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STORICA® REVISTA DO CENTRO DE ESTUDOS HISTORICOS DA UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA +f gFRAGM ENTA H Oe UMA LINHAGEM, DUAS CASAS: EM TORNO DOS ATAIDES E DAS ORIGENS DAS CASAS DA ATOUGUIA E DA CASTANHEIRA (SECULOS XV-XVI) Nuno Vila-Santa CHAM — FCSH/Nova-UAg Resumo Partindo da conhecida ascensdo de D. Anténio de Ataide, 1° conde da Castanheira e favorito de D. Jodo Ill, este artigo pretende esclarecer 0 proceso do nascimento da Casa da Castanheira buscando as suas origens no século XV, atentando em especifico a evolugo da Casa de origem da linhagem: a Casa de Atouguia. 0 artigo pretende também complementar a falta de estudos de Casas tituladas para as séculos xVeXVI Desta forma, estudam-se ndo apenas as origens dalinhagem eas carreiras de Alvaro Gongalves de Ataide, 12 conde de Atouguia, e de D. Martinho de Ataide, 2° conde de Atouguia, mas engloba- -se ainda a andlise da evolugo patrimonial, cortes e matrimonial dos diferentes membros da Casa de Atouguia desde 1402 até 1498. Foca- -se ainda a estratégia geral seguida por esta Casa 1no seu relacionamento com as diferentes Casas de nobreza titulada bem como a evoluggo do seu relacionamento com a Coroa em diferentes conjunturas, Palavras-chave Nobreza titulada, Linhagem, Ataldes, Corte, Casa da Atouguia, Casa da Castanheira Abstract Departing from the well-known ascension of D. Anténio de Ataide, 1% earl of Castanheira and King John I's favorite, this article intends to enlighten the birth process of the House of Castanheira, seeking its XV century origins. This goal is achieved by studying the evolution of the House that was the birthplace of the lineage: the House of Atouguia. This article also intends to contribute for the lack of studies of entitled noble houses in the XV and XVI centuries. Thus, this article not only focuses the origins of the Ataides and of the careers of Alvaro Goncalves de Ataide, 1° earl of Atouguia and of D. Martinho de Ataide, 2 earl of Atouguia but also ensures an analysis on the patrimonial, courtesan and matrimonial evolution of the different members of the House of Atouguia from 1402 to 1498. Further attention is placed on the identification of the general strategy followed by this House in his relationship with other entitled houses as well as on the relationship with the Crown in several conjunctures. Keywords Entitled Nobility, Lineage, Ataides, Court, House of Atouguia, House of Castanheira Artigo recebido em: 16.09.2016 | Artigo aceite para publicagéo em: 26.01.2017 © Fragmenta Historica 4 (2016), (13-45). Reservados todos os direitos. ISSN 1647-6344 “€ gra caza de Atouguia; e aque tem no Minho e Douro fez cousas dalta valia, venceram o gro Rei mouro; Luis Fernandes hoje em dia” (Quintanitha de D. Jodo Ribeiro Gaio*) Introdugao A linhagem dos Ataides, enquanto uma das mais antigas do Reino, deu origem, como & sabido, nos séculos XV e XVI, & fundaco de duas Casas distintas. Por um lado, a Casa da Atouguia nascida na primeira metade de Quatrocentos e titulada em 1448, e por outro, a Casa da Castanheira nascida em processo de ciséo com esta ultima a partir dos finais do século XV e titulada em 1532. A circunstancia de na mesma linhagem coexistirem duas Casas tituladas no constitui motivo excepcional durante a de Avis por conhecidos outros casos semelhantes, de que 0 exemplo da linhagem dos Coutinhos & paradigmético’. No entanto, apesar dos estudos realizados para as mais importantes casas quatrocentistas, no ambito de duques e marqueses, sobretudo as de Braganca’ e de Vila Real’, permanecem ainda em falta estudos sobre as miltiplas casas condais. Nesta érea, apesar das anélises jé realizadas para as Casas, de Marialvat e de Borba/Redondo® e mesmo dinastia serem + Cf, Anténio Machado de Farla, Armorial Lusitono, Lisboa, Editorial Enciclopédia, 1961, p. 64 ® Relembre-se a coexisténcia simulténea da Casa de Marialva mais antiga e a partir da qual se veriicou a ascensio da linhagem, com a Casa de Borba/Redondo, 2 partir da década de 1480, fundada por um membro dda Casa de Marialva (Cf. Nota 6). 0 mesmo fenémeno se verifica, embora ji no século XVI, na linhagem dos Noronhas/Meneses com a emergéncia da Casa de Linhares, a partir da Casa de Vila Real (Cf. Nota 12). ? Cf. Mafalda Soares da Cunha, Linhagem, Parentesco @ Poder. A Caso de Broganga (1384-1460), Lisboa, Fundaglo Casa de Braganca, 1990. “Cf Nuno Silva Campos, D. Pedro de Meneses eo construséo da Casa de Vila Real (1415-1437), Evora, Colibri/Centro Interdisciplinar de Histéria, Culturas Sociedades da Universidade de Evora, 2004 5 Cr. Luis Filipe Oliveira, A Casa dos Coutinhos. Linhagem, Espago e Poder (1360-1452), Cascais, Patrimonia, 1989. Cf. Maria Rosalina Bento Semigo, D. Vasco Coutinho, conde de Borba e capitéo de Arzlo, dissertacao de mestrado apresentada a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2002 onde é realizado o estudo 4 Uma linhagem, duas Casas: em torno dos A das origens das Casas da Atougu considerando trabalhos que nao incidem directamente sobre o estudo das Casas mas que ao estudarem figuras destacadas destas acabam por tocar a histéria de diversas das casas condais’, escasseiam estudos de caso que permitam perceber quais os critérios a partir dos quais se hierarquizavam estas Casas entre sie também quais as mais salientes, em funcao dos diferentes reinados e conjunturas histéricas. Se alargarmos 0 escopo de anélise 20 século XVI e considerarmos também as titulagées atribuidas por D. Manuel |, D. Jodo Ill e D. Sebastio, compreende-se como alguns destes estudos t8m tido renovado folgo néo apenas nos trabalhos ja realizados para as Casas de Braganca, Marialva/Loulé (Coutinhos)*, Atouguia (Ataides)" e Castanheira (Atafdes)", mas também nos mais recentes trabalhos para ‘as Casas de Vila Real (Noronha/Meneses}” da casa em tempo do seu 32 conde. Ee caso dos variados trabalhos publicados em Descobridares do Brasil. Exploradores do Atlantico & Construtores do Estado da India, coordenacio de Jo30 Paulo Oliveira e Costa, Lisboa, SHIP, 2000; A Nobreza e 2 Expanstio. Estudos Biogréficos, coordenaco de Jo30 Paulo Oliveira e Costa, Cascais, Patrimonia, 2000 e A Alta Nobreza e a Fundagao do Estado da India. Actas do Coléquio Internacional, coordenacSo de Jodo Paulo Oliveira e Costa e Vitor Rodrigues, Lisboa, CHAM/IICT, 2008. * além de Mafalda Soares da Cunha, Casa de Braganca (1560-1640): praticas senhoriais e redes clientelares, Lisboa, Estampa, 2000, refiram-se os resultados do projecto em torno de D. Teoddsio |, 52 duque de Braganga, cuja publicago em lvro se aguarda. Ch. Luis Filipe Oliveira, Outro venturaso de finais do ‘século XV: Francisco Coutinho, Conde de Morialva e Loulé, separata a Alta Nobreza e Fundacio do Estado da India, Lisboa, CHAM, 2004; Luis Filipe Oliveira, “O Arquivo dos condes de Marialva num inventario do século XV", in Elites e Redes Clientelares: problemas metodolégicos, edicio de F. Themudo Barata, Evora, 2003, pp. 222-261, ® CE Nuno VilaSanta, Entre © Reino e 0 Império: @ carreira politco-militar de 0. Luis de Ataide 1516-1581, Lisboa, ICS/Camara Municipal de Peniche, 2035 onde se realiza 0 estudo desta Casa durante o século XVI "CE Maria Paula Coelho de Carvalho, A acréo ultramarina de D. Anténio de Ataide, 12 Conde da Castanheira, dissertagao de mestrado apresentada Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 2001 onde se refere a estrutura patrimonial desta Casa, ® Cf, Carlos Manuel da Silva Moura, A Casa senhorial dos Condes e Marqueses de Vila Real (Séculos XV-XVi), de Coimbra/Aveiro (Lencastres)”. No entanto, também para este século permanecem em falta estudos sobre Casas condais de preponderdncia cortesa saliente de que séo ‘exemplo as Casas de Vimioso (Portugais)"*, de Odemira (Noronhas}®, de Portalegre (Silvas), de Sortelha (Silveiras), da Feira (Pereiras)'* ou dissertagao de doutoramento policopiada apresentada & Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2016. Cristévio da Mata tem em preparagio uma dssertacso de doutoramento na Universidade de Coimbra sobre esta Casa cujo titulo & A Casa de Aveiro na constelagéo dos poderes senhoriais: estruturas de dominio e redes lentelares 1X Relembre-se a titulagio de D. Francisco de Portugal, 48 conde de Vimioso, por D. Manuel J, 0 seu peso cultural na sua época e a sua rvalidade cortesd com D. Anténio de Ataide, 12 conde da Castanheira, a partir do ‘exercicio consecutive do cargo de vedor da fazenda de D. Francisco e dos seus descendentes. Outro aspecto interessante a estudar nesta Casa 6 0 seu alinhamento, fem 1580, a favor das pretens6es de D. Ant6nio, Prior do Crato, apesar do parentesco estreito com a Casa de Braganca (Cf. Joaquim Verissimo Serrdo, © Reinado de . Anténio, Prior do Croto, vol. 1, Coimbra, Instituto de Ata Cultura, 1956, p. 97). % Apesar de nascida no século XV, esta Casa, tal como a Casa de Atouguia, também viu o seu titulo interrompido, o qual foi recuperado, em 1556, merc® da trajectéria de D. Sancho de Noronha, mordomo-mor da rainha D. Catarina (Ct. D. Anténio Caetano de Sousa, istéria Genealégica da Casa Real Portugueza, tomo IX, Lisboa, Régia Oficina Syiviana, 1742, p. 569). ® Desde o reinado de D. Manuel ! 20 de D. Henrique, cabendo destacar que a Casa foi herdada, em 1581, por D. Juan da Silva, embaixador de Filipe ile um dos mentores do Portugal filipino (Cf. Mafalda Soares da Cunha, eTitulos portugueses y matriménios mixtos en la Monarquia Catélica», in Las Redes de! imperio. Elites Sociales en la articulacién de la Monarquia Hispénica, 1492-1714, org. Bartolomé Yun Casalila. Madrid Marcial Pons Historia/Universidad Pablo de Olavide, 2008, p. 218). ¥ Mencione-se a falta de estudos sobre esta Casa com forigem em D. Luis da Silveira e que, mesmo apés 0 precoce falecimento deste e apesar das dificuldades subsequentes manteve capacidade de influéncia Cortes a ponto de D. Sebastigo ter restaurado o titulo de 22 conde Sortelha em D. Diogo da Silveira Anote-se como esta Casa no viu o titulo no confirmado a nenhum dos seus titulares durante a dinastia de Avis, um facto que nem sempre se registou para outras Casas, Cf, Miguel Rodrigues Jasmins, Luis Filipe Oliveira, “Um processo de reestruturagao do dominio social da nobreza. A titulaglo na segunda dinastia’, sd, separata da Revista Econémica e Social, 1988, p, 106. Esta casa foi jé estudada até D. Manuel | por Ana Manuel Guerreiro, "Os condes da Feira até de Casas que ndo alcangaram, com os Avis, otitulo condal, apesar das suas claras ambices nesse sentido, de que 0 exemplo da Casa dos bardes do Alvito (Lobos) é elucidativo. Tendo presente que a realidade historiografica descrita para 0 século XVI se ancora primordialmente na falta de estudos para o periodo de nascimento das Casas de diversas linhagens, o qual na maioria dos casos se situa precisamente no século XV, propusemos a reedicao deste estudo sobre a Casa de Atouguia no século XV, 0 qual j4 tinha sido realizado no Ambito da tese de doutoramento. Para tal concorreu no apenas a necessidade de responder 8 falta de estudos de Casas tituladas para 0 século XV, mas também o imperativo de aprofundar as origens quatrocentistas da conhecida ascensdo, em tempo de D. Jodo Ill, de D. Ant6nio de Ataide e da sua Casa da Castanheira. Assim, este artigo, referindo as origens da linhagem dos Ataides, estudaré 0 processo de formacéo da Casa de Atouguia, detalhando todas as questes relacionadas com patriménio, casamentos e trajectérias dos diferentes membros da Casa, dando especial destaque 20s seus titulares. Apds estudar 0 processo que desembocou na titulagio de Alvaro Goncalves de Ataide como 1° conde de Atouguia, analisar-se-8 a sua sucesso ¢ a evolugiio da Casa em tempo de D. Martinho de Ataide, 22 conde de Atouguia, bem como a origem do processo de autonomizacao da Casa da Castanheira®. Neste processo seré relevante relembrar que 05 arquivos originais da Casa de Atouguia foram ra encruzilhada da expansio" in A Alto Nobreza © @ Fundacéo do Estado da India. Actas do Coldquio Internacional, coordenagdo de Jo50 Paulo Oliveira e Costa e Vitor Rodrigues, Lisboa, CHAM/IICT, 2004, pp. 191-198, ® Esta Casa foi jd estudada até 20 periodo manuelino por Alexandra Peldcia, “A baronia do Alvito e a expansio rmanuelina no Oriente ou a reacgo organizada 3 politica imperialista” in Idem, pp. 529-545 e por Ant6nio Jo30 Felo Valério, Subsidios para 0 estudo dos Lobos da Silveira, senhores de Alvito (1383-1488), Alvito, Camara Municipal, 1992. * A posterior evolucdo da Casa de Atouguia até 1588 encontra-se disponivel em Nuno Vila-Santa, Op. Cit. directamente afectados pela extingdo da Casa, ordenada por D. José | (1750-1777), no ambito das conjuras dos marqueses de Tavora e duques de Aveiro, entdo aparentados com o 11° conde de Atouguia, Tal acontecimento afectou directamente a documenta¢ao disponivel para historiar a evolucao da Casa de Atouguia nos séculos XV e XVI. Facto contrério registou- se relativamente & Casa da Castanheira. ‘A documentagéo para esta no século XVI encontra-se disponivel na Torre do Tombo no fundo relativo a esta Casa. Esta situacdo explica a razéo de ao longo deste trabalho muitas das questées relacionadas com a Casa de Atouguia terem de ser necessariamente colocadas mais como hipéteses de trabalho do que como certezas. Ainda assim, a comparaao com a evolugao da Casa da Castanheira parece- nos fortalecer os argumentos defendidos em relaco & Casa de Atouguia. 