Manual Tecnico Da Vegetacao Brasileira n.1 PDF

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Presidente da Reptiblica (em exercicio) Itamar Franco Ministro-Chefe da Secretaria de Planejamento, Orgamento e Coordenagao Paulo Roberto Haddad BHASIEIA INSTITUTO BRASILEJRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA - IBGE Presidente Eurico de Andrade Neves Borba Diretor de Planejamento e Coordenacao Djalma Galvao Carneiro Pessoa ORGAOS TECNICOS SETORIAIS Diretoria de Pesquisas Tereza Cristina Nascimento Aratijo Diretoria de Geociéncias Sergio Bruni Diretotia de Informatica Francisco Quental Centro de Documentagao e Disseminagao de Informagées Nelson de Castro Senra UNIDADE RESPONSAVEL Diretoria de Geociéncias Departamento de Recursos Naturais e Estudos Ambientais Ricardo Forim Lisboa Braga brasileiro, recém-descobertas pela arquedioga Maria Beltréo (Museu Nacional) na Bahia, 6 uma homenagem do IBGE aos 500 anos do Descobrimento da América. % Este selo, que reproduz uma das pinturas do homem pré-histérico SECRETARIA DE PLANEJAMENTO, ORGAMENTO E COORDENAGAO FUNDACAO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA - IBGE DIRETORIA DE GEOCIENCIAS DEPARTAMENTO DE RECURSOS NATURAIS E ESTUDOS AMBIENTAIS SERIE MANUAIS TECNICOS EM GEOCIENCIAS Numero 1 Manual Técnico da Vegetacao Brasileira Rio de Janeiro 1992 FUNDACAO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATISTICA - IBGE Av. Franklin Roosevelt, 166 - Centro - 20021-120 - Rio de Janeiro, Ru - Brasil Equire Técnica Organizagio Sistema Fitogeogréfico Henrique Pimenta Veloso Inventario nas Formagées Florestais ¢ Campestres Luiz Carlos de Oliveira Filho Técnicas e Manejo de Colegées Botanicas Angela Maria Studart da Fonseca Vaz Matli Pires Morim de Lima Ronaldo Marquete Procedimentos para Mapeamento José Eduardo Mathias Brazio Colaboradores Antonio Lourengo Rosa Rangel Filho Braulio Ferreira Souza Dias Geraldo Carlos Pereira Pinto Heliomar Magnago Jaime de Souza Pires Neves Filho Jodo Batista da Silva Pereira Jorge Carlos Alves Lima Luiz Alberto Dambrés Petronio Pires Furtado ISSN 0103-9598 (série) ISBN 85-240-0427-4 © IBGE Roberto Miguel Klein Tarciso de S. Filguciras Wanderbilt Duarte Barros Zélia Lopes da Silva EquireE EpiroriaAL Publicagio editorada e elaborada pelo Sistema de Editoragao EletrOnica na Divisio de Fuditoragio e Grdfica - DEDIT/CDDI, em outubro de 1992 Estruturagdo Editorial Aldira Magalhies Casemiro Carmen Heloisa Pessoa Costa Copidesque Helian Schmidt Percira Onaldo Pedro Merisio Reyisio Cristina C de Carvalho Pinho José Luis Nicola Katia Domingos Vieira Sueli Alves de Amorim Umberto Patrasso Filho Edigio Vanda Ribeiro dos Anjos Diagramagio José Augusto Barreiros Sampaio Ronaldo Bainha Maria José Sales Monteiro Capa Aldo Victorio Filho/Fernando Portugal Divisio de Comercializagio DECOP/CDDI Impressio Divisio de Grafica / Departamento de Edi- toragio e Gréfica - DEDIT/CDDI Manual técnico da vegetagio brasileira / Fun ddagdo Instituto Brasileiro de Geografia © Es- tatstca, Departamento de Recursos Naturais © Estudos Ambientais -Rio de Janeiro: IBGE, 1991 92 p - (Mamsis téenicos de Geociéncias, ISSN 0103-9598; n 1) ISBN 85-240.0427-4 1 Fitogeorti Vegetagio - Classiticaci0 - Brasil - Manuals, guias, ete 3. Mapeamento de vegetaglo - Brasil =Manuais, guias, etc 1 IBGE Departamento de Recursos Naturaise Estudos Ambientais IBGE CDDI Dep de Documentasio © Biblioteca RIIBGE/92.01 DU 911 2:581 960) Impresso no BrasiPrinted in Brazil umdario APRESENTACAO 7 SISTEMA FITOGEOGRAFICO 9 Conceituagées 9 Classificagao das Formas de Vida 10 Chave de Classificagio das Formas de Vida 10 ‘Terminologias 11 tema de Classificagtio Fitogeogrifica, 12 Sistema de Classificagio Fisiondmico-Ecolégica 12 Sistema de Classificagao Floristico 15 Classificago Fitossociolégico-Bioecolégica 15 Fitossociologia 15 Bioecologia 16 Sistema Primério 16 Classificagdo das Regides Fitoecolégicas 16 Floresta Ombréfila Densa (Floresta Pluvial Tropical) 16 Floresta Ombr6fila Densa Aluvial 17 Floresta Omibréfila Densa das Terras Baixas 18 Floresta Ombréfila Densa Submontana_ 18 Floresta Ombrdfila Densa Montana 18 Floresta Ombr6fila Densa Alto-Montana 18 Floresta Ombrofila Aberta (Faciagdes da Floresta Densa) 19 Floresta Ombréfila Aberta das Terras Baixas 19 Floresta Ombr6fila Aberta Submontana 19 Floresta Ombréfila Aberta Montana. 20 Floresta Ombr6fila Mista (Floresta de Araucéria) 20 Floresta Ombr6fila Mista Aluvial 20 Floresta Ombr6fila Mista Submontana 20 Floresta Ombréfila Mista Montana 21 Floresta Ombréfila Mista Alto-Montana 21 Floresta Estacional Semidecidual (Floresta Tropical Subcaducifolia) 21 Floresta Estacional Semidecidual Aluvial 22 Floresta Estacional Semidecidual das Terras Baixas 22 Floresta Estacional Semidecidual Submontana 22 Floresta Estacional Semidecidual Montana 22 Floresta Estacional Decidual (Floresta Tropical Caducifolia) 23 Floresta Estacional Decidual Aluvial 23 Floresta Estacional Decidual das Terras Baixas 23 Floresta Estacional Decidual Submontana 23 Floresta Estacional Decidual Montana 24 Campinarana (Campinas) 25 Campinarana Florestada 25 Campinarana Arborizada 25 Campinarana Gramineo-Lenhosa 26 Savana (Cerrado) 26 Savana Florestada (Cerrado) 26 Savana Arborizada (Campo-Cerrado) 26 Savana Parque 27 Savana Gramineo-Lenhosa 27 Savana-Estépica (Caatinga do Sertéio Arido, Campos de Roraima, Chaco Sul-Mato- Grossense e Parque de Espinilho da Barra do Rio Quaraf) 27 Savana-Estépica Florestada 28 Savana-Estépica Arborizada 28 Savana-Estépica Parque 28 Savana-Estépica Gramfneo-Lenhosa 29 Estepe (Campos Gerais Plandlticos e Campanha Gaiicha) 29 Estepe Arborizada 29 Estepe Parque 30 Estepe Gramfneo-Lenhosa 30 Classificago das Areas das Formag@es Pioneiras 30 Vegetacao com Influéncia Marinha (Restingas) 31 Vegetagio com Influéncia Fluviomarinha (Manguezal e ‘Campo Salino) 31 Vegetacio com Influéncia Fluvial (Comunidades ‘Aluviais) 31 Classificagao das Areas de Tensio Ecolégica (Vegetagiio de Transigao) 31 Ee6tono (Mistura Floristica entre Tipos de ‘Vegetagio) 32 Encrave (Areas Disjuntas que se Contatam) 32 Classificago dos Reftigios Vegetacionais (Comunidades Reliquias) 32 Sistema Secundério 32 Sucessio Natural 32 Primeira Fase 33 Segunda Fase 33 Terceira Fase 33 Quarta Fase 33 Quinta Fase 33 Agropecuétia 34 Agricultura 34 Pecuéria (Pastagem) 34 Reflorestamento 34 Legenda do Sistema Fitogeografico nas Escalas Exploratéria e Regional (1:250 000 até 1:1 000 000) 34 INVENTARIO NAS FORMAGOES FLORES- TAISECAMPESTRES 39 Conceituagio 39 Tipos de Inventério quanto ao Detalhamento 39 Inventirios Florestais de Reconhecimento 39 Inventirios Florestais de Semidetathe 40 Inventirio Florestal de Pré-Exploragio Florestal 40 ‘Técnicas de Amostragem 40 Amostragem Inrestrita ou Inteiramente Casualizada 41 Amostragem Restrita ou Estratificada 41 Amostragem Sistemtica 41 Amostragem Seletiva 42 Amostragem em Conglomerados 42 Amostragem com Parcelas de Tamanho Variével 43 Outros Tépicos de um Inventario Florestal 43 Eqilidistancia entre as Unidades de Amostra 43 Erro de Amostragem 43 ‘Tamanho e Forma das Unidades de Amostra 43 Distribuigao Espacial das Arvores de Espécies Quaisquer 44 Tipos de Distribuiggo Espacial 44 Métodos para Detectar 08 Tipos de Distribuigo Espacial 44 Método dos Método das juadrados" (Parcelas) 44 istincias" 44 Etapas de um Inyentério Florestal 44 Planejamento 44 Necessidade de Realizar um Inventitio Florestal 45 Definigao dos Objetivos 45 Definigao do Parimetro mais Importante a ser Definido no Projeto de Inventario Florestal 45 Execugio 45 Interpretagdo de Imagens 45 Inventarios Florestais com Propésitos de Produgio de Madeira em uma Conjuntura Estitica 45 Distribuigo das Unidades de Amostra e Precis Requerida 45 Tamanho, Forma e Dimensdes das Unidades de Amostra 46 Localizagio Orientagao das Unidades de Amostra 46 Inventérios Florestais com Propésitos de Produgio de Madeira e Aproveitamento da Biomassa Residual 46 io das Unidades de Amostra ¢ Intensidade de Amostragem 46 Dimens6es, Tamanho e Forma das Unidades de Amostra 46 Inventarios Florestais com Propésitos Extrativistas 47 Trabalhos de Campo 48 Altura 48 Diémetro 48 Distancia 48 Nome Vulgar 49 Sanidade Aparente 49 Descrigao Sucinta da Vegetagio 49 Quantificago dos Resfduos 50 Procedimentos Metodolégicos para Levantamento do Potencial Lenhoso/ Arbéreo de Formacies Campestres 50 Distribuigdo das Unidades de Amostra 50 Intensidade, Forma, Tamanho e Dimensbes das Unidades de Amostra 50 Localizagio e Orientagio das Unidades de Amostra na Savana (Cerrado) e na Savana-Estépica (Caatinga) 50 Variiveis a serem obtidas na Savana (Cerrado) € nna Savana-Estépica (Caatinga) 50 Savana (Cerrado) 50 Savana-Estépica (Caatinga) 50 Processamento de Dados 52 Resultados Esperados 52 Determinagao do Potencial de Madeira 52 Determinagao da Potencialidade 53 Discussio dos Resultados 53 Consideragies Finais $3 TECNICAS E MANEJO DE COLEGOES BO- TANICAS 55 Conceitos Gerais 55 Metodologia para Coleta e Herborizacio 56 Equipe de Campo 56 ipamentos de Coleta e Herborizagio 56 Utilizagao do Equipamento de Campo 61 Metodologia de Coleta Propriamente Dita 61 Fichade Coleta 61 Numeragio das Amostras 61 Regras Gerais 62 Metodotogia para Herborizacaio 62 Prensagem 62 Secagem 64 Terminologia para Descrigao da Planta de Campo 64 Dados Relacionados & Planta/Ambiente 64 Fregiiéncia da Espécie em Relagio ao Ponto da Cole 64 Aspectos Gerais do Individuo Coletado 65 ‘Tipos Peculiares de Rafzes Adventicias 65 Aspectos Gerais do Tronco ¢ dos Ramos 67 Folhas, Flores ¢ Frutos 67 Manual Técnico da Vegetacao Brasileira Notas sobre Técnicas Especificas de Coleta e Herborizagio 67 Pterid6fitas 67 Palmeiras 68 Gramineas (Bambus) 69 Bromelidceas 69 Lianas 69 Plantas Herbficeas 70 Plantas com Partes Volumosas 70 Herbério 70 Processamento das Colegées 70 Etiquetagem 70 Metodologia para Identificagaio do Material Botiinico 71 Identificagio para Atendimento a Projets 73 Montagem ¢ Registro 74 Incorporagao das Exsicatas. 75 Manutengo das Colegdes. 75 Dindmica de Herbério 75 Procedimentos para Mapeamento 77 Interpretagio Preliminar 77 Integeagio Preliminar 77 Operagées de Campo 77 Caderneta de Campo 77 Reinterpretagao 77 Mapa Final 77 Relatério 84 BIBLIOGRAFIA 89 ‘Tabelas 1 - Esquema de Classificagio da Vegetagao Brasileira 36 2- Caracteristicas da Vegetagio, do Terreno e seus Res- pectivos Indices 53 3 - Classes de Produtividade Obtidas da Tabela2 54 Figuras 1 - Area florestal dividida em rede de unidades de amostras de igual tamanho 41 2.~ Area florestal dividida em rede de unidades de amos- tras. As parcelas préximas as bordaduras sao de tamanho e forma irregulares 41 3 - Floresta estratificada dividida em rede de unidades de amostras de igual tamanho 41 4 - Floresta estratificada dividida em rede de unidades de amostras. As parcelas préximas &s bordaduras sio de tamanho ¢ forma irregulares 41 Manual Técnico da Vegeragdo Brasileira 5 ~ Amostragem sistemitica em faixas. A floresta é de forma regular e as faixas de comprimento uniforme 42 6 - Amostragem sistemética em faixas. A floresta € de forma irregular e as faixas de comprimento variado 42 7 - Conglomerados com distribuiglo sistematica, Os limites dos estratos so delimitados durante os trabalhos de campo e podem dividir 0s elementos do conglome- rado 43 8 - Conglomerados distribufdos aleatoriamente. Numa s-estratificagao os limites dos estratos podem dividir 0s elementos do conglomerado 43 9 Bfeitos da clareira sobre parcelas largas (a) e parcelas estreitas (b) 46 10 - Tamanho, forma e dimensdes das parcelas (unidades de amostras) recomendadas para inventéios florestais na Amazénia (escala 1:250000) 47 11 - Esquema de amostragem usando 0 método do Vizinho Mais Préximo - VMP_—_47 12 - Medico da altura comercial (He) e do diametro & altura do peito (DAP) A altura do peito considerada é a 1,30 m do solo. 48, 13 - Sanidade do fuste 49 14 - Classes de estruturas mais comuns nos indivéduos arbéreos da Savana-Estépica (Caatinga) De - diametro da copa; He ~ altura da copa; Ht - altura total; D1 e D2 - didmetro 51 15 - Modelo de Ficha de Coleta_ 57 16 - Tipos de Podio (a, b,c); Desplantador (d); Prensa Aberta e Fechada (¢) (a-d) retiradas de Fidalgo & Bononi (1984); () retirada de Mori et al. (1985) 59 17 ~ Equipamentos para Coleta de Material Arbéreo: Esporio (a); Cinturfo de Seguranga ¢ Talabarte (b); Bota (©). Retirados de Fidalgo & Bononi (1984) 60 18 - Numeragio das amostras: Ntmero de Coleta do Individuo a (a); Numero de Coleta do Individuob (b) 62 19-Tipos de Prensagem: AmostraemN ou V (a); Amostra com Folhas Cortadas mostrando o vestigio do Peciolo (b); Folhas prensadas mostrando 0 lado ventral ¢ 0 dorsal (c); Montagem de Planta Herbicea (a). 63 20 - Tipos de Habito: Cespitosa (a); Decumbente (b); Escaposa (c); Prostrada (a); Trepadeira Volivel (e) ecom Gavinha (0). Retirados de Mori etal. (1985) 66 21 - Aspecto geral de uma Pteridéfita (a); Detalhe da Pina mostrando 0 Soro (b). Retirado de Arreguin-Sénchez (1986) 68 22 - Modelo de Etiqueta para os Herbérios do IBGE 71 23 - Materiais para Montagem de Exemplares no Her- batio: Envelope para fragmentos de amostra (a); Camisa para Montagem (b); Saia para Montagem (c) 74 24 - Exemplo da Representagio Cartogrifica do Mapeamento da Vegetagio. 83 APRESENTACAO Este manual enfeixa a experiéncia adquirida pela equipe de vegetagio do IBGE, cujos estudos tiveram como principais inspiradores e orientadores incansdveis os professores Henrique Pimenta Veloso ¢ Edgard Kuhlmann. Em 1966, a hicida visio de Henrique Pimenta Veloso possibilitou a publicagio do Atlas Florestal do Brasil. Posteriormente, em 1971, no Projeto RADAMBRASIL, foi o mentor que formulou as bases para a criag3o do Sistema Fitogeografico Brasileiro e o estabelecimento de uma Escola Fitogeografica. Neste mesmo periodo Edgard Kuhlmann, notavel pesquisador, estabeleceu as linhas basicas dos estudos da flora e da vegetago quando da criago da antiga Superintendén- cia de Recursos Naturais e Meio Ambiente do IBGE. Muito também se deve aos professores Roberto Miguel Klein e Geraldo Carlos Pereira Pinto que emprestaram seus not6rios conhecimentos ao estudo da Vegetagiio Brasileira. O primeiro, proficiente da flora do sul do Pais, foi curador do Herbario Barbosa Rodrigues, publicando intimeros trabalhos. O segundo, profundo conhecedor da flora do semi-drido nordestino, foi, também, professor da Escola de Agronomia de Cruz das Almas e um dos fundadores do Herbario RADAMBRASIL, hoje existente na Divisdo de Geociéncias da Bahia. ‘A publicago desta obra coincide com a retomada da prioridade conferida as questoes ambientais no Ambito do IBGE. Neste contexto destacamos: o repensar do papel da Reserva do Roncador, em Brasilia, transformando-a em Centro de Estudos Ambientais do Cerrado; a implantagao do Projeto de Dinamizago dos Herbérios, no ambito da Diretoria de Geociéncias; a elaboragao do Diagnéstico Ambiental da AmazOnia Legal; a implementagao dos processos de Informatizagao das Informagdes Ambientais e a construgao do Sistema de Estatisticas Ambientais. Estas agGes s6 foram realizadas devido A dedicago e & competéncia de iniimeros ibgeanos que nos precederam e que, por nao ser possfvel nomin4-los, prestamos a todos a devida homenagem por intermédio dos ilustres professores citados nesta apresentagio. Den. OM . Eurico de Andrade Neves Borba Presidente do IBGE 1 SISTEMA FITOGEOGRAFICO Desde os tempos do grande fil6sofo alemaio Em- manuel Kant (1724/1804) que 0 conceito de Geo- grafia Fisica vem mudando em sintonia com a evolugao das cigncias da Terra e do Cosmos. Naque- la €poca Kant adotou o termo "sistema" como sig- nificando um conjunto de problemas ordenados segundo alguns princfpios uniformes. Foi, no entanto, com Alexandre F. von Humboldt no seu livro Ansichten der Natur (Aspectos da Na- tureza), publicado em 1808, que se iniciou a histéria da moderna Geografia Fisica. Ele foi aluno de Kant, que 0 incentivou no pensamento politico da liberda- de individual eno estudo da Geografia, podendo ser assim considerado como o pai da fitogeografia, com seu artigo Physiognomik der Gewachese (Fisiono- mia dos Vegetais) publicado em 1806. Foi também Humboldt que em 1845/48 publicou a sua monu- mental obra Kosmus, ensaio de uma descrigio fisica do mundo, possibilitando aos naturalistas um novo conhecimento da Geografia Fisica, inclusive da Bo- tanica. Ap6s Humboldt seguiram-se outros naturalistas que se destacaram no estudo da fitogeografia, tais como: Grisebach (1872) que pela primeira vez gru- pou as plantas por carter fisiondmico definido, como floresta, campo e outros, designando-os como "formages"; Engler & Prantl (1877) que iniciaram a moderna classificagao sistemética das plantas; Drude (1889) que dividiu a Terra em zonas, regides, domtfnios e setores de acordo com os endemismos que apresentavam as plantas; final mente Schimper (1903) que no infcio do século tentou, pela primeira vez, unificar as paisagens vegetais mundiais de acordo com as estruturas fisiondmicas. Por este motivo ele deve ser considerado como 0 criador da moderna fitogeografia. Seguem-se a esta apresentagao histérica da fito- geografia outros autores mais modernos que in- fluenciaram a classificagio aqui adotada como: Tansley & Chipp (1926), Gonzaga de Cam- pos (1926), Schimper & Faber (1935), Burtt-Davy (1938), Sampaio (1940), Trochain (1955), Aubré- ville (1956), Andrade-Lima (1966), Veloso (1966), Ellemberg & Mueller-Dombois (1965/6), UNESCO (1973), Rizzini (1979), Veloso & Gées- Filho (1982) Biten (1983). Assim sendo, o presente manual para estudos fito- ‘geograficos segue a linha da "Classificagaio da Ve- getagao Brasileira, adaptada a um Sistema Universal" (Veloso et alii - datilografado), de onde foram retirados a nomenclatura e os conceitos liga- dos & geografia botinica. 