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50 ANTROFOLOGIA: USAR PARA REINVENTAR A HUMANIDADE ‘¢2 como novo paradigma, ¢instaura a igualdade social, Olhar de vida que valha mais do que oolhar exterminador da ogiva nucleat. (Othar vigilante que nfo se fecha para esquecer a humanidade. har audacioso que acenda a conscincia de ses bilhdes de habitantes Capitulo V CRITICIDADE, Crieiade ‘Una das grandes potencialidades do ser humano éacriticidade, Citicdade derivado gregoe significa “discern, interprets, juga, distinguirentre verdade ero". eritcidade mora oa medulado set le, o ser humano € “compact, como dE sr “espago A vida abera™, Sem critiidade,o set mo pede arespiagSoraconal, embota a inteligencia. Actiticidade manifesta-e de wis formas. A criticidade 6pica stun pelo olhar. Uma das maravilhas humanas ¢o olharertico. O_ ‘olharertico desvenda asentranhas da realidad, Capra a iii de, dedilha nervuras,Olharxtco no 6 reistao que aparece, mas sobretudo yarimpao que se exonde. Oolhar cio nose dem na configura dos faos, mas eamiGga-Ihes as motivagies. Descobre stl Sab lidar com cilads, Debulha a espa capciosa.Oolhar ri Tico desinurdiduras para destrangaetrapacas. Desaponta os que es cotrgam sb a penumbra. Surpreende os asus clehermenéurica 0 conhecimento interpretative, é _A.compreensio que val além do simples olbat do, Mas basta ver fats e procedimento.Impora extra deles 0 significado eal, at motivagBesocultas. Os mesmosfaos podem abi- tat razies diferentes. Alguém comparece egarante que vai resolver ‘0s problemas da sociedade. Mas qual € 0 verdadero sentido dessa promessa? af que se situa critcidade, Vere ouvir esto ao aleance de quase todos. M alla 0 qu ests excondido naquele 52 ANTROFOLOGIA: OUSAR PARA REINVENTAR A HUMANIDADE vere ouvir Poul Ricoeur die que imerpreta dei o seid clo mie mito dlferentes praticasse a criticidade hermenéutia, se fosse al das rotulagens que embre_ . Nao asta ver aconteciment®. O principal € que esti ports do aconteciment, ‘Actticidade kaiolgica fundamen. a opgdo. 6 indspensivel «que.o senso ettico embasesolidamente a decisfo humana, Perante rem a propostas sem avaliago critica, E empenham apoio em proje- tos que ido prejudicar a sociedade, Avalizam ingenuamente ou max liciosamente propostas que depois se mostrario nocivas. A fala de ddecisio critica rem legitimado ditaduras poitcas, economia ens, prtcas corrptasecalamk i A ctiticidade praxioldgicaestimula e orienta agir humano. Ha agOes que constoem e agdes que destroem, Ha atividedes qu idaeatividades que a devastam. A criticidade suscita sattudes que amadurecem pessoas e sciedades. E aliada da auton« hhumana. © filésofo Gadamer propoe a “criticidade emancipa- ‘Gria", que leva o ser humano a romnar-se agente de emancipacio individual e coletiva, A criticidade tem paixio pela verdade e pela liberdade. Nao quero ser humano cega nem escravo, Mas hcido e audnomo, Rostofascinarwe Conhecer a verdade ¢ aspirago humana inata. O ser humano tem sede de verdade. Vai buscé-la nas encostas do mundo e nos recdncavos de seu espfrite. Descobrit a verdade € conquista alvissareira. Compensa atravessar vgs etrilhar veredas para che ara verdade. Uma das angistias humans ¢ no alcangaro manan. cial da verdade. Enquanto existirverdade encoberta, 0 ser humano vive inquieto. A verdade clareia a vida, Sem a verdade, a existéncia| ‘exmcipaDe 33 autenticidade, Onde flea a verdade, ins- ~talh-se lacuna existencial. A invasio da falsidade expulsa a verdade, ‘Quem nfo poss a verdade, estécarunchado poe dentro. Impregn Segundo Aisles, hi duns expresses de verdade. A verdade ‘ontoéica, que € pparealidade que existe no mundo. Ea