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hs MOVIMENTO MEU AMIGO BARRES © meu primeiro encontro com Maurice Barr’s foi na Auvergne, Havia no grande loreno, por accessos, a temperatura do grande auvernhez Blaise Pascal. \ exaltada inquiet poetico e musical, insuflado pela Lorena. Na est {que fizemos nas montanhas pelladas ¢ nos descampa- dos da Auvergne, testemunhei, no que subsistia de arido € seceo no genio lyrico de Barris, o reflexo da al- tivez e da solidio daquella terra, em que se formara a ordaya-se com a melancolia auyernheza. A tex cdr de azeitona, 10 pasealina era mitigada pelo vago. sa ascendencia paterna, O set physico ‘o nariz adunco, sobre a fronte larga a mecha triste ¢ 50 re a bocca, abotoando em desdenhoso muchocho, © hado. Os olhos grandes, negros, A voz pastosa, grossa e aspera, rompia higede cahia desal fulgarantes. fem intonagdes gutturaes de suffocado. Mas que es pontaneidade, que magia na mobilidade, no arranco da phrase, na accefituagio sarcastica, nos silencios riso- nihos! A tudo isto succedia a gravidade, a meiitagio instantanea, que impunha o respeito. © acaso’nos reuniu em Chitelguyon. Para ter logo 0 seu raro acolhimento, nenhun titulo podia ser maict do que a approximagio que, “Action Frangair se”, Jacques Bainville, a quem s6 conheci cinco annos depois, fizera de Chanaan e da triologia barresiana (Déracinés, Leurs Figures e Appel au Soldat). O que se seguit foi a deliciosa trama da sympathia. Naquel- le vero de 1911, um grupo de brasileiros amigos fre- queatava Chatelguyon, Royat e La Bourboule, Em nossa companhia estava sempre Maurice Barrés. Foi ‘o-seu primeiro contacto com o Brasil. Tudo Ihe inte- ressava saber do nosso paiz, a alma, as tracligdes, a cul- tura, a poesia, a politica, a influencia franceza, a colo- nizagio allema, Nada o deliciow tanto, como as nossas musicas € 08 nossos cantos populares. Passava horas attento, maravilhado, ouvindo a sorrir, entre desdenho- so e alegre, a joven brasileira, que, graciosamente, to- cava as melodias longinquas e cantava os doces poemas suudosos. “Ces chants si tristes, qui m'ont tant fait rire”, dizia mais tarde Barrts, escondendo a emosio, que 0 perturbou na solidao, entre extranhos, De tudo isto recolhera o sentimento da nossa me= lancolia. Uma das preoccupagées dos brasileitos ¢ ex- plicar ao extrangeiro o que é saudade, Temos orgulho da palavra enygmatica. Porfiamos em contaminar a nossa tristeza aos outres povos. Maurice Barrés, lyri co da melancolia, nio esqueceu a ligfo recebida nesse yerio da Auvergne. Dois annos depois, escreve-me pe- GRAGA ARANHA dlindo que et introduzisse em uma phrase do seu pro- ximo livro a palayra, que tanto o encantow e que elle generalizaya fx melodias nostalgicas da Ameriea do Sul, Cumpri o seu desejo, Na pagina noventa ¢ dois de “La grande pitié des églises de France” Ié-se: — “fheoutez ce eri charmant d'indomptable espérance et de regret, pareil a ces petits posmes tts brefs, & ces chants de saudades chargés de nostalgie, qui s’élevent dans les solitudes de Amérique du Sud par les soirées d’été a Pheure oit Yon éprouve de la beauté du monde tun sentiment si fort, qu’il se termine en douleur”. Nas immensas conversas dese maravilhoso verdo ne da magia barresiana. Nao era sémente a expresso grave do seu genio, que seduzia. Era toda a espiritualidade subtil, movel, profunda, vasada no traco graphico, na ironia e na reflexio emotiva, vasta € pathetica. O conceito transcendente, envolto