1. Origens de uma linhagem (Século XII-1402) Quando, no Ultimo quartel do século XVI, D. Jo&0 Ribeiro Gaio® escrevia os versos iniciais, com 0 intuito de elogiar a ascendéncia de D. Luis de Ataide, nomeado por D. Sebastigo como vice-rei da india em duas ocasides distintas (1568-1571; 1578-1581), general indigitado para a expedigao a Marrocos e 32 conde restaurado de Atouguia, em 1577, pretendia dessa forma captar a atencdo para o facto da carreira de sucesso de D. Luis ter ficado a dever muito 8 Casa de onde este provinha. Na realidade, & data da sua escrita, a Casa da ‘Atouguia e a linhagem dos Ataides eram, de facto, conceituadas e antigas. Embora a Casa sé tivesse nascido no século XV, a linhagem remontava ao periodo da fundacao do Reino. Pela sua ligacdo a influente nobreza medieval ® CE Nuno Gongalo Monteiro, 0. José. Na Sombra de Pombal, Mem Martins, Circulo de Leltores, 2006, pp. 108-133, ® Bispo de Malaca entre 1578 © 1601, deverd ter conhecido D. Luis de Ataide aquando do seu segundo gaverne asidtica e sido um adepto da acco reformadora seguida pelo vice-re, raz3o pela qual, em data nao referida por Anténio Machado de Faria (Cf. Op. (it), deverd ter composto a referida quintanilha 16 luas Casas: em torno dos Ataides & das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira tulos XV-XVI} Uma linhager dos Riba-Douro®, as armas dos Ataldes encontravam-se, desde o século XY, ligadas 8 tomada de Santarém*, na qual teria participado Martim Viegas de Ataide, filho de Egas Moniz, aio do monarca D. Afonso Henriques (r. 1128- 1185). O apelido da linhagem derivava da torre € quinta de Ataide, na freguesia de Sao Pedro de Ataide, no actual conselho de Amarante”, onde tinham recebido as primeiras doacdes. A maior ligacgéo dos Ataides & corte régia registou-se posteriormente quando, nos reinados de D. Sancho I! (r. 1223-1248) e de D. Afonso Ill (f. 1248-1279), 0 representante da linhagem foi nomeado mordomo-mor de ambos os monarcas, tendo a maioria dos Ataides, no 4mbito da guerra civil de 1245- 1248, apoiado o partido do Bolonhés”®. Ja durante o reinado de D. Afonso IV (r. 1325- 1357), a influéncia da linhagem cresceu na sombra dos Teles, a ponto de, no reinado de D. Fernando (r. 1367-1383) serem protegidos da rainha D. Leonor Teles”’ (1350-1386) e estarem em condicées de consolidar a sua ascensdo social, a par com a linhagem dos Coutinhos**. Era ento representante da linhagem Martim Goncalves de Atalde, quarto neto de Martim Viegas de Ataide e figura destacada do reinado fernandino. Bisneto de Gongalo Viegas que, em 1290, possufa a Quinta do Pinheiro, na » Assim 0 referem Jofo Bernardo Galvo-Telles, Miguel Metelo de Seixas, “Em redor das armas dos Ataides: problematica da “familia herdldica” das bandas’, separata Armas e Troféus, IX série, Janeiro-Dezembro de 2008, p. 61, apeser da opinigo contréria de O. Luiz Lencastre eTavora, Diciondria das fomilis portuguesas, Lisboa, Quetzal Editores, 1989, p. 85 e de José Augusto de Sotto Mayor Pizarro, “Os de Ataide. De Santa Cruz do Timega & Corte Régia (Séculos XIl a XV)", separata Armas e Troféus, IX série, Janeiro-Dezembro de 2008, p.32 * Cf. Joo Bernardo Galvio-Telles, Miguel Metelo de Seixas, “Em redor..",p. 91 ® Cf, Antonio Machado Faria, Op. Cit, p. 64. % Cf, José Augusto de Sotto Mayor Plearra, “Os de Ataide..", pp. 36-37, ™ Cf, Rita Costa Gomes, A Corte dos Reis de Portugal no {final da Idade Méeio, s.., Difel, 1995, p, 92-93, ™ Cf, Mafalda Soares da Cunha, “A nobreza portuguesa no inicio do século XV: renovagao e continuidade”, Revista Portuguesa de Histéria, vol. XXXI-2, 1996, p. 224, referida freguesia de S80 Pedro de Ataide” e rico-homem de D. Fernando foi, durante este reinado, senhor de Riba Cruz do Tamega, Gouveia, Brunhais e Agua Revez, por carta régia de 11 de Agosto de 1377". Partidario de Castela mesmo antes da crise de 1383- 85, Martim Goncalves fora ao reino vizinho, em 1392, com o conde D. Jodo Fernandes ‘Andeiro, que alias costumava acompanhar*, para negociar 0 polémico enlace da infanta D. Beatria (v, 1373-1412) com 0 monarca Joo | (r. 1358-1390)". O seu casamento com Mécia Vasques Coutinho fora orquestrado pela rainha D. Leonor Teles. Como dote de casamento, Martim Goncalves recebera a relevante alcaidaria-mor de Chaves*. Quando, em finais de 1383, se iniciaram as hostilidades entre o mestre de Avis eo monarca castelhano, Ataide comecou por acompanhar a rainha D. Leonor Teles para Alenquer®, sendo por esta nomeado para defender a vila Aquando do encontro entre a rainha e Joo I de Castela, e receando que aquela pudesse ser presa pelo genro, com 0 objectivo de este aleangar 0 juramento das terras que tinham dado voz pela rainha, Martim Gongalves foi de opiniao que o encontro nao deveria realizar- se”. No entanto, em Janeiro de 1384, beijou a mao ao soberano castelhano e foi confirmado como alcaide-mor de Chaves, cuja defesa e a de Trés-os-Montes, como lugar-tenente, Ihe foi confiada". Apenas abandonou a praca para sitiar 0 Porto, sem sucesso”. ® Cf. Anselmo Braameamp Freire, BrasBes do Sala de Sintra, vol. |, Lisboa, INCAM, 1973, p. 80. ® cf. Affonso de Dornellas, Histéria e Genealogia, vol. |, Lisboa, Livaria Ferin, 1914, p. 114 © CF Ferndo Lopes, Crénica de D. Jodo |, introducso de Humberto Baquero Moreno e prefécio de Anténio Sérgio, vol. I, Barcelos, Livraria CivilizagSo, 1990, cap. vu © CF, Rita Costa Gomes, 0. Fernando, 5.4. Circulo de Leitores, 2005, pp. 167 e seguintes. ® Cf, Luts Filipe Oliveira, A Casa... p. 35. Cf. Anselmo Braamcamp Freire, Op. Cit, vo. |, pp. 76- 7. ® Cf, Ferndo Lopes, Op. Cit, vol. |, cap. XVI % Cf, tbidem, cap. XXX, © CF. bide, cap. LXV, > Cfanseimo Braamcamp Freire, Op. Cit, vol. |, p.77. ® acompanhado do arcebispo de Santiago. Cf. Ferndo Lopes, Op. Cit, vo. |, cap. CXVII Mesmo apés a batalha de Aljubarrota, em 1385, e com a crescente rendi¢go de vilas a D. Joo | (r. 1385-1433), Ataide recusava- se a entregar a cidade. Conhecendo bem a figura de Martim Gongalves e reconhecendo também a sua importancia politica, social e militar, enquanto partidério de Castela, D. Jodo | decidiu sitiar Chaves apenas quando teve confirmago do sucesso das investidas em Castela e dos apoios de Martim Vasques da Cunha e de Goncalo Vasques Coutinho" © dificil cerco iniciou-se em Janeiro de 1386, J apds Ataide se ter recusado a abandonar a cidade com promessa de mercés de D. Jodo 1, Sabendo © monarca que 0 cerco corria 0 risco de prolongar-se, por a cidade estar bem apetrechada e devido aos apoios que Martim Gongalves recebia da Galiza e de Braganca, decidiu chamar 0 condestavel D. Nuno Alvares Pereira’. Apenas sob a eminéncia do desembarque do duque de Lencaster em Castela" e a chegada dos reforgos de D. Nuno Alvares, Atafde se decidiu a propor a rendicéo dentro de quarenta dias, caso Jogo | de Castela a autorizasse Perante grande contestacao, e sobretudo face 0 boato de que o monarca castelhano viria pessoalmente em auxilio de Ataide, D. Joo | aceitou 0 pedido de Martim Goncalves, Esta aceitacao ficou a dever-se no s6 ao receio de que 0 monarca castelhano, em Valhadolide, atacasse a qualquer momento dado o facto de ter solicitado 0 apoio frances e do antipapa Clemente Vit (r, 1371-1394), mas igualmente devido a0 parentesco da esposa de Ataide. Na verdade, Mécia Vasques Coutinho era irma de Gongalo Vasques Coutinho, apoiante da © Cf. bidem, vol. I, cap. LX “Cf. bide, cap. LX © Cf tbidem, cap. LX © Cf. bidem, cap. LXW. “0 qual reciamava, no ambito da Guerra dos Cem Anos (1337-1453), que opunha a Franca a Inglaterra, direitos dinasticos a0 trono castelhano e tinha sido convencide 1a desembarcar em Castela, mediante diversas presses fe negaciagSes com D. Jo¥o |, o que sucedeu em Julho de 1386. Cf, Maria Helena da Cruz Coelho, D. Jodo J 0 que re-colheu Boe Meméria, s.d., Circulo de Leitores, 2005, p.97 eanteriores, © Cf, Femnao Lopes, Op. Cit, vol. I, cap. LXV. “Cf, Maria Helena da Cruz Coelho, Op. Cit, p. 92. v realeza de D. Joo |, desde que este era mestre de Avis, combatente em Aljubarrota e figura, naqueles anos, em processo de ascenséo politico-militar, que o levaria a alcancar a prestigiante nomeacao de marechal do Reino, em 1397". Tendo Mécia Vasques e seus filhos acompanhado 0 marido durante o cerco, em atengdo a0 seu parentesco e por provavel intercesséo de Goncalo Vasques Coutinho, D. Joo | ja Ihe concedera o privilégio de um cantaro de Agua por dia“, Na altura, muito provavelmente Alvaro Goncalves de Ataide, primogénito do casal, deveré ter sido o filho escalhido como penhor entregue a D. Jodo I, aquando da negociacio da rendicéo. Perante 2 autoriza¢ao do monarca castelhano, que Ihe agradeceu os servigos e Ihe prometeu mercés do lado de Id da fronteira, Martim Goncalves de Ataide entregou Chaves®. Tendo partido para Castela com a esposa e seus filhos, os seus bens foram entregues a Goncalo Vasques Coutinho®, com excepcao da cidade de Chaves, a qual foi doada a D. Nuno Alvares Pereira, integrando futuramente © patriménio da Casa de Braganca. Martim Goncalves deverd ter vivido até 1392, pois ainda matou um portugués com uma langa em Villalobos, aquando da incurséo portuguesa em Castela. Provavelmente a propésito do seu falecimento e ainda durante @ invaséo portuguesa a Castela, & possivel, contudo, que D. Jogo | tenha decidido autorizar 0 regresso a Portugal de Mécia Vasques Coutinho e dos seus filhos € criados. Por intercessao de Gongalo Vasques Coutinho e de Beatriz Goncalves de Moura, que devia servir na Casa da rainhe D. Filipa (r, 1387-1415) desde 0 seu casamento com D. Jogo I, Mécia Vasques regressou com ‘os seus descendentes: Alvaro Goncalves de "Ck Ibidem, p. 60; Jo80 Paulo Oliveira e Costa, Henrique, © Infante, Lisboa, A Esfera dos Livros, 2003, p. 40. “CI. Fernio Lopes, Op. Cit, voll, cap. Lx © CF. tbidem, cap. LXVIL "Cf, Luis Filipe Oliveira, Op. Cit, p. 37, © Cf, Ferndo Lopes, Op. Cit, vol, cap. CVIL © Cf. tbidem, cap. CVU Cf Maria Helena da Cruz Coelho, Op. Cit, pp. 97-108. Visto ser aia da rainha (Cf. Maria Helena da Cruz Coelho, Op. Cit, p. 143) 18 luas Casas: em torno dos Ataides & das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira tulos XV-XVI} Uma linhager Ataide, Vasco Fernandes de Ataide, D. Isabel de Ataide, D. Helena de Ataide, D. Filipa de Ataide e D. Catarina de Ataide'*, Ainda antes do seu regresso, recebeu do rei e da rainha os bens que tinham pertencido ao marido™ e a quinta de Randufe, no termo de Chaves, pelo servico de “criar nossos filhos””. Estes bens, & data incerta da sua morte, devem ter revertido para 05 Coutinhos por no existir referéncia deles na Casa de Atouguia. Tendo sido nomeada aia dos quatros primeiros infantes (D. Duarte, D. Pedro, D. Henrique e D. Isabel), em data desconhecida®*, Mécia Vasques teve ocasio no sé de reforgar os servicos da linhagem dos Coutinhos, mas também de reabilitar relangar a linhagem dos Atafdes por ser mae do representante da linhagem: Alvaro Goncalves de Ataide 2, Alvaro Gonsalves de Ataide e 0 nascimento da Casa de Atouguia (1402-1452) A deciso joanina de aceitar o retorno de Mécia Vasques e dos seus descendentes inseriu-se na sua politica nobilidrquica de continuidade de servico e de influéncia das principais linhagens do reinado fernandino, alterando-se apenas © seu peso correlative. Sé0 conhecidos varios outros casos de reabilitacao politica e social, sendo o mais destacado o de D. Pedro de Meneses, 1° capitio de Ceuta e fundador ® Cf. Genealogia 1: Ascendéncia e Descendéncia dos Ataide nos séculos XIV e XV, na qual se exclui a anise do ramo de Nuno Gonealves de Ataide, senhor de Gaigo, e irmio de Martim Goncalves de Ataide, cuja escendéncia no século XVI viria 2 recair no conhecido capitdo de Safim, Nuno Fernandes de Ataide. Sobre esta figura e a sua ascendéncia veja-se o estudo de André Teixeira, “Nuno Fernandes de Ataide, 0 nunca esté quedo, capitio de Safim” in A Nobreza e a Expanséo. Estudos Biogréficos, Cascais, Patrimonia, 2000, pp. 159: 207. % Cf Arquivo Nacional Torre do Tombo [ANTT], Chancelaria de D. Joao | {Cbil}, lvro 2, fl. 148, Viseu, 23.1%.1389 ~ PUB. Chancelarias Portuguesas: 0. 080 1, tomo 3, Lisboa, Centro de Estudos Histéricos da Universidade Nova de Lisboa, doc. 535, © Cf.ANTT, CDUI livro 2, f. 180, Porto, 16.X.1386 ~ PUB. Ibidem, tomo 3, doc. 1455, p. 218. “Cf. Joo Paulo Oliveira e Costa, Op. Cit, p. 40. Cf. Mafalda Soares da Cunha, “A nobreza portuguesa..",p. 227. da Casa de Vila Real, Sempre préxima de D. Filipa de Lencastre, a ponto de com ela chorar quando se soube da intengdo de D. Joo | de ira Ceuta, Mécia Vasques tera acompanhado (os momentos finais da rainha, a qual nao deixou de pedir ao infante D. Duarte (v. 1391- 1438), herdeiro da Coroa, que se lembrasse dos servicos de Mécia Vasques e dos de Beatriz Gongalves de Moura. Ao pedido da rainha tera © Infante respondido que “Ihe tinha muito em mercé de Ihe leixar tal encomenda, a qual ele cumpriria 0 melhor que pudesse”®’. Apés o falecimento da rainha D. Filipa, Mécia Vasques ingressou no servigo da infanta D. Isabel (v. 1397-1471). Fora provavelmente nos finais da década de 1390 que Mécia Vasques Coutinho, mercé da sua influéncia, conseguira colocar diversos, filhos no servico da corte. Assim, é sabido que Alvaro Gongalves de Ataide era governador da Casa do infante D. Pedro (v. 1392-1449) desde, pelo menos, 1402". Existe também referéncia de que Vasco Fernandes de Atalde era governador da Casa do infante D. Henrique (v. 1394-1460) por ocasio da conquista de Ceuta, em 1415", Quanto a D. Filipa de Ataide, deverd ter sido colocada como dama da rainha D.Filipa®, provavelmente aquando do regresso da mae, Foi sobretudo através do servigo dos infantes D. Pedro e D. Henrique que @ ascenséo dos membros da Casa foi concretizada nos anos seguintes. Alvaro Goncalves e Vasco Fernandes participaram na conquista de Ceuta”. Este Ultimo, capitdo da sexta galé que partira do Porto®, foi o nico fidalgo a falecer na investida, "Cf, Nuno Silva Campos, Op. Cit. © Ck Gomes Eanes de Zurara, Crénica da tomada de CCeuto, introducio e notas de Reis Brasil, Mem Martins, Publicagdes Europa-América, 1992, cap. XXXVI © CF. Ibidem, cap. XUIl p. 156. © Cf. Maria Helena da Cruz Coelho, Op. Cit. p. 143. Com 8300 libras de moradia, Cf. Monumenta Henricina [Medico da ComissSo Executiva do V Centenério da morte do Infante D. Henrique, vol. |, Coimbra, 1960, doc. 122, © Cf, Gomes Eanes Zurara, Crénica da tomada..., cap. L Com 1200 libras de moradia. Cf. Anselmo Braameamp Freire, Op. Cit, vol. |, p. 84. Cf, Gomes Eanes Zurare, Crénica da tomado..., cap. L Cf, Abel dos Santos Cruz, A nobreza portuguesa quando procurava encontrar D. Henrique™, sendo bem conhecida a sua forte ligacdo aquele infante”. Todavia, a relevancia do falecimento do secundogenito da Casa no reunia ainda as condigdes para ser politicamente capitalizada, dado Alvaro Goncalves néo ser a data casado nem ter, no seu cursus honorum, servicos de relevo comparavel aos que prestou, nos anos seguintes, ao infante D, Pedro e a D. Joao |. Sé nesta mesma légica se pode entender a sua nomeago, em 1416, para representar Portugal ‘no Concilio de Constanca”, conjuntamente com D. Fernando de Castro”, o fidalgo escolhido para substituir Vasco Fernandes de Ataide a frente da Casa do infante D. Henrique e, também ele, descendente de uma linhagem, os Castros, que carecia de se reabilitar através do servico & Coroa. Originalmente secundogénito, acabou por herdar a Casa de seu pai, D. Pedro de Castro, senhor do Cadaval, por falecimento prematuro do seu irmao _primogénito Considera-se que a sua nomeaco para a Casa do infante D. Henrique ficou 2 dever-se a influéncia de Mécia Vasques Coutinho e de Gongalo Vasques Coutinho, sobretudo tendo em conta a prépria indigitacéo de Alvaro Gongalves de Ataide para a Casa do infante D. Pedro”. A ligacdo entdo estabelecida entre os dois fidalgos, além de demonstrar como néo existia uma associago univoca entre linhagens eservico dos infantes”, parece ter configurado © estabelecimento de uma relagdo pessoal forte entre ambos € o inicio da estreita alianca entre ambas as linhagens, com consequéncias proficuas nos anos seguintes. Por ocasiao da partida para Constanga, oinfante D. Pedro solicitou ao seu governador que Ihe fem Morrocos no século XV (1415-1464), dissertagao de mestrado apresentada 3 Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1995, p. 68. © CL, Gomes Eanes Zurara, Crénica do tomado..., caps. xt e DOOR. Tendo chegado a viver com o infante D. Henrique. Cf. Joo Paulo Oliveira e Costa, Op. Cit, p. 77. "Cf, Carta de D. Joie | a0 rei de Aragio, Estremoz, 24.1416 — PUB. MH, vol. lI, doc. 114 na qual o rei noticiava a sua nomeacio, ™ Cf. Damido Peres, Histéria da Igreja em Portugal, vol. |, Porto, Portucalense Editora, 1967, p. 467, Cf. bidem, p. 77. “Cf tbidem, pp. 77-78. 