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Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. O mundo socialista: expansdo e apogeu Daniel Aarao Reis Filho Professor titular de Historia Contemporinea da Universidade Federal Fluminense Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. Entre 1945, quando se encerrou a Segunda Guerra Mundial, e 1985, quan- do teve inicio o processo da perestroika, o mundo socialista, apesar de pro- blemas e contradigdes, conheceu um tempo de sucesso, de expansdo e de glé- ria. No entanto, desde a segunda metade dos anos 70 e, sobretudo, a partir dos anos 80, comegaram a se multiplicar os sinais de uma crise maior, embo- ra muito poucos imaginassem a sua profundidade. Oestudo da evolucao do sistema socialista, encetado pelo presente texto, considerara, em primeiro e principal lugar, o seu niicleo paradigmatico, a Unido Soviética, mas também trabalhard, de modo muito rapido, com outras referéncias e experiéncias socialistas: as que tiveram lugar na Europa Central, desde o término da Segunda Guerra Mundial, as chamadas demo- cracias populares; as que ocorreram na Asia Oriental (Coréia e Vietna) e na China (triunfo da revolugdo chinesa em 1949), onde o socialismo se afirmou por meio de guerras camponesas conduzidas pelos comunistas; as que se de- senvolveram na Europa Ocidental, com o surgimento de uma alternativa que se pretendeu radicalmente diferente do modelo soviético: 0 eurocomunismo; as que se verificaram na América Latina, com o triunfo da revolucdo cuba- na, em 1959, que se transmudou desde o comeco dos anos 60 numa revolu- Gao socialista; e, finalmente, as experiéncias realizadas na Africa e no mundo Arabe, onde propostas nacionalistas ¢ estatistas, largamente inspiradas nas experiéncias soviética e chinesa, haveriam de condicionar as lutas de liberta- go nacional e a construcao de novos estados nacionais soberanos. A narrativa se desdobrara em trés periodos. Em primeiro lugar, o tempo da expansao e da supremacia do socialismo soviético, que se estende de 1945 —término da Segunda Guerra Mundial — a 1953-54, quando se encerram a guerra civil da Coréia e a Guerra do Vietna contra o colonialismo francés. Em 1953 desaparece igualmente J. Stalin, que chefiara o governo soviético durante quase vinte anos. Com ele, como se vera, tenderam também a desa- 13 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © SECULO Xx parecer certas escolhas estratégicas e certos padrées da cultura politica até entao prevalecente no 4mbito do comunismo internacional. O segundo periodo assinala 0 apogeu do socialismo e, a0 mesmo tempo, 0 aparecimento de varias crises que passam a solapar o sistema. Ele prolonga- se de 1953 a 1975, quando triunfa a longa guerra do Vietna contra os Estados Unidos. O mundo socialista conheceu nesse periodo um processo de extrema diversificagao, estendendo-se sua area de influéncia a América Latina (Cuba), a Africa, 4 Asia e ao mundo islamico. Ao mesmo tempo, acentuaram-se as contradic6es internas, que desembocaram, em alguns momentos, em invasGes militares e guerras entre os Estados socialistas. Apesar das fraturas expostas, © socialismo constituia-se numa realidade incontornavel do ponto de vista da dindmica das relagdes internacionais. Muitos nao avaliavam detidamente suas contradigées internas, seus impasses, preferindo destacar os denomina- dores comuns que uniam aqueles Estados, movimentos ¢ partidos que reivin- dicavam referéncias politicas, econdmicas e ideolégicas que a Histéria consa- grara como socialistas. Outros ainda insistiam no fato de que o sistema socia- lista avancava lenta mas sistematicamente, quase sem interrupgoes, a partir da Segunda Guerra Mundial, enquanto encolhiam as dreas firmemente controla- das pelo seu rival maior — 0 capitalismo internacional e os EUA, em particu- lar. Nao raros analisavam o socialismo, especialmente 0 socialismo soviético, como um sistema em ascensio, enquanto os EUA lideravam um bloco de pai- ses capitalistas condenado ao declinio e 4 decadéncia... No terceiro periodo, a tiltima década que precedeu o desencadeamento da perestroika (1975-1985), estuda-se 0 chamado socialismo desenvolvido. De um lado, 0 socialismo nunca parecera tao forte. Mas ja havia entao sinais de um processo critico, que impunha reformas drdsticas. Aquele sistema, que pretendia encarnar o futuro, passou a ser obrigado a examinar suas contra- digSes e impasses, a avaliar seu passado, os problemas acumulados, e a defi- nir novos rumos. Os periodos aqui definidos sao apenas balizas para orientar a reflexao, e no marcos rigidos que apenas confundiriam, j4 que a Hist6ria, como se sabe, nao se constitui em blocos separados, mas transcorre num fluxo contf- nuo, sempre remodelado ¢ reorientado pela vontade ¢ pela imaginagdo dos seres humanos, agindo segundo suas circunstancias. 14 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © MUNDO SOCIALISTA: EXPANSAO E APOGEU 1. EXPANSAO E SUPREMACIA DO MONOLITO SOVIETICO A URSS emergiu da Segunda Guerra Mundial, do ponto de vista da econo- mia e da demografia, semi-arrasada, devastada pelos exércitos nazistas, so- bretudo em sua parte ocidental, ocupada durante anos. Mas seu prestigio po- litico era imenso e sua forca militar, incontrastavel, particularmente na Europa. O modelo soviético irradiava forga, reconhecida por amigos c inimi- gos. Afinal, fora capaz de ser o fator decisivo na derrocada do nazismo. Os povos da URSS, sobretudo 0 povo russo, embora traumatizados pelos sacri- ficios impostos, estavam aliviados e orgulhosos, coesos em torno de suas ins- tituigdes e de seus dirigentes, entre os quais emergia a figura de J. Stalin, entao incensado como guia politico genial. De modo geral, em todo o mundo, e também naturalmente na URSS, havia uma grande esperanca de que seria possivel agora reconstruir um mundo mais justo, fraterno, solidario, livre e democratico. Nao tinham sido estes os valores em torno dos quais se formara a Grande Alianga que derro- tara o nazismo? Entretanto, as exigéncias do processo de reconstrucio do pais, ou a ma- neira como o poder soviético entendeu orientar este proceso, e, principal- mente, as circunstancias da Guerra Fria, abertamente irrompida desde 1946, modelaram o futuro de outra forma, fazendo retornar a atmosfera dos rit- mos febris, da tensio e do medo, tipica dos planos qitingiienais experimen- tados ao longo dos anos 30. Instaurou-se o mundo fechado da bipolariza¢ao, a servigo dos interesses e da dinamica dos complexos industriais e militares de cada campo, ou seja, dos setores comprometidos com a corrida armamentista e com toda a sorte de bens e servicos que apoiavam a producao para a guerra. Neste