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Peixe paru verde

(Holacanthus ciliaris)

ASSOCIAÇÃO CIVIL GREENPEACE

Conselho diretor

Presidente Marcelo Sodré


Conselheiros Eduardo M. Ehlers
Marcelo Takaoka
Pedro Leitão
Raquel Biderman Furriela
Diretor executivo Marcelo Furtado
Diretor de campanhas Sérgio Leitão
Diretor de campanha
da Amazônia Paulo Adario
Diretor de comunicação Manoel F. Brito
Diretora de marketing
e captação de recursos Clélia Maury

Mar, petróleo e biodiversidade
A geografia do conflito

Texto Leandra Gonçalves


e Danielle Bambace
Coordenação e revisão técnica Leandra Gonçalves
Edição Danielle Bambace
e Beatriz Carvalho
Editora de fotografia Danielle Bambace
Pesquisa Nelson Novelli
                 Ramon Góes
Ricardo Martins
                 Mikael Freitas
                 Ana Paula Pizinato
Fotos Alcides Falanghe
Geração de mapas Edwin Keiser
Laboratório de
Georreferenciamento
(GEOLAb)
Greenpeace Manaus

Designer gráfico Karen Francis
W5 Criação e Design
Impressão D’lippi

Versão eletrônica em
www.greenpeace.org.br/oceanos/mapa

Desenvolvimento Elcio Figueiredo


Gorgônia (Phyllogorgia dilatata)                              Eduardo Santaela
                             P. A. Vieira
e salema (Anisotremus virginicus)
Tiragem: 1.000 exemplares.
www.greenpeace.org.br

O selo FSC garante que este produto foi impresso em papel FSC.

ATENDIMENTO
telefone 11 3035 1151

2 | Mar, petróleo e biodiversidade e-mail relacionamento@greenpeace.org


A geografia do conflito
Mar, petróleo e biodiversidade
A geografia do conflito

Este atlas tem como objetivo expressar para Apesar da sua importância ecológica, atividades eco-
o público em geral, por meio da representação em ma- nômicas impactam seriamente a zona costeira, sem que
pas desenhados para funcionarem como um guia seguro sejam adotadas medidas para sua proteção. Em 2007,
de interpretação da realidade, o conflito cada vez mais o Ministério do Meio Ambiente divulgou estudo reconhe-
intenso que ocorre em nosso litoral entre a preservação cendo que cerca de 44% da extensão total da zona ma-
ambiental e o desenvolvimento econômico. rinha brasileira é área prioritária para a conservação da
Cartografia e poder sempre andaram juntos. Por meio biodiversidade. Infelizmente, apenas 2,57% dessas áreas
da representação territorial em mapas que os países eu- prioritárias já foram transformadas em unidades de con-
ropeus reclamaram a posse dos seus novos domínios no servação federais. No entanto, a exploração e a produção
continente americano. Os mapas funcionavam como tí- de gás e óleo foi aquinhoada, até agora, com 8,77% de
tulos de propriedade, uma espécie de escritura pública áreas que deveriam ser transformadas em áreas marinhas
lavrada em cartório indicando o proprietário da casa. protegidas.
É por isso que os Estados procuraram assegurar o do- O interesse pela utilização de novas áreas no litoral
mínio da técnica de representação dos espaços geográ- deverá crescer com o início da exploração do pré-sal,
ficos, o que levou a cartografia a se transformar em um tornando ainda mais complicado e difícil o atendimento
ramo do conhecimento altamente especializado. da recomendação do Ministério do Meio Ambiente para
Mas, se o uso da cartografia podia parecer importan- a criação de unidades de conservação em nossa zona
te apenas para a disputa entre países, hoje não é mais marinha2.
possível deixar de pensar no seu emprego diante das O Greenpeace espera que a publicação ajude a des-
disputas que se travam em cada lugar sobre o uso dos pertar a consciência sobre a necessidade urgente de criar
recursos naturais. mais e melhores unidades de conservação marinhas, fun-
Com a redemocratização do país, no final dos anos 80, damentais para o bem-estar da população brasileira.
algumas organizações da sociedade civil começam a uti-
lizar a cartografia como meio de auxiliar os movimentos Sergio Leitão
Diretor de Campanhas do Greenpeace Brasil
sociais a reivindicarem do Estado a proteção de vastas
extensões de terras, em especial na Amazônia, ameaça-
das por madeireiros e garimpeiros.
O trabalho de organizações como Imazon, Instituto
Sociambiental e Greenpeace ajudou a quebrar o mono-
© Greenpeace/João Talocchi