na phrase vibrante e colorida, resoava em mim, como a minha 6 encanto da affini ples trazem tanta densidade de pensamento ¢ de melodia, que nos propria musica seereta, Ha eseriptores, cujas phrases mais si commovem ¢ nos exaltam inexplicavelmente nal de que somos da mesma tonalidade ¢ a nossa admiragio por elles é sempre excessiva. Eu sentia isto com Barrés embora as nossas idéas fossem oppos- tas. Elle permanecia na poesia do divino, da morte € do pasado, ma tristeza humana, de que Chanaan foi para mim uma purgagio. Quando eu conheci Barrés, a minha libertagao se completara ¢ se expri- mira em Malazarte lores Reviam.os idéas, theorias e va- Por vezes segutindo caminhos diversos chega- vamos a uma mesma aceitagio, a uma mesma repul- sa. Aceitavamos Spinosa e Goethe, repelliamos Jean- Jacques Rousseau. Barr's era inimigo pessoal de ‘Rousseau. Combatdu-o implacavelmente, Nenhuma ‘opposigio foi mais violenta, do que a stia, na Camara ¢ na imprensa, & transladagio dos restos de Rousseau para o Panthéon. Nesta vehemencia barresiana deve- se ver tambem uma reacgio para se libertar do vene- no do romantismo € da revolta da parte de quem foi (© mais rousseatniano dos contemporaneos escripto- res francezes Conhecia a tendencia da fuga do seu espirito pa- 1a 0 absoluto € 0 domava com a disciplina da limita- io. Mas esta, que o constrangia dentro das frontei- ras da Pranga, enfreiado no nacionalismo, nao tinha a orga dle impedir as suas evasdes para outras almas nio francezas, para outtus povos, euyja essencia espi- ritual buscou extrahir, Assim o vemos errante, pere- MOVIMENTO === SF — grinando pela Hespanha, pela alia, pelo Oriente, dando-nos as inolvidaveis symphonias do segredo de Toledo, da Morte de Veneza e do Jardim sobre 0 Oronte. Um dos sets gra les desejos era ir ao Mon- dego para sentir a atmosphera da elegia camoneana € escrever a morte escura de Tgnez de Castro, Tambem quizera conhecer o Pert para um livto sobre Santa Rosa de Lima, © Brasil nfo tinha dessas excitagies mysticas ao seu gosto. A dér, a melancolia, a paixio, a tragedia nfo se tinham concentrado em uma figura brasileira de poesia universal. Para Barris o interesse social, humano, estava na base da imaginagio, Era 0 que mais suscitava os transportes do seu lyrismo. A uma viagem ao Brasil, que Ihe proptz, elle preferia ‘uma visita ao Canada para aprofundar 0 que resta das origens francezas ¢ avaliar até que ponto ellas mo- dificam alli 0 rythmo anglo-americano. Foi esta pre- oceupagio nacionalista, que o levou a inquerir no Oriente sobre a influencia da Franga Barrés deixou Chitelguyon no vera jo de 1911 para ir a Metz commemorar com os alsacianos-lorenos in- a a Qranta Mert Pan Qu, é LA cubmissos a patria franceza, ¢ alimentar o espirito da desforra, Nos nossos entretimentos era constante 6 exame, que faziamos da questio internacional. Abi, sim, 0 nosso accordo era completo, Sentiamos @ guer- ta proxima, desejada pela Allemanha. Creio que, s¢ nna nossa amizade, dei a Barrbs alguma alegria, foi quando the explanei os motivos de ordem politica, moral e esthetica, por que eu tomava posisio decid da pela causa franceza. Mais tard tia, elle deu generoso testemunko publico da impr io recebida, aue fructificon em seu grande espirito- homenagem maior do que 6 theorico maximo do nacio- depois da victo- mpres- Nao era possivel haver esta, feita por quem era nalismo francez. Quando, no anno seguinte, voltei é Franga 0 Barrés, que encontrei era o