ver dade epistemolégica, que € adquirda pelo conhecimento das real- ddaesexintentes A verdade d sere do conheoe. ‘A verdade mostra o que existe o que no exist. Des-cone 0 que estérecobero,de-ela o que ests velo, des-ocula0 que ests escondio, des-lunra 0 que exc ensombeado, dermaicara 0 que esti camuflado, de-emudeze 0 que est calado,des-atv 0 que st algemado 1 eambém a verdad que reside nas riagSes produ pelo hhomem. Aqui, cabe otermo “inventa, que significa “descabir 0 que est oculto etambén significa “via, fer surg © novo". porta invent” a veedade, ra mora da verdade, encontrar aver ‘lae- E também era verdade po meio das diversas aividades hi rmanas. © ser humano deveria sempre exis na verdad. Deveria reconhecera verdade da grandeza edo aviltamento. A verdade exis- te par patenteara ealidade inti, eno para esconder aberagbs. Higque levantar a verdad, e nif amoit-l Hi ditorges da verade. A verdade “etnocéntsea”fvorece 0 srupo de amigos, de eolegns, de pofsso, de partido de religio. A verdad "sectii” nfo reconheceo que i de positive naquels que tem posgGes diferentes. Mas a verdad deve ser independente. Nao pode sr poridarista. A verdade hé de ser reconhecia onde estiver. Se entte os adversitios howver verdade,sejareconhecida € nfo sonegada. Se entre os aiados howver falh, se reconbecida e lo justifieada. Verdade exige honestidae. Sem honesidade, a verdade é proito de Barganha._ ‘A humanidade basca a verade, mas também pode asfixiél, ‘Costumacse calor a verdade que ieomods. Setores coeruptos aor ciam-e para impede que a verade sj evlada, Quando se promo ve procesta para descobrie a verdade toda, comparnsarculam-se 54 ANTROFOLOGIA.OUSAR PARA REINVENTAR A HUMANIDADE rapidamente para abafi-a. Ecriminososengravatados chegam a quei- mar a verdade dos “arquives vivos". Nada mais trégico do que es ‘angular a verdad. (Os modernos recursos cientficos reenol6gicos podem produ rir versdes muito diferentes sobre dererminade fato, de acordo com, Inceresses politicos, econémicos, cultuaise religiosos. Omestno acon- teclmento sparece hoje com uma versio e amanhi reaparece com, es €legttimo. Mas obrigara ver- dade a dangar no jogo de intereses maquiavélicos ¢ violencia, ‘A verdade nlo pode ser redusida a inceresses meccensros. Al- ‘guns tentam calara verdade que denuncia vantagensilegitimas, Mas a verdade no tem culpa de ser verdadeira. Ela deve ser reconhecida lealmentee jamais negeda ou hosilisda maliciosamente. A verda- de é indobrivel. Mesmo ensangitentada, nlo capitula, A verdade ‘emancipa os que sofrem servidio polttica, econdmica, sociale cultu- ral. “A Verdade vos libertara”,restemunhsa Jesus. Quem ndo se dete- Hlorou sabe entender a linguagem da verdade, ‘Acatar a verdade sinal de maturdade. A verdade é limpa, [Naosuja. E“inocente”. Nao énocente. A verdade retimao mundo da ‘escuridso. Quando 2 verdade habita a consciéneia, o ser hummano sfumina-e. Onde ha verdade ha humanidade transparente, Hé rosto fascinante Questiomar Perguntar ¢ responder slo atsibutos do ser hummano. Roger CGaraudy diz que os animais emitem certas respostas, mas no per- ce define-se mais pelo perguntar do que pelo ‘buscar. Buscar sentido. Quem perguta pro- ‘cura descobrit a verdade. E perguntar denota cera insitisago, Pe untae para obter © que flea, para entender o que ainda mio se decifou, cameipane 55 ‘Questions énterpelar. Coloca divides nas certs. Desconfia das sentengasinflives.Oquestionamento tra germe de discordancia. ‘Questiona-se nto apenas para recolher uma rexposta, mas porque se dvida de cereas propostas.O.questionarsubmeteinformagies€ fotos a rigoroso exame exitico. Quetionat € proceso que desen- fumaga