quadro, continuaram a merecer a maior prioridade, em termos de investimentos, e os maiores cuidados, em pessoal e demais recursos, os dinossauros comedores de ferro e de aco: indistrias de armas e munigées, de maquinas e de bens in- termedidrios, a producdo de energia e a construgao de vias de transportes. A economia de comando, mobilizada (Sapir, 1990) com suas caracteris- ticas tipicas: estatizagao geral das atividades, planejamento centralizado, proliferagao de agéncias centrais de controle, ditadura politica, relegacao, a um plano secundario, dos interesses imediatos e das demandas das pessoas comuns por condigées melhores de vida, de trabalho, de transporte etc. Em 1950, 0 antincio dos resultados do IV Plano Qiiingiienal evidenciou 1s Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © SECULO Xx a forca e a fraqueza destas escolhas estratégicas. Enquanto a producao de carvao, de petrdleo, de aco e de energia elétrica, entre outras do mesmo tipo, registravam novos recordes impressionantes, a producao de bens de consu- mo, e sobretudo a agricultura de graos, apontavam para uma situagdo de es- tagnagao ou, em algumas dreas, para o declinio. O V Plano, formalmente aprovado em fins de 1952, por ocasiao do XIX Congresso do Partido Comunista da Unido Soviética (PCUS), mas j4 sendo implementado desde o ano anterior, manteve e aprofundou estas opgdes. Era preciso se defender da Guerra Fria, cujos perigos rondavam. Mais uma vez, os cintos deveriam ser apertados... e as consciéncias e vontades, mobilizadas. O relangamento dos métodos habituais. De um lado, campanhas positi- vas, para aumentar a producdo e a produtividade, emulacdo entre unidades de produgao, industriais e agricolas, cidades, regides, distribuicdo de prémios, incentivos morais e materiais, processos de promogio social. De outro lado, 0 emprego do Terror, com suas duas faces, coagindo e inibindo, mas também mobilizando em campanhas de identificagao, delago e derrubada dos chama- dos inimigos do povo. Em sua dimensio punitiva, o Terror, mais uma vez, traumatizou a socie- dade e o préprio partido. Entre os soldados e civis presos pelos nazistas, e re- cambiados para a URSS logo depois da guerra, um pouco mais de 40% foram para os campos de trabalhos forgados, sob suspeita de colaboracionis- mo. Pequenas nacées nao-russas, na regiao do Caucaso, foram deportadas em bloco, também acusadas de servilismo diante do invasor. Nas fileiras do partido, do mais alto escalao (queda brusca de N.A. Voznessenski, ministro do Plano) a base (a depuracao alcancou 30% de dirigentes locais no conjun- to da URSS), a instalagdo de uma atmosfera de areias movedicas. Para compensar, as mobilizagdes em torno de mitos unificadores, com- provadamente eficazes ao longo da Histéria: a defesa da Patria ameacada, a fortaleza socialista sitiada por um mundo capitalista hostil e o culto 4 perso- nalidade do guia genial, o Pai do Mundo do Trabalho, o camarada J. Stalin. Em 1949, por ocasido do seu septuagésimo aniversdrio, houve um delirio inédito de homenagens e festividades. O homem adquiriu dimensGes semidi- vinas. E parecia tanto mais forte quanto mais se fortalecia o sistema que 0 re- conhecia como chefe supremo e inquestiondvel. Com efeito, o sistema socialista estendia-se para a Europa e para a Asia, superando a situagao de isolamento que marcara a trajetéria da revolugdo russa desde 1917. 16 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © MUNDO SOCIALISTA: EXPANSAO E APOGEU A oeste, gracas ao avanco das tropas soviéticas até Berlim, foi possivel, em primeiro lugar, anexar 4 URSS importantes territérios: os chamados Esta- dos balticos (Leténia, Esténia e Litudnia), a parte oriental da Polénia e uma porgdo da Roménia — transformada em Republica Soviética da Moldavia. Com este movimento, Moscou recuperou as fronteiras do velho Império Tzarista, perdidas em 1917. Ironia da histéria: o tragado desta geografia fize- ra parte do acordo germano-soviético assinado em agosto de 1939... Na drea da Europa Central (Polénia, Tchecoslovaquia, Alemanha Orien- tal e, depois, Reptiblica Democratica Alema (RDA), Hungria, Roménia, Albania, Bulgaria e Iugoslavia), quase toda ocupada pelos exércitos sovi cos, a expectativa de Moscou era formar um cinturao de Estados no minimo nao-hostis. Com efeito, na fase final da guerra, havia um acordo entre as po- téncias da Grande Alianga de que os paises da area nao poderiam ser inimigos da URSS, como tinha sido o caso depois do triunfo da revolugao russa, em 1917. Mas nem por isso seriam tangidos ao socialismo. O consenso, que abrangia igualmente muitas regides do mundo (Europa Ocidental, Asia e América do Sul), era o de organizar, em toda parte, governos de uniado nacio- nal, com ampla participagao, inclusive de comunistas e socialistas. Mais tarde, eleigdes livres teriam lugar, cada povo definindo seu futuro como bem Ihe aprouvesse. A construc¢ao era coerente com os valores que haviam mobili- zado os povos contra o nazismo e inspirada, na medida em que era sensivel as particularidades de cada regiao e de cada pais. Mas nao resistiu a prova da Guerra Fria e de suas exigéncias. Assim, no caso da Europa Central, sociedades extremamente diversifica- das, historicamente constituidas em suas especificidades politicas, lingitisti- cas, religiosas e culturais, tiveram que entrar num molde tinico, rigido e cen- tralizado, 0 modelo soviético. Foram revogados com maior ou menor rapi- dez os governos de unio nacional, e se unificaram em ritmo marcial os par- tidos socialists e comunistas locais. A repressio cuidou das oposigdes & ma- rleira soviética, com direito a grandes processos publicos, torturas e confis- sdes. Nasciam as democracias populares, que nunca foram democriticas, tampouco populares... condicionadas, desde o inicio, por uma alianga sub- missa com o poderoso vizinho (Claudin, 1983). No outro extremo do mundo, na Asia Oriental, 0 socialismo faria outros avangos, ai sem praticamente ajuda nenhuma dos soviéticos. © processo social, mais uma vez, surpreenderia a todos, impondo situa- gGes imprevistas, dificeis de analisar. Revolugdes nacionalistas radicais, tendo os camponeses como principal forga social, baseadas em organizages 17 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © SECULO Xx armadas de massas, os exércitos guerrilheiros populares, estavam se candida- tando ao poder num certo numero de paises que haviam sido parcial ou to- talmente ocupados pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial (China, Coréia, Vietna, Indonésia, Birmania, Malasia, Filipinas etc.). O pro- blema, para as poténcias capitalistas, sobretudo para as européias, é que os comunistas asiaticos e seus aliados