parisiense. Via-o sempre cercado, admirado, adulado, Raiava sobre todos, s0- Dranceito, longinquo. A sua ironia, os seus sarcasmos tracavam-Ihe um cireulo de defeza a toda familiarida- de. A dominagio, que exercia era prodigiosa, Ao prestigio, que Ihe davam a sua doutrina do naciona~ ismo e o ardor destemido cle combater, juntava-se a fascinagéo do escriptor, que teve os accordes mais profundos, mais extaticos da phrase, em que se mo- delavam os pensamentos mais transcendentes, Por quelle tempo 0s homens que dominavam espiritual- mente a Franca, eram, na literatura, Anatole France, Pierre Loti e Maurice Barrés. Ainda nio tinha acon- tecido a ascensio de Proust. A influencia de Gide ‘obscura, Na politica Briand, Jaurbs e sempre Bar- ris. O grande instante de Charles Maurras vein de- pois. Clemenceau foi posteriormente uma suprema affirmago da guerra... Anatole France era a tradi- ‘gio voltairiana, a mio de habilidade inegualavel. Loti fra a visio, 0 sensualismo, 0 olhar maravilhoso, Bar- ris era a sensibilidade € 0 cerebro. Ja i ie ae Sa Une orem Bin Ch arm, wn ete a2 Ca Mme gin 1 aires ceed VOL fe Ream Dedicatoria de Barrts a Graga Aranha, offerecendo-the “La Minute Saerée”, depois da. vi toria, que reintegrou a Alsacia Lorena na Franca, Anau MINUTE SACREE a eloquencia, Briand 0 caleuto, 0 raciocinio, a dialeti- ca. Em todos a magia do encanto, Barrés combateu vivamente, duramente, Briand, presidente do conselho € ministro do interior, pelo abandono, em que estavam as egrejas de Franga, muitas ineapazes de serem man- tidas de pé pelos insufficientes dons dos catholicos. Para Barrés a ruina destas egrejas era um attentado 4 cultura franceza, ao tradicionalismo e 4 physiono- mia espiritual do territorio. © retrato que Barris tra- gow de Briand, “o monstro de perstiasdo”, € semelhan- te fquellas aguas-fortes tenebrosas da galeria de “Leurs Figures”. Ora, pouco depois deste ataque, et desejei, por um motivo brasileiro, approximar Barrés de Briand. Elles accederam facilmente a iniciativa do amigo extrangeiro e, quando os tive ao meu lado, os = MOVIMENTO dois encantadozes nao retiveram Bar- rts era a vivacilade sarcastica, a deformagio irveve- rente, a vagabundagem intellectual, a fusilaria impla- cavel. Por isso mais parisiense que Briand, cortez, cor ial, Se arrancassem a forga Briand da indolencia daquella mez (porque $6 a forga f curso) € 0 obrigassem seus philtros marada, esforgando-se em seduzir ¢ persundir. tudo: artigo, politie falar na Ca a, que muta gio! Tudo & movimento no grande orador. As m que procuram apossar-se do auditorio, 0 olhar, que ninante. Ea voz? Todos ifrangivel justeza de toms, vé tudo, febril v0, fa 6s registros intactos, uma a sonoridade volumosa, ondeante, elevando-se aerea, volatil ao mais alto © descendo gradativamente até ‘65 graves, augustos ¢ solemnes, Eu 0 vi assim no mo- ha de ados. O. drama era a apresentagio do ministerio Doumergue, ento, que talvex fosse o da sua maior fa orador \ seena foi na C mara dos Depu © tempo, mezes antes da guerra, O au ito cinto, nas tribunas, nas galer s, excessiva, ardente, inguieto. Doumergue est ragio ministerial 4 politiea de Briand, em um dos seus ultimos minis terios na tribuna, tendo a dec! Nella ha uma referencia contraria Da sta bancada, quasi na extrema esquerda, levanta-se, agil, Briand. Com um gesto energico pede venia ao presidente do conselho para o interromper encia ¢ comega a falar. Despeja sobre a Camara uma quanticlade