forma simples, porém de uma geometria complexe de segun- da ordem (cruzamento de ogivas). E por isso que uma catedral no € tio bela e que nela buscamos compensagées de ordem subjetiva, fora da pléstica. Uma catedral nos interessa como a engenhosa solucio de um problema dificil, mas culos dados foram mal colocados porque no proce- dem das grandes formas primérias, A catedral ndo & uma obra pléstica; é um drama: a luta contra a gravidade, sen- sagao de ordem sentimental. ‘rues LEMMRETES, 0 VOLUME 7 Sio arquitetura, as Pirdmides, as Torres da Babilonia, as Portas de Samarcande, o Parthenon, o Coliseu, 0 Panteo, a Ponte do Gard, Santa Sofia de Constantinopla, as mes- Quitas de Istambul, a Torre de Pisa, as cipulas de Brunel- leschi e de Michelangelo, 2 Pont-Royal, os Invalidos. "A. Estagdo Cais d'Orsay, 0 Grand Palais, nao sio arquitetura. (Os arquitetos deste tempo, perdidos nos “esbogos” esté- reis de seus planos, nos arabescos, nas pilastras ou nas Cumiciras de chumbo, nfo adquiriram a concepyao dos Volumes primérios, Nunca ninguém Ihes ensinou isso na Escola de Belas-Artes. ‘Sem perseguir uma idéia arquitetural, porém simples- mente guiados pelos efeitos do calculo (derivados dos prin- ‘cipios que geram nosso universo) e a concepgio de UM ORGAO VIAVEL, os ENGENHEIROS de hoje empregam ‘elementos primédrios e, coordenando-os segundo resras, pro- yocando em nds emogdes arquiteturais, fazendo ressoar assim @ obra humana com a ordem universal. Eis aqui silos e fdbricas americanas, magnificas PRIMICIAS de novos tempos. OS ENGENHEIROS AME- RICANOS ESMAGAM COM SEUS CALCULOS A ARQUITETURA AGONIZANTE, Trés Lembretes aos Senhores Arquitetos 2. A Superficie Um volume é envolvido por uma superficie, uma super- ficie que & dividida conforme as diretrizes as geratrizes do volume, marcando a individualidade desse volume. Os arquitetos, hoje, tém medo dos constituintes geomé- tricos das superficies. ‘Os grandes problemas da construgio moderna serio realizados sobre a geometria. Sujeitos as estritas obrigagdes de um programa impe- rativo, os engenheiros empregam as geratrizes e as linhas reveladoras das formas. Criam Jatos plasticos limpidos ¢ impressionantes. POU ace ‘TRES LENBRETES, A SUPERFICIE A arquitetura néo tem nada a ver com os “estilos”. Os Luis XV, XVI, XIV ou 0 Gético, séo para a arqui- tetura o que é uma pena na cabeca de uma mulher; as vezes € bonito, mas nem sempre e nada mais. Segundo Lembrete: A Superficie ‘A arquitetura sendo 0 jogo sabio, correto © magnifico dos volumes reunidos sob a luz, 0 arquiteto tem por tarefa fazer viver as superficies que envolvem esses volumes, sem que essas, tornadas parasitas, devorem o volume ¢ 0 absor- ‘yam em seu proveito: triste histOria dos tempos presentes. Deixar a um volume o esplendor de sua forma sob a juz mas, por outro Indo, consagrar a superficie a tarefas quase sempre utilitérias, € ver-sc obrigado a encontrar na divisio imposta da superficie 8 linhas reveladoras, as gera- trizes da forma. Fm outras palavras, uma arquitetura € uma ‘casa, templo ou fabrica. A superficie do templo ou da fabrica & na majoria dos casos, uma parede furada de portas e de janelas; esses buracos sio amitide destruidores de formas; & preciso torniclos reveladores de formas, Se o essencial da farguitetura esta em esferas, cones e cilindros, as geratrizes fe as reveladoras dessas formas sio bascadas em pura ge0- mettia, Porém essa geometria amedronta 0s arquitetos de hoje. Os arquitetos, hoje, nfo ousam fazer o palécio Pitti nem a rua de Rivoli; fazem 0 bulevar Raspail Situemos a8 presentes observacbes sobre 0 terreno das recessidades atuais: necessitamos de cidades tragadas