pólio estatal da cartografia, permitindo que a sociedade


civil registrasse em mapas as disputas que aconteciam no
mundo real, dando-lhes visibilidade diante de governos
que teimavam em não enxergar o que acontecia.
Mas, se já foi possível andar muito no que diz respeito
aos mapas para os ambientes terrestres e para as nossas
florestas, ainda temos muito a fazer em relação à nossa
zona costeiro-marinha, cuja extensão é de aproximada-
mente 4,5 milhões de quilômetros quadrados1 que se
alongam por mais de 8.600 km. Isso é o que chamamos
de litoral, incluindo manguezais, recifes de corais, dunas,
restingas, praias, costões rochosos, lagoas e estuários
que abrigam inúmeras espécies da flora e da fauna, mui- Peixe frade
tas das quais ameaçadas de extinção. (Pomacanthus paru)

[1] O governo brasileiro solicitou um aumento da jurisdição das águas brasileiras até onde se estende a plataforma continental, que vai além das 200 milhas náuticas previstas na
Convenção do Direito do Mar. O pedido foi aceito e hoje a nova área sob jurisdição brasileira é de 4,5 milhões de km2. Esse atlas foi produzido com base nos 3,5 milhões km2, que
consta na última base de dados cartográficos disponibilizada pelo governo federal.
[2] Essa porcentagem foi calculada considerando a extensão das áreas consideradas como prioritárias pelo governo federal. Caso o cálculo fosse feito com base na extensão da
nossa zona econômica brasileira (3.500.000 km2), poderíamos contar com 0,4% de Unidades de Conservação federal e 6,5% de exploração e produção de petróleo.

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Região Norte
Biodiversidade

Capital estadual
Zona econômica exclusiva
Limite estadual

Unidades de conservação
 
Tipos de unidade de conservação
Proteção integral
Uso sustentável
 
Classificação de áreas prioritárias
Muito alta e extremamente alta
Alta
Insuficientemente conhecida
 
Biodiversidade e conservação
 
Recifes de coral

Aves

Mamíferos marinhos

Tartarugas

Peixes e tubarões

Manguezais

Pouco conhecido da maioria dos brasileiros, o litoral


da região Norte, onde fica a foz do rio Amazonas, é muito
rico em biodiversidade. Seus manguezais, que estão dis-
Fauna: Tartarugas marinhas e aquáticas,
peixe-boi (Trichechus inunguis), guará (Eudocimus
tribuídos ao longo da costa que vai do Amapá ao Pará,
ruber) e o flamingo (Phoenicopterus ruber).
ocupam uma área de quase 5 mil km2 e correspondem a
29,6% do total de manguezais do Brasil. Os 679 km de Flora: Siriúba (Avicenia nitida), mangue-vermelho
linha de costa entre os estados do Pará e do Maranhão (Rhizophora mangue) e mangue-amarelo
(que neste atlas está integrado à região Nordeste) for- (Laguncularia sp.).
mam o maior cinturão contínuo de manguezais do mun-
do. Essas florestas de mangue com árvores de grande
porte, recortadas por rios e canais de águas escuras e
tranquilas, são o refúgio e “berçário” de diversas espécies têm papel relevante no combate ao aquecimento global,
de crustáceos, peixes, moluscos e aves marinhas. Além já que absorvem e retêm grande quantidade de CO2, um
de sua importância para a biodiversidade, os mangues dos gases do efeito estufa.

