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FICO, Carlos. Ditadura militar brasileira: aproximações teóricas e historiográficas.

Revista
Tempo e Argumento, Florianópolis, v.9, n. 20, p. 05-74. jan./ abr. 2017.
“Discute o suposto revisionismo da historiografia sobre a ditadura militar brasileira; sustenta que o
recrutamento de jovens simpatizantes para a luta armada gerou uma memória traumática; mostra o vício
nominalista do debate sobre o caráter civil-militar da ditadura; argumenta que a moldura institucional do
estado de exceção ainda estava ativa em 1985 e demonstra que a saída da ditadura foi controlada pelos
militares”. (p. 5)

 Primazia das ciências políticas e dos textos memorialísticos (“ditadura documentada”)


“Até os anos 1980, os debates teóricos sobre os regimes militares latino-americanos, inclusive o brasileiro,
diziam respeito a modelos gerais de interpretação e se davam na Ciência Política. Carentes de diálogos com
evidências empíricas, tais debates nunca chegaram a interessar os historiadores (FICO, 2004, p. 32). As
informações disponíveis sobre a ditadura provinham da imprensa, de discursos oficiais e de depoimentos ou
memórias: são recentes os trabalhos que têm acesso a grandes fundos documentais”. (p.7)
O autor tendo acesso a extensa fonte documental, pra ele considerada uma série privilegiada, conclui que
não existe mais obscurantismo sobre o período ditatorial no Brasil e a partir dessa premissa defende sua tese
de que a ditadura militar teve como principal protagonista os setores ligados a própria hierarquia militar.

 A acusação de revisionismo a historiadores como Angelina Figueiredo, Daniel Aarão Reis Filho, Jorge
Ferreira e Denise Rollemberg.
“Em 2004, quando perguntado se promoveria algum congresso para marcar os 40 anos do golpe de 1964,
sugeri que reuníssemos todas as instituições do Rio de Janeiro em um grande evento. A ideia foi acatada e o
seminário atraiu o interesse do público e da imprensa. Foi nesse contexto que a “operação revisionista” se
tornou “dominante no mainstream acadêmico brasileiro”, como diria, dez anos depois, Demian Bezerra de
Melo, um dos autores marxistas (MELO, 2014, p. 161).” (p.8)

1)Revisionismo
1.1) Golpismo de Goulart
 Caio Navarro de Toledo: Critica aos autores que caracterizam Goulart como golpista, não confundir
esquerdismo com golpismo (TOLEDO 2004, P.37, 48 e 44).
Carlos Fico: 2 episódios que Goulart usou mecanismo de forte pressão (indevidas) ao congresso para exigir
o voto com o governo. (Plebiscito sobre o parlamentarismo e solicitação de Estado de Sítio).
 Marco Antônio Villa: Destaca os episódios da pressão ao congresso e da tentativa de decretação de Estado
de Sitio como tentativa de golpe de João Goulart, destaca ainda um certo desejo de Goulart pela reeleição.
Carlos Fico: destaca que as afirmações de Villa carecem de provas empíricas e evidencia que se Jango fosse
golpista era mais fácil seguir a lógica democrática do impeachment, “tese que não prosperou” o que
evidencia o golpismo da Direita.
1.2) Esquerda não democrática
 Caio Navarro de Toledo: destacou que as reformas de base propunham a “ampliação da democracia liberal
excludente” (TOLEDO,2004, p. 48, nota 38).
 Argelina Cheibub Figueiredo: afirmou que “os grupos esquerdistas e pró‐reformas buscavam essas
reformas ainda que ao custo da democracia (…) propunham e estavam dispostos a apoiar soluções não
democráticas. Aceitavam o jogo democrático somente enquanto fosse compatível com a reforma radical”
(FIGUEIREDO, 1993, p. 202).
Carlos Fico: Formada em Ciências Sociais e mestre em Ciências Políticas as afirmações de Angelina
Figueiredo carecem de perspectiva histórica. Ainda, a tese defendida por seu orientador (Adam Przeworski)
das escolhas disponíveis aos agentes permitiu fazer declarações como a que Goulart não soube fazer
escolhas adequadas o que teria reduzido a possibilidade de fazer as reformas sob regras democráticas, ou
que a esqueda de Brizola pudesse escolher deixar de agir como realmente era: “esquerdista e radicalizada”
o que na visão do autor desconsidera todo o processo histórico. Além disso, o autor destaca que cobrar
valores democráticos dos que viveram na década de 1960 seria anacrônico (Denise Rollemberg). A tese de
Angelina além de se contrapor a Dreiffus, pretendeu criticar qualquer tipo de determinação estrutural para
explicar o Golpe de 1964, criticando tanto os que defendiam a determinação de fatores econômicos, como
institucionais, como era o caso de Wanderley Guilherme dos Santos
 Jorge Ferreira: concordou com a posição de Argelina Figueiredo.
 Denise Rollemberg: evitou o anacronismo quando afirmou que as esquerdas, “como de resto a sociedade
(…) não tinham a democracia como um valor supremo”, e salientou, corretamente, que “a construção da
memória deste passado tem sido feita menos à luz dos valores que nortearam as lutas de então e mais em
função do presente, dos anos 1980, quando a referência era a democracia – e não mais a revolução”
(ROLLEMBERG, 2003, p. 47‐48).
Carlos Fico: Critica a questão da memória (memória como resultado histórico) e valorização critica a Denise
Rollemberg dos críticos do Revisionismo.
 Demian Melo: a tese da cientista política deve ser considerada “um marco na literatura revisionista sobre o
golpe” (MELO, 2006, p. 121. Grifado no original).
Carlos Fico: A critica a Rollemberg é fruto principalmente da contraposição entre esta e René Dreifuss (1981)
um dos autores mais valorizados pelos críticos do revisionismo, para Fico uma das principais fragilidades da
obra de Dreiffus “é que ela não distingue entre a campanha de desestabilização patrocinada contra Goulart
e a conspiração por sua derrubada, coisas completamente diferentes”.
 Wanderley Guilherme dos Santos: propõe a famosa tese sobre paralisia decisória fundada no modelo
teórico da “competição política e cálculo do conflito” de inspiração antimarxista, Santos tenta explicar em
termos institucionais o que ele chama de colapso do sistema político em 1964.
Carlos Fico: os críticos dos chamados revisionistas deveriam enfrentar o efetivo oponente (Santos e
Angelina) – e sua inextricável construção teórica – e não o castelo de cartas que tomaram como fortaleza”,

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