com espirito utilitirio © cujo volume seja belo (plantas de ci- dade). Necessitamos de ruas onde a limpeza, a adequagdo fis necessidades da habitacio, a aplicagio do espirito de série ‘na organizagio das obras, a grandeza da intencao, a sere- nidade do conjunto encantam 0 espirito ¢ proporcionam 0 charme das coisas nascidas com felicidade. ‘Modelar a superficie continua com uma forma priméria simples & fazer surgir automaticamente prépria concorrén- ‘cia do volume: contradicao de intengiio — bulevar Raspail ‘Modelar a superficie com volumes complicados ¢ postos em sinfonia € modular ¢ permanecer no volume: problema taro — os Invslidos de Mansart. Problema de época ¢ de estética contempordnea: tudo conduz & reinstauracio dos volumes simples: as ruas, as fabricas, 0s grandes magazines, todos os problemas que se apresentario amanha sob uma forma sintética, sob visbes de conjunto que nenhuma outra época conheceu jamais. A superficie, fendida pelas necessidades de destinagao, deve 24. POR UMA ARQUITETURA seguir as geratrizes reveladoras dessas formas simples. Essas linhas reveladoras so na prética 0 xadrez ou reticulado — fabricas americanas. Mas essa geometria da medo! ‘Sem perseguir uma idgia arquitetural, porém simples- mente guiados pelas necessidades de um programa impera- tivo, os engenheiros de hoje chegam as geratrizes reveladoras dos volumes; mostram caminho e criam fatos plésticos, claros ¢ limpidos, dando aos olhos a calma e ao espitito as alegrias da_geometria Tais so as fabricas, primicias reconfortantes dos novos tempos. ‘Os engenheiros de hoje esto de acordo com os prin- cipios que Bramante © Rafael jé tinham aplicado hé muito tempo N. B. — Escutemos os conselhos dos engenheiros ame- ricanos, Porém temamos os arguitetos americanos. Prova: Trés Lembretes aos Senhores Arquitetos 3. A Planta A planta é a geradora. Sem planta hd desordem, arbitrério. A planta traz em si a esséncia da sensapao. Os grandes problemas de amanhd, ditados por necessi- dades coletivas, colocam de novo @ questo da planta. ‘A vida moderna pede, espera uma nova plantd, para 4 casa e para a cidade. eae aus eee nt n Oncor aren aera oer Meret a nt ce eee es Srrcvanins ‘TRES LEMBRETES, A PLANTA 7 ‘A arquitetura nada tem a ver com os “estilos”. Ela solicita as faculdades mais elevadas, pela sua prépria abstragio, A abstragéo arquitetural tem de particular ¢ de ‘magnifico 0 fato de que, se enraizando no dado bruto, 0 espiritualiza. O dado bruto 86 é passivel de idéia pela ordem ue projetamos nele. (© volume e a superticie sio os clementos através dos quais se manifesta a arquitetura. O volume e a superticie So determinados pela planta. A planta 6 a geradora. Pior ara aqueles a quem falta imaginagao! Terceiro Lembrete: A Planta A planta & a geradora. © olho do espectador se move em um espago feito de Tuas © de casas, Reoebe 0 choque dos volumes que se elevam & volta. Se esses volumes sio formais e nio-degra- dados por alteragdes intempestivas, se a ordenacio que os agrupa exprime um ritmo claro, e ndo uma aglomeragéo incoerente, se as relagdes entre os volumes © 0 espaco so feitas de proporcdes justas, 0 olho transmite ao cerébro sen- sagdes coordenadas ¢ 0 espirito retira delas satisfagdes de ‘ordem superior: isso & arquitetura. © oho observa, na sala, as superficies miiltiplas das paredes © das abbadas; as céipulas determinam espagos; as abébadas desenvolvem superficies; os pilares, as paredes se ‘ajustam segundo razdes compreensiveis. Toda a estrutura se eleva da base ¢ se desenvolve conforme uma regra que-esté escrita sobre o solo na planta: formas belas, variedade de formas, unidade do principio geométrico. Transmissio