19 encontrasse uma esposa. No entanto, Ataide do foi capaz de encontrar a desejada noiva”. No seguimento do encerramento do Concilio, em 1418, Ataide ndo sé apoiou a ideia do seu tio Gongalo Vasques Coutinho de promover Luis Coutinho 20 bispado de Coimbra’, como recebeu, em nome do infante D. Pedro, a marca de Treviso”, na Hungria, ficando o fidalgo como administrador da mesma. Esta fora doada ao infante por Sigismundo |v. 1368-1437), rei da Hungria e Imperador do Sacro Império Romano-Germénico, de quem Alvaro Gongalves fora companheiro de armas na Bésnia”®, Em seguida, Atafde rumou em peregrinacao & Terra Santa”. De regresso ao Reino e apés ter participado no socorro a Ceuta ‘em 1419, poderd ter influenciado o infante D. Pedro a partir no seu périplo europeu", ficando em duivida se teria ou ndo partido com © infante, ent&o desapontado com a sua falta de espaco politico". Este aspecto em particular € a possibilidade de envolvimento de Alvaro Goncalves de Ataide na referida viagem carece ainda de aprofundamento no quadro dos estudos sobre o infante D. Pedro™. Por carta de 8 de Janeiro de 1417, escrta em Arraiolos, € dirigida 20 fidalgo. Cf. Francis M. Rogers, The Travels, of the Infante Dom Pedro of Portugal, Cambridge, Harvard University Press, 1961, p. 13, CF. Luts Filipe Oliveira, Op. Cit, pp. 63-64. *1Cf. MH, vol Il, doc. 139, * Como é relembrado no epitafio da sepultura de Alvaro Gongalves de Ataide publicado em Luis Filipe Matanca dda Costa Monteiro Pontes, Do mundoda corte ao mundo da meméria: subsidios para o estudo da mentalidade cavoleiresca da nobreza portuguesa, 1400-1521, dissertagao de mestrado apresentada & Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lsboa, 2008, p. 160 * Ct. Francis M,, Rogers Op. Cit, p. 24 Cf Anselmo Braamcamp Freire, Op. Cit, vol. |, p. 81 © Cf, Margarida Sérvulo Correia, As Viagens do Infante D. Pedro, Lisboa, Gradiva, 2000, pp. 44-45, © Devido ao facto da preferéncia joanina pelo infante D. Henrique se ter revelado claramente em 1416 (Cf. Joo Paulo Oliveira e Costa, Op. Cit, p. 117) * Ainda est por realizar, sobretudo na sequéncia da publicago da biografia do infante O. Henrique, de Joi0 Paulo Oliveira e Costa, a biografia deste infante. Esta importante lacuna historiografica foi ji notada por Humberto Baquero Moreno em 1997 (Cf. Humberto Baquero Moreno, O Infante D. Pedro, Duque de Coimbra = Itinerdrios e Ensaios Histéricos, Porto, Universidade Portucalense, 1997, p. 7) 20 luas Casas: em torno dos Ataides & das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira tulos XV-XVI} Uma linhager A ideia de que tera acompanhado o infante D. Pedro na sua viagem pela Europa torna- se ainda mais crivel, tendo em conta que Aivaro Gongalves sé ressurge em 1428 como testemunha dos casamentos aprazados do Infante D. Pedro com D. Isabel de Aragdo™, condessa de Urgel (v. 1409-1443), ¢ do infante D. Duarte com a infanta D. Leonor de Aragéo (v. 21445)", Em 1429, foi enviado a Castela por D. Jo%0 1, conjuntamente com Nuno Martins da Silveira, para conciliar 0 monarca castelhano com os reis de Navarra e de Aragéo € 0s infantes D. Pedro e D. Henrique®, sendo mencionado que ja entéo era homem “de quien el Rey de Portugal mucho fiaba”®”. Ainda nessa sequéncia, velo a ser testemunha pelo Infante D. Pedro da paz de Segura de 1432", a qual selava definitivamente quase cinquenta anos de guerra entre Portugal e Castela, Durante aqueles anos, Alvaro Gongalves ganhara nao apenas a consideracao do infante D. Pedro, mas também o respeito de D. Jo30 1, como as nomeagdes mencionadas e as primeiras doacdes e privilégiosconcedidosasua Casa confirmam. Importa realgar que a maioria das doagées e privilégios foram concedidos a partir dos bens da Casa de Coimbra, dirigida pelo infante e duque D. Pedro, sendo muitas delas sujeitas a confirmacdes posteriores. Malogradamente, ndo se conhecem diversos originais, quer na Chancelaria de D. Joao I*, quer nas Confirmagées da Casa de Atouguia®. Entre as iniciais doacSes joaninas conhecidas contam-se: 0 privilégio para ter em Monforte de Rio Livre, antiga freguesia do arcebispado © CE MH, vol. I, doe. 122. © Cf MH, vol. Il, docs. 128 e 129. "Ch Humberto Baquero Moreno, A Botoiha de Alfarrobeira. Antecedentes e significado histérico, vo. li, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1979-1980, p. 71 © Ch. MH, vol. Il, doc. 146, p. 309, Cf. MH, vol. IV, doc. 43. ™ € possivel que entre os documentos perdides 20 longo {do tempo na Chancelaria de D. Jodo | se encontrassem algumas das doacbes originals & Casa * Pedidas por Simo da Cunha de Ataide a D. File Ill, fem 1621, a propésite de uma disputa de bens entre a Casa de Atouguia e a Casa de Povolide. Cf. ANTT, Casa de Povolide, maco 21, doc. 5 de Braga e no actual concelho de Chaves”, um couto de homiziados”, a doacdo de Cernache, no termo de Coimbra, e dos casais de Chanca € Carvalhal, no termo de Penela®, a carta de privilégio a seus amos e caseiros™, a carta de coutada 2 mata da Azenha”*e 8 Quinta da For", ‘ambas no termo de Benavente. Nesta primeira fase, as doagées e privilégios incidiram, assim, na regio em toro de Coimbra, sede do ducado do infante D. Pedro, nos privilégios concedidos na regio de Trés-os-Montes, e em pequenas doagées no Ribatejo. Se bem que, através da sua carreira de servico, Alvaro Goncalves de Atafde tenha conseguido limpar a macula politica de seu pai, e tivesse ja alcangado um estatuto destacado na corte joanina, no inal do reinado, devido a ligacdo da sua linhagem com os Castros e os Meneses”, ainda the faltava um elemento fundamental para consumar a plena restauragao politica e social que, por exemplo, D. Pedro de Meneses, alcangou precisamente no final do periodo joanino*. Referimo-nos ao seu enlace e 20 das suas irms, uma vez que, como ¢ sabido, © cumular das trajectérias politicas de ascensio $6 tinha expresso social através de bons casamentos”. Tal significa que 2 Alvaro Ch, Augusto Leal, Portugal Antigo e Moderno, vol. V, Braga, Barbosa & Xavier, 2006, p. 407. ® Cf, ANTT, Cbul, livo 4, fl. 12v,, Si, 10.X:1820. 0 privilégio foi concedido por D. Joao |, embora a doacio de Monforte de Rio Livre sé se tenha efectivado jé no reinado de D. Duarte, adiante referenciado, © CI, ANTT, Chancelaria de D. Afonso V [CDAV), ivro 20, fl. 4, s, 15.1425, Trata-se de uma doagio retirada dos bens da Casa do infante D. Pedro, desconhecendo- se o documento e data original da doacio de Cernache € dos casais de Chanca e Carvalhal. Esta doacao incluia casas em Alvalzere e em Albergaria-a-Velha, bem como a concessio do padroado da Igreja de Cernache. CE ANTT, COAY, lio 25, 1.3, sl, 28.X.1425, Privilégio concedido por D. Jodo I. ® C1. ANTT, CDAY, livo 11, f. 100v, SL, 20.X.1430. NBO se conhece o documento original de doagao. © Cf, ANTT, CDAY, livro 18, fl 12, si, 2VIL1431. € desconhecido 0 documento de doa¢ao original "Cf. Mafalda Soares da Cunha, “A nobreza portuguesa..”, pp. 231 ¢ 236. * Com a concesszo, por parte de D. Jo30 |, do titulo de 28 conde de Vila Real, em 1426, ™ Cf. Ricardo Cordoba de la Llave, Isabel Beceira Pita, Porentesco, poder y mentalided, La nobleza castellano. Siglos XiI-XV, Madrid, Consejo Superior de Investigaciones Cientificas, 1990, p. 122 e seguintes. Gongalves, a despeito da sua carreira e da configuracéo de um importante senhorio, ambas a apontar para a titulacdo, faltava encontrar matriménios que correspondessem ao estatuto politico adquirido. Obreve reinado de D. Duarte (r. 1433-1438) nao foi, todavia, propicio a uma répida ascenséo. Ataide no participou na expedi¢ao de Tanger de 1437", na qual os partidarios do infante D. Pedro primaram pela auséncia. Nem mesmo a participagaio dos Castros e Coutinhos, seus familiares, associados & clientela do infante D. Henrique™,o fez integrar 0 contingente. Ainda antes da partida da expedi¢io, foi por Alvaro Gongalves que D. Duarte tomou conhecimento dos preparativos do infante D. Pedro no sentido de nela participar™, vindo a impor-the a sua no participagao na jornada™®. Além disso, 0 monarca opds-se a intencao de Ataide e de D. Guiomar de Castro, sua futura esposa, de ver nomeada a irma desta, D. Isabel de Castro, como abadessa de Arouca™, No entanto, apds confirmar as doagées joaninas™, foi D. Duarte quem fez a Alvaro Goncalves a importante doagdo dos castelos e vilas de Monforte de Rio Livre e de Vinhais e das terras de Vilar Seco de Lomba e de Vale de Pacé™, estas trés ultimas no actual distrito de Braganca™”, a qual configurou a formacao da componente transmontana do patriménio da Casa ®® Cf. Rui de Pina, Crénica do rei D. Duarte, edigéo de Anténio Borges Coelho, Lisboa, Editorial Presenca, 1966, cap. XV. Cf, Jodo Paulo Oliveira e Costa, Op. Cit, p. 227 ® Ch Carta de Alvaro Gongalves de Ataide a D. Gomes, Porto, 7.1435 — PUB. MH, vol. IV, doc. 22. ** Cf Luis Miguel Duarte, D. Duarte requiem por um rei triste, 5.4, Cireula de Leltores, 2005, p. 247. ®* Pols defendia 2 nomeagao de D. Beatriz de Vilhena, Ct. Carta de D. Duarte a 0. Gomes, Lisboa, 27.VI.1437— PUB. MH, vol. IV, doc. 56. ® De Cernache e dos casais de Changa e Carvalhal (Ct ANT, CDAY, livro 34, fl. 104, 5, 3XIl1433), das cartas de coutada a mata da Azenha (Ct. Idem, livro 11, fl. 100w, s.1, 1.11.1433) @ 8 Quinta da Foz (Cf. idem, livro 18, 1.12, 5, 28V1.1438) e dos privlégios a seus amos fe caseiros (Ck. idem, livro 25, fl. 3). ** Cf, ANT, CDAY, livio 9, f. 85y, 1, 4.XI1433. "Ch Abade de Bacal, Memérias arqueolégico- histéricas do distrito de Braganca, tomo Vil, Braganca, Camara Municipal de Braganca/Instituto dos Museus, 2000, p. 30. 21 Devers ter sido pouco depois do falecimento de D. Duarte, em 1438, que Alvaro Goncalves, apés acompanhar a saida do infante D. Pedro de Coimbra a fim de participar nas Cortes de Torres Novas de 1438, nas quais prestou juramento*®, D. Guiomar de Castro. J4 desde o tempo de D. Jo%0 Ise dizia que o fidalgo estava apaixonado por D. Guiomar e que inclusivamente jogara 20s dados com o seu falecido irmao Vasco Fernandes para saber quem casaria com ela™, A concretizacao do enlace, que aparentemente j fora proposto pelo infante D. Pedro a D. Jo%0 | e & rainha D. Filipa"™, realizou-se com 0 devido aval régio, confirmado por documento de chancelaria™, em finais de 1438. concretizou 0 seu enlace com Esta undo no deveré, contudo, ser desligada do consércio da irma de Alvaro Goncalves, D. Isabel de Atafde, com D. Fernando de Castro, © qual julgamos deverd ter ocorrido nesta altura também, visto D. Guiomar ser irma de D. Fernando de Castro. Tendo ja sido anotado © conhecimento e semelhanca de perfil pessoal e corteso entre ambos, € notério que 0 duplo enlace endogémico procurava consolidar a ascensio politica das duas linhagens, reforcando socialmente uma alianga politica anterior. Dessa alianca seriam, assim, esperadas novas benesses como uma possivel titulagio de ambas as Casas. Da unio entre Alvaro Goncalves e D. Guiomar nasceram™: D, Martinho de Atafde, D, Jodo de Ataide, D. Vasco de Ataide, D. Alvaro de Ataide, "Cf Rul de Pina, Chronica de D. Afonso V, vol. |, edigs0 de G. Perera, Lisboa, Escriptorio, 1901, cap. CLV; Gaspar Dias Landim, 0 Infante D. Pedro. Chronica Inedito, vol |, edigdo de Luciano Cordeiro, Lisboa, Bibliotheca de Classicos Portuguezes, 1892, cap, XXIK. Para jurar rel D. Afonso V. Cf. MH, vol. IV, doc. 96. © Ct. Inventérios e Sequestros das Casas de Tavora e Atouguia em 1759, edigéo de Luiz de Bivar Guerra, Lisboa, EdigBes do Arquivo do Tribunal de Contas, 1954, p.278, Cf, ANTT, Casa de Povolide, Mago 21, doc. 5. 