prodigiosa, ininterrupta, de palavras, moduladas em uma vor pro- funda, pathetica e toda a agitagio vae socegando, toda a Camara se volta para o orador, fascinada, domada, € 0 discurso véa, eresee, imper Quasi nio espera a acquies Tudo @a musica da vor humana, tudo € a vassalagem 4 eloquencia. Du- ante trinta e cinco minutos, esse homem interrom- peu o presidente do conselho, que permanecew na tri- buna a ouvil-o maravithado. No estupor desta inaudi- ta intervengo, a Camara, que the era hostil, era uma massa de terra, que Briand esmagava, esculpia a0 sex capricho € Ihe soprava os sentimentos, que elle queria insuflar e eil-a a applaudil-o, a acclamal-o, como © fantoche do grande magico, Sé quando elle quiz, deixou que se quebrasce 0 encanto ¢ foi r sntio que os socinlistas, sahindo ‘do torpor da admiragio, reagiram em um destemperado alarido. Na manha seguinte ex vi Briand no seu singelo appartamento da avenida Kleber. Elle sorria, deixava cahir as Inngas palpebras sobre os cihos para saborear melhor a scena, je com- mentavamos, espreguigava-se no sofa e msirmuraya 0 seu prazer. De lino feliz. ne a deliciosa impressio de via fe- Quando sahimos desse almogo do encontro de, Briand ¢ Barris, Briand nos deixou para ir & sua in- dlispensavel Camara. Barrés preferiu flanar commigo © acabou levando-me a ver o seu retrato exposto no Petit-Palais, Era o quadro romantico de Zuloaga Deante de Toledo esté Maurice Barris, grave e tris- te, extrahindo 0 segredo da transfiguracio dy cidade SANTOS DUMONT Nunea houve popularidade igual, Santos Du- mont domino o espirito brasileiro e foi uma fascinagio magica. O- nome andava por toda par= te. (Os seus modos € as sas roupas se copiavam era uma alegria brasileira, lembrarmo-nos dle que surgi no céu mais uma estrella, appareceu San- tos Dumont”. Depois, o tempo vere o ent siasmo © 0 az dos azes paseo a0 nosso conviv desencantando-se, Mas, bastava uma referencia mais intensa para referver a admiragio e nic ha dio’ maior para nds, do que pretender dar a0s irmios Wright a primasia, que cabe a0 nosso p tricio. Santos Dumont € uma gloria pura, cons- tante, inalteravel. "A dos politicos soffre revezes € vem sempre com travores, ao passo que a do “pae da aviagio” & definitiva, hem de raiz do es- pirito brasileiro. Como Oswaldo Cruz Agora, voltando ao Brasil, depois de novos traballios € pesquizas ainda no sentido do yoo, tos Dumont € recebido com o entusiasmo fer- noreso do Rio de Janeiro, que, mais do que nun- ca, representa todo o paiz, pois Santos Dumont talvez.o brasileiro mais conhecido nesta terra € nas alheias. Eo extraordinario em tudo isso, & que o juizo popular & de uma absoluta justeza, confirmando aliés o que veiu de fora, da Europa, que, até em monumentos, o consagrow e fmmorta- lizou. O nosso orgulho nunca sustentow tanto a imaginacio e, com que empafia, reclamamos San- tos Dumont, nosso, bem nosso, como 0 homem que dew azas ao mundo! F, sem duvida, elle & uma manifestagio formidavel de forga do nosso espiri- to, que se affirma na sua gloria e nella justifica as suas esperancas do Grecco. © colorido forte do ambiente esta corre- gado da tragica melancolia hespanhola e no rosto ma- cerado e nas longas ¢ hellas maos do escriptor esverdeada, livida, emprestada pelo pintor da tortura € do extase. Fra uma composigio atormentada, que se inspirava do famoso quadro de ‘Tischbein, repre- sentando, na serenidade divina, Goethe em face das ruinas de Roma. Entre estas pinturas 0 espago