a verdade. O questionsmento raga &insuteneieidade por- ‘que exige que verses e procediments se manifeem desvendados e-comprovades. Aldo G. Gargant escreve que “toda resposta filo ficacarega ua questo que a lacer interiormente e que aultra- passa como rexposta” Verfica-e que humanidade tem sie chamada moito-main a responder do que a quetiona. Essa radigio no ¢inocente E ha to que debiita oserhumano eo subordina a interes pedagogicos, politics, econémicos, sci, culture religioos. Notase que a socicdade vive e movimenta-e orienta por tespostas preesta- belecidas, que grancem a ondem vgente eperpetsam norma jé san cionadas. Em geral, tos sociedades de resposa, eno sociedades de questionamento. As sociedades de resposta sto conservadoas, rocialmente etratificadas.Resstem a mudangas. Teme o questio- ramento. Asociedades de questionamento abrem espagoa nits istics e a alteragbes de hegemonia E aro asus. Por iso, tn de-acareptiaresposta encardida ea neutralizar 0 questionamento rebelde ‘Para questionat€ preciso er live. Os escravos responder mas ‘fo questionam, Os subordinados respondem ao senhores, mas n80 os questionam. O atual sistema mundial e nacional exige resposta fel e eril. Aqules que dscrepam dsse modelo “totalitrio" 0 suspeitos. Eos donos do poder avertem: respond, e fo pegun- tem. E,acima de tudo, no questionem. "No entanto, mais do que nunca, €necessirio qustionar 0 mo- delo gue nos estrangula Equestionar com aucla. Questionar aes poliago da auronomia nacional e a desaracterizaio da idenidade do povo braleito. Questiona as restrigBeseconémicasimpostas 20 ‘pats eos privilgios concedidos ao capital internacional, Qustionar ignominias soci e verdes oftciais dturpadas. ‘no submis a aliados externos. Muitos abusos ttm prosperado por ‘que contam com a complacéncia da sociedad, que no os questiona frontalmente. Questionar prticaslsivas a pats € defender direitos inaliendveis. E robustecer a conscinca critica nacional Diseordar Reconhecer€ mais que percebet ter consciéncia da realide de existente, Reconhecer é verlicar, €comprovar, 6 testara w dade dos fatos. Reconhecer é examinar uma situagdo conereta, € ipar a consistncia dos acontecimentos. Reconhecer ¢ acolher evidéncias, (Oreconhecer registra a realdade postivae negativa, constru- tiva e destrtiva, justae injusta,favoravel edesfavordvel. O reco ‘nhecer nfo pode sr sletivo. Nao pode leva em conta o que con- \vém e desconsiderar o que nso convém. Nao & honesto reconhecet apenas 0 que favoreceinteresese ignorar 0 que no inteessa Essa seletividade & disriminatéria e desrespeita a verdade objetiva As veues, identifica-se recanhecer com concondas. Mas reco nhecer no equivale a concordar, Reconhecer a ealdade existente ‘io significa endossé-la. Pode-se concondar com a reaidade reco- hecida. E também pode-se dela discordar Hi objetividade quando se reconhece que ha violencia, chaci- ‘as, estupros, miséria,téfico de droga, colapso da sade, barganas politicas desviode dinheito pablico para enriquecer banqucios. Hi ‘que reconhecer a exsténcia dessas monstrucsidades. Mas reconhecé- las no ¢aprovs-las ou encampé-tas. Pode-se e deve-se dscondar de- las. Edisconda-se dos abusos porque foram reconhecidos como noc vos. Daf articulagto salutar entre reconhecere discordar. A mcf tentailudir. Decanta-se que o mundo mudou, que che- sou a era da informatica, da “slobalizagao", da privatizago total, E conclui-se apresadamente que a sociedade deve adaptarse & nova carmicipane 37 situago para no perder oom da isi. Tenca-seatrelaro cone cordaraoeconhecer Foi oque fe: Maquavel pouco depos de 1500, «em eu liveo O Prine. Ser divda, hi que reconhecer as