1 para a primeira carta de confirmagio de casamento de D. Guiomar veja-se: ANTT, CDAV, livio 34, f. 74, iL, 1X.1438. Ja para a segunda e definitiva carta de contrato de casamento de Alvaro Gongalves veja-se Idem, liveo 18, fl 44, .L, 24.1.1439, 88°F, Genealogia 2: Descendéncia de D. Alvaro de ‘Ataide, 1° conde de Atouguia (Século XV}, 2 luas Casas: em torno dos Ataides & das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira tulos XV-XVI} Uma linhager D, Joana de Castro, D. Filipa de Castro, D. Mécia de Castro e D. Leonor de Meneses. Em data incerta, teve Alvaro Goncalves ainda D. Pedro de Ataide, abade de Penalva, ¢ Gil Vasques™. Desta fase deve também datar o casamento de D. Helena de Ataide com D. Pedro Vaz da Cunha, senhor de Angeja, cuja descendéncia viria a estar associada a D. Lopo de Albuquerque, titulado por D. Afonso V, em 1475, como 1° conde de Penamacor. Igualmente daquele momento dataré 0 consércio de D. Filipa de Ataide que, como mencionado, fora dama da rainha D. Filipa, com Gongalo Anes Chichorro, 32 senhor de Mortégua, cuja descendéncia estaria associada a D. Sancho de Noronha, também titulado pelo Africano, em 1446, como 1° conde de Odemira. Apenas da irma mais nova de Alvaro Gongalves, D. Catarina de Ataide, se desconhece 0 percurso sem geracgo. A ocorréncia destes enlaces no contexto do precoce falecimento de D. Duarte e das tensées politicas a propésito da co-regéncia do Reino, entre o infante D. Pedro e a rainha D. Leonor visava conferir estabilidade & Casa e garantir apoios politicos face & luta politica seguinte. Nessa mesma légica se pode compreender que tendo D. Duarte escolhido Nuno Martins da Silveira e a sua esposa para os cargos de aios do principe D. Afonso e da infanta D. Leonor, tenha sido por decisdo das Cortes de Lisboa de 1439 que ambos foram afastados dos cargos em prol de Alvaro Goncalves e D. Guiomar™”. Na qualidade de conselheiro do periodo da co-regéncia"*, Atafde foi mandatado pelo infante D. Pedro para informar a rainha D. Leonor da deliberacao das Cortes pela qual esta era constrangida @ entregar D. Afonso 1114 Fora do casamento. Para Gil Vasques apenas se conhece a carta régla, na qual surge identificado como filho de Alvaro Gongalves e escrivio das carnes e caca da cidade de Lisboa (Ct. NTT, CDAY, livro 19, fl. 25, SL, 15V1L1438), desconhecendo-se ‘0 seu posterior percurso. "8 Cf, Saul Anténio Gomes, O. Afonso VO Africano, s., Circulo de Leitores, 2006, pp. 44, ** Cf. Gaspar Landim, Op. Cit, vol. J, ap. IK "Cf Jo8o Silva de Sousa, D. Duarte, Infante e Rel, € as Casas Senhoriais, Lisboa, SHIP, 1994, p. 17 5 Cf, Rita Costa Gomes, Op. Cit, p. 229, V", Tal sucedeu no apenas por ser “homem prudente e bem razoado, e de que muito fiava’®* 0 Infante D. Pedro, mas também pelos contactos anteriores que ja tivera com esta, que assinara, em seu nome e no da sua esposa, confirmagses de bens da Casa Tendo Alvaro Gongalves falhado na sua misséo, coube ao infante D. Henrique convencer a rainha a entregar D. Afonso V", A partir desse momento, e posteriormente, aquando da fuga da rainha para 0 Crato e da entrega da infanta D. Leonor (v. 1434-1467) a D. Guiomar de Castro até & sua partida para a Alemanha™, de quem seria aia até 20 casamento da infanta com o Imperador Frederico Il (v. 1415-1493), Alvaro Gongalves passava a acumular dois dos mais importantes cargos da corte: aio do jovem monarca e governador da Casa do infante D. Pedro, entdo regente do Reino. Isto é, Ataide tornou-se numa figura incontornavel de toda a politica da época e foi um privilegiado agente mediador entre o joven monarca e o regente, o que Ihe conferiu um indiscutivel poder de intervenc3o politica e Ihe abriu o caminho para a titulacdo, E neste quadro que, logo em 1439, se entende que 0 infante D. Pedro 0 tenha nomeado coudel-mor de Tavira e the tenha confiado a guarda do joven D. Afonso V enquanto se iniciava a guerra contra o Prior do Hospital, que decidira apoiar as pretensdes da rainha D. Leonor. Enquanto decorria a investida, Alvaro Goncalves de Ataide procurou, sem sucesso, convencer 0 jovern monarca dos motivos do infante D. Pedro para guerrear os partidarios da sua mae”, uma vez que esta pretendia que Portugal se envolvesse nas lutas peninsulares © Cf, Rui de Pina, Op. Cit, vol. |, cap. XIVII; Ouarte Nunes Leio, Cronicas e vidas dos reys de Portugal, D. Duarte, undecimo, e D. Affonso ¥, duodecimo, Lisboa, Officina de Joze de Aquino Bulhoes, 1780, cap. VIL 2° Cf, Gaspar Landim, Op. Cit, vo. |, cap. XXX, p. 30. 1 Da doagio de Cerache e dos casais de Chanca fe Carvalhal (CL ANTT, COA, livro 34, fl. 104, 5. 17 X1.1438), 5 Cf, Rui de Pina, Op. Cit, vol. |, cap. Vil, #8 Cf, Gaspar Landim, Op. Cit, vol. ll, cap. Xll; Duarte Nunes Ledo, Op. Cit, cap. IK; Rul de Pina, Op. Cit, vol | cap. LXV B°Cf, ANTT, CDAY, livro 20, f. 67, si, 16M11.1439. *8 Cf. Gaspar Landi, Op. Cit, vo. I, cap. XVII dos infantes de Aragéo™. Despontando jé esse episédio de 1440 bem como noutro da mesma época a veia militar do jovem D. Afonso V”, e por consequéncia iniciando-se as tenses que viriam a opor o rei e 0 regente nos anos seguintes, o infante D. Pedro nao deixou de reconhecer a importancia dos servicos prestados por Ataide, fazendo-Ihe um conjunto de importantes mercés, Entre elas merece destaque o apoio & concesso, em 1443, do Priorado do Crato a D. Henrique de Castro™®, 0 qual era sobrinho de D. Guiomar de Castro, e por falecimento deste, novo apoio a entrega, ja com D. Afonso Vem finais de 1448, do Priorado a D. Jodo de Ataide™, secundogénito de Alvaro Goncalves e de D. Guiomar. A D. Jodo de Atafde, pela sua proximidade pessoal, concedera ja 0 regente a alcaidaria-mor de Amieira™, tendo em conta os servigos do fidalgo no cerco de Rodes de 1444. Ao préprio Alvaro Goncalves, 0 regente D. Pedro confirmou todas as anteriores mercés de D. Jogo |e D. Duarte com direito de transmisso a0 seu primogénito™ e fez- Ihe, em data desconhecida, uma importante doacdo: a alcaidaria-mor de Coimbra’. Esta doacdo assumia um significado especial em duas vertentes. Em primeiro lugar, por revelar 0 grau de confianca e de cumplicidade entre 0 infante e 0 seu criado, @ ponto do infante Ihe conceder 0 comando militar da sede do seu ducado. Em segundo, dado © capital simbdlico associado posse da * Cf Saul Anténio Gomes, Op. Cit, pp. 51 e seguintes. ® Cf Rui de Pina, Op. Cit. vol. I, cap. LXXL 2 Cf. MH, vol. Vil, doc. 8 "°C. Ibidem, vol. IX, does. 201 e 202. ®® Cf, Humberto Baquero Moreno, Op. Cit, vol. |, p. 408. “Cf, Cristévao Aldo Moraes, Pedatura Lusitano, vol. NV, Braga, EdigBes Carvalho de Basto, 1998, pp. 280-281. ® De Cernache e dos easais de Changa e Carvalhal (Cf. ANTT, COAY, livro 20, 4,5. 14.I.1439), dos castelos e vilas de Monforte de Rio Livre e Vinhais e das terras de Vilar Seco de Lomba e Vale de Pagé (Cf. idem, livra 9,1 86v, s.., 10.V1.1439), do privilégio para seus amos ecaseiros (Cf Idem, livro 12, f. 84, 5, 24.X.1440) e da carta de coutada 8 Quinta da Foz (Cf. idem, lvro 25, f. 3,1, 2MIL1644), Apenas se conhece @ confirmacio do periodo de governo de D. Afonso V (Cf. ANTT, Mistics, livro 3, fl. 117, s, 8.1449). 23 alcaidaria-mor de Coimbra, enquanto cidade de grande importancia em varios momentos capitais da histéria da Monarquia Portuguesa. Por estes motivos, a alcaidaria-mor de Coimbra foi, sem divida, umas das jéias zelosamente mantidas pela Casa de Atouguia e que muito 2 prestigiavam. A esta iltima mercé acresceram outras: doagdes de propriedades em Loulé™ e no Porto™, e da Quinta do Judeu”s, em Porto de Mugém, e ainda privilégios para os moradores de Monforte de Rio Livre”. No mesmo sentido, foram as doacdes a D. Guiomar, a qual também recebeu do regente confirmacées em nome do casal” e viu confirmada a posse da Quinta do Reguengo de Chantas™ e 0 aforamento do paul do Feijoal', ambos no termo de Santarém, Todas estas mercés traduziam 0 reconhecimento do regente, da valia do seu fiel servidor, colocando-o em posi¢ao de poder vir a receber um titulo. Inserem-se ainda na sua politica de rodear D. Afonso V de apaniguados seus como forma de garantir a sua influéncia no periodo pés-regéncia™®. A.alianga politica com os Castros durante estes anos manteve-se, como elucida a nomeacgo de D. Henrique de Castro e a promessa feita pelo infante D. Pedro, aquando da nomeacéo de D. Fernando de Castro, em 1440, para a devolugdo de Ceuta a troco da libertagao do DCE ANTT, CDAY, ivro 20, . 9v, S, 91.1040. 8 Cf, ANTT, CDAY, livro 25, f. 68, 21.1.1465. * Tratando-se da primeira confirmacdo, por parte dda Coroa, de anterior compra da Quinta a D. Maria da Cunha (Cf. ANTT, COAV, livo 25, fl. 141, sl, 22NIIL.1443), 2 qual foi novamente rectificada em 1444 (Ct ldem, tivo 25,112, s.., 18.vil.1444) ™ Isentando-os do pagamento de diversos impostos e da obrigacao de irem a guerra (CF. ANTT, CDAY, livro 27, fl. 110v, sl, 21.X.1440) ** Como da doagdo de Cernache e dos casais de Chanca Carvalhal (CE ANTT, CDAY, livro 34, fl. 104v, s.L, 18.1.1439) ou da Quinta do Judeu, em Porto de Mugém (Ct Jdem, liveo 25, fl. 1414). ¥ Também doada a Alvaro Goncalves. Ct. ANTT, CDAY, lvro 25, f.18v, 28.1142, 3 Igualmente a favor de Alvaro Goncalves. Cf. ANTT, DAY, livro 25, fl. 20, si, 10.1448, * Nessa mesma ldgica promovera, logo nas Cortes de Torres Vedras de 1441, a ideia de casar a sua filha D. Isabel com D. Afonso V, vindo o consércio a realizar-se fem Maio de 1447, 24 luas Casas: em torno dos Ataides & das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira tulos XV-XVI} Uma linhager Infante D. Fernando, de casar 0 seu herdeiro com uma filha do infante™™. € provavel que Alvaro Goncalves no tenha sido alheio a esta promessa. A sua ligaco aos Castros permitia ainda a Atalde assegurar e manter junto de D. Pedro 0 decisivo apoio politico do infante D. Henrique & sua conturbada regancia. As ligagdes de Ataide ao infante D. Henrique surgem também atestadas pelo facto de, em 1447, ter armado uma nau para a Guiné™, cujo comando atribuiu a Joo de Castilha™, e até por existir referéncia de que teria estado nas Candrias em data incerta’. Ambas apontam nao sé para a comunhdo de interesses com D. Henrique, mas também para a percepco de que a Expansao poderia trazer proventos econémicos vantajosos, 0 que poderé explicar os desentendimentos que Castilha teve com o infante D. Henrique’. Ainda neste plano se poder enquadrar 0 que parece ter sido o interesse pela dilatagao da fé fortemente evidenciado pela Casa de Atouguia em periodos posteriores. Os dois projectos ajudavam Alvaro Goncalves de Ataide a alicergar 0 seu poder. A questo da dilatacdo da fé foi, alids, um dos elementos integrados na herdldica da Casa de Atouguia em inicios do século XVI, vindo a constituir-se como um dos elementos para a afirmago dos membros da Casa em diversos contextos. Este ultimo aspecto no deve também ser desligado do interesse evidenciado por membros da Casa na participacao activa na reforma das ordens religiosas, como adiante se constatara Quando 0 infante D. Pedro abandonou a regéncia, Ataide permaneceu na corte como conselheiro a0 lado de D. Afonso V*. Tendo "CF. Jodo Paulo Oliveira e Costa, Op. Cit, pp. 261-262. “Cf, Gomes Eanes Zurara, Crénica do Descobrimento e Conquista da Guiné, introdugSo, actualizacio de texto € notas de Reis Brasil, Mem Martins, Publicagdes Europa- América, s., cap. Ul Cf. Ibidem, cap, LXVII. “* Ct. Afonso Ziquete, Nobreza de Portugal e do Brasil, Lisboa, Editorial Encielopédia, 1960, p. 331. Cf. Gomes Eanes Zurara, Op. Cit,cap. LXIK Sobre a problematica da herdldica dos Ataides © da Casa de Atougula veja-se: Joo Bernardo Galvdo-Teles, Miguel Metelo de Seixas, “Em redor..", p. 94 Cf, Humberto Baquero Moreno, Op. Cit., vol. I, . ma. ‘© monarca consciéncia da importancia do seu apoio politico perante 0 agravamento das relagdes com o antigo regente e sabendo que Alvaro Gongalves gozava de grande confianca ¢ influéncia junto de D. Pedro, decidiu, ainda antes de Alfarrobeira, premié-lo. Por este motivo, em Dezembro de 1448, fez-Ihe doacéo da Atouguia e do padroado da sua Igreja, associando titulo condal™®, Sede um ponto de vista mais geral, astitulagdes que foram atribuldas antes e pouco depois de Alfarrobeira se justificam pela necessidade de premiar os individuos das linhagens do tempo de D. Jofo |, nos quais também se conta a mais. tardia titulagdo, em 1460, dos Castros como condes de Monsanto, cuja fidelidade D. Afonso Vnecessitava de assegurar, também se constata que muitos dos titulos criados decorreram das ligagdes ao infante D. Pedro. Nesse sentido, apesar dos titulos criados pretenderem configurar uma nova nobreza da dinastia, eles corresponderam, nesta fase, 8 consolidacdo de uma nobreza tardo-medieval, a qual sé foi plenamente substituida pela segunda vaga de titulagdes afonsinas da década de 1470 Nessa éptica, a atribuig’o do titulo condal a Alvaro Goncalves de Ataide, o qual é lembrado como “feitura do infante”"™ D. Pedro, é uma decorréncia da referida politica nobiliarquica Apesar da maioria das fontes afirmar que Alvaro Goncalves teve ordem de priséo de D. Afonso V antes de Alfarrobeira, e que se deixara prender manhosamente, com seus filhos e criados, temendo 0 muito que teria a perder, o que 88 Cf, ANTT, Misticos ivr 3, fl. 140. °C, Mafalda Soares da Cunha, “Anobreza portuguesa, 9.245. Cf Mafalda Soares da Cunha, Nuno Gongalo Monteiro, ““Jerarquia nobilaria y corte en Portugal (Siglo XV-1832) in Poder y Movilidad Social Cortesanos, Religiosos ¥ Oligarquias en la Peninsula Ibérica (Siglos XV-XIX), edigio de F. Chacén Jiménez e Nuno Gongalo Monteiro, Madrid, Consejo Superior de Investigaciones Cientficas/ Universidade de Murcia, 2006, p. 194 ¥ Cf, Jofo Cordeiro Pereira, “A Estrutura Social © © seu Devir" in Nova Historia de Portugal ~ Portugal do Renascimento 6 Crise Dindstica, direc¢3o de Joel Serr30 @ A. H. de Oliveira Marques, coordenagio de Jodo Alves Dias, vol. V, Lisboa, Editorial Presenca, 1998, p. 290. 