pro- funda de harmonia: isso € a arquitetura. ‘A planta esté na base, Sem planta, ndo ha nem grandeza de intengo e de expresso, nem ritmo, nem volume, nem coeréncia. Sem planta hé essa sensaco insuportével a0 ho- mem, de informe, de indigéncia, de desordem, de arbitrério, ‘A planta necessita a mais’ativa imaginago. Necessi também a mais severa disciplina. A planta é a determinacao 0 todo; é 0 momento decisivo. Uma planta nfo é tio bela ara desenhar quanto 0 rosto de uma madona; é uma austera abstragdo; nfo passa de uma algebrizagio frida ao olhar De qualquer modo, o trabalho do matemtico permanece uma das mais altas atividades do espirito humano. A ordenagio & um ritmo apreensivel que reage sobre todo ser humano da ‘maneira. A planta traz consigo um ritmo primério determinado: 8 obra se desenvolve em extenso e em altura segundo suas PrescrigBes com conseqiiéncias que se estendem do mais nae res 2 Peres Seay 32. POR UMA ARQUITETURA simples a0 mais complexo conforme a mesma lei. A unidade da lei é a lei da boa planta: lei simples infinitamente modulavel, ritmo é um estado de equilibrio procedente de sime- trias simples ou complexas ou procedente de sibias com- Pensagées. O ritmo € uma equacio: igualagdo (simetria, repeticio) (templos egipcios, hindus); compensacéo (mo- vimento dos contrérios) (Acrépole de Atenas); modulagao (desenvolvimento de uma invengo plastica inicial) (Santa Sofia). Outras tantas reacdes profundamente diferentes sobre © individuo, malgrado a unidade de objetivo que o ritmo, que 6 um estado de equilibrio. Dai, a diversidade tio sur- preendente das grandes épocas, diversidade que esté no Principio arquitetural e no nas’ modalidades ornamentais, A planta traz consigo @ propria esséncia da sensagio. Mas perdemos 0 sentido da planta hi cem anos. Os grandes problemas do amanhd, ditados por necessidades cole- tivas, estabelecidos sobre estatisticas e realizados pelo edlculo, poem de novo a questio da planta. Quando tiver- ‘mos compreendido a indispensivel grandeza de vistas que € preciso conferir 20 tracado das cidades, entraremos num periodo que nenhuma época conheceu. As cidades deverdo ser concebidas e tracadas na sua extenso como foram tra- gados os templos do Oriente e como foram ordenados os Invalidos ou o Versailles de Luis XIV. AA tecnicidade desta época — técnica da financa e tée- nica da construgio — esté preparada para realizar esta tarefa. Tony Garnier, apoiado por Herriot em Lyon, tragou Cidade Industrial. & uma tentativa de ordenago © uma con- jugacdo de solugbes uilitérias e de solugdes plisticas. Uma regra unitiria distribui em todos os bairros da cidade a mes- ma escolha de volumes essenciais e fixa 0s espacos conforme necessidades de ordem pritica e as injungoes de um sentido poético préprio ao arquiteto. Reservando todo juizo sobre a coordenagdo das zonas dessa Cidade Industrial, experimen- tamos as conseqiiéncias benfazejas da ordem. Onde reina a ordem, nasce o bem-estar, Pela feliz criacdo de um sistema de loteamento, os bairros residenciais, mesmo operérios, assu- mem uma alta significagdo arquitetural. Tal € a conseqiién- cia de uma planta. No. atual estado de espera (porque © urbanismo mo- demo ainda no nasceu) 0s mais belos bairros de nossas cidades deveriam ser os bairros de fébricas onde as causas de grandeza, de estilo, — a geometria, — resultam do ‘7RES LEMBRETES, A PLANTA 33 prio problema. A planta fathou, tem falhado até aqui. admirivel ordem, que certamente reina no interior dos fe das oficinas, ditou a estrutura das méquinas ¢ rge seus movimentos, condiciona cada gesto das equipes; '2 sujeira infecta os arredores ¢ a incoeréncia