4 | Mar, petróleo e biodiversidade


A geografia do conflito
Ameaças

Exploração e produção
 
Terminais de petróleo

Campos de produção

Blocos de exploração

Capital estadual
Zona econômica exclusiva
Limite estadual

Unidades de conservação
 
Tipos de unidade de conservação
Proteção integral
Uso sustentável
 
Classificação de áreas prioritárias
Muito alta e extremamente alta
Alta
Insuficientemente conhecida
 

Exploração x áreas prioritárias


e unidades de conservação

Muito embora sejam considerados áreas de proteção


Coral de fogo (Millepora alcicornis) e permanente, apenas 13% dos mangues estão sob a pro-
Peixes barbeiro (Acanthurus sp) teção em unidades de conservação. Hoje, esse impor-
tante ecossistema vive à mercê das concessões estadu-
ais para a criação de camarão e sofre pressão de obras
de infraestrutura e desmatamento. A região Norte possui
1% de suas áreas prioritárias destinadas à exploração
e produção de petróleo e gás, constante ameaça, em
caso de vazamento, aos manguezais. Se preservados,
os manguezais podem continuar seu papel natural como
sumidouros de CO2.

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Região Nordeste
Biodiversidade

Capital estadual
Zona econômica exclusiva
Limite estadual

Unidades de conservação
 
Tipos de unidade de conservação
Proteção integral
Uso sustentável
 
Classificação de áreas prioritárias
Muito alta e extremamente alta
Alta
Insuficientemente conhecida
 
Biodiversidade e conservação
 
Recifes de coral

Aves
Mamíferos marinhos

Tartarugas

Peixes e tubarões

Manguezais

Fauna: Baleias jubarte (Megaptera novaengliae),


atobá-mascarado (Sula dactylatra), caranguejo
A ausência de grandes rios e a predominância das terrestre (Gecarcinus lagostoma) e o coral-cérebro
águas quentes da Corrente Sul Equatorial propiciam, (Mussismilia braziliensis).
no litoral da região Nordeste, um ambiente ideal para a
formação de recifes de corais, que suportam uma gran- Flora: Vegetação densa rasteira.
de quantidade de biodiversidade costeiro-marinha. Os
recifes se distribuem por cerca de 3 mil km da costa
do Nordeste e representam 91% dos recifes de corais
brasileiros, constituindo os únicos ecossistemas recifais
do Atlântico Sul. De julho a novembro, a exuberância Anêmona
da fauna fica por conta das baleias jubarte, que visitam (Condylactis gigantea)
as águas nordestinas para reprodução e alimentação.
Merecem destaque também os tubarões que habitam o
litoral de Pernambuco.

6 | Mar, petróleo e biodiversidade


A geografia do conflito
Ameaças

Exploração e produção
 
Terminais de petróleo

Campos de produção

Blocos de exploração

Capital estadual
Zona econômica exclusiva
Limite estadual

Unidades de conservação
 
Tipos de unidade de conservação
Proteção integral
Uso sustentável
 
Classificação de áreas prioritárias
Muito alta e extremamente alta
Alta
Insuficientemente conhecida
 

Exploração x áreas prioritárias


e unidades de conservação

No Nordeste estão situados os principais parques teção Integral e 2,33% de unidades de proteção de uso
marinhos brasileiros: o Parque Nacional Marinho de sustentável nelas criadas. O Parque Nacional Marinho
Fernando de Noronha, a Reserva Biológica do Atol das dos Abrolhos, por exemplo, está ameaçado pela explo-
Rocas e o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos. No ração de petróleo e pela carcinicultura. Nele, uma grande
entanto, essa região tem sido alvo de pesados investi- área habitada por algas calcáreas, que funcionam como
mentos do governo para obras de infraestrutura, a maio- depósitos de carbono, encontra-se sob a ameaça silen-
ria delas voltada para a exploração de petróleo e gás, ciosa da exploração de uma fonte de energia suja, cara e
que ignoram as diretrizes ambientais e sociais. Como de alto risco para a biodiversidade.
exemplo, pode-se citar a ampliação do porto de Suape, O governo brasileiro segue na contramão dos esforços
em Pernambuco, e o estaleiro de Iguape, na Bahia. globais para o controle do aquecimento global, já que o
Ironicamente, 17,35% das áreas prioritárias estão hoje combustível fóssil é uma potencial ameaça não somente
concedidas à exploração e à produção de gás e óleo, em aos oceanos, mas ao clima do planeta.
oposição aos insignificantes 0,66% de unidades de pro-