muvlangas que eto ocor: tendo. E concondr com avangoslegtimos. Ma também indspen- vel dscordarradicalment das aberragSes que esto sendo impos tas Bs populagies. Nao se pode embarearcegamente no “wer da ist Poisha “trem dahistra" que careia violncia,deserpre- ‘0; msi, concentagio de riquess, taba exeravo, masses Privatizagaesauspeitas,salirios umilhanes, subserviéncia a0 capi- talismo imperial. Embarear ness "wer da hist” perverso & ea tarcar no comboio que leva x0 macadouro.E perder ese macabro “trem da hist é sna de sabedoria ‘A repugnante pedagogia do adesio alta promessas de mo- demnizago, para submeter a socedade acs intereses das corporates transnacionls. Governos seus aiadosenriquecem os donos do mundo e apresam a runa de miles de seres humsanos. Imola ‘vidas para cortejara minria hegemsnica que recoloniza grande pax te da humanidade E necesroreconhece a ealidde nefasta clus pra mudé- la, Mesmo quando no se posa fizer muito, pods, pelo menes, dlscordar dauilo que ese sero eto contra os direitos humanos. Norberto Bobbio dz que a verdadeira democracia reserva espago a0 “senso” Eregitra que “to pouco demoeritic € sistema polti- co qe impede odsenso" Discordar do que ¢ fjusto nfo €hostiiae f aitude legtima e bendfca. Discord daqlo que ¢ anti-social ¢expurgar a sociedad. ‘Conconda com a opressio € tai a sociedade, Nao se pode calar perante dongs desumanas.S6ato de disconlarj€ grande avan- 0. Discordar citicamente € ago ousada que desoula as pricas {jas ue paasitam a nagéo. Ha mentalidade auoriiia disfrgada aque pretende obrigat a socidade a concardar com rumes politicos € jurdicos que a danificam. Hit que resi. E pensar que diconlar pode valer muito mais do que concordat. Eentender que também © {senso const a isa da humanidade 58 ANTROFOLOGIA- OUSAR PARA REINVENTAR A HUMANIDADE Razdo poder Raato € cade intcligéncia. A mato rflete, pesquisa, dist, angument, busca sentido, desoeulta a verdadero desaloja te ras catelosamente arquvads. Poder significa aptdto, cpacida- de. significa, sobretud,fungto, autoridade, mando. O poder co- manda, dita noma, autores € vet, ‘Aras demonstra, o poder determina. A rast raciocta, 0 po der ordena. A raeio convence, © poder obria. A rato dialog, 0 podermands. A raxo elucida, pode prove. A rao expbe, 0 po- der impte. A arto descorina poder eprime. A rasfo motive, 0 poder pression A railo emancipa, 0 poder subordina © excess d rast geraracionalismo, Oexceso do per ger auoritarismo. Hé abuso de poder na plltica, na economia, naclén cia, na educagio e na religto. O poder tende a inrumentalisar a tao para conqustare preserva interes pessoas grpas.O po- der racionalrespeita a rato, mas © poder nacional € despiico Desvinculado da cio, o poder leva a sociedade a servidio. Em ge- ra, quem dexémo poder jlgase superior dono do mundo, Ent, 0 poser convere-seem ftiche e sug a humanidade. Por iso, hi que ‘manteraprimacia da rx sobre poder. A norma fundamental de- rivada mzio, eno do poder. A rato preexst ao poder Para exist € pensar, razio no precia da autoraeao do podet. Hé grande diferenca entre o poder da rio ea rio do poe. poder acredita que possaautojustificar-se ejustificar seus aliados. No periodo em que esteve detido em Londres, o trano Pinochet recebeu “comovente”soldaredade de M. Thatcher. Tipo de alianga do poder que affonta a dignidade humana. Por aqui, 0 poder governamental tem fomentado a concentragio de riquera dos poderoses, enquanto ver redusindo os recurs devidos aos ‘empobrecdos. Deum Indo, agigana-se o poder econémico e, de ‘outro lado, um desempregado que retiroualimento do supermerca- do para o filo faminto, foi logo jogado na cadeia. O poder arto