imperava ‘quando 0 fio de prumo eo esquadro fixaram implantagéo ‘dos edificios, tornando sua ampliagio caduca, custosa e perigosa. ‘Uma planta teria bastado. Uma planta bastaré. Os ‘excessos do mal conduziréo a ela. ‘Um dia Auguste Perret criou essa palavra: as “Cidades- Torres". Epiteto brilhante que sacudiu o poeta que hé és. Palavra que soava no bom momento porque 0 fato é ‘iminentel Semi sabermos, « “grande cidade” incube_ uma ta. Essa planta pode ser gigantesca pois a grande cidade Pitis mavé ‘eendente. sts a hora de repudiat © afual tragado de nossas cidades pelo qual se acumulam os edifi- cios empilhados, se enlagam as ruas estreitas cheias de barulho, de fedor de gasolina e de poeira e onde os andares tém suas janclas plenamente abertas sobre essas sujeiras. As grandes cidades se tornaram demasiado densas para a seguranga dos habitantes ¢ no entanto nfo so suficiente- mente densas para responder ao fenomeno inédito dos “negécios”. Partindo do acontecimento construtivo capital que é © arranha-céu americano, bastaria reunir em alguns raros ppomtos essa forte densidade de populaglo e de elevar If, fem 60 andares, construgtes imensas. O cimento armado ¢ (© ago permitem essas audécias © sobretudo se prestam a lum certo desenvolvimento das fachadas gragas ao qual todas as janelas se voltario de cheio para o cfu; assim, doravante, 05 pétios sero suprimidos. A partir do décimo-quarto andar, € a calma absoluta, € 0 ar puro. __ Nessas torres que abrigaro o trabalho até entio asfi- xiado em bairros compactos © em ruas congestionadas, todos 8 servigos, de acordo com a feliz experitncia americana, sero reunidos, proporcionando a eficécia, a economia de fempo e de esforgas e com isso uma calma indispensivel. torres, elevadas 2 grande distincia uma das outras, em altura 0 que até entéo se estendia em superficie; vvastos espagos que empurram jonge delas as heias de ruido e do uma circulagto mais répida. Ao das torres se desenrolam os parques; 0 verde se estende toda a cidade. As torres se alinham em avenidas impo- 5; € verdadeiramente a arquitetura digna deste tempo. ened te ee eee ee ar ere near ad Pree ae ec ae eae Pore acr Te Para Re ats Preeti bir pee Peirenmirestae Porcini Cae IT rere iat tear ctemie Cone eure ae iris Era nei Nc Doe ets Oro eed Tc an RCE CeCe PI erence: 5 eC Rea eee tet co ea anaes ‘TRES LENBRETES, A PLANTA 37 ‘Auguste Perret enunciou 0 principio da Cidade-Torre; nfo a desenhou *. Em compensagio deu uma entrevista a ‘um reporter de I'Intransigeant e se deixou levar a estender sua concepcio além dos limites razodveis. Cobriu assim ‘uma idéia sf com um véu de futurismo perigoso, O reporter notou que pontes imensas ligam cada torre uma & outra, por qué? Ta que as artérias de cireulacdo se encontram bem Tonge das casas e que a populacto que se comprazeria nos parques, sob as plantagdes quadrangulares, entre os gra- mados € os locais de jogos, ndo pensaria em passear sobre as passarelas prodigiosas sem ter nada para af fazer. O reporter quis igualmente que essa cidade fosse fundada so- bre inumerdveis pilotis de concreto armado que elevariam a 20 metros de altura (seis andares, por favor) 0 solo das ruas e ligariam as torres umas as outras. Esses pilotis teriam deixado sob a cidade um espaco imenso no qual seriam colocados mais que A vontade as tubulagées de agua, de gis © os esgotos, visceras da cidade. A planta nfo tinha sido tracada ¢ a idéia néo podia se sustentar sem a planta, Essa concepcio dos pilotis, eu a tinha exposto ha ‘muito tempo a Auguste Perret ¢ era uma concepeéo de uma fordem muito menos magnifica; porém podia responder a tuma necessidade verdadeira. Ela se aplicava & cidade comum, tal como a Paris de hoje. Em lugar de estabelecer as fundagdes escavando e construindo espessos muros de fun- dagGes, em luger de cavar e recavar eternamente as calea- das para instalar nelas (trabalho de Sisifo) as tubulagées de gua e de gis, os esgotos ¢ os metrés, e repari-los sem fim, terfamos decidido que os novos bairros seriam cons- truidos no nivel do solo com as fundagdes substituidas por tum némero l6gico de pilares de concreto; estes suportariam (os pavimentos térreos dos edificios e, em forma de sacadas, (5 pisos dos passeios e das calcadas. Sob esse espago ganho, de uma altura de 4 a 6 metros, circulariam os caminhdes pesados, os metr6s substituindo ondes atravancadores ctc., servindo diretamente aos [os dos edificios. Uma rede inteira de citculagio, inde~ jente daquela destinada 20s pedestres e aos_veiculos idos, teria sido ganha, tendo sua goografia propria, inde- dente do atravancamento das casas: floresta ordenada pilares por onde a cidade faria a troca de suas merca- as, seu abastecimento, todas as tarcfas longas ¢ pesadas hoje congestionam a circulacao. (2) Teagan ents crquin ot 1920, eu ohn pens tcanserver a Sin Aatuate “Berseu “Porésn 2 publeagio de seus prbprine desence ean Pluto TE Gfne de 190d eevee ame ‘ameeeto alert: Pe ia nO cee ee Ty Ce we ‘TRES LEMBRETES, A PLANTA 39 (Os cafés, 0s lugares de repouso etc., no seriam mais fesse mofo que corréi os passeios: seriam transferidos para 0s terragos dos telhados assim como 0 comércio de luxo (porque, no é verdadeiramente ildgico que uma superficie inteira da cidade no seja empregada e fique reservada a0 didlogo das ardésias com as estrelas?). Curtas passarelas por cima das ruas normais estabeleceriam a circulagio desses ‘novos bairros recuperados, consagrados ao repouso entre as plantagies de flores e de verde. Esta concepeSo nfo significava nada menos que tripl car a superficie de circulagdo da cidade; era realizsvel, correspondia a uma necessidade, cusiava menos caro, era ‘mais sadia que os hdbitos insensatos atuais. Ela era sadii dentro do velho quadro de nossas cidades, como sera sadiz '@ concepeto das cidades-torres nas cidades de amanha. Eis aqui ainda um tracado de ruas que provoca uma renovacio completa dos _modos de loteamento e que pre- cederé uma reforma radical da casa de aluguel; essa re- forma iminente motivada pela transformacio da’ atividade doméstica reclama novas plantas para 0s alojamentos, © uma organizagéo inteiramente nova dos servicos respon- dendo & vida na cidade grande. Aqui também a planta é @ geradora; sem ela reinam a indigéncia, a desordem, 0 arbitrésio *. Em lugar de tragar as cidades em forma de quadran- gulares macigos com a estreita vala das ruas guarnecidas pelos sete andares de edificios a pique sobre a calgada e enquadrando pitios infectos, sentinas sem ar ¢ sem sol, tra gariamos, ocupando as mesmas superficies, e com a mesma densidade de populagio, blocos macigos sucessives de casas denteadas, serpenteando 20 longo de avenidas axiais. Nada de pétios, porém apartamentos abrindo-se de todos os tados 0 ar ¢ 2 luz, ¢ dando, néo sobre as débeis Arvores dos tuais bulevares, mas sobre gramados, terrenos de jogos © abundantes plantagdes. As proas salientes desses blocos pontuariam regular- mente as longas avenidas. As formas denteadas provocariam © jogo de sombras favordveis A expresso arquitetural. A construgio de concreto armado determinou uma revolugio na estética da construgéo. Pela supresiéo do teto © sua substituiggo pelos terracos, o conereto armado con- duz'a uma nova estética da planta, desconhecida até aqui. 0) Ver adiante: “Casas em alse”, 40 POR UMA ARQUITETURA