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Cabo Orange
O Parque Nacional do Cabo Orange (PNCO) é uma unidade de conservação criada
pelo governo federal em 1980 para preservar uma variedade de ecossistemas
localizados na foz do rio Oiapoque e na costa norte do Brasil, no estado do Amapá. Atol das Rocas
É um parque nacional e portanto, é uma unidade de proteção integral. Duas pequenas ilhas na pontinha do Nordeste, de beleza
Seu excelente estado de conservação garante abrigo seguro e alimentos inigualável: favorito entre muitos admiradores de belezas
abundantes para a reprodução de muitas espécies de aves migratórias, répteis naturais, o Atol das Rocas é o único atol com formação
e mamíferos, muitos dos quais ameaçados de extinção em outras partes da de corais no Atlântico Sul, e tem importância ecológica

A geografia do conflito
Amazônia e do Brasil pela destruição de seus ambientes naturais. fundamental por sua alta produtividade biológica.
É também uma importante zona de abrigo, alimentação

Mar, petróleo e biodiversidade


e reprodução de diversas espécies de animais marinhos.
Por isso, tornou-se, em 1979, a primeira reserva
biológica marinha do Brasil, pelo Decreto-lei nº 83.549.
A reserva tem ao todo quase 360 km2 e abriga 150 mil
aves, de quase 30 espécies diferentes.
Zona costeira brasileira

Capital federal
Capital estadual
Zona econômica exclusiva
Limite estadual

Unidades de conservação
 
Tipos de unidade de conservação
Proteção integral
Uso sustentável
 
1 PN do Cabo Orange
2 EE de Maracá-Jipioca
3 RB do Lago Piratuba
4 REx Marinha de Soure
5 REx Mãe Grande de Curuçá
6 REx Maracanã
7 REx de São João da Ponta
8 REx Marinha de Tracuateua
9 REx Marinha de Caeté-Taperaçu
10 REx Chocoaré-Mato Grosso
11 REx Marinha de Gurupi-Piriá
12 REx Marinha Araí Peroba
13 REx de Cururupu
14 PN dos Lençóis Maranhenses
15 REx Marinha do Delta do Parnaíba
16 PN de Jericoacoara
17 APA Delta do Parnaíba
18 APA de Fernando de Noronha-
Rocas-S. Pedro e S. Paulo
19 RB do Atol das Rocas
20 PN Marinho de Fernando de
Noronha
21 REx do Batoque
Exploração x áreas prioritárias
Corredor Vitória-Trindade 22 REx Prainha do Canto Verde
e unidades de conservação A pequenina ilha da Trindade e Martim 23 ARIE Manguezais da Foz do Rio
Mamanguape
Vaz situa-se no oceano Atlântico 24 APA da Barra do Rio Mamanguape
25 FN da Restinga de Cabedelo
Sul aproximadamente no paralelo 26 REx Acaú-Goiana
de Vitória, Espírito Santo, afastada 27 APA da Costa dos Corais
28 REx Marinha da Lagoa do Jequiá
1.140 km da costa. Repousa sobre 29 APA de Piaçabuçu
30 RB de Santa Isabel
o assoalho oceânico a quase 5.500 31 RVS do Una
32 REx de Canavieiras
m de profundidade. De acordo com 33 PN e Histórico do Monte Pascoal
estudos do naturalista Ruy Alves, 34 REx Marinha do Corumbau
35 REx Cassurubá
existem 124 espécies botânicas 36 PN Marinho dos Abrolhos
37 RB de Comboios
na ilha, 11 das quais endêmicas. 38 PN da Restinga de Jurubatiba
Também refúgio para muitas aves 39 APA da Bacia do Rio São João/
Mico-Leão-Dourado
marinhas e local de desova da 40 APA de Guapi-Mirim
41 EE da Guanabara
tartaruga verde (Chelonia mydas), 42 REx Marinha Arraial do Cabo
43 PN da Serra da Bocaina
além de ser área de alimentação da 44 ARIE Ilhas das Cagarras
tartaruga-de-pente (Eretmochelys 45 EE de Tamoios
46 APA de Cairuçu
imbricata). Infelizmente, devido à 47 EE de Tupinambás
48 ARIE Ilha do Ameixal
grande disponibilidade de cardumes 49 ARIE Ilha Queimada Grande e Que
e à ausência de fiscalização, a pesca 50 APA Cananéia-Iguape-Peruíbe
51 EE de Tupiniquins
ilegal e predatória tem atacado a 52 APA de Guaraqueçaba - Fed
53 EE de Guaraqueçaba
Baía Babitonga região sem deixar vestígios. A ilha 54 PN do Superagui
55 PN de Saint-Hilaire/Lange
A baía Babitonga, ameaçada por obras de infraestrutura, está localizada no litoral norte do estado não tem povoamento permanente. 56 RB Marinha do Arvoredo
de Santa Catarina e é classificada como uma área “extremamente importante” para a conservação. Por sua distância da costa, 57 APA Anhatomirim
58 EE de Carijós
O entorno da baía Babitonga abriga cerca de 33 comunidades de pescadores artesanais dificuldade de desembarque e acesso 59 REx Marinha de Pirajubaé
60 APA da Baleia Franca
(mais de duas mil famílias) que vivem tradicionalmente da atividade pesqueira, extrativismo de exclusivamente por mar, Trindade não 61 RVS da Ilha dos Lobos
caranguejos, maricultura e atividades ligadas ao turismo. oferece condições para o turismo, 62 PN da Lagoa do Peixe
63 EE do Taim
Aproximadamente 75% dos bosques de manguezais do estado de Santa Catarina estão em mas é um excepcional local para
Babitonga e ela possui grande destaque pela sua fauna: é utilizada por pelo menos 13 espécies investigações científicas.