de uum seculo de angustia. Defronte do retrato de Bar- rés, na mesma galeria do Petit-Palais, vimos.o retra- to da condessa de Noailles por Jacques-Emile Blan- che. Na factura amaneirada, esforsando-se em uma finalidade de clegancia e de affectagio, ainda a Musa é elegiaca consolado de Barré Parece ao contemplar o rosto di ‘estar impregnada da apprehensio prophetica da separagio e da morte, Nos tristes olhos de Anna de Noailles ja se percebia aquelle grito de saudade, que se condensaria mais tarde nestes versos: “Je suis seule, en effet, je suis digne de Vétre, J'habi- EE te la téndbre oit sont ceux que jaimais,” (© vero é separador. ste de 1913 contrariow a formula ¢ reuniu-me a Barr's nos Vosges. Nio era jis Pariz, tambi mais o planalto central, nio era n n outro era o Barris, que eu vi naquellas florestas ame~ nas e lendarias, naquellas collinas inspiradas, naquel- les tios azues, naquelles lagos claros, naquellas estra- das sombreadas. A sobranceria, a segnidio do au- yernhez, a ironia altiva do parisiense, foram substi- tuidas por uma cordura, uma alegria, uma sympathia human ‘quadro da infaneia livre © mystica., Era alli a fonte pura do seu Iyrismo e da sta musita transcendente Fui hospede de Barrés na sua propriedade de Charmes. E foi vex, decifrei 0 segredo de Barris. .\ patria lorena o invadira ¢ 0 sub- jugara. O sortilegio vei a principio pela poesia. Bar- ris impregnou-se do encanto da paizagem ¢ da dogura Elle fui o poeta da melodia e do mysterio enternecedora, Era a volta de Barrés ao sew campesina dda Rher oppressio da Allemanha, arrancando pedagos da ter- ra da sua raga, A forca da magia ¢ o impulso da re- volta transfiguram o criador do homem livre, 0 pro- ia franceza. Depois vein a consciencia da pheta do egotisme € do individualismo absolute, no tnicionalista patriota, A Franga torna-se o proprio eu barresiano, O nacionalismo de Barres € o erescimen- toe © desenvolvimento do loreno, que se torna francez. ‘A guerra nio tardaria, Nos a sentiamos, a tocar vamos numa mistura de inquietagio ede esperanca. Em Gérardimer, na Schulucht, no Ballon d’Alsace, em Belfort, era aprehensivo o nosso goso meditative das paragens, que seriam A Lie tava a collina inspirada, a collina de Sion, esperande que setia levantado em memoria de ladas on gloriosas 6 monumento. Maurice Barrés, a lanterna dos mortos pela Franga. Um anno depois » guerra vein. Nos, que nos ti hamos visto constantemente em Pariz antes do verde de 1914, fomos bruscamente separados pelo cyclone Maurice Barres foi maravithoso de ardor combativo, dle eloquencia, de dialectica, de humanidade. O seu raya em toda a parte. Elle foi um dos fo dos fran- pensamento so} maiores architectos da energia e da uni cezes, 0 seu coragio estava em communhio com to- dos os combatentes. Cessaram para Barrts as sepa- ragoe: desenvolven Ihe o espirito pratico. Foi elle que teclamou 0 capace- te de ferro para o soldado em combate, em vex do pittoresco kepi, foi elle que lembrou a precaugio do frasco de iodo, distribuido aos soldados para os pri- meiros curativos, Todas as providencias para melho- A sympathia humana de Barri rar a situagio dos*combatentes, se nao foram da sua iniciativa, tiveram o seu apoio. Os seus artigos dia- rigs Ievaram a fé e 0 enthusiasm as trincheiras, es- palharam a confianga nas populagies. Eram inexcedi- veis © marayilhosas exposigdes dos feitos subli dos francezes, € ao mesmo tempo angustiosos gritos MOVIMENTO: =) = RAUL DE LEONI No