tinham a hegemonia, ou grande influén- cia, em quase todos estes exércitos guerrilheiros... Entre as poténcias da Grande Alianga, como ja foi referido, havia 0 acor- do de que, nestes paises, também deveriam se organizar governos de uniao nacional, eleicdes livres etc., em suma, a mesma metodologia prevista para outras partes do mundo. Mas ninguém imaginou, nem mesmo os soviéticos, que os comunistas pudessem vencer eleicdes e se assenhorear do poder. Em 1945, os comunistas vietnamitas, liderados por Ho Chi Minh, apro- yeitando-se da derrocada do Japao, e antes que os europeus, no caso, os fran- ceses, chegassem para tentar reocupar o lugar de poténcia colonial perdida durante a guerra, proclamaram a independéncia nacional. Tiveram 0 cuida- do de afirmar bastante bem sua autonomia e seus vinculos 4 nac¢ao a que per- tenciam. Nao eram pedes, nem muito menos agentes de Moscou. O mesmo fariam os comunistas chineses, ao longo das dificeis negociagdes que se esta- beleceram logo depois da rendigao dos japoneses com vistas 4 constituigio de um governo de uniao nacional da China. Mantiveram conversagdes com representantes civis e militares do governo americano, emitiram os sinais possiveis no sentido de mostrar suas especificidades nacionais e suas perspec- tivas de autonomia. Ocorrera, de fato, ao longo da guerra, na Asia Oriental, um fendémeno novo: com epicentro na base vermelha de Yanan, no noroeste da China, con- trolada pelos comunistas chineses, constituiu-se uma espécie de internacional comunista asidtica, bastante frouxa em termos organicos, mas razoavelmen- te afinada em termos sociais, estratégicos e programaticos. Seus denomina- dores comuns, de uma forma muito esquematica, podem ser assim sintetiza- dos: desenvolver a luta nacional de forma radical, libertando as nagdes da Asia de qualquer tipo de colonialismo; basear-se fundamentalmente nos camponeses, mobilizados em torno de programas de reforma agraria; formar aliangas as mais amplas, incluindo a burguesia e pequena burguesia urbanas, desde que estivessem dispostas a lutar com os camponeses pela independén- cia nacional; conduzir a luta de forma armada, apoiada em exércitos guerri- lheiros populares, cercando as cidades a partir dos campos em guerras popu- 18 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © MUNDO SOCIALISTA: EXPANSAO E APOGEU lares de longa duracdo. Apés a Segunda Guerra Mundial, comegou a surgir um termo, ainda algo impreciso, 0 maofsmo (de Mao Tsé-tung, presidente do Partido Comunista Chinés e principal estrategista do Exército Popular de Libertagao (ELP)), para designar todas estas novidades que poucos analistas estavam dispostos a levar a sério (Reis Filho, 1981). A respeito dos méritos e dos deméritos do maofsmo, muito ja se escre- veu. O fato que nos basta aqui é que suas referéncias estavam sendo capazes de mobilizar vontades e constituir forgas capazes de aspirar ao poder politi- co, O recuo da Histéria, hoje alcangado, j4 nao permite diividas quanto a real autonomia destes movimentos guerrilheiros e destes comunistas em rela- gdo a Moscou. Nem o grande Stalin confiava neles, nem eles tinham por que confiar em Stalin. Contudo, nada disto foi considerado. Uma vez mais, a irrupgao da Guer- ra Fria teve, aqui também, efeitos uniformizadores ignorando particulari dades e autonomias, e escolhendo aliados mesmo que estes, muitas vezes, nao tivessem nenhum compromisso com a democracia nem tivessem se destacado na luta contra os japoneses. Quanto as lutas de libertacao nacional na regiao da Asia Oriental, elas seriam, de modo geral, derrotadas (Birmania, Filipinas, Malasia), ou se veriam, progressivamente, encurraladas, empurradas, literal- mente, até cair na érbita do socialismo soviético (China, Vietna e Coréia). As sucessivas crises que entao sobrevieram, como a de Berlim, cujo blo- queio estendeu-se de novembro de 1948 a maio de 1949, e, mais grave, ada Coréia, que virou guerra civil, entre 1950 e 1953, dando asas a intervengao direta dos EUA (sob 0 manto das NagGes Unidas), para defender o governo aliado da Coréia do Sul, e da China, para sustentar os norte-coreanos, sé fi- zeram apertar os nés da alianga entre URSS e comunistas asidticos. Do ponto de vista dos EUA, estava sendo criada em torno da Asia e da China, em particular, uma cortina de bambu, equivalente a cortina de ferro (expressdo cunhada por W. Churchill), que separava a Europa em duas par- tes inconcilidveis, Nesta leitura, todos os comunistas asiaticos nado passavam de pedes de Moscou. Estas circunstancias diminuiram drasticamente as mar- gens de manobra no sentido da construg4o de um socialismo préprio, origi- nal. De fato, a alianga com a URSS, na forma como se realizou, e consideran- do as circunstancias da época, implicava empréstimos, assessores, mas, prin- cipalmente, importagio de modelos de organizagiio politica e econémica in- compativeis com a diversidade e com a especificidade. Uma alianga graniti- ca, como entao se dizia. 19 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © SECULO xXx Dela escapou apenas a lugoslavia, 4 custa de muita ousadia e determina- cao. Os comunistas iugoslavos, e os varios povos que constitufam a federa- ¢40 iugoslava, sob lideranga de J. Tito, recusaram as ambigées soviéticas e enfrentaram as campanhas de todo 0 tipo feitas para desestabilizar seu go- yerno. Em torno de um projeto préprio — 0 ent&o chamado socialismo au- togestiondrio —, conquistaram sua autonomia, e sairam vitoriosos, mas foi a excegdo que confirmou a regra. A regra era o bloco sem falhas e sem fissuras, um monolito coeso em torno da URSS e de J. Stalin. Num mundo de combate acirrado, dizia-se, nao havia alternativa, nem qualquer tipo de desvio podia ser tolerado. Era a me- lhor maneira de vencer, e 0 socialismo venceria. Pelo menos, uma coisa era certa: o sistema socialista estava se expandindo. 