|
de aves migratórias para descanso, além de ser uma área de agregação reprodutiva de meros

9
(Epinephelus itajara) e a única região de estuário que abriga uma população residente de toninhas.
Região Sudeste
Biodiversidade

Capital estadual Tipos de unidade de conservação Biodiversidade e conservação


Zona econômica exclusiva Proteção integral  
Limite estadual Uso sustentável Recifes de coral
 
Aves
Unidades de conservação  Classificação de áreas prioritárias
Muito alta e extremamente alta Mamíferos marinhos
Alta
Insuficientemente conhecida Tartarugas

Peixes e tubarões

Manguezais

Muito impactada pelo desenvolvimento industrial em


sua zona costeira, a região Sudeste apresenta vários
pontos críticos de degradação. Ainda assim, sua biodi- Fauna: Baleias-de-Bryde (Baleanoptera edeni),
versidade resiste em determinadas áreas. Cabo Frio e baleias jubarte (Magaptera novaengliae), baleias franca
Arraial do Cabo são um bom exemplo – a região conta (Eubaleena australis) e Robalo (Centropomus sp).
com um fenômeno conhecido como ressurgência, onde
a ascensão de correntes frias e a frequente alternância Flora: Domínio de Mata Atlântica.
de correntes marinhas propiciam maior produtividade e
consequentemente uma maior variedade de espécies
vegetais e animais. Gorgônia
Tanto é verdade que a fauna no Sudeste ainda é rica (Phyllogorgia dilatata)
que no litoral paulista é fácil se deparar com excelen-
tes pontos para a prática do mergulho, como o Parque
Nacional Marinho da Laje de Santos. Situada a 40 km
da cidade de Santos, essa formação rochosa abriga em
seu entorno uma variedade incrível de organismos mari-
nhos, com destaque para espécies como a raia jamanta
(Manta birostris) e o golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops
truncatus). Além, é claro, da baleia-de-Bryde, que fre-
quenta a região em busca de alimento.