dia 11 do. mez passado, os amigos de Raul de Leoni subiram a Petropolis, para inau- por amizade admi- ragio, mandaram erigir no sew tumulo. Agri gurar 0 monumento qu pino Grieco, Mario Mattos, Heitor Lima, Sa- lomo Jorge, o prefeito de Petropolis e outros oradlores disseram, com emogio, a muita sauda- de que nos deixon poeta, uma das forgas espirituaes na obra renovadora do Brasil. Todos fiavamos nelle, mas 0 destino nos privou do com= panheito, em plena floragéo. © seu livro de ver~ sos Luz Mediterranea, cuja reedigio foi earinho- samente feita, com um prefacio de Rodrigo Mello Franco, & 0 canto ardente de tuma mocidade in- quieta, para a qual o sér & uma pergunta absor- vente, que a duvida da intelligencia torna mais erucinante. Por essa estrada infinita o poeta dagou com ansia, sentindo na eriatura a variagio niverso’ perpetua “dentro da indifferenca do nselhou, por isso, a vida distraida, sem querer interpretar o mysterio das coisas, para aleangar a felicidade ingenua e calma"". Mas elle nfo se- guiu, nfo poude seguir, o suave conselho ¢ foi fim torturado, em eujo espirito Intavam “todas as a morte socegou ess almas do mundo”. Um di inquetagio e, do seu soffrimente, nos ficou a obra le poesia, que agora glorificamos, ——————— mentos da energia, que da- de vigilancia dos desfalles vam alarma das tramas ecntra a Franga, dentro ¢ 5 ra do territorio. Em novembro vim a Pariz de passagem para 0 Brasil, Almocei com Barris em sua casa do boulevard Maillot em Neui inha havide a batalha do Mar- ne, Ainda assim tudo era triste na casa de Barris, des~ organizada. O filho, hoje o brilhante escriptor Philip pe Barris, no exercito, Quando o deixei, Barrés ccou-me e beijou-me, como se nos despedissemos par \ sorte da Franga, como a do mundo, estava sempr incerta. No comego de 1915 organizamos no Rio de Janei ro as sympathias brasileiras pela causa dos All ados, Maurice Bar tantemente noticiando-a, nos seus artigos, & opiniio pu- bliea franceza. Deste modo elle cimentava a allianga franco-brasileira, Nenhum amigo mais diligente ¢ mais, enthusiasta teve o Brasil em Paris, nenhum com 0 set immenso prestigio Hoje, morto Barrés, € que se pode 5 segitia attento a nossa actividade, cons- avaliar a fascinagio, que elle exercia em Franga ¢ como ‘a sua decidida sympathia contribuiu poderosamente para © nosso prestigio internacional. As homenagens, NINE ae r na inauguragio do mont- Sion-Vaudémont, que Ih mento a sia memoria, na collina d acabam de prest hos Vosges, foram incomparaveis de veneragio, de fo € termura, Os fnterpretes dessa commeno~ ate pelas letras, ¢ Mourew admira ragio foram Poincaré, pela .¢- marechal Li pelo exercito, Paul Bourgs pela se mizade ansa- O mena fs, que amplion a sua por mim, tomando-se © amigo do Brasil, foi in vel em seus testemunhos de affeicé nosso. paiz. Foi elle quem presidiu ¢ falou na primeira reunidio de brasileivos de Pariz, amigos da Franga, em 1915, ¢ foi tambem a sua voz, que encerrou a esplendida homena- gem de reconhecimento, que o governo francex preston 20 Brasil alliado, no grande amphitheatro da Sorbonne, em 1919, depois da vietoria, O seu discurso foi o ma- gnifico hymmo ao “drapeau vert et jaune étoilé”, Du- ante a campanha, Maurice Barrés nao limitou as ma- nifestagées publicas as yas sympathias_brasileiras. Procuirot estabelecer contacto com francophilos do Brasil. A muitos destes enviou os seus livros commo- yentes e vibrantes, como “Les diverses familles spiri- tuelles de la