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MARIO FERREIRA DOS SANTOS FILOSOFIA CONCRETA Toxo 3.° ENCICLOPEDIA DE CIENCIAS FILOSOFICAS E SOCIAIS ADVERTENCIA AO LEITOR Sem divida, para a Filosofia, © vocabulério & de ‘maxima importincla ¢, sobretudo, 0 elemento etimols- sco da composigio dos Wérmos. ‘Como, na ortogratia tual, slo dispensadas certas eonsoantes, mudas, en- ‘trotanto, na linguagem de hofe, née a contervamos apenas quando contribuem para spantar étimos que Taolltem a melhor compreensto da formagt hist6- rica do térmo empregado, © apenas quando julgamos fonveniente ehamar a atenglo do leitor para ele, azemos esta observagio sémonte para evitar a os tramheza que possa cuusar @ conservagso de tal gratia MARIO FERREIRA DOS SANTOS Obras de MARIO FERREIRA DOS SANTOS — "Filosofia ¢ Cosmovisio” — 62 ed. = “Légion e Diaiéetiea” — 4 ea. = "Brieologia” — 4. ed. = "reoria do Conkectmento” — (Gnosiotogia e Criterio- logia) — 4." ea. — "Ontologia e Cosmotagia" —— (As Giéneias do Ser © do Cosmas) —~ 4." ed. = "0 Homen que foi wm Capo de Batata” — (Prélogo de “Vontade de Potincia”, de Nietzsche") — Esgotada, = "Curso de Oratévia ¢ Retérica” — 8. ed, = "6'Homem que Nosceu Péstumo” —2 vols. — 2." ed. = "Assim Fatava Zaratustra” — (Texto de Nietzsche, com anise simbdliea) — 8." ed, = "Léeniea do Discurso Moderno” — 4.° ed. = "se a Hajinge Fuiasse...” — (Com o pseudénimo de Dan Andersen) — Esyotada. — "Realidade do Homem” — (Com 0 pseudonimo de Dan Andersen) — Esgotada, “Andliee Dialéetion do Marcsigmo” — Esgotada. “Curso de Integragio Pessoal” — 4° ed. "Tratada de Economia” — (ed. mimeografada) — Bs- gotada. —"Aristoteles e¢ as Mutagdes” — (Reexposi¢io analitico- -diddtica do texto aristotélieo, acompanhada da critica dos mais famosos comentaristas) — 2." ed. “Pilosofia da Crise” — 3+ ed. "Tratado de Simbética” — 2. ed. “0 Homem perante 0 Infinite” — (Tectogiay — 8. ed. “Noologia Geral” — 3.° ed. "Filosofia, Conereta” — 3 vols. — 8.4 ed. “Sociologia Fundamental Btiea Fundamental” — 22° el. "Praticas de Oratéria” — 2.4 ed. "Assim Deus Falow aos Homens” — 2.° ed. "A Case das Paredes Geladas” — 2° ed, “O Um e 0 Miltiplo em Plato”, PPP h ibid MARIO FERREIRA DOS SANTOS "Pitdgoras ¢ 0 Tema do Nitmero”. “Filosofia Conereta dos Valores”. "Bscutai em Siléncio”. “A Verdade ¢ 0 Simbolo”. "A Arte ¢ a Vida". “Vida nd 6 Argumento” — 29 ed. “Cortas Subtilezas Humanas” — 2. "A Luta dos Contrérios” — 2. ed. "Pilosofias da Afirmagto ¢ da Negagiio”. "Métodos Ligicos ¢ Dialéeticos” — 2 vols, “Paginas Varin “Cowvite d Filosofia”. “Convite a Bstética”. "Conwite a Psicologia Prética”, Ili btbtrttitet NO PRELO: “Filosofia ¢ Histéria da Cultura” — 8 vols. "Tratado Decadialéctice de Eeonomia” — 2 vols. "As Tres Critieas de Kant”. Tratado de Hsquematologia”. A SAIR: “Diciondrio de Filosofia ¢ Citneias Afins” — 5 vols, "Os Versos Aureos de Pitigoras”. "Peoria Coral das Tenoses”. "Hegel ¢ a Dialéctiea”. “Dicionério de Simbolos ¢ Sinais”. vols. vols. "A Origom dos Grandes Exvos Fitoséficos”. | TRADUGOES "Vontade de Poténcia” — de Nietzsche. “além do Bem ¢ do Mai” — de Nietzeche. “Aurora” — de Nietzsche, “Didrio Intimo” — de Amiel. "Saudagao go Mundo” — de Walt Whitman, "Pemética ¢ Problemdtica das Ciéneins Sociais” — 2 vols, "Obras Completas de