gante ndo quer entender as axes de milhées de brasileiton aru nadas pela misériainfanane. aL camcipane 59 Manter a ordem da justga e da digndade, sim. Mas defender a ‘oxdem" da desiqualdade hedionda ¢ iniguidade. Preservarpeivilé- ios de magnatas e prenderfameélicos “desordem agressora. O po- der nao tem dirito de aprisionar a rao dos faces. Em 1964, poderosos grupos nacionaiseintemnacionais, que de- fendiam interesses nocives ao pais, quiseram calara pedagogia crii- ‘ca que of estigmaizava. Exilaram intelectuais e professores do porte de Celso Furtado, Paulo Frere e Florestan Fernandes. Baniram a 1. Freqlentemente, o saudosismo do modelo antipedaggico de 64 volta a tachar a pedagogia critica de “subversio”, A educagio eitica rospera com diglogo racional, e nfo com vetos ditatorai. Educa- ‘slo madura e livre ndo € Senzala para cutvar-se a imposigGes cligirqucas da Case-Grande ‘Opoderlegitimo tem seu lugar. Masa humanidade precisa mais. de rasio do que de poder. Ha que aprender e eaprenderalinguagem “darazio, O filésofo Habermas slienta a “forga emancipatéria da auto- reflexio! © poder nd emancipa. A humanidade frida pela injus- tiga, retalhada pela desigualdade, atada pela miséra s6 conseguir emancipar-se a partie da rardo lGeida einsubmissa. Verdade subvesioa (© poder, sob miltplas formas, deveria estar sempre a servigo dos grandes valores da humanidade. A finalidade do poder & benefi- car a coletividade, e no a autoglorficaglo dos dirigentes. O poder {que no promove 0 crescimento da sociedade resvala em absolutis- mo autoctntrica que menospresa a exigéncias da verdade. ‘Verdade no é apenss um principio abstato. Verdade € are dade existente, 0 fato conereto, 0 conhecimento comprovado. A verdade desoculta 0 desconhecido,salienta a dignidade da pessoa, reivindica liberdade e igualdade, sustenta o significado ontolégico da espécie humana, preserva os valores consisentes. Verdade € a tema. Coane aia 22. © ANTROFOLOGIA.OUSAR PARA REINVENTAR A HUMANIDADE tecnologia avangada,€o tio Galdinoqueimado, a chacina slva- fem injustigaeseandalosa, a misra deprimente. Nao ha como regar ou sonegara verdade patente das relidads rcances, slam positias ou negaivs. E slutar confrontar poder verdade,Difund-se mentalidade neopragmatista que hipervaloriza poder e deprecia a vendade. Para alguns etre, a verdad tera perdido sua autonomis, eo passria A verdad € valor maior do que o pode. Haque utr para que a verdad tenhaprioridade em relagto a poder Nao a verdad que deve etara servigo do poder, mas € 0 poder que deve estar aservigo da verdad © poder conta com a org A verdad conta com a a 23o, Sem compromio radial com a verdade, oper aqui feigdo fascia, até em repimeschamados demecrétcos. O poder abierio capa de esmagar a verdade. Mas, mesmo esmagada, a verdad le vantaa fonteensanglentada ¢ acu seus detratores. Vale mais fcar coma verdad sem prevalecer, do que prevalecer contra a vewdade. camicioave. ot (Otrigico nto ¢ perder 0 poder. £ perder a verdade. O poder da ver- dade deve falar mais alto do que a verdade do poder: Por iss, em muita stuagdes, a verdade teri de ser subversiva ‘Quer eae consente? Actua €fendmeno ambivalent. Pde favorece ser hums 10 ou prejulicl, pode ecer a humanidde ov eins, pode set aniropogenéica ov antropfigca. Eequivoco pensar que too produe ‘ocular sj avango humaniante. Hé cultura da ibenadee cal dh escravido,cultra da justia ecutura da msi, cultura dap € cultura armamentista, cultura igualitéria eculura'racista, cultura svancipatia cultura colonials, cultura da vida e cultura da moe te cultura senor da Cs Grande e cultura aed da Sera. ‘As produgies culturais possuem linguagem. Dizem