2. APOGEU E CRISES DO SOCIALISMO MONOLITICO A morte de J. Stalin, em 1953, foi diversamente apreciada. Nos campos de trabalhos forcados na URSS houve imenso jtibilo, e algumas tentativas de motim, logo esmagadas a ferro e fogo. Um pouco por toda a parte, analistas apressados anunciavam que a morte do Grande Chefe desencadearia 0 caos na URSS, Contudo, nao foi isto que aconteceu. Houve, certamente, uma grande dor e um profundo sentimento de desamparo no pais. Entre os comu- nistas e seus aliados, em todo o mundo, consternagdo. Mas a perda seria as- similada em tempo relativamente rapido, operando-se a sucessio sem con- vulsGes maiores. O sistema parecia ter reservas, e sobreviveu sem grandes so- bressaltos 4 morte do guia genial. Entretanto, alguns aspectos essenciais das orientagées e da cultura politica ligadas ao nome de Stalin — 0 stalinismo — passaram a ser questionados e superados. O embate sem quartel as forcas do capitalismo internacional, numa at- mosfera de enfrentamentos de vida ou morte, foi dando lugar a propostas mais conciliatérias, baseadas numa outra politica, a da coexisténcia pacifica entre sistemas diferentes. A URSS nao abdicava do triunfo do socialismo, considerado inevitavel historicamente. Mas os caminhos nesta direcao se- riam menos lineares. O socialismo, segundo as novas orientagées, iria de- monstrar sua superioridade em todos os niveis, Com o tempo, somente uma minoria de empedernidos se manteria na defesa do capitalismo. Eles seriam 20 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © MUNDO SOCIALISTA: EXPANSAO E APOGEU vencidos, mas estariam tdo enfraquecidos que nio seria dificil sua neutraliza- ¢4o. De preferéncia com um minimo de derramamento de sangue. Era funda- mental, nesta perspectiva, evitar 0 apocalipse nuclear, denunciar a corrida ar- mamentista, encurralar e isolar os circulos mais agressivos do imperialismo. Do ponto de vista do campo socialista, a URSS passou a admitir abertu- ras antes consideradas inconcebiveis, como, por exemplo, a de que poderia haver, em tese, varios caminhos para alcangar 0 socialismo. Em lugar do mo- nolito, centrado em Moscou, um esbogo de policentrismo socialista. Em sintese, grandes mudancas, reorientag6es capitais em termos de poli- tica internacional. Elas criariam as condigoes para o fim da Guerra da Coréia (conversagdes de Panmunjom/1953), para os acordos que puseram fim 4 guerra nacional do Vietna contra o colonialismo francés, reconhecendo, no norte do pais, a independéncia da Reptblica Democratica do Vietna (Conferéncia de Genebra/1954), para a reconciliagao com a lugoslavia (visi- ta de dirigentes soviéticos a Belgrado/1955) e, finalmente, mas ndo menos importante, para uma distensdo significativa nas relagdes com os EUA (visi- ta de N. Kruchev aos EUA/1959). No plano interno, mudangas nao menos capitais estavam em curso. Em primeiro lugar, um processo geral de institucionalizagao da revolugao na sociedade soviética, compreendendo uma série de medidas ou politicas: a afirmacao da supremacia do Partido Comunista (a rigor, esta referéncia nunca fora abandonada na teoria, mas, na pratica, nos tempos durcos da ditadura de J. Stalin, o partido perdera quase que completamente sua forga politica); a én- fase no cardter coletivo da direcdo politica, em todos os niveis; a defesa do res- peito ao que se passou entao a chamar a legalidade socialista; a eliminagdo ou subordinagao de organizagdes que haviam ganho consideravel autonomia dentro do Estado e que funcionavam como verdadeiros estados dentro do Estado (policia politica, assessoria particular do ditador etc.). Ao mesmo tempo, deu-se inicio a um processo de liberalizagao dos con- troles e da repressiio — como se fosse um degelo, titulo da novela do escritor russo, I, Ehrenburg: anistia para os presos politicos e comuns, afrouxamen- to dos controles sobre os meios de comunica¢ao, incentivo a critica e revita- lizago das instancias coletivas de deciséo, antincio de politicas descentrali- zantes e democratizantes. No plano do desenvolvimento econdmico, agitavam-se novas referéncias e prioridades: era preciso agora conferir maior atencao as necessidades das pessoas comuns: habitacdes populares, transportes coletivos, saide e educa- 24 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © SECULO xx do, agricultura etc. N. Kruchev, o dirigente entdo em ascensio, gostava de dizer que 0 socialismo era bom, mas seria melhor com manteiga... ou seja, chegara o momento de prestar atengao 4s demandas imediatas da populacao, elevar seus niveis de vida, melhorar suas condigées de trabalho. Toda uma én- fase foi atribuida a agricultura, conhecido ponto fraco da economia soviética, desde os anos 30, quando ocorrera a terrivel ¢ desastrosa coletivizagao forga- da dos camponeses. Houve reajustes de pregos, definicéio de uma politica de incentivos, atribuigdo de créditos para a expansio da inddstria quimica (adu- bos, pesticidas etc.) e, sobretudo, uma agressiva politica de desbravamento de terras virgens — a meta era melhorar substancialmente o abastecimento do povo, igualando, e superando, os niveis de produtividade registrados pelos paises capitalistas avancados. O XX Congresso do Partido Comunista, realizado em fevereiro de 1956, consagrou todas estas mudangas de rumo, consolidando o clima de degelo. Entretanto, no fim dos trabalhos, N. Kruchev reservara para os delegados uma surpresa: leu para eles um informe, reservado (dito secreto), em que se formu- lavam gravissimas denincias a J. Stalin. O guia genial era apresentado como um reles criminoso, o dirigente semidivino foi descido aos infernos, virou de- ménio. A URSS tornara-se uma grande poténcia, nao gragas a Stalin, como todos até ento imaginavam, mas apesar dele, de seus erros e de seus crimes. Foi uma comogio. Os delegados ficaram aturdidos, mas consagraram a lideranga de N. Kruchev, aquele audacioso dirigente que ousara derrubar do pedestal o Maquinista da Locomotiva da Historia, J. Stalin. O movimento comunista no mundo cambaleou, atordoado. Muitos simplesmente nao agiientaram o impacto daquelas revelacdes e abandonaram as fileiras. Outros comegaram a se perguntar aonde queria ir N. Kruchev. O fato é que © monolito estremeceu, aparecendo as primeiras fissuras. Nunca mais ele seria 0 mesmo. Na Unio Soviética criou-se uma atmosfera ambigua: inseguranca e dii- vidas ao lado de sentimentos de confianga e de euforia, inéditas desde os tem- pos longinquos da revolucao de 1917. Nao apenas a vida corrente iria me- lhorar (0 socialismo com manteiga), mas também o sistema parecia mostrar condigdes de se auto-reformar, com maiores margens de liberdade, de deba- te e de critica. Além disso, a URSS surpreendia e fascinava o mundo com seus avangos tecnolégicos, materializados no controle das mais modernas e des- trutivas bombas (atémica e de hidrogénio), e, sobretudo, com a lideranga que tomava na corrida espacial, langando o primeiro satélite de comunica- 22 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © MUNDO SOCIALISTA: EXPANSAO E APOGEU g6es (o Sputnik), o primeiro homem ao espaco (Y. Gagarin), a primeira sonda 4 Lua. No centro do palco, N. Kruchev, rompendo com o padrio tra- dicional dos dirigentes soviéticos, sisudos e carrancudos, apresentava-se como um bom velhinho, loquaz, amavel, tomando banhos de povo, abrindo expectativas e parecendo ter solugdes para todos os problemas. Entretanto, as promessas réseas desenhadas pelo novo lider nado se con- cretizavam, as cores comegavam a desbotar, despertando