1.1 Conceituagées Neste item conceituam-se varios termos questio- naveis e discutem-se outras nomenclaturas usadas no levantamento da vegetagao que auxiliam sobre- maneira a fitogeografia, Os conceitos populares de drvore, arvoreta, arbus- to, erva e cip6 jé indicavam empiricamente como cresciam as plantas. Foi, porém, Humboldt (1806) o primeiro naturalista a ensaiar conceitos cientificos sobre as formas de vida das plantas, no seu trabalho Physiognomik der Gewachese (Fisionomia dos Ve- getais), diferenciando 16 formas significativas. Contudo foi Kemer (1863) que, baseado em Hum- boldt, tentou demonstrar a dependéncia das formas de vida das plantas ao clima, simplificando as for- mas vegetais em 11 tipos, sem prendé-los a sistemé- tica que seguia caminhos diferentes. A partir de Warming (1875), porém, 0 conceito de forma dos vegetais modernizou-se e passou a refle- tir uma adaptagdo ao ambiente, apresentando uma estrutura fisioldgica preexistente que indicava um fator genético da planta. Raunkiaer, baseado em Warming, inicialmente em 1905 e depois em 1918, criou um sistema simples e muito bem ordenado de formas de vida, as quais denominou de "formas biolégicas". Este sistema foi aplicado em trabalhos fisiol6gicos e estendido posteriormente para a fito- geografia por Kuchler (1949) e Ellemberg & Muel- ler Dombois (1965/66) em face das respostas das plantas aos tipos de clima, desde 0 tropical até o temperado e frio. As formas biolégicas de Raunkiaer (1934) dife- renciavam as plantas pela posi¢ao e protegiio dos 6rgaos de crescimento (gemas e brotos) em relag¢ao aos periodos climaticos desde o calor ao frio e do imido ao seco, Ele separou assim as plantas em cinco categorias: faner6fitos, caméfitos, hemicrip- t6fitos, cript6fitos e teréfitos. A partir daf, muitos pesquisadores modificaram ou mesmo inclufram outras categorias de formas de vida a classificagao de Raunkiaer. Para o presente caso, incluso de parametro auxi- liar para a classificagio da vegetacao, usaram-se as modificagées propostas por Braun-Blanquet (1932), acrescidas de algumas das subformas apre- sentadas por Ellemberg & Mueller-Dombois (1965/6) mais as alteragdes incluidas das subformas de faner6fito a adoco de mais uma categoria de forma de vida visando A vegetacio brasileira. 1.2 Classificacao das Formas de Vida tas apresentam-se com alturas varidveis, desde 0,25 até cerca de 15 m, ocorrendo freqiientemente nas reas savanicolas do Centro-Oeste brasileiro. O ter- mo "xeromorfo" foi introduzido pela Universidade de Sao Paulo - USP - para designar uma forma vegetal da Savana (Cerrado) de Emas (SP), confor- me Rawitscher (1943/4). Esta classificagdo baseada em Raunkiaer foi adap- tada as condigGes brasileiras como segue: I - Faner6fitos: sio plantas lenhosas com as gemas e brotos de crescimento protegidos por caiafilos, situados acima de 0,25 m do solo. Apresentam-se com dois aspectos ecoedificos: normal climético ¢ raquitico oligotrético, subdivididos, conforme suas alturas médias, em: Macrofaneréfitos: so plantas de alto porte, va- riando entre 30 e 50 m de altura, ocorrendo pre- ferencialmente na Amaz6nia ¢ no sul do Brasil. Mesofaner6fitos: so plantas de porte médio, va- riando entre 20 e 30 m de altura, ocorrendo prefe- rencialmente nas areas extra-amaz6nicas. Microfanerofitos: so plantas de baixo porte, va- riando entre 5 e 20 m de altura, ocorrendo preferen- cialmente nas dreas nordestinas e no Centro-Oeste. Nanofaneréfitos: sfio plantas ands, raquiticas, va- riando entre 0,25 e 5 m de altura, ocorrendo prefe- rencialmente em todas as dreas campestres do Pats. Il - Caméfitos: so plantas sublenhosas e/ou ervas com gemas e brotos de crescimento situados acima do solo, atingindo até 1 m de altura e protegidos durante 0 perfodo desfavorivel, ora por catafilos, ora pelas folhas verticiladas ao nfvel do solo, ocor- rendo preferencialmente nas areas campestres pan- tanosas. IIL - Hemicript6fitos: so plantas herbéceas com gemas e brotos de crescimento protegidos ao nivel do solo pelos céspedes que morrem na época desfa- vordvel, ocorrendo em todas as 4reas campestres do Pais. IV - Geé6fitos: sio plantas herbéceas com os érgfios de crescimento (gema, xilopédio, rizoma ou bulbo) situados no subsolo, estando assim protegidos du- ante o perfodo desfavoravel, ocorrendo preferen- cialmente nas areas campestres eem alguns casos, nas éreas florestais. V - Terfitos: so plantas anuais, cujo ciclo vital € completado por seinentes que sobrevivem & estago desfavordvel, ocorrendo exclusivamente nas areas campestres. VI - Lianas: sio plantas lenhosas e/ou herbéceas reptantes (cip6s) com as gemas e brotos de cresci- mento situados acima do solo, protegidos por cata- filos, ocorrendo quase que exclusivamente nas reas florestais. VI - Xeromérfitos: so plantas Ienhosas e/ou her- béceas que apresentam duplo modo de sobrevivén- cia ao perfodo desfavordvel; um subterrdneo através de xilopédios ¢ outro aéreo, com as gemas e brotos de crescimento protegidos por catafilos. Estas plan- 10 1.3 Chave de Classificagéo das Formas de Vida Esta chave de classificagdo foi baseada em Raun- kiaer, modificada eadaptada para o Brasil. Apresen- ta as formas biolégicas de Raunkiaer modificadas, acrescidas das subformas de vida de Ellemberg & Mueller-Dombois e ainda com mais uma forma de duplo modo de sobrevivéncia de Rawitscher, como segue: 1 - Plantas autotrétficas com um s6 lipo de protegao do érgao de ccrescimento - Plantas autotr6ficas com dois tipos de protegao dos érgios de cresciMeMtO es ws 7 2+ Plantas perenes.. 7 Plantas ana, reproduzidas por sementes.. : a 3 Plantas lenbosas com érgios de ‘rescimento protegidos por CFOS rr ones Plantas sublenbosas e/ou herbaceas com gemas periddicas, protegidas por catafilos ¢ situadas AME 1M dO $010 re = CAMEFITOS Plantas herbéceas com outros tipos de protegio de crescimento. 5 4 Plantas lenhosas erectas . . . 6 Plantas lenhosas e/ou herbacea: que necessitam de um suporte .. 5 - Plantas com gemas situadas 0 nivel do solo, protegidas pela folhagem morta durante o periodo desfavordvel.. LIANAS HEMICRIPTOFITOS lantas com érgios de crescimento localizados no subsolo. 6 - Plantas cuja altura varia entre 30e 50m = Plantas cuja altura varia entre 20 € 30m . Plantas cuja altura varia entre Se 20m sn Plantas cuja altura varia entre 0,25 CSM cee nines + 7 - Plantas lenhosas e/ou herbéceas com gemas protegidas [por catafilos na parte aérea e com ‘Srgios de crescimento subterraneo. ..... GEOFITOS MACROFANEROFITOS MESOFANEROFITOS: . MICROFANEROFITOS NANOFANEROFITOS XEROMORFITOS Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira 1.4 Terminologias Objetivando uma uniformizagao apresentam-se aqui as conceituagdes de termos por vezes questio- naveis: = Sistema: é um todo ordenado segundo alguns princfpios cientificos (Kant, 1724/1804). = Iimpério Floristico: segundo Drude (1889) a flora do mundo foi dividida em zonas, regides, dom‘nios e setores. - Zona: é uma 4rea caracterizada por familias endé- micas, como por exemplo: Zona Neotropical - ter- ritério compreendido entre o México e a Patagonia (Argentina), estando af inclufdo Brasil; Paleotro- pical - Africa e Asia; Holértica - Norte da Africa, Asia e Europa. ~ Regido: € uma 4rea caracterizada por géneros endémicos como por exemplo todos os tipos de vegetagio do Brasil (floresta, savana, etc.). ~ Dominio: € uma Area caracterizada por espécies endémicas. = Setor: € uma frea com dominio a nivel de variedade. - Ecétipo: € um conjunto de indivfduos de uma comunidade com um mesmo padrio genotipico. - Formagiio: termo criado por Grisebach (1872) para designar um tipo vegetacional definido. Foi refor- mulado por Du Rietz (1957) como um conjunto de formas de vida de ordem superior composto por uma fisionomia homogénea, apesar de sua estrutura complexa. - Classe de Formagio: termo criado para designar um conjunto de formagées semelhantes, reunidas dentro de uma mesma concordancia ecolégica (Troll, 1948). Também denominada de Panforma- 40 (Du Rietz, 1957) ou Protoformagio (Dansereau, 1954), Esta classe de formagao caracteriza o fitocli- ma de uma Regifio Ecolégica. Termo usado como sin6nimo de Tipo de Vegetagao (Veloso, 1975). - Subclasse de Formagi: termo criado por Ellem- berg & Mueller-Dombois (1965/6) como segunda subdivisao hierdrquica da formagao. Foi conceitua- da como a fase climatica da mesma. - Subgrupo de Formagiio: termo criado por Veloso & G6es-Filho (1982) para conceituar a fisionomia estrutural da formagio. - Grupo de Formagio: termo criado por Ellemberg, & Mueller-Dombois (1965/6) como a terceira sub- divisdo hierérquica da formagao. Foi conceituada como a fase fisiolégica da mesma. Manual Técnico da Vegetagao Brasileira = Formagio propriamente dita: termo criado por Ellemberg & Mueller-Dombois (1965/6) como a quarta subdivistio hierérquica da formagao. Foi con- ceituada como a fase ambiental da mesma, - Subformagio: termo muito usado como uma sub- divisdio da formagio. Foi conceituada como parte integrante da mesma, apenas diferenciando por apresentar facies especificas que alteram a fisiono- mia da formagio. ~ Estratos: so as situagdes verticais como se dis- poem as plantas lenhosas dentro da comunidade, avaliadas em metros. ~ Floresta: termo semelhante 4 mata no sentido popular, tem conceituagaio bastante diversificada, ‘mas firmada cientificamente como sendo um con- junto de sinésias dominado por faneréfitos de alto porte, com quatro estratos bem definidos (herbaceo, arbustivo, arvoreta, arb6reo). Além destes parame- tros, acrescenta-se o sentido de altura, para diferen- cid-la das outras formagées lenhosas campestres. Assim sendo, uma formagio florestal apresenta do- minancia de duas subformas de vida de faner6fitos: macrofaneréfitos, com alturas variadas entre 30 € 50 m, e mesofaneréfitos, cujo porte situa-se entre 20 e 30 m de altura. - Savana: termo criado por Oviedo y Valdez (1851) para designar os thanos arbolados da Venezuela. Foi introduzido na Africa pelos naturalistas espa- nhéis como Savannah e no Brasil por Gonzaga de ‘Campos (1926). ~ Parque: termo empregado por Tansley & Chipp (1926) como um tipo de vegetagio (Parkland) € sinénimo de "savana arborizada". Foi adotado para designar uma fisionomia dos subgrupos de forma- Ges campestres brasileiros, sejam naturais ou an- tr6picos. - Savana-Estépica: binémio criado por Trochain (1955) para designar uma formagio africana tropi- cal proxima & Zona Holértica. No dizer do mesmo naturalista, a fisionomia estépica deveria ser prece- dida do termo Savana por ser fisionomia tropical. Esta fisionomia foi extrapolada como sindnimo uni- versalizado do termo indigena Tupi-Guarani Caa- tinga, que, no dizer do notdvel botanico Dardano de Andrade-Lima, caracteriza muito bem os tipos de vegetago das dreas Aridas nordestinas interplandl- ticas arrasadas (sertio), as areas plandlticas do alto Surumu em Roraima, as dreas da depressio sul- mato-grossense, situadas entre a serra da Bodoque- na e 0 rio Paraguai (Chaco) ¢ a érea da barra do rio Quaraf com o rio Uruguai, no Rio Grande do Sul. nu - Campinarana: termo regionalista brasileiro em- pregado pela primeira vez para a drea do alto rio Negro por Rodrigues (1960), utilizado como sin6- nimo de Campina, significando também falso cam- po na linguagem dos silvicolas locais. Foi adotado por ser {mpar na fitogeografia mundial e ter cono- tagdo prioritaria sobre seu sindnimo, usado para designar as formagées campestres do sul do Pais (Gonzaga de Campos, 1926). Este tipo de vegeta- 40, pr6prio da Hiléia Amaz6nicae sem similar fora do tertitério floristico endémico, ocorre nas dreas fronteirigas com a Colémbia e Venezuela, adaptado a solos Podzol Hidromérficos e Areias Quartzosas Hidromérficas. - Comunidade: termo empregado para designar um conjunto populacional com unidade floristica de aparéncia relativamente uniforme, caracterizada como uma subdivisdo de subformagio, com area espacial conhecida. - Sintisia: termo que significa um conjunto de plan- tas de estrutura semelhante, integrada por uma mesma forma de vida ecologicamente homogénea (Du Rietz, 1957). = Associagio: € a menor unidade da comunidade vegetal, delimitada pela relagio espécie/area minima correspondente A unidade espacial bésica da classificagao fitossociolégica (Braun-Blanquet, 1979). ~ Subassociacao: diferencia-se da associagio padrio pela falta de algumas espécies caracteristicas (Braun-Blanquet, 1979). - Variante: diferencia-se do padrdio da associagio por apresentar maior abundancia de determinados taxa (Braun-Blanquet, 1979). - Facies: caracteriza-se por apresentar uma combi- nagdo de espécies particulares, mais ou menos casuais, dentro de uma associagio (Braun-Blan- quet, 1979). = Sociagio ou Consorciagio: é uma parcela ho- mogénea da associagio, caracterizada por um aglomerado espectfico (Du Rietz, 1957). - Ochlospécie: termo originado do grego okhlos, que significa multidao ou aglomeragao no sentido de expansio, e espécie que segundo White (1962) tem o seguinte significado: ampla distribuigao exibindo ao longo de suas areas de ocorréncia uma uniformidade morfoldgica mais ou menos fixa, criada por barreiras reprodutivas que espelham um isolamento ambiental pretérito advindo de épocas secas ou timidas. ~ Vegetagilo disjunta: so repetigdes, em pequenas escalas, de um tipo de vegetacdo préximo que se insere no contexto da Regio Ecol6gica dominante. Conforme a escala cartografica que se esta tra- balhando, um encrave edifico considerado como comunidade em transigo para outro tipo de vege- R tago (Tenstio Ecolégica) poderd ser perfeitamente mapeado como uma comunidade disjunta do climax mais proximo. - Climax climético: 6 a vegetaglio que se mostra equilibrada dentro do clima regional, como por exemplo: Floresta Ombr6fila Densa Amaz6nica Atlantica, Savana-Estépica (Caatinga do sertio 4rido nordestino) e outros. = Climax edéfico: é a vegetagto que se mostra equilibrada dentro de uma situagao pedolégica uni- forme regionalmente, como por exemplo: Campi- narana (Campinas) que ocupa as éreas de Podzol Hidromérfico e Areias Quartzosas Hidromérficas na bacia do alto rio Negro e de savanas (cerrado) que revestem Areas de solos degradados ¢ alumini- zados que ocorrem no Pats. - Facies de uma formagio: caracteriza-se por apre- sentar parmetros particulares dentro de uma paisagem vegetacional que se destacam fisionomica- mente, como por exemplo: tipo de dossel que domina na floresta, formas de vida especificas que se destacam pela presenga ou auséncia de floresta- de-galeria dentro das formagées campestres ¢ ou- tros. - Regitio Ecolégica: é um conjunto de ambientes marcados pelo mesmo fendmeno geolégico de im- portincia regional que foram submetidos aos mes- mos processos geomorfoldgicos, sob um clima também regional que sustentam um mesmo tipo de vegetacio (Sarmiento & Monasterio, 1970). 