sigaifca- dos digafieantes ou degradante. Entre os produto culurais hé aforsmos, dtados populares. "Quem eal consente"€provsbiomi- to citadoe acatao. Consgnado também em Sonetos posses de Amzu Azevedo. “Quem cala consents” merece euidadsa reflex exc. Hi smomenton em qe ala €consent Osiénco pode ser consentimen- to live, Mas nem sempre “quem cala consent". Calar pode também signin eeuss, opesigio,potesto, O sino pode ser contest sma, As pesos podem calese porque esto sendo ameagalas ee- Primidas. Hs vaso silneio nos opimidos.Ecravos calms porque hicotealos elo senhores,sociedadescalam-seporgue censuraas Por clades, extadantes clase porque eceiam perseuig do profes sor mulher esugada clase para nfo serhunilhada, trabalho eal se por edo de ser dspensao critos calam-se porque temem ooh- ssi slencio”pobes calm pa quero escort asmiglhas de sobrevvéncia na seca e na mendicincia. Muits calam-se pou to dispiem de espagoe meio para gitar seu dit. ‘Ha miles e miles de seres manos que se cal mas no consent’. Eso contabilzados como se apoiasem aguilo que sio a ANTROFOLOGIA CUSAR PARA REINVENTAR A HUMANIDADE forgados a calar. Eos serores dominantes proclamam cinicamente: "0 povo exté a0 nosto lado”. E a légica perversa e impositiva da sentenca: "Quem cala consente”.E intoleivel abuso cultural utili- sar esse provérbio ambiguo para beneficiar golpistas, E a técnica ‘maquiavélica que fatura prestigio em cima do siléncio de quem “do Jean -Frangois Lyotard diz que ealar-se por decisio livre nao & ‘Mas “impor siléncio a0 outro” éintrojetarlhe o “terror fnti- ‘© “quem cala consente” tem sido manpulado para domesticar ‘asociedade, para submeterdivergentes e apagaro descontentamen- ‘topopular. “Quem cala consente”éutlzado para projetara imagem cde que todos os calados, mesmo os discondantes, esto aceitando s- tages abomindveis, E preciso denunciar esa pedagogiasolerte. indspensével ques. tonaro “quem calaconsente”, para no submeter a humanidade 20s ditadores do mercado, aos controladores da informa, 205 novos colonizadores da globalizagio pirata. "Quem cala consente”& lin- ‘guagem cultural fomentada por stores interessados em perpetuat @ tuadigfo autortsria do poder, e em mantet a populago marginaliza- dae passiva. Chegou a hora de mostrar a outra banda da verdade, ‘Chegou a hora de suscitar e diseminar a cultura de “quem cala nao consente”. Para isso, € necesséro aprender a linguagem calada da- aqueles que “nso consentem”, fal Desajustarse (Opensador é hermeneuta. Eeagador de significados. 0 flésofo (Gadamer considera a hermenatica como “arte de compreender". Para ele, a hermenéutica interpreta textos e também os relaciona- ‘mentos humanos. Extra significado das palavras e das experiéncias ‘que so os textos da vida. E diz que o homem possu o “Logos”, que the permite reveae i eo nocivo, 0 justo eo injusto™? "Oona HO. Cone Aan ceamerpane 8 A busca de significados ajuda a compreender 0 que € justo € 0 que €injusco. *“Ajustar-se” €aderir ao justo, €agruparse em torno do que ¢ justo. “Des-ajustarse” éafastar-se do justo, é desigar-se do que Esto. Dat, sentido positivo de “sjustarse” o sentido negativo de “desajustarse”. Habitualmente,ajustado ¢ entendido como 0 noe mal, © adaptado ao meio, o sintonizado com a ordem vigente,o afi- nado com as priticas dominantes. E, eadicionalmente, o “desa- justado”€ visto como o inadaptado, o anormal, 0 desequlibrado, 0 patolégico, O anémico. Ess interpreta corrente de sjustado e desajustado tem pre- valecido na avaliago social e na visio conservadora das ciéncias Jhumanas, Contudo, cabe aqui questionamentocriticd. O“ajustado" seria sempre o normal? O “desajustado” seria