Platdo” — comentadas — 12 vols. "Obras Completas de Aristétetes” — comentadas — 10 "Temétien ¢ Problemétiea da Filosofia Concreta” — % {INDICE Do Limite CComentstios aos Prinetpics ‘Sobr0 0 fal Da Materia ‘Opinino de Seot Sobre a Matéria Como Factas de Singwlaridade Da Bviternidede Coroiseton Da khiternicade Da Mente Humana Do Fundamente do Univers Apenaice . Algumas Twses de Duns Set Corroboradas Pela Filosofia Con- FA cessor os ‘Um Exemplo do Raclosinar Dialéctlco-Conereto Precisio Dialéetica da Conceituagdo Oferecida ALL Agut a a BESS as a9 189 165 am ast 19 DO LIMITE ‘Tese 281 — Hé, no limite, uma limitagao. © limite marea até onde um ser 6 0 gue éle é e onde comega 0 que éle nao é. 0 limite & excludente e inchudente, Inclui 0 ditimo ponto em que um ser é o que éle é e aponta © que déle se exclui, Bas, se o limite estabelecesse uma excludéncia abso- lula, estabelecoria uma ruptura no ser, 0 que Implicaria o nadavazio (to Kenon), que € absurdo, Na ordem légica e ontolégica, verifiea-se que o exelui- do o é segundo um plano. Na criagdo hi erise, e, portanto, o estabelecimento do limite; mas éste néo é absolut, e, deste forma, 0 quo é acto na eriacdo, 9 determinante, € 0 que & poténeia, o determi- nivel, embora so limitem, nao. se separain absolutamente, Ademis, o limite, quando intrinseco & coisa, é uma moti desta, © acto eriador realiza simultaneamente a determinagao do que é determindvel, a poténcia. Aco e poténeia dao-se simultineamente, pois'o acto 0 acto da poténeia; & potén- cia, a poténcla do acto. Sio contrarios relatives, pols um € com a presenga do outro, ¢ niio contrarios exeludentes, cuja separagio abviria um abismo, crlando rupturas no ser, © que ¢ absurio. ‘Tess 282 — 0 conceito de limite 6 insepardvel do de ilimitado. Cuda lugar no espaco limita 0 contigo, mas © conju to daquele nao é limitado, pois o que o limitaria seria ainda 2 MARIO FERREIRA DOS SANTOS espago. E ao que aleanca 0 conceito que déle constrdi a nossa razio, A simultaneidade do espago é dada como um todo, e uma 6. O espago da razdo e, portanto, uma uni- dade ilimitada, ‘Também a espécie & ilimitada quanto 2o individuo e, ste, quanto a si mesmo. O individuo nde limita a espécie, pois esta nada perde nem ganha em si mesma, por ser re~ presentada por tantos quantos individuos forem. Q indi- viduo, enquanto éle mesmo, € um, ¢ ¢ ilimitado, porque, en quanto tal, plenamente le mesmo. Desta forma, vé-se claramente que o eonceito de limite nao se separa absolutamente do de ilimitado. A unidade, tomada em si mesma, é ilimitada. © que a limita & ¢ que néo é ela. Portanto, no que é ela, nao tem limites. O espago, enquanto tal, é ilimitado ‘em sua unidade. O que se limita, nele, é 0 lugar, aqui ou ali, que limita o outro. Em sum, coneeito de espago re~ fere-se a ilimitagao da unidade da’ simultaneidade, enquanto 0 lugar se vefere ao limite, Sho dois conceltos que se dis- tinguem, mas slo inseparavels na unidade do espago, por- que o lugar € do espago, e uinda ¢ éle. Assim uma coisa de cdr verde é verde, © 0 verde, en- quanto tal, 6 ilimitado, porque, como ja vimos, 0 individuo nao limita’ a espéele; portanto, esta coisa verde nao limita w verde, “Se luimamus v espagh adsvlutumente, turnurse dle uma unidade vazia, esvaziada’ de contelido féctico, ¢ apro- xima-se do nada, © eepaco 6 & simultaneidade dos ubi diversos, ¢ os I mites se dao néle, sem o limitarem, pois, enquanto tal, os pontos contiguos néo 0 limitam, porque éstes sto ainda es- pug, como os individuos verdes no limilam o verde, por- ‘que So ainda verdes, © espago 6 assim, insepardvel dos ubi, dos lugares, dos ‘onde, porque ésses sto ainda éle. Assim o meu brago nfo me limita, porque 0 meu braco & meu, $ brago de mim, € ainda mim,” Eis a raziio por que © individuo enquanto tal, por ser éauoiso im ec, 6 como tal, 0. FILOSOFIA CONCRETA 18 ‘Tesu 288 — O limite do ser finito caracterize-se pela positividade. © sor finito caracteriza-se também pelo limite. O li mite do ser finite aponta o que déle se diversitica, Em sua: finite € limitado pelo que dele se diverifica, © dle fopde-se ao que esti ora déle. O ser finito é sempre um apontar a um ser positive, que nio é éle, do qual éle se di- versifica, Mas o ser finito esié ao lado de outros séres Aistintos, com os quais se limita. O Ser Supremo nfo se limita com outros séres, pois nio hé outros séres totalmente fora déle, Os séres finitos, portanto, estdo no Ser, que € © eeu sustenticulo, A disting20, que se pode estabelecer entre am © outro ser finito, € diferente da que se pode estabelecer entre 0 finito e © Ser infinite. Entre os primeiros, ¢ que os distingue 6 0 ser que hé num endo ha no outre.’ Tntre o ser finito eo infinito, um E carente de um certo grau de perfeicao de ser o da. per- felego de um ser que Ihe nfo pertence, pols o infinito se igue do finito, nfo por caréneia, na por auséucia, mas por maxima proficiéneia, O que os distingue é euréncia hhpenas para um ¢, ademas, no 6 a earéncia déste ow dan Guele modo de ser, mas sim o facto de o infinito nio ser absolutamente earente de nenhuma perfeigao no mais alto fray, enquanto 0 outro o € sempre. 0 que limita extring secamente o ser finito é portanto, uma positividade, pois ‘de quo carece é ser. O'Ser infinito nfo Lem limites, pois, por ser tal, nfo sofre de qualguer earencia. E, ademais, que limita 6 positive, pois se 10sse mada ndo seria limite, pols o nada nfo limita.” Portanto, earactoriza o ser fimito A positividade do limite, e a positividade do niio-ser relax tivo, que € positive, pois se refere a uma positividade do ser. Tese 234 — 0 ser finito nao é tudo quanto pode ser. Hzagées, dus perfeicdes possiveis. Conseqlientemente, 0 ser finito (eriaiura), no 6 em acto tudo quanto pode ser, nem ‘tudo quanto pode vir-aser, pois, se 0 fosce, a dynams jé teria sido actualizada, u MARIO PERREIRA DOS SANTOS Como ¢ um ser determinado, e por isso limitado, actua- tiza-se segundo a sua forma, e a rolaglo que mantém com os outros séres, Portanto, & actualizagao processiva e su cessiva, o que imerge no tempo, impede-the que seja em acto tudo quanto pode ser, pois, por ser activo € passive, deter- minante ¢ determindvel, esta sujeito as determinagies pro- voadas © produzidas por outros, TesB 235 — 0 ser é eficdcin, ¢ 0 acto é 0 ser em sua eficiéncia, no seu pleno exereicio de ser. © ser finito, em seu exercicio, nao é tudo quanto pode seri por isso a cficidneia do acto tem a eficéeia de eficien- tizar-se de outros modos, © acto puro primordial ¢ eficiente e efieax em acto, en- quanto o acto ndo puro, misto (enérgeia), 