France” ¢ “Les traits éternels de la Fran: Em Pariz nao cessava de ver brasileiros. Era um » certo, com que se contava para o convivio intimo cativas demonstragdes, como o co almogo, por ‘occasion da partida cle Paul Claudel para o Brasil em janeiro de 1917, em que reuni Henri Bergson, Emile Boutrous, Imbart-Latour, Philippe Berthelot, Pierre Mille, Georges Dumas, Emile Borel, Adolphe Brisson € outros amigos, em torno do grancle poeta e ministro plenipotenciario da Franga no Brasil. Em 1915 voltei & Pariz, qualquer fun felizmente despido de fio publica. Nao tardei a encontrar-me com Barris em sua casa e desde entio até outubro de 1921, o nosso contacto foi frequente. O homem era cada dia maior pelo genio e pelo coragio. A sua br ‘ura era temivel, como a sua ternura era maravilhosa. Quando tovlos sentiam a conspiragio contra 0 estorgo sublime da Franga, quando a espionagem inimiga cor- rompia extrangeiros, acolhidos deseuidadamente no ter- ritorio, sagrado pelo martyrio, pela sangue ¢ pela glo- ria, e ninguem tinha coragem de enfrentar os infames, que se pretendiam amparados por homens politicos, foi Barres que interrompeu o ministro Malyy na tribu- na para reclamar a puniglo da “eanalha do Bonnet Rouge”. A este grito de alarma seguiu-se a crua reve- lagdo de toda a trama de espionagem, a punigao dos eri- Ne AS LUZES QUE 0 MAR APAGOU Elles dansavam no espago, sorrindo ao mar, is montanhas, 4 terra inteira, que os olhava como os mensageiros da alegria, Ellles sabiam todos os segredos do espaco € da terra, eram senhores dos numeros ¢ da essen- cia da materia, Os seus olhos desmontavam & architectura do universo. Elles reconstruiram 0 tempo e 0 espago em outras dimensdes. Confabu- lavam com os astros e desciam ao seio da terra ¢ eram mysteriosos Dansavam nos ares, sorriam a todos os segre- dos da eternidade, os portadores da alegria de um povo ao Heroi. Elles eram rivaes dos sées e desafiavam a na- tureza vencida, Elles, os senhores do calculo e da mecanica, foram mortos pela machina. O mar apagou aquel- Jas fulminantes luzes da terra. Graca Aranha fr tinosos, a queda do ministe , a ascengio de Clemenceat a victoria Da stia ternura perduraré em mim doce e commo- vida gratidio. O homem distante, frio, desdenhoso, co- mo o classificavam apressadamente os desattentos ¢ os que néo o conheciam, foi para mim companheiro ma- ravilhoso. Se as nossas idéas philosophicas ou esthe- ticas eram divergentes, os nossos sentimentos affina- ‘yam-se para nos unir. Desta affeigio deu-me provas se- guras ¢ incessantes. Porfiow sempre, com a maior no- breza, em dar demonstragoes publicas da sua amizade, hos seus artigos, nos seus livros e€ no banquete, que conjunctamente com Bergson, Boutroux e outros ge- nerosos amigos, promoveu em minha honra em janei- ro de 1919, do qual foi um dos oradores. E esta affe io nfo esfriou nem com a victoria, que separou tan {os destinos, nem com a minha auseneia da Franga. Em 1923, pouco antes de morrer, Barrés eserevia a um amigo affirmando 0 seu fervoroso apoio & minha elei- cdo para membro correspondente do Instituto de Fran- 2. Magnanimo Barris, ignoravas que eu estava cura- do do mal academico! Tal o amigo, que amei e perdi. Na alegria, em que se integrou o meu espirito, penso na collina de Sion, onde uma lanterna esta perennemente accesa pelos Imortos, que honraram’a Franga. Para mim esta lanter- na illumina © meu sempre vivo Barris. DE

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