As formas denteadas © os recuos so possiveis ¢ provocam doravante o jogo das penumbras e da sombra, nao mais de alto, para baixo, porém lateralmente da esquerda para a direita, E uma modificagao capital na estética da planta; ainda néo a sentiram; seria til pensar nisso agora nos pro. Jtos de extensdo das cidades *, Estamos em um perfodo de construso © de readapta- so & novas condigdes sociais e econémicas. Dobramos ‘um cabo € 08 novos horizontes néo reencontrarao a grande linha das tradigées a nao ser quando houver uma revisio completa dos meios em curso, com a determinacdo de novas bases Construtivas © estabelecidas sobre a légica, Em arquitetura as antigas bases construtivas morreram, Somente reencontraremos as yerdades da arquitetura. quan do, novas. bases tiverem constituido 0 suporte légic) de toda manifestagio arquitetural. Anuncia-se que vai se levar ‘inte anos para em criar essas bases. Periodo de grande pro. blemas, perfodo de anélise, de experimentacéo, perlodo também de grandes mudangas estéticas, perfodo de’ elabo. rago de uma nova estética E preciso estudar a planta, chave desta evolusio. (+2, EBB, gusto serh estan no ere em prepare: Urbanioms, (Apt revi ee “i353 Os Tragados Reguladores Do nascimento fatal da arquitetura. A obrigagdo da ordem. O tracado regulador € uma sarantia contra o arbiiririo. Proporciona a saiisfagdo do 5 i : i i integrante da criagdo arquitetural. eC 05 TRAGADOS REGULADORES 43 © homem primitivo parou sua carreta; decide que aqui serd seu cho. Escolhe uma clarcira, derruba as érvores mais préximas, aplana 0 terreno em torno; abre o caminho que © Tigard a0 rio ou aqueles de sua tribo que cle acabou de deixar; enterra os piquetes que sustentardo sua tenda. Esta € cercada com uma palicada na qual ele abre uma porta. © caminho € to retilineo quanto Ihe permitem seus instru- ‘mentos, seus bragos ¢ seu tempo. Os piquetes de sua tenda descrevem um quadrado, um hexdgono ou um octégono. A Paligada forma um reténgulo cujos quatro &ngulos sao jguais, so retos. A porta da cabana abre-se no eixo do cereado ¢ a porta do cereado faz face & porta da cabana, Os homens da tribo decidiram abrigar seu deus: Eles © dispoem em um lugar de um espago corretamente ado; colocam-no ao abrigo sob uma cabana sélida e enter. ram os piquetes da cabana, em quadrado, em hexégono, em oetégono, Protegem a cabana com uma paligada s6lida e enterram os piquetes onde virlo se prender as cordas dos altos postes do cercado. Eles determinam 0 espaco que sera reservado aos sacerdotes e instalam o altar e os vasos do sacrificio, Abrem um portio na paligada e o colocam no cixo da porta do santuério, Vejam no livro do arqueélogo, o gréfico desta cabana, © gréfico desto santuério: é a planta de uma casa, é a planta de um templo. £ mesmo espitito oue reencontra~ ‘mos na casa de Pompéia. B 0 préprio espitito do Templo de Luxor. ‘Nao hé homem primitivo; h4 meios primitives. Poten- cialmente, a idéia € constante desde o comeco. Notem que essas plantas sio regidas por uma mate- mitica priméria, Hé medidas. Para construir bem, para bem epartir os esforcos, para a solider e a utilidade da obra, ‘28 medidas condicionam o todo. O construtor tomou como ‘medida o que Ihe era mais fécil, © mais constante, o instru. mento que podia perder menos: seu passo, seu pé, seu cotovelo, seu. dedo. Para construir bem e para repartir seus esforcos, para solidez ¢ utilidade da obra, ele tomou medidas, admitiu jum médulo, regulou seu trabalho, inteoduziu a ordem. Por- ‘que, em torno dele, a floresta esté em desordem com suas fianas, seus espinhos, seus troncos que o atrapalham isam seus esforcos. Medindo, ele estabeleceu