6 eficiente, mas a sua eficdcia nao ¢ totalmente em acto, Por essa razéo pode eficientizar-se de outros modos, como 0 mostramos em “Ontologia e Cosmologia”. ‘Tasp 286 — 0 mais perfeito tem de preceder ao me- nos perfeito, Jé 0 demonstramos, Mas novos argumentos podem ser aduzides agora. © mais perfeito precede ao menos perieito, pois se £6s- se 0 inverso, a perfeigao exeedente viria do nada, A perfeigao, que tom o ser finite, precede-o como tal, pois, do contrario, le seria subjectivamente a prépria per- teicdo, e dela nio poderiam participar outros, _ Ontoldgicamente, 0 perfeito antecede ao imperieito, 0 mais 20 menos, 0 antecedente ao conseqiiente, 0 infinito ao Tinito, ‘Na ordem da temporalidade, o imperfeito pode ser ante- rior a0 mais perfeito, FILOSOFIA CONCRETA 15 ‘use 287 — Sob certos aspectos, prevcistiv pode ser mais perfeito que existir. Impoe-wse a distingdo entre perfeigdo ontotigion © per- feigao dntioa. Preexistir na matéria imperfeigho, porque esta deper de do acto que faga surgir o que nela @ possivel. | Preexistir nna causa eficiente € maior perfeigao do que existir em acto, porgue © agente pode activamente o que actualizara, € éle is perfeito que © possivel activo por éle realizade. Em suma, preexistir na causa eficiente ¢ mais perfeito que 0 existir ni acto, fora de sua causa. Se um ser pode fazer isso ou aguilo, 0 que pode fazer preexiste na causa ficiente de modo mais perfeito que quando em acto, pois, quando em acto, existe apenas déste modo, enquanto na caus sa esto no poder do acto todas as maneiras possiveis de serem actualizadas. Ora, jé demonstramos que o operador ¢ sempre superior ao seu opera, e 0 operado € sempre inferior ao poder que tem o agente.” Portanto, de verto modo, preexistir pode ser mais perfeito que existit, que 6 0 que desejévamos. provar. Compreende-se agora com facilidade a positividade da tese platonica, que & genuinamente pitagdrica. As formas, que est2o na ordem do ser, sto possiveis do acto supremo uo ser, Blas preexistem no agente, que é eausa ofieionte, que, neste caso, 6 0 Ser Supremo. Preexistir no poder active do agente ¢ mais perfeito que existir como efeito. Por essa razio as formas, no Ser Supremo, so mais perfeitas onto- logicamente que ‘as coisas que as imitam, A triangularidade, como tal, & mais porfeita, especifi- camente, do que qualquer tridngulo que @ imite, B, no agente, como causa eficiente, a triangularidade preexiste 0s tridngulos, ontoldgicamente, de modo mais perfeito que ates. Hi, assim, duas perfeigdes a salientar: a que esté agente, como causa eficiente, ea que est na coisa, J fe acabada, A primeira tem a perfeigdo ontolégiea;'e a ext tente, a perfeigio Ontiea. Esta, porém, como néo é a actua~ lieagio plena de todo 0 poder do ser, pois € déste ou daquele medo, apresenta uma imperfelgdo comparada com aquela, 16 MARIO FERREIRA Dos SANTOS embora tenha a perfeigfo datica, pols 6 que existe tom ple- nitude de'ser exlatonte, , ademals a potfeigao da sun he: cele Tese 288 — O ser finito munen é absolutamente idén- tico a si mesmo, fag Nenhum ser finito pode ser total ¢ absolutamente idén- tico a si mesmo, Os séres so apenas formalmente idénticos a si mes: ros 240 enguanto amis, pots eonhecere a mulabilidade, embora, néles, a forma (a lei de