contradigées ¢ in- certezas. A agricultura, apesar dos enormes investimentos, nao reagia. As polfticas implementadas por N. Kruchev, como a do desbravamento de terras virgens, que mobilizara colossais recursos econémicos e humanos, davam resultados mitigados, quando nao geravam desperdicios. Em 1963, a URSS teve que im- portar grandes quantidades de graos dos paises capitalistas para evitar a fome. A superpoténcia conseguia enviar foguetes 4 Lua, mas no era capaz de alimentar o proprio povo. Uma ldstima. Em outros setores, embora tenham sido registrados alguns avancos, como na construgio civil, as promessas nao se concretizavam, ou os resultados nao eram considerados satisfat6rios. Os responsaveis pelos setores tradicionalmente privilegiados pelos planos qiiingjienais criticavam as novas orientagdes. No partido, apareceram resistén- cias 4s propostas democratizantes, que previam 0 voto secreto para a escolha dos dirigentes ¢ limites para que pudessem ser reeleitos, e ao processo de des- centralizagao, que previa a constitui¢do de centros regionais de planejamento. As contradi¢ées avolumavam-se. Apontava-se 0 fato de que N. Kruchey, embora denunciando os males do culto a personalidade, estava retomando, a seu modo, os padrées de direcdo politica de um grande chefe. Medidas volun- taristas, decisdes sem consulta, reviravoltas, aquilo tudo comegou a inquietar, sobretudo, as elites dirigentes. No plano internacional, os frutos obtidos nao mereciam avaliagées posi- tivas unanimes. Ao contrario: suscitavam Asperas criticas. A politica de dis- tensio com os EUA nao produzira resultados conclusivos. Em 1960, a confe- réncia de Paris, entre as grandes poténcias, fracassara. Um pouco mais tarde, em 1962, acrise dos misseis, em Cuba, quase levara o mundo 4 guerra atémi- ca. A decisao de colocar os misseis na Ilha revolucionéria, atribuida a N. Kruchev em pessoa, aprofundou seu desgaste, pois a retirada dos mesmos, im- posta pelo bloqueio americano, foi ressentida como uma humilhagao. O mundo socialista deixara de ser um monolito ¢ apresentava agora enormes fissuras. Na Europa Ocidental, os comunistas italianos, sob a dire- 23 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © SECULO Xx ¢do de Palmiro Togliatti, passaram a defender um perfil e um rumo préprios para o socialismo nos paises capitalistas avangados: a evolugdo haveria de ser gradual, pacifica e baseada nas instituigdes democraticas. Apoiando-se no legado tedrico de Antonio Gramsci, defendiam uma alternativa prépria que, mais tarde, tomou o nome de exrocomunismo. Na Asia, a China de Mao Tsé-tung, desconfiada das decisdes de seu poderoso vizinho, comegou a denunciar 0 revisionismo de N. Kruchev. As criticas, no inicio, eram de cara- ter tedrico, textos que sé os iniciados conseguiam decifrar. Cedo, no entan- to, as contradig6es radicalizaram-se, dando lugar a destemperos verbais, ex- primindo antagonismos inconcilidveis. Esfumara-se a alianga granitica e boa parte da responsabilidade do processo era imputada ao estilo de N. Kruchev, sem o qual, argumentavam os adversdrios, as contradigGes poderiam ter sido mais bem administradas. Na Europa Central, aparentemente imobilizada e sob controle, houve um surto de rebeldias. Ainda em 1953, poucos meses depois da morte de J. Stalin, um primeiro sinal: uma violenta insurreic4o popular na parte oriental de Berlim, controlada pelos soviéticos, precisou ser esmagada de forma vio- lenta. Anos mais tarde, a Albania passou a acompanhar, as vezes a antecipar, as criticas chinesas aos desvios soviéticos. Ao mesmo tempo, em 1956, mais duas rebelides. Na Pol6nia, foi possivel controla-la com concessées parciais, combinadas com expurgos no partido e no Estado. Mas na Hungria, o des- contentamento popular foi longe demais, mesmo para os novos padrées que se desejava instaurar. Uma espécie de revolugdo popular tomou as ruas de Budapeste com um programa extremamente subversivo: reivindicava a neu- tralidade do pafs, a retirada das tropas soviéticas, a democratizagao real das instituigdes. O movimento foi considerado anticomunista e anti-soviético — uma senha para que os tanques interviessem, o que fizeram com a eficacia e a brutalidade habituais. A revolucdo hingara foi sufocada em sangue e em exilios — e deixou claros os limites do policentrismo socialista, pelo menos na 4rea da Europa Central. Mas nem tudo eram contradig6es, havia também circunstancias favora- veis, e o socialismo soviético delas extraia forcas e alento. Entre os paises do chamado Terceiro Mundo, a URSS apresentava-se como, e era de fato, a grande retaguarda dos interesses dos povos oprimidos em luta pela liberta- do nacional. Votava sempre em favor de suas causas nas instancias interna- cionais, oferecendo contrapeso as poténcias capitalistas, capitaneadas pelos EUA. Ajudava em armas e assessoria muitas lutas em curso. Criara até uma 24 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © MUNDO SOCIALISTA: EXPANSAO E APOGEU universidade em Moscou especialmente voltada para estudantes do Terceiro Mundo — a Universidade da Amizade dos Povos Patrice Lumumba. Em muitos momentos criticos, a intervengdo soviética fora decisiva para inverter situagdes, como, por exemplo, em 1956, quando apoiara G. A. Nasser, lider nacionalista arabe, na crise desencadeada com a intervencdo anglo-francesa em reagao a nacionalizagdo do canal de Suez. Ou quando, nos injicios da re- volugao cubana, entre 1959 e 1962, sustentara Fidel Castro e seus liderados com seu poderio politico, material e logfstico. A verdade, no entanto, € que estes aspectos positivos, e outros, nao foram considerados determinantes pelos adversdrios de N. Kruchev, que 0 derrubaram em 1964. Nas acusagGes que entao lhe desferiram, estava sobre- tudo a de que concentrara demasiados poderes, subestimando o primado da diregao coletiva, incorrendo nos mesmos erros de voluntarismo e de falta de respeito pela vontade do partido, além de se deixar embalar pelos vicios do culto a personalidade, por ele mesmo tao violentamente criticados em 1956. Nao é muito facil formular um balango preciso do periodo em que N. Kruchev governou a URSS. Alguns sustentam que ali se perdeu uma oportu- nidade hist6rica de reformar o socialismo, que conservava na sociedade um prestigio real. Como pontos positivos, inegdveis, o afrouxamento dos con- troles repressivos, a desmitificagao de J. Stalin, o fim do Terror, as anistias, as tentativas de institucionalizar e democratizar a revolucdo, uma preocupa- ¢ao maior quanto as demandas da sociedade. No plano internacional, a abertura, em tese, a um certo policentrismo no mundo socialista, uma real contribuigdo 4 construcao de uma atmosfera menos acirrada e belicosa. Por outro lado, a dificuldade em assumir com toda a conseqiiéncia estas proprias orientag6es, as constantes recaidas em tradicées criticadas (a questao do culto a personalidade), os ziguezagues freqiientes (0 esmagamento pela forga da revolucao htingara), o voluntarismo tipicamente stalinista (0 desbrava- mento das terras virgens), os antincios apocalipticos de vitérias nao-conclu- sivas, 0 autoritarismo sempre presente... N. Kruchev tinha as limitagdes préprias de um homem politicamente formado nos anos 30 dentro da corrente dirigida por J. Stalin, o que se evi- dencia muito bem nas incongruéncias e na superficialidade com que foi criti- cada no informe dito secreto a trajetéria do guia genial. No fim, suas intime- ras iniciativas pareciam ter cansado as diversas correntes da sociedade. Sua queda foi, assim, observada com indiferenga. Restou-lhe uma aposentadoria vigiada — sinal dos novos tempos, que ele préprio, mais do que ninguém, ajudara a criar. 