8 Cf. Gaspar Landim, Op. Cit, vol. Ill, cap. 1X, pp. 176 177; Duarte Nunes Ledo, Op. Ct, vol. cap. XVll, p. 47, teria contribuido para fazer desleal o infante D. Pedro ainda antes deste efectivamente o ser™, & possivel relativizar essa afirmacio. Na verdade, Ataide comecara por juntar-se a D, Pedro e s6 0 abandonou quando este se recusou a dar passagem a D. Afonso (v. 1377- 1461), 12 duque de Braganca”, tornando inevitével 0 conflito com o rei. Ou seja, tudo aponta para que a participago de Alvaro Goncalves e do seu herdeiro D. Martinho na batalha de Alfarrobeira, ao lado do rei”, nao tenha decorrido de uma simples traicdo de Atalde ao infante D. Pedro. Ter-se-4 tratado, antes, da constatacao de que nao seria possivel convencer o infante a adoptar outra atitude e que, nesse cenério, tal como as fontes referem, seria preferivel no arriscar 0 adquirido do lado do provavel derrotado™. Neste sentido, a sua aposta foi certeira, na medida em que daquela forma nao sé assegurou o futuro da sua Casa, através da confirmacao, posterior a Alfarrobeira, de todas as doagées da Casa™, como ainda alcangou uma nova concesséo: 0 campo do Lobio, no termo de Coimbra. Porém, as mercés estenderam-se ainda _a_D. Guiomar, que ®* Cf, Duarte Nunes Leo, Op. Cit, vol |: €ap. XVI; PINA, Rul de, Op. Cit, vol. I, cap. XCVI °° Cf. Saul Anténio Gomes, Op. Cit, p. 72; Francis M. Rogers, Op. Cit, p. 62. “Cf. Francis M. Rogers, Op. Cit, p. 62. Cf, Humberto Baquero Moreno, Op. Cit, vol. |, p. 525. €9 préprio cronista de D. Pedro que sai em defesa de Alvaro Gongalves: “e algumas pessoas contra razio ‘murmuraram d’elles, dando-Ihe em culpa que o Conde procurou sua prisio por se ndo entender d’elle que fazia falta 20 Infante, por sua vontade, como se nfo fora mais obrigado a ser leal a seu rel, que deixar de Ihe obedecer pelo Infante, e © que peior 6, arriscando no sémente © condado, mas ainda a honra e vida, como arrisearam (9s que se foram para elle e 0s mais que o seguiram. Cf. Gaspar Landim, Op. Cit, vol. Il, pp. 38-38. * Comecando pela alcaidaria-mor de Coimbra (Cf. ANTT, Misticos, livro 3, 1 117, s., B.Vll.1449), seguida da carta de coutada & mata da Azenha (Cf. idem, lvro 4, fl. 22, si, 8.1X.1449) e 8 Quinta da Foz (Cf. ANTT, CDAV, livro 34, fl. 103), passando pelo privilégio a seus amos fe caseiros (Cf. Idem, liv 34, f. 103, 5.XI.1449) e pelas doagdes dos castelos e vilas de Monforte de Rio Livre € Vinhais e das terras de Vilar Seco de Lomba e Vale de Pacé (Cf. Idem, lvro 9, f. 86x, si, 4.XIl.1449) e de Cerache e dos casais de Chanca e Carvalhal (Cf. Idem, livre 34, fl. 108v, 51, 261.1450) 9 C1. ANT, Mistcos,livro 4, fl. 22, si, 8:1K1489, recebeu diversas confirmacées™!, os bens de Vasco Fernandes, criado do infante D. Pedro™, @ uma tenga de 71 428 reais pelos servicos prestados a infanta D. Leonor’. Mais relevante que estas doacdes foi o facto do 12 conde de Atouguia, que em 1450 era identificado como rico-homem, membro do Conselho Real, escrivéo da puridade e coudel-mor do Reino", ter assegurado 20 seu herdeiro a continuidade de servico na corte. Sob este prisma, a bem sucedida trajectéria de Alvaro Goncalves & paradigmatica de como os trés elementos definidores da nobreza (terra, guerra e jurisdi¢ao"), quando conjugados com uma estratégia de éxito na manutengo de poder, caracteristica de elites de governo", permitiam, na primeira metade de Quatrocentos, confirmar ascensdes sociais, impenséveis em conjunturas posteriores™” A légica do proceso de progressao social de Alvaro Gongalves encontra-se, aliés, no epitéfio da sua sepultura, mandada construir por D. Guiomar, na Igreja de Sao Leonardo, na Atouguia da Baleia. Neste so exaltados para a posteridade os marcos principais da sua trajectéria: os guerreiros, através da sua participacao na conquista de Ceuta e nas guerras do Imperador Sigismundo, e os politicos por via da sua peregrinacao & Terra Santa e da sua participagdo no Conclio de Constanca, cumulada pela sua nomeacéo para aio de D. Afonso V. Todos se consideravam ancorados no que, para a meméria posterior, 1 Como do aforamento do paul do Feijoal (Cf. ANTT, CCDAY, ivro 34, f, 104, s.,, 12.X1,1449}, do seu contrato de casamento com Alvaro Goncalves (Cf. idem, livro 34 f.74, sL, 51.1450) e em nome do casal das doacées de Cernache e casais de Changa e Carvalhal (Cf. Idem, livro 34, fl. 104v, s.L, 261.1450) e da Quinta do Judeu (Ct dem, tivo 34, f1. 104, 28.1.1450). 2° Cf ANT, Estremadura,livro 8, fl. 294v, 7.11.1450, 59 Cf, ANTT, CDAY, livro 34, fl. 67, sil, 17.1V1450. Cf, Saul Anténio Gomes, Op. Cit, p. 55. * Cf. Henry Kamen, Early Modern European Society Nova lorque, Routledge, 2000, p. 73 © Cf, Rudolph Braun, “Staying on Top: Socio-Cultural reproduction of European Power Elites” in Power Elites ‘and State Building, edicio de Wolfgang Reinhard, s.4. Clarendon Press, 1996, pp. 235-259, 5 Cf Mafalda Soares da Cunha, Nuno Goncalo Monteiro, “Jerarquia nobiliaia.”, p. 204. 26 luas Casas: em torno dos Ataides & das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira tulos XV-XVI} Uma linhager havia sido uma inegavel carreira de sucesso, explicada pela elevada ascendéncia paterna do fundador da Casa: Martim Goncalves de Ataide™. 3. A sucesso da Casa: inicios do condado de D. Martinho (1452-1470) A estratégia de manutencao de servicos, tdo caracteristica da nobreza cortesé de D. Afonso V#® @ de que 0 caso em anilise é exemplar, enquanto forma de ascenso social, velo a conhecer novos desenvolvimentos apés o falecimento do 1° conde de Atouguia, em Fevereiro de 1452. Nessa data, tudo indica que © casamento de D. Martinho de Ataide com D. Catarina de Castro, ultima filha de D. Fernando de Castro e ento vidva de Alvaro Vaz de Almada, 1° conde de Avranches"™, conhecido apoiante do infante D. Pedro, falecido em Alfarrobeira, jé estivesse preparado*”. 0 enlace com uma Castro, patrocinado por Alvaro Goncalves e D. Guiomar de Castro, sobretudo na conjuntura em que ocorreu, reforca a ideia da dificuldade em encontrar, no mercado matrimonial da época, uma esposa & altura da condigo assumida pelo herdeiro da Casa de Atouguia™ Tendo o casamento sido apoiado por D. Afonso V2" e tendo D. Martinho recebido confirmacao ** 0 qual, a propésito da crise de 1383-85, sofrera de “hia mancido mesturada com muita prodencia ¢ convercagio gracioza’. Cf. Luis Filipe Matanca da Costa Monteiro Pontes, Op. Cit, p. 160. Tal como a define Rita Costa Gomes, “A curializagio a nobreza" in O Tempo de Vasco da Gama, direc¢a0 de Diogo Ramada Curto, Lisboa, CNCDP/Difel, 1998, p. 1182-183, "Cf. Affonso de Dornellas, Op. Cit, vol. p. 117 ™ Assim 0 indica a data do contrato de casamento, 22 de Setembro de 1451, rectficado pela Coroa a 28 de Janeiro de 1452. CL. ANTT, CDAY, lio 12, fl. 7, sl, 281.1482. Sendo esta uma dificuldade habitual pois como relembra Rudolph Braun (Cf. Rudolph Braun, “Staying..”, p. 252), quanto mais elevado é o grau de nobreza, mais difcl se torna encontrar um casamento adequado, °* A este propésito recebera jé D. Martinho uma tenca {de 40 mil reais brancos como parte das 4000 coroas de uro de Franca que D. Afonso V prometera aquando do casamento do fidalgo. Cf. ANTT, CDAY, livro 13, fl. 143, sl, 20.2451, imediata do titulo, doagdes e privilégios da Casa”, tudo aponta para que apesar de ser D. Martinho o titular da Casa, nos anos seguintes, tenha sido D. Guiomar quem a geriu efectivamente. Tal é sugerido por um conjunto de documentos de chancelaria e pelo facto da condessa viva sé ter falecido em 1473. Na realidade, até morrer, D. Guiomar nao sé recebeu diversas confirmacées na qualidade ainda de esposa de Alvaro Goncalves e de mae de D. Martinho", como alcangou da Coroa novas € relevantes doacées: a doacao da Quinta do Ceical e Juncal, junto & Quinta de Arzila, com direito de a transmitir a D. Martinho”, 0 privilégio de coutar as suas terras na Azambuja”, 0 privilégio para os seus besteiros andarem em besta muar’”, a isencdo para os moradores de Cernache ndo servirem de besteiros™, 0 privilégio de colocar coimeiros nas suas terras da Azambuja™ e ainda o privilégio de ser tida por vizinha de Santarém*®, Porém, apenas parte do patriménio de D. Guiomar reverteu para membros da Casa de Atouguia, suspeitando-se, tal como jé apontado anteriormente parao caso Mécia Vasques Coutinho, que o restante tenha integrado 0 patriménio da Casa de Monsanto, sobretudo tendo em conta a auséncia posterior de diversos bens de D. Guiomar no patriménio da Casa de Atouguia. Em causa poderd ter estado 0 facto de D. Guiomar ser, pelo seu nascimento, primordialmente uma Castro e © No documento no qual era confirmado aD. Martinho o titulo de conde de Atouguia, eram-Ihe ainda confirmadas as doagées da Atouguia e do Campo do Lobéo. Cf. ANTT, CDAY, lvro 12, fl. 7, s.1, 14.1452. 5 Da doagio da alcaidaria-mar de Coimbra (Cf. ANTT, CDAY, livre 12, fl. 4, sl, 10.1,1452) e da doagio de Monforte de Rio Livre, do castelo de Vinhais eterras de Vilar Seco de Lomba e Vale de Pacé (CF. dem, livro 12, 4,16, 5, 15.1,1852), Como acarta de coutada ao termo da vila de Cernache (CL ANTT, Misticos, livro 3, s.L, 102, 7.X.1450) e a confirmagao da doagao de Cernache e dos casais de CChanga de Carvalhal (Cf. ANTT, COMI, livo 19, fl. 164, 1., 8X.1455) que recebeu no lugar de D. Martinho "CE. ANTT, COAY, liveo 4, N65, s.L, 18.X.1453. N30 foi possivel apurar a sua localizaglo geogratica, CE ANTT, CDAY, livro 10, f. 98, s., 12.06.1454, Cf ANTT, CDAY,livra 1, 20, .1, 14.1.1464, © Cf. ANTT, COAY, livro 1, fl. 63, s.L, 30.1462. 28 Cf, ANTT, CDAY, livro 8, fl. 60, sl, 1.X.1464 * Cf. ANT, CDAY,livro 38, fl. 34v, si, 121.1467, apenas secundariamente uma Ataide por via do seu casamento. No cernede todas estas doacdes e da sua gestdo, da Casa durante este periodo parecem estar dois factores. Por um lado, 20 partir a infanta D. Leonor para a Alemanha, extinguindo-se concomitantemente 0 seu cargo de aia da mesma, D. Guiomar terd passado a dispor de condi¢des para abandonar a corte, mormente tendo em conta a sua avancade idade eo seu mecenato religioso. Essa safda nao colocava em causa a ligacdo da Casa 8 corte, pois era compensada pela presenga constante de D. Martinho de Ataide. Por outro lado, e apesar de nao marcar presenga fisica na corte, excepto aquando da partida da infanta D. Joana (v. 1439-1475) para se casar com o monarca castelhano Henrique IV (r. 1454-1474) em 1455, D. Guiomar néo perdeu a ligago 20 mundo palatino, devido aos empréstimos que concedia ao Africano. Dos muitos empréstimos que jé antes fizera, em seu nome e no da Casa de Atouguia, 20 infante D. Pedro veio, aliés, a ser devidamente ressarcida com “condicées leoninas", por parte de D. Afonso V e dos herdeiros do infante™, como refere Sousa Viterbo™, Numa segunda vertente, pelo apoio financeiro que D. Guiomar concedeu, em 1452, a fundagdo do que veio a ser o convento de Séo Bernardino da Atouguia"®, entdo conhecido apenas como Oratério da Fontinha, onde fez ** Cf, Rul de Pina, Op. Cit, ol. I, cap. CAV. ™ Em 1454, D. Afonso mandara suspender um processo de quitacao de bens 2 D. Guiomar, ainda ligados com 0 seucargodeaiadainfantaD. Leonor, atendendo aos seus servigos (Ct. ANTT, Livro de Extras, fl. 65y, si, 4.1454) Posteriormente, D, Afonso V voltou a retomar 0 mesmo processo, alegando dividas de D. Guiomar (Cf. ANTT, CCDAY, livro 16, fl. 106, 5, 2.V1.1471) mas mediante a apresentagio de documentos comprovativas de dividas anteriores do rel, D. Guiomar recebeu no mesmo ano 190 mil reais brancos (Cr. Idem, lio 16, fl. 135v, s., 11VIL1471). Desde 1462 recebia ainda um padrio de |uro de 1372 reais brancos devido a dividas antigas do Infante D. Pedro (Cf. Idem, lvro 1, N. 364, s.1, 4.1462). Cf, Sousa Viterbo, "A avé materna de Afonso de Albuquerque (os penhoristas do século XV)" in Archivo Historico Portuguez, vol. 1, n® 12, Dezembro de 1903, pp. 412-413. © Ct Manuel Ferreira da Silva, Os Conventos também ‘se convertem, Lisboa, Edigbes Asa, 1995, p. 28. a sepultar 0 guarda-mor e camareiro-mor do infante D. Pedro, D. Vasco de Vila Lobos". Nesta rea inserem-se ainda as obras que mandou realizar na Graca de Santarém, na qualidade de nica parente viva de D. Pedro de Meneses, 12 conde de Vila Real, de quem era tia, ou ainda 2 relevante fundagdo, devidamente solicitada e autorizada pela Coroa™, do mosteiro franciscano de Xabregas. Estas evidenciam como D. Guiomar provavelmente terd permanecido fora na corte de D. Afonso V. 0 que nao implica, como referido, que nao continuasse a deter uma palavra fundamental nna gestdo da Casa de Atouguia e possivelmente nas negociagées para os consércios dos seus filhos e filhas, como seria de esperar da sua condi¢ao de condessa vitva™. Na realidade, 0 papel de medranca na corte foi desempenhado por D. Martinho de Ataide. Tendo sido, provavelmente apds Alfarrobeira, nomeado por D. Afonso V para mordomo-mor do infante D. Fernando”, D. Martinho surgia, no seguimento do seu consércio com D. Catarina de Castro, e logo em 1451, identificado como conselheiro régio € capitio do mar. Esta referéncia nao se coaduna com a alusdo, no datada, de que teria sido capitéo-mor dos Reinos de Portugal e muito * Cf. tbidem, pp. 36.37. Cf, Maria de Lurdes Rosa, “Entre a corte e 0 ermo: reformismo e radicalismo religiosos (fins do século XIV- século XV)" in Histéria Religiosa de Portugal, direccao de Carlos Moreira de Azevedo, vol. |, coordenagao de ‘Ana Maria C. M. Jorge e Ana Maria S. A. Rodrigues, s., Circulo de Leitores, 2000, p. 492. 4" Para a doacio dos Pacos e horta do Laranjal na vila de Xabregas tendo em vista a fundagio do convento veja-se: ANTT, CDAY,livro 15, 1.16, 5.1, 17.X.1455. Para sustento deste recebeu ainda, em 1463, a doacio de um poco, nora, vinhos e terra (Cf. idem, livro 9 110, iL, 2511463). A inauguragio do convento contou com a presenga do reie da corte (Cf. Sousa Viterbo, “A. 3v6..",p- 411), 8° Também caracteristica da época. Ct. Ricardo Cordoba de la Lave, Isabel Beceira Pita, Op. Cit, pp. 245-246. ™ Desconhece-se a data exacta da nomeagio mas deduz-se que seria apés Alfarrobeira por antes ndo se conhecer interven¢io determinante de D. Martinho, independentemente da influéncia de seu pai, que pudesse justificar a atribuiggo do cargo. Ck. Affonso de Dornellas, Op. Cit, vol. p. 137, CE ANTT, CDAY, livro 12, f. 7, sl, 22.04.1451. 