proporcionalidade intrin. seca) perdure. pee fade Inte ‘Test 289 — O ser finito nao poderia recebor totale ‘mente 0 Ser infinito, © asir & proporeionado ao agente ¢ a aogéo 6 propor- cianada ao paciente (quod), como 0 sotter @'€ so pheknte Consegtientemente, 0 ser finito s6 poderia reccber o Sor infinito proporeionadamente & sua natured A sow et dio de rreceber. matress, apt ‘Tese 240 — Ha proporcionalidade entre causa e efetto, Fé vimos que too facto (Eeito) implica ¢ exige 0 ante. rior, um ser anterior, " « {ula Presenea do posterior nio exige preeisamente tal ante, sss anteriores, som os quia um facto no surgo, cha rams eayina do factor in tote panne a Ee Chee xk mucar os ros» até sequent ate on Gaus, mas qi famimwental eames ttlegeoaten de Edo ado 62 gue depende rexiae sent om fae Tiga (por um nexo de nocessidade, quanto & natireza do FILOSOFIA CONCRETA Ww © facto surgido & e-factum, effectuin, efeito, 0 que & e-feito fora da causa, ou 0 que a causa realiza. 0 efeito nfo pode ser mais do aue as, pois, eome JA vimos, os séres posteriores no podem ser mais do que ‘os anteriores dos quais dependem. B a causa ou causas tém de conter formal e totalmente ‘© seu efeito, pois, do contrario, 0 excedente viria do nada. 0 efeito € proporcionado a causa, Todo efeito depende da sua causa, pois dela pende. Como todos os séres depondem do Ser infinite, este & a causa primeira de todos os outros. Essa prova corrobo- ra, por outras vias, as demonstragies de proposigies ante- ‘Tese 241 — Um ser 0 que é em sua forme. © que um ser 6 Ihe & dado por sua forma, A “forma” do Ser infinito 6 infinita. Os\séres finitos so isto ow faguile, segundo @ sua forma, ¢ as mutagées, que sofrem con cerotamente, dao-se dentro do Ambito da forma, relativas a la. Niio é possivel que um ser tenha uma forma ¢, simule tineamente, néo a tenha, porque se é ela, néo pode ao mes mo tempo nfio ser ela. Bote é um fundamento do prinespio de identidade. ‘As mutagdes que poss sofrer um ser om sua forma so meramente aceidentais, e no a excluem; portanto, formal mente, um terceiro & exeluido, o que ¢ furdamento do “prin- efpio do terceiro exeluldo”. ‘Tose 242 — O Ser infinilo & causa eficiente primeira de todos os entes finitos, Esta prova corrobora as anteriores, Entende-se por causa 0 de que, de alguna maneira, um ente depende real- mente para ser o que é Todo ser finito ¢ dependente de outro para ser o que ¢, ¢ tanlas serio as suas causas quan tas forem as suas dependéneias, O causada, antes de ser, era causvel. Mas, 0 que ndo se deve esquecer, para um 18 MARIO FERREIRA DOS SANTOS nitido coneeito de causa, é que a dependéncia seja real, como jf saliontamos. H& 0 indispensavel para um ser ser cau~ Fado (@ste ou aquéle), que nfo actua sdbre o causado. B 2 condigho neeessiria, B condigdo necessria para que eu eserova neste momento que haja luz onde estou. Mas a luz 6 também causa da minha visio déste papel. A distineso entre condigao e causa, que & estabelecida na Ontologia, im- pée-se para x bor compreensio do que pretendemos demons tray nesta tese, Se a condicHo necessiria nfo é causa, me- nes ainda 0 é uma ocasiao qualquer fortaita. mister distinguirse bem a causa, quando ¢ ela prin- cipio estructural de um ser, como a matéria e a forma, das guais depende real e