25 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © SECULO XX 3. O SOCIALISMO DESENVOLVIDO — FORCA E FRAQUEZAS DE UM SISTEMA A fase que se abriu entao, até 0 inicio da perestroika, em 1985, mais de vinte anos, foi, em sua época, considerada a de expans4o maxima do socialismo — 0 tempo do socialismo desenvolvido. Uma nova Constituigéo, aprovada em 1977, exaltava os avangos obtidos, consagrando juridicamente a URSS como poténcia socialista. De um outro angulo, critico, apareceu uma outra formula- Gao: 0 socialismo realmente existente. Aquelas sociedades, sobretudo a soviéti- ca, nao tinham sido idealizadas nem previstas, mas existiam na realidade. Contra a teimosia dos fatos, alegavam os partidarios da expressao, nao havia argumentos. Apesar dos problemas e das contradigGes, a URSS e 0 socialismo pare- ciam imbativeis, dotados de uma dinamica invencivel. Os dirigentes soviéti- cos, agrupados em torno da figura de um novo secretario-geral, L. Brejnev, as- sumiam 0 discurso da estabilidade e da eficacia. Em prol da estabilidade, esvaziaram ou simplesmente revogaram as po- liticas reformistas democratizantes e descentralizantes propugnadas por N. Kruchev. O Partido Comunista, na nova Constituigao, foi solenemente rea- firmado como vanguarda da sociedade e do regime. Do ponto de vista da economia, houve todo um esforgo para definir polfticas no sentido de supe- rar os problemas diagnosticados desde os anos 50; deslanchar a agricultura, abastecer melhor as cidades, estimular os avangos qualitativos, introduzir novos métodos de gestdo e de organizagao do trabalho. Assim, o programa de reformar o socialismo, enunciado por N. Kruchev, permanecia de pé. Na esfera das relagdes internacionais a URSS consolidava-se como su- perpoténcia. E o socialismo registrava éxitos espetaculares, histdricos. No Sudeste Asiatico, a Guerra do Vietna, mais uma, agora contra os EUA, encerrara-se, em 1975, com uma completa vitéria dos nacionalistas, hegemonizados pelos comunistas, apoiados pela URSS. Logo em seguida, cairiam também o Laos e 0 Camboja. Os americanos, embora tendo deixa- do a regiao arrasada, foram obrigados a contabilizar uma derrota humilhan- te. Parecia realizar-se a metafora da queda dos dominés, formulada desde 1946, segundo a qual era preciso deter, a qualquer custo, eventuais vitdrias dos comunistas, pois elas tenderiam a se encadear de forma incontorndvel. No mundo arabe e mugulmano, houve ziguezagues (recuo da URSS no Egito) ¢ algumas derrotas historicas (queda de A. Sukarno na Indonésia), 26 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © MUNDO SOCIALISTA: EXPANSAO E APOGEU mas na luta contra o Estado de Israel, que polarizava amplamente as forcas politicas identificadas com o Isla, a URSS aparecia como aliada contra os EUA e os Estados europeus. Na Africa, ao sul do Saara, a desagregacao do velho Império Portugués, acelerada com a Revolucio dos Cravos em Portugal, em 1974, estava levan- do ao poder nas duas principais colénias, Angola e Mocambique, movimen- tos de libertacdo nacional (Frelimo e MPLA) aliados da URSS. Os principais dirigentes identificavam-se com o marxismo-leninismo e se propunham a as- sociar explicitamente seus projetos politicos ao socialismo internacional. Além disso, em varios outros Estados, constituiam-se elites politicas, 4s vezes através de golpes militares, que procuravam alianga e apoio (armas e asses- soramento} em troca de concessées estratégicas. Um caso que se tornou em- blematico, entre outros, foi o da Etiépia, onde estiveram, inclusive, tropas cubanas, apoiando militares nacionalistas que se diziam socialistas, ou alia- dos do socialismo. Sem contar a existéncia de outros experimentos, funda- mentalmente nacionalistas, que nada tinham a ver com o marxismo-leninis- mo, mas que se inspiravam nos modelos soviéticos de organizagio politica e econémica (partido tinico, plano centralizado, estatizagao de setores econd- micos estratégicos etc.) e/ou que se aproximavam em busca de apoio. Na América Latina, a revolugo cubana — vitoriosa com um programa nacionalista ¢ democratico — transformara-se em revolugao socialista, em larga medida, em virtude das press6es americanas. Ali também os soviéticos s6 colheram os frutos amadurecidos, pois estiveram praticamente ausentes da luta revolucionaria contra o regime de Batista — derrubado em janeiro de 1959 — e dos momentos imediatamente subseqiientes, quando a revolugao radicalizou-se numa espiral de agdes e de reagdes onde a intransigéncia do Estado americano fez lembrar as atitudes tomadas na Asia Oriental em fins dos anos 40, com os mesmos efeitos. A revolucao cubana afirmara sua autonomia ao longo dos anos 60, quando sua extensdo para a América Latina foi considerada uma hipétese possivel (Fernandes, 1979). Contudo, apés a morte do Che Guevara, em ou- tubro de 1967, e do fracasso do projeto da grande zafra, em 1970, quando se pretendeu, em vao, colher o recorde histérico de 10 milhdes de toneladas de agiicar, o alinhamento politico e diplomético com a URSS tendeu a se es- tabilizar, com a prevaléncia de aspectos centrais do modelo soviético (parti- do tinico, plano centralizado, estatizagdo geral da economia, forgas armadas profissionais calcadas no modelo soviético etc.). Cuba revoluciondria, embo- 27 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © SECULO Xx ra mantendo margens de autonomia, alinhava-se, afinal, na érbita soviética e em suas organizacoes politicas e militares (Comecon, Pacto de Varsévia etc.). No restante da América Latina, a derrota da experiéncia da Unidade Popular, chefiada por Salvador Allende, em 1973, fora um retrocesso, assim como uma constelacao de ditaduras militares no