28 luas Casas: em torno dos Ataides & das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira tulos XV-XVI} Uma linhager do Algarve™. A sua nomeacdo para o cargo de mordomo-mor do infante D. Fernando, o qual, relembre-se, foi por esta época, o herdeiro da Coroa, em caso de falecimento de D. Afonso ve, garantiu a Alvaro Gongalves de Ataide a continuidade de servicos da sua linhagem & Coroa. Esta, sempre dificil de assegurar num momento sucess6rio, permitia antever que a capacidade de influéncia da Casa na corte iria manter-se. Na verdade, a nomeacao relembra a do proprio Alvaro Goncalves, em 1438, para aio de D. Afonso V, a qual, como se viu, Ihe permitiu uma ascensdo rapida. Assim, tudo levava a crer que existiriam condi¢des para que 0 mesmo pudesse acontecer com a nomeacao de D. Martinho. Em 1452, assim que recebeu a confirmacao dos bens da Casa e do seu titulo, o novo conde teve que superar uma importante prova. Perante a inesperada partida do infante D. Fernando para Ceuta, onde tencionava ficar como fronteiro, 0 Africano nomeou D. Martinho para convencer © infante a regressar™. O retorno afigurava-se dificil pois D. Fernando ficara desagradado com (© monarca por este se ter recusado a permitir Ihe acompanhar a sua irma, a infanta D. Leonor, quando esta partiu para 2 Alemanha"™. Colocando-se ainda a hipétese, depois nao confirmada, de vir a ser herdeiro de Afonso V de Aragéo (1. 1418-1458)", percebe-se que 0 que estava em jogo na nomeasio de D. Martinho era demasiado importante para que este pudesse concretizar sozinho a misséo. Por este motivo o Africano mandatou também D. Fernando (v. 1403-1478), entdo 4° conde de Arraiolos™* e futuro 2° duque de Braganc: CE Nobreza de Portugal.., vol. I, p. 331. Flea por esclarecer se 0 cargo de capitio-mor, aparentemente, com jurisdig5o em terra, se aplicava igualmente vertente maritima ™ até ao nascimento do principe D. Joo, futuro D. Jodo li,em 1455. ** Cf, Rul de Pina, Op. Cit. vo. I, cap. CX. ** Cf. Sebastiana Pereira Lopes, O Infante D. Fernando € @ nobreza fundisria de Serpa e Moura (1453-1470), dissertagdo de mestrado apresentada 8 Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas da Universidade de Lisboa, 1997, pp. 32-36. °C. Ibidem. ** Cf, Rul de Pina, Op, Cit. vo. I, cap. CX. * Sobre esta figura vela-se o trabalho de Maria Barreto para acompanhar D. Martinho na tentativa, bem-sucedida, de convencer o infante D, Fernando, seu irmo, a regressar. Foi, pois, no seguimento do sucesso dessa importante missdo e ainda no contexto das relevantes mercés que o infante 0. Fernando recebeu de D. Afonso V, aquando do seu regresso”, que D. Martinho, na qualidade de figura destacada da corte do infante™, veio também a receber importantes mercés. Perante 0 precoce falecimento de D. Jodo de Ataide, como mencionado, nomeado Prior do Crato pelo Africano, o rei apoiou a nomeacéo do seu irmao mais novo, D. Vasco de Ataide, para o cargo. Este veio efectivamente a ser Prior do Crato desde 1453”. A relevancia desta nomeago consistia no facto de confirmar, ja depois do falecimento de Alvaro Goncalves, as possibilidades de medranca abertas a O. Martinho e & sua Casa pela continuidade do servigo cortesdo. Nesta sequéncia se integra a isencdo, concedida Casa, dos moradores do concelho de Monforte de Rio Livre irem & guerra, em 1453, e ainda a importante nomeacio, ja referida, para D. Martinho acompanhar a infanta D. Joana a Castela com D. Guiomar™, naquela que foi uma das mais dispendiosas embaixadas do reinado afonsino”*. Ainda esse ano, a presenga de D. Martinho no juramento do principe D. Joo, imediatamente atrés dos Bragancas, D. Afonso (v. 1402-1460), 1# marqués de Valenca, primogénito do 1° duque de Braganca, ¢ seu irmao D. Fernando, 42 conde de Ourém e de D. Fernando de Noronha, 22 conde de Vila Real, quando Divila, D. Fernando |, 2° duque de Braganga: vida e ‘cg politica, dissertago de mestrado apresentada & Faculdade de Ciéncias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, 2008. =* Recebeu o senhorio de Beja, Serpa e Moura que 0 convertiam no maior senhor do Alentejo. Cf. Sebastiana Pereira Lopes, Op. Cit, p. 37, Cf Ibidem, p. 208. CL ANT, COAY,livro 3, N27, S, 14.11L1853. = Cf, ANT, Chancelaria de D. Manuel {CDMI,livro 27, 41,25, si, 7.1453, CE Rui de Pina, Op. Cit, voll, cap. CXXXV. ™ 1355 dobras foi o custo total da embaixada. Cf. Saul Anténio Gomes, Op. Cit, p. 124. ®* Cf. tbidem, p. 101; MH, vo. Xil, doc. 145, conjugado com o facto de ao Prior D. Vasco de Ataide ter sido dada a honra de ser um dos padrinhos do jovem principe” e de levar 0 palio conjuntamente como infante D. Fernando e 0 22 conde de Vila Real’, demonstra bem © estatuto adquirido pelos membros da Casa de Atouguia. Nao apenas como uma das principais Casas da nobreza da época, quase como que umbilicalmente ligada a Casa Real, mas também revelando a profunda ligacao as duas maiores Casas da aristocracia do seu tempo: as de Braganca e de Vila Real Com 0 falecimento de D. Catarina de Castro e no tendo D. Martinho & data herdeiros, o rei apoiou novo enlace do fidalgo, ainda em 1455, A eleita foi D. Filipa de Azevedo, filha de Luis Gongalves Malafaia, rico-homem, conselheiro e vedor da fazenda do rei", A alianca com esta linhagem justificava-se por dois motivos. Por um lado, Luis Gongalves Malafaia havia sido conselheiro, regedor e governador da Casa do infante D. Jo80 desde 1418, 0 qual fora administrador da Ordem de Santiago, tendo o préprio Luis Goncalves pertencido & referida Ordem™, Tratava-se, assim, de efectivar uma alianga com alguém que detinha influéncia numa Ordem Militar alheia & Casa, 0 que combinava bem com a estratégia expansionista e de contactos multifacetados desenvolvida pelo Prior D. Vasco de Ataide & frente da Ordem dos Hospitalarios*, Era ainda uma alianga ® Cf Rul de Pina, Op. Cit, vol Il, cap. XXXV; Damiso de Gils, Crénica do Principe D. Jodo, edico e comentada de Graca Almeida Rodrigues, Lisboa, UNL, 1977, cap. %* Cf. Damigo de Géis, Op. Cit, cap. il; Garcia de Resende, Crénica de D. Jodo II e Miscelénea, edicao fac-similada com prefécio de Joaquim Verissimo Serrio, LUsboa, INCM, 1973, cap. I ® CE Anselmo Braamcamp Freire, Op. Cit, vol. Il, . 277.0 contrato de casamento data de 18 de Abril de 11457, tendo sido aprovado pela Coroa a 27 de Julho de 1469. Cf. CDAY,livro 34, fl. 94, s, 18.V.1487. 2 Cf, Matia Duleina Vieira Coelho de Medeiros, 0 Infonte 0. Jodo (1400-1442). Subsidios para uma biografia, dissertacdo de mestrado apresentada a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, 1999, p. 135, 3 Cf, Paula Maria de Carvalho Pinto Costa, A Ordem Militar do Hospital em Portugal: dos finals da Idade Média @ Modernidade, FundacSo Eugénio de Almeida, Porto, 2000, pp. 210 € seguintes na qual & realcado 0 facto de a ligagdo de D. Vasco e da sua familia & corte ter permitido alcancar importantes privlégios para a 29 com um membro da geracao do 12 conde de ‘Atouguia, contribuindo para reforcar os lacos cortesdos com os membros dessa geracao que to premiada fora na sequéncia de Alfarrobeira. Por outro lado, o casamento do titular da Casa nesta linhagem menos prestigiada, parece encontrar justificagao tendo em conta as dificuldades de financiamento dos elevados dotes das quatros irmas de D. Martinho, cujos relevantes consércios parecem ter ocorrido nas décadas de 1440-50, A irma mais velha, D. Joana de Castro, casou-se ainda na década de 1440% com D. Fernando Coutinho, 42 marechal de Portugal, com descendéncia associada aos condes de Redondo. 14 D. Filipa de Castro consorciou- se, em data incerta”, com D. Jodo de Noronha, “O Velho”, alcaide-mor de Obidos € descendente do influente bispo de Evora e arcebispo de Lisboa, D. Pedro de Noronha (v 1382-1452). D. Mécia de Castro e D. Leonor de Meneses casaram-se ambas, cerca de 1451", Ordem durante 0 reinado afonsino. A esta estratégia de D. Vasco correspondeu, por parte da Coroa, uma intensa politica de concessso de bens a0 fidalgo em diversos locais como Evora (Cf. ANTT, Oana, liveo 3, f. 162, s.L, 10.XI1.1454), Tavira (CK. ANTT, COAY, livro 35, fl, 103v, 5.1, 22.XI.1460), Freixo de Espada-a-Cinta (Cf, Idem, lvro 14,11 107v, 51, 141.1466), Castelo de Vide (CL. Idem, lvro 28, 1. 45v, 8.., 24.1468}, Vimieiro (Cf. Idem, livro 31, f. 24, s., 21.1V.1469), Tentigal (Cf Idem, livro 10, fl 52, si, sd.) e Lisboa (Cf. ANT, Estremadura, livro 7, f. 461v). Para uma andlise das trajectérias das principais familias cortesés nas diferentes Ordens: Cf Anténio Maria Falcio Pestana de Vasconcelos, Nobreza @ Ordens Militares. Relacdes sociais e de poder (Séculos, XIVXW)), dissertacio de doutoramento policopiada apresentada a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 2008, 5 Cf. Genealogia 2: Descendéncia de D. Alvaro de Ataide, 1° conde de Atouguia (Século XV), = possivelmente em 1442 pois nessa data, na qualidade de donzela da Casa Real, recebeu um padrio de 40 mil reais de tenca anual das 3000 coroas de ouro de Franca que @ Coroa prometera pelo seu casamento com D. Fernando Coutinho. Cf. ANTT, CDAY, ivro 23, 1.105, s., 33xi.1482, =" io se Ihe sfo conhecidas mercés na chancelaria de D. Afonso V. 5 Para o caso de D. Mécia de Castro a quem a Corea prometeu 4500 coroas de ouro de Franca pelo casamento, posteriormente pagas através de tenca de 45 mil reais brancos (Cf. ANTT, CDAY, livro 11, f. 8, .l, 12.11.4451), para o de D, Leonor de Meneses uma tenca de 20 mil reais brancos pelas 2000 coroas de 30 Uma linhagem, duas Casas: em torno dos Ataides & das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira tulos XV-XVI} respectivamente, com Fernéo de Sousa Chichorro, 1° senhor de Gouveia e fidalgo da Casa do duque de Braganca, e com Goncalo de Albuquerque, 3 senhor de Vila Verde de Francos, contando-se na sua descendéncia Afonso de Albuquerque, governador da india (1509-1535). Por comparagio com a renovago da anterior alianga com as linhagens dos Coutinhos e dos Sousas’"* e da celebracdo de uma nova alianca coma linhagem dos Noronhas, aparentada com a Casa de Vila Real e com os Albuquerques, hé indicios de que D. Guiomar e D. Martinho terdo decidido sacrificar socialmente 0 casamento do titular da Casa. A contrapartida dessa escolha seria a recepgdo de um elevado dote, © qual ajudaria a mitigar os efeitos financeiros do pagamento dos dotes das irmas de D. Martinho, que Luis Goncalves Malafaia estaria em condigées de oferecer pelo casamento da sua filha, D. Filipa de Azevedo””, com um conde. Para este facto também parece apontar © interesse evidenciado pelo 22 conde de Atouguia, ainda que hipoteticamente aliado com 0 infante D. Henrique, de receber de Henrique IV de Castela as Canérias, por negociacdo durante a embaixada a Castela de 1455", Estas foram posteriormente vendidas a D. Fernando de Noronha, 2° conde de Vila Reale acabaram por integrar 0 patriménio da ouro de Franca prometidas pela Coroa (Ct. Idem, livro 4, fl. 23, 5, Sl 4454), 48 antes D. Leonor usufruira ide uma carta de coutada a um balrro que possula junto do Pago de Santarém da sua mle (CF. Idem, livro 20, fl. 11v, 17.IX.1440), sendo, em 1475, identificada como donzela do infante cujo nome no é referido, ¢ auferindo 30 mil reais de tenga (Cf. Idem, livro 30, f. 146, 5.1, 31.1.1475). = Esta ultima com o objectivo de reforgar 05 elos ctiados no periodo da expatriagdo durante o inicio do reinado de 0. Jodo 1. Ct. Alexandra Peldcia, Martim Afonso de Souso ea sua linhagem: trajectérios de uma elite no Império de D. J0a0 Ill ede D. Sebastiao, Lisboa, CHAM, 2009, p. 106. 2% Cuja importincia para a nobreza quatrocentista & bem conhecida (Cf. Ricardo Cordoba de la Lave, Isabel Beceira Pita, Op. Cit, pp. 188 © seguintes), deseonhecendo-se 0 valor de dote de D. Filipa 2 Cf, Peter Russell, Henrique, O Novegador, Lisboa, Livras Horizonte, 2004, pp, 259-260. Recebidas em 1455 (CI. MH, vol. XIV, doc. 328), sendo Casa de Viseu, quando foram adquiridas pelo infante D. Fernando em 1466-67". Em causa tera estado um renovado interesse, devido a dificuldades financeiras, pelos proventos econémicos que a Expansio poderia induzir, e que a Casa jé evidenciara em 1447. 4, Tenses familiares e declinio da Casa: 0 legado de D. Martinho (1470-1498) Nos anos seguintes, até ao falecimento do infante D. Fernando, em 1470, D. Martinho teré permanecido na corte, embora tudo aponte para um crescente distanciamento em relacdo a D. Afonso V visto que, na sequéncia da embaixada de 1455, apenas é anotada a presenca do 22 conde de Atouguia ao lado do monarca por ocasiéo da fracassada jornada de Tanger e do subsequente encontro do Africana comomonarcacastelhanoem Gibraltar,durante (ano de 1463”. As dificuldades financeiras da Casa ja evidentes a propésito dos casamentos das irmas de D. Martinho tinham esbocado ja uma tendéncia para um crescente declinio financeiro da Casa. Este tornou-se mais visivel ‘em 1470 quando o assentamento da Casa de Atouguia, de 102 mil reais anuais, passou a ser inferior ao das Casas de Marialva (Coutinhos), Monsanto (Castros) e Atalaia (Melos), todas linhagens directamente ligadas aos Ataides da Atouguia. Esta situacdo tornou-se ainda mais visivel com a nova vaga de titulagées afonsinas da década de 1470, ocasionada pela guerra luso-castelhana de 1475-1479, visto as mercés recebidas por D. Martinho nesta fase serem de pouco relevo quando comparadas com as que recebera até entéo”. vendidas em 1463. 2° Cf, Joo Paulo Oliveira e Costa, D. Manuel. p. 3. =! Cf. Rui de Pina, Op. Cit, vol. Il, cap. CLV. Ha possibidade de ter estado em Africa em 1459 (Cf. Abel dos Santos Cruz, Op. Cit, p. 217) 22 Cf, Saul Anténio Gomes, Op. Cit, p. 133. 