constitutivamente um ente para’ ser ‘Matéria e forma sie principios do ser; constituem-no. “Cha~ mamese por isso causas intrinseeas ou factores intrinsecos. Chamam-se eausas extrinsecas ou factores extrinsecos aque Jes que contribuem para realizar o ente, mas que ufo S80 consuituintes da sua intrinsecidade. ‘Assim 0 barro ¢ @ forma-de-vaso so as causas intein= seeas deste vaso, Mas, para que éle surja, impbe-se a exusa efieiente, a causa que 0 faz, a acgiv do moieiro, por exem- plo, © fim extrinseeo de uma coisa, que tende para algo, € causa da aceao, mis Ihe © extrinseea, como o intuito de ganho do moleizo ao fazer 0 vaso; em suma, causa tinal. se admite que o Ser infinito 6 a causa eficiente © final de todos os entes, eslamus no eriacionisuuos se se admite que 0 Ser infinito € matéria e forma, constitutivos do ser finito, estamos no panteismo comum. Ora, 0 Ser infinite é causa eficiente ¢ final de todos os entes, 0 que € indiseutivel em face do que j4 ficou demons trado. Nao pode ser causa material, porque nio é materia; nio pode receber uma infermagdo, porque no é passivos nem 6 causa formal, porque, neste caso, 0 ser finito seria infinite, 0 que ¢ contraditério, © conceite de funear, usado pela Ciéneia, para substi tuir o de causa, € que foi aproveitado da mateméticn, diz que se as variagées observadas em um enle correspondem fs variagées que sofre outro, quanda ambos estio face a Face, ¢ que essa variagfo é expressivel numéricamente, te- mos uma fungio, PILOSOFIA CONCRETA 19 Ora, tal coneeite, vélido no campo da fisiea, é insufi- elente para expressar todo © contetido da eausalidade, pois se entre séres finitos hé tal comportamento, 0 mesmo ja se ndo pode dar entre o Ser infinite, principio de todos os ‘outros, © 08 que dale sflo dependentes.. Em face de todas as demonstragies oferecidas, 0 Ser infinito é causa eficiente primeira de todos os entes finitos. ‘Tes 243 — A ideia do ser é a mais abstracta e a mois concrete de tddas as iéias, Se considerarmos logicamente a idéia de ser, 6 ela a mais abstracta, pois, para aleangé-la, precisaremos’ despojar fas coisas de t6das as determinagées para, finalmente, per- manecer a de ger, Se exeluimos todas as difereneas entre os entes, uma nio poderemos excluin, que € a de serem, pois se tal negiesemos, seriam nada. B, neste caso, diriamos que a entidade fundar-se-ia em 0 nada, o que @ absundo, Por outro lado, ge actualizarmos as determinagses, as dife= vengas, o que distingue umes coisas de outras, a tidas elas teremos de predicar 0 ser; do contrario, negatiamos as dix ferengas, as distingdes, ete, pois seriam nada, Conseqitentomente, a idéia de sor é a mais abstracta e ‘também a mais conereta, A mais abstracta, porque pode excluir tidas as diferengas, a mais conereta, porque inclu a thdas elas. Como decorvéncia do que ficou acima exposte, é a idéia, de ser a de malor extensidade (logicamente), pols abrange todos os entes, ¢ é também a do maior intensidade (com- preensio), porque inelui ontoldgicamente todos os prediea- dos, atributos, propriedades, peculiaridades, graus, ete. ¥, ademais, 0 ser um méximo e um mfnimo, porque mais que ser seria ainda sex, e menos que ser seria nada. Coneeqtientemente, abrange aqudles extremos, que néle coin: cidem. ‘Tese 244 — Bm serem, tidas as coisas se wnivocam. Mais uma prova pademos oferecer & univocidade no ser. 20 MARIO FERREIRA DOS SANTOS Diz-se que hé univocidade quando 0 que predicamos de coisas diferentes & conceituadamente idéntico. Sendo a idéia do ser a mais abstracta e a mais conere- ta, incluindo-se nela todas as distingOes e diferengas, todas sue entidlades, por sérem, recebem idéntico predicado, No predicado de ser, ineluindo-se todas as distingdes, nele todas fe confundem. 