a ordem. Para medir, tomou Passo, seu pé, seu cotovelo ou seu dedo. Impondo a lem com seu pé ou com seu braco, eriou um médulo que 44 POR UMA ARQUITETURA regula toda a obra; ¢ esta obra esté em sua escala, em sua Conveniéncia, em seu bem-estar, em sua medida, Esti na ‘seala humana. Ele se harmoniza com ela; isso & 6 principal Mas ao decidir da forma do cercado, da forma da cabana, da situagio do altar e de seus acessérios, ele sen Zulu Por instinto os Angulos retos, os cixos, o quadrado, > cireulo. Porque ele néo podia eriar alguma coisa de otra ‘modo, que the desse a impressio que criava. Porque os cies, 08 circulos, os fngulos retos, sio as verdades da geo. ‘metria © 880 efeitos que nosso olho mede © reconhece; cn. {manto que, de um outro modo, seria acaso, anomalis, sa bitrério. A geometria é a linguagem do homem. Mas ao determinar as distincias respectivas dos objetos, Um médulo mede © unifica; um tragado regulador constréi e satistaz. A aioria dos arquitetos nfo teria esquecido hoje due a grande arquitetura estd nas proprias origens da hume™ nidade © que € fungo direta dos instintos hunsanos? Quando vemos as casinhas dos subirbios de Paris, as Casas das dunas da Normandia, os bulevares moderée ‘o as exposigées internacionais, por acaso nao temos a cortezs of ae 0S arquitetos sio seres desumanos, alheios & ordem afastados do nosso ser, © que trabalham talver pera um outro planeta? (05 TRACADOS REGULADORES 4s janelas, portas ec.) que no tm mais nada de comum entre sie que verdadeiramente no tém por objetivo, por resultado, ser viteis para alguma coise. ‘Atualmente, hé unanimidade em considerar como pro- sadores perigosos, vadios, incapazes, obtusos © ansiosos, 03 ppoucos que, tendo compreendido a Tigo do homem primi- tivo na sua clareira, pretendem que existem tragados regu- adores: “Com seus tracados reguladores, vocés matardo a imaginagdo, e entronizarao a receita”, — Mas todas as épocas precedentes empregaram esse ‘instrumento necessério. — Néo 6 verdade, vocé que inventa, porque voct & um maniaco cerebral! — Mas 0 passado nos legou provas, documentos ico- nogréficos, estelas, lajes, pedras gravadas, pergaminhos, manuscritos, impressos.. ‘A arquitetura a primeira manifestacéo do _homem riando seu universo, criando-o & imagem da natureza, aceitando as leis da natureza, as leis que regem nossa natu- reza, nosso universo. As leis de gravidade, de estética, de indica se imptem pela redugio 20 absurdo: ficar de pé ‘ou desmoronar-se. ‘Um determinismo soberano ilumina diante de nossos olhos as criagées naturais ¢ nos dé a seguranga de uma coisa equilibrada e razoavelmente feita, de uma coisa infi- nitamente modulada, evolutiva, variada e unitéria. {As Ieis fisicas primordiais so simples e pouco nume- rosas. As leis morais so simples € pouco mumerosas. (© homem de hoje alisa até & perfeigio uma tabua com ‘uma plaina mecinica em alguns segundos. © homem de ontem alisava uma tabua bastante bem com uma plaina. O homem muito primitivo aplainava com muita dificuldade uma tabua com um sflex ou uma faca, © homem muito primitive TeUPLO Pruvitvo 2. pire de tnages; (05 TRACADOS REGULANORES 47 empregava um médulo e os tragados reguladores para facititar sua tarefa. O grego, o egipcio, Michelangelo ou Blondel empregavam os tracados reguladores para a corregio de suas obras ¢ a, satisfacdo de seu sentido artistico e de seu pensamento matemitico. O homem de hoje no emprega nada e faz bulevar Raspail. Mas ele proclama que é um poeta libertado © que seus instintos bastam; porém estes Go se exprimem mais que por meio de artificios adquiri- dos. nas escolas. Um lirico impetuoso com uma canga no pescogo, alguém