sempre o anormal? NSo poderia haver“ajustado” patoldgicoe “desajustado” sadio? Pode-se estar ajustado a0 bem ou a0 mal, E pode-se estar Aesajustado do bem ou do mal. Qajustamento pode sr salurar como pode ser maléfico. Tambsém o desajustamento pode ser pericioto ~ como pode ser benéfico. Por isso, inexato identifier ajustado com, normal edesajustado com anormal. Pode-se estar ajustado &injusti- ‘Ga, @ procedimentos imorais e cruéis. Este ajustamento é nocivo. E pode-s estar desajustado da injustiga, da corpo eda cumplicida- de. se desajustamento €salutar. ajustado a priticascximinosas, afinado com E negativo es politicas lsivasasociedade. Ao pass que €positivo estar desajustado ‘em relago a situagdes desumanas, £ negativo estar adaptado a desi ‘gualdades gritantes. Mas € positivo estar desajustado perante a dis- ‘riminagdo eo trabalho escravo. Estar integra em regime fascist é patoldgico, Estar desajustado diante do desemprego € atitude sada. ‘Osjustamento cego provoca degradaeo humana, fléncta so- cial eaberragdes histricas. Por outta parte, o desajustamento licido pode condusira posites madura e abrir novos rumos para os Povo (Os seres humanos sio capares de ajustarse e de desajustarse. Hi desajustamento que produr ruprura criadora, amadurecimento crtico. Encorajamos o legtimo desajstamento pedagsgico, social, 64 ANTROFOLOOIA. OUSAR FARA REINVENTAR A HUMANIDADE psicolégico, politico, econdmico, cultural e ético. Venha 0 dessjus tamento que afasa da injustiga, que desgruda de perversbes psicos- sociais, que tompe com a heranga escravsta, que no se adapta & rmalandragem pottca, que destoa dos que sacralizam a coexistén ‘entre ostentago da riquezae lama da miséria, A hhermenéutica desoculta o significado originale fecundo do desajustamento, A humanidade crese pasando também pelo ami rho do desajustamento, Felizes os que no perpetuam o"ajutamen- 0" subserviente, porque sabem “dessjustarse”. Sabem fisgar 0 que & justo e refugaro que € injust. Humenidadedesengonada Sociedade critica questiona-se sobre o engano ¢ o desengano. (O ser humano pode enganar-se, Engana-se por si mesmo. Pode set enganado por outros. E pode enganat 0s outos. Engano € equivoco. O engano deteriora a personalidade hum na. Deformathe a percepgio e distorce-lhe a decisio, O enganado pisa em falo, dio inexato, excamoteia os fatos¢alulteraa verdade. (Oenganado toma-se estranhoasi mesmo. O engano falsifica a cons: cincia solapaasubjetividade, embaralhao pensamento, desalicerga 15 opgbese desaponta a confianca, O engano provoce disfoniaexis- tencial ecGsmica. Quebraa harmonia entre o ser pensante ¢o mun- do que ocircunda, ser humano enganado inseguro. Sente-se ludibriado por armadilhas. E burlado em suas crengas. & cindido em sua dentidade. Povo enganado é povo mentalmente colonizado, economicamente dominado, socialmente espoiado eculturalmente binalizado. Soeie- ddade enganada € engolida por trapaceitos. ‘A humanidade tem realizado progressos espetaculares, Mas, a0 lado de conquistas vélidas, prosperam priticascapciosas. Ofertamese ‘caminhosilussrios, polticassedutorase verbs falsas dos aconteci ‘mentos. A populaso tem recaido no algapio dos enganos porque & vitima das artimanhas ds esperalhes. ccamtcipae 6 Aumanidade est syjeita engunarse, Mastambsimpode liber tacsedosenganas Superaro engano ésvangopescalecoletvo, Nada tgs saluar do que “dev-enganarse”. Desenganarse ¢eencontarse E recupen twechos da existncia humana que sofreram alienago. Em certas sages, “desenganado” tem sentido positive. No significa doente sem cura, nem vida sem futuro. Aqui, “dee-ngana

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