1.5 Sistema de Classificagao Fitogeogréfica ‘A metodologia para se cartografar o Sistema Fi- togeografico segue um procedimento de mapeamento em escalas crescentes, desde 0 "re- gional” (1:2 500 000 até 1:10 000 000), passando pelo "exploratério" (1:250 000 até 1:1 000 000), prosseguindo pelo "semidetalhe" (1:100 000 até 1:25 000) e terminando no "detalhe" (1:25 000) de acordo com os objetivos aserem alcangados. Assim, apés o estabelecimento da escala, o sistema vege- tacional atinge duas metas distintas (Tabela 1). 1.5.1 Sistema de Classificagio Fisionémico-Ecolégica A primeira meta a ser atingida pelo levantamento fitogeogrifico deverd ser 0 fisiondmico-ecol6gico, compreendido dentro de uma hierarquia de for- magées segundo Ellemberg & Mueller-Dombois (1965/6). Delimiitada assim, a Regio Ecol6gica Floristica, que corresponde a um tipo de vegetacao, deve ser inicialmente separada pela Classe de For- Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira ‘TABELA1 ESQUEMA DE CLASSIFICACAO DA VEGETACAO BRASILETRA, [CLASSIFICAGAO FITOGEOGRAFICA IMPERIO ‘esl gional (1:10 00000 at 12 $000 au exzala explora (I 100000 at 125000) ruoktstico [Tava eeaste as caassespe | susctassesne| arurospe | susorurospe | FORMAGOSS vom | peano |_Tomagoes |"romiagées | ronagoes | “romagoes’ | egunese_|SUHFORMAgSes Earuur/Farmes | Clinubstist | FuilogaTamgi- | Finan sono de vide Mico | raghoe Feria | iano) | ABMEMICIEIO | socetien aces “a qe, | Dose anterne DENSA Stimentana ¢ ‘Mena | Desielenerpente g Anosmenane = sacroaresfie, | OMBROALA (| teres Temstaias | Com pines 5 Mesofanersfivas, | meses secon) | Diswetiens¢ ‘ABERTA ‘Submmontane Com cips a eae fc) Montane | Com taba ¢ Com srorcca 2 Dose fame = Masta 3 axel emergene & igtiaXetin Dowel wife q 3 rronesta | estacioxats | tAtere. | SSMIDECIDUA. 4 % | tacntamerton, | adres secon | _ Dion Desol emergente 4 g Meseonersitos, |” com 3meies H _ —EerersSOSsOsSS Pod sete 3 2 ‘Batic é & Dense emergente 33 S| canpnvarana aa 8 (Campinas) Ze 5 (Sermo, a a3 . Gisromeetion | onepRGrILA oa | Higa (cose | ARBORIZADA | Relevotabuirelou | Com paimeis oe 3 motets, | yee sco) | Disiew) | GRAMINEO. | Depesoveciaa | Sempumcees qa | TENto58 Be 3 Epi Ba 7 SAVANA os 8 (Cem 36 Z (erm, FLORESTADA S| erotanerti, " on reste oe 4 xotne60s. | esracronat ce | Higa Atcone | ARBORIZAPA | rranrosuutwes | a Be 7 Nanotaersis | O46 meses sees) | Disstico) PARQUE | | "elouPlanices | 5 ‘te ag E Casto, GRAMINEO. Sem forest ae z ‘estes, LLENIIOSA degsleria 5a = Henirpios, 22 g Linas Eifion) £2 SAVANAL ag 4 ESTEPICA 28 2 | comings Cea, a: S| come 38 é cima Page Depesto | Com Ares a g deEspnihode | ESTACIONAL FLORESTADA | isgrrnthicn | desleria ae & ‘ARBORIZADA i 7 5 = Quera) | tcommsis de6 | xerstamtinstin | ARBORIZAPA | rasa noresion | Sem frst A B | etierfanersies, | meses ser ou | (Eaeices at ‘sbuDeyeeseto | dela a 2 Nanofaerftes, | com fo igo) ORAMINEO | om acomlgiet . = : LENHOSA 7 i 5 ‘Cameos, rere, zg 8 Gest, 2 Henri, & ‘Terdfites, Lamas ¢ 5 Epes) 2 g ESTEPE s (Camganta acta & Campos seston) |p ARBORIZADA Cont et 3 crowtnctes | ETC | sigcrtecia | “nwnaue” | Petco | aeges | Cameos, | COATT easton) | GRAMINEO. | Pats | Sem ree | ‘Ge, | LENIOSA deslenia | ences, Tei, Linas © | ti Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira 2B seals de Semideulhe © Dealhe 1100 00D a 1:25 000) (aioe gue 1:25 600) -BIOECOLOGIA cores optuyyap owsyoqerout 2p odn win 2 eotjon opSeziueiso wiod ‘oaneioosse [euotaeindod oqunfuos win 9 :—ASONIDOTOOIE 8 WWALSISSOOA ECOLOGIA icsodologia COMUNIDAD ES Soxigto coyyseds0 opezewojde wn sod epecuaizese> opSeioosse ep eausSowoy wjaared vuln 9 :opSeIdu0sU05 no oBSeI20g Facies Tnsvo souaw no sreur satogdso ap sejnotiaed opSeuiquioo vuin squasoude sod 9s-zuaraez9 's910e.f ‘rine pro} sopeutwsayep op Biougpunge sopeU seyuasaude 40d ovSeIOosse up opsped op 2s-viouaLa,IP :oNeUEA, ‘Subassei soonsysaiaeseo vx01 sundye ware) sod opsped opSeioosse wp 9s-viou2z9}1p :opSetzosseqng ‘Associ voidojois0ssoryy opSeoutsse}> Bp voISE opepiun e aqwepuodsauios eunujun wowpyoiopdsa opSejar wad RpRIIU!}ap ‘apepluntoD ep apepiun JOUDUL ¥ 9 :oRseI20ssy ‘MPERIO FLORISTICO SETOR ‘pepiunutoo ep sajuarquie soUEA so UieaTAL2}2p enb SOPEPE}IEA uDIsIX9 SaQSEIDOSSe SEP O11U9q DOMINIO ‘2pepiunuros ep owoumyjerap ou sepeuruLaTop ‘usas9s 8 'seoqutgpud sotopdso siews no | HOD ‘soDtIsLOY SoIU;LUOP SoLpA sHsIxa Wapod votTojorg OBI2y eped EI Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira “ magiio que corresponde A estrutura fision6mica de- terminada pelas formas de vida dominantes, podendo ser florestal (macro e mesofaneréfi- tos, lianas e epffitas) e nao florestal (micro e nanofaner6fitos, caméfitos, hemicriptéfitos, ge6fi- tos, ter6fitos, lianas e epifitas). Para cada Classe de Formagio segue-se a Subclasse, caracterizada por dois parametros do clima - 0 Ombréfilo e 0 Estacional -, ambos distinguidos pelacorrelagao das médias mensais da precipitago com o dobro da temperatura (indice de Bagnouls & Gaussen, 1957), checada pela adaptaciio dos érgiios de crescimento das plantas com o sistema de protecio ao déficit hidrico nos solos. Apés esta Subclasse segue 0 Grupo de Formagao, determinado pelo tipo de tran- spiragdo estomética foliar e pela fertilidade dos solos. Em seguida vem 0 Subgrupo de Formago gue indica comportamento das plantas segundo seus habitos e finalmente a Formagio propriamente dita que é determinada pelo ambiente (forma de relevo). A Subformagio € caracterizada pelas facies da Formagio propriamente dita. Assim, 0 que se assinala nas formagoes florestais € 0 comporta- mento do dossel florestal dado pelas espécies domi- nantes (As vezes) e por outras espécies particulares mais ou menos casuais. Outros critérios de diferen- ciagio foram assinalados para a determinagio da Subformagio dos tipos de vegetagdo campestres, como a ocorréncia ou ndo das florestas-de-galeria. 15.2 tema de Classificagiio Floristico A segunda meta do sistema de classificagio inicia- se pelas zonas florfsticas de influéncia tropical pro- posta por Drude (1889), de acordo com a divisio botinica da terra, Denominadas de Paleotropical que engloba a Asia e Africa e Neotropical que abrange desde 0 México até a Argentina, logo 0 “novo continente”. O territ6rio brasileiro esté todo compreendido na Zona Neotropical. Drude também subdividiu o Império Floristico em zonas quando caracterizadas por familias endémi- cas; regides, quando delimitadas por tipos de vege- tagio determinados por géneros endémicos; dominios, quando circunscritos a geossistemas dis- tinguidos por espécies endémicas; e, finalmente, setores, quando localizados em ambientes assinala- dos por variedades também endémicas. Logo, estas duas tiltimas Areas floristicas serdo detectadas so- mente nos levantamentos detalhados dentro da fi- tossociologia (associagao) e dentro da bioecologia (ecossistemas). Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira Assim, para cada Regifio Florfstica corresponde sempre uma parcela do territério brasileiro, onde ocorre determinado "tipo de vegetagZo" com um ou mais generos endémicos que o caracterizam. Por equivaléncia cientifica, cada tipo de vegetagao deve ser considerado como semelhante a uma Regidio Ecolégica em face da ocorréncia de formas de vida tipicas do clima dominante. Por sua vez, esta Re- gio Floristica pode delimitar varios geossistemas de dominios, caracterizados por espécies endémicas e, nas éreas setoriais, quando ocorrem espécies com variedades endémicas, devem ser separados como setores. 1.5.2.1 Classificagdo Fitossocioldgico- Bivecoldgica Esta etapa realizada para o Levantamento da Ve- getacao refere-se a um detalhamento dos taxa bota- nicos para 0 estudo fitossociolégico de uma comunidade ¢ para uma pesquisa dos niveis tréficos da associagio levantada, para isto € necessério 0 conhecimento das trocas energéticas do ecossiste- ma. Estabelecida a comunidade em uma subformagio de qualquer parimetro uniforme, necessita-se em seguida demarcar uma area que seja suficiente para 6 desenvolvimento normal das espécies e/ou ecéti- pos nela contidas. Isto serd estabelecido pela corre- lagio espécie/area, de acordo com o levantamento da érea minima que determinard estatisticamente 0 espago ocupado pelos ecétipos existentes em uma associagdo. Pode-se, assim, detalhar 0 estudo de acordo com a escola de Braun-Blanquet (1979). Delimitada a associagdo e realizado o levanta- mento sinecolégico das siniisias, pode-se dar infcio a0 estudo sobre os microrganismos e sobre os ni- chos da fauna superior para, ento, pesquisar as trocas energéticas ¢ assim concluir 0 estudo da biogeocenose. 1.5.2.1.1 Fitossociologia A determinagao de uma comunidade parte da me- norunidade de um Dominio Floristico. Delimita-se, ento, uma parcela substancial da “facies da subfor- mago" que constituiré a comunidade a ser designa- da pelo nome do principal acidente geogréfico da Grea em estudo. Dentro desta comunidade, procura-se inventariar uma associagiio através da “curva espécie/area mf- nima" que empiricamente significa a menor unidade espacial do ambiente bidtico. Estabelecida a asso- ciagdo e determinado o seu nome através do inven- tério dos ecétipos caracterfsticos, procura-se levantar outras éreas de igual tamanho, com 0 obje- 1S tivo de mostrar outras categorias da comunidade, tais como: subassociagdo, variante, facies e socia- sao. © levantamento fitossociolsgico s6 poderé ser realizado apés conhecimento dos taxa da comuni- dade. Para isto, € necessario uma coleta sistematica de fragmentos com flores e frutos durante no mfni- mo um ciclo anual completo. Esses fragmentos numerados no campo e convenientemente herbori- zados So remetidos a especialistas para serem iden- tificados. Conhecidos cientificamente os ecdtipos, inicia-se o inventério floristico da associagéo pa- dro pelo método de curva espécie/4rea minima. Isto feito, pode-se completar o reconhecimento da comunidade, através de outros inventirios floristi- cos paralelos em areas de igual tamanho situadas dentro do mesmo acidente geogrifico que caracte- rizou a comunidade da subformagio. Com esse estudo detalhado das associagées em varias comunidades, pode-se extrapolar de modo empirico 0 conhecimento para as subformagies se- melhantes, pela correlagao da fidelidade dos ecoti- pos que € determinada pela presenga, freqiiéncia ¢ dominancia de dada populagiio vegetal da regio ecoldgica ou tipo de vegetacao. O exemplo acima mostra a metodologia de um estudo fitossociolégico e por extrapolagdo a dos inventérios realizaveis nas comunidades de cada subformagio, compreendidas dentro de uma mesma formagio. Isto dard uma resposta cientifica sobre cada ambiente bistico, que, quando somado aos conhecimentos sobre os ambientes abisticos, expli- card quase tudo sobre aecologia regional, indicando © Dominio Floristico a que pertence a associagao. 1.5.2.1.2 Bioecologia Ap6s cada inventério fitossociolégico ou durante a execugio do mesmo, para completar a pesquisa, deve-se inventariar os microrganismos do solo (flora € fauna), levantar os nichos dos pequenos animais silvestres ¢ ainda inventariar os grandes animais que transitam na comunidade, bem como os passaros. Com isso se conhecem os principais, nfveis troficos, esclarecendo assim o tipo de meta- bolismo existente no ecossistema ou biogeocenose. Esses conhecimentos so indispensdveis para a preservagio ambiental que servird de modelo para reconstituigdes de vida silvestre. Sdo estudos de detalhes académicos, tinicos capazes de conduzir 0 técnico a respostas cientificas sobre a conservagio ¢ a reconstituigdo da vida primitiva de uma drea degradada. 16 1.6 Sistema Primario No sistema primario (natural) esto inclufdos to- dos os "tipos de vegetagiio" ou Regides Fitoecol6- gicas brasileiras, as Formagées Pioneiras, os Refiigios Vegetacionais e as faixas de Tenstio Eco- Iégica dos contatos entre duas ou mais Regides Fitoecolégicas. 1.6.1 Classificagao das Regides Fitoecolégicas Esta classificagtio deve ser usada em todas as escalas desde a classe até a subformacao, pois 0 "sistema primério natural” necessita apresentar toda a hierarquia das formagées. A partir daf pode-se determinar as comunidades que sero detalhadas nas escalas maiores que 1:25 000, primeiro na fitos- sociologia seguida ou nao pelos estudos ecol6gicos. 1.6.1.1 Floresta Ombréfila Densa (Floresta Plu- vial Tropical) © termo Floresta Ombréfila Densa, criado por Ellemberg & Mueller-Dombois (1965/6), substituiu Pluvial (de origem latina) por Ombréfila (de origem grega), ambos como mesmo significado "amigo das chuvas", Além disso, empregaram pela primeira vez 0s termos Densa e Aberta como divisio das florestas dentro do espago intertropical, muito embora este tipo de vegetaco seja conhecido também pelo nome original dado por Schimper (1903) e reafir- mado por Richards (1952) de "Floresta Pluvial Tro- pical”. Aceitou-se a designagio de Ellemberg & Mueller-Dombois, porque apresenta as duas fisio- nomias ecolégicas tanto na Amaz6nia como nas reas costeiras, justificando-se assim 0 uso da ter- minologia mais recente. Este tipo de vegetacao € caracterizado por faner6- fitos, justamente pelas subformas de vida macro e mesofaneréfitos, além de lianas lenhosas e epifitos ‘em abundancia que o diferenciam das outras classes de formagées. Porém, sua caracteristica ecolégica principal reside nos ambientes ombréfilos que mar- cam muito bem a "regidio florfstica florestal". As- sim, a caraterfstica ombrotérmica da Floresta Ombr6fila Densa esta presa aos fatores climdticos tropicais de clevadas temperaturas (médias de 259C)e de alta precipitagao bem distribufda durante © ano (de 0 a 60 dias secos), o que determina uma situagéio bioecolégica praticamente sem perfodo biologicamente seco. Dominam nos ambientes des- ta floresta os latossolos com caracterfsticas distr6- ficas ¢ raramente eutréficas, originados de varios tipos de rochas desde as cratOnicas (granitos gnaisses) até 0s arenitos com derrames vulc&nicos de variados periodos geolégicos, "Dominam nos ambientes desta floresta 0s latossolos e os podzéli- cos, ambos de baixa fertilidade natural” Tal tipo vegetacional foi subdividido em cinco formagdes ordenadas segundo hierarquia topografi- Manual Técnico da Vegetacdo Brasileira ca, que refletem fisionomias diferentes, de acordo com as variagGes ecotfpicas resultantes de ambien- tes distintos. Estes variam de 1°C para cada 100 m de altitude. 