0 ser predicado a qualquer entidade @ con- exeto, pois, do contrério, seria nuda. Conseqiientemente, tériae as coisas se univocam em serem, embora no conceit de ser estejam confusamente (confundidas, fundidas com) tdas as modalidades de ser. Nessas modalidades surgem as distingbes, as analogias ¢ as eqlivooidades. Mas, em se~ rem, todos og sores se univocam: o Ser Supremo € até os nossos sonhos (1). ‘TEsE 245 — Todo ente contingente é causado, Podemos aduzir agora a esta tese outrs demonstragéo. Diz-se que ¢ contingente o ser que nfo & necessério, isto é 0 ser que nfo tem em si a sua razdo de ser, 0 que ‘tem em outro o seu principio, Tal ser € eausado.’ Logo, todo ser contingente & causado. E € nesta proposigho que temos 0 melhor enunciado do prineipio de causulidade. ‘Todo ser contingente se revela Pela exigencix de vutro ou outros que o antecedem, e do qual bu quais realmente depende, @ que ¢ fundamento também. da Tei da causalidade, reveladora de uma legalidade uni- versal. ‘Tase 216 — O que se move 6 por outro movido. © Ser infinito ¢ absolute nfo sofre mutagdes, j 0 pro- vamos. $6 as sofrem. os séres finitos, Ora, a mutacao im- (1) Bm nosso trabatho “A Problemética da Analogia", reexa~ rminamos esta tose, sebretudo a posieo tomista, « excolis a sta settn” onde aprésentamos uma solugso que reine 3s positivida- Ger desses pensamentos, Que, observados de certo Angulo, parecem neonciliaveis, ‘Tédas as enidades G0 logicamente univocas em fier, mas andlogas quando consideradas segunco n estructura dos seas Togoi, eo Logos do Ser Supreme, com o quel se enaloza. FILOSOFIA CONCRETA 21 trés térmos: 9 ponto de partida, o para onde tende, © 0 em que se realiza @ necio, © movido, ‘Temos assim os térmos a quo (partida), ad quem (meta) © 0 quod, 0 que se move. Ora, 0 que se move 6 passive, pois sofre uma determinagio, a moglo. Ha, portanto, um acto que realiza uma acgdo © algo que a sofre. Do contrario, hhaveria contradigho, pois teriamas de aumitir que 0 que 6 passive, € simultaneamente activo, © sob 0 mesmo aspec- to, 0 da moeho, © que € absurdo, "Nos agree que se chi. mam semoventes, isto 6 que movem a si mesmos, podemos distinguir 0 principio activo que produz a accao © 0 que a sofre. Eu movo 0 mew eorpo, por exemplo. Ha em mim orcas que ponho em accho para vealizar a mogao de algo em mim, que 6 movido, Dale fundamento do adigio: quia oven, a elo ovetan, «que HO mass, € moe do por outro, Bate prinefplo, préprio dos se de proneipio ue movimento. ‘es contingentes, chuma- Tese 247 — Lin corpo mével, eonsideralo adstractae mente em si mesmo, sem ox coordenadas de ubiquagdv, seria suivst. Urn corpo cm miovinente, moves em relagdo @ outro Ons ik movimento, ha sm Spalsoy hé une tr « fu © 3m téimo tem, sha ane. Be velsaomos oneno ser para

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