8 As principais mercés de D. Martinho datam da década de 1460 e foram as seguintes: a doacio do servico velho e novos dos judeus de Castelo Branco (Cf. ANTT, CDAY, livro 8, fl. 137, siL, BV11464), 0 direito do seu primogénito, D. Jodo de Ataide, herdar a Atouguia e seu termo (Cf. ANTT, Misticos, lvro 3, fl. 187), autorizagso ‘gia para construir um castelo em Vinhais (Cf. ANTT, CCDAY, livro 28, fl. 47v.), € as confirmagies das doacbes, de Cernache, casal de Changa e Carvalhal (Cf. idem, livro Apesar de D. Martinho e D. Vasco de Ataide terem marcado presenca na assinatura do contrato nupcial de D. Afonso V com D. Joana, “A Beltraneja” (v. 1462-1530), que espoletou a referida guerra de sucesso a Henrique WV de Castela, e de D. Martinho ter estado presente, depois da abdicacao de D. Afonso V, no juramento do principe D. Afonso como herdeiro do Reino, em 1476, ou até de D. Vasco ter participado na batalha de Toro a0 lado monarca** e por este ter sido encarregue de preparar a armada com que se deslocaria a Franga”, tudo indicia que ao declinio financeiro da Casa, tenha vindo a associar-se um certo declinio da sua influéncia politica Este teré sido assaz acentuado a partir do falecimento do infante D. Fernando, em 1470, e nem a influéncia atestada de D. Vasco de Ataide junto de D. Afonso V e de D. Jodo 1, parece ter sido capaz de o inverter. Nao sendo conhecida nova nomeago para D. Martinho na sequéncia daquele falecimento e, sobretudo, tendo em conta a trajectéria ascensional de seu irmao D. Alvaro de Ataide, pai de D. Anténio de Ataide (v. 1500-1563), 12 conde da Castanheira, tudo indica que © processo de espartilho interno da Casa de Atouguia se tenha acentuado extraordinariamente durante esta década Tal & confirmado pelo protagonismo de D. Alvaro de Ataide junto de D. Afonso V na década de 1470, 0 qual decorreu exactamente quando a _influéncia_do_titular_da_Casa_comecava 28, fl. 65v, s.L, 23.VIL1468) ¢ da Quinta do Judeu (Cf. Idem, livro 31, f. 26, si, 2611868). Para a década de 1470 apenas se conhece o privilégio para confirmar Juizes na Atouguia (Cf. ANTT, Misticos, livro 3, f. 258, SL, 22.XIL1473) e um alvaré para poder recrutar mio. de-obra para a construsso do castelo de Vinhais (Cf. ANTT, Chancelaria de D. Jodo 1! [CII livro 18, fl. 33, si, 27.1L1878), BCE Saul Anténio Gomes, Op. Cit, p. 200. = Cf. Humberto Baquero Moreno, A Batalho de Alfarrobeira.., ol. !i, . 728, Ct, Dito... p. 197. ) Cf, Paula Maria de Carvalho Pinto Costa, Op. Cit. 218 28 Como anota Paula Maria de Carvalho Pinto Costa, a capacidade de 0. Vasco de Ataide inflectir decis6es desfavordveis 20 futuro da Ordem acentuou-se com a realeza de D. Jo30 I, nem para isso valendo o facto de D. asco ser padrinho do rei (Cf. Ibidem, p. 223) 31 ‘a esmorecer. Importa por isso analisar 0 processo de ascensdo social e as ambi¢es de D. Alvaro de Ataide, que acabaram por 0 colocar em concorréncia com o seu irmao 2° conde de Atouguia Casado, em 1455*, com D. Leonor de Melo, filha de D. Pedro de Melo, 1° conde de Atalaia, e na qualidade de quarto filho de Alvaro Gongalves de Ataide e de D. Guiomar de Castro, D. Alvaro de Ataide iniciou a sua carteira de servigo ao Africano com a participacao na conquista de Alcécer-Ceguer, em 1457* e, posteriormente, na ida a Tanger, em 1461", Fruto desses servicos, o monarca concedeu-the, em Fevereiro de 1464, carta de moradia que comegou a ser paga no ano seguinte™. Através do importante casamento que realizara na linhagem dos Melos, D. Alvaro ganhou acesso a um importante dote da Casa da Atalaia que Ihe permitiu complementar a sua medranca cortesd com investimento em terras™®, rendas™ e negdcios”®. Foi em 1476, no exacto momento em que D. Alvaro regressava da sua fracassada_ embaixada a Franca, ordenada por D. Afonso V na tentativa de convencer Luis XI (r. 1461-1483) a intervir na guerra luso-castelhana com o pretexto do condado do Rossilhdo em disputa com Aragéo””, da sua participacgo na batalha de Toro™* e da posterior partida do seu herdeiro D. Pedro de Ataide com D. Afonso V para Franca, que o fidalgo viu confirmado 0 seu direito a herdar a Casa da Atalaia™. 2° Cf, ANTT, COAY,livro 15, fl 33x, SA, 2.IVA45S. 2 Cf, Abel dos Santos Cruz, Op. Cit, p. 188. Cf. Ibidem, p. 210. 28 Cf. ANT, CDAY, livre 8, f. 164, 6, 71.1468. ® Assim trocou com o irmao D. Martinho certos casais, fem Vasqueiras, termo de Santarém, pela Quinta do Judeu (Cf. ANTT, CDAY, liveo 34, fl. 75, 16MI.1468), 2 Solicitando ao rei arrendamento das suas rendas (Cf. ANTT, COAY, lvro 30, fl. 133, s., 7.1875) 3 Investindo no negécio dos couros e alcancando para tal autorizagio de D. Afonso V. Cf. ANTT, CDAY,livra 20, 4,140, 5, 1475? Cf, Rui de Pina, Op. Cit, vol Il, cap. CXCIIL ® Cf, Damido de Géis, Op. Cit, cap. xIvil 8 Cf Saul Anténio Gomes, Op. Ct. p. 218. 2 CE Rui de Pina, Op. Cit, vol. Il, cap. CLXIV; GOMES, Saul Anténio, Op. Cit, p. 219. B® CE ANTT, Estremadura, lio 2, fl. 47, .L, 24.1V.1476, 32 luas Casas: em torno dos Ataides & das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira tulos XV-XVI} Uma linhager Tal sucedeu no contexto dos problemas mentais do herdeiro de D. Pedro de Melo que implicaram a sua inabilidade juridica e devido a0 facto deste ter doado a Casa a D. Leonor de Melo® e, por conseguinte, também a D. Alvaro de Ataide por ser seu marido, abrindo um processo que terminou na plena posse por D. Alvaro de todos os bens da Casa da Atalaia, © qual se encerrou plenamente em 1481%, J8 antes, em 1480, D. Afonso V concedera a D, Alvaro uma tenga de 100 mil reais brancos por no o ter provide como regedor da Casa do Civel como Ihe prometera™’. No contexto do crescente declinio da influéncia politica e financeira da Casa de Atouguia no seio da corte e nobreza do seu tempo, e utilizando eficazmente o seu parentesco como membro desta Casa, D. Alvaro de Ataide criou condigées para formar uma nova Casa, a qual, pelas ambigdes evidenciadas pelo préprio de se pretender assenhorear de uma Casa com rendimentos superiores & Casa de Atouguia, no poderia deixar de nascer em processo de cis8o com a sua Casa de origem. Sob o prisma de D. Alvaro, a efectivacao do corte estava j8 realizada, faltando apenas recuperar o elemento decisive do qual o fidalgo nao fora capaz de se apropriar: 0 titulo condal da Casa da Atalaia, que o colocaria, inclusivamente, no interior da nobreza titulada, numa posicgo, de superioridade face & Casa de Atouguia. Esta situaggo explica 0 motivo pelo qual D. Martinho de Ataide e a sua esposa D. Filipa de Azevedo, bem como os seus filhos D. Jodo de Ataide e D. Isabel da Silva, ndo tenham alinhado nas conjuras de 1483 contra D. Jodo II (c, 1481-1495), 20 contrério do que sucedeu com D. Alvaro de Ataide e 0 seu herdeiro D. Pedro de Ataide. Apesar de jé se ter anotado ® Cf lbidem; Maria Paula Carvalho, Op. Cit, p. 17. 2 Primeiro através da abdicagio de 0. Maria de Noronha, condessa de Atalaa, dos direitos de sucessao fem D. Leonor de Melo e D. Alvaro de Ataide (Cf. ANTT, Estremadura, livro 7, fl. 16, 5.1, 10.1.1482) € depois com 0 aval régio para o casal ficar em posse dos bens a Casa (Ct. ANTT, CDAY, livro 26, fl. 35y, s, 911.1481) Aparentemente, devido & inabilidade do herdeiro do conde D. Pedro de Melo, D. Afonso V jé prometera tal 20 fidalgo anteriormente (Cf. ANTT, CSV, livro 32, fl. 1. CCE ANTT, COAY, liveo 32, fl 44v, s., 14.11.1480. contactos anteriores de D. Martinho de Ataide com a Casa de Braganca’, e mesmo de, em 1483, ter enviado uma carta ao duque de Braganca™, quelxando-se da morosidade do processo de casamento do seu herdeiro, néo foi encontrada qualquer prova incriminatéria de D. Martinho nas conjuras de 1483-84 Na verdade, a politica de controlo da nobreza seguida por D. Jodo Il, desde 0 inicio do seu reinado, ameacava mais as pretensbes de D. Alvaro ao titulo condal do que as do jé conde D. Martinho, como alis ressalta das confirmag6es joaninas a este ultimo”. Para confirmar socialmente a sua emancipacao da Casa de Atouguia, D. Alvaro necessitava de recuperar 0 titulo de conde da Atalaia, o que © tornou préximo do duque D. Diogo, a quem procurou, conjuntamente com o seu herdeiro D. Pedro, convencer & conjura contra D. Jogo Il que mais dificilmente Ihe daria aquele titulo”. Segundo uma das versdes, os preparativos de D. Alvaro chegaram ao ponto de ter preparada D. Joana, “A Beltraneja” e de manter os Reis Catélicos informados, na eventualidade do que sucedesse com a conjura™®. A influéncia de D. Alvaro naqueles anos veio aliés a ser apesar de ter sido interceptada uma carta do duque de Braganca a D, Martinho relativa as tercarias de Moura. Cf. Mafalda Soares da Cunha, Linhagem.... P 168. 8 A referida carta ao duque de Braganca encontra:se fem BA, cod. S0-V-22, 1, 417. = Ngo foi encontrado qualquer documento (Cf. BNP, cod. 7638 ou em BPE, cod. Cl/2-20) nem existe referéncia a tal (Cf. Humberto Baquero Moreno, “A conspiracio contra O. Jofo Il: 0 julgamento do duque de Braganca’ in Arquivos do Centro Cultural Portugués, vol. Il, FCG, 1970, pp. 47-103). 0 ‘titulo de conde e a doacdo da Atouguia foram confirmadas ainda antes das conjuras (Cf. ANTT, COU! lio 7, fl. 74, s.., 31.V.1482), sendo as restantes que se conhecem posteriores como € 0 caso do privilégio ‘a0 concelho de Monforte de Rio Livte (Cf. ANTT, COM, livro 27, fl. 25), da doagio de Monforte de Rio Livre e Vinhais e das terras de Vilar Seco de Lomba e Vale de Page (Cf. ANTT, Além-Douro, lio 1, fl. 4, si, 9V.1487), dda doagie do Campo do Lobso (Ct. ANTT, COMI, livro 30, 1.33, s.L, 9.V.1487) e do alvard para seu filho herdar 8 vila de Atouguia (Cf. ANTT, Mistcos, livro 3, fl, 187, 25M1.1487), “Cf. Garcia de Resende, Op. Cit, cap. Li 2 CE. Rui de Pina, Cronica de D. Jodo Il, comentirio de Luis de Albuquerque, Lisboa, Publicagdes Alfa, 1989, cap. Xvill reconhecida por D. Joo Il ja depois da sua fuga, anos mais tarde, quando em conversa com amigos 8 mesa, teré afirmado que D. Alvaro era “muy principal sempre nos taes dias leuaua os Reys pollas redeas, e era to sabedor, cortesao, gracioso, que elle por si fazia festa”™. Jé D. Martinho tinha em méos um outro problema mais grave: 0 desentendimento com o herdeiro D. Jodo de Ataide. Moco-fidalgo de D. Afonso V com 2600 reis de moradia desde 1469", D. Joo de Ataide, provavelmente fruto da influéncia do reformismo religioso da av6 D. Guiomar de Castro, e possivelmente por ter assistido a0 momento do ingresso da infanta D. Joana (v, 1452-1490) no mosteiro de Aveiro, em 1469”, quis abandonar a vida secular e seguir vida religiosa, tomando voto de novico aos 16 anos", Mercé da situacao familiar descrita e devido ao facto de D. Jodo ser 0 inico filho vardo de D. Martinho, este e a sua esposa, vendo ameacada a sucesso da sua Casa, forcaram-no a abandonar a condi¢o clerical. Comegaram por casé-lo, em nova alianga cortesa, em 1481, com D. Violante de Castelo Branco, filha de D. Goncalo de Castelo Branco, primeiro governador da Casa do Civel™ eiirmé de D. Martinho de Castelo Branco, futuro 12 conde de Vila Nova de Portimo. J4 perante © precoce falecimento de D. Violante, D. Joo de Ataide casou com D. Brites da Silva, filha do 1° conde de Penela** e camareira-mor da infanta D. Joana, de quem teve finalmente a sucesso desejada””: D. Afonso de Ataide, D. Ct, Garcia de Resende, Op. Cit, cap. LVI, pp. 87-88. ® Trata-se da primeira referéncia conhecida enquanto fio do 2° conde de Atouguia, Cf. Provas, tomo I, parte |, p.51. "Bor este ter sido presenciado por todos os ttulares da corte. Cf, Joio Goncalves Gaspar, A Princesa Santa Joona e a sua fpoca (1452-1490), Aveiro, Camara “Municipal de Aveiro, 1981, p. 94 ©) Ch. Fernando da Soledade, Histérla Serdfica Cronolégica da Ordem de Séo Francisco, Parte 1, livro |, cap. XVI, Lisboa, Oficina Anténio Pedrozo Gabram, 1736. ® CI, Crist6vdo Aldo Moraes, Op. Cit, vol. V, p. 281; Felgueiras Gayo, Nobiliério de familias de Portugal, vol. |, Braga, edicio de Carvalhos de Basto, 1992, p. 504. ® Cf. Nobreza de Portugal.., vo. I, 9. 331 ®* Cf Saul Anténio Gomes, Op. Cit, p. 242. Cf Genealogia 3: Descendéncia de D. Alvaro de Ataide e D. Martinho de Ataide, 1° e 2° condes de 33 Jorge de Ataide, D. Isabel da Silva de Ataide e D. Brites da Silva, Possivelmente na sequéncia da concretizacao do seu primeiro casamento, D. Jodo de Ataide recusara a oferta de D. Jodo Il para ser regedor da Casa da Suplicacdo, por falecimento de Fern da Silva‘, “sendo dom loam homem, mancebo", acrescentando 0 cronista Garcia de Resende, que o conheceu pessoalmente, que “apertando elRey com elle muytas vezes que 0 fosse, nuncao quis aceitar”™”. D.Jo30 de Ataide apenas aceitou a nomeaco, em 1487, para, no ataque a Anafé, ser sucessor do comandante indigitado pelo rei, D. Diogo Fernandes de Almeida, caso este falecesse”, existindo ainda noticia de que teria combatide em Arzila, em data incerta, com D. Jogo de Meneses, futuro 12 conde de Tarouca e sucessor de Almeida no Priorado do Crato* ‘Apesar dos contactos que realizou em favor da Casa propiciados pelos casamentos, por imposic3o de seus pais, e recusando sempre interceder por quem quer que fosse, D. Jo30 de Ataide permaneceu fiel & sua deciséo de seguir vida religiosa e, mesmo casado, era conhecido por parecer mais frade do que homem casado e com filhos™. A sua opcio justifica ainda diversos milagres que Ihe sé0 atribuidos, bem como 0 facto de ter sido 0 nico capaz de consolar D. Jo8o II, aquando do falecimento do principe herdeiro D. Afonso {v. 1475-1491), uma vez que “El Rey D. Joo Il que era grande venerador da virtude, © estimava com particulares honras, & muyto estreyta familiaridade”™. Quando o fidalgo ‘Atouguia ~ Divisso das Casas de Atouguia e Castanheira (Séculos xv-xv). 8 Cf Affonso de Dornellas, Op. Cit, vol. |, p. 117; bistéria Genealégica, tomo Xi, parte | . 13. "Cf. Garcia de Resende, Op. Cit, cap. CLXXVIll, p. 253, © Cf Rul de Pina, Op. Cit, cap. XXVIL ™ Cf. Frei Jerénimo Belém, Chronica Serafica da Santa Provincia dos Algarves, Lisboa, Mosteiro de S. Vicente de Fora, 1753, parte lio VI, cap. XXV * CI. Fernando da Soledade, Op. Cit., parte I, livro |, cap. XVI = Proferindo a célebre frase: “Console-se V, Magestade com a vontade de Deos, que tudo faz por melhor”. Cf Frei erénimo Belém, Op. Cit, livro VI, cap. XXV, p. 89. Cf Fernando da Soledade, Op. Cit., parte I, lvro |, cap. XVI, p. 58. 