19- Ao nivel do mar a temperatura varia de 2°C a cada 10°C de latitude e vai diminuindo com maior intensidade na Zona Subtropical (Trojer, 1959) 22- O gradiente vertical varia de 1°C para cada 100 mde altitude, porém este gradiente é bem maior nas latitudes maiores. Férmula de Holdridge, 1978. t= 3x graus latitude x (t-24)? = 100 As observagées realizadas através dos levanta- mentos executados pelo projeto RADAMBRASIL, nas décadas de 70 e 80, e os estudos fitogeogréfi- cos mundiais, confidveis, iniciados por Humboldt em 1806 na ilha de Tenerife, contidos na vasta bibliografia consultada, permitiram estabelecer faixas altimétricas variéveis conforme as latitu- des que se estreitavam de acordo com os seguintes posicionamentos: ~ Formagéo aluvial: nao varia topograficamente € apresenta sempre ambientes repetitivos nos terragos aluviais dos flivios. -Formagio das terras baixas: corresponde a altitude de 5. 100 m, quando situada entre 4° Lat. Ne 16° Lat. S; de 5 a 50 m, quando situada entre 16° Lat. S € 24° Lat. $; de $ a 30 m, quando situada entre 24° Lat, $ e 32° Lat. S. - Formagio submontana: situada nas encostas dos planaltos e/ou serras, a partir de 100 até 600 mentre 40 Lat. N ¢ 16° Lat. §; de 50 até 500 m, entre 16° Lat. S$ 24° Lat. S; e de 30 até 400 m, entre 24° Lat. Se32° Lat. S. - Formagiio montana: situada no alto dos planaltos c/ou serras, de 600 até 2 000 m entre 4° Lat. Ne 16° Lat. S; de 500 até 1 500 m, entre 16° Lat. S e 24° Lat. $; de 400 até 1 000 m, entre 24° Lat. S e 32° Lat. S. - Formagfo alto-montana: situada acima dos limites estabelecidos para a formagao montana. Como ilustragdo para o que foi estabelecidoacima, citam-se como exemplo as variagdes ecotipicas de dois generos pertencentes as famflias Magnoliaceae e Vochysiaceae. A primeira, bastante primitiva, teve origem no Hemisfério Boreal e no entanto possui um género no Hemisfério Austral, Talauma (das ilhas do Pacifico & América do Sul), que apresenta ecétipos macrofaneréfitos desde a Amaz6nia, pas- sando pelas formagGes alto-montanas e montanas nas Serras da Mantiqueira e dos Orgios, pela for- ‘mago submontana na Serra do Mar nos Estados do Parand e Santa Catarina, até a formagdo das terras, Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira baixas no Rio Grande do Sul, em Torres e Osério. A segunda familia, bastante evoluida, de origem afro-amaz6nica, possui um género Vochysia que apresenta ectipos macrofanerGfitos montanos na Amaz6nia, microfaneréfitos ainda montanos, nos planaltos do Brasil Central, ainda a forma de vida macrofanerofitica montana e submontana, nas Ser- ras da Mantiqueira e dos Orgaos e nas encostas da Serra do Mar no Estado do Parand, nas formagoes submontanas e das terras baixas. Outros exemplos poderiam ser citados para demonstrar as difi- culdades do posicionamento florfstico dentro das, faixas topogréficas, no entanto ficou assinalado que existe uma grande variago ecotfpica de acordo com a latitude, que pelo menos no territ6rio brasileiro pode ser estabelecida nas escalas regional e ex- ploratéria para fins cartograficos. Fica evidenciado no entanto que, para estudos detalhados, as faixas topogrificas aqui estabelecidas necessitam ser re- vistas e adaptadas de acordo com a escala de mapeamento. 1.6.1.1.1 Floresta Ombréfila Densa Aluvial Trata-se de uma formagio ribeirinha ou "floresta ciliar" que ocorre ao longo dos cursos de 4gua ‘ocupando os terragos antigos das planicies quater- nérias. Esta formacao € constitufda por macro, meso e microfaneréfitos de répido crescimento, em geral de casca lisa, tronco cOnico, por vezes com a forma caracterfstica de botija e rafzes tabulares. A floresta aluvial apresenta com freqiiéncia um dossel emergente, porém, devido a exploragio madeireira, a sua fisionomia torna-se bastante aberta. E uma formac&io com muitas palmeiras no estrato interme- didrio, apresentando na submata nanofanerdfitos € caméfitos no meio de "plantulas" da reconstituigao natural do estrato emergente. Em contrapartida a formagao apresenta muitas lianas lenhosas e herba- ceas, além de grande mimeto de epifitas e poucas parasitas. As “ochlospécies", que ocorrem ao longo do rio Amazonas, so as mesmas que existem nas margens dos seus afluentes, tanto os da margem direita como 08 da esquerda, ao passo que os ecctipos que exis- tem nos rios das serras costeiras do territério extra- amaz6nico apresentam uma variag3o conforme a latitude em que ocorrem, como por exemplo: a composigao floristica da bacia do tio Doce € di- ferente da do rio Parafba do Sul, assim como estas duas so bem diversas das da bacia do rio Itajaf. No entanto, ao longo de cada bacia, no sentido longitu- dinal, ocorrem sempre as mesmas “ochlospécies", 0 que caracteriza 0 mesmo principio ecolégico de distribuigao fitogeografica. 17 As principais "ochlospécies" que ocorrem na Floresta Ombréfila Densa Aluvial so: Ceiba pentandra, existente ao longo do rio Congo na Africa e do Amazonas no Brasil. Virola surinamen- sis, ocorrendo nao s6 na Amaz6nia como também na maioria dos rios da area do Caribe, Tapirira guianensis, vivendo normalmente em todas as ba- cias tropicais sob qualquer latitude. Os géneros de Palmae, Mauritia e Euterpe, ocorrem com seus ecétipos bem marcados pelas latitudes diferentes; Mauritia flexuosa na Bacia Amaz6nica, M.vinifera, nas bacias dos rios Tocantins, Sao Francisco Pa- rand; Euterpe oleracea, na bacia do rio Amazonas, ea Eedulis, com dispersio desde Pernambuco até ‘ Rio Grande do Sul, penetrando no Brasil Central indo até os vales dos rios Parand e Iguacu. Final- mente, a “ochlospécie" Calophyllum brasiliense, ocorrendo em todas as bacias brasileiras e sempre ‘ocupando as planicies inundadas com freqiiéncia, tendo seu limite austral na costa Centro-sul do Es- tado de Santa Catarina. 1.6.1.1.2 Floresta Ombréfila Densa das Terras Bai- xas E uma formagao que ocupa, em geral, as planicies costeiras, capeadas por tabuleiros pliopleistocéni- cos do Grupo Barreiras. Ocorre desde a Amaz6nia, estendendo-se através de todo o Nordeste, até as proximidades do rio Sao Joao, no Estado do Rio de Janeiro. Estes tabuleiros apresentam floristica tipica carac- terizada por ec6tipos dos géneros Ficus, Alchornea, Tabebuia e pela "ochlospécie” Tapirira guianensis. Outrossim, a partir do rio Sdo Jodo (RJ), esta for- magiio ocorre nos terrenos quaternérios, em geral situados pouco acima do nfvel do mar nas planfcies formadas pelo assoreamento, devido & erosdo exis- tente nas serras costeiras ¢ nas enseadas maritimas. Nesta formagdo dominam duas “ochlospécies”, sen- do Calophyllum brasiliense a partir do Estado de Sao Paulo para o sul até a costa Centro-sul de Santa Catarina e Ficus organensis, terminando a sua ocor- réncia as margens da lagoa dos Patos, no Rio Gran- de do Sul. 1.6.1.1.3 Floresta Ombréfila Densa Submontana © dissecamento do relevo montanhoso € dos planaltos com solos medianamente profundos € ocupado por uma formagio florestal que apresen- ta os faneréfitos com alturas aproximadamente uniformes. A submata é integrada por plantulas de regeneragdo natural, poucos nanofaneréfitos ¢ ca- 1B méfitos, além da presenga de palmeiras de pequeno porte e lianas herbiiceas em maior quantidade. Suas principais caracterfsticas ficam por conta dos faneréfitos de alto porte, alguns ultrapassan- do os 50 mna Amazénia e raramente os 30 m nas outras partes do Pafs. Esta formagio é caracterizada por ecbtipos que variam influenciados pelo posicionamento dos am- bientes de acordo com a latitude, ressaltando-se também a importancia do fator tempo nesta varia- gdo ambiental. Assim, o tempo que as plantas tro- picais levaram para ocupar as atuais posigées no Centro-sul foi suficiente para o estabelecimento das adaptagées homélogas, em ambientes seme- Ihantes. O mesmo aconteceu em certos casos, de variagdes no tempo da dispersio dos ecétipos que se deslocavam para o sul do Pafs, tomando-se como exemplo Hieromina alchornioides e Didymopanax ‘morototoni, com sementes leves ¢ das familias cos- mopolitas Euphorbiaceae e Araliaceae, respectiva- mente, e 0s géneros com sementes pesadas Pouteria e Chrysophyllum da familia cosmopolita Sapota- ceae, com endemismos na Amaznia, no Nordeste € no Sul do Pafs, além do género Alchornea, da familia Euphorbiaceae com varios eostipos extra- amaz6nicos. 1.6.1.1.4 Floresta Ombréfila Densa Montana alto dos planaltos ¢ das seras situados entre 600 2.000 m de altitude na Amazénia € ocupado por uma formagao florestal que recebe o nome de Flo- resta Ombr6fila Densa Montana. Esta formagao é comespondente no sul do Pafs as que se situam de 500 a 1 500 m, onde a estrutura € mantida até proximo ao cume dos relevos dissecados, quando solos delgados ou litélicos influenciam no tamanho dos faner6fitos, que se apresentam menores. A es- trutura florestal de dossel uniforme (mais ou menos 20 m) é representada por ecétipos relativamente finos com casca grossa e rugosa, folhas mitidas e de consisténcia coridcea, tomando-se os géneros Eris- ma ¢ Vochysia para a Amaz6nia, onde se constata ‘uma submata de nanofaneréfitos rosulados, como a palmeira de pequeno porte do género Bactris ¢ a Cycadales do género Zamia (verdadeiro fossil vivo), ocorrendo também regeneragio natural do estrato arbéreo. No sul do Brasil a Coniferales Podocarpus, tinico género tropical que apresenta dispersao até a Zona Equatorial, é tipica dessa formagio, ocorrendo por vvezes juntamente com os géneros da familia Laura- ceae (Ocotea e Nectandra) € outras espécies de ocorréncia Pantropical. A experiéncia adquirida nos trabalhos de campo realizados (pelo RADAMBRASIL de 1971 a 1984) Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira permitiu considerar as variagdes maximas de 500m entre as faixas estabelecidas como margem de erro para escalas de mapeamento regional e explorats- rio. 1.6.1.1.5 Floresta Ombréfila Densa Alto-Montana uma formagio arbérea mesofanerofitica com aproximadamente 20 m de altura, que se localiza no ‘cume das altas montanhas sobre Solos Litélicos, apresentando acumulages turfosas nas depressbes onde ocore a floresta, Sua estrutura é integrada por faner6fitos com troncos e galhos finos, folhas mit das € coridceas e casca grossa com fissuras, A flo- ristica apresentada por familias de dispersio universal, embora suas espécies sejam endémicas, revela um isolamento antigo de "reftigio cosmopo- lita". Este reftigio é conhecido popularmente por "mata nuvigena ou mata nebular", nos pontos onde a gua evaporada se condensa em neblina, precipi- tando-se sobre as reas elevadas. 1.6.1.2 Floresta Ombréfila Aberta (Faciagoes da Floresta Densa) Este tipo de vegetagao considerado durante anos como um tipo de transigao entre a floresta amaz6- nica € as Areas extra-amaz6nicas foi denominado pelo Projeto RADAMBRASIL (Veloso et alii, 1975) de Floresta Ombrofila Aberta. Apresentaqua- tro faciagées floristicas que alteram a fisionomia ecolégica da Floresta Ombr6fila Densa, imprimin- do-Ihe claros, daf lhe advindo o nome adotado, além dos gradientes climaticos com mais de 60 dias secos por ano, assinalados em sua curva ombrotérmica. Os tertenos arentticos do Cenozbico e do Tercidrio sio revestidos, em geral, por comunidades flores- tais, com palmeiras por toda a Amazénia ¢ até mesmo fora dela, e com bambus na parte ocidental da Amaz6nia, estendendo-se até a borda ocidental do planalto meridional no Estado do Parana. Af 0 bambuzal domina sobre dreas florestais onde foram explotadas as madeiras nobres, Cedrela, Ocotea e Aspidosperma. Jé as comunidades com sororoca € com cipé revestem preferencialmente as depressoes do embasamento pré-cambriano e encostas do rele- vo dissecado dos planaltos que envolvem o grande vale amaz6nico. A faciagio denominada "floresta com cip6" nas depressdes circulates do embasamento pré-cam- briano pode ser considerada como "floresta-de- cip6”, tal a quantidade de plantas sarmentosas que envolyem os poucos individuos de grande porte da comunidade, transformando-os no que a literatura considera por Climber towers - torres folhosas ou torres de cip6. Esta faciagdo apresenta, nas encostas Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira dissecadas, outro aspecto de comunidade aberta devido 20 emaranhado de lianas em todos os estra- tos da floresta com cip6, que dificultam sobrema- neira a interferéncia humana. A faciagio originada pela Phenakospermum quianense, sororoca (Strelitziaceae), foi observada na Area sul da bacia amaz6nica, formando grandes agrupamentos nas depressdes, temporariamente inundadas e rasas, localizadas no médio tio Xingu. No restante da Amazénia, onde ocorre preferen- cialmente em relevo ondulado, e sobre Latossolos, constitui pequenos agrupamentos nao mapeaveis em escala regional e explorat6ria. A latitude e a altitude serviram como parametros bisicos para a divisfio das trés formagGes que ocor- rem neste tipo de vegetagao. 1.6.1.2. Floresta Ombréfila Aberta das Terras Baixas Esta formagio compreendida entre 4° de latitude Norte ¢ 16° de latitude Sul, em altitudes que variam de 5 até 100m, apresenta predomindncia da faciagao com palmeiras. Nos Estados do Piauf e Maranhao pode ser considerada como uma "floresta-de-baba- gu", revestindo terrenos areniticos do Cretéceo, dentro da bacia do Maranhio-Piauf, Atualmente esta formagao, 0 "babacual”, faz parte da Vegetagio Secundéria que resultou da devastagdo florestal, sucedida por uma agricultura depredat6ria. Esta aos poucos foi substitufda pelo adensamento da Orbig- nya phalerara (babacu), que domina inteiramente a paisagem. Tal formagio é também encontrada em Estado natural mas, no caso, em associago com outras Angiospermas, em comunidades isoladas dos Estados do Maranhio e do Par4, sempre situadas abaixo dos 100 m de altitude. 1.6.1.2.2 Floresta Ombréfila Aberta Submontana Esta formago pode ser observada distribufda por toda a Amaz6nia e mesmo fora dela principalmente com a facies floresta com palmeiras. Na AmazOnia ocorre com quatro faciagdes floristicas - com pal- meiras, com cip6, com sororoca e com bambu - entre os 4° de latitude Norte ¢ os 16° de latitude Sul, situadas acima dos 100 m de altitude e nao raras vezes chegando a cerca de 600 m. A floresta aberta com bambu encontra-se distribuf- da, principalmente, nos Estados do Amazonas e do Acre. O gregarismo do bambu, nesta formacio, é de tal modo significativo ao ponto dela ser denominada de "floresta-de-bambu", o que a torna uma comuni- dade especial e restrita. As primeiras referéncias & ocorréncia de Guadua superba foram feitas por Huber (1900), justamente paraa rea territorial do Acre, contudo sua presenca 19 com significado fisionémico-ecolégico s6 foi as- sinalada nas margens dos rios locais. Com 0 ad- vento das imagens de Radar, os técnicos do Projeto RADAMBRASIL puderam delimitar apro- ximadamente as grandes éreas da floresta com bam- bu e determinar a sua importancia, incluindo-a como mais uma "faciagao floristica da floresta aber- ta" nos Estados do Acre e do Amazonas. Contudo, foi através das imagens do sensor TM, do satélite LANDSAT 5, que se péde delimitar uma grande mancha do "bambuzal", cercada de muitas outras menores dando a nitida impressio de que estas comunidades de bambu encontram-se em expansio. O género Bambusa,do subgénero Guadua com ori- gem provavel nos Andes atuais do Perue da Bolfvia € portanto extra-amaz6nico, invadiu recentemente as dreas florestais abertas da Amaz6nia brasileira, justamente sobre o dobramento pré-andino capeado por sedimentos do Cretaceo. A floresta aberta com palmeiras, nos Estados do Maranhao/Piauf e em pontos isolados do Nordeste até 0 Estado do Espirito Santo, constitui comunida- des secundarias denominadas “florestas-de-baba- ¢u", que nesta formagao submontana apresentam-se semelhantes das terras baixas, com excegio da comunidade do Espirito Santo, onde domina 0 gé- nero Attalea em vez de Orbignya. Esta "faciagio submontana" pode ser observada em seu estado natural nos Estados do Paré, Amazonas, Roraima e Mato Grosso, pois nos Estados do Tocantins e Ron- d6nia, provavelmente, nao mais existe devido 4 devastagao realizada nesta tiltima década. No Esta- do do Acre ainda € encontrada uma fisionomia natural ou pelo menos com menor ago antrépica pela retirada de madeira. A floresta-de-cipé que era mais expressiva no sul do Estado do Paré, principalmente nas depressées circulares do Pré-Cambriano e af denominada de “mata-de-cip6”, encontra-se distribufda por toda a Amaz6nia, Nas encostas dos planaltos ¢ nas serras, a florestaaberta com cipé apresenta uma fisionomia com elementos de alto porte isolados e envolvidos pelas lianas lenhosas. A floresta aberta com sororo- ca & quase exclusiva da bacia do rio Xingu, embora possa ser encontrada em menores reas nos Estados de Rondénia, Amazonas e Roraima, sendo esta a menor representatividade das “faciagdes florfsti- cas". 