10 | Mar, petróleo e biodiversidade


A geografia do conflito
Ameaças

Exploração x áreas prioritárias


Exploração e produção Unidades de conservação e unidades de conservação
   
Terminais de petróleo Tipos de unidade de conservação
Proteção integral
Campos de produção Uso sustentável
 
Blocos de exploração Classificação de áreas prioritárias
Muito alta e extremamente alta
Capital estadual Alta
Zona econômica exclusiva Insuficientemente conhecida
Limite estadual  

O litoral sudeste do Brasil é o principal alvo do go- Estudo publicado na revista “Nature” em abril de 2009
verno brasileiro para a exploração de combustíveis fós- indica que, para que a temperatura média do planeta
seis. Nessa região, onde estão localizadas as bacias de seja mantida abaixo dos 2ºC até o final deste século, é
Campos e Santos, a exploração e a produção de petró- possível queimar no máximo um quarto das reservas dis-
leo ocupam cerca de 21,81% das áreas prioritárias para poníveis de combustíveis fósseis, ou emitir cerca de 700
a conservação marinha, contra apenas 0,59% de uni- bilhões de toneladas de carbono equivalente até 2050.
dades de conservação de proteção integral e 2,10% de A utilização das reservas do pré-sal poderá responder
unidades de conservação de uso sustentável. A pressão com uma participação de até 56 bilhões de toneladas
sobre ela irá aumentar significativamente com a desco- desse total.
berta de petróleo na camada pré-sal. Assim, ainda que o desmatamento no Brasil (respon-
Há ainda muitos obstáculos a serem vencidos para sável por 61% das nossas emissões) seja zerado até
que possamos ter a garantia de que impactos irreversí- 2020, é provável que as emissões decorrentes da ex-
veis na região não venham a ocorrer com a exploração ploração do pré-sal venham a substituir as decorrentes
do pré-sal. Tratam-se de desafios relacionados a aspec- do desmatamento, mantendo o Brasil entre os maiores
tos técnicos – a perfuração do sal, a profundidade dos emissores de gases de efeito estufa do planeta. No pior
poços, a logística das plataformas, entre outros – e tam- cenário, as emissões nacionais – de 2,192 bilhões de to-
bém ligados a aspectos ambientais, como impactos ao neladas por ano, de acordo com o segundo inventário
ecossistema marinho e aumento nas emissões de gases nacional de emissão de gases do efeito estufa de 2005
de efeito estufa. – seriam praticamente dobradas, posicionando o país
entre os três maiores emissores de CO2 do mundo.

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Região Sul
Biodiversidade

Capital estadual
Zona econômica exclusiva
Limite estadual

Unidades de conservação
 
Tipos de unidade de conservação
Proteção integral
Uso sustentável
 
Classificação de áreas prioritárias
Muito alta e extremamente alta
Alta
Insuficientemente conhecida
 
Biodiversidade e conservação
 
Recifes de coral

Aves

Mamíferos marinhos

Tartarugas

Peixes e tubarões

Manguezais

O litoral sul do Brasil apresenta alta biodiversidade e


grande volume de recursos pesqueiros, graças ao aporte Fauna: Lontra (Luntra longicaudis), baleia franca
de águas continentais e do encontro de correntes, co- (Eubalaena australis), biguá (Phalacrocorax brasilianus),
nhecido como Convergência Subtropical. Uma área pe- toninha (Pontoporia blainville) e colheiro (Ajaia ajaja).
culiar do extremo sul brasileiro são as regiões de dunas,
que servem de proteção para áreas adjacentes (campos, Flora: Vegetação típica de manguezais, restinga e
banhados, marismas e zonas urbanas), contra os efeitos remanescentes de Mata Atlântica.
climáticos e naturais.
São também zona de captação de água potável e,
principalmente, um importante abrigo de fauna e flora.
No litoral de Santa Catarina, há a APA da Baleia Franca,
que foi criada com o objetivo de proteger a baleia franca
austral. Nessa área, todos os anos, de junho a novem-
bro, temos a visita das baleias franca em comportamento
reprodutivo, um espetáculo muito apreciado e explorado
pelo turismo local.