que sabe coisas, porém coisas que no inventou nem mesmo controlou, que perdeu a0 longo dos ensinamentos recebidos essa cindida e capital encrgia da rianga questionando infatigavelmente: “por qué?” Um tracado regulador é uma garantia contra 0 arbi- tario: € a operagao de verificacéo que aprova todo traba- tho eriado no ardor, a prova des nove do escolar, o C.O.D. do matemético. © tracado regulador & uma satisfagio de ordem espi- fitual que conduz busca de relagdes engenhosas e de rela- ‘¢6es harmoniosas. Ele confere a obra a euritmia © tragado regulador traz essa matemética sensivel que 44 a agradavel percepcio da ordem. A escolha de um tra- gado regulador fixa a geomeiria fundamental da obra; ele determina entéo uma das impresses fundamentais. A ‘esco- Jha de um tragado regulador é um dos momentos decitivos a inspiragao, € uma das operacdes capitais da arquitetura. Eis aqui tragados reguladores que serviram para fazer belissimas coisas © que sdo 2 causa da beleza dessas coisas. COPIA DE UMA LAJE DE MARMORE DO PIREU: A fachada do Arsenal do Pireu determinada por al- ‘gumas divisées simples que tornam proporcional a base & altura, que determinam a localizagio da porta e sua dimen- ‘so em telagao intima com a propria proporgao da fachada, (05 TRACADOS REGULADORES 49 EXTRAIDO DE UM LIVRO DE DIEULAFOY: ‘As grandes capulas aqueménidas sio uma das mais sutis conclusées da geometria, Uma vez. estabelecida a concepeo da ciipula sobre as necessidades liricas desta raca € desta €poca, sobre os dados estiticos dos prinefpios cons- trutives aplicados, 0 tragado regulador vem retificar, corri- gir, aperfeicoar, harmonizar todas as partes com 0 mesmo principio unitirio do trigngulo 3, 4,5 que desenvolve seus efeitos desde 0 pértico até ao cume da absbada. MEDIDO SOBRE N. D. DE PARIS: ‘A superficie determinante da catedral & regulada sobre © quadrado e 0 circulo *. TRACADO SOBRE UMA FOTOGRAFIA. DO CAPITOLIO: (© lugar do Angulo reto veio precisar as intengoes de ‘Michelangelo, fazendo reinar o mesmo principio que fixa as grandes divisées dos pavilhdes © do corpo principal so- bre o detalhe dos pavilhdes, a inclinacdo das escadarias, a situago das janclas, a altura das fundagoes ete. ‘A obra conccbida no local ¢ cuja massa envolvente foi associada ao volume e ao espaco em derredor, se contrai sobre si mesma, se concentra, se unifica, exprime em todo seu conjunto a mesma lei, torna-se maciga. EXTRAIDO DOS PROPRIOS COMENTARIOS DE BLONDEL SOBRE SUA PORTA SAINT-DENIS (Ver no comego do capitulo): ‘A. massa principal € fixada, a abertura da porta é sbogada. Um tragado regulador imperativo, sobre 0 médulo (1p, rvtar stale, no au concerns & NotreDame « A Porta Sa te cloknietee dove do Sts Eien peroneal ell (05 TRAGADOS REGULADORES 51 de 3, divide © conjunto da porta, divide as partes da obra em altura e em largura, regula tudo sobre a unidade do mes- ‘mo némero. O PETIT TRIANON: Lugar do angulo reto. CONSTRUGAO DE UMA CASA (1916): © bloco geral das fachadas, tanto anterior quanto pos- terior, est regulado sobre o mesmo angulo (A) que deter- mina’ uma diagonal da qual as méltiplas paralelas ¢ suas perpendiculares fornecerdo as medidas corretivas dos cle- Mentos seeundérog, porta, janeas, pains retangulacs ec até nos minimos detalhes. Essa casa de pequenas dimens6es aparece no meio das ‘outras construgées edificadas sem regra, como mais mo- numental, de uma outra ordem *, *) Pega desclpes por dia, agi exemlon neu salgrado minhas inveigaten” ints tho "tre, ae festa wee tl ftse frye nia fe male que brovesat rupeds tena S"tapanta, ca cecoirar epmicho © ceciomo.*

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