subcontinente latino-ameri- cano (Argentina e Brasil, entre outras). Contudo, ainda ao longo dos anos 70, a URSS tentaria, as vezes com éxito, estabelecer relagdes com regimes mi- litares nacional-estatistas que ressurgiram na regido — no Panamé, na Bolivia e no Peru. No fim da década, em 1979, o triunfo dos sandinistas na Nicaragua e o fortalecimento de um movimento nacionalista radical em El Salvador, além de outras evolugGes na area, prenunciavam um novo surto de vitorias de movimentos guerrilheiros — uma nova queda de dominés? Todo este avanco, paradoxalmente, nao unificara o mundo socialista, cujas divisées acentuavam-se. Na Europa Central, permanecia uma situagao instavel — crises sucessivas na Polénia, movimentos diversos —, porém tendo um denominador comum — a luta por autonomia na Albania, na Hungria e na Roménia, somando-se A ja historica dissidéncia da Iugoslavia, e, finalmente, a Primavera de Praga, em 1968, quando se tornou necessario fazer intervir mais uma vez os tanques para esmagar uma tentativa de con: truir um socialismo democratico, plural (Broué, 1979). Na Europa Oci- dental, multiplicavam-se os adeptos do eurocomunismo, principalmente na Itdlia, dificultando 0 exercicio da lideranga de Moscou no quadro do que res- tava do movimento comunista internacional. Na China, apareceu uma ameaga maior. Chefiados por Mao Tsé-tung, os comunistas chineses trataram, varias vezes, ao longo dos anos 50 e 60, de construir alternativas aos soviéticos. As politicas das Cem Flores (1956), do Grande Salto para a Frente (1958) ¢ da Grande Revolugdo Cultural Pro- letdria (1965-1969) constitufram, associadas a uma agressiva politica exter- na de apoio aos movimentos de libertacdo nacional em toda a parte, o cerne do maoismo, j4 nao apenas um modelo de guerra camponesa de libertagao nacional, mas uma tentativa de surgir como um novo farol para a revolugao mundial. A proposta de cercar as cidades pelos campos assumia agora um al- cance maior: o de cercar as cidades do planeta (o mundo rico) pelos campos — 0s paises pobres e oprimidos. O problema é que os chineses colocavam a URSS no contexto do mundo rico. E mais: situavam-na como mais perigosa ainda do que os EUA, pois, enquanto estes ultimos estavam em decadéncia, aquela encontrava-se numa trajetéria ascendente. Os choques armados fron- 28 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © MUNDO SOCIALISTA: EXPANSAO E APOGEU teiricos entre a URSS e a China (1969), o questionamento explicito que esta Ultima comegou a fazer do tracgado das fronteiras entre os dois paises, chega- ram a alimentar a hipétese de uma guerra de grandes proporgdes entre os dois ex-aliados. Entretanto, a alternativa maoista, embora tenha seduzido durante um certo tempo muitas correntes radicais em todo o mundo, tendeu a declinar em virtude do fracasso de suas principais propostas. As Cem Flores, que vi- sayam promover um amplo debate na sociedade sobre o socialismo, nao flo- riram como se esperava, e feneceram muito rapidamente, podadas pelo apa- relho repressivo. O Grande Salto para a Frente foi um grande salto para tras, gerando fome e desespero, o que foi assumido pelo proprio Mao autocritica- mente. Finalmente, a Grande Revolugao Cultural Proletaria, apesar de, ini- cialmente, ter registrado certos avancos no sentido da democratizacdo do poder e do aparelho educacional, cedo teve sua dinamica limitada a lutas in- conciliaveis entre correntes partiddrias pelas instancias centrais do Estado. Em vez de grande revolucdo, passou a ser uma pequena luta politica (no sen- tido hist6rico) pela afirmagao do préprio Mao Tsé-tung na lideranga do par- tido e do Estado chineses. No inicio dos anos 70, a aproximagao entre os EUA e a China foi a evi- déncia mais segura da seriedade com que se cogitava da ameaga soviética. Ao mesmo tempo, porém, integrando os chineses nas instituigdes internacionais (ingresso na ONU), contribuiu para atenuar o radicalismo que se tornara marca registrada do mao{smo. Quando Mao desapareceu, em 1976, a China ja se encontrava envolvida no processo das Quatro Modernizagées (da in- dustria, da agricultura, da ciéncia e das forgas armadas) — que a levaria longe no caminho da prosperidade e da alianga com os capitais internacio- nais (V. Pomar, 1987). De sorte que, apesar das contradigdes no préprio campo socialista, a URSS ndo deixava de aparecer como superpoténcia e de ser respeitada como tal. Os encontros regulares dos presidentes americanos com o sempiterno se- cretario geral soviético — L. Brejnev —, que permanecia firme no cargo, au- torizavam a hipétese da formacao de uma espécie de condominio mundial — o mundo regido pelos interesses dos EUA e da URSS. Acordos comerciais interligavam com cada vez maior forca ambos os lados. Nos anos 70, 0 comércio entre americanos e soviéticos multiplicou-se Por oito, as importagdes soviéticas de cereais atingindo a média anual de 40 milhées de toneladas no inicio dos anos 80 (Nove, 1990). Em contrapartida, 29 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © SECULO Xx a URSS aparecia como grande fornecedora de petréleo para a Europa Ocidental, iniciando-se a construcdo de um gasoduto ligando esta regiao a Sibéria. Com a Franca e a Repiiblica Federal Alema (RFA), principalmente, a URSS tecia acordos politicos e econdmicos de grande alcance. A Ostpolitik (abertura para o Leste), encabecada pelo social-democrata Willy Brandt, desde 1969, contribuira para diminuir notavelmente as tensées na Area, le- vando, inclusive, ao reconhecimento das fronteiras e da personalidade diplo- matica da Republica Democratica Alema (RDA), sem que tivesse sido neces- sdrio tirar uma pedra do Muro de Berlim, erguido desde 1961. Em 1975, o acordo final da Conferéncia sobre a Seguranga e a Coope- racgado na Europa (CSCE), assinado em Helsinque, consagrou as fronteiras negociadas em Yalta, um antigo programa da diplomacia soviética (Mai- danik, 1998). Como se no bastasse, a URSS comecou a surgir como poténcia naval mundial. Seus navios de guerra e submarinos atémicos apareciam em Aguas e portos do Sudeste Asiatico (Vietn3), do Indico, do Mar Vermelho (Iémen do Sul), do Atlantico (Angola), do Caribe e até mesmo do Mediterraneo Oriental. Sucediam-se adverténcias sombrias e apocalipticas: aonde iria parar 0 expansionismo soviético? A URSS passara por profundas transformacées, verdadeiras mutagdes sociais, percebidas, entre outros, por M. Lewin (1988). Em meio século, o processo de urbanizacdo registrara um impressionante crescimento: de $9 milhdes para 180 milhées de pessoas. No inicio dos anos 80, cerca de 66% da populagao viviam em cidades, mais 17 pontos percentuais em vinte anos. No mesmo periodo, os centros