1.6.1.2.3 Floresta Ombréfila Aberta Montana Esta formagio situa-se quase toda entre os 4° de latitude Norte © 16° de latitude Sul, ocupando a faixa altimétrica entre 600 e 2 000 m, e por conse- guinte restrita a poucos planaltos do sul da Amaz6- nia € a muitas serras do norte, principalmente as de ‘Tumucumaque e Parima, Apresenta as "faciagdes 20 com palmeiras e com cip6", sendo esta tItima bem mais comum. 1.6.1.3 Floresta Ombréfila Mista (Floresta de Araucdria) Esta floresta, também conhecida como "mata-de- araucéria ou pinheiral”, é um tipo de vegetacao do Planalto Meridional, onde ocorria com maior fre- giiéncia, Esta rea é considerada como o seu atual “elfmax climético", contudo esta floresta apresenta disjungdes floristicas em refiigios situados nas Ser- ras do Mar e da Mantiqueira, muito embora no passado tenha se expandido bem mais ao norte porque a famflia Araucariaceae apresentava disper sio paleogeogréfica que sugere uma ocupagio dife- rente da atual. Constatou-se recentemente a ocorréncia de fésseis (fragmentos de caules) em terrenos juracretécicos no Nordeste brasileiro, evi- denciando que dentro da "plataforma brasileira" encontravam-se Coniferales, pois estes fésseis so também encontrados em pontos isolados da borda sul do Planalto Meridional, como por exemplo em Santa Maria da Boca do Monte (no Estado Rio Grande do Sul). Mas como o vulcanismo, iniciado nesta 4rea no Cretéceo e terminado no Tercidrio Superior, foi o responsavel pelo despovoamento vegetal do Planalto Meridional,, a hip6tese de que a Araucaria angustifolia, atualmente af existente, pe- netrou através do "Escudo Atlantico” que se achava unido a grande plataforma afro-brasileira no Paleo- z6ico, parece estar comprovada, A composigio floristica deste tipo de vegetagio, caracterizado por géneros primitivos como Drymis © Araucaria (Australasicos) e Podocarpus (Afro- Asidtico), sugere, em face da altitude e da latitude do Planalto Meridional, uma ocupagio recente, a partir de refiigios alto-montanos, apresentando qua- tro formagGes diferentes: - Aluvial, em terragos antigos situados ao longo dos flaivios. - Submontana, de 50 até mais ou menos 400 m de altitude, - Montana, de 400 até mais ou menos 1 000 m de altitude. - Alto-montana, quando situadas a mais de 1 000 m de altitude 1.6.1.3.1 Floresta Ombr6fila Mista Aluvial Esta formagio ribeirinha, que ocupa sempre os terrenos aluvionates situados nos flivios das serras, costeiras ou dos planaltos, é dominada pela Arau- caria angustifolia, associada 4 ecétipos que variam de acordo com as altitudes dos flivios. Além da “ochlospécie" dominante, também se encontram Podocarpus lambertii e Drymis brasiliensis, espé- Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira cies estas tipicas das altitudes. A medida que a fatitude diminui a Araucaria angustifolia associa- se a Varios ecétipos de Angiospermas da familia Lauraceae, merecendo destaque os géneros Ocotea, Cryptocarya e Nectandra entre outros de menor expresso, nas disjungdes serranas da Mantiqueira. No sul do Pafs a floresta aluvial € constituida prin- cipalmente por Araucaria angustifolia, Luehea di- yaricata ¢ Blepharocalyx longipes no estrato emergente € por Sebastiania commersoniana, no estrato arbéreo continuo. 1.6.1,3.2 Floresta Ombréfila Mista Submontana Esta formagdo atualmente ¢ encontrada sob a for- ma de pequenas disjungdes localizadas em varios pontos do "Craton Sul-Rio-Grandense". No Muni- cipio de Lauro Muller (SC), por exemplo, na década de 50, podia-se observar cerca de 12 000 individuos de Araucaria angustifolia, contudo, nesta década este ntimero no chega a 200 exemplates com tron- cos finos ¢ relativamente baixos pertencentes ao estrato dominado. Nestas disjungdes os individuos mais pujantes foram retirados € os poucos exemplares remanes- centes somente so encontrados no estrato domina- do. Assim, 0 que existe é uma "floresta secundéria” ficando cada vez mais raro encontrarem-se indivi- duos de Araucaria angustifolia, que tendem ao total desaparecimento dentro de poucos anos. 1.6.1.3.3 Floresta Ombréfila Mista Montana Esta formagio, encontrada atualmente em poucas reservas particulares e no Parque Nacional do Tgua- gu, ocupava quase que inteiramete o planalto situa- do acima dos 500 m de altitude, nos Estados do Parané, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Porém, na década de 50, nas grandes extensdes de terrenos situados entre as cidades de Lajes (SC) e Rio Negro (PR), podia-se observar a Araucaria angustifolia, ocupando ¢ emergindo da submata de Ocotea pul- chella ¢ Mex paraquariensis acompanhada por Cryptocarya aschersoniana e Nectandra megapo- tanica, Aonorte de Santa Catarina e ao sul do Parana © "pinheiro-do-parana” estava associado com a im- buia (Ocotea porosa), formando agrupamentos ca- racteristicos; atualmente grandes agrupamentos gregarios desapareceram, substitufdos pela mono- cultura de soja e trigo, intercaladas. Na década de 20, considerdveis disjungdes de Araucaria, existen- tes no vale do rio Itajaf-Agu, associadas a Ocotea catharinensis, foram quase inteiramente devasta- das, restando pequenos remanescentes sem expres- so paisagistica e econdmica. Esta "ochlospéc que ocupava cerca de 70% do Planalto Meridional, apresenta uns poucos individuos isolados em pontos Manual Técnico da Vegetagao Brasileira inacessfveis ou de permeio a grandes culturas de soja e trigo. Estas consideragées exemplificam o lento mas constante desaparecimento da Araucaria angustifo- Tia que, na década de 80, no apresentava mais expressio fitogeogrifica e econdmica. 1.6.1.3.4 Floresta Ombréfila Mista Alto-Montana Esta floresta apresenta-se localizada acima dos 1 000 m de altitude, com maior ocorréncia no Par- que do Taimbezinho (RS) e na crista do Planalto Meridional, nas cercanias dos "campos de Santa Barbara" no Parque de Siio Joaquim (SC), ocupando as encostas das colinas diabésicas em mistura com arenitos termometamorfizados pelo vulcanismo creticico, que constitui a Formagao Serra Geral. Tal fisionomia podia ser observada até a década de 60, quando se iniciou a exploragdo dos tltimos rema- nescentes expressivos da Araucaria angustifolia, restando atualmente poucos exemplares jovens ou raquiticos que sobraram da exploracao predat6ria. Atualmente, esta floresta encontra-se ainda bem conservada e com seus elementos quase intactos no Parque Estadual de Campos do Jordao (SP) e em Monte Verde, Municipio de Camanducaia (MG); todavia, as outras ocorréncias, comoa de Itatiaia (RJ € MG), estio sendo gradualmente suprimidas ten- dendo ao desaparecimento em poucos anos. A composigio floristica da disjungdo de Campos do Jordio, possivelmente semelhante & que outrora existia nos Estados do Parané e Santa Catarina, apresenta a dominancia da Araucaria angustifolia, que sobressai do dossel normal da floresta. Ela € também bastante numerosa no estrato dominado & af associada a varios ecétipos, dentre os quais me- recem destaque, em ordem dectescente, os seguin- tes: Podocarpus lambertii (pinheirinho) ¢ varias Angiospermas, inclusive 0 Drymis brasiliensis da familia das Winteraceae, Cedrela fissilis das Melia- ceae € muitas Lauraceae e Myrtaceae. No estrato arbustivo da submata, dominam as Rubiaceae Myrtaceae ¢ exemplares da regeneragio arborea de Angiospermae, como Winteraceae, Lauraceae € Meliaceae, faltando as Coniferales, que esto no momento colonizando as éreas campestres adjacen- tes. 1.6.1.4 Floresta Estacional Semidecidual (Floresta Tropical Subcaducifolia) O conceito ecoldgico deste tipo de vegetacao esté condicionado pela dupla estacionalidade climatica, uma tropical com época de intensas chuvas de ve- fo, seguida por estiagem acentuada e outra subtro- pical sem periodo seco, mas com seca fisiol6gica 2 provocada pelo intenso frio do inverno, com tempe- raturas médias inferiores a 15°C. E constitufda por faneréfitos com gemas foliares protegidas da seca por escamas (catéfitos), ou pélos, € cujas folhas adultas so escleréfilas ou mem- brandceas deciduais. Neste tipo de vegetagdo a porcentagem das r- vores caducifélias, no conjunto florestal ¢ no das espécies que perdem as folhas individualmente, situa-se entre 20 e 50%. Nas dreas tropicais é com- posta por mesofaneréfitos que revestem, em geral, solos arenfticos distr6ficos. J4 nas éreas subtropi- cais € composta por macrofaner6fitos em face de revestirem solos basélticos eutréficos. Esta floresta possui uma domindncia de géneros amaz6nicos de distribuigdo brasileira, como por exemplo: Parapiptadenia, Peltophorum, Cariniana, Le- cythis, Tabebuia, Astronium e outros de menor im- portincia fisionémica, O critério estabelecido coma finalidade exclusiva de propiciar 0 mapeamento continuo de grandes reas foi o das faixas altimétricas, utilizado também nas formages vegetacionais precedentes, como por exemplo: a formagio aluvial esta sempre presente nos terragos mais antigos das calhas dos rios; a formagio das terras baixas ocorre entre 5 ¢ 100 m de altitude entre os 4° de latitude Norte e os 16° de latitude Sul, de 5 a 50 m quando localizados nas latitudes de 16° a 24° Sul ede 5 a 30m nasllatitudes de 24° a 32° Sul; a formagao submontana situa-se numa faixa altimétrica que varia de 100 a 600 m de acordo com a latitude de 4° Norte até 16° Sul, de 50 a 500 m entre 16° até os 24° de latitude Sul e de 30.a.400 m apés os 24° de latitude Sul; e a formagao montana situa-se na faixa altimétrica que varia de 600 a 2.000 m de altitude entre 4° de latitude Norte € 16° de latitude Sul, de 500 a 1 500 mentre 16° e 24° de latitude Sul e de 400 a 1 000 m entre 24° e 32° de latitude Sul, Somente quatro formagées foram delimitadas no Pafs: aluvial, terras baixas, submontana e montana, isto porque este tipo florestal apresenta-se descon- tfnuo e sempre acentuado entre climas gerais um Ximido e outro Arido, sendo supertimido no equador, &rido no Nordeste e timido no Sul. No Centro-Oeste encontra-se 0 clima continental estacional, mais af domina a Savana (Cerrado) que é um tipo de vege- tagdo de climax edafico. 1.6.1.4.1 Floresta Estacional Semidecidual Aluvial uma formagao encontrada com maior freqiiéncia na grande depressio pantaneira mato-grossense do sul, sempre margeando os rios da bacia hidrogréfica do Paraguai. 2 O mesofaneréfito Amburana cearensis var. acre ana, vulgarmente conhecido como cerejeira, de grande valor econémico-madeireiro, € de origem andino-amaz6nica e de dispersdo sul-americana ampla e divergente. O género ocorre nas éreas ari- das do Chaco argentino-boliviano, na Caatinga brasileira e nas dreas timidas da AmazOnia Ociden- tal, mais precisamente nos Estados do Acre, Rondénia, Mato Grosso e no Pantanal Mato- Grossense. Nesta formagio existem em grande abundancia varias espécies dos géneros Tabebuia, além dos ecétipos Calophyllum brasiliense, Ta- pirira guianensis, Inga sp., Podocarpus sellowii, Cedrela lilloi, Guarea guidonia entre outras. 1.6.1.4.2 Floresta Estacional Semidecidual das Terras Baixas E uma formagio encontrada freqiientemente re- vestindo tabuleiros do Pliopleistoceno do Grupo Barreiras, desde o sul da cidade de Natal até o norte do Estado do Rio de Janeiro, nas cercanias de Cam- pos bem como até as proximidades de Cabo Frio, af entio j4 em terreno quaterndtio. Eum tipo florestal caracterizado pelo género Cae- salpinia de origem africana, de onde se destacam, pelo seu inegavel valor hist6rico, a espécie C. echi- rnata (pau-brasil) ¢ outros géneros brasileiros como: Lecythis que domina no vale do rio Doce, acompa- nhado por outros géneros da mesma familia Le- cythidaceae (afro-amaz6nica), que bem caracterizam esta floresta semidecidual, tais como: Cariniana (jequitibé) ¢ Eschweilera (gongalo- alves). Para terminar a caracterizagio desta for- magio pode-se citar 0 género monotfpico Paratecoma peroba (peroba-do-campo) da familia Bignoniaceae, de dispersio Pantropical, mas exclu- sivo dos Estados do Espirito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. 1.6.1.4.3 Floresta Estacional Semidecidual Submontana Esta formagao freqiientemente ocorre nas encos- tas interioranas das Serras da Mantiqueira ¢ dos Orgiios e nos planaltos centrais capeados pelos Are- nitos Botucatu, Bauru e Caiué dos perfodos geol6- gicos Jurdssico e Cretaceo. Sua ocupagiio vai desde o Espirito Santo e sul da Bahiaaté o Riode Janeiro, Minas Gerais, Sao Paulo, norte e sudoeste do Parané e sul do Mato Grosso do Sul. Nas encostas interioranas das serras maritimas, os géneros dominantes, com individuos caducifolios, Séo 0 mesmos que ocorrem na floresta ombr6fila atlantica, como Cedrela, Parapiptdenia e Carinia- Manual Técnico da Vegetagao Brasileira na, sendo que nos planaltos arensticos os ecstipos deciduais que caracterizam esta formagao perten- cem aos géneros Hymenaea (jatob4), Copaifera @leo-vermelho), Peliophorum (canaffstula), Astro- nium, Tabebuia e muitos outros. Contudo 0 género dominante que a caracteriza, principalmente, no planalto paranaense e no oeste do Estado de So Paulo, & Aspidosperma, com seu ecétipo A. poly- neuron (peroba-rosa). 