34 Uma linhagem, duas Casas: em torno dos Ataides & das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira tulos XV-XVI} decidiu, j4 depois de assegurada a sucesso na Casa de Atouguia, partir para Castela para tomar novos votos eclesidsticos e no mais voltar, foi D. Jodo II quem o fez regressar** Como bem relembra Maria de Lurdes Rosa, D. Jodo de Ataide, @ par com a infanta D. Joana, parece ter sido uma referéncia moral numa corte saturada de palacianismo™ e de uma moda europeia, com expresséo também em Portugal, de “retiro de corte” e titulares devotos em final de vida®®. Nesse sentido se compreendem os versos dedicados a D. Joo por Garcia de Resende “Para que se algum cuide de via gloria, se ha tem, Lembre Ihe que vimos bem a frey loam Datayde mais humilde que ninguem: que viueo tam sanctamente, que era julgado da gente sendo cortesam por sancto: fez se frade, foy 0 tanto que fez milagre euidente, Deixou Conde Datouguia, endo quis ser Regedor, deixou rendas, fidalguia, honras, privanca, valia, por seruir nosso Senhor; e quem bem quiser olhar, he muyto pouco deixar por Deos quato ca se alcaca, pois a bem auenturanga com isso pode alcangar”. Sendo no raras vezes caracteristico da nobreza, 0 conflito entre pai e filho, a ™ Escrevendo aos Reis Catélicos a solictar seu regresso. Cf. Ibidem. Cf, Maria de Lurdes Rosa, “Entre a corte e o ermo..", p.94. * Cf, Joaquim Romero Magalhies, “A Sociedade” in Histéria de Portugal. No Alvorecer da Modernidade (1480-1620), vol. Il, direcgio de José Mattoso e coordenagio de Joaquim Romero de Magalhies, 5.4, Circulo de Leitores, 1993, p. 493. Cf, Garcia de Resende, Op. Ct, p. 264. propésito dos casamentos™ e da importancia das negociagdes matrimoniais™, & importante salientar as implicagées que o conflito entre D. Joo de Atafde e D. Martinho teve, ainda durante o reinado de D. Joo II, para 0 futuro da Casa de Atouguia, sobretudo tendo em conta que ndo se conhece caso com contornos semelhantes na mesma época. Ao recusar- se a assegurar a sucesso, a interceder pelos seus préximos e negar a importante nomeacéo régia para a Casa da Suplicagdo, apesar das mercés que recebeu de D. Jodo IF”, D. Jo30 interrompeu o elo de ligac3o, fundamental na légica da nobreza de elite cortesé””, que a Casa desde 0 inicio cultivara com a corte. Se, como se demonstrou, esse elo jé vinha assistindo a um processo de erosdo, este sofreu uma clara acelerago em funcdo do conflito familiar entre D. Joao e seus pais Tendo D. Martinho permanecido fora da corte joanina até pelo menos 1487”, tudo aponta para que tenha depositado as suas esperancas em D. Afonso de Ataide, que recusou os apelos do seu pai para seguir a vida religiosa’”. 9 Cf. Michel Nassiet, Parenté, Noblesse et Etats Dynastiques. XV-XVI siécles, Paris, Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, 2000, p. 150. 2, Ricardo Cordoba de la lave, Isabel Beceira Pita, Op. it, p. 129. ™ Recebera uma tenga de 5000 reais em 1486 em atengdo aos seus servigos e condicio de herdeiro da Casa de Atouguia (Cf. ANTT, Cll, livro 19, fl. 14M, SLL, 6.X11486) ¢ alguns bens e rendas doados por 0. Martinho e confirmados pela Coroa como uma tenga de 62 864 paga a partir dos rendimentos de Monforte de Rio Livre (Ck. Idem, lwro 18, fl 42, 26.1N.1487), os direitos da judiaria de Castelo Branco (Cf. Idem, livro 14, fl. 6, sil, 5.1488). Do rei recebera ainda a doacio de casas em Vinhais (ANTT, Além-Douro, livro 3, M1 146, 5, 1VL.1489), patrocinio para o seu segundo ccasamento com D. Beatriz daSilva, financiando a Coroa as 2762 coroas de arras que D. Martinho deveria pagar 20 conde de Penela (Ct. ANTT, CDUI ivro 17, f1. 4S, 5. 22.I1,1490) e ainda carta de privilégio para seus caseiros ecriados (Cf. Idem, livo 7, fl. 119, si, 22-X1.1491). ® Wolfgang Reinhard, "Power Elites, State Servants, Ruling Classes, and the Growth of State Power” in Power Elites and State Building, edigko de Wolfgang Reinhard, s.d, Clarendon Press, 1996, pp. 1-18. 5 Devido as obras no no castelo da Atouguia (Cf. Anselmo Braancamp Freire, Op. Cit, vol. Il, p. 276) mas no de Vinhais. © Ch Frei Jerénimo Belém, Op. Cit, parte Il, livro VI, ap. XXV que conta como andando um dia D. Afonso Fenémeno contrério sucedeu com a irma de D. Afonso, D. Isabel da Silva e Atafde, que, ao tencionar seguir a vida religiosa que seu pai também the inculcara®, como relata a sua avé%”, deverd ter contado ndo sé com a oposigo do irmao, mas também com a recusa de D. Martinho. Mesmo depois de adiado o “problema” de D. Alvaro de Ataide com a sua fuga, a morte do seu herdeiro ea entrega dos bens da sua Casa a D, Leonor de Noronha, em 14867”, o problema de fundo para a Casa de Atouguia, isto 6, a retoma do servico cortesdo e da ligacao directa a0 rei, mantinha-se. Esse problema agravou-se ainda mais quando se iniciou o reinado de D. Manuel |, em 1495: D. Martinho, pouco antes de falecer, 0 que ocorreu em 1498”, perdeu or completo 0 ja fraco elo de liga¢do a Casa Real e & figura régia. N3o s6 D. Martinho no transitara, aquando do falecimento do infante D. Fernando, para o servigo dos infantes seus filhos, 0 que confirmado pelo facto de nunca surgir nas listas de servidores de D. Manuel no tempo em que ainda no era rei”, como, ainda antes de falecer, deve ter tomado conhecimento da inten¢o manuelina de reabilitar D. Alvaro de Ataide™. A esse cendrio acresceu o de uma Casa que no recebera novas mercés durante o reinado de D. Joo le na qual existia uma disputa interna que enfraquecera, aos olhos da Coroa e de toda a corte, 0 seu estatuto politico e social de Ataide em Lisboa de charrete ¢ tendo encontrado © seu pai, vestido de mendigo na rua, o mandou 0 chamar para o levar consigo na charrete. Tendo D. Jo30 recusado a proposta do filho, este, 20 passar pelo pai na rua, ignorou-o ostensivamente. Cf Ibidem, "Ch. Carta de D. Brites da Silva a D. Joo Il, sl, 30VI.1495 — ANTT, Cartas dos Governadores de Africa, 1 371, D. Bites da Silva era condessa de Penela, Como o indica a ordem de O. Jodo Il. CE. ANTT, Corpo Cronolégico \-1-36, 5, 30.1.1486. Cf, Anselmo Braamcamp Freire, Op. Cit, vol. Il. 217; Mario Baptista Pereira, Atouguia da Baleia. Seus Forais, seus termos -lembrando 0 passado, Atouguia, Junta de Freguesia, 2006, p. 98, 5 Cf, COSTA, Jo¥o Paulo Oliveira e, Op. Cit, p. 4. 2m Visto a carta de D. Manuel a D. Alvaro datar de Maio de 1498, Cf. Carta de 0. Manuel | aD. Alvaro de Ataide, Setubal, 18.1498 - ANTT, Manuscritos da Livraria, n@ 15, 1. 326. Conclusio Sob 0 espartilho da ascensdo de D. Alvaro de Ataide e dos conflitos com D. Joao de Ataide, preparava-se para 2 Casa de Atouguia um cenério semelhante ao que veio a verificar- se com a Casa de Vila Real no inicio do reinado manuelino. Se neste ultimo caso a restauracdo plena dos Bragancas acarretou 0 fim da expectativa de se manter como 0 maior representante da Portuguesa, como acontecera durante parte do reinado joanino™, no caso da Casa da Atouguia, 0 novo reinado prefigurava o que parecia ser aristocracia uma inevitabilidade: a perda do titulo condal como reflexo da fraca ligacdo ao rei e & corte, dos conflitos intestinos e do declinio financeiro da Casa. Este desenlace, no que ao condado de O. Martinho diz respeito, € de alguma forma surpreendente tendo em conta 0 contexto em que assumira a Casa de Atouguia e que néo fazia, & data, prever que tal pudesse ocorrer. Tal encontra-se directamente relacionado com a carreira bem-sucedida de Alvaro Goncalves de Ataide mas também com a estratégia seguida por D. Martinho de Ataide até 1470. No entanto, a emergéncia simultanea das ambigdes de D. Alvaro de Ataide e do conflito com 0 herdeiro D. Jodo de Ataide, quando conjugados com a mudanca de reinado, criaram um contexto mais dificil a D. Martinho. Mesmo apés a conjura de D. Alvaro de Ataide, © enfraquecimento politico e social da Casa de Atouguia devido ao conflito com D. Joo de Ataide, foi uma realidade que D. Martinho no conseguiu inflectir até ao seu falecimento. Este, naturalmente ameacou a manutencao do titulo condal, sobretudo a partir do momento ‘em que D. Manuel | autorizou o regresso de * Cf, Nuno Vila-Santa, O. Afonso de Noronha, vice-rei da India: Perspectivas Politicos do Reino e do Império em meados de Quinhentos, Lisboa, CHAM, 2031, p. 24 36 luas Casas: em torno dos Ataides & das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira tulos XV-XVI} Uma linhager D. Alvaro de Ataide, legitimando assim as suas ambigdes a alcancar um titulo para a sua Casa Foi, precisamente, contra a concretizagio da inevitabilidade de perda definitiva do titulo condal que D. Afonso de Ataide, 3° senhor da Casa de Atouguia (1498-1555), lutou durante 05 reinados de D. Manuel | (r. 1495-1521) e de D. Joo Il (r. 1521-1557), defrontando-se com as consequéncias da derrota dos planos do seu avd D. Martinho. Para tal, D. Afonso de Atafde teve também, como o av6, de sacrificar socialmente 0 seu casamento de forma a gerantir uma melhor situac3o financeira da sua Casa que Ihe permitisse sustentar @ sua vasta descendéncia. Sé em momento posterior e coincidindo com a titulago, por D. Jodo Il, de D. Anténio de Atafde, em 1532, como 1° conde da Castanheira, teve condigdes para colocar os seus descendentes ao servico da Coroa®, Porém, & data da titulacéo do seu primo D. Anténio de Ataide, D. Afonso de Ataide jé perdera as hipéteses de recuperar © titulo para a sua Casa na sua figura, tendo presente a politica joanina de titulagdes™. Dessa forma, D. Afonso de Ataide foi a partir de entéo forcado a apostar numa recuperacdo do mesmo pelos seus descendentes. Em todo 0 caso, foi este contexto particular na CasadeAtouguiaque criouamargemnecesséria para que as circunstdncias particulares da ascensdo cortesi de D. Anténio de Ataide, Pudessem redundar naquilo que seu pai, D. Alvaro de Ataide, no alcangara em vida: a concesséo de um titulo condal. Sucedeu, entao © paradoxo de a representacdo da linhagem 2% Sobre a estratégia seguida por O. Afonso de Ataide durante os reinados de O. Manuel | D. odo Ill veja-se Nuno Vila-Santa, Entre o Reino... p. 49 e seguintes ® Cf, Jean Aubin, ela noblesse titrée sous D. Jodo Ii. Inflation ou fermeture?», in Le latin et Fastrolabe. Recherches sur le Portugal de la Renaissance, son expansion en Asie et ls relationsinternationeles, vol. |, Paris, Centre Culturel Calouste Gulbenkian, 1996, 371- 383 dos Ataides continuar a pertencer 3 Casa de ‘Atouguia, apesar da figura mais destacada da linhagem ser inequivocamente o favorito de D. Jo&0 Ill Apenas o falecimento deste em 1563 & © consequente enfraquecimento da influéncia social e politica da Casa da Castanheira junto da Coroa a partir de entdo, assim como a trajectéria social com dificil paralelo no século XVI de D. Luis de Atafde, herdeiro de D. Afonso de Ataide, permitiu que 2 Casa de Atouguia recuperasse © titulo perdido, em 1498. Tal recuperacao ocorreu em 1577 num, contexto bem distinto do anterior e préximo da ocorréncia da batalha de Alcécer-Quibir, quando D. Sebastido (r. 1557-1578) restaurou em D. Luis de Ataide o titulo de 32 conde de Atouguia. a7 38 ISTORICA Uma linhagem, duas Casas: em torno dos Ataides e das origens das Casas da Atouguia e da Castanheira los XV-XVI Genealogia 1: Ascendéncia e descendéncia dos Ataides (Séculos XIVXV) Gil Teresa Martins vasques Resende D. Mécia Martin Nuno Vasques | Goncalves Gonealves cousnho, | deAfaide, de ataide, irmedo’ | alcaide-mor Senhor ce marechal | ‘dechaves Gai80G. Gongalves Vasgues Coutinho | 1 Descendéncia I em Nuno Fernandes b——O de Ataide, Vasco -—,Catarna—Avaro 0, Guomar «RYO. Femandes deAtaide. © Gonaives. de Castro, de Ataide, $6. deffaide, Irma de D Governadér Governadr Fernando de da casa do dacasado Castro, aia Infante D, Infante D. dos intantes Henrique Pedro, aio dee da Infanta + Ceuta Vais D:AfonsoV “5. Leonor ei®Conde ¢.G. (21473) de Atouguia ver (?-1452)__genealogia 2) 0, Fernando | 0.\sabelde —_, Pedro Vaz | 0. Helena de Goncalo | 0. Filipa de deCastro, | Ataide dacunha, | Ataide ‘Anes. | Atside, dama 48 senhor senhor 6 Chicharro, | ‘da Rainha D. do Paul de ‘Angele 3°senhor de | °° Filpa Boquilobo e Mortagua Governador da casa do Infante D. Descendéncia Descendéncia Hsnnque associada a ‘associads @ 1 Lopo de 3 Sancho Albuquerque, de Noronha, iwednde de {8 conde de casa de Penamacor Odemira Monsanto Genealogia 2: Descendéncia de D. Alvaro de Ataide, 1° conde de Atouguia (Século XV) D, Alvaro de Ataide, 1° Conde de Atouguia (?-1452) D. Guiomar de Costro, (O-1473) =I—O D.Pedrode Gil Vasques, D.Martinho _D.Cataring_D. Jodo D. Vasco de Ataide, ilegitimo deAtzide, de Castro, ul-Ataide, Prior Ataide, Prior ilegitima, Governaddr timafilhade —do.Crato do Crato abade dé daCasado —_D. Fernando SG. 5.6. Penalva Infante D. de (71483) (2"i483) Fernando, capitgo das gales de Portugal e 2° conde de ‘Atouguia (7-148) D.Alvarode | D.Leonor —D.Fernando | D.Joanade —D. Jodo.de —_—.Filipa de Ataide, deMelo, Coutinho, 4° | Castro Noronha, Castro senhorda | herdeirado —marechal de “O Velho", Castanheira, | 1 condede "Portugal alcaige-mér ‘ovos.e Realaia de Obidos, Cheleiros descendente ep Pedro e Noronha, Condes de arcebispo dé Redondo Lisboa C. G D.Pedrode 0. Alvaro de Ataid Ataide +'Setubal 5.6. COD i O O Femngo D.Méciade —_Gongalode_| D. Leonor de de Sousa Castro’ Albuquerque, | Meneses Chichorro, 32 senhor de D, Fernando 18 senhor de Vila Verde de de Ataide, Gouveia Francos Castanheira cs Visas Afonso de albuquerque, Governador da india (1509-1515) 39 ISTORICA Uma linhagem, duas Casas: em torno dos Atafdes e das origens das Casas da Atougu eira XVI Genealogia 3: Descendéncia de D. Alvaro de Ataide e D. Martinho de Ataide, 1° 2° condes de ‘Atouguia - Divisdo das Casas de Atouguia e Castanheira (Séculos XV-XV1) D, Alvaro de | D, Guiomar de Castro (?-1473) Atouguia (2-142) D. Catarina, Martinho |, Filipa de D.teonor | D.Alvaro |. Violante deCastro de Ataide, | Azevedo, deMelo | deAtaide, | de Tavora, SG. 28 conde de | filha de Luis senhor da | filhado (71455) ‘Atouguia | Goncalves Castanheira, | senhor do (id) | Malatata, Povos e Prado vedor da Cheletros fazenda de D, Afonso V (?-1519) 7 D.Pedrode D.Alvarode —_D. Anténio D.Violante _D. Jodo de_| 0. Brites da Ataide, Ataide de Ataide, de Castelo Ataide, frade | Silva, flhado ——_'Setubal $6 a2 Conde da franciscano | 1° Conde de 1483 Castanheira (iso7) Penela (1500-1563) no de Castelo Branco, 1° Conde ge Portimao D. Fernando 5.6. de Atal senhor da Castanheira 8.6 i525 D.Afonso D. Mariade —O. Jorge de Simao D. Isabel D. Brites da de Ataide, Magalhaes, tale Goncalvesda da Silva de silva 3° senhor fitha de 5.6. Camara,“ Ataice 5.6 daCasade — Fernao.Lou- Magnifico”, Atouguie —_renco, "O da senhor do| (?-1555) Mina”, feitor Funchal e da Casa da bisneto de india 030 (2.1575) Goncalves Zarco CG 40

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