urbanos de mais de 1 milhdo de habitantes saltaram de 3 para 23, concentrando mais de 25% da populagdo total, ab- sorvendo um afluxo de 35 milhdes de migrantes. Outra mudanga qualitativa — a qualificagao da mao-de-obra. Nos anos 80, 40% da populacao urbana economicamente ativa eram formados por di- plomados em segundo grau (cerca de 18 milhdes) ou universitarios (13,5 mi- Ihdes). Estava em curso uma progressiva sofisticagao da forga de trabalho. Cada vez menos trabalhadores manuais, cada vez mais qualificacdo. Desde meados dos anos 70, um outro indice econémico revelador: uma leve supre- macia do setor de servicos em relacdo ao setor industrial. Nesta sociedade crescentemente urbanizada e instrufda, extraordinaria- mente complexa, tornava-se cada mais dificil — e mesmo invidvel — manter os padrées centralistas dos anos 30 (Werth, 1992). No prdprio coragao do 30 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © MUNDO SOCIALISTA: EXPANSAO E APOGEU Estado, constitufam-se grupos com dindmica prépria, indevidamente chama- dos de feudos (Hough, 1969), sem falar nas mdfias, das quais se ouviram as primeiras dentincias em meados dos anos 70. Autonomias desafiando a ambigdo do poder central de tudo controlar, escorrendo por entre as malhas de um Estado cuja onipoténcia sé existia nas teorias do totalitarismo, redefinindo, reajustando e até invertendo as orien- tagGes provenientes das instancias centrais. As freqiientes campanhas em prol da disciplina e contra o desperdicio no trabalho, contra o alcoolismo e 0 absenteismo, evidenciavam as dificuldades em controlar e mobilizar uma sociedade que parecia apatica e desinteressada (eles fingem que nos pagam, nos fingimos que trabalhamos). A sociedade emitia outros sinais inquietantes. As resisténcias nacionais, recusando-se a se deixar moldar nos parame- tros do homo sovieticus. O processo de integrago dos povos soviéticos, can- tado em prosa e verso, parecia ndo estar funcionando na pratica. Desde os anos 70, denunciava-se a existéncia de importantes tensdes (D’Encausse, 1978). Eo que fazer com uma juventude que nao se reconhecia mais nos mitos e nos lfderes fundadores da revolugdo, parecendo seduzida por pa- drdes dos paises capitalistas? Os préprios trabalhadores exprimiam descon- tentamento, registrando-se greves e tentativas de formag&o de sindicatos li- vres (Werth, 1992). Sem falar no fendmeno da chamada dissidéncia, desgas- tando com suas dentincias e seus escandalos uma ordem que se queria perfei- ta (Soljenitsin, 1975). Sintomas, dificuldades, lados ocultados por uma propaganda macica, de grande poténcia, mas nem por isso menos reais. Ja nao se falava mais, como nos tempos de N. Kruchev, em alcangar, muito menos superar, os EUA. Os indicadores econémicos despencavam. Entre 1965 e 1970, ainda fora poss{vel registrar excelentes médias anuais de crescimento industrial: em torno de 8,5%. Contudo, entre 1981 e 1985, es- tas mesmas médias cairam para 3,5%. A comparagao dos planos giiinqite- nais aplicados nos anos 60 e 80 mostra defasagens em até 10 pontos entre metas definidas e resultados de fato alcangados. No X Plano, entre 1981 e 1985, somente a produgio de gés conseguiu superar as previsdes (Nove, 1990). Na agricultura, a média anual nos anos 80 decrescera, apesar dos ma- cigos investimentos, para 1,4%, abaixo do crescimento demografico, sobre- tudo das nag6es nao-russas. Em vinte anos a produtividade declinara de 6,3% para menos de 3% e 31 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © SECULO Xx os investimentos, de 7,8% para 1,8% (Werth, 1992). De um lado, aumenta- vam os estoques de artigos invendaveis. De outro, demandas insatisfeitas. Definitivamente, o pais nio estava conseguindo alcangar os ritmos que ti- nham feito a gloria dos planos nos anos 30. Onde estaria 0 né basico? Na agricultura, que, desde os anos 50, recebia recursos extraordinarios, aparentemente a fundo perdido? Na mao-de-obra, com sua inapeténcia para o trabalho, ¢ sua insubmissao diante das ordens ¢ prescrigdes? Nos critérios dos planos, enfatizando sempre os aspectos quan- titativos e descurando os qualitativos? Na corrup¢ao, que se alastrava em todos os niveis? No abismo colossal verificado entre o discurso oficial e a pratica das elites? No inicio dos anos 80, 0 quadro das relagées internacionais j4 nao pare- cia tao promissor. Uma onda neoliberal agressiva, anti-soviética, comegava a varrer 0 mundo capitalista, anunciando novas concepgbes de Estado e de so- ciedade e uma nova espiral na corrida armamentista. A decisao de invadir o Afeganist@o, em 1979, nao estava dando os resul- tados positivos esperados. Houvera ali um erro de cdlculo. Os soviéticos imaginavam estar participando de uma operagao de policia internacional, nos moldes da que haviam protagonizado na Tchecoslovaquia em 1968, mas tinham mergulhado numa guerra de guerrilhas longa e desgastante. Muitos ja falavam do Afeganistao como o Vietni soviético... No mundo socialista o dinamismo vinha apenas da China, mas ele nio reforcava a URSS, pois, além das reservas que os chineses cultivavam em re- lagdo aos soviéticos, eles pareciam optar, justamente, por uma politica de descoletivizacao do campo, que nada tinha a ver com o modelo apresentado por Moscou. Nos demais paises socialistas reinava uma atmosfera morosa, apenas interrompida pelos protestos e pelo inconformismo na area da Europa Central, na Polonia em particular, com os movimentos sociais de sempre, que agora desembocavam, porém, num fendmeno estranho e inédi- to: a formagao de um sindicato auténomo em relacdo aos comunistas — 0 Solidariedade. AURSS parecia necessitar de reformas. Nao era um gigante imével, nem estagnado. Internamente, evidenciava um grande dinamismo social e um certo desenvolvimento econémico, embora declinante. Externamente, ainda provocava respeito e medo. Mas seria necessdrio eleger prioridades, fazer opgbes. Ora, na primeira metade dos anos 80, a longa agonia de L. Brejnev e os curtos mandatos dos 32 Edited by Foxit POF Editor Copyright (c) by Foxit Corporation, 2003 - 2010 For Evaluation Only. © MUNDO SOCIALISTA: EXPANSAO E APOGEU vetustos senhores que o sucederam, I. Andropov e K. Tchernenko, ambos cedo ceifados pela morte, pareceram uma perda de tempo. De certo modo, era sintomatico que as elites reagissem assim as urgéncias dos desafios: per- diam tempo quando nao estavam em condigées de esperar. Mas quem poderia prever a iminéncia de um colapso histérico? BIBLIOGRAFIA Broué, P. 1979. A primavera dos povos comega em Praga. Sao Paulo, Kairés. Claudin, F. 1983. A oposi¢do ao socialismo real. Rio de Janciro, Marco Zero. D'Encausse, H. 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