1.6.1.4.4 Floresta Estacional Semidecidual Montana ‘Sio poucas as éreas ocupadas por esta formagao estabelecida acima dos 500 m de altitude, Situam-se principalmente na face interiorana da Serra dos Orgios, no Estado do Rio de Janeiro e na Serra da Mantiqueira nos Estados de Sio Paulo, Rio de Ja- neiro e Minas Gerais (Itatiaia) e do Espfrito Santo (Capara6). Outras éreas ainda menores ocupam os pontos culminantes dos planaltos arenfticos. Esta formaggio montana é quase sempre dominada pelo género Anadenanthera que as vezes constitui con- sorciagdes de "ochlospécie" A. peregrina de origem amazénica, localizada principalmente nos sills ba- sdlticos ainda conservados. Este tipo florestal ocorre principalmente no nor- te da Amaz6nia, justamente nas serras do Tumu- cumaque ¢ Parima, em locais situados acima dos 600 m de altitude e nos planaltos arenfticos do Estado de Roraima, principalmente na face inte- riorana dos picos do Sol ¢ da Neblina. Os géneros € ecétipos de ampla dispersio ¢ que af dominam sao: Cassia, Anadenanthera peregrina, Astronium ¢ ou- tros. 1.6.1.5 Floresta Estacional Decidual (Floresta Tropical Caducifélia) Este tipo de vegetagio, que € catacterizado por duas estages climéticas bem demarcadas, uma chu- vosa seguida de longo perfodo biologicamente seco, ocorre na forma de disjungGes florestais apresentan- do o estrato dominante macro ou mesofaneréfito predominantemente caducifélio, com mais de 50% dos individuos despidos de folhagem no periodo desfavordvel. Com caracterfsticas semelhantes encontra-se na borda do Planalto Meridional, principalmente no Estado do Rio Grande do Sul, uma disjungao que apresenta 0 dossel emergente completamente cadu- cifdlio, visto que, muito embora 0 clima seja om- br6filo, possui uma curta época muito fria € que ocasiona, provavelmente, a estacionalidade fisiolé- gica da floresta. Estas disjungdes florestais deciduais so, via de regra, dominadas tanto nas Areas tropicais como nas subtropicais pelos mesmos géneros de origem afto-amaz6nicas, tais como: Peltophorum, Anade- nanthera, Apuleia embora suas espécies sejam di- ferentes, 0 que demarca um “dominio floristico” Manual Técnico da Vegetagio Brasileira também diferente, quanto ao levantamento fitosso- ciolégico das duas dreas. Além disso, este tipo de vegetago apresenta grandes areas descontinuas lo- calizadas, do norte para o sul, entre a Floresta Om- bréfila Aberta e a Savana (Cerrado); de leste para este entre a Savana-Estépica (Caatinga do sertiio 4rido) e a Floresta Estacional Semidecidual (Flores- ta Tropical Subcaducifélia) ¢ finalmente no sul na 4rea subtropical, no vale do rio Uruguai, entre a Floresta Ombréfila Mista (Floresta-de-Araucdria) do Planalto Meridional e a Estepe (Campos Gati- chos). Estas grandes 4reas disjuntas apresentam quatro formagées distintas: 1.6.1.5.1 Floresta Estacional Decidual Aluvial Esta formagiio, quase que exclusiva das bacias dos rios do Estado do Rio Grande do Sul, encontra-se atualmente bastante desfalcada dos seus elementos principais explotados para uso doméstico. Locali- zada nos terragos fluviais dos rios Jacuf, Ibicuf, Santa Maria e Uruguai, ocorre também nas varzeas do rio Paraguai, no Estado do Mato Grosso do Sul, onde a drenagem é dificultada pelo pouco desnivel do rio. ‘A composigao floristica desta formagio & prefe- rencialmente constitufda por ecdtipos higr6fitos de- ciduais, adaptados ao ambiente aluvial, onde dominam mesofaner6fitos, tais como: Luehea diva~ ricata (agoita-cavalo), Vitex megapotamica (taru- mi), Inga uruguensis (ing), Ruprechtia rariflora (farinha-seca) e a nanofaner6fita Sebastiania com- ‘mersoniana (branquilho) ¢ outras. .2 Floresta Estacional Decidual das Terras Esta formagao é encontrada em éreas descontinuas ¢ relativamente pequenas. Ocorre com maior ex- pressividade na bacia do rio Pardo, no sul do Estado da Bahia. A florfstica desta formagao, caracteristica de solos eutréficos calcérios, é dominada pelos géneros Ca- vanillesia e Cereus. O ecstipo Cereus jamacaru nesta formagio apresenta alto porte que atinge, nao raras vezes, 0 dossel dos mesofaner6fitos e compoe juntamente com os individuos dos géneros Para- Piptadenia, Anadenanthera, Piptadenia, Cedrela, entre outros, o estrato decidual desta disjuncdo. ‘As outras disjungdes menores encontradas por todo o Pafs devem ser delimitadas de acordo com as latitudes, salientadas com o fim exclusivo de se poder cartografé-las: - dos 4° latitude Norte aos 16° latitude Sul, varia de 5 até os 100 m de altitude; = dos 16° latitude Sul aos 24° latitude Sul, varia de 5 até 50 m de altitude; e ~ dos 24° latitude Sul aos 32° latitude Sul, varia de 5 até 30 m de altitude. 23 1.6.1.5.3 Floresta Estacional Decidual Submontana Nesta formagdo encontram-se dispersas as maio~ res disjungGes deste tipo de vegetaco florestal de- cidual, descritas abaixo de acordo comas areas mais representativas em que foram observadas: - Em uma estreita faixa no sul do Estado do Maranhio, entre a Savana (Cerrado) e a Floresta Ombréfila Aberta com babacy, situa-se uma flores- ta de médio porte composta por nanofoliadas deci- duais, com caules finos ¢ que apresenta como géneros mais comuns Cedrela, Chorisia, Tabebuia, Jacaranda, Piptadenia, Parapiptadenia, Anade- nanthera, Apuleia e outros de menor expresso fisiondmica. Encontra-se ai o Gnico ecétipo com folhas no perfodo desfavoravel, a Platonia insignis (bacuri), que imprime & paisagem um aspecto de grandes tabuleiros revestidos por mesofaneréfitos completamente desfolhados, interrompidos, vez por outra, por indivfduos foliados de coloragao ver- de pardacenta, - No sul do Estado da Bahia, com fisionomia de- cidual revestindo os terrenos calcdrios da bacia do tio Pardo, ocorre uma floresta relativamente alta, conhecida como "mata-de-cips". E composta de mesofanerdfitos parcialmente caducifdlios ¢ domi- nados por ecétipos da familia Leguminosae, desta- cando-se 0 género Parapiptadenia. A maior parte dos ecétipos formadores desta disjungao, regular- mente, so envolvidos por lianas lenhosas com fo- Jhagem sempre verde que conferem a esta formagao uma falsa aparéncia numa época desfavordvel. - A floresta situada no norte do Estado de Goids e sul do Estado do Tocantins, entre a Floresta Estacional Semidecidual do sul do Estado do Paré ea Savana (Cerrado) do Estado de Goids, mais precisamente no vale do rio das Almas e seus aflu- entes, apresenta uma fisionomia ecolégica com mais de 50% de seus ecétipos sem folhagem na poca desfavordvel. Esta formagio, denominada "mato-grosso-de-goids", apresenta uma fisionomia ecolégica de mesofaneréfitos onde predomina uma mistura de ec6tipos savanicolas de alto porte com outros caducifélios florestais. A origem floristica desta formagio é predominantemente afro- amazOnica, destacando-se os géneros: Qualea, Caryocar, Copaifera, Hymenaea, Tabebuia, Cho- risia, Bombax, Dimorphandra, Kielmeyera e mui- tos outros de menor expressio fisiondmica. - A disjungio florestal situada ao norte do Estado de Minas Gerais ¢ localizada nos vales dos rios Verde Grande ¢ So Francisco, no Estado de Minas Gerais, denominada “mata-de-jafba", apresenta uma consti- tuicdo floristica bastante complexa, com ecétipos Py savanicolas ¢ florestais mesofaneréfitos deciduais, com predominancia dos géneros Pterodon, Caryo- car, Qualea, Platymenia, Machaerium, Bowdichia, Hymenaea, Tabebuia e muitos outros de menor expressiio fisiondmica. - A floresta decidual da encosta da serra da Bodo- quena, no Estado do Mato Grosso do Sul, é domi- nada por ecétipos savanicolas e florestais mesofaneréfitos. Esta disjungio é constitufda por géneros afto-amaz6nicos ¢ andino-argentinos, onde se destacam Pterodon (sucupira), ecétipo de caule amarelo e muito freqiiente, além de Qualea, Copaifera, Hymenaea, Schinopsis, Plathymenia e muitos outros menos freqiientes. - A floresta da vertente interiorana da Serra da Mantiqueira, situada em territério mineiro, reveste terrenos do Pré-Cambriano. £ constituida por meso- faner6fitos de folhagens sempre verde dos géneros Aspidosperma e Cariniana e em algumas vezes por macrofaner6fitos, destacando-se entre eles 0 género Anadenanthera com sua "ochlospécie" caducifélia peregrina que € dominante. ~ Os terrenos da vertente sul do planalto das Misses, af j4 considerados como "Areas extrazo- nais", pois esto incluidos no espago subtropical, so revestidos por uma floresta que apresenta uma floristica semelhante 4 que ocorre nas dreas tropi- cais. Nela ocorrem a “ochlospécie" Anadenanthera peregrina associada aos géneros Parapiptadenia, ‘Apuleia © Peltrophorum de alto porte (macrofa- neréfitos) que dominam no estrato das emergentes. Esta dltima disjungdo de maior representatividade, sem contudo descartarem-se outras menos signifi- cativas, permite aventar-se a hipdtese de que todas estas dreas extrazonais possuem uma homologia ecolégica, o que permite a extrapolagio fisionémica da vegetagio pela semelhanga floristica de seus dominantes. Nesta 4rea, o perfodo frio com médias inferiores a 15°C apresenta uma seca fisioldgica coincidente com a seca das areas tropicais. 1.6.1.5.4 Floresta Estacional Decidual Montana Esta formagio ocorre em reas disjuntas que se apresentam bastante expressivas, sendo que para identificd-las observaram-se 0s seguintes pardime- tros altimétricos de acordo com as latitudes onde sto encontradas: - dos 4° latitude Norte a 16° latitude Sul, varia de 600 até 2 000 m de altitude; = dos 16° latitude Sul a 24° latitude Sul, varia de 500 até 1 500 m de altitude; - dos 24° latitude Sul a 32° latitude Sul, varia de 400 até 1 000 m de altitude. Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira Esta variag&o altimeétrica, mudando de acordo com as latitudes, pode ser explicada pelas grandes dife- rengas de temperatura que influem na composico floristica, observando-se que quanto mais ao sul 0 espago da faixa altimétrica diminui. Cita-se como exemplo: o levantamento da composigao florfstica em 4rea situada a mais de 1 000 m de altitude (Veloso, 1945) em Teresépolis (RJ) mostrou que a flora € coincidente com a de Brusque (SC), locali- dade situada a poucos metros acima do nfvel do mar (Veloso & Klein, 1957). Estas observagies, embora insuficientes, demons- tram que as faixas altimétricas vao se estreitando de acordo com as latitudes situadas mais ao sul, contu- do apenas levantamentos mais detalhados & que podem estabelecer as variagdes floristicas essen- ciais e assim melhorar o nfvel cartogréfico da clas- sificagio da vegetacao brasileira. A formagao florestal decidual situada ao norte de Boavista (RR), no hemisfério Norte, reveste o pla- nalto arenitico de Roraima com uma fisionomia ecolégica tipicamente caducifélia, dominada por Leguminosae do género Cassia. Mais ao sul, reves- tindo o planalto de Conquista (BA), encontra-se uma vegetacio florestal de porte médio dominada por ecétipos dos géneros Parapiptadenia e Anade- nanthera sempre associados aos géneros Cavanil- lesia, Tabebuia, Cedrela, entre muitos outros. 1.6.1.6 Campinarana (Campinas) Ostermos Campinarana e Campina sao sinénimos e significam "falso campo". A prioridade contudo cabe ao primeiro, porque Ducke (1938) ¢ Sampaio (1944) 0 empregaram para a regiao ecoldgica do alto rio Negro, embora também tenham se referido ‘a0 mesmo tipo de vegetagfo com a designagao “caatinga do rio Negro". Spruce (1908) foi o pio- neiro no uso do termo "caatinga-gapo" para a regio do rio Negro, termo este extrapolado pelos fitoge grafos brasileiros como "caatinga simplesmente’ Esta interpretagio nao é muito correta, pois, segun- do Veloso et al. (1975), "caatinga-gapo" traduz-se por uma vegetagio lenhosa aberta dos pantanos com umidade, com sentido inverso do termo caatinga do Nordeste brasileiro, que significa vegetacao lenhosa aberta espinhosa caducifélia das reas dridas do Nordeste brasileiro, ‘Também o termo Campinas empregado por Lind- man (1906) para designar os "campos do Rio Gran- de do Sul", os quais dividiu em "campo sujo e campo limpo", de acordo com a maior ou menor quantidade de plantas raquiticas lenhosas que pra- guejavam os referidos campos, por questoes priori- Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira téria e regionalista, nfo deve ser empregado para denominar uma vegetagdo amazénica. Egler (1960) foi o primeiro fitogeégrafo a em- pregar corretamente o termo Campinarana para a ‘AmazOnia e Takeuchi (1960) usou a denominagao Campina apés Ducke (1938) e Sampaio (1940). Procurou-se aqui empregar corretamente a termino- logia Campinarana, descrevendo-a do seguinte modo: trata-se de uma regio ecolégica que ocorre 1nos solos Podzol Hidromérfico e Areias Quartzosas Hidromérficas das planicies aluviais. A predomi- nancia na sua composicao floristica € de ecétipos raquiticos amaz6nicos, com pelo menos um género monotipico endémico, Barcella odora, da familia Palmae, de dispersio Pantropical. Esta vegetagao tipica da bacia dos rios Negro, Orinoco e Branco ultrapassa as nossas fronteiras, atingindo a Vene- zuela e a Colémbia, porém em areas bem menores do que a ocupada no Brasil. Ocupa éreas tabulares arenosas, bastante lixiviadas pelas chuvas durante ‘0s tiltimos 10 000 anos, além destas areas tabulares encontram-se em grande depressdes fechadas, sufi- cientemente encharcadas no perfodo chuvosoe com influéncia dos grandes rios que cortam a regio, em todas as diregdes. Esta classe de formago € dividida em trés sub- grupos de formagdes: arbérea densa ou florestada, arborea aberta ou arborizada e gramfneo-lenhosa. 1.6.1.6 1 Campinarana Florestada E um subgrupo de formagio que ocorre nos pedi- planos tabulares, dominados por nanofaneréfitos finos e deciduais na época chuvosa, assemelhando- se a uma "floresta-riparia". Em sua composicao floristica predominam ecétipos do género Clusia, associados aos ecétipos dos géneros amazénicos que acaracterizam, tais como: Aldina, Hevea, Hen- riquezia, Eperua, Caraipa e outros tipicamente amaz6nicos, mas com espécies endémicas que ocor- rem preferencialmente nestes interfldivios tabulares. Abacia do alto rio Negro foi o centro de dispersio desta flora, e os ambientes situados ao longo dos rios de agua preta, que segundo Sioli (1962) reve- lam a presenga de fcidos timicos e material turfoso inerte em suspensao, sio os locais onde estes géneros melhor se adaptaram. Nos flivios dessa intricada rede hidrogréfica, que s6 é realmente ativa nna época das grandes chuvas, ocorrem trés espécies endémicas de palmeiras, Astrocarium javari (javari), Leolpodinia pulchra ¢ Euterpe catingae (agai-chumbinho), que ocomem também na Campi- narana Arbérea Aberta. 25 1,6.1.6.2 Campinarana Arborizada Este subgrupo de formagiio é dominado por plan- tas raquiticas, os mesmos ecctipos que ocorrem nos interfltivios tabulares da regido ecolégica que so capeadas pelo solo Podzol Hidromérfico das de- pressées fechadas, em geral circulares e totalmente cobertas por Trichomanes, com esparsos individuos xeromorfos providos de xilopédios, e tufos do If- quen Cladonia, refugiados sob a sombra da Humiia balsamifera var. floribunda (umiri-da-campina), que na floresta ombr6fila atinge alto porte. No meio destes nanofaner6fitos esparsos, ocorrem alguns caméfitos endémicos da rea, A ocorréncia das pal- meiras Astrocarium javari, Leopoldinia pulchra e Euterpe catingae € bastante significativa. O género Cladonia, possivelmente a espécie C. viridis, € 0 mesmo que ocorre nas reas pantanosas do hemisfério Norte e nos pontos alto-montanos turfosos dos refiigios reliquias da Amaz6nia, como o Pico da Neblina, no Estado do Amazonas, 0 conhecido Morro do Sol, no Estado de Roraima, e na maioria das 4reas pioneiras sob influéncia mari- nha. 1.6.1.6.3 Campinarana Gramineo-Lenhosa Este subgrupo de formagio ocorre nas planfcies encharcadas, pr6ximas aos rios ¢ lagos da regio. Estas planicies so capeadas por um tapete de ge6- fitos ¢ hemicript6fitos das familias Gramineae Cyperaceae, ambas de disperso Pantropical. Af também ocortem muitos caméfitos rosulados do género Paepalanthus que imprimem 3 fisionomia, juntamente com varios ecétipos, ge6fitos e eptfitas, das famflias Amarylidaceae, Xyridaceae e Orchida- ceae, a caracterfstica campestre pantanosa, 1.6.1.7 Savana (Cerrado) O termo Savana € procedente da Venezuela, tendo sido empregado pela primeira vez por Oviedo & Valdez (1851), para designar os "Ihanos arbolados da Venezuela” (formagdo gramindide dos planaltos, em geral coberta por plantas lenhosas) e posterior mente levado para a Africa (apud Tansley, 1935). No decorrer das décadas varios autores utilizaram-se de outros termos, abaixo relaciona- dos, para designar este tipo de vegetagiio: + Hombold, (1005) -chamando- de Yesepe” = Prade (889) denomimando- de “este topical” = Seine (393) designando-o de "lresta svana" par representa as Forages raminnea arborianasisraopisis Waning (1908) denominos no Bra de “eumpes ‘erados oa vegetasoxeofice” em {ace de wn longo pride sco bom smareado = Chevalier 92) Savana" Lanjouw (39 "Sam" -Troctain (0st) "Savana" Rasher (0952) doa a terminologin de Waring de “earnpo cen” 26 Beard 495 = "Savane" + Aubeévile 195 = "Savam™ = Sehnatl cay Savana -Projeo RADAMBRASIL (1973/86) - "Savana (Cery* Apés as ponderacdes anteriores, resolveu-se ado- tar o termo Savana como priotitérioe Cerrado, entre paréntese, como sindnimo regionalista, por apre- sentar uma fitofisionomia ecol6gica homologa & da Africa e Asia. ‘A Savana entiio € definida como uma vegetaco xeromorfa preferencialmente de clima estacional (mais ou menos 6 meses secos), nido obstante po- dendo ser encontrada também em clima ombréfilo. Reveste solos lixiviados aluminizados, apresentan- do sintisias de hemicriptéfitos, geéfitos e faner6fi- tos oligotréficos de pequeno porte, com ocorréncia por toda a Zona Neotropical. ‘A Savana (Cerrado) foi subdividida em quatro subgrupos de formagao: 1.6.1.7.1 Savana Florestada (Cerradéo) Subgrupo de formago com uma fisionomia tipica e caracteristica, restrita das Areas arentticas lixivia- das com solos profundos, ocorrendo em clima tro- pical eminentemente estacional. Apresenta sintisias lenhosas de micro e nanofane- r6fitos tortuosos com ramificagao irregular, provi- das de macréfilos escleréfilos perenes ow semideciduos, ritidoma esfoliado corticoso rigido ou cértex maciamente suberoso, com érgios de reserva subterraneos ou xilopédio. Nao apresenta uma sintisia nftida de caméfitos, mas sim um relevo hemicriptofitico, de permeio com plantas lenhosas raquiticas e palmeiras ands. Extremamente repetitiva, a sua floristica reflete-se de norte a sul em uma fisionomia caracterizada por dominantes faneréfitos tipicos, tais como: - Caryocar brasiliense (Caryocaraceae, pequi). - Salvertis convallariodora (Vochysiaceae, pau-de- colher). - Boldichia virgilioides (Leguminosae Pap., sucupi- ra-preta). - Dimorphandra mollis (Leguminosae Caes., favei- 10). = Qualea grandiflora (Vochysiaceae, pau-terra-de- folhas-grandes). = Qualea parviflora (Vochysiaceae, pau-terra-de- folhas-middas).. = Anadenanthera peregrina (Leguminosae Mim., angico-preto) + Kielmeyera coriacea (Guttiferae, pau-santo). Manual Técnico da Vegetagao Brasileira 1.6.1.7.2 Savana Arborizada (Campo-Cerrado) ‘Subgrupo de formag#io natural e/ou antrépico que se caracteriza por apresentar uma fisionomia nan fanerofitica rala e outra hemicriptofitica graminé de, continua, sujeita ao fogo anual. Estas sintisias dominantes formam uma fisi mia em terrenos degradados. A composicao floristica, apesar de se- melhante a da Savana Florestada (Cerradao), possui ecétipos dominantes que caracterizam os ambientes de acordo com 0 espago geogrifico ocupado, tais como: - Amapa (AP) - Salvertia convallariodora (Vochy- siaceae, pau-de-colher). - Roraima (RR) - Curatella americana (Dillenia- ceae, lixeira). ~ Pard (PA-Tiriés) - Himatanthus sucuuba (Apo- cyn., sucuuba). - Maranho (MA), Piauf (PI) e Ceara (CE) - Parkia platycephala (Leguminosae Mim., faveira). - Pard (PA-serra do Cachimbo) - Platonia insignis (Guttiferae, bacuri), - Minas Gerais (MG-sul-mineiro) - Dimorphandra mollis (Leg. Mim., faveiro). ~ Si Paulo (SP) ¢ Parana (PR) - Stryphnodendron adstringens (Leg. Mim., barbatimao). 1.6.1.7.3 Savana Parque Subgrupo de formagio essencialmente constituido por um estrato gramindide, integrado por hemicrip- t6fitos e ge6fitos de floristica natural e/ou antropi- zada, entremeado por nanofaneréfitos isolados, com conotagio t{pica de um "parque inglés” (Park- land). Asavana parque de natureza antrépica é encontra- da em todo o Pafs e a natural, nas dreas abaixo relacionadas coms seguintes ecétipos dominantes: - Ilha de Marajé - Hancornia speciosa (Apocyna- ceae, mangaba). ~ Pantanal Sul-Mato-Grossense - Tabebuia carai- ba (Bignoniaceae, paratudo). ~ Depressiio do Araguaia e ilha do Bananal - Byr- sonima sericea (Malpigniaceae, murici). 1.6.1.7.4 Savana Gramineo-Lenhosa Prevalecem nesta fisionomia, quando natural, os gramados entremeados por plantas lenhosas raqut- ticas, que ocupam extensas 4reas dominadas por hemicriptéfitos e que, aos poucos, quando maneja- das através do fogo ou pastoreio, vio sendo substi- tuidas por ge6fitos que se distinguem por apresentar colmos subterrneos, portanto, mais resistentes 20 pisoteio do gado e ao fogo. Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira ‘A composigio floristica & bastante diversificada, sendo seus ecétipos mais representativos as plantas Ienhosas: - Andira humilis (Leguminosae Pap., angelim-do- cerrado). - Cassia spp. (Leguminosae Caes., fedegoso-do- cerrado). O género Cassia foi considerado segundo o conceito de Bentham. - Byrsonima spp. (Malpighiaceae, murici-rasteiro). = Bauhinia spp. (Leguminosae Caes., unha-de- vaca). - Attalea spp. (Palmae, palmeirinha-do-cerrado).. -Allagoptera campestris (Palmae, coco-de-raposa). - Orbignya eichleri (Palmae, coco-de-guriti) e as plantas gramindides (Gramineae). ~ Axonopus spp. (grama-do-cerrado). - Andropogon spp. (capim-do-cerrado). - Aristida pallens (capim-barba-de-bode). ~ Echinolaena inflexa. - Paspalum spp. - Trachypogon polymorphus (capim-redondo). - Schizachyrium spp. - Tristachya spp. (capim-flechinha). Além de muitos nanofaner6fitos raquiticos das familias Compositae, Myrtaceae, Melastomata- ceac, Malvaceae e muitas outras de menor im- portincia fisionémica. 1.6.1.8 Savana-Estépica (Caatinga do Sertdo Arido, Campos de Roraima, Chaco Sul-Mato- Grossense e Parque de Espinitho da Barra do rio Quarat) O bindmio Savana-Estépica, criado e apresentado por Trochain em 1948/54 (Apud. Schnell, 1971) reafirmado no Acordo Interafticano sobre os tipos de vegetagio da Africa Tropical (Trochain, 1957), foi originalmente usado para designar uma vegeta- ¢40 tropical de caracteristicas estépicas préximo & Zona Holartica Africana. O termo foi empregado para designar a érea do “sertdo Arido nordestino” com dupla estacionalida- de, uma Area disjunta no norte do Estado de Roraima e duas outras areas também disjuntas chaquenhas - uma no extremo sul do Estado do Mato Grosso do Sule outra na barra do rio Quaraf quando desembo- anno rio Uruguai, no Estado do Rio Grande do Sul. sertio Arido nordestino apresenta freqiiente- mente dois perfodos secos anuais, um com longo déficit hidrico seguido de chuvas intermitentes ¢ outro com seca curta seguido de chuvas torrenciais que podem faltar durante anos. Adisjungio situada no extremo norte do Estado de Roraima, na Chapada de Surumu, atualmente en- contra-se bastante antropizada (Veloso et al., 1975). 27 Avegetagio do denominado "Chaco Boreal argen- tino-paraguaio-boliviano" & encontrada em sua fase Gmida desde a confluéncia do tio Apa com 0 rio Paraguai, prossegue comprimida entre a cuesta da serra da Bodoquena e 0 rio Paraguai até o seu afluente rio Miranda, de onde avanga até as cerca- nias da cidade de Miranda (MS). Daf segue até a cidade de Corumbé, sempre flanqueando o rio Para- guai, revestindo morrotes Pré-Cambrianos ricos em manganés e ferro, podendo também ser encontrada dispersa até as margens do rio Guaporé, afluente do rio Mamoré, j4 em territério amaz6nico, no Estado de Mato Grosso. A disjungio chaquenha do "Parque do Espinilho” ocorre na planicie alagavel situada no extremo su- doeste do Estado do Rio Grande do Sul. Encontra-se ainda bastante preservada e seus ecdtipos naturais, revestem tettenos de deposigdo recente localizados entre os rios Quaraf e 0 Uruguai. Estas duas disjungdes ecolégicas da denominada "savana timida chaquenha”, situadas no Brasil com caracteristicas tipicas de dupla estacionalidade, apresentam trés meses frios com fracas chuvas que provocam seca fisiolégica, seguido de grande perfodo chuvoso, com um més de déficit hfdrico, conferindo ao clima regional a caracteristica princi- pal de dupla estacionalidade. A dupla estacionali- dade climética verificada nessas teas, aliada & identidade floristica e & fisionomia ecolégica, im- plica na semethanga desse tipo de vegetago, que conceituou-se como Savana-Estépica, por analogia dos ecétipos afro-amaz6nicos e andino-argentinos que migraram através do tempo, formando dis- jungGes bem distintas uma da outra. Este tipo de vegetagao ou classe de formagio subdivide-se em quatro subgrupos de formagdes situados em 4reas geomorfologicamente distintas, a saber: 1.6.1.8.1 Savana-Estépica Florestada Subgrupo de formago caracterizado por micro c/ou nanofaneréfitos, com média de 5 m, excep- cionalmente ultrapassando os 7 m de altura, mais ou menos densos, com grossos troncos e esgalhamento bastante ramificado em geral provido de espinhos e/ou acitleos, com total decidualidade na época des- favordvel. A flora do “sertio nordestino” (caatinga), situada na grande depressio interplandltica bastante ar- rasada, & caracterizada sobretudo pelos géneros Cavanillesia e Chorisia da familia Bombacaceae, de dispersio Pantropical, sendo que o género Cavanillesia, Neotropical, 6 homélogo do género Adansonia, Paleotropical africano; Schinopsis 28. Astronium, pertencentes a familia Anacardiaceae que é de disperso Pantropical, sio Neotropicais, sendo 0 primeiro andino-argentino e o segundo afro-amaz6nico; Acacia, Mimosa, Cassia, e outros da famflia Leguminosae, de dispersio Pantropical, com distribuigo descont{nua, apresentam maior néimero de ecétipos do Novo Mundo. J4 a disjungao floristica do Chaco brasileiro, situada na grande depressao pantaneira, € caracteri- zada pela maioria dos génetos citados, mas mere- cendo destaque 0s taxa Schinopsis (Anacardiaceae) e Aspidosperma (Apocynoceae) que tém af o seu maior ntimero de ecétipos especificos, o que sugere partir daf o seu ponto de dispersio pela plataforma brasileira. Justamente, estes dois primeiros géneros niio tém espinhos e somente perdem parcialmente suas folhas, embora possuam casca grossa ¢ porte mesofanerofitico. 1.6.1.8.2 Savana-Estépica Arborizada Este subgrupo de formagiio apresenta as mesmas caracteristicas floristicas da fisionomia ecolégica anterior, porém os individuos que 0 compdem so mais baixos, existindo claros entre eles. Na depressio interplandltica nordestina (Caatinga do sertio arido), dominam os ecstipos: Spondias tuberosa (Anacardiaceae) sendo o género de disper- so amaz6nica, mas a espécie dessa depressio en- démica ; Commiphora leptophloeos (Burseraceac), © género de dispersdo afro-amaz6nica, mas a espé- cie também endémica; Cnidoscolus phyllacanthus (Euphorbiaceae) com familia de disperstio Pantro- pical, porém de ecotipo endémico; Aspidosperma pyrifolium (Apocynaceae), 0 género com dispersio andino-argentina, mas de ecétipo endémico; e vé- ios ecétipos do género Mimosa (Leguminosae Mim.) que muito bem caracterizam grandes dreas do "serto nordestino” (Caatinga). Na depressio pantaneira sul-mato-grossense, do- minam os mesmos géneros com ecétipos endémi- cos desta disjungio floristica, como por exemplo: Prosopis e Acacia (Leguminosae Mim.), Nanofane- réofitos com alturas entre 1 e 2 m e Ziziphus mistol (Rhamnaceae) também raquitica e Celtis tala (Ul- mac.), estes dois iiltimos com espinhos nas folhas, troncos ¢ galhos, sendo estas as principais caracte- risticas floristicas da referida disjungao. 1.6.1.8.3 Savana-Estépica Parque ‘Termo introduzido na fitogeografia por Tansley & Chipp (1926) para designar uma fisionomia do Cha- co argentino (Parkland). Este subgrupo de forma- gH € 0 que apresenta caracteristicas fisiondmicas mais t{picas, com nanofaner6fitos de um mesmo ecdtipo bastante espagados, como se fossem plan- Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira tados, isto porque apresentam uma pseudo-ordenacio de plantas lenhosas raquiticas sobre denso tapete gramineo-lenhoso de hemicript6fitos e caméfitos. Na depressio interplandltica nordestina (Caatinga do sertio érido), dominam varios ecétipos, dentro dos quais se destacam: Mimosa acustipula (Legu- minosae Mim,), associadas a outros ecétipos do mesmo género que, embora de ampla dispersio, dominam na Américatropical; Auxemma oncolalyx Borrag., pau-branco), Combretum leprosum (Com- bret., mofumbo); eA spidosperma pyrifolium (Apo- cynac., pereito) de familias Pantropicais, contudo de géneros afro-amaz6nicos, sendo o tltimo andi- no-argentino, Estes nanofaneréfitos esto sempre associados ao "capim-panasco” do género Aristida de dispersio mundial, principalmente nas zonas Paleotropical e Neotropical. Este subgrupo de formagiio recobre geralmente pequenas depressdes capeadas que, na época das chuvas, so alagadas. Esse processo de inundagiio decorre da ma drenagem dos solos dominantes - Vertissolos. Na depressdo pantaneira sul-mato-grossense (Chaco brasileiro) domina, quase sempre, o nanofa- neréfito Acacia farnesiana que ocorte nas areas alagadas de dificil escoamento. Contudo, na época seca, estas dreas silo cobertas por Aristida columbri- na que possui ampla dispersao na drea, Um outro ecétipo que constitui a fisionomia de Parque na disjungdo floristica pantaneira é a Copernicia pru- nifera vat. australis (para os botanicos argentinos var. alba) que forma grandes agrupamentos, quase puros (consorciagdes), nas largas ¢ rasas depressdes alagaveis por ocasifo das enchentes do rio Paraguai, tanto do lado da Bolivia como do Brasil. No extre- mo sul do Pafs, situado na barra do rio Quaraf com rio Unuguai, este subgrupo de formagio constitui o conhecido e classic exemplo do "parque do espi- nilho". Este parque € formado quase que exclusiva- mente pelas associagdes de Prosopis algarobilla {algaroba) € Acacia farnesiana (espinilho), am- bos espinhosos e caducifélios, além da Aspidos- perma quebracho-blanco (quebracho-branco) € de outras menos numerosas, como: Scutia buxifo- lia (coronilha), Celtis tala (taleito), Parkinsonia aculeata (cinacina) ¢ Acanthosyris spinescens (sombra-de-touro).. 1.6.1.8.4 Savana-Estépica Gramtneo-Lenhosa Este subgrupo de formagdo, também conhecido como campo espinhoso, apresenta caracteristicas florfsticas ¢ fisionémicas bem tipicas, tais como um extenso tapete graminoso salpicado de plantas le- nhosas aniis espinhosas. Na depressio interplandltica nordestina (Caatinga do sertio érido) 0 terreno € coberto inteiramente Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira pelo capim-panasco (Aristida sp.), um hemicript6- fito que se apresenta com aspecto de palha na seca que enverdece na época das Aguas. Este campo é entremeado de nanofaneréfitos espinhosos, despi- dos de folhagem na seca folhoso na 6poca das chuvas, pertencentes ao género Jatropha (pinhao- brabo) da familia Euphorbiaceae de distribuigio Pantropical. Na depressio pantaneira do Chaco brasileiro, domina também um campo graminoso de Parathe- ria prostata, Aristida sp. e Elionurus sp., entre- meado por plantas lenhosas espinhosas, como Celtis tala da familia Pantropical Ulmaceae, asso- ciado com outros ecétipos também espinhosos que imprimem a fisionomia uma caracteristica de “campo espinhoso”. 1.6.1.9 Estepe (Campos-Gerais Plandlticos Campanha Gaticha) O termo Estepe de procedéncia Russa foi empre- gado originalmente na Zona Holirtica e extrapolado para outras areas mundiais, inclusive a Neotropical sul brasileira, por apresentar homologia ecolégica. Esta 4rea subtropical, onde as plantas so subme- tidas a uma dupla estacionalidade - uma fisiol6gica provocada pelo frio das frentes polares e outra seca mais curta, com déficit hfdrico - apresenta uma homologia fitofisionémica, embora seja diferente da Area original Holértica. A sua fisionomia apre- senta uma homologia bastante sugestiva com o ter- mo “prairie” (campos das dreas frias temperadas), embora seja amplo e muito genérico, daf a escolha do termo prioritério “estepe”. Atualmente estas 4reas, apesar de estarem bastante antropizadas, podem ser separadas em trés subgru- pos de formagao situados em dois grandes tipos de relevo: 0 pediplano gaticho e o planalto meridional. A florfstica gramfneo-lenhosa da Campanha Gatt- cha & quase toda originada das éreas pré-andinas, com alguns géneros cosmopolitas Pantropicais. Nas 4reas do Planalto Meridional a Araucaria angusti- folia, de origem Australésica, mas de distribuigao ‘afro-brasileira, ocorreimprimindo o carder diferen- cial A Campanha Gaticha, pois as vegetagdes cam- pestres das duas areas si muito semelhantes foram igualadas pelo fogo anual e pelo intenso pisoteio do gado. 1.6.1.9.1 Estepe Arborizada Este subgrupo, de formagio localizado no planalto sul-rio-grandense e divisores de 4guas dos rios Ca- maqua e Ibicuf, caracteriza-se pela domindncia de solos rasos (Lit6licos), com Afloramentos Rocho- sos. 29 A fitofisionomia € constitufda de dois estratos distintos. O primeiro deles compée-se de micro nanofaner6fitos dispersos, perenifoliados corié- ceos, ligados ou nio a floresta-de-galeria, onde a Scutia buxifolia (corxonilha), Sebastiania commer- soniana (branquilho), Lithraea brasiliensis (bu- greiro), Celtis tala (taleiro), Schinus mollis (arocira-salsa), Acacia farnesiana (espinilho), As- tronium balansae (pau-ferro), so 0s principais ec6- tipos, todos de origem andino-argentina. Dispersos nos Afloramentos Rochosos os nanofa- netéfitos e caméfitos se fazem notar através das cactéceas dos géneros Cereus e Opuntia, também de origem tropical andina. O segundo estrato é formado por hemicript6fitos (gramineas cespitosas), representados por Erianthus sp. (macega), Andropogon lateralis (capim-cani- nha), Aristida pallens (capim-barba-de-bode) e por gedfitos (gramfneas rizomatosas), destacando-se 0 Paspalum notatun (grama-forquilha), Axonopus fissifolius (grama-tapete) e outros ecétipos inva- sores, em face da degradago do solo devido as constantes queimadas anuais e ao pisoteio do gado. Varios caméfitos, como Baccharis spp. (vassouras), Heterotalamus sp. (alectim), Eryngium horridwn (caraguata) ¢ outros de menor expresso, porém com ampla dispersio, sfio também invasores dos solos degradados. Contudo mais importante & a Compositae do género Eupatorium sp. (chirca) que forma densos agrupamentos no meio dos campos estépicos e que, provavelmente, € endémico da Estepe do Uruguai e/ou do sudeste do Estado do Rio Grande do Sul. 1.6.1.9.2 Estepe Parque Localizada em diferentes reas, nos planaltos das Araucétrias, sul-tio-grandense e da Campanha, tam- bém ocorre nos divisores de Aguas dos rios Tbira- uité e Ibicuf da Cruz, apresentando uma fitofisionomia formada basicamente por nanofane- r6fitos freqtientes e dispersos regularmente. Como exemplo cléssico, cita-se o Planalto da Campanha Gaticha onde ocorrem ecétipos da famflia Anacar~ diaceae: Lithraea brasiliensis (bugreito), Schinus mollis (arocira-salsa) ¢ Astronium balansae (pau- ferro), além de outros ecétipos de varias familias, mas com menor representatividade. Esta fisionomia de Parque sugere uma causa antrépica para aumen- tar os "campos-de-pastagens", que concorre para a degradagio cada vez maior dos terrenos pelo mau ‘uso do solo. O estrato graminoso € dominado pelas mesmas formas de vida do subgrupo de formagao anterior, além de algumas ter6fitas que, como plantas anuais, 30 alteram o visual do Parque, imprimindo-the nuan- gas de cor ¢ de valor agrostolégico. Porém, ainda séo as Gramineae que dominam na paisagem, como por exemplo: Paspalum notatum (grama-forqui- Iba), Axonopus fissifolius (grama-jesufta), Andro- pogum lateralis (capim-caninha) € Stipa spp. (capim-flechinha), entre outras de menor importan- cia. Como se pode ver, neste estrato, ainda existem alguns elementos nativos estépicos, como pot exemplo virios ecstipos do género Stipa que domi- nam na Estepe do Uruguai e da Argentina. 1.6.1.9.3 Estepe Gramfneo-Lenhosa Neste subgrupo de formagio observam-se as "flo- restas-de-galeria" de porte baixo flanqueando algu- mas drenagens. O estrato herbéceo é constitufdo por duas sintisias gramindides, a dos hemicriptéfitos e a dos ge6fitos, ambas apresentando pilosidade nas folhas ¢ colmos, que sugere uma adaptaciio a0 ambiente relativamente seco. No presente caso pa- rece tratar-se de compactagdo superficial do terreno, em vista das queimadas anuais e do excessivo piso- teio do gado. Estes campos limpos, que na época desfavoravel apresentam uma coloragio acinzentada, so domi- nados por ecétipos dos géneros Stipa, Andropogon, Aristida e Erianthus, 0 que demonstra que a Estepe do Rio Grande do Sul e a das areas situadas no planalto Meridional esto atualmente igualados pelo mau uso do solo. ‘Umexemplo de progressiva "desertificagio", pelo mau uso do solo, pode ser observado em areas areniticas de Alegrete e Itaqui, onde vicejam os campos quase desprovidos de vegetagdo na época desfavordvel. 1.6.2. Classificagao das Areas das Formagdes Pioneiras Ao longo do litoral, bem como nas planfcies flu- viais e mesmo ao redor das depressdes aluvionares (pantanos, lagunas e lagoas), ocorrem freqiiente- mente terrenos instaveis cobertos de vegetagdo, em constante sucessio, de ter6fitos, criptofitos (ge6fi- tos e/ou hidréfitos), hemicript6fitos, caméfitos e nanofaneréfitos. Trata-se de uma vegetaco de pri- meira ocupagdo de cardter edafico, que ocupa os terrenos rejuvenescidos pelas seguidas deposigbes de areias marinhas nas praias e restingas, as aluvides fluviomarinhas nas embocaduras dos rios e os solos ribeirinhos aluviais e lacustres. So essas as forma- Ges que se consideraram como pertencendo ao “complexo vegetacional edéfico de primeira ocupa- 40" (formagées pioneiras). A designagio vegetagao edéfica de primeira ocu- pagdo prende-se assim a umatentativade conceituar Manual Técnico da Vegetagao Brasileira comunidades localizadas, sem ligé-las prioristica- mente as regides climaces, pois a vegetagio que ‘ocupa uma 4rea com solo em constante rejuvenes- cimento nem sempre indica estar a mesma no caminho da sucesso para o climax da regio cit- cundante. S40 exemplos: as vegetagdes da orla maritima e dos pantanos, ambas, semelhantes entre si, em qualquer latitude ou longitude do Pais, sem- pre com plantas adaptadas aos pardmetros ecolégi- cos do ambiente pioneiro. Isto talvez sugira a causa de estarem estas comunidades ligadas a familias € géneros do universo tropical psaméfilo ¢ hidréfilo, seja através da disperstio de seus ecétipos ou seja através da adaptacio ao ambiente especializado tropical, cujos fatores limitantes, em geral, determi- naram ec6tipos de distribuicio universal, como € 0 caso dos géneros: Remirea das praias, Salicornia das reas psaméfilas, Rhizophora e Avicennia dos manguezais ¢ Typha das reas pantanosas: Consideraram-se, assim, para as escalas regional e de detalhe, as seguintes comunidades pioneiras: 1.6.2.1 Vegetagdo com Influéncia Marinha (Restingas) As comunidades vegetais que recebem influéncia direta das éguas do mar apresentam como géneros caracteristicos das praias: Remirea e Salicornia, Seguem-se em freas mais altas afetadas pelas marés equicionais, as conhecidas Ipomoea pes-caprae & Canavalia rosea, além dos géneros Paspalum ¢ Hidrocotyle. As duas primeiras sao plantas escan- dentes ¢ estolonfferas que atingem as dunas, contri- buindo para fixé-las. Outros géneros associados a este plano mais alto das praias contribuem para caracterizar esta comunidade pioneira e dentre eles merecem destaque: Acicarpha, Achyrocline, Poly- gala, Spartina, Vigna e outros. Uma espécie de Palmae (ochlospécie) que ocorre nas restingas des- deo Estado do Amapé até 0 Estado do Parand é a Allagoptera marttima, provavel “vicariante" da A. campestre da Savana plandltica do interior brasilei- 10. Nas dunas propriamente ditas, a comunidade ve- getal apresenta-se dominada por nanofaner6fitos onde o Schinus terebenthifolius e a Lythraea brasi- liensis imprimem A mesma um cardter lenhoso. Destacam-se também os géneros Erythroxylon, Myrcia, Eugenia e outros de menor importancia associativa. ‘No "pontal rochoso” que deu origem 3 restinga, a vegetago pioneira varia do resto das comunidades arenosas, Neste pontal a principal espécie caracte- ristica é a Clusia criuva associada as Cactaceae dos géneros Cereus e Opuntia, além das muitas Brome- Tiaceae dos géneros Vriesia, Bromelia, Canistrum, Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira Aechmea que se destacam justamente nos Estados do Parané, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. 1.6.2.2 Vegetagdo com Influéncia Fluviomarinha (Manguezal e Campo Salino) O manguezal é a comunidade microfanerofitica de ambiente salobro, situada na desembocadura de rios e regatos no mar, onde, nos solos limosos (mangui- tos), cresce uma vegetagao especializada, adaptada a salinidade das 4guas, com a seguinte seqliéncia: Rhizophora mangle, Avicennia, cujas espécies va- riam conforme a latitude norte sul e a Laguncula- ria racemosa, que cresce nos locais mais altos, s6 atingidos pela preamar. Nesta comunidade pode faltar um ou mesmo dois desses elementos. E fre- qiiente observar-se o manguezal s6 de Rhizophora como 0 do Maranhfo ou s6 de Avicennia como 0 do ‘Amapé e Santa Catarina, pois a Laguncularia 86 aparece quando existe terreno firme nos terragos € nas planicies salobras do fundo das bafas e dos rios. Em algumas dessas planfcies, justamente quando 1a Agua do mar fica represada pelos terragos dos rios, area salobra € densamente povoada por Gramineae do género Spartina e pela Salicornia portulacoides que imprimem ao "campo salino” 0 caréter de um “manguezal camefitico". 1.6.2.3 Vegetagdo com Influéncia Fluvial (Comunidades Aluviais) Trata-se de comunidades vegetais das planicies aluviais que refletem os efeitos das cheias dos rios nas épocas chuvosas ou, entGo, das depressdes ala- gaveis todos os anos. Nestes terrenos aluvionares, ‘conforme a quantidade de 4gua empogada e ainda o tempo que ela permanece na rea, as comunidades vegetais vio desde a pantanosa criptofitica (hidr6- fitos) até 0s terragos alagdveis temporariamente dos terdfitos, gedfitos e caméfitos onde, em muitas reas, as Palmae dos géneros Euterpe e Mauritia se agregam, constituindo 0 agaizal e 0 buritizal do norte do Pafs. Nos pfintanos, 0 género cosmopolita Typha fica confinado a um ambiente especializado, diferente dos géneros Cyperus ¢ Juncus que S30 exclusivos das Areas pantanosas dos trépicos. Estes trés géne- ros dominam nas depressies brejosas em todo 0 Pats. Nas planicies alagdveis mais bem drenadas ocor- rem comunidades campestres, e os géneros Pani- cum e Paspalum dominam em meio ao caméfito do género Thalia. Nos terragos mais enxutos dominam nanofaneréfitos dos géneros Acacia e Mimosa, jun- tamente com varias familias pioneiras, tais como: Solanaceae, Compositae, Myrtaceae e outras de me- nor importincia sociolégica. 31 Essa sucessio natural da vegetago pioneira jé foi estudada em vérias regides do Brasil, principal- mente na Amazinia, onde existem as maiores areas de varzeas do Pats, 1.6.3 Classificagao das Areas de Tensiio Ecolégica (Vegetacio de Transigao) Entre duas ou mais regides ecol6gicas ou tipos de ‘vegetactio, existem sempre, ou pelo menos na maio- ria das vezes, comunidades indiferenciadas onde as floras se interpenetram constituindo as transig6es, floristicas ou contatos edéficos. O primeiro caso se refere ao "mosaico especffico" ou ao préprio ecsto- no de Clements (1949). O segundo caso se refere a0 “mosaico de dreas edaficas", onde cada encrave guarda sua identidade ecolégica, sem se misturar (Veloso et alii, 1973), Acartografia da "tenso ecolégica” é uma questo de escala, pois nas escalas de semidetalhe e de detalhe tanto 0 ecétono como o encrave sao perfei- tamente detectados ¢ por este motivo devem ser separados e mapeados como entidades inde- pendentes. 4.6.3.1 Ecétono (Mistura Flortstica entre Tipos de Vegetagaio) O contato entre tipos de vegetagao com estruturas fision6micas semelhantes fica muitas vezes imper- ceptivel, eo mapeamento por simples fotointerpre- taco € impossfvel. Tora-se necessério entio levantamento floristico de cada Regitio Ecolégica para se poder delimitar as areas do ecétono, como por exemplo: Floresta Ombréfila Densa/Floresta Estacional. J4 em outros ecétonos, principalmente quando os tipos de vegetaco que se contatam apre- sentam estruturas fisiondmicas diferentes, a delimi: tagio desse mosaico floristico se torna facil e praticavel, podendo ser efetuado por simples fotoin- terpretagiio, como por exemplo: Floresta Ombr6fi- la/Savana (Cerrado). 1.6.3.2 Encrave (Areas Disjuntas que se Contatam) No caso de mosaicos de reas encravadas situadas entre duas regides ecol6gicas, sta delimitagao tor- na-se exclusivamente cartogrifica e sempre de- pendente da escala, pois em escalas menores € sempre possfvel separi-las. Esta ocorréncia vegeta- cional de transigio edéfica no oferece dificuldade em ser delimitada, seja para os tipos de vegetagdes com estruturas fisionémicas semelhantes ou para aqueles com estruturas diferentes, como por exem- plo: Floresta Ombréfila/Floresta Estacional ou en- {Go Floresta Ombréfila/Savana (Cerrado). 1.6.4 Classificagio dos Refigios Vegetacionais (Comunidades Reliquias) Toda e qualquer vegetagio floristicamente dife- rentee logicamente fisiondmico-ecolégica também diferente do contexto geral da flora dominante foi considerada como um “refiigio ecolégico". O refa- gio muitas vezes constitui uma vegetagiio rel{quia que persiste em situagdes especialfssimas, como é © caso de comunidades localizadas em altitudes acima de 1 800 m. O tefiigio ecolégico fazendo parte da vegetagio regional é determinado por parametros ambientais mais ou menos constantes, contudo, quando um ou mais destes fatores fisicos forem alterados prova- velmente ocorrerio modificagdes na estrutura € mesmo na floristica da vegetacdo climax. Assim, qualquer fator que destoe deste sincronismo am- biental ter4 como resposta fisionomias diferentes nos ambientes menores, como por exemplo: os cu- mes litélicos das serras, as altitudes que influenciam no microclima, as dreas turfosas plandlticas e mes- mo das de baixa altura e, assim, toda comunidade refugiada dissonante do reflexo normal da vegeta- go climax regional. [1.7 Sistema Secundario No sistema secundério (antr6pico) esto incluidas todas as comunidades secundérias brasileiras. Sao aquelas éreas onde houve intervenco humana para uso da terra, seja com a finalidade mineradora, agricola ou pecudria, descaracterizando a vegetagao priméria. Assim sendo essas éreas, quando abando- nadas, logo depois do seu uso antrépico, reagem diferentemente de acordo com 0 tempo € 0 uso. Porém, a vegetaco que surge reflete sempre, ¢ de ‘maneira bastante uniforme, os parfimetros ecol6gi- cos do ambiente. A sucesso vegetal obedece a um ritmo, ao refazer o solo degtadado pela ago preda- toria do homem. As perdas da matéria organica pelas queimadas e a dos elementos quimicos do solo, pela lixiviagio provocada pelas aguas das chuvas, empobrecem rapidamente os solos tropi- cais, que custam a se recuperar naturalmente. A adigiio de calcério dolomitico aos solos degradados reativa as trocas dos cétions imobilizados pelo ex- cesso de aluminio e acelera 0 reaproveitamento dos solos ditos cansados para a agricultura e principal- mente para as pastagens plantadas. Para o presente caso, o que interessa é a chamada vegetagiio secundaria, que surge com o abandono da terra, apés 0 uso pela agricultura, pela pecudria finalmente pelo reflorestamento c/ou florestamento de éreas campestres naturais. Manual Técnico da Vegetagdo Brasileira

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