Caranguejo-aranha
(Stenorhynchus seticornis)

12 | Mar, petróleo e biodiversidade


A geografia do conflito
Ameaças

Exploração e produção
 
Terminais de petróleo

Campos de produção

Blocos de exploração

Capital estadual
Zona econômica exclusiva
Limite estadual

Unidades de conservação
 
Tipos de unidade de conservação
Proteção integral
Uso sustentável
 
Classificação de áreas prioritárias
Muito alta e extremamente alta
Alta
Insuficientemente conhecida
 

A região Sul não está entre os principais alvos da Exploração x áreas prioritárias
e unidades de conservação
indústria de petróleo, uma vez que a maioria dos blo-
cos está localizada nas bacias do pré-sal, entre Rio de
Janeiro e São Paulo. Ainda assim, cerca de 8,75% dos
blocos de petróleo para exploração e produção estão lo-
calizados dentro de áreas considerada prioritárias para
a conservação. O percentual delas dedicado a unida-
des de conservação é, como nas outras regiões, ínfimo:
0,49% para unidades de proteção integral e 0,62% para
unidades de uso sustentável. para investimentos em fontes de energias poluidoras
Santa Catarina é o principal palco da indústria da pes- como o petróleo.
ca brasileira. Lá pesca-se 26,2% do volume total anual Além do impacto sobre a pesca, a exploração do
de toda a produção pesqueira do país – o equivalente pré-sal viria a atingir as populações de baleias que se
a 115 mil toneladas. Trata-se de uma fonte importante reproduzem na região, acarretando não apenas grandes
de renda para o estado e de suprimento para a indústria prejuízos a esses animais como ao desenvolvimento do
alimentícia nacional, mas que estará sob constante ame- turismo local, que tem na observação de baleias um de
aça enquanto a matriz energética brasileira for voltada seus fortes atrativos.

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Desafios para o futuro
Por um oceano mais limpo e protegido, o Greenpeace propõe:
• 30% de áreas marinhas protegidas no litoral brasileiro;
• 40% de reservas marinhas em áreas oceânicas;
• ordenamento territorial marinho que compatibilize o desenvolvimento econômico, social e ambiental.

Uma rede global de áreas marinhas protegidas


O Greenpeace propõe a criação de uma rede mundial de Áreas marinhas protegidas propostas.
áreas marinhas protegidas, que cubra 40% dos oceanos.
Moratória proposta para o oceano Ártico.

1 Mar da Groenlândia 8 Vema Benguela-Seamount 15 Sul da Austrália 21 Confluência Kuroshio-Oyashio


2 Atlântico Norte 9 África do Sul-Corrente de Agulhas 16 Rise Lord Howe e Cordilheira Norfolk 22 Mar de Okhotsk
3 Açores / Cordilheira Meso-Atlântica 10 Oceano Antártico 17 Mar de Coral 23 Golfo do Alasca
4 Rede do Mediterrâneo 11 Mar de Ross 18 Reserva Marinha do Oeste da Oceania 24 Pacífico Nordeste
5 Mar dos Sargaços / Atlântico Ocidental 12 Oceano Índico Central - Mar Arábico 19 Reservas Marinhas do Pacífico 25 Pacífico Sudeste
6 Atlântico Sul-Central 13 Baía de Bengala Ocidental e Grande Oceania
7 Patagônia-Antártica 14 Noroeste da Austrália 20 Reserva Marinha Moana

64% dos oceanos estão fora dos limites jurisdicionais dos países. O Greenpeace tem articulado para que seja criada
uma rede de reservas marinhas que proteja 40% dos mares internacionais.
Visite o site, conheça a proposta e junte-se ao Greenpeace nessa campanha em defesa dos oceanos:
http://www.greenpeace.org/international/en/campaigns/oceans/marine-reserves/roadmap-to-recovery/

Referências bibliográficas
PRATES, A. P. L. (Ed.). 2006. 2ª ed. Atlas dos Recifes de Coral nas Unidades de Conservação LEÃO, Z. M. A. N. 1994. The coral reefs of Southern Bahia. p. 151-159. In: B. Hetzel and C.
Brasileiras. Ministério do Meio Ambiente, Brasília. 232p. B. Castro. Corals of Southern Bahia. Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 189pp./ IBAMA (1991).
MAIDA, M. e FERREIRA, B. P. 1997. Coral reefs of Brazil: an overview. p. 263-74. Vol. 1. In: Plano de Manejo do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos.96p. Brasília.
Proceedings of the 8th International Coral Reef Symposium. Schaeffer-Novelli, Y., Cintron-Moleno, G. 1988.  Expedição nacional aos manguezais do
MMA, 2007.  Áreas Prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Amapá, Ilha de Maracá. Relatório técnico. Brasília: CNPq. 99p
Benefícios da Biodiversidade Brasileira: Atualização – Portaria MMA n. 9, de 23 de janeiro de Fabiano, R.B. 2009. Relatório Técnico Sócio-econômico para a criação da Unidade de Con-
2007. Série Biodiversidade 31, MMA. servação de Uso Sustentável na região da Baía da Babitonga estado de Santa Catarina. 96pp.
MMA, 2008. Macrodiagnóstico da zona costeira e marinha do Brasil. Brasília. 242p. IBAMA, 2007. Estudo Técnico para a Criação da Reserva de Fauna na Baía da Babitonga.

14 | Mar, petróleo e biodiversidade


A geografia do conflito
Sobre o atlas
Esta publicação reúne mapas gerados pelo Laboratório de
Esponja-do-mar (Monanchora arbuscula)
Georreferenciamento (GEOLAb) do Greenpeace Brasil utilizando
o sistema ArcGis. Por meio do processamento espacial das
bases de dados, disponibilizada pelo Ministério do Meio Ambiente
e Ministério de Minas e Energia, esse atlas ilustra um panorama
da conservação e da exploração do litoral brasileiro.
Considerando a data de produção do mapa (primeiro
semestre de 2010), ainda não estavam disponíveis os arquivos
georreferenciados para as duas últimas Unidades de Conservação
criadas no Espírito Santo: Área de Proteção Ambiental
Costa das Algas e Refúgio da Vida Silvestre de Santa Cruz.
Vale lembrar que a sobreposição de diferentes temas pode ocultar
parte da informação quando colocada em material impresso.
Por isso, visite no site www.greenpeace.org.br o mapa em
versão virtual, onde você poderá ver de forma interativa
cada tema separadamente e sem possíveis sobreposições.
Para uma melhor compreensão dos textos e interpretações que
estão inclusas nesse atlas, segue a definição de alguns termos
importantes amplamente mencionados:

Unidades de conservação
Segundo o Sistema Nacional de Unidades de Conservação
da Natureza, “essas áreas são espaços territoriais e seus
recursos ambientais, incluindo águas jurisdicionais, com
características naturais relevantes, com objetivos de conservação
e limites definidos, sob regime especial de administração,
ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção”.
As unidades de conservação, marinhas ou terrestres, são divididas
em proteção integral ou uso sustentável. As UCs de proteção
integral existem para garantir a manutenção dos ecossistemas e
habitats naturais livres de alterações causadas por interferência
humana, admitindo apenas o uso indireto dos recursos.
Nas UCs de uso sustentável, a exploração do ambiente é feita
de maneira a garantir a perenidade dos recursos ambientais
renováveis e dos processos ecológicos, mantendo a biodiversidade
e os demais atributos ecológicos, de forma socialmente justa
e economicamente viável, permitindo a exploração direta dos
recursos, mas de forma regulamentada e fiscalizada.

Áreas prioritárias
As áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade foram
propostas pelo governo federal, após a definição de seu compro-
misso junto à Convenção para a Biodiversidade. Essas áreas são
importantes e devem ser criadas e geridas visando a conservação
da biodiversidade e a recuperação dos estoques pesqueiros.

Zona econômica exclusiva (ZEE)


A zona econômica exclusiva é uma delimitação geográfica
de uma porção marinha associada à costa de um país.
As ZEEs são de extrema importância dentro do contexto da
criação de áreas marinhas protegidas, tanto para a conservação
da biodiversidade quanto para a manutenção climática global.

Pré-sal
O pré-sal é uma camada de rochas localizada abaixo de uma
Tartaruga cabeçuda (Caretta caretta) barreira de sal de até 2 km de espessura, situada até 5 km abaixo
da superfície do oceano. É também a denominação das reservas
petrolíferas encontradas nessas rochas e que se estendem
do litoral do Espírito Santo até o litoral de Santa Catarina.
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Corais